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2. Com o que se faz ciência? Se faz ciência com a razão. Por mais que essa
ciência realize várias práticas, mas a análise dessas realidades a pessoa faz
com a razão. Por isso, a tendência de Santo Tomás de Aquino e dos teólogos
é colocar ênfase na razão, ou seja, aquilo que analisa os distintos experi-
mentos. Quer dizer, eu faço os experimentos, mas ainda não é ciência. Sem
dúvida alguma, está numa investigação cientifica, mas a ciência acontece
quando eu faço a análise razoável daquilo que está acontecendo na minha
experiência. Seja uma análise simples. Não precisa chegar a conclusões ain-
da.
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To d o s o s d i r e i t o s r e s e r v a d o s . N e n h u m a p a r t e d e s t a o b r a p o d e s e r r e p r o d u z i d a , a r q u i v a d a o u
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analisa os dados da fé, mais do que nos dados da fé, na dimensão prática.
Por isso, ao meu ver, Tomás de Aquino leva a dianteira nisso aí, se a gente
quer falar que a teologia é verdadeiramente uma ciência, e como está no
campo da razão tem a questão do ESPECULUM, da especulação, da con-
templação daquilo que está acontecendo nos tubos de ensaio ou daquilo
que a revelação me oferece, dos princípios que a revelação me oferece para
que eu faça todo o meu caminhar teológico racional dentro do contexto da
fé.
5. É semelhante àquilo que os filósofos ouvem, que não é útil porque é uma
contemplação da verdade. Claro que a maneira filosófica de viver seria a
dimensão prática da filosofia. Algo semelhante acontece aqui na teologia.
A teologia é realmente o conhecimento especulativo, a teologia dogmática
é especulativa, a teologia moral é especulativa, a teologia da história é es-
peculativa, mas é contemplativa, racional e tem dimensões práticas. Nesse
primeiro momento é profundamente especulativa. Mas no segundo mo-
mento tem uma série de dimensões práticas. Me ajuda a praticar uma série
de coisas boas que eu não praticava, a enxergar uma série de coisas que
eu não enxergava antes, a ter uma mente mais ordenada que antes eu não
tinha.
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6. São Boaventura pensa que a teologia leva consigo uma síntese dinâmica de
fé e razão, mas não a entende como uma expressão de fé dentro da razão,
ou como uma luz revelada no intelecto humano, mas como uma reintegra-
ção progressiva do homem crente na unidade de Deus através do amor e
pelo amor. São Boaventura “contrariando” um pouquinho Santo Tomás de
Aquino vai sempre sublinhar a questão da vontade do amor. Santo Tomás
um pouco “contrariando” São Boaventura vai sempre sublinhar a questão
da inteligência e do ato racional. No fundo, os dois se complementam por-
que o ser humano é uma realidade de inteligência e tem uma parte espi-
ritual que pede, necessariamente, a inteligência e a vontade em Deus. A
inteligência se chama Filho e a vontade se chama Espírito Santo.
7. A nossa teologia deve ser uma teologia do Filho e do Espírito Santo, deve
ser uma teologia da inteligência e da vontade. Vocês sabem que teologica-
mente, o Filho procede do Pai por geração, por um ato de inteligência e o
Espírito Santo procede do Pai e do Filho por processão num ato de vontade.
Se a gente for levar muito a sério essas processões internas em Deus, da
inteligência e da vontade, é muito razoável entender que, na verdade, Santo
Tomás e São Boaventura se complementam muito bem, ainda que Santo
Tomás sublinhe mais a inteligência, sem esquecer a vontade e São Boaven-
tura sublinhe mais a vontade sem se esquecer da inteligência. A teologia de
São Boaventura não é cega, mais ainda, a racionalidade de São Boaventura
o levou a não acreditar, por exemplo, na Imaculada Conceição na sua época.
Mas nenhum teólogo acreditava na Imaculada Conceição na época de São
Boaventura, e olha que eu quis provocar falando de São Boaventura porque
ele era franciscano e os franciscanos foram e continuam sendo os grandes
defensores da Imaculada, pois bem, São Boaventura franciscano não acre-
ditava que Maria fosse Imaculada Conceição. Santo Tomás também não,
Santo Alberto Magno também não, nem São Bernardo de Claraval que era o
Doutor Melífluo e deixou páginas maravilhosas sobre a Santíssima Virgem
Maria. Nenhum herege, o dogma da Imaculada Conceição foi proclamado
apenas em 1854 e estamos falando de autores do século XIII, então não tem
como ser herege se não tem uma doutrina definida dogmaticamente, eles
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são pessoas que estão pensando a fé e nesse ponto, erraram todos, os santos
podem errar de vez em quando e inclusive pode até pecar, depois se confes-
sa e recomeça a vida.
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ência? Sim. Usa a razão? Sim. Está atenta à vontade? Também. Mas além
de ser uma ciência, ela é um pouco mais, é uma sabedoria que nos ajuda a
penetrar no sentido dos seres, dos acontecimentos segundo a visão de Deus
SUB SPECIE AETERNITATIS.
11. Estão vendo como esse diálogo é frutuoso? A teologia vai ao encontro das
demais ciências elevando esse contexto humano para que as pessoas não
façam progredir uma ciência que vá contra o próprio ser humano. Uma
ciência que vá contra o próprio ser humano é uma ciência desumana. Não
existe avanço científico se a ciência destrói os homens, que faz com que as
pessoas não vivam mais com dignidade. Então, a teologia chama atenção
das outras ciências para que sejam respeitosas com o ser humano, para que
sejam respeitosas com todas as realidades, pois a teologia entende o valor
das realidades criadas por Deus.
12. É grande importância de que haja uma espécie de, como diz José Morales
no seu livro, “uma unificação e síntese sem que a teologia seja uma espécie
de vigilante sobre as demais ciências”. Sem dúvida alguma um diálogo fru-
tuoso entre a teologia e ciências humanas ajuda a salvar a dignidade do ser
humano.
13. É fácil existir conflitos entre a ciência teológica e as demais ciências, não é
difícil e vocês sabem, muitas vezes algumas teorias científicas foram postas
como avanço da sociedade contra a fé da Igreja. Por exemplo, a teoria da
evolução das espécies, ela foi posta como uma descoberta científica que
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colocaria em perigo a fé católica. Nós católicos não vemos dessa maneira,
ainda mais quando percebemos que o pai da genética foi um monge be-
neditino, chamado Gregório Mendel, então não temos medo da teoria da
evolução, além do mais me parece muito coerente. Santo Agostinho falava
de evolução, não sei se vocês sabem, mas ele achava que era muito inteligen-
te que Deus permitisse que uns seres surgissem de outros e portanto, essas
coisas germinais iniciais com tudo que se poderia desenvolver só poderia
sair de um ser maximamente inteligente que é Deus. Outra teoria científica
muito posta contra a fé da Igreja foi a Teoria do Big Bang, muitas pessoas
entendem como se fossem contrapostas a fé, nós não vemos dessa maneira,
especialmente quando a gente sabe que essa teoria foi descoberta por um
padre católico – Lemaître. Enfim, poderíamos continuar citando algumas
teorias científicas que parecem que vão contra a fé e não vão contra a fé.
14. É bem impressionante como a física quântica ajuda a teologia. Eu não te-
nho nem tempo pra explicar isso aqui, sou professor dessa matéria na facul-
dade também e descubro maravilhosamente como a física quântica é uma
chancela desde o ponto de vista da razão de tantos aspectos teológicos que
a gente sabe, estuda, aprofunda cada vez mais, enfim. Não há contradição
entre as duas maneiras de fazer ciência, uma ciência experimental e uma ci-
ência humana, como a teologia. Ciência humana que pega seus princípios
do próprio Deus.
15. Estes conflitos surgidos especialmente a partir do século XVII com motivo
da emancipação das ciências exatas e naturais simbolizadas, no caso, por
Galileu não são verdadeiras, também porque o caso Galileu está muito mal
contado, é preciso contá-lo de maneira correta porque Galileu Galilei era
um fiel católico como qualquer outro na época, que tinha suas curiosidades
científicas, seus conhecimentos científicos sua maneira de ver ciência e que
teve alguns conflitos com alguns cardeais que não entenderam Galileu, mas
também Galileu não entendeu alguns cardeais. Com relação ao magistério
da Igreja nunca houve uma condenação formal de Galileu Galilei e houve
um momento que Galileu teve que guardar um certo silêncio e ficou na
casa de algum amigo e terminou a sua vida como bom católico, recebendo
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os santos sacramentos, há muitas histórias que estão contadas de manei-
ra errada. Nesse caso do Galileu Galilei, queria indicar o professor Maria
MARTIGAS que foi professor da Universidade de Navarra, que já morreu
e trabalhou muito bem este caso e explicou de maneira bastante clara esse
caso.
16. Bom pessoal, a ciência humana pode dar a atividade teológica, rigor, or-
dem e valiosas informações que nós também não queremos abandonar ou
ignorar.
17. São João Paulo II na encíclica Redemptor Hominis falou desse diálogo in-
terdisciplinar em que a teologia deve tomar parte ativa, a teologia não só
encontrou na Universidade Medieval o seu lugar de destaque, mas a teolo-
gia também continua encontrando na Universidade atual o seu lugar. Se em
algum momento ela perdeu seu lugar na universidade atual, ela deve lutar
para ter o seu lugar. De maneira muito especial, a teologia deve continuar
fazendo valer a sua cientificidade que dialoga com outros saberes igual-
mente científicos.
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