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Quem já leu o livro da Sabedoria sabe o que eu vou dizer agora (ex:”Eu estou
nas praças, nas montanhas, nas fontes, gritando o tempo inteiro para os
homens, mas os homens não me ouvem”). Se você perde de vista que a
natureza é uma maneira da Palavra Divina se Revelar não vai enxergar essa
Revelação. Então, o que se manifesta nas coisas é o próprio Logos Divino,
é o Verbo Divino. Deus fez as coisas com a sua Palavra e a Palavra
manifesta o Verbo Interior, a Ideia, e então é o próprio Cristo que se insinua
para a Razão humana através das criaturas. E eu estou chamando a atenção
para isso porque temos que entender muito bem o que é a Razão humana.
Ela não é uma calculadora que nós temos, mas ela é antes de tudo uma
capacidade de receber uma verdade que se manifesta para nós através das
coisas. E essa verdade já é o Cristo em alguma medida porque as coisas
foram feitas por meio do Verbo e se elas trazem alguma marca, elas trazem
a marca do seu Criador. Então, se você perde a ideia de que as criaturas
trazem uma espécie de tecido revelador, o que é uma coisa muito óbvia, porque
você vê que a obra de arte humana nada mais é do que isso: se o homem
consegue pegar a matéria prima e transmitir um conteúdo através dela que a
gente chama de arte, de técnica, ele faz isso porque é dotado de inteligência.
Então, a matéria para ele não é só um obstáculo, um alimento que ele destrói
para se nutrir, mas ela também se torna uma matéria para comunicação, para
ele comunicar alguma coisa. É aqui que está a nobreza do homem em relação
aos animais, pois o homem é artista. Os animais até se utilizam da matéria, mas
se uma maneira muito primitiva, como por exemplo, as cores de suas penas
quando o pavão abre o leque de suas penas. É uma comunicação muito
primitiva se compararmos com a técnica humana. Ele faz isso porque é
inteligente.
E Deus sendo inteligente, ele não poderia fazer um mundo, um conjunto de
criaturas que não dissesse nada do que ele é. Medite sobre isso. É impossível
uma inteligência agir sobre uma matéria sem tornar essa matéria inteligível. E
entramos na Revelação agora. É por isso que quando lemos o Evangelho, não o
lemos só buscando as palavras de Cristo, mas lemos também os gestos de
Cristo, os lugares onde Ele entrou, as montanhas que eles subiram. E não sei se
já leram as homilias dos grandes Doutores e Santos consagrados. Eles não
focam somente no que Cristo disse. E vemos hoje mesmo nas homilias Padres
dizerem, olha, essa cidade daqui de onde Ele saiu significa isso, significa tal
aspecto da sua vida, tal aspecto da sua alma. Cristo aqui nessa passagem falou
sentado para simbolizar isso, depois falou em pé para simbolizar aquilo e etc. E
agora pensem bem, se Cristo é a Verdade, cada gesto Dele, cada passo
Dele, cada cena do drama da vida Dele então, diz alguma coisa para nós. E
é por isso que a gente medita na Paixão de Cristo. O que significa isso, que
Cristo caiu três vezes ao carregar a Cruz? Ele está dizendo alguma coisa para
nós. Num certo sentido isso já acontecia com as criaturas. Ele já está dizendo
algo para nós com a chuva, com a neve, com o sol, com a terra, com o céu e por
isso que quando Ele vai falar Ele se refere justamente a isso, ao trigo, ao céu, a
terra, a chuva, e a própria vida do Cristo, os gestos, o caminhar, os movimentos
que Ele faz são imagens inteligíveis. Na nossa vida não é assim, porque nós não
somos inteligência, nós temos uma inteligência. As vezes eu aceno para uma
pessoa e isso tem um sentido, mas as vezes uma pessoa acenou para mim do
outro lado porque ela achou que eu acenei para ela, mas eu só estava coçando
a cabeça, quer dizer, as vezes as coisas que eu faço tem sentido, e as vezes
não. Isso porque eu tenho uma capacidade lógica aqui, mas eu não sou o logos
Divino. Eu participo desse logos em algum grau, mas o Cristo não, pois tudo o
que Ele faz tem algum sentido. Só que quando pensamos nessa segunda
Revelação, a Encarnação, ela faz chegar até nós, pelo seu próprio veículo, que
é um Deus que se faz homem, um Deus Encarnado, ela já mostra que chega até
nós ordens, verdades, que transcendem a nossa capacidade racional. Os
próprios milagres atestam isso, as coisas que Cristo diz, as coisas que
acontecem com Ele (Ele morre e ressuscita, sobe aos céus, é filho de Deus e é
Deus ao mesmo tempo...), todas essas coisas estão além da nossa razão. E se
Ele quer que nós aceitemos e compreendamos essas coisas, Ele tem que nos
dotar de uma capacidade pela qual nós possamos aderir a essas coisas, a
essas verdades. E é aqui que entra a Fé. Se a inteligência é a capacidade de
ler a Revelação Natural que se insinua na natureza, a Fé é a capacidade
que Deus nos dá, pois ela não é natural, é sobrenatural, pois é Deus que
infunde em nós, então, a Fé é essa capacidade pela qual nos tornamos
aptos a ler, a aceitar, a conhecer e a compreender as Verdades
Sobrenaturais que são Reveladas por Jesus Cristo.
Vejam que Fé e Razão são coisas análogas só que cada uma está numa escala
diferente. E até por isso elas não poderiam se opor. Só pode se opor coisas que
estão numa mesma escala. A Fé diz respeito a uma ordem Sobrenatural e a
Razão a uma ordem Natural. Só que tem um detalhe. A ordem natural fala da
mesma coisa que a ordem sobrenatural fala. O mundo natural fala de Deus para
nós e por isso ele serve a Fé.
Por isso existe um esforço humano racional de compreender algo a partir da
natureza. Observando o fenômeno usando a sua razão para coletar vestígios da
face de Deus na história humana e por esses vestígios também compreendemos
algo de Deus. Só que com isso ainda chegamos num número muito pequeno de
verdades sobre Deus. Mas é um instrumento de conhecimento legítimo de Deus,
mas ainda pequeno. E então, quando nos deparamos com a Revelação, com o
próprio Cristo Encarnado na história revelando sua própria vida, isso se torna
muito maior. Vocês já ouviram um testemunho de uma pessoa? Quando
ouvimos a gente diz assim: “nossa eu jamais poderia imaginar que tudo isso
aconteceu com essa pessoa”. Isso é uma Revelação. E é isso que Deus faz. É a
pedagogia de Deus para que possamos entende-lo, entender que Ele existe.
Primeiro Ele te dá um tecido de sinais, de símbolos, de coisas, para você
exercitar a sua Razão e tentar encontrá-lo, e é possível. São Paulo diz que Deus
nunca nos abandonou, mas permitiu aos homens que o conhecessem
através de suas próprias criaturas. E essa passagem está nas cartas de São
Paulo quando ele vai falar sobre os gentios dizendo que Deus nunca os
abandonou. E aqui passamos a entender até a idolatria. O que é idolatria? É
você parar de ver aquilo que a natureza te mostra e adorar a própria natureza e
não o seu criador que é Deus. A natureza está a nossa disposição para nos dizer
algo de Deus.
A Revelação sobrenatural equivale a um testemunho. Agora é Deus que veio e
falou um monte de coisa Dele para você e é natural que a sua razão fique meio
enlouquecida. E qual é a contra partida de uma Revelação como essa? É que
você pode acreditar ou não. Isso não pode ser provado, mas você pode mover a
sua inteligência a aderir a isso.
Vejam, se eu falo isso para vocês: “Todo homem é mortal”. “Sócrates é homem”.
“Logo, Sócrates é mortal”. Tem como duvidar de um silogismo desse? Não! Isso
é o que chamamos de dedução lógica. Isso é um conhecimento racional que não
tem como você negar. Com as Verdades Reveladas não dá para fazer isso,
deduzir isso. Então, qual é a única opção. Vocês podem crer no que eu estou
falando. E o que é o Crer? Crer, é quando a sua inteligência não podendo
aceitar algo por força da dedução lógica, quando a inteligência não pode aderir
aquilo por necessidade, quando a própria verdade não é suficientemente forte
para mover a sua inteligência a aceita-la, pois tal verdade não é uma verdade
lógica, então, nós temos que fazer um esforço para que a minha inteligência
aceite aquilo. Então, o homem move a sua inteligência para a direção daquela
verdade, para que ela, a inteligência aceite aquilo. Isso é a Fé. E Santo
Agostinho nos ensina que Fé é pensar concordando. Eu penso numa
Verdade Revelada, mas a própria verdade revelada por si mesma não tem força
para fazer a sua inteligência aceitar aquilo. E essa força vem de onde? Primeiro
de você. Você move a sua inteligência naquela direção. O que faz você mover a
sua razão pela vontade para que ela aceite aquela Verdade Revelada é a
confiança que você tem na pessoa que está revelando. E quando Deus te revela
alguma coisa não tem como Ele mentir, pela própria definição de Deus. E é por
isso que você força a sua inteligência a aceitar aquilo que Ele te revelou. Mas
como essa Verdade Revelada é grande demais para a sua inteligência, só pela
sua força ela não consegue aceitar aquilo. Então, aderimos a Graça. A Fé é uma
adesão da inteligência a uma Verdade Revelada, adesão que só pode ser dada
quando a inteligência é movida pela sua vontade, já que aquela verdade por si
só não tem força para te convencer, pois ela não é lógica, então, Deus te manda
uma Graça. No momento mesmo que Ele percebe que você está crendo, Ele te
manda a sua Graça, uma força sobrenatural. E essa força é que vai fazer você
desenvolver aquela certeza de que você não duvida mais. Ainda que não
percebamos, mas é o próprio Deus que está se manifestando para você pela
sua Graça. Então, você passa a aderir àquela Verdade. Deus manda a Graça
que ilumina a sua inteligência e convida à vontade, como diz Santo Tomas. A
Graça ilumina a sua inteligência te fazendo enxergar aquela verdade e convida à
vontade, ou seja, ela soma a força dela a sua vontade para que a sua vontade
consiga impulsionar a sua inteligência a aceitar aquilo. E quanto mais aceita
aquilo pela força da sua vontade, mais você vê daquilo, e quanto mais você vê
daquilo mais você ama aquilo. E então a Fé vai se unindo a caridade, ou seja, a
sua fé vai se unindo a sua vontade onde está enraizada a sua caridade. Esse é
o motor da sua Santificação que se for progredindo, no final, você estará vendo
essas coisas. E isso chamamos de contemplação infusa. E tem Santos que
veem a Santíssima Trindade. E viu porque nele a fé e a caridade estão
perfeitamente unidas. A iluminação da inteligência e a atração da vontade por
Deus pela Graça é muito grande. E aquilo vai se tornando manifesto. É o
conhecimento que vem pela Fé, como diz as Escrituras.
Explicamos o conhecimento racional e o conhecimento que vem pela fé. Tudo
isso para mostrar para vocês que existe uma razoabilidade na fé. Não é uma
simples adesão do nada como se fosse uma história da carochinha. Tem uma
mecânica, um processo psicológico ao qual se soma a força da Graça no qual o
ser humano se torna capaz de crer, coisa que para os infiéis são absurdas. E a
apologética usa a razão que trabalha em cima da revelação natural para
defender a sua fé e conduzir o sujeito ao primeiro ato de fé dele, onde a Graça
começa a agir, movendo a vontade dele, iluminando a sua inteligência para fazê-
lo enxergar as verdades maravilhosas diante da qual as verdades racionais
ficam pálidas.