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Maçonaria e a Religião
“Em seus estudos o maçom deve ser guiado pela RAZÃO, AMOR e FÉ.”
Albert Pike
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Arché é um (ou vários) elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo de
criação dos seres naturais. Além de estar presente em todas coisas, a arché seria uma atividade, uma força
dinâmica que, em conformidade com sua forma de ação, originaria a variedade dos fenômenos naturais.
compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço. (SANTO AGOSTINHO, De
Magistro, p.319, CARVALHO, 2006)
Ambas, fé e razão buscam apresentar a verdade, mas o que é a verdade?
Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não
escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à
razão.
Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão,
referindo-se ao rigor e a exatidão. Assim, a verdade depende da veracidade, da memória
dos detalhes.
Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança. É a esperança de que
aquilo que é será revelado ou irá aparecer por intervenção divina. Em outras palavras, a
verdade é convencionada pelo grupo que possui crenças em comum.
“No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus” (João
1,1). Assim consta no original grego do Evangelho segundo São João. “Logos” se traduz
por verbo, mas também por razão.
Tem-se, portanto, uma importante relação entre a razão e o ato de crer, pois
como o homem acreditaria na revelação divina se não fosse possível conhecê-la de
forma intelectiva, abstrata e conceitual?
A fé se encontra em dupla dimensão, divina e humana. Ela ao mesmo tempo é
um dom de deus e também, uma faculdade humana. “Ora, a fé é o firme fundamento
das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem”. (Hebreus 11:1.3)
Sendo assim percebemos que cada indivíduo tem a sua verdade de acordo com
sua fé, mas acima de tudo, existe A VERDADE, que só ao criador compete.
A FÉ NA MAÇONARIA
Ao contrário do que muitos pensam, não há um deus maçônico, os maçons
permanecem comprometidos ao deus da religião que professam.
Portanto, a maçonaria não é indiferente às religiões, pois sem interferir na
prática religiosa, ela espera que seus membros sigam sua própria fé, seja ela qual for,
por isso a obrigação do candidato deve ser sempre tomada sobre o livro ou livros
sagrados de sua religião, qual seja que considere mais solene e obrigatório.
O objetivo da maçonaria como ciência especulativa é a investigação das verdades
divinas. Desde o momento de sua iniciação como aprendiz, até o tempo em que recebe
a frutificação completa da luz maçônica, o maçom é um investigador cuja recompensa
é a verdade, e todas as cerimônias e tradições da ordem tendem para esse objetivo final.
Nosso 19° Landmark diz “A crença no Grande Arquiteto do Universo é um dos
mais importantes Landmarks da ordem. A negação dessa crença é impedimento
absoluto e insuperável para a iniciação. ”
No 20° Landmark temos: “Subsidiariamente à crença no Grande Arquiteto do
Universo, é exigida a crença em vida futura. ”
Vemos então que a crença em um princípio criador, seja qual for o nome e sua
origem, assim como a crença na imortalidade da alma, são obrigações do maçom, pois
apenas através da dissolução do ego e consequentemente, do invólucro tridimensional
que chamamos de corpo, que seremos capazes ascender a planos superiores.
O Landmark seguinte, o 21° consta: “É indispensável a existência, no altar, de um
livro da lei, o livro que, conforme a crença, se supõe conter a verdade revelada pelo
Grande Arquiteto do Universo. Não cuidando a maçonaria de intervir nas peculiaridades
da fé religiosa dos seus membros, esse livro pode variar de acordo com os credos. Exige,
por isso, esse Landmark que um “livro da lei” seja parte indispensável dos utensílios de
uma loja.”
“O livro da lei é para o maçom especulativo a sua armação mestra; sem ele não
pode trabalhar; aquilo que acredita ser a vontade relevada do Grande Arquiteto do
Universo constitui sua armação espiritual; e deve estar sempre diante de seus olhos nas
horas de seu trabalho especulativo, para ser a regra e diretriz de sua conduta. ”
A maçonaria, mesmo não sendo uma religião, é essencialmente religiosa. A
maioria de suas lendas e alegorias são de natureza sagrada, muitas entrelaçadas na
estrutura do cristianismo, principalmente em nosso rito, o Rito Escocês Antigo e Aceito.
Parte essencial da espiritualidade na cerimônia maçônica é a oração. Negar a
eficácia da oração é negar a eficácia da fé, pois ao orar, seja qual for a forma de oração,
dirigimos nossa intenção, vontade, pensamento e força à uma inteligência absoluta e
infinita. São pensamentos dirigidos ao desconhecido, sendo este, um oceano no qual a
consciência é a bússola em busca de magnetismo espiritual que conecta a alma com a
divindade.
Percebe-se então que a fé no criador está acima de qualquer religião. Motivo
pelo qual utilizamos o termo Grande Arquiteto do Universo, nos referindo ao criador de
forma imparcial e não sob a ótica de religiões, que resultam em diferentes nomes como
Deus, Buda, Alá... dentre outros.
CONCLUSÃO
Tendo a ciência, como uma forma de busca da razão, Manly Hall diz que “ciência
e religião são duas pontas de uma única verdade, mas o mundo não se beneficiará de
forma plena de seus estudos até que ambas, ciência e religião, tenham feito as pazes e
trabalhem junto para a realização da grande obra, a liberação do espirito e inteligência
da prisão tridimensional de ignorância, superstição e medo.”
Esse trecho nos traz a mente a Quarta Lei Hermética, a Lei da Polaridade, que
diz: "Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são
a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os
paradoxos podem ser reconciliados"
Ainda de acordo com o Caibalion, “a tese e a antítese são idênticas em natureza,
mas diferentes em grau, os opostos são os dois extremos da mesma coisa, diferindo
somente em grau...os extremos se tocam”.
Não que a filosofia ou ciência estejam em oposição a religião. Porque a filosofia
nada mais é do que o conhecimento de deus e da alma, a de uma analogia sábia. É o
guia intelectual que o sentimento religioso necessita. Filosofia é aquele progresso
intelectual e moral que o sentimento religioso inspira e enobrece.
A recomendação "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo",
esculpida no Templo de Apolo em Delfos, deve ser assumida como uma regra para todo
o homem que deseje distinguir-se, no meio da criação inteira, pela sua qualificação de
homem, ou seja, enquanto conhecedor de si mesmo.
A conhecida sigla V.I.T.R.I.O.L. do latim "Visita Interiorem Terrae, Rectificando,
Invenies Occultum Lapidem", (Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a
Pedra Oculta) nos convida não apenas a mesma reflexão, mas também a prática
incessante de auto lapidação e evolução.
A relação entre fé e razão é intima, pois, para crer o homem precisa pensar e
para pensar precisa crer. “Não há motivo para existir concorrência entre a razão e a fé:
uma implica a outra, e cada qual tem seu espaço próprio de realização” (JOÃO PAULO II,
1998).
“O verdadeiro maçom não se limita a um único credo. Ele percebe com a divina
iluminação de sua loja, que como maçom, sua religião deve ser universal: Cristo, Buda,
Maomé, o nome pouco importa, pois, o maçom reconhece a luz, não o portador.
Ele adora todos os santuários e se curva diante de cada altar, seja templo,
mesquita ou catedral, percebendo com sua verdadeira compreensão a unidade de toda
a verdade espiritual” (MANLY HALL).
Ao longo da história, inúmeros são os casos de extremismo perpetrados por
fanáticos de ambos os lados, cegando o homem para a verdade pois quem procura a
separação, nunca encontrará harmonia. Mas quem procura a união, a encontrará.
Seguindo esse pensamento, o mestre maçom deve trabalhar sempre para unir a
fé e a razão de modo que possa iluminar esse mundo cada vez mais polarizado.
Nascidos no pecado da ignorância, devemos fazer uso da razão e da fé como
ferramentas para que a carne feita através do Verbo, reflita a glória de nosso Criador,
nesse e nos futuros planos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS
ARTIGOS
FÉ E RAZÃO: DIMENSÕES ESSENCIAIS DA PESSOA HUMANA - José Ricardo Carvalho - Revista Scientia Vol. 03 Nº06 (2016)
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