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ARTIGO SOBRE A CARTA ENCÍCLICA: FIDES ET RATIO DO SUMO PONTÍFICE:

JOÃO PAUIGREJ AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA SOBRE AS RELAÇÕES


ENTRE FÉ E RAZÃO

Matheus de Sousa Cabral

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade não acrescentar uma nova linha de pensamento sobre
a Carta Encíclica FIDES ET RATIO, mas apenas a função de expor alguns pontos que de
modo particular, chamaram-me a atenção. É um breve tarefa sobre os capítulos IV, V, VI, e
VII, que tem por finalidade tratar da relação entre Fé e Razão, discutindo e esclarecendo
alguns pontos principalmente se pode ou não Filosofia e Teologia caminhar juntas.

De antemão, é necessário entender de modo distinto o que seja a fé, e,


consequentemente a razão. De acordo com a palavra revelada, a fé caracteriza-se por “crer no
que não se vê” (Hb 11, 1). Ou seja, é uma esperança transcendental que supera até mesmo às
concepções humanas. A razão por sua vez, é a capacidade que o ser humano tem de falar,
pensar coordenadamente com medida e proporção, de modo claro e compreensível. É o que
difere o homem dos demais animais.

Após essa distinção, suja pergunta dos pontos fé e razão podem caminhar juntas
interroga o sumo pontífice João Paulo Segundo no capítulo 4 desço encíclica responde esse
questionamento de modo muito claro, utilizando-se da forma como os primeiros cristãos
anunciavam a mensagem Divina.

Os primeiros cristãos, para se fazerem compreender


pelos pagãos, não podiam citar apenas « Moisés e os
profetas » nos seus discursos, mas tinham de servir-se
também do conhecimento natural de Deus e da voz da
consciência moral de cada homem (cf. Rom 1, 19-21; 2,
14-15; Act 14, 16-17) ¹.

Vê-se de forma explícita que desde os primórdios há uma relação entre a revelação
Divina e razão humana. Os primeiros cristãos correlaciona uma com a outra, de modo a,
corroborar com o entendimento do seu discurso missionário.
O Santo Papa, pontua a filosofia como um caminho que pode levar a verdade,
contribuindo assim, a partir de sua verdadeira essência com anúncio profético da Igreja,
contudo ele acentua que a mesma recessusitar o seu verdadeiro espírito investigativo.

[...] A filosofia, que tem a grande responsabilidade de


formar o pensamento e a cultura através do apelo perene
à busca da verdade, deve recuperar vigorosamente a sua
vocação originária. É por isso que senti a necessidade e o
dever de intervir sobre esse tema, para que, no limiar do
terceiro milênio da era cristã, a humanidade tome
consciência dos grandes recursos que lhe foram
concedidos, e se empenhe com renovada coragem no
cumprimento do plano da salvação, no qual está inserida
a sua história ⁶.

A filosofia dos tempos modernos se caracteriza por seu antropocentrismo, ou seja, o


homem como o centro de sua investigação. Nessa, perspectiva o santo Padre apela para que a
filosofia volte a sua vocação originária, a mesma que buscava uma verdade além da razão
humana, uma filosofia Teocêntrica. Compreende o sumo Pontífice que apenas com esse
retroceder as gerações futuras poderão entender o seu papel evangélico no mundo.

João Paulo II no parágrafo (47), faz referência a uma filosofia marginal, que perdeu
sua essência, de refletir sobre a vida e se voltaram apenas para interesses adversos. “[...] essas
formas de racionalidade são orientadas, ou pelo menos orientáveis, como « razão instrumental
» ao serviço de fins utilitaristas, de prazer ou de poder”

Por fim, sem dúvidas Fé e Razão se correspondem e uma necessita da outra para que
se tenha uma maior veracidade e não venham a caminhar por tráfegos errôneos e equivocados.

A razão, privada do contributo da Revelação, percorreu


sendas marginais com o risco de perder de vista a sua
meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior
evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco
de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório
pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze
de maior incidência pelo contrário, cai no grave perigo
de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma
maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé
adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e
radicalidade do ser ⁴⁸.

Pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da


mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o
olhar sobre a novidade e radicalidade do ser.

Neste capítulo IV da encíclica, o santo Padre através de alguns santos e doutores, um


destaque para Santo Tomás de Aquino e também Santo Anselmo leva-nos a compreender que
há e é necessário que haja, uma íntima relação entre fé e razão. Destaca também, que filosofia
e fé devem caminhar a passos iguais.

À luz disto, creio justificado o meu apelo veemente e


incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela
unidade profunda que as torna capazes de serem
coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca
autonomia. Ao desassombro (parresia) da fé deve
corresponder a audácia da razão ⁴⁸.

Assim, o Papa concluí esse capítulo fazendo de antemão uma ligação ao próximo,
destacando a colaboração dos princípios filosóficos, aos princípios da Igreja que deve acender
aos princípios da razão.

No capítulo V “Intervenções do Magistério em matéria Filosófica”, São João Paulo


II acentua que a filosofia deve caminhar de acordo com os seus princípios próprios, ou seja,
deve proceder segundo seus métodos e regras. Assim diz o parágrafo (49), “pouca ajuda daria
uma filosofia que não agisse à luz da razão, segundo princípios próprios e específicas
metodologias”.

Entendemos que a filosofia abarca uma autonomia no seu modo investigativo e


conclusivo, contudo embora a Igreja não tenha a intenção de propor uma nova filosofia, a
autoridade para intervir em certas afirmações filosóficas principalmente aquele que põe em
risco uma doutrina católica, ou que poderá induzir os homens a uma heresia.

A Igreja tem o dever de indicar aquilo que pode existir,


num sistema filosófico, de incompatível com a sua fé. Na
verdade, muitos conteúdos filosóficos — relativos, por
exemplo, a Deus, ao homem, à sua liberdade e ao seu
comportamento ético —, têm a ver directamente com a
Igreja, porque tocam na verdade revelada que ela guarda
⁵⁰.

Não dúvidas de que a ação do Magistério sobre tais pensamentos filosóficos é para que
se evite algo maior, por exemplo um novo rompido na Igreja ou uma perseguição contra a
mesma levando o povo a acreditar que a Igreja não seja Divina.

Com tudo isso, a Igreja é Mãe e vê a filosofia com bons olhos por isso busca por meio
de intervenções não excluí-la, mas aperfeiçoá-la. É nesse sentido que o Papa se expressa no
parágrafo (57): “O Magistério, porém, não se limitou a pôr em destaque os erros e desvios
das doutrinas filosóficas. Mas, com igual cuidado, quis confirmar os princípios fundamentais
para uma genuína renovação do pensamento filosófico, indicando mesmo percursos concretos
a seguir”.

Por fim, o sumo Pontífice expressa o seu sentimento e o da Igreja em favor da


corroboração entre filosofia e o Magistério da Igreja no caminho da verdade genuína.

Em virtude das razões aduzidas, senti a urgência de


confirmar, por meio desta carta encíclica, o grande
interesse que a Igreja tem pela filosofia; ou melhor, a
ligação íntima do trabalho teológico com a investigação
filosófica da verdade. Daqui nasce o dever que o
Magistério tem de discernir e estimular um pensamento
filosófico que não esteja em dissonância com a fé. A
minha missão é propor alguns princípios e pontos de
referência, que considero necessários para se poder
instaurar uma relação harmoniosa e eficaz entre a
teologia e a filosofia. À luz deles, será possível discernir
com maior clareza se e como deve a teologia relacionar-
se com os diversos sistemas ou asserções filosóficas que
o mundo actual apresenta ⁶³.
Dessa forma, o Santo Padre faz uma ligação com o próximo capítulo, ou seja, a
(INTERACÇÃO DA TEOLOGIA COM A FILOSOFIA – VI). Aqui vê-se, em primeiro plano
como está organizada a teologia, a qual, há duas vertentes auditus fidei e intellectus fidei. No
parágrafo (65) da encíclica pode-se entender a função de cada uma. Assim, uma “recolhe os
conteúdos da Revelação tal como se foram explicitando progressivamente na Sagrada
Tradição, na Sagrada Escritura e no Magistério vivo da Igreja”, e a outra “[...] quer responder
às exigências próprias do pensamento, através da reflexão especulativa”.

É importante citar que a filosofia exerce a interação muito grande em assuntos teologal
e eclesial, sendo suporte para questões voltadas ao ser humano.

[...] filosofia proporciona à teologia a sua ajuda peculiar,


quando examina a estrutura do conhecimento e da
comunicação pessoal, e sobretudo as várias formas e
funções da linguagem. Igualmente importante é a
contribuição da filosofia para uma compreensão mais
coerente da Tradição eclesial, das intervenções do
Magistério e das sentenças dos grandes mestres da
teologia: estes, de facto, exprimem-se frequentemente
por conceitos e formas de pensamento conotados com
determinada tradição filosófica ⁶⁵.

Neste capítulo, é notório a explanação de variadas ramificações da teologia às quais


são: teologia dogmática, teologia fundamental e teologia moral. Destinadas de modo estrito a
“ser capaz de articular o sentido universal do mistério de Deus, Uno e Trino, e da economia
da salvação” ⁶⁶; outra, deverá procurar justificar e explicitar a relação entre a fé e a reflexão
filosófica” ⁶⁷; e por fim, a última, “deve recorrer a uma visão filosófica correcta tanto da
natureza humana e da sociedade, como dos princípios gerais duma decisão ética” ⁶⁸.

Por fim, vemos que é necessário que tenha de modo contundente uma interação entre
Teologia e a Filosofia, contudo ambas não podem perder suas características, muito menos
suas essências, por outro lado, a Teologia não pode se subjulgar apenas por correntes
filosóficas. E assim terminar o Santo Padre esse capítulo no final do parágrafo (79): “Mais
uma vez, encontramos nos Padres a lição que nos guia nesta convicção: « Crer, nada mais é
senão pensar consentindo [...]. Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [...]. A fé,
se não for pensada, nada é ». [ 95] Mais: « Se se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o
assentimento, realmente não se crê ». [ 96]”

No VII e última capítulo desse breve trabalho, que como disse é apenas a acentuação
de alguns pontos mais relevantes dessa brilhante obra. Busca mostrar que a Igreja mediante o
cenário atual em que se vive mais do que nunca deve estar mais ativa e atenta a tudo o que
acontece.

De modo algum, é indispensável que os valores evangélicos sejam reduzidos a


especulações ou mesmo, a tentativas de encobrir certas atitudes imorais. As exigências da
palavra de Deus são irrenunciáveis. O papel da Igreja nos dias atuais não são fáceis, contudo é
preciso deixar claro que os valores ensinados por Cristo não parou, mas continua a escoar
durante as gerações. E são esses os valores que a Teologia servindo-se muitas as vezes da
Filosofia deve defender, assim termina o capítulo VII: “] A reciprocidade que se cria entre as
disciplinas teológicas e os resultados alcançados pelas diversas correntes filosóficas, pode
traduzir-se numa real fecundidade para a comunicação da fé e para uma sua compreensão
mais profunda”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem dúvidas estamos diante de uma obra prima, que revigora nossa alma e preenche
de sabedoria o conhecimento. Está encíclica é uma para o qual, leva-nos a reflexão ao
homem, o mesmo que Cristo derramou seu próprio Sangue. Esta obra, não é para ser encarado
como um livro qualquer, mas é para ser estudada e aprofundada.

Neste breve trabalho está apenas uma minúscula parcela do que essa Encíclica pode
revelar. Fé e Razão, podem sim caminhar de mãos dadas, de modo que, uma respeite o
detrimento da outra. Lembrando que, a Teologia não pode mendigar o conhecimento que a
Filosofia propõe. A Igreja deve ser sempre atual, está atenta aos acontecimentos e
principalmente dar uma resposta á luz da Divina Revelação, Tradição e Magistério, podendo
se valer de meios filosóficos.

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