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Instituição: Faculdade Católica de Fortaleza

Curso: Bacharelado em Filosofia


Disciplina: Introdução ao pensamento teológico
Aluno: Pedro Vitor de Souza Silva

Resumo do cap. IV da Carta Apostólica de João Paulo II Fides et Ratio


("a relação entre a fé e a razão")

1. as etapas significativas do encontro entre a fé e a razão


Desde de seu nascimento, o cristianismo em seu anúncio encontra-se com
as correntes de filosofia existentes em cada período. Pois, os cristãos entendiam
que o anúncio do Evangelho não poderia ser feito apenas com as sagradas
escrituras, era necessário usar da consciência moral dos homens e do natural
conhecimento de Deus. Conhecimento esse que esteve entre os cuidados dos
filósofos clássicos para assim purificar as idéias mitológicas de Deus nos homens.
O encontro entre filosofia e cristianismo não seguiu um curso fácil e imediato.
A preocupação principal dos cristãos era o anúncio de Cristo, mas isso não
significava que não buscassem o aprofundamento de sua fé.
Justino vai ser um dos primeiros a tratar de forma positiva as relações entre
filosofia e revelação. Para ele, no cristianismo havia uma filosofia segura e certa.
Seguindo essa linha, Clemente de Alexandria também vê positivamente as
interações e diz estar no evangelho a filosofia verdadeira.
Durante esse desenvolvimento, também vemos o surgimento de um pensamento
filosófico mais crítico por parte dos cristãos. Orígenes se destaca por utilizar da
filosofia platônica para defesa contra os ataques do filósofo Celso. Assim, ele
elabora então uma primeira forma de teologia cristã. Dessa forma, o que antes na
filosofia era uma doutrina comum e generalizada sobre a divindade, passa a ter uma
outra perspectiva à luz da revelação.
Nesse processo de cristianização da filosofia platônica, vale ressaltar a
importância de Dionísio Areopagita e de forma mais intensa Santo Agostinho. “O
bispo de Hipona conseguiu elaborar a primeira grande síntese do pensamento
filosófico e teológico, nela confluindo correntes do pensamento grego e latino”
(p.56-57). Essa síntese será por séculos a forma mais elevada de reflexão entre
filosofia e teologia.
Os Padres do Oriente e do Ocidente de formas diversas relacionam-se com
as escolas filosóficas. Esse trabalho não consistia meramente em transpor as
verdades da revelação em categorias de filosofia, mas de explicitação plena do
pensamento dos importantes filósofos da antiguidade. Eles acolheram a razão e
inseriram a Revelação, sem medo de reconhecer semelhanças e diferenças.
Para Santo Anselmo, a primazia da fé não concorre com a razão, pois esta
não é chamada para expressar juízos sobre a fé, mas sim de proporcionar razões
para que a todos seja possível o entendimento dos conteúdos que compõem a fé.
Dessa forma é confirmada a harmonia entre os conhecimentos da fé e da filosofia.
2. A novidade perene do pensamento de Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás tem lugar privilegiado no percurso dessas relações. A harmonia
existente entre fé e razão foi posta em primeiro lugar. Para ele as duas luzes, fé e
razão, são provenientes de Deus e por isso não são contrárias. A fé solicita e a
razão e nela confia, enquanto a fé aperfeiçoa a razão. Essa fé tem seu valor de
racionalidade, pois é de algum modo exercitação do pensamento, e a razão não é
anulada quando assente à fé. Devido a isso, Santo Tomás é o modelo da reta forma
de fazer teologia.
O santo, entre suas importantes intuições, vai atribuir ao Espírito Santo a
tarefa de fazer amadurecer com o conhecimento, com a sapiência, a ciência
humana. “A sua teologia permite compreender a peculiaridade da sapiência na sua
ligação íntima com a fé e o conhecimento de Deus: conhece por conaturalidade,
pressupõe a fé e chega a formular retamente o seu juízo a partir da verdade da
própria fé” (p.62). Ele reconhece duas formas complementares de sabedoria: a
filosófica, capacidade que tem o intelecto de investigar a realidade, e a teológica,
que se fundamenta na Revelação.
3. O drama da separação da fé e da razão
Com o surgimento das primeiras universidades a filosofia passa a
relacionar-se de forma mais direta com outras áreas do saber científico. Porém, é na
baixa idade média que a distinção entre os dois conhecimentos progressivamente
vai se tornando má. o que o pensamento patrístico havia construído e concebido de
uma unidade entre ambos os conhecimentos que eram capaz de gerar a mais alta
especulação, foi aos poucos destruído por uma racionalidade separada da fé.
A contraposição entre razão e revelação surge do progressivo afastamento
da filosofia, desenvolvendo assim a filosofia moderna. Isso se dá principalmente no
humanismo ateu que entendia a fé como alienante e danosa à razão.
Com a crise do racionalismo temos por consequência o aparecimento do
niilismo. Essa filosofia entende o estudo e a pesquisa como fim em si mesma, sem
meta de encontrar a verdade. Faz-se importante ressaltar que a filosofia perde de
certa forma a sua função. Passa a ser mais um saber entre os demais. “(...)alguns
filósofos, abandonado a busca da verdade por si mesma, assumiram como único
objetivo a obtenção da certeza subjetiva ou da utilidade prática. Em consequência,
deu-se o obscurecimento da verdadeira dignidade da razão, impossibilitada de
conhecer a verdade e de procurar o absoluto”(p.67).
Pode-se então constatar uma progressiva separação entre fé e razão. Porém,
é possível encontrar germens preciosos de pensamento, que se forem
aprofundados de coração reto podem direcionar à verdade. Faz-se necessário não
esquecer que as relações entre fé e razão necessitam de cuidado e discernimento.
Ambas estão fragilizadas, a razão privada da revelação corre o risco de perder sua
meta. A fé, por sua vez, sem razão pode cair em um sentimentalismo. É necessário
recuperar a unidade entre as duas em suas autonomias.

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