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NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO

Karl von Eckartshausen

PRIMEIRACARTA

Para o observador sereno e pacífico, nenhum século é mais notável do que o nosso. Por
toda parte há fermentação ou tumulto. E essa fermentação se processa na mente dos
homens, bem como em seu coração. Por toda parte se desenrola a batalha da luz com
as trevas, de idéias mortas com idéias vivas; da vontade fraca ou morta, com o poder
vivo e ativo. A guerra entre o Homem animal e o advento do Homem espiritual.

Exerce teus supremos poderes, ó Homem natural! Tua própria batalha proclama a
natureza superior em ti adormecida. Prevês, sentes tua própria dignidade, porém, tudo
está escuro à tua volta. A chama de tua débil razão não é suficiente para iluminar a meta
a que deves aspirar.

Costuma-se dizer que estamos vivendo no século da iluminação. Seria mais correto
dizer: no século da penumbra. Aqui e ali, um raio de luz atravessa a nebulosa
obscuridade, mas não ilumina claramente a nossa razão e o nosso coração. Os homens
não concordam em suas idéias, os eruditos discutem, e, onde há discussão, ainda não
há verdade.

As questões vitais para a Humanidade estão ainda mais indefinidas, Não estamos
unidos, nem quanto ao princípio da razão, nem da moralidade, nem quanto à motivação
da vontade, Isto prova que, em meio a esta grande era de iluminação, ainda não
sabemos como são nossa cabeça e nosso coração.

Talvez tivéssemos aprendido tudo isto mais cedo, se não tivéssemos imaginado que já
tínhamos a chama do Conhecimento em nossas mãos; se tivéssemos examinado nossas
fraquezas e percebido que estamos carentes de uma Luz maior.

Vivemos numa época em que a inteligência é adorada. Colocamos um archote no altar


e clamamos: “Agora nascerá o Sol. A luz do dia surge verdadeiramente ao nosso redor,
visto que o mundo se ergue das trevas para a luz e a perfeição, por meio das artes, das
ciências, do bom gosto, e mesmo do conhecimento puro na religião”.
Pobre ser humano! Até que ponto isto te conduziu à felicidade? Terá havido um século
que tenha custado à humanidade tantos sacrifícios, como este? Terá havido um século
em que tenha sido maior a imoralidade, e mais predominante o egoísmo? O fruto revela
a qualidade da árvore. O iludido ser humano, com tua imaginada razão natural! Onde
tens a Luz com que desejas iluminar a outrem? Não são todas as tuas idéias copiadas
de tuas faculdades sensoriais, que te proporcionam, não a Verdade, mas, tão somente
aparências?

Não é relativo tudo o que é perceptível no tempo e no espaço? Não é verdade relativa
tudo aquilo que chamamos de verdade? A Verdade absoluta não se encontra no reino
das aparências. Tua razão natural não apreende a essência, mas, apenas a aparência
da Verdade e da Luz. Quanto mais se intensifica essa aparência, mais diminui a essência
da Luz, interiormente. 0 homem, então, fica perdido na aparência e tateia em busca de
fátuas imagens sem realidade.

A filosofia do nosso século eleva a débil razão natural à objetividade independente,


chegando mesmo a lhe atribuir poder legislativo, desvinculando-a de um poder superior,
tornando-a auto-suficiente e transformando-a numa verdadeira divindade. E assim a
filosofia faz abstração de todo relacionamento, toda verdadeira interação entre Deus e a
razão. E é esse deus da razão, que não tem outra lei senão a sua própria lei, que deve
reger o homem e fazê-lo feliz. Assim, as trevas devem dissipar a luz, a pobreza deve
produzir riqueza, e a morte deve criar vida. Mas é a Verdade que guia os homens para
a sua felicidade. Podem estas coisas proporcioná-la?

O que chamais de verdade é a forma vazia da idéia relativa a objetos sencientes ou


inacessíveis. É ela adquirida de fora, através dos sentidos, e classificada pela
compreensão, mediante uma síntese de relações percebidas, em conhecimento ou em
opinião. Não tendes qualquer verdade material. A origem espiritual e material é para vós
uma questão de compreensão, um número,

Da literatura e da tradição extraís a verdade moral, tanto teórica quanto prática; mas o
ego é o vosso princípio de raciocínio, e o egoísmo é a única motivação da vossa
vontade. Ou não vos apercebeis, por vossa Luz, da imperativa lei moral, ou a repelis
com a vossa vontade. Até aqui, isto produziu a presente iluminação. A individualidade,
sob o manto da hipocrisia filosófica, é filha da corrupção, que ela trouxe ao mundo.

Quem pode afirmar que o Sol está a pino, se nenhum raio de luz alegra a Terra e o calor
não vem dar vida às plantas? Se a sabedoria não aprimora o homem, e não vem o amor
felicitá-lo, então, quase nada está acontecendo.

Oh, se o homem natural, senciente, apenas aprendesse a reconhecer que o seu princípio
da razão não passa de egoísmo, que a motivação da sua vontade é exclusivamente
egocêntrica, e que, por causa disto, não pode deixar de ser extremamente infeliz, então,
haveria de buscar em seu próprio âmago um princípio superior. Haveria de se aproximar
da Fonte que esse princípio superior a todos pode proporcionar, visto que ele é a
Sabedoria da Realidade.

0 Cristo é Sabedoria, Verdade e Amor. Como Sabedoria, é o princípio da razão, a fonte


do mais puro conhecimento. Como Amor, é o princípio da moralidade, a motivação
essencial e pura da vontade. Amor e sabedoria completam o espírito da Verdade, a Luz
interior que em nós ilumina as questões transcendentais e lhes confere objetividade. É
inconcebível como o homem se aprofunda em erro quando abandona a verdade simples
da fé e a ela opõe sua opinião.

Nosso século quer decidir o princípio de razão e moralidade, ou a motivação da vontade,


com a cabeça. Se os eruditos prestassem atenção, fariam melhor em se determinar a
encontrar esse princípio no coração do mais simples dos homens, do que em todo o seu
brilhante raciocínio. 0 cristão praticante encontra essa motivação da vontade, esse
princípio de toda moralidade, objetiva e realmente, em seu coração. E ele está expresso
na seguinte fórmula: “Amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a vós
mesmos”. 0 amor a Deus e ao nosso semelhante é a motivação da vontade para o
cristão, e a essência do amor é o Cristo em nosso âmago.

Este é o princípio da razão, da sabedoria em nosso interior; e a essência da sabedoria,


a substância da sabedoria, é, por sua vez, o Cristo, a Luz do Mundo. Nele encontramos
o princípio da razão e da moral idade. 0 que estou dizendo não é fanatismo sobrenatural.
É genuína realidade, verdade absoluta, que cada indivíduo pode provar a si mesmo por
experiência, tão logo receba em si mesmo o princípio da razão e da moralidade, ou seja,
Cristo, como Sabedoria e Amor, Ele se intitulou a Verdade, e somente Ele é Sabedoria
e Amor.

0 homem senciente está completamente divorciado de base absoluta para o que é


verdadeiro e transcendente. Mesmo a razão, que hoje colocamos no trono como poder
legislador, não passa de razão senciente, cuja luz é tão diferente como o fraco brilho de
madeira podre em relação ao intenso fulgor do Sol.

A Verdade absoluta não existe para o homem senciente. Existe somente para o homem
interior, o homem espiritual, que tem o seu próprio sensorium. Mais precisamente, o
homem interior é dotado de um sentido interior, para receber a Verdade absoluta do
Reino Transcendental. Esse sentido espiritual faz uso de temas espirituais tão naturais
para a objetividade quanto os objetos externos para os sentidos exteriores. E tal sentido
interior, do homem espiritual, tal sensorium do reino metafísico, infelizmente ainda não é
conhecido daqueles que estão voltados para o exterior, e constitui um segredo do Reino
de Deus.

A presente descrença em tudo o que não apresenta objetividade senciente para a nossa
razão senciente, deve-se ao equívoco do Homem no julgamento das verdades
importantes para a Humanidade. E como poderia ser diferente? Para ver, é preciso ter
olhos; para ouvir, ouvidos. Cada objeto senciente requer a sua faculdade sensória. Assim
também o objeto transcendental requer o seu sensorium. Este sensorium está vedado à
maioria dos homens. Analogamente, o homem senciente julga o mundo metafísico assim
como o cego julga cores e, o surdo, sons.

Há um princípio objetivo, substancial, da razão, e uma motivação objetiva, substancial,


da vontade. Conjuntamente, constituem eles o novo princípio de vida, e a moralidade é
essencialmente inerente. Essa razão pura e essa substância volitiva, unidas, constituem
o Cristo Divino e Humano, a Luz do Mundo em nós, que deve evoluir diretamente em
união conosco, para se tornar conhecida como real. Esse conhecimento real é a Crença
viva na qual tudo procede em Espírito e Verdade.

Para essa evolução deve necessariamente haver um sensorium organizado, espiritual,


um órgão interior, espiritual, sensível a essa recepção de Luz. Na maioria dos homens,
porém, esse sensorium permanece oculto sob o peso das faculdades sensoriais. Esse
órgão interior é a faculdade sensória intuitiva do Reino Transcendental. Antes que ele
esteja ativo em nós, não podemos ter qualquer apreensão da Verdade superior.

O bloqueio desse órgão foi a conseqüência natural da queda do ser humano para o
estado de homem senciente. A matéria grosseira que vela esse sensorium interior é
como escamas cobrindo a visão interna; é isto que torna o homem exteriorizado incapaz
de ver no reino espiritual. Essa mesma matéria bloqueia nosso ouvido interior, de modo
que não podemos perceber o som do reino metafísico. Paralisa nossa língua interior, de
maneira que ficamos sem condição de pronunciara poderosa palavra do Espírito, que
outrora pronunciamos e através da qual controlamos a natureza externa e os elementos.

Fazer esse sensorium espiritual parte de si mesmo, é o segredo do Novo Homem, o


segredo do renascimento, e a mais profunda união do Homem a Deus. A mais nobre
meta religiosa, neste plano inferior, tem por destino do Homem sua união a Deus, em
Espírito e Verdade. Em função disto, podemos facilmente perceber por que a religião
procura sempre levar o homem senciente a um estado de submissão. Porque ela deseja
levar o homem espiritual a dominar, visto que o homem espiritual, ou o verdadeiro
homem de razão, deve reger o homem senciente. 0 filósofo também sente esta verdade,
mas seu erro está em que ele não conhece o verdadeiro princípio da razão. Em seu
lugar, põe ele o ego, sua razão senciente.

0 Homem possui, em seu Eu interior, um órgão espiritual ou sensorium, para receber o


verdadeiro princípio da razão, da sabedoria divina, a verdadeira motivação da vontade,
ou o amor divino. Analogamente, é dotado, em seu Eu exterior, de um sensorium físico,
material, para receber a aparência da Luz e da Verdade. A natureza exterior não
apreende a Verdade absoluta, mas, apenas a verdade relativa da aparência, de modo
que a humana razão não pode preservar qualquer compreensão verdadeira, e sim, tão
somente um vislumbre de aparência. Isto simplesmente excita desejo, no Homem, como
a motivação de sua vontade, e constitui a corrupção do Homem senciente, ou sua
natureza corrompida.

Esse sensorium exterior do Homem é composto de substância desproporcionalmente


formada, corruptível. 0 Eu interior tem por base uma essência incorruptível,
transcendental, metafísica. A primeira é a razão de nossa corruptibilidade e mortalidade.
A segunda é a razão de nossa incorruptibilidade e imortalidade. No Reino da Natureza
material, corruptível, o mortal reveste o imortal. Por conseguinte, toda a nossa
infelicidade provém do material corruptível da mortalidade.

Para o homem se libertar dessa infelicidade, é necessário que o princípio imortal,


incorruptível, presente em nosso Eu interior, seja desenvolvido e, por assim dizer, devore
o corruptível e mortal, a fim de que seja arrancado o envoltório da faculdade senciente e
possa o Homem se apresentar em sua pureza original. Essa crosta da natureza
senciente, que é uma substância verdadeiramente corruptível, presente em nosso
sangue, forma as cadeias da carne que mantêm nosso espírito imortal agrilhoado à
debilidade do corpo. Essa crosta pode ser mais ou menos aberta, em cada indivíduo,
pondo o Espírito em maior liberdade e mantendo mais objetividade do Reino
Transcendental com que ele passa a entrar em contato.

Há três passos de diferentes graus para a abertura dos nossos sentidos espirituais ou
do nosso sensorium espiritual. 0 primeiro grau só alcança a virtude moral. 0 Reino
Transcendental, em nós, atua por ação interior denominada inspiração. O segundo grau
abre o nosso sensorium à recepção do espiritual e intelectual. 0 reino metafísico, em
nós, atua por iluminação interior. 0 terceiro e mais elevado grau, e também o mais raro,
abre todo o Eu interior (a crosta que bloqueia nossa visão e audição espirituais);
permite-nos total percepção no reino espiritual, e objetividade das questões metafísicas,
transcendentes, pela qual, subitamente, todas as visões são explicadas de maneira
perfeitamente natural.

Assim, temos faculdades sensoriais e objetividade em nosso Eu interior, assim como no


exterior, mas os objetos e sentidos são diferentes. No Eu exterior, é a motivação do
sentido animal que atua em nós, e a matéria mais corrupta, senciente, recebe sua
influência. No Eu interior, é a substância indivisível, metafísica, que flui para o nosso
âmago. A essência incorruptível, imortal, do nosso espírito, recebe seu influxo. Em última
análise, porém, isto ocorre no Eu interior, tão naturalmente como no Eu exterior. A lei é
a mesma em toda parte.

0 Espírito, ou o Homem interior, possui uma faculdade sensória totalmente diferente,


bem como objetividade totalmente diferente, em relação ao Homem natural. Portanto,
não é de surpreender que ele permaneça um enigma para os eruditos do nosso século,
que não conhecem essa faculdade sensória e nunca tiveram qualquer percepção do
Reino Transcendental ou Espiritual. Avaliam eles o supersenciente na dimensão das
faculdades sensoriais, confundindo motivação corruptível com a substância incorruptível.
Julgam tão falsamente este assunto como o juízo de homens desprovidos de faculdades
sensoriais e que, por conseguinte, não têm percepção das coisas e, portanto, não
conhecem nem Verdade relativa nem absoluta.

As verdades que produzimos devem muito à filosofia de Kant. Provou ele,


incontestavelmente, que a razão, em seu estado natural, nada conhece do
supersenciente, espiritual, transcendental. Nada pode ela conhecer, quer analisando ou
sintetizando, e, conseqüentemente, não pode provar a possibilidade ou realidade de
espíritos, almas ou Deus.

Esta é uma grande verdade, altamente benéfica para a nossa época. E é fato que Paulo
já a havia escrito, em 1 Cor., 2: 24, mas a ímpia filosofia dos eruditos cristãos a pôs de
lado, até que veio a filosofia de Kant. 0 benefício desta Verdade é duplo. Primeiro, impõe
limites insuperáveis à apreensão, ao fanatismo e ao zelo da razão. Segundo, dá especial
destaque à necessidade e divindade da Revelação. Nossa humana razão, com sua
obstrução do supersenciente, sem a Revelação, não tem outra fonte objetiva da qual
possa ser instruída a respeito de Deus, do mundo espiritual, da alma e da imortalidade
da alma. Portanto, seria absolutamente impossível conhecer ou mesmo conjeturar algo
acerca destas coisas.

Assim, estamos em dívida para com Kant, dado que ele mostrou também aos filósofos,
conforme foi há muito estabelecido numa escola superior da Comunidade da Luz, que,
sem a Revelação, nenhum conhecimento de Deus é possível, ou sequer o conhecimento
da alma. Em função disto, é claro que uma Revelação universal deve servir de base
fundamental para toda religião do mundo. Segundo Kant, foi comprovado que o reino da
compreensão é totalmente inacessível à razão natural. Deus habita uma Luz que
nenhuma especulação, nenhuma razão não aberta, pode penetrar.

0 homem senciente ou natural, portanto, não tem percepção do transcendental. Por este
motivo, fez-se necessário que as verdades superiores lhe fossem reveladas. E, para isto,
a crença na Revelação é essencial, porque através dessa crença é que lhe é
proporcionado o meio de abrir seu sensorium interior, com o qual as verdades
inacessíveis ao homem natural podem se tornar objetivas.
É perfeitamente verdadeiro que obtemos nova objetividade com novos sentidos. Essa
objetividade talvez já exista, mas é desconhecida para nós, porque estamos carentes do
órgão de sua receptividade. Assim como a cor existe, embora o cego não a possa ver, o
som também existe, embora o surdo não o possa ouvir. A falha não está no objeto de
percepção. Deve ser procurada no defeito do órgão receptor.

Com o desenvolvimento de um novo órgão, temos nova percepção, nova objetividade. 0


Mundo Espiritual não existe para nós, somente por que o órgão que em nós o tornaria
objetivo não está desenvolvido. Com o desenvolvimento desse órgão, a cortina é
imediatamente aberta. 0 véu, até então impenetrável, é retirado. A Nuvem ante o
Santuário desaparece, e um novo mundo se nos apresenta, imediatamente. Caem as
escamas dos nossos olhos, e de pronto n os vemos rio Reino da Verdade, ao invés de
no reino da aparência.

Somente Deus é substância, Verdade absoluta. Somente Ele é aquilo que é. Nós somos
o que Ele faz de nós. Para Ele, tudo está na Unidade. Para nós, tudo está na
multiplicidade.

Muitos milhares de homens não sentem o menor desejo por essa abertura do sensorium
interior, assim como pelo verdadeiro objeto interior da vida espiritual, que eles
absolutamente não conhecem ou sequer imaginam. Eles não podem saber que o Reino
Espiritual ou Transcendental pode ser apreendido, e que o homem pode ser elevado ao
supersenciente e, mesmo, à intuição.

A grandiosa e verdadeira construção do Templo consiste, eternamente, em demolir a


miserável choupana adâmica e erigir o Templo da Divindade. Trata-se, em outras
palavras, de em nós desenvolvermos o sensorium interior, ou órgão receptor de Deus.
Após esse desenvolvimento, o princípio metafísico, incorruptível, há de reger o princípio
terreno, e o homem começará a viver, não mais no princípio do amor ao ego, mas, em
Espírito e Verdade, de que ele próprio é o Templo.

A lei moral passa a ser amor ao próximo em ação, já que no homem senciente, exterior,
natural, permanece como simples maneira de pensar. 0 homem espiritual, tendo
renascido em Espírito, apercebe-se da existência de tudo aquilo que, para o homem
natural, é apenas forma vazia de pensamento, som vazio, letras e símbolos vazios. Sem
o Espírito, interior, todas estas coisas são estagnantes, imagens mortas.

0 mais sublime objetivo da religião é a mais profunda união do Homem a Deus, e esta
união não é possível aqui, no mundo, por qualquer outro meio que não a abertura do
nosso sensorium espiritual, interior, tornando nosso coração receptivo à aceitação de
Deus. Estes são os grandes mistérios sobre os quais nossa filosofia não se permite
sonhar. A chave para os mesmos não é encontrada pelos eruditos.

Entretanto, sempre existiu uma Escola Superior, à qual foi confiada a salvaguarda de
todo conhecimento. Essa Escola foi a Comunidade Interior da Luz do Senhor, a
Sociedade dos Eleitos, que persistiu sem interrupção, desde a criação do Homem até ao
presente. Seus membros, é verdade, estão espalhados por todo o mundo, mas estão
sempre unidos por um só espírito e uma só verdade. Possuem eles um só conhecimento,
uma só fonte da verdade, um só Mestre e Senhor, em quem reside substancialmente a
Abundância Universal de Deus e que é 0 único que os inicia nos altos mistérios da
Natureza e no Mundo Espiritual. Essa Comunidade da Luz tem sido perenemente
denominada Igreja Invisível, Interior, ou a mais antiga Comunidade, sobre a qual vos
falarei mais na próxima Carta.
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OBS: 0 autor faz também distinção entre senciente, no sentido de capaz de sentir
impressões, e supersenciente, ou transcendental aos sentidos físicos. Estes dois
termos foram usados em lugar de sensual, que tem diferente conotação. A diferença está
entre o tipo de impressão e sua recepção, e não entre sensual, no sentido indecoroso, e
sensorial.

Com objetividade, Eckartshausen não quer dizer forma física, mas, aquilo que
chamaríamos de percepção. Sensorium significa as faculdades sensoriais como um
todo; os órgãos, o cérebro, e os nervos usados na percepção. Sensorium interíor é
alusão a faculdades que atuam nas impressões intuitivas e psíquicas.

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