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UE 2 - De onde vem o

conhecimento?

Apresentação

A teoria do conhecimento é uma das áreas da investigação filosófica que trata da origem e da
forma do conhecimento humano. Trata-se de um campo amplo e interdisciplinar que auxilia na
compreensão do conhecimento e do papel desempenhado por ele em nossas vidas. Essa teoria é
um dos elementos centrais da construção do raciocínio filosófico e parte integral de todas as
teorias políticas, éticas e estéticas sobre a linguagem e a lógica. Nesse contexto, prioriza a origem,
os limites e a natureza de temas voltados à cognição humana.

Pode-se afirmar que a filosofia analítica reúne um conjunto de tendências do pensamento filosófico
voltadas à utilização da lógica e da análise conceitual. Elas são importantes para a resolução dos
chamados dilemas filosóficos — situações complexas que apresentam duas ou mais alternativas que
desafiam as noções sobre o que é certo e o que é errado.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a comparar diferentes perspectivas filosóficas,
entender como os filósofos abordam a origem do conhecimento e desenvolver o raciocínio
filosófico no sentido de relacionar as suas dimensões de forma crítica.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Comparar distintas perspectivas filosóficas.


• Perceber como a filosofia trata a origem do conhecimento.
• Desenvolver o raciocínio filosófico de modo a relacionar suas dimensões de forma crítica.
Desafio

Uma das bases do ceticismo é que as percepções e os julgamentos podem ser falíveis, levando-se a
conclusões incorretas. Nesse contexto, o ceticismo tende ao questionamento de fatos, conceitos e
suposições, exigindo-se evidências concretas de uma determinada afirmação.

A partir dessas informações, analise a seguinte situação:


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Diante desse contexto, responda:

a) Qual ação você empregaria para conscientizar o funcionário sobre os potenciais riscos da
inteligência artificial na programação, mantendo seu entusiasmo e sem desencorajá-lo?

b) Que formas de assistência você forneceria aos programadores recém-contratados que estão
enfrentando obstáculos na gestão dos riscos de segurança?
Infográfico

O conhecimento humano, no seu atual estado de arte, certamente ultrapassou a dimensão


empírica. Em grande parte, esse feito deve-se ao desenvolvimento do método científico. Nesse
contexto, pergunta-se: qual é a importância da teoria do conhecimento para a ciência?

Em síntese, pode-se afirmar que a teoria do conhecimento auxilia na definição de conceitos, na


validação dos conhecimentos e na construção da metodologia científica pautada em preceitos
éticos.

Neste Infográfico, você vai conhecer alguns aspectos e conceitos importantes sobre esse tema.
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Conteúdo do Livro

A seguir, você vai encontrar algumas considerações a respeito do modo como nós construímos ou
alcançamos o conhecimento sobre algo, sobre nós mesmos ou sobre a realidade. Na obra em
questão, alguns autores clássicos serão posicionados de modo a contrastar suas ideias, perspectivas
e posições.

Acompanhe um trecho da obra Filosofia: textos fundamentais comentados, de Laurence Bonjour e


Ann Baker, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Inicie sua leitura no tópico
"Conhecimento do mundo exterior, extraído de epistemologia: problemas clássicos e respostas
contemporâneas".

Boa leitura.
L AURENCE BONJOUR
ANN BAKER

FILOSOFIA
TEXTOS FUNDAMENTAIS COMENTADOS

2ª EDIÇÃO
CONSELHO EDITORIAL DE FILOSOFIA
Maria Carolina dos Santos Rocha (Presidente). Professora e Doutora em Filosofia Contemporânea pela ESA/Paris e UFRGS/Brasil.
Mestre em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS)/Paris.
Fernando José Rodrigues da Rocha. Doutor em Psicolinguística Cognitiva pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica, com pós-
-doutorados em Filosofia nas Universidades de Kassel, Alemanha, Carnegie Mellon, USA, Católica de Louvain, Bélgica e Marne-la-
Vallee, França, Professor Associado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Lia Levy. Professora Adjunta do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em História
da Filosofia pela Universidade de Paris IV-Sorbonne, França. Mestre em Filosofia pela UFRJ
Nestor Luiz João Beck. Diretor de Desenvolvimento da Fundação ULBRA. Doutor em Teologia pelo Concordia Seminary de Saint
Louis, Missouri, USA, com pós-doutorado em Teologia Sistemática no Instituto de História Europeia em Mainz, Alemanha. Bacha-
rel em Direito. Licenciado em Filosofia.
Roberto Hofmeister Pich. Doutor em Filosofia pela Universidade de Bonn, Alemanha. Professor do Programa de Pós-Graduação em
Filosofia da PUCRS.
Valerio Rohden. Doutor e livre-docente em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado na Uni-
versidade de Münster, Alemanha. Professor titular de Filosofia na Universidade Luterana do Brasil.

EQUIPE DE TRADUÇÃO
André Nilo Klaudat. Doutorado em Filosofia, University College London. Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul.
Darlei Dall’Agnol. Doutorado em Filosofia, University of Bristol. Professor Associado I da Universidade Federal de Santa Catarina.
Marco Antonio Franciotti. Doutorado em Filosofia pela University of London. Professor Adjunto IV da Universidade Federal de
Santa Catarina.
Maria Carolina dos Santos Rocha. Doutorado em Filosofia Contemporânea pela ESA/Paris e Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
Milene Consenso Tonetto. Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Nelson Fernando Boeira. Doutorado em História, Yale University. Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Roberto Hofmeister Pich. Doutorado em Filosofia, Bonn Universität. Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.

B715f BonJour, Laurence.


Filosofia : textos fundamentais comentados / Laurence BonJour, Ann Baker ; consultoria e
revisão técnica desta edição: Maria Carolina dos Santos Rocha, Roberto Hofmeister Pich.
– 2. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2010.
776 p. ; 28 cm.

ISBN 978-85-363-2119-6

1. Filosofia. I. Baker, Ann. II. Título.

CDU 1

Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922


142 Laurence BonJour & Ann Baker

Questões para Discussão

1. Considere uma crença introspectiva sobre trand Russell nota que o método de pos-
um dos seus estados conscientes da men- tulação “tem todas as vantagens do roubo
te: a crença de que você está experimen- sobre a faina honesta”, com o que ele quer
tando uma dor no pulso, talvez, ou a cren- dizer que postular que algo é assim é fácil
ça de que você está pensando sobre Reid. demais para ser convincente. Essa mesma
Que tipo de razão ou base você tem para objeção pertence aos primeiros princípios
pensar que tais crenças são verdadeiras? de Reid (e, se não é o caso, por que não)?
É isso simplesmente algo que tem de ser 3. Pense sobre o problema, em alguma me-
aceito como um “primeiro princípio”, ou dida análogo, de como crenças de me-
há algo mais a ser dito? (Se há uma razão mória podem ser justificadas (estamos fa-
desse tipo, então a questão seguinte é se zendo uso do termo “crença de memória”
algo paralelo pode ser dito sobre as cren- para referir-nos a crenças que parecem ser
ças perceptuais concernentes a objetos memórias, não importa se o são realmen-
exteriores.) te ou não). Reid tem razão em afirmar que
2. Mesmo que objetos exteriores sejam per- filósofos que discutem a percepção em
cebidos diretamente, no sentido de que grande medida dizem frequentemente
não há nenhuma entidade intermediária muito pouco sobre a memória, embora
que é percebida mais imediatamente, ao questões bastante semelhantes pareçam
que parece pode-se ainda perguntar se a surgir ali. Pense em como soluções para-
crença ou a convicção específica que é o lelas às de Locke e às de Berkeley teriam
conteúdo de um juízo perceptual é ver- aplicação no caso da memória e considere
dadeira (ou provavelmente verdadeira). É os problemas que surgem em cada caso.
uma resposta suficiente a essa questão di- Crenças de memória podem ser justifica-
zer, como o faz Reid, que é simplesmente das em cada um desses dois modos? Se
um primeiro princípio que crenças desse não o podem, uma solução ao modo de
tipo são verdadeiras – especialmente se for Reid é a única disponível? E, se isso é as-
admitido, como ele o faz, que tal alegação sim, tal solução dá suporte, por analogia,
não é autoevidente ou necessária? Ber- ao relato de Reid acerca da percepção?

Laurence BonJour
Laurence BonJour (1943- ) é um filósofo norte-americano que leciona na Universida-
de de Washington. Ele é autor ou coautor de diversos livros sobre epistemologia e tam-
bém é o coeditor desta obra. Nesta seleção, BonJour recapitula o problema do mundo
exterior, tal como ele surge na obra de Descartes, de Locke e de Berkeley; em seguida,
explica e critica a resposta fenomenalista a esse problema, que se origina da concepção
de Berkeley (e da de Hume); finalmente, oferece uma solução provisória em linhas muito
basicamente lockianas. Ao final, ele também tem algo a dizer sobre concepções de rea-
lismo direto como aquela oferecida por Reid.

Conhecimento do Mundo Exterior,7 Extraído de Epistemologia:


Problemas Clássicos e Respostas Contemporâneas
1
Dados-sensórios (singu- Até aqui, aceitamos provisoriamen- ao invés disso, algo de um tipo bastante
lar: dado-sensório) são te a conclusão de que o objeto imediato diferente: (...) um dado-sensório (...) 1
basicamente as mesmas coisas da consciência na experiência perceptual Será útil ter um breve rótulo para
que Locke e Berkeley têm em jamais é um objeto material exterior, mas, esse resultado disjuntivo, e eu me refe-
mente quando falam de ideias
perceptuais: entidades que têm as
qualidades que são diretamente
7 Extraído de Epistemology: Classic Problems and Contemporary Responses (Lanham, Md.: Rowman &
ou imediatamente experimenta-
das e que existem na mente. Littlefield, 2002). Algumas notas foram suprimidas.
Filosofia: textos fundamentais comentados 143
rirei a ele como subjetivismo perceptual quadro metafísico definido da natureza
(...) de tais conteúdos.
Temos de considerar agora as impli- A concepção de Locke é claramente
cações do subjetivismo perceptual para a a de que as nossas crenças ou opiniões
questão epistemológica sobre a qual ele sobre os objetos materiais existentes fora
incide mais diretamente, que é, também das nossas mentes são justificadas pelas
se pode argumentar, a questão mais cen- nossas ideias dos sentidos.8 Contudo, a
tral do período moderno da epistemolo- sua discussão a respeito desse ponto é tan-
gia, que começou com Descartes: a ques- to deveras incerta quanto bastante cau-
tão se e, se esse for o caso, como crenças telosa. Ele diz que a nossa garantia com
concernentes ao mundo material exte- base no que concerne a objetos materiais
rior e aos objetos que ele supostamente “merece o nome de conhecimento” [p.
contém podem ser justificadas com base 71], parecendo, portanto, sugerir que ela
em nossa experiência sensória imedia- não é simplesmente conhecimento e sem
ta, assim entendida (...) examinaremos, qualquer qualificação. Ele também ques-
primeiramente, as opiniões dos sucesso- tiona se alguém pode ser genuinamente
res imediatos de Descartes, os chamados cético sobre a existência das coisas que vê
empiristas britânicos Locke, Berkeley e e sente, falando de modo vago acerca da
Hume, cujos argumentos desempenha- “garantia que temos a partir dos nossos
ram um papel central na configuração da próprios sentidos, que eles não erram na
discussão subsequente. Examinaremos, informação que nos dão” [p. 72].
então, os dois principais relatos alterna- Porém, o mais próximo que Locke
tivos do “conhecimento do mundo exte- chega da explicação de como tais crenças
rior” (com a suposição de que o subjeti- são justificadas pela experiência sensória
vismo perceptual ou algo parecido com é a sua citação de quatro “razões concor-
ele é de fato verdadeiro) que emergiram rentes” que são considerados como dando
subsequentemente, em especial nas for- confirmação posterior à garantia derivada
mas que assumiram no século XX: feno- dos sentidos: em primeiro lugar, podemos
menalismo e representacionismo. As difi- saber que as ideias sensórias são “produ-
culdades com essas concepções incitarão, zidas em nós por causas exteriores” pela
assim, na última parte do capítulo, uma observação de que aqueles que carecem
reconsideração referente a se a rejeição de um órgão sensório particular jamais
do subjetivismo perceptual poderia tor- podem ter as ideias sensórias correspon-
nar disponível uma alternativa posterior dentes [p. 72]. (Assim, por exemplo, um
e mais promissora. homem cego jamais pode ter experiências
sensórias imediatas de qualidades visu-
ais como a cor.) Em segundo lugar, uma
Locke, Berkeley e Hume sobre a outra razão para pensar que as nossas
Percepção e o Mundo Exterior ideias sensórias resultam de causas exte-
riores é o seu caráter involuntário, como
Como mencionado anteriormente, contrastado com a imaginação e, numa
Locke e Berkeley falam não de dados-dos- menor medida, com a memória [p. 72].
-sentidos (...), mas de “ideias” ou “ideias (Assim, por exemplo, se tenho os meus
dos sentidos” – com o primeiro termo olhos abertos e estou olhando numa dire-
sendo aplicado também a conteúdos de ção particular, não tenho escolha quanto
pensamento e, de fato, aparentemente a a quais objetos ou propriedades aparen-
conteúdos conscientes de qualquer tipo. tes eu experimentarei, isto é, na visão de
O modo como eles utilizam esses termos ­Locke, quais ideias de visão eu experi-
deveras escorregadios sugere, em muitos mentarei – enquanto olho para fora da ja-
lugares, algo como uma teoria de dados- nela da minha sala de estudo, não posso
sensórios dos objetos imediatos da expe- evitar de estar consciente de uma massa
riência sensória. Para os nossos propósi- de verde e marrom variegados, que tomo
tos, entretanto, será suficiente considerar
o termo “ideia” meramente para referir-
-se a conteúdos conscientes de algum tipo 8 Cf. John Locke, Essay Concerning Human Under-
e “ideias dos sentidos” para conteúdos
standing, Livro IV, Capítulo XI. As subsequentes
distintivos da experiência sensória, sem referências de página no texto são respectivas à
supor que esses termos indicam qualquer seleção no presente livro.
144 Laurence BonJour & Ann Baker

como sendo uma percepção de árvores, questão. Além disso, para invocar essa
galhos e folhas.) Em terceiro lugar, uma primeira razão, ele também precisaria ter
outra diferença entre as nossas experiên- crenças justificadas sobre os estados men-
cias sensórias imediatas e outros tipos de tais das outras pessoas, especificamente
ideias, como aquelas da imaginação e da concernentes a se elas têm ou não têm
memória, é que ideias sensórias de cer- ideias sensórias do tipo relevante. Como
tos tipos são acompanhadas por dor, ao esse último tipo de conhecimento é possí-
passo que as ideias correspondentes de vel, isso é em si mesmo um problema sé-
imaginação e de memória não o são [p. rio (o “problema das outras mentes”...).
72]. (Por exemplo, se tenho a experiên- Mas é muito claro, sob reflexão (...), que
cia sensória imediata de aparentemente o conhecimento dos estados mentais de
bater na minha mão com um martelo, outras pessoas normalmente depende de
ao tentar cravar um prego, normalmen- conhecimento anterior do comportamen-
te experimentarei a dor junto com isso; to e da condição dos seus corpos físicos,
contudo, se apenas imagino ou lembro pressupondo, novamente, o próprio co-
tal experiência, não há dor nenhuma).9 nhecimento do mundo material que ain-
2 Em quarto lugar, “os nossos sentidos, em da não foi estabelecido. 2
muitos casos, dão testemunho da verda-
pare Como você sabe da ...
existência e do caráter de do relato de cada um acerca da exis-
específico dos estados mentais de tência de coisas sensíveis fora de nós” [p. A segunda razão de Locke é pelo
outras pessoas? Que razão você 72]. (Por exemplo, a minha experiência menos um pouco melhor. O caráter invo-
tem para pensar que elas não
são, por exemplo, apenas robôs
visual da aparência de um fogo próximo luntário ou espontâneo da minha expe-
inteligentemente designados, que ao meu corpo é normalmente acompa- riência sensória ao menos a distingue de
não possuem estados mentais de nhada por experiências tácteis de calor, outros tipos de estados mentais e de expe-
nenhum tipo? (Ver a Questão para de cheiros aparentes de queimado, da au- riência (embora, talvez, não de um modo
Discussão 1.)
dição aparente de crepitações ou de ou- completamente agudo – não são muitas
tros sons distintivos do fogo, etc. – pense memórias e mesmo algumas imaginações
aqui você mesmo em outros exemplos.) semelhantemente involuntárias?). Con-
Todavia, Locke tem pouco a dizer em re- tudo, esse fato não parece estabelecer por
lação a como essas “razões concorrentes” si mesmo que experiências sensórias ime-
supostamente mostram que as nossas diatas são, como ele alega, causadas por
crenças concernentes a objetos materiais alguma coisa externa à pessoa que as tem.
aos quais se chega com base em nossas Por que as minhas experiências sensórias
experiências sensórias imediatas são jus- involuntárias não poderiam resultar, em
tificadas por aquelas experiências. Segue- vez disso, de alguma faculdade subcons-
se realmente tal conclusão? E, se esse for ciente ou inconsciente da minha própria
o caso, como e por quê? (...) mente que está fora do meu controle
De fato, as razões consideradas por voluntário? E, mesmo mais obviamente,
Locke são de peso bastante desigual. A que as ideias sejam involuntárias não nos
primeira é totalmente sem valor, porque diz nada se a causa externa, caso exista
incorre em petição do mesmo princípio em alguma, tem as propriedades específicas
questão e também requeriria uma solução que a minha experiência sensória parece
anterior de um outro problema epistemo- retratar (se ela “se assemelha às minhas
lógico relacionado. Até que o pro­blema de ideias”, como Locke colocaria). Por que
justificar uma crença em objetos exterio- a causa externa da minha ideia de uma
res com base em sua experiência sensória árvore verde, se há alguma, não poderia
tenha sido resolvido, Locke, obviamen- nem ser verde nem ter as outras proprie-
te, não está numa posição de apelar a dades de uma árvore? De fato, por que
supostos fatos sobre os órgãos sensórios ela não poderia, como Berkeley sugerirá,
de outras pessoas, dado que os órgãos ser alguma coisa totalmente diferente de
sensórios são estruturas físicas e, assim, um objeto material? E a terceira razão,
as crenças sobre eles teriam de ser justi- embora mostrando de novo, talvez, que
ficadas exatamente do modo que está em as experiências sensórias são, de modo
importante, diferentes de muitos outros
fenômenos mentais, também não dá su-
9 Pode haver, é claro, dor imaginada ou lembrada, porte de alguma maneira clara quanto a
mas isso, obviamente, não é a mesma coisa que a uma conclusão sobre o que é responsável
dor realmente experimentada. por essa diferença.
Dica do Professor

A teoria do conhecimento representa um ramo da filosofia que estuda a possibilidade e a


capacidade humana de conhecer algo, a origem das ideias e como temos certeza das coisas que são
experimentadas.

Essencialmente, busca-se entendimento sobre o que constitui o conhecimento, onde e como se


adquire o saber — por exemplo: razão, experiência, intuição — e os limites do conhecimento, ou
seja, até onde os conhecimentos (entendimentos) podem alcançar.

Nesta Dica do Professor, você vai ver, de modo mais claro, as considerações a respeito da teoria do
conhecimento, suas implicações e os elementos que a compõem.

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Exercícios

1) A epistemologia representa uma vertente filosófica importante, sendo responsável por


importantes avanços acerca da compreensão de aspectos importantes da vivência humana.

Nesse contexto, pode-se afirmar que a epistemologia:

A) é o ramo da filosofia que estuda o devir.

B) é o ramo da filosofia que estuda a liberdade humana.

C) é o ramo da filosofia que estuda a metafísica.

D) é o ramo da filosofia que estuda o conhecimento humano.

E) é o ramo da filosofia que estuda a moral.

2) O empirismo está vinculado à teoria do conhecimento, sendo que sua base está firmada no
pensamento de Aristóteles.

Considerando os seus conhecimentos, qual o significado de "empirismo"?

A) Significa experiência, sabedoria adquirida pela experiência (sentidos).

B) A teoria do conhecimento baseada em crenças simples.

C) É a concepção de que o conhecimento provém da racionalidade.

D) É a teoria que aponta que a experiência é incapaz de chegar à verdade.

E) A teoria do conhecimento baseada em crenças simples.

3) As origens do racionalismo remetem aos filósofos gregos, passando a ter maior evidência à
época do Renascimento — que representou grandes contribuições ao método científico e à
produção do saber.

Considerando os seus conhecimentos, o que significa a concepção racionalista?

A) Significa que o conhecimento verdadeiro apenas é possível através dos sentidos.


B) Significa que o conhecimento é impossível de ser alcançado.

C) Significa que o conhecimento humano se afasta da razão, sendo incapaz de levar à verdade.

D) Significa que o conhecimento verdadeiro se afasta do uso da razão e dos sentidos.

E) Significa que o conhecimento verdadeiro somente é possível através da razão.

4) Os ceticistas contribuíram muito para o desenvolvimento da teoria do conhecimento.

De acordo com os seus conhecimentos, qual é a principal consideração do ceticismo?

A) Apontar a razão humana como fonte única do saber.

B) Apontar os sentidos humanos como fonte única do saber.

C) Recorrer à certeza da verdade e à falsidade da realidade.

D) Apontar para a credibilidade dos sentidos no alcance do conhecimento.

E) Desconfiar da razão humana e dos sentidos como fonte de saber.

5) O dogmatismo pode ser considerado como um conjunto doutrinário e representa, inclusive,


uma postura específica perante o conhecimento.

Considerando os seus conhecimentos, qual é a principal característica do dogmatismo?

A) Subordinar o conhecimento a um significado ontológico.

B) Subordinar o conhecimento a uma finalidade prática.

C) Aceitar sem crítica os argumentos ditos como verdadeiros.

D) Assentar-se em uma total confiança na razão humana.

E) Negar a apreensão da realidade pelo sujeito.


Na prática

O empirismo está vinculado ao conhecimento empírico, ou seja, aquele que provém da realidade
prática, do cotidiano. Nesse sentido, a sabedoria é alcançada pelas percepções humanas. Os
empiristas defendem que o conhecimento é fruto das experiências vivenciadas. Enquanto o
racionalismo pugna pela prevalência da razão e da lógica, o empirismo defende a importância das
experiências sensoriais (observações empíricas).

Dessa forma, o conhecimento seria construído a partir das experiências que o indivíduo tem com o
mundo ao seu redor. Por exemplo, uma criança aprende que o fogo é quente quando toca nele e se
queima. Essa experiência sensorial lhe fornece o conhecimento de que o fogo é perigoso.

Confira, Na Prática, uma aplicação prática de premissas empíricas.


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Saiba mais

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

O método entre o racionalismo e o empirismo


O racionalismo e o empirismo costumam ser colocados em oposição, sob diversas abordagens.
Entretanto, existe uma possibilidade de unir essas correntes filosóficas. Neste artigo, você vai
encontrar reflexões muito pertinentes sobre esse tema.

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Elementos de uma teoria do conhecimento em Hegel


A obra Fenomenologia do espírito, de Hegel, apresenta importantes considerações sobre a teoria do
conhecimento. A partir da leitura deste artigo, você vai perceber que o sujeito e o objeto estão
imbricados.

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Reflexões sobre teorias epistemológicas do conhecimento que


influenciam o multiculturalismo
Neste texto, você vai conferir que a globalização e os fluxos migratórios resultaram na coexistência
de culturas. Há, portanto, um evidente multiculturalismo, que, por sua vez, produz reflexos
importantes no estudo das teorias do conhecimento.
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