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Neuropsicologia: perspectivas e

fundamentação psicométrica

Profa. Dra. Lisandra Borges


Lisa
Universidade São Francisco (professora e coordenadora do Serviço Escola de Psicologia)

LAPSAM Laboratório de Avaliação em Saúde Mental (Infantojuvenil)

SATEPSI (CFP) parecerista ad hoc

Autora da adaptação brasileira do SRS-2

Em breve HUMOR-IJ

Experiência de mais de 23 anos na Clínica Fenix (residência assistida para autistas).

2
3
Combinados
Grupos
Intervalos
Horários

4
5 Interface entre a psicologia e
a neurociência - estuda as
relações entre o
Neuropsicologia funcionamento cognitivo e o
comportamento.
avaliação neuropsicológica
procedimento usado para avaliar a expressão
comportamental e funcional da disfunção cerebral e
identificar o impacto da lesão ou doença mental nas
capacidades cognitivas, sensório-motoras, emocionais e
adaptativas gerais de um indivíduo. [...]

fornece dados quantitativos e qualitativos para descrever


essas habilidades (presença e gravidade de deficiências
neurocognitivas e dificuldades emocionais-
comportamentais).

6
Qual a diferença entre a atuação do psicólogo e do neuropsicólogo?

7
sumário

• Sexta-feira
Introdução à neuropsicologia – Definição e contexto histórico

• Sábado
Relação entre funções cognitivas e o comportamento humano
Fundamentos psicométricos (validade, fidedignidade, padronização e normatização)
Conceitos estatísticos fundamentais para a interpretação dos instrumentos neuropsicológicos

• Domingo
Atualidades e perspectivas futuras para a atuação profissional
Avaliação do módulo

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Funções cognitivas
Lezak (1995) o comportamento é composto pelos seguintes aspectos
Funcionamento
Cognição executivo
Emocionalidade
manipulação das forma como o
sentimentos e
informações do comportamento se
motivação
comportamento expressa

Exemplo de relação cérebro e funções cognitivas


(hardware e software)
Um computador para processar uma informação
envolve estágios de entrada, codificação,
armazenamento, decodificação e saída de
informação

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Para cada classe de função cognitiva se diferencia:

Funções mentais superiores: como


Funções que tratam de informações leitura, audição, memória,
que não podem ser comunicadas por identificação de faces, busca visual,
Funções que antecedem informações
verbais ou simbólicas palavras ou símbolos – padrões visuais criação de imagens visuais,
complexos ou sons processamento auditivo, aprendizado
de sequencias de localização espacial.

Lezak, M. (1995). Neuropsychological assessment (3ed.) New York. Oxford


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Áreas de associação: são conectadas com várias áreas
sensoriais e motoras por fibras de associação
Area Cortical Função

Cortex Motor Primário (giro pré-central) (em


Iniciação do comportamento motor
vermelho)

Recebe informação tátil do corpo (tato, vibração,


Córtex Somatosensorial Primário (em azul escuro)
temperatura, dor)

Córtex Prefrontal (em pink) Planejamento, emoção, julgamento

Córtex de Associação Motor (área pré-motora) (em


Coordenação do movimento complexo
verde)

Centro da Fala (Área de Broca) (em preto) Produção da fala e articulação

Córtex Aditivo (em marrom) Detecção da intensidade do som

Processamento complexo da
Área de Associação Auditiva (em azul claro)
informação auditiva e memória

(em amarelo)

Processamento complexo da informação visual,


Área de Associação Visual (em laranja)
percepção do movimento

Córtex Visual (em verde musgo) Detecção de estímulo visual simples

Área de Wernicke (em verde limão) Compreensão da linguagem


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O que é construto?
Neuropsicologia
Sir William Osler em 1913 conferência – EUA – usou o termo pela
primeira vez

Apareceu ainda como um subtítulo na obra de 1949 de Donald Hebb


chamada “The Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory.”

A neuropsicologia pode ser definida como um espaço de conhecimento


interessado em estabelecer as relações existentes entre o sistema
nervoso central (SNC) e seu funcionamento, por um lado, e das funções
cognitivas e comportamentos do indivíduo, por outro, tanto em
condições consideradas normais e nas patológicas.

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Neuropsicologia - História
Desenvolveu-se durante vários séculos

Relação corpo - mente, emoções,


comportamento e ambiente

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Pré-História
SNC surgiu há cerca de 30.000 35.000 anos atrás

Homo sapiens e neanderthalensis – SN diferente

Ausência de registros

Evolução do encéfalo humano

7000 e 20.000 anos – ciência dos trepanados

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17
2
Antiguidade
Registro mais antigo – papiro de Edwin Smith sec XX
(Egito)

1700 a.C. médico Inhotep – descrição clínica detalhada


de 48 casos com respectivos tratamentos racionais e
prognósticos (favorável, incerto e desfavorável)
Encéfalo – termo aparece pela primeira vez
Paciente com lesão no lobo temporal e alteração de
linguagem

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Antiguidade
Grécia antiga – medicina filosófica (problema corpo-alma)

Pitágoras (580 – 510 a.C.) no encéfalo situa-se a mente e no coração a alma e as sensações.

Alcmeon (500 a.C.) encéfalo – sede do intelecto e sentidos

Hipócrates (460-370 a.C.) epilepsia como um distúrbio do encéfalo e considerava sede do


intelecto e sensações (tese cefalocentrista) Solidificou a hipótese cerebral
Lesões cerebrais = alterações de personalidade Também do comportamento, do raciocínio

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Antiguidade
Platão (427-347 aC) encéfalo – sede do processo mental e
julgava a alma tríplice

Coração – sede da alma afetiva


Alma – alma intelectual
Ventre - concupiscência

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Antiguidade
Aristóteles (384-322 a.C.)
Coração é o centro das sensações, paixões, e inteligência (tese cardiocentrista) e o
encéfalo considerado para resfriar

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Galeno (129-200 a.C.), cujas teorias sobre o corpo humano,
com seus acertos e erros, dominaram a medicina por 14
séculos. Para ele, os nervos originavam-se no cérebro e na
medula e não no coração como ensinava Aristóteles. Os nervos
seriam condutos que transportariam os fluídos secretados pelo
Idade cérebro e medula espinhal para a periferia do corpo.
Média O cérebro seria a sede da sensação, do movimento e do
intelecto. Galeno explicava que a sensação era a mudança
qualitativa de um órgão sensitivo e a percepção, enquanto ação
do cérebro, era a consciência dessa mudança.
Idade média

Além do dilema coração x cérebro

Encéfalo = cerebrum + cerebellum

Cerebrum = sensações e memória

Cerebellum = controle músculos

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Idade média

Acreditava que nos ventrículos cerebrais circulavam espíritos

Importantes na regulação do comportamento

Hipótese ventricular, aceita pela igreja católica

3 ventrículos = Santíssima Trinidade

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Ventrículos

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renascimento
Leonardo Da Vinci (1452-1519)

Renascimento Itália

Desenhos anatômicos / ilustrações médicas

Descobriu 4° ventrículo
Moldes ventriculares – 4 ventrículos (2 laterais, um em cada
hemisfério, 3 altura do troco cerebral e o 4 na altura do cerebelo

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Séculos XVII e XVIII
René Descartes (1596-1650) primeiro filósofo moderno, foi também um anatomista

Relação Corpo x Alma / Acreditava hipótese ventrículos / mente adimensional e imaterial

reestabeleceu a ontologia dualista de que alma e corpo eram constituídos por diferentes substâncias, uma teoria que se tornou
crença comumente aceita por pensadores europeus (Brett, 1953; Hearnshaw, 1987).

Provocou uma dissociação mente e corpo

Contribuiu para alterar o rumo da medicina, ajudando abandonar abordagem mente-no-corpo que predominou de
Hipócrates até o renascentismo

Teve efeito na clínica – ignorando as questões psicológicas das doenças

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Século XIX

Nascimento da Biologia – Darwin (1809-1882). Descoberta do córtex cerebral

Quando o cérebro foi aceito

Problema: funções associadas a que áreas específicas?

Debate: Holistas x Localizacionistas

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SEC XIX
Gall (1759-1828) cérebro é um conjunto de órgãos separados (27 faculdades afetivas e
intelectuais)

FRENOLOGIA
Cada região seria um órgão responsável por uma função ou comportamento

Cada região molda a superfície craniana

Se uma região é bem desenvolvida, ela cresce em volume

30
31
Localizacionistas:

O cérebro atua de forma fragmentada

Cada região seria responsável por funções mentais e comportamentos específicos

Holistas:

Não haveria especificidade regional no cérebro

Para controlar o comportamento

As emoções, o pensamento

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Idade Contemporânea
Antropologia Criminal
“Delinquente Nato”
Evidências físicas

o criminoso é vítima principalmente de uma regressão hereditária a estágios


mais primitivos da evolução, justificando sua tese com base nos estudos
científicos de Charles Darwin. Uma de suas conclusões é possibilitar a
equivalência do criminoso a um doente que não pode responder por seus Cesare Lombroso
atos por lhe faltarem forças para lutar contra os ímpetos naturais (1835-1909)

33
Harlow, 1848

Phineas Gage apresentou alterações


comportamentais após o acidente:
inapropriado, desinibido, antissocial.
Também foram observadas alterações
cognitivas: dificuldades para planejar e
tomas decisões

Região lesionada:
Córtex pré-frontal orbital e medial

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Século XIX

Século XIX, Localizacionistas ganharam força

Pierre Paul Broca (1824-1880) e Carl Wernicke (1848-1905)

Encontraram correlação anátomo clínicas entre lesões cerebrais e


patologia da linguagem.

Século 19 importante pela demarcação


da neuropsicologia da Linguagem

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Paul Broca

9 pacientes: lesões lobos frontais do hemisfério esquerdo

Prejuízo produção da fala, preservação da compreensão

1865 – pacientes com perda da fala (amnésia verbal) – sede da


linguagem articulada – parte posterior da terceira circunvolução frontal
do hemisfério esquerdo

36
Idade Contemporânea
Síndrome nomeada de Afasia de Broca

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Carl Wernick
Carl Wernicke (1848-1904) Neurologista alemão

Pacientes com lesão no córtex temporal do hemisfério cerebral


esquerdo

1874 - Dificuldade na compreensão da linguagem

Lesão unilateral – expressão oral – compreensão da linguagem


falada – pessoa erra ao usar as palavras ou som

As duas áreas são conectadas por feixes de fibras nervosas

38
contemporaneidade
John Huhlings Jackson (1834-1911) – propôs que a organização cerebral dos
processos mentais complexos deveriam ser abordada do ponto de vista da
construção desses processos

- teoria da organização neurológica da função mental

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Idade Contemporânea
Egas Moniz (1874-1955)

Neurologista Português

Prêmio Nobel 1901

Lobotomia

40
Idade Contemporânea
A Frenologia foi rechaçada pela comunidade científica

Psicólogo Canadense Karl Lashley (1890-1958)

Princípio da Equipotencialidade

Qualquer área pode assumir função de outra área

41
O termo neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez em 1913,
desenvolvendo-se nos anos 40, a partir dos trabalhos de Hebb

1949 Hebb – teoria do funcionamento do córtex cerebral a partir das


conexões neuronais modificáveis – ié – cujas possibilidades de conexão
de umas das outras são múltiplas.

42
Walter Hess (1881-1973)

Diferentes atividades dependem de uma organização de estruturas

Atividades mais complexas recrutam maior número de estruturas

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Idade Contemporânea
James Papez (1883-1958)

Conceito de Sistema Límbico

Conjunto de estruturas responsáveis por:

Emoções, motivação

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45
Henry Molaison
9 anos - atropelado por um ciclista - ruptura do crânio.

convulsões contínuas e perda da consciência.

Após décadas, as convulsões se tornaram tão graves que o


impediam de levar uma vida normal.

1953 - remoção parcial do lobo temporal, as convulsões


diminuíram consideravelmente, mas as consequências foram
dramáticas. O paciente começou a esquecer tudo o que acontecia
com ele.

H.M. não conseguia aprender novas informações (faleceu 2008


46
Brenda Milner

ele não a reconhecia


H.M não se lembrava do que tinha feito antes. Apresentava
uma amnésia anterógrada, ou seja, uma perda da capacidade de criar
novas memórias.

Sua conclusões sobre os trabalhos com HM foram determinantes no


campo da neuropsicologia para diferenciar dois tipos de
memória: memória explícita e memória procedimental.

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Neuropsicologia Moderna
Alexander Luria (1902-1977) Sociólogo e Médico Russo

“Pai da Neuropsicologia”

Investigou as funções superiores nas suas relações com os mecanismos cerebrais e


desenvolveu a noção do SN funcionando como um todo, considerando um
ambiente social como determinante fundamental dos sistemas funcionais
responsáveis pelo comportamento humano.

Fçs psíquicas – produto da evolução, possuem estrutura complexa e estão sujeitas a


modificações em seus elementos constituintes.

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Sistemas de Luria

1° Vigília e tônus cortical


2° Receber, processar e armazenar informações
3° Regular e verificar as estratégias comportamentais

49
50
Hoje admite-se certa especialização
de áreas cerebrais

Neuropsicologia
Ainda que não de maneira absoluta
Atual
Uma área motora pode participar de
atividades sensoriais e vice-versa

51
52
53
54
Teste sua memória

55
Psicometria

Psicometria - do grego psyké, alma


e metron, medida, medição

É uma área da Psicologia que faz vínculo entre as ciências exatas, principalmente a matemática
aplicada - a Estatística.

56
Precursores
1879 – Wundt Primeiro laboratório de psicologia experimental.

processos inferiores: domínio sensorial e motor.


mais tarde se empreendeu o estudo experimental do pensamento e da vontade.

Discípulos de Wundt levaram para fora do laboratório as concepções e técnicas que ele aí tinha
estudado e colocaram-nas ao serviço da vida real.

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Francis Galton (1822-1911)
Biólogo - Interesse pelas diferenças individuais

investigações orientaram-no para a medida de aptidões individuais.

Foram as investigações sobre a hereditariedade que o levaram a medir os caracteres que


distinguiam mais ou menos os parentes ou não parentes

Darwin

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Galton

1884 - laboratório antropométrico

tabelas estatísticas - percentil

Foi o primeiro a estudar o problema da hereditariedade por processos estatísticos, a chegar a


resultados numéricos, a introduzir nas discussões sobre as diferenças em volta de uma média.

59
início
James M. Cattel, influenciado por Galton, acreditava que a chave para
compreensão do funcionamento da mente estava nos processos elementares e, em
seus estudos, deu ênfase nas medidas sensoriais.

Cattel elaborou uma bateria de com testes que investigava áreas relacionadas à
acuidade sensorial, ao tempo de reação, entre outros

60
O ponto de partida
Em 1896, A. Binet e V. Henri publicaram um artigo no qual criticavam a
maior parte dos testes existentes, quase exclusivamente destinados,
segundo eles, a medir funções simples e inferiores.

61
Alfred Binet
Escala métrica de inteligência (1905) que constitui verdadeiramente a
primeira série de testes mentais apropriados ao uso que deles
queiram fazer: classificar crianças, em graus de inteligência segundo a
idade.

Esta escala constitui, na história dos testes, o acontecimento capital.


Inspirou maior parte das realizações ulteriores no que respeita à
medida do desenvolvimento mental.

62
anos depois ...
Binet e Simon publicaram o primeiro
teste para medir a capacidade cognitiva
geral, a Escala Binet-Simon – 30 itens
(ordem crescente de dificuldade). O
objetivo era avaliar algumas funções
como julgamento, compreensão e
raciocínio, detectando assim, o nível de
inteligência em crianças das escolas de
Paris.

• Governo Francês

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ARMY
ARMY ALPHA
ARMY BETA
Instrumento não verbal de avaliação da inteligência

Posteriormente foram liberados para uso civil – revisões e estudos com


pessoas de diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade.

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Desenvolvimento da testagem
Após a Segunda Guerra, novos testes foram publicados, melhorando a
qualidade dos instrumentos, nos procedimentos de administração e nas
pontuações.

1920 – a testagem educacional ganhou campo e foram desenvolvidos testes de


avaliação de desempenho escolar e de habilidades escolares e acadêmicas
especificas, tais como o School Aptitude Test (SAT), o Graduate Record Exame
(GRE), o Medical College Admission Test (MCAT) e o Law School Adimission Test
(LSAT)

1930 – testagem em plena expansão nos EUA

65
Spearman
O inglês Charles Spearman (doutorado com Wundt, em Leipzig) foi um
dos principais teóricos da fase inicial da Psicometria.

Modelos matemáticos ao estudo do funcionamento mental,


especialmente com o refinamento do método de correlação, previamente
desenvolvido por Karl Pearson, e com o desenvolvimento da técnica da
análise fatorial.

Spearman – todas as habilidades cognitivas convergiam para uma


capacidade geral Fator G – habilidade geral / capacidade geral
66
Alfred Binet
Faleceu em 1912 e publicou a edição definitiva da escala em 1911.

Pai do método dos testes - concepção inteiramente nova da


medida de inteligência e por destinar o seu instrumento a fins
verdadeiramente práticos.

67
Thurstone

Leon Louis Thurstone, o criador da


análise fatorial múltipla, que deu o tom à
psicometria, diferenciando-a da
psicofísica.

Análise factorial - verificação dos padrões


de correlações entre diversas variáveis,
visando seu agrupamento

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frase Eventos culturais Eventos esportivos

1 goste de ir a exposições em museus + 0

2 frequentemente vou ao teatro + 0

3 apresentações circenses me deixam alegre + 0

4 adoro filmes com enredo esportivo + +

5 acompanho jogos de basquete no ginásio 0 +

6 torço pelo meu time de futebol no estádio 0 +

7 assisti pelo menos a uma partida de futebol neste ano 0 +

8 a corrupção na política me revolta 0 0

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Ao medir, o observador constrói um modelo com o qual busca
representar as diferenças que observou e que lhe parecem
significativas.

Quando construímos um modelo, queremos que as relações


existentes entre os elementos do modelo encontrem
correspondência nas relações existentes entre os objetos de nossas
observações.

70
CONSTRUTO
(TEORIA)
F1

OBSERVAÇÃO

V3 V2 V1

71
Premissas teóricas
Basicamente, dois são os possiveis focos:

o estilo nomotético (ou psicométrico) e o estilo idiográfico (ou


impressionista).

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Fundamentos de
Validade

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Critérios de qualidade de um teste psicológico
• I - apresentação da fundamentação teórica do instrumento, com especial ênfase
na definição do construto;

• II - apresentação de evidências empíricas de validade e precisão das


interpretacões propostas para os escores do teste (parâmetros psicométricos);

• III - apresentacão de dados empíricos sobre as propriedades psicométricas dos


itens;

• IV - apresentacão do sistema de correção e interpretação dos escores,


explicitando a lógica que fundamenta o procedimento.

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• Pensando sobre os critérios .....

75
Wartegg

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• A realização dos desenhos na ordem sequencial indica organização
• A união das retas do Campo 6 indica boa capacidade de associação e síntese.
• A multiplicação do tema no Campo 1 é característica de pessoas inseguras
• Desenho em pontilhado do Campo 7 indica Imaturidade afetiva

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Validade

Quando dizemos que algo é


válido (ou validado), qual ou
quais qualidades estamos
atribuindo?

78
Validade

A validade de um teste, basicamente, diz respeito ao cumprimento da


tarefa de medir o que este se destinou a medir, ou seja, é a
comprovação que o teste mede aquilo a que ele se propõe.

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Uma visão atual

Grau com que as interpretações sugeridas para os resultados de um teste


encontram sustentação em base científica sólida

Foco não está nos instrumentos, mas nas interpretações sugeridas

Importância da teoria
Hipóteses
Um processo contínuo de coleta e acúmulo de evidências de validade

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validade
Validade – conceito unitário

Evidências de validade – se busca saber as suas qualidades diante de


um propósito ou utilização particular.

Um mesmo teste pode servir a um objetivo de avaliação e não servir a


outro (populações diferentes, contextos diferentes ... ).

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VALIDADE
Não é o teste que possui evidências de validade; são as interpretações feitas a
partir dos resultados encontrados numa pesquisa com o teste em questão.

Urbina (2007)
“ o grau no qual as interpretações obtidas dos dados empíricos do teste encontram
sustentação em base científica sólida.”

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Fontes de evidência de validade
Antes de discutir as fontes de evidências, precisamos tocar em um assunto
delicado...
Revisão de um conceito básico da estatística: A CORRELAÇÃO!!!

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Correlação
O Coeficiente de Correlação de Pearson (r) dá duas informações:
• Intensidade da relação (quanto se correlacionam)
• Sentido da relação (positiva ou negativa)

O r varia entre -1 e +1
• Indica sentido em que as variáveis variam juntas

Correlação positiva: as duas variáveis “caminham” num mesmo sentido

Correlação negativa: as variáveis “caminham” em sentido oposto

Correlação nula (zero): não há padrão de relacão

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Correlação – exemplos cotidianos:
Leituras obrigatórias X notas em Psicometria

Idas ao bar X desempenho na faculdade

Velocidade X multas de trânsito

Ingestão diária de gordura X peso corporal

Horas trabalhadas X salário

Outros exemplos...?

85
Validade
• Abordagem clássica
Validade de conteúdo (itens representa?)
Validade de critério (fazer previsão?)
Validade de construto (n de itens)

• Abordagem contemporânea

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Abordagem contemporânea
A) Evidências de validade baseadas no conteúdo

B) Evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis

C) Evidências de validade baseadas na estrutura interna

D) Evidências de validade baseadas no processo de reposta

E) Evidências de validade baseadas nas consequências da testagem.

87
Evidências de validade baseadas no conteúdo

Busca-se verificar a relação entre o conteúdo dos itens do teste e o construto que se
planeja avaliar.

Verificar se, juntas, os itens representam de forma adequada todas características do


construto .

É uma evidência baseada muito fortemente na teoria do construto em questão

Lembrando do processo de construção de um teste: após se definir o que se quer avaliar,


deve-se fazer uma ampla revisão da literatura científica, buscando compreender e
operacionalizar o construto

88
Evidências de validade baseadas no conteúdo
Exemplo de estudo: Educação Olímpica: avaliação da validade de conteúdo do
“questionário de valores olímpicos (qvo-27)” - (Secco, Santos, Costa, Todt, Saldanha
& Silva, 2009)
objetivo - avaliar a validade de conteúdo do (QVO-27)”. O questionário contempla 3
Valores Universais Olímpicos a saber: Amizade, Excelência e Respeito

Três juízes avaliadores tomaram parte nesta etapa (1 doutor e 2 mestres com
experiência na área). Utilizou-se a Escala de Pertinência e Clareza (EPC) -
consistência de julgamento de competentes opiniões especializadas de juízes-
avaliadores. Ainda, podem-se responder, ao menos em parte, questões relativas à
validade de conteùdo por meio da avaliação positiva dos juizes-avaliadores quanto
à pertinência teórica das questões.

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Evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis

Relações dos resultados do teste com outros, que avaliem:

• O mesmo construto (Figura 1);


• Construtos ou características relacionadas (Figura 2);
• Construtos diferentes (Figura 3);

Aqui, se busca estabelecer padrões de convergência ou divergência entre


construtos e variáveis psicológicas

Uso direto da correlacão

90
características relacionadas(figura2);
Evidências de validade baseadas nas
erentes(figura3);relações com outras variáveis
omportamentos.

estabelecer
ergência ou
e construtos
ógicas.

relação.
91
Evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis

O que esperar de:


• (a rigor, “esperar” baseando-se na literatura e achados científicos prévios)

Correlação entre dois testes de inteligência?

Correlação entre um teste de inteligência e um de atenção?

Correlacão entre um teste de inteligência e notas escolares?

Correlação entre um teste de inteligência e quantidade de acidentes de trabalho?

Correlacão entre um teste de inteligência e um de personalidade?

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93
Evidências de validade baseadas na estrutura interna

Relação empírica entre os itens do próprio teste

Uso da análise fatorial: a grosso modo, é uma correlação entre os itens da escala
• A partir dos resultados os itens são agrupados em fatores

Essa fonte busca verificar se as dimensões de um determinado construto teórico se


comprovam empiricamente

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http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492014000200002 96
Evidências de validade baseadas no processo
de resposta
Fornece informacão sobre o processo de resposta a um item ou a um teste

Busca descrever o processo mental envolvido na resolucão de um problema ou


uma questão

Muito usada em testes de inteligência no exterior, mas poucos estudos dessa


natureza no Brasil

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Evidências de validade baseadas nas consequências da testagem

Validade consequencial
Foco nas consequências sociais do uso de um teste
• Uma avaliacão deve conduzir a algo benéfico para a pessoa avaliada

Por exemplo: testes diagnósticos que podem ajudar a detectar condições que
necessitem de intervenção
ENADE: tem como consequência a melhoria da educacão superior no Brasil

Avaliação terapêutica

Também pouco usada no Brasil

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O processo de coleta de evidências de validade revelam o que e como podemos
tirar de informacão de um teste
É importante considerar questões relativas à população alvo, bem como ao
contexto em que o teste será utilizado
É dever ético do psicólogo entender que o uso de um teste é uma escolha que deve
ser mediada pela compreensão dos seus alcances e suas limitações
E o principal: o manual do teste deve propor interpretações empiricamente
validadas por meio de um ou mais fontes, mas quem toma decisões é O
PSICÓLOGO!

99
Fundamentos de Precisão
100
Precisão
Conhecida também como confiabilidade e fidedignidade

Refere-se à estabilidade do teste, de maneira que, quanto mais


próximas forem as pontuações obtidas por métodos ou situações
diferentes, maior será a consistência do teste.

101
Precisão
O conceito de precisão opõe-se ao de erro de medida, de
maneira que, quanto mais preciso for considerado um
teste, significa que mais livre de erros ele se encontra.

A precisão de um teste é determinada pelo nível com que


suas pontuações são livres de erros.

102
Existe medida livre de erro???

Contexto da testagem (aplicador, avaliador, ambiente de testagem, motivos da


aplicação), ao testando e ao teste em si.

103
Definição clássica de Fidedignidade ou Precisão

“Precisão refere-se à consistência dos escores obtidos pelas mesmas pessoas


quando reexaminadas com o mesmo teste em ocasiões diferentes*, ou com
diferentes subgrupos de itens equivalentes, ou outras condições de exame
variáveis” (Anastasi & Urbina, 1997).

*.... desde que esteja garantido que as pessoas não tenham mudado no construto
medido

104
Atualmente, no contexto de medida, fidedignidade se refere a consistência ou
estabilidade dos resultados das avaliações;

A fidedignidade é considerada uma medida dos escores ou dos resultados das


avaliações e não dos testes;

Fidedignidade => erros de medida;

Toda medida tem um certo grau de erro associado.

Origens dos erros de medida.

105
se simplesmente soubermos que o teste é preciso, isto é, só tivermos
evidência de precisão, isso não será garantia de que o teste seja válido.
• Estranho ?! É porque implicitamente assumimos a validade.

Precisão é necessária mas não suficiente como evidência de validade.

106
Precisão
Existem diferentes métodos utilizados para se estimarem os coeficientes de
precisão.

Método das formas alternadas


Método de teste-reteste
Método das metades (Split-half)
Método de coeficientes de Kuder-Richardson e alfa de Cronbach
Método de precisão entre avaliadores

107
Padronização e normatização
108
Os testes psicológicos diferenciam-se de
outras técnicas de avaliação por se tratar de
procedimentos referenciados a normas e a
diretrizes interpretativas padronizadas, com
bases em categorias preestabelecidas.

109
Cronbach (1996) / Alchieri e Cruz (2003) Pasquali (2003, 2010)

Padronização – a
uniformidade na aplicação dos Normatização – A
uniformidade na interpretação
testes (material, ambiente, dos escores dos testes
aplicador, instruções de (tabelas, percentis, escore z e
aplicação e correção, etc.) etc)

110
O material da testagem
Qualidade do teste: validade e precisão. (parecer satepsi?)
Risco: processo jurídico e condenação ética.

Pertinência do teste: além de ser válido e preciso, o teste tem de ser


relevante ao problema apresentado pelo sujeito. O aplicador deve
conhecer a utilidade de um dado teste, o que ele avalia, qual o
contexto
O teste deve ser pensado na população a ser aplicado

111
Ambiente físico

O ambiente de Condições
psicológicas
(Compreensão
testagem da tarefa /
rapport )

O momento
avaliar o tempo
de aplicação do
teste.

112
Condições de aplicação

Condições favoráveis para administração de testes podem causar efeitos no


desempenho deles. Estudos mostram que os resultados nos testes são afetados
pelos procedimentos utilizados durante a administração dos instrumentos.

nível de dificuldade
(adaptar-se ao nível controle dos fatores que
tempo suficiente
intelectual, profissional, podem distrair
etc)

113
O aplicador
Elemento importante da situação, principalmente na testagem
individual.

Pasquali (2003)
O modo da atuação do aplicador pode afetar bastante os resultados do
teste.

114
Sigilo e divulgação de resultados
Normas de sigilo profissional contidos no Código de Ética do Psicólogo no Brasil
(CFP, 1987).
A pessoa que se submete a avaliação tem o direito de receber informações acerca
dos resultados da avaliação. Quem solicita também tem o direito de receber os
resultados, como empresas no processo de seleção; juízes ...
As informações devem ser estritamente as necessárias `a resposta da solicitação.

115
Normas de interpretação dos testes

Normatização

116
Normatização
Pressupõe que um teste necessita ser contextualizado para poder ser
interpretado. Tal conceito diz respeito a padrões de como se deve
interpretar um resultado que a pessoa atingiu em um teste.

Urbina – os resultados brutos (escores) não são muito úteis numa AP.
Os números não transmitem nenhum sentido, mesmo depois de um
exame aprofundado. Assim ....

117
Normatização

Por meio da estatística descritiva (distribuições de frequência, gráficos,


percentis, variabilidade, etc), pode-se relacionar ou dar sentido aos
dados de modo a facilitar a sua compreensão e utilização.

118
Por exemplo
Cirilo apresentou 40 pontos num teste de inteligência não verbal e 20
pontos no teste de memória visual.
Maria Joaquina acertou 70% das questões

Qualquer resultado bruto deve ser referido a alguma norma ou algum


padrão para que tenha algum sentido.

119
A norma permite posicionar o resultado de um
sujeito, possibilitando inferências ...
A posição que a pessoa se localiza no traço medido pelo teste que
produziu o resultado medido;

A comparação da pontuação deste sujeito com os resultados de outras


pessoas com características similares.

(amostras representativas)

120
121
Percentis
O percentil indica a posição relativa do sujeito na amostra de
padronização. Assim, a localização do sujeito, do ponto de vista
percentílico, indica quanto por cento de pessoas desta população
(amostra) apresentaram resultados inferiores ao dele.

um escore bruto menor do que 20 será expresso como percentil 40


Um percentil de 50 indica que o sujeito se situa na mediana dos escores da amostra.

122
Para a população {1, 3, 5, 7, 9}
Qual é a mediana
... 5
E a média ?
5

{1, 2, 4, 10, 13} Qual é a mediana? 4 E a média? 6

123
Percentis
Podemos dividir uma distribuição de dados em quatro partes iguais, chamados
de quartis. O primeiro quartil consiste em 25% das distribuições inferiores. O
segundo quartil consiste nos 25% seguintes da distribuição e assim por diante. Nós
podemos dividir a distribuição em centésimos ou como é comumente chamada de
percentis, onde cada percentil representa 1% da distribuição. A vantagem do
percentil é que ele mostra onde uma observação particular pode se encontrar em
comparação à todo o restante.

124
Percentil

Chaves obteve um resultado bruto de 30, num teste de matemática, e


de 58 num teste de leitura, não se pode comparar diretamente os
resultados, porque suas unidades de medida têm características
diferentes.

No entanto, se referenciar os resultados em percentil verifica-se que


30 pontos = percentil 65 e
58 pontos = percentil 40
Concluo que ...

125
• Posso inferir que Chaves apresentou um resultado melhor no teste de
matemática do que no de leitura.

• Facilidade para interpretação e comparação dos dados.

126
Escore padrão z
Com os avanços, resultados em formato de escore padrão ou escore z

Urbina (2000) O escore padrão revela a distância do sujeito em relação


à média, em termos de desvio padrão da distribuição.

127
128
Escore padrão linear

129
Escore padrão normalizado (EPN)

O objetivo da transformação dos resultados brutos em outro tipo de


escala derivada é tornar compatíveis os resultados obtidos em
diferentes testes.

130
Escore Padronizado “z”

Varia geralmente de -4 a + 4
Média em 0 e Desvio Padrão 1

zi 
 X iX 
DP

131
Percentil
escore de ranqueamento, classificação em posições

Posição do sujeito com relação ao grupo normativo

132
Atualidades e perspectivas futuras

133
Neuropsicologia hoje
Interdisciplinaridade

134
Desafios
Formação continuada
situação laboral atual
procedimentos de avaliação e diagnóstico utilizados
técnicas de reabilitação selecionadas
população clínica atendida
atividades de ensino e pesquisa.

135
Teleneuropsicologia (é possível?)

136
Questões éticas

137
Questões éticas

Independentemente do
sexo, renda, raça, crença,
orientação sexual, idade,
escolaridade
138
“Pelos atos que praticamos em nossas relações com os
homens nos tornamos justos ou injustos”

Aristóteles
139
Avaliação da aprendizagem (IPOG)

Avaliação do módulo

140
lisandrabvlima@gmail.com
@lis_borges
(11) 97458-7142

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