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NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

E O NEUROPSICOPEDAGOGO
UNIDADE II
A NEUROPSICOLOGIA: O FUTURO É AGORA
Elaboração
Luciana Raposo dos Santos Fernandes

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE I
A NEUROPSICOLOGIA: O FUTURO É AGORA.............................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 1
QUE CÉREBRO É ESSE?................................................................................................................................................................. 6

CAPÍTULO 2
A EPISTEMOLOGIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA........................................................................................................ 10

CAPÍTULO 3
A ANCORAGEM ATRAVÉS DE ABORDAGENS TERAPÊUTICAS................................................................................... 18

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................35
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A NEUROPSICOLOGIA:
O FUTURO É AGORA
UNIDADE I

Compreender melhor como funciona o cérebro e entender quais conexões são feitas
na aquisição de conhecimentos são fatores que se tornam grandes aliados no processo
de aprendizagem, de acordo com que apontam os especialistas que se dedicam à
neuroeducação, uma das várias áreas do conhecimento da neurociência que, por sua
vez, estuda o sistema nervoso.

Desse modo, existem pesquisadores que estudam o neurônio, outros que se dedicam
especificamente ao estudo do metabolismo do neurônio ou que estudam o comportamento
desencadeado por essas células. Consequentemente, a neurociência é muito abrangente
e, ao se dedicar ao estudo do sistema nervoso, nos leva a conhecer a forma de seu
funcionamento e entender melhor vários comportamentos do ser humano, incluindo
o processo de aprendizagem.

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CAPÍTULO 1
QUE CÉREBRO É ESSE?

A neuropsicopedagogia dialoga com as demais ciências, pois precisamos de bases


científicas para que possamos compreender melhor o indivíduo. Dessa forma, ela nos
leva ao entendimento estrutural, funcional, patológico e comportamental, quesitos
que se referem à memória, ao humor, à atenção, ao sono, ao comportamento geral de
qualquer indivíduo.

Historicamente, a neurociência começou a se destacar no século XIX com dois grandes


cientistas, Hitzig e Fritsch, os quais, por meio de estímulos cerebrais, conheceram e
perceberam que todo o cérebro responde efetivamente a mudanças. Logo em seguida,
tivemos uma grande contribuição de Ramon Cajal que com seus ensinamentos pode nos
oferecer a visão de que estímulos são proporcionados por meio das sinapses neurais.

Graças a Cajal, o cientista Eric Kandel, considerado o pai da neurociência, afirma que
somos produto das nossas sinapses. Ele vai além ao dizer que somos quem somos em
função daquilo que aprendemos e do que lembramos. Se não bastasse, ele também fez
uma ponte entre a psiquiatria, a biologia cerebral e a terapêutica. Segundo o que dizia,
nem tudo se explica por conflitos psíquicos nem por neurotransmissores alterados,
afinal os cérebros podem se alterar com novas aprendizagens e conexões.

Figura 4. Eric Kandel defendeu que o cérebro pode se alterar em decorrência de novas
aprendizagens e conexões.

Fonte: https://innerchange.com.au/brain-health-boost-factors/.

A rotulação do indivíduo
Embora a tendência de rotulação seja muito forte, a neuropsicopedagogia que perpassa
as interfaces importantes do cérebro vem contribuir com um olhar de inclusão para que
os profissionais possam entender como o sistema nervoso funciona e a estruturação que
ele tem relação com o funcionamento do cérebro.

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Note que a primeira base científica no processo do aprender se encontra relacionada às


bases químicas e físicas da função neural. Por conseguinte, essa base funciona exatamente
em uma estrutura celular que investiga a forma como esse sistema funciona, de modo
que ele possa receber, transmitir e decodificar informações.

Tabela 2. Fluxograma da organização do sistema nervoso.

Sistema Nervoso

Sistema Nervoso Sistema Nervoso


Central (SNC) Periférico (SNP)

Encéfalo Somático Autonômo

Medula espinhal Simpático Parassimpático

Fonte: Acervo pessoal.

Pelo fluxograma que destacamos, é possível perceber que o SNC recebe, analisa e integra
informações. Ele também é responsável pela tomada de decisões e envio de ordens. Já o
SNP carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema
nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas). Por sua vez, o SNC divide-se
em encéfalo e medula. O encéfalo corresponde ao telencéfalo (hemisférios cerebrais),
diencéfalo (tálamo e hipotálamo), cerebelo e tronco cefálico (que se divide em bulbo,
situado caudalmente; mesencéfalo, situado cranialmente; e, ponte, situada entre ambos).

Tabela 3. Funções dos componentes do sistema nervoso.

Córtex cerebral Pensamento, movimento voluntário, linguagem, julgamento e percepção.


Cerebelo Movimento, equilíbrio, postura e tônus muscular.
Tronco encefálico Respiração, ritmo dos batimentos cardíacos e pressão arterial.
Mesencéfalo Visão, audição, movimento dos olhos e movimento do corpo.
Tálamo Integração sensorial e motora.
Comportamento emocional, memória, aprendizado, emoções e vida vegetativa (digestão, circulação,
Sistema límbico
excreção etc.).
Fonte: Adaptado de Relvas (2010).

Os neurônios
Eles são portadores de sinais carregados de informações e significados, que juntos
formam mensagens codificadas em padrões flexíveis, como visões, sons e movimentos,

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que trafegam por todo o sistema neuronal do corpo humano a centenas de quilômetros
por hora, graças aos nervos motores. Quanto à estrutura dos neurônios, ela é composta
por três partes distintas: corpo celular, dentritos e axônios.

» Corpo celular: região onde se localiza o núcleo celular e o corpúsculo de Nissl,


parte na qual ocorre grande produção de proteínas. Do corpo celular, os impulsos
nervosos se propagam para os axônios e os dendritos.

» Dendritos: recebe impulsos nervosos enviados do corpo celular.

» Axônios: também recebe os impulsos nervosos do corpo celular que se propagam


até a sinapse (nome dado à junção entre dois neurônios, na qual a passagem
dos impulsos nervosos se deve à liberação de neurotransmissores químicos).
Os axônios são envolvidos pela bainha de mielina, que é constituída por fosfolípides,
que potencializam a transmissão dos impulsos.

Tabela 4. Habilidades associadas à especialização de cada hemisfério.

Hemisfério esquerdo Hemisfério direito


Escrita à mão Relações espaciais
Símbolos Figuras e padrões
Linguagem Computação matemática
Leitura Sensibilidade a cores
Fonética Canto e música
Localização de fatos e detalhes Expressão artística
Conversação e recitação Criatividade
Seguimento de instruções Visualização
Escuta Sentimentos e emoções
Associação auditiva
Fonte: Adaptado de Silva (1995).

Tabela 5. Formas de consciência de cada hemisfério.

Hemisfério esquerdo Hemisfério direito


Lógico Holístico
Sequencial Intuitivo
Linear Concreto
Simbólico Orientado à fantasia
Baseado na realidade Não verbal
Verbal Atemporal
Temporal Analógico
Abstrato
Fonte: Adaptado de Silva (1995).

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Graças aos avanços nas técnicas de neuroimagem, já é possível localizar evidências sobre
a correlação entre as funções cognitivas e o funcionamento cerebral, e ainda fazer uma
minuciosa identificação das áreas cerebrais, a ponto de identificar o lugar de uma lesão,
bem como a dimensão e o impacto cognitivo e comportamental do prejuízo cerebral, o
que possibilita intervenções capazes de promover a adaptação emocional e social dos
atendidos acometidos por alguma patologia. Portanto, existem diferentes objetivos
para que uma avaliação neuropsicopedagógica possa ser solicitada: auxílio diagnóstico,
prognóstico, orientação para o tratamento, auxílio no planejamento de reabilitação,
seleção de pacientes para técnicas especiais (como cirurgias de risco ou medicações de
alto custo), perícia etc.

No auxílio diagnóstico, por exemplo, a avaliação estabelece o correlato neuroanatômico


com o desempenho cognitivo e funcional, observado a partir de alterações e manutenções
deles. O objetivo, nesse caso, é confirmar ou descartar as hipóteses diagnósticas que
explicam os sinais e sintomas apresentados pelo atendido/paciente. Nesse sentido, a
avaliação é de grande relevância para o processo de diagnóstico diferencial no qual
relatos subjetivos das alterações cognitivas não auxiliam o diferenciar entre as diversas
possibilidades diagnósticas, como nos casos de pacientes idosos com prejuízos cognitivos,
cujos resultados dos exames de neuroimagem e dos testes laboratoriais são insatisfatórios
para explicar as causas dos prejuízos que poderiam ser decorrentes de um quadro
depressivo ou de uma síndrome demencial em fase final (KOLB, 2002).

Se entender o comportamento humano nunca foi uma tarefa fácil, considerando que
vivemos em uma era de grandes transformações, que complica ainda mais esse processo,
temos de nos valer da psicologia, ciência que busca compreender fenômenos psíquicos
e comportamento humano, derivados de fobias, estresse, anorexia, depressão, exclusão
social, discriminação e da própria personalidade (só para citar algumas questões). Há
paradigmas que o profissional deve desconstruir, cotidianamente, em sua atuação,
apesar dos muitos receios, pois, se começarmos a pensar nas abordagens existentes na
área da psicologia, sempre haverá um desconforto, um olhar ou uma fala de acusação,
de descrédito.

De qualquer forma, não estamos nos dedicando à psicologia clínica com o intuito de obter
unanimidade. Discordar é saudável e um direito dentro de um sistema democrático.
Por outro lado, se faz necessário conhecer para só então emitir uma opinião, pensamento ou
ideia, quer de apoio ou de repulsa. O importante é que seja feito com critério, fundamento
e com ausência de generalizações. Note que algumas pessoas têm uma experiência com
o profissional X ou Y, da abordagem W ou Z, que não foi o que ela esperava, nem bom.
Por que isso acontece? Entre outros aspectos, pode ter sido rápido demais, não houve
a atenção esperada, não aconteceu o acolhimento ou não houve a formação de vínculo.

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CAPÍTULO 2
A EPISTEMOLOGIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA

Epistemologia, palavra que vem do grego episteme, significa conhecimento; e logos,


que equivale a pesquisa. Portanto, epistemologia é um ramo da filosofia que examina
a produção e validação do conhecimento científico. Seus primeiros vestígios foram
encontrados na Grécia Antiga, principalmente nas obras de Parmênides e Platão.
Naquela época, o conhecimento epistêmico, trabalhado com rigor, contrastava com o
conhecimento doxa, em referência à crença comum ou opinião popular que se relacionava
ao conhecimento do homem comum ou de baixo nível, não sujeito a uma reflexão
crítica rigorosa. Portanto, em um primeiro momento, epistemologia seria o estudo
do conhecimento adquirido por meio da ciência. Porém, com o passar do tempo, o
significado do conceito de epistemologia se expandiu, tanto que ele passou a ser usado
como sinônimo de teoria do conhecimento que, por sua vez, lida com as circunstâncias
históricas, psicológicas e sociológicas que nos levam ao conhecimento.

Figura 5. A epistemologia tanto justifica quanto invalida os critérios de obtenção do conhecimento,


ao mesmo tempo que também visa obter definições claras e precisas de certos conceitos.

Fonte: https://www.gestaoeducacional.com.br/epistemologia/.

Nesse âmbito, ao mesmo tempo em que justifica ou invalida os critérios de obtenção


do conhecimento, a epistemologia também visa obter definições claras e precisas dos
conceitos epistêmicos mais comuns, como verdade, objetividade, realidade ou justificação.
Considerando todos esses aspectos, podemos até dizer que as teorias específicas do
conhecimento também são epistemologia, como a epistemologia científica geral, a
epistemologia das ciências físicas, da ciência psicológica, das neurociências e suas de
subáreas, incluindo a neuropsicopedagogia.

Já os problemas atuais abordados pela epistemologia podem ser divididos em dois


grandes grupos: problemas de natureza geral, porque afetam toda a ciência; e problemas

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específicos de cada ciência particular ou de um ramo delas, que normalmente pertencem


às ciências humanas e sociais que, além dos fatos, também trabalham com valores.
Note que um ser humano pode ser definido por lei, mas não pode ser limitado a isso, devido
à natureza essencial da individualidade desse próprio ser. Nesse caos, a epistemologia
explora questões como: os eventos do mundo físico e os eventos do mundo humano são
da mesma natureza? Ou, além das leis, o mundo humano retém algum simbolismo e
valor? Assim, o mundo humano requer uma análise epistemológica específica. Portanto,
é por isso que alguns dizem que o mundo físico deve ser explicado, mas o mundo humano
só pode ser compreendido.

Epistemologia da psicologia clínica


e da neuropsicopedagogia
Em ambos os casos, a melhor forma de abordar o saber científico aprofundado é
estabelecendo a diferença entre o conhecimento, a mera opinião e a crença, bem como
analisar até que ponto o senso comum interfere no saber científico. Evidentemente, tais
problemas vão suscitar outros, inclusive de outras subáreas da epistemologia. Para ficar
mais claro, pense, por exemplo, em uma teoria clássica da epistemologia que defende
que conhecimento envolve algo com justificação. Com um pouco de reflexão, surgem
duas indagações: qual é a natureza e a estrutura da justificação? Portanto, ao abordar
a epistemologia da neuropsicopedagogia, é preciso identificar quais as fontes e formas
de obtenção do conhecimento, pois existem várias, e se faz essencial saber quais são
as ideais e até que ponto é possível usá-las com segurança. Além disso, não podemos
esquecer que o conhecimento também é alcançado por meio da percepção, da memória,
de vivências, da introspecção e da razão.

Apesar de todo avanço científico e provas inquestionáveis, há pessoas céticas,


ou negativistas em relação à importância da psicologia clínica e da neurociência,
as quais dizem ou questionam, mesmo que inconscientemente, que é
impossível ter conhecimento sobre o mundo e os seres humanos. Elas mesmas
aprisionam a possibilidade de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal
porquanto limitam o poder de expansão de seus conhecimentos, pois permanecem
com conceitos arraigados, representativos de um cérebro enjaulado (ou caged
brain).

Diante desse contexto, o neuropsicopedagogo deve levar em consideração que uma


das suas metas de estudo deve-se à aquisição e ao aperfeiçoamento técnico-científico
e de atualizações advindas de inúmeras pesquisas sobre as anomalias neurológicas,
psiquiátricas e distúrbios psicológicos existentes no neuroaprendiz, além de outros saberes
teórico-práticos, como nos alerta Beauclair (2014, p. 35), pois ele deve “possuir vontade

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de ampliar seus referenciais teóricos, estudando campos de conhecimentos diferentes


dos que está habituado em sua trajetória profissional, para ampliar sua curiosidade
epistemológica”. Consequentemente, além da atuação investigativa, o neuropsicopedagogo
deve desenvolver a capacidade de atenção e cultivar a prática crítico-reflexiva, no intento
de enxergar e analisar a realidade vivida pelo aluno, lembrando-se de que a construção
do conhecimento não é um acontecimento que se manifesta de forma isolada, mas sim
um produto resultante de inúmeros fatores.

Nesse contexto sua atuação, seja clínica ou na escola, tem como objetivo minimizar o
sofrimento de alunos que já fracassaram na escola, a partir da ação reeducativa alcançada
por meio de estratégias e técnicas aprendidas ao longo de sua formação, que focam no
funcionamento do cérebro. Portanto, ao buscar desvendar as possíveis perturbações na
aprendizagem do neuroaprendiz, o neuropsicopedagogo poderá eliminar ou amenizar
os obstáculos do sintoma da não aprendizagem com base nos conhecimentos das
neurociências, em processo de tratamento terapêutico que nunca é rápido, pois, para
mudar a realidade do cotidiano escolar, cabe ao professor e à escola adotar uma postura
crítico-reflexiva ao lidar com os alunos e, em especial, os educandos com uma trajetória
marcada pelo insucesso escolar. Segundo Weisz (2001, p. 60), “não é o processo de
aprendizagem que deve se adaptar ao de ensino, mas o processo de ensino é que tem
de se adaptar ao de aprendizagem”.

Além disso, a escola da atualidade não deve ser apenas ser transmissora de saberes,
mas uma produtora de conhecimentos. Para tanto, ela deve tanto promover a
neuroaprendência, que é a capacidade de sentir, pensar e agir, quanto acreditar que
o neuroaprendiz pode vencer suas dificuldades e que os obstáculos que se encontram
em seu aprendizado são apenas desafios a serem superados no encontro de novos
saberes, vivências e conquistas.

Breve histórico da neurociência


O marco da psicologia experimental e positiva ocorreu em 1879, na Alemanha, mais
precisamente na Universidade de Leipzig, quando Wilhelm Wundt criou o primeiro
laboratório de psicologia para distanciar o saber psicológico da mera especulação. Já em
1884, Francis Galton criou, na Universidade de Londres, na Inglaterra, um laboratório
de psicometria com o objetivo de avaliar e mensurar as questões ligadas à cognição,
que alcançou projeção somente no século XX, quando Binet e Simon desenvolveram
a primeira escala métrica da inteligência infantil. Essa experiência obteve sucesso e
foi implantada em outros países, como o Brasil. Em 1916, nos Estados Unidos, Lewis
Terman fez uma releitura da escala Binet & Simon e deu origem ao cálculo do Quociente
Intelectual (QI), o qual fomentou a aceitação e o trabalho com testes.

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No Brasil, por sua vez, em 1923, foi criado, o Laboratório de Psicologia da Colônia de
Psicopatas do Engenho de Dentro (que depois veio a ser chamado de Hospital Psiquiátrico
Pedro II, atualmente conhecido como Instituto Municipal Nise da Silveira), no Rio de
Janeiro. Em 1932, o diretor, que era o psicólogo polonês Waclaw Radecki (1887-1953)
transformou a instituição em um divisor de águas em relação à regulamentação da
psicologia em nosso país, ao desenvolver o primeiro projeto de curso de formação de
psicólogos. O laboratório, que se tornou Instituto de Psicologia, tornou-se uma referência
nacional e internacional. Apesar disso, o projeto não foi adiante, e o laboratório teve
suas atividades encerradas por pressões médicas e religiosas.

Apesar disso, o movimento em si manteve-se de modo contínuo. A partir daí, o fazer


científico com seu olhar aprimorado favoreceu o caráter holístico, o que diminuiu a
ocorrência das fragmentações. Hoje, por exemplo, as propostas de projetos de saúde mental
são voltadas, cada dia mais, para o viés da interdisciplinaridade, e a atuação do psicólogo
clínico tornou-se menos isolada e individualista, o que amplia a observação necessária
para novos horizontes em relação ao estudo de cada caso atendido. Consequentemente,
temos a socialização da clínica, a qual, até pouco tempo, era vista como algo elitista,
estereotipada e repleta de equívocos.

Sobre os processos de significação


Eles envolvem a linguagem e os processos de expressão de sentidos, dos quais emergem
questões e formas de saber que, por vezes, titubeiam no setting terapêutico: o que está
acontecendo? Nesse âmbito, o sentido do acontecimento é um ponto nevrálgico, e o
profissional deve questionar sempre, afinal, o sentido não se esgota no que está sendo dito:
que sentido está pulsando que não consigo entender? Ou por que não tenho as significações
não verbais dos gestos? Tais indagações se encontram embutidas na construção da
clínica e implicam na abertura sensível, intelectual e ética, e ao encanto problemático
de acontecimentos, no qual ocorrem processos de objetivação, de subjetivação, de
significação e de expressão de sentidos.

Aqui temos de indicar a leitura do livro “Lógica do sentido”, de Gilles Deleuze, que
amplia o olhar para a filosofia da diferença, narra a relação entre a palavra e a
subjetivação, além de abordar a fenomenologia do sentido/ acontecimento.

Notamos, então, que o acontecimento sentido no corpo manifesta-se na linguagem até


o ponto extremo e visível de suas efetuações empíricas. Portanto, quando dizemos uma
palavra, há uma subjetivação. Se falar casa, por exemplo, o que sentimos ao verbalizar
essa palavra?

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Pensamentos sobre a subjetividade


Minha vida não tem sentido; preciso de um sentido para a existência; ajude-me a dar um
rumo a minha vida… Todos nós, certamente, já ouvimos frases similares que demonstram
a necessidade premente de que a vida se preencha de significado, de direção, o que indica
que a pessoa está à deriva em sua existência. Nesse caso, o sentido pode ser entendido
como algo que está interligado em um todo de valores como membro constituinte ou,
de forma mais clara, o sentido é o que contribui para a realização. Amplia-se, assim, a
função da psicologia clínica de apenas explicativa para compreensiva. Afinal, a construção
da subjetividade provém do momento em que somos lançados ao mundo – e também
assinala que as escolhas do ser humano são mínimas.

Tal condição não deve ser chamada de pessimismo sem antes conhecermos e
compreendermos a obra de Deleuze, que nos convida a compreender a construção
da subjetividade como um processo anárquico, à medida que a existência é libertária,
pois o ato de existir precede a essência. Note que, como a ideia de essência anterior ao
ser não existe, pois ela só acontece depois da existência, concluímos que não somos
predeterminados por algo ou alguém, já que primeiramente se existe e depois se torna,
vive e desenvolve a essência. Logo, não há algo que está além do ser e que irá fundamentar
o constructo de se tornar.

Segundo Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), não existe uma razão nem uma natureza
humana que vai definir o que vamos nos tornar. De acordo com a visão dele, a vida
não tem sentido algum antes do sentido que o próprio sujeito da ação dá a ela, o
que também estabelece uma diferença entre o ser humano, o objeto e o animal. O
objeto, por exemplo, é pensado para servir e tem uma essência. Portanto, antes de ser
produzido, é pensado sobre o material com o qual será feito, em seu formato e cor, e
até que líquido será tomado nele. Consequentemente, sua existência tem uma previsão
anterior e é bem diferente do ser humano que não tem como prever ou decidir antes
do existir de fato.

Skinner (1989) também discorre acerca dessa questão ao reforçar que o animal também
não é como o ser humano, pois ele vive o instinto e repete o que os outros animais fazem.
Embora ele possa ser aprisionado, explorado, abusado e maltratado, no contexto natural,
ele apenas interage com seus pares e vive a plenitude de sua existência instintiva. Já
no caso do homem, se ele vive uma insatisfação no trabalho, por exemplo, apesar de
não sinalizar tal situação, ao se calar, ele faz sua escolha. Percebemos, então, que não
verbalizar não significa apenas neutralidade. Em determinados casos, o calar representa
o não pertencimento a uma situação que extrapola a vertente do pessoal. Portanto, o
não verbalizar e o não decidir, embora possam ser escolhas válidas, também indicam

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que ninguém pode se ausentar do ato de escolher. Afinal escolhemos, a todo momento,
ser aquilo que somos ou que pensamos ser.

Todo homem é um ser social


Para entender essa colocação, temos de compreender quem é o ser humano e por que é
necessária uma ciência para estudá-lo: ele não é apenas um conjunto de componentes
físicos e orgânicos, pois é um ser que pensa, sente, relaciona-se com o outro, modifica a
natureza ao seu redor e cria. Para atuar no mundo em que vive, o ser humano precisa passar
por um aprendizado que lhe permita ter um comportamento adequado à convivência
com outros seres iguais a ele, e talvez essa condição possa ser a raiz de todos os males que
submetem o homem de forma alienada, em decorrência aos pré-requisitos e julgamentos
que surgem do outro. Afinal, somos o que se encontra do interior da noz, ou apenas a
sua casca? As cascas, subentendidas como máscaras, enganam.

Nascemos sós, traçaremos um percurso de trocas, quer sejam caracterizadas por um


bom encontro ou por meros esbarrões com o outro, porém, o fato é que a finitude é de
cada um. Por mais que o processo de desenvolvimento traga pessoas ao nosso convívio,
as quais, às vezes, buscamos agradar a qualquer preço, raras são as que avaliam o custo
dessas lacunas para suas vidas. Portanto, o comportamento objetivo é o que mais se faz
presente no cotidiano.

Vivemos para metas e resultados determinados, como produtos ou processos que vão
sendo esquecidos. Nessa relação do indivíduo com a objetividade, acontece quase que
naturalmente a questão da coisificação. Ou seja, coisificar é atuar exclusivamente para
aquilo que se quer, seja um resultado, seja um produto; mas ambos acabam sendo a
coisa, tanto que, quando estamos acostumados a trabalhar com a coisa – o it – ou em
busca de um produto, nos afastamos naturalmente das questões subjetivas. Fazemos
falsas escolhas pois desejos são construídos na questão da coisa, daquilo que pode dar
prazer imediato, já que está vinculado a nossa sociedade de consumo.

Consumir por consumir dá a ilusão de que nos tornamos pessoas, no intuito de que
consumir agrega coisas à vida. O valor que é dado não é mais atribuído ao sujeito, pois
a relação é diretamente baseada na subjetividade. Portanto, não é mais o sujeito o que
conta, mas o indivíduo que possui e parece ser. Por outro lado, a liberdade de escolha é
absoluta, isso quer dizer que ela não é condicionada por qualquer determinação anterior.
Assim, se quisermos insistir na necessidade ou na conveniêniencia de uma definição de
realidade humana, ela só poderia ser uma: liberdade. O homem é liberdade, ele não a
tem como uma qualidade, um atributo, uma faculdade, como pensava a filosofia clássica.
Ele mesmo é a liberdade. Logo, a liberdade e a subjetividade são idênticas. Então, a

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atuação na neurociência necessita muito mais da subjetividade e da objetividade para


uma questão organizadora, pois, uma vez que nos afastamos da liberdade, nos afastamos
também da clínica, que é uma área constituída pela subjetividade.

Percebemos, então, que a liberdade não é uma definição, ao passo que ela não nos diz
o que o ser humano é. Ela abre possibilidades para que ele escolha o que virá a ser.
Mas pelo fato de sermos liberdade, a única escolha que não podemos fazer é a de deixarmos
de ser livres. Diante disso a frase emblemática de Sartre “o homem está condenado a ser
livre” expressa uma relação certamente paradoxal entre liberdade e fatalidade. É como
se nós disséssemos que somos fatalmente livres ou que estamos destinados a ser livres.
Isso parece uma contradição, mas é a forma pela qual a filosofia da existência nos diz
que não podemos escapar da nossa própria liberdade.

Outra consequência ética é a liberdade originária que implica responsabilidade total.


Na verdade, sempre se soube que a responsabilidade é a contrapartida da liberdade.
Quase todas as teorias éticas dizem isso, porque somente aquele que é livre pode ser
responsabilizado pelas suas ações.

Alguém que esteja determinado a agir a partir de uma força à qual não pode resistir
certamente não pode ser considerado como responsável. Talvez por isso as teorias éticas
sempre procuraram remeter a nossa liberdade, ou o grau em que exercemos a nossa
liberdade, a uma instância da qual ela proviria e com a qual poderíamos dividi-la, pois,
dessa forma, também dividiríamos a responsabilidade (com Deus, com a sociedade,
com as tendências naturais, com o inconsciente, com o partido etc.) Consequentemente,
se a liberdade não for total, ninguém será totalmente responsável. Nesse sentido, o
existencialismo é difícil, pois a liberdade e a reponsabilidade são vistas de uma maneira
originária e muito radical. O homem está só, surge gratuitamente no mundo, desaparece
do mesmo modo, nada explica, não tem fundamento, não possui raízes metafísicas, nem
naturais, mas é nessa solidão e nesse desamparo que o homem exerce a liberdade e na
qual ele é inevitavelmente responsável por tudo.

Na verdade, para o existencialismo, o homem é responsável pelos outros e por si mesmo,


porque, não havendo valores universais previamente determinados a que se possa
recorrer como critério de escolha, cada vez que um homem escolhe e exerce um ato
livre, ele também escolhe o critério e o valor desse ato efetuado. E esse valor que surge
com a liberdade é único, pois não pré-existia; ao mesmo tempo, é particular, fruto de
uma escolha pessoal, mas, também, universal, pois exprime tudo aquilo que se possa
demonstrar em relação ao critério moral.

Dessa forma, ao exercermos a liberdade por nós mesmos e ao inventarmos valores


e critérios para essa liberdade, atingimos, nessa invenção, tudo aquilo que podemos

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

atingir. Nada mais há a que possamos recorrer nem esperar. Portanto, o critério humano
do ato só vai existir no próprio ato graças à escolha. Porém, se há algo de universal nos
critérios e nos valores morais que orientam a conduta, essa universalidade não vem
de uma instância transcendente ou de algo que seja diferente de nós, pois ela vem de
nós mesmos, ou seja, ocorre uma espécie de singularização de universalidade que nós
procuramos viver.

Essa problemática nos remete ao questionamento. Dentro dos mais diversos conhecimentos,
temos técnicas que são utilizadas como manejo de conflitos, mas não podemos esquecer
que as técnicas servem à aplicação do estudo e da pesquisa acerca de determinada
situação. Mas a identificação do problema sempre nos ajudará a escolher como intervir
para auxiliar no bem-estar do atendido/paciente. Sendo assim, problematizar requer:

» identificar o problema (ou queixa principal);

» elaborar hipóteses;

» usar testes psicológicos ou escalas (caso seja necessário);

» escolher as técnicas mais eficazes à demanda do nosso atendido.

A problemática da técnica reside no conceito de intencionalidade, que é extremamente


importante e interessante em termos de fenomenologia, apesar da confusão que há em
torno desse conceito, principalmente, sobre a consciência de algo ou de um objeto que só
é objeto para uma consciência. Nesse contexto, o modo fenomenológico de nós sermos,
no modo pré-reflexivo de nós sermos, indica que não faz mais sentido falar em sujeito
e objeto, pois a consciência que se remete ao objeto e o objeto que se remete ao sujeito
seria intencionalidade ou vivência do modo pré-reflexivo, fenomenológico, existencial
e dialógico de sermos compreensivos e implicativos.

Nota-se, então, que toda vivência do modo fenomenológico existencial de nós sermos é
a vivência do desdobramento de forças, vivência do desdobramento de ação. Esse modo
de sermos é tensional. É o modo de sermos da intencionalidade, e esse é o sentido do
termo intencionalidade na fenomenologia existencial holística. É o modo sermos o ator
da ação, do pertencimento da intencionalidade.

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CAPÍTULO 3
A ANCORAGEM ATRAVÉS DE ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

A psicanálise é uma disciplina científica, que, como qualquer outra doutrina científica,
deu origem a certas teorias que derivam de dados de observação e que procuram ordenar
e explicar esses mesmos dados. Além disso, também é importante compreender que a
teoria psicanalítica se interessa tanto pelo funcionamento mental normal quanto pelo
patológico. Portanto, se a prática da psicanálise consiste no tratamento de pessoas que
se acham mentalmente enfermas ou perturbadas, as teorias psicanalíticas se referem
tanto ao normal quanto ao patológico, ainda que se tenham derivado essencialmente
do estudo e do tratamento da anormalidade. Além disso, as diversas hipóteses da teoria
psicanalítica se relacionam mutuamente. Algumas já tiveram grande comprovação e são
fundamentais em sua significação, a tal ponto que nos inclinamos a considerá-las como
leis estabelecidas a respeito da mente.

Duas hipóteses que foram confirmadas são o princípio do determinismo psíquico, ou


da causalidade, e a proposição de que os processos mentais inconscientes são de grande
frequência e significado mental normal, bem como anormal.

Figura 6. As teorias psicanalíticas se referem tanto ao normal quanto ao patológico.

Fonte: https://shegzsablezs.blogspot.com/2019/11/sigmund-freud-and-unconscious-mental.html.

O determinismo psíquico e os processos mentais


inconscientes
O sentido desse princípio é de que, na mente, nada acontece por acaso. Cada evento
psíquico é determinado por aqueles que o precederam e, mesmo que possam parecer
não relacionados, o são apenas na aparência. Nesse sentido, não existe descontinuidade
na vida mental. Se compreendermos e aplicarmos corretamente esse princípio, jamais
admitiremos qualquer fenômeno psíquico como sem significação ou como acidental.

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

Deveremos sempre nos perguntar, em relação a qualquer fenômeno no qual estejamos


interessados: o que o provocou e por que aconteceu de determinada forma? Formulamos
essas perguntas, pois sempre existe uma resposta para elas. Mas se vamos ou não
encontrar a resposta com facilidade e rapidez, isso naturalmente já é outra questão.

Esquecer ou perder alguma coisa, por exemplo, é uma experiência comum na vida
das pessoas. Geralmente, a ideia é de causalidade, que apenas aconteceu. No entanto,
uma investigação de muitas causalidades realizadas por psicanalistas nos últimos anos
(a começar pelos estudos do próprio Freud) mostrou que de maneira nenhuma elas são
acidentais. Pelo contrário, pode-se demonstrar que cada uma delas foi provocada por um
desejo ou intenção da pessoa envolvida, de acordo com o princípio do funcionamento
mental que estamos examinando.

Se nos voltarmos aos fenômenos da psicopatologia, podemos dizer que cada sintoma
neurótico, qualquer que seja sua natureza, é provocado por outros processos mentais,
apesar do fato de que o próprio paciente habitualmente considera o sintoma como
estranho e completamente desligado do resto da sua vida mental. Contudo, as conexões
existem e são demonstráveis, apesar de o indivíduo não se dar conta de sua presença.

Atente agora para o fato de que estamos falando não só a respeito da primeira das
hipóteses fundamentais, o princípio do determinismo psíquico, mas também a respeito
da existência de processos mentais dos quais o sujeito não se dá conta ou é inconsciente.
A relação entre essas duas hipóteses é tão próxima que dificilmente se pode examinar
uma sem suscitar a outra, principalmente pelo fato de tantas serem inconscientes – isso
é, desconhecidas para nós – que respondem pelas aparentes descontinuidades em nossa
vida mental. Quando um pensamento, um sentimento, um esquecimento acidental,
um sonho ou um sintoma parecem não se relacionar com algo que aconteceu antes na
mente, isso significa que sua conexão causal se apresenta em algum processo mental
inconsciente, em vez de em um processo consciente. Caso seja possível descobrir a causa
ou as causas inconscientes, então todas as aparentes descontinuidades desaparecem e
a cadeia causal, ou sequência, torna-se clara.

Vamos pensar em um exemplo bem simples. Uma pessoa pode se surpreender cantarolando
uma melodia sem ter nenhuma ideia de como ela lhe veio à mente. No entanto, nesse
exemplo particular, um espectador afirma que a referida melodia foi ouvida pela pessoa
poucos momentos antes de haver penetrado em seus pensamentos conscientes como se não
tivesse vindo de parte alguma. Foi uma impressão sensorial, especificamente auditiva, que
compeliu a pessoa a cantarolar a melodia. Visto que ela não se deu conta de tê-la ouvido,
sua experiência subjetiva foi a de uma descontinuidade em seus pensamentos, sendo
necessário o testemunho do espectador para remover a aparência de descontinuidade

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

e tornar clara a cadeia causal. É raro, no entanto, que um processo inconsciente seja
descoberto de forma tão simples, como no exemplo citado. Naturalmente, deseja-se
saber se existe um método geral para descobrir processos mentais dos quais o próprio
indivíduo não se dá conta. Podem eles, por exemplo, ser observados diretamente?
Caso contrário, como pode Freud descobrir a frequência e a importância de tais processos
em nossa vida mental?

No curso do estudo dos fenômenos mentais freudianos inconscientes, logo descobriu-se


que tais processos poderiam ser divididos em dois grupos:

» Elementos psíquicos pré-conscientes: esse grupo compreende pensamentos


e lembranças, elementos psíquicos que têm acesso fácil à consciência e que podem
se tornar conscientes por um esforço de atenção.

» Elementos psíquicos inconscientes: compreendem aqueles elementos que


só tornam-se conscientes a custo de considerável esforço, pois são barrados da
consciência por uma força considerável.

Freud pôde demonstrar também que o fato de serem inconscientes não os impedia de
exercer uma influência significativa no funcionamento mental. Além disso, ele também
foi capaz de demonstrar que os processos inconscientes podem ser bastante comparáveis
aos conscientes em precisão e complexidade. Apesar disso, não dispomos de um meio
de observar diretamente as atividades mentais inconscientes, mas evidências desse fato
podem ser derivadas de uma observação clínica.

Por intermédio da técnica de investigação dos sonhos descoberta por Freud pode-se
constatar evidências das atividades mentais inconscientes. Tomemos, como exemplo, a
pessoa que sonha estar bebendo somente para acordar e perceber que está sedenta, ou
sonha que está urinando e acorda com a necessidade de se aliviar. Tais sonhos demonstram
igualmente que, durante o sono, a atividade mental inconsciente pode produzir um
resultado consciente – nesses casos em que uma sensação corporal inconsciente e os
anseios a ela ligados dão origem a um sonho consciente da desejada satisfação ou alívio.

Tal demonstração, em si, é importante e pode ser feita sem uma técnica especial de
observação. No entanto, por meio da técnica psicanalítica, Freud pôde demonstrar que,
por trás de todo sonho, existem pensamentos e desejos inconscientes ativos e, assim,
estabeleceu, como regra geral, que, quando se produzem sonhos, eles são provocados
por uma atividade mental que é inconsciente para o sonhador e que assim permaneceria,
a menos que fosse empregada a técnica psicanalítica.

Como no caso dos sonhos, a significação inconsciente de alguns lapsos torna-se bastante
clara. Podemos ainda acrescentar que Freud pôde, por intermédio da técnica psicanalítica,

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

mostrar que a atividade mental inconsciente desempenha um papel importante na


produção de todos os atos falhos, e não apenas naqueles em que o significado de tal
atividade é de fácil evidência. Muitas vezes, os motivos para o comportamento de
determinada pessoa podem parecer óbvios para o observador, embora para ela sejam
desconhecidos. Um exemplo é o do pacifista que está pronto a brigar violentamente com
qualquer pessoa que contradiga seu ponto de vista sobre a indesejabilidade da violência.
É óbvio que seu pacifismo consciente se faz de um desejo inconsciente de lutar, o que,
no caso, é exatamente o que sua atitude consciente condena.

Por certo, a importância da atividade mental inconsciente foi primeiramente demonstrada


por Freud no caso dos sintomas de pacientes mentalmente enfermos. Como resultado
dessas descobertas, a ideia de que tais sintomas têm um significado desconhecido para
o paciente é geralmente aceita e bem compreendida. Se o paciente sofre de uma cegueira
psicossomática (histérica), por exemplo, naturalmente presumimos que existe algo
inconsciente que não deseja ver, ou que sua consciência o proíbe de olhar. É verdade que
nem sempre é fácil perceber o significado inconsciente de um sintoma. E muitas vezes,
também, os determinantes inconscientes para um único sintoma podem ser vários e
muito complexos, de modo que, ainda que se possam fazer conjecturas, eles são apenas
uma parte de toda a verdade. No entanto, nosso objetivo agora é determinar a existência
dos processos mentais inconscientes.

A energia psíquica não é de modo algum igual à energia física. É somente análoga em
alguns aspectos. O conceito de energia psíquica, assim como o conceito de energia física,
é uma hipótese que tem por objetivo servir ao propósito de simplificar e facilitar nossa
compreensão dos fatos da vida mental que podemos observar.

É importante perceber que a divisão dos impulsos em sexual e agressivo em nossa teoria
atual se baseia na evidência psicológica. Em sua formulação original, Freud procurou
relacionar a teoria psicológica das pulsões com conceitos biológicos mais fundamentais
e ainda propôs que as pulsões se denominassem pulsão de vida e pulsão de morte.
Há alguns analistas que aceitam o conceito de um impulso de morte, enquanto outros
não o aceitam.

Os impulsos estão intimamente relacionados com fatos observáveis. Há muitos meios


pelos quais se pode fazer isso, mas talvez um meio tão bom quanto qualquer outro
consista em examinar um aspecto dos impulsos que mostrou ser particularmente
significativo tanto para a teoria como para a prática, qual seja seu desenvolvimento
genético. Comecemos com o impulso sexual, uma vez que estamos mais familiarizados
com seu desenvolvimento e suas vicissitudes, e com os de seu ocasional parceiro e, às
vezes, rival, o impulso agressivo.

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

A teoria psicanalítica postula que essas forças já estão em atividade no bebê, influenciando
o comportamento e clamando por gratificação. Mais tarde, elas produzem os desejos
sexuais do adulto, com todo seu sofrimento e êxtase. Tal proposição é amplamente
aprovada – e as provas válidas provêm de pelo menos três fontes. A primeira é a observação
direta de crianças. São óbvias as evidências de desejos e comportamentos sexuais em
crianças pequenas, quando se pode observar e conversar com elas com disposição objetiva
e sem preconceitos. Já as outras fontes de evidência sobre esse ponto provêm da análise
de crianças e de adultos. No caso da análise de crianças, pode-se ver diretamente; no
caso da análise de adultos, inferir reconstrutivamente na grande significação dos desejos
sexuais infantis, bem como na sua natureza.

No caso da fixação, tanto por um objeto como por uma fase do desenvolvimento, é,
em geral, inconsciente, seja em parte, seja totalmente. Por exemplo, apesar da forte
intensidade de suas catexias, os interesses sexuais da nossa infância são comumente
esquecidos, em grande parte, à medida que abandonamos a tenra infância. De fato, é
mais exato dizer que as lembranças de tais interesses são energeticamente barradas de
se tornarem conscientes, tanto quanto as fixações em geral.

Assim como temos um fluxo progressivo da libido no curso do desenvolvimento


psicossexual, também podemos produzir um refluxo. Esse refluxo é chamado de
regressão. Este termo designa o retorno a uma fase ou a um objeto remoto de gratificação.
Um exemplo característico de regressão seria a resposta de uma criança pequena
ao nascimento de um irmão, com quem terá que compartilhar o amor e a atenção
da mãe. Embora tenha abandonado a sucção do seu polegar por vários meses, essa
questão retornará após o nascimento do novo membro da família. Nesse caso, o objeto
mais primitivo de gratificação libidinal para o qual a criança regrediu foi o polegar,
enquanto a fase mais remota foi a sucção. Como sugere esse exemplo, geralmente, o
aparecimento da regressão se dá mediante circunstâncias desfavoráveis e, ainda que
não seja necessariamente patológica, ela se associa a manifestações patológicas de
forma frequente.

Sobre a psicanálise
Psicanálise significa dividir a mente em elementos constitutivos e em processos dinâmicos.
Na prática, o termo é utilizado com, pelo menos, três significados diferentes:

1. Um conjunto de teorias psicológicas sobre o funcionamento mental, formação da


personalidade e aspectos do caráter, tanto aqueles considerados normais como os
psicopatológicos (sexualidade infantil, inconsciente dinâmico, conflito psíquico,
mecanismos de defesa e formação dos sintomas).

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

2. Um método ou procedimento de investigação dos conteúdos mentais, especialmente


os inconscientes (livre associação, análise dos sonhos, análise da transferência).

3. Um método psicoterápico que se propõe a efetuar modificações no caráter por meio


da obtenção de insight, mediante a análise sistemática das defesas na neurose de
transferência.

O analista adota uma atitude neutra ao sentar-se de costas para o paciente, sem um
contato visual direto. O paciente é orientado a expressar livremente e sem censura
seus pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, assim como as associações
que lhe ocorrem, sem prejulgar sobre sua relevância ou significado (livre associação).
O terapeuta mantém uma atitude tanto de curiosidade quanto de ouvinte atento.
Mas, de tempos em tempos, ele interrompe as associações do paciente, fazendo-o
observar determinadas conexões entre fatos de sua vida mental, particularmente emoções
e fantasias, que passam despercebidas, no intento de provocar reflexões sobre o seu
significado subjacente.

A psicanálise breve é definida como um tratamento cujo prazo de duração é ajustado


previamente entre o analista e o seu paciente que busca ajuda para resolver um
problema específico, ou seja, os efeitos de um sofrimento psíquico que se manifesta
em uma área demarcável da sua própria vida, cuja origem possa ser atribuída a um
conflito inconsciente.

Psicoterapia de orientação analítica


O paciente de psicoterapia também é orientado a expressar livremente e sem censura
seus pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, bem como as associações
que lhe ocorrem. Mas essas associações não são tão livres como na psicanálise, pois
habitualmente são dirigidas pelo profissional às questões-chave da terapia que, a
princípio, busca intervir em áreas circunscritas ou problemas delimitados. Dentro da
área selecionada (foco), o paciente é estimulado a explorar seus sentimentos, ideias e
atitudes, em suas relações com figuras importantes de sua vida atual, do passado e com
o próprio terapeuta, com vistas ao insight. Sem a utilização do divã, com o uso menor
da associação livre e sessões menos frequentes, a regressão é menor e a transferência
não se desenvolve com a mesma intensidade, primitivismo e rapidez que a psicanálise.

Note que a psicologia analítica é uma escola teórica da psicologia que trabalha com
conceitos e visão do mundo próprias de seu fundador, o médico psiquiatra Carl Gustav
Jung (1875-1961). Ao longo de sua vida dedicada a estudos e pesquisas, ele abordou e
apresentou, a partir de sua formulação teórica, uma vasta gama de temas e discussões
que o colocaram de forma definitiva como grande e influente figura do pensamento

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

psicológico. Com formação acadêmica em medicina e especializando-se em psiquiatria,


Jung teve a possibilidade de estabelecer contato, de forma direta e ativa, inclusive em
seus primeiros anos de trabalho na área da psiquiatria, com os mais variados tipos de
transtornos mentais. Portanto, ele passou anos aprofundando seus conhecimentos
sobre o que se passava no espírito do doente mental na clínica psiquiátrica Burghölzli
da Universidade de Zurique. Nessa época, a psiquiatria era uma área da Medicina que
despertava pouco – ou nenhum – interesse, tanto que o ensino psiquiátrico consistia
em abstrair a personalidade do paciente e direcionar-se para o diagnóstico, a descrição
dos sintomas e os dados estatísticos.

O psiquiatra suíço Jung foi um dos principais integrantes do movimento psicanalítico


em sua fase inicial, sendo o primeiro presidente da Associação Internacional de
Psicanalise. As divergências dele com Freud ocorreram inicialmente sobre o conceito
de libido. Jung tomava esse conceito como uma forma mais ampla que a conceituação
sexual oferecida por Freud. Posteriormente, a discordância recaiu sobre a noção do
inconsciente.

Na prática da psicologia analítica


Todos os componentes funcionam de forma conjunta e buscam um equilíbrio dinâmico
que proporciona a integridade da personalidade. Constatamos, então, que o intuito é
a proposta de uma estruturação da personalidade por meio de conscientização e busca
de equilíbrio entre os componentes conscientes e inconscientes. Jung denominou esse
processo de individuação, caracterizando-o, sobretudo, por uma busca de equilíbrio
externo e interno, em uma relação de harmonia entre o consciente e o inconsciente. Ainda
hoje, a teoria analítica traz em si muito do que Jung vivenciava em seus atendimentos.
Desse modo, ele não tinha como uma meta ou preocupação estabelecer padrões em sua
teoria. Ele não pretendia dogmatizá-la, colocando-a como um corpo estático. Sua ideia
era a de que os conceitos formulados fossem estruturas que se transformariam com o
passar do tempo.

Para Jung, o fato de haver uma interação constante entre consciente e inconsciente, por
mais que não seja percebida, faz com que muito do que sabemos possa ser apenas uma
imagem mal elaborada da consciência.

Por isso, na praxis psicológica analítica, é possível perceber que todo caso clínico
novo consiste quase que na formulação de uma nova teoria ou um novo olhar, que não
permite se prender a padrões pré-estabelecidos. Para Jung, o inconsciente só é alcançado
através da continuidade, da visão geral ou do relacionamento com o mundo consciente
por intermédio da sucessão de momentos conscientes. O ser humano restringe-se à

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

percepção de instantes de existência. Ou seja, é como se observássemos através de uma


fenda e só víssemos um momento isolado – o restante permanece isolado, inacessível.
Portanto, o consciente é um campo restrito de visão momentânea. Por observar somente
campos restritos, o consciente não se relaciona com a totalidade das coisas, o que implica
dizer que um conceito não é estanque, mas apenas uma parcela do conceito em sua
totalidade.

Note que Jung divergiu de Freud e selou o rompimento com ele ao publicar o livro
“Símbolos da transformação”, no qual explicita suas diferenças teóricas com Freud
em relação ao conceito de libido, que passa a ser uma energia psíquica geral e não
apenas de caráter sexual, como o Pai da Psicanalise a conceitua. Consequentemente,
a visão da psique e do inconsciente se modifica, pois, enquanto tal visão deixa de ser
uma página em branco no nascimento, o inconsciente se amplia graças a uma camada
constituída de estruturas e imagens comuns a toda a humanidade (os arquétipos),
as quais se manifestam nos sonhos, nos mitos, nas religiões e nos contos de fadas.
Tal fato implica modificação do método de análise para casos individuais, nos quais as
comparações de sonhos e fantasias se dão com elementos da mitologia universal, além
das associações pessoais.

Sobre a psicoterapia de orientação analítica


Ela utiliza de uma a três sessões semanais com o paciente, que se senta em uma poltrona
de frente para o terapeuta. Já o tratamento pode durar vários meses ou até anos.

O entendimento sobre as diferenças, inclusive nas escolas, proporciona ao profissional


a possibilidade de adquirir conhecimento de forma pontual, principalmente porque
as temáticas trabalhadas nas instituições de ensino facilitam a busca e a troca de
conhecimento.

Psicoterapia breve psicanalítica


Freud descrevia o sujeito como provido de um aparelho psíquico, aberto para o exterior, mas
que não precisava do mundo externo para justificar seu funcionamento. No “Vocabulário
da psicanálise”, Laplanche e Pontalis (1970), no verbete relação de objeto, registram a
posição freudiana entendida como one body psychotherapy, ou seja, a teoria freudiana
da psicanálise diz respeito ao sujeito em seu funcionamento isolado, e não em relação.
Também definem os conceitos relativos ao sujeito em si como libido, deslocamento,
condensação, resistência, pulsão etc. Além disso, Freud estava mais interessado na teoria
do que na clínica e preocupava-se com a cientificidade do seu corpo teórico, preferindo
escapar da relação terapêutica, que considerava passível de ser criticada como subjetiva.

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

Em 1937, em “Análise terminável e interminável”, Freud ratificou essa posição. Enfim,


ele não propôs nenhuma modificação técnica e parecia ser oposto a elas.

Diante da reação terapêutica negativa, Ferenczi demonstrou modificações no enquadre,


com a técnica ativa. O princípio que o norteou foi a noção de que, no tratamento,
estão presentes dois elementos: cliente/paciente e terapeuta. Considerado o Pai das
Psicoterapias Breves, ele pensou a prática clínica e seus efeitos no par analítico, no
qual o papel do terapeuta na análise oportunizava a discussão da relação terapêutica da
função do mundo real na psicanálise. Essa questão, ainda hoje, está presente com vários
autores que se recusam a considerar o mundo exterior como objeto de preocupação da
psicanálise.

De qualquer forma, o sintoma constitui uma formação de compromisso que, ao mesmo


tempo, defende-se contra a emergência do desejo proveniente do Id e o gratifica de
forma mascarada. Freud reconhecia a existência de outros mecanismos de defesa, porém
dedicou a maior parte de sua atenção à repressão. Anna Freud, em sua obra “O Ego e
os mecanismos de defesa”, ampliou o trabalho do pai descrevendo nove mecanismos
de defesa específicos:

» regressão;

» formação reativa;

» anulação;

» introjeção;

» identificação;

» projeção;

» voltar-se contra si mesmo;

» reversão;

» sublimação.

Portanto, o mais importante era o reconhecimento das implicações que a observação atenta
da operação defensiva do Ego teria para o tratamento. Nesse contexto, o psicanalista
não mais poderia simplesmente desvendar os desejos inaceitáveis provenientes do Id.
Porém, em Freud, à medida que a criança abandona, reprime ou, de alguma forma,
repudia os desejos incestuosos e homicidas que constituem o complexo edipiano, as
relações dela com os objetos desses desejos transformam-se, em grande parte, em
identificações com eles.

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

O conceito de introjeção
Em 1909, Ferenczi introduziu o conceito de introjeção em seu trabalho “Transferência e
Introjeção”, demonstrando seu interesse precoce pela relação com o outro. Ele também
se preocupou em integrar o problema atual do indivíduo com a própria história pessoal
deste, ao observar como o sujeito se comporta no presente em função de seu passado.

Com relação à introjeção, contratransferência e transferência, a importância do analista


na terapia é o papel substancial do mundo real e do enquadramento. Portanto, Ferenczi
abriu as portas para a reflexão sobre a praxis psicoterápica e a relação terapêutica e,
assim, tornou-se um autor imprescindível no estudo da psicoterapia breve.

Consequentemente, não há análise sem analista, ou seja, a presença do analista no


processo de análise é indispensável. Nesse contexto, o terapeuta na psicoterapia breve
é mais ativo e interfere no processo de análise, porque tal circunstância é inevitável,
porque são duas as pessoas envolvidas em um processo. Logo, segundo a concepção de
terapia breve, o terapeuta deve acompanhar o seu cliente em suas associações livres,
interpretar o material inconsciente a partir de uma escuta psicanalítica baseada em
experiência e sólida formação teórica, para buscar um encontro significativo, consciente
da participação do paciente como ser humano no processo analítico. Com frequência,
essa mesma relação pode ser observada entre a vida instintiva da infância e os traços
normais da vida adulta, como a escolha da vocação ou do parceiro sexual. É difícil dar
exemplos satisfatórios, extraídos da experiência pessoal, a respeito da escolha de vocação,
pelo risco de quebrar o sigilo profissional. No entanto, mesmo os exemplos resumidos
e modificados podem ser suficientes para convencer o interessado, ao menos em parte,
da correção da afirmativa que procuramos exemplificar.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)


Nota-se que a terapia cognitiva tem sido frequente e equivocadamente identificada
como terapia comportamental, o que origina a ideia comum e errônea entre terapeutas
treinados na abordagem comportamental de que estariam naturalmente habilitados a
praticá-la. A abordagem cognitiva e comportamental tem concepções de ser humano e
modelos de personalidade e de psicopatologia diferentes, mas isso não quer dizer que elas
não possam ser trabalhadas juntas para obter eficácia. De qualquer forma, a mudança
para a terapia cognitiva e suas técnicas comportamentais requereram adaptação da visão
de ser humano e adoção dos modelos cognitivos de personalidade e psicopatologia, o
que resultou na chamada Terapia Cognitiva Comportamental, ou TCC, na qual é viável
a utilização de técnicas comportamentais que visam a mudanças cognitivas que atuam
alterando comportamentos.

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

A psicóloga Judith Beck, filha de Aaron Beck, o Pai da Terapia Cognitiva, enfatiza que
tal terapia tem uma ampla gama de aplicações, apoiada por dados empíricos, que são
derivados da teoria, extensamente testada desde 1977. Desde então, os estudos controlados
demonstraram sua eficácia no tratamento de transtorno depressivo maior, ansiedade
generalizada, pânico, fobia social, abuso de substância, distúrbios alimentares, terapia
de casal etc. Além disso, a terapia cognitiva comportamental também pode ser utilizada
com pacientes de diferentes níveis de escolaridade, faixas etárias e classes sociais.

Outras formas de TCC foram desenvolvidas, entre as quais: a terapia racional emotiva,
de Albert Ellis; a modificação do comportamento, de Donald Meichenbaum; a
terapia multimodal, de Arnold Lazarus.Muitos outros também contribuíram de forma
relevante para o desenvolvimento da terapia cognitiva, incluindo Michael Mahoney,
Vittorio Guidano e Giovanne Liotti.

Integração entre as abordagens cognitiva


e comportamental
Aconteceu a partir da aceitação de ideias cognitivas influenciadas pelos três Sistemas
de Lang: o comportamental, o cognitivo/afetivo e o fisiológico. Como esses sistemas
enfatizam que os problemas psicológicos poderiam ser conceitualizados de maneira útil
em sistemas de resposta sutilmente ligados, eles também determinaram o marco para a
aceitação das noções cognitivas na abordagem comportamental. Além dessa conceituação,
já é sabido que o tratamento da abordagem cognitivo-comportamental objetiva ajudar o
paciente a reconhecer padrões de pensamento distorcido e comportamento disfuncional.
Para tanto, utiliza discussão sistemática e tarefas comportamentais previamente
estruturadas para ajudar o atendido a avaliar e modificar tanto seus pensamentos
inadequados quanto seus comportamentos disfuncionais.

Psicoterapia psicodinâmica
A psicoterapia psicodinâmica é um exemplo de intervenção que usa, de forma integrada,
conceitos teóricos oriundos de diferentes teorias, além dos conceitos psicanalíticos de
conflito psíquico inconsciente, para buscar uma resolução mediante a eliminação de
defesas consideradas patológicas por meio do insight. Emprega, ainda, os conceitos de
reforço do Ego, derivado da psicologia de foco; a experiência emocional corretiva; as
crises; e as teorias da aprendizagem, incluindo a cognitiva e a comportamental. Entre
as principais características da psicoterapia psicodinâmica, destacam-se:

1. delimitação de um foco, problema ou conflito principal, em acordo com o paciente


e no qual se centraliza toda a atividade psicoterápica;

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

2. estabelecimento de uma hipótese psicodinâmica, explicativa do problema principal


ou do foco, que faz sentido ao paciente, tanto para que ele responda positivamente
quanto para orientar as intervenções do terapeuta;

3. interpretação de forças inconscientes;

4. ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais;

5. atitude ativa do terapeuta que utiliza, caso necessário, medidas de apoio como
manipulação do ambiente para tornar o clima mais tranquilo;

6. delimitação do tempo de duração do atendimento;

7. seleção adequada do paciente.

Portanto, o terapeuta adota atitudes utilizando, além das intervenções que visam ao insight,
outras de caráter de apoio, como sugestão, educação, clarificação, aconselhamento etc. Nesse
âmbito, a preocupação maior é com o futuro, e a menor com o passado. Já o paciente ideal
para a psicoterapia psicodinâmica usualmente tem problemas circunscritos (foco), mesmo
que antigos, e áreas da personalidade funcionais e altamente motivadas, apresenta boa
capacidade de insight, como também de se vincular de forma rápida ao terapeuta. Nota-se
então que, na realidade, são poucos os que preenchem os critérios exigidos por essa terapia.

A delimitação do tempo, por exemplo, faz com que, de forma prematura, questões de
separação surjam ao mesmo tempo em que são estimuladas a autonomia, a autoestima,
entre outros aspectos. Por sua vez, os resultados são indícios atrelados à motivação
para mudança, à frequência das interpretações transferenciais e à ligação com figuras
paternas e elementos, que envolvem impulsos, desejos ou sentimento do conflito focal.
Portanto, a psicoterapia psicodinâmica é indicada no tratamento de problemas
circunscritos ou de mudanças de caráter em áreas restritas da personalidade, o que
exige, tanto do terapeuta quanto do paciente, o poder de definir rapidamente o foco ou
o problema principal a ser trabalhado.

Nesse contexto, o paciente deve ser capaz de estabelecer rapidamente uma aliança de
trabalho e um vínculo com o terapeuta e apresentar facilidade de expressar sentimentos e
interesse em compreendê-los. Deve ainda ser capaz de separar-se facilmente e demonstrar
motivação para efetuar mudanças, por meio da compreensão de suas próprias dificuldades.
Além disso, ele não deve ter problemas que possam ser agravados quando mobilizadas
as defesas, como numerosos, difusos ou severos.

Indicações:

» pacientes com transtornos de ajustamento e de personalidade leve; e organização


neurótica de personalidade;

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

» situações ou problemas agudos, na vigência de transtornos caracterológicos crônicos.

Contraindicações:

» psicoses;

» transtornos de humor;

» transtorno de dependência a álcool ou outras substâncias psicoativas;

» transtorno obsessivo-compulsivo ou fóbico incapacitante;

» transtorno do pânico;

» transtorno de caráter grave, como organização borderline ou psicótica da


personalidade, expressos sob a necessidade frequente de hospitalização, tentativas
de suicídio, condutas auto ou heterodestrutivas (que destrói ou contribui para a
destruição de outrem) graves, além de controle precário dos impulsos;

» pacientes imaturos e dependentes que, em virtude das reações transferenciais


desenvolvidas, tenham dificuldade de se separar do terapeuta;

» situações emergenciais que exijam intervenções rápidas (como a do tipo mudança


ambiental).

» necessidade se modificações maiores ou mais profundas no caráter.

» problemas difusos, focos ou conflitos múltiplos.

Fatores comuns em todas as terapias


Embora existam muitos fatores comuns, citaremos apenas alguns em relação as psicoterapias:

» Ocorre no contexto de uma relação de confiança emocionalmente carregada em


referência ao terapeuta.

» Dá-se em um contexto terapêutico, no qual o paciente acredita que o terapeuta irá


ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado.

» Trata-se de uma relação profissional que ocorre no contexto interpessoal, envolvendo


outra pessoa ou um grupo delas.

» Para a terapia ter sucesso, é indispensável um contexto terapêutico favorável,


caracterizado por um ambiente de confiança e apoio entre terapeuta e paciente.

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A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

» A terapia deve proporcionar uma oportunidade para o paciente expressar


emoções, reviver e revisar experiências passadas, particularmente as que envolvem
relacionamentos com figuras importantes do passado, no intento de tanto perceber
as repetições no presente quanto encontrar novas formas de agir.

» Intervenções específicas são usadas pelo terapeuta, decorrentes do modelo explicativo


sobre a origem e a manutenção dos sintomas, com o propósito de eliminá-los.

» A terapia deve criar um ambiente que proporcione o entendimento e a busca de


alternativas para modos problemáticos de pensar, sentir e se comportar.

» A terapia deve proporcionar a oportunidade para novas aprendizagens por meio


da exposição a situações, ideias, sentimentos e comportamentos que provocam
ansiedade a fim de fazer com que o paciente supere medos e evitações.

Em casos mais difíceis, nos quais as projeções sobre o atendido são maciças ou pelas
próprias condições íntimas do caso, deve-se lançar mão de outras abordagens terapêuticas
– motivo pelo qual explanamos acerca das escolas apresentadas.

É fundamental salientar que, em certo número de casos, a intervenção terapêutica pode


se limitar a um pequeno número de consultas e, em algumas vezes, até a uma. Esse tipo
de intervenção é bastante útil quando nos deparamos com famílias relativamente saudáveis
com história de um funcionamento adaptado no passado e que estão enfrentando crises
vitais ou acidentais que perturbam a homeostase do sistema. Note que tais crises,
usualmente, consistem em situações novas que o indivíduo ou grupo familiar é incapaz
de enfrentar de forma adequada e suficientemente rápida com seus próprios recursos
e mecanismos de defesa.

Muitas vezes, os problemas são graves e inevitáveis, como perdas simbólicas ou reais,
o surgimento de uma patologia, acidentes, mudança ou perda de emprego, casamento
de um filho, nascimento de um filho prematuro etc. Enfim, a vida não apresenta um
roteiro, e os imprevistos são inúmeros. Portanto, a estimulação do crescimento pessoal
pela exposição a situações de crise com o auxílio terapêutico visa encontrar formas
alternativas e funcionais para lidar com a tensão, que tem implicações importantes
na resistência ao transtorno mental. Consequentemente, a persistência do transtorno
mental e a manutenção do sintoma estão diretamente relacionadas com a capacidade
do terapeuta de ajudar a família ou o atendido, fazendo-o ampliar seu repertório de
habilidades, sem recorrer a formas regressivas, irreais e socialmente inadequadas para
lidar com suas dificuldades. Nesse caso, podemos exemplificar o uso de substâncias
psicoativas (lícitas ou ilícitas) que, de acordo com a sustentabilidade, poderá provocar
o surgimento de sintomas neuróticos e psicóticos.

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

Caso clínico
D., mulher de 40 anos, foi encaminhada ao neuropsicopedagogo em função de lapsos
de memória. Na ocasião, ela relatou buscar ajuda, com o objetivo de se tornar uma mãe
melhor. Com dois filhos adolescentes, havia perdido o marido há pouco tempo e, desde
então, não conseguia controlá-los. O mais velho, de 17 anos, começou a beber, chegava
muito tarde à casa, deixou de dar atenção aos estudos e de fazer planos para o vestibular.
Já o outro filho, de 15 anos, repetiu o ano e se isolou no quarto, onde ficava somente
assistindo a séries pelo celular. D. contou que sempre trabalhou fora, até que parou
de atuar como atendente em clínica médica para se dedicar ao casamento. Alegou que
sempre foi uma mãe cautelosa e que sempre atendeu a todas as vontades dos homens
da casa, modo que usava para se referir ao marido e aos dois filhos.

Antes da situação com os próprios filhos, ela já fazia acompanhamento psicoterápico,


pois não conseguia se concentrar em nada e sentia um imenso vazio por ter sido apenas
esposa e mãe. Além disso, ela não tinha nenhum projeto expressivo, tanto que seu universo
se resumia aos afazeres domésticos e às vontades que deveria atender. Graças a isso,
ganhou peso e ficou com a autoestima reduzida, pois não gerava renda e dependia do
marido para fazer o que costumava arcar com seu salário. Nessa época, nem o marido
nem os filhos participaram de qualquer uma das sessões de D. No entanto, ela mencionou
que a terapia de família seria interessante para todos, pois sentia a ausência de empatia
entre os membros do seu núcleo familiar. Mas isso nunca aconteceu e, subitamente, o
marido faleceu em casa na frente dos filhos. De acordo como que dizia, ele era o modelo
que os filhos seguiam.

D. não conseguia seguir adiante de forma autônoma em sua própria vida e, de modo geral,
apresentava um quadro de depressão maior, que, após a morte do marido, favoreceu
a perda de memória. Exames confirmaram que havia comprometimento neural, e o
encaminhamento ao neuropsicopedagogo visava ampliar a avaliação para fechamento
de um laudo. Apesar disso, ela já apresentava questões pertinentes aos outros membros
da família, tanto que já havia iniciado um acompanhamento psicológico quando os filhos
ainda eram crianças. Portanto, havia uma indicação para terapia familiar ou individual,
que não ocorreu.

Note que, na adolescência, por exemplo, a psicoterapia é extremamente útil perante as


situações que implicam dificuldades para lidar com as perdas inerentes a essa fase do
desenvolvimento, como o luto pelos pais (fato que aconteceu com os filhos de D.) e o
corpo infantil e ainda a vulnerabilidade às pressões ambientais e familiares, que podem
gerar conflitos em várias áreas. Já o tempo dela depende da relação transferencial e
contratransferencial avaliada pelo terapeuta tanto das condições empáticas com paciente

32
A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA | UNIDADE I

quanto da utilização dos instrumentos que a psicanálise oferece para o entendimento


psicodinâmico do atendido.

Mesmo concomitantemente à psicoterapia individual, em algumas situações se faz


necessária a inclusão, em algumas sessões, dos familiares e de outros adultos envolvidos
na rotina diária da criança, com o propósito de estabelecer orientações, combinações
e entendimento do processo pelo qual ela está atravessando em um dado momento.
Portanto, a psicoterapia procura favorecer a aliança entre o membro mais doente do
grupo familiar, facilitando o encaminhamento desse indivíduo específico para terapia, no
intento de liberá-lo do referido sintoma ou de seu papel de continente das projeções do
grupo familiar. Consequentemente, o escopo da terapia é propiciar mudanças internas
e consistentes, que colocam as questões do passado no passado, de forma a auxiliar os
atendidos a entender que o passado não pode ser mudado, mas pode-se alterar a maneira
de lidar e a forma de compreender as mudanças objetais, alterando a forma de vivenciar
o presente e programar o futuro.

Para o psicoterapeuta que atua junto a crianças, é indispensável habilidade e disposição


para conhecer e interagir com tudo o que constitui o mundo externo dela. Assim, o
trabalho interdisciplinar se faz necessário, bem como a comunicação entre os demais
profissionais que acolhem a demanda do paciente. Logo, esforços são somados para
favorecer a intervenção com a criança que se encontra em processo terapêutico.

Considerando todo o contexto apresentado no caso de D., percebemos que, cada vez mais,
vivemos em uma sociedade com acúmulo de riscos, que, sem dúvida, tem consequências
sérias no desenvolvimento dos indivíduos, tanto que ela e os filhos ficaram afetados com a
morte do marido/pai. Mas se, por um lado, apenas D. procurou ajuda, por outro, inúmeros
estudos têm demonstrado a capacidade dos seres humanos para usar mecanismos
adaptativos, ser flexíveis, enfrentar dificuldades e retornar a um estado de equilíbrio ou
um estado homeostático prévio, com a ajuda de uma equipe multidisciplinar que conta
com um neuropsicopedagogo clínico, para auxiliar o paciente com seu conhecimento
nas mais diversas demandas.

Indicações de avaliação na infância


Elas pressupõem objetivo e tempo determinado em casos de:

» iminência de uma cirurgia;

» presença de sintomas agudos e isolados, que possam ser focalizados, por exemplo,
transtorno na alimentação em crianças pequenas;

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UNIDADE I | A Neuropsicologia: O Futuro é AgorA

» recusa ansiosa, por parte da criança, a se submeter a um tratamento médico ou


odontológico específico;

» início de uma doença mental na criança ou em um familiar próximo e representativo;

» situações de crises familiares com mensagens contraditórias ou enganosas (separação


dos pais, adoção, mudança e novo casamento dos pais).

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Fonte das imagens


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Figura 2: https://neuropsych4kids.com/about/.

Figura 3: https://specialneedsprojecteec424.weebly.com/dyslexia.html.

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Figura 12: https://vidapsychotherapy.com/couples-therapy/.

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