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Introdução à Neuropsicologia

Manuel C. R. Domingos
Unidade de Neuropsicologia de Intervenção
e
Universidade Lusíada de Lisboa
NEUROPSICOLOGIA: NOTAS INTRODUTÓRIAS

 Duglinson (1895), Simon


(1905),William Osler (1913),
Hebb (1949)

 Neurociência Comportamental,
Área da Psicologia…..ou
ambas as coisas!?

 Estuda as relações entre a


fenomenologia
comportamental (actividade
nervosa complexa, condutas,
emoções e personalidade) e a
dinâmica funcional do encéfalo
(normal e patológica)
Neuropsicologia Clínica e Neuropsicologia Cognitiva

 Neuropsicologia Clínica:
- Avalia e reestrutura/reabilita/reinsere pessoas com
alterações funcionais, específicas, provocadas por
disfunções ou lesões encefálicas como acidentes
vasculares encefálicos (AVC), traumatismos cranio-
encefálicos, doenças degeneratívas, neoplasias,
epilepsias……..

 Neuropsicologia Cognitiva:
- Explora os dados obtidos em observações de casos
individuais e procura construir, testar e aperfeiçoar
modelos do funcionamento cognitivo humano, tendo em
conta as suas bases neuro-funcionais.
Princípios de Organização e Assimetria
dos
Processos Nervosos Complexos

 Localização dos Processos Nervosos Complexos ou Cognitívo-


Operatívos:

As diferentes áreas encefálicas influenciam a génese e dinâmica


“comportamentais” através de uma constante especialização
Princípios de Organização e Assimetria
dos
Processos Nervosos Complexos

“... a mente resulta não só da operação de cada


uma das diferentes componentes mas também
da operação concertada de múltiplos sistemas,
constituídos por essas diferentes componentes”
(Damásio, 1995)
O Sistema Nervoso Central é composto por inúmeras áreas
funcionais, especializadas e interactivas

 Principais Fontes de informação da Neuropsicologia:


 Localização das áreas encefálicas – Neuroanatomia Funcional
 Localização dos sintomas – Exame Neurológico
 Localização dos processos e respectivas funções –
Neuroimagem (RM,RMf, Spect, PET), Neurofisiologia (EEG,
Pev/P300…, MGE)
 Compreensão das alterações do comportamento -
Psicopatologia

 O Futuro da Neuropsicologia:
 1ª) Reabilitação
 2ª) Monitorização (associação de técnicas/neuroscann,
brainvision, exame neuropsicológico intraoperatório…)
 3ª) Prevenção (?)
Neuroanatomia-Funcional

Bases de Neurocitologia

 Neurónios
 Corpo Celular - central de
energia, que inclui o núcleo
celular e os organitos.
 Axónio - prolongamento
citoplasmático eferente.
 Dendrites - prolongamento
citoplasmático aferente.

 Sinapses:
 Estimuladoras.
 Inibidoras.
Neuroanatomia-Funcional

Bases de Neurocitologia

 Circuitos Neuronais

 Estimulo com Potencial Excitatório

Potencial de Acção

 Neurotransmissão
(e.g., sinapse axodendrítica)

 Neurotransmissores:
 Excitatórios – acetilcolina;
glutamato; noradrenalina;
dopamina ...

 Inibitórios – ácido gama-


aminobutírico; ...
Neuroanatomia-Funcional

Bases de Neurocitologia

 Células Gliais:

- Algumas poderão estar implicadas no


processamento de informação (astrócitos).

- Sofrem processos mitóticos.

- Tipos: astrócitos; oligodendrócitos e células de


Schwann; microglia; células ependimárias e
coroideias

Astrócitos: sustentam o neurónio, veiculam os


nutrientes (O2 , glicose…) e participam na
neurotransmissão

Oligodendrócitos e C. de Shwann: produzem


mielina, que envolvem a maioria dos axónios;

- Microglia: papel fagocitário e imunitário;

- Células Ependimárias e Coroideias: segreção


e transporte do LCR
Neuroanatomia-Funcional

Bases de Neurocitologia
Neuroanatomia-Funcional

Bases de Neurocitologia
MECANISMOS BÁSICOS DE ANATOMIA FUNCIONAL DO
ENCÉFALO

 Cérebro:

 Hemisfério Direito - gestão das relações


espaciais….

 Hemisfério Esquerdo - funções linguísticas……

 Corpo Caloso - conjunto espesso de fibras


nervosas de (cerca de 250000000) que ligam um
hemisfério ao outro.
Neuroanatomia-Funcional
Encéfalo
Cérebro/Prosencéfalo:
Telencéfalo:
Hemisférios Cerebrais (Lobos,
Gânglios da Base e Vias de
Conexão)
Diencéfalo:
 Tálamo
 Hipotálamo
 Epitálamo
 Subtálamo…
Tronco Encefálico (Mesencéfalo,
Protuberância e Bulbo Raquidiano)
Cerebelo
Neuroanatomia-Funcional

 Substância Branca:

 Cápsula Interna

 Fibras de Projecção

 Fibras de Associação

 Comissuras

 Vias Cortico-Subcorticais
Aferentes e Eferentes
Neuroanatomia-Funcional

Fibras Corticais Aferentes e


Eferentes

Áreas corticais

Striatum
Diencéfalo

Tronco Encefálico
Cerebelo

CORONA RADIATA
Neuroanatomia-Funcional

FUNCIONALIDADE ENCEFÁLICA

As fibras nervosas aferentes cruzam-se ao nível do bulbo (decussação),


de forma a que cada hemisfério cerebral está, funcionalmente,
associado ao hemi-corpo contralateral.
Neuroanatomia-Funcional
Neuroanatomia-Funcional

 Substância Cinzenta:

 Córtex Cerebral

 Córtex Cerebeloso

 Núcleos Subcorticais – e.g.,


gânglios da base (núcleo
caudado; núcleo lenticular -
putamen, globus pallidus)

 Corpus Striatum – núcleo


caudado + lenticular
Neuroanatomia-Funcional

 Lobos Cerebrais:

 Frontal
 Temporal
 Parietal
 Occipital
 Insula
 Limbico
Neuroanatomia-Funcional

 Lobo Límbico:
- fronteira entre o córtex cerebral
e o corpo caloso; emoções,
comportamento instrumental
- giro cingular + giro
parahipocampal + hipocampo

 Sistema Límbico:

- Hipocampo
- Fórnix
- Corpos Mamilares
- Amígdala
- Região dorso-média do tálamo
- Circunvolução parahipocampica
Neuroanatomia-Funcional

 Sistema Límbico:

1) Áreas corticais de associação (modalidades


sensoriais específicas);

2) Áreas parieto-occipitais de associação


(função perceptivo-espacial);

3) Áreas frontais de associação (regulação e


planeamento do comportamento);

4) Áreas temporais inferiores de associação


(processamento semântico, memória…);

5) - Amígdala (significado afectivo dos


experiência. Percepção do perigo/“Fight or
Flight”);
- Circunvolução parahipocampica (memória;
aprendizagem, emoções…)

HIPOTÁLAMO
Fundamentos
de
Neuropsicologia Clínica
PREOMINÂNCIA CEREBRAL

- Como surgiu?

 Estudos neuro-anátomo-funcionais de BROCA: as alterações na


linguagem parecem relacionar-se com lesões do hemisfério cerebral
esquerdo.

 Linguagem enquanto expressão da razão: dominância do h. c.


esquerdo.

 Associação da paralisia dos membros direitos a defeitos da


linguagem.

 Inspiração nas Teorias Frenológicas: orgãos cerebrais responsáveis


pela produção de funções psicológicas isoladas; distribuição
assimétrica desses orgãos pelos dois hemisférios cerebrais.
DOMINÂNCIA CEREBRAL

- Em que consiste?

Associação da lateralidade dextra à dominância hemisférica esquerda para a


linguagem

SERÁ SEMPRE ASSIM?

Será que esta concordância é absoluta?

Em mais de 90% da população humana, a linguagem encontra-se no


h.c.esquerdo
(Barbizet & Duizabo, 1985)
DOMINÂNCIA CEREBRAL

- Esta concordância não é absoluta, porque ...

Em mais de metade dos canhotos e dos


ambidextros, o h.c.esquerdo é o responsável pela
linguagem;

Em alguns ambidextros e canhotos, ambos os


hemisférios intervêm nessa função;

Em apenas 5% dos canhotos, a zona instrumental


da linguagem está localizada no h.c.direito.
DOMINÂNCIA CEREBRAL

- Quais as hipóteses explicativas para a associação entre a


dominância manual e a dominância cerebral?

 HIPÓTESE EMBRIOLÓGICA: o desenvolvimento mais


precoce do h.c.esquerdo predisporá a executar, com esta
metade do cérebro, os actos materiais e intelectuais mais
complexos.

 HIPÓTESE ANATÓMICA: a superfície do planum


temporale (porção superior intrasílvica do lobo temporal)
é maior no h.c.esquerdo, em cerca de 6:1 indivíduos.
DOMINÂNCIA CEREBRAL

 HIPÓTESE GENÉTICA: presença de história familiar


de canhotismo, logo, a preferência pela mão esquerda
resultará de um traço geneticamente determinado.

 HIPÓTESE DAS LESÕES ADQUIRIDAS PRECOCES:


uma lesão cerebral adquirida do h.c.esquerdo, levaria à
utilização preferencial da mão esquerda por
impossibilidade de o fazer com a mão direita.

 HIPÓTESE RELACIONAL: a dominância hemisférica é


adquirida ao longo do desenvolvimento da criança, por
influência dos modelos parentais e dos hábitos
pedagógicos na aquisição da lateralidade.
DOMINÂNCIA CEREBRAL

- Em resumo ...

A lateralidade motora não é um fenómeno de tudo ou


nada!

 Não há só dextros completos e canhotos completos!

 Existem variações das manifestações da dominância


motora.

Expressão da organização superior dos actos motores


Distribuição interhemisférica dos mecanismos de
dominância motora:
- Natureza do acto motor
- Segmento do corpo usado para o realizar
ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA

- Estudos com doentes calosotomizados ...

 Seccionar o corpo caloso: separação anátomo-funcional


dos dois hemisférios cerebrais.

 Determinados sinais são interpretados como o resultado


do funcionamento isolado de cada hemisfério cerebral e
das funções que cada um desempenha.
ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA

- Estudos com doentes com lesões em cada um dos


hemisférios ...

 A perda ou perturbação de uma determinada função, na


sequência de uma lesão cerebral, resulta da destruição
do substrato neuronal da função normal desse
hemisfério cerebral.

Cada um dos hemisférios cerebrais é


especializado para um conjunto específico de
operações distintas
ASSIMETRIA DOS PROCESSOS NERVOSOS COMPLEXOS

HEMISFÉRIO CEREBRAL ESQUERDO


Linguagem
Cálculo
Praxias
Gnosia……

HEMISFÉRIO CEREBRAL DIREITO


Atenção visuo-espacial
Aptidões visuo-perceptivas complexas
Ideações não-verbais
Percepção do ritmo prosódico da linguagem……
Alterações emocionais causadas por doenças do S.N.C.

 BABINSKI (1914), HÉCAEN e col. (1951), DENNY-BROWN e col.


(1952), GAINOTTI (1972) - lesões no hemisfério cerebral direito
causam, geralmente, acentuada indiferença e apatia. Anosognosia ou
anosodiaforia

 GOLDSTEIN (1948), TERZIAN (1964), ROSSI & ROSADINI (1967),


GAINOTTI (1972) - doentes com lesões no hemisfério cerebral
esquerdo apresentam grande reactividade afectiva, de tipo ango-
depressívo e com frequentes acessos de iritabilidade/agressividade.
Reacções “catastróficas”.
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

 LINGUAGEM: principal meio de comunicação entre os homens; aquisição


progressiva.
Sistema simbólico de sinais, usado para a comunicação interindividual

FALA: actividade muscular coordenada destinada à comunicação oral.

 CÓDIGO = LÍNGUA – fonemas, palavras, sintagmas, frases.

 Aprendizagem de letras, sílabas, palavras e frases.

 ASSOCIAÇÃO VISUO-MOTORA: símbolos escritos – símbolos sonoros da


linguagem oral.

 REDE NEURONAL ESPECÍFICA: cada fragmento da experiência linguística.

 EXERCÍCIO DA LÍNGUA: área instrumental da linguagem

Meta-estrutura verbal
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

ÁREAS CEREBRAIS IMPLICADAS NA FALA

- PALAVRA ORAL:

1) Córtex auditivo primário (lobo temporal esquerdo) –


recepção da informação verbal.
2) Córtex de associação auditivo (Área de Wernicke) –
processamento da informação (o som é reconhecido
como linguagem).
3) Integração de características importantes do som
(timbre, sonoridade, melodia, intensidade, entoação),
para complementar a compreensão da mensagem.
4) Área de Broca.
5) Córtex motor – vias motoras que controlam os
músculos buco-fonatórios.
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

ÁREAS CEBEBRAIS IMPLICADAS NA FALA

- PALAVRA ESCRITA:

1) Área visual primária (lobo occipital esquerdo)


2) Giro angular
3) Área de Wernicke
4) Feixe arqueado
5) Área de Broca (articulação verbal)
6) Córtex motor

TÁLAMO: atenção; H.C.DIREITO: apreciação dos dados


visuo-espaciais (e.g., Dislexia por Negligência)
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

- Diferentes áreas cerebrais activadas em tarefas


linguísticas de complexidade crescente.

- Lesão cerebral na infância (H.E.):

Plasticidade Cerebral

Adaptação do H.D. às funções da linguagem

- Lesão cerebral em adultos (H.E.):

Reorganização funcional do H.D.


PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

Área de Wernicke

 reconhecimento da informação auditiva como linguagem


 participa na análise dos elementos da comunicação que
estão constituídos em palavras

Área de Broca

 processos de organização da sequenciação dos fonemas na


produção do discurso
Investigações em Afasiologia

 Capacidade de descodificação (e.g.,


compreensão auditiva);
 Capacidade de codificação (e.g., denominação
de objectos ou figuras);
 Ligação da descodificação com a codificação
(e.g., repetição de palavras).
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

AFASIAS
DEFINIÇÃO: perda ou perturbação da capacidade de compreensão
e/ou produção da linguagem, devido a lesão cerebral (Hodges,
1994).

NÃO INCLUI:

 Perturbação dos dispositivos implicados na produção da fala e da escrita


(e.g., músculos da língua e da garganta; perda sensorial periférica).

 Defeitos na aquisição da linguagem:


- consequentes à surdez (surdo-mudez);
- ausência da aquisição da linguagem;
- atrasos da linguagem;
- perturbações do discurso, observadas no decurso de uma psicose.
AFASIA DE BROCA
(Afasia não fluente, de emissão verbal reduzida, anterior, motora ou expressiva)

CARACTERIZAÇÃO SINTOMÁTICA: incapacidade em produzir expressões


linguísticas, de forma fluente.

EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA

 Conteúdo linguístico empobrecido: produções verbais pobres e hesitantes.


 Discurso restringido ao uso quase exclusivo de substantivos ou neologismos
(estereótipo).
 Redução do débito de produção da fala: menos de 10 palavras/minuto.
 Falta de iniciativa verbal: dificuldade na evocação espontânea da palavra.
 Mutismo funcional.
 Parafasias: emprego erróneo de uma palavra por outra (e.g., “garfo” por
“colher”).
AFASIA DE BROCA
(Afasia não fluente, de emissão verbal reduzida, anterior, motora ou
expressiva)

EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA

 Dificuldade em repetir palavras (distorções fonológicas = parafasias


fonológicas).
 Dificuldade em atribuir nomes aos objectos apresentados.
 Discurso não melódico e disrítmico (disprosódia).
 Frases estereótipadas e sem sentido (e.g., “tu-tu-tu”; “zima-pan”).
 Alterações da articulação (disartrias).
 Dificuldades de escrita: escrita lenta, entrecortada por pausas, com
omissão das formas gramaticais, mudanças e trocas das letras que se
assemelham (disortografia).
AFASIA DE BROCA (cont.)

COMPREENSÃO
 Atingida de forma mais discreta.
 Perturbação da compreensão da linguagem oral: encontrada, habitualmente,
perante ordens complexas (e.g., “Toque no quadrado grande e preto, com o
círculo pequeno e verde”).
 Perturbação da linguagem escrita: os enunciados complexos apenas são
alcançados de uma forma fragmentar.

INDICADORES CLÍNICOS

 Incapacidade de repetir ou ler em voz alta.


 Na leitura, faz trocas de palavras (e.g., “malandro” por “ladrão”;
“selvagem” por “leão”; “aprender” por “saber”).
 Incapacidade de escrever, sob a forma de ditado, certas palavras ou
frases.
AFASIA DE BROCA (cont.)

SINAIS NEUROLÓGICOS ASSOCIADOS

 Hemiplegia direita.
 Apraxia.

LESÕES CEREBRAIS

 Hemisfério cerebral esquerdo.

 AVC na zona da artéria cerebral média.

 ÁREA DE BROCA: Afasia Motora tipo Broca.


AFASIA DE WERNICKE
(Afasia fluente, de emissão verbal fluida, posterior, sensorial ou receptiva)

CARACTERIZAÇÃO SINTOMÁTICA: perturbação severa da compreensão, sem


comprometimento da produção da fala.

EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA

Perturbação da capacidade de compreensão auditiva de material verbal

 Fala produzida sem esforço: 100 a 150 palavras/minuto.


 Comprimento normal das frases.
 Discurso espontâneo fluente: melódico, às vezes exuberante, conservando
uma grande riqueza de entoação.
 Discurso pleno de palavras vagas, rodeios, ou totalmente alheias ao seu
sentido.
AFASIA DE WERNICKE
(Afasia fluente, de emissão verbal fluida, posterior, sensorial ou receptiva)

EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA

 Pausas frequentes, para encontrar palavras com o significado pretendido.


 Distúrbio na utilização das palavras: frequentes substituições silábicas,
fonémicas, semânticas e uso de neologismos (parafasia).
 Perturbações das capacidades de nomeação e de repetição (e.g., “coisa”,
“aquilo”).

 Variante predominantemente expressiva: discurso composto por palavras


incompreensíveis.

 Variante predominantemente compreensiva: defeito de compreensão.


AFASIA DE WERNICKE (cont.)

COMPREENSÃO
 Grande dificuldade na compreensão do discurso falado ou apresentado
visualmente.
 Défice de compreensão do próprio discurso.
 Casos mais graves: execução, apenas, de instruções simples.
 Incapacidade na execução de ordens escritas.
 Perturbação da capacidade de nomeação de objectos (mesmo os mais
usuais).
 Dificuldade em acompanhar uma conversa entre pessoas.

DIFICULDADES NA PRODUÇÃO DO DISCURSO E DA ESCRITA


 Geralmente, a escrita ditada é impossível.
 Escrita copiada afectada: sobretudo, na transcrição rápida de
caracteres maiúsculos.
AFASIA DE WERNICKE (cont.)

DIFICULDADES NA LEITURA
Discurso parafásico.
Leitura em voz alta é, na maioria das vezes,
incompreensível.

PERTURBAÇÕES GESTUAIS DE ORIGEM IDEOMOTORA


Incapacidade em executar, sob instruções simples, acções
simples (e.g., acender uma vela).
AFASIA DE WERNICKE (cont.)

SINAIS NEUROLÓGICOS ASSOCIADOS

 Hemianópsia lateral homónima.

 Situação mais rara: hemiplegia, com/sem perturbações sensitivas.

LESÕES CEREBRAIS

 Hemisfério cerebral esquerdo, região do córtex auditivo de associação,


lobo temporal superior (ÁREA DE WERNICKE).
FLUÊNCIA DO DISCURSO ESPONTÂNEO NA AFASIA
(adaptado de Castro Caldas, 2000, p.171)

CARACTERÍSTICAS AFASIA NÃO FLUENTE AFASIA FLUENTE


ELEMENTARES

DÉBITO Reduzido (menos de 50 Normal (100 a 200


palavras/minuto) palavras/minuto)

ESFORÇO PRODUTIVO Aumentado Normal

ARTICULAÇÃO Disartria Normal

COMPRIMENTO DAS FRASES Curtas (1 a 2 palavras/frase) Normal (5 a 8 palavras/frase)

PROSÓDIA Disprosódico Normal

CARACTERÍSTICAS DO Excesso de substantivos Redução do número de


LÉXICO substantivos

PARAFASIAS Raras (fonológicas) Frequentes (todos os tipos)


PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM
PERTURBAÇÕES DA FALA - AFASIAS E DISFASIAS

4.1.3. AFASIA DE CONDUÇÃO

CARACTERIZAÇÃO SINTOMÁTICA: distúrbio na expressão oral e nas


possibilidades de transposição audio-visuo-fonatória.

 Incapacidade em repetir textos em voz alta (parafasias).


 Nomeação de objectos e repetição de palavras/frases pobres.
 Tentativas de repetição de sílabas, de palavras (com ou sem significado) e de frases.
 Dificuldades na escrita ditada e na escrita espontânea: uso incorrecto de letras, nas
palavras escritas.
 Relativa preservação da escrita copiada.
 Preservação da compreensão auditiva (o doente é crítico em relação ao seu defeito e
tenta corrigi-lo) e do discurso espontâneo.
AFASIA DE CONDUÇÃO (cont.)

Perturbação do mecanismo de codificação fonológica

SINAIS NEUROLÓGICOS ASSOCIADOS


(discretos)
 Ausência de distúrbio motor.
 Distúrbios sensitivos pouco marcantes ou ausentes.
 Campo visual normal.

LESÕES CEREBRAIS

 Fascículo arqueado (?)


(substância branca; conduz as informações da área de compreensão da linguagem
- Wernicke - para a Área de Broca).
 Giro supra-marginal (proximidade da Área de Wernicke).
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

AFASIA GLOBAL

CARACTERIZAÇÃO SINTOMÁTICA: perda completa da função da linguagem

 Perturbação grave da compreensão auditiva.


 Défices de expressão, compreensão, leitura, escrita, nomeação e repetição.
 Fase Aguda: perturbação da comunicação não-verbal.

Programas de reabilitação centrados na estimulação de capacidades não-


verbais

LESÕES CEREBRAIS

 Extensa lesão do H.E..


 Áreas de Broca e de Wernicke.
 Áreas corticais circundantes.
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

AFASIA TRANSCORTICAL MISTA

CARACTERIZAÇÃO: perturbação afásica rara, resultante do isolamento das Áreas de Broca


e de Wernicke.

 Compulsão muito forte do doente para repetir o que lhe é dito (ecolália).
 Dificuldades na compreensão, nomeação, expressão e leitura.
 Ausência de discurso espontâneo.
 Ausência de compreensão auditiva.
 Impossibilidade de nomear objectos.

LESÕES CEREBRAIS

 Em torno das áreas da linguagem, no H.E..


 Áreas servidas pela artéria cerebral média.
AFASIA TRANSCORTICAL MOTORA

CARACTERIZAÇÃO: perturbação afásica semelhante à Afasia de Broca,


embora haja preservação da capacidade de repetição.

 Discurso não fluente


 Compreensão e leitura preservadas
 Escrita perturbada

LESÃO CEREBRAL

Região anterior à Área de Broca

4.1.7. AFASIA TRANSCORTICAL SENSORIAL

CARACTERIZAÇÃO: perturbação afásica semelhante à Afasia de


Wernicke, embora haja preservação da capacidade para repetir
palavras.
AFASIA TRANSCORTICAL SENSORIAL (cont.)

 Discurso fluente (parafasias ocasionais)


 Compreensão limitada (escrita e leitura afectadas)

LESÕES CEREBRAIS

Área de associação sensorial em torno da Área de Wernicke

4.1.8. AFASIA SUB-CORTICAL

CARACTERIZAÇÃO: perturbação afásica causada por lesão na substância


branca, nos gânglios basais e no tálamo.

- AFASIA SUB-CORTICAL MOTORA (ANARTRIA): perturbação na elaboração


motora da palavra, conduzindo a fracassos na realização sonora.
- AFASIA SUB-CORTICAL TALÂMICA: modificações no débito verbal;
diminuição da fluência verbal.
AFASIA DE NOMEAÇÃO (ANOMIA)

CARACTERIZAÇÃO: dificuldades de nomeação (permanecem,


habitualmente, após a recuperação da afasia, enquanto sintomas
residuais).

Perturbação dos mecanismos de evocação, sendo impossível traduzir


para palavras os nomes dos objectos

 Fala fluente normal, embora pontuada por dificuldades de acesso lexical


(e.g., nomes de difícil recordação).

 Discurso circunloquial: em torno da palavra esquecida (para “caneta”


poderão dizer “coisa que serve para escrever”).
SURDEZ VERBAL PURA
(Agnosia Audio- Verbal)

CARACTERIZAÇÃO: compreensão e repetição pobres de material verbal auditivo, com


preservação da compreensão da linguagem escrita, da nomeação e da escrita; défice
da percepção da linguagem oral.

 Lesão no córtex auditivo primário ou nas fibras de ligação entre esta área e a Área de
Wernicke (a informação auditiva não tem possibilidade de chegar à Área de
Wernicke).

“SURDEZ VERBAL PURA”: a capacidade de leitura está intacta, mas a compreensão auditiva
está muito afectada.

“CEGUEIRA VERBAL PURA”: a capacidade de compreensão auditiva está intacta, mas a leitura
está muito afectada.
- QUADRO-RESUMO DOS DÉFICES E LESÕES CEREBRAIS ASSOCIADOS ÀS AFASIAS -

TIPO FLUÊNCIA REPETIÇÃO COMPREEN- NOMEAÇÃO LOCALIZAÇÃO DA LESÃO


SÃO

BROCA - - + - Frontal Posterior

WERNICKE + - - - Temporal Superior

CONDUÇÃO + - + - Giro Supra-Marginal

Área em redor da Fissura de Sylvius


GLOBAL
- - - -
Zona da Artéria Cerebral Média
TRANS. MISTA
- + - -
- + + - Anterior à Área de Broca
TRANS. MOTORA

TRANS. SENSORIAL Zona limítrofe da junção parieto-


+ + - - temporal

ANOMIA + + + - Não definida


AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES DA FALA

1) FUNÇÕES BÁSICAS DA LINGUAGEM: fluência, repetição, compreensão e


nomeação das palavras.

2) FUNÇÕES COMPLEXAS DA LINGUAGEM: raciocínio semântico e vocabulário.

AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES BÁSICAS DA LINGUAGEM

- FLUÊNCIA (discurso espontâneo): pedir ao doente que participe numa conversa ou que
faça a descrição de uma figura.

- REPETIÇÃO: pedir ao doente para repetir palavras simples, progredindo-se, depois, para a
repetição de frases de complexidade crescente.

- COMPREENSÃO: pedir ao doente que realize tarefas, a fim de determinar a precisão do


seu entendimento.

- NOMEAÇÃO: pedir ao doente que atribua um nome a objectos comuns ou a representações


de objectos.
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

ALEXIA

Perda da capacidade de ler, após uma lesão cerebral


(Déjerine, 1891, 1892)

Perturbação lesional da leitura

 Problema geral da leitura (Alexia com Afasia)


 Problema geral da linguagem que surge isoladamente (Alexia Pura)
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

ALEXIA PURA
(Alexia sem Agrafia)

CARACTERIZAÇÃO: desconexão dos centros da linguagem e das áreas de percepção


visual do cérebro.

 Incapacidade de ler.
 Retenção das capacidades de compreensão auditiva da linguagem, da fala e da escrita.

- O indivíduo escreve espontaneamente, mas não é capaz de ler o que escreve -

LESÕES CEREBRAIS

 Córtex occipital esquerdo


 Hemianopsia direita
 Splenium do corpo caloso
PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

ALEXIA COM AGRAFIA


e
Síndroma de Gerstmann (?)

CARACTERIZAÇÃO: perturbação grave da leitura e da escrita, com preservação da


compreensão auditiva e da produção da fala.

 Acalculia.
 Desorientação espacial dos lados esquerdo-direito.
 Agnosia dos dedos.
 Défices de nomeação.

LESÕES CEREBRAIS

 Lobo parietal esquerdo (giro angular) – ALEXIA PARIETAL.


PERTURBAÇÕES DA LINGUAGEM

AGRAFIA PURA

CARACTERIZAÇÃO: agrafia, sem outro défice da função da linguagem.

 Erros de ortografia.
 Capacidade para desenhar bem as letras.

LESÕES CEREBRAIS

 Área de Exner (2ª circunvolução frontal).


 Lobo parietal superior.
 Áreas próximas da Fissura de Sylvius.
DISLEXIAS

- DEFINIÇÃO (F M N,1968): “... Dificuldade de aprender a ler,

apesar de a instrução ser adequada, da “inteligência” ser

normal e de um bom enquadramento sociocultural.

Depende de distúrbios cognitivos de base (*), que são,

frequentemente, de origem constitucional” (Critchley &

Critchley, 1978, p.7).

* Linguagem e Senso-Percepção !?
DISLEXIAS

- DEFINIÇÃO/Fundação Dislexia (1988):

“... dislexia tem por ...

Objecto a leitura e a escrita, particularmente no que se refere a ligar letras a sons;


guardar e ter disponíveis, na memória, letras e palavras; ler, compreendendo.
Existe: quando os resultados escolares estão mais que dois desvios-padrões
abaixo da média, ou sob o 15º percentil; quando há uma discrepância nítida
entre os resultados esperados na leitura e os obtidos.
Aplica-se a sujeitos: sem deficiência intelectual (WISC > -1 desvio-padrão); sem
handicap visual; sem surdez ou hipoacusia; sem lesões cerebrais mínimas; sem
distúrbios emocionais; sem problemas escolares.
Causas: são internas e podem descrever-se a vários níveis - processo de leitura;
psicológico/cognitivo (distúrbio no funcionamento linguístico; perfil intelectual
desarmónico); neurológico (hereditariedade do desenvolvimento
neuromorfológico)”.
(Dongen, 1988, p.31)
DISLEXIA: reading disability

1. Dislexias Periféricas: deficiência nos primeiros componentes visuais da


descodificação de enunciados escritos; preservação da grafia escrita e
da pronúncia oral e capacidade para identificar palavras ditas em voz
alta.

1.1. Alexia sem Agrafia (Alexia Pura): incapacidade em compreender


material escrito, embora haja preservação da escrita.

1.2. Dislexia Negligente: fracasso em ler correctamente a metade


esquerda das palavras (e.g., fume por perfume).
DISLEXIA: reading disability

2. Dislexias Centrais: quebra nos processos linguísticos normais implicados na


aquisição do significado das palavras; deficiência na pronúncia oral.

2.1. Dislexia Superficial (Lexical): quebra nas representações (léxicas) da


palavra total; dificuldade na pronúncia de certas palavras; erros fonológicos
na pronúncia das primeiras letras das palavras (e.g., maia por praia).

2.2. Dislexias Profundas: perda da capacidade para ler sons (fonemas) e não-
palavras; erros semânticos (irmã por tia; céu por sol); dificuldade na
pronúncia de palavras abstractras, de formas gramaticais (artigos,
pronomes e proposições).

MODELO NEUROCOGNITIVO DE PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM


(ELLIS & YOUNG, 1988)
Correlatos Anátomo-Patológicos

 Alexia sem Agrafia: lesões no lobo occipital médio esquerdo (OC) + splenium do

corpo caloso (SpCC).

 Dislexia Negligente: lesões no hemisfério cerebral direito – campo visual

esquerdo (CVE) + lobo parietal direito (LPD) – heminegligência esquerda (perda

da capacidade para dar atenção ao campo visual esquerdo).

 Dislexia de Superfície: lesões na região temporo-parietal esquerda e demências.

 Dislexia Profunda: lesões extensas no hemisfério cerebral esquerdo.


DISGRAFIAS
Acompanham, habitualmente, a dislexia; perturbação da linguagem
escrita.

CARACTERÍSTICAS: dificuldades na escrita; escrita pobre,


caracterizada por erros, omissões, trocas e perseverações.

1. Disgrafias Periféricas:
1.1. Disgrafia Apráxica: pronúncia oral intacta; défices na escrita
copiada; causada por lesões no lobo frontal ou parietal dominante.

1.2. Disgrafia Negligente: margem esquerda muito larga; incorrecções


escritas na parte inicial das palavras; causada por lesões no
hemisfério cerebral direito.
DISGRAFIAS

2. Disgrafias Centrais (Linguísticas): perturbação da grafia escrita e da pronúncia


oral.

2.1. Disgrafia Superficial (Lexical): dificuldades em pronunciar palavras


irregulares; produção de erros fonologicamente plausíveis – palavras
homófonas (e.g., coser por cozer); causada por lesões na região do lobo
temporo-parietal e por demências.

2.2. Disgrafia Profunda: perturbação do sistema grafema-fonema, levando a


dificuldades em pronunciar palavras não familiares e não-palavras (e.g.,
VIB; CHOG; LEM); a pronúncia de palavras abstractas está dificultada;
erros semânticos; causada por extensas lesões no hemisfério cerebral
esquerdo; lesão no giro angular.

2.3. Disgrafia Fonológica: semelhante à anterior, embora sem incluir erros


semânticos.
AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES DA LEITURA E DA ESCRITA

A. ESTUDO DA LEITURA

- Compreensão de Instruções Escritas Simples: “Feche os seus olhos”; “Coloque


as suas mãos no topo da cabeça, se tiver mais de 60 anos”.
- Compreensão de Instruções Escritas Complexas: ler um parágrafo de um jornal
e colocar questões acerca do conteúdo.
- Identificação de Letras: denominar letra-a-letra.

TIPOS DE ERROS DE LEITURA

- Parte inicial das palavras (Dislexia Negligente);


- Ler uma palavra por uma outra conceptualmente relacionada, embora sem
similitude sonora (e.g., actuar por tocar; irmã por tio);
- Erros Visuais (e.g., choque por toque; casa por cama) (Dislexia Profunda);
- Incapacidade em ler palavras sem sentido (e.g., NEG, GLEM, HIN) (Dislexia
Profunda).
AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES DA LEITURA E DA ESCRITA

B. ESTUDO DA ESCRITA

- Expressão Escrita: copiar letras, palavras, frases; escrever, sob ditado,


palavras ou um curto texto; escrever, espontaneamente, uma pequena
carta a um amigo.

 Escrita Espontânea: compôr um pequeno texto acerca de um qualquer assunto.


 Escrita Ditada.

TIPOS DE ERROS DE ESCRITA

- Defeitos na formação das letras e na composição gramatical;


- Troca de letras;
- Letras ilegíveis.
PERTURBAÇÕES DA CAPACIDADE DE CÁLCULO

DEFINIÇÃO DE ACALCULIA: perturbação da capacidade para


compreender ou escrever os números adequadamente.

- Frequentemente associada à afasia.

LESÕES NEUROLÓGICAS

- Giro angular do hemisfério cerebral esquerdo


PERTURBAÇÕES DO CÁLCULO
ANARITMETRIA: perda do conhecimento sobre as operações aritméticas.

- O doente reconhece e reproduz, correctamente, os números e conhece os seus


valores, mas não executa os cálculos.

- Erros mais frequentes:


 Erros de Substituição - por exemplo, o doente soma 2 e 1, quando o enunciado é “2-
1=?”
 Erros de Contagem - 3+4=5, porque 5 é depois de 1,2,3,4,...
 Erros de Perseveração - 2x4=44

AVALIAÇÃO

- Resolução de simples problemas aritméticos (adicção e subtracção);


- Provas estandardizadas (problemas envolvendo conceitos algébricos).

Correlatos Anátomo-Patológicos

- Lesões parietais esquerdas ou difusas


PERTURBAÇÕES DA CAPACIDADE DE CÁLCULO

DISCALCULIA ESPACIAL: problemas de cálculo, relacionados com a


organização espacial das operações (e.g., organização de colunas de
parcelas); perturbações da atenção espacial; envolve a região parietal
do hemisfério cerebral direito.

- Pode associar-se a problemas de negligência.

Correlatos Anátomo-Patológicos

- Lobo parietal do hemisfério cerebral direito.


PERTURBAÇÕES PERCEPTIVAS E ESPACIAIS

LESÕES NO H. DIREITO

Aptidões espaciais e vísuo-perceptivas

Representação bilateral

Maior especialização do H.C.Direito para estas funções

Maior gravidade destes défices


Défices resultantes de lesões do H.C.Direito (traduzido de Hodges, 1994, p.73)

1. Hemi-Negligência
Pessoal: negação da hemiplegia (anosognosia); despreocupação com o
défice (anosodisforia); negligência dos cuidados básicos.
Motor e Sensorial: hipocinésia; negligência visuo-espacial, táctil e
auditiva; extinção sensorial por estimulação bilateral.
Extrapessoal: negligência hemiespacial; dislexia e disgrafia negligente.

2. Apraxia do Vestir

3. Apraxia de Construtíva

4. Défices visuo-perceptivos complexos


Reconhecimento de objectos (agnosia visual aperceptiva)
Reconhecimento de faces (prosopagnosia)
5. Componentes prosódicos da linguagem
Melodia, entoação, componentes emocionais
6. Vigilância/activação (controlo atencional)
NEGLIGÊNCIA UNILATERAL

- Negligência da atenção ao espaço pessoal e extrapessoal: os doentes


comportam-se como se metade do seu campo visual tenha deixado de
existir.

- Anosognosia: negação de qualquer défice (e.g., hemiplegia); os


doentes podem negar a existência de metade do seu corpo, dizendo
que o seu braço esquerdo pertence a outra pessoa.

- Anosodisforia: os doentes admitem que têm um défice neurológico,


mas parecem não se preocupar com isso.

- Extinção sensorial por estimulação bilateral: inicialmente, os doentes


ignoram os estímulos apresentados na região contralateral à da
lesão; mais tarde, detectam estes estímulos, mas quando na presença
de estimulação bilateral simultânea, não detectam os estímulos
apresentados na região contralateral.

- Hemi-Disgrafia: fracasso em desenhar a metade esquerda de um


objecto, omissão da metade esquerda das palavras.
ANATOMIA PATOLÓGICA DA HEMI-NEGLIGÊNCIA

- Lesões no lobo parietal inferior direito e no córtex pré-frontal.

- Lobo parietal direito: centro integrador de experiências sensoriais,


respostas motivacionais e mecanismos visuais.

- Lesões no lobo frontal: desvio da cabeça e dos olhos para o mesmo


lado da lesão; negligência pessoal e visual.

- Lesões do tálamo, gânglios basais e giro cingular: negligência


unilateral.

- HE: mecanismos que possibilitam dar atenção à região contralateral


(direita); lesões não causam défices acentuados.

- HD: aparato neuronal que permite atender a ambos os lados


espaciais; lesões causam negligência unilateral esquerda.
Especialização hemisférica para a
atenção visuo-espacial:

HE HD
AVALIAÇÃO DA NEGLIGÊNCIA UNILATERAL

- Desenhos espontâneos (e.g., bicicleta, casa).

- Cópia de desenhos simétricos.

- Marcar o ponto médio num conjunto de linhas de comprimento


variável.

- Assinalar letras ou estrelas numa folha de papel.

- Teste de Desatenção Comportamental: avalia a gravidade da


negligência visuo-espacial.
PERTURBAÇÕES PERCEPTIVAS E ESPACIAIS
PERTURBAÇÕES PERCEPTIVAS

- PERTURBAÇÕES VISUO-ESPACIAIS: alterações no processamento de


informação espacial, desde os défices sensoriais básicos até aos erros de
processamento de nível superior.

 DÉFICES SENSORIAIS BÁSICOS: défices do campo visual; negligência sensorial;


agnosia visual para objectos.

 Lesões no lobo occipital;


 Lesões nas áreas de associação do córtex dos lobos temporal e parietal.

 DÉFICES DE PROCESSAMENTO ESPACIAL: perturbação da capacidade visuo-


espacial.

 Lesões no lobo parietal do hemisfério cerebral direito.


PERTURBAÇÕES PERCEPTIVAS E ESPACIAIS
PERTURBAÇÕES DA LOCALIZAÇÃO ESPACIAL

CARACTERIZAÇÃO

- Dificuldade em localizar objectos no espaço bi e tri-dimensional (e.g., dificuldade


em saber se um padrão de pontos apresentado num cartão é o mesmo que
outro padrão apresentado noutro cartão).

- Dificuldade no julgamento das distâncias espaciais.

- Percepção de profundidade (associada à visão binocular) afectada.

- Dificuldade na detecção da orientação de objectos, no espaço (e.g., o doente não


reconhece a orientação de uma linha no espaço visual, nem é capaz de
identificar a direcção de uma barra em que pode tocar).
PERTURBAÇÕES PERCEPTIVAS E ESPACIAIS
PERTURBAÇÕES DA CAPACIDADE CONSTRUTIVA

CARACTERIZAÇÃO

- Dificuldade na realização de tarefas que requerem capacidade espacial (e.g.,


desenho, montagem de objectos a duas ou três dimensões).

- Doentes com perturbações motoras e da práxis podem ter, também, dificuldade


nas tarefas usadas para avaliar a capacidade construtiva.

6.4. AVALIAÇÃO DAS CAPACIDADES PERCEPTIVAS E ESPACIAIS

PROVAS

- Desenho de figuras simples (e.g., flor, quadrado, face de um relógio);


- Encontrar a saída para labirintos;
- Construção de blocos.
-AS AGNOSIAS –

DEFINIÇÃO

- Incapacidade em reconhecer pessoas ou objectos, em sujeitos sem diminuição


intelectual e sem perturbações sensoriais.

- Áreas corticais envolvidas no reconhecimento de objectos (cf. Acetatos):


 Área Parietal / Somatossensorial.
 Área Parietal / Associativa.
 Lobo Temporal Inferior / Reconhecimento de Objectos.
 Região Occipital / Visão.
 Lobo Temporal Superior / Audição.

- Comparação entre a Afasia e a Agnosia:


 Afasia - dificuldades linguísticas em nomear e descrever objectos, embora com
preservação das representações e associações da memória.
 Agnosia - melhoria do desempenho em tarefas de nomeação, caso a apresentação
dos objectos ocorra em modalidades sensoriais diferentes.
PERTURBAÇÕES DO RECONHECIMENTO DE OBJECTOS

AGNOSIAS VISUAIS
Perturbações da apreensão visual, englobando o reconhecimento dos
objectos, das pessoas, dos símbolos gráficos, controlados,
exclusivamente, pela visão, sem défice da função visual.

7.1.1. AGNOSIAS VISUAIS PARA OBJECTOS

CARACTERIZAÇÃO: o sujeito é capaz de ver os objectos, mas não


consegue reconhecê-los e nomeá-los.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:
 Défice intelectual global;
 Disfunção sensorial;
 Afasia.
AGNOSIAS VISUAIS

PROSOPAGNOSIA

CARACTERIZAÇÃO: o sujeito é capaz de reconhecer um estímulo, como


uma face, mas não consegue extrair a informação sobre a pessoa a
quem ela pertence.

O indivíduo é incapaz de reconhecer, pelo rosto, as pessoas que,


habitualmente, o cercam (e.g., parentes, amigos).

- Modelo para o Reconhecimento de Faces (Hodges, 1994) -

CAUSAS POSSÍVEIS PARA A PROSOPAGNOSIA

 1ª corrente: lesões retro-rolândicas direitas bilaterais


 2ª corrente: perturbações psicopatológicas de ordem relacional (pouco provavel)
AGNOSIAS AUDITIVAS

CARACTERIZAÇÃO: o sujeito é incapaz de reconhecer sons específicos,


embora o resto do sentido da audição esteja intacto.

- Agnosia Verbal (Surdez Verbal Pura)


- Amusia Receptiva: incapacidade em reconhecer música; lesão no hemisfério
cerebral direito.

7.3. AGNOSIA SOMATOSSENSORIAL

CARACTERIZAÇÃO: dificuldade na percepção de objectos, através da


estimulação táctil, apesar de o sentido do tacto básico estar intacto.

- O sujeito é incapaz de identificar as propriedades do objecto (e.g., peso,


tamanho, textura).
- O sujeito pode representar o objecto num desenho e ser capaz de o
reconhecer nesse desenho.
PERTURBAÇÕES DA ACÇÃO E DA PSICOMOTRICIDADE
APRAXIAS
APRAXIA: incapacidade para levar a cabo uma
acção complexa, apesar de os sistemas
sensorial, motor e de coordenação estarem
intactos (Hodges, 1994).

 Execução de gestos mal diferenciados,


irreconhecíveis, estereotipados (e.g., má orientação
dos objectos manipulados; perseveração relacionada com
os gestos da prova precedente; deficiente encadeamento
dos gestos).

 Perda da organização dos múltiplos movimentos


coordenados do corpo (e.g., marcha; corrida;
desempenhos somáticos exigidos pela prática desportiva;
aptidões profissionais).

 Redução da actividade motora, na ausência de paralisia


ou de perturbação sensitiva.
APRAXIA IDEOMOTORA

DEFINIÇÃO: dificuldade na sequenciação e na execução dos movimentos simples;


perturbação na realização do gesto elementar (i.é, actos reflexos e intencionais) e
do gesto complexo (i.é, nos gestos elementares que o constituem, quando tomados
isoladamente).

DESCRIÇÃO CLÍNICA: o doente esboça o gesto, mas hesita; actua com atraso;
comete erros topográficos; perseverações em relação a uma acção passada.

AVALIAÇÃO: pedir ao doente para mostrar a forma como usaria uma ferramenta
habitual (e.g., tesoura).

CORRELATOS ANÁTOMO-PATOLÓGICOS

Área próxima do giro angular, no lobo parietal do hemisfério cerebral esquerdo

 Localização da memória para os actos complexos


 Perturbação da execução de actos motores
 Incapacidade em reconhecer os exemplos que as outras pessoas lhe dão
para executar um movimento
APRAXIA IDEOMOTORA (continuação)

SINAIS NEUROLÓGICOS ASSOCIADOS

 Hemiplegia, com ou sem perturbações sensitivas

 Afasia de Wernicke

 Hemianopsia lateral homónima

TIPOS DE APRAXIAS IDEOMOTORAS

 BILATERAL: lesão no giro supra-marginal esquerdo, nos dextros.

 UNILATERAL ESQUERDA: lesão do corpo caloso ou, excepcionalmente, lesão cerebral


no h.c.direito dos dextros.
APRAXIA IDEATIVA

DEFINIÇÃO: incapacidade em executar tarefas complexas, que incidem sobre a


sucessão coordenada dos diferentes gestos elementares que as constituem; o
doente é capaz, porém, de fazer, separadamente, cada uma das sub-tarefas em
que um acto motor complexo se pode subdividir.

DESCRIÇÃO CLÍNICA: o doente é incapaz de seguir o plano necessário a um fim,


quando aquele comportar uma sucessão lógica de gestos elementares (e.g.,
acender uma vela com um fósforo).

 Perda do conhecimento conceptual associado aos objectos e aos


objectivos da actividade sequencial.

 Característica em doentes com processos demenciais em curso.


APRAXIA IDEATIVA (continuação)

LESÕES NEUROLÓGICAS

 Lesões difusas na área temporo-parieto-occipital esquerda

SINAIS NEUROLÓGICOS ASSOCIADOS

 Afasia de Wernicke

 Hemianopsia lateral homónima


APRAXIA BUCOLINGUOFACIAL

DEFINIÇÃO: dificuldade na execução de movimentos complexos,


envolvendo os lábios, a língua, a laringe e a faringe, na ausência de
paralisia.

 O doente não pode executar voluntariamente os movimentos da boca


e da língua.
 O doente é incapaz de deglutir.
 O doente pode exibir comportamentos orais incorrectos.
 Substituições verbais: o doente repete o pedido verbal do examinador,
em vez de realizar o acto solicitado.
 Esta apraxia pode co-existir com a Afasia de Broca.

LESÃO NEUROLÓGICA: REGIÃO ANTERIOR DAS ÁREAS PRÉ-


-MOTORAS
APRAXIA MELOCINÉTICA

DEFINIÇÃO: incapacidade em desempenhar tarefas que


exigem um controlo motor fino.

Membros afectados: contralaterais à lesão


Pode haver incapacidade em pegar numa folha de papel.
Não há comprometimento da motricidade elementar (!?)
APRAXIA CONSTRUTIVA

DEFINIÇÃO: dificuldades de execução no domínio visuo-espacial;


dificuldade em reunir unidades uni-dimensionais para formar figuras a
duas dimensões.

 Num desenho o indivíduo é incapaz de juntar os traços rectilíneos para formar


um quadrado, um triângulo ou um cubo; apresenta traços irregulares, trémulos e
prolongados, para além dos limites indicados; erros de articulação nas
diferentes partes do desenho; inversões em espelho; insistências gráficas;
omissões de largos segmentos do modelo.

 Dificuldade na composição de uma figura com pequenas varas de madeira ou


fósforos, na construção de cubos ou de peças de madeira.
APRAXIA CONSTRUTIVA (continuação)

LESÕES NEUROLÓGICAS

 Região parietal direita, esquerda ou bilateral.

SINAIS ASSOCIADOS

 Afasias

 Síndroma de Gerstmann:

 Agnosia digital
 Indistinção direita-esquerda
 Agrafia
 Acalculia
PERTURBAÇÕES DA ACÇÃO E DA PSICOMOTRICIDADE (CONT.)

SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE

CARACTERIZAÇÃO SINTOMÁTICA (D.S.M.-IV, p.103)

A. Tiques motores e vocais presentes, durante algum tempo, no curso da doença,


embora não necessariamente concorrentes.

B. Os tiques ocorrem muitas vezes, durante o dia, quase todos os dias, ou


intermitentemente durante um período superior a um ano; durante este período,
não houve mais de três meses sem ocorrência de tiques.

C. A perturbação causa marcado desconforto e significativo prejuízo no


desempenho das actividades sociais, ocupacionais ou outras.

D. Início antes dos 18 anos de idade.

NOTA: TIQUE = movimento motor involuntário, rápido, recorrente e não


rítmico, envolvendo, usualmente, grupos musculares circunscritos, ou uma
vocalização de início súbito e sem propósito aparente.
PERTURBAÇÕES DA ACÇÃO E DA PSICOMOTRICIDADE (CONT.)

SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE (cont.)

 Tiques: cabeça, outras partes do corpo (e.g., tronco, membros


inferiores e superiores); vocais (e.g., palavras ou sons - coprolália);
motores complexos (e.g., toques, passos à frente e atrás).

 Movimentos anormais que acompanham condições médicas


gerais: Doença de Huntington; enfarte; esclerose múltipla; encefalite;
traumatismo craniano; Doença de Parkinson.

 Neuro-anatomia da “patologia dos tiques”: compromisso dos núcleos


de base (caudado e putamen); diminuição da área dos gânglios de
base (?); alteração das conexões entre as àreas fronto-orbitárias e os
ganlios da base; compromisso das áreas cerebrais frontais bilaterais.

 Doença neuropsiquiátrica?

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PERTURBAÇÕES DA ACÇÃO E DA PSICOMOTRICIDADE
(CONCLUSÃO)

SÍNTESE SOBRE A AVALIAÇÃO DAS PERTURBAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE

Avaliação do desempenho do sujeito em tarefas de acção, desde as mais


elementares até às mais complexas

NÍVEIS DE DESEMPENHO
(níveis de práxis de complexidade crescente)

1. Execução espontânea de uma acção


2. Imitação de uma tarefa executada pelo examinador
3. Tarefas solicitadas pelo examinador, sem demontração prévia e sem objectos
reais (e.g., “mostre-me como faria para cortar este papel com uma tesoura”)

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