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É de conhecimento de todos que, nas

democracias, o direito ao voto representa


teoricamente a possibilidade do cidadão eleitor
exercer sua influência na política. Pelo voto se
acredita que é possível mudar a situação de um
país visto que, se as pessoas que forem eleitas
possuírem orientação ideológica e qualidade
moral diferente, tudo pode vir a se transformar
em termos econômicos e sociais. A mídia, os
poderes de estado, muitos intelectuais e o senso
comum aprovam o voto como método eficiente
para a transformação e evolução social. No
entanto, cumpre ao investigador sério analisar
friamente o voto e suas consequências, a
estrutura que o propicia, quem se beneficia dele e
quais as implicações e efeitos reais dele sobre a
vida das pessoas. Além disso, é mister analisar se
o voto poderia ser uma ação correta sob o ponto
de vista ético. É importante analisar tudo, desde
os aspectos do sistema de votação até as
implicações materiais de seu exercício. Victor
Nunes Leal retrata as dificuldades de se ter um
sistema eleitoral limpo no Brasil, o que não é
diferente nos dias de hoje com a adesão do,
sempre discutível, sistema eletrônico de votação,
“Resumindo as várias fases da
defraudação do voto na vigência da
Constituição de 1891, assim se exprimiu Assis
Brasil, em discurso proferido na segunda
Constituinte republicana:‘No regime que
botamos abaixo com a Revolução, ninguém
tinha a certeza de se fazer qualificar, como a
de votar… Votando, ninguém tinha a certeza
de que lhe fosse contado o voto… Uma vez
contado o voto, ninguém tinha a segurança
de que seu eleito havia de ser reconhecido
através de uma apuração feita dentro desta
Casa e por ordem, muitas vezes, superior‘”[1]
Se para o eleitor seu direito ao voto é
sagrado, deveria se informar antes sobre a
segurança envolvida no processo, sobre a
possibilidade dos votos serem contados de
maneira a não representar de forma fidedigna a
vontade dos votantes. Qualquer falha poderia
comprometer a lisura do pleito. As eleições não
só no Brasil, mas no mundo inteiro, sempre serão
uma ‘caixa preta’ cujo sistema de contabilização
poderá sofrer interferências de grupos políticos
detentores do poder. Considerando que seu voto
é secreto e que, quem fará a contagem são
pessoas cuja índole você nunca poderá atestar
com certo grau de certeza, não há como você,
mero eleitor, dizer que o seu voto foi computado
como desejou. É muita ingenuidade acreditar que
um sistema que não permite ser auditado possa
representar um padrão de lisura e transparência.
Mesmo no caso das cédulas de papel a contagem
de votos estava restrita a alguns indivíduos cuja
idoneidade não poderia ser comprovada. Quem
poderia afirmar que todas as formalidades foram
cumpridas sem coação? Como poderíamos
afirmar que em vez de um pleito houvesse entre
os candidatos um mero consenso em relação ao
vencedor? Ou mesmo que o establishment já
tivesse escolhido de antemão os vencedores e
distribuído benesses como “prêmio de
consolação” aos demais participantes? As mais
diversas teorias e especulações pairam sobre um
sistema que não demonstra qualquer garantia de
fidedignidade.
Quando em um dado momento da história
brasileira se pretendeu adotar um sistema com
um grau maior de transparência, os mais terríveis
mecanismos de fraude foram utilizados para
definir os votos dos eleitores,
“O sigilo do voto, apesar de proclamado
várias vezes na legislação anterior, era então
burlado por diferentes processos. O mais
frequente consistia em usarem os partidos
sobrecartas de tamanho, formato e cor
diferentes. Assim, ao ser depositado na urna,
à vista de todos, o voto era perfeitamente
identificável. Como os eleitores mais ladinos
começaram a meter cédulas de um partido em
sobrecarta de outro, para ludibriar a
vigilância da mesa e dos espias, passou-se a
entregar ao eleitor a sobrecarta já fechada,
com o voto apropriado. Para prevenir tais
abusos, procuraram os códigos de 1932 e 1935
tornar o sufrágio “absolutamente
indevassável” e puniram com nulidade, não só
a identificação efetiva do voto, senão também
a sua mera possibilidade. Encerrada a
votação, as urnas, lacradas e rubricadas,
eram remetidas ao órgão apurador,
acompanhadas das atas, impondo a lei
diversas cautelas.”[2]
Se engana quem acha que esses problemas
ocorreram apenas em um período mais primitivo
do sistema eleitoral brasileiro. Mesmo após a
segunda república e o declínio do estado novo os
problemas continuaram acontecendo,
“Na Segunda República e nas eleições
que se seguiram ao colapso do Estado Novo o
panorama eleitoral foi incomparavelmente
melhor do ponto de vista da correção e
liberdade, mas em vários lugares não ficou
estreme da coação e da fraude. Entretanto, a
mácula da corrupção, verberada sem exceção
pelos estudiosos das nossas instituições,
atravessa toda a história do Império e da
Primeira República, com o relevo de uma
cordilheira. E as interrupções nessa cadeia de
fraudes e violências ou tiveram mera
repercussão local, ou foram de brevíssima
duração.”[3]
Esse sistema trouxe até os dias de hoje os
grupos políticos que estão no poder. Esse
consórcio é simplesmente a sucessão familiar ou
eventuais coligados que obtiveram notoriedade
na arte de se relacionar com os governantes. Até
hoje, vemos grupos hegemônicos que governam
estados e são eleitos para cargos no senado e na
câmara. Apesar da impopularidade, eles
continuam atuando de forma direta e
indiretamente nos assuntos políticos. No estado,
existe um mundo visível – que é o da política
partidária e os cargos públicos – e um mundo
“invisível”, que representa os grupos de interesse
que querem ser beneficiados de uma maneira ou
de outra pelas ações dos políticos. Os episódios
recentes que se relacionam ao ‘mensalão’ e ao
‘petrolão’ revelam apenas a superfície desse
sistema onde empresários, governos estrangeiros,
lobbystas e políticos se articulam num sistema
sofisticado de manipulação eleitoral e poder
econômico dirigido a formar reservas de
mercado, caixa para campanhas e
enriquecimento das partes. Quão incoerente e
ingênuo seria acreditar que de um sistema
formado por indivíduos dessa índole se possa
extrair qualquer resultado que não seja fraudado,
aviltado ou manipulado a favor dos interesses
desses grupos hegemônicos.
Tal como Platão nos alertou no diálogo
fictício entre Sócrates e Adimanto, podemos
afirmar que as coisas acontecem de forma bem
semelhante ao modus operandi da Grécia Antiga,
“Sócrates: — A terceira classe é o povo,
todos os que trabalham com as mãos e os que
são estranhos aos negócios e não possuem
quase nada. Numa democracia, esta classe é a
mais numerosa e a mais poderosa quando
está unida.

Adimanto: — É verdade. Mas não se dispõem


muito à união, a menos que lhe caiba uma
parte de mel.

Sócrates: — Por isso mesmo, cabe-lhe sempre


algum, na medida em que os chefes podem
apoderar-se da fortuna dos possuidores e
distribuí-la pelo povo, embora guardando
para eles a maior e melhor parte “[4]
Os agentes do estado confiscam o trabalho
das pessoas, retêm a maior parte para si e os
grupos de interesse ao seu redor e redistribuem
as migalhas para o povo, sempre de forma
ineficiente e improdutiva, pois não se importam
em administrar com cuidado aquilo que não lhes
pertence. O estado mantém seu poder pela
demagogia e farsa eleitoral que impõe aos
eleitores. As palavras fortes de Botero, em pleno
século XVI, nos fazem entender como era a
dinâmica social imposta pelo estado,
“O estado é um firme domínio sobre o
povo; a razão do estado é o conhecimento dos
meios pelos quais esse domínio é
estabelecido, preservado e estendido.”[5]
Demonstrada a impossibilidade de o voto
atingir os fins que o estado afirma ao eleitor, se
faz necessário entender quais seriam as intenções
do estado ao institui-lo. Nos importa saber quais
seriam os efeitos sociológicos do voto e quais
seriam, então, seus beneficiários. Se diante das
evidências é impossível entender que o povo é
beneficiado pelo voto, cumpre analisar se o
estado pode tirar qualquer proveito dele. Ao povo
cumpre ir lá votar e esperar o resultado de uma
eleição que tem seu resultado na maioria das
vezes antecipado por pesquisas de opinião
anteriores ao pleito. Não que as pesquisas
apresentem qualquer garantia de medição
fidedigna do cenário eleitoral, mas elas são uma
suposta simulação da possibilidade ou não de um
determinado candidato vencer o pleito. As
pesquisas de intenção de voto apresentam,
geralmente, os vencedores meses antes da
ocorrência da disputa. Todo clima de eleição, que
sempre será acompanhado de tensão e
antagonismos políticos, começa a se apresentar.
Disso se extrai que há um efeito condicionante no
sentido de preparar os cidadãos para a vitória de
determinado candidato.
Dentro desse período, o estado observa as
possíveis reações e também antecipa todas as
medidas para a contenção de eventuais
problemas relacionados a conflitos, tanto contra
ele mesmo, quanto contra os militantes políticos
que se contrapõem no embate. No auge do
processo eleitoral está a eleição, que será a
consolidação desse preparo psicológico, um
verdadeiro condicionamento mental que
remeterá invariavelmente a um determinado
grupo que será eleito, e passará então a governar
o país geralmente alguns meses após a eleição. Se
não houvesse pesquisas de intenção de voto seria
mais difícil lidar com os conflitos que surgiriam
no pleito. Muitas pessoas poderiam contestar ou
achar estranho que um determinado candidato
apresentasse uma quantidade de votos que não
foi sentida em termos objetivos. Então, convém
dizer que, se o establishment quer impor seus
candidatos, a forma mais inteligente de fazê-lo é
preparar as massas pra aceitá-lo e isso só pode ser
feito através de pesquisas de intenção de voto. O
eleitor nem faz ideia de que está sendo
domesticado meses antes das eleições, acaba
acreditando que as pesquisas representam uma
simulação mais ou menos verdadeira e acaba
legitimando todo o processo ao ir nas urnas
depositar seu voto.
Em termos práticos o estado é favorecido
pelo sistema eleitoral e todo o ambiente
originado dele: debates, discussões, pesquisas de
intenção de voto, opinião dos intelectuais e
especialistas em política e, por fim, as eleições
propriamente ditas. O trabalho de pacificação e
condicionamento sem o uso da força ou
autoritarismo são os trunfos do estado, os
benefícios colhidos por permitir ao eleitor ter a
falsa sensação de que está escolhendo seus
candidatos.
Entre vários anarquistas, Mikhail Bakunin
se destaca por sua crítica contundente ao voto
democrático, há solidez no que ele diz sobre o
assunto mesmo não sendo ele um defensor do
sistema capitalista de produção,
“Os homens acreditavam que o
estabelecimento do sufrágio universal
garantiria a liberdade dos povos. Mas
infelizmente esta era uma grande ilusão e a
compreensão da ilusão, em muitos lugares,
levou à queda e à desmoralização do partido
radical. Os radicais não queriam enganar o
povo, pelo menos assim asseguram as obras
liberais, mas neste caso eles mesmos foram
enganados. Eles estavam firmemente
convencidos quando prometeram ao povo a
liberdade através do sufrágio universal.
Inspirados por essa convicção, eles puderam
sublevar as massas e derrubar os governos
aristocráticos estabelecidos. Hoje, depois de
aprender com a experiência, e com a política
do poder, os radicais perderam a fé em si
mesmos e em seus princípios derrotados e
corruptos.”[6]
Nesse caso em específico, Bakunin, critica a
tentativa do partido radical de propor uma
mudança por vias políticas, naturalmente eles
foram massacrados e vencidos pela força do
estado. Essa foi uma das muitas experiências
fracassadas no sentido da adoção do gradualismo
como estratégia política.
As perguntas que nos são dirigidas são as
seguintes: não seria o gradualismo uma estratégia
de longo prazo para diminuir o estado até sua
extinção? Um político sabotando o estado não
traria efeitos benéficos para o movimento
libertário ao divulgar as ideias de liberdade? E o
voto defensivo? Votar no menos pior não seria
uma meio de defesa contra as ideias autoritárias
de um determinado grupo político que poderia
assumir o poder e piorar as coisas? Para
responder a essas perguntas, teríamos que levar
em consideração os efeitos práticos da estratégia
gradualista, mas tendo sempre como limitador as
implicações éticas. É necessário entender o
estado, sua forma de atuação e como o estado
interage com cada um dos grupos que pretendem
se infiltrar para supostamente destruí-lo de
dentro de sua estrutura.
A definição de estado do agorista Samuel
Edward Konkin III é uma das mais realistas de
que se tem notícia,
“Essa instituição de coerção, que
centraliza a imoralidade, dirigindo o roubo e
o assassinato e coordenando a opressão
numa escala inconcebível pela criminalidade
aleatória existe. Ela é a Máfia das máfias, a
Gangue das gangues, a Conspiração das
conspirações. Ela já assassinou mais pessoas
em alguns anos recentes que todas as mortes
da história até esse momento; ela já roubou
em alguns anos recentes mais do que toda a
riqueza produzida na história atéesse
momento; ela iludiu – para sua sobrevivência
– mais mentes em alguns anos recentes do
que toda a irracionalidade da história
até esse momento. Nosso Inimigo,
o estado.”[7]
Sem usar eufemismos, essas são as ações
que o estado pratica em todas as partes do globo.
Para se chegar à verdade é necessário descrever a
realidade que nos cerca por mais dura e cruel que
ela seja. Quem defende adentrar o estado pelas
vias políticas tem que saber do que está
participando e quais são as forças que trabalham
na manutenção de suas atividades antiéticas e
deploráveis. A força e a inteligência militar estão
a postos para investigar, punir e, se necessário,
matar quem afronte os poderes de estado. O jogo
político amplamente dominado por grupos
políticos, oligarquias e corporativistas não
permite variações indesejáveis no modus
operandi e forma de pensar do estado. Os
indivíduos contrários a essa forma de atuação
obviamente não ascendem às posições mais
elevadas da estrutura governamental, tendo
reduzido o alcance de suas ideias e propostas em
termos gerais.
O poder legisla para o poder e, toda
tentativa de enfraquecê-lo sempre será vista
como uma ameaça a ser subjugada, quando
possível no campo político e ideológico e, na pior
das hipóteses, com o uso da força física ou letal.
O estado permite a participação dos dissidentes
somente quando essa participação não possa
materialmente trazer prejuízos efetivos contra a
sua hegemonia. O caso do ex-presidente John
Kennedy, que ao denunciar o complô das grandes
corporações, foi morto de forma inesperada e
abrupta, nos mostra como o estado pode agir
para eliminar todos aqueles que são uma ameaça
para a manutenção de seu status quo. Foucaut
disserta sobre a maneira astuciosa com que o
estado procura se manter como força dominante,
Desde o século XVIII, vivemos na era
da governamentalidade.
Governamentalização do Estado, que é um
fenômeno particularmente astucioso, pois se
efetivamente os problemas da
governamentalidade, as técnicas de governo
se tornaram a questão política fundamental e
o espaço real da luta política, a
governamentalização do Estado foi o
fenômeno que permitiu ao Estado sobreviver.
Se o Estado é hoje o que é, é graças a esta
governamentalidade, ao mesmo tempo
interior e exterior ao Estado. São as táticas de
governo que permitem definir a cada instante
o que deve ou não competir ao Estado, o que é
público ou privado do que é ou não estatal,
etc.; portanto o Estado, em sua sobrevivência
e em seus limites, deve ser compreendido a
partir das táticas gerais da
governamentalidade.”[8]
Além disso, Foucault viu em algumas
instituições religiosas o modelo que o estado
utilizou para expandir seu poderio,
“…a governamentalidade nasceu a partir
de um modelo arcaico, o da pastoral cristã,
apoiou−se em seguida em uma técnica
diplomático−militar e finalmente como esta
governamentalidade só pôde adquirir suas
dimensões atuais graças a uma série de
instrumentos particulares, cuja formação é
contemporânea da arte de governo e que se
chama, no velho sentido da palavra, o dos
séculos XVII e XVIII, a polícia. Pastoral, novas
técnicas diplomático−militares e finalmente a
polícia: eis os três pontos de apoio a partir de
que se pôde produzir este fenômeno
fundamental na história do Ocidente: a
governamentalização do Estado.”[9]
Os estados desenvolveram ao longo do
tempo uma engenharia social que os fez se
estabelecerem à frente de todas as decisões
importantes das sociedades que governam.
O voto que muitas pessoas sugerem como
“defensivo” tem em seu conceito a seguinte ideia:
se não há um candidato ideal, se faz necessário
votar no candidato que tem a melhor proposta
dentre as que estão disponíveis. Em sua origem, o
voto defensivo aduz à ideia de aceitação e
submissão absoluta à condição ora vigente desde
que não se agrave a agressão, é um voto que
remete à manutenção da opressão até um certo
grau, digamos assim, suportável. Para todos os
efeitos, o eleitor que vota defensivamente
geralmente é cético em relação a qualquer
melhoria no quadro institucional do governo, ele
o faz apenas pensando em não ter que passar por
uma situação pior no futuro. Sob o ponto de vista
do estado, o voto defensivo contribui para a
manutenção da situação tal como se encontra.
Sob a ótica da ação humana, o voto
defensivo tem efeitos diretos nessa forma de
legitimação que o estado faz o cidadão acreditar
ser real. Embora o estado não detenha qualquer
legitimidade, os eleitores acreditam que a
legitimação é estabelecida pelo voto, por fim se
declara que o processo político teve seu curso
definido pela vontade do povo. O voto reforça a
crença no estado provedor de segurança
institucional e por conseguinte na ideia
equivocada de legitimação pela vontade popular,
ou seja, o sufrágio serve aos interesses antiéticos
e autoritários do estado. Sendo exemplificativo:
se pessoas agem, pelo voto, para colocar no poder
uma gangue de bandidos que continuará
roubando, extorquindo e coagindo pessoas, não
importa se esses últimos estarão com diplomas de
representantes do povo, eles sempre serão
bandidos que merecem nossa reprovação.
Obviamente, todos os que tiverem participação
nesse processo estão agindo de forma antiética,
não importa se forem eleitores, juízes ou
políticos.
Há um argumento que é frequentemente
utilizado para definir o purismo como uma
estratégia inexequível. Na linha de raciocínio
seguida pelos sufragistas, não seria possível seguir
o princípio de não agressão defendido pelos
puristas, pois, se ele for levado às últimas
consequências, os cidadãos deveriam abdicar até
mesmo dos serviços públicos mais básicos que
estão disponíveis. Esse argumento revela as
intenções utilitaristas de quem o advoga. Nele, o
indivíduo teria o direito de ferir a ética sob o
pretexto de não ser possível aplicar esse princípio
em outras situações da vida cotidiana, situações
essas que não alcançam o mesmo raio de ação e
muito menos as mesmas consequências diretas
sobre a propriedade das pessoas, uma vez que, no
voto, existe a faculdade de votar nulo ou até
mesmo de abster-se dele.
Um exemplo simples para ilustrar o que nós
estamos dizendo seria o da utilização de uma via
pública. Sua utilização é imposta pelo estado no
momento em que ele te impede de abrir vias
privadas e fazer uso delas para se locomover. O
cidadão que reprova a ação do estado não votou
pela construção de vias, ele não desejou que
fossem feitas. Esse cidadão não pôde, de livre
espontânea vontade, decidir nada a esse respeito.
No voto, a ideia principal é a escolha de
candidatos para reger o estado através de planos
e ações governamentais com consequências
diretas sobre a liberdade e propriedade alheias. A
alternativa ética seria votar nulo ou não votar.
Isso evidenciaria sua reprovação e não aceitação
da agressão estatal contra os indivíduos.
A estratégia gradualista de influência
política pela colocação de candidatos ditos
libertários ou que acenam para a liberdade tem as
mesmas consequências práticas e éticas da dos
defensores do voto defensivo além de trazer um
ingrediente novo que é o voto dos libertários que
ainda acreditam no sufrágio como meio de
mudança. O estado consegue, então, o que há de
mais sublime em termos de manipulação: a
aprovação por parte de seus próprios opositores,
ou seja, a revelação de uma contradição, em
termos, dos que dizem defender a liberdade.

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