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Macroeconomia - Richard Froyen
Macroeconomia - Richard Froyen
Froyen
Macroeconomia
Teorias e aplicações
2ª edição
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ISBN 9788502175228
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA
FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
F961m
2. ed.
Froyen, Richard T.
Macroeconomia: teorias e aplicações / Richard T. Froyen; tradução: Cecília Camargo Bartalotti. - 2. ed. - São Paulo:
Saraiva, 2013.
ISBN 9788502175228
1. Macroeconomia. I. Título.
CDD-339
CDU-330.101.541
12-6270. 038699
2ª edição
Organização
A Parte I (Capítulos 1 e 2) discute o tema da macroeconomia, o comportamento recente da
economia norte-americana nas últimas décadas e as questões de mensuração. A Parte II
(Capítulos 3-8) dá início a nossa comparação de modelos macroeconômicos. Começamos pelo
sistema clássico e seguimos para o modelo keynesiano. A Parte III aborda contestações ao
sistema keynesiano e refutações a esses questionamentos. O Capítulo 9 examina o monetarismo
e os temas da controvérsia entre monetaristas e keynesianos. O Capítulo 10 analisa visões
alternativas do trade-off desemprego-inflação e a teoria da taxa natural. O Capítulo 11 apresenta
a teoria novo-clássica com seus conceitos centrais de expectativas racionais e equilíbrio de
mercado. No Capítulo 12, são examinados dois rumos recentes na pesquisa macroeconômica.
Um, muito fortemente arraigado na tradição clássica, é a teoria dos ciclos reais de negócios. O
segundo, a economia novo-keynesiana, está, como o nome indica, firmemente apoiado na
tradição keynesiana. O Capítulo 13 resume e compara os diferentes modelos examinados nas
Partes II e III.
A Parte IV aborda a macroeconomia de economias abertas. O Capítulo 14 focaliza a
determinação das taxas de câmbio e o sistema monetário internacional. O Capítulo 15 usa o
modelo de Mundell-Fleming para examinar os efeitos de políticas monetárias e fiscais em
economias abertas.
A Parte V trata das políticas macroeconômicas. Os Capítulos 16 e 17 focalizam políticas
monetárias. O Capítulo 18 examina políticas fiscais.
A Parte VI estende o horizonte de tempo da análise para além do curto prazo. O Capítulo 19
aborda o crescimento em períodos de médio prazo de uma ou duas décadas. O Capítulo 20
examina o crescimento de equilíbrio a longo prazo.
Sumário
PARTE I - INTRODUÇÃO E MENSURAÇÃO
Capítulo 1 - Introdução
Capítulo 2 - Mensuração de variáveis macroeconômicas
GLOSSÁRIO
PARTE I
Introdução e Mensuração
1.2.1 Produção
A Figura 1.1 mostra a taxa de crescimento do produto nos Estados Unidos nos anos de 1953 a
2006. A medida do produto na figura é o produto interno bruto (PIB) real. O produto interno
bruto mede a produção atual de bens e serviços; real significa que as medidas na Figura 1.1
foram corrigidas pela variação de preços. Os dados medem o crescimento na quantidade de bens
e serviços produzidos.
Os dados na figura mostram uma variação considerável no crescimento do PIB ao longo das
últimas cinco décadas. Durante a década de 1960, houve um crescimento constante e
relativamente alto do PIB. Em todas as outras décadas, houve anos de crescimento negativo; o
PIB declinou em pelo menos 1 ano. Ainda assim, pode-se dizer que o período de meados da
década de 1980 até 2007 foi de relativa estabilidade. Note-se que, nesse período de mais de 20
anos, houve apenas um ano em que o PIB declinou. De maneira geral, ao longo desse período,
os movimentos ano a ano do PIB foram moderados. Isso levou os economistas a chamar esse
período de “a grande moderação”. Parecia que o ciclo de negócios havia se tornado menos
pronunciado. Assim, a queda abrupta do PIB quando a economia entrou na recessão severa de
2007-09 pegou muitos de surpresa.
FIG 1.1 Variação percentual anual do PIB real nos Estados Unidos, 1953-2010
Tabela 1.1 - Crescimento do PIB real nos Estados Unidos, variação percentual média em
períodos selecionados
Anos Porcentagem
1953-69 3,8
1970-81 2,7
1982-95 3,0
1996-2006 3,2
2007-2011 1,0
A Tabela 1.1 resume as tendências de crescimento nos últimos cinquenta anos. A tabela
indica um declínio de cerca de 1 ponto percentual na taxa de crescimento do PIB no período
pós-1970. Houve alguns sinais de reversão modesta dessa desaceleração do crescimento a partir
de meados da década de 1990. O crescimento no período de 2007-2011 é baixo devido à
recessão que começou no final de 2007 e ao ritmo lento da recuperação na parte final do
período.
1.2.2 Desemprego
A Figura 1.2 mostra a taxa de desemprego nos Estados Unidos para cada ano desde 1953. A
taxa de desemprego é a porcentagem da força de trabalho que não está empregada.
Taxa de desemprego
Número de pessoas desempregadas expresso como
porcentagem da força de trabalho.
Tabela 1.2 - Taxa de desemprego nos Estados Unidos, médias para períodos selecionados.
Anos Porcentagem
1953-69 4,8
1970-81 6,4
1982-95 6,9
1996-2006 5,0
2007-2011 7,7
1.2.3 Inflação
A Figura 1.3 mostra a taxa de inflação para 1953-2010. Para calcular a taxa de inflação,
usamos um índice de preços que mede o nível de preços agregado (ou geral) relativo a um ano
base. A taxa de inflação é então calculada como a taxa percentual de variação no índice de
preços em um período determinado. Na Figura 1-3, a taxa de inflação é medida pelo índice de
preços ao consumidor (IPC); outros índices de preços serão examinados no próximo capítulo.
O IPC mede os preços de varejo de uma “cesta de mercado” fixa de milhares de bens e serviços
comprados pelas famílias.
Inflação
Elevação no nível geral de preços.
Índice de preços
Medida do nível de preços agregado relativo a um
ano-base escolhido.
Pode-se ver na figura e na Tabela 1.3 que a taxa de inflação nos Estados Unidos foi baixa e
relativamente estável na década de 1950 e início da década de 1960. No final dos anos 1960,
observa-se uma tendência de crescimento da inflação. Essa tendência ascendente continuou e
intensificou-se na década de 1970. No início dos anos 1980, houve um período de desinflação, o
que significa um declínio na taxa de inflação. A taxa de inflação permaneceu razoavelmente
baixa durante toda essa década. Houve um pico na taxa de inflação em 1990, em parte devido ao
aumento acentuado nos preços dos combustíveis após a invasão do Kuwait, país rico em
petróleo, pelo Iraque. Isso foi revertido no início de 1991, quando os preços dos combustíveis
caíram depois da vitória dos aliados na Guerra do Golfo. A inflação, então, permaneceu baixa,
no resto do período.
Um novo elemento ao considerar o comportamento do IPC ou de outros índices é sugerido
pela queda abaixo de zero na taxa de inflação em 2009, conforme observado na Figura 1.3. A
preocupação relacionada ao nível de preços durante o período após a Segunda Guerra Mundial
sempre havia sido de que os preços subissem depressa demais e que a inflação fosse muito alta.
Na última década, a deflação, um declínio no nível de preços, tornou-se uma preocupação pela
primeira vez desde a Grande Depressão da década de 1930. A meta de política econômica é a
estabilidade de preços. Por razões que examinaremos, nem inflação alta nem deflação são
desejáveis.
Anos Porcentagem
1953-1960 1,4
1961-1969 2,6
1970-1981 8,0
1982-1995 3,8
1996-2006 2,6
2007-2010 2,1
A Figura 1.7 mostra o déficit da balança comercial americano nos anos desde 1953. O
déficit comercial é o excesso de importações em relação às exportações. Os Estados Unidos
começaram a registrar déficits comerciais no final da década de 1970, mas, como no caso dos
déficits do orçamento federal, foi na década de 1980 que o déficit comercial se expandiu
enormemente, subindo a mais de US$ 150 bilhões em 1988. O déficit então recuou por alguns
anos, mas começou a subir novamente em meados da década de 1990, ultrapassando US$ 260
bilhões em 1999, subindo a mais de US$ 500 bilhões em 2003 e a mais de US$ 700 bilhões em
2005.
A recessão recente fez o déficit da balança comercial cair, uma vez que o crescimento das
importações teve uma desaceleração maior que o crescimento das exportações. Ainda assim, o
déficit permanecia em níveis historicamente altos em 2011.
Demanda agregada
Soma das demandas pelos bens e serviços atuais em
cada setor comprador da economia: famílias,
empresas, governo e compradores estrangeiros de
exportações.
Questões adicionais sobre a relação entre inflação e desemprego foram suscitadas pelo
comportamento das duas variáveis em meados e final da década de 1990. Quando o desemprego
caiu a níveis baixos, muitos economistas esperaram um aumento da inflação. Em vez disso, a
inflação permaneceu baixa. Por quê?
No geral, a relação entre desemprego e inflação foi muito mais complexa no período pós-
1970 do que em anos anteriores. As teorias macroeconômicas que examinaremos tentam
explicar as razões.
Conclusão
Não são poucas as perguntas. Os capítulos a seguir apresentam teorias que tentam explicar os
dados discutidos aqui e oferecer respostas para as questões que levantamos. Antes de examinar
essas teorias, no Capítulo 2 estudamos a mensuração das principais variáveis macroeconômicas
de interesse.
Questões de revisão
1. Cite algumas das variáveis importantes que constituem o campo da macroeconomia. Como a
macroeconomia difere da microeconomia, o outro grande ramo da teoria econômica?
2. Resuma o comportamento das taxas de inflação e desemprego nos Estados Unidos desde
1990. Os movimentos dessas taxas nesse período são mais parecidos com os da década de
1960 ou com os de 1950 e 1960?
3. Houve várias mudanças na relação produto-inflação ao longo do período de 1953-2002.
Explique a natureza dessas mudanças.
4. Usando o Economic Report of the President ou outras fontes para os anos mais recentes,
atualize os dados das Tabelas 1.1 a 1.3.
5. Resuma o comportamento dos déficits do orçamento federal americano e os déficits da
balança comercial dos Estados Unidos desde 1953. Esse comportamento sugere uma relação
entre os dois déficits? Talvez em alguns momentos e não em outros?
CAPÍTULO 2
Mensuração de variáveis macroeconômicas
O que eu quero agora são Fatos. Não ensine nada a esses rapazes e moças que não sejam
Fatos. Na vida, precisamos somente de Fatos. Não plante nada mais, e retire todo o resto. Só
é possível formar as mentes de seres que raciocinam com base em Fatos; nada mais que isso
lhes será de utilidade… Atenha-se aos Fatos, senhor!1
Depreciação
Parte do estoque de capital que se desgasta a cada ano.
O outro tipo de bens intermediários que faz parte do PIB são os investimentos em estoques –
a variação líquida nos estoques de bens finais que aguardam para serem vendidos ou de
materiais usados no processo de produção. Os acréscimos aos estoques de bens finais pertencem
ao PIB porque são produção do período corrente. Esses acréscimos devem ser contabilizados no
período atual quando são acrescentados aos estoques para que o tempo do produto nacional seja
definido corretamente; não devem ser contabilizados mais tarde, quando são vendidos para os
compradores finais. Investimentos em estoques de matérias-primas pertencem similarmente ao
PIB porque também representam produção corrente cujo valor não está embutido nas vendas do
produto final realizadas no período. Note-se que o investimento em estoques pode ser negativo
ou positivo. Se as vendas finais excederem a produção, por exemplo, devido a uma diminuição
dos estoques (investimento negativo em estoques), o PIB será menor que o valor total das
vendas finais.
Consumo
Demanda das famílias por bens e serviços para uso
corrente.
Tabela 2.1 - PIB nominal e seus componentes, anos selecionados (bilhões de dólares)*
*A soma dos componentes pode não equivaler exatamente ao total devido ao erro de arredondamento.
Fonte: Bureau of Economic Analysis, Ministério do Comércio.
Investimento
Parte do PIB comprada pelo setor empresarial mais
construção civil.
Ao longo dos anos cobertos pela Tabela 2.1, o investimento foi um componente volátil do
PIB americano, tendo variado de 3,0% do PIB em 1933 para 18,4% do PIB em 1950. Em 2010,
o investimento foi de 12,5% do PIB, tendo caído de 14,8% em 2007 quando teve início uma
recessão. A volatilidade cíclica do investimento tem implicações para os modelos
macroeconômicos examinados adiante.
Os números na Tabela 2.1 são brutos e não líquidos, o que significa que não foi feito nenhum
ajuste para a depreciação. O investimento total na tabela é o investimento bruto, não o
investimento líquido (o investimento líquido equivale ao investimento bruto menos a
depreciação). Em 2010 nos Estados Unidos, por exemplo, a depreciação, também chamada
provisão para consumo de capital, foi de aproximadamente dois terços do investimento bruto4.
O componente seguinte do PIB na tabela são as compras governamentais de bens e
serviços. Esta é a parcela da produção corrente adquirida pelo setor público, que inclui os
governos federal, estaduais e municipais. Nem todos os gastos do governo são parte do PIB,
porque nem todos os gastos do governo representam uma demanda por bens e serviço de
produção no período. Pagamentos de transferências a indivíduos (por exemplo, pagamentos da
Previdência Social) e pagamentos de juros são exemplos de gastos não incluídos no PIB. A
tabela mostra que a participação do governo no PIB dos Estados Unidos cresceu no período após
a Segunda Guerra Mundial em comparação com o período pré-guerra. Em 1929, as compras
governamentais de bens e serviços eram 9,1% do produto total. Não é surpresa que, em 1945, o
componente governamental do produto, inchado pelo orçamento militar durante a Segunda
Guerra Mundial, tenha subido para 42%. No período pós-guerra, o setor público não retornou ao
seu tamanho anterior à guerra.
Compras governamentais
Bens e serviços que são parte do produto corrente e
vão para o setor governamental federal, estadual e
municipal.
Renda nacional
Soma das rendas de todos os fatores de produção
originadas da produção corrente.
Exportações líquidas
Exportações totais (brutas) menos importações.
Como os bens e serviços são avaliados a preços de mercado no PIB, a produção fora dos
mercados é excluída (por exemplo, os serviços das donas de casa). Comparações do PIB
entre países superestimam as diferenças de produção entre países altamente
industrializados e nações menos desenvolvidas, onde a produção extramercado, em grande
medida agrícola, é de maior importância.
A ECONOMIA SUBTERRÂNEA É EXCLUÍDA
Também são excluídas do PIB atividades econômicas ilegais e atividades legais que não são declaradas para fugir dos
impostos – a economia subterrânea. Jogo e tráfico de drogas são exemplos do primeiro tipo. As atividades não declaradas
para evitar os impostos assumem muitas formas; por exemplo, pessoas que fazem serviços de consertos e recebem seu
pagamento em dinheiro podem declarar um valor menor ou nem declarar essa renda. É difícil estimar o tamanho da
economia subterrânea por razões óbvias. Estimativas aproximadas para os Estados Unidos variam de 5% a 15% do PIB.
Tabela 2.2 - Relação entre o PNB e a renda nacional, 2010 (bilhões de dólares)
PNB 14.848,7
Menos: Depreciação 1.868,9
Produto nacional líquido 12.979,8
Menos: Impostos indiretos e outros 158,2
Renda nacional 12.821,6
Fonte: Bureau of Economic Analysis, Ministério do Comércio.
O primeiro encargo sobre o PNB que não está incluído na renda nacional é a depreciação. A
parte do estoque de capitais consumida precisa ser subtraída das vendas finais antes de calcular a
renda nacional; a depreciação representa um custo de produção, não uma renda de fator.
Fazendo essa subtração, obtemos o produto nacional líquido (PNL), as medidas de produção
líquidas mencionadas anteriormente. Desse total na Tabela 2.2, subtraímos uma discrepância
estatística que deriva de medições do lado da renda cuja soma não equivale às do lado do
produto e alguns outros pequenos ajustes.
A Figura 2.1 mostra os componentes da renda nacional americana (pagamentos dos fatores)
como porcentagens do total para 1959 e 2006 (o ano anterior à recessão mais recente). Em 2006,
o trabalho, que inclui ordenados e salários mais os complementos (benefícios), representava
64% da renda nacional. Isso não é muito diferente da porcentagem em 1959. Hoje, no entanto,
uma parte maior da remuneração pelo trabalho é representada por benefícios e uma parte menor
por ordenados e salários, em comparação com 1959.
Os lucros empresariais estiveram entre 12% e 14% da renda nacional nos dois anos. Os
outros componentes principais da renda nacional são a renda dos proprietários, que é a renda de
empresas não constituídas em sociedade, a renda de aluguéis e a renda de juros. Por fim, uma
parte da renda nacional é paga em impostos como impostos de consumo e impostos sobre
importações.
FIG 2.1 Componentes da renda nacional dos Estados Unidos
Renda pessoal
Medida da renda recebida por indivíduos, incluindo
todas as fontes geradoras.
Para passar da renda nacional para a renda pessoal, subtraímos elementos da renda nacional
que não são recebidos por indivíduos e acrescentamos as rendas de indivíduos provenientes de
outras fontes que não a produção corrente de bens e serviços. Os detalhes dos ajustes necessários
não são fundamentais para o nosso enfoque. Resumidamente, eles são os seguintes. O primeiro
dos itens principais subtraídos da renda nacional na passagem para a renda pessoal são as partes
dos lucros empresariais nas contas nacionais que não são pagos como dividendos para
indivíduos. Essas partes incluem os pagamentos de impostos sobre os lucros e os lucros não
distribuídos (lucros acumulados). Também subtraem-se da renda nacional para calcular a renda
pessoal as contribuições feitas pelo empregador e pelo empregado à Previdência Social. Esses
impostos sobre a folha de pagamentos são incluídos no item “remuneração aos empregados” na
renda nacional, mas vão para o governo, não diretamente para os indivíduos.
Os itens acrescentados ao passar da renda nacional para a renda pessoal são pagamentos a
indivíduos que não decorrem da produção corrente de bens e serviços. O primeiro item são os
pagamentos de transferências. Estes são predominantemente transferências de dinheiro feitas
pelo governo, como pagamentos da Previdência Social, pensões para veteranos de guerra e
aposentadorias pagas a funcionários do governo federal. O outro item acrescentado na passagem
da renda nacional para a renda pessoal são pagamentos de juros pelo governo a indivíduos. Os
pagamentos de juros pelo governo são feitos sobre títulos previamente emitidos pelos governos
federal, estaduais e municipais. Com esses ajustes, podemos calcular a renda pessoal.
Subtraímos, então, os impostos pessoais para obter a renda pessoal disponível. Em 2010, a renda
pessoal disponível nos Estados Unidos era de US$ 11.374,7 bilhões.
A Tabela 2.3 mostra como os residentes dos Estados Unidos usaram sua renda disponível em
2010. A maior parte dela foi gasta com consumo, as compras de bens e serviços pelo setor das
famílias. Houve dois outros tipos de gastos. O primeiro foram juros pagos a empresas
(prestações de crédito e juros de cartão de crédito). O segundo, um componente muito pequeno
dos gastos pessoais, foram transferências para estrangeiros (por ex., presentes para parentes no
exterior). A poupança pessoal é a parte da renda pessoal disponível que não é gasta. Em 2010, a
poupança pessoal nos Estados Unidos foi de US$ 653,9 bilhões, ou 5,7% da renda pessoal
disponível. Essa foi uma taxa de poupança alta em comparação com o passado recente. A
recessão de 2007-09 havia sido caracterizada por uma queda nos preços dos ativos. A riqueza
das famílias foi reduzida e as famílias aumentaram a poupança para restaurar seu balanço
patrimonial.
temos renda (pessoal) disponível YD igual à renda nacional (Y) menos os impostos líquidos:
YD ≡ Y – Tx + Tr ≡ Y - T
Com essas simplificações, temos as identidades contábeis a seguir. O PIB (Y) é definido
como
ou seja, como consumo (C) mais investimento realizado (Ir) mais compras governamentais de
bens e serviços (G)5. O subscrito (r) no termo do investimento é incluído porque queremos
distinguir entre esse investimento realizado total que aparece nas contas nacionais e o nível
desejado de gastos em investimentos.
Do lado da renda das contas nacionais, uma vez mais usando as simplificações 1 a 4 e
ignorando os juros pagos a empresas (na Tabela 2.3), temos a identidade
que afirma que, com as suposições simplificadoras que fizemos, toda a renda disponível, que
é igual à renda nacional (Y) menos os pagamentos de impostos líquidos (T ≡ pagamentos de
impostos menos transferências), vai para gastos com consumo ou poupança pessoal (S).
Podemos escrever (2.3) como
Y≡C+S+T
e, como Y é tanto a renda como o produto nacional, podemos combinar (2.2) e (2.3) e
escrever
C + Ir + G ≡ C + S + T
Essa identidade afirma que os gastos no PIB (C + Ir + C) são, por definição, iguais ao uso da
renda nacional (C + S + T).
Consumo 46,0
Investimentos 1,7
Compras governamentais 2,4
Exportações 5,1
Menos importações 4,4
PNB 50,8
Tabela 2.5 - Componentes da renda nacional de Inglaterra e País de Gales, 1688 (milhões
de libras)
a As estimativas nas tabelas são tiradas de DEANE, Phyllis; COLE W.A. British Economic Growth: 1688-1959. London:
Cambridge University Press, 1967. p. 2. As estimativas baseiam-se nos manuscritos e planilhas originais de King e em
outras fontes da época.
2.6 Medição das variações de preços: PIB real versus PIB nominal
Até aqui, os números que estivemos examinando referem-se ao PIB nominal, que mede bens
e serviços produzidos no período, avaliados aos preços de mercado vigentes. O PIB é o valor
dos bens e serviços produzidos no período medido a preços de mercado, portanto ele mudará
quando o nível de preços geral e o volume efetivo de produção mudarem. Para muitos fins,
precisamos de uma medida de produto que varie apenas com a quantidade de bens produzidos.
Essa medida estaria, por exemplo, mais estreitamente relacionada ao emprego.
PIB nominal
PIB medido em unidades monetárias correntes
A medida do PIB que muda apenas quando quantidades, não preços, mudam é chamada de
PIB real. O modo tradicional de construir o PIB real é medir o produto em termos de preços
constantes tendo como referência um ano base. Usando 2005, por exemplo, podemos calcular o
valor do PIB em 1960, 1980 ou 2010 em termos do nível de preços ou do valor da moeda em
2005. As variações no PIB medidas em unidades monetárias pelo valor de 2005 proporcionam,
então, uma medida das mudanças de quantidade entre esses anos. A mensuração do PIB real em
termos de preços relativos a um ano base tem, porém, vários inconvenientes, que iremos
discutir. Por causa disso, em 1995 o U.S. Bureau of Labor Statistics começou a construir uma
alternativa à medida do PIB real, chamado PIB real pelo índice de preços ponderado da cadeia
produtiva (chain-weighted). Examinaremos esses dois procedimentos separadamente.
Tabela 2.6 - PIB nominal, PIB real e deflator implícito do PIB, anos selecionados
Fonte: Bureau of Economic Analysis, Ministério do Comércio.
Agora, consideremos os números na coluna 3 da Tabela 2.6, que mostra a razão entre o PIB
nominal e o PIB real (PIB nominal ÷ PIB real), em que a razão é multiplicada por 100 (seguindo
o procedimento das contas nacionais). A razão entre o PIB nominal e o PIB real é uma medida
do valor da produção corrente em preços correntes (por ex., em 2010) em relação ao valor dos
mesmos bens e serviços em preços do ano base (2005). Como os mesmos bens e serviços
aparecem na parte superior e na parte inferior, a razão entre o PIB nominal e o PIB real é
simplesmente o quociente do nível de preços corrente dos bens e serviços em relação ao nível de
preços no ano base. Ele é uma medida do nível agregado (ou geral) de preços, que no capítulo
anterior chamamos de índice de preços. Esse índice dos preços de bens e serviços no PIB é
chamado de deflator implícito do PIB.
Índice de preços
Mede o nível agregado de preços em relação a um ano
base escolhido.
Outro índice de preços amplamente usado é o índice de preços por atacado (IPA), que, no
caso do Brasil, em 2010, passou a ser chamado de índice de preços ao produtor amplo. Este
índice registra as variações de preços de produtos agropecuários e industriais nas transações
interempresariais, isto é, nos estágios de comercialização anteriores ao consumo final.6
Produto potencial
Nível que seria alcançado se os recursos produtivos
(trabalho e capital) estivessem sendo usados nos
níveis de referência elevados.
Surge um problema na mensuração do produto potencial. Quais seriam os níveis altos
sustentáveis de alocação de recursos? Na década de 1960, o President’s Council of Economic
Advisors, que na época compilava as estimativas oficiais do produto potencial, simplesmente
estimava o nível de produto que correspondia a uma taxa de desemprego de 4%. Em anos
posteriores, economistas e formuladores de políticas concluíram, em parte com base na
experiência dos anos 1960, que 4% era uma taxa de desemprego baixa demais para ser mantida
sem produzir pressão inflacionária. Na década de 1980, era usada com frequência uma taxa de
desemprego na faixa de 5,5% a 6% como referência de alto nível de emprego. Em anos recentes,
porém, tem havido menos certeza de que qualquer taxa de desemprego seja uma referência
apropriada; em 2000, por exemplo, a taxa de desemprego havia despencado para abaixo de 4%
sem nenhum desenvolvimento aparente de pressão inflacionária. Os órgãos governamentais,
para quem uma medida precisa do produto potencial é importante, desenvolveram uma série de
maneiras sofisticadas de calcular o PIB potencial. O Congressional Budget Office dos Estados
Unidos, por exemplo, usa modelos de crescimento econômico do tipo que examinaremos em um
capítulo posterior para construir uma medida do produto potencial. Outros órgãos usam métodos
de “filtros” e estimativas de tendências nos dados.
Felizmente, para nossos propósitos não é importante ter uma medida precisa do produto
potencial. Conforme avançamos, queremos apenas distinguir os movimentos cíclicos do produto
que nossos modelos tentam explicar e o crescimento do produto potencial que resulta de
aumentos nos fatores de produção e de mudanças tecnológicas.
Moeda
O que quer que seja comumente aceito como
pagamento em troca de bens e serviços (e pagamento
de dívidas e impostos).
política monetária
Uso pelo banco central de controle da oferta de
moeda e da taxa de juros para influenciar o nível de
atividade econômica.
Questões de revisão
1. Defina o termo produto interno bruto. Explique quais transações na economia são incluídas
no PIB.
2. Qual é a diferença entre PIB e PNB?
3. Defina o termo renda nacional. Por que a renda nacional não é igual ao PNB?
4. Defina os termos renda pessoal e renda pessoal disponível. Conceitualmente, como essas
medidas de renda diferem da renda nacional? Qual é a utilidade dessas medidas?
5. Três índices de preços foram examinados neste capítulo: o deflator do PIB, o IPC e o IPA.
Explique as diferenças entre essas diferentes medidas do nível de preços.
6. Usando os dados da Tabela 2.6, calcule a variação percentual no nível de preços entre 1960 e
1970, entre 1973 e 1980 e entre 1960 e 2010.
7. Explique o conceito de PIB real pelo índice de preços ponderado da cadeia produtiva. Que
problemas na medida anterior do PIB real levaram à introdução dessa nova medida?
8. Explique o conceito de produto potencial. Por que o produto potencial é difícil de medir?
9. Suponha que a renda de um trabalhador fosse US$ 15.000 em 1960 e US$ 45.000 em 2010.
Usando o deflator do PIB como índice de preços, calcule se a renda real do trabalhador
aumentou ou diminuiu ao longo desse período.
PARTE II
Os capítulos desta parte dão início à nossa análise de modelos macroeconômicos. Começamos
pelo modelo clássico e, então, passamos ao modelo keynesiano que se desenvolveu como um
ataque ao sistema clássico – a chamada revolução keynesiana.
CAPÍTULO 3
Macroeconomia clássica (I): produto e emprego
Como em outras áreas, os economistas clássicos achavam que o mecanismo de livre mercado
atuaria para criar mercados para qualquer bem que fosse produzido: “O legislador, portanto, não
precisa preocupar-se com o consumo”3. A doutrina clássica era que, no agregado, a produção de
uma determinada quantidade de produto gerará demanda suficiente por esse produto; nunca
poderia haver uma “falta de compradores para todas as mercadorias”4. Em consequência, os
economistas clássicos davam pouca atenção explícita a fatores que determinam a demanda geral
por mercadorias, que, no Capítulo 1, chamamos de demanda agregada.
Demanda agregada
Soma das demandas pelo produto corrente por parte
de cada um dos setores compradores da economia:
famílias, empresas, governo e compradores
estrangeiros.
3.3 Produção
Uma relação central no modelo clássico é a função produção agregada. A função produção,
que é baseada na tecnologia de firmas individuais, é uma relação entre o nível de produto e o
nível de insumos. Para cada nível de insumos, a função produção mostra o nível resultante de
produto e é expressa como
Função produção
Resume a relação entre os insumos totais e os
produtos totais, pressupondo uma determinada
tecnologia.
3.4 Emprego
A marca da análise clássica do mercado de trabalho é a pressuposição de que o mercado
funciona bem. As firmas e os trabalhadores individuais otimizam. Eles têm informações
perfeitas sobre os preços relevantes. Não há barreiras para o ajuste dos salários; o mercado se
equilibra.
Usando na equação (3.2a) a expressão para o custo marginal (CM) da equação (3.2), temos a
posição de maximização do lucro no curto prazo para a firma que compra mão de obra no
mercado de insumos:
Multiplicando ambos os lados da equação (3.3) por PMN e dividindo ambos os lados por P,
temos a expressão
A condição de maximização do lucro na equação (3.4) pode ser explicada como se segue: a
firma contratará até o ponto em que o produto adicional obtido pela contratação de mais um
trabalhador (PMN) seja exatamente igual ao salário real (W/P) pago para contratar esse
trabalhador.
A condição para a maximização do lucro na equação (3.4) é ilustrada na Figura 3.2. A curva
de demanda por trabalho da firma, representada no gráfico em função do salário real, é a curva
de PMgN da Figura 3.1. A curva de demanda por trabalho tem inclinação descendente devido à
lei dos rendimentos decrescentes. Para um salário real como 8,0 (por ex., um salário monetário
de $8 e um preço de produto de $1), a firma contratará 3 trabalhadores. Para uma quantidade de
mão de obra abaixo de 3, digamos 2, o PMgN (10) é maior que o salário real (8,0). O pagamento
para o trabalhador em termos reais é menor que o produto real produzido. Os lucros serão
aumentados pela contratação de unidades adicionais de mão de obra. Alternativamente, para
quantidades de insumo trabalho acima de 3, se o salário real for 8, o salário real fica acima do
PMgN. O pagamento da mão de obra excede o produto marginal real do trabalhador e o custo
marginal excede o preço do produto. A firma reduzirá a mão de obra para aumentar o lucro.
onde no agregado, como nas firmas individuais, um aumento no salário real reduz a demanda
por trabalho.
A parte a mostra o equilíbrio do mercado de trabalho para o salário real (W/P)0 no ponto de equilíbrio A. No agregado, a oferta
de trabalho é igual à demanda por trabalho, Nd = Ns. O nível de equilíbrio para o emprego é N0. Substituindo o emprego de
equilíbrio na função produção na parte b, encontramos o produto agregado de equilíbrio, Y0, no ponto A.
A curva de oferta agregada clássica vertical reflete o fato de que valores mais altos do nível de preços requerem níveis
proporcionalmente mais altos do salário monetário para que haja equilíbrio no mercado de trabalho. O salário real, o emprego e,
portanto, o nível do produto são os mesmos em P1, 2P1 e 3P1.
O processo em ação aqui é que algumas firmas reagem aos preços mais altos tentando
expandir o emprego e a produção. Para expandir o emprego, elas elevam os salários monetários
em um esforço de atrair trabalhadores de outras firmas. As firmas que se atrasam no processo de
elevar os salários monetários sofrem taxas de demissão mais altas e perdem trabalhadores. Esse
processo de elevação dos salários monetários só parará quando o salário monetário tiver subido
o suficiente para reequilibrar a oferta e a demanda no mercado de trabalho. Como pode ser visto
na Figura 3.5b, o reequilíbrio ocorre em um salário monetário de 2W1, onde o salário monetário
aumentou proporcionalmente ao nível de preços. Nesse ponto, o salário real inicial é restaurado
e o emprego volta a seu nível original. Em consequência, a produção ofertada no nível de preços
2P1 é igual a Y1, o mesmo nível de produto do nível de preços P1. Em um nível de preços ainda
mais alto 3P1, o salário monetário sobe para 3W1, mas, também neste caso, o produto permanece
inalterado em Y1. A curva de oferta agregada é vertical. Os preços mais altos só estimulam a
produção quando não são acompanhados de salários monetários proporcionalmente mais altos –
apenas se baixarem o salário real. No entanto, dadas as pressuposições que fizemos, o equilíbrio
no mercado de trabalho requer que os salários monetários subam proporcionalmente aos preços
para manter o salário real de equilíbrio nesse mercado.
A curva de oferta agregada vertical ilustra a determinação do produto pela oferta no modelo
clássico. Para que o produto esteja em equilíbrio, precisamos estar na curva de oferta; o produto
precisa estar em Y1.
Conclusão
A característica marcante do modelo clássico é o fato de produto e emprego serem
determinados pela oferta. Essa propriedade decorre da curva de oferta agregada vertical. A curva
de oferta agregada clássica é vertical devido às pressuposições que fizemos sobre o mercado de
trabalho. É útil reconhecer explicitamente a natureza dessas pressuposições. Em geral, o quadro
dos mercados de trabalho e do produto apresentado neste capítulo pode ser caracterizado pelo
termo mercado de leilão. Considera-se que trabalho e produto sejam trocados em mercados que
estão continuamente em equilíbrio e em que todos os participantes tomam decisões com base em
salários reais e preços de produtos anunciados. Duas pressuposições implícitas nessa
representação clássica do mercado de trabalho são as seguintes:
1. Preços e salários perfeitamente flexíveis;
2. Informações perfeitas sobre os preços de mercado por parte de todos os participantes desse
mercado.
Para qualquer período de tempo em que pressupusermos que o modelo de equilíbrio
determine o emprego e o produto, o equilíbrio precisa ser alcançado. Se tal modelo for usado
para explicar o emprego e o produto no curto prazo, os preços e salários devem ser
perfeitamente flexíveis nesse período de tempo.
A caracterização do mercado de trabalho como mercado de leilão também requer que os
participantes do mercado tenham informações perfeitas sobre os preços de mercado. Tanto
fornecedores como compradores de trabalho precisam conhecer os preços de troca relevantes.
Essa condição requer que, ao vender e comprar trabalho a um dado salário monetário (W), tanto
trabalhadores como empregadores conheçam o poder de compra de mercadorias que resultará
desse salário (W/P).
Essas duas pressuposições, essenciais para a natureza da teoria do equilíbrio clássica do
emprego e do produto, são os elementos da teoria clássica que Keynes combate. Antes de
examinarmos esse ataque, discutiremos outros elementos importantes da teoria clássica.
Questões de revisão
1. Em que aspectos a oposição clássica ao mercantilismo foi importante para moldar as ideias
dos economistas clássicos sobre questões macroeconômicas?
2. Explique o conceito de função produção agregada. Como você esperaria que a função
produção da Figura 3.1 fosse afetada por um aumento na produtividade média e marginal do
trabalho para um dado nível de produto, devido, por exemplo, a um aumento da instrução da
força de trabalho? Como esse deslocamento da função produção afetaria os níveis de produto
e emprego no modelo clássico?
3. Explique as teorias clássicas de oferta e demanda por trabalho. Por que a curva de demanda
por trabalho tem inclinação descendente quando representada em relação ao salário real,
enquanto a curva de oferta de trabalho tem inclinação ascendente no mesmo gráfico?
4. Suponha que o gosto do público mude de tal maneira que o lazer torne-se mais desejável que
mercadorias. Como você esperaria que essa mudança afetasse o produto, o emprego e o
salário real no modelo clássico?
5. Chamamos a visão clássica do mercado de trabalho de um mercado de leilão. Que
pressuposições estão na base dessa caracterização?
6. Em microeconomia, esperamos que a curva de oferta da firma tenha inclinação positiva para
a direita quando traçada em relação ao preço. A curva de oferta agregada clássica baseia-se
nessa teoria microeconômica da firma, mas é vertical. Por quê?
7. Quais são os principais determinantes do produto e do emprego no sistema clássico? Que
papel tem a demanda agregada na determinação do produto e do emprego?
8. Suponha que, devido, por exemplo, à reconstrução depois de uma guerra, o estoque de
capital de uma nação aumente. Use o modelo gráfico da Figura 3.4 para ilustrar o efeito que
o aumento do estoque de capital teria sobre o produto, o emprego e o salário real no modelo
clássico.
9. Considere os efeitos de um subsídio governamental ao emprego em que o governo pagasse
10% dos salários de novos trabalhadores contratados. Como o emprego e o produto seriam
afetados pelo programa no modelo clássico? Qual seria o efeito sobre a posição da curva de
oferta agregada na Figura 3.6?
CAPÍTULO 4
Macroeconomia clássica (II): moeda, preços e juros
Velocidade da moeda
Velocidade em que a moeda circula em transações do
PIB durante um determinado período: ou seja, o
número médio de vezes que cada unidade monetária é
usada em transações incluídas no PIB.
A variável de transações (T) inclui não só vendas e compras de bens recém-produzidos, mas
também trocas de ativos financeiros e bens produzidos anteriormente. Outra expressão da
equação de trocas foca apenas as transações em termos de renda:
Na equação (4.3), as variáveis são mais fáceis de medir e são fundamentais para nossos
interesses, portanto vamos nos centrar nessa forma da equação.
A equação de trocas é um truísmo e não explica as variáveis que contém. Fisher e outros
teóricos quantitativistas, porém, postularam que os valores de equilíbrio dos elementos da
equação de trocas, com exceção do nível de preços, são determinados por outras forças.
Portanto, a equação de trocas determina o nível de preços. Nas palavras de Fisher:
Encontramos que, nas condições consideradas, o nível de preços varia (1) diretamente com
a quantidade de moeda em circulação (M), (2) diretamente com a velocidade de sua
circulação (V), (3) inversamente com o volume de transações realizadas por meio dela (T). A
primeira dessas três relações merece destaque. Ela constitui a “teoria quantitativa da
moeda”.1
ou
A barra sobre o V e o Y indica que esses termos podem ser tomados como fixos. A equação
(4.6) indica como o nível de preços depende da oferta de moeda. Se M dobra, P dobra, ou um
aumento de 10% em M leva a um aumento de 10% em P. Esse é o resultado básico da teoria
quantitativa da moeda: A quantidade de moeda determina o nível de preços.
Abordagem de Cambridge
Versão da teoria quantitativa da moeda centrada na
demanda por moeda (Md = kPY).
A demanda por moeda (Md) seria uma proporção (k) da renda nominal, ou seja, o nível de
preços (P) vezes o nível de renda real (Y). A característica desejável da moeda é sua utilidade
para transações, portanto, a demanda por moeda depende do nível de transações, que se pode
supor que varie em estreita conexão com a renda. A proporção ótima de renda a ser mantida em
forma de moeda (k) é considerada estável no curto prazo, dependendo, como na formulação
fisheriana, dos hábitos de pagamento da sociedade.
No equilíbrio, a oferta exógena de moeda deve ser igual à quantidade de moeda demandada:
Com k fixo no curto prazo e o produto real (Y) determinado, como antes, pelas condições de
oferta, a equação de Cambridge também se reduz a uma relação proporcional entre o nível de
preços e a oferta de moeda. Como na abordagem fisheriana, a quantidade de moeda determina o
nível de preços.
A equivalência formal entre a equação de Cambridge e a versão de Fisher da equação de
trocas pode ser percebida reescrevendo a equação (4.8) como
Comparando isso com a equação de Fisher (4.5), podemos ver que as duas formulações são
equivalentes, com V igual a 1/k. Por exemplo, se indivíduos quiserem manter um montante igual
a um quarto da renda nominal na forma de moeda, o número de vezes que a moeda média é
usada em transações de renda será quatro.
Embora as duas formulações da teoria quantitativa sejam formalmente equivalentes, a versão
de Cambridge representa um passo na direção de teorias monetárias mais modernas. O foco de
Cambridge era na teoria quantitativa como uma teoria da demanda por moeda. A relação
proporcional entre a quantidade de moeda e o nível de preços resultava do fato de que a
proporção de renda nominal que as pessoas queriam manter na forma de moeda (k) era constante
e o nível de produto real era fixado pelas condições de oferta. Dando seguimento à análise de
Pigou das alternativas a manter riqueza em forma de moeda, Keynes contrapôs-se à teoria
quantitativa apresentando uma nova teoria de demanda por moeda.
Além disso, o foco de Cambridge na demanda por moeda leva a uma resposta à pergunta
sobre o modo como a moeda afeta o nível de preços. Vamos supor que comecemos no equilíbrio
e, então, examinemos os efeitos de duplicar a quantidade de moeda. Inicialmente, há um excesso
de oferta de moeda em relação ao montante demandado. Os indivíduos tentam reduzir seus
estoques de moeda à proporção ótima de sua renda dando a esse excedente usos alternativos de
consumo e investimento. Eles aumentam sua demanda por mercadorias. Essa demanda
aumentada por mercadorias pressiona os preços para cima. Na linguagem dos economistas
clássicos, há moeda demais à procura de bens insuficientes. Se o produto ficar inalterado, como
seria no modelo clássico, e k for constante, um novo equilíbrio só será alcançado depois que o
nível de preços for dobrado. Nesse ponto, a renda nominal e, portanto, a demanda por moeda,
terão dobrado. Essa era a ligação no sistema clássico entre moeda e preços; uma oferta de moeda
excessiva levava a uma demanda aumentada por mercadorias e a uma pressão de alta sobre o
nível de preços.
A Figura 4.2 reproduz a curva de oferta agregada vertical (Y1s) da Figura 3.6 e mostra várias
curvas de demanda agregada [Yd (M1), Yd (M2), Yd (M3)] traçadas para valores sucessivamente
mais altos da oferta de moeda (M1, M2, M3). Como acabamos de explicar, o aumento da oferta
de moeda desloca a curva de demanda agregada para cima e para a direita. Como a curva de
oferta é vertical, aumentos na demanda não afetam o produto. Apenas o nível de preços
aumenta. Note-se também que, para um valor dado de k (ou V), uma mudança na quantidade de
moeda é o único fator que desloca a curva de demanda agregada. Como o valor de equilíbrio de
k (ou V) era considerado estável no curto prazo, a demanda agregada variava apenas com a
oferta de moeda.
A teoria clássica da demanda agregada foi chamada de teoria implícita. A teoria não é
explícita no sentido de focalizar os componentes da demanda agregada e explicar os fatores que
determinam seu nível. Em vez disso, na teoria clássica, um dado valor de MV [ou M(1/k) ]
implica o nível de P × Y que é necessário para o equilíbrio no mercado de moeda – para a
demanda por moeda ser igual à oferta de moeda existente. Se a demanda por moeda exceder
(não alcançar) a oferta de moeda, haverá um transbordamento (spillover) para o mercado de
mercadorias, com os indivíduos tentando reduzir (aumentar) seus gastos em mercadorias. Os
pontos ao longo da curva Yd são pontos em que as firmas e famílias estão em equilíbrio com
relação à moeda que mantêm e, portanto, também estão nas taxas de equilíbrio de seus gastos
com mercadorias.
Tabela 4.1 - Inflação e crescimento monetário em algumas economias com alta inflação, 1985-
95
A taxa de juros de equilíbrio r0 é a taxa que iguala a oferta de fundos de empréstimo, que consiste na poupança (S), e a demanda
por fundos de empréstimo, que é o investimento (I) mais o déficit público financiado por títulos (G – T).
A taxa de juros tem uma função estabilizadora no sistema clássico, como pode ser visto pelo
exame dos efeitos de uma mudança da rentabilidade esperada dos investimentos. Lembremos
que, no curto prazo, o investimento depende da taxa de juros e da rentabilidade futura esperada
de projetos de investimento. Vamos supor que, como resultado de um evento exógeno (por ex.,
medo de uma guerra futura), os administradores de empresas em geral baixem sua expectativa
quanto a lucros futuros dos investimentos. O efeito seria uma redução dos investimentos e,
assim, uma diminuição da demanda por fundos de empréstimo em todas as taxas de juros.
A Figura 4.4 ilustra o efeito desse declínio autônomo da demanda por investimento. Para
simplificar, pressupomos que o orçamento do governo esteja equilibrado (G = T), de modo que
não haja tomadas de empréstimo governamentais. O investimento é a única fonte da demanda
por fundos de empréstimo. A queda na rentabilidade esperada de projetos de investimento é
mostrada como um deslocamento da curva de investimento para baixo, de 10 para 11. A uma
dada taxa de juros, a magnitude do declínio no investimento é medida por ΔI na Figura 4.4.
À taxa de juros de equilíbrio inicial r0, após a queda nos investimentos, a oferta de fundos de
empréstimo excede a demanda, pressionando para baixo a taxa de juros. Conforme a taxa de
juros declina, dois ajustes ocorrem. Primeiro, a poupança declina; assim, o consumo (C)
aumenta. A magnitude desse declínio da poupança e o aumento equivalente do consumo são
dados pela distância marcada como A na Figura 4.44. Segundo, o investimento é retomado em
alguma medida pelo declínio da taxa de juros. Esse aumento do investimento induzido pela taxa
de juros é medido pela distância B na Figura 4.4. O equilíbrio é restaurado na taxa de juros r1,
com a poupança (a oferta de fundos de empréstimo) novamente igual ao investimento (a
demanda por fundos de empréstimo). No novo equilíbrio, o aumento do consumo (queda da
poupança) mais o aumento do investimento causado pela queda da taxa de juros, a distância A +
B na Figura 4.4, é exatamente igual ao declínio autônomo original da demanda por investimento,
a distância Δl na Figura 4.4. Devido ao ajuste da taxa de juros, a soma das demandas do setor
privado (C + I) não é afetada pelo declínio autônomo da demanda por investimento.
Esse papel estabilizador da taxa de juros é importante para o sistema clássico. O ajuste da
taxa de juros é a primeira linha de defesa do pleno emprego. Choques que afetem a demanda por
consumo, a demanda por investimento ou a demanda do governo não afetarão a demanda total
pelo produto. Esses choques não deslocarão a curva de demanda agregada da Figura 4.2. Mesmo
que o fizessem, não haveria efeito sobre o produto ou sobre o emprego, devido às propriedades
de autoajuste do mercado de trabalho clássico, conforme refletidas na curva de oferta agregada
vertical – a segunda linha de defesa do pleno emprego.
No ponto de equilíbrio E, a taxa de juros r0 iguala a oferta de fundos de empréstimo, S, e a demanda por fundos de empréstimo, I.
O aumento dos gastos governamentais deficitários, (G – T)1, desloca a demanda por fundos de empréstimo para a direita. A taxa
de juros de equilíbrio sobe para r1 no ponto F. O aumento da taxa de juros causa um declínio no investimento de I0 para I1, a
distância B, e um aumento na poupança, que corresponde a um declínio igual no consumo, de S0 para S1, a distância A. O
declínio no investimento e no consumo compensa exatamente o aumento nos gastos do governo.
4.3.1.2 Política tributária
Efeitos do lado da demanda. Se considerarmos apenas os efeitos sobre a demanda, a análise
de uma mudança nos impostos produz resultados que são análogos aos dos gastos
governamentais. Por exemplo, por aumentar a renda disponível das famílias, um corte nos
impostos estimularia o consumo. Se, contudo, o governo vendesse títulos ao público para
substituir as receitas perdidas pelo corte nos impostos, ocorreria o mesmo processo de
deslocamento (crowding-out) que no caso de um aumento dos gastos governamentais financiado
por títulos. A taxa de juros de equilíbrio subiria, o investimento cairia e haveria também um
aumento da poupança induzido pela taxa de juros, fazendo com que o consumo voltasse ao
patamar anterior ao corte nos impostos. No caso de uma redução de impostos, como no aumento
dos gastos governamentais, a demanda agregada não seria afetada.
Se a receita perdida devido ao corte de impostos fosse substituída por meio da emissão de
moeda, então, como no caso de um aumento nos gastos do governo, a criação de moeda
aumentaria a demanda agregada e a redução de impostos faria o nível de preços subir. Uma vez
mais, porém, seria simplesmente o aumento da oferta de moeda que afetaria o nível de preços. O
corte nos impostos não teria nenhum efeito independente sobre a demanda agregada.
Na parte a, uma redução na alíquota marginal do imposto de renda (de 0,40 para 0,20) aumenta o salário real após o imposto em
relação a um determinado valor do salário real antes do imposto. A curva de oferta de trabalho desloca-se para a direita. O
equilíbrio move-se do ponto A para o ponto B. O emprego e o produto aumentam, como é mostrado na parte b do gráfico,
movendo-se do ponto A para o ponto B na função produção. Esse aumento do produto é representado pelo deslocamento para a
direita da curva de oferta agregada vertical na parte c.
de impostos ocorresse na forma de uma redução nas alíquotas do imposto de renda. Suponhamos
que a alíquota marginal do imposto de renda fosse cortada de iniciais 40% para uma nova
alíquota de 20%. Em vez de pagar 0,40 de imposto a cada unidade monetária adicional recebida,
seria preciso pagar apenas 0,20. No modelo clássico, essa mudança teria um efeito de incentivo
sobre a oferta de trabalho. A mudança afetaria o lado da oferta do modelo e afetaria o produto e
o emprego.
A Figura 4.6 ilustra o efeito de uma redução na alíquota marginal do imposto de renda dentro
do modelo clássico. A parte a mostra os efeitos no mercado de trabalho. Um corte na alíquota do
imposto aumentaria a oferta de trabalho em qualquer valor do salário real (antes do imposto) e
deslocaria a curva de oferta de trabalho para a direita. Esse deslocamento acontece porque o
trabalhador está interessado no salário real após o imposto, que, neste caso, é (1 – ty)W/P, onde
ty é a alíquota marginal do imposto de renda. Se tivéssemos incluído um imposto sobre a renda
em nosso modelo clássico no Capítulo 3, a função oferta de trabalho seria
Para um dado salário real antes do imposto (W/P), um corte no imposto de renda representa
um aumento no salário real após o imposto e, portanto, aumenta a oferta de trabalho.
Na Figura 4.6a, quando a alíquota marginal do imposto de renda cai de 0,40 para 0,20, a
curva de oferta de trabalho desloca-se de NS(ty = 0,40) para NS(ty = 0,20). O nível de emprego de
equilíbrio sobe de N0 para N1. A parte b da Figura 4.6 mostra a função produção agregada. O
aumento do emprego de N0 para Nt como resultado do aumento da oferta de trabalho leva a um
aumento do produto de Y0 para Y1.
Na parte c da figura, esse aumento no nível de produto (de Y0 para Y1) determinado pela
oferta é mostrado como um deslocamento para a direita da curva de oferta agregada, de YS(ty =
0,40) para YS(ty = 0,20). Como a demanda agregada permanece inalterada (determinada pelo
nível de oferta de moeda), esse aumento da oferta agregada resulta em uma queda no nível de
preços6.
Em suma, mudanças nos gastos governamentais ou nos impostos não têm efeitos
independentes sobre a demanda agregada, por causa do ajuste da taxa de juros e dos efeitos de
deslocamento resultantes sobre componentes da demanda do setor privado. Mudanças nas
alíquotas marginais do imposto de renda têm efeitos adicionais no lado da oferta. Uma redução
da alíquota marginal do imposto de renda, por exemplo, estimula a oferta de trabalho e leva a
um aumento do emprego e do produto.
Tabela 4.2 - Alíquota federal efetiva do imposto de renda nos Estados Unidos, anos
selecionados (%)
Questões de revisão
1. Explique o papel da moeda no sistema clássico. Especificamente, no modelo clássico, qual o
papel da moeda na determinação do produto real, emprego, nível de preços e taxa de juros?
Explique como a moeda afeta essas variáveis; ou, se a moeda não tiver efeito sobre algumas
delas, explique por quê.
2. Quais são as diferenças entre as versões fisheriana e de Cambridge da teoria quantitativa da
moeda?
3. Defina o termo velocidade da moeda. Que fatores determinam a velocidade da moeda no
sistema clássico? Qual é a relação entre a velocidade da moeda e o k de Cambridge?
4. Explique como a demanda agregada é determinada no modelo clássico. Quais seriam os
efeitos no produto e no nível de preços de um aumento na demanda agregada?
5. Os economistas clássicos consideravam que a velocidade era estável no curto prazo. Mas
vamos supor que, devido a uma mudança no mecanismo de pagamentos – por exemplo,
maior uso de cartões de crédito –, houvesse uma elevação exógena na velocidade da moeda.
Que efeito tal mudança teria sobre o produto, emprego e nível de preços no modelo clássico?
6. Explique como a taxa de juros é determinada na teoria clássica.
7. Explique como a taxa de juros funciona no sistema clássico para estabilizar a demanda
agregada diante de mudanças autônomas em componentes da demanda agregada como
investimento ou gastos governamentais.
8. Na forma de Cambridge da teoria quantitativa, a demanda por moeda é dada por Md = kPY.
Suponha que a renda (Y) seja definida em 300 unidades e a oferta de moeda seja fixa em 200
unidades. Suponha também que o valor de k seja inicialmente ¼; inicialmente, os indivíduos
querem manter saldos de moeda iguais a um quarto de sua renda. Suponha, então, que os
indivíduos aumentem a demanda por moeda para um terço de sua renda; k sobe para ⅓.
Como esse aumento da demanda por moeda afeta o valor de equilíbrio do nível agregado de
preços (P)? Qual era o nível de preços de equilíbrio inicial? Qual é o valor depois do
aumento da demanda por moeda? Explique o processo que leva à mudança no nível agregado
de preços.
9. Ao derivar a curva de oferta de trabalho na Figura 3.3, consideramos implicitamente que a
alíquota marginal do imposto de renda (ty) fosse igual a zero. Suponha que, em vez disso, ty
= 0,20. Desenhe novamente a figura com essa modificação e compare a curva de oferta de
trabalho resultante com a que aparece na Figura 3.3b.
10. No modelo clássico, analise os efeitos de um aumento na alíquota marginal do imposto de
renda. Explique como o produto, o emprego e o nível de preços são afetados. Considere
casos em que a receita maior produzida pelo aumento do imposto resulte em um declínio nas
vendas de títulos para o público e em que ela resulte em menos criação de moeda.
11. Quais são as principais conclusões de política econômica da economia clássica? Explique
como essas conclusões de política decorrem dos pressupostos-chave do sistema teórico
clássico.
CAPÍTULO 5
O sistema keynesiano (I): o papel da demanda agregada
A interrupção forçada do trabalho é um mal penoso. Aqueles cujo sustento está garantido,
ganham saúde física e mental com férias felizes e bem aproveitadas. Mas a falta de trabalho,
com a longa e contínua ansiedade, consome as melhores forças de um homem sem trazer
nada em troca. Sua esposa emagrece; seus filhos ficam, por assim dizer, com uma marca
horrível em suas vidas, que talvez nunca seja superada.2
FIG 5.1 Taxa de desemprego nos Estados Unidos, 1929-1941
Mas Marshall não tinha muito a dizer sobre as causas do desemprego. Ele observou que o
desemprego já existia desde o começo dos tempos e afirmou que o conhecimento era a cura, no
sentido de que aumentaria as capacitações para o trabalho e também evitaria que os
trabalhadores e as firmas tomassem decisões econômicas ruins que resultariam em falências e
desemprego. Quando Marshall sugeriu maneiras de diminuir as flutuações no emprego, esta foi a
primeira apresentada:
As causas da descontinuidade que estão em nosso âmbito de ação, e que são remediáveis,
ligam-se principalmente, de uma maneira ou de outra, à falta de conhecimento; mas há uma
que é voluntariosa: é a moda. Até pouco tempo atrás, apenas os ricos podiam trocar suas
roupas de acordo com as recomendações volúveis de seus costureiros; mas, agora, todas as
classes fazem isso. As histórias do comércio de alpaca, do comércio de rendas, do comércio
de chapéus de palha, do comércio de fitas e de uma infinidade de outros relatam explosões
de atividade febril alternando-se com inatividade sepulcral.3
Para o leitor moderno, essa análise parece esquisita; não pode ser considerada uma base para
propor soluções para o problema do desemprego na Grã-Bretanha na década de 1920. Marshall e
os outros economistas que se apoiavam na teoria clássica de equilíbrio não tinham muito mais a
oferecer.
Boa parte do debate sobre política econômica na Grã-Bretanha, nessa época, centrava-se na
conveniência de gastos governamentais em obras públicas como uma cura para o desemprego, o
que chamaríamos agora de uma ação de política fiscal expansionista. Keynes e outros
argumentavam que tais ações aumentariam o produto e o emprego. Esses gastos atuariam tanto
direta como indiretamente, porque aumentariam a renda e, por conseguinte, os gastos em
consumo daqueles que estivessem empregados nos projetos de obras públicas, gerando
empregos secundários.
Os que argumentavam contra a concepção de Keynes apoiavam-se principalmente na análise
clássica que apresentamos nos Capítulos 3 e 4. Aumentos nos gastos do governo, a menos que
fossem financiados por criação de moeda e, portanto, mudanças na política monetária, não
afetariam nem o emprego nem o nível de preços. Se projetos de obras públicas fossem
financiados pela criação de moeda, o nível de preços seria afetado, mas não os níveis de produto
ou emprego. Essa teoria clássica foi a base para a posição oficial do Partido Conservador da
Grã-Bretanha, que esteve no poder durante a maior parte da década de 1920 e começo da década
de 1930. Como Winston Churchill explicou: “É dogma ortodoxo do Tesouro, firmemente
mantido, que, quaisquer que possam ser as vantagens políticas e sociais, como regra geral, muito
pouco emprego pode ser de fato criado por meio de tomadas de empréstimos e gastos estatais”.
Nos Estados Unidos, as prescrições clássicas para políticas públicas também eram influentes.
Longe de tentar elevar a demanda ou estimular o produto e o emprego durante o auge da
Depressão em 1932, a administração de Herbert Hoover projetou um grande aumento de
impostos. A razão de Hoover para aumentar as alíquotas de impostos era equilibrar o orçamento
federal depois da queda das receitas tributárias que acompanhou o declínio da renda. Como, no
sistema clássico, a política fiscal não tinha nenhum efeito sobre a renda, a administração
prudente do orçamento passara a significar simplesmente equilibrar os gastos com receita
tributária.4 Quando Franklin Roosevelt concorreu contra Hoover para a presidência em 1932, ele
criticou Hoover por não conseguir equilibrar o orçamento e defendeu cortes nos gastos
governamentais. Bernard Baruch, consultor de vários presidentes, assim expressou a prescrição
de política convencional: “Equilibrar os orçamentos, parar de gastar o dinheiro que não temos.
Fazer sacrifícios pela frugalidade e pela receita. Cortar os gastos do governo – cortá-los como
rações são cortadas em um estado de sítio. Tributar – tributar todo mundo por tudo”.5
A elevação dos impostos ou o corte nos gastos governamentais não reduziriam a demanda
agregada, o produto e o emprego? Não no sistema clássico, porque o produto e o emprego eram
determinados pela oferta. De qualquer modo, no modelo clássico a política fiscal não afetava a
demanda agregada. Como vamos ver, tal aumento de impostos ou corte de gastos é exatamente o
oposto da ação de política “correta” segundo o modelo keynesiano.
Em suma, a situação no início da década de 1930 era de um desemprego maciço, que não era
bem explicado pelo sistema clássico e para o qual os economistas clássicos não ofereciam
nenhum remédio. Muitos economistas e políticos defenderam várias ações de política
econômica, incluindo projetos de obras públicas, para tentar aumentar a demanda agregada.
Essas políticas não funcionariam no sistema clássico, em que o produto e o emprego não eram
determinados pela demanda. Como observou Keynes: “A força da escola do autoajuste decorre
de ela ter atrás de si quase todo o conjunto de doutrina e pensamento econômico organizado dos
últimos cem anos”.6 Keynes colocava-se entre os “heréticos” em relação à visão clássica das
propriedades de autoajuste da economia. Sobre os heréticos, ele escreveu: “Eles estão
profundamente insatisfeitos. Acreditam que a simples observação é suficiente para mostrar que
os fatos não correspondem ao raciocínio ortodoxo. Eles propõem remédios induzidos pelo
instinto, pelo discernimento, pelo bom senso prático, pela experiência do mundo – parcialmente
certos, a maioria deles, e parcialmente errados”.7 Keynes achava que os heréticos jamais
prevaleceriam até que a falha da teoria clássica ortodoxa fosse encontrada. Ele acreditava que
essa falha estivesse na falta de uma teoria explícita da demanda agregada pelo produto e, assim,
do papel da demanda agregada na determinação do produto e do emprego. Examinaremos, em
seguida, a teoria apresentada por Keynes e seus seguidores para corrigir essa falha.
em que Y é igual ao produto total (PIB) e E é igual à demanda agregada ou aos gastos desejados
com o produto. A demanda agregada (E) é constituída de três componentes: consumo das
famílias (C), demanda desejada por investimentos pelas empresas (I) e demanda por bens e
serviços por parte do setor governamental (G). Assim, no equilíbrio, temos
A equação (5.3) é uma definição contábil, ou identidade, que afirma que a renda nacional,
a qual seria paga às famílias em troca dos serviços de fatores de produção (salários, juros,
aluguéis, dividendos), é consumida (C), paga em impostos (T) ou poupada (S).8 Além disso, a
partir do fato de que Y é o produto nacional, podemos escrever
A equação (5.4) define o produto nacional como consumo mais investimento realizado (Ir)
mais gastos do governo.9
Usando as definições dadas nas equações (5.3) e (5.4), podemos reescrever a condição para a
renda de equilíbrio dada na equação (5.2) de duas maneiras alternativas, que nos ajudarão a
compreender a natureza do equilíbrio no modelo. Por (5.2), Y deve ser igual a (C + I + G) no
equilíbrio, e, em (5.3), Y é definido como (C + S + T); no equilíbrio, portanto,
C+S+T≡Y=C+I+G
ou, de modo equivalente,
De maneira similar, pelas equações (5.2) e (5.4) podemos ver que, no equilíbrio,
C + Ir + G ≡ Y = C + I + G
ou, cancelando termos,
Nem toda a renda nacional retorna diretamente às firmas como demanda por produto. Há dois
fluxos que saem do setor familiar além dos gastos com consumo: o fluxo de poupança e o fluxo
de pagamentos de impostos. Se virmos o ciclo interno de nosso diagrama, que liga as famílias
(como fornecedores de serviços de fatores de produção e demandadores de produto) e o setor
empresarial (como fornecedores de produto e demandadores de serviços de fatores), como o
mecanismo central de geração de renda e produto, os fluxos de poupança e impostos são
vazamentos desse ciclo central.
O vazamento da poupança flui para os mercados financeiros, o que significa que a parte da
renda que é poupada é mantida na forma de algum ativo financeiro (moeda corrente, depósitos
bancários, títulos, ações, etc.). O fluxo de impostos é pago ao setor governamental. O fluxo de
impostos no diagrama corresponde aos impostos líquidos, ou seja, os pagamentos brutos de
impostos menos os pagamentos de transferências do governo para as famílias (benefícios da
Previdência Social, pagamentos de seguro-desemprego, etc.). Portanto, em referências
posteriores neste texto, um aumento de impostos ou um corte de impostos podem ser
interpretados como mudanças equivalentes, em direções opostas, no nível de pagamentos de
transferências.
Embora cada unidade monetária de produto e, portanto, da renda nacional não gere
diretamente uma unidade monetária de demanda por produto por parte do setor familiar, isso não
significa que a demanda total tenha de ser menor que o produto. Há demandas adicionais por
produto por parte do próprio setor empresarial para investimento e do setor governamental. Em
termos do fluxo circular, estas são injeções no ciclo central de nosso diagrama. A injeção de
investimento é mostrada como um fluxo dos mercados financeiros para o setor empresarial. Os
compradores dos bens de investimento são as próprias firmas do setor empresarial. Essas
compras, porém, precisam ser financiadas por empréstimos. Assim, o montante monetário dos
investimentos representa um fluxo equivalente de fundos emprestados às firmas. Os gastos
governamentais são uma demanda pelo produto do setor empresarial e são mostrados como o
fluxo monetário do governo para as firmas.
Podemos agora examinar as três expressões equivalentes do equilíbrio dadas pelas equações
(5.2), (5.5) e (5.6). A produção de um nível de produto, Y, gera um nível de renda equivalente
para as famílias. Uma parte dessa renda, igual à demanda por consumo (C), retorna diretamente
às firmas na forma de uma demanda por produto. O nível de produto estará em equilíbrio se essa
demanda diretamente gerada (C), quando somada aos gastos com investimentos desejados das
firmas (I) e aos gastos do governo (G), produzir uma demanda total igual a Y, ou seja, se
5.3.1 Consumo
Os gastos com consumo são o maior componente da demanda agregada, representando de
60% a 70% do PIB americano em anos recentes.
Keynes acreditava que o nível de gastos em consumo era uma função estável da renda
disponível, em que a renda disponível (YD) em nosso modelo simples é a renda nacional menos
os pagamentos líquidos de impostos (YD = Y – T).11 Keynes não negava que outras variáveis
além da renda afetassem o consumo, mas acreditava que a renda fosse o fator dominante para
determinar o consumo. Em uma primeira aproximação, as outras influências podiam ser
deixadas de lado.
A forma específica da relação consumo-renda, denominada função consumo, proposta por
Keynes era a seguinte:
Função consumo
Relação keynesiana entre renda e consumo.
A Figura 5.3 mostra em um gráfico essa relação. O termo intercepto a, que pressupomos ser
positivo, é o valor do consumo quando a renda disponível é igual a zero. Assim, a pode ser
considerado uma medida do efeito sobre o consumo de outras variáveis que não a renda, as quais
não são explicitamente incluídas neste modelo simples. O parâmetro b, a inclinação da função,
informa o aumento nos gastos com consumo a cada aumento unitário na renda disponível. Em
notação, usamos com frequência
onde, como no Capítulo 3, o símbolo diferenciador, Δ, indica a mudança na variável que vem
em seguida. O valor do incremento nos gastos de consumo por unidade de incremento na renda
(b) é chamado de propensão marginal a consumir (PMgC). O pressuposto keynesiano é que o
consumo aumentará com um aumento da renda disponível (b > 0), mas que o aumento no
consumo será menor do que o aumento na renda disponível (b < 1).
podemos escrever
que mostra que a renda disponível é, por definição, consumo mais poupança. Assim, uma teoria
da relação consumo-renda também determina implicitamente a relação poupança-renda. No caso
da teoria keynesiana, temos
S ≡ YD – = 0 – a
= –a
Se um aumento de 1 unidade na renda disponível leva a um aumento de b unidades no
consumo, o resto (1 – b) corresponde ao aumento na poupança:
Esse incremento da poupança por unidade de aumento da renda disponível (1 – b) é chamado
de propensão marginal a poupar (PMgS). O gráfico da função poupança é mostrado na Figura
5.4.
Como foi observado anteriormente, Keynes considerava que a renda era o principal
determinante dos gastos de consumo. Teorias do consumo posteriores expandiram a teoria de
Keynes em várias direções. Para um dado nível de renda, a riqueza maior leva a um nível maior
de gastos de consumo. A riqueza familiar inclui o valor de ativos financeiros como ações e
títulos mantidos pela família. Inclui também o patrimônio imobiliário, definido como o valor da
residência menos a dívida com o financiamento imobiliário.
Outra direção tomada por pesquisas recentes sobre consumo foi a expansão do conceito de
renda, passando da renda atual para um conceito mais amplo chamado de renda permanente, que
consiste em uma média dos níveis de renda atual e esperado para o futuro. Vamos voltar a um
exame dessas teorias do consumo mais complexas em pontos posteriores de nossa análise. Ao
desenvolver o modelo keynesiano neste capítulo, permaneceremos com a função consumo
simples dada na equação (5.9).
5.3.2 Investimento
O investimento também era uma variável fundamental no sistema keynesiano. Mudanças nos
gastos desejados de investimento das firmas eram, para Keynes, um dos principais fatores
responsáveis por mudanças na renda.
Conforme observado anteriormente, Keynes acreditava que o consumo era uma função
estável da renda disponível. Essa noção não implicava que os gastos com consumo seriam
estáveis ao longo do tempo. Implicava simplesmente que, na ausência de outros fatores que
fizessem a renda mudar, os gastos com consumo não seriam uma fonte independente importante
de variabilidade da renda. O consumo era, primariamente, um gasto induzido, ou seja, um gasto
diretamente dependente da renda.
Para explicar as causas subjacentes dos movimentos da demanda agregada e, assim, da renda,
Keynes voltou-se para os componentes autônomos da demanda agregada. Esses componentes
eram determinados, em grande medida, independentemente da renda corrente. Quando esses
componentes de gastos variavam, faziam a renda variar. Keynes acreditava que o investimento
era o mais fortemente variável entre os componentes autônomos da demanda agregada. Ele
achava que os gastos variáveis em investimentos eram o principal responsável pela instabilidade
da renda.
A Tabela 5.1 contém números referentes a investimentos e consumo como porcentagens do
PNB nos Estados Unidos, em anos selecionados. Os dados contrastam os gastos em
investimento e consumo em anos prósperos (1929, 1955, 1973, 1979, 1989, 2000, 2006) com os
gastos correspondentes em anos subsequentes de depressão ou recessão (1933, 1958, 1975,
1982, 1991, 2001, 2008). Os gastos com investimentos de fato parecem ser mais voláteis e são
uma escolha lógica como um fator para explicar a variabilidade da renda. A pergunta
permanece: o que determina o investimento?
A função poupança mostra o nível de poupança (S) em cada nível de renda disponível (YD). A inclinação da função poupança é a
PMgS (1 – b), o aumento na poupança por aumento unitário da renda disponível. O intercepto da função poupança (–a) é o nível
(negativo) de poupança em um nível zero de renda disponível.
Keynes sugeriu duas variáveis como os principais determinantes dos gastos com
investimentos no curto prazo: a taxa de juros e o estado das expectativas das firmas.
Ao explicar a relação entre investimento e taxa de juros, a análise de Keynes não era
diferente da visão clássica. O nível de investimento estaria inversamente relacionado ao nível da
taxa de juros. Com taxas de juros mais altas, menos projetos de investimento têm um retorno
esperado alto o bastante para justificar a contratação de empréstimos para financiá-los. Essa
ligação será importante no Capítulo 6. Por enquanto, como não explicamos como a taxa de juros
é determinada no modelo keynesiano, vamos deixar de lado o efeito da taxa de juros sobre o
investimento e concentrar-nos no segundo fator que determina o investimento: o retorno
esperado de projetos de investimento.
As expectativas dos administradores das firmas quanto à rentabilidade futura de projetos de
investimento são um elemento central da análise keynesiana. Keynes enfatizou o “conhecimento
incerto” em que é preciso basear as expectativas sobre o futuro. Para prever a rentabilidade de
um projeto que gerará produto durante 20 ou 30 anos, um administrador precisa de muito
conhecimento sobre o futuro. Ele precisa conhecer a demanda futura pelo produto, o que requer
conhecimento dos gostos futuros dos consumidores e do estado da demanda agregada. Precisa
de conhecimento sobre custos futuros, incluindo salários monetários, taxas de juros e alíquotas
de impostos; não há como fazer uma previsão bem fundamentada dessas variáveis para 20 ou 30
anos no futuro.
Mesmo assim, decisões de investimento são tomadas. Keynes achava que administradores
racionais, vendo-se diante da necessidade de tomar decisões sob incerteza extrema, formavam
expectativas usando as técnicas a seguir:
1. Eles tendiam a extrapolar tendências passadas para o futuro, ignorando possíveis mudanças
futuras, a menos que houvesse informações específicas sobre alguma mudança esperada.
2. “Sabendo que nossa própria opinião individual não tem valor, procuramos recorrer à
opinião do resto do mundo, que, talvez, seja mais bem informado. Ou seja, procuramos
conformar-nos ao comportamento da maioria ou da média. A psicologia de uma sociedade
de indivíduos, cada um deles procurando copiar os outros, leva ao que podemos chamar
rigorosamente de opinião convencional. ”12
Keynes acreditava que uma expectativa formada dessa maneira teria a seguinte característica.
Em particular, por ser apoiada em uma base tão frágil, ela está sujeita a mudanças súbitas e
violentas. A prática da calma e da imobilidade, da certeza e da segurança, de repente se
rompe. Novos temores e esperanças virão se apossar, sem aviso prévio, da conduta humana.
As forças da desilusão podem subitamente impor uma nova base convencional de avaliação.
Todas essas técnicas bonitas e bem-comportadas, feitas para uma sala de reuniões bem
decorada, podem entrar em colapso. Em todos os momentos, os vagos temores de pânico e
as esperanças igualmente vagas e desarrazoadas não estão de fato apaziguados e
permanecem logo abaixo da superfície.13
O primeiro termo, 1/(1 – b), é chamado de multiplicador dos gastos autônomos. Note-se
que b é a fração de qualquer incremento da renda disponível que vai para consumo: a propensão
marginal a consumir (PMgC). O termo 1/(1 – b) ou 1/(1 – PMgC) é, então, 1 dividido por uma
fração e, assim, um número maior do que 1. Alguns exemplos são os seguintes:
Gastos autônomos
Gastos determinados em grande medida por fatores
que não a renda corrente.
A teoria de Keynes em sua forma mais simples pode ser expressa da seguinte maneira. O
consumo é uma função estável da renda; ou seja, a PMgC é estável. Mudanças na renda derivam
principalmente de mudanças nos componentes autônomos da demanda agregada, em especial de
mudanças no instável componente investimento. Uma dada mudança em um componente
autônomo da demanda agregada causa uma mudança maior na renda de equilíbrio devido ao
multiplicador, por razões que explicaremos adiante. A equação (5.15) deixa claro que, na
ausência de políticas governamentais para estabilizar a economia, a renda será instável por causa
da instabilidade do investimento. Na equação (5.15) pode-se ver também que, por meio de
mudanças apropriadas nos gastos governamentais (G) e nos impostos (T), o governo poderia
contrabalançar os efeitos de mudanças no investimento. Mudanças apropriadas em G e T
poderiam manter a soma dos termos entre parênteses (gastos autônomos) constante mesmo
diante de mudanças indesejáveis no termo I.
ou
Uma mudança de 1 unidade no investimento causa uma mudança na renda de 1/(1 – b)
unidades. Se b for 0,8, por exemplo, Y muda 5 unidades para cada mudança de 1 unidade no
investimento. Por que a renda muda por um múltiplo da mudança no investimento e por que a
quantidade precisa de 1/(1 – b)?
Uma analogia para o processo subjacente ao multiplicador é o “efeito cascata” de uma pedra
jogada em um lago. Há o efeito inicial quando a pedra perturba a água. Soma-se a isso o efeito
no resto da superfície quando a água deslocada pela pedra espalha-se pelas águas contíguas, com
uma intensidade que diminui com a distância do ponto de impacto inicial. A mudança no
investimento é a perturbação inicial; vamos supor que isso seja igual a 100 unidades. À medida
que algumas firmas experimentam um aumento da demanda como resultado desse investimento
maior, seu produto aumenta. Em consequência, seus pagamentos a fatores de produção (salários,
aluguéis, juros, dividendos) aumentam. Para as famílias, isso representa um aumento na renda e,
como os impostos são fixos, um aumento igual na renda disponível. O consumo, então,
aumentará, embora menos que o aumento na renda. Esse é o início dos efeitos indiretos do
choque. Com ΔI igual a 100 como supusemos, se a PMgC fosse 0,8, por exemplo, haveria agora
80 unidades adicionais de demanda por parte dos consumidores.
O processo não para aí; as 80 unidades de novos gastos de consumo, com o aumento
resultante na produção, geram uma segunda rodada de aumento na renda para as famílias, de 80
unidades. Haverá um novo aumento na demanda por consumo (64 unidades se o PMgC for 0,8).
Assim, a razão pela qual a renda sobe mais que o crescimento autônomo do investimento é que o
aumento nos investimentos leva a aumentos induzidos na demanda por consumo à medida que a
renda aumenta.
Por que o aumento na renda por unidade monetária de investimento é exatamente igual a 1/(1
– b)? Com os outros elementos de gastos autônomos mantidos fixos, podemos escrever a
mudança na renda de equilíbrio quando o investimento varia como
A equação (5.19) também resulta de nossa segunda maneira de expressar a condição para a
renda de equilíbrio:
Por exemplo, se b for igual a 0,8, a propensão marginal a poupar (PMgS = 1 – b) é igual a
0,2. Cada aumento de um real na renda gerará 20 centavos de aumento na poupança, e será
necessário um aumento de 5 reais na renda para gerar 1 real de nova poupança de modo a
equilibrar um aumento de 1 real no investimento. O valor do multiplicador nesse caso é 5.
O efeito de um aumento no investimento autônomo é ilustrado na Figura 5.6. Inicialmente,
com o investimento em I0 e os gastos governamentais e impostos em G0 e T0, a renda de
equilíbrio está em Y0. Agora, suponhamos que o investimento aumente para o nível mais alto I1.
A curva da demanda agregada (E) desloca-se para cima pela quantidade (ΔI = I1 – I0), de E0 (=
C + I0 + G0) para E1 (= C + I1 + G0). A curva (I + G) desloca-se a mesma quantidade para cima.
O equilíbrio é restaurado em Y1, onde a renda é agora igual ao valor mais alto da demanda
agregada. Note-se que o aumento na renda é igual ao aumento inicial no investimento mais um
aumento induzido no consumo (ΔC), como é mostrado no gráfico. Note-se também que, no novo
equilíbrio, a poupança aumentou a mesma quantidade que o investimento (ΔS = ΔI).
O conceito do multiplicador é central na teoria de Keynes, porque explica como
deslocamentos no investimento causados por mudanças nas expectativas das firmas
desencadeiam um processo que faz variar não só o investimento, mas também o consumo. O
multiplicador mostra como choques em um setor são transmitidos por toda a economia. A teoria
de Keynes também implica que outros componentes de gastos autônomos afetam o nível geral
da renda de equilíbrio. O efeito sobre a renda de equilíbrio de uma mudança em cada um dos
elementos de gastos autônomos controlados por políticas públicas – gastos governamentais e
impostos – pode ser calculado pela equação (5.15).
Um aumento nos impostos de T0 para T1 desloca a curva de gastos agregados para baixo na parte a, de (C + I + G)0 para (C + I +
G)1, para o ponto de equilíbrio B, uma vez que os impostos estão no intercepto. A renda de equilíbrio cai de Y0 para Y1. Na parte
b, começando no ponto de equilíbrio A, a curva de poupança mais impostos desloca-se para cima, de S + T0 para S + T1. O
equilíbrio move-se de A para B.
Para os gastos do governo, um aumento de um real tem o mesmo efeito que um aumento de 1
real no investimento. Ambos são aumentos de 1 real em gastos autônomos. O processo
multiplicador, pelo qual o aumento inicial na renda gera aumentos induzidos no consumo, é o
mesmo para um aumento nos gastos do governo e no investimento.
Em termos da Figura 5.6, na parte a, um aumento nos gastos do governo de ΔG deslocaria a
curva de gastos para cima pela mesma quantidade que um aumento igual no investimento. Nesse
caso, o intercepto se deslocaria para cima devido a um aumento nos gastos do governo. Na parte
b, um aumento nos gastos do governo de ΔG deslocaria a curva I + G para cima de I0 + G0 para
I0 + G1, a mesma quantidade que um aumento igual no investimento. Em ambas as figuras, ΔY
será o mesmo, Y0 para Y1.
Pela equação (5.22), vimos que o efeito de um aumento nos impostos tem direção oposta aos
efeitos de um aumento nos gastos governamentais ou no investimento. Um aumento nos
impostos reduz o nível de renda disponível (Y – T) em qualquer nível de renda nacional (Y). Esse
efeito desloca a curva de demanda agregada para baixo, porque reduz os gastos com consumo
em qualquer nível de renda nacional. O efeito de um aumento dos impostos sobre a renda de
equilíbrio é ilustrado na Figura 5.7. Supomos que os impostos subam ΔT, de T0 para T1. A curva
de demanda agregada desloca-se para baixo de (C + I + G)0 para (C + I + G)1. Isso é
consequência do deslocamento para baixo da função consumo causado pela elevação dos
impostos de T0 para T1. A renda de equilíbrio cai de Y0 para Y1.
Note-se que a curva de demanda agregada desloca-se para baixo em (–bΔT), ou seja, apenas
uma fração (b) do aumento nos impostos. A razão é que, em um dado nível de renda, um
aumento de 1 real nos impostos reduz a renda disponível em 1 real, mas diminui o componente
consumo da demanda agregada em apenas b reais. O restante do declínio da renda disponível é
absorvido por uma queda de (1 – b) reais na poupança. Ao contrário de mudanças nos gastos
governamentais e no investimento, que têm um efeito “um para um” sobre a demanda agregada
autônoma, uma mudança de uma unidade monetária nos impostos desloca a curva de demanda
agregada apenas por uma fração (–b) da unidade monetária. Essa fração (–b) vezes o
multiplicador dos gastos autônomos, 1/(1 – b), dá o efeito sobre a renda de equilíbrio de uma
mudança de uma unidade monetária nos impostos, –b/(1 – b).
Há uma relação entre os valores absolutos dos multiplicadores dos impostos e dos gastos do
governo, que pode ser observada nos exemplos a seguir:
Partindo do ponto de equilíbrio A na parte a, um declínio nos gastos autônomos em investimentos de I0 para I1 desloca a curva
de gastos agregados para baixo, de EP = (C + I0 + G0) para EL = (C + I1 + G0), movendo o sistema para o ponto de equilíbrio
B. Um aumento compensatório nos gastos discricionários do governo de G0 para G1 desloca a curva de gastos agregados de volta
para o ponto de equilíbrio A, onde (C + I1 + G1) = Ep = (C + I0 + G0). A renda de equilíbrio está novamente em Yp.. Na parte b,
partindo do ponto de equilíbrio A, o declínio nos gastos autônomos em investimentos desloca a curva I + G para baixo, de I0 +
G0 para I1 + G0, movendo o equilíbrio para o ponto B e reduzindo a renda de YP para YL. Um aumento compensatório nos
gastos discricionários do governo de G0 para G1 desloca a curva I + G para cima, para I1 + G1 retornando ao ponto de equilíbrio
A e elevando a renda de volta para Yp.
Como a renda de equilíbrio é afetada por mudanças nos gastos governamentais e nos
impostos, esses instrumentos de política fiscal podem ser alterados de várias maneiras para
estabilizar o total dos gastos autônomos e, assim, a renda de equilíbrio, mesmo que o
componente investimento seja instável.
Um exemplo de política de estabilização fiscal é ilustrado na Figura 5.8. Considera-se que a
economia esteja em equilíbrio em um nível potencial Yp, com a demanda agregada em Ep igual a
(C + I0 + G0). Suponhamos que, a partir desse ponto, o investimento autônomo decline de I0
para I1, como resultado de uma mudança desfavorável nas expectativas das firmas. Na ausência
de uma ação de política, a demanda agregada declina para EL, igual a (C + I1 + G0). O novo
nível da renda de equilíbrio está abaixo do produto potencial, YL.
Dentro do modelo, uma resposta de política fiscal apropriada seria aumentar os gastos
governamentais em um grau suficiente para restaurar o equilíbrio em Yp. No gráfico, uma
elevação dos gastos do governo de G0 para G1 desloca a curva de demanda agregada para cima,
de volta para Ep, agora igual a (C + I1 + G1). Alternativamente, seria possível usar uma redução
dos impostos para recuperar o nível inicial da demanda agregada. Como o multiplicador dos
impostos é menor, o corte apropriado nos impostos seria maior que o aumento dos gastos
necessário.
onde, por não desempenharem nenhum papel essencial em nossa análise aqui, deixamos de
fora os impostos e, portanto, não é preciso fazer a distinção entre PIB (Y) e renda disponível (YD
= Y – T). Para calcular o produto de equilíbrio no caso da economia aberta, precisamos
especificar os determinantes de importações e exportações.
Para simplificar nossa análise, consideramos que as importações consistam unicamente em
bens de consumo. A demanda por importações dependeria da renda e teria um componente
autônomo.
O parâmetro u representa o componente autônomo das importações. O parâmetro v é a
propensão marginal a importar, ou seja, o aumento na demanda por importações por unidade de
aumento no PIB, que é um conceito análogo à PMgC (b) em (5.24).16
A demanda por exportações domésticas é parte da demanda estrangeira por importações. A
demanda estrangeira por importações depende do nível de renda estrangeira e é determinada por
uma função demanda por importações análoga à equação (5.25). Pela perspectiva doméstica, a
renda estrangeira e, assim, a demanda por exportações locais são exógenas.
Variáveis adicionais que esperaríamos que influenciassem tanto a demanda doméstica por
importações como a demanda estrangeira por exportações domésticas são os níveis de preços
relativos nos dois países e o nível da taxa de câmbio. Essas variáveis determinam os custos
relativos dos produtos dos dois países para seus residentes. Note-se que estamos considerando
que os níveis de preços e a taxa de câmbio sejam fixos. Os efeitos sobre importações e
exportações de mudanças no nível de preços ou na taxa de câmbio são estudados na Parte IV.
Com as importações dadas pela equação (5.25) e as exportações consideradas exógenas,
podemos calcular a renda de equilíbrio pela equação (5.23), como se segue:
Para examinar os efeitos do comércio exterior no modelo, comparamos a equação (5.26) com
a expressão equivalente para a renda de equilíbrio do modelo de economia fechada, a equação
(5.14). Essa expressão, omitindo a variável de impostos (T), pode ser escrita como
e
Por essas expressões, pode-se observar que, quanto mais a economia for aberta para o
comércio exterior (quanto maior for v), menor será o multiplicador dos gastos autônomos.
O multiplicador dos gastos autônomos fornece a mudança na renda de equilíbrio por
mudança unitária nos gastos autônomos. Disso decorre, portanto, que, quanto mais aberta for
uma economia (quanto maior for v), menor será a reação da renda a choques de demanda
agregada, como mudanças nos gastos governamentais ou mudanças autônomas na demanda por
investimento. O declínio no valor do multiplicador dos gastos autônomos com a elevação de v
pode ser explicado com referência ao processo multiplicador (Seção 5.5). Uma mudança nos
gastos autônomos – uma mudança nos gastos do governo, por exemplo – terá um efeito direto
sobre a renda e um efeito induzido sobre o consumo, com um novo efeito sobre a renda. Quanto
mais alto for o valor de v, maior a proporção desse efeito induzido que representará uma
mudança na demanda por bens de consumo estrangeiros, não domésticos. Em consequência, o
efeito induzido sobre a demanda por bens domésticos e, assim, sobre a renda doméstica será
menor.17 O aumento nas importações por unidade de renda constitui mais um vazamento do
fluxo circular de renda (doméstica) em cada rodada do processo multiplicador e reduz o valor do
multiplicador dos gastos autônomos.
Agora, consideremos o segundo termo da expressão da renda de equilíbrio no caso da
economia aberta [equação (5.26)], o nível de gastos autônomos. Além dos elementos de uma
economia fechada (a + I + G), os gastos autônomos na economia aberta incluem exportações e o
componente autônomo das importações. Lembremos que os componentes autônomos da
demanda agregada não são diretamente determinados pela renda. Em vez disso, deslocamentos
nos componentes dos gastos autônomos afetam o nível de demanda agregada para um dado
nível de renda e resultam em mudanças na renda de equilíbrio. Assim, mudanças nas
exportações e mudanças autônomas na demanda por importações são choques adicionais que
alterarão a renda de equilíbrio.
Pela equação (5.26), podemos calcular os efeitos multiplicadores de mudanças em X e u.
Conclusão
O modelo apresentado neste capítulo é incompleto. Precisamos levar em conta a moeda e as
taxas de juros e explicar o comportamento de preços e salários antes de completar nossa análise
do sistema keynesiano. No entanto, este modelo simples destaca várias características do
sistema.
O modelo simples ilustra com clareza o papel da demanda agregada na determinação da
renda no sistema keynesiano. Como veremos adiante, ele exagera o papel da demanda agregada.
Seja como for, um aspecto-chave de todos os modelos keynesianos é que a demanda
desempenha um papel crucial na determinação da renda. Na visão keynesiana, mudanças nos
elementos autônomos da demanda agregada, em especial a demanda por investimento, são
fatores fundamentais que causam mudanças no nível de equilíbrio da renda. Por meio do
processo multiplicador, tais mudanças nos gastos autônomos induzem também mudanças nos
gastos com consumo. O investimento inadequado, e um consequente nível baixo de demanda
agregada, foram a explicação keynesiana para o desemprego maciço na Depressão da década de
1930.
O modelo também ilustra o papel da política de estabilização fiscal na administração da
demanda agregada para proteger o produto de equilíbrio de deslocamentos na instável demanda
por investimento. Embora as expressões simples que derivamos para os multiplicadores dos
gastos do governo e dos impostos requeiram modificações, os princípios que as fundamentam
permanecem intactos.
Além disso, este capítulo examinou o papel de importações e exportações no modelo
keynesiano simples. Mudanças exógenas nesses componentes da demanda agregada são fatores
adicionais que alteram a renda de equilíbrio. Vimos também que a abertura da economia afeta o
valor do multiplicador dos gastos autônomos e, assim, a vulnerabilidade da economia tanto a
mudanças estrangeiras como domésticas nos gastos autônomos.
Questões de revisão
1. Explique como as origens da revolução keynesiana podem ser encontradas no problema do
desemprego.
2. Interprete cada uma das três maneiras de expressar a condição da renda de equilíbrio no
modelo keynesiano simples [equações (5.2), (5.5) e (5.6)]. Explique por que as três maneiras
são equivalentes.
3. Explique a diferença entre investimento realizado e investimento desejado. Em qual
componente do investimento ocorre a discrepância entre os dois totais?
4. Explique a teoria de Keynes sobre como as expectativas afetam a demanda por investimento.
Como essa teoria se relaciona à noção de Keynes de que a demanda agregada seria instável
na ausência de políticas de estabilização governamentais?
5. Considere os números da Tabela 5.1 que apresentam o consumo como uma porcentagem da
renda em anos prósperos (1929, 1955, 1973, 1979, 1989, 2000, 2006) comparados a anos de
recessão (1933, 1958, 1975, 1982, 1991, 2001, 2008). Note que, em todos os casos, o
consumo é mais alto como porcentagem da renda nos anos de recessão. Seria esse o
resultado previsto com base na função consumo de Keynes dada pela equação (5.9)?
Explique.
6. No modelo keynesiano simples, um aumento de 1 unidade monetária nos gastos autônomos
fará a renda de equilíbrio aumentar por um múltiplo desse aumento de 1 unidade. Explique o
processo pelo qual isso acontece.
7. Explique detalhadamente por que o multiplicador dos impostos [ΔY/ΔT = –b/(1 – b)] é
negativo e por que ele é menor em valor absoluto que o multiplicador dos gastos
governamentais [ΔY/ΔG = 1/(1 – b)].
8. Suponha que, para uma determinada economia e período, o investimento fosse igual a 100,
os gastos governamentais fossem iguais a 75, os impostos líquidos fossem fixos em 100 e o
consumo (C) fosse dado pela função consumo
C = 25 + 0,8YD
onde YD é a renda disponível e Y é o PIB.
a. Qual é o nível da renda de equilíbrio (Y)?
b. Qual é o valor do multiplicador dos gastos governamentais (ΔY/ΔG)? E do multiplicador
dos impostos (ΔY/ΔT)?
c. Suponha que o investimento tenha declinado 40 unidades, para um nível de 60. Qual será o
novo nível da renda de equilíbrio?
9. Suponha que a renda de equilíbrio fosse inicialmente 200 unidades e que esse fosse também
o nível de renda de pleno emprego. Considere que a função consumo seja
C = 25 + 0,8D
e que, partindo desse nível de equilíbrio inicial, tenhamos agora um declínio no investimento
de 8 unidades. Qual será o novo nível de equilíbrio da renda? Que aumento nos gastos
governamentais seria necessário para levar a renda de volta ao nível inicial de 200?
Alternativamente, que redução na arrecadação tributária seria suficiente para restaurar o
nível de renda de 200?
10. Suponha que os gastos governamentais tenham aumentado em 10 unidades e que esse
aumento tenha sido financiado por um aumento de 10 unidades nos impostos. A renda de
equilíbrio mudaria ou permaneceria a mesma como resultado dessas duas ações de política?
Se a renda de equilíbrio mudar, em que direção ela se moveria e quanto? Explique.
11. Suponha que, em vez de um nível de impostos fixo, tivéssemos um imposto de renda tal que
T = T1Y
onde T1 fosse a alíquota do imposto de renda. Seguindo o procedimento da Seção 5.4, derive
uma expressão para a renda de equilíbrio Y análoga à equação (5.14) para este caso em que o
nível de arrecadação tributária depende da renda. Qual é a expressão equivalente ao
multiplicador dos gastos autônomos [1/(1 – b)] para este caso de um imposto de renda?
12. Na pergunta 8, suponha que, partindo da posição de equilíbrio inicial (investimento igual a
100, gastos governamentais iguais a 75 e impostos líquidos fixos em 100), houvesse uma
queda autônoma no consumo e um aumento na poupança de modo que a função consumo se
deslocasse de
C = 25 + 0,8YD
para
C = 5 + 0,8YD
a. Calcule a mudança na renda de equilíbrio resultante desse aumento autônomo na
poupança.
b. Calcule o nível de poupança antes e depois do deslocamento do consumo e, portanto, a
função poupança. Como você explica esse resultado?
13. Suponha que, na versão de economia aberta do modelo keynesiano na Seção 5.7, incluamos
agora os impostos. A renda disponível (YD = Y – T), portanto, substitui o PIB (Y) na função
consumo (5.24). Calcule a expressão da renda de equilíbrio para essa versão do modelo de
economia aberta. Calcule uma expressão para o multiplicador dos impostos (ΔY/ΔT) no
modelo.
14. Na versão da economia aberta do modelo keynesiano, incluindo impostos (ver pergunta 13),
suponha que ocorra um aumento autônomo nas importações de 20 unidades [u na equação
(5.25) tem um aumento de 20]. Para contrabalançar os efeitos dessa contração na demanda
agregada doméstica, suponha que o governo corte os impostos em 20 unidades. A renda de
equilíbrio aumentará ou diminuirá? Quanto? Explique.
CAPÍTULO 6
O sistema keynesiano (II): moeda, juros e renda
FIG 6.1 Efeito de uma redução da taxa de juros sobre o investimento e a renda de equilíbrio
Na parte a, quando a taxa de juros cai de r0 para r1, o investimento sobe de I0 para I1. Na parte b, esse aumento no investimento,
ΔI, desloca a curva de gastos agregados para cima, uma vez que o intercepto é maior, de E0 =C + I0 + G0 para E1 = C + I1 + G0.
A renda sobe de Y0 para Y1.
A Figura 6.1a ilustra a ideia de que o investimento está negativamente relacionado à taxa de
juros. À taxa de juros r0, o investimento é I0 no ponto A da curva de investimento. Se a taxa de
juros cair para r1, o investimento aumenta para I1 no ponto B. Olhando a Figura 6.1b, como o
investimento é um componente dos gastos agregados, a curva de gastos desloca-se para cima, do
ponto de equilíbrio A para o ponto de equilíbrio B, e a renda de equilíbrio aumenta de Y0 para
Y1.
Em nossos modelos, representamos o efeito das taxas de juros sobre os gastos agregados
como um efeito em I, o componente de investimento dos gastos agregados. Deve-se ter em
mente, porém, o que foi discutido nesta seção. Para captar plenamente os efeitos das taxas de
juros sobre os gastos agregados, precisamos definir investimento de forma ampla, incluindo os
outros componentes dos gastos agregados examinados aqui.
6.1.2 A teoria keynesiana da taxa de juros
A próxima relação que examinaremos é entre a quantidade de moeda e a taxa de juros.
Keynes acreditava que a quantidade de moeda desempenhava um papel fundamental na
determinação da taxa de juros e estruturou sua teoria de modo a destacar esse papel.
A taxa de juros de equilíbrio para os títulos é a taxa em que a demanda por títulos é igual ao
estoque de títulos existente. Pareceria muito natural desenvolver uma teoria da taxa de juros de
equilíbrio estudando os fatores que determinam diretamente a oferta e a demanda por títulos.
Keynes não fez assim. Note que, dada a equação (6.1), há apenas uma decisão independente com
relação à carteira de ativos, que é a divisão entre moeda e títulos. Se, para um indivíduo, a
riqueza for igual a $50.000, a decisão de manter $10.000 em forma de moeda determina
implicitamente que os $40.000 restantes serão mantidos em forma de títulos. Em termos de
posições de equilíbrio, isso significa que uma pessoa que esteja satisfeita com o nível de seu
estoque de moeda em relação à riqueza total está, por definição [equação (6.1)], satisfeita com
seu estoque de títulos; essa pessoa está na distribuição ótima de riqueza entre os dois tipos de
estoque de valor.
Dizer, por exemplo, que a demanda por moeda excede a oferta é dizer, no agregado, que o
público está tentando aumentar a proporção de riqueza mantida em forma de moeda. Isto é, por
definição, o mesmo que dizer que a oferta de títulos excede a demanda; o público está tentando
reduzir a proporção de riqueza mantida em forma de títulos.
Em consequência, há duas maneiras equivalentes de descrever a taxa de juros de equilíbrio:
como a taxa que iguala a oferta e a demanda por títulos ou, alternativamente, como a taxa que
iguala a oferta e a demanda por moeda. O equilíbrio em um mercado implica equilíbrio no outro.
Keynes escolheu a segunda dessas perspectivas, porque queria enfatizar a relação entre moeda e
taxa de juros.
Essa concepção keynesiana da determinação da taxa de juros é ilustrada na Figura 6.2.
Considera-se que a oferta de moeda seja fixada exogenamente pelo Banco Central em .A
taxa de juros de equilíbrio é r0, a taxa em que a demanda por moeda, dada pela curva de
demanda por moeda Md no gráfico, é exatamente igual à oferta fixa de moeda.
Em um sentido mais fundamental, a taxa de juros de equilíbrio é determinada por fatores que
afetam a oferta e a demanda por moeda. No caso da oferta, o principal fator serão as políticas do
Banco Central. Voltamo-nos agora para os fatores que Keynes acreditava que determinassem a
demanda por moeda, os fatores que determinam a posição e a inclinação da curva Md na Figura
6.2.
No sistema keynesiano, a taxa de juros de equilíbrio (r0) é a taxa de juros que iguala a oferta
e a demanda por moeda.
O retorno da moeda é zero, porque ela não rende juros (nosso pressuposto até aqui) e porque
seu valor não está sujeito a ganhos ou perdas de capital associados a mudanças na taxa de juros.2
O título pagará uma taxa de juros r. O retorno esperado dos títulos será igual a essa taxa de juros
mais ou menos qualquer ganho ou perda de capital esperados. Por razões discutidas acima, um
investidor que previsse uma queda nas taxas de juros esperaria ter um ganho de capital,
enquanto um investidor que previsse um aumento das taxas de juros esperaria ter uma perda de
capital. Essa incerteza sobre o curso futuro das taxas de juros é crucial para a análise de Keynes.
Suponhamos que um investidor acredite que as taxas de juros irão cair. Os títulos têm,
portanto, o retorno esperado maior. Eles pagam juros e a expectativa é de que gerem ganho de
capital. Se houver uma expectativa de elevação das taxas de juros, porém, é possível que a perda
de capital esperada dos títulos seja maior que os ganhos com juros. O retorno esperado dos
títulos seria negativo nesse caso e a moeda seria o ativo preferido. A moeda mantida devido a
uma expectativa de queda dos preços dos títulos (um aumento das taxas de juros) é a demanda
especulativa por moeda de Keynes.
Até este ponto, temos uma relação entre a quantidade de moda demandada e as mudanças
futuras esperadas nas taxas de juros. Keynes converte isso em uma relação entre a demanda por
moeda e o nível da taxa de juros por meio de um pressuposto sobre como as pessoas formam
expectativas quanto a mudanças futuras na taxa de juros. Ele pressupõe que os investidores
tenham uma concepção relativamente fixa da taxa de juros normal. Quando a taxa de juros
efetiva está acima da taxa normal, os investidores esperam que a taxa de juros caia. Quando a
taxa de juros está abaixo da taxa normal, eles esperam que ela suba. Dado esse pressuposto
sobre como expectativas referentes a taxas de juros são formadas, podemos desenvolver uma
relação entre o nível da demanda especulativa por moeda e a taxa de juros. Faremos isso, em
primeiro lugar, para um investidor individual e, depois, examinaremos a relação agregada
correspondente.
Para o investidor individual, a curva de demanda por saldos especulativos é mostrada na
Figura 6.3a. Aqui, Mi2 representa a demanda especulativa por moeda do indivíduo i e Mi1 é a
demanda para transações dessa pessoa. Temos, então,
e
onde Mi, Bi e Whi são os estoques totais de moeda, os estoques de títulos e a riqueza do
indivíduo, respectivamente.
Seguindo a teoria de Keynes, considera-se que o indivíduo tenha uma noção preconcebida da
taxa de juros normal. Essa taxa é mostrada como rin na Figura 6.3a. Como a taxas acima de
rinespera-se que a taxa de juros caia, a essas taxas os títulos serão preferíveis à moeda como
ativo. A demanda especulativa por moeda será zero e os estoques de títulos serão iguais a (Whi –
Mi1). A demanda especulativa por moeda também será zero para taxas de juros dentro de uma
certa faixa abaixo de rin. Se a taxa de juros não estiver muito abaixo de rin, os ganhos com juros
sobre o título serão maiores que a pequena perda de capital esperada. A perda de capital
esperada será pequena porque apenas uma pequena elevação de r será esperada quando a taxa
retornar a rni.
Há um nível da taxa de juros abaixo de rin, porém, em que a perda de capital esperada dos
títulos, que aumenta conforme a taxa de juros declina abaixo de rin, igualará os ganhos com
juros dos títulos. Chamamos esse valor de taxa de juros crítica (ric) do indivíduo. Abaixo dessa
taxa, a moeda será preferida. O indivíduo venderá títulos e manterá saldos especulativos de (Whi
– Mi1), o que significa que toda a riqueza dessa pessoa será mantida em moeda.
Keynes considerava que diferentes indivíduos tinham noções diferentes quanto ao que seria
uma taxa de juros normal. Por exemplo, conforme a taxa de juros caísse a partir de uma taxa
muito alta em que houvesse muito pouca demanda especulativa, ela desceria sucessivamente
para níveis abaixo das taxas críticas dos diferentes investidores. Quanto mais baixa a taxa de
juros, mais investidores julgariam que, dada a sua concepção da taxa de juros normal, a moeda
seria o ativo preferível. A uma taxa de juros muito baixa, quase todos os investidores esperariam
uma elevação substancial da taxa de juros no futuro (r<ric) e a moeda seria quase unanimemente
preferida como ativo. Procedendo dessa maneira, construímos a demanda agregada por saldos
especulativos de moeda mostrada na Figura 6.3b.
A curva é suave, refletindo o aumento gradual da demanda especulativa por moeda à taxas de
juros sucessivamente mais baixas. A curva vai ficando plana em uma taxa de juros muito baixa,
o que mostra que, a essa taxa baixa, há uma expectativa geral de perdas de capital com os títulos
que superam os ganhos com juros. Nessa taxa, os incrementos à riqueza seriam mantidos em
forma de moeda, sem queda adicional na taxa de juros. Keynes chamou essa situação de
armadilha da liquidez. Na maior parte do tempo, porém, pressupõe-se que estejamos na parte
de inclinação negativa da curva de demanda especulativa por moeda.
Armadilha da liquidez
Situação em uma taxa de juros muito baixa em que a
curva de demanda especulativa por moeda torna-se
quase horizontal.
onde Y é a renda e r é a taxa de juros. Uma elevação da renda aumenta a demanda por moeda;
uma elevação da taxa de juros diminui a demanda por moeda. Na análise a seguir, faremos às
vezes a suposição simplificadora de que a função demanda por moeda seja linear:
A equação (6.4) considera que podemos traçar a função demanda por moeda como uma reta
em nossos gráficos. O parâmetro c1 fornece o aumento na demanda por moeda por aumento
unitário da renda e c2 dá a magnitude do declínio da demanda por moeda por aumento unitário
da taxa de juros.
(a) Aumentos na renda de Y0 para Y1 para Y2 deslocam a curva de demanda por moeda de Md(Y0) para Md(Y1), depois para
Md(Y2). O equilíbrio no mercado monetário requer taxas de juros sucessivamente mais altas r0,r1, r2 a níveis de renda mais altos
Y0, Y1, Y2. (b) A curva LM mostra combinações de renda (Y) e taxa de juros (r) que equilibram o mercado monetário.
Combinações de equilíbrio como (r0, Y0), (r1, Y1) e (r2, Y2) da parte a são pontos da curva LM (A, B, C). Como vimos na parte
a, em níveis mais altos de renda, são necessárias taxas de juros mais altas para o equilíbrio do mercado monetário; a curva LM
inclina-se para cima e para a direita.
A curva de demanda por moeda muito inclinada na parte a reflete o pressuposto de que a elasticidade-juros da demanda por
moeda é baixa (em valor absoluto). Com uma baixa elasticidade-juros da demanda por moeda, a curva LM é relativamente
inclinada. Na parte b, considera-se que a elasticidade-juros da demanda por moeda seja alta e, como resultado, a curva de
demanda por moeda é relativamente plana. A curva LM nesse caso também é relativamente plana.
Para um dado aumento da demanda por moeda induzido pela renda (um dado c1), o tamanho
do aumento necessário da taxa de juros para levar a demanda total por moeda de volta ao valor
da oferta de moeda fixa depende de quanto a demanda por moeda é elástica (sensível) em
relação a mudanças na taxa de juros.3 Na equação (6.4), a elasticidade-juros da demanda por
moeda depende do valor de c2, que determina a variação na demanda por moeda para uma dada
mudança na taxa de juros (–c2 = ΔMd/Δr). A relação entre a elasticidade-juros da demanda por
moeda e a inclinação da curva LM é ilustrada na Figura 6.6.
A parte a da figura mostra o caso de uma baixa elasticidade-juros da demanda por moeda. A
curva de demanda por moeda é bastante inclinada, indicando que grandes mudanças na taxa de
juros não alterarão de modo muito significativo o nível de demanda por moeda. Para ver como a
inclinação da curva LM está relacionada à elasticidade-juros da demanda por moeda,
examinemos como o equilíbrio do mercado monetário muda a níveis de renda progressivamente
mais altos. Aumentos da renda de Y0 para Y1 e, depois, para Y2 deslocarão a curva de demanda
por moeda para a direita na Figura 6.6a, de Md(Y0) para Md(Y1), depois para Md(Y2). Esses
aumentos da renda produzem aumentos da demanda por moeda para transações equivalentes a c1
(Y1 – Y0) e c1 (Y2 – Y1), respectivamente. Como um determinado aumento da taxa de juros não
reduzirá muito a demanda por moeda (c2 é pequeno), a taxa de juros terá de subir muito para
reduzir a demanda por moeda de volta ao nível Ms0 fixo. Esse fato reflete-se na curva LM na
Figura 6.6a, que é bastante inclinada.
O caso em que a demanda por moeda tem alta elasticidade-juros é mostrado na Figura 6.6b.
Aqui, a curva de demanda por moeda é pouco inclinada. Uma pequena queda na taxa de juros,
por exemplo, aumenta de modo significativo a demanda por moeda. Aqui também a curva de
demanda por moeda desloca-se para a direita quando a renda aumenta de Y0 para Y1 e, depois,
para Y2. O gráfico é construído de tal forma que o aumento da renda e o valor de c1 da equação
(6.4) são os mesmos que na Figura 6.6a. Assim, os aumentos da demanda por moeda induzidos
pela renda são os mesmos nas Figuras 6.6a e b. Note-se que, na Figura 6.6b, a taxa de juros
precisa subir relativamente pouco para restaurar o equilíbrio do mercado monetário. Como
consequência, a curva LM na Figura 6.6b é relativamente plana. Se a demanda por moeda for
fortemente sensível a mudanças na taxa de juros (c2 é grande), um aumento relativamente
pequeno da taxa de juros compensará os aumentos induzidos pela renda nos saldos de moeda
para transações quando a renda sobe de Y0 para Y1 e, depois, para Y2.
Dois casos especiais de inclinação da curva LM ocorrem quando a elasticidade-juros da
demanda por moeda é zero ou, alternativamente, quando ela é extremamente alta.
Primeiro, vamos examinar o caso em que a demanda por moeda é completamente insensível
aos juros [c2 igual a zero na equação (6.4)]. Partindo de algum equilíbrio inicial, consideremos o
aumento da taxa de juros necessário para reequilibrar o mercado monetário se a renda
aumentasse. O nível mais alto da renda resultaria em um aumento na demanda por moeda para
transações. Com a demanda por moeda completamente insensível a mudanças na taxa de juros,
não há nenhum aumento possível da taxa de juros que possa reduzir a demanda por moeda e
levá-la de volta ao nível fixo da oferta de moeda. Nesse caso, considera-se que uma elevação da
taxa de juros não faça as pessoas nem reduzir a demanda especulativa por moeda nem reduzir os
saldos para transações. Em consequência, só há um nível de renda que pode ser um nível de
equilíbrio. Para ver isso, notemos que, com c2 igual a zero, a equação (6.4) torna-se
Md = c0 + c1Y
e a equação da curva LM (6.5) é dada por
Ms0 = c0 + c1Y
Em consequência, com M fixo em Ms0, para o equilíbrio precisamos ter
Um único nível de renda pode ser um nível de equilíbrio para o mercado monetário.
A curva LM para esse caso é mostrada na Figura 6.7. Referimo-nos a esse caso como o caso
clássico, porque a função demanda por moeda keynesiana quando c2 é igual a zero não difere
substancialmente da função demanda por moeda clássica. Como na teoria clássica (veja a Seção
4.1), a demanda por moeda depende apenas da renda. A característica distintiva da teoria
keynesiana da demanda por moeda é a relação negativa entre demanda por moeda e taxa de
juros.
A curva LM é vertical se a demanda por moeda for completamente insensível aos juros.
O caso extremo alternativo ocorre quando a elasticidade-juros da demanda por moeda torna-
se extremamente grande, aproximando-se do infinito. O que causa isso? Nossa discussão da
teoria keynesiana da demanda especulativa por moeda mostrou que, quando a taxa de juros fica
muito baixa em relação ao que se considera ser a taxa normal, desenvolve-se um consenso de
que é provável um aumento futuro da taxa de juros. Nessa situação, com as perdas de capital
futuras esperadas superando os pequenos ganhos de juros dos títulos, o público tenderia a manter
qualquer aumento da riqueza na forma de saldos em moeda, com uma queda desprezível da taxa
de juros. Nessa faixa da curva de demanda por moeda, a elasticidade-juros da demanda por
moeda torna-se extremamente alta. Esse caso, que Keynes chamou de armadilha da liquidez, é
ilustrado na Figura 6.8. Note-se que, aqui, temos de abandonar a forma linear da função
demanda por moeda. No caso da armadilha da liquidez, estamos considerando uma mudança na
inclinação da função demanda por moeda. A função torna-se muito plana a taxas de juros baixas.
Na Figura 6.8a, consideremos primeiro as curvas de demanda por moeda Md(Y0) e Md(Y1),
correspondentes aos níveis de renda Y0 e Y1 mostrados na Figura 6.8b. Em relação aos níveis de
renda Y2 e Y3, esses são níveis baixos de renda. Consequentemente, Md(Y0) e Md(Y1) estão à
esquerda de Md(Y2) e Md(Y3) na Figura 6.8a.
Nesses níveis baixos de renda, com a oferta de moeda em Ms0, a taxa de juros de equilíbrio é
tão baixa que estamos na porção plana da curva de demanda por moeda. Dentro dessa faixa, um
aumento da renda, de Y0 e Y1, por exemplo, requer apenas uma ligeira elevação da taxa de juros
para restaurar o equilíbrio no mercado monetário; a demanda por moeda é fortemente sensível a
mudanças na taxa de juros. Nessa faixa, a curva LM na Figura 6.8 é quase horizontal.
Em níveis de renda mais altos, entre Y2 e Y3, por exemplo, um aumento da renda exigiria um
aumento maior da taxa de juros para restabelecer o equilíbrio no mercado monetário. Aqui, as
taxas de juros de equilíbrio são tais que não estamos na armadilha da liquidez. A elasticidade-
juros da demanda por moeda é mais baixa nessa parte da curva de demanda por moeda.
FIG 6.10 Deslocamento da curva LM com um deslocamento da função demanda por moeda
Um deslocamento para cima da função demanda por moeda, de Md0(Y0) para Md1 (Y0 na parte a, eleva a taxa de juros de
equilíbrio para um dado nível de renda. A curva LM na parte b desloca-se para cima e para a esquerda, de LM0para LMr.
A equação (6.9) também indica que o investimento depende da taxa de juros e a poupança
depende da renda. Nossa tarefa é encontrar combinações de taxa de juros e renda que igualem o
investimento e a poupança.
A Figura 6.11 ilustra a construção da curva IS para esse caso. Na Figura 6.11a, o
investimento é traçado como uma função negativamente relacionada à taxa de juros; uma
redução da taxa de juros aumentará os gastos com investimentos. A poupança é representada
como uma função positivamente relacionada à renda, com a inclinação sendo a propensão
marginal a poupar (PMgS).
Às taxas de juros r0, r1 e r2, os níveis de investimento serão I0, I1 e I2 na parte a. Para gerar os níveis de poupança S0, S1 e S2
iguais a esses níveis de investimento, a renda precisa estar em Y0, Y1 e Y2, respectivamente. Portanto, as combinações taxa de
juros-renda (r0, Y0), (r1, Y1) e (r2, Y2) são pontos (A, B, C) da curva IS na parte b.
Consideremos uma taxa de juros r0. Para esse nível da taxa de juros, o investimento é a
quantidade I0, conforme mostrado na curva de investimento. Uma quantidade de poupança
exatamente igual a I0 é mostrada como S0 na função poupança. Esse nível de poupança ocorrerá
se a renda estiver em Y0. Assim, para a taxa de juros r0, um ponto de equilíbrio do mercado de
bens estará em Y0. Essa combinação taxa de juros-renda (r0, Y0) é um ponto da curva IS,
mostrado como o ponto A na Figura 6.11b.
Agora, consideremos um valor mais alto da taxa de juros, como r1. À taxa de juros r1, o
investimento será I1, uma quantidade menor que em r0. Para que haja equilíbrio, a poupança
precisa estar em S1, menor que S0. Esse nível de poupança é gerado pelo nível de renda Y1, que é
menor que Y0. Assim, um segundo ponto na curva IS estará em r1 e Y1, o ponto B na Figura
6.11b. Note-se que, para a taxa de juros mais alta, o nível de renda de equilíbrio correspondente
é mais baixo. A curva IS tem uma inclinação negativa. Escolhendo valores adicionais da taxa de
juros, como r2, na Figura 6.11a e encontrando o nível de renda correspondente para o equilíbrio,
Y2, onde I2 = S2, podemos determinar pontos adicionais na curva IS na Figura 6.11b, como o
ponto C. Dessa forma, traçamos o conjunto completo de combinações de níveis de renda e taxa
de juros que equilibram o mercado de bens.
Quando a curva de investimento é bastante inclinada (I) na parte a, uma queda na taxa de juros produzirá um pequeno aumento
no investimento. Na parte b, portanto, é necessário apenas um pequeno aumento da poupança e, assim, da renda para restabelecer
o equilíbrio no mercado de bens. Assim sendo, a curva IS na parte c (IS neste caso) será bastante inclinada. Quando a curva de
investimento é relativamente plana (I’), o investimento aumentará mais com uma queda na taxa de juros. Desse modo, a
poupança e, portanto, a renda precisam ter um aumento maior; a curva IS para esse caso (IS’) será relativamente plana.
Por um raciocínio similar, podemos estabelecer que uma taxa de juros r2 exigirá um nível de
renda Y2 para o equilíbrio do mercado de bens (ponto C na Figura 6.13c). A curva IS completa é
construída prosseguindo dessa maneira.
Podemos agora examinar fatores que causariam um deslocamento da curva IS. A condição de
equilíbrio dada por (6.10) mostra que uma mudança no nível de gastos governamentais (G) ou
no nível de impostos (T) perturbará a posição inicial do equilíbrio do mercado de bens – isto
significa um deslocamento da curva IS. Além disso, uma mudança no investimento autônomo
que desloque a função investimento deslocará a curva IS. Note-se que, em geral, os fatores que
deslocam a curva IS são aqueles que determinavam os gastos autônomos no modelo keynesiano
simples do Capítulo 5.
onde o subscrito r0 no termo ΔY indica que estamos calculando o aumento no valor de Y que
será necessário para manter o equilíbrio no mercado de bens à taxa de juros r0. Esse é o valor do
deslocamento horizontal da curva IS.
Note-se que o valor do deslocamento horizontal da curva IS por aumento unitário de G é [1/(1
– b)], o multiplicador dos gastos autônomos do Capítulo 5. Ao calcular a distância horizontal de
deslocamento da curva, estamos mantendo a taxa de juros constante e, portanto, fixando o
investimento. Quando o investimento é considerado fixo, nosso modelo é idêntico ao do
Capítulo 5. Estamos procurando o aumento da renda que ocorrerá com o investimento fixo, os
gastos do governo subindo e um consequente aumento induzido do consumo. Essa é a mesma
questão analisada no Capítulo 5 e obtemos a mesma resposta.
O ponto de intersecção das curvas IS e LM dá a combinação de taxa de juros e renda (r0, Y0) que produz equilíbrio tanto no
mercado monetário como no mercado de bens.
Conclusão
Neste capítulo, acrescentamos o mercado monetário ao nosso modelo keynesiano. O papel da
moeda e da política monetária no sistema keynesiano foi examinado. Analisamos, então, como o
nível de equilibro da renda e da taxa de juros são determinados simultaneamente no modelo IS-
LM. A próxima tarefa é ver como esses valores de equilíbrio são afetados por variáveis de
política monetária e fiscal e por outros choques ao modelo.
Questões de revisão
1. Explique a teoria keynesiana da determinação da taxa de juros. Que diferenças você vê entre
essa teoria e a teoria clássica da taxa de juros?
2. Como o nível de demanda agregada seria afetado por uma elevação da taxa de juros na teoria
keynesiana? Que componentes seriam afetados mais fortemente?
3. Quais são os três motivos para reter moeda de acordo com a teoria keynesiana da demanda
por moeda? Explique cada motivo.
4. Que propriedade é compartilhada por todos os pontos da curva LM? E pelos pontos da curva
IS?
5. Explique por que a curva IS no modelo IS-LM tem inclinação negativa e a curva LM tem
inclinação positiva.
6. Que fatores determinam a magnitude da inclinação da curva IS? Ou seja, que fatores
determinam se a curva é muito ou pouco inclinada?
7. Que variáveis deslocarão a posição da curva IS? Explique como uma mudança em cada
variável deslocará a curva (para a direita ou para a esquerda).
8. Que fatores determinam a magnitude da inclinação da curva LM? Ou seja, que fatores
determinam se a curva é muito ou pouco inclinada?
9. Descreva o procedimento para derivar a curva IS, como foi feito na Figura 6.13, para o caso
em que, em vez de um nível fixo de impostos (T), tenhamos impostos dependentes da renda:
T = T1Y,
em que t1 é a alíquota marginal do imposto de renda.
A curva IS nesse caso será mais inclinada ou mais plana do que quando o nível dos impostos
é fixo?
10. Suponha que a elasticidade-juros da demanda por investimento seja zero. Qual será a
inclinação resultante da curva IS? Explique.
11. Se o nível de gastos governamentais aumentasse em 50 unidades no modelo IS-LM, como
isso afetaria a posição da curva IS ? Em que direção a curva se deslocaria e de quantas
unidades seria esse deslocamento?
12. Que variáveis deslocarão a posição da curva LM? Explique como uma mudança em cada
variável deslocará a curva (para a esquerda ou para a direita).
13. Que condição é necessária para que a curva LM seja vertical? Que condição é necessária para
o caso extremo oposto, em que um trecho da curva LM torna-se quase horizontal?
14. Por que podemos ter certeza de que, quando os mercados monetário e de bens estão em
equilíbrio, o mercado de títulos também estará em equilíbrio?
15. Explique por que, em um ponto como B na Figura 6.17, há uma pressão para baixo tanto
sobre o nível de produto como sobre a taxa de juros.
APÊNDICE
Investimento (I) mais gastos governamentais (G) é igual a poupança (S) mais impostos (T). Vamos derivar uma forma
linear dessa condição.
No Capítulo 5, a poupança foi representada pela função poupança
Considera-se que o investimento tenha um componente autônomo e dependa negativamente da taxa de juros. Em forma
linear, podemos escrever uma função investimento como se segue:
onde I é o componente autônomo do investimento e I1, é um parâmetro que mede a sensibilidade do investimento aos
juros (isto é, –I1, = ΔI/Δr).1 Consideramos que os níveis de gastos governamentais (G) e os impostos (T) sejam fixados
exogenamente por formuladores de políticas.
Substituindo S pela equação (5.12) e I pela equação (A.1) na equação de IS (6.8), podemos escrever uma equação linear
para IS
Também podemos rearranjar os termos em nossa equação LM (6.5) para que a taxa de juros (r) fique sozinha no lado
esquerdo, com se segue:
As equações (A.3) e (A.4) são curvas IS e LM lineares. Essas duas equações determinam as duas variáveis endógenas no
modelo, renda (Y) e taxa de juros (r). Partindo daqui, vamos examinar as propriedades da curva LM e, depois, da curva IS,
derivando em forma algébrica os resultados gráficos da seção 6.2. Examinaremos por fim a solução dessas duas equações
para os níveis de equilíbrio da renda e da taxa de juros, o que seria análogo à representação gráfica do equilíbrio mostrada
na Figura 6.16.
A.1 A CURVA LM
A INCLINAÇÃO DA CURVA LM
A inclinação da curva LM é a variação em r (movimento para cima no eixo vertical do gráfico IS-LM) por variação
unitária em Y (movimento ao longo do eixo horizontal), mantendo constantes os fatores que determinam a posição da
curva. Pela equação (A.4), calculamos essa inclinação como Δr/ΔY para valores fixos de (c0/c2) e (-Ms/c2), o que dá
A curva LM tem inclinação positiva. Se a expressão da inclinação da curva for grande (pequena), a curva será muito
(pouco) inclinada. Pela equação (A.5), pode-se ver que a curva será mais inclinada quanto maior o valor de c1 e menor o
valor de c2. Isso significa que, quanto mais a demanda por moeda aumentar por aumento unitário da renda (quanto maior
c1,) e quanto menos a demanda por moeda for sensível à taxa de juros (quanto menor c2), mais inclinada será a curva
LM1.
Um aumento da oferta de moeda (Ms) causa um deslocamento para baixo da curva LM; Δr/ΔMs é negativo. Isso é o que
encontramos na Figura 6.9.
O outro fator examinado que deslocaria a curva LM foi um deslocamento da função demanda por moeda, uma mudança no
nível de demanda por moeda para níveis dados da renda e da taxa de juros. Em nossa versão linear do modelo IS-LM, esse
deslocamento da função demanda por moeda é representado como uma mudança no termo c0 na equação (6.5) e, portanto,
em (c0/c2) na equação (A.4). Por exemplo, um aumento em c0 significaria uma maior demanda por moeda nos níveis
dados da renda e da taxa de juros. Pela equação (A.4), podemos ver que, se c0 aumenta, mantendo constantes os outros
termos do lado direito da equação, a taxa de juros também sobe. Isso significa que, conforme ilustrado na Figura 6.10, um
deslocamento para cima da função demanda por moeda deslocará a curva LM para cima e para a esquerda.
A.2 A CURVA IS
A INCLINAÇÃO DA CURVA IS
Para calcular uma expressão para a inclinação da curva IS, consideramos uma vez mais a relação entre r e Y, mantendo
constantes os valores dos termos que determinam a posição da curva [os termos entre colchetes na equação (A.3)]. Pela
equação (A.3), mantendo esses termos constantes, podemos escrever
Como foi explicado na Seção 6.2, a inclinação de IS é negativa. Quanto maior o valor absoluto da inclinação da curva IS,
mais inclinada será a curva. Da equação (A.7), segue-se que a curva IS será mais inclinada quanto maior for (1 – b),
quanto mais alta for a propensão marginal a poupar, e quanto menor for o valor de I1 o parâmetro que mede a
sensibilidade do investimento aos juros.2
FATORES QUE DESLOCAM A CURVA IS
Quando usamos a equação (A.3), é muito conveniente examinar o deslocamento horizontal da curva IS como resultado de
mudanças nos fatores que determinam a posição da curva. Para fazer isso, examinamos como Y muda na equação (A.3)
quando uma das variáveis do lado direito muda, mantendo constantes a taxa de juros e as outras variáveis do lado direito.
Se, mantendo esses outros fatores constantes, um aumento em uma variável elevar (reduzir) Y, isso representa um
deslocamento para a direita (esquerda) da curva IS.
Por exemplo, se o nível de gastos governamentais mudar, pela equação (A.3) calculamos
Este é o mesmo resultado que encontramos na equação (6.11); um aumento dos gastos do governo desloca a curva IS para
a direita. Pela equação (A.3) podemos ver que a expressão análoga para o deslocamento horizontal da curva IS como
resultado de uma mudança dos gastos autônomos (Ī) ou do intercepto da função consumo (a) seria idêntica à equação
(A.8). Um aumento de 1 unidade em cada uma dessas variáveis representaria um aumento nos gastos autônomos de 1
unidade e ambas teriam efeitos idênticos no modelo IS-LM.
Por fim, consideremos o efeito sobre a curva IS de uma mudança nos impostos (T). Pela equação (A.3), calculamos
ou
Como no capítulo [ver equação (6.12)], vemos que um aumento nos impostos reduz a renda (sendo todos os outros fatores
constantes), deslocando a curva IS para a esquerda.
Podemos, então, encontrar o valor de equilíbrio da taxa de juros (r0) substituindo a equação (A.10) ou, alternativamente, a
equação (A.3) na equação LM (A.4). A expressão resultante é
Note-se a diferença entre as equações de IS e LM (A.3 e A.4) e as soluções para os valores de equilíbrio de Y e r (equações
A.10 e A.11). As primeiras equações são relações que devem ser mantidas entre as duas variáveis, com Y e r aparecendo
em ambas as equações. A solução para Y e r de equilíbrio expressa essas variáveis endógenas como dependentes das
variáveis exógenas do modelo. No Capítulo 7, examinaremos como esses valores de equilíbrio de Y e r mudam com
mudanças nas variáveis exógenas. O apêndice ao Capítulo 7 estende essa análise para o modelo linearexaminando aqui.
1 Um parâmetro é um valor dado ou conhecido. Um exemplo de um parâmetro em nossa análise anterior é a PMgS (1 – b)
em (5.12).
2 Note-se também na equação (A.5) que, conforme c2 aproxima-se de zero, o valor da expressão torna-se extremamente
grande, indicando que a curva LM fica vertical. Esse é o chamado caso clássico ilustrado na Figura 6.7. Alternativamente,
conforme c2 se torna extremamente grande, o valor da expressão da inclinação da curva LM aproxima-se de zero, indicando
que a curva LM torna-se plana. Esse é o caso da armadilha da liquidez ilustrado na Figura 6.8. Um caso especial da curva IS
é quando I1 aproximase de zero; o investimento é quase completamente insensível aos juros. Nesse caso, a inclinação da
curva IS, dada pela equação (A.7), torna-se extremamente grande; a curva fica quase vertical.
Questões de revisão
1. Suponha que
C = 60 + 0,8YD
I = 150 - 10r
G = 250
T = 200
Ms = 100
Md = 40 + 0,1Y – 10r
a. Escreva as equações para as curvas IS e LM.
b. Encontre os valores de equilíbrio para a renda (Y0) e a taxa de juros (r0).
2. Suponha que alteremos o modelo do problema 1 de tal modo que o investimento seja
considerado completamente inelástico em relação aos juros; o investimento não depende da
taxa de juros e temos I = 150.
a. Escreva as novas equações para as curvas IS e LM. Mostre as curvas graficamente.
b. Encontre os novos valores de equilíbrio para a renda e a taxa de juros
CAPÍTULO 7
O sistema keynesiano (III): efeitos de políticas econômicas no modelo IS-LM
Neste capítulo, usamos o modelo IS-LM para analisar os efeitos de ações de política
econômica sobre a renda e a taxa de juros. Examinamos também outros fatores que afetam a
renda e a taxa de juros. Os fundamentos para essa análise foram estabelecidos no Capítulo 6. Os
níveis de equilíbrio da renda e da taxa de juros são dados pela intersecção das curvas IS e LM.
Os fatores que alteram esses níveis de equilíbrio são os que deslocam a curva IS ou a curva LM.
Na Seção 7.1, veremos como esses deslocamentos afetam a renda e a taxa de juros quando
consideramos as duas curvas conjuntamente. Na Seção 7.2, vamos ver como a magnitude dos
efeitos de diferentes políticas econômicas depende da inclinação das curvas IS e LM. No
Capítulo 6, foi mostrado que a inclinação das curvas IS-LM depende de vários aspectos do
sistema econômico, sendo o mais importante deles a sensibilidade do investimento e da
demanda por moeda aos juros.
Como o estoque de moeda é fixo, no agregado, o público não pode aumentar seus estoques de
moeda. A tentativa de fazer isso, no entanto, empurrará a taxa de juros para cima, reduzindo a
demanda especulativa por moeda e fazendo os indivíduos reduzirem o montante de saldos para
transações mantidos em qualquer nível de renda. No novo equilíbrio, a taxa de juros deve subir o
suficiente para que a demanda por moeda permaneça inalterada mesmo com a renda mais alta.
No Capítulo 6 mostramos que a distância horizontal do deslocamento da curva IS quando os
gastos do governo aumentam é igual a ΔG [1/(1 - b)], onde ΔG é igual a (G1 - G0). A distância
do deslocamento da curva IS é o aumento dos gastos governamentais vezes o multiplicador dos
gastos autônomos do modelo keynesiano simples (sem mercado monetário). Essa distância é
igual ao montante que a renda teria aumentado nesse modelo simples. Na Figura 7.2, esse
aumento da renda de equilíbrio seria para Y’1. Quando levamos em conta o ajuste necessário no
mercado monetário, podemos ver que a renda sobe menos que isso, para Y1 na Figura 7.2. Por
quê?
A diferença entre o modelo keynesiano simples e o modelo IS-LM é que este último inclui um
mercado monetário. Quando os gastos do governo aumentam, como acabamos de ver, a taxa de
juros precisa subir para manter o equilíbrio no mercado monetário. O aumento da taxa de juros
causará um declínio nos gastos com investimento. O declínio do investimento compensará
parcialmente o aumento da demanda agregada resultante do aumento dos gastos do governo. Em
consequência, o aumento da renda será menor que no modelo keynesiano simples, onde o
investimento era considerado completamente autônomo.
Em seguida, consideremos os efeitos de um aumento na arrecadação de impostos (T)
conforme ilustrado na Figura 7.3. Um aumento na arrecadação tributária de T0 para T1 deslocará
a curva IS para a esquerda, como foi mostrado no Capítulo 6. Na figura, essa situação é
representada como um deslocamento da curva IS de sua posição inicial, IS(T0), para IS(T1).
Como pode ser visto, a renda declina de Y0 para Y1. A taxa de juros cai de r0 para r1.
A renda cai quando os impostos sobem porque o aumento dos impostos reduz a renda
disponível (Y – T) e faz o consumo diminuir. A razão da queda da taxa de juros é semelhante à
do aumento da taxa de juros induzido pela renda quando os gastos governamentais são
aumentados. Quando a renda declina devido ao aumento dos impostos, a demanda por moeda
diminui e a demanda por títulos aumenta. Essa mudança provoca a queda da taxa de juros.
A Figura 7.3 indica que, como no caso de uma mudança nos gastos governamentais, a renda
cai menos que a distância horizontal do deslocamento da curva IS. Como foi explicado no
Capítulo 6, a distância horizontal que a curva IS se desloca com uma mudança nos impostos é
igual a ΔT [-b/(1 - b)], o multiplicador dos impostos do modelo keynesiano simples vezes a
variação nos impostos. Assim, ocorre novamente que, no modelo IS-LM, os multiplicadores de
política fiscal são menores que nossos resultados para o modelo keynesiano simples. Para um
aumento dos impostos, a razão é que a redução da taxa de juros discutida anteriormente fará o
investimento subir, compensando em parte o declínio no consumo causado pelo aumento dos
impostos.
Uma redução dos impostos tem os efeitos opostos aos de um aumento. A curva IS desloca-se
para a direita e tanto a renda como a taxa de juros sobem. Similarmente, um declínio dos gastos
do governo tem efeitos exatamente opostos aos de um aumento nos gastos do governo.
Variáveis de política fiscal não são os únicos fatores que deslocam a curva IS. Qualquer
variação autônoma na demanda agregada terá esse efeito. Uma dessas variações é a mudança
autônoma na demanda por investimento, o que significa um deslocamento da função que mostra
o nível de investimento para cada nível da taxa de juros. Por exemplo, uma mudança desse tipo
ocorreria se, como resultado de algum evento exógeno, a rentabilidade esperada de projetos de
investimento se alterasse.
A Figura 7.4 ilustra os efeitos de um declínio autônomo do investimento. Na parte a, é
mostrada a curva de investimento. A curva inicial é I0(r). O declínio autônomo do investimento
de ΔI_ desloca a curva para a esquerda, para I1(r), reduzindo o investimento em cada taxa de
juros. Na Figura 7.4b, esse declínio autônomo no investimento desloca a curva IS para a
esquerda, de IS(I0) para IS(I1). A renda cai de Y0 para Y1. A taxa de juros diminui de r0 para r1.
A renda declina porque o investimento à taxa de juros inicial caiu (de I0 para I’1 na Figura 7.4a).
Quando a renda cai, ocorre também um declínio do consumo induzido pela renda. A queda da
taxa de juros também é induzida pela renda, como no caso em que examinamos os efeitos de
mudanças na política fiscal. O declínio da renda faz a demanda por moeda cair e a demanda por
títulos subir; em consequência, a taxa de juros cai.
Note que o declínio da taxa de juros faz o investimento se mover no sentido de seu nível
inicial. No novo equilíbrio, o investimento está em I1 na Figura 7.4a, tendo aumentado de I’1
para I1 como resultado da queda da taxa de juros.
É interessante comparar os efeitos de um declínio autônomo do investimento na versão IS-
LM do modelo keynesiano com os efeitos da mesma mudança no modelo clássico analisado na
Seção 4.2. Lá, a taxa de juros desempenhava um papel estabilizador, de modo que uma mudança
no investimento não afetava a demanda agregada. A taxa de juros caía o suficiente para levar a
demanda agregada de volta a seu nível inicial. No modelo IS-LM, o ajuste da taxa de juros é
estabilizador, mas incompleto. Para que a renda ficasse inalterada com um declínio autônomo do
investimento, a taxa de juros teria de cair para o nível r2 na Figura 7.4b. A esse nível da taxa de
juros, a renda estaria no nível original Y0 na nova curva IS, IS(I1). A Figura 7.4a mostra que, no
nível r2, a taxa de juros caiu o suficiente para levar o investimento de volta ao seu nível inicial,
I0. A taxa de juros, porém, cai apenas para r1; a compensação da queda autônoma inicial do
investimento é incompleta.
Há um caso que a compensação é completa, quando a curva LM é vertical. Assim, quando a
curva IS se desloca de IS(I0) para IS(I1), simplesmente nos movemos para baixo na curva LM
vertical até um novo equilíbrio no nível de renda inicial Y0 e com a taxa de juros declinando
para r2. A curva LM vertical foi chamada de caso clássico, assim não deve ser surpresa que essa
situação resulte em conclusões clássicas. Uma explicação desses resultados para a curva LM
vertical é oferecida na próxima seção.
PERSPECTIVAS 7.2 - O MIX DE POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL:
ALGUNS EXEMPLOS HISTÓRICOS
Vimos que tanto a política monetária como a política fiscal podem afetar a renda no modelo keynesiano. Mas os efeitos
das duas sobre a taxa de juros e, portanto, sobre o investimento são diferentes. No caso de uma política monetária
expansionista, a taxa de juros cai e o investimento aumenta. Com uma ação fiscal expansionista – uma redução no imposto
de renda, por exemplo –, a taxa de juros sobe e o investimento cai. Essa é uma diferença significativa, porque o nível de
investimento determina a velocidade de formação de capital e é importante para o crescimento de longo prazo da
economia.
Nossa análise, portanto, sugere que, dentro de uma estrutura keynesiana, há uma preferência por um mix de política fiscal
relativamente “rígida” e política monetária “frouxa” a fim de manter a taxa de juros baixa e estimular o investimento.
Além disso, sempre que ações de política fiscal como reduções do imposto de renda são usadas para expandir a economia,
os keynesianos gostariam de ver uma política monetária de acomodação: um aumento correspondente na oferta de moeda
que impeça a taxa de juros de subir e, assim, evite o deslocamento do investimento. Essa combinação de política
monetária e fiscal é ilustrada na Figura 7.5. Ao mesmo tempo em que a curva IS é deslocada para a direita por uma
redução de impostos, a oferta de moeda é aumentada o suficiente para que a curva LM desloque-se para a direita o bastante
para evitar uma elevação da taxa de juros.
Como exemplo de uma expansão coordenada, os keynesianos apontam o corte de impostos de 1964 e o aumento da oferta
de moeda que o acompanhou. Como foi explicado em Perspectivas 5.2, o corte de impostos foi de 20% para pessoas
físicas e 10% para pessoas jurídicas. O crescimento da oferta de moeda aumentou para 4,7% no período de 1964-65, em
comparação com 3,7% em 1963. O resultado foi um crescimento do PNB de 5,4% em 1964 e 5,5% em 1965 (taxas bem
acima do crescimento do produto potencial). Como resultado da política monetária de acomodação, a taxa de juros (taxa
de títulos privados) subiu muito pouco, de 4,0% em 1963 para 4,3% em 1965. As reduções de impostos das empresas
incluídas no corte de impostos de 1964 tinham também o objetivo de evitar qualquer declínio no investimento. De fato, o
investimento fixo das empresas subiu de 9,0% para 10,5% do PNB entre 1963 e 1965. Mais tarde, os economistas
keynesianos assumiram uma postura crítica diante do mix de políticas monetária e fiscal na primeira administração
Reagan. Eles interpretaram esse mix como sendo de política monetária rígida, já que o ritmo de crescimento da oferta de
moeda diminuiu, e política fiscal frouxa, principalmente as grandes reduções de impostos para pessoa física e jurídica. Os
keynesianos achavam que as duas iniciativas de política cancelavam-se mutuamente em termos de seu efeito sobre o PNB.
O economista keynesiano James Tobin comparou a política de Reagan a colocar um trem em New Haven, Connecticut,
com um motor na frente dirigido para Boston e outro motor atrás voltado para Nova Iorque. Em termos gráficos, os
keynesianos achavam que a política monetária da administração Reagan deslocava a curva LM para a esquerda para
reduzir a renda enquanto a política fiscal deslocava a curva IS para a direita para aumentar a renda. Eles acreditavam que
ambas as políticas aumentariam a taxa de juros (ambas as curvas se deslocariam para cima), com efeitos desfavoráveis
sobre o investimento.
Recentemente, na sequência da crise financeira de 2007-09, políticas monetárias e fiscais foram usadas cooperativamente
para tentar conter a contração resultante. As políticas do Federal Reserve para expandir a oferta de moeda e baixar as taxas
de juros foram acompanhadas por aumentos dos gastos do governo e reduções de impostos, com os formuladores de
política tentando evitar que uma recessão se transformasse em uma depressão.
Aqui e adiante, consideramos alguns casos extremos de inclinação das curvas IS e LM. O
exame de casos extremos é útil para entender nossos resultados em casos normais.
O primeiro caso extremo é o da curva IS vertical. A curva IS será vertical se o investimento
for completamente insensível a mudanças na taxa de juros (elasticidade-juros igual a zero). Os
efeitos de um aumento da oferta de moeda nesse caso são mostrados na Figura 7.6c. Se a curva
IS for vertical, o aumento da oferta de moeda simplesmente desloca a curva LM para baixo ao
longo da curva IS. A taxa de juros cai até que a demanda por moeda aumente o suficiente para
restabelecer o equilíbrio no mercado monetário, mas a renda fica inalterada. Para aumentar a
renda, o aumento da oferta de moeda e a resultante queda da taxa de juros precisam estimular o
investimento. Quando a curva IS é vertical, o investimento não é afetado pela política monetária
porque, como premissa, o investimento não depende da taxa de juros. Quanto mais inclinada a
curva IS, mais perto estaremos desse caso extremo.
Em todas as partes da figura, um aumento dos gastos governamentais desloca a curva IS para a direita, de IS0 para IS1 Na parte a,
onde a curva IS é muito inclinada, essa ação de política fiscal expansionista resulta em um aumento relativamente grande da
renda. Essa ação de política fiscal é muito menos eficaz na parte b, em que a curva IS é relativamente plana. A política fiscal é
mais eficaz na parte c, onde a curva IS é vertical.
Quando a demanda por moeda é relativamente inelástica em relação aos juros (Figura 7.8b),
um aumento maior da taxa de juros (de r0 para r1 na Figura 7.8b) é necessário para reequilibrar o
mercado monetário quando a renda sobe. O aumento maior da taxa de juros leva a um declínio
maior no investimento, anulando uma porção maior do efeito expansionista do aumento dos
gastos do governo. Em consequência, o aumento da renda na curva LM mais inclinada (Figura
7.8b) é menor. Se a demanda por moeda for completamente insensível a mudanças na taxa de
juros (Figura 7.8c), apenas um nível de renda pode ser um nível de equilíbrio: o nível que gera
uma demanda para transações exatamente igual à oferta de moeda fixa. Um aumento da
demanda agregada, causado por um aumento dos gastos governamentais, cria uma pressão para
cima sobre a renda a uma dada taxa de juros. Há um excesso de demanda por bens (G é mais
alto, C e I são inalterados). No entanto, a tentativa de aumentar a renda (ou um aumento
temporário da renda) leva a um aumento da demanda por moeda para transações e faz a taxa de
juros subir. A renda de equilíbrio não pode, na verdade, ser maior que Y0, porque nenhum
aumento possível da taxa de juros reequilibrará o mercado monetário em um nível de renda mais
alto. Um novo equilíbrio será alcançado quando, na tentativa de obter moeda para transações
para atender ao nível mais alto de renda, tentativa esta que deve falhar no agregado, os
indivíduos levarem a taxa de juros para cima o suficiente para fazer a demanda agregada
retornar ao seu nível inicial. Na Figura 7.8c, isso ocorre à taxa de juros r1. Nesse ponto, o
investimento privado declinou um montante exatamente igual ao aumento dos gastos do
governo. O efeito deslocamento está completo.
O caso da curva LM vertical foi chamado anteriormente de clássico porque os economistas
clássicos não levavam em conta sistematicamente a dependência entre a demanda por moeda e a
taxa de juros. Implicitamente, eles pressupunham que a demanda por moeda fosse
completamente inelástica em relação aos juros. Note que, nesse caso clássico, nossos resultados
de política fiscal têm natureza clássica. Um aumento dos gastos do governo afeta a taxa de juros,
mas não a renda.
No final da Seção 7.1, vimos que, para esse caso de uma curva LM vertical, uma mudança
autônoma na demanda por investimento também deixaria a renda inalterada. O ajuste da taxa de
juros compensaria completamente a queda inicial da demanda por investimento. Também aqui,
para mudanças no componente governamental dos gastos autônomos, a taxa de juros ajusta-se
por completo, de modo que a demanda agregada total (C + I + G) não é afetada pela mudança.
Um elemento necessário, portanto, na concepção keynesiana de que variações nos gastos
autônomos resultantes de ações de política fiscal afetam a renda é a crença de que a demanda
por moeda de fato depende da taxa de juros. Essa crença decorre de se levar em conta o papel
que a moeda desempenha como um ativo, um modo alternativo aos títulos para estocar riqueza.
A visão clássica da moeda centrava-se simplesmente em seu papel em transações e, por isso, os
economistas clássicos negligenciavam o papel da taxa de juros na determinação da demanda por
moeda.
Em todas as partes da figura, um aumento da oferta de moeda desloca a curva LM para a direita, de LM0 para LM1. A política
monetária é menos eficaz na parte a, onde a curva LM é relativamente plana; é mais eficaz na parte b, onde a curva LM é muito
inclinada; e mais eficaz ainda na parte c, onde a curva LM é vertical.
Como em nossa discussão sobre a curva IS, encontramos aqui que a condição que torna a
política monetária mais eficaz é a que torna a política fiscal menos eficaz. A eficácia da política
monetária aumenta quando a elasticidade-juros da demanda por moeda diminui. A política fiscal
é mais eficaz quanto maior for a elasticidade-juros da demanda por moeda. A razão para essa
diferença é, uma vez mais, o papel diferente do ajuste da taxa de juros na transmissão dos efeitos
das políticas monetária e fiscal. No caso da política monetária, que afeta a renda por meio de
mudanças na taxa de juros, quanto maior a resposta à taxa de juros, mais eficaz será a ação de
política. Como acabamos de ver, a resposta à taxa de juros é maior quando a elasticidade-juros
da demanda por moeda é baixa (isto é, a curva LM é muito inclinada).
No caso da política fiscal, onde a resposta à taxa de juros, com o resultante deslocamento do
investimento, cancela parte do efeito da ação de política, a resposta da renda é maior quanto
menor for a reação à taxa de juros. Uma alta elasticidade-juros da demanda por moeda reduz os
efeitos de uma ação de política fiscal sobre a taxa de juros (comparem-se as partes a e b da
Figura 7.8). Portanto, a política fiscal é mais eficaz quando a elasticidade-juros da demanda por
moeda é alta (isto é, a curva LM é pouco inclinada).
Conclusão
Na Seção 7.1, examinamos os efeitos de ações de política monetária e fiscal sobre a renda e a
taxa de juros, supondo que as curva IS-LM tivessem inclinações normais, isto é, que as
inclinações tanto da curva IS como da curva LM estivessem em uma faixa intermediária – nem
tão inclinadas nem tão planas a ponto de tornar a política fiscal ou a política monetária ineficaz.
Na Seção 7.2, foram examinadas as relações entre as inclinações das curvas IS e LM e a eficácia
relativa das políticas monetária e fiscal. Os resultados dessa análise são resumidos na Tabela 7.2.
Uma questão relevante neste ponto é: qual dos casos na Tabela 7.2 caracteriza a economia de
fato? Quais são as inclinações efetivas das relações que correspondem às curvas IS e LM do
modelo em nossa economia?
Tabela 7.2 - Eficácia das políticas monetária e fiscal e as inclinações das curvas IS e L
Política monetária
Curva IS Curva LM
Muito inclinada Ineficaz Eficaz
Pouco inclinada Eficaz Ineficaz
Política fiscal
Curva IS Curva LM
Muito inclinada Eficaz Ineficaz
Pouco inclinada Ineficaz Eficaz
Aos níveis baixos da taxa de juros que predominariam em uma armadilha da liquidez, os keynesianos esperam que a
economia esteja em um trecho quase horizontal da curva LM. A política monetária é ineficaz nessa situação.
a Sobre essas questões, veja os artigos em ITO, Takatoshi; PATRICK, Hugh; WEINSTEIN, David (Orgs.). Reviving Japan’s
Economy: problems and prescriptions. Cambridge: MIT Press, 2005.
Questões de revisão
1. No modelo IS-LM, mostre como a renda e a taxa de juros são afetadas pelas seguintes
situações:
a. Um aumento dos gastos do governo.
b. Um declínio autônomo dos gastos com investimentos.
c. Um aumento dos impostos.
d. Um aumento da oferta de moeda.
Em cada caso, explique por que ocorrem as variações na renda e taxa de juros.
2. No modelo IS-LM, analise os efeitos de um aumento nos gastos do governo financiado por
um aumento igual nos impostos. Primeiro, considere o deslocamento horizontal líquido da
curva IS como resultado desse aumento do orçamento equilibrado. Depois, considere os
efeitos sobre a renda e a taxa de juros. Por fim, compare os resultados com o multiplicador
do orçamento equilibrado da Seção 5.5.
3. No modelo IS-LM, qual seria o efeito de um aumento autônomo na poupança acompanhado
de uma queda equivalente do consumo, ou seja, uma queda em a na função consumo?
C = a + b(Y - T)
Qual curva se deslocaria? Como a renda e a taxa de juros seriam afetadas?
4. Explique a relação entre a eficácia da política monetária e a elasticidade-juros do
investimento. A política monetária será mais ou menos eficaz quanto mais alta for a
elasticidade-juros da demanda por investimento? Agora explique a relação entre a eficácia da
política fiscal e a elasticidade-juros da demanda por investimento. Por que as duas relações
são diferentes?
5. Explique a relação entre a eficácia da política monetária e a elasticidade-juros da demanda
por moeda. A política monetária será mais ou menos eficaz quanto mais alta for a
elasticidade-juros da demanda por moeda? Explique. Agora explique a relação entre a
política fiscal e a elasticidade-juros da demanda por moeda. Por que as duas relações são
diferentes?
6. Suponha que tivéssemos um caso em que a elasticidade-juros tanto da demanda por moeda
como da demanda por investimento fossem muito baixa. A política fiscal ou a política
monetária seriam muito eficazes? Como você interpretaria essa situação?
7. Vimos que a taxa de juros desempenhava um papel estabilizador no sistema clássico,
ajustando-se para que um choque em um componente da demanda, por exemplo, um declínio
do investimento autônomo, não afetasse a demanda agregada. A taxa de juros desempenha
uma função estabilizadora similar no modelo keynesiano?
8. Em que sentido a curva LM vertical é um caso clássico?
9. Por que os keynesianos poderiam ser pessimistas quanto à capacidade da política monetária
de estimular o produto em situações como as da Depressão da década de 1930 nos Estados
Unidos ou as recessões no Japão na década de 1990? Que tipo de política econômica os
economistas keynesianos esperariam que fosse eficaz nessas situações?
10. Considere o caso em que a curva LM é vertical. Suponha que ocorra um choque que aumente
a demanda por moeda nos níveis dados da renda e da taxa de juros. Ilustre o efeito do choque
em um gráfico e explique como a renda e a taxa de juros são afetados.
Podemos usar essas duas equações para ver como a taxa de juros e a renda mudam quando alguma das variáveis exógenas
do modelo é alterada. Isso é o equivalente matemático a ver como esses valores de equilíbrio mudavam nos gráficos da
Seção 7.1 com um deslocamento das curvas IS ou LM. Nesta seção, construímos expressões que mostram como a renda
muda com mudanças nas variáveis de política econômica usando a equação (A.10). O cálculo dos efeitos sobre a taxa de
juros de mudanças nessas variáveis ficará como exercício (veja o problema de revisão 1).
POLÍTICA FISCAL
Consideremos primeiro como a renda de equilíbrio muda com uma variação nos gastos do governo. Pela equação (A.10),
fazendo G variar e mantendo constantes todas as outras variáveis exógenas, e para valores dados dos parâmetros,
calculamos
A equação (A.12) indica que, como vimos graficamente (Figura 7.2), um aumento nos gastos do governo levará a um
aumento da renda de equilíbrio no modelo IS-LM. Além disso, o aumento da renda de equilíbrio por aumento unitário dos
gastos do governo, conforme dado pela equação (A.12), é menor que no modelo keynesiano simples. No modelo
keynesiano simples analisado no Capítulo 5, o aumento da renda de equilíbrio por aumento unitário dos gastos do governo
era dado pelo multiplicador dos gastos autônomos, 1/(1 - b). O multiplicador na equação (A.12) contém um termo positivo
adicional no denominador (i1c1/c2) e, portanto, é menor. Note também, olhando de novo para a equação (A.10), que a
mudança da renda de equilíbrio por variação unitária do investimento autônomo (ΔY/ΔĪ) seria exatamente a mesma que
ocorre com uma mudança nos gastos do governo. O efeito sobre a renda de uma mudança nos impostos é
Esse multiplicador dos impostos é oposto em sinal ao multiplicador dos gastos do governo e menor em valor absoluto,
porque tem –b em vez de 1 no numerador.
POLÍTICA MONETÁRIA
Pela equação (A.10), calculamos os efeitos sobre a renda de uma mudança na oferta de moeda como
ou
Um aumento da oferta de moeda faz a renda de equilíbrio subir, conforme foi ilustrado na Figura 7.1.
O parâmetro crucial (que é objeto de controvérsia) que determina se a curva é muito ou pouco inclinada é c2, que mede a
sensibilidade da demanda por moeda aos juros. Se c2 for grande (pequeno), indicando que a demanda por moeda é
sensível (insensível) aos juros, a curva LM será relativamente pouco inclinada (muito inclinada). Esse resultado acontece
porque a expressão na equação (A.5) diminui de valor conforme c2 fica maior.
Agora, examinemos o modo como c2 afeta o multiplicador da política fiscal dado pela equação (A.12). Conforme c2 fica
menor, o segundo termo do denominador da equação (A.12) fica maior. Nenhum outro termo é afetado, portanto toda a
expressão fica menor. Quanto mais baixa a sensibilidade da demanda por moeda em relação aos juros, mais inclinada é a
curva LM e menos eficaz é a política fiscal (veja a Figura 7.8). No caso extremo em que c2 aproxima-se de zero, o
denominador da equação (A.12) torna-se extremamente grande e a expressão como um todo tende a zero. Quando a curva
LM torna-se vertical, a política fiscal é completamente ineficaz.
Por fim, consideremos a relação entre c2 e a eficácia da política monetária conforme medida pela equação (A.14).
Conforme c2 diminui, o denominador da equação (A.14) fica menor e a expressão torna-se maior. Quanto menos sensível
à taxa de juros for a demanda por moeda, mais inclinada será a curva LM e mais eficaz é a política monetária (veja a
Figura 7.9). Se c2 for zero, a equação (A.14) reduz-se a 1/c1 A curva LM é vertical e a renda de equilíbrio aumenta em
valor equivalente a toda a distância do deslocamento horizontal da curva LM quando a oferta de moeda aumenta (Figura
7.9c).
1 Como voltamos às equações do apêndice ao Capítulo 6, para evitar confusão numeramos as equações aqui
consecutivamente às equações daquele apêndice.
2 Como no capítulo, não precisamos considerar separadamente a eficácia da política tributária. Os mesmos fatores que
influenciam a eficácia de mudanças em G determinam a eficácia de mudanças em T.
3 Para ver isso claramente, reescreva o lado direito da equação (A.14) como 1/[(1 – b)c2/I1 + c1]. Quando i1 diminui, o
denominador aumenta de valor e o tamanho do multiplicador diminui.
Questões de revisão
1. Usando a equação (A.11), mostre como o valor de equilíbrio da taxa de juros (r) será afetado
por
a. Um aumento da oferta de moeda (Ms).
b. Um aumento dos gastos do governo (G).
c. Um aumento dos impostos (T).
2. Partindo da solução para os valores de equilíbrio de Y e r na pergunta de revisão 1 do
apêndice ao Capítulo 6, mostre como esses valores mudariam se os gastos do governo
subissem de 250 para 310.
CAPÍTULO 8
O sistema keynesiano (IV): oferta e demanda agregadas
Nos capítulos anteriores sobre o modelo keynesiano, onde o nível de preços era fixo e o produto era determinado pela demanda
agregada, consideramos que a curva de oferta agregada fosse horizontal.
Essa suposição poderia ser plausível quando o produto está bem abaixo da capacidade da
Economia. Nessas condições – por exemplo, durante a Depressão da década de 1930 –,
aumentos do produto podiam não exercer pressão de alta sobre o nível do salário monetário,
dado o alto nível de desemprego. Além disso, o produto marginal do trabalho (PMgN) poderia
não cair conforme mais trabalho fosse empregado quando partimos de um nível baixo de
emprego (veja a Figura 3.1). Como conseqüência, o custo de produzir unidades adicionais de
produto, W/PMgT, poderia permanecer constante mesmo com aumentos do produto. Em
condições mais normais, um aumento do produto exerceria uma pressão para cima tanto sobre o
salário como sobre o nível de preços. Esperaríamos que a curva de oferta tivesse inclinação
positiva.
No caso mais geral da curva de oferta agregada de inclinação positiva, não podemos
pressupor que o preço seja constante (que a oferta não seja uma limitação) e determinar o
produto simplesmente determinado a demanda agregada. O produto e o preço serão
determinados conjuntamente por fatores de oferta e de demanda. A curva de oferta agregada
keynesiana será discutida nas Seções 8.3 e 8.4. Primeiro, vamos construir a curva de demanda
agregada keynesiana, a relação entre a demanda agregada e o nível de preços no modelo
keynesiano.
Os fatores que determinam a demanda agregada no sistema keynesiano foram analisados
detalhadamente. Esses fatores determinam a posição das curvas IS e LM e, portanto, a
combinação renda-taxa de juros que equilibra o mercado monetário e faz o produto ser igual à
demanda agregada. Ao construir uma curva de demanda agregada, queremos encontrar o nível
de produto demandado em cada nível de preço. Para fazer isso, examinamos como a posição das
curvas IS e LM e, consequentemente, como os níveis da taxa de juros e do produto em que as
curvas se cruzam são afetados por variações de preços. O nível de produto em que as curvas IS e
LM se cruzam para um dado nível de preços é um ponto da curva de demanda agregada
keynesiana. Consideremos primeiro como uma mudança no nível de preços afeta a posição da
curva IS. A condição de equilíbrio ao longo da curva IS é
onde I = investimento
G = gastos do governo
S = poupança
T = impostos
Y = produto
Para ver como o nível de preços influencia a posição da curva IS, examinemos como cada
variável da equação (8.1) é afetada por mudanças nos preços.
Consideramos que duas variáveis, gastos governamentais (G) e impostos (T), sejam fixadas
pelo governo em termos reais, ou seja, consideramos e continuaremos a considerar que seus
níveis reais não são afetados por mudanças de preços. Pressupomos que também o nível de
investimento seja determinado em termos reais; uma dada taxa de juros determina um nível de
investimento real. Mudanças no nível de preços não afetam diretamente o investimento.
Similarmente, consideramos que a poupança real dependa da renda real e não seja
diretamente afetada por mudanças no nível de preços. Nenhum dos quatro termos da equação
(8.1), a condição de equilíbrio da curva IS, depende diretamente do nível de preços, portanto
uma mudança no nível de preços não desloca a curva IS.
E quanto à curva LM? A condição de equilíbrio para o mercado monetário, a curva LM, é
A condição iguala a oferta real de moeda (M/P) e a demanda por moeda em termos reais. A
oferta real de moeda é igual à oferta nominal de moeda exogenamente fixada (M) dividida pelo
nível de preços (P).
A teoria keynesiana da demanda por moeda apresentada no Capítulo 6 relacionou a demanda
por moeda em termos reais com o nível de renda real e a taxa de juros, embora, desde que os
preços fossem mantidos constantes, não houvesse necessidade de distinguir entre mudanças em
valores reais e nominais. As pessoas desejam reter uma certa quantidade de saldos de moeda
reais para um dado volume de transações medido em termos reais (valor da moeda constante),
onde a renda real é uma aproximação do volume real de transações. Em consequência, o
equilíbrio no mercado monetário ocorre quando a demanda por saldos de moeda reais é igual
exatamente à oferta real de moeda. É a oferta nominal de moeda, não a oferta real de moeda, que
pode ser fixada exogenamente pela autoridade monetária. Qualquer mudança no nível de preços
afetará a oferta real de moeda e, em consequência, deslocará a curva LM.
A Figura 8.2a ilustra o efeito de mudanças no nível de preços sobre a oferta real de moeda e,
portanto, sobre a posição da curva LM. Mantendo a oferta nominal de moeda fixa em M0, três
níveis de preços são considerados, em que P2 > P1 > P0. Note-se que, quando consideramos o
efeito de um aumento de preços de P0 para P1, depois de P1 para P2, no preço mais alto a curva
LM é deslocada para a esquerda. O efeito de um nível de preços mais alto reduz a oferta real de
moeda,
No geral, o efeito de um nível de preços mais alto é o mesmo que o de uma queda da oferta
nominal de moeda; ambos reduzem a oferta real de moeda (M/P). A curva LM desloca-se para a
esquerda, elevando a taxa de juros e reduzindo o investimento e a demanda agregada.
Na Figura 8.2b, representamos o nível de demanda agregada correspondente a cada um dos
três níveis de preços considerados. Essa curva, chamada de Yd, é a curva de demanda agregada.
Como pode ser visto pela construção da curva, esse nível de produto demandado é o nível de
equilíbrio do produto pelo modelo de curvas IS-LM, o nível de produto que, para um dado nível
de preços, iguala exatamente o produto e a demanda agregada, equilibrando simultaneamente o
mercado monetário.
A curva de demanda agregada reflete influências monetárias (fatores que afetam a curva LM)
e também influências diretas sobre a demanda agregada (fatores que afetam a curva IS). Os
fatores que aumentam o nível da renda de equilíbrio no modelo IS-LM (aumentam o nível de
produto demandado a um dado nível de preços) deslocarão a curva de demanda agregada para a
direita. Fatores que fazem a renda de equilíbrio declinar no modelo IS-LM deslocarão a curva de
demanda agregada para a esquerda.
Consideremos, por exemplo, o efeito de um aumento da oferta de moeda, de M0 para M1,
como mostrado na Figura 8.3. Partindo do ponto de equilíbrio A, com
A análise clássica da oferta agregada foi explicada no Capítulo 3. Os elementos centrais dessa
análise são que, no mercado de trabalho, tanto a oferta como a demanda dependem unicamente
do salário real (W/P), que se supõe ser conhecido por todos. Além disso, supõe-se que o
mercado de trabalho esteja sempre em equilíbrio, com um salário monetário perfeitamente
flexível que se ajusta para igualar oferta e demanda.
Esses pressupostos clássicos resultam em uma curva de oferta agregada vertical (veja a Seção
3.5). Com os pressupostos clássicos, a curva de oferta agregada seria dada por Ys0 na Figura 8.4;
o produto seria determinado pela oferta. Fatores como mudanças nos gastos do governo,
impostos e oferta de moeda, que deslocam a curva de demanda, não afetariam o produto de
equilíbrio2.
Esta análise mostra que a teoria clássica da oferta agregada baseada na caracterização
clássica de mercado de leilão para o mercado de trabalho é fundamentalmente incompatível
com o sistema keynesiano. A característica central da análise keynesiana é a teoria da demanda
agregada. Com os pressupostos clássicos sobre a oferta agregada, que levam à curva de oferta
vertical, não há papel nenhum para a demanda agregada na determinação do produto e do
emprego. Por isso, foi necessário que Keynes e seus seguidores se opusessem aos pressupostos
clássicos e desenvolvessem uma teoria keynesiana do lado da oferta.
8.3 Uma visão contratual do mercado de trabalho
Keynes acreditava que o salário monetário não se ajustaria suficientemente para manter a
economia em um nível de pleno emprego. No sistema clássico, tanto a oferta como a demanda
por trabalho são funções do salário real e a intersecção das curvas de oferta e de demanda de
trabalho determina um salário real e um nível de emprego de equilíbrio. As negociações
salariais, no entanto, são definidas em termos de salários monetários, e um pressuposto crucial
do modelo clássico é que o salário monetário é perfeitamente flexível.
Salários não são definidos para equilibrar mercados no curto prazo; eles são fortemente
condicionados por considerações de prazo mais longo envolvendo… relações empregador-
empregado. Esses fatores isolam os salários… em um grau significativo do impacto de
mudanças na demanda, de modo que os ajustes devem ser feitos no emprego e no produto.3
O salário monetário é igual ao valor monetário do produto marginal (a receita marginal com o
produto) do trabalho. Uma vez que, com um excesso de oferta de trabalho e um salário
monetário fixo, o emprego depende apenas da demanda por trabalho, a determinação do
emprego é como ilustrado na Figura 8.5. Com um salário monetário fixo W, a demanda por
trabalho e, portanto, o emprego serão N0.
A curva de oferta de trabalho é mostrada na Figura 8.5 como uma linha tracejada. Note-se
que, com o salário monetário fixo (W), a curva de oferta de trabalho está à direita de N0,
indicando um excesso de oferta de trabalho. A demanda, não a oferta, é o fator limitante do
emprego. A curva de oferta de trabalho não exerce nenhuma influência e não é mostrada nas
figuras subsequentes desta seção. As propriedades da função oferta de trabalho keynesiana são
explicadas na próxima seção, onde analisamos um modelo keynesiano em que o salário
monetário é livre para variar.
Com o salário monetário fixo em W, o emprego estará em N0, a quantidade de trabalho demandada.
A posição da curva de demanda por trabalho, a curva que dá o valor monetário do PMgN
correspondente a cada nível de emprego (a curva PMgN · P0 na Figura 8.5), depende do nível de
preços. O número de trabalhadores que a firmas contratarão e, em consequência, a quantidade de
produto que elas ofertarão dependem do nível de preços. Essa relação entre produto ofertado e o
nível de preços é desenvolvida na Figura 8.6.
A Figura 8.6a mostra o nível de emprego resultante em três níveis de preços sucessivamente
mais altos, P0, P1 e P2, com o salário monetário fixo em W. Um aumento no nível de preços (de
P0 para P1, depois de P1 para P2) aumentará o valor monetário do PMgN correspondente a
qualquer nível de emprego e, portanto, aumentará a demanda por trabalho para um dado salário
monetário. A curva de demanda por trabalho (PMgN · P) desloca-se para a direita e o emprego
aumenta. Conforme o emprego aumenta, vemos na Figura 8.6b, onde traçamos a função
produção agregada que dá o nível de produto para cada nível de emprego, que o produto também
aumenta.
A Figura 8.6c combina as informações das Figuras 8.6a e 8.6b para mostrar o produto
ofertado em cada nível de preços. Preços mais altos resultam em oferta maior; a função oferta
agregada tem inclinação positiva. Em um determinado nível de renda (Yf na Figura 8.6c), o
pleno emprego seria atingido e novos aumentos dos preços não teriam efeito sobre o produto. A
curva de oferta agregada torna-se vertical nesse nível.
Abaixo do nível de pleno emprego, a curva de oferta não será vertical; deslocamentos da
curva de demanda agregada alterarão o nível do produto. Os efeitos de um aumento da oferta de
moeda e os efeitos de um aumento dos gastos do governo são ilustrados nas Figuras 8.7 e 8.8,
respectivamente.
FIG 8.6 A curva de oferta agregada keynesiana quando o salário monetário é fixo
A parte a mostra os níveis de emprego N0, N1 N2 para três níveis de preços sucessivamente mais altos, P0, P1 P2. A parte b
mostra os níveis de produto, Y0, Y1, Y2, que serão produzidos nesses três níveis de emprego. Na parte c, juntamos as informações
de a e b para mostrar o produto ofertado em cada um dos três níveis de preços. Note-se que, a níveis de preços mais altos, o
emprego, e, assim, o produto ofertado aumentam; a curva de oferta agregada (Ys) tem inclinação positiva.
FIG 8.7 Efeitos de um aumento da oferta de moeda quando o nível de preços é flexível
Um aumento da oferta de moeda desloca a curva LM de LM(M0/P0) para LM(M1/P0) (parte a) e desloca a curva de demanda
agregada de Yd(M0) para Yd(M1) (parte b). O aumento da demanda agregada faz o produto subir de Y0 para Y1 e o nível de
preços subir de P0 para P1. O aumento do nível de preços desloca a curva LM de LM(M1/P0) para LM(M1/P1).
FIG 8.8 Efeitos de um aumento dos gastos do governo quando o nível de preços é flexível
Um aumento dos gastos governamentais desloca a curva IS de IS(G0) para IS(G1) (parte a) e desloca a curva de demanda
agregada de Yd(G0) para Yd(G1) (parte b). O aumento da demanda agregada faz o produto subir de Y0 para Y1 e o nível de preços
subir de P0 para P1. O aumento do nível de preços desloca a curva LM de LM(M0/P0) para LM(M0/P1).
Uma elevação do salário real aumenta a renda que pode ser ganha com uma hora de trabalho
ou, em outros termos, aumenta o custo de oportunidade de ter uma hora de lazer. Em
consequência, um aumento do salário real aumenta a oferta de trabalho.
A teoria keynesiana da oferta de trabalho começa com a observação de que a negociação
salarial é feita em termo do salário monetário, não do salário real. A teoria clássica pressupõe
que os ofertantes de trabalho (trabalhadores) conhecem o nível de preços (P) e o salário
monetário (W) e, portanto, conhecem o salário real (W/P). Os keynesianos argumentam que,
como a negociação salarial é em termos do salário monetário, podemos pressupor que os
trabalhadores conhecem o salário monetário, mas não o nível de preços. Como foi explicado
anteriormente, por meio de contratos implícitos ou explícitos os trabalhadores concordam em
fornecer seus serviços durante um determinado período, digamos, por um ano. Eles não têm
como saber qual será o valor do nível agregado de preços ao longo do ano seguinte. É esse nível
de preços que determinará o poder de compra de qualquer salário monetário que eles aceitarem
em uma negociação salarial no momento atual. Como consequência, os keynesianos acreditam
que decisões sobre oferta de trabalho dependem do salário monetário vigente e da expectativa do
nível agregado de preços. Além disso, para os keynesianos, as expectativas dos trabalhadores
sobre o nível de preços dependeriam, basicamente, do comportamento anterior dos preços.
Para entender as implicações da noção keynesiana de que os trabalhadores negociam um
salário monetário real com informações apenas imperfeitas sobre os preços, construímos uma
curva de oferta de trabalho keynesiana, que comparamos com a curva de oferta de trabalho
clássica [equação (8.4)]. Consideramos, em seguida, um modelo em que o salário monetário é
perfeitamente flexível, mas a oferta de trabalho é dada pela função oferta de trabalho
keynesiana. Nessa análise, deixamos de fora os fatores citados anteriormente que os keynesianos
acreditam ser as causas da rigidez do salário monetário. Uma das finalidades desta análise é
mostrar que, usando a curva de oferta de trabalho keynesiana, mesmo que o salário monetário
fosse perfeitamente flexível a curva de oferta agregada não seria vertical. O produto e o emprego
não seriam inteiramente determinados pela oferta; a demanda agregada também teria influência.
Na realidade, os keynesianos acreditam que o salário monetário é rígido na direção para baixo e
que grande parte do desemprego é resultado da não-contribuição do salário monetário para
equilibrar o mercado de trabalho. As informações incompletas sobre preços são, porém, um fator
adicional que, segundo os keynesianos, explica flutuações no produto e no emprego.
A função oferta de trabalho keynesiana pode ser escrita como
Um aumento do salário monetário (W) para um dado valor do nível de preços esperado (Pe)
aumentaria a oferta de trabalho, porque seria visto pelos trabalhadores como um aumento do
salário real. Um aumento no nível de preços esperado faria a oferta de trabalho declinar.
Fundamentalmente, os trabalhadores estão interessados no salário real, não no salário monetário,
e reduzem sua oferta de trabalho quando percebem que o salário real diminuiu. A diferença entre
as funções oferta de trabalho clássica e keynesiana é que, na versão keynesiana, os trabalhadores
precisam formar uma expectativa do nível de preços. A oferta de trabalho, portanto, depende do
salário real esperado. No sistema clássico, os trabalhadores conhecem o salário real; a oferta de
trabalho depende do salário real efetivo.
A teoria da oferta de trabalho keynesiana é incompleta sem um pressuposto sobre como os
trabalhadores formam uma expectativa do nível de preços (Pe). O pressuposto keynesiano é que
essas expectativas de preços baseiam-se principalmente no comportamento passado do nível de
preços. Assim
em que P–i (i = 1, 2, 3…) é o nível de preços de i períodos anteriores e a1, a2, …, an são os pesos
dados a um número de observações passadas sobre o nível de preços na formação da expectativa
do nível de preços atual. Há sem dúvida informações adicionais que poderiam ser úteis para a
previsão acurada do comportamento dos preços. O pressuposto keynesiano é que o custo de
coletar e processar essas informações adicionais é alto o bastante para que as expectativas de
preços dos ofertantes de trabalho possam ser representadas com razoável precisão por uma
formulação simples como a equação (8.6). Como veremos adiante, esse pressuposto não é imune
a questionamentos.
De acordo com a equação (8.6), as expectativas de preços são essencialmente retrospectivas,
ajustando-se ao comportamento passado do nível de preços. Além disso, na visão keynesiana, há
uma inércia considerável nesse processo de ajuste; as expectativas de preços ajustam-se
lentamente ao comportamento passado do nível de preços. Se esse for o caso, as expectativas de
preços não mudam como resultado das condições econômicas correntes. Ao analisar os efeitos
de várias mudanças de política econômica, por exemplo, podemos considerar Pe constante. No
prazo mais longo (depois de transcorridos muitos períodos curtos), teremos de levar em conta
como as políticas de estabilização afetam Pe.
FIG 8.9 A curva de oferta agregada keynesiana quando o sálario monetário é variável
A parte a mostra os níveis de equilíbrio do emprego N0, N1, N2, correspondentes a valores sucessivamente mais altos do nível de
preços, P0, P1, P2. A parte b dá o nível de produto, Y0, Y1, Y2, que será produzido em cada um desses níveis de emprego. A
parte c combina as informações das partes a e b para mostrar a relação entre o nível de preços e o produto ofertado. Em valores
mais altos do nível de preços, o produto ofertado aumenta; como no caso dos salários fixos, a curva de oferta agregada (Ys) tem
inclinação positiva.
FIG 8.10 Curvas de oferta agregada keynesianas para os casos de salários monetários fixos e
variáveis
A curva de oferta agregada na parte c para o caso em que o salário monetário é variável [Ys (W variável)] é mais inclinada do que
quando o salário monetário é fixo [Ys (W = W)], porque o aumento do emprego (parte a) com uma elevação dos preços e,
portanto, o aumento do produto (parte b) são menores quando o salário monetário é variável do que quando ele é fixo. Esse
resultado acontece porque o aumento do salário monetário no caso dos salários variáveis ameniza o efeito de um aumento do
nível de preços sobre o emprego e o produto.
A razão para que a curva de oferta agregada seja mais inclinada no caso dos salários monetários
variáveis é ilustrada na Figura 8.10. Na Figura 8.10a, é mostrada a resposta do mercado de
trabalho a um aumento no nível de preços para os casos de salários monetários fixos e variáveis.
Se o salário monetário for fixo em W = W0, um aumento no nível de preços de P0 para P1
desloca a curva de demanda por trabalho de PMgN · P0 para PMgN · P1 e o emprego sobe de N0
para N1 Lembremos da seção anterior que, no caso do salário monetário fixo, pressupomos que
há um excesso de oferta de trabalho. A curva de oferta de trabalho nesse caso, Ns (W = W)], fica
à direita de N0 em W (como na Figura 8.5). A oferta de trabalho não representa uma limitação ao
emprego, que é determinado unicamente pela demanda por trabalho. Para esse caso de (W = W),
pode-se ver pela Figura 8.10b que o produto ofertado sobe de Y0 para Y1. A curva de oferta
agregada é dada por Ys (W = W) na Figura 8.10c.
Com um salário monetário variável, quando a curva de demanda por trabalho desloca-se de
PMgN · P0 para PMgN · P1 como resultado do aumento dos preços, o emprego sobe apenas para
N’1. Aqui, estamos pressupondo que não haja um excesso inicial de oferta de trabalho. Em W0, a
demanda por trabalho é igual à oferta ao longo da curva de oferta de trabalho Ns (W variável). O
salário monetário precisa subir de W0 para W1 W1 para aumentar a oferta de trabalho. Esse
aumento do salário monetário amortece o efeito do aumento da demanda por trabalho. Como o
emprego aumenta menos do que no caso do salário fixo, o produto ofertado também aumenta
menos, subindo apenas para Y’1, como é mostrado na Figura 8.10b. O aumento do nível de
preços leva a um aumento menor do produto ofertado e essa relação é refletida na curva de
oferta agregada mais inclinada no caso do salário monetário variável, como mostrado na Figura
8.10c, a curva Ys (W variável).
Neste ponto, é útil tirar algumas conclusões a partir das duas seções anteriores sobre como a
flexibilidade de preços e salários afeta as implicações de política econômica no sistema
keynesiano. Na Seção 8.3, vimos que, quando se considerava um nível de preços variável (com
o salário monetário ainda fixo), os multiplicadores das políticas diminuíam em relação a seus
valores no modelo IS-LM simples do Capítulo 7, em que tanto o nível de preços como os
salários monetários eram fixos. Nesse modelo IS-LM simples, o pressuposto era que a curva de
oferta agregada fosse horizontal. A oferta não representava uma barreira para o aumento do
produto. No modelo da Seção 8.3, levamos em conta o fato de que, em circunstâncias normais, à
medida que o produto aumenta, o PMgN diminui. Como o custo unitário de produzir unidades
adicionais de produto é o salário monetário dividido pelo PMgN, as firmas só ofertarão um
produto maior a um preço mais alto – mesmo que o salário monetário seja fixo. A curva de
oferta agregada tinha inclinação positiva e, portanto, aumentos da demanda agregada tinham
efeitos menores sobre o produto do que com a curva de oferta agregada horizontal.
Quando se considera que o salário monetário também seja variável, a curva de oferta
agregada correspondente fica mais inclinada. Agora, conforme o produto aumenta, não só o
PMgN declina, causando um aumento nos custos unitários (W/PMgN), como o aumento do
salário monetário necessário para induzir os trabalhadores a ofertar mais trabalho também
empurrará para cima o custo unitário. Como resultado, qualquer aumento do produto ofertado
requer um aumento maior do preço; a curva de oferta agregada é mais inclinada. Variações na
demanda agregada têm efeitos ainda menores sobre o produto.
No sistema clássico, a curva de oferta agregada era vertical; o produto era completamente
determinado pela oferta. O preço e o salário eram considerados perfeitamente flexíveis. No
modelo IS-LM simples, o produto era completamente determinado pela demanda. Os preços e
salários eram considerados completamente rígidos. Os modelos destas duas seções, ao introduzir
a flexibilidade de preços e salários no sistema keynesiano, aproximaram os resultados
keynesianos dos resultados do modelo clássico.
Tabela 8.2 - Taxas de crescimento percentual do PNB real e do deflator de preços do PNB nos
Estados Unidos, 1973-1981
Na Figura 8.11b, podemos ver que deslocamentos para a esquerda da curva de oferta
agregada (de Ys0 para Ys1 e para Ys2) resultariam em aumentos de preços (de P0 para P1, depois
para P2) associados a declínios do produto (de Y0 para Y1, depois para Y2). Esses “choques de
oferta” poderiam explicar as recessões inflacionárias da economia americana na década de 1970,
períodos em que o produto declinou e os preços subiram.
Se as mudanças no produto fossem resultado de deslocamentos da curva de demanda agregada ao longo de uma curva de oferta
fixa, como na parte a, esperaríamos uma relação positiva entre mudanças nos preços e no produto. Por outro lado, se as mudanças
no produto resultassem de deslocamentos da curva de oferta agregada ao longo de uma curva de demanda fixa, como na parte b,
esperaríamos uma associação negativa entre mudanças nos preços e no produto.
CMg é o acréscimo ao custo total como resultado do aumento do uso de fatores de produção
variáveis a fim de aumentar o produto. Em nossa análise anterior, consideramos que o trabalho
fosse o único fator de produção variável. Nesse caso, o CMg de produzir uma unidade adicional
de produto era o salário monetário (W), a quantia paga por uma unidade adicional de trabalho,
dividido pelo PMgN. O custo marginal (W/PMgN) aumentava conforme o produto crescia,
porque, quando mais trabalho era contratado, o PMgN declinava. Além disso, no modelo de
salários variáveis da seção anterior, para que os trabalhadores ofertassem trabalho adicional era
preciso aumentar o salário monetário, o que era mais um fator que levava o custo marginal a
subir com o aumento do produto. Esses dois fatores, o declínio do PMgN e a crescente pressão
de alta sobre os salários monetários quando o produto e o emprego aumentam, explicam por que
a curva de oferta agregada tem inclinação positiva.
Um deslocamento da curva de oferta agregada – por exemplo, um deslocamento para cima e
para a esquerda, como na Figura 8.11b – significa que, depois do deslocamento, as firmas
produzirão menos para um dado preço ou, em outros termos, as firmas acharão que a posição
ótima é continuar a produzir o mesmo produto, só que a um preço mais alto. Pela condição (8.7)
é possível ver que qualquer fator que faça o CMg aumentar para um nível inalterado de produto
produzirá esse deslocamento para cima e para a esquerda da curva de oferta agregada. Se o CMg
aumentar para um dado nível de produto, para continuar a atender a condição (8.7) sem
alteração de preços a firma terá de diminuir a produção. À medida que o produto diminui, o
CMg declinará (PMgN subirá e W cairá) e a igualdade (8.7) pode ser restabelecida.
Alternativamente, o preço teria de subir um valor equivalente ao aumento do CMg para que a
firma achasse ótimo continuar a produzir o mesmo nível de produto.
Isso é só metade da história; a próxima tarefa é determinar os fatores que alterarão o CMg
para um dado nível de produto. Esses fatores são muitas vezes chamados de fatores
pressionadores de custos, porque afetam o preço independentemente do nível de demanda,
atuando pelo deslocamento da curva de oferta. Um dos conjuntos de fatores pressionadores de
custos afeta as demandas por salários monetários por parte dos trabalhadores em um
determinado nível de emprego; esses são fatores que deslocam a curva de oferta de trabalho
conforme mostrado, por exemplo, na Figura 8.9. Até aqui, examinamos um fator que desloca a
curva de oferta de trabalho: uma mudança nas expectativas dos trabalhadores em relação ao
nível agregado de preços (Pe).
Na seção anterior, consideramos que o nível de preços esperado pelos trabalhadores
dependesse do comportamento passado dos preços e, portanto, que fosse fixo no curto prazo. Ao
longo do tempo, porém, conforme novas informações forem recebidas, os trabalhadores
ajustarão sua expectativa de preços. A Figura 8.12 mostra o efeito sobre as curvas de oferta de
trabalho e de oferta agregada de um aumento das expectativas dos trabalhadores sobre o nível
agregado de preços.
FIG 8.12 Deslocamento da curva de oferta agregada com um aumento do nível esperado de
preços
Um aumento do nível esperado de preços desloca a curva de oferta de trabalho para a esquerda, de Ns(Pe0) para Ns(Pe1), na parte
a. A um dado nível de preços, P0, o emprego cai de N0 para N1 e o produto cai de Y0 para Y1 (parte b). Esse declínio do produto
para um dado nível de preços é refletido em um deslocamento para a esquerda da curva de oferta agregada, de Ys(Pe0) para
Ys(Pe1), na parte c.
Vamos supor que, como resultado de aumentos passados observados no nível agregado de
preços, a expectativa dos trabalhadores quanto ao nível de preços corrente aumentasse de Pe0
para Pe1. A curva de oferta de trabalho seria, então, deslocada para a esquerda na Figura 8.12a,
de Ns(Pe0) para Ns(Pe1). Menos trabalho seria ofertado em cada nível de salário monetário
porque, com a expectativa mais alta em relação ao nível agregado de preços, um dado salário
monetário corresponderia a um salário real mais baixo. Ao nível de preços inicial P0, o
deslocamento da curva de oferta de trabalho reduziria o emprego (de N0 para N1). Em
consequência, o produto ao nível de preços P0 c cairia (de Y0 para Y1), como pode ser visto na
Figura 8.12b. A curva de oferta agregada seria deslocada para a esquerda na Figura 8.12c [de
Ys(Pe0) para Ys(Pe1)].
Assim, qualquer fator que desloque a curva de oferta de trabalho para cima e para a esquerda,
reduzindo a oferta de trabalho para um dado salário monetário, ou, o que equivale à mesma
coisa, aumentando o salário monetário em que uma dada quantidade de trabalho será ofertada
desloca a curva de oferta agregada para a esquerda. Se ampliarmos nossa análise para incluir
outros fatores de produção variáveis além do trabalho, observaremos que um aumento autônomo
no preço de qualquer fator de produção variável aumentará o CMg para um dado nível de
produto e deslocará a curva de oferta agregada para a esquerda.
Em particular, aumentos autônomos no preço de matérias-primas têm esse efeito de pressão
sobre os custos. Os keynesianos acreditam que os aumentos na década de 1970 dos preços
mundiais de matérias-primas para produção, em especial insumos de energia, causaram grandes
aumentos nos custos de produção para um dado nível de produto e resultaram em deslocamentos
para a esquerda significativos da curva de oferta agregada, aumentando o nível agregado de
preços doméstico e reduzindo o produto real.
Além dos efeitos diretos de aumentos nos preços de matérias-primas sobre a curva de oferta
agregada, esses choques de oferta têm efeitos indiretos que se manifestam por meio de um efeito
sobre a oferta de trabalho. Aumentos nos preços das matérias-primas – por exemplo, o preço do
petróleo importado e de outros produtos de energia – empurram para cima o nível de preços
doméstico. Quando os preços domésticos sobem e tempo suficiente decorre para que esses
aumentos de preços sejam percebidos pelos ofertantes de trabalho, a expectativa dos
trabalhadores quanto ao nível agregado de preços (Pe) aumenta. Como já foi explicado, esse
aumento no nível esperado de preços causará um deslocamento para a esquerda da curva de
oferta agregada, aumentando ainda mais o nível de preços e causando um declínio adicional do
produto real.
A explicação keynesiana para os grandes aumentos de preços e declínios do produto no
período de 1973-75 e, novamente, em 1979-80 baseia-se nesses efeitos diretos e indiretos de
choques de oferta. O choque de oferta mais importante nesses casos foi um aumento substancial
do preço do petróleo bruto no mercado mundial. A Figura 8.13 mostra o preço do petróleo bruto
em 1970-2010. Os choques de preços na série em 1974 e em 1979-80 são evidentes na figura.
(Os picos mais recentes são discutidos na próxima subseção.) Em 1974, os preços do petróleo
(nominais e reais) quadruplicaram, devido à consolidação do cartel da OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo). Os grandes aumentos de preços em 1979-80 foram resultado
da perturbação do mercado mundial de petróleo que se seguiu à revolução iraniana.
A concepção keynesiana dos efeitos desses choques de oferta é mostrada na Figura 8.14. O
aumento inicial dos preços do petróleo e o aumento do preço de outras fontes de energia (carvão,
gás natural, etc.) resultante da tentativa dos usuários de energia de substituir o petróleo caro por
outros combustíveis, causam um deslocamento da curva de oferta agregada de Ys0(Pe0) para
Ys1(Pe0). O produto declina de Y0 para Y1 e os preços sobem de P0 para P1. Esse é o efeito direto
do choque de oferta. À medida que os preços de produtos relacionados à energia e de todos os
produtos que usam essa energia no processo de produção – uma categoria de abrangência quase
total – aumentam, os ofertantes de trabalho acabam por perceber o aumento nos preços; o nível
esperado de preços sobe (de Pe0 para Pe1). Há um novo deslocamento para a esquerda da curva
de oferta agregada, de Ys1(Pe0) para Ys1(Pe1). Os preços aumentam ainda mais, para P2, e o
produto cai para Y2.
A grande mudança seguinte nos preços do petróleo aconteceu em agosto de 1990, depois da
invasão do Kuwait pelo Iraque. O preço do petróleo disparou quando a produção de petróleo do
Kuwait foi interrompida e as Nações Unidas determinaram um embargo às exportações de
petróleo iraquiano. O preço do petróleo declinou tão rapidamente quanto havia subido quando
ficou evidente a rápida vitória das forças da ONU no início de 1991. Os efeitos tanto da subida
como da queda dos preços do petróleo podem ser observados no comportamento do índice de
preços ao produtor. O índice aumentou mais de 15% (a taxas anuais) entre agosto e outubro de
1990, depois caiu 5% (novamente a taxas anuais) entre dezembro de 1990 e março de 1991.
O preço do petróleo caiu fortemente no final da década de 1990, chegando a um mínimo de
cerca de US$ 10 por barril em 1999. Essa queda contribuiu para a baixa inflação nos Estados
Unidos e na Europa nos últimos anos dessa década.
FIG 8.14 Efeitos de um aumento autônomo dos preços mundiais de insumos energéticos
Um aumento autônomo dos preços de insumos energéticos desloca a curva de oferta agregada para a esquerda de Ys0 (Pe0) para
Ys1 (Pe0); o produto cai de Y0 parmoeda e, portanto, sobrea Y1 e os preços sobem de P0 para P1 Quando os ofertantes de
trabalho percebem a elevação do nível de preços, o nível esperado de preços sobe de Pe0 para Pe1 A curva de oferta agregada
desloca-se mais para a esquerda, para Ys1 (Pe1). O produto cai para Y2 e o nível de preços sobe para P2.
Na Figura 8.13, é possível ver que o preço do petróleo apresentou tendência de alta durante o
início do século XXI, com um pico de mais de US$ 130 por barril em 2008. Com o início da
crise financeira e a recessão mundial, o preço do petróleo desabou para menos de US$ 40 por
barril, voltando a subir de forma acentuada, para mais de US$ 100 por barril, no final de 2011. A
volatilidade do preço do petróleo e de outras mercadorias básicas continua a ser uma fonte de
instabilidade macroeconômica e um desafio para os formuladores de políticas. No verão de
2008, por exemplo, no pico de alta dos preços do petróleo, o Banco Central Europeu enrijeceu a
política monetária por preocupação com a inflação. Dois meses depois, quando a crise financeira
se intensificou com a falência do Lehman Brothers, o Banco Central apressou-se em reverter o
curso.
Conclusão
com o pressuposto de que V é constante, podemos determinar PY para um dado valor de M. Essa
relação produz a hipérbole retangular Yd(M0) traçada na Figura 8.15a para M igual a M0. Essa
era a curva de demanda agregada clássica.
Aumentos da demanda em um setor da economia – demanda do governo ou demanda por
investimentos autônomos, por exemplo – não afetariam a demanda agregada no sistema clássico.
Mudanças em demandas setoriais provocariam ajustes na taxa de juros. A taxa de juros
desempenhava um papel estabilizador no sistema clássico e assegurava que tais mudanças em
demandas setoriais não alterassem a demanda agregada. Apenas fatores monetários deslocam a
curva de demanda agregada clássica.
A curva de demanda agregada keynesiana é mostrada na Figura 8.15b. Embora tanto a curva
de demanda agregada clássica como a keynesiana tenham inclinação negativa, há uma diferença
importante entre elas. Enquanto a curva de demanda agregada clássica só se desloca quando há
variação na oferta de moeda, a posição da curva de demanda agregada keynesiana depende de
variáveis como o nível de gastos do governo (G0), o nível de arrecadação tributária (T0) e o nível
de gastos com investimentos autônomos (Ī0), além da quantidade de moeda (M0). Como vimos, a
curva de demanda agregada keynesiana será deslocada quando qualquer um desses outros
fatores variar. No sistema keynesiano, a taxa de juros não isola completamente a demanda
agregada de mudanças em demandas setoriais. Essa diferença nos determinantes da demanda
agregada nos modelos keynesiano e clássico produz diferenças importantes em suas respectivas
explicações de instabilidades na economia.
Keynes acreditava que a instabilidade da demanda por investimento fosse a principal causa
de flutuações cíclicas na renda. Mudanças autônomas na demanda por investimento causadas
por mudanças nas expectativas produzem deslocamentos da curva de demanda agregada e,
consequentemente, instabilidade nos preços e no produto.
Questões de revisão
1. Explique por que a curva de demanda agregada keynesiana tem inclinação negativa quando
traçada em relação ao nível de preços.
2. Derive a curva de demanda agregada keynesiana para o caso em que o investimento é
completamente inelástico em relação aos juros e, portanto, a curva IS é vertical (siga o
procedimento da Figura 8.2). Explique a inclinação resultante da curva de demanda agregada
nesse caso.
3. Em que sentido a teoria clássica da oferta agregada é “fundamentalmente incompatível” com
o sistema keynesiano?
4. Por que os multiplicadores de política fiscal são menores em magnitude na versão de preços
variáveis-salários fixos do modelo keynesiano do que no modelo IS-LM com preços fixos?
Por que esses multiplicadores são ainda menores quando permitimos que o salário monetário,
além do nível de preços, também seja variável?
5. Voltemos ao caso examinado na pergunta 2, em que o investimento é completamente
inelástico em relação aos juros e a curva IS é vertical. Analise os efeitos de um aumento nos
gastos do governo nesse caso pela versão de preços variáveis e salários fixos do modelo
keynesiano. Compare os efeitos com os da versão de preços fixos do modelo.
6. Analise os efeitos de um aumento na oferta de moeda no modelo keynesiano em que tanto o
nível de preços como o salário monetário sejam considerados variáveis. Inclua em sua
resposta os efeitos sobre o nível de renda real, o nível de preços, a taxa de juros e o salário
monetário.
7. No sistema keynesiano, aumentos da demanda agregada levam a aumentos do produto
porque o salário monetário sobe menos do que proporcionalmente à elevação dos preços em
resposta a esses aumentos da demanda. Essa condição é necessária porque as firmas só
contratarão mais trabalhadores se o salário real (W/P) cair. Explique as razões possíveis para
que o salário monetário não se ajuste proporcionalmente ao nível de preços no modelo
keynesiano de curto prazo.
8. Suponha que ocorra uma queda exógena no preço do petróleo importado. Usando a análise
gráfica mostrada neste capítulo, explique como esse choque afetaria o produto e o nível de
preços. Explique o papel desempenhado por expectativas inflacionárias nesse ajuste.
9. “A moeda é mais importante no sistema keynesiano que no sistema clássico.” Você
concorda? Ou afirmaria que o oposto é verdadeiro?
10. Quais são as diferenças essenciais entre as teorias clássica e keynesiana da oferta agregada?
11. Quais são as diferenças essenciais entre as teorias clássica e keynesiana da demanda
agregada?
12. Compare os efeitos de uma ação de política fiscal expansionista, por exemplo, um aumento
nos gastos do governo financiado pela venda de títulos do governo ao público, nos modelos
keynesiano e clássico. Inclua em sua resposta os efeitos dessa mudança de política sobre o
nível de renda real, o emprego, o nível de preços e a taxa de juros.
13. Na versão de preços variáveis e salários fixos do modelo keynesiano, analise os efeitos de
um aumento na demanda por moeda (deslocamento na preferência pela liquidez) devido a
uma perda de confiança em ações e títulos de risco, como ocorreu na crise financeira de
2007-2009.
PARTE III
A revista britânica The Economist definiu um monetarista como alguém “que julga ser mais
importante regular a oferta de moeda em uma economia do que influenciar outros instrumentos
econômicos. Isso é considerado muito perverso por aqueles que não se dão o trabalho de
descobrir o que de fato significa”. Neste capítulo, vamos examinar a posição monetarista.
O ataque keynesiano à ortodoxia clássica foi bem-sucedido. Depois que Keynes morreu em
1946, seus sucessores assumiram a tarefa de aperfeiçoar suas teorias e aplicá-las aos problemas
de política econômica enfrentados pelas nações ocidentais em sua transição para economias de
paz no ocaso da Segunda Guerra Mundial. Como vimos, um aspecto da revolução keynesiana
foi a oposição à teoria quantitativa da moeda clássica. Na verdade, os primeiros economistas
keynesianos atribuíam muito pouca importância à oferta de moeda. O monetarismo começou
como uma tentativa de reafirmar a importância econômica da moeda e, portanto, da política
monetária.
Milton Friedman, que morreu aos 94 anos em novembro de 2006, foi a principal força
intelectual no desenvolvimento inicial do monetarismo. Friedman foi professor na Universidade
de Chicago por muito tempo. Depois de se aposentar, em 1977, tornou-se pesquisador sênior na
Hoover Institution da Universidade Stanford. Friedman publicou artigos em periódicos
profissionais de economia até 2005. Por ocasião de sua morte, muitas publicações o descreveram
como um dos dois economistas mais influentes do século XX. O outro era Keynes.
Na teoria monetária, essa análise foi interpretada como significando que, na equação
quantitativa MV = PT, o termo referente à velocidade poderia ser considerado muito estável,
determinado independentemente dos outros termos da equação e, como resultado, mudanças
na quantidade de moeda seriam refletidas nos preços ou na produção.1
O aumento nos gastos do governo de G0 para G1 desloca a curva IS de IS(G0) para IS(G1). A
renda aumenta de Y0 para Y1 e a taxa de juros sobe de r0 para r1. A oferta de moeda é mantida
constante aqui, pressupondo-se que os gastos aumentados do governo sejam financiados pela
venda de títulos ao público. O nível de renda mais alto produz um aumento na demanda por
moeda para transações. Para igualar novamente a demanda por moeda à oferta de moeda que
permaneceu inalterada, é preciso que a taxa de juros aumente. Com a taxa de juros mais alta, a
demanda especulativa por moeda declina e a demanda por saldos de moeda para transações,
para um dado nível de renda, também cai. Assim, a mesma oferta de moeda pode ser compatível
com um nível de renda mais alto. Outra maneira de expressar essa conclusão é dizer que a
velocidade varia positivamente com a taxa de juros.
Como a velocidade é variável no sistema keynesiano, não há um nível único de renda que
corresponda a uma dada oferta de moeda. Não seria sequer aproximadamente correto afirmar
que, no curto prazo, a renda nominal ou real é determinada unicamente pelo nível de oferta de
moeda. Isso não significa, porém, que os keynesianos não atribuam importância à moeda. A
quantidade de moeda é um dos principais determinantes da renda no sistema keynesiano.
Muitos dos primeiros economistas keynesianos (por volta de 1945-1950), no entanto, de fato
acreditavam que a moeda tinha pouca importância. Essa opinião baseava-se em juízos empíricos
sobre a inclinação das curvas IS-LM, que, como vimos em nossa análise do sistema keynesiano,
é importante para determinar a eficácia relativa das políticas fiscal e monetária. Influenciados
pela experiência da Depressão, eles acreditavam que a curva LM era muito plana e a curva IS
muito inclinada – a configuração que seria característica de condições de depressão como as da
década de 1930. A Depressão foi caracterizada por baixos níveis de renda e da taxa de juros.
Nesse nível baixo da taxa de juros, a elasticidade da demanda por moeda seria alta, por razões
discutidas no Capítulo 6. Tal situação aproxima-se do caso da armadilha da liquidez; a curva LM
torna-se muito plana. Além disso, em condições de depressão, os primeiros economistas
keynesianos acreditavam que o investimento seria relativamente inelástico em relação aos juros,
tornando a curva IS muito inclinada. Durante a Depressão, a taxa de utilização das instalações e
equipamentos existentes foi muito baixa. Os primeiros economistas keynesianos acharam que,
com tamanha capacidade excedente, seria pouco provável que os investimentos reagissem muito
a mudanças nas taxas de juros.
A Figura 9.2 mostra essa configuração das curvas IS e LM e ilustra a ineficácia de um
aumento da quantidade de moeda que desloque a curva LM de LM0 para LM1. Com a curva LM
plana na região do ponto de equilíbrio, uma dada mudança na oferta de moeda tem muito pouco
efeito para reduzir a taxa de juros, o primeiro elo na cadeia que conecta moeda e renda no
modelo keynesiano. Além disso, com uma curva IS muito inclinada, uma queda na taxa de juros
não aumentaria muito os investimentos. Essa combinação de uma suposta alta elasticidade-juros
da demanda por moeda e uma baixa elasticidade-juros do investimento levou os primeiros
economistas keynesianos à conclusão de que a moeda não era importante.
Que papel havia para a política monetária? Durante a Segunda Guerra Mundial, boa parte dos
gastos de guerra tinha sido financiada pela venda de títulos para o público à taxas de juros
relativamente baixas. A manutenção de taxas de juros baixas e estáveis para os títulos teria os
efeitos desejáveis de manter baixo o custo dos pagamentos de juros da dívida e proteger o valor
de capital dos títulos para os investidores (lembremos que os preços dos títulos e as taxas de
juros variam inversamente). Baixas taxas de juros também significavam que, dentro de suas
limitações, a política monetária daria toda a contribuição possível para fortalecer a demanda
agregada. Como os primeiros economistas keynesianos temiam um retorno às condições de
depressão da década de 1930, essa era mais uma característica desejável das baixas taxas de
juros. Assim, taxas de juros baixas e estáveis tornaram-se a meta da política monetária. Para
alcançar essa meta, as autoridades monetárias atuavam em cooperação com o Tesouro
americano para fixar o nível das taxas de juros.
FIG 9.2 Visão dos primeiros keynesianos sobre a ineficácia da política monetária
Com a curva IS muito inclinada e acima da faixa em que a curva LM é quase horizontal, um aumento na quantidade de moeda,
que desloca a curva LM de LM0 para LM1, tem pouco efeito sobre a renda.
Outro elemento da visão dos primeiros keynesianos também tornava desejável a fixação da
taxa de juros. Seguindo Keynes, eles consideravam a demanda por moeda altamente instável. A
curva LM não só era plana (na faixa relevante), como também deslocava-se de maneira
imprevisível. Esses deslocamentos levariam a uma instabilidade nos mercados financeiros que
poderia ser evitada fixando-se a taxa de juros.
No Capítulo 17, vamos examinar o processo pelo qual as autoridades monetárias podem fixar
a taxa de juros. Para nossos fins aqui, o ponto importante é que, ao fazer isso, as autoridades
monetárias perdem o controle da oferta de moeda. As autoridades monetárias precisam ofertar
qualquer quantidade de moeda que seja necessária para produzir equilíbrio no mercado
monetário (e, portanto, no de títulos) à taxa de juros desejada. Para os primeiros keynesianos,
essa perda de controle da oferta de moeda não era importante, uma vez que eles consideravam
que a quantidade de moeda não tinha importância.
a Para a análise de Friedman, veja FRIEDMAN, Milton; SCHWARTZ, Anna J. The great contraction. Princeton: Princeton
University Press, 1965. Também sobre o tema das causas da Grande Depressão, veja: TEMIN, Peter. Did monetary forces
cause the Great Depression? New York: Norton, 1976; TEMIN, Peter. Lessons from the Great Depression. Cambridge:
MIT Press, 1990.
expressando uma relação proporcional entre a demanda por moeda (Md) e o nível de renda
nominal [preço (P) vezes renda real (Y)]. O fator de proporcionalidade (k) era considerado
constante no curto prazo.
Friedman enfatiza que a teoria quantitativa era, como pode ser visto pela equação (9.1), uma
teoria da demanda por moeda. Como k era tratado como uma constante pelos economistas de
Cambridge e considerava-se que a oferta nominal de moeda (M) fosse definida exogenamente
pelas autoridades monetárias, a equação de Cambridge pode ser transformada em uma teoria da
renda nominal,
onde a barra sobre o k ou o V indica que essas magnitudes não variam. Friedman examinou as
mudanças que deveriam ser feitas na teoria da demanda por moeda de Cambridge à luz da teoria
da demanda por moeda de Keynes.
A teoria keynesiana da demanda por moeda enfatizava o papel da moeda como um ativo além
de seu papel em transações. Ao estudar os fatores que determinavam quanta moeda as pessoas
iriam reter, Keynes considerou fatores que determinavam a desejabilidade da moeda em relação
a outros ativos. Ele fez a suposição simplificadora de que os outros ativos eram um grupo
suficientemente homogêneo para poder ser agrupados sob a categoria “títulos”. Examinou,
então, como um indivíduo alocava sua riqueza entre moeda e títulos. Os principais fatores que,
para ele, determinavam essa divisão eram o nível de renda e o nível da taxa de juros. Em termos
da equação de Cambridge, Keynes centrou-se na taxa de juros como o determinante primário de
k, o montante de saldos monetários que uma pessoa reteria para um dado nível de renda. Uma
elevação da taxa de juros levava a uma queda em k ou, de forma equivalente, a um aumento da
velocidade de circulação da moeda, como vimos na subseção anterior. Como k era uma variável,
e não uma constante, a equação de Cambridge não podia, por si só, fornecer uma teoria da renda
nominal.
Friedman aceitou a ênfase de Keynes no papel da moeda como um ativo. Tendo isso como
base, ele formulou sua própria teoria da demanda por moeda. Também aqui a renda é um dos
determinantes da demanda por moeda e, como na análise de Keynes, podemos considerar que a
análise de Friedman fornece uma teoria dos fatores que determinam o k de Cambridge, os
estoques de moeda mantidos como proporção da renda nominal. A função demanda por moeda
de Friedman pode ser expressa como se segue:
onde, em lugar de um k constante, temos agora k expresso como uma função das taxas de
retorno dos ativos que são alternativas à retenção da moeda. Um aumento na taxa de retorno de
qualquer um desses ativos alternativos faria k declinar, refletindo o aumento da desejabilidade
do ativo alternativo. Nesses termos, percebemos que Friedman reformulou a teoria quantitativa,
oferecendo uma explicação sistemática de k que leva em conta a análise keynesiana do papel da
moeda como um ativo.
Se essa é a teoria quantitativa reformulada, como caracterizaríamos um teórico quantitativista
moderno? Em que aspectos ele seria diferente de um keynesiano? Na visão de Friedman, um
teórico quantitativista acredita no seguinte:
1. A função demanda por moeda é estável.
2. Essa função demanda desempenha um papel importante na determinação do nível de
atividade econômica.
3. A quantidade de moeda é fortemente afetada por fatores de oferta de moeda.
Na versão de Friedman para a equação de Cambridge, a condição de equilíbrio no mercado
monetário é
Com uma função demanda por moeda estável, um aumento exógeno na oferta de moeda ou
deve levar a uma elevação em PY ou causar declínios em rB, rA e rD (o que fará k aumentar) com
efeitos indiretos sobre PY. Um teórico quantitativista acredita que a função demanda por moeda
é de fato estável; que mudanças na oferta de moeda derivam principalmente do lado da oferta
como resultado de políticas do banco central; e, por fim, que mudanças na quantidade de moeda
são importantes para a determinação da renda nominal (que boa parte do efeito de uma mudança
em M reflete-se em uma mudança em PY).
De que modo um teórico quantitativista difere de um keynesiano? A teoria de Friedman
discorda claramente da posição dos primeiros keynesianos. Os primeiros keynesianos
acreditavam que a função demanda por moeda era instável; que a elasticidade-juros da demanda
por moeda era extremamente alta; e que, como consequência, mudanças na quantidade de moeda
não tinham efeitos previsíveis importantes sobre o nível de atividade econômica. Na visão de
Friedman, o teórico quantitativista acredita que a função demanda por moeda é estável e que a
quantidade de moeda é um determinante importante do nível de atividade econômica. Além
disso, Friedman acredita, como veremos adiante, que a elasticidade-juros da demanda por moeda
é baixa.
E quanto às diferenças entre a teoria quantitativa e a posição keynesiana moderna? Os
keynesianos hoje acreditam que a política monetária é importante. Eles creem que inovações no
setor financeiro no período após 1980 lançaram dúvidas quanto à estabilidade da função
demanda por moeda. A corrida para a liquidez durante a crise financeira de 2007-2009 também
indica uma instabilidade na demanda por moeda. Quanto à elasticidade-juros da demanda por
moeda, as estimativas de keynesianos são mais altas do que as sugeridas pelas pesquisas do
próprio Friedman. De um modo geral, se um teórico quantitativista ou monetarista tivesse de
assinar embaixo apenas das três proposições listadas por Friedman, as posições do keynesiano
moderno e da teoria quantitativa moderna difeririam, mas não o bastante para gerar conclusões
de política econômica fortemente distintas.
é uma aproximação melhor do que a dada por representações simples da concepção keynesiana.
Essa posição monetarista é necessária para afirmações de Friedman como “eu vejo como um
exagero a descrição de nossa posição como ‘a moeda é tudo que importa para explicar mudanças
na renda nominal e mudanças de curto prazo na renda real’, mas ela dá o tom certo para nossas
conclusões”; ou “mudanças apreciáveis na taxa de crescimento do estoque de moeda são uma
condição necessária e suficiente para mudanças apreciáveis na taxa de crescimento da renda
monetária”.2
Na visão monetarista, a posição da curva de demanda agregada é determinada pela oferta de moeda. Aumentos na oferta de
moeda de M0 para M1, depois para M2, deslocam a curva de demanda agregada de Yd(M0) para Yd(M1), depois para Yd(M2).
Três posições da curva de demanda agregada são mostradas no gráfico, Yd(M0), Yd(M1) e
Yd(M2), correspondentes a três valores da oferta de moeda, M0, M1 e M2. A posição monetarista
pode ser representada como uma afirmação de que mudanças em M são necessárias para que
ocorram deslocamentos significativos da curva de demanda agregada. A moeda é a única
influência sistemática importante sobre a demanda agregada.
Resta responder à questão sobre o que determina a oferta agregada. As variáveis reais que
determinam a posição da curva de oferta agregada determinarão, na visão monetarista, o nível de
produto real no longo prazo (veja a proposição 2). Há também a questão da inclinação da curva
de oferta agregada e, consequentemente, das proporções de um aumento da renda nominal
induzido pela moeda que levam a um aumento do produto e dos preços, respectivamente. Estas
são as questões centrais do próximo capítulo.
Um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS de IS0 para IS1. Com a curva IS relativamente plana e a curva LM quase
vertical, essa ação de política fiscal tem pouco efeito sobre a renda (Y sobe apenas de Y0 para Y1).
As razões pelas quais os monetaristas chegam a essa conclusão podem ser vistas na Figura
9.5. Nela consideramos os efeitos de um aumento nos gastos do governo quando aceitamos os
pressupostos monetaristas sobre a inclinação das curvas IS e LM. Um aumento nos gastos do
governo de G0 para G1 desloca a curva IS para a direita, de IS0 para IS1. O efeito do aumento nos
gastos do governo no caso monetarista é produzir uma elevação da taxa de juros (de r0 para r1).
O nível de renda altera-se muito pouco (de Y0 para Y1). Por quê?
A explicação já foi oferecida na discussão sobre como a eficácia relativa das políticas
monetária e fiscal depende da inclinação das curvas IS e LM, em particular de como se considera
ser a elasticidade-juros da demanda por moeda e da demanda por investimento. Os monetaristas
acham que a elasticidade-juros da demanda por moeda é pequena; a curva LM é bastante
inclinada. O aumento nos gastos do governo aumenta inicialmente a demanda agregada.
Conforme a renda começa a subir, a demanda por saldos para transações aumenta. Com a oferta
de moeda fixa, esse aumento produz uma pressão de alta sobre a taxa de juros, que sobe até que
a oferta e a demanda por moeda sejam novamente iguais. Se a demanda por moeda for inelástica
em relação aos juros, é necessário um grande aumento na taxa de juros para reequilibrar a
demanda por moeda, com a oferta de moeda fixa.
A curva IS é relativamente plana na visão monetarista. A demanda por investimento é muito
sensível a mudanças na taxa de juros. Portanto, a elevação da taxa de juros necessária para
manter o mercado monetário em equilíbrio fará com que a demanda agregada do setor privado
diminua substancialmente quando os gastos governamentais começam a estimular a renda. Essa
redução na demanda agregada do setor privado é o que chamamos no Capítulo 4 de crowding
out, ou efeito deslocamento.
Minha própria prescrição ainda é que as autoridades monetárias façam todo o possível para
evitar tais oscilações, adotando publicamente a política de obter uma taxa de crescimento
específica em um estoque monetário específico. O valor preciso da taxa de crescimento,
assim como do estoque monetário, são menos importantes do que a adoção de uma taxa
definida e conhecida.5
Hoje, alguns monetaristas propõem regras alternativas para a política monetária que são
menos inflexíveis do que a regra da taxa constante de crescimento da moeda de Friedman. As
razões para essas alternativas são examinadas na seção 9.4. O elemento comum nas propostas
monetaristas, porém, é que a política monetária deve ser determinada por uma regra e não
deixada ao livre arbítrio dos formuladores de políticas.
Aceitando-se o raciocínio de que as coisas correrão bem com uma regra de política
monetária, ainda persiste a questão: Por que, então, não procurar o melhor? Por que não usar a
política monetária para compensar até mesmo pequenos choques que afetem a renda? A resposta
de Friedman é, “Simplesmente não sabemos o suficiente para ser capazes de reconhecer
perturbações menores quando elas ocorrem ou para ser capazes de prever com alguma precisão
quais serão seus efeitos ou qual política monetária é necessária para compensar seus efeitos”.6
Friedman e outros monetaristas acreditam que mudanças na oferta de moeda terão um efeito
forte sobre a renda, mas que há alguma defasagem, com o efeito mais intenso ocorrendo apenas
depois de 6 a 18 meses. Assim, para compensar um pequeno choque, é preciso ser capaz de
prever seu tamanho e quando ele afetará a economia com muito tempo de antecedência.
Friedman e outros monetaristas não acham que tenhamos conhecimento suficiente para isso.
Citando novamente Friedman: “Diz um ditado que o melhor é muitas vezes inimigo do bom, o
que parece muito relevante. A meta de um grau extremamente alto de estabilidade econômica é,
sem dúvida, esplêndida; nossa capacidade de alcançá-la, porém, é limitada”.7
Conclusão
Neste capítulo, examinamos a crença monetarista na importância da moeda. De acordo com a
posição monetarista, a moeda é o principal determinante da renda nominal. Essa posição
contrasta com a visão keynesiana moderna de que a moeda é uma das diversas variáveis com
efeitos importantes sobre a renda. Essas posições diferentes quanto à importância da moeda
levam os monetaristas e keynesianos a conclusões diversas sobre as políticas econômicas.
Dada a redução da influência do monetarismo sobre as políticas econômicas, pode causar
surpresa que um economista não-monetarista, Bradford De Long, tenha escrito, em 2000, um
artigo com o título “The Triumph of Monetarism”. Também poderia ser motivo de espanto que
Ben Bernanke, outro não-monetarista e, na época, membro da diretoria do Federal Reserve,
tenha escrito em 2003: “O modelo monetarista de Friedman foi tão influente que, pelo menos
em suas linhas gerais, tornou-se quase idêntico à teoria e à prática monetárias modernas”.11
Mas os aspectos centrais do modelo de Milton Friedman de fato tornaram-se parte do senso
comum sobre políticas monetárias, ainda que recomendações de política específicas dos
monetaristas tenham perdido influência. Políticas monetárias baseadas em regras ganharam
popularidade entre economistas acadêmicos e autoridades de bancos centrais. O papel
dominante da política monetária na determinação da inflação foi amplamente aceito. As
concepções de Friedman sobre as limitações de políticas de estabilização também permanecem
fortemente influentes.
Por fim, a pesquisa de Friedman sobre fatores monetários e financeiros na Grande Depressão
teve uma influência pessoal direta sobre Ben Bernanke, que viria a liderar a resposta do Federal
Reserve à crise financeira de 2007-09. Em uma conferência em 2003, Bernanke reconheceu a
responsabilidade do Federal Reserve pela contração monetária de 1929-33 e disse a Friedman:
“Não voltaremos a fazer isso”. Bernanke, durante sua carreira acadêmica, havia estudado
atentamente a Grande Depressão, inclusive a interpretação de Friedman para os eventos. Ele
utilizou as lições aprendidas na formulação de políticas inovadoras para evitar uma repetição
desses eventos.
Questões de revisão
1. Compare as concepções keynesiana e monetarista sobre a determinação da velocidade da
moeda. Como suas visões divergentes sobre a velocidade afetam as respectivas conclusões
sobre políticas econômicas?
2. Por que os primeiros economistas keynesianos eram tão pessimistas quanto à eficácia da
política monetária?
3. Compare a formulação da função demanda por moeda de Milton Friedman com a
especificação keynesiana da mesma função examinada em capítulos anteriores.
4. Mostre como são as curvas IS e LM na visão monetarista. Use essas curvas para ilustrar as
conclusões monetaristas sobre a eficácia relativa das políticas monetária e fiscal.
5. Compare as concepções monetarista e keynesiana sobre a conduta adequada de política
fiscal. Para monetaristas e keynesianos, explique não só as conclusões a que eles chegam
quanto à política fiscal, mas também como essas conclusões relacionam-se às respectivas
teorias.
6. Compare as concepções monetarista e keynesiana moderna sobre a conduta adequada da
política monetária. Para monetaristas e keynesianos, explique não só as conclusões a que eles
chegam quanto à política monetária, mas também como essas conclusões relacionam-se às
respectivas teorias.
7. Analise os efeitos de uma redução dos impostos de T0 para T1 no modelo monetarista. Em
sua resposta, não esqueça de levar em conta o financiamento do déficit resultante da redução
da arrecadação tributária. Como os níveis de equilíbrio da renda e da taxa de juros são
afetados pelo corte nos impostos?
CAPÍTULO 10
Produto, inflação e desemprego: visões alternativas
Neste capítulo, vamos examinar visões alternativas sobre a relação entre os níveis de produto
e desemprego e a taxa de inflação. No Capítulo 1, vimos que, no período de 1953-1969, houve
uma relação negativa entre desemprego e inflação (Figura 1.5a), mas a relação entre essas duas
variáveis depois de 1970 era muito menos clara (Figura 1.5b). Algumas explicações para a
mudança dessa relação serão apresentadas neste capítulo, começando pela teoria da taxa natural
de desemprego de Milton Friedman. Examinaremos também visões keynesianas sobre o trade-
off produto-inflação, incluindo o conceito de taxa natural de Friedman. Por fim, veremos como o
pensamento sobre a taxa natural de desemprego variou ao longo dos 45 anos desde que
Friedman apresentou o conceito e avaliaremos a relevância atual do conceito.
A Figura 10.1 mostra que as taxas naturais de produto e emprego dependem da oferta de
fatores de produção e da tecnologia da economia – fatores do lado da oferta. As taxas naturais de
produto e emprego não dependem do nível de demanda agregada. Tudo isso é praticamente
igual ao sistema clássico; a diferença entre Friedman e os economistas clássicos é que a teoria de
Friedman não pressupõe que a economia se encontre necessariamente nesses níveis naturais de
emprego e produto no curto prazo.
Como no modelo keynesiano, no modelo de Friedman os ofertantes de trabalho não
conhecem o salário real. Eles precisam basear suas decisões de oferta de trabalho no salário real
esperado (W/Pe). Portanto, no curto prazo, a oferta de trabalho pode não ser dada pela curva de
oferta da Figura 10.1a; Pe pode não ser igual a P. Nesse caso, o emprego e, portanto, o produto
não estarão em suas taxas naturais.
10.2 Política monetária, produto e inflação: a visão monetarista de
Friedman
Para entender por que Friedman acredita que produto e emprego divergem de suas taxas
naturais temporariamente, mas acabarão convergindo para elas, vamos examinar a análise de
Friedman para as consequências de curto e longo prazo de um aumento na taxa de crescimento
da oferta de moeda.
A doutrina padrão a que Friedman se refere é a curva de Phillips. A curva de Phillips é uma
relação negativa entre a taxa de desemprego (U) e a taxa de inflação (P), conforme representado
na Figura 10.2. Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção e, assim,
baixam a taxa de desemprego. Essas altas taxas de crescimento da demanda também produzem
um aumento na taxa de crescimento dos preços (isto é, elevam a taxa de inflação). Assim, a
curva de Phillips postula um trade-off entre inflação e desemprego; taxas mais baixas de
desemprego podem ser obtidas, mas apenas ao custo de taxas de inflação mais elevadas.4
Friedman está de acordo com essa ideia de um trade-off entre inflação e desemprego no curto
prazo.
Curva de Phillips
É a curva que mostra a relação entre as taxas de
desemprego e de inflação.
No curto prazo, um aumento da taxa de crescimento da oferta de moeda move a economia do ponto A para o ponto B ao longo da
curva de Phillips de curto prazo. O desemprego diminui e a inflação sobe.
Friedman ressalta que, no curto prazo, os preços dos produtos aumentam mais depressa que
os preços dos fatores de produção, sendo que o preço de fator crucial é o salário monetário.
Assim, o salário real (W/P) cai. Essa é uma condição necessária para que o produto cresça,
porque as firmas precisam estar na curva de demanda por trabalho mostrada na Figura 10.1. As
firmas só expandem o emprego e a produção com um declínio do salário real.
Friedman não afirma que os trabalhadores estão sempre na curva de oferta de trabalho
mostrada na Figura 10.1. Essa curva expressa a oferta de trabalho como uma função do salário
real efetivo e Friedman não pressupõe que os trabalhadores conheçam o salário real. No curto
prazo, após um período de preços estáveis, pressupõe-se que os trabalhadores avaliem as ofertas
de salário nominal de acordo com “o nível de preços anterior”. Embora os preços tenham
subido, os trabalhadores ainda não perceberam isso e aumentarão a oferta de mão de obra se lhes
for oferecido um salário monetário mais alto, mesmo que esse aumento do salário monetário
seja menor que o aumento do nível de preços, ou seja, mesmo que o salário real seja mais
baixo. No curto prazo, a oferta de trabalho aumenta, porque o salário real ex ante (ou esperado)
é mais alto como resultado do salário nominal mais alto e da percepção inalterada do
comportamento dos preços. A demanda por mão de obra aumenta devido à queda do salário ex
post (efetivo) pago pelo empregador. Em consequência, o desemprego pode ser levado para
baixo da taxa natural.
Essa situação é temporária, pois os trabalhadores acabam por observar o nível de preços mais
alto e demandar salários monetários mais elevados. Em termos da Figura 10.1, o salário real foi
empurrado para baixo de (W/P)*, o salário que equilibra o mercado de trabalho depois que os
ofertantes de mão de obra percebem corretamente o nível de preços e, portanto, o salário real. A
um salário real mais baixo, há um excesso de demanda por trabalho, o que puxa o salário real de
volta para o seu nível de equilíbrio mais alto, e essa elevação do salário real faz o emprego
retornar à taxa natural mostrada na Figura 10.1.
As implicações para a curva de Phillips desse ajuste de longo prazo de volta à taxa natural
são ilustradas na Figura 10.3. A curva denominada CP(Pe = 0) é a curva de Phillips de curto
prazo da Figura 10.2. Aqui, a curva é traçada explicitamente para uma dada taxa de inflação
esperada pelos ofertantes de mão de obra, que neste caso são preços estáveis (Pe = 0, onde Pe é a
taxa de inflação esperada). Já analisamos o processo pelo qual um aumento da taxa de
crescimento da oferta de moeda de 3% para 5% move a economia no curto prazo do ponto A
para o ponto B.
Quando os ofertantes de mão de obra perceberem que os preços estão subindo, a curva de
Phillips será deslocada para cima e para a direita. Os ofertantes de mão de obra demandarão um
aumento maior dos salários monetários e, como consequência, a qualquer taxa de desemprego
corresponderá uma taxa de inflação mais elevada. Se o crescimento da oferta de moeda
continuar em 5%, a economia retornará à taxa natural de desemprego de 6%, mas agora com
uma taxa de inflação de 2% em vez do nível de preços estável inicial. Na Figura 10.3, esse ajuste
de longo prazo move a economia do ponto B para o ponto C.
Um formulador de políticas que não esteja satisfeito com esse retorno ao desemprego de 6%
(a taxa natural) talvez continue a buscar uma meta de taxa de desemprego abaixo da taxa natural,
aumentando novamente a taxa de crescimento da oferta de moeda. Vamos supor que, desta vez,
ele aumente o crescimento da oferta de moeda de 5% para 7%. Os efeitos dessa nova expansão
da demanda agregada são ilustrados na Figura 10.4. Até que os ofertantes de mão de obra
percebam o novo aumento da taxa de inflação, o emprego vai se expandir. A economia se
moverá para um ponto como D na Figura 10.4, com o desemprego abaixo da taxa natural.
Os ofertantes de mão de obra, após certo tempo, passarão a antecipar a taxa de inflação mais
alta que corresponde a um crescimento de 7% na oferta de moeda. A curva de Phillips para o
curto prazo será deslocada para a curva indicada por CP (Pe = 4%) e a economia retornará à taxa
natural de desemprego, com a taxa de inflação aumentada para 4% (7% de crescimento
monetário menos 3% de crescimento da renda real). Na Figura 10.4, movemo-nos do ponto D
para o ponto E. Se o formulador de políticas persistir em sua tentativa de fixar a taxa de
desemprego, ele aumentará mais uma vez o crescimento da oferta de moeda, por exemplo, para
9%. Isso moverá a economia no curto prazo para o ponto F, mas, no longo prazo, para o ponto
G, com uma taxa de inflação ainda mais alta.
Em determinado momento, o formulador de políticas econômicas será levado a concluir que a
inflação tornou-se um problema mais sério do que o desemprego (ou será substituído por outro
que tenha tal percepção) e a aceleração da inflação será estancada. Repare, porém, que, quando a
inflação já vem persistindo por um longo tempo, expectativas inflacionárias consolidam-se no
sistema. Em um ponto como o ponto G na Figura 10.4, as políticas de expansão da demanda
agregada aumentaram a taxa de inflação esperada (e efetiva) para 6% (9% de crescimento
monetário menos 3% de crescimento da renda real). Uma tentativa de baixar a inflação
reduzindo a taxa de crescimento da oferta de moeda, suponhamos que de volta aos 3% não-
inflacionários iniciais, não fará a economia voltar imediatamente a um ponto como o ponto
inicial A. No curto prazo, nós nos moveríamos ao longo da curva de Phillips de curto prazo
correspondente a uma taxa de inflação esperada de 6%, até um ponto como H na Figura 10.4,
com inflação alta e desemprego acima da taxa natural. Assim como levou tempo para que os
ofertantes de mão de obra reconhecessem que a taxa de inflação havia subido e, portanto, para
que demandassem uma taxa de crescimento mais rápida dos salários monetários, levará tempo
para que eles reconheçam que a taxa de inflação desacelerou e modifiquem suas demandas de
salário monetário para um nível compatível com a estabilidade de preços. Enquanto isso, na
visão monetarista, a economia sofrerá com alta inflação e alto desemprego.
Friedman acreditava que uma política monetária expansionista só consegue mover a taxa de
desemprego para baixo da taxa natural temporariamente. Há um trade-off entre desemprego e
inflação apenas no curto prazo. Em termos das Figuras 10.3 e 10.4, as curvas de Phillips de curto
prazo de inclinação negativa que são traçadas para determinadas taxas de inflação esperadas
ilustram o trade-off de curto prazo entre desemprego e inflação. A curva de Phillips de longo
prazo que mostra a relação entre inflação e desemprego quando a inflação esperada já teve
tempo de se ajustar à taxa de inflação efetiva (P = Pe) – quando a inflação é totalmente
antecipada – é vertical, conforme mostrado nas Figuras 10.3 e 10.4.
FIG 10.5 Efeitos de curto prazo de aumentos da demanda agregada no modelo keynesiano
Uma política de expansão da demanda agregada, como um aumento da taxa de crescimento da oferta de moeda, causará uma
série de deslocamentos para a direita na curva de demanda agregada (de Yd0 para Yd0 para Yd2 para Yd3) No curto prazo, o
produto, o nível de preços e o emprego aumentam.
Esses resultados podem ser interpretados em termos de uma relação de curva de Phillips.
Quanto mais depressa a demanda agregada crescer, maiores serão os deslocamentos para a
direita da curva de demanda agregada e, permanecendo os outros fatores inalterados, mais rápida
será a taxa de crescimento do produto e do emprego. Para um dado aumento da força de
trabalho, isso significa que a taxa de desemprego será mais baixa quanto mais rápida for a taxa
de crescimento da demanda agregada. Como também pode ser observado na Figura 10.5a,
aumentos na demanda agregada fazem o nível de preços subir, assim, uma vez mais
permanecendo inalterados os outros fatores, quanto mais rápido for o crescimento da demanda
agregada, maior será a taxa de inflação.
O modelo keynesiano, portanto, envolve um trade-off entre inflação e desemprego. Altas
taxas de crescimento da demanda correspondem a baixos níveis de desemprego e altas taxas de
inflação. Um crescimento mais lento da demanda agregada significa uma taxa de inflação mais
baixa, porém uma taxa de desemprego maior. A curva de Phillips resultante do modelo
keynesiano tem inclinação negativa.
Mas essa é uma relação de curto prazo ou de longo prazo? Observe que, até aqui, estamos
mantendo o nível de preços esperado constante. Estamos examinando os efeitos de aumentos na
demanda no curto prazo. Como foi explicado no Capítulo 8, os keynesianos consideram que o
nível de preços esperado depende basicamente do comportamento passado dos preços. Assim,
conforme forem ocorrendo períodos sucessivos com aumentos do nível efetivo de preços, o
nível de preços esperado vai subir. No longo prazo, precisamos levar em conta os efeitos desses
aumentos sobre o nível de preços esperado. Como não fizemos isso na Figura 10.5, nossos
resultados ali e a relação da curva de Phillips derivada deles referem-se ao curto prazo. Para
enfatizar seu caráter de curto prazo, chamamos a curva de oferta de trabalho de Ns(Pe0) e a curva
de oferta agregada de Ys(Pe0), indicando que essas curvas são traçadas para o valor inicial do
nível de preços esperado. Na Figura 10.6, identificamos curva de Phillips resultante do exemplo
da Figura 10.5 como curva de Phillips de curto prazo, CP(curto prazo).6
No curto prazo, a curva de Phillips resultante do modelo keynesiano tem inclinação negativa. No longo prazo no modelo
keynesiano, como na análise de Friedman, a curva de Phillips é vertical.
onde o efeito do salário monetário sobre a oferta de trabalho é positivo e o efeito de um aumento
dos preços esperados é negativo. Quando os preços esperados sobem, a curva de oferta de
trabalho na Figura 10.5b desloca-se para a esquerda. Menos mão de obra será ofertada para
qualquer salário monetário (W), uma vez que um dado salário monetário corresponde a um
salário real esperado mais baixo (W/Pe) depois de um aumento do nível esperado de preços. Esse
deslocamento da curva de oferta de trabalho é mostrado na Figura 10.7b. Conforme o nível de
preços esperado sobe para para , e depois para a curva de oferta de trabalho desloca-se
para , para , depois para depois para .
Quando a curva de oferta de trabalho desloca-se para a esquerda, o nível de emprego para
qualquer nível de preços dado declina. Subimos novamente ao longo de uma dada curva de
demanda por trabalho (que é traçada para um determinado nível de preços). O aumento dos
preços esperados reduz o emprego em qualquer nível de preços e, portanto, reduz o produto
ofertado em qualquer nível de preços. A curva de oferta agregada também se desloca para cima
e para a esquerda a cada aumento dos preços esperados, refletindo esse declínio no produto
ofertado a um dado nível de preços. Esses deslocamentos da curva de oferta estão ilustrados na
Figura 10.7a.
As curvas de oferta de trabalho e de oferta agregada continuam a se deslocar para a esquerda
até que o preço esperado e o preço efetivamente praticado sejam iguais. A posição de equilíbrio
de longo prazo é mostrada na Figura 10.7, onde a curva de oferta de trabalho é ea
curva de oferta agregada é . Observe que, nesse ponto, a renda e o emprego voltaram
a seus níveis iniciais, Y0 e N0. Isso deve acontecer porque produto e emprego só podem ser
mantidos acima de Y0 e N0 enquanto o preço esperado estiver abaixo do preço efetivo, ou seja,
apenas enquanto os ofertantes de trabalho subestimarem a inflação. Assim que os ofertantes de
trabalho perceberem corretamente os aumentos no nível de preços, eles demandarão aumentos
no salário monetário proporcionais ao aumento do nível de preços. Nesse ponto, o salário real
terá retornado a seu nível inicial (W3/P3 = W0/P0). Tanto a oferta como a demanda por trabalho
terão voltado a seus níveis iniciais. Em consequência, emprego e produto estarão em seus níveis
iniciais de N0 e Y0.7 Um aumento na demanda agregada eleva o produto e o emprego e, em
consequência, diminui a taxa de desemprego apenas no curto prazo. Como é mostrado na Figura
10.6, a curva de Phillips de longo prazo é vertical tanto na visão keynesiana como na de
Friedman.
FIG 10.7 Efeitos de longo prazo de aumentos da demanda agregada no modelo keynesiano
No longo prazo, deslocamentos para a esquerda da curva de oferta de trabalho e da curva de oferta agregada revertem os
aumentos no produto e no emprego resultantes da política de expansão da demanda agregada. Produto e emprego retornam a seus
níveis iniciais, Y0 e N0.
Fonte: Historical Statistics, 1960-89, 1990-2006 (Paris: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e
Economic Outlook (dezembro 2007, 2011).
Nos Estados Unidos, há também evidências de uma taxa natural de desemprego variável com
o tempo. Como na Europa, a taxa de desemprego apresentou uma tendência de alta nos Estados
Unidos nas décadas de 1970 e 1980, embora menos acentuada. Na década de 1990, porém, o
comportamento da taxa de desemprego americana foi bem diferente do observado na maioria
das economias europeias. A taxa de desemprego nos Estados Unidos caiu continuamente ao
longo dessa década, até 4% em 2000, antes de subir quando uma recessão teve início em 2001.
Histerese
Propriedade de que, quando uma variável é afastada
de um valor inicial por um choque, ela não apresenta
nenhuma tendência a retornar mesmo depois de
passado o choque. Taxas de desemprego
persistentemente altas em muitos países europeus
levaram economistas a argumentar que o desemprego
exibe histerese.
Conclusão
A teoria das taxas naturais de desemprego e produto de Friedman foi muito influente. Ela
demonstra os limites do trade-off entre inflação e desemprego. No entanto, as aparentes grandes
variações da taxa natural de desemprego na Europa levaram alguns a duvidar da utilidade do
conceito para orientar a política macroeconômica. Robert Solow, por exemplo, afirma que “uma
taxa natural que varia… sob a influência de forças inespecíficas, incluindo taxas de desemprego
passadas, não pode ser chamada de ‘natural’”.13
Em contraste, Joseph Stiglitz, chefe do Conselho de Assessores Econômicos na
administração Clinton, defende o conceito, acreditando que “a taxa natural oferece um modelo
útil para pensar sobre questões de política econômica, mesmo que haja considerável incerteza
quanto à sua magnitude exata”.14
Questões de revisão
1. Explique o conceito da taxa natural de desemprego. Quais são as implicações da teoria da
taxa natural de desemprego de Milton Friedman para a eficácia das políticas de estabilização
econômica?
2. Contraste as visões de Friedman e dos keynesianos sobre a relação entre o produto (ou o
emprego) real e a demanda agregada no curto e no longo prazo. Compare as conclusões que
Friedman e os keynesianos tiram dessa análise da relação demanda agregada-produto em
relação à utilidade de políticas econômicas ativas para estabilizar o produto e o emprego. Em
que grau as diferenças na análise teórica explicam as diferenças nas conclusões sobre
políticas econômicas?
3. Explique o conceito da curva de Phillips. Há alguma diferença entre as visões de Milton
Friedman e keynesiana da curva de Phillips de curto prazo?
4. No final da década inflacionária de 1970, há uma percepção geral de que o Federal Reserve
americano moveu-se para uma política monetária muito mais restritiva. Como você acha que
Milton Friedman usaria o esquema da curva de Phillips das Figuras 10.2 e 10.3 para analisar
os efeitos que essa mudança de política teria sobre a inflação e o desemprego?
5. “Um choque de oferta, como o aumento exógeno no preço da gasolina analisado na Seção
8.5, não teria nenhum efeito sobre a renda real ou nominal dentro do modelo monetarista.
Isso acontece porque tal choque de oferta não afetaria a quantidade de moeda que é o fator
dominante na determinação da renda nominal e, no curto prazo, também da renda real.” Você
concorda ou discorda dessa afirmação? Explique.
6. Milton Friedman dizia com frequência que o verdadeiro trade-off não era entre inflação e
desemprego, mas entre o desemprego hoje e o desemprego no futuro. O que você acha que
ele queria dizer com isso? Como essa afirmação se relaciona com as Figuras 10.2 e 10.3?
7. Tanto no modelo de Friedman como no keynesiano da curva de Phillips, a formação de
expectativas de inflação desempenha um papel importante. Explique como as expectativas
são formadas nos dois modelos. Há alguma diferença na formação de expectativas entre os
modelos?
8. A partir do final da década de 1960, o número de ingressantes no mercado de trabalho
aumentou com a chegada da geração “baby boom” à idade produtiva. Além disso, as taxas de
participação das mulheres na força de trabalho começaram a subir em meados da década de
1960. Que efeito você acha que esses fatores demográficos tiveram sobre a taxa natural de
desemprego americana na época? Que efeito tiveram sobre a taxa natural de produto?
9. Os dados da Tabela 10.1 referentes ao desemprego europeu são consistentes com a existência
de uma taxa natural de desemprego nesses países? Explique.
CAPÍTULO 11
A economia novo-clássica
Expectativas racionais
Formadas com base em todas as informações
relevantes disponíveis sobre a variável que está sendo
prevista. Além disso, considera-se que os agentes
econômicos utilizem as informações disponíveis com
inteligência; ou seja, eles compreendem as relações
entre as variáveis que observam e as variáveis que
estão tentando prever.
No modelo novo-clássico, tanto a curva de oferta agregada como a curva de oferta de trabalho dependem de expectativas
racionalmente formadas quanto a variáveis correntes, o que inclui variáveis de política fiscal e monetária (Me0, Ge0, Te0).
O aumento da oferta de moeda desloca a curva de demanda agregada de Yd(M0,…) para Yd(M1,…). Por si só, essa mudança
aumentaria o produto para Y’1 e o nível de preços para P’1. O aumento no nível de preços deslocaria a curva de demanda por
trabalho de Nd(P0) para Nd(P’1) e o emprego subiria para N’1. No entanto, como o aumento da oferta de moeda foi previsto, há
também um aumento da oferta de moeda esperada. Esse aumento desloca a curva de oferta agregada para a esquerda, de Ys(Me0,
…) para Ys(Me1,…) e desloca a curva de oferta de trabalho para a esquerda, de Ns(Me0,…) para Ns(Me,…). Esses deslocamentos
fazem o emprego e o produto voltarem para seus níveis iniciais, N0 e Y0.
Conclusão
A economia novo-clássica apresenta um desafio fundamental à ortodoxia keynesiana. No
plano teórico, os economistas novo-clássicos questionam a solidez do modelo keynesiano,
afirmando que muitas de suas relações não são firmemente baseadas no comportamento
otimizador individual. Como exemplo, os economistas novo-clássicos apontam o tratamento
ingênuo dado às expectativas de preços no modelo keynesiano. Além disso, criticam o que
consideram ser pressupostos arbitrários dos keynesianos sobre a rigidez dos salários e o
consequente desemprego involuntário.
Sobre questões de política econômica, os economistas novo-clássicos afirmam que produto e
emprego são independentes de mudanças sistemáticas e, portanto, antecipadas na demanda
agregada. Esse é o postulado novo-clássico da ineficácia das políticas econômicas. Como
políticas significativas de administração da demanda agregada para estabilizar o produto e o
emprego consistem em mudanças sistemáticas na demanda agregada, os economistas novo-
clássicos não veem função para essas políticas. Eles chegam a conclusões não intervencionistas
sobre políticas semelhantes às dos economistas clássicos.
Os keynesianos criticam a teoria novo-clássica em vários aspectos. Argumentam que o
modelo novo-clássico não pode explicar o prolongado e sério desemprego enfrentado pelos
Estados Unidos e outros países industrializados. Alegam que o pressuposto das expectativas
racionais atribui uma disponibilidade de informações extrema e irrealista aos participantes do
mercado. Por fim, e mais importante, criticam a caracterização de mercado de leilão para o
mercado de trabalho no modelo novo-clássico. Os keynesianos acreditam que o mercado de
trabalho é um mercado contratual e que a natureza desses arranjos contratuais leva a rigidez dos
salários e consequente desemprego involuntário.
A crise financeira e a depressão profunda de 2007-2009 renovaram o interesse pelas questões
centrais do debate entre economistas keynesianos e novo-clássicos. Pode o modelo novo-
clássico explicar realisticamente declínios prolongados e severos do produto? Políticas de
administração da demanda agregada proporcionam um remédio para recessões graves? Críticos
keynesianos usaram os eventos de 2007-2009 para acusar os economistas novo-clássicos de
“cometerem erros analíticos velhos e básicos por toda parte” e de “apresentar argumentos
totalmente estúpidos”. Robert Lucas de fato elogiou o Federal Reserve por reagir à crise
financeira injetando grandes quantidades de dinheiro no sistema bancário, mas essa era uma
medida que visava a consertar o mecanismo de mercado, e não simplesmente estimular a
demanda agregada. Lucas chamou a ideia de que se pudesse ajudar a recuperação por meio de
um estímulo fiscal keynesiano de um “conto de fadas”. Voltaremos a essas questões de política
econômica em capítulos posteriores sobre políticas de estabilização monetárias e fiscais.
Questões de revisão
1. Explique o conceito de expectativas racionais. Como essa visão sobre a formação de
expectativas difere do pressuposto feito em capítulos anteriores de que os trabalhadores
formam expectativas dos níveis de preços atuais e futuros com base em informações
passadas sobre preços?
2. Explique as implicações do pressuposto das expectativas racionais para a eficácia de
políticas de estabilização econômica.
3. Contraste as visões novo-clássica e keynesiana quanto ao modo de funcionamento de
mercados de trabalho.
4. Dentro do esquema novo-clássico, como você explicaria um desvio persistente em relação ao
produto potencial como o que foi experimentado pelos Estados Unidos durante a recessão
profunda de 2007-2009?
5. Compare as posições novo-clássica e monetarista quanto à eficácia de políticas de
administração da demanda agregada para estabilizar o produto.
6. Mesmo dentro do modelo novo-clássico, ações de política antecipadas, como um aumento da
oferta de moeda, afetarão a renda nominal. Explique por que o ajuste das expectativas dos
agentes econômicos, que compensa os efeitos reais de tal mudança de política, não compensa
também os efeitos nominais.
7. Por que acrescentar o adjetivo novo a clássico para descrever o modelo deste capítulo? Como
essa análise difere do modelo clássico apresentado nos Capítulos 3 e 4?
8. Comente a afirmação a seguir. Você concorda ou discorda dessa opinião sobre a eficácia de
ações de política fiscal sistemáticas ou antecipadas dentro de um modelo econômico novo-
clássico? Explique.
A economia novo-clássica ou teoria das expectativas racionais oferece uma explicação
convincente para a incapacidade de uma política monetária sistemática afetar a renda ou o
emprego reais. A situação é bem diferente, porém, no que se refere a ações de política fiscal,
como aumentos nos gastos do governo, que afetarão o produto e o emprego reais quer sejam
ou não antecipadas – a diferença entre as políticas monetária e fiscal é que a política
monetária afeta a demanda agregada e, em consequência, o produto por induzir os agentes
econômicos privados a alterar suas demandas por produto. Com expectativas racionais,
esse efeito será cancelado. Um aumento nos gastos do governo afeta a demanda agregada
diretamente e não há como o setor privado cancelar seus efeitos sobre a renda e o emprego.
9. Como um choque de oferta, como o aumento exógeno no preço do petróleo que foi analisado
na Seção 8.5, afeta o nível agregado de preços e o nível do produto real no modelo novo-
clássico?
10. Durante o governo de George W. Bush, reduções nas alíquotas do imposto sobre a renda, os
dividendos e os ganhos de capital foram a peça central da política fiscal. Analise os efeitos
macroeconômicos desses cortes de impostos dentro do modelo novo-clássico.
CAPÍTULO 12
Os ciclos reais de negócios e a economia novo-keynesiana
onde C é consumo e le é lazer. Para consumir, Robinson precisa primeiro gerar produto. Ao
fazer isso, ele deixa de lado o lazer. Assim, como nos modelos anteriores, há um trade-off
trabalho-lazer. O produto no modelo é gerado pela função produção
Poupança (S) mais consumo (C) deve ser igual à renda, ignorando a existência de impostos.
A equação (12.3) indica que, além de um trade-off trabalho-lazer, o agente representativo vê-se
diante de um trade-off entre consumo hoje e poupança para consumo futuro. A poupança hoje
aumentará o consumo no futuro porque considera-se que a poupança seja investida para
aumentar o estoque de capital no período seguinte:
Um choque de tecnologia positivo desloca a função produção para cima, de z0tF(Kt,Nt) para z1tF(Kt,Nt). Robinson reage a esse
aumento em sua produtividade elevando seu insumo trabalho de N0 para N1. Devido ao aumento na produtividade e ao aumento
no insumo trabalho, o produto sobe de Y0 para Y1.
O efeito desse choque é ilustrado na Figura 12.1. Inicialmente, com zt igual a z0t, a função
produção é dada por z0tF(Kt,Nt). Vamos supor que, diante desse conjunto de possibilidades de
produção, Robinson escolha N0 como a quantidade ótima de trabalho a ser realizado e, como
resultado, o produto fica em Y0. O choque de tecnologia positivo desloca a função produção para
cima, para z1tF(Kt,Nt). Além desse deslocamento, presume-se que a natureza do choque seja tal
que a função produção torne-se mais inclinada para qualquer nível do insumo trabalho. Lembre-
se do Capítulo 3 que a inclinação da função produção é o produto marginal do trabalho. Estamos
considerando aqui que o choque aumenta a produtividade marginal de Robinson.
Mesmo no mesmo nível de insumo trabalho (N0), esse aumento da produtividade causaria um
aumento no produto, para Y’1, na Figura 12.1. O choque favorável, porém, alterou as
possibilidades de produção que se apresentam para Robinson. Se ele perceber a mudança, o que
consideraremos que acontece, reagirá a ela. Na figura, consideramos que ele reaja ao aumento de
sua produtividade trabalhando mais. O nível do insumo trabalho sobe para N1 na Figura 12.1 e o
produto aumenta para Y1.
Robinson precisa decidir o que fazer com o produto maior. A equação (12.3) nos diz que o
aumento no produto irá para consumo ou poupança. Ele poderia simplesmente consumir tudo.
Mas, particularmente no caso de um choque temporário, é provável que ele poupe uma parte do
aumento no produto para possibilitar que o consumo também seja mais alto no futuro. Se esse
for o caso, a equação (12.4) nos informa que a poupança maior, que, por sua vez, significa mais
investimento, fará o estoque de capital ser mais elevado no período seguinte do que seria de
outra maneira. Por causa do estoque de capital mais alto, o produto no período seguinte, assim
como em outros períodos futuros, também será mais alto do que teria sido na ausência do
choque de tecnologia. Isso se aplica mesmo que o efeito direto do choque tenha durado apenas
um período.
Se o choque tivesse durado vários períodos ou se tivesse sido permanente, as respostas de
Robinson teriam sido um pouco diferentes. Como ele saberia que o produto seria alto por um
período mais longo, seu incentivo para poupar seria reduzido e seu incentivo para consumir
aumentaria. Além disso, como ele saberia que sua produtividade seria mais alta por vários
períodos, devido ao efeito direto do choque, poderia aumentar menos o seu esforço de trabalho
em cada período. Choques de longa duração na produtividade, porém, resultarão também em
mudanças no produto, no estoque de capital e no emprego que persistem por muitos períodos.
É importante que os efeitos de choques de tecnologia durem por muitos períodos. Uma crítica
keynesiana básica ao modelo novo-clássico, que compartilha a abordagem do equilíbrio adotada
pelos teóricos dos ciclos reais de negócios, é que ele não pode explicar a persistência dos ciclos
de negócios no mundo real. Os teóricos dos ciclos reais de negócios afirmam que as respostas
dinâmicas de agentes otimizadores a mudanças nas condições econômicas terão, como acabou
de ser explicado, efeitos de longa duração. Essas respostas podem explicar períodos de atividade
econômica persistentemente alta ou baixa.
Focalizamos os choques de tecnologia porque eles são fundamentais para a explicação de
flutuações econômicas pelos teóricos dos ciclos reais de negócios. Como já foi observado,
porém, outros fatores considerados nos modelos de ciclos reais de negócios são mudanças nas
condições ambientais, preços relativos de matérias-primas, variações nas alíquotas tributárias e
mudanças de preferências. Todos esses choques são causas adicionais potenciais de movimentos
cíclicos no produto e no emprego.
Senhoriagem
Valor de recursos reais comprados pelo governo com
moeda recém-criada.
Os economistas novo-keynesianos não tentaram desenvolver uma única base racional para
todos os casos de rigidez de preços e salários. Em vez disso, acreditam que uma série de
aspectos do processo de definição de preços e salários explica essa rigidez. Na verdade, a
literatura novo-keynesiana é caracterizada pelo que tem sido chamado de “atordoante
diversidade” de abordagens. Essas abordagens, no entanto, têm os seguintes elementos em
comum:
1. Nos modelos novo-keynesianos, considera-se que haja concorrência imperfeita pelo
mercado de produtos. Isso contrasta com os modelos keynesianos anteriores, que
supunham uma concorrência perfeita.
2. Enquanto a rigidez nominal central nos modelos keynesianos anteriores era a do salário
monetário, os modelos novo-keynesianos também se voltam para a rigidez dos preços dos
produtos.
3. Além dos fatores que causam a rigidez de variáveis nominais (por ex., o salário monetário),
os modelos novo-keynesianos introduzem a rigidez real – fatores que provocam a rigidez
do salário real ou do preço relativo das firmas diante de mudanças na demanda agregada.
Vamos examinar três tipos de modelos novo-keynesianos: modelos de preços rígidos (custo
de menu), modelos de salário-eficiência e modelos incluído-excluído.
Custos de menu
Refere-se a qualquer tipo de custo incorrido por uma
firma se esta alterar o preço de seu produto.
O nome deriva do fato de que, se restaurantes alterarem preços, precisam imprimir novos
menus. De maneira mais geral, quando firmas mudam preços, incorrem em custos diretos e
indiretos de vários tipos.
Um tipo é chamado de custos gerenciais. Estes incluem os custos de coletar as informações
necessárias para decidir quanto à mudança ótima no preço, o custo de comunicar aos clientes a
lógica da mudança e, talvez, de negociar com os clientes que resistam a ela. Cada uma dessas
atividades tira o tempo gerencial de outras atividades.
Um segundo custo é a perda de prestígio junto aos clientes. Esse prestígio só seria perdido
com aumentos dos preços, mas as firmas que cortam preços em recessões precisam aumentá-los
de novo quando a economia se recuperar. As firmas podem, em vez disso, achar adequado
alterar preços quando seus custos mudam, porque essa é uma necessidade que os clientes
entenderão, mas não variar preços devido a mudanças na demanda. Desse modo, não serão
consideradas “exploradoras” em períodos de alta demanda e não baixarão os preços quando a
demanda cair.
Outro custo percebido possível de uma redução de preços em uma recessão é que isso pode
desencadear rodadas competitivas de cortes de preços ou mesmo levar a uma guerra de preços
quando outras firmas responderem. Esse custo potencial é relevante para mercados oligopolistas,
em que as firmas estão cientes das reações de outras firmas a suas decisões de preços.
Se esses custos percebidos de mudanças de preços forem suficientemente altos, existirá
rigidez de preços. Declínios na demanda agregada resultarão em quedas no produto e no
emprego, e não em reduções de preços. Claro que nem todos os preços precisam ser rígidos. Se
o número de setores em que os preços são rígidos constituir um segmento significativo da
economia, os declínios no produto e no emprego serão substanciais.
Modelos de preços rígidos sugerem, então, um papel para as políticas monetária e fiscal na
compensação de deslocamentos da demanda agregada. As políticas ideais nesses modelos, no
entanto, podem diferir das que derivavam dos modelos keynesianos tradicionais. Uma diferença
decorre do fato de que, se há elementos monopolistas na economia, o nível de equilíbrio do
produto estará abaixo do nível ótimo, portanto compensações de declínios na demanda serão
mais importantes do que compensações de aumentos. A estabilização não será simétrica. Além
disso, na presença de custos de menu, no momento de tomar decisões de preços as firmas
reconhecerão que podem ter de manter um determinado preço por algum tempo e, desse modo,
tentarão prever custos e demandas futuros em sua decisão. Isso abre um papel para políticas
monetárias ou fiscais condicionarem as expectativas de uma maneira estabilizadora. No Capítulo
17, essa possibilidade será examinada com relação à política monetária.
a Stephen Cecchetti. The Frequency of Price Adjustment: A Study of the Newsstand Prices of Magazines”, Journal of
Econometrics, 31, abril de 1986, pp. 255-74.
b Alan Blinder, “On Sticky Prices”, in N. Gregory Mankiw, org., Monetary Policy, Chicago, University of Chicago Press,
1994, pp. 117-50.
Modelos de salário-eficiência
Modelos em que a produtividade do trabalho depende
do salário real que os trabalhadores recebem. Nesses
modelos, o salário real é estabelecido para maximizar
as unidades de eficiência do trabalho por unidade
monetária gasta, não para equilibrar o mercado.
Como antes, o produto (Y) depende da quantidade de capital (K).13 O produto também
depende da quantidade do insumo trabalho, que agora medimos em unidades de eficiência. O
número de unidades de eficiência do trabalho é igual ao número de unidades físicas (N),
medidas, por exemplo, em homens-horas por período, multiplicado pelo índice de eficiência (e).
O produto aumenta quando mais unidades de trabalho são contratadas (N aumenta) ou quando a
eficiência da força de trabalho existente melhora (e aumenta com um aumento em W/P).
Com a função produção dada pela equação (12.6), a meta da firma é estabelecer o salário real
de forma que o custo de uma unidade de eficiência de trabalho seja minimizado ou, em outros
termos, maximizar o número de unidades de eficiência de trabalho compradas com cada unidade
monetária gasta na folha de pagamento. Isso é feito aumentando o salário real até o ponto em
que a elasticidade do índice de eficiência [e(W/P)] em relação ao salário real seja igual a 1.
Vamos usar um exemplo para ver por que isso acontece. Primeiro, lembremos que a
elasticidade é a mudança percentual em uma variável (aqui, a eficiência de trabalho) a cada 1%
de mudança em outra variável (aqui, o salário real). Assim, estamos dizendo que a condição que
determina o nível ótimo do salário real, que, na literatura, recebe o nome de salário-eficiência,
(W/P)*, é
Suponhamos que, começando com um nível baixo, um aumento de 1% no salário real leve a
um aumento de 2% na eficiência de trabalho. A firma vai se beneficiar com esse aumento,
porque cada unidade monetária da folha de pagamento comprará mais unidades de eficiência de
trabalho (a folha de pagamento aumenta 1% e o número de unidades de eficiência sobe 2%).
Com aumentos adicionais na folha de pagamento, os ganhos em eficiência começam a declinar.
No ponto em que um aumento de 1% no salário real produz apenas 1% de aumento na
eficiência, a firma não achará ótimo aumentar ainda mais o salário real; o salário-eficiência foi
atingido.
Os proponentes da teoria do salário-eficiência afirmam que, em muitos setores, os salários
reais são determinados com base na eficiência. Os salários reais não se ajustam para equilibrar
os mercados de trabalho. Na verdade, os princípios que norteiam os modelos de salário-
eficiência implicam que as firmas definirão o salário real acima do nível de equilíbrio do
mercado. O resultado disso será desemprego involuntário persistente. Nossa próxima tarefa é
examinar esses princípios que estão por trás da noção de salários-eficiência, alguns dos quais já
foram antecipados por Henry Ford.
Várias justificativas foram oferecidas para o pagamento de salários-eficiência:
1. O modelo da negligência. Definindo o salário real acima dos níveis de mercado vigentes
(isto é, a próxima melhor oportunidade para o trabalhador), a firma dá ao funcionário um
incentivo para não “fazer corpo mole” no serviço. Se ele fizer, pode ser demitido, e sabe que
seria difícil encontrar outro emprego com um salário tão alto. Se as firmas só tiverem condições
de monitorar o desempenho no trabalho de forma imperfeita e com algum custo, esta estratégia
de salários altos pode ser lucrativa.
2. Modelos de custos de rotatividade. Ao pagar um salário acima do nível de mercado, as
firmas podem reduzir as taxas de saída do emprego e, assim, os custos de recrutamento e
treinamento. O salário alto também permite que elas desenvolvam um contingente de mão de
obra mais experiente e, portanto, mais produtivo.
3. Modelos de reciprocidade. Outra explicação para a dependência entre eficiência e salário
real centra-se no estado de espírito dos trabalhadores da firma. De acordo com este argumento,
se a firma pagar um salário real acima do salário de equilíbrio do mercado, isso melhorará o
moral dos trabalhadores e eles se esforçarão mais. A firma paga aos trabalhadores o presente de
um salário acima do mercado e os trabalhadores retribuem com uma maior eficiência.14
Nenhuma dessas justificativas pretende ser aplicável a todas as partes do mercado de
trabalho. Se, porém, considerações de salário-eficiência forem importantes e, assim, os salários
reais forem definidos acima dos níveis de equilíbrio do mercado em muitos setores, o resultado
pode ser um nível substancial desemprego involuntário. Os trabalhadores continuarão a procurar
empregos no setor de salários mais altos, trabalhando, por exemplo, quando a demanda é alta,
em vez de aceitar empregos com salários mais baixos.
Observe que é o salário real que é fixado com base na eficiência (para satisfazer a condição
(12.7)). Os modelos de salário-eficiência explicam uma rigidez real. Acabamos de ver como
essa rigidez real pode explicar o desemprego involuntário. Por si só, porém, a rigidez do salário
real devido ao pagamento de salários-eficiência não explica por que mudanças na demanda
agregada afetam o produto e o emprego e, assim, o nível de desemprego involuntário. Se
houvesse uma queda na demanda agregada nominal, resultante, por exemplo, de um declínio na
oferta de moeda, as firmas poderiam baixar seus preços o suficiente para manter o produto
(vendas) inalterado e baixar o salário monetário no mesmo montante para manter o salário real
no salário-eficiência, (W/P)*. Se, porém, as firmas não baixarem os preços por causa de custos
de menu, como foi explicado na seção anterior, então, para manter o salário real no nível de
salário-eficiência é preciso que o salário monetário também seja fixo. Nesse caso, quando a
demanda agregada declinar, produto e emprego cairão e o desemprego involuntário aumentará.
Assim, uma rigidez nominal, o custo de menu, e a rigidez do salário real devido a salários-
eficiência combinam-se para explicar o desemprego involuntário.
Modelos incluído-excluído
Oferecem uma explicação de histerese no
desemprego. Os incluídos (por ex., membros de
sindicatos) são o único grupo que afeta a negociação
do salário real. Os excluídos (por ex., aqueles que
querem empregos) não influem. Recessões fazem
incluídos tornarem-se excluídos. Depois da recessão,
com menos incluídos, o salário real aumenta e o
desemprego persiste.
Conclusão
A teoria dos ciclos reais de negócios e a economia novo-keynesiana são extensões de duas
tradições conflitantes em macroeconomia. A teoria dos ciclos reais de negócios é uma versão
moderna da economia clássica. O ciclo de negócios é um fenômeno de equilíbrio. Ele é o
resultado das ações de agentes otimizadores diante de mudanças no ambiente econômico (por
ex., choques de produtividade) ou em preferências. Políticas de estabilização macroeconômica
são contraproducentes. Os teóricos dos ciclos reais de negócios, portanto, chegam a conclusões
não-intervencionistas quanto a políticas econômicas, assim como os economistas clássicos
originais.
A economia novo-keynesiana apóia-se firmemente na tradição de John Maynard Keynes. Os
economistas novo-keynesianos acreditam que boa parte do desemprego é involuntária. Eles
acham que os desvios do produto para baixo do produto potencial durante recessões são
socialmente nocivos. Há um papel potencial para políticas de estabilização na prevenção desses
desvios do produto e redução dos custos pessoais do desemprego involuntário. A economia
novo-keynesiana é uma tentativa de melhorar as bases microeconômicas dos modelos
keynesianos tradicionais, sem questionar suas premissas fundamentais.
Note-se que os teóricos dos ciclos reais de negócios e os economistas novo-keynesianos
compartilham um desejo de colocar a macroeconomia sobre uma base microeconômica sólida.
Em anos recentes, isso levou a considerável convergência entre as duas linhas. Como veremos
nos capítulos da Parte V, boa parte da análise de políticas moderna é realizada em modelos que
combinam elementos dessas duas escolas. Esses são modelos em que os agentes otimizam, mas
em que é incorporado algum tipo de rigidez (com frequência um custo de menu). É criado um
papel para a política econômica: levar a economia a se comportar como ela o faria na ausência
da rigidez. Para alguns keynesianos, esses modelos exageram ao incorporar outros elementos da
teoria dos ciclos reais de negócios (por ex., expectativas racionais), mas, para muitos
economistas, elas constituem um feliz meio-termo.
A crise financeira e a recessão profunda de 2007-2009 mudaram essa situação, mas o quanto
essa mudança será fundamental é algo que ainda não foi determinado. Alguns economistas
keynesianos afirmaram a necessidade de uma reconstrução total da macroeconomia e um retorno
a teorias keynesianas originais como o ponto de partida. Outros estão usando como ponto de
partida os modelos novo-keynesianos com muitos elementos de teorias dos ciclos reais de
negócios. Eles acreditam que, com a inclusão de um papel maior para os mercados financeiros e
as instituições financeiras, entre outros elementos, será possível obter uma explicação melhor
para flutuações macroeconômicas graves.
Questões de revisão
1. Compare a visão dos teóricos dos ciclos reais de negócios quanto às causas de flutuações do
produto e do emprego com a visão dos economistas novo-clássicos.
2. Dentro do modelo simples de ciclos reais de negócios apresentado na Seção 12.1, analise o
efeito de um choque de tecnologia negativo (um choque negativo para zt) que dure um (1)
período.
3. Explique as ideias dos teóricos dos ciclos reais de negócios sobre a conduta adequada de
política monetária e fiscal.
4. Suponha que tenha havido uma mudança nas preferências em um modelo de ciclos reais de
negócios de forma que o agente representativo valorize mais o lazer e menos os bens de
consumo. Como o produto e o emprego seriam afetados pela mudança?
5. Explique por que o pressuposto da concorrência imperfeita é importante em cada um dos
modelos novo-keynesianos examinados na Seção 12.2.
6. Suponha que dados sobre salários mostrem que trabalhadores com qualificações idênticas
recebem salários muito diferentes em diferentes setores. Essa diferença é consistente com o
pressuposto de que o mercado de trabalho é competitivo? Ela é consistente com o modelo de
salário-eficiência?
7. Explique como o modelo incluído-excluído explica o alto desemprego persistente em países
europeus durante o período pós-1980.
8. Os economistas novo-clássicos acreditam que modelos macroeconômicos úteis são aqueles
em que (a) os agentes otimizam e (b) os mercados se equilibram. Os modelos que surgem das
pesquisas novo-keynesianas apresentam alguma dessas propriedades? Explique.
9. Explique a relação entre os modelos novo-keynesianos e os modelos keynesianos
examinados nos Capítulos 5 a 8.
10. Durante o governo de George W. Bush, reduções nas alíquotas dos impostos sobre a renda
dos trabalhadores, os dividendos e os ganhos de capital foram a peça central da política
fiscal. Analise os efeitos desses cortes de impostos dentro da teoria dos ciclos reais de
negócios.
CAPÍTULO 13
Modelos macroeconômicos: um resumo
Este capítulo resume as teorias examinadas nos capítulos anteriores e procura esclarecer áreas
de concordância e de controvérsia entre as várias escolas.
Experiências controladas que permitam o quase isolamento de uma ou algumas forças são
impossíveis na prática. Precisamos testar nossas proposições observando experiências não
controladas que envolvem um grande número de pessoas, inúmeras variáveis econômicas,
mudanças frequentes em outras circunstâncias e que, assim, são imperfeitamente
registradas. A interpretação da experiência também é complicada por ela afetar diretamente
muitos dos observadores, com frequência dando-lhes razões, irrelevantes do ponto de vista
científico, para preferir uma e não outra interpretação do complexo e sempre mutável curso
dos acontecimentos1.
Ou, como Keynes escreveu antes, “Em economia, não se pode condenar seu oponente por
erro – só se pode convencê-lo disso”2.
Questões de revisão
1. Suponha que as previsões indiquem que a demanda por investimento em uma dada economia
será fraca no próximo ano, digamos, 10% abaixo do nível deste ano, devido a um choque
exógeno. Todos os outros componentes da demanda agregada, segundo as previsões, ficarão
em níveis comparáveis aos deste ano. Esses níveis foram consistentes com emprego elevado
e preços relativamente estáveis. Para cada um dos sistemas macroeconômicos a seguir,
explique os efeitos dessa queda exógena na demanda agregada e explique a resposta de
política econômica adequada sugerida pelo modelo, ou seja, que ação o formulador de
políticas deveria tomar?
a. Modelo clássico.
b. Modelo keynesiano.
c. Modelo novo-clássico.
2. A questão de quais informações os participantes do mercado possuem em um determinado
momento e a rapidez com que eles as obtêm – em outras palavras, a estrutura de informações
do modelo – é uma característica distintiva dos diferentes sistemas macroeconômicos
discutidos. Com referência aos modelos clássico, keynesiano, monetarista e novo-clássico,
explique os diferentes pressupostos sobre as informações que os participantes do mercado
possuem e o grau em que esses pressupostos diversos explicam as diferentes conclusões de
política econômica derivadas desses modelos.
3. Nos modelos clássico, de ciclos reais de negócios, keynesiano, monetarista e novo-clássico,
analise o efeito de uma queda autônoma no preço do petróleo importado. Explique o efeito
dessa mudança sobre o produto, o emprego e no nível agregado de preços em cada um dos
modelos.
4. Uma regra que foi proposta para a política fiscal é que o orçamento governamental deveria
ser equilibrado a cada ano – sem déficits orçamentários. Qual você acha que seria a posição
de cada um dos seguintes grupos de economistas sobre essa proposta?
a. Economistas novo-clássicos.
b. Keynesianos.
c. Teóricos dos ciclos reais de negócios.
5. Qual dos modelos que examinamos você considera o mais útil para explicar o
comportamento da economia e oferecer prescrições de política econômica adequadas? Os
eventos a partir de 2007 influíram em sua escolha?
PARTE IV
A Parte IV examina as relações econômicas internacionais dos Estados Unidos, incluindo fluxos
comerciais e movimentos de capital. O Capítulo 14 analisa como as taxas de câmbio são
determinadas em diferentes sistemas monetários internacionais e examina os méritos relativos
desses sistemas. Aspectos do desempenho dos Estados Unidos e de outras grandes economias no
período de taxas de juros flutuantes pós-1973 são analisados. No Capítulo 15, desenvolvemos
uma versão de economia aberta do modelo IS-LM. Usamos, então, esse modelo para estudar os
efeitos das políticas fiscal e monetária na economia aberta em regimes de taxas de câmbio fixas
e flexíveis.
CAPÍTULO 14
Taxas de câmbio e o sistema monetário internacional
Em 1960, as importações de bens e serviços totalizaram 4,4% do PIB nos Estados Unidos;
em 2010, esse número era de 16,2%. As exportações subiram de 4,9% do PIB em 1960 para
12,7% em 2010. Os mercados financeiros dos Estados Unidos e de outras nações também
ficaram muito mais estreitamente ligados nas últimas três décadas. Essa integração de mercados
financeiros aparece nos maiores fluxos de capitais e na maior correlação dos retornos sobre os
ativos entre os países. A economia americana tornou-se bem mais aberta, no sentido de ter
ampliado seu comércio e relações financeiras com outras economias.
Em outros capítulos, exemplos e Perspectivas enfatizam as inter-relações da economia
americana com as economias de outros países. Os capítulos desta parte focalizam explicitamente
a macroeconomia de economias abertas, o que traz essas inter-relações para o palco central. Este
capítulo examina a determinação das taxas de câmbio, o sistema monetário internacional atual e
o sistema que ele substituiu, e as interações entre a economia doméstica e as transações
econômicas internacionais.
Começamos examinando o balanço de pagamentos, que resume as transações econômicas
internacionais (Seção 14.1). Em seguida, explicamos como as taxas de câmbio são determinadas
nos mercados de divisas sob diferentes sistemas cambiais (Seção 14.2). O regime de taxa de
câmbio efetivo que compõe o sistema monetário internacional atual é examinado na Seção 14.3.
Em seguida, avaliam-se os méritos relativos dos sistemas de taxa de câmbio fixa e flexível
(Seção 14.4). Analisamos, então, a experiência americana com um sistema de taxas de câmbio
pelo menos parcialmente flexíveis ao longo dos anos desde 1973 (Seção 14.5). Por fim, são
avaliados os riscos de alguns crescentes desequilíbrios no comércio internacional (Seção 14.6).
Balanço de pagamentos
Registra as transações econômicas entre residentes e
não residentes do país, envolvendo bens e ativos.
As taxas de câmbio são centrais para o foco deste capítulo. Uma taxa de câmbio entre duas
moedas é o preço de uma moeda em relação à outra. O preço da libra britânica em relação ao
dólar-americano em 11 de novembro de 2011 era US$ 1,61 (US$ 1,61 = 1 libra); o preço de um
dólar canadense era US$ 0,99; o preço de um euro (a moeda comum de 17 países europeus) era
US$1,38. Operações de câmbio entre a moeda de um país e outras moedas acontecem quando
residentes desse país compram bens ou ativos estrangeiros, assim como quando residentes de
outros países compram bens e ativos desse país. Um exame dessas transações entre os Estados
Unidos e outros países é o ponto de partida para nosso estudo de como as taxas de câmbio são
determinadas.
14.1 O balanço de pagamentos
Nos Estados Unidos, é o Departamento de Comércio que registra as transações econômicas
internacionais no balanço de pagamentos. De um lado do balanço são registrados como créditos
todos os ganhos decorrentes de atividades internacionais de residentes e do governo nacional,
enquanto do outro lado são computados como débitos todos os gastos no exterior. Um ponto a
ser notado é que, pelos princípios habituais de contabilidade de partidas dobradas, cada crédito
deve corresponder a um débito igual, e vice-versa. Cada gasto em bens estrangeiros, por
exemplo, precisa ser financiado de alguma maneira; a fonte de financiamento é registrada como
um crédito. Uma primeira conclusão, portanto, antes de sequer olharmos para os números, é que
se todas as transações forem contabilizadas, o balanço de pagamentos sempre estará equilibrado.
Vamos, porém, examinar subcategorias de transações internacionais para as quais não há
razão para acreditar que os recebimentos do exterior serão iguais aos ganhos com operações com
o exterior. Em anos recentes, por exemplo, os gastos de residentes estrangeiros com mercadorias
de exportação americanas (um crédito no balanço de pagamentos) ficaram bem abaixo dos
gastos dos americanos com bens importados (um débito no balanço de pagamentos). Esse déficit
na balança comercial de mercadorias foi motivo de preocupação, por razões que serão
discutidas.
Conta corrente
No balanço de pagamentos, é um registro das
exportações e importações de mercadorias do país,
bem como do comércio de serviços e das
transferências correntes.
Tabela 14.1 - Balanço de pagamentos dos Estados Unidos, 2010 (bilhões de dólares)
Fonte: Survey of Current Business, September 2011 Os dados referem-se a uma base ligeiramente diferente (amplitude e tempo)
dos dados do censo americano usados em outras partes do livro.
Balança de capitais
No balanço de pagamentos, é um registro de compras
de ativos domésticos por residentes estrangeiros
(entradas de capital) e compras de ativos estrangeiros
por residentes do país (saídas de capital).
Um ponto importante a ser notado em relação à balança de capitais dos Estados Unidos é que
as compras de ativos americanos por estrangeiros representam, em grande medida, empréstimos
tomados de residentes estrangeiros pelos Estados Unidos. As grandes entradas de capital no
período de 1982-2010 incluíram US$ 2.000 bilhões em compras de títulos do governo
americano por estrangeiros e um montante ainda maior de empréstimos ou compras de títulos
privados americanos por estrangeiros. Durante esse período, grandes excedentes de importações
sobre exportações de mercadorias (déficits comerciais) foram, na verdade, financiados por
empréstimos do exterior. Entre 1983 e 2010, como resultado desses empréstimos, os Estados
Unidos passaram de uma nação credora líquida para nação com uma dívida externa líquida de
US$ 2,5 trilhões. Em 2010, o saldo negativo da balança de capitais privados significa que, nesse
ano, em vez de aumentar o endividamento, as entradas de capital privado reduziram a dívida.
Como veremos adiante, porém, quando os fluxos do Banco Central são levados em conta, a
dívida externa americana de fato aumentou em 2010.
Câmbio
Termo genérico para se referir a um agregado de
moedas estrangeiras.
A curva de demanda por moeda estrangeira tem inclinação negativa porque a demanda por moeda estrangeira para financiar
importações cai quando a taxa de câmbio sobe, tornando os bens estrangeiros mais caros. A curva de oferta de moeda estrangeira
tem inclinação positiva, refletindo o pressuposto de que a entrada de moeda estrangeira derivada do aumento das exportações
sobe quando a taxa de câmbio sobe, tornando os bens domésticos menos caros para os compradores estrangeiros. O valor de
equilíbrio da taxa de câmbio é π0, a taxa que iguala demanda e oferta.
A Figura 14.1 mostra as curvas de oferta e de demanda por moeda estrangeira traçadas em
relação à taxa de câmbio (π). Como foi explicado, os gastos no exterior de residentes dos
Estados Unidos (importações, compras de ativos estrangeiros e transferências externas) são
demandas por moeda estrangeira. Como essa demanda por moeda estrangeira variará em relação
ao preço da moeda estrangeira? Na Figura 14.1, a curva de demanda (Dme) tem inclinação
negativa, o que indica que, quando o preço da moeda estrangeira (preço do euro) sobe, a
demanda por moeda estrangeira cai. Isso acontece porque uma elevação no preço da moeda
estrangeira aumentará o custo em dólares da compra de bens estrangeiros. As importações,
portanto, declinarão e haverá menos demanda por moeda estrangeira. Repare que, aqui, estamos
mantendo constantes todos os outros preços com exceção da taxa de câmbio. Suponhamos que
um americano esteja querendo comprar uma câmera alemã que custe 200 euros. Se a taxa de
câmbio, o preço do euro em relação ao dólar, for 1,00, a câmera vai custar 200 dólares (200
euros = 200 dólares a 1,00 euro por dólar). Se a taxa de câmbio subir para 1,25, a câmera custará
250 dólares (200 euros = 250 dólares a 0,80 euro por dólar). Quanto mais alta a taxa de câmbio,
maior o custo em dólares de bens importados e mais baixa a demanda por moeda estrangeira.
Consideremos agora a demanda por moeda estrangeira para a compra de ativos estrangeiros e
para transferências externas. Em relação a estas últimas, não há razão para uma relação definida
entre a quantidade de transferências externas e a taxa de câmbio. Não é claro o efeito que a
mudança na taxa de câmbio teria sobre programas de ajuda externa, pagamentos de benefícios a
pessoas vivendo no exterior ou remessas de dinheiro a cidadãos do país que vivam no exterior.
No caso de compras de ativos estrangeiros, um aumento na taxa de câmbio, como no caso de
produtos importados, empurrará para cima o preço em dólares das ações ou títulos estrangeiros.
A elevação da taxa de câmbio, porém, também resultará em um aumento proporcional do
pagamento de juros ou dividendos sobre os títulos ou ações estrangeiros, medidos em dólares.
Por exemplo, um título francês que custe 800 euros e pague juros de 80 euros ao ano custará 800
dólares e pagará juros de 80 dólares ao ano com uma taxa de câmbio de 1,00 (1,00 euro = 1
dólar). Com uma taxa de câmbio de 1,25 (0,80 euro = 1 dólar), o título custará 1.000 dólares e
pagará juros de 100 dólares ao ano. Em qualquer caso, o título representa um ativo que paga um
retorno de 10% ao ano. Em consequência, não esperaríamos necessariamente algum efeito sobre
a demanda por ativos estrangeiros como resultado de uma mudança na taxa de câmbio.5 A
inclinação negativa da curva de demanda por moeda estrangeira resulta apenas do fato de que as
importações diminuem quando a taxa de câmbio sobe.
A curva de oferta de moeda estrangeira é traçada com uma inclinação positiva na Figura 14.1,
o que reflete o pressuposto de que a oferta de moeda estrangeira aumenta quando a taxa de
câmbio sobe. Quando a taxa de câmbio (preço do euro) aumenta, os bens de exportação
americanos ficam menos caros em euros para os europeus. Uma vez mais, estamos mantendo
fixos todos os outros preços, incluindo o preço em dólares dos bens de exportação americanos.
Por exemplo, o trigo americano que é vendido a 5 dólares por bushel* custaria para um europeu
10 euros por bushel com uma taxa de câmbio de 1,00, mas apenas 4 euros com uma taxa de
câmbio de 1,25.
A demanda por produtos de exportação, portanto, deve aumentar quando a taxa de câmbio
sobe. Repare, porém, que um dado volume de exportações em dólares corresponde a uma
entrada menor de moeda estrangeira (menos euros) com uma taxa de câmbio mais alta. Se, por
exemplo, a taxa de câmbio subisse 10% e, como resultado, o volume em dólares das exportações
subisse 10%, os ganhos em termos de moeda estrangeira ficariam inalterados. Os Estados
Unidos estariam vendendo 10% mais, mas ganhando 10% menos euros em cada venda.
Para que a oferta de moeda estrangeira aumente quando a taxa de câmbio sobe, a demanda
externa por produtos de exportação deve ter elasticidade-preço mais que 1, o que significa que
um aumento de 1% na taxa de câmbio (que resulta em uma queda de 1% no preço dos bens de
exportação para os estrangeiros) deve resultar em um aumento na demanda de mais de 1%. Se
essa condição for satisfeita, o volume em moeda doméstica das exportações subirá mais do que
proporcionalmente ao aumento da taxa de câmbio e os ganhos em moeda estrangeira (a oferta de
moeda estrangeira) aumentarão quando a taxa de câmbio subir. Essa é a suposição que fazemos
na Figura 14.1.6
Um aumento autônomo na demanda por importados desloca a curva de demanda por moeda estrangeira de Dme0 para Dme1. Na
taxa de câmbio de equilíbrio inicial, há um excesso de demanda por moeda estrangeira (XDme). A taxa de câmbio sobe para π1 a
fim de reequilibrar a oferta e a demanda no mercado de moeda estrangeira.
Lembre-se que as curvas de demanda e oferta que construímos para o mercado de câmbio
medem apenas transações autônomas; elas não levam em conta as transações de acomodação
realizadas pelos bancos centrais para financiar desequilíbrios de pagamentos. É precisamente
essa intervenção dos bancos centrais que precisa acontecer para fixar a taxa de câmbio em um
valor diferente do valor de equilíbrio, como 1,0 dólar na Figura 14.3. Para manter a taxa em 1,0,
os Estados Unidos têm de estar prontos para comprar e vender dólares a essa taxa de câmbio. Se
o Banco Central americano comprar euros por 1,0 dólar, a taxa de câmbio não pode cair abaixo
desse ponto, uma vez que ninguém venderia por menos do que isso. Similarmente, a taxa de
câmbio não pode subir acima de 1,0, porque o Banco Central estará disposto a vender euros por
esse preço.
Na situação representada na Figura 14.3, com a taxa de câmbio abaixo da taxa de equilíbrio,
há um excesso de demanda por moeda estrangeira (euros), mostrado como XDme na figura. Para
impedir que a taxa de câmbio suba, o Banco Central americano pode ofertar moeda estrangeira;
ou seja, pode trocar euros por dólares no mercado de câmbio.
Alternativamente, o Banco Central europeu poderia intervir. Esse banco ofertaria euros
(venderia euros e compraria dólares) para satisfazer o excesso de demanda por euros e manter o
preço do euro na taxa de câmbio oficial.
Mesmo na ausência de intervenção do Banco Central americano, o preço do dólar não flutua
livremente com o sistema de taxas de câmbio atual, porque outros bancos centrais compram ou
vendem dólares para influenciar o preço de suas moedas em relação ao dólar. Por exemplo, em
1981 e novamente em 1984, bancos centrais europeus venderam dólares de suas reservas para
desacelerar a elevação do preço do dólar, que significaria uma queda no preço das moedas locais
(um aumento de sua taxa de câmbio em relação ao dólar). Depois, com o Acordo do Plaza em
setembro de 1985, os bancos centrais dos grandes países industrializados começaram a
coordenar intervenções conjuntas com o objetivo de baixar o valor do dólar (elevando a taxa de
câmbio americana). Em 1987, por razões que serão explicadas adiante, esses bancos centrais
reverteram o curso e intervieram, novamente em conjunto, para elevar o preço do dólar.
Em anos recentes, as principais intervenções no mercado cambial têm sido compras de
dólares americanos por bancos centrais asiáticos. O Banco da China acumulou enormes reservas
a fim de manter o valor fixo de sua moeda. O Banco do Japão também comprou uma grande
quantidade de dólares para evitar (ou limitar) a valorização do iene. Outros bancos centrais
asiáticos compraram centenas de bilhões de dólares para aumentar suas reservas.
O nível de renda que iguala as importações (Z) com o nível exógeno de exportações (X) é Ybc = 0. Não há razão para que o nível
de equilíbrio da renda seja igual a Ybc = 0. Por exemplo, se Y0 for o nível de equilíbrio da renda, as importações excederão as
exportações e haverá um déficit na balança comercial (Z0 - X0).
Variáveis adicionais que influenciam tanto a demanda doméstica por importados como a
demanda estrangeira por produtos de exportação domésticos são os níveis de preços relativos
dos dois países e o nível da taxa de câmbio. Essas variáveis determinam os custos relativos dos
produtos dos dois países para os seus cidadãos. Por enquanto, estamos supondo que os níveis de
preços e a taxa de câmbio sejam fixos.
Como é mostrado na Figura 14.4, exportações e importações serão iguais se a renda estiver
no nível Ybc = 0 (onde bc, a balança comercial, será zero). Esse nível de renda gera uma demanda
por importados igual ao nível exógeno de exportações. Mas não há razão para esperar que Ybc = 0
será um nível de equilíbrio da renda. A renda de equilíbrio será determinada pela demanda e
pela oferta agregadas da economia como um todo, não apenas pelo setor externo. Por exemplo,
na Figura 14.4, vamos supor que a renda de equilíbrio esteja em Y0, acima de Ybc = 0. Em Y0, as
importações excedem as exportações e há um déficit comercial.
Vimos em capítulos anteriores como políticas de administração da demanda agregada podem,
pelo menos na visão keynesiana, afetar a renda de equilíbrio. Assim, políticas desse tipo
poderiam ser usadas para mover a renda de equilíbrio para o nível Ybc = 0, em que as exportações
são iguais às importações. Se os outros itens da conta corrente e a balança de capitais estivessem
em equilíbrio, essa seria uma posição de equilíbrio externo para a economia, o que, em um
sistema de taxas de câmbio fixas, significa equilíbrio do balanço de pagamentos (déficit das
transações de reservas oficiais igual a zero). Em termos da Figura 14.4, o formulador de
políticas econômicas poderia, por exemplo, usar uma política fiscal restritiva, como um aumento
de impostos, para reduzir a renda de Y0 para Ybc = 0.
Mas os formuladores de políticas também têm metas internas. Na estrutura keynesiana,
políticas de administração da demanda agregada devem ser usadas para alcançar metas de
desemprego e inflação – ou seja, para alcançar equilíbrio interno. O problema é que não há
razão para acreditar que o nível de renda que produz equilíbrio externo seja o nível ótimo no que
se refere às metas internas. Suponhamos, por exemplo, que, na Figura 14.4, o nível ótimo do
ponto de vista das metas internas seja Y0. Se uma política fiscal restritiva fosse usada para baixar
a renda para Ybc = 0, o resultado poderia ser uma indesejável alta taxa de desemprego e o
equilíbrio interno seria perturbado. Mas, se a renda for mantida em Y0, haverá um déficit
comercial; a economia não terá equilíbrio externo.
Fluxos de capital e o nível de atividade econômica. Os determinantes primários dos fluxos
de capital entre nações são as taxas de retorno esperadas dos ativos em cada país. Com um
sistema de taxas de câmbio fixas, os efeitos de movimentos esperados das taxas de câmbio sobre
retornos dos ativos podem ser ignorados (exceto nas ocasiões em que houver especulações sobre
uma mudança iminente da taxa de câmbio oficial). As taxas de juros nos vários países serão
medidas das taxas de retorno relativas. Se tomarmos a taxa de retorno de outros países como
constante, o nível do fluxo de capital para um determinado país dependerá positivamente do
nível de sua taxa de juros (r); ou seja,
em que F é a entrada de capital líquida (um valor negativo de F representa um fluxo de saída
líquido ou déficit na balança de capitais).8 O modo como mudanças na atividade econômica
afetam o equilíbrio da balança de capitais dependerá, portanto, de como a taxa de juros varia
com a mudança na atividade econômica.
Consideremos, em primeiro lugar, aumentos na atividade econômica causados por políticas
monetárias expansionistas. Uma política monetária expansionista estimulará a demanda
agregada reduzindo a taxa de juros. O efeito da taxa de juros mais baixa será desfavorável para o
equilíbrio da balança de capitais. O montante de investimentos estrangeiros diminuirá e os
investimentos do país no exterior aumentarão porque os ativos estrangeiros tornam-se
relativamente mais atraentes. Na seção anterior, vimos que aumentos na renda, por qualquer
razão, aumentam as importações e deixam as exportações inalteradas, piorando a balança
comercial. Se o aumento na renda for resultado de uma política monetária expansionista, o que
acontece é que tanto a balança comercial como a balança de capitais vão se deteriorar.
Vamos supor agora, alternativamente, que o aumento na atividade econômica seja resultante
de uma política fiscal expansionista. Quando a renda sobe, há um consequente aumento na
demanda por moeda e, com uma oferta de moeda fixa, a taxa de juros subirá. Nesse caso, o
aumento na renda é acompanhado por um aumento da taxa de juros. Consequentemente, embora
a balança comercial piore, a elevação da taxa de juros estimulará a entrada de capital. Se o efeito
geral sobre o balanço de pagamentos será favorável ou desfavorável depende da força relativa
desses dois efeitos da expansão induzida pela política fiscal: o efeito favorável sobre a balança
de capitais ou o efeito desfavorável sobre a balança comercial.
Vemos, portanto, que, num sistema de taxas de câmbio fixas, podem surgir conflitos entre
metas internas, como baixo desemprego, e a meta de equilíbrio externo medida pelo equilíbrio
do balanço de pagamentos. O conflito é especialmente grave com relação à política monetária,
em que ações de política expansionista têm efeitos desfavoráveis tanto sobre a balança comercial
como sobre a balança de capitais.
Um último vínculo entre o balanço de pagamentos e a atividade econômica dá-se pelo nível
de preços. A menos que a economia esteja longe de uma situação de pleno emprego, políticas de
expansão da demanda agregada, sejam monetárias ou fiscais, farão o nível de preços subir. Com
uma taxa de câmbio fixa, um aumento no nível de preços domésticos causará, para um nível de
preços externos constante, um aumento nas importações e um declínio nas exportações. Bens
estrangeiros serão relativamente mais baratos para os cidadãos do país e os produtos de
exportação domésticos serão mais caros para os compradores estrangeiros. Esse efeito do preço
sobre a balança comercial reforça o efeito diretamente desfavorável de uma expansão econômica
sobre a balança comercial no que se refere tanto a políticas monetárias como fiscais.
Em terceiro lugar, a experiência mostrou que nem sempre é possível confiar em câmbios
flutuantes para promover ajustes. Um movimento importante e contínuo da taxa de câmbio
pode gerar expectativas de um novo movimento na mesma direção, dando origem, assim, a
transferências especulativas de capital desestabilizadoras.9
Vamos examinar cada uma dessas supostas falhas de um sistema taxas de câmbio
flutuantes.
FIG 14.8 Efeito de uma política monetária expansionista no mercado cambial: taxas de câmbio
flexíveis
14.5.2 O dólar na década de 1980
A partir de 1981, o dólar inverteu seu curso e começou a subir fortemente em relação a outras
moedas importantes, como pode ser visto na Figura 14.7. Isso significa que a taxa de câmbio
caiu ao longo desse período, como pode ser observado na Figura 14.6. Entre 1980 e o pico do
valor do dólar no início de 1985, o marco caiu de um preço de 55 centavos de dólar (menos de 2
por dólar) para 31 centavos de dólar (mais de 3 por dólar), uma queda de 44%. Em relação à
média ponderada de moedas estrangeiras (veja a Figura 14.7), o dólar subiu 64%.
Como no caso da análise dos movimentos do dólar na década de 1970, diferentes políticas
macroeconômicas em vários países oferecem uma explicação para a elevação do valor do dólar
no início da década de 1980. Nessa época, a política importante foi a política monetária
fortemente restritiva nos Estados Unidos. A política monetária restritiva levaria a um aumento
do valor do dólar (queda da taxa de câmbio americana). A análise aqui é o inverso do caso
representado na Figura 14.8. As altas taxas de juros americanas aumentam a entrada líquida de
capital. Além disso, a política monetária restritiva reduz a renda, diminuindo, assim, as
importações. Por fim, outros fatores permanecendo constantes, uma política monetária mais
restritiva levaria a uma taxa de inflação interna mais baixa, o que também desestimularia as
importações e incentivaria as exportações.
Um fator adicional que pode ser importante para explicar a subida do valor do dólar,
especialmente perto de seu pico no início de 1985, foi a compra especulativa de ativos
financeiros americanos. Na Seção 14.2, foi comentado que a demanda por ativos estrangeiros
não depende do nível da taxa de câmbio. Se, por exemplo, a taxa de câmbio subisse de um nível
inicial para outro mais alto, digamos 10% mais alto, um ativo estrangeiro custaria 10% mais na
moeda local, mas os juros pagos sobre o ativo seriam 10% mais altos, também em termos da
moda local. O retorno percentual do ativo seria o mesmo em ambos os níveis da taxa de câmbio.
O que faz diferença para a demanda por ativos, porém, são mudanças esperadas na taxa de
câmbio. Se fosse esperada uma queda da taxa de câmbio americana (ou seja, que o valor do
dólar subisse), os investidores estrangeiros iam querer comprar ativos financeiros americanos
agora, antes da mudança do câmbio. Um investidor alemão, por exemplo, compraria ativos
financeiros americanos porque espera que o dólar suba em relação ao marco, o que lhe
permitiria vender os ativos mais tarde e receber mais marcos. Ao comprar dólares para adquirir
os ativos americanos, o investidor alemão estaria especulando quanto a uma elevação futura do
valor do dólar. Muitos acreditam que essa compra especulativa estava pressionando o valor do
dólar para cima em 1984-1985.
Em outubro de 1985, os ministros da Fazenda de cinco das maiores economias de mercado (o
chamado G5, ou grupo dos cinco) reuniram-se no Plaza Hotel, em Nova York.11 Na reunião,
concordaram em intervir conjuntamente no mercado de câmbio para baixar o valor do dólar. Os
bancos centrais desses países fariam isso vendendo dólares de suas reservas (comprando suas
próprias moedas nacionais) no mercado de câmbio e, dessa forma, aumentando a oferta de
dólares (reduzindo a oferta de moedas estrangeiras) e levando a uma queda no preço do dólar.
Outros fatores também estavam provocando uma redução no valor do dólar. Assim como a
compra especulativa de dólares havia contribuído para a elevação do valor da moeda, o receio de
uma intervenção do Banco Central e outros sinais de fraqueza fizeram com que a venda
especulativa começasse, em 1986, a contribuir para a queda do dólar. Além disso, quando a
expansão econômica americana desacelerou, a política monetária tornou-se menos restritiva e a
taxa de juros nos Estados Unidos caiu.
Em 1987, em relação à média ponderada de moedas estrangeiras (veja a Figura 14.7), o valor
do dólar havia caído 32% em comparação com seu pico em 1985. Em fevereiro, os ministros da
Fazenda reuniram-se novamente, dessa vez em Paris, e chegaram ao que foi chamado de Acordo
do Louvre. Eles decidiram que o dólar havia caído o suficiente. Concordaram em usar
intervenções no mercado de câmbio para tentar manter suas taxas de câmbio mais ou menos em
torno do valor em que estavam na época.
Tabela 14.3 - Superávit (+) ou déficit (-) de conta corrente como porcentagem do PIB, 2006,
2011
2006 2011
China 8,1 3,9
Japão 4,0 2,3
Alemanha 4,9 5,0
Estados Unidos -6,1 -3,2
Reino Unido -3,0 -1,9
Suíça 15,9 12,2
Holanda 7,6 7,3
Espanha -8,8 -3,8
Arábia Saudita 20,1 25,5
Taiwan 6,7 8,4
Malásia 13,5 10,4
Cingapura 23,3 17,7
Austrália -5,5 -2,2
Se ignorarmos a discrepância estatística, a soma do saldo de conta corrente (CO) mais o saldo
da balança de capitais (privados) (CA) mais o saldo de transações de reservas oficiais
(intervenções de bancos centrais, TRO) deve ser zero. A equação (14.2) indica que, por exemplo,
um país com um grande superávit de conta corrente deve ter ou uma grande saída líquida de
capitais privados ou um grande aumento nos ativos de reservas como resultado de intervenção
do Banco Central no mercado de câmbio.
Uma terceira identidade também é útil. A partir da nossa discussão das contas nacionais no
Capítulo 2, podemos escrever a seguinte relação:
O lado esquerdo da equação (14.4) pode ser entendido em relação a um país como seu saldo
poupança-investimento: poupança líquida privada (S - I) mais poupança governamental (T – G),
com o superávit no orçamento governamental medindo a poupança do setor público. Esse saldo
poupança-investimento é compensado pela balança comercial. Por exemplo, países com grande
déficit de conta corrente, como os Estados Unidos, têm investimento maior que poupança. Esse
excedente de investimento é financiado pelas entradas de capital que devem acompanhar o
déficit de conta corrente. A situação é inversa na China, Japão, Alemanha, Malásia, Cingapura e
Arábia Saudita.
Conclusão
Este capítulo tratou da determinação das taxas de câmbio e de tema relacionado do
estabelecimento do sistema monetário internacional. Uma questão crítica nessa área é o grau
ótimo de flexibilidade na determinação da taxa de câmbio. O colapso do sistema Bretton Woods
levou a um período de flutuação administrada para a maior parte das moedas.
O valor do dólar americano esteve bastante instável durante o período de taxas de câmbio
flutuantes. Nos períodos de variações acentuadas no valor da moeda, houve defesas de
mudanças no sistema monetário internacional para proporcionar mais estabilidade às taxas de
câmbio.
Como vimos, porém, as oscilações no valor do dólar em relação a outras moedas nacionais
são devidas, em grande parte, a divergências nas políticas fiscais e monetárias domésticas
adotadas pelos países. Uma maior estabilidade cambial provavelmente exigiria maior
coordenação das políticas macroeconômicas nacionais. Há muitos obstáculos para uma
coordenação internacional eficaz das políticas, entre eles as diferentes preferências dos
formuladores de políticas e as diferentes estruturas industriais das principais economias do
mundo. O câmbio flutuante libera os países da necessidade de coordenar políticas, mas ao custo
de taxas de câmbio altamente voláteis.
Em anos recentes, os crescentes desequilíbrios de conta corrente nas principais economias do
mundo também levaram a que se sentisse a necessidade de uma maior coordenação das políticas
econômicas. Em 2006, o FMI estabeleceu um mecanismo de consulta pelo qual países
deficitários e superavitários discutiriam possíveis maneiras de reduzir os desequilíbrios. Houve
uma redução do tamanho desses desequilíbrios de conta corrente durante a recessão de 2007-
2009. Ainda assim, o problema persiste para as principais economias desenvolvidas em geral e,
em especial, na Europa.
Questões de revisão
1. Por que o balanço de pagamentos sempre se equilibra?
2. Explique como a taxa de câmbio de um país é determinada no caso de:
a. um sistema de taxas de câmbio fixas.
b. um sistema de taxas de câmbio flexíveis.
c. uma flutuação administrada, ou “suja”.
3. Analise os efeitos de uma queda autônoma na demanda pelos produtos de exportação de um
país dentro dos sistemas de taxas de câmbio fixas e flexíveis. Em cada caso, indique os
efeitos sobre o balanço de pagamentos do país e sobre a taxa de câmbio.
4. Se os bancos centrais nunca interviessem em mercados de câmbio, poderia haver déficits ou
superávits no balanço de pagamentos de um país? Explique.
5. Descreva o sistema Bretton Woods de determinação das taxas de câmbio que foi estabelecido
no final da Segunda Guerra Mundial e durou até 1973.
6. Explique a relação entre a balança comercial e o nível de atividade econômica em um
sistema de taxas de câmbio fixas. Por que essa relação cria um conflito potencial entre as
metas de equilíbrio interno e externo?
7. Levando em conta o efeito sobre a balança comercial e sobre a balança de capitais, explique
as relações entre equilíbrio do balanço de pagamentos e políticas monetárias e fiscais
expansionistas dentro de um sistema de taxas de câmbio fixas.
8. “A adoção de um sistema de taxas de câmbio flexíveis liberaria as políticas fiscal e
monetária para que fossem usadas para alcançar metas internas de pleno emprego e
estabilidade de preços.” Você concorda ou discorda dessa afirmação? Explique.
9. Quais são algumas das vantagens ou desvantagens relativas de taxas de câmbio fixas e
flexíveis?
10. Ilustre graficamente os efeitos no mercado de câmbio de uma política monetária
expansionista adotada pelo país estrangeiro em nosso modelo de dois países. Considere os
casos de taxas de câmbio fixas e de taxas de câmbio flexíveis.
11. Suponha que você observe que um país tem um grande superávit de conta corrente. Desse
fato, é possível determinar se
a. o país tem superávit ou déficit no balanço de pagamentos?
b. o país tem superávit ou déficit em sua balança de capitais?
12. Às vezes, o déficit de conta corrente de um país e o déficit do orçamento federal do país são
chamados de déficits “gêmeos” porque movem-se praticamente juntos na mesma direção.
Apoiando-se na análise da Seção 14.6 (em especial a equação 14.4), explique por que seria
esperado que esses dois déficits caminhassem juntos em algumas ocasiões. Por que isso
poderia não acontecer em outras ocasiões?
CAPÍTULO 15
Políticas monetária e fiscal em economia aberta
Economias que são abertas, como todas as economias são em certa medida, têm comércio e
fluxos de capitais com outras economias. Neste capítulo, vamos examinar as políticas fiscal e
monetária em um modelo de economia aberta. Como os efeitos de ações de políticas diferem na
economia aberta em relação à economia fechada? Como eles diferem com taxas de câmbio fixas
ou flexíveis? Vamos examinar conflitos que surgem entre os equilíbrios interno e externo em um
sistema de taxas de câmbio fixas, conforme discutido no Capítulo 14. Ilustraremos por que esses
conflitos não aparecem quando as taxas de câmbio são flexíveis.
Há vários modelos macroeconômicos de economia aberta. O usado aqui é o modelo Mundell-
Fleming, uma referência básica para a macroeconomia de economia aberta.1 O modelo é
explicado na Seção 15.1. Depois, nas Seções 15.2 e 15.3, examinamos os efeitos de mudanças
em políticas econômicas e outras variáveis sob dois pressupostos diferentes sobre a mobilidade
de capitais entre países.
e a equação IS torna-se
Além das curvas IS e LM, nosso modelo de economia aberta contém uma curva de equilíbrio
do balanço de pagamentos, a curva BP na Figura 15.1. Essa curva mostra todas as combinações
taxa de juros/renda que resultam em equilíbrio do balanço de pagamentos a uma dada taxa de
câmbio. Equilíbrio do balanço de pagamentos significa que variação das reservas oficiais é zero.
A equação para a curva BP pode ser escrita como
Um aumento na quantidade de moeda desloca a curva LM de LM(M0) para LM(M1). O ponto de equilíbrio desloca-se de E0 para
E1. A taxa de juros cai e o nível de renda sobe. O novo ponto de equilíbrio está abaixo da curva BP, indicando um déficit no
balanço de pagamentos.
O fato de que, partindo de um ponto de equilíbrio, uma política monetária expansionista leva
a um déficit no balanço de pagamentos cria conflitos potenciais entre metas internas e equilíbrio
externo. Se no ponto E0 na Figura 15.2 o nível de renda, Y0, for baixo em relação ao pleno
emprego, então o movimento para o ponto E1 e para o nível de renda Y1 pode ser preferível por
razões internas. Mas, no ponto E1, haverá um déficit no balanço de pagamentos e, com reservas
limitadas de moeda estrangeira, tal situação não pode ser mantida indefinidamente.
Um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS de IS(G0) para IS(G1). O ponto de equilíbrio passa de E0 para E1. A
renda e a taxa de juros aumentam. O novo ponto de equilíbrio está acima da curva BP, o que indica que, com uma taxa de câmbio
fixa para o caso em que a curva BP é mais plana do que a curva LM, a política fiscal expansionista resulta em superávit no
balanço de pagamentos.
A curva BP será mais inclinada quanto menos os fluxos de capitais forem sensíveis à taxa de
juros. Quanto menor o aumento da entrada de capitais para um dado aumento da taxa de juros
(dado o valor fixo de rx), maior será o aumento da taxa de juros necessário para manter o
equilíbrio do balanço de pagamentos quando passamos para um nível de renda (e, portanto, de
importações) mais alto; ou seja, a curva BP será mais inclinada. A curva BP também será mais
inclinada quanto maior for a propensão marginal a importar. Com uma propensão marginal a
importar mais alta, um dado aumento na renda produzirá um aumento maior nas importações.
Para alcançar o equilíbrio no balanço de pagamentos, será necessário um aumento
compensatório maior da entrada de capitais e, consequentemente, um aumento maior da taxa de
juros.
A ação de política fiscal expansionista representada nas Figuras 15.3 e 15.4 faz a renda
aumentar, o que leva a uma deterioração da balança comercial e faz a taxa de juros subir,
resultando em uma melhora da balança de capitais. A discussão até aqui indica que quanto mais
inclinada for a curva BP, maior é o efeito desfavorável sobre as importações e a balança
comercial e menor é o efeito favorável sobre os fluxos de capitais. Portanto, quanto mais
inclinada for a curva BP, mais se torna provável que uma ação de política fiscal expansionista
leve a um déficit no balanço de pagamentos.
Por fim, observe que a inclinação da curva BP em relação à inclinação da curva LM
determina se uma ação de política fiscal expansionista resultará em superávit ou déficit no
balanço de pagamentos. Dada a inclinação da curva BP, quanto mais inclinada for a curva LM,
mais provável será que ela seja mais inclinada do que a curva BP, a condição para um superávit
como resultado de uma ação de política fiscal expansionista. Isso acontece porque, outros fatores
sendo iguais, quanto mais inclinada for a curva LM, maior será o aumento da taxa de juros (que
produz a entrada de capitais favorável) e menor será o aumento da renda (que produz o efeito
desfavorável sobre a balança comercial).
FIG 15.4 Política fiscal com taxa de câmbio fixa: um resultado alternativo
Como na Figura 15.3, um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS para a direita, aumentando tanto a renda como a taxa
de juros. Neste caso, em que a curva BP é mais inclinada do que a curva LM, o novo ponto de equilíbrio (E1) está abaixo da
curva BP. A política fiscal expansionista resulta em um déficit no balanço de pagamentos.
Um aumento na oferta de moeda desloca a curva LM para a direita, movendo o ponto de equilíbrio de E0 para E1. O ponto E1
está abaixo da curva BP, onde há um déficit incipiente no balanço de pagamentos. No caso de taxas de câmbio flexíveis, a taxa de
câmbio subirá, fazendo a curva BP deslocar-se para a direita, de BP(π0) para BP(π1), e a curva IS deslocar-se para a direita, de IS
(π0) para IS (π1). O ponto de equilíbrio final é em E2, com um nível de renda Y2, acima de Y1, que é o novo equilíbrio para uma
taxa de câmbio fixa.
Observe que a elevação da renda como resultado da ação de política monetária expansionista
é maior no caso de taxas flexíveis do que com taxas fixas. No caso de taxas de câmbio fixas, a
renda subiria apenas para Y1 na Figura 15.5 ou na Figura 15.2. Com taxas de câmbio flexíveis, a
elevação da taxa de câmbio estimulará ainda mais a renda por aumentar as exportações e reduzir
a demanda por importações (para um dado nível de renda). A política monetária é, portanto, um
instrumento de estabilização mais potente em um regime de taxas de câmbio flexíveis do que em
um regime de taxas fixas.
15.2.2.2 Política fiscal
Um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS para a direita, de IS(G0, π0) para IS(G1, π0), movendo o ponto de
equilíbrio de E0 para E1. Com a curva BP menos inclinada do que a curva LM, E1 está acima da curva BP inicial, BP(T0). Há um
superávit incipiente no balanço de pagamentos e a taxa de câmbio cairá, deslocando a curva BP para a esquerda, para BP(T1), e
deslocando a curva IS para a esquerda, de IS(G1, π0) para IS(G1, π1). O equilíbrio final estará em E2, com o nível de renda Y2,
abaixo de Y1, o novo equilíbrio para o caso de uma taxa de câmbio fixa.
A Figura 15.6 ilustra os efeitos de um aumento nos gastos do governo de G0 para G1 com
taxas de câmbio flexíveis. O efeito inicial – ou seja, o efeito anterior ao ajuste da taxa de câmbio
– é o deslocamento da curva IS de IS(G0, π0) para IS(G1, π0) e a movimentação da economia de
E0 para E1. A taxa de juros sobe (de r0 para r1) e a renda aumenta (de Y0 para Y1). Com a
inclinação das curvas BP e LM conforme desenhadas na Figura 15.6 (com a curva BP menos
inclinada do que a curva LM), um superávit incipiente no balanço de pagamentos resulta dessa
ação de política expansionista. Nesse caso, a taxa de câmbio deve cair (de π0 para π1) para
equilibrar o mercado cambial. Uma queda na taxa de câmbio deslocará a curva BP para a
esquerda na Figura 15.6, de BP(π0) para BP(π0). A curva IS também será deslocada para a
esquerda, de IS (G1, π0) para IS(G1, π1), uma vez que a redução da taxa de câmbio diminuirá as
exportações e estimulará as importações. O ajuste da taxa de câmbio compensará parcialmente o
efeito expansionista da ação de política fiscal. O novo ponto de equilíbrio será em Y2, que está
acima de Y0 mas abaixo de Y1, o nível que teria resultado no caso de taxas de câmbio fixas.
Não há, porém, uma relação definida entre a força da política fiscal e o tipo de regime de
taxas de câmbio, como há no caso da política monetária. Se a curva BP for mais inclinada do
que a curva LM, como na Figura 15.4, uma política fiscal expansionista, para uma dada taxa de
câmbio, causará um déficit no balanço de pagamentos. Com um déficit incipiente no balanço de
pagamentos no regime de taxas flexíveis, a taxa de câmbio precisa subir para restaurar o
equilíbrio no mercado cambial. A curva BP e a curva IS deslocam-se para a direita e reforçam o
efeito de expansão inicial do aumento nos gastos do governo. Nesse caso, a ação de política
fiscal expansionista tem um efeito maior sobre a renda do que teria no caso de taxas de câmbio
fixas.
Embora esse resultado alternativo seja possível em teoria, a maioria dos economistas acredita
que o resultado da Figura 15.6 é mais provável. Eles acham que uma política fiscal
expansionista baixará a taxa de câmbio (elevará o valor da moeda doméstica em relação às
outras moedas). Essa opinião decorre da ideia de que há um grau relativamente alto de
mobilidade de capitais internacionais, o que significa que a curva BP é relativamente plana e,
portanto, provavelmente será menos inclinada do que a curva LM, como na Figura 15.6.
Um aumento na oferta de moeda desloca a curva LM de LM(M0) para LM(M1). A taxa de juros interna cai abaixo da taxa de
juros externa, desencadeando uma saída maciça de capitais. A intervenção do Banco Central para manter a taxa de câmbio fixa
faz com que a oferta de moeda caia de volta para o nível inicial, M0. A taxa de juros interna retorna à igualdade com a taxa de
juros externa e a renda volta a seu nível inicial.
Um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS de IS(G0) para IS(G1). A taxa de juros interna é pressionada para cima até
um nível mais alto que a taxa de juros externa, resultando em uma forte entrada de capitais. A intervenção do Banco Central para
manter a taxa de câmbio fixa faz a oferta de moeda subir. A curva LM desloca-se de LM(M0) para LM(M1). A taxa de juros
interna é levada de volta à igualdade com a taxa externa e o aumento na oferta de moeda reforça o efeito expansionista do
aumento dos gastos governamentais.
Um aumento na oferta de moeda faz a curva LM deslocar-se de LM(M0) para LM(M1). A taxa de juros interna cai abaixo da taxa
de juros externa, desencadeando uma grande saída de capitais. A saída de capitais faz a taxa de câmbio subir, deslocando a curva
IS de IS(π0) para IS(π1). A taxa de juros interna é levada de volta à igualdade com a taxa de juros externa e a renda sobe para Y1.
A política monetária é altamente eficaz com mobilidade perfeita de capitais e taxas de câmbio
flexíveis. A renda sobe em um montante equivalente a todo o deslocamento horizontal da curva
LM. Repare que o mecanismo pelo qual a política monetária funciona não é mais pela taxa de
juros, que fica fixa no nível da taxa internacional. Em vez disso, ele atua por intermédio da taxa
de câmbio e, portanto, das exportações líquidas.
Um aumento nos gastos governamentais faz a curva IS deslocar-se de IS(G0, π0) para IS(G1, π0). A taxa de juros interna sobe
acima da taxa de juros externa, o que tem como resultado uma forte entrada de capitais. A entrada de capitais faz a taxa de
câmbio cair. A queda da taxa de câmbio desloca a curva IS de volta para IS(G0,π0) = IS(G1, π1). A taxa de juros interna iguala-se
novamente à taxa de juros externa e a renda retorna a seu nível inicial.
S+T=I+G
ou
S + (T - G) = I
A poupança doméstica privada (S) mais a poupança governamental (T – G) (ou despoupança se houver um déficit) deve
ser igual ao investimento doméstico (I).
Em uma economia aberta, a equação (15.10) é modificada para incluir importações e exportações e torna-se
S + (T - G) + (Z - X) = I
A poupança doméstica (uma vez mais ajustada para poupança ou despoupança governamental) mais o déficit comercial (Z
- X) deve ser igual ao investimento doméstico. Os países poderiam, portanto, ter grandes desvios da poupança em relação
ao investimento se houvesse grandes superávits ou déficits de conta corrente. Um país poderia, por exemplo, ter um
grande déficit de conta corrente (Z - X), que, no balanço de pagamentos, fosse financiado por um superávit na balança de
capitais que, por sua vez, financiasse o investimento em um nível mais alto que a poupança doméstica. Esse foi o caso dos
Estados Unidos por boa parte das décadas de 1980 e 1990. Em um mundo de alta mobilidade de capitais, não esperaríamos
que poupança e investimento em um determinado país estivessem estreitamente relacionados.
FIG 15.11 Poupança (S) e Investimento (I): relação com o PNB (Y), 1974-2008
A poupança fluiria para o país em que o retorno sobre os investimentos fosse maior. Se os residentes de um país
poupassem muito, mas o retorno do investimento fosse baixo, esse país investiria no exterior e teria um déficit na balança
de capitais e um superávit comercial.
Na verdade, porém, como pode ser visto na Figura 15.11, a poupança e o investimento em uma amostra de países
desenvolvidos estão estreitamente associados (têm uma alta correlação positiva). Países com uma alta proporção de
poupança em relação à renda, como o Japão e a Finlândia, também têm altas proporções de investimento em relação à
renda. Inversamente, países com razões poupança/renda relativamente baixas, como o Reino Unido e os Estados Unidos,
têm razões investimento/renda relativamente baixas. Essa relação foi observada em um estudo de Martin Feldstein e
Charles Horioka e é, por isso, conhecida como o enigma poupança-investimento de Feldstein-Horioka.a.
O que explica o enigma? Talvez a mobilidade total de capitais não seja de fato tão alta. Mas há outras possibilidades. Se
voltarmos à equação (15.11), vemos que uma grande divergência de poupança doméstica (ajustada para poupança ou
despoupança do governo) em relação ao investimento requer um grande déficit ou superávit de conta corrente. Se os
governos derem início a políticas para limitar a extensão desses desequilíbrios de conta corrente, eles forçam uma
convergência de poupança e investimento domésticos. Certamente alguns países às vezes têm de fato desequilíbrios
substanciais de conta corrente. Os Estados Unidos em anos recentes é um exemplo, mas os limites a tais desequilíbrios
ainda poderiam ser suficientemente grandes para explicar a relação mostrada na Figura 15.11, que cobre 16 países ao
longo de mais de três décadas.
Uma segunda explicação para a correlação positiva poupança-investimento relaciona-se às limitações de acesso de muitas
firmas aos mercados de capitais em geral. Se as firmas tiverem acesso limitado aos mercados de capitais, elas terão de
financiar o investimento por meio de lucros retidos, que são parte da poupança doméstica.
Embora essas explicações da correlação positiva poupança-investimento sejam consistentes com um alto grau de
mobilidade internacional de capitais, há pouca evidência empírica de sua importância. O enigma permanece.
Antes de sairmos da questão do enigma da alta correlação poupança-investimento, é preciso observar que, embora ainda
alta, essa correlação diminuiu um pouco na última década. Isso deve-se em parte ao déficit historicamente alto nas contas
correntes dos Estados Unidos, que foi acompanhado por investimentos domésticos relativamente altos e poupança
doméstica baixa. Mas, mesmo deixando os Estados Unidos de fora, a correlação declinou. A causa mais provável para o
declínio é a crescente globalização dos mercados de capitais, que aumentou a mobilidade de capitais. Outro sinal disso é o
fato de os investidores estarem incluindo mais ativos estrangeiros em suas carteiras de investimento. Isso representou um
declínio no que os economistas chamam de viés doméstico, a preferência dos investidores por manter ativos financeiros
domésticos. Essa crescente mobilidade de capitais é um fator que tornou mais fácil o financiamento do déficit de conta
corrente americano.
a FELDSTEIN, Martin; HORIOKA, Charles. Domestic saving and international capital flows. Economic Journal, 90, p. 314-
329, June 1980.
Conclusão
Neste capítulo, analisamos as políticas fiscal e monetária em uma versão para economia
aberta do modelo IS-LM, nos casos de mobilidade perfeita e imperfeita de capitais. Vimos que
há diferenças significativas entre os dois casos. Em particular, o pressuposto de mobilidade
perfeita de capitais produz alguns resultados dignos de nota: a política monetária é
completamente ineficaz se a taxa de câmbio for fixa e a política fiscal é completamente ineficaz
se a taxa de câmbio for flexível. Com mobilidade imperfeita de capitais, nossos resultados ficam
mais de acordo com aqueles observados no modelo IS-LM para a economia fechada, como é
resumido na Tabela 7.1, embora haja algumas diferenças quantitativas.
Dadas essas diferenças, qual caso é relevante para o mundo real? Poucas coisas são perfeitas
no mundo e a mobilidade de capitais não é uma delas. Mas será que o grau de mobilidade de
capitais é suficientemente alto para que a mobilidade perfeita de capitais não seja uma
aproximação ruim? Com base na situação de meados da década de 1980, um estudo concluiu
que os mercados de capitais mundiais provavelmente estavam “a dois terços ou três quartos do
caminho, mas não mais que isso”, na direção da mobilidade perfeita de capitais.5 Os mercados
de capitais moveram-se mais nessa direção nos últimos 20 anos. Essa tendência poderia levar a
uma preferência pelo modelo com mobilidade imperfeita de capitais, mas uma curva BP
relativamente plana.
É difícil, porém, fazer uma afirmação generalizante que seja válida para todos os países.
Alguns países, embora em número cada vez menor, mantêm controles governamentais sobre os
movimentos de capitais que restringem seriamente a mobilidade de capitais. Para outros países
cujos mercados de capitais são estreitamente integrados aos de um grande vizinho, como o
Canadá e a Áustria, o pressuposto de mobilidade perfeita de capitais é preferível.
Questões de revisão
1. Explique por que a curva BP na Figura 15.1 tem inclinação positiva. Que fatores causam um
deslocamento da curva BP? Explique.
2. No modelo Mundell-Fleming, pressupondo mobilidade imperfeita de capitais, analise os
efeitos das seguintes ações de política econômica para os casos de taxas de câmbio fixas e
flexíveis:
a. Um declínio na oferta de moeda de M0 para M1.
b. Um aumento nos gastos do governo de G0 para G1.
Inclua em sua resposta os efeitos da ação de política econômica sobre a renda e a taxa de
juros, assim como os efeitos sobre o balanço de pagamentos e a taxa de câmbio.
3. Explique o que significa dizer que temos mobilidade perfeita de capitais. Por que a curva BP
é horizontal no caso de mobilidade perfeita de capitais?
4. Examine os efeitos de um corte uniforme (lump-sum) de impostos, de T0 para T1, em um
sistema de taxas de câmbio fixas. Examine ambos os casos de mobilidade perfeita e
imperfeita de capitais. Em qual caso o corte nos impostos terá o maior efeito sobre a renda?
5. O que significa esterilização dos efeitos da intervenção no mercado cambial? Explique como
a esterilização funciona no caso de mobilidade imperfeita de capitais.
6. No modelo Mundell-Fleming, pressupondo mobilidade perfeita de capitais, analise os efeitos
de um choque positivo na demanda por moeda (isto é, um aumento na demanda por moeda
nos níveis dados de renda e taxa de juros). Considere o efeito do choque sobre a renda
quando a taxa de câmbio for fixa e quando ela for flexível.
7. No modelo Mundell-Fleming, pressupondo mobilidade perfeita de capitais, analise o efeito
de um aumento uniforme (lump-sum) de impostos para o caso de taxas de câmbio flexíveis.
O corte nos impostos será eficaz? Explique.
8. No modelo Mundell-Fleming, pressupondo mobilidade imperfeita de capitais, analise o
efeito de uma queda no investimento autônomo. Concentre-se no efeito sobre a renda. Esse
efeito é maior com taxas de câmbio fixas ou flexíveis? (Considere que a curva BP seja mais
plana do que a curva LM.)
PARTE V
Políticas econômicas
A política monetária refere-se às ações dos bancos centrais para afetar a oferta de moeda e o
crédito e influenciar a taxa de juros. Até aqui, representamos ações de política monetária por
meio de mudanças exógenas na oferta de moeda. Neste capítulo e no Capítulo 17, vamos fazer
um exame mais realista da política monetária. Discutiremos a estrutura do Banco Central dos
Estados Unidos, o Federal Reserve System, que conduz a política monetária do país. Parte de
nossa análise neste capítulo será um exame de como o Banco Central pode controlar a oferta de
moeda. De forma mais ampla, examinaremos as ligações entre ações do Banco Central e o
crédito e taxas de juros.
Em anos recentes, o Federal Reserve e outros bancos centrais focaram mais diretamente as
taxas de juros do que a oferta de moeda. Isso não conflita com nossa análise anterior. Nessa
análise, o Banco Central alterava a oferta de moeda para influenciar a taxa de juros. Aumentos
na oferta de moeda, por exemplo, faziam a taxa de juros cair. Neste capítulo e no próximo, no
entanto, daremos mais atenção às ligações entre as ações dos bancos centrais e as taxas de juros
e o crédito. Também examinaremos mais detalhadamente taxas de juros específicas e outros
ativos financeiros que não a moeda.
O sistema bancário desempenha um papel importante na transmissão dos efeitos da ação do
Banco Central para o resto da economia. Portanto, vamos examinar o modo como a política
monetária afeta os balanços patrimoniais e o comportamento dos bancos. O comportamento do
público não bancário também entrará em nossa análise.
Neste capítulo, vamos focar o que o Banco Central realmente faz. No Capítulo 17, o foco
muda para o que os bancos centrais deveriam fazer – a questão da política monetária ótima.
Começamos na Seção 16.1 com uma definição de moeda. A Seção 16.2 explica alguns
conceitos de taxas de juros e os ativos financeiros e mercados associados. A Seção 16.3 discute
a estrutura do Federal Reserve System e as ferramentas que ele usa para conduzir a política
monetária. Em resposta à recente crise financeira, o Federal Reserve desenvolveu novos
instrumentos de política econômica que também vamos examinar. Na Seção 16.4, explicamos a
relação entre reservas, depósitos e crédito bancários, que é uma ligação fundamental no processo
do controle do Banco Central sobre a oferta de moeda e o nível das taxas de juros. Aqui
examinaremos como o sistema financeiro ficou congelado e como os instrumentos de política
monetária recém-desenvolvidos foram usados para tentar reaquecê-lo. A Seção 16.5 conclui
nossa análise do processo da política monetária.
M1
É a mais restrita das duas medidas de oferta de moeda
dos Estados Unidos. Consiste em moeda corrente
mais depósitos a vista.
A outra medida, M2, é mais ampla. Ela inclui os componentes de M1 mais depósitos
bancários adicionais que não podem ser sacados por cheques ou têm limitações nesse sentido.
M2 inclui contas de fundos mútuos do mercado monetário, que com frequência permitem
cheques apenas para montantes acima de um mínimo, e contas comuns de poupança e de
depósitos a prazo, que não preveem saques com cheques.2 Detalhes sobre a composição de cada
uma dessas medidas de moeda, bem como as cifras correspondentes ao nível dessas medidas nos
Estados Unidos em outubro de 2011, são dados na Tabela 16.1.
M2
Inclui todos os componentes de M1 mais alguns
depósitos bancários adicionais que não podem ser
sacados por cheques ou têm limitações nesse sentido.
Tabela 16.1 - Medidas da oferta de moeda, Estados Unidos, outubro de 2011 (bilhões de
dólares)
M1 $2.150,1 Médias das cifras diárias referentes a (1) moeda corrente fora do Tesouro, dos
bancos do Federal Reserve e dos cofres dos bancos comerciais, (2) cheques de
viagem de emissores não bancários, (3) depósitos à vista em todos os bancos
comerciais exceto os devidos a bancos domésticos, ao governo e a bancos e
instituições oficiais estrangeiras, menos itens disponíveis líquidos em processo de
cobrança e float do Federal Reserve, e (4) ordens de saque negociáveis (NOW) e
contas de transferência automática (ATS) em bancos e instituições de poupança,
cotas de cooperativa de crédito (CUSD) e depósitos à vista em bancos de
poupança mútua
M2 $9.607,5 M1 mais poupanças e pequenos depósitos a prazo em todas as instituições
depositárias, acordos de recompra de overnight em bancos comerciais,
eurodólares de overnight mantidos por residentes dos Estados Unidos com a
exceção de bancos em filiais do Caribe de bancos associados, cotas de fundos
mútuos do mercado monetário e contas de depósito do mercado monetário
(MMDA)
Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve.
A lógica que fundamenta a medida mais ampla da moeda é que as categorias de depósitos
adicionais incluídas em M2 em relação a M1 são muito semelhantes a depósitos a vista ou
podem ser facilmente convertidas em depósitos a vista. Saldos em contas de poupança, por
exemplo, podem ser convertidos em depósitos a vista (ou em moeda corrente) pela simples ida
ao banco (ou usando um caixa eletrônico ou a internet). Se esses tipos adicionais de depósitos
forem substitutos suficientemente próximos de depósitos a vista e moeda corrente, pode ser
adequado considerá-los como moeda.
Base monetária
É igual à moeda circulante mais os depósitos de
reservas bancárias.
Tabela 16.2 - Balanço dos Federal Reserve Banks dos Estados Unidos, em bilhões de dólares
(fev./ 2007)
Tabela 16.3 - Efeito sobre o balanço do Banco Central de uma compra de $1.000 no mercado
aberto
Títulos do governo constituem uma parte importante dos ativos do Banco Central, como pode
ser visto na Tabela 16.2. A compra do título adicional aumenta o item de títulos do governo no
lado dos ativos do balanço do Banco Central em $1.000. Para pagar esse título, o Banco Central
emite um cheque cobrável dele mesmo. Um ponto fundamental a observar aqui é que o Banco
Central, ao emitir esse cheque, não reduz o saldo de nenhuma conta. Ele simplesmente cria um
novo passivo para si mesmo. O que acontece ao cheque? Vamos supor que um investidor
individual tenha vendido o título para o Banco Central. Ele pegará o cheque recebido e o
depositará em um banco, o Banco A, por exemplo.
O Banco A apresentará então o cheque ao Banco Central para pagamento. O Banco Central
fará o crédito de $1.000 no saldo de conta do Banco A junto ao Banco Central. A compra no
mercado aberto resulta em um aumento do mesmo valor nos depósitos de reservas dos bancos no
Banco Central. Os efeitos da compra no mercado aberto sobre o balanço do Banco Central estão
resumidos na Tabela 16.3.
De maneira similar, uma venda de títulos do governo no mercado aberto reduzirá no mesmo
montante os depósitos de reservas dos bancos. Nesse caso, o Banco Central recebe um cheque
do indivíduo que comprou o título para ser descontado em um banco. O Banco Central desconta
do saldo de depósitos desse banco no Banco Central a mesma quantia do cheque. Essas compras
e vendas de títulos no mercado aberto oferecem um meio flexível de controlar as reservas
bancárias.
Taxa de redesconto
A taxa de juros cobrada pelo Banco Central sobre
seus empréstimos a bancos.
Tabela 16.4 - Efeito sobre o balanço do Banco Central de um empréstimo de $1.000 a um banco
Pela Tabela 16.2, pode-se ver que empréstimos do Federal Reserve para bancos foram um
item muito pequeno no balanço de 2007. Essas taxas de redesconto declinaram drasticamente na
década de 1990 por diversas razões. Uma delas foi que, caso se descobrisse que um banco havia
tomado empréstimo do Fed, isso seria interpretado como um sinal de possíveis problemas
financeiros do banco, com consequências adversas para o preço de suas ações.
Em alguns países, a manipulação da taxa de redesconto e o nível de empréstimos com essa
taxa é um instrumento importante de controle monetário. Em 2007, este certamente não era o
caso nos Estados Unidos. Ainda assim, esses empréstimos tinham um papel na política
monetária. O Fed desempenha uma função de “emprestador de última instância” para bancos, o
que é um papel importante para bancos centrais. O Fed emprestará a um banco e proporcionará
liquidez em tempos de crise, quando outros canais de empréstimo estiverem fechados. Quando a
recente crise financeira começou, esse papel dos bancos centrais como emprestadores de última
instância foi posto em teste nos Estados Unidos e em muitos outros países. Empréstimos com
taxa de redesconto e outros empréstimos do Federal Reserve para instituições financeiras vieram
para o primeiro plano.
Embora as tenhamos incluído em nossa discussão para não deixá-la incompleta, mudanças
nas reservas compulsórias não são usadas com frequência para afetar a posição das reservas dos
bancos. Uma razão é que aumentos das reservas compulsórias são muito impopulares com os
bancos, pois a necessidade de manter um montante maior de reservas que não rendem juros
diminui os seus lucros. Reservas compulsórias são, no entanto, um instrumento importante na
política monetária da China e outros países.
Tabela 16.5 - Balanço dos Federal Reserve Banks dos Estados Unidos, em bilhões de dólares
(fev/2011)
Tabela 16.7 - Efeito inicial sobre o balanço do Banco A de uma compra de $1.000 no mercado
aberto
A Tabela 16.7, porém, mostra apenas os efeitos iniciais da compra no mercado aberto no
balanço do Banco A. A posição descrita na Tabela 16.7 não será, em condições normais, um
equilíbrio para o Banco A, porque o banco, em geral, não vai querer aumentar suas reservas
voluntárias. Como as reservas no passado não pagavam juros e, mesmo agora, pagam juros
mínimos, o banco, em circunstâncias normais, converterá as reservas voluntárias que se
encontram na forma de depósitos no Banco Central, em ativos que rendam juros. Essa conversão
põe em movimento um processo de criação de depósitos pelo qual o aumento inicial de $1.000
nas reservas faz com que os depósitos bancários aumentem segundo um múltiplo desse aumento
inicial. (Voltaremos ao que acontece nas circunstâncias anormais criadas pela crise financeira de
2007-2009.)
Ao descrever esse processo, é conveniente começar fazendo algumas suposições
simplificadoras. Primeiro, continuamos a considerar que a manutenção de moeda corrente pelo
público permanece inalterada. Nenhuma parcela do aumento inicial da base monetária, que se
deu na forma de reservas bancárias, é transferida para um aumento na manutenção de moeda
corrente pelo público. Segundo, supomos que a quantidade de depósitos a prazo e em poupança
é fixa. Continuamos a nos concentrar apenas em depósitos a vista. E, como acabamos de dizer,
pressupomos que o banco não queira mais reservas voluntárias. O efeito da alteração desses
pressupostos será examinado posteriormente.
O Banco A tem $900 em reservas voluntárias, que ele deseja converter em ativos que paguem
juros. O banco pode fazer essa conversão aumentando os empréstimos ou comprando mais
títulos. Nenhuma dessas duas ações produzirá um efeito duradouro sobre o lado do passivo no
balanço; não há nenhum efeito sobre o nível de equilíbrio dos depósitos do Banco A. A compra
de um título pelo banco não altera os depósitos. Se o banco conceder um empréstimo, ele pode
creditar temporariamente a quantia do empréstimo na conta de movimento do cliente e essa ação
aumentaria os depósitos. Mas clientes não tomam empréstimos apenas para aumentar o saldo de
sua conta. Suponhamos que o empréstimo tenha sido feito a um consumidor que utilizou os
recursos para comprar um barco novo. O consumidor paga pelo barco com um cheque do Banco
A e, quando a transação for completada, os depósitos no Banco A terão retornado a seu nível
inicial (antes do empréstimo).
O cheque do consumidor será depositado na conta da firma que lhe vendeu o barco. O saldo
em conta corrente dessa firma, suponhamos que no Banco B, terá um aumento de $900. O
Banco B apresenta o cheque ao Banco A para pagamento – o cheque é compensado através do
Banco Central –, o que resulta em uma transferência de fundos da conta do Banco A no Banco
Central para a conta do Banco B no Banco Central. Nesse ponto, os $900 em reservas
voluntárias são eliminados do balanço do Banco A; os depósitos de reservas do banco tiveram
uma redução de $900. O balanço do Banco A está agora em sua posição final, em que os efeitos
da operação no mercado aberto são mostrados na Tabela 16.8. No lado dos passivos, os
depósitos têm um acréscimo do depósito de $1.000 do indivíduo original que vendeu um título
do governo para o Banco Central. As reservas compulsórias estão $100 (= 0,10 x 1.000) mais
altas. Os ativos rentáveis do banco, empréstimos no nosso exemplo, subiram $900.
Tabela 16.8 - Efeitos finais sobre o balanço do Banco A de uma compra de $1.000 no mercado
aberto
De uma maneira mais geral, um aumento nas reservas (R) de ΔR faz os depósitos
aumentarem até que as reservas compulsórias tenham aumentado no mesmo montante. O
aumento das reservas compulsórias é igual ao aumento dos depósitos a vista vezes a taxa de
reservas compulsórias sobre os depósitos a vista, ou seja,
onde rcd é a taxa de reservas compulsórias e ΔD é o aumento nos depósitos. Para o equilíbrio,
portanto,
Assim,
O aumento nos depósitos será um múltiplo (1/rcd) do aumento das reservas. Em nosso
exemplo anterior, com ΔR igual a 1.000 e rcd igual a 0,1 (uma taxa de reservas compulsórias de
10%), temos, a partir da equação (16.4),
O multiplicador de depósitos para o caso simples considerado até aqui é igual ao inverso da
taxa de reservas compulsórias sobre os depósitos a vista. Para rcd igual a 0,1 em nosso exemplo,
o multiplicador de depósito seria 10.
Essa forma do multiplicador de depósitos resulta das suposições simplificadoras que fizemos
anteriormente e terá de ser modificada quando amenizarmos essas suposições. O fato, em geral,
é que, dado o sistema de taxas fracionárias de reservas legais compulsórias, um aumento nas
reservas faz os depósitos aumentarem segundo um múltiplo do aumento das reservas. Toda a
nossa análise pode ser invertida para considerar os efeitos de uma venda de títulos no mercado
aberto, o que reduz as reservas bancárias e dá início a um processo de contração de depósitos.
Observe também que um processo similar de criação de depósitos resulta de uma redução da
taxa de redesconto do Banco Central, o que aumentaria as reservas decorrentes de empréstimos,
ou de uma redução na taxa de reservas compulsórias, o que, embora não altere as reservas totais,
criaria reservas voluntárias no sistema bancário para o nível inicial de depósitos. As mudanças
no balanço no caso dessas ações de política econômica seriam um pouco diferentes daquelas
mostradas nas Tabelas 16.7 a 16.10, mas o efeito geral seria o mesmo. Essas duas alternativas de
políticas expansionistas levariam a um aumento tanto do crédito como dos depósitos bancários.
A relação que acabamos de derivar entre reservas e depósitos pode ser reformulada como
uma relação entre a base monetária (BM) e a oferta de moeda (Ms). A base monetária é igual à
moeda corrente mantida pelo público mais as reservas bancárias. Até aqui, estamos
considerando que a manutenção de moeda corrente pelo público seja constante, portanto a
mudança na base monetária é igual à mudança nas reservas (ΔBM = ΔR). Nesse caso, a mudança
na oferta de moeda será igual à mudança nos depósitos bancários, já que a moeda corrente
mantida pelo público permanece constante (ΔD = ΔM). Como consequência, podemos expressar
um multiplicador monetário que dá o aumento na oferta de moeda por unidade de aumento na
base monetária:
Multiplicador monetário
Dá o aumento na oferta de moeda por aumento
unitário na base monetária.
que, neste caso simples, é igual ao multiplicador de depósitos. Essa expressão também precisará
ser modificada quando deixarmos de lado algumas de nossas suposições simplificadoras e,
normalmente, o multiplicador monetário não será igual em valor ao multiplicador de depósitos.
De maneira geral, porém, um dado aumento na base monetária fará a oferta de moeda subir por
um múltiplo do aumento da base monetária.
Da forma como foi descrito até aqui, o processo de criação de depósitos ou de moeda parece
bastante mecânico. Novas doses de reservas são convertidas por multiplicadores simples em
novos depósitos e a oferta de moeda aumenta. Modelos simples como esse são úteis para
explicar a relação entre depósitos bancários e reservas bancárias, mas dizem pouco sobre os
processos econômicos que estão por trás da criação de depósitos e moeda. Antes de passarmos
para modelos mais complexos de criação de depósitos, é conveniente parar um pouco e
examinar a natureza desses processos.
Quando os bancos se veem com reservas excedentes depois de uma compra de títulos no
mercado aberto pelo Banco Central, eles tentam converter essas reservas em ativos rentáveis.
Eles expandem o crédito bancário concedendo mais empréstimos e comprando títulos. Para
aumentar seus empréstimos, um banco oferece taxas de juros mais baixas sobre os empréstimos
e, às vezes, adota padrões mais baixos para aprovação de crédito. Ao comprar títulos, os bancos
elevam os preços desses títulos e provocam uma redução em sua taxa de juros. Um dos ativos
rentáveis que os bancos compram são hipotecas; assim, em épocas de expansão de crédito, as
taxas de juros sobre as hipotecas também cairão. Compras do Banco Central no mercado aberto,
assim como outras ações de política econômica expansionistas, levarão, portanto, a expansão do
crédito e a uma queda geral nas taxas de juros. Este é o outro lado do processo de criação de
depósitos e de moeda.
A mesma informação pode ser expressa de modo ligeiramente diferente definindo-se uma
função oferta de moeda que dê a oferta de moeda correspondente a um dado nível da base
monetária:
A equação (16.10) substitui nossa suposição anterior de que a oferta de moeda era
determinada exogenamente. Antes de introduzir as complicações discutidas nesta subseção, uma
função oferta de moeda na forma da equação (16.10) ainda implicaria que a oferta de moeda
fosse exogenamente definida pelo Banco Central, desde que a base monetária fosse controlada
pelo Banco Central; o multiplicador monetário (m) dependia apenas da taxa de reservas
compulsórias sobre depósitos a vista, que era definida exogenamente pelo Banco Central. Com a
base monetária e o multiplicador monetário definidos pelo Banco Central, não haveria
participação do público ou do sistema bancário na determinação da oferta de moeda. A
expressão mais complicada para o multiplicador monetário dada pela equação (16.8) contém
variáveis determinadas pelo público não bancário (MC/D) e pelo sistema bancário (RV/D),
implicando que, mesmo que o Banco Central defina a base monetária exogenamente, o nível da
oferta de moeda não seria exógeno; ele depende em algum grau do comportamento do público e
do sistema bancário.
a Sobre essas questões, veja FRIEDMAN, Milton; SCHWARTZ, Anna. A monetary history of the United States. Princeton:
Princeton University Press, 1963; TEMIN, Peter. Did monetary forces cause the Great Depression? New York: Norton,
1976; e TEMIN, Peter. Lessons from the Great Depression. Cambridge: MIT Press, 1990.
Conclusão
A política monetária é o uso pelo Banco Central de vários instrumentos para influenciar a
moeda, as taxas de juros e a oferta de crédito na economia. As quatro primeiras seções deste
capítulo explicaram os instrumentos que o Banco Central utiliza para controlar a base monetária
(moeda corrente mais depósitos de reservas bancárias) e as ligações entre a base monetária,
oferta de moeda, crédito e taxas de juros. O processo de criação de depósitos posto em
movimento por uma compra no mercado aberto de títulos do governo foi examinado. Problemas
recentes nos mercados financeiros que levaram o Federal Reserve dos Estados Unidos a utilizar
novos instrumentos que vieram a ser chamados de afrouxamento quantitativo também foram
abordados.
O Capítulo 17 continua a discussão da política monetária. A ênfase muda para estratégias
monetárias alternativas: a escolha de alvos e instrumentos para bancos centrais.
Questões de revisão
1. Quais são os principais grupos de formulação de políticas econômicas dentro do Federal
Reserve System dos Estados Unidos? Explique sua composição e funções.
2. Suponha que o Banco Central queira aumentar as reservas bancárias. Explique as várias
medidas que poderiam ser tomadas para alcançar essa meta. Em cada caso, ilustre a ligação
entre a ação de política econômica do Banco Central e o nível das reservas bancárias.
3. Qual é o montante máximo de aumento nos depósitos a vista que pode resultar de um
aumento de $1.000 nas reservas compulsórias se a taxa de reservas compulsórias para
depósitos a vista for de 10%? Explique como esse aumento acontece no sistema bancário. Dê
duas razões pelas quais o aumento efetivo pode ficar abaixo do máximo teórico.
4. Suponha que o nível da taxa de reservas compulsórias sobre depósitos a vista seja de 0,10.
Suponha também que a manutenção de moeda corrente pelo público seja constante, assim
como as reservas voluntárias desejadas dos bancos. Analise os efeitos sobre a oferta de
moeda de uma venda de títulos pelo Banco Central no mercado aberto no valor de $1.000.
Em sua resposta, explique o papel do sistema bancário no ajuste a essa ação de política
monetária.
5. Explique o conceito do multiplicador monetário. Que fatores determinam a magnitude do
multiplicador monetário?
6. Dentro do modelo de curvas IS-LM usado nos Capítulos 6 e 7, mostre como a renda e a taxa
de juros serão afetadas por cada uma das seguintes mudanças:
a. Um aumento na taxa de reservas compulsórias para depósitos a vista.
b. Uma venda de títulos no mercado aberto pelo Banco Central.
c. Uma redução na taxa de redesconto do Banco Central.
7. O Federal Reserve dos Estados Unidos achou necessário utilizar novos instrumentos para
expandir o crédito durante a crise financeira que teve início em 2007. Dê um exemplo dos
instrumentos que foram desenvolvidos e explique os problemas que tornaram os novos
instrumentos necessários.
8. No modelo de curvas IS-LM, ilustre o conflito que o Banco Central enfrenta entre tentar
controlar a oferta de moeda e tentar obter níveis “desejáveis” da taxa de juros.
9. Como a taxa dos fundos federais seria afetada por uma venda de títulos pelo Banco Central
no mercado aberto? A taxa aumentaria ou diminuiria? Explique.
CAPÍTULO 17
Política monetária ótima
O fim de semana de 13-14 de setembro de 2008 foi o ápice da recente crise financeira.
Formuladores de políticas reuniram-se em Nova York para tentar evitar o colapso do Lehman
Brothers, um dos quatro maiores bancos de investimento americanos. Apenas alguns dias antes,
o governo havia assumido o controle dos gigantes do financiamento imobiliário Fannie Mae e
Freddie Mac. Em março de 2008, o Federal Reserve tinha incorporado US$ 30 bilhões em ativos
do Bear Stearns em sua própria contabilidade para facilitar uma aquisição desse banco de
investimento pelo J.P. Morgan. Durante dois dias, foram feitas tentativas de negociar uma venda
do Lehman Brothers para o Bank of America, depois para o Barclays, um banco britânico. O
Bank of America preferiu comprar o Merrill Lynch e a negociação com o Barclay fracassou. Na
segunda-feira de manhã, o Lehman declarou falência. Dois dias depois, o Federal Reserve
resgatou o American International Group (AIG) a um custo de US$ 85 bilhões. O Federal
Reserve via-se diante de seu maior desafio desde a crise financeira durante a Grande Depressão
da década de 1930. As ações do Fed durante a crise financeira de 2007-2009 são uma parte do
tema deste capítulo. O foco é a condução ótima da política monetária. O que os bancos centrais
devem fazer?
A primeira seção discute a estrutura do Banco Central americano, o Federal Reserve System.
Examinamos em seguida as estratégias concorrentes de política monetária entre as quais o
Banco Central pode escolher e as bases em que a escolha é feita. Abordamos, então, a evolução
efetiva das estratégias de política monetária nos Estados Unidos nas últimas décadas e as
mudanças que se fizeram necessárias devido à recente crise. A última seção examina a política
monetária em outros países. A insatisfação com a condução da política monetária dentro das
estruturas legais existentes levou a mudanças institucionais nos bancos centrais de vários países.
Antes de prosseguir, damos uma olhada no quadro geral. Ao longo dos anos desde 1970, o
estudo da política monetária avançou até o ponto em que um artigo influente teve o título de
“The Science of Monetary Policy”. Nessa literatura, considerava-se que a política monetária
tivesse duas metas. Uma é equilibrar a economia quando esta é atingida por choques. A segunda
é proporcionar um ambiente estável de inflação e, portanto, de expectativas inflacionárias, para
ter credibilidade quanto à sua meta de estabilidade de preços. Na década de 1970, quando os
Estados Unidos e outras economias industrializadas foram atingidos por grandes choques de
oferta, entre outros, a meta de compensar os efeitos de choques predominou. Mais tarde, na
década de 1980, a administração das expectativas inflacionárias por meio da credibilidade
aumentou em importância. Expectativas inflacionárias estáveis eram vistas como fundamentais
para a desinflação nessa década. O período da chamada grande moderação de meados da década
de 1980 a 2006 pareceu diminuir a necessidade de políticas de estabilização ativas. Então,
depois de 2007, os choques sérios retornaram e a política monetária entrou em modo de
prevenção de crises. Essa sequência de mudanças de ênfase da política monetária como “gestão
de risco” para política como “gestão de expectativas de inflação” é o tema central deste capítulo.
a ALESINA, Alberto; SUMMERS, Lawrence. Central Bank independence and macroeconomic performance. Journal of
Money, Credit and Banking, 25, p. 151-162, May 1993.
A parte a mostra que, se a demanda por moeda não for totalmente inelástica em relação aos juros e a curva LM tiver inclinação
positiva, alcançar a meta da oferta de moeda só fará a renda ficar no nível desejado Y* se a curva IS estiver na posição prevista
IS0. Se, devido a choques imprevistos, a curva IS estiver em IS1 ou em IS2, a renda se afastará de Y*, ficando em Y1 ou em Y2,
mesmo que M esteja em M*. Na parte b, supomos que o Banco Central atinja a meta da oferta de moeda M*, o que, com base em
sua previsão da demanda por moeda, deve fixar a curva LM em LM0(M*) e alcançar meta da renda, Y*. Se, devido a um choque
imprevisto na função demanda por moeda, a curva LM deslocar-se para LM1(M*) ou LM2(M*), a renda ficará em Y1 ou em Y2 e
a meta da renda não será atingida mesmo que a oferta de moeda esteja na meta M*.
A Figura 17.3 ilustra casos em que alcançar a meta da oferta de moeda não significa, de
modo geral, que a meta de renda será atingida. Na Figura 17.3a, ainda supomos que, se o Banco
Central atingir sua meta da oferta de moeda, ele fixará a posição da curva LM. Para que isso
aconteça, precisamos continuar supondo que a função demanda por moeda seja perfeitamente
estável. Não há deslocamentos imprevisíveis na demanda por moeda que possam deslocar a
curva LM referente a um dado valor da oferta de moeda. Na Figura 17.3a, não consideramos que
a demanda por moeda seja totalmente inelástica em relação aos juros; a curva LM, portanto, não
é vertical.
Nesse caso, note que, embora o Banco Central atinja seu nível desejado da oferta de moeda,
ele só atingirá a meta final da renda se a curva IS estiver em sua posição prevista, IS0 – só se a
previsão do Banco Central para o setor real, com base na qual foi feita a escolha da meta da
oferta de moeda, estivesse correta. Se a demanda do setor real fosse mais fraca do que o previsto
e a curva IS estivesse em IS1 na Figura 17.3a em vez de em IS0, a renda estaria em Y1, abaixo de
Y*. Se a demanda do setor real fosse mais forte do que o previsto e a curva IS estivesse em IS2, a
renda excederia o nível desejado. Em ambos os casos, a meta da renda não é alcançada mesmo
que o Banco Central alcance a meta da oferta de moeda, M*. Com uma curva LM não vertical, a
fixação da oferta de moeda não fixa o nível de renda.
Na Figura 17.3b, examinamos um caso em que a função demanda por moeda não é
perfeitamente estável. Há deslocamentos imprevistos na demanda por moeda para níveis dados
da renda e da taxa de juros. Esses choques na demanda por moeda deslocam a curva LM. Nesse
caso, mesmo que o Banco Central atinja sua meta para a oferta de moeda, a curva LM não será
fixa. Na Figura 17.3b, supomos que, com base em uma previsão da demanda por moeda, o
Banco Central prevê que a curva LM estará em LM0(M*). Para isolar mais claramente os efeitos
da incerteza quanto à demanda por moeda, vamos supor que a previsão do Banco Central sobre
o setor real seja correta: que a posição prevista e efetiva da curva IS seja IS0.
Se o Banco Central estiver usando a oferta de moeda como uma meta intermediária e atingir a
meta da oferta de moeda (M*), só atingirá a meta da renda (Y*) se a previsão da demanda por
moeda estiver correta – apenas se a curva LM estiver em LM0 (M*), como previsto. Isso pode ser
visto na Figura 17.3b. Se houver um choque imprevisto que aumente a demanda por moeda
acima do nível previsto e a curva LM ficar em LM1 (M*) em vez de em LM0(M*), a renda (Y1)
ficará abaixo do nível desejado.3 No caso inverso, quando um choque imprevisto reduz a
demanda por moeda abaixo do nível previsto e a curva LM está em uma posição como LM2
(M*), a renda estará em Y2, acima do nível desejado. Uma vez mais, alcançar a meta para a
oferta de moeda não garante que a meta da renda será atingida.
FIG 17.4 Meta de taxa de juros com incerteza em relação a IS: elasticidade-juros da demanda
por moeda igual a zero
Com uma meta de taxa de juros, a curva LM é horizontal. Se a curva IS estiver em IS1 em vez de estar na posição prevista IS0, a
renda estará em Yr,1, abaixo do nível desejado. Se a oferta de moeda for a meta, a curva LM é vertical e a meta da renda é
alcançada.
Nos dois primeiros casos, pressupomos que a única incerteza é quanto à curva IS. A Figura
17.4 mostra a situação em que, como na Figura 17.2, a posição prevista da curva IS é IS0. Mas as
posições IS1 e IS2 poderiam ocorrer se, respectivamente, a demanda for mais fraca ou mais forte
do que o esperado. Além da curva LM horizontal, que é relevante quando a taxa de juros é
fixada (linha contínua), mostramos também (como uma linha tracejada) a posição da curva LM
que teria resultado se fosse estabelecida uma meta para a oferta de moeda (em M*). Na Figura
17.4, supomos que a demanda por moeda seja totalmente inelástica em relação aos juros
(elasticidade-juros igual a zero). Portanto, se a oferta de moeda fosse a meta intermediária, a
curva LM seria vertical.
Vemos na Figura 17.4 que, com a meta da taxa de juros em r*, só atingiremos a meta da
renda, Y*, se a curva IS estiver na posição prevista IS0. Se, por exemplo, a demanda por
investimentos das firmas ficasse abaixo do previsto e a curva IS estivesse em IS1, a renda cairia
abaixo do nível desejado (para Yr,1). No caso mostrado na Figura 17.4, estamos em melhor
situação com uma meta de oferta de moeda, em que ficamos em Y* qualquer que fosse a posição
da curva IS.
A Figura 17.5 representa o caso em que consideramos apenas que haja incerteza quanto à
curva IS, mas não supomos mais que a demanda por moeda seja completamente inelástica em
relação aos juros. (Esse é o caso representado na Figura 17.3a.) A suposição sobre a
elasticidade-juros da demanda por moeda não tem efeito sobre a curva LM quando a taxa de
juros é a meta. Essa curva LM (a reta LM contínua na figura) é horizontal porque o Banco
Central supre quanta moeda for necessária para manter a taxa de juros em r*. A curva LM com
uma meta de oferta de moeda, mostrada como uma linha tracejada na Figura 17.5, LM(M*), terá
agora inclinação positiva em vez de ser vertical.
Uma vez mais, a posição prevista da curva IS é IS0, mas a curva pode acabar ficando em IS1
ou em IS2 se, respectivamente, a demanda do setor privado for mais fraca ou mais forte do que o
previsto. Como na Figura 17.4, a meta da oferta de moeda é melhor que a taxa de juros na tarefa
de manter a renda próxima de Y* quando a curva IS não está no nível previsto. Se a curva IS
estiver em IS1 ou em IS2, a renda ficará em Y1 ou em Y2, respectivamente, quando a meta é a
oferta de moeda. Com uma meta de taxa de juros, a renda ficaria em Yr,1 ou em Yr,2,
respectivamente, para as mesmas posições da curva IS; ambos os níveis são mais distantes de
Y*.
Assim, vemos que, quer a curva LM seja vertical ou tenha inclinação positiva, uma meta de
oferta de moeda é melhor que uma meta de taxa de juros quando a incerteza com que se
defronta o formulador de políticas refere-se à curva IS. A razão para isso é que, quando a curva
IS afasta-se de sua posição prevista, o movimento da taxa de juros amortece o efeito do
deslocamento sobre a renda. Quando a taxa de juros tem uma meta estabelecida, esse
amortecedor monetário é desativado.
Consideremos os efeitos de um aumento autônomo na demanda por investimentos (por
exemplo, um deslocamento de IS0 para IS2 na Figura 17.5). Se a oferta de moeda for a meta,
quando o aumento nos investimentos faz a renda aumentar, a demanda por moeda sobe e, com
uma oferta de moeda fixa, a taxa de juros precisa subir (para r2 na Figura 17.5). A elevação da
taxa de juros atuará contra o aumento autônomo da demanda e fará os investimentos subirem
menos do que subiriam de outra forma. Se o Banco Central estiver trabalhando com uma meta
de taxa de juros, isso não acontecerá. À medida que a renda aumenta, para manter a taxa de juros
em r* o Banco Central precisa fazer compras no mercado aberto a fim de expandir a oferta de
moeda o suficiente para satisfazer a maior demanda por moeda.
FIG 17.5 Meta de taxa de juros com incerteza quanto a IS: elasticidade-juros da demanda por
moeda diferente de zero
Se houver uma meta para a taxa de juros e a curva IS estiver em IS1, a renda estará em Yr,1. Se a oferta de moeda for a meta, com
a curva LM não vertical, a renda também ficará abaixo do nível desejado, mas menos, em Y1.
Com uma meta de oferta de moeda, porém, um choque positivo na demanda por moeda
desloca a posição da curva LM para fora do nível previsto, mesmo que a meta de oferta de
moeda seja atingida. Se, com a meta monetária, M*, a posição esperada da curva LM fosse a
linha tracejada LM0(M*), um choque positivo na demanda por moeda deslocaria a curva para
LM1(M*). A taxa de juros aumentaria para r1 e a renda cairia para Y1, abaixo de Y*.
Vemos, então, que, se a incerteza centrar-se na instabilidade da demanda por moeda, uma
meta de taxa de juros é preferível a uma meta de oferta de moeda. Se a taxa de juros for a meta,
o setor real (mercado de produtos) é isolado de choques na demanda por moeda; a oferta de
moeda ajusta-se para manter o nível desejado da taxa de juros. No caso de uma meta da oferta de
moeda, o choque na demanda por moeda afeta a taxa de juros e, portanto, a renda é alterada.
Y= o produto real
e o sobrescrito (*) é o nível desejado para cada uma dessas variáveis.
A regra sugerida por Taylor faria com que o Federal Reserve aumentasse a taxa de juros automaticamente em 1 ponto
percentual para cada ponto percentual de aumento na taxa de inflação (o primeiro termo da regra). A taxa dos fundos
federais também subiria mais 0,5 ponto percentual para cada 1 ponto percentual de aumento na taxa de inflação em relação
à sua meta (pdot*) ou no produto em relação à meta para o produto (Y* = produto potencial). A política monetária se
tornaria mais restritiva quando a inflação subisse e mais expansionista quanto o produto caísse, sempre em relação às
metas. O último termo da equação (17.1) é a taxa real de equilíbrio dos fundos federais, a taxa que, ajustada para a
inflação, seria escolhida se tanto o produto como a inflação estivessem em seus níveis desejados.
Muito da atenção dada à regra de Taylor veio do fato de que a equação (17.1) fez um bom trabalho na identificação do
comportamento efetivo da política monetária no final da década de 1980 e início de 1990. Teria o Federal Reserve seguido
algo como uma regra de Taylor durante aqueles anos? Além disso, Taylor argumentava que, se a política tivesse seguido
uma regra de Taylor, erros teriam sido evitados em anos anteriores. A política econômica, dizia ele, teria sido mais
restritiva no período inflacionário da década de 1970. Como consequência, a política teria sido menos restritiva no início
da década de 1980, reduzindo o desemprego nesse período.
A discussão da regra de Taylor é um exemplo do interesse crescente pela política monetária baseada em regras em vez de
discricionária. A regra de Taylor não é uma “regra ótima”; ela segue mais no espírito da crença de Milton Friedman de
que, ao escolher um curso para a política monetária, “O melhor não deve ser inimigo do bom”.
a Veja TAYLOR, John. Discretion versus monetary policy rules in practice. Carnegie-Rochester Conference Series on Public
Policy, 39, p. 195-214, 1993.
Inconsistência temporal
Problemas surgem quando um plano de política
econômica para o futuro não é mais ótimo em uma
data posterior mesmo sem que nenhuma informação
nova tenha chegado nesse intervalo.
a As citações de Alan Greenspan nesta Perspectiva são tiradas de seus Comentários de Abertura da Federal Reserve Bank of
Kansas City Conference on Monetary Policy and Uncertainty, Aug. 2003, conforme publicado nas atas da conferência.
b As citações de Ben Bernanke aqui são tiradas de seus comentários em uma Federal Reserve Bank of St. Louis Conference
on Inflation Targeting: Prospects and Problems, conforme publicado na Federal Reserve Bank of St. Louis Review, July-
Aug. 2004.
c As citações de Benjamin Friedman são de seu comentário na mesma conferência que os de Bernanke, conforme publicado
no mesmo volume.
Conclusão
Este capítulo examinou questões de política monetária ótima: como os bancos centrais devem
conduzir a política monetária? No caso do Federal Reserve dos Estados Unidos, na prática a
estratégia variou de acordo com o grau de ênfase colocado na oferta de moeda ou na taxa de
juros. Nas duas últimas décadas, em resposta a mudanças nas condições econômicas,
principalmente a crescente instabilidade da relação moeda-renda, o Fed passou para uma
estratégia de metas de taxas de juros. O mesmo aconteceu em outras nações industrializadas. O
movimento para metas de taxa de juros deixou a política monetária sem uma âncora anti-
inflação como a que era proporcionada por uma meta da oferta de moeda. Em resposta, muitos
bancos centrais, embora não o Federal Reserve, passaram a usar uma estratégia de metas de
inflação.
A crise financeira e a recessão profunda que começaram no final de 2007 colocaram o
Federal Reserve em modo de combate à crise, e considerações estratégicas de prazo mais longo
ficaram de lado por algum tempo. Com a recuperação ainda morna e o desemprego ainda
elevado, o Banco Central está comprometido com uma política de taxa de juros dos fundos
federais essencialmente zero até 2014. Em algum ponto, será apropriado enrijecer a política
monetária. O balanço patrimonial inchado terá que encolher. O Federal Reserve fará isso
vendendo ativos ou, em alguns casos, apenas deixando-os vencer. Formular esse processo com
um mínimo de perturbação dos ainda frágeis mercados financeiros é o próximo desafio para o
Federal Reserve: “a mecânica de uma saída elegante”.
Questões de revisão
1. O que é o Federal Open Market Committee (FOMC)? Qual é o papel desse comitê na
formulação da política monetária?
2. Suponha que a política fiscal de um país seja caracterizada por gastos governamentais
excessivos. Suponha também que o Banco Central desse país tenha metas de taxa de juros.
Que efeito terá a política fiscal excessivamente expansionista sobre a oferta de moeda? Sobre
o produto e a inflação?
3. Usando o modelo IS-LM, analise se um aumento na instabilidade da função demanda por
moeda aumentaria ou reduziria a desejabilidade de metas intermediárias para um agregado
monetário.
4. Descreva a mudança que aconteceu na política econômica do Federal Reserve em 1979.
Explique as razões dessa mudança.
5. Suponha que o Banco Central esteja usando uma taxa de juros como meta, enquanto a renda
real é a meta final da política econômica, e que ocorra uma queda autônoma nos
investimentos das empresas imprevista pelo Banco Central. Use o modelo IS-LM para
mostrar os efeitos do choque. A renda teria sido mais ou menos afetada se o Banco Central
estivesse usando uma meta da oferta de moeda?
6. Explique o problema da inconsistência temporal no que se refere à política monetária.
7. Que relação você vê entre os problemas que muitos países enfrentaram com metas da oferta
de moeda e a mudança para as metas de inflação?
8. Suponha que a curva IS seja vertical porque a elasticidade-juros da demanda por
investimentos é zero; o investimento é totalmente insensível à taxa de juros. Ainda é verdade
que, para o caso de choque IS, uma meta da oferta de moeda é preferível a uma meta de taxa
de juros? Justifique sua resposta usando os gráficos IS-LM.
9. Atualmente, nenhum dos bancos centrais mais importantes tem metas rígidas para a oferta de
moeda. Por que você acha que isso acontece? Ainda assim, nenhum dos grandes bancos
centrais ignora completamente os números de crescimento da moeda. Por quê?
CAPÍTULO 18
Política fiscal
Em 2007, o ano em que teve início a recente recessão profunda, as receitas tributárias
federais nos Estados Unidos foram de 18,9% do PIB. Os gastos do governo federal eram de
20,6% do PIB e o déficit federal era de menos de 2% do PIB. Em 2010, as receitas tributárias
tinham caído para 16,7% e os gastos tinham subido para 25,5% do PIB. O déficit havia mais que
quadruplicado. Os déficits e os altos gastos governamentais tornaram-se grandes preocupações e
os principais temas de campanha política em 2012.
A questão do déficit vinha dominando os debates sobre política fiscal bem antes da crise
econômica recente. Nas décadas de 1980 e 1990, os déficits então considerados grandes eram
percebidos como um problema, mas seriam eles “o diabo à porta” ou, como outros sugeriram,
mais como “cupins no porão”? Antes que a pergunta fosse respondida, acordos orçamentários
entre a administração Clinton e o Congresso dominado por republicanos, encorajados pelo
rápido crescimento econômico, substituíram, no final da década de 1990, os déficits
orçamentários por superávits, e superávits ainda maiores eram projetados para o futuro de médio
prazo. Em 2001, porém, o orçamento caiu novamente em déficit. Em 2004, o déficit subira a
níveis não vistos desde a década de 1980. Ao longo de um período de 10 anos, as projeções
haviam mudado de um superávit cumulativo de mais de US$ 3 trilhões para um déficit de mais
de US$ 2 trilhões, uma oscilação de US$ 5 trilhões.
Essas preocupações com o déficit levaram economistas e formuladores de políticas a
subestimar as possibilidades de políticas fiscais estabilizadoras. A política monetária tornou-se o
instrumento de estabilização preferido e pareceu adequada para a tarefa durante o período de
relativa estabilidade de meados da década de 1980 até 2006, que foi chamado de a “grande
moderação”. A crise financeira fez renascer o interesse por políticas de estabilização fiscais
keynesianas quando os Estados Unidos e outras grandes economias mundiais tentaram adotar
programas de estímulo para afastar a depressão. Além disso, como discutimos no capítulo
anterior, a política monetária enfrentava o problema do “limite zero” e foi forçada a
experimentar novos instrumentos não convencionais e não testados. Como esses programas de
estímulo resultaram em previsíveis grandes déficits, surgiu um debate quanto à sua utilidade.
Controvérsias sobre o papel e condução adequados da política fiscal são o foco deste capítulo.
Precisamos, no entanto, oferecer alguma base antes de examinar os principais pontos em
questão.
Começaremos examinando as metas de política fiscal e a possibilidade de que as metas dos
formuladores de políticas, que, no caso da política fiscal, são o Congresso e o governo federal,
sejam diferentes das metas do público. Alguns economistas usam essa divergência como
argumento em favor da restrição do comportamento dos formuladores de políticas fiscais – de
política fiscal por regras, não discricionária. Em seguida, veremos o comportamento do
orçamento federal americano no período posterior à Segunda Guerra Mundial e a relação entre o
orçamento federal e o estado da economia. Aqui, examinamos o papel que o orçamento federal
desempenha como um estabilizador automático para a atividade econômica. Tendo analisado
essas informações, examinaremos as objeções de economistas keynesianos a regras de
orçamento equilibrado para a política fiscal. Depois, abordaremos as controvérsias de política
fiscal desde a administração Reagan até o governo Obama.
Nessa equação, L mede a perda social que decorre de desvios das variáveis de metas
macroeconômicas em relação às metas estabelecidas – por exemplo, os custos de um
desemprego excessivamente alto. As variáveis que representam metas são o nível de
desemprego (U), a taxa de inflação (P) e a taxa de crescimento da renda real (Y). Os níveis
desejados para essas variáveis são U*, P* e Y*, respectivamente. Na forma dada pela equação
(18.1), a perda de bem-estar social depende do quadrado dos desvios das variáveis das metas em
relação aos níveis desejados. A perda social derivada de um dado aumento no desvio de uma
variável de meta em relação ao nível desejado aumenta quanto mais nos afastamos desse nível;
desvios grandes em relação aos níveis desejados recebem pesos especialmente grandes. Os
coeficientes a1, a2, e a3 na equação (18.1) representam os pesos relativos atribuídos às diferentes
metas.
A equação (18.1) é apenas uma representação da função perda social que é relevante para
políticas macroeconômicas. O principal pressuposto para formular esse tipo de política ótima é
simplesmente que o formulador de políticas minimiza alguma função perda de bem-estar social.
O problema, então, é encontrar o ajuste dos instrumentos que resulta na perda mínima. Pode-se
investigar também se alguma regra, com uma regra de orçamento equilibrado, consegue
desempenho melhor do que prescrições de políticas mais ativas.
Escolha pública
Aplicação à formulação de políticas macroeconômicas da
teoria microeconômica de como decisões são tomadas.
Teoria do partidarismo
Vê o produto da política macroeconômica como resultado
de decisões ideologicamente motivadas tomadas por
líderes de diferentes partidos políticos. Os partidos
representam parcelas do eleitorado com diferentes
preferências quanto a variáveis macroeconômicas.
Dentro do arcabouço da escolha pública, uma representação da função perda apropriada que o
formulador de políticas tenta minimizar é
onde PV é a perda de votos e b1 é o peso dado aos votos perdidos. As variáveis de metas
macroeconômicas entram no quadro porque o comportamento da economia afeta os votos.
Por exemplo, a perda de votos poderia ser representada como
Teoria do entrelaçamento
Vê os setores empresarial e governamental como
corpos interconectados que desenvolvem inúmeras
relações para atender a seus interesses conjuntos.
Depois da guerra, tanto os gastos como as receitas tributárias diminuíram como proporções
do PIB. No entanto, os gastos do governo federal caíram de volta para o nível da década de
1920. Em meados da década de 1950, tanto os gastos como as receitas estavam em torno de 17%
a 18% do PIB. O governo federal havia assumido novas funções internas na década de 1930:
órgãos reguladores, o sistema de previdência social, apoio aos preços de produtos agrícolas e
eletrificação rural, entre outras. Além disso, com o início da Guerra Fria no final dos anos 1940,
os gastos com defesa continuaram altos mesmo em tempos de paz.
FIG 18.2 Gastos e receitas do governo federal como porcentagem do PIB, 1940-2010 (Estados
Unidos)
A Figura 18.2 mostra que, em décadas recentes, os gastos cresceram como porcentagem do
PIB, de 17% em 1955 para 21% em 2007, mesmo antes que fossem sentidos os efeitos da
recessão recente. As receitas tributárias cresceram também mas, a partir do final da década de
1960, o crescimento dos gastos superou o crescimento das receitas, resultando em déficits
persistentes. O déficit orçamentário cresceu rapidamente durante a primeira metade da década de
1980 com os gastos ainda em tendência de alta, enquanto as receitas declinaram ligeiramente
como porcentagem do PIB. Em 1986, o déficit orçamentário era de cerca de 5% do PIB. O
déficit declinou em termos absolutos de 1987 a 1989, depois subiu acentuadamente com a
recessão de 1990-1991. Começou a cair novamente em 1993 quando o plano de redução do
déficit do governo Clinton foi aprovado. Novos cortes de gastos praticamente eliminaram o
déficit no início de 1998 e o orçamento passou a ter superávit. O forte crescimento econômico,
associado a ações legislativas, levaram a essa reversão no orçamento.
Depois de 2001, o orçamento voltou a apresentar déficit. Como havia acontecido no final da
década de 1990, tanto ações legislativas, principalmente os cortes de impostos na administração
Bush, como o estado da economia, neste caso, a recessão de 2001, foram responsáveis pela
mudança na tendência do orçamento. Em 2007, porém, o déficit foi totalmente resultado de
cortes nos impostos e mudança em políticas que aumentaram os gastos federais, com a economia
tendo retornado ao nível de produto potencial. Então, como foi comentado na introdução a este
capítulo, os gastos subiram rapidamente e as receitas tributárias caíram quando a economia
entrou em recessão. O déficit elevou-se a níveis não observados no período após a Segunda
Guerra Mundial.
FIG 18.3 Receitas e gastos dos governos estaduais e municipais nos Estados Unidos,
1960-2010
a É o orçamento operacional corrente que precisa estar equilibrado. Estados e municípios emitem títulos para financiar
projetos de investimento como construção de escolas e hospitais. Além disso, há exceções ao equilíbrio do orçamento; a
Califórnia aprovou uma emissão de títulos de US$ 15 bilhões para financiar um déficit orçamentário em 2004.
Estabilizadores automáticos
São mudanças nos impostos e nos pagamentos de
transferências que ocorrem quando o nível de renda
muda.
Para examinar como o nível de atividade econômica afeta o orçamento do governo, vamos
modificar nossa suposição de que o nível de receita tributária líquida (receita tributária bruta
menos pagamentos de transferência do governo) é exógeno. Um pressuposto mais adequado à
realidade é que a tabela de alíquotas tributárias é definida exogenamente, mas o nível de
arrecadação tributária líquida depende do nível de renda. Com esse pressuposto, podemos
especificar a arrecadação tributária líquida (T) como sendo determinada pela seguinte função
imposto líquido:
onde YD é a renda disponível, definida como a renda nacional menos a arrecadação tributária
líquida (Y – T). Investimentos, gastos do governo e o nível de arrecadação tributária são
considerados exógenos nessa versão simples do sistema keynesiano. Seguindo uma linha similar
ao procedimento usado no Capítulo 5, podemos usar a equação (18.6) para substituir C na
condição de equilíbrio para a renda dada pela equação (18.5) e, usando a definição de YD,
calculamos uma expressão para a renda de equilíbrio (Y):
A tarefa aqui é ver como essas expressões são modificadas quando a função imposto líquido
dada pela equação (18.4) é usada em substituição ao pressuposto de que a arrecadação tributária
é exógena.
Para começar, consideremos a forma da função consumo dada pela equação (18.6) com nossa
nova suposição sobre os impostos. Usando a definição de renda disponível (YD= Y – T) e com T
definido pela equação (18.4), podemos escrever a função consumo como
Usando a equação (18.9) para substituir C na condição para a renda de equilíbrio dada na
equação (18.5), podemos derivar a expressão revisada para o nível de equilíbrio da renda, como
se segue
Como no caso da expressão anterior (18.7), a equação (18.10) especifica a renda de equilíbrio
como sendo determinada por um multiplicador de gastos autônomos, neste caso 1/[1-b(1 – t1)], e
pelas influências autônomas sobre a renda dadas por a – bt0 + I + G. Como antes, podemos
calcular os efeitos sobre a renda de equilíbrio de uma mudança nos investimentos ou nos gastos
do governo.
Repare que o multiplicador de gastos autônomos e, assim, o efeito sobre a renda de uma
mudança nos gastos autônomos (mudanças em I ou G, por exemplo) é menor quando a
arrecadação tributária depende da renda do que quando o nível de arrecadação tributária é
exógeno; ou seja,
Por exemplo, se b, a propensão marginal a consumir, fosse igual a 0,8, e t1, a alíquota
marginal do imposto, fosse 0,25, teríamos
Neste exemplo, a alíquota marginal do imposto de 0,25 reduz o valor do multiplicador pela
metade.
Uma alíquota marginal líquida do imposto de renda reduz o efeito sobre a renda de equilíbrio
de choques nos gastos autônomos, como uma mudança autônoma na demanda por
investimentos. Nesse sentido, o imposto sobre a renda funciona como um estabilizador
automático. Esse efeito estabilizador de um imposto sobre a renda pode ser explicado com
referência à nossa discussão anterior do processo multiplicador (veja a Seção 5.5). Um choque
inicial na demanda por investimentos, por exemplo, muda a renda e tem um efeito induzido
sobre os gastos com consumo. Esse efeito induzido sobre a demanda por consumo faz a renda de
equilíbrio sofrer uma alteração de um múltiplo da mudança original na demanda por
investimentos. Com uma alíquota marginal do imposto de renda de t1, cada redução de uma
unidade monetária no PIB reduz a renda disponível de um indivíduo, o determinante do
consumo, em apenas (1 – t1) unidades monetárias, uma vez que o imposto a pagar do indivíduo
tem uma queda de t1 unidades monetárias. Como a renda disponível é menos afetada por uma
mudança unitária no PIB, os efeitos induzidos sobre a demanda por consumo são menores a
cada rodada do processo multiplicador. O efeito total sobre a renda de uma mudança no
investimento autônomo, que consiste no choque original no investimento mais os efeitos
induzidos sobre o consumo, é, portanto, menor quando há uma alíquota marginal do imposto de
renda do que quando as arrecadações tributárias são consideradas exógenas.
A resposta automática dos impostos e transferências ao nível de atividade econômica foi uma
força estabilizadora importante na economia americana no período após a Segunda Guerra
Mundial, em geral movendo acentuadamente o orçamento para situações de déficit durante
recessões, com redução do déficit ou, às vezes (na década de 1950 e final da década de 1990)
superávits durante períodos de expansão. O tamanho ampliado do orçamento federal no período
de pós-guerra em relação ao período anterior à guerra aumentou a eficácia dos estabilizadores
fiscais automáticos; em termos de nossa função imposto, a alíquota marginal líquida do imposto
é maior agora do que foi em um período como a década de 1920 e, assim, o multiplicador é
menor.
O uso da função imposto líquido dada pela equação (18.4) em substituição ao pressuposto de
que o nível de arrecadação tributária é exógeno também exige uma modificação da análise dos
efeitos de mudanças tributárias discricionárias no modelo. Na expressão revisada da renda de
equilíbrio dada pela equação (18.10), a política tributária é representada por duas variáveis: t0, o
intercepto da função imposto, e t1, a alíquota marginal do imposto de renda.
O análogo a uma mudança lump-sum na arrecadação tributária na equação de renda revisada
é uma mudança em t0. Essa mudança poderia representar uma restituição lump-sum de imposto
para cada contribuinte, por exemplo, ou uma mudança lump-sum nos pagamentos de
transferência. Segundo a equação (18.10), os efeitos de uma mudança em t0 podem ser
calculados como
Com um imposto de renda, o consumo é dado pela equação (18.9). Antes do aumento da
alíquota marginal do imposto, a reta de consumo é C = (a – bt0) + b(1 – t1)Y no gráfico. O
aumento da alíquota do imposto de renda desloca a função para baixo até a reta C = (a – bt0) +
b(1 – t1’)Y. A nova reta de consumo é menos inclinada, indicando que um dado aumento em Y
faz o consumo subir menos com a alíquota do imposto mais alta. Isso acontece porque, com uma
alíquota mais alta, um dado aumento em Y, a renda nacional, causa um aumento menor na renda
disponível e, portanto, no consumo. A Figura 18.4b mostra o efeito sobre a renda de equilíbrio
de um aumento na alíquota do imposto. A função consumo desloca-se para baixo, como na
Figura 18.4a, portanto a reta C + I + G também se desloca para baixo, de (C + I + G) para (C + I
+ G)’. A renda de equilíbrio cai de Y para Y’. A alíquota do imposto mais alta reduz a demanda
agregada e faz a renda de equilíbrio cair.
Déficits estruturais
São a parte do déficit federal que existiria mesmo que
a economia estivesse em seu nível de produto
potencial.
A parte do déficit que existiria mesmo que a economia estivesse em seu nível de produto
potencial é chamada de déficit estrutural. Um déficit estrutural não é diretamente atribuível ao
comportamento da economia e é a parte do déficit pela qual os formuladores de políticas são
diretamente responsáveis. Em outras palavras, o déficit estrutural é resultado de decisões
tomadas por formuladores de políticas sobre alíquotas tributárias, nível de gastos do governo e
níveis de benefícios para programas de transferência.
Para dividir o déficit em componentes cíclico e estrutural, precisamos de uma medida do
produto potencial – o nível de produto obtido quando capital e trabalho são usados em suas mais
altas taxas sustentáveis. Podemos, então, calcular as mudanças nas receitas tributárias e
pagamentos de transferências que teriam ocorrido se a economia tivesse passado do produto
efetivo para o produto potencial. Usando esses dados, podemos encontrar o déficit estrutural.
Para dar um exemplo, suponhamos que o déficit efetivo seja de $300 bilhões, mas que a
economia esteja abaixo de seu produto potencial. Se o nível de atividade econômica aumentasse
até o nível potencial, as receitas tributárias teriam um aumento, vamos supor, de $100 bilhões.
Os pagamentos de transferências cairiam, digamos que em $30 bilhões, porque os pagamentos
de seguro-desemprego diminuiriam com o aumento do emprego. O déficit estrutural – o déficit
com o produto potencial – é, então, de $170 bilhões (300 – 100 – 30).
Como um exemplo real da distinção entre déficits cíclicos e estruturais, a Tabela 18.1 mostra
a divisão do déficit orçamentário federal efetivo dos Estados Unidos em seus componentes
cíclico e estrutural para os anos fiscais de 2008-2011. O ano fiscal vai de 1o de outubro a 30 de
setembro. Portanto, o ano inicial, 2008, terminou em setembro desse ano, logo antes da queda
acentuada do PIB. Pela tabela, pode-se ver que o componente cíclico do déficit, o efeito de
estabilizadores automáticos, ficou entre US$ 300 e US$ 400 bilhões em cada um dos 3 anos
seguintes. O componente cíclico foi responsável por aproximadamente um quarto dos déficits
acumulados desses três anos. O restante deveu-se a medidas discricionárias para combater a
recessão e a outros fatores.
Tabela 18.1 - Déficits efetivos, cíclicos e estruturais, Estados Unidos (bilhões de dólares), 2008-
2011
Fonte: Congressional Budget Office (CBO).
Para dar um exemplo, em 1963, quando Kermit Gordon deu a resposta anteriormente citada
ao senador Byrd, em vez de um déficit medido ao nível de produto potencial (conforme
estimativa da época), o orçamento apresentava um superávit de 13 bilhões de dólares; havia um
superávit estrutural.12 Gordon e outros keynesianos opuseram-se ao equilíbrio do orçamento em
1963 porque o déficit refletia o funcionamento de estabilizadores fiscais automáticos em um
momento em que a economia, aparentemente, estava operando substancialmente abaixo do
produto potencial.
Mas qualquer dívida não é um fardo pelo fato de que a geração futura tem que pagar os juros?
A resposta para essa pergunta depende de a dívida ser devida a estrangeiros ou a investidores
domésticos. Se ela for devida a investidores domésticos, então, pela perspectiva da nação,
devemos a nós mesmos. A geração futura paga impostos para fazer pagamentos de juros para
outros membros dessa geração. Ainda assim, impostos envolvem distorções e estas são um
custo. Se a dívida for vendida a investidores estrangeiros, como foi cada vez mais o caso nos
Estados Unidos nas duas últimas décadas, há um fardo mais direto. Nesse caso, algum
investimento passado, em vez de ser deslocado por déficits governamentais, foi financiado por
recursos do exterior e não por poupança doméstica. A dívida resultante deve ser paga pela
geração futura.
É provável que ocorra uma crise da dívida soberana nos Estados Unidos? Uma crise da
dívida soberana acontece quando os investidores questionam a capacidade ou disposição de um
país a servir e pagar sua dívida. A única chance de que isso venha ocorrer com os Estados
Unidos, a maior economia do mundo e um dos países mais ricos, seria como resultado de
escolhas de política econômica incrivelmente estúpidas. Um fato para ter em mente é que a
dívida americana é em dólares americanos. O país pode criar uma quantidade ilimitada de sua
própria moeda. Nesse sentido, os Estados Unidos diferem fundamentalmente da Itália, com
dívida em euros, uma moeda comum da zona do euro, ou da Argentina, que tinha uma grande
dívida em dólares americanos. Escolhas de política econômica ruins poderiam criar temores de
inflação nos Estados Unidos e elevar a taxa de juros que o país precisa pagar para financiar a
dívida.
O déficit ótimo é igual a zero? Há tantos fatores que estariam envolvidos no cálculo do déficit
efetivo ou estrutural ótimo que encontrar uma aproximação sequer razoável é uma tarefa quase
impossível. O nível ótimo certamente não é zero em todos os pontos do tempo. Mesmo aqueles
que defendem uma emenda constitucional de orçamento equilibrado incluiriam algumas
cláusulas de escape para recessões e guerras. Se em algum ponto o déficit é “grande demais” e
como o nível do déficit deve ser determinado são, assim, sem surpresa, questões controversas.
Conclusão
O déficit dominou o debate sobre política fiscal nas três últimas décadas. Qualquer papel
estabilizador potencial para a política fiscal foi complicado pela preocupação com déficits e por
considerações alternativas de políticas orçamentárias. A crise econômica de 2007-2009 mudou o
ambiente e os formuladores de políticas voltaram à política fiscal como um instrumento de
estabilização. Esse renascimento keynesiano teve vida curta, uma vez que as preocupações com
déficits e gastos governamentais “excessivos” retornaram.
As preocupações com o déficit e a dívida provavelmente continuarão centrais no futuro. A
aposentadoria gradual da geração “baby boom” nos Estados Unidos e a expectativa de vida
maior da população pressionarão com mais força os sistemas de Seguridade Social e de saúde.
Mais assustadores são os efeitos projetados da elevação dos preços da saúde sobre os sistemas
Medicare e Medicaid. Dadas essas pressões orçamentárias, as políticas de estabilização fiscais
provavelmente serão postas dentro de uma caixa trancada a cadeado e com a instrução: “Abrir
apenas em caso de crise”.
Questões de revisão
1. Alguns economistas que aceitam a visão da escolha pública para o processo de formulação
de políticas fiscais concluíram que uma emenda constitucional que exigisse um orçamento
federal equilibrado seria desejável. Resuma os argumentos deles a favor dessa emenda.
2. Explique o elemento central da teoria do partidarismo na formulação de políticas fiscais.
Compare as implicações da teoria do partidarismo para a relação entre política fiscal e o ciclo
de negócios com as da visão da escolha pública.
3. Explique o conceito de estabilizador fiscal automático. Dê exemplos.
4. Suponha que, no modelo keynesiano simples usado na Seção 18.4, o nível de gastos do
governo (G) fosse 100, o nível de gastos com investimentos (I) fosse 75 e o consumo (C)
fosse dado por
C = 25 + 0,8YD
Os impostos líquidos (T) são inicialmente dados pela função imposto
T = -50 + 0,30Y
Calcule a renda de equilíbrio (Y). Agora, suponha que a alíquota tributária seja reduzida de
0,30 para 0,25. Encontre o novo nível da renda de equilíbrio. Calcule os valores do
multiplicador de gastos autônomos antes e depois da redução do imposto.
5. Explique as objeções que os economistas keynesianos fazem a regras fixas para políticas
fiscais, como uma emenda constitucional que exija um orçamento federal equilibrado.
6. Retome a primeira renda de equilíbrio que você calculou no problema 4. Agora suponha que
o intercepto da função imposto líquido (t0) mude de –50 para –40. Encontre o novo nível de
equilíbrio da renda.
7. Retorne ao modelo keynesiano simples da Seção 18.4. Suponha que: G é 700; I é 310; e C é
dado por
C = 250 + 0,8YD
Os impostos líquidos (T) são dados pela função imposto
T = -50 + 0,25Y
Calcule a renda de equilíbrio. Agora, suponha que I caia 80 unidades, para 230. Calcule o
novo nível da renda de equilíbrio e o valor do déficit (G -T) nesse nível de renda. Suponha
que o governo aumente os impostos de modo geral (aumente t0) pelo mesmo montante do
déficit para equilibrar o orçamento. Qual será o novo nível da renda de equilíbrio? O
orçamento será equilibrado? Explique.
8. Suponha que a propensão marginal a consumir usando a renda disponível seja 0,8 e que a
alíquota marginal do imposto de renda seja 0,1. Qual é o valor do multiplicador dos gastos
autônomos? Agora, suponha que a alíquota marginal do imposto de renda suba para 0,2.
Qual é o novo valor do multiplicador? Explique a diferença.
PARTE VI
Crescimento econômico
Os capítulos desta parte expandem o intervalo de tempo de nossa análise para períodos mais
longos do que ciclos de negócios. No Capítulo 19, consideramos períodos longos demais para
nossas premissas de curto prazo, mas não consideraremos que a economia esteja em um
caminho de crescimento de equilíbrio de longo prazo. Pelo tempo de calendário, esses poderiam
ser períodos de uma ou duas décadas. Fazer modelos para esse intervalo de tempo é complicado.
Embora as premissas feitas para o curto prazo não sejam mais válidas, os fatores de ciclos de
negócios que dominam o comportamento de curto prazo da economia ainda exercem influência
em um período de uma década ou mais. Complicados ou não, esses períodos de duração
intermediária são o intervalo relevante para muitas das principais disputas de política econômica
de anos recentes, em especial com referência a efeitos de políticas fiscais. Um exemplo
proeminente é a controvérsia sobre a economia do lado da oferta.
O Capítulo 20 examina modelos de crescimento econômico de longo prazo. Nele analisaremos
os fatores que determinam o que Adam Smith chamou de “a riqueza das nações”. Uma questão-
chave é por que a riqueza é tão desigualmente distribuída entre as nações.
CAPÍTULO 19
Políticas para o crescimento de médio prazo
Este capítulo examina os fatores que determinam o crescimento do produto em períodos mais
longos que o curto prazo, mas não necessariamente períodos de equilíbrio de longo prazo: o
incômodo, mas importante, médio prazo. O presidente Bill Clinton gostava de falar sobre “fazer
crescer a economia”. O foco específico deste capítulo é em políticas que estimulam o
crescimento sustentado ao longo de períodos de uma ou duas décadas ou que entravam o
crescimento durante esse mesmo período.
O período de curto prazo de nossa análise anterior era caracterizado pelos pressupostos de
estoque de capital constante, força de trabalho fixa e tecnologia inalterada. As mudanças no
produto aconteciam quando o nível de emprego variava. Ao considerar mudanças no produto no
médio prazo, talvez 10 a 15 anos em vez de 2 a 4 anos, não podemos fazer essas suposições.
Variações nas taxas de formação de capital, crescimento da força de trabalho que resulta do
crescimento da população em idade produtiva e de mudanças nas taxas de participação na força
de trabalho, e variações no ritmo de mudanças tecnológicas são fatores que determinam as taxas
de crescimento do produto no médio prazo. E quanto à importância da demanda? Os
economistas que aceitam os modelos clássico, dos ciclos reais de negócios ou novo-clássico
veem pouco papel direto para a demanda agregada como um fator significativo para determinar
a trajetória de crescimento do produto em períodos de duração intermediária. Nas teorias
clássica ou dos ciclos reais de negócios, a demanda agregada não participa da determinação do
produto nem mesmo no curto prazo. No modelo novo-clássico, apenas mudanças não
antecipadas da demanda afetam o produto. Portanto, apenas desvios do crescimento da demanda
em relação à média, e não a taxa de crescimento média da demanda ao longo de um período de
10 a 15 anos, afetaria o produto.
A situação é diferente para as concepções monetarista e keynesiana (ou novo-keynesiana).
Como explicamos, a taxa de crescimento de equilíbrio no longo prazo é determinada pela oferta,
mas tanto monetaristas como keynesianos acreditam que mudanças na demanda afetam o
produto em períodos de vários anos. Se olharmos para qualquer período de 10 a 15 anos, a taxa
média de crescimento pode ser afetada por recessões ou expansões induzidas pela demanda
dentro desse período. Fatores de demanda poderiam, por exemplo, explicar por que a taxa de
crescimento do produto foi aproximadamente zero na década de 1929-1939 da Grande
Depressão nos Estados Unidos ou por que ela pode ser baixa na década que começou com a
recessão e a crise financeira em 2007.
Assim, como no caso da análise de curto prazo, os economistas discordam sobre a
importância relativa da oferta e da demanda na determinação do produto em períodos de médio
prazo. Vamos examinar a posição de um grupo chamado de economistas do lado da oferta.
Como o nome indica, os economistas do lado da oferta enfatizam fatores de oferta como os
determinantes do comportamento do produto. As origens de suas ideias estão na economia
clássica; consequentemente, suas teorias compartilham elementos com as teorias dos ciclos reais
de negócios e com a economia novo-clássica. Há, contudo, questões adicionais que surgem ao se
considerar o crescimento do produto no médio prazo e diferentes tipos de questões de política
econômica.
Em vez de examinar todo o conjunto de visões sobre políticas econômicas no médio prazo,
vamos nos restringir a contrastar a visão do lado da oferta com a visão keynesiana. De fato, os
economistas keynesianos têm sido os críticos mais duros da economia do lado da oferta. A
posição keynesiana afirma, como disse James Tobin, que Deus nos deu dois olhos para que
pudéssemos observar tanto a oferta como a demanda (ainda que com o perigo de se tornar um
pouco estrábico). Além da questão da importância relativa da oferta e da demanda, os
economistas do lado da oferta e keynesianos discordam quanto a quais políticas têm efeitos
favoráveis (ou desfavoráveis) sobre a oferta agregada.
Vamos examinar a posição do lado da oferta conforme ela evoluiu nas últimas três décadas e,
então, considerar a crítica keynesiana. Em seguida, descreveremos o redirecionamento da
política macroeconômica que ocorreu nos Estados Unidos durante a administração Reagan e o
primeiro governo Bush – um redirecionamento inspirado pela economia do lado da oferta.
Então, a partir de 1992, os eleitores começaram a alternar entre uma preferência por políticas
motivadas pela economia do lado da oferta e outras com um papel maior para a ação do
governo, incluindo a administração da demanda agregada keynesiana. Na década de 1990, os
eleitores americanos pareceram querer que a política econômica mudasse de direção, em relação
às políticas de Reagan-Bush, elegendo Bill Clinton duas vezes para a presidência. Em 1994,
porém, o “Contrato com a América” dos republicanos no Congresso, que se apoiava fortemente
nos preceitos da economia do lado da oferta, mostrou-se popular. Além disso, em 2000, George
W. Bush foi eleito e seguiu um programa econômico de grandes reduções de impostos alinhado
com as prescrições dos economistas do lado da oferta. Em 2006, os democratas obtiveram
maioria em ambas as Casas do Congresso e, em 2008, Barack Obama venceu as eleições
presidenciais. Depois, em 2010, os republicanos recuperaram a maioria nas duas Casas,
repetindo a situação de 1994. A única constante no processo parece ser uma insatisfação com os
titulares e um desejo de mudança.
Antes de nos voltarmos para esses tópicos, porém, será útil rever o desempenho do
crescimento da economia americana nas décadas passadas. Aqui encontraremos pistas para o
humor dos eleitores.
Fontes: Historical Statistics, 1960-1989 (Paris: OCDE, 1991); Economic Report of the President, 1992, 1997, 2004; OECD
Economic Outlook, Dec. 1997, June 2003, June 2007.
Fontes: Historical Statistics (Paris: OCDE, 1988, 1992); OECD Economic Outlook, Dec. 1997, June 2003, June 2007.
A posição da curva de poupança depende da alíquota tributária sobre os rendimentos provenientes de juros e dividendos (twh0). A
posição da curva de investimento depende da alíquota tributária efetiva sobre os lucros das firmas (tlf0) e da taxa de lucros das
firmas antes dos impostos (lf). Essas alíquotas tributárias, twh0 e tlf0, afetarão, portanto, a taxa de juros real de equilíbrio (r).
Os economistas do lado da oferta não precisam aceitar a especificação particular das funções
poupança e investimento em nossa versão simples do sistema clássico. Por exemplo, ao tentar
prever o nível de investimento nos Estados Unidos em 2012, os economistas do lado da oferta
utilizariam uma função investimento muito mais complexa do que a mostrada na Figura 19.2.
Eles levariam em conta fatores como intervalos de tempo e custos de ajustamento. A
característica essencialmente clássica da visão dos economistas do lado da oferta é sua ênfase na
importância das taxas de retorno como influências das taxas de poupança, de investimento e,
assim, de formação de capital. Que outra coisa seria possível enfatizar? A resposta é a renda e,
assim, a demanda agregada. Os keynesianos acreditam que a renda é o determinante mais
importante do investimento. Segundo a visão keynesiana, a melhor maneira de manter o
investimento num nível alto é manter a economia com uma alta taxa de utilização de capacidade.
Os keynesianos não ignoram as taxas de retorno, nem os economistas do lado da oferta ignoram
a renda como um determinante da poupança e do investimento. A diferença ente as duas visões é
uma questão de ênfase.
Ao enfatizarmos a importância de incentivos para a poupança e o investimento, somos
levados a buscar a causa do declínio na taxa de formação de capital nos Estados Unidos no
período pós-1970 em fatores que tenham enfraquecido esses incentivos. A solução para a lenta
formação de capital pode estar no aumento de incentivos para poupadores e investidores. Martin
Feldstein e outros economistas afirmam que a interação entre a inflação e o sistema tributário
americano enfraqueceu esses incentivos durante a década de 1970.
Primeiro, Feldstein e outros argumentaram que, dadas as leis tributárias existentes, a alta
inflação da década de 1970 elevou a carga tributária efetiva sobre a renda das firmas.3 Eles
apresentaram várias razões para isso; uma razão importante refere-se às regras para deduções de
depreciação. As firmas podem deduzir a depreciação de investimentos de capital apenas em
relação aos custos originais. Em períodos inflacionários, o custo verdadeiro do capital
depreciado é o custo de reposição. Esse custo é subestimado pela depreciação em termos do
custo original ou histórico, de forma que os lucros são superestimados e o imposto a pagar
efetivo das firmas acabou aumentando na inflacionária década de 1970.
Os economistas do lado da oferta também afirmam que a combinação da inflação e do
sistema tributário dos Estados Unidos reduziu os incentivos para poupar na década de 1970. O
imposto de renda que um indivíduo paga é baseado nos juros, dividendos ou ganhos de capital
nominais que ele obtém com seu investimento em poupança. Dois exemplos ilustrarão como a
inflação elevada e a tributação dos pagamentos de juros ou ganhos de capital nominais reduz o
retorno real da poupança. Suponhamos que, inicialmente, a taxa de juros nominal seja de 6% e a
taxa de inflação seja 2% (uma taxa real pré-impostos de 4%). Com uma alíquota tributária
marginal de 50%, um investidor teria um retorno nominal após os impostos de 3% [6% × (1 -
twh) = 6% × (1 - 0,5)] e um retorno real após os impostos de 1% (3% - 2%). Agora, suponhamos
que a taxa de juros nominal fosse de 16%, com uma taxa de inflação de 12% (uma vez mais,
uma taxa real pré-impostos de 4%). O retorno nominal após os impostos será de 8% [16% × (1 -
0,5)], o que significa que o retorno real após os impostos é agora de -4% (8% - 12%).
Ou consideremos o caso da tributação de ganhos de capital nominais sobre ações de firmas,
por exemplo. Suponhamos que um indivíduo tenha comprado ações por um preço de $100 em
1967 e vendido em 1980 por $200. Se o nível de preços subisse mais de 150% nesse período
enquanto o preço das ações duplicasse (100% de aumento), o retorno real do indivíduo seria
negativo mesmo antes dos impostos. Ainda assim, ele precisaria pagar um imposto sobre os
ganhos referente ao ganho de capital nominal (de $100), o que aumenta o tamanho da perda real.
Os economistas do lado da oferta afirmam que a tributação de ganhos de capital e de
rendimentos em juros nominais durante períodos inflacionários resulta em uma alíquota
tributária efetiva aumentada sobre os retornos reais e isso reduzirá a taxa de poupança.
Os economistas do lado da oferta afirmam que a oferta de trabalho é sensível a mudanças nos
salários reais após os impostos. Também aqui a visão do lado da oferta apoia-se na economia
clássica – neste caso, na análise clássica dos efeitos no lado da oferta de mudanças na alíquota
marginal do imposto de renda (veja a Seção 4.3). A Figura 19.4 ilustra a determinação do
emprego de equilíbrio no sistema clássico e o efeito de uma mudança no salário real após os
impostos como resultado de uma mudança na alíquota marginal do imposto de renda, ty.
Inicialmente, vamos supor que a alíquota do imposto de renda seja definida em ty0. A curva de
oferta de trabalho é dada por Ns(ty0) e intercepta a curva de demanda por trabalho em N0, o nível
de equilíbrio do emprego.
Agora, vamos supor que a alíquota do imposto de renda passe para um nível mais alto, ty1. De
acordo com a visão do lado da oferta, a oferta de trabalho depende do salário real após os
impostos, que será igual a (1 - ty)W/P. Por exemplo, com uma alíquota marginal do imposto de
0,20, o salário real após os impostos será 0,80 vezes o salário real antes dos impostos. A alíquota
marginal do imposto de renda cria, assim, uma defasagem entre o salário pago pelo empregador,
W/P, e o salário recebido pelo trabalhador, (1 - ty)W/P. Um aumento na alíquota tributária de ty0
para um nível ty1 faz a curva de oferta de trabalho deslocar-se para a esquerda, de Ns(ty0) para
Ns(ty1). Menos trabalho é ofertado a cada nível do salário real pré-impostos, porque, com uma
alíquota tributária mais alta, um dado salário real antes dos impostos representa um salário real
mais baixo após os impostos. O emprego cai de N0 para N1.
Os economistas do lado da oferta acreditam que a elevação da alíquota tributária marginal
nos Estados Unidos durante a década de 1970 aumentou o tamanho da “defasagem” criada pelo
imposto de renda entre o salário real pago pelo empregador e o salário após os impostos
recebido pelo empregado (veja Perspectivas 4.2). Eles afirmam que os incentivos ao trabalho
foram reduzidos, com efeitos negativos sobre o emprego e o produto. Nesse caso, uma vez mais,
políticas de demanda agregada inflacionárias e um sistema tributário mal planejado para lidar
com os efeitos da inflação merecem boa parte da culpa. O sistema de imposto de renda
americano na década de 1970 era progressivo. Em um sistema progressivo, quando a renda
nominal sobe devido à inflação, os indivíduos passam para faixas marginais de imposto mais
altas.
19.4.1.3 Reduções nos gastos governamentais com itens não ligados a defesa
De acordo com a visão do lado da oferta, reduções no imposto de pessoa física e jurídica
deveriam aumentar a oferta agregada e, portanto, produzir um crescimento não inflacionário do
produto real. Além disso, os economistas do lado da oferta esperavam que esse crescimento
aumentasse a base tributária e, assim, elevasse as receitas tributárias para compensar, em grande
parte (ou completamente), a perda de receita causada pela redução dos impostos. Porém, para
assegurar que a demanda não fosse excessivamente estimulada e para manter o déficit
orçamentário o mais baixo possível, o programa Reagan propôs cortes em gastos
governamentais não ligados a defesa, em áreas como moradia, educação e programas de
manutenção de renda. Esses cortes também eram necessários, em parte, para financiar um
aumento proposto nos gastos com programas de defesa.
Depois de algum sucesso inicial, os cortes nos gastos com itens não-defesa passaram a
enfrentar mais resistência. Dado o aumento nos gastos com defesa, o fato de não ter havido
muito sucesso geral no corte dos gastos não ligados a defesa fez com que os gastos do governo
como porcentagem do PNB subissem em vez de cair durante o primeiro mandato do presidente
Reagan. O fracasso no corte dos gastos, associado à redução dos impostos, levou a altos déficits
no orçamento federal tanto no primeiro como no segundo período da administração Reagan.
Conclusão
Mesmo mudanças modestas na taxa de crescimento econômico têm grandes efeitos
cumulativos ao longo das décadas. A política adequada para ajudar a “fazer crescer” a economia
é um tema importante e controverso para as análises econômicas. A opinião pública e, portanto,
as políticas públicas quanto à melhor abordagem para estimular o crescimento econômico
mudaram várias vezes. As propostas da economia do lado da oferta têm sido centrais para esse
debate. Em 2012, todos os principais candidatos à indicação para concorrer à presidência pelo
partido republicano defendiam uma agenda econômica de impostos baixos, menos
regulamentação e orçamento equilibrado, que são ideias consistentes com as proposições do lado
da oferta. O presidente Obama concorrerá com base em um programa que se apoiou mais em
políticas keynesianas.
Questões de revisão
1. Descreva as principais características de uma prescrição do lado da oferta para políticas
econômicas destinadas a estimular o crescimento econômico não inflacionário. Como essas
prescrições de políticas econômicas diferem das keynesianas?
2. Compare as posições keynesiana e do lado da oferta sobre os efeitos de uma redução da
alíquota do imposto de renda.
3. Compare as posições keynesiana e do lado da oferta sobre os determinantes da poupança, do
investimento e da formação de capital.
4. Na teoria do lado da oferta, qual é o papel adequado de políticas de administração da
demanda agregada?
5. Um crédito tributário sobre investimentos permite que as firmas deduzam uma parte dos
gastos com investimentos de seu imposto a pagar. Analise o efeito sobre o produto desse
crédito tributário no modelo keynesiano e, alternativamente, no modelo do lado da oferta.
6. Descreva as tendências recentes (pós-1998) das taxas de crescimento do PIB e da
produtividade do trabalho nos Estados Unidos. Quais são os possíveis fatores responsáveis
por essas tendências?
7. Use as curvas IS-LM e de demanda agregada-oferta agregadas para defender os cortes de
impostos da administração George W. Bush como um estímulo ao crescimento. Que críticas
os economistas keynesianos apresentariam para refutar essa defesa?
8. O presidente Ronald Reagan dizia com frequência que o governo não era a solução; o
governo era parte do problema. De que maneira isto é consistente com as ideias de políticas
econômicas do lado da oferta?
CAPÍTULO 20
Crescimento econômico de longo prazo: origens da riqueza das nações
A equação (20.1) difere das expressões da função produção agregada de curto prazo do Capítulo
3 em dois aspectos. Primeiro, há o termo adicional A(t). Esse termo representa a mudança
tecnológica, que, por enquanto, consideraremos que dependa apenas do tempo; ou seja,
conforme o tempo passa, o termo A(t) aumenta, o que significa que mais produto será gerado
para uma dada quantidade de insumos. Na equação (20.1), o termo A(t) participa de forma
multiplicativa. Com essa especificação, supõe-se que a mudança tecnológica não afeta as
produtividades marginais relativas dos dois fatores, conforme determinada pela parte F(K, N) da
função produção. Em outras palavras, a mudança tecnológica resulta em aumentos iguais na
produtividade de ambos os fatores. Tal mudança tecnológica é chamada de neutra (por não
favorecer nem o capital nem o trabalho). Robert Solow, em um estudo dos deslocamentos da
função produção agregada ao longo do tempo, encontrou evidências de que, nos Estados Unidos,
as mudanças tecnológicas haviam de fato sido neutras.1
Uma segunda diferença entre a equação (20.1) e as especificações anteriores da função
produção é a ausência da barra sobre a variável K, indicando que, aqui, não estamos supondo
que o estoque de capital seja constante. Estamos agora lidando com o longo prazo.
Com base na equação (20.1), seguimos o método de Solow no estudo mencionado e
escrevemos a seguinte especificação para o crescimento do produto ao longo do tempo:
onde o ponto sobre uma variável indica a taxa de mudança no tempo dessa variável (por
exemplo, N é a taxa em que a força de trabalho está aumentando). A equação (20.2) especifica a
taxa proporcional de aumento do produto ( /Y) como dependente da taxa proporcional de
mudança tecnológica ( /A) e das taxas proporcionais de mudança do estoque de capital e do
número de trabalhadores empregados ( /K) e ( /N). Os pesos (wk, wn) associados a essas duas
últimas variáveis são sua contribuição para o produto nacional, refletindo sua importância no
processo de produção. A equação (20.2) indica que o crescimento do produto depende da taxa
em que o progresso tecnológico ocorre ao longo do tempo e da taxa em que a oferta dos insumos
cresce com o tempo.
Se a função produção dada pela equação (20.1) exibir rendimentos constantes de escala, ela
pode ser escrita em uma forma alternativa que dará algumas ideias sobre o modo como cada
fator participa do processo de crescimento. Rendimentos constantes de escala significam que, se
todos os insumos aumentarem em uma determinada proporção, o produto aumentará na mesma
proporção. Uma duplicação da quantidade de capital e de trabalho usados na produção, por
exemplo, dobraria a quantidade de produto gerado. Com rendimentos constantes de escala,
decorre que, para uma dada tecnologia, fixando-se A(t), o produto por trabalhador (Y/N)
dependerá apenas da quantidade de capital empregada por trabalhador, a razão capital/trabalho.2
Sendo q igual ao produto por trabalhador (Y/N) e k igual ao capital por trabalhador (K/N),
podemos reescrever (20.1) como
ou
onde f(k) é a função que relaciona o produto por trabalhador à razão capital/trabalho para uma
dada tecnologia – o que é chamado de forma intensiva da função produção agregada.
FIG 20.2 Crescimento do produto por trabalhador
O produto por trabalhador aumenta de q0 para q’1 quando, como resultado do avanço tecnológico, a função produção desloca-se
para cima de A(T0)f(k) para A(T1)f(k). Há um aumento adicional no produto por trabalhador de q’1 para q1 como resultado de um
aumento na razão capital/trabalho de k0 para k1.
A relação dada pela equação (20.3) é mostrada na Figura 20.1. Pressupõe-se que o estado da
tecnologia seja dado por A(T0), que fixa a posição da função produção que relaciona o produto
por trabalhador ao capital por trabalhador. Conforme nos movemos para a direita ao longo da
função produção, o produto por trabalhador aumenta com o aumento do capital por trabalhador
(k). A forma da função produção na Figura 20.1 reflete o pressuposto de que há rendimentos
decrescentes em relação a aumentos do capital por trabalhador. O incremento no produto por
trabalhador diminui com aumentos sucessivos do capital por trabalhador.3 A uma suposta razão
capital/trabalho inicial de k0, o produto por trabalhador seria q0 na figura.
A Figura 20.2 ilustra o processo de crescimento do produto por trabalhador entre dois pontos
no tempo, T0 e T1. Mudanças tecnológicas fazem a função produção deslocar-se para cima de
A(T0)f(k) para A(T1)f(k). Por si só, essa mudança tecnológica aumentaria o produto por
trabalhador, à razão capital/trabalho inicial k0, de q0 para q’1 na Figura 20.2. Além disso, porém,
consideramos que a razão capital/trabalho aumenta com o tempo, em um processo chamado de
aprofundamento do capital (capital deepening). Isso é ilustrado no gráfico por um movimento
para uma razão capital/trabalho k1. Como resultado, o produto por trabalhador aumenta ainda
mais, para q1.
Aprofundamento do capital
Processo pelo qual o capital cresce a um ritmo mais
rápido que o crescimento do trabalho e a razão
capital/trabalho aumenta.
O esquema ilustrado na Figura 20.2 [o gráfico da equação (20.3)] sugere que o crescimento
do produto por trabalhador é resultado de dois fatores:
1. Mudança tecnológica, que aumenta o produto por trabalhador para uma dada razão
capital/trabalho.
2. Aprofundamento do capital, quando a razão capital/trabalho aumenta.
Se considerarmos a taxa de crescimento do produto total, em vez do produto por trabalhador,
o crescimento da força de trabalho será uma fonte adicional de crescimento.
Como resultado de um aumento da taxa de poupança, a razão capital/trabalho aumenta de k0 para k1. O produto por trabalhador
aumenta de q0 para q1. A razão capital/produto sobe de σ0 para σ1. Quando q1 é atingido, não há mais aumento no produto por
trabalhador. A taxa de crescimento de equilíbrio inicial do produto é restaurada.
onde a segunda igualdade resulta do fato de que a poupança é igual à taxa de poupança vezes o
nível de renda. Da equação (20.5), segue-se que um aumento na taxa de poupança (s) aumentará
inicialmente a taxa de formação de capital.
Como a taxa de formação de capital aumentou sem mudança na taxa de crescimento da força
de trabalho, a razão capital/trabalho aumentará. Um novo equilíbrio será atingido, como mostra
a Figura 20.3, em uma razão capital/trabalho k1 e um produto por trabalhador mais alto, q1.
Depois desse ajuste, porém, não haverá mais aumentos no produto por trabalhador e, como o
crescimento da força de trabalho permanece inalterado, a taxa de crescimento de equilíbrio
voltará a seu nível inicial.
FIG 20.4 Efeito sobre a taxa de crescimento de um aumento na taxa de poupança
No tempo t0, a taxa de poupança aumenta. Inicialmente, a taxa de crescimento do produto sobe. Esse é o período em que o
produto por trabalhador está aumentando de q0 para q1, como é mostrado na Figura 20.3. No tempo t1, quando o produto por
trabalhador atingiu q1 na Figura 20.3, a taxa de crescimento de equilíbrio inicial, g, foi restaurada.
Para entender a razão disso, repare no raio identificado como 1/σ1, que cruza a função
produção no novo nível de produto por trabalhador, q1 na Figura 20.3. Como já foi explicado,
cada ponto ao longo desse raio corresponde a uma razão capital/trabalho fixa. O raio 1/σ1 é
menos inclinado do que o raio inicial 1/σ0, indicando que a razão entre Y/N e K/N, a razão
produto/capital, é mais baixa depois do aumento da taxa de poupança. A razão capital/produto
(K/Y) é, portanto, mais alta. A uma razão capital/produto mais alta, é necessária uma taxa de
poupança (s = S/Y) maior para apenas manter uma taxa de crescimento constante do estoque de
capital. Quando a razão capital/produto tiver atingido σ1, a formação de capital terá voltado à
taxa de equilíbrio inicial igual à taxa de crescimento da força de trabalho. Não haverá mais
aumentos nem no produto por trabalhador nem na razão capital/trabalho.
O efeito sobre a taxa de crescimento econômico é mostrado na Figura 20.4. Suponhamos que
a taxa de crescimento de equilíbrio da renda seja g. Se o aumento na taxa de poupança ocorrer
no tempo T0, a taxa de crescimento ( /Y) subirá temporariamente enquanto a economia se move
do nível inicial de produto por trabalhador, q0 para o nível mais alto de produto por trabalhador,
q1. Nesse novo nível mais alto de produto por trabalhador, a taxa de crescimento retornará a g,
como é mostrado no tempo T1 na Figura 20.4. O aumento da taxa de poupança causa um período
temporário de crescimento mais rápido, mas não afeta a taxa de crescimento de equilíbrio.
Nada disso implica que a taxa de poupança não seja importante no modelo de crescimento
neoclássico. O período temporário durante o qual uma mudança na taxa de poupança afeta a taxa
de crescimento (de T0 a T1 na Figura 20.4) pode ser um período longo no tempo de calendário.
Além disso, repare que, mesmo depois do ajuste completo a uma mudança na taxa de poupança
(depois de atingirmos T1 na Figura 20.4 e k1 e q1 na Figura 20.3), a taxa de poupança mais alta
resultou em um aumento permanente tanto do capital como do produto por trabalhador. Uma
economia com uma taxa de poupança mais alta, portanto, terá um padrão de vida mais elevado
como resultado de um processo de produção com mais intensidade de capital.
FORMAÇÃO DE CAPITAL
Denison estimou que a formação de capital foi responsável por 19%, um pouco menos de um quinto, do crescimento
econômico dos Estados Unidos entre 1929 e 1982.
Taxa de crescimento anual do produto (%) Porcentagem de crescimento resultante de: 2,9
Crescimento do insumo trabalho 32
Crescimento da produtividade do trabalho
Educação por trabalhador 14
Formação de capital 19
Mudanças tecnológicas 28
Economias de escala 9
Outros fatores -2
Fonte: DENISON, Edward F. Trends in American economic growth, 1929-1982. Washington: The Brookings Institution,
1985. p. 30.
MUDANÇAS TECNOLÓGICAS
O fator seguinte na Tabela 20.1 são as mudanças tecnológicas, que incluem mudanças no conhecimento tecnológico (por
exemplo, modos de utilizar robôs no processo de produção) e novos conhecimentos sobre como organizar os negócios
(estratégias administrativas). Nas estimativas de Denison, as mudanças tecnológicas responderam por 28% do crescimento
americano e foram a influência mais importante sobre a produtividade do trabalho.
ECONOMIAS DE ESCALA
Denison encontrou que, em vez dos rendimentos constantes de escala que pressupusemos na seção anterior, os Estados
Unidos viveram economias de escala; mesmo considerando o estado da tecnologia, um aumento na quantidade de insumos
resultou em um aumento mais do que proporcional do produto. Denison estimou que 9% do crescimento dos Estados
Unidos resultaram dessa fonte.
OUTROS FATORES
Denison levou em consideração outros fatores que estimulam ou retardam o processo de crescimento (por exemplo,
mudanças na alocação de recursos entre os setores, efeitos do clima sobre a produção agrícola, greves trabalhistas).
Tomados em conjunto, esses fatores tiveram um efeito líquido negativo igual a 2% do crescimento econômico.
a DENISON, Edward F. Trends in American economic growth, 1929-1982. Washington: The Brookings Institution, 1985. p.
15.
Começar pelo pressuposto de que as mudanças tecnológicas são um processo a ser incluído
no modelo, em vez de considerá-las exógenas, parece sensato. Como dois dos formuladores da
nova teoria do crescimento convincentemente argumentam,
Inovações não caem do céu como maná. Elas são criadas por seres humanos, atuando sob a
variedade normal de motivações humanas, no processo de tentar resolver problemas de
produção, aprender com a experiência, encontrar maneiras novas e melhores de fazer as
coisas, lucrar com a abertura de novos mercados e, às vezes, apenas para satisfazer a
curiosidade. A inovação é, assim, um processo social… Portanto, o crescimento econômico
envolve uma interação bidirecional entre tecnologia e vida econômica: a tecnologia
transforma o próprio sistema econômico que a cria.5
Como antes, o produto depende dos níveis dos insumos capital (K) e trabalho (N). As frações
de capital e trabalho na economia geral usadas na geração do produto são (1 – αk) e (1 – αn),
respectivamente. O produto também depende do nível de tecnologia (A), que agora chamaremos
de conhecimento, seguindo a literatura da nova teoria do crescimento. Note que At aparece agora
dentro da função produção em uma especificação mais geral do que antes. Mais importante, note
que todo o conhecimento aparece ali, e não só uma fração dele. O uso de conhecimento no outro
setor que vamos especificar – para produzir novo conhecimento – não impede que o setor de
produtos finais utilize esse mesmo conhecimento.
Agora, voltamo-nos para a função produção de novas ideias.
Conclusão
O modelo de crescimento neoclássico sugere que a taxa de mudança tecnológica é o principal
determinante da taxa de crescimento da renda per capita no equilíbrio estacionário. A taxa de
poupança e, assim, a taxa de investimento tanto em capital físico como humano afetarão a taxa
de crescimento por um período de tempo considerável e também influenciarão as razões
capital/trabalho e capital/produto no estado estacionário. Nos modelos de crescimento endógeno,
a taxa de poupança e, assim, a taxa de formação de capital podem ter efeitos permanentes sobre
a taxa de crescimento de uma nação.
Devido às diferenças nessas variáveis entre os países, têm havido grandes diferenças entre
suas experiências de crescimento. Choques passados como guerras, agitação civil, ditaduras
predatórias e dominação colonial sem dúvida também influenciaram as diferenças nas taxas de
crescimento entre os países. Em consequência, há disparidades muito grandes nos níveis de
renda per capita internacionais. Os ganhos que poderiam ser obtidos por um país pela geração de
um crescimento rápido são enormes. A renda per capita em Taiwan cresceu 6,4% ao ano entre
1960 e 2000. Esse crescimento aumentou o nível da renda per capita por um fator de 13.
Cingapura, Hong Kong e Coreia do Sul tiveram taxas de crescimento acima de 5% ao ano. Esse
foi o chamado milagre asiático. Em contraste, na República Democrática do Congo a renda per
capita caiu a uma taxa anual de 3,2% nesses anos e o nível da renda per capita em 2000 era um
terço do nível de 1960.
Quanto aos fatores que levam a crescimento rápido em alguns países e estagnação em outros,
Robert Lucas escreveu: “As consequências para o bem-estar humano envolvidas em questões
como essas são simplesmente atordoantes: quando se começa a pensar nelas, é difícil pensar em
qualquer outra coisa”.9
Questões de revisão
1. Explique por que, no modelo de crescimento neoclássico com mudanças tecnológicas
exógenas, a taxa de crescimento do produto no equilíbrio de longo prazo é independente da
taxa de poupança (S/Y).
2. De acordo com as estimativas de Denison, que fatores foram os mais importantes para
explicar o crescimento do produto real nos Estados Unidos no período de 1929-82?
3. Que características do modelo de crescimento neoclássico levaram à crítica de que o modelo
não explicava realmente os processos que geravam o crescimento econômico? Como os
modelos de crescimento endógeno tentam corrigir essa possível deficiência do modelo
neoclássico?
4. Explique a hipótese da convergência. Como a hipótese de convergência absoluta difere da
convergência condicional?
5. O que significa dizer que o crescimento é exógeno ou endógeno? Qual é a diferença entre a
estrutura de produção em um modelo de crescimento endógeno e no modelo de crescimento
neoclássico?
6. Por que muitos economistas acham que é difícil conciliar grandes diferenças de renda entre
países com as implicações do modelo de crescimento neoclássico?
7. Suponha que a taxa de poupança fosse aumentada de 10% para 20% em um país de renda
média como o Egito. Qual a previsão do modelo de crescimento neoclássico para o efeito
que isso teria sobre a renda per capita no Egito ao longo dos próximos 30 anos? Ilustre o
efeito previsto com um gráfico.
GLOSSÁRIO
A
Abordagem de Cambridge é uma versão da teoria quantitativa da moeda que focaliza a
demanda por moeda (Md = kPY).
Afrouxamento quantitativo é o nome dado a uma série de ações do Banco Central americano
que expandiram o balanço patrimonial do Banco Central com o objetivo de proporcionar mais
crédito aos mercados financeiros.
Alíquota tributária efetiva é o valor do imposto devido pelo contribuinte dividido por sua
renda total.
Alíquota tributária marginal é o imposto pago sobre cada unidade monetária adicional
auferida em uma atividade.
Aprofundamento de capital é o processo pelo qual o capital cresce a um ritmo mais rápido que
o trabalho e a razão capital/trabalho aumenta.
Armadilha da liquidez é uma situação de taxa de juros muito baixa em que a curva de demanda
especulativa por moeda torna-se quase horizontal.
B
Balança comercial de mercadorias mede a diferença entre exportações e importações no
balanço de pagamentos.
Balança de capitais no balanço de pagamentos é um registro de compras de ativos domésticos
por residentes de outros países (entradas de capital) e compras de ativos estrangeiros por
residentes locais (saídas de capital).
Balanço de pagamentos registra as transações econômicas entre residentes e não residentes do
país, envolvendo bens e ativos.
Base monetária é igual à moeda corrente mantida pelo público mais as reservas bancárias.
Bens de capital são recursos de capital, como fábricas, máquinas e ferrovias, usados para
produzir outros bens.
Board of Governors of the Federal Reserve
é composto de sete membros (governors) indicados pelo presidente dos Estados Unidos, com
consulta e aprovação do Senado, para um mandato de 14 anos. Um dos membros da mesa é
nomeado como seu presidente para um mandato de 4 anos.
C
Câmbio é o termo usado para a relação entre as moedas nacionais.
Capital humano é o acúmulo de investimentos em instrução, capacitação e saúde que eleva a
capacidade produtiva das pessoas.
Compras governamentais de bens e serviços são a parte do produto corrente que vai para o
setor governamental – o governo federal e os governos estaduais e municipais.
Consumo é a demanda das famílias por bens e serviços para uso corrente. Gastos em consumo
são compras de bens duráveis (por exemplo, automóveis e televisores), de bens não-duráveis
(por exemplo, alimentos e jornais) e de serviços (por exemplo, cortes de cabelo e corridas de
táxi).
Conta corrente no balanço de pagamentos é um registro das exportações e importações de
mercadorias de um país, do intercâmbio de serviços e dos pagamentos de transferências.
Curva de demanda agregada mede a demanda pelo produto total em diferentes valores do
nível agregado de preços.
Curva de Phillips é a curva que mostra a relação entre as taxas de desemprego e de inflação.
Custo de oportunidade de uma ação é o valor da melhor alternativa descartada.
Custo de uso do capital é o custo total para uma firma de empregar uma unidade adicional de
capital por um período.
Custo marginal é o custo extra, ou adicional, de gerar mais 1 unidade de produto.
Custos de menu referem-se a qualquer tipo de custo incorrido por uma firma se ela alterar o
preço de seu produto.
D
Déficit cíclico é a parte do déficit federal que resulta do fato de a economia estar operando em
um nível baixo de atividade econômica.
Déficit comercial é o excesso de importações sobre as exportações.
Déficit do orçamento federal é o excesso de gastos governamentais em relação às suas receitas.
Déficit estrutural é a parte do déficit federal que existiria mesmo se a economia estivesse em
seu nível de produto potencial.
Definição de metas intermediárias para um agregado monetário é uma estratégia de política
monetária que visa a atingir metas de crescimento da moeda, com o objetivo final de controlar o
nível de atividade econômica.
Deflator implícito do produto nacional/interno bruto é um índice dos preços de bens e
serviços incluídos no produto nacional/interno bruto.
Demanda agregada é a soma das demandas por produto corrente por parte de cada um dos
setores compradores da economia: famílias, firmas, governo e compradores estrangeiros de
exportações.
Depreciação é a parte do estoque de capital que se desgasta a cada ano.
Desemprego cíclico resulta de flutuações no nível de atividade econômica e das consequentes
flutuações na demanda por trabalhadores.
Desemprego estrutural, como o desemprego friccional, origina-se na natureza dinâmica do mix
de produto e emprego na economia, mas o desemprego estrutural dura mais tempo.
Desemprego friccional é o desemprego devido ao tempo que os trabalhadores passam entre
empregos e ao tempo de que os ingressantes ou reingressantes na força de trabalho precisam
para encontrar emprego.
Dívida soberana é a dívida de governos nacionais, com frequência emitida em moeda
estrangeira ou, no caso da zona do euro, em uma moeda comum.
E
Economias de escala estão presentes quando uma duplicação de todos os insumos faz com que
o produto tenha um aumento acima do dobro.
Elasticidade mede a mudança percentual em uma variável a cada 1% de mudança em outra
variável: por exemplo, a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros.
Escolha pública é a aplicação à formulação de políticas macroeconômicas da teoria
microeconômica de como são tomadas as decisões.
Estabilizadores automáticos são mudanças em impostos e pagamentos de transferências do
governo que ocorrem quando o nível de renda muda.
Euro é a moeda de 17 países da União Europeia.
Expectativas racionais são expectativas formadas com base em todas as informações relevantes
disponíveis sobre a variável que está sendo prevista. Além disso, supõe que os agentes
econômicos usem as informações disponíveis de forma inteligente; ou seja, eles compreendem
as relações entre as variáveis que observam e as variáveis que estão tentando prever.
Exportações líquidas são o total (bruto) das exportações menos as importações.
F
Fatores de produção são trabalho, terra, capital e empreendedorismo.
Federal Reserve System (ou apenas Federal Reserve, ou Fed) é o Banco Central dos Estados
Unidos, composto de 12 Federal Reserve Banks regionais e do Board of Governors localizado
em Washington, D.C.
Flutuação administrada para a taxa de câmbio de um país é um sistema em que às vezes se
permite que a taxa de câmbio responda a forças do mercado, enquanto em outras ocasiões o
Banco Central intervém para influenciar a taxa de câmbio.
Formação de capital é o crescimento no estoque de unidades e equipamento.
Função consumo é a relação keynesiana entre renda e consumo.
Função oferta agregada é o análogo macroeconômico da função oferta de mercados
individuais, que mostra a produção que estará disponível em cada nível de preço dos produtos
específicos. A função oferta agregada mostra a produto total que as firmas ofertarão a cada valor
do nível agregado de preços.
Função produção resume a relação entre insumos totais e produto total, supondo uma dada
tecnologia.
G
Ganho de capital é o aumento do valor de mercado de qualquer ativo acima do preço
originalmente pago.
Gastos autônomos são gastos determinados em grande medida por fatores diferentes da renda
corrente.
Gastos governamentais referem-se a dispêndios do governo com compras, pagamentos de
transferências e subsídios.
Gastos induzidos são dispêndios determinados principalmente pela renda corrente.
H
Hiperinflação é um período em que o nível de preços aumenta drasticamente. Na pior
hiperinflação, as taxas de inflação chegam a vários milhares por cento ao mês.
Hipótese da renda permanente compartilha com a hipótese do ciclo de vida a ideia de que o
consumo depende de uma média de longo prazo da renda auferida com o trabalho e a posse de
ativos.
Hipótese do ciclo de vida a respeito do consumo afirma que decisões de poupança e consumo
das famílias refletem um plano para um padrão de consumo ótimo ao longo da duração da vida,
sujeito à restrição de seus recursos.
Histerese descreve a tendência de uma variável afastada de um valor inicial por um choque não
retornar a esse valor mesmo depois que o choque termina. As taxas de desemprego
persistentemente altas em muitos países europeus levaram economistas a afirmar que o
desemprego exibe histerese.
I
Impostos indiretos são impostos gerais sobre vendas e seletivos (excise taxes).
Inconsistência temporal são problemas que surgem quando uma política para o futuro
formulada em uma data inicial não é mais ótima em uma data posterior mesmo sem que
nenhuma informação nova tenha aparecido.
Índice de preços mede o nível agregado de preços relativo a um ano-base escolhido.
Índice de preços ao consumidor (IPC) mede os preços de varejo de uma “cesta de mercado”
fixa de milhares de bens e serviços comprados pelas famílias.
Índice de preços no atacado (IPA) mede os preços de atacado de milhares de itens.
Instituições de depósitos são intermediários financeiros cujo principal passivo são depósitos.
Essas instituições incluem bancos comerciais, associações de poupança e empréstimos, bancos
de poupança mútua e cooperativas de crédito.
Intermediários financeiros são instituições que aceitam recursos de poupadores e fazem
empréstimos para tomadores finais (por exemplo, firmas).
Investimento é a parte do produto nacional bruto comprada pelo setor empresarial mais a
construção residencial.
M
M1 é a mais limitada das medidas de oferta de moeda. Compõe-se de moeda corrente mais
depósitos à vista. Outra medida, M2, é mais ampla. Inclui todos os componentes de M1 mais
alguns depósitos bancários adicionais que não são sacáveis por cheques ou o são de forma
apenas limitada.
Mercado aberto é o mercado de negociação de títulos do governo.
Mercados de capitais são os de instrumentos financeiros de longo prazo, como títulos do
Tesouro e empresariais, além de ações de empresas.
Mercado monetário é um conjunto de mercados para ativos líquidos de baixo risco com
vencimentos de menos de um ano.
Modelos de preços rígidos (ou modelos de custo de menu) são aqueles em que os custos de
alterações de preços impedem que sejam feitos ajustes nos preços quando a demanda muda.
Consequentemente, o produto cai quando, por exemplo, há um declínio na demanda.
Modelos de salário-eficiência, a produtividade do trabalho depende do salário real que os
trabalhadores recebem. Nesses modelos, o salário real é definido de modo a maximizar a
eficiência das unidades de trabalho por unidade monetária de gastos, e não para equilibrar o
mercado de trabalho.
Modelos incluído-excluído oferecem uma explicação para a histerese no desemprego. Os
incluídos (por exemplo, membros de sindicatos) são o único grupo que afeta a negociação do
salário real. Os excluídos (por exemplo, os que querem empregos) não afetam. Recessões fazem
com que incluídos se tornem excluídos. Depois da recessão, com menos incluídos, o salário real
aumenta e o desemprego persiste.
Moeda é tudo o que é comumente aceito como pagamento em troca de bens e serviços (e
pagamento de dívidas e impostos).
Mudança tecnológica inclui mudanças em conhecimento tecnológico (por exemplo, modos de
utilizar robôs no processo de produção) e novos conhecimentos sobre como organizar os
negócios (estratégias administrativas).
Multiplicador do orçamento equilibrado dá a mudança no produto de equilíbrio que resulta de
um aumento ou redução de 1 unidade nos impostos e nos gastos do governo.
Multiplicador dos depósitos dá o aumento dos depósitos bancários por aumento unitário das
reservas bancárias.
Multiplicador dos gastos autônomos dá a mudança no produto de equilíbrio por mudança
unitária nos gastos autônomos (por exemplo, gastos governamentais).
Multiplicador monetário dá o aumento da oferta de moeda por unidade de aumento da base
monetária.
O
Oligopólio está mais próximo do monopólio do que da concorrência perfeita, porque é
caracterizado por poucas firmas (duas ou três) e por uma entrada moderadamente difícil de
novas firmas. No oligopólio de tipos de produtos, os mercados podem ter produtos padronizados
ou diferenciados.
Open Market Committee do Federal Reserve americano é composto de 12 membros com
direito de voto: os 7 membros do Board of Governors e 5 dos presidentes dos Federal Reserve
Banks regionais. Os presidentes dos bancos regionais ocupam o cargo em um sistema de rodízio,
com a exceção do presidente do Federal Reserve Bank of New York, que é o vice-presidente e
um membro votante permanente do comitê.
Operações no mercado aberto são compras e vendas de títulos do governo no mercado aberto
pelo Banco Central. Operações no mercado aberto são o principal instrumento de controle da
base monetária.
P
Papel negociável é uma categoria de ativo de mercado monetário que consiste em dívida de
curto prazo emitida por grandes empresas.
Perda de capital é a redução do valor de mercado de qualquer ativo abaixo do preço
originalmente pago.
PIB (produto) potencial é o nível que seria alcançado se os recursos produtivos (trabalho e
capital) estivessem sendo usados nos níveis de referência mais altos.
PIB nominal é o PIB medido em unidades monetárias correntes.
Política de estabilização fiscal é o uso de gastos do governo e políticas tributárias para afetar o
nível de atividade econômica.
Política monetária é o uso pelo Banco Central de controle da oferta de moeda e das taxas de
juros para influenciar o nível de atividade econômica.
Preferência pela liquidez é um termo keynesiano para a demanda por moeda em vez de títulos.
Problema do limite zero confronta os bancos centrais quando a taxa de juros nominal que eles
usam como um instrumento atinge um limite inferior zero. Nessa situação não é mais possível
estimular a economia com declínios nessa taxa.
Produto Interno Bruto (PIB) é uma medida de todos os bens e serviços finais produzidos
durante o período.
Produto marginal de um insumo é o acréscimo ao produto total devido à adição de uma
unidade extra desse insumo (a quantidade de outros insumos sendo mantida constante).
Produto Nacional Bruto (PNB) é, como o produto interno bruto, uma medida da produção
nacional agregada. Há duas diferenças entre as duas medidas, ambas referentes a transações
internacionais. O PNB inclui ganhos no exterior de firmas nacionais e ganhos de residentes do
país que estejam trabalhando no exterior; o PIB não inclui esses itens. Por outro lado, o PIB
inclui ganhos derivados da produção corrente do país obtidos por residentes estrangeiros e por
firmas estrangeiras no país, enquanto o PNB exclui esses itens.
Produto nacional bruto real mede o produto agregado em unidades monetárias de valor
constante a partir de um ano-base.
Produto nacional líquido (PNL) é o produto nacional bruto menos a depreciação.
Propensão marginal a consumir (PMgC) é o aumento no consumo por unidade de aumento na
renda disponível.
Propensão marginal a poupar (PMgS) é o aumento na poupança por unidade de aumento na
renda disponível.
Propensão média a consumir é a razão entre consumo e renda.
Propensão média a poupar é a razão entre poupança e renda.
Proposição novo-clássica da ineficácia de políticas econômicas afirma que ações sistemáticas
de política monetária e fiscal que mudem a demanda agregada não afetarão o produto e o
emprego nem mesmo no curto prazo.
R
Receita do produto marginal (RPMg) de qualquer insumo é a receita extra que a firma ganha
ao usar 1 unidade a mais do insumo, mantendo os outros insumos constantes.
Receita marginal é a receita adicional associada à venda de 1 unidade a mais de produto.
Receitas de senhoriagem são o montante de recursos reais comprados pelo governo com moeda
recém-criada.
Recessão é um período em que a atividade econômica declina significativamente em relação ao
produto potencial, mas de forma menos grave do que em uma depressão, como a da década de
1930.
Renda nacional é a soma dos ganhos de todos os fatores de produção que derivam da produção
corrente.
Renda pessoal é a medida nas contas nacionais da renda recebida por pessoas, provenientes de
todas as fontes.
Rendimentos constantes de escala significa que um aumento de uma certa proporção em todos
os insumos (por exemplo, 100%) fará o produto aumentar nessa mesma proporção (100%).
Reservas compulsórias especificam que os bancos devem reter uma determinada porcentagem
(fração) de seus depósitos, seja em forma de moeda à vista (papel-moeda) ou de depósitos em
bancos centrais. É o que se chama de reservas fracionárias.
S
Sistema Bretton Woods foi um sistema de taxas de câmbio fixas estabelecido no final da
Segunda Guerra Mundial.
Sistema de taxas de câmbio é um conjunto de regras que organizam a determinação das taxas
de câmbio entre as moedas.
T
Taxa de câmbio é o valor da moeda de um país em relação a moedas estrangeiras.
Taxa de desemprego expressa o número de pessoas desempregadas como uma porcentagem da
força de trabalho.
Taxa de juros real é a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação de preços antecipada.
Taxa de redesconto é a taxa que o Banco Central cobra sobre empréstimos a instituições de
depósitos.
Taxa de reservas compulsórias é a porcentagem de depósitos que os bancos precisam manter
como reservas.
Taxa dos fundos federais é a taxa que os bancos usam para fazer empréstimos entre si.
Taxas naturais de produto, emprego e, portanto, desemprego no modelo monetarista são
determinadas por fatores reais do lado da oferta: o estoque de capital, o tamanho da força de
trabalho e o nível da tecnologia. Em nosso modelo simples, as taxas naturais de produto,
emprego e desemprego são os níveis clássicos de equilíbrio dessas variáveis (o desemprego
sendo restrito às formas friccional e estrutural).
Teoria do partidarismo vê os resultados de políticas macroeconômicas como resultado de
decisões ideologicamente motivadas de líderes de diferentes partidos políticos. Os partidos
representam eleitorados com diferentes preferências no que se refere a variáveis
macroeconômicas.
Teoria dos estoques para a demanda por moeda para transações vê a moeda como um estoque
do meio de troca que é mantida de maneira similar a como firmas mantêm um estoque de bens.
Títulos empresariais são promissórias formais que exigem que a firma pague uma soma fixa de
moeda (pagamento dos juros) anualmente até o vencimento e, então, no vencimento, uma soma
fixa de moeda para pagar a quantia inicial emprestada (o principal).
Trabalho inclui a energia física, habilidade manual e capacidade mental que os seres humanos
aplicam à produção de bens e serviços.
Tratado de Maastricht de 1991 foi um passo fundamental na passagem para o euro como uma
moeda comum para 17 membros da União Europeia. O tratado definiu diretrizes para as
economias dos países-membros que tiveram de ser cumpridas antes da adoção da moeda
comum.
U
Utilidade marginal de um bem é a satisfação adicional que um consumidor deriva do consumo
de 1 unidade adicional desse bem.
V
Velocidade da moeda é a taxa de rotatividade da moeda em transações do produto nacional
bruto durante um dado período, ou seja, o número médio de vezes que cada unidade monetária é
usada em transações do produto nacional bruto.
1 MARSHALL, Alfred. Principles of Economics. 8th ed. New York: Macmillan, 1920. p. 1.
1 DICKENS, Charles. Hard times. New York: Norton, 1966. p. 1.
2 Os economistas Simon Kuznets e Richard Stone, ganhadores do prêmio Nobel, tiveram papéis pioneiros no desenvolvimento
da contabilidade nacional. Veja KUZNETS, Simon. National income and its composition, 1919-1938. New York: National
Bureau of Economic Research, 1941. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Ministério do Comércio assumiu a manutenção
das contas nacionais. Os dados das contas nacionais americanas são publicados no Survey of Current Business. Uma descrição
de revisões recentes nas contas nacionais é o Preview of the Comprehensive NIPA Revision: Changes in Definitions and
Classifications. Survey of Current Business, p. 11-29, November 2010.
3 Para alguns serviços que não são vendidos no mercado, o Ministério do Comércio tenta atribuir o valor de mercado do serviço
e incluí-lo no PIB. Um exemplo são os serviços de aluguel de casas ocupadas pelo proprietário, que o Ministério do Comércio
estima com base no valor do aluguel.
4 Em 1933, a depreciação nos Estados Unidos foi de US$ 7,6 bilhões. Como o investimento bruto foi de apenas US$ 1,7 bilhão,
o investimento líquido foi negativo. Isso significa que o estoque de capital declinou naquele ano, porque o investimento bruto
foi insuficiente para substituir a parte do estoque de capital consumida.
5 É importante distinguir identidades como (2.1) e (2.2), que são indicadas pelo símbolo de três barras (≡), de equações, que são
indicadas pelo sinal usual de igual (=). Identidades são relações que decorrem da contabilidade ou de outras definições e,
portanto, aplicam-se a qualquer valor das variáveis.
6 Mais detalhes podem ser obtidos no site do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas. Disponível
em: <http://portalibre.fgv.br>. (N.E.)
1 KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Saraiva, 2012.
2 Mill, J. S. “On the Influence of Consumption on Production”. In: Essays on Economics and Society, v. 4 de Collected Works,
Toronto, University of Toronto Press, 1967. p. 263.
3 MILL, 1967, p. 263.
4 MILL, 1967, p. 276.
5 Notações funcionais como a usada em (3.1) serão utilizadas em vários pontos de nossa análise. Em todos os casos, essas
equações significam que a função envolvida (neste caso, F) é uma relação que determina um valor único da variável do lado
esquerdo (neste caso, Y) para cada combinação dos níveis dos argumentos da função (neste caso, K e N).
6 O símbolo diferenciador Δ (delta) indica a variação no valor da variável que o segue (por ex., ΔY é a variação em Y).
7 Uma firma perfeitamente competitiva tem uma curva de demanda horizontal por seu produto. Pressupõe-se que a firma seja
uma parte tão pequena do mercado que o aumento de sua produção possa ser vendido sem deprimir o preço do produto. A
análise poderia ser reformulada para a firma que se defronta com uma curva de demanda de inclinação decrescente sem alterar
substancialmente as conclusões a que chegamos neste capítulo. A questão quanto a se as firmas são de fato perfeitamente
competitivas, porém, tem implicações importantes em pontos futuros de nossa análise.
8 O i subscrito não aparece nas variáveis de preço ou salário porque estes são uniformes entre as firmas. O PMgN para cada
i
firma é derivado da função produção de cada firma, que se supõe ser idêntica para todas as firmas, ou seja, Y1=F(Ki,Ni) para
cada firma.
9 A equação (3.9) tem uma interpretação simples. Para maximizar os lucros, o salário monetário pago ao trabalhador adicional
(W) deve ser exatamente igual à contribuição do trabalhador para a receita da firma. A contribuição do trabalhador para as
receitas monetárias é igual a seu produto marginal multiplicado pelo preço do produto (PMgN × P), o que é chamado de
receita do produto marginal.
10 Esse nível do produto é derivado da função
produção dada na Figura 3.4.
1 FISHER, Irving. The purchasing power of money. New York: Macmillan, 1922. p. 29.
2 A curva Yd (M = 300) e outras curvas de demanda agregada são construídas de modo que o produto do valor da variável no
eixo vertical pelo valor da variável no eixo horizontal (P × Y) seja igual em todos os pontos ao longo da curva. Uma curva
desse tipo é uma hipérbole retangular.
3 A palavra poderia é usada com relação à venda de títulos pelo governo para financiar um déficit porque, como será explicado
na Seção 4.3, o governo tem também a alternativa de emitir moeda para financiar déficits. Note-se também que investimento
refere-se a gastos das firmas com instalações, equipamentos duráveis e estoques – investimento no sentido das contas
nacionais. O termo investimento não se refere à compra de ativos financeiros, como títulos.
4 É importante notar que, conforme a poupança declina, ocorre um aumento igual no consumo corrente. A renda real é fixa,
assim como os impostos, de modo que todas as mudanças na poupança refletem-se em mudanças no consumo corrente.
5 Na verdade, como a redução dos impostos afetaria a riqueza, o que, por sua vez, poderia influenciar a escolha trabalho-lazer,
até mesmo um corte fixo e uniforme dos impostos poderia afetar o lado da oferta. Estamos deixando de lado aqui os efeitos da
riqueza.
6 A curva de demanda agregada é fixa na medida em que as receitas que foram perdidas por causa do corte na alíquota do
imposto de renda são compensadas por um aumento da venda de títulos para o público. Se, em vez disso, a receita perdida
fosse substituída por emissão de moeda, a curva de demanda agregada seria deslocada para a direita e o nível de preços
poderia não cair.
1 A taxa de desemprego na Grã-Bretanha estava acima de 10% já em 1923 e permaneceu acima de 10%, exceto por uma breve
queda para 9,8%, até 1936, o ano da publicação de A teoria geral do emprego, do juro e da moeda.
2 MARSHALL, Alfred. Money, credit and commerce. London: Macmillan, 1922. p. 260.
3 MARSHALL, 1922, p. 260.
4 Isso ignora os efeitos no lado da oferta de uma mudança na alíquota do imposto, discutida na Seção 4.3. Como foi explicado
ali, os economistas clássicos davam pouca atenção a esses efeitos, embora eles tenham se tornado uma consideração
importante nas políticas econômicas em anos recentes.
5 SCHLESINGER, Arthur M. The crisis of the old order. New York: Houghton Mifflin, 1957. p. 457.
6 KEYNES, John M. Collected works. London: Macmillan, 1973. v. 13, p. 489.
7 KEYNES, 1973, p. 488-489.
8 O modelo não leva em conta ganhos retidos. Todos os lucros são pagos como dividendos. Além disso, pressupõe-se que as
firmas não façam pagamentos de impostos; todos os impostos são pagos pelas famílias.
9 Lembremos do Capítulo 2 que investimento realizado é o total que aparece nas contas nacionais, quer esse investimento fosse
ou não desejado pelas firmas.
10 Aqui, para manter a explicação simples, ignoramos a construção residencial. No Capítulo 6, o conceito de investimento será
ampliado.
11 Lembremos, aqui, que T são os impostos líquidos (isto é, os pagamentos brutos de impostos menos os pagamentos de
transferências). A renda disponível (YD = Y – T) é, portanto, a renda nacional menos os impostos brutos mais os pagamentos
de transferências.
12 KEYNES, John M. The general theory of employment. Quarterly Journal of Economics, p. 214, Feb. 1937.
13 KEYNES, 1937, p. 214-215.
14 Lembramos que o produto e a renda nacionais são idênticos de acordo com as pressuposições que fizemos. Esses termos são
usados de forma intercambiável em nossa análise.
15 Note-se que as arrecadações tributárias são fixas, de modo que ΔY = ΔY . Assim, ΔY = ΔY ≡ ΔC + ΔS e, portanto, ΔY – ΔC
D D
= ΔS.
16 Note-se que, como o consumo inclui importações, b é a PMgC tanto para bens domésticos como importados. Como v é a
propensão marginal a importar (bens de consumo), b – v é a PMgC para bens domésticos.
17 Lembremos da nota de rodapé 16 que b – v é a PMgC para bens domésticos. Um v mais alto (com b fixo), portanto, significa
uma PMgC mais baixa para bens domésticos e um valor mais baixo para o multiplicador.
18 Note-se que, pela equação (5.26), podemos calcular também =
1 Preferência pela liquidez: termo de Keynes para a demanda por moeda em vez de títulos.
2 Note-se que não estamos levando em conta o efeito de mudanças nos preços dos bens. O valor real da moeda declina
proporcionalmente ao aumento do nível agregado de preços. No entanto, o mesmo acontece com o valor real dos títulos;
portanto, os retornos relativos não são diretamente afetados por mudanças nos preços dos bens.
3 O conceito de elasticidade refere-se à mudança percentual em uma variável que resulta de uma mudança de 1% em outra
variável. No caso da elasticidade da demanda por moeda em relação aos juros, a elasticidade é negativa. Um aumento de 1%
na taxa de juros fará a demanda por moeda declinar. No texto, o termo alta elasticidade refere-se ao valor absoluto da
elasticidade. Se a demanda por moeda for muito sensível a mudanças na taxa de juros, dizemos que a demanda por moeda é
altamente elástica. Se a demanda por moeda não for muito sensível a mudanças na taxa de juros, falamos que a demanda por
moeda tem uma baixa elasticidade em relação aos juros, ou baixa elasticidade-juros.
4 Durante a crise financeira de 2007-2008, houve um deslocamento maciço no sentido da liquidez. Nos modelos keynesianos,
isso apareceria dessa forma: um aumento na demanda por moeda.
5 O nome IS vem dessa versão simples da curva de equilíbrio do mercado de bens, uma igualdade entre investimento (I) e
poupança (S).
6 O conceito de elasticidade é definido na nota de rodapé 3. Aqui, como no caso da demanda por moeda, a elasticidade-juros é
negativa; um aumento da taxa de juros reduz o investimento. Ao dizer que a elasticidade é baixa, estamos falando do valor
absoluto da elasticidade.
1 O principal “outro fator” que é mantido constante neste caso é a magnitude de declínio do investimento para um dado aumento
da taxa de juros – a elasticidade-juros do investimento.
1 Para simplificar, a curva de demanda agregada keynesiana aqui e em gráficos posteriores é traçada como uma reta. A
curvatura da curva de demanda agregada não é importante em nossa análise.
2 Algumas mudanças de política fiscal, como uma mudança na alíquota marginal do imposto, têm efeitos do lado da oferta no
sistema clássico, conforme explicado na Seção 4.3. Estes estão sendo ignorados aqui.
3 OKUN, Arthur. Prices and quantities. Washington, DC: The Brookings Institution, 1981. p. 233.
4 Os modelos neste capítulo focam a noção keynesiana tradicional de que a rigidez dos salários monetários é a principal
explicação para o fato de o produto e o emprego terem de responder a mudanças na demanda agregada. Na Seção 12.2,
examinaremos modelos novo-keynesianos em que, em vez disso, a principal rigidez é dos preços dos produtos e dos níveis dos
salários reais.
5 KEYNES, John M. A tract on monetary reform. London: Macmillan, 1923. p. 80.
1 FRIEDMAN, Milton. The counter-revolution in monetary theory. London: Institute of Economic Affairs, 1970. p. 12.
2 Essas duas citações são de FRIEDMAN, Milton. A theoretical framework for monetary analysis. In: GORDON .Robert,
(Org.). Milton Friedman’s monetary framework. Chicago: University of Chicago Press, 1974. p. 27; FRIEDMAN, Milton;
SCHWARTZ, Anna. Money and business cycles. Review of Economics and Statistics, 45, p. 32-64, Feb. 1963.
3 FRIEDMAN, Milton; HELLER ,Walter. Monetary versus fiscal policy. New York: Norton, 1969. p. 51.
4 FRIEDMAN, 1970, p. 18.
5 FRIEDMAN, Milton. The role of monetary policy. American Economic Review, 58, p. 16, Mar. 1968.
6 FRIEDMAN, 1968, p. 14.
7 FRIEDMAN, Milton. The optimum quantity of money and other essays. Chicago: Aldine, 1969. p. 187.
8 MODIGLIANI, Franco. The monetarist controversy, or should we forsake stabilization policies? American Economic Review,
67, Mar. 1977.
9 FRIEDMAN, Milton. M1’s hot streak gave keynesians a bad idea. In: CLELLAND, Peter. (Org.). Readings in introductory
Macroeconomics. New York: McGraw-Hill, 1988. p. 78.
10 Citado em NELSON, Edward. Milton Friedman and U.S. Monetary History: 1961-2006. Federal Reserve Bank of St. Louis
Review, 89, p. 172, May-June 2007.
11 As referências aqui são a DE LONG, Bradford. The triumph of monetarism. Journal of Economic Perspectives, 14, p. 83-84,
Winter 2000; BERNANKE, Ben. Remarks. Federal Reserve Bank of Dallas Conference, Oct. 2003.
1 Veja, por exemplo, a contribuição de Phelps e outros em: PHELPS, Edmund. (Org.), Employment and inflation theory. New
York: Norton, 1970.
2 FRIEDMAN, Milton. The role of monetary policy. American Economic Review, 58, p. 8, Mar. 1968.
3 FRIEDMAN, 1968, p. 10.
4 A curva de Phillips deriva seu nome do economista neozelandês A. W. H. Phillips, que estudou o trade-off entre desemprego e
inflação salarial na economia britânica.
5 FRIEDMAN, 1968, p. 10.
6 A natureza de curto prazo da curva de Phillips de inclinação negativa foi reconhecida antes do trabalho de Friedman. Paul
Samuelson e Robert Solow escreveram nesse contexto: “Toda a nossa discussão foi formulada em termos do curto prazo,
lidando com o que poderia acontecer nos próximos anos… O que fizermos em políticas econômicas nos próximos anos
poderia levá-la [a curva de Phillips] a se deslocar de uma maneira definida”. (SAMUELSON, Paul; SOLOW, Robert.
Analytical aspects of anti-inflation policy. American Economic Review, 50, p. 177-194, May 1960.)
7 Nesta discussão, estamos ignorando elementos da teoria keynesiana que explicam por que o salário monetário é rígido no
curto prazo (veja a Seção 8.3). Não estamos levando em conta, por exemplo, os efeitos de contratos de trabalho implícitos ou
explícitos que impeçam que o salário monetário se ajuste a mudanças nas condições de demanda. Tais fatores podem retardar,
mas não, em última instância, impedir, o ajuste à posição de equilíbrio de longo prazo.
8 Nessa literatura subsequente, o termo taxa de desemprego não-aceleradora da inflação (NAIRU, em inglês) é com frequência
usado em lugar de taxa natural de desemprego.
9 FRIEDMAN, 1968, p. 11.
10 STIGLITZ, Joseph. Reflections on the natural rate hypothesis. Journal of Economic Perspectives, 11, p. 3, Winter 1997.
11 Há outros modos mais sofisticados de estimar a taxa natural de desemprego. Essas outras estimativas também indicam
aumentos acentuados da taxa natural para os países da tabela, bem como para algumas outras nações europeias.
12 Duas análises úteis nessa literatura são BLANCHARD, Olivier; KATZ, Lawrence F. What we know and do not know about
the natural rate of unemployment. Journal of Economic Perspectives, 11, p. 51-72, Winter 1997; BEAN, Charles. European
unemployment: a survey. Journal of Economic Literature, 32, p. 573-619, June 1994.
13 SOLOW, Robert. Unemployment: getting the questions right. Economica, 33, p. S.33, 1986. Veja também GALBRAITH,
James K. Time to Ditch the NAIRU. Journal of Economic Perspectives, 11, p. 93-108, Winter 1997.
14 STIGLITZ, 1997, p. 10.
1 LUCAS, Robert. Rules, discretion, and the role of the economic advisor. In: FISCHER, Stanley (Org.). Rational expectations
and economic policy. Chicago: University of Chicago Press, 1980. p. 259.
2 LUCAS, 1980, p. 259.
3 MUTH, John. Rational expectations and the theory of price movements. Econometrica, 29, p. 316, July 1961.
4 Os termos esperado e antecipado ou não esperado e não antecipado são usados de forma intercambiável aqui. Mudanças de
políticas são referidas como antecipadas ou não antecipadas, ao passo que nos referimos a níveis esperados para variáveis,
incluindo variáveis de políticas.
5 As mudanças esperadas nos preços do petróleo ou de outros fatores do lado da oferta, por exemplo, afetariam o nível de preços
esperado.
6 As posições da curva de demanda agregada e de outras curvas continuam a depender de todas as variáveis discutidas
anteriormente, incluindo variáveis de política econômica, mas, para simplificar as notações, os rótulos das curvas no gráfico
contêm apenas as variáveis que estariam mudando nesse caso.
7 A ideia de que o público aprenderia regras de política sistemáticas decorre do pressuposto das expectativas racionais.
Estimativas de tais regras poderiam ser feitas com base no comportamento passado das políticas econômicas. Essas
estimativas seriam úteis para prever ações de política e, em consequência, para prever o comportamento dos preços e de outras
variáveis, portanto o agente econômico racional faria uso dessas informações.
8 SARGENT, Thomas; WALLACE, Neil. Some unpleasant monetarist arithmetic. Federal Reserve Bank of Minneapolis
Review, Autumn 1981.
9 LUCAS, Robert; SARGENT, Thomas. After keynesian macroeconomics. In: After the Phillips curve: persistence of high
inflation and high unemployment. Boston: Federal Reserve Bank of Boston, 1978.
10 SOLOW, Robert. Alternative approaches to macroeconomic theory: a partial view. The Canadian Journal of Economics, 12,
p. 354, Aug. 1979.
11 Veja BARRO, Robert. Second thoughts on keynesian economics. American Economic Review, 69, p. 57, May 1979.
Exemplos dessas intervenções do New Deal incluem os códigos da National Recovery Administration para fixar preços e
salários, políticas agrícolas para restringir a produção e elevar os preços e um aumento das regulamentações do setor bancário
e de títulos, que podem ter atrapalhado a obtenção de fundos para investimento. (Veja Perspectivas 11.2.)
12 MODIGLIANI, Franco. The monetarist controversy, or should we forsake stabilization policies? American Economic Review,
67, p. 6, Mar. 1977.
13 FRIEDMAN, Benjamin. Optimal expectations and the extreme informational assumptions of “rational expectations”
macromodels. Journal of Monetary Economics, 5, p. 39-40, Jan. 1979.
14 McCALLUM, Bennett. The significance of rational expectations theory. Challenge Magazine, p. 39, Jan.-Feb. 1980.
15 OKUN, Arthur. Price and quantities. Washington: The Brookings Institution, 1981, estende essa visão contratual a mercados
de produtos, com uma resultante rigidez de preços. Modelos novo-keynesianos desse tipo são examinados no Capítulo 12.
1 KING, Robert G.; PLOSSER, Charles. Money, credit and prices in a real business cycle model. American Economic Review,
74, p. 363, June 1984.
2 As alíquotas tributárias poderiam mudar no curto prazo, com efeitos que examinamos na Seção 4.3. Como foi observado ali,
porém, os economistas clássicos davam pouca atenção ao efeito de mudanças nas alíquotas tributárias, devido a estas serem
muito baixas na época em que eles escreveram.
3 BARRO, Robert J. Modern business cycle theory. Cambridge: Harvard University Press, 1989. p. 2.
4 PLOSSER, Charles. Understanding real business cycles. Journal of Economic Perspectives, 3, p. 53, 1989.
5 Aqui, estamos considerando um modelo em que toda a moeda é emitida pelo governo: um mundo em que há apenas moeda
corrente. Se considerássemos também os depósitos bancários, o papel da moeda em um modelo de ciclos reais de negócios
ficaria consideravelmente mais complexo, porque bancos que trabalham com depósitos também oferecem crédito e outros
serviços para firmas. Esses serviços podem afetar a produtividade das firmas. Assim, mudanças no setor bancário – falências
de bancos, por exemplo - podem ter efeitos reais em um modelo de ciclos reais de negócios. Para um modelo de ciclos reais de
negócios que inclua tanto moeda corrente como depósitos bancários, veja: KING; PLOSSER. Money, credit and prices in a
real business cycle model.
6 Tomar empréstimos com o público pela venda de títulos do governo é outra maneira de pagar gastos governamentais. Em
modelos de ciclos reais de negócios, porém, o governo está obrigado a pagar todos os empréstimos em algum ponto. Assim,
vendas de títulos podem afetar apenas o momento da tributação ou do financiamento por moeda, e não seu valor.
7 MANKIW, N. Gregory. Real business cycles: a new keynesian perspective. Journal of Economic Perspectives, 3, p. 79,
Summer 1989. Outros exames da literatura sobre ciclos reais de negócios, com diversos pontos de vista, incluem
MCCALLUM, Bennett T. Real business cycle models. In: BARRO, Robert J. (Org.). Modern business cycle theory;
SUMMERS, Lawrence H. Some skeptical observations on real business cycle theory. Federal Reserve Bank of Minneapolis
Quarterly Review, 10, p. 23-27, Autumn 1986.; STADLER, George. Real business cycles. Journal of Economic Literature, 32,
p. 1750-83, Dec. 1994.; KING, Robert G.; REBELO, Sergio T. Resuscitating real business cycles. In: TAYLOR, John B.;
WOODFORD, Michael. (Orgs.). Handbook of Macroeconomics. Amsterdã: North Holland, 1999. p. 927-1007.
8 Veja, por exemplo, ALTONGI, Joseph G. Intertemporal substitution in labor supply: evidence from micro data. Journal of
Political Economy, 94, p. S176-S215, part II, June 1986.
9 MANKIW, N. Gregory; ROMER, David. (Orgs.). New Keynesian Economics. Cambridge: MIT Press, 1991. p. 1. Essa
coletânea de artigos em dois volumes é uma boa amostragem dos esforços de pesquisa novo-keynesianos. Alguns exames da
literatura novo-keynesiana são GORDON, Robert J. What is new keynesian economics. Journal of Economic Literature, 28, p.
1115-71, Sep. 1990.; ROMER, David. The new keynesian synthesis. Journal of Economic Perspectives, 7, p. 5-22, Winter
1993.; TAYLOR, John B. Staggered price and wage setting in macroeconomics”. In: TAYLOR; WOODFORD (Orgs.).
Handbook of Macroeconomics, p. 1009-50.
10 Exemplos de modelos de preços rígidos são MANKIW, N. Gregory. Small menu costs and large business cycles: a
macroeconomic model of monopoly. Quarterly Journal of Economics, 100, p. 529-38, May 1985.; AKERLOF, George;
YELLIN, Janet. A near rational model of the business cycle with wage and price inertia. Quarterly Journal of Economics, 100,
p. 823-38, 1985.
11 Lembre-se da microeconomia que a concorrência monopolista é uma situação em que muitas firmas oferecem produtos
diferenciados, por exemplo, diferentes tipos de comida em diferentes restaurantes. Oligopólio refere-se a situações em que,
devido a custos substanciais para entrar no mercado, há poucas firmas nele. O produto pode ser padronizado ou diferenciado
(por ex., alumínio ou automóveis).
12 A experiência de Ford com o dia de cinco dólares é analisada pela perspectiva da teoria moderna do salário-eficiência em
RUFF, Daniel M. G.; SUMMERS, Lawrence H. “Did Henry Ford Pay Efficiency Wages?” Journal of Labor Economics, 5, p.
S57-S86, pat II, out. 1987. Exemplos de modelos de salário-eficiência são AKERLOF; YELLIN, “A Near Rational Model of
the Business Cycle with Wage and Price Inertia”; KATZ, Lawrence. “Efficiency Wage Theories: A Partial Evaluation”, NBER
Macroeconomics Annual, Cambridge, Mass.: MIT Press, 1986. p. 235-76.
13 Aqui, voltamos à especificação da função produção agregada de capítulos anteriores, em que o estoque de capital é fixo,
conforme indicado pela barra sobre o K. Também ignoramos o choque de tecnologia introduzido na seção anterior sobre
modelos de ciclos reais de negócios e, para simplificar, omitimos os subscritos de tempo (t) usados anteriormente no capítulo.
14 Um argumento diferente para a relação positiva entre eficiência do trabalhador e salário real é aplicável a países em
desenvolvimento. Um salário real mais alto permite um nível mais elevado de consumo, o que proporciona melhor nutrição e
saúde. Isso, por sua vez, reduz as faltas ao trabalho e torna os trabalhadores mais saudáveis e produtivos. Um modelo mais
antigo dessa relação aparece em LEIBENSTEIN, Harvey “The Theory of Underemployment in Densely Populated Backward
Areas”. In Economic Backwardness and Economic Growth. New York: Wiley, 1963. Embora um argumento similar possa ser
encontrado na obra de Alfred Marshall no século XIX.
15 Uma versão mais antiga do modelo incluído-excluído é oferecida por BLANCHARD, Olivier J. SUMMERS, Lawrence.
Hysteresis and the European Unemployment Problem. In: FISCHER, Stanley (Org.). NBER Macroeconomics Annual.
Cambridge, Mass.: MIT Press, 1986. Veja também Assar Lindbeck e Dennis Snower, “Wage Setting Unemployment and
Insider-Outsider Relations”, American Economic Review, 76, maio de 1986, pp. 235-39; e Robert M. Solow, “Insiders and
Outsiders in Wage Determination”, Scandinavian Journal of Economics, 87, 1985, pp. 411-28.
16 Há extensões do modelo básico incluído-excluído em que os excluídos desempregados têm alguma influência na negociação
de salários. Nesses modelos estendidos, quanto mais alta for a taxa de desemprego, menor é o poder de negociação que os
incluídos podem exercer. Seu receio de ficar desempregados é maior, uma vez que eles sabem que sua perspectiva de
encontrar outro emprego é pequena, e a ameaça dos empregadores de substituí-los por trabalhadores desempregados é mais
digna de crédito. Nesses modelos estendidos, porém, ainda há desemprego persistente. Veja a discussão em BLANCHARD,
Olivier J. Wage bargaining and unemployment persistence. Journal of Money, Credit, and Banking, 23, p. 278-92, Ag. 1991.
1 FRIEDMAN, Milton. Why economists disagree. In: FRIEDMAN, Milton. Dollars and deficits. Upper Saddle River: Prentice
Hall, 1968. p. 15-16.
2 Citado em DAVIDSON, Paul. Money and the real world. New York: Wiley, 1978. p. IX.
a Inclui aumentos em outros ativos internacionais do governo dos Estados Unidos além dos ativos de reservas oficiais.
1 Em capítulos anteriores, o termo investimento foi usado exclusivamente com referência a compras de bens de capital físicos. O
termo capital referia-se a esses bens físicos. Na discussão de relações econômicas internacionais, o termo fluxos de capital
refere-se a trocas de ativos financeiros envolvendo indivíduos em diferentes países, além de investimentos diretos como a
compra de uma fábrica em outro país.
2 O Fundo Monetário Internacional (FMI) é um órgão que foi estabelecido ao final da Segunda Guerra Mundial para administrar
os acordos monetários internacionais assinados na época. Esses acordos, os acordos de Bretton Woods, são discutidos nas
Seções 14.3 e 14.4. Os direitos especiais de saque são às vezes chamados de “papel-ouro”. São um tipo de depósito no FMI
que pode ser trocado entre nações para ajustar desequilíbrios nos pagamentos.
3 Não é preciso que os bancos centrais possuam moeda americana em espécie. Depois de comprar dólares, eles podem usá-los
para comprar títulos públicos ou privados americanos.
4 A Europa, claro, não é um país. Referimo-nos aqui a um conjunto de países europeus que têm o euro como a moeda comum.
Detalhes são discutidos em Perspectivas 14.3.
5 É a expectativa de uma mudança na taxa de câmbio que desencadearia mudanças na demanda por ativos estrangeiros em
relação a ativos domésticos. Se, por exemplo, alguém esperasse que o preço do euro fosse subir de 1 dólar hoje para 1,25 dólar
na próxima semana, poderia comprar agora o título francês mencionado no texto por 800 dólares e vendê-lo na semana
seguinte por 1.000 dólares. Por enquanto, porém, não estamos levando em conta as mudanças esperadas na taxa de câmbio.
* Unidade de medida de capacidade para produtos secos, equivalente a 35,24 litros. (N. da T.)
6 Um apoio empírico a esse pressuposto é oferecido por HOUTHAKKER, Hendrik; MAGEE, Stephen. Income and price
elasticities in world trade. Review of Economics and Statistics, 5, p. 111-125, May 1969. Uma estimativa mais recente de
MARQUEZ, Jaime. Bilateral trade elasticities. Review of Economics and Statistics, 72, p. 75-76, Feb. 1990, indica uma
elasticidade-preço da demanda estrangeira por produtos de exportação americanos exatamente igual a 1. Isso implica uma
oferta de moeda estrangeira vertical. A suposição de uma curva de oferta vertical não alteraria nossa análise.
7 Uma exposição clássica das vantagens de taxas de câmbio flexíveis é encontrada em FRIEDMAN, Milton. The case for
flexible exchange rates. In: Essays in positive Economics. Chicago: University of Chicago Press, 1957.
8 Fluxos de capital incluem compras de ações em outros países e investimentos diretos além de compras de títulos, o ativo que
rende a taxa de juros (r). Assim, outras variáveis que influenciam os retornos esperados de ações e investimentos diretos
poderiam ser incluídos em uma especificação mais complexa da função fluxo de capital.
9 Citado em KENEN, Peter. Macroeconomic theory and policy: how the closed economy was opened. In: JONES, Ronald;
KENEN, Peter (Orgs.). Handbook of international Economics. Amsterdã: North Holland, 1985. v. 2, p. 625-677.
10 A taxa de câmbio entre o euro e o dólar é discutida em Perspectivas 14.3.
11 Os países do G5 são Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.
12 Veja Remarks by governor Ben Bernanke, the global saving glut and the U. S. current account deficit. Board of Governors of
the Federal Reserve System, Mar. 2005.
1 O modelo recebe esse nome por causa de seus desenvolvedores, Robert Mundell e Marcus Fleming. Veja MUNDELL, Robert.
Capital mobility and stabilization policy under fixed and flexible exchange rates. Canadian Journal of Economics and
Political Science, 29, p. 475-485, Nov. 1963; e FLEMING, Marcus. Domestic financial policies under fixed and under floating
exchange rates. Staff Papers. Fundo Monetário Internacional, 9, p. 369-379, Nov. 1962.
2 Transferências privadas a estrangeiros também deveriam aparecer no lado esquerdo da equação (15.5). Vamos ignorar esse
item menor em nosso modelo.
3 Repare também que não incluímos a taxa de juros externa na função demanda por moeda. Consideramos que, embora os
investidores escolham entre títulos estrangeiros ou locais com base em seus respectivos rendimentos, a demanda por moeda
depende apenas da taxa de juros interna.
4 Deve-se observar aqui que não estamos levando em conta possíveis expectativas de movimentos futuros nas taxas de câmbio.
Como foi explicado no Capítulo 14, mudanças esperadas nas taxas de câmbio são outro fator, além dos diferenciais de taxas de
juros, que influencia a escolha entre ativos internos e externos.
5 BRYANT, Ralph. International financial intermediation. Washington: The Brookings Institution, 1987. p. 86.
1 Outro pequeno item incluído em M1 são os cheques de viagem. Nossa discussão aqui ignora vários pequenos itens nas
diferentes definições de moeda. Para definições detalhadas, veja a Tabela 16.1.
2 Saldos em contas de poupança comuns são, na prática, disponíveis a vista. Depósitos a prazo, porém, são feitos por um
período de tempo especificado (por exemplo, 1 ano), e podem prever penalidades para saques antecipados.
3 Em nossos modelos, capital referia-se a bens de capital físicos. Aqui, o termo mercado de capitais refere-se a um subconjunto
de mercados financeiros.
4 Daqui em diante, deixaremos de lado o adjetivo legais ao nos referirmos aos ativos de reservas que atendem às exigências de
reservas bancárias.
5 Os empréstimos tomados no mercado de fundos federais são incluídos no item “Outros passivos e capital”, na Tabela 16.6.
1 Estamos supondo que o Banco Central não quer que a renda caia abaixo de Y* porque isso causaria desemprego excessivo.
Níveis de renda acima de Y* são indesejáveis por causa de suas consequências inflacionárias futuras.
2 Uma análise mais antiga e importante dos méritos relativos de ter a taxa de juros ou um agregado monetário como meta sob
condições de incerteza é POOLE, William. Optimal choice of monetary policy instruments in a simple stochastic macro
model. Quarterly Journal of Economics, 84, p. 197-216, May 1970.
3 Um choque que reduza (ou aumente) a demanda por moeda significa um deslocamento da função demanda por moeda que
reduz (ou aumenta) a quantidade de moeda demandada para um dado nível de renda e de taxa de juros. A maneira como isso
desloca a curva LM é explicada na Seção 6.2.
4 Para uma descrição desses movimentos em direção a mais transparência na política do Federal Reserve, veja POOLE,
William. How predictable is U. S. macroeconomic policy? Federal Reserve Bank of Saint Louis Review, 87, p. 659-668, Nov.-
Dez. 2006.
5 Por breves períodos, uma taxa de juros nominal negativa é às vezes observada para títulos do Tesouro americanos de prazo
muito curto. Isso ocorre quando os investidores estão à procura de um lugar seguro para seus fundos em um ambiente geral de
taxas de juros de curto prazo muito baixas.
6 FISCHER, Stanley. Rules versus discretion in monetary policy. In: FRIEDMAN, Benjamin M.; HAHN, Frank H. (Orgs.).
Handbook in monetary economics. Amsterdã: North Holland, 1990. v. 2, p. 1169-1170.
7 Dois artigos importantes sobre o problema da inconsistência temporal são KYDLAND, Finn; PRESCOTT, Edward. Rules
versus discretion: the time inconsistency problem. Journal of Political Economy, 85, p. 473-491, June 1977; BARRO, Robert
J.; GORDON, David B. Rules, discretion and reputation in a model of monetary policy. Journal of Monetary Economics, 12,
p. 101-121, July 1983.
8 BLINDER, Alan. What central bankers could learn from academics and vice versa. Journal of Economic Perspectives, 11, p.
13, Spring 1997.
1 De maneira mais geral, o termo escolha pública é definido como a aplicação da análise econômica teórica da escolha a
tomadas de decisões políticas. Veja, por exemplo, MUELLER, Dennis. Public choice II. Cambridge: Cambridge University
Press, 1989.
2 TULLOCK, Gordon. The vote motive. London: Institute of Economic Affairs, 1976.
3 Veja, por exemplo, BUCHANAN, James M.; WAGNER, Richard E. Democracy in deficit. New York: Academic Press, 1977;
TUFTE, Edward R. Political control of the economy. Princeton: Princeton University Press, 1978.
4 TUFTE, 1978, p. 5.
5 PERLMAN, Morris. Party politics and bureaucracy in economic policy. In: TULLOCK, 1976, p. 69.
6 Em termos das equações (18.1) e (18.3), esses autores da visão da escolha pública afirmam que, embora a inflação de fato
cause uma perda significativa de bem-estar social [a2 na equação (18.1) pode ser grande], ela não resulta em muita perda de
votos [c2 é pequeno na equação (18.3)]. Portanto, o formulador de políticas maximizador de votos não reage a ela.
7 BUCHANAN; WAGNER, 1977, p. 93-94.
8 Uma das primeiras contribuições à teoria do partidarismo foi HIBBS, Douglas. Political parties and macroeconomic policy.
The American Political Science Review, 71, p. 1467-1487, Dez. 1977. Veja também HAVRILESKY, Thomas. A partisan
theory of fiscal and monetary regimes. Journal of Money, Credit and Banking, 19, p. 308-325, Aug. 1987; ALESINA,
Alberto. Macroeconomics and politics. NBER Macroeconomics Annual, p. 13-61,1988.
9 Sobre essas questões, veja SMITH, Adam; WAGNER, Richard E.; YANDLE, Bruce. A theory of entangled political
economy, with application to TARP and NRA. Public Choice (a ser publicado, 2012).
10 Aqui e posteriormente, o termo gastos do governo refere-se apenas a compras de bens e serviços pelo governo federal, com os
pagamentos de transferências incluídos na variável do imposto líquido.
11 HELLER, Walter. Kermit Gordon. Brookings Papers on Economic Activity, 2, p. 283-287, 1976.
12 CARLSON, Keith. Estimates of the high-employment budget 1947-67. Federal Reserve Bank of St. Louis Review, 49, p. 11,
June 1967.
1 Exposições da posição do lado da oferta podem ser encontradas em GILDER, George. Wealth and poverty. New York: Basic
Books, 1981, especialmente os Capítulos 4, 15 e 16; ROBERTS, Paul Craig. The supply-side revolution. Cambridge: Harvard
University Press, 1983; LAFFER, Arthur B.; SEYMOUR, Jan P. (Orgs.). The Economics of the tax revolt: a reader. New
York: Harcourt Brace Jovanovich, 1979; MEYER, Laurence (Org.). The supply-side effects of economic policy. St. Louis:
Center for the Study of American Business, 1981. As duas últimas fontes contêm também críticas a posições do lado da oferta.
Duas análises úteis da economia do lado da oferta são BARTH, James. The Reagan program for economic recovery: economic
rationale (a primer on supply-side Economics). Federal Reserve Bank of Atlanta Review, p. 4-14, Sept. 1981; TATOM, John.
We are all supply-siders now! Federal Reserve Bank of St. Louis Review, 63, p. 18-30, May 1981. Avaliações mais recentes
são FELDSTEIN, Martin. Supply-side Economics: old truths and new claims. American Economic Review, 76, p. 26-30, May
1986; CHIMERINE, Lawrence; YOUNG, Richard. Economic surprises and messages of the 1980s. American Economic
Review, 76, p. 31-36, May 1986; KRUGMAN, Paul. Peddling prosperity. New York: Norton, 2000. Capítulos 1–3;
BARTLETT, Bruce. Imposter: how George W. Bush bankrupted America and betrayed the Reagan legacy. New York:
Doubleday, 2006.
2 Sobre essa questão e as discutidas adiante, é possível distinguir entre uma posição do lado da oferta moderada e uma posição
extrema. Em relação a muitas dessas questões, os economistas moderados do lado da oferta diferem dos keynesianos apenas
por atribuir mais importância a fatores do lado da oferta. As posições do lado da oferta mais extremas praticamente ignoram o
lado da demanda. Martin Feldstein, presidente do Council of Economic Advisors no governo Reagan, por exemplo, cujo
trabalho sobre incentivos ao investimento será descrito adiante, é um economista que enfatizou a importância de variáveis do
lado da oferta, mas algumas vezes esteve em desacordo com os defensores da posição extrema.
3 Veja FELDSTEIN, Martin: SUMMERS, Lawrence. Inflation and the taxation of capital income in the corporate sector.
National Tax Journal, 32, p. 445-470, Dec. 1979.
4 Veja TOBIN, James. Stabilization policy ten years after. Brookings Papers on Economic Activity, 1, p. 19-71, 1980.
1 Veja SOLOW, Robert. Technical change and the aggregate production function. Review of Economics and Statistics, 39, p.
312-320, Aug. 1957. Também é relevante para esta nossa discussão o livro de SOLOW, R. Growth theory. 2nd ed. London:
Oxford University Press, 2000.
2 Com rendimentos constantes de escala, o produto por trabalhador (Y/N) não depende do nível de produto. Portanto, sendo a
tecnologia fixa, se fixarmos a razão capital/trabalho (K/N), não há nenhuma outra variável que afete o produto por trabalhador;
assim, Y/N também ficará fixo.
3 Repare que esse pressuposto de rendimentos decrescentes em relação a aumentos na intensidade do capital não está em
discordância com o pressuposto anterior de que o processo de produção exibe rendimentos constantes de escala. Este último
pressuposto refere-se ao efeito de aumentos proporcionais em todos os fatores de produção. Os rendimentos decrescentes em
relação a aumentos na intensidade do capital referem-se aos efeitos de aumentos na quantidade de um único fator (capital) por
unidade do outro fator (trabalho).
4 ROMER, Paul. Capital accumulation and long-run growth. In: BARRO, Robert J. (Org.). Modern business cycle theory.
Cambridge: Harvard University Press, 1989. p. 51. Lembre-se que estamos discutindo aqui o longo prazo. Na seção anterior,
vimos que a taxa de poupança podia afetar a taxa de crescimento, talvez até por um período de tempo significativo.
Certamente existem políticas econômicas governamentais que podem influenciar a poupança. Apenas a taxa de crescimento de
equilíbrio de longo prazo era exógena.
5 AGION, Philippe; HOWITT, Peter. Endogenous growth theory. Cambridge: MIT Press, 1998. p. 1.
6 Ver BARRO, Robert J.; SALA-I-MARTIN, Xavier. Convergence. Journal of Political Economy, 100, p. 223-251, Apr. 1992.
7 Veja, por exemplo, BARRO, Robert J.; SALA-I-MARTIN, Xavier. Economic growth. 2nd ed. New York: McGraw-Hill, 2004.
Cap. 12.
8 Sobre infraestrutura social e questões relacionadas, ver ROMER, David. Advanced Macroeconomics. 3rd ed. New York,
McGraw-Hill, 2002. Cap. 3.
9 LUCAS JR., Robert. On the mechanics of economic development. Journal of Monetary Economics, 22, p. 3-42, July 1988.