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I – Microeconomia.......................................................................................................................3
1 – Demanda (Procura).............................................................................................................3
Fatores que Afetam a demanda............................................................................................3
2 – Oferta.................................................................................................................................4
3 – Equilíbrio...........................................................................................................................4
4 – Elasticidade........................................................................................................................5
5 – Teoria da Produção.............................................................................................................7
6 – Teoria do Consumidor......................................................................................................13
7 – Questões Econômicas Fundamentais................................................................................17
8 – Eficiência Econômica.......................................................................................................18
9 - CONCEITO E PRINCÍPIOS DE TRIBUTAÇÃO............................................................21
10 - RACIONALIDADE ECONÔMICA DO GOVERNO....................................................33
I – Macroeconomia....................................................................................................................35
1 – Generalidades...................................................................................................................35
2 - Objetivos Da Política Macroeconômica............................................................................35
Alto nível de emprego........................................................................................................36
Estabilidade de preços (controle da inflação).....................................................................36
Distribuição equitativa de renda.........................................................................................37
Crescimento e desenvolvimento econômico.......................................................................37
Os Trade-Offs Da Política Econômica................................................................................37
3 - Estrutura Da Macroeconomia: Os Tipos De Mercados.....................................................37
4 – Política Fiscal...................................................................................................................38
Déficit Público....................................................................................................................40
Medição “acima da linha” versus “abaixo da linha”...........................................................41
5 – Política Monetária............................................................................................................42
Moeda................................................................................................................................42
Demanda de moeda............................................................................................................43
Oferta de moeda.................................................................................................................43
Processo de expansão da moeda pelos bancos comerciais..................................................44
Teoria quantitativa da moeda (TQM).................................................................................45
Relação entre a política monetária, renda, inflação e juros.................................................45
Instrumentos de política monetária.....................................................................................46
6 – Contas Nacionais..............................................................................................................47
Produto(P)..........................................................................................................................47
Renda(Y)............................................................................................................................47
Consumo(C).......................................................................................................................48
Poupança(S).......................................................................................................................48
Investimento(I)...................................................................................................................48
Absorção Interna(AI).........................................................................................................48
Despesa Agregada..............................................................................................................49
7 – Identidades Macroeconômicas Fundamentais...................................................................49
PRODUTO = RENDA = DESPESA..................................................................................49
INVESTIMENTO = POUPANÇA.....................................................................................49
Déficit Publico....................................................................................................................50
8 - Diferentes Conceitos De Produto......................................................................................50
Produto Interno X Produto Nacional..................................................................................50
Produto Bruto X Produto Líquido......................................................................................50
Produto A Preços De Mercadopm X A Custos De Fatorescf..............................................50
9 - As Três Óticas Do PIB......................................................................................................51
Ótica do produto.................................................................................................................51
Ótica da renda....................................................................................................................51
Ótica da despesa.................................................................................................................51
10 - Balanço De Pagamentos..................................................................................................51
Conceito e Generalidades...................................................................................................51
Contabilização....................................................................................................................52
Estrutura Do Balanço De Pagamentos................................................................................52
Estrutura Do Balanço De Pagamentos
I – Microeconomia
1 – Demanda (Procura)
A demanda ou procura de um bem é simplesmente a quantidade deste bem que os
consumidores/compradores desejam adquirir a determinado preço, em determinado período de
tempo.
A quantidade demandada ou procurada de um bem varia inversamente em relação ao
seu preço. Em outras palavras, quanto mais caro está o bem, menos ele é demandado. Quanto
mais barato está o bem, mais ele é demandado. Esta é a milenar lei da demanda, e qualquer um
de nós quando vai ao mercado fazer compras aplica esta lei, ainda que implicitamente
Exceção à lei da demanda: existe um tipo de bem que não obedece à lei da demanda: é o
bem de Giffen. Para este bem, aumentos de preço geram aumentos de quantidade demandada e
reduções de preço geram redução de quantidade demandada. Então veja que as variáveis preço e
quantidade demandada caminham no mesmo sentido, indicando que a curva de demanda do
bem de Giffen terá inclinação positiva, direta, ascendente ou crescente. Como exemplo deste
tipo de bem, temos os bens de luxo, como jóias e carros esportivos, que geralmente têm seu
consumo relacionado ao status e poder aquisitivo do possuidor, que quer mostrar aos demais
que tem uma renda privilegiada. Desta forma, quanto mais caros estes bens, maior a procura.
Fatores que Afetam a demanda
A demanda de um bem depende de uma série de outros fatores que vão além
simplesmente do preço deste bem:
Renda do consumidor: na maioria das vezes, o aumento de renda provoca o aumento da
demanda.
Preços de outros bens: se o consumidor deseja adquirir arroz, ele também verificará o
preço do feijão, já que o consumo destes bens é associado. O mesmo ocorre com o preço do
DVD e do aparelho de DVD. Quando o consumo de um bem é associado ao consumo de outro
bem, dizemos que estes bens são complementares. De forma oposta, quando o consumo de um
bem substitui ou exclui o consumo de outro bem, dizemos que estes bens são substitutos ou
sucedâneos. É o que acontece, neste último caso, com a manteiga e a margarina, refrigerante e
suco, carne bovina e carne de frango, etc.
A demanda de um bem, portanto, depende não só dos vários fatores listados acima, mas,
sobretudo, da ação conjunta deles. Para que os economistas consigam analisar a influência de
uma variável na demanda, utiliza-se a suposição de que todas as outras variáveis permanecem
constantes. No jargão econômico é utilizado o termo coeteris paribus, que quer dizer: todo o
restante permanecendo constante.
Por exemplo, ao afirmamos que o aumento da renda, coeteris paribus, aumenta a
demanda de um bem, estamos afirmando que devemos considerar isoladamente o aumento de
renda na demanda. Esta observação é muito importante para questões de concursos públicos.
Assim, quando uma questão solicitar as implicações sobre a demanda oriundas de algum
acontecimento, deve-se raciocinar exclusivamente sobre aquele acontecimento em especial.
As razões pelas quais as elasticidades preço demanda variam de um bem para outro são
as mais variadas possíveis. Alfred Marshall, importante economista do século XIX, estabeleceu
as seguintes relações existentes entre os bens e suas respectivas elasticidades:
Quanto mais essencial o bem, mais inelástica (ou menos elástico) será a sua demanda: se o
bem for essencial para o consumidor, aumentos de preço irão provocar pouca redução de
demanda, ou seja, EPD será menor que 1. Imagine, por exemplo, a insulina – remédio para tratar
o diabetes. É evidente que se o preço deste bem aumentar não haverá muita variação na
demanda, pois é um bem essencial para aquelas pessoas que o consomem.
Quanto mais bens substitutos houver, mais elástica será a sua demanda: se o bem tiver
muitos substitutos, o aumento de seus preços fará com que os consumidores adquiram os bens
substitutos, desta forma, a diminuição das quantidades demandadas será grande. Imagine, por
exemplo, a margarina. Se o preço dela aumentar, naturalmente, as pessoas irão consumir mais
manteiga, de modo que a diminuição das quantidades demandadas de margarina será grande, ou
seja, há alta elasticidade em caso da existência de bens substitutos.
Quanto menor o peso do bem no orçamento, mais inelástico será a demanda do bem: uma
caneta das mais simples custa R$ 1,00 e pode durar bastante tempo (não para os concurseiros!).
Se seu preço aumentar para R$ 1,30, seu consumo não diminuirá significativamente, pois o
produto é muito barato, quase irrelevante no orçamento das famílias. Por outro lado, se o preço
dos automóveis aumentar 30%, haverá grande redução das quantidades demandadas.
No longo prazo, a elasticidade preço da demanda tende a ser mais elevada que no curto
prazo: um aumento de preços de determinado produto pode não causar significativas mudanças
nas quantidades demandadas, em curto prazo, pois os consumidores levam um tempo para se
ajustar ou para encontrar produtos substitutos. Por exemplo, se o preço do feijão aumentar, é
possível que no curto prazo não haja grandes variações na demanda; entretanto, no longo prazo,
as donas de casa já terão desenvolvido novas receitas que não usem mais o feijão ou descoberto
produtos substitutos (a lentilha, por exemplo). Desta forma, no longo prazo, o ΔQ será bem
maior, indicando maiores elasticidades no longo prazo.
Elasticidade Renda da Demanda (E R D )
A elasticidade renda da demanda mede a sensibilidade da demanda a mudanças de
renda. Ela indica a variação percentual da quantidade demandada de um bem em função da
variação percentual de 1% na renda. De modo menos técnico e mais prático, é a variação
percentual da demanda de um bem em função da variação percentual dos preços. Assim, temos:
ERD=%∆Q%∆R
Se ERD > 0, então o bem é normal;
Se ERD < 0, então o bem é inferior.
Ainda em relação aos bens normais, dependendo do valor do coeficiente da elasticidade
renda, podemos chegar a outras conclusões.
Se ERD>1, isto significa que o aumento de renda provoca um aumento na demanda mais
que proporcional ao aumento na renda. Em outras palavras, o aumento na demanda é
percentualmente maior que o aumento na renda.
Se ERD<1 (e maior que ZERO), isto significa que o aumento de renda provoca um
aumento na demanda percentualmente menor que o aumento da renda. Se ERD=1, isto significa
que a demanda por esse bem tem elasticidade unitária à renda. Ou ainda, o bem tem
elasticidade-renda unitária, o que é a mesma coisa dita de outra maneira.
Se ERD<0, isto significa que o aumento de renda provoca redução na demanda do bem.
Neste caso, dizemos que o bem tem elasticidade renda da demanda negativa. Estes bens são
chamados de bens inferiores. É o caso, por exemplo, de produtos de baixa qualidade ou valor
agregado.
Temos, ainda, finalizando, o caso da elasticidade renda igual a ZERO (ERD=0). No caso
do coeficiente da elasticidade ser nulo, diz-se que demanda é perfeitamente inelástica
(anelástica) à renda. Isto é, a demanda permanece constante, independente de qualquer
alteração na renda do consumidor. Estes bens são chamados de bens de consumo saciado.
Temos, como exemplo mais próximo dessa situação, o sal de cozinha.
Elasticidade-Preço Cruzada da Demanda (E x y )
A quantidade demandada de uma particular mercadoria é afetada não somente pelo seu
preço, mas também pelo preço dos bens relacionados a ela. Se os bens estão relacionados, então
eles são classificados como substitutos ou complementares. A mudança no preço de um bem,
caso ele seja substituto ou complementar, pode afetar a quantidade demandada de outro bem.
A elasticidade-preço cruzada da demanda mede o efeito que a mudança no preço de um
produto provoca na quantidade demandada de outro produto, coeteris paribus. Se tivermos dois
bens, X e Y, a elasticidade-preço cruzada da demanda será:
Exy=%∆Qx%∆Py
No caso acima, estamos mensurando qual o efeito que variações no preço de Y
provocam nas quantidades demandadas de X. Embora pareça confuso, lembre-se de que todas
as fórmulas das elasticidades têm como numerador a variação percentual de quantidades e, no
denominador, a variação percentual do fator (neste caso, é o preço de outro bem – o preço de Y)
que provoca alteração nas quantidades.
De acordo com o sinal do coeficiente, os bens podem ser classificados em substitutos,
complementares e independentes:
a) EXY > 0, bens substitutos
b) EXY < 0, bens complementares
c) EXY = 0, bens independentes
Elasticidade Preço da Oferta (E P O )
Aqui, o raciocínio é semelhante (na verdade, quase igual!) àquele feito na análise da
elasticidade preço da demanda. A diferença é que a elasticidade preço da oferta mede a
sensibilidade da quantidade ofertada em resposta a mudanças de preço. A fórmula é a mesma,
com a ressalva de que no numerador temos, em vez de as quantidades demandadas, as
quantidades ofertadas. Assim:
EPO=%∆QO%∆P
Assim como na demanda, a oferta tende a ser mais elástica no longo prazo. Caso haja
alguma alteração de preços, no curto/curtíssimo prazo, nem sempre é possível aos produtores
ajustarem a oferta dos produtos. Na agricultura, por exemplo, os fazendeiros podem esperar até
um ano ou mais para ajustar a quantidade ofertada de seus produtos agrícolas, em virtude das
épocas de plantio, colheita e venda. Assim, durante esse curto intervalo de tempo em que não é
possível ajustar a oferta, ela será inelástica.
Em longo prazo, a resposta em quantidade ofertada para uma alteração de preços é
maior, porque em período mais longo os produtores podem variar os seus recursos produtivos,
aumentando/diminuindo a produção conforme a necessidade. Logo, concluímos que quanto
maior for o período de tempo, maior deverá ser a elasticidade da oferta.
5 – Teoria da Produção
Fatores de Produção
Para produzir os bens e serviços de que a sociedade dispõe para o seu consumo, as
firmas utilizam vários recursos ou insumos. Elas utilizam matéria-prima, mão-de-obra,
máquinas, ferramentas, tecnologia, etc. O conjunto destes recursos que as empresas utilizam na
produção é chamado de fatores de produção. Dentro do nosso estudo, trabalharemos com
apenas três destes fatores de produção:
Capital;
Mão-de-obra e
Tecnologia.
Isoquantas
Na figura abaixo, temos um diagrama que contém os dois fatores de produção que
determinam a produção: capital e mão-de-obra. No eixo das abscissas (eixo horizontal) temos a
quantidade de mão-de-obra expressa em quantidade de trabalhadores. No eixo das ordenadas,
temos a quantidade de capital expressa em unidades físicas (número de máquinas).
Considere a curva convexa Q1=100. Ao longo desta curva, cada combinação de mão-
de-obra (L) e capital (K) produz 100 unidades de produção. Em outras palavras, as combinações
de capital e mão-de-obra nos pontos A (LA, KA), ponto B (LB, KB) e ponto C (LC, KC) geram as
mesmas 100 unidades de produção. Como todos os pontos ao longo da curva Q1=100 geram a
mesma produção, essa curva é chamada de isoquanta (iso=igual; quanta=quantidade).
O declínio no capital permitido por um aumento dado na mão-de-obra a fim de que a produção
mantenha-se constante é chamado de taxa marginal de substituição técnica (TMgST) entre
capital e mão-de-obra. Algebricamente, a TMgST pode ser definida como:
TMgSTK,L = ΔKΔL com a produção (Q) constante
Veja que a TMgST será sempre negativa. Isto porque o numerador ΔK (KFINAL –
KINICIAL) é sempre negativo quando caminhamos da esquerda para a direita na curva. Se
caminharmos da direita para a esquerda, o ΔL (LFINAL – LINICIAL) será sempre negativo. Assim,
a TMgST é negativa.
Perceba também que a TMgST é decrescente. Do ponto A ao B, temos uma TMgST
certamente maior que 1 (ΔK > ΔL). Do ponto D ao E, entretanto, temos um TMgST certamente
menor que 1 (ΔK < ΔL).
Isto acontece porque, quando o capital é intensivamente empregado (ponto A), os
poucos trabalhadores remanescentes efetuam trabalhos mais difíceis e importantes. Neste ponto
é necessário muito capital para substituir um trabalhador. Quando a mão-de-obra é intensiva, e o
capital não é muito prevalecente (ponto E), qualquer capital adicional substituirá muita mão-de-
obra.
Linhas de isocustos
A linha de isocustos é uma reta sobre a qual os custos da firma são constantes para
diversas combinações de capital e mão-de-obra. Suponha uma firma que pague aos seus
funcionários o salário de $10 e tenha unidades de capital no valor de $20. O custo do
trabalhador é, portanto, W=10 (usa-se W devido ao termo em inglês Wage=salário) e o custo do
capital é C=20. Veja as linhas de isocustos abaixo, supondo custos totais da firma nos valores de
$1000, $1500 e $2000:
Todas as linhas de isocustos possuem uma equação que as representa. Esta equação
possui o seguinte formato:
CT = W.L + C.K
CT é o custo total. L é quantidade de trabalhadores. W é o salário (preço/custo da mão-de-
obra). C é o custo da unidade de capital. K é a quantidade de capital. Vejamos quais as
equações das linhas de isocustos AA’, BB’, CC’:
Isocustos AA’: 1000 = 10L + 20K 20k = 1000 – 10L K = 50 – ½.L
Isocustos BB’: 1500 = 10L + 20K 20K = 1500 – 10L K = 75 – ½.L
Isocustos CC’: 2000 = 10L + 20K 20K = 2000 – 10L K = 100 – ½.L
Podemos concluir que a inclinação da linha de isocustos é dada por W/C (é a razão
entre os preços da mão-de-obra e capital). Como em nosso exemplo o preço da mão-de-obra é
$10 e o preço do capital é $20, a inclinação será $10/$20 = ½.
Ótimo da Firma
Supondo um nível de produção Q1 da firma, ela maximizará seus lucros quando, a este
nível de produção, minimizar os custos totais. Assim, a condição de maximização de lucros, a
este nível de produção que está sendo suposto, acontecerá quando a isoquanta que contém este
nível de produção Q1 tocar a linha de isocustos mais baixa possível.
Ao nível de produção Q1, a firma maximizará os lucros no ponto X, que é o ponto em
que a isoquanta Q1 raspa, toca ou tangencia a linha de isocustos BB’. Veja que nos pontos Y e
Z, ao mesmo nível de produção (mesma isoquanta), os custos totais são de $2000. Por outro
lado, mantendo o nível de produção, não é possível produzir Q1 a custos totais de $1000, pois a
isoquanta Q1 não toca a linha de isocustos de $1000, sendo impossível produzir Q1 a custos de
$1000.
No ponto X, a inclinação da isoquanta é igual à inclinação da linha de isocustos. Assim,
basta igualarmos os termos que determinam a inclinação de ambas. Esta igualdade nos dará o
ótimo da firma supondo o nível de produção Q1 e os preços da mão-de-obra e capital $10 e $20,
respectivamente:
Mas veja que podemos manipular o ΔK/ΔL, de forma que, ainda assim, manteremos a
igualdade:
6 – Teoria do Consumidor
COMO AGE O CONSUMIDOR: LUCROS X UTILIDADE
Imaginemos que o prazer ou a satisfação percebidos pelo consumidor, ao comprarem,
possam ser medidos, e chamemos essa medida de “utilidade”. Pois bem, é essa tal de utilidade
que os consumidores buscam quando tomam suas decisões de consumo.
UTILIDADE E UTILIDADE MARGINAL
Quanto mais se consome de um bem, maior é a utilidade total. Ao mesmo tempo,
quanto mais se consome de um bem, menor é o acréscimo de utilidade. Daí, surge o conceito de
utilidade marginal, que segue o mesmo raciocínio do conceito de produto marginal, já visto na
teoria na produção:
Utilidade marginal (Umg): é o acréscimo de utilidade (U) em virtude do acréscimo de
uma unidade de consumo (C) de um bem qualquer. De forma matemática: Umg=ΔU/ΔC
Assim como os produtos marginais estudados na teoria da produção eram decrescentes,
a utilidade marginal também é. Na teoria da produção, o acréscimo na produção total ia
diminuindo à medida que se acrescentava mão-de-obra ou capital. Na teoria do consumidor, a
lógica é a mesma: o acréscimo na utilidade total vai diminuindo à medida que se aumenta o
consumo.
Na teoria da produção, vimos que isso acontecia devido à lei dos rendimentos marginais
decrescentes, que, naquele caso, poderia também ser chamada de lei da produtividade marginal
decrescente. Neste caso, podemos chamá-la de lei da utilidade marginal decrescente: à
medida que aumentamos o consumo de determinada mercadoria, a utilidade marginal
dessa mercadoria diminui.
Então, ficamos assim:
Quanto mais consumo de um bem, mais utilidade (total);
Quanto mais consumo de um bem, menor a utilidade marginal.
O raciocínio é intuitivo: ao consumirmos mais e mais de um bem, estaremos
aumentando a utilidade total. Ao mesmo tempo, estaremos decrescendo o valor da utilidade
marginal. Quando esta atingir o valor NULO, se continuarmos a aumentar o consumo, a
utilidade marginal passará a assumir valores negativos. Neste caso, o aumento de consumo
reduzirá a utilidade total. Assim, o momento em que a utilidade é máxima acaba sendo
quando a utilidade marginal é NULA.
Preferências
A teoria do comportamento do consumidor inicia-se com três premissas básicas a
respeito das preferências das pessoas por determinada cesta1 de mercado em relação a outra:
1. Integralidade ou exaustividade: as preferências são completas. Isso quer dizer que
os consumidores podem comparar e ordenar todas as cestas de mercado. Assim, para quaisquer
cestas que existam, o consumidor é capaz de ordená-las em uma ordem de preferência e dizer se
ele prefere uma ou outra ou, ainda, se ele é indiferente a qualquer uma delas em relação à outra.
2. Transitividade: as preferências são transitivas. Transitividade quer dizer que, se um
consumidor prefere a cesta de mercado A à cesta B e prefere B a C, então ele também prefere A
à C. Por exemplo, se ele prefere picanha a alcatra e prefere alcatra a coxão duro, também prefere
picanha a coxão duro.
3. Quanto mais melhor: a maior quantidade de um bem é sempre preferível à menor
quantidade do mesmo. Este princípio também é chamado de princípio da não saciedade.
Assim podemos definir curva de indiferença: é uma curva que liga as várias
combinações de consumo de vestuário e alimentos que proporcionam igual utilidade. (a
expressão curva de indiferença deriva do fato de que cada ponto na curva rende a mesma
utilidade, logo, o consumidor será indiferente sobre qualquer combinação ao longo da curva).
Propriedades da Curva de Indiferença
1. Curvas mais altas são preferíveis - O nível de utilidade U2 representa mais satisfação que o
nível U1, pois para a mesma quantidade de alimentos, o vestuário é maior em U2. Assim, quanto
mais alta a curva, melhor. Em virtude disto, qualquer ponto na curva U2 será,
obrigatoriamente, preferível a qualquer outro da curva U1. Conseqüentemente, qualquer curva
de indiferença mais alta que U2 também será preferível a U2, e assim por diante.
Todas as linhas de orçamento possuem uma equação que as representa. Esta equação possui o
seguinte formato, lembrando que estamos exemplificando com alimento e vestuário:
Daí, podemos concluir que a inclinação da linha de orçamento é dada por PA/PV (razão
entre os preços do alimento e do vestuário). Como em nosso exemplo o preço do alimento é
R$10 e o preço do vestuário é R$20, a inclinação será 10/20 = ½.
Como decorrência dessa conclusão de que a inclinação da linha de orçamento é dada
pela razão dos preços dos bens que constituem a cesta de mercado, chegamos à outra importante
verificação: caso o preço de algum bem da cesta mude, haverá mudança na inclinação da
linha de orçamento.
8 – Eficiência Econômica
EFICIÊNCIA DE PARETO
Suponhamos que duas mercadorias estejam inicialmente alocadas de forma que ambos
os consumidores possam aumentar o seu bem-estar (a sua utilidade) se fizerem trocas entre si.
Isso significa que a distribuição inicial das mercadorias é ineficiente economicamente. Em uma
distribuição eficiente, ninguém consegue melhorar seu bem-estar/utilidade sem reduzir o
bem-estar de outra pessoa. Esta situação é denominada de eficiência de Pareto
É importante também não confundir o termo eficiência de Pareto com melhoria de
Pareto. A melhoria de Pareto é uma troca, em alocação ineficiente, que objetiva atingir a
eficiência de Pareto. Exemplificando: se pudermos encontrar uma forma de melhorar a situação
de uma pessoa sem piorar a de nenhuma outra (ou seja, não temos eficiência de Pareto), teremos
uma melhoria de Pareto. Se uma alocação permite uma melhoria de Pareto, diz-se que ela é
ineficiente no sentido de Pareto, se a alocação não permite nenhuma melhoria de Pareto, então
ela é eficiente no sentido de Pareto.
EFICIÊNCIA NAS TROCAS
Sempre que as TMgSs de dois consumidores forem diferentes, há possibilidade de
trocas mutuamente benéficas, pois elas mostram que a distribuição dos recursos não é
eficiente - logo, é possível alterar a distribuição inicial de mercadorias e fazer com que os dois
consumidores melhorem seu bem-estar. Por outro lado, se formos sucessivamente realizando
trocas mutuamente benéficas até o momento em que a eficiência econômica seja alcançada,
haverá uma hora em que as TMgSs dos dois consumidores serão iguais. Neste momento (em
que a eficiência econômica foi atingida), é impossível realizar trocas mutuamente vantajosas.
Vale ainda ressaltar que este resultado é válido também para situações em que há muitas
mercadorias e muitos consumidores. Assim, a eficiência nas trocas ou, em outras palavras,
uma distribuição de mercadorias é eficiente quando elas são alocadas de tal forma que a
taxa marginal de substituição entre qualquer par de mercadorias seja a mesma para todos
os consumidores. Assim, a igualdade nas TMgSs é condição obrigatória para a ocorrência
do ótimo de Pareto
Equidade e Eficiência
Para a alocação ser eficiente economicamente não é necessário que ela seja justa. Do
ponto de vista econômico o conceito de eficiência econômica não leva em conta aspectos
equitativos. A eficiência de Pareto não leva em conta aspectos distributivos.
EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO
Uma determinada alocação de insumos para o processo produtivo é considerada
eficiente se a produção de uma mercadoria não puder ser aumentada sem que ocorra uma
diminuição na quantidade produzida da outra mercadoria.
Uma alocação eficiente na produção ocorrerá quando as inclinações de cada par de
isoquantas forem iguais. Ou seja, quando as taxas marginais de substituição técnica (TMgST)
entre trabalho e capital forem iguais.
Na eficiência nas trocas, a linha que continha as alocações eficientes era chamada de
curva de contrato. Na eficiência na produção, a linha que contém as alocações eficientes, onde
as TMgSTs são iguais para cada par de isoquantas, é chamada de curva de contrato de
produção.
A FPP, ao contrário das curvas de indiferença e das isoquantas, é côncava (curvada para
dentro). Isto acontece porque a sua inclinação aumenta em magnitude à medida que se produz
mais alimento. Observe que a inclinação da FPP é maior no ponto D do que no ponto C. por sua
vez, é maior no ponto 0A do que no ponto D. Para descrevermos esse fato, definimos a taxa
marginal de transformação (TMgT) de vestuário por alimento como a própria inclinação
da fronteira em cada um de seus pontos. Algebricamente a TMgT é definida como ΔV/ΔA.
EFICIÊNCIA NA SUBSTITUIÇÃO
Vimos que a taxa marginal de substituição (TMgS) de alimento por vestuário mede a
disposição que o consumidor tem de adquirir menos vestuário para adquirir uma unidade
adicional de alimento. Vimos também que a taxa marginal de transformação (TMgT) mede o
custo de uma unidade adicional de alimento em termos da menos produção de vestuário (custo
de oportunidade). Uma economia estará produzindo eficientemente apenas se, para cada
consumidor:
TMgS = TMgT
A figura abaixo mostra graficamente essa condição de eficiência. Colocamos no mesmo
gráfico as curvas de indiferença do consumidor e as fronteiras de possibilidades de produção.
Isso foi possível porque temos nos eixo das abscissas (horizontal) e no eixo das ordenadas
(vertical) as mesmas variáveis: unidades de vestuário e unidades de alimento (produzidas, no
caso da FPP, ou consumidas, no caso da curva de indiferença). A eficiência será atingida, dentro
das possibilidades de produção existentes (dentro da FPP, portanto), quando a satisfação do
consumidor for maximizada. Ou seja, a eficiência ocorre no ponto onde a curva de indiferença
mais alta possível tangencia a FPP, que, neste caso, cumpre papel semelhante àquele
desempenhado pela reta de restrição orçamentária, funcionando como um limite para a utilidade
do consumidor.
PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE
O princípio da neutralidade diz que os impactos gerados pelo ônus tributário não devem
alterar, ou intervir o mínimo possível, a alocação de recursos na economia. Como os preços são
a melhor forma de se estabelecer a alocação de recursos em uma economia, podemos concluir
que o impacto da tributação sobre os preços dos bens e serviços deve ser neutro, ou seja, a
relação de preços existente entre os diversos bens deve-se manter igual. Em outras palavras, e
de um modo mais técnico, o princípio da neutralidade não deve interferir ou distorcer os preços
relativos (preço de um produto em relação aos outros) dos bens e serviços.
Para clarear, veja o seguinte exemplo: antes da incidência da tributação, o preço do kilo
de picanha custava R$ 30,00 e o kilo de coxão duro custava R$ 7,50. Com isso, o preço relativo
entre picanha e coxão duro era 0,25 (7,5/30=1/4).
Para que seja mantida a neutralidade tributária, a incidência da tributação sobre a
picanha deve ser igual aos outros tipos de carne (o coxão duro, por exemplo). Imaginemos o
caso de um aumento de cerca de 10% na tributação para todos os bens. O preço do kilo de
picanha passa a custar R$ 33,00 e do kilo de coxão duro, R$ 8,25. Veja que foi obedecido o
princípio da neutralidade, pois o preço relativo dos bens não foi distorcido, continuou com o
mesmo valor de 0,25 (8,25/33=1/4).
Se o governo, por outro lado, decidisse não tributar a picanha para tornar o seu consumo
mais acessível às classes mais pobres e, ao mesmo tempo, tributar o coxão duro, haveria
mudança nos preços relativos. A picanha continuaria custando R$ 30,00 o kilo, enquanto o
coxão dura custaria R$ 8,25. O preço relativo seria 0,275. Ou seja, a tributação neste caso,
interveio na alocação de recursos. Não podemos dizer, nesta última situação, que o objetivo da
neutralidade foi plenamente atendido.
PRINCÍPIO DA EQUIDADE
O princípio da equidade tem por objetivo a garantia de uma distribuição eqüitativa do
ônus tributário pelos indivíduos (“justiça fiscal”).
Este princípio pode ser dividido em dois outros (sub) princípios:
• Princípio da capacidade contributiva: a repartição tributária deveria ser baseada na
capacidade individual de contribuição.
• Princípio do benefício: o ônus tributário deveria ser repartido entre os indivíduos de acordo
com o benefício que cada um recebe em relação aos bens e serviços prestados pelo governo.
A partir de agora, vejamos cada um deles:
Princípio da capacidade contributiva
Também chamado de princípio da capacidade de pagamento ou, ainda, princípio da
habilidade de pagamento, ele nos afirma que os impostos devem ser cobrados de acordo com a
capacidade que as pessoas têm de suportar o encargo.
Esse princípio é justificado pelo argumento de que todos os cidadãos devem fazer o
mesmo sacrifício para sustentar o governo. Isso significa que R$ 100,00 é mais importante para
um indivíduo pobre do que para um rico. Dado esse fato, se um indivíduo pobre e um rico
pagam um mesmo montante de tributos, eles não fizeram o mesmo sacrifício. Assim, devido à
capacidade de pagamento, o indivíduo pobre teve um sacrifício superior ao do rico.
Para evitar esse tipo de injustiça, utilizamos dois mecanismos de tributação que têm por
objetivo igualar o sacrifício dos cidadãos: a equidade horizontal e a equidade vertical.
A equidade horizontal significa que os indivíduos com iguais capacidades devem
pagar o mesmo montante de tributos. Sua implementação é relativamente fácil, já que as
pessoas com o mesmo nível de renda (mesma capacidade de pagamento) devem, em princípio,
dar igual contribuição tributária.
A equidade vertical significa que indivíduos com diferentes habilidades devem pagar
tributos em montantes diferenciados. Quem pode pagar mais, de fato, deve pagar mais. É o
tratamento desigual para desiguais. Vale destacar que esses montantes a que nos referimos são
em valores percentuais. Por exemplo, um sujeito que ganha R$ 1.000,00 deve pagar uma parte
menor de sua renda que outro sujeito que ganha R$ 10.000,00. Se o primeiro paga R$ 200,00 de
impostos (20% de sua renda) e o segundo paga R$ 2.000,00 (20% da renda), não estaremos
obedecendo à equidade vertical, mas, sim, à equidade horizontal, pois os dois sujeitos estarão
pagando o mesmo montante (mesmo percentual de suas rendas). Assim, para que a equidade
vertical seja obedecida, quem ganha mais, deve contribuir com um percentual maior de sua
renda.
PRINCÍPIO DO BENEFÍCIO
Este princípio afirma que as pessoas devem pagar impostos com base nos benefícios
que obtêm dos serviços do governo. Quanto maior o benefício, maior seria a contribuição e
vice-versa.
Algumas pessoas argumentariam que esse princípio é mais justo porque evitaria a
situação na qual um indivíduo pagaria indiretamente pelo benefício de outra pessoa. Outras
pessoas argumentam que esse princípio é mais eficiente porque ele funciona como no sistema
de mercado livre, onde cada indivíduo paga de acordo com os benefícios que recebe ao adquirir
determinados bens e serviços.
Baseado nestes argumentos, teríamos que, quanto maior fosse o benefício, maior seria o
nível de consumo e, por conseguinte, o preço a ser pago. Ainda nesta forma de análise,
argumenta-se que se o pagamento dos tributos não fosse feito com base no princípio do
benefício, o resultado seria o desperdício, porque a tendência seria a superutilização dos
serviços, levando à ineficiência e/ou desperdício.
Devido a dificuldade de mensurar o quanto cada cidadão usufrui de bens públicos, fica claro
que o mecanismo da tributação baseado apenas no princípio do benefício seria ineficiente.
Logo, a alternativa de se estabelecer um sistema de tributação mais eficiente mostra a
necessidade de se buscar outro mecanismo que, associado ao princípio do benefício, torne a
estrutura de tributação menos ineficiente e mais justa.
A CURVA DE LAFFER
A chamada Curva de Laffer, formulada por Arthur Laffer (economista da escola
monetarista), mostra a relação entre os distintos níveis de tributação de certo impostos com a
respectiva receita arrecadada pelo governo. A conclusão a que se chega é que quando o nível
dos impostos passa de um certo limite, a arrecadação do governo começa a cair em vez de
aumentar.
A representação gráfica desta formulação teórica, conhecida como Curva de Laffer, tem
a forma de uma meia-lua voltada para baixo. O eixo horizontal, x, representa a carga de tributos
e o eixo vertical, y, representa a arrecadação do governo. Com a alíquota zero, a arrecadação,
naturalmente, é nula. À medida que a alíquota é aumentada e o que o governo recebe dos
cidadãos e das empresas é crescente até atingir o nível de arrecadação ótima (T*). Desse ponto
em diante, à medida que o governo continua aumentando a alíquota do imposto, a receita cai até
chegar a zero com o imposto de 100%.
Ou seja, o que nos diz a curva de Laffer é que, às vezes, o aumento desenfreado dos
impostos pode reduzir a arrecadação. Isto ocorre porque a tributação excessiva provoca
sonegação fiscal, fuga do consumo e desestímulo à produção. Estes três fatores provocam
redução da arrecadação fiscal.
REPARTIÇÃO DO ÔNUS TRIBUTÁRIO
SUBSÍDIOS
Em primeiro lugar, podemos definir o subsídio como sendo o imposto ao contrário, ou
ainda, como um imposto negativo. Quando o governo quer estimular a produção de determinada
mercadoria ou serviço que seja essencial ao desenvolvimento do país ou à população em geral,
ele pode conceder subsídios aos produtores destas mercadorias e, assim, aumentar a oferta
destes bens.
Na prática, existindo o subsídio, o preço líquido recebido pelo vendedor será maior que
o preço de equilíbrio do mercado. Ao mesmo tempo, o preço pago pelo comprador é menor que
o preço de equilíbrio. Ou seja, temos uma situação inversa à imposição de um imposto: o preço
líquido recebido pelo vendedor excede o preço pago pelo comprador. Como o consumidor paga
menos e o produtor recebe mais, a quantidade produzida também será maior que aquela
verificada no mercado em equilíbrio.
O valor a maior recebido pelos produtores somado ao valor a menor pago pelos
compradores é exatamente o valor do subsídio governamental. Ou ainda, o subsídio é igual à
diferença entre o recebido pelos vendedores e o pago pelos compradores (S=PV – PC).
Por ocasião da imposição de impostos, aquele grupo mais inelástico arcava com a maior
parte do ônus tributário. Quando há um subsídio, o raciocínio é parecido: o grupo mais
inelástico desfruta da maior parte do benefício do subsídio. Assim, se os consumidores
forem mais inelásticos que os vendedores, o benefício do subsídio recairá mais fortemente sobre
estes compradores. Se os vendedores forem mais inelásticos, sobre eles recairá a maior parte do
benefício.
É possível concluir que há uma ineficiência também do subsídio, pois uma parte dos
gastos do governo em subsídios é desperdiçada: não vai nem para o excedente do consumidor,
nem para o excedente do produtor. Ademais, da mesma maneira que ocorre no caso dos
impostos, quanto mais elásticas forem a demanda/oferta, maior será o peso morto do
subsídio. Quanto mais inelástica a demanda/oferta, menor será o peso morto.
Imagine o mercado de um bem qualquer que está representado na figura acima por meio
de suas curvas de demanda e oferta. Sem importações, o mercado interno está em equilíbrio em
PE e QE. Entretanto, como o preço mundial do bem, PM, situa-se abaixo de PE, o preço do bem no
mercado interno passará a ser PM, já que os produtores internos serão obrigados a igualar o
preço interno ao externo, caso queiram vender algum produto (estamos considerando
primeiramente que o mercado está sob livro comércio). Assim, internamente, o preço do bem
será PM.
Esta redução no preço do bem fará com que a demanda de produtos aumente de QE para
QD. Ao mesmo tempo, a oferta será reduzida de QE para QO. A princípio, pode parecer que
haverá escassez (excesso de quantidade demandada sobre a quantidade ofertada), mas essa falta
de produtos no mercado interno será suprida pelos produtos importados. Assim, o segmento
QDQO representará as importações do produto.
Vamos supor agora que o governo limite as importações, ou melhor, simplesmente as
proíba, de modo que haja a imposição de uma quota de importação igual a zero. Não sendo
permitido importar qualquer produto, o preço interno subirá para PE. Assim, haverá redução na
quantidade demandada (de QD para QE) e aumento na quantidade ofertada (de QO para QE).
Os consumidores que ainda adquirem a mercadoria (em QE) pagarão mais e sofrerão
uma perda de excedente representada pela soma das áreas: A+B+C. Para os produtores,
entretanto, a situação é diferente, pois haverá aumento de seu excedente, representado pela área
A. Neste caso, a perda de excedente dos consumidores (A+B+C) supera o ganho de excedente
do produtor (A). A área B+C representa o peso morto da cota de importação.
Neste caso, nós vimos que o governo impôs uma quota de importação que proibiu
qualquer importação. Isso também poderia ser feito mediante a imposição de uma tarifa elevada,
por exemplo, uma tarifa maior que a diferença PE–PM. Caso uma tarifa torne o preço do bem
importado acima de PE, naturalmente, não haverá qualquer importação deste bem, sem a
necessidade do uso de quotas.
Tarifas
Hoje, o uso de tarifas é mais comum no comércio internacional entre os países. A
vantagem da tarifa em relação às quotas de importação está na receita que o governo aufere.
Vejamos o caso da imposição de uma tarifa que torne o preço da mercadoria entre o
valor do preço mundial, PM, e o preço de equilíbrio caso não houvesse importações, PE. Se
estivermos em um mercado sob livre comércio (o preço do produto no mercado interno é PM), a
imposição de uma tarifa T elevará o preço do produto para P* (que é a soma do preço mundial
com o valor da tarifa de importação).
A elevação de preço (PM para P*) fará aumentar a produção interna (QO para Q’O), ao
mesmo tempo em que haverá queda no consumo (QD para Q’D). Haverá um excesso de
quantidade demanda (Q’D) sobre a quantidade ofertada (Q’O). Esta escassez de produtos será
suprida pelos produtos importados (segmento Q’OQ’D). Assim, a receita do governo será a área
D (multiplicação do segmento Q’OQ’D pela tarifa T).
A imposição desta tarifa provocará uma redução no excedente do consumidor,
representada pela soma: A+B+C+D. O excedente do produtor será aumentado pelo trapézio da
área A. A receita auferida pelo governo é representada pela área D. Fazendo os cálculos,
verificamos que as áreas B+C são o peso morto da tarifa. Em outras palavras, as perdas
impostas aos consumidores não foi compensada pelo ganho dos produtores e do governo,
havendo, portanto, um peso morto.
PREÇOS MÁXIMOS
Vamos supor que o governo imponha aos produtores um teto máximo de preços. Em
primeiro lugar, devemos ter em mente que a imposição de preços máximos sempre é feita em
um nível de preços abaixo do equilíbrio, caso contrário ele não teria sentido.
Ao impor um preço máximo (abaixo do equilíbrio), haverá aumento na quantidade
demandada do bem (QE para Q2) e uma redução na produção (QE para Q1). Logo, haverá uma
espécie de escassez (excesso de demanda). Vejamos o efeito dessa política, por meio da figura
onde podemos visualizar o preço máximo PMÁX.
FALHAS DE MERCADO
Externalidades
As transações entre produtores e consumidores exercem efeitos incidentes sobre outras
pessoas (terceiros). Esses efeitos, que podem ser positivos ou negativos, escapam ao mecanismo
de preços. Esses efeitos, não refletidos nos preços, são conhecidos por “efeitos externos” ou
“externalidades”.
Tecnicamente, ocorre uma externalidade quando os custos sociais (CS) são diferentes
dos custos privados (CP), ou quando os benefícios sociais (BS) são diferentes dos benefícios
privados (BP).
Bens públicos
Os bens públicos são aqueles não rivais e não exclusivos (não excludentes).
A não rivalidade é o mesmo que dizer que o bem é indivisível ou não disputável.
Explicando melhor: o seu consumo por parte de um indivíduo ou de um grupo social não
prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Assim, o maior
consumo de um bem público por parte de alguém não significa redução no consumo deste
mesmo bem por parte de outra pessoa. Temos como exemplo a iluminação pública, o
asfaltamento das ruas, a justiça, a segurança pública e a defesa nacional, etc.
A não exclusividade refere-se à impossibilidade de excluir as pessoas do consumo dos
bens públicos. É difícil (ou até mesmo impossível) impedir que um determinado indivíduo
usufrua de um bem público. Por exemplo, se o governo iluminar uma rua pública, todos os
moradores dessa rua (mais os que eventualmente passarem por lá), sem que possa distinguir um
indivíduo de outro, serão beneficiados pela disponibilização deste bem público.
Vale destacar que os bens públicos, diferentemente dos bens privados, são bancados por
toda a coletividade, por meio dos impostos. A falha de mercado que existe na produção dos
bens públicos decorre do fato de que é impossível determinar o real benefício que cada
indivíduo desfrutará do seu consumo, logo, é inviável determinar de forma totalmente justa o
“preço” (imposto) que cada um pagará.
Os bens de que tratamos até agora (segurança nacional, iluminação pública, etc), na
verdade, são os bens públicos puros. Isto é são os bens que são não rivais E não exclusivos.
Mas pode haver casos em que um bem é somente não rival ou somente não exclusivo. Nestes
casos, esses bens serão chamados de bens semi-públicos (quase-público), que são bens que
possuem parte das características dos bens públicos. Também chamados de bens meritórios.
Poder de mercado
A existência de produtores e consumidores atomizados (todos são pequenos em relação
ao mercado, de forma que qualquer um será um tomador de preço do mercado) nem sempre é
possível. Aliás, esta característica, que é inerente aos mercados competitivos, não é comum no
mundo em que vivemos. O que há, em geral, são mercados não competitivos, como o
monopólio e o oligopólio.
Essas estruturas de mercado fazem a produção ser menor e o preço maior que aquele
verificado na concorrência perfeita, o que certamente prejudica um grande número de
consumidores em detrimento da maximização de lucros de uma pequena parcela da sociedade.
Nesse sentido, é papel do governo limitar o poder de mercado das firmas, por meio da regulação
de mercados.
FUNÇÕES DO GOVERNO
Depois de vermos todas essas falhas de mercado, estamos convencidos de que, na
presença destas falhas, a intervenção do governo faz-se necessária em busca da eficiência
econômica. Veremos neste momento, de forma mais abrangente, as funções do governo. Logo
de início podemos apresentar as quatros funções básicas do governo na economia, para depois
comentá-las em detalhes:
• Função alocativa – ajuste na alocação de recursos;
• Função distributiva – distribuir a renda visando à equidade;
• Função estabilizadora – garantir estabilidade à economia; e
• Função reguladora – regular os mercados.
Função alocativa
A função alocativa diz respeito a ajustamentos na alocação de recursos necessários e
almejados pela sociedade, mas que, no entanto, não são providos pela iniciativa privada.
Por meio do sistema de preços, o mercado atua visando estritamente às necessidades
privadas. Assim, o Estado necessita intervir com o intuito de promover ajustes e alocar os
recursos na produção e oferta de bens que objetivem o atendimento das necessidades da
coletividade. Em outras palavras, o governo, em sua função alocativa, produz bens públicos
e semi-públicos (meritórios) a fim de corrigir as imperfeições nas alocações existentes e
promover uma alocação mais eficiente.
Vale ainda ressaltar que a forma utilizada pelo governo no exercício da sua função
alocativa, visando à eficiente alocação dos recursos, poderá ocorrer pela produção direta dos
produtos e serviços pelo setor público ou via mecanismos que propiciem as condições para que
sejam viabilizados pelo setor privado (por meio de isenção de impostos, subsídios, etc).
Função distributiva
Diz respeito a mecanismos para buscar um nível de distribuição de riqueza ideal,
baseado em crenças, valores e premissas que determinem essa distribuição, de acordo com a
cultura de cada sociedade.
O instrumento mais utilizado e mais famoso de distribuição é o sistema de tributos e
transferências, especialmente os tributos progressivos. Além disso, o Estado poderá utilizar-se
de outros expedientes como a política de subsídios, salário mínimo, proteção tarifária, renúncia
fiscal, entre outros. Recentemente, o programa Bolsa família é o exemplo mais clássico de
política de distribuição de renda.
Função estabilizadora
Destina-se ao atingimento e/ou manutenção da estabilidade econômica. Para isso, o
governo utiliza instrumentos de política macroeconômica, visando à manutenção de níveis
adequados de emprego, renda, inflação, taxa de câmbio, contas externas, endividamento
público, etc.
I – Macroeconomia
1 – Generalidades
A Macroeconomia é o ramo da Economia que estuda a evolução dos mercados de uma
forma mais geral, mais abrangente, analisando a determinação e o comportamento dos grandes
agregados macroeconômicos (renda nacional, produto nacional, investimento, poupança,
consumo agregado, inflação, emprego e desemprego, quantidade de moeda, juros, câmbio, etc).
Para saber como anda o mercado de bens e serviços, devemos saber qual a soma de
todos os bens e serviços produzidos pela economia durante certo período de tempo. A média de
preços destes bens e serviços produzidos é chamada de nível geral de preços.
Para sabermos sobre o mercado de trabalho, verificamos o nível de emprego, bem
como o nível de salários (ou taxa salarial). No mercado monetário, determinam-se as taxas de
juros e a quantidade de moeda (demanda por moeda) necessária para os agentes efetuarem as
transações econômicas. No mercado de títulos (títulos do governo, ações, fundos de renda fixa,
etc), determinam-se, além da taxa de juros, o preço e a quantidade de títulos. Como a taxa de
juros é determinada tanto no mercado monetário como no mercado de títulos, é bastante comum
analisar esses dois mercados como se fosse um só: o mercado financeiro.
No mercado cambial (de divisas), determina-se a taxa de câmbio, que é o preço da
moeda nacional em relação a uma moeda estrangeira. À medida que um país realiza transações
com o resto do mundo, é necessário que os preços dos diferentes países sejam comparados. Para
isso, deve-se converter uma moeda na moeda de outros países. Assim, a taxa de câmbio permite
calcular a relação de troca, ou seja, o preço relativo de diferentes moedas.
Os gastos do governo e a oferta de moeda não são determinados por nenhum desses
mercados, mas sim de forma autônoma pelas autoridades. São variáveis determinadas
institucionalmente, ou seja, são decisões que fogem dos modelos econômicos. Dizemos que elas
são variáveis exógenas (determinadas exogenamente, externamente). Em outras palavras, o
gasto público e a oferta de moeda não são determinados, e sim determinam o
comportamento das variáveis localizadas na coluna da direita do quadro 01.
O manejo do gasto público para alterar as variáveis dos mercados é o que chamamos
de política fiscal. A utilização da oferta de moeda como forma de alterar as mesmas variáveis
é chamada de política monetária. Por meio dessas duas principais formas de política
econômica (fiscal e monetária), o governo tenta atingir de forma equilibrada os objetivos da
política macroeconômica.
4 – Política Fiscal
Por política fiscal entende-se a atuação do governo no que diz respeito à arrecadação de
impostos e aos gastos. A arrecadação afeta o nível de demanda agregada ao influir na renda
disponível que os indivíduos poderão destinar para consumo e poupança. Se os impostos forem
altos, sobrará menos renda para o consumo (menor renda disponível). Assim, altos impostos
estão relacionados à baixa renda da economia, devido à redução na demanda agregada
provocada pela redução no consumo (devido à menor renda disponível).
Os gastos públicos são elementos diretos da demanda agregada. Ao decidir gastar, o
governo aumenta a demanda agregada de forma direta, ao contrário do que ocorre no caso da
arrecadação de impostos, onde a influência sobre a demanda agregada é indireta (ele ocorre
porque há redução na renda disponível, que reduz o consumo, que, por sua vez, aí sim, reduz a
demanda agregada).
Como os gastos públicos agem de forma direta na demanda agregada (renda) e a arrecadação
age de forma indireta, dizemos que a política fiscal via gastos é mais eficaz (intensa) que
política fiscal executada via arrecadação de impostos (tributação). Assim, podemos concluir
que se, por exemplo, o governo quiser aumentar a renda da economia (diminuir o desemprego),
o aumento de gastos públicos, coeteris paribus, será mais eficaz que a redução de impostos,
visto que aquele age diretamente na renda ao passo que esta age indiretamente. Vale ressaltar
que estamos analisando sob a condição do coeteris paribus (tudo o mais permanecendo
constante). Há outras implicações que não estão sendo levadas em conta como: possível
aumento do déficit público, influência sobre a taxa de juros, etc. Na análise macroeconômica,
assim como fizemos na análise microeconômica, limitamo-nos ao que está sendo posto pela
questão ou pelo fato em discussão, não devemos fazer divagações ou suposições além do que
foi posto.
Quando a política é realizada no sentido de aumentar a renda (demanda agregada)
da economia, dizemos que ela é expansionista, anticíclica (=anticrise), expansiva, ou ainda,
inflacionária (como ela aumenta a demanda agregada, há incentivo para aumento
generalizado dos preços). Quando a política é realizada no sentido de reduzir a renda
agregada, dizemos que ela é restritiva, contracionista, pró-cíclica ou antiinflacionária
(como ela reduz a demanda agregada, como resposta, os preços tendem a baixar).
Outra conseqüência da política fiscal é a alteração das taxas de juros. Considerando a
oferta de moeda sendo constante, um aumento da renda (política fiscal expansiva) fará com que
os agentes demandem mais moeda para realizar mais transações econômicas. O estudo da
demanda e oferta nos diz que quando a demanda de um bem aumenta, o preço deste bem
também aumenta. Neste caso, houve aumento da demanda do bem “moeda”. O preço do bem
“moeda” são os “juros”. Assim, temos o seguinte encadeamento:
Política fiscal expansiva aumenta renda aumenta demanda por
moeda aumenta o preço da moeda aumenta as taxas de juros
A política fiscal restritiva provocará o caminho inverso, ou seja, redução das taxas de
juros, considerando que a oferta de moeda é constante.
O uso da política fiscal como instrumento eficaz de intervenção na economia surgiu na
década de 1930, por intermédio das idéias de John Maynard Keynes, que deram origem ao
Keynesianismo ou ao modelo keynesiano. Segundo este modelo, uma política fiscal
expansionista gera aumentos de renda em proporções muito superiores ao que foi gasto
pelo governo.
Por exemplo, se o governo decide gastar R$ 10 bilhões em obras ou em programas de
transferência de renda (o Bolsa Família por exemplo), o impacto sobre a renda agregada da
economia será muito maior que os R$ 10 bilhões injetados pelo governo na economia. Imagine
que o governo decidiu fazer estradas com esse dinheiro. Ao decidir fazer estradas, ele terá que
pagar as empreiteiras, que terão que pagar aos seus funcionários, que, por sua vez, aumentarão o
consumo de alimentos, roupas, e outros bens. O dinheiro, então, chegará à mão dos donos das
lojas de roupas, mercados e outros estabelecimentos comerciais nos quais os empregados das
empreiteiras terão gasto o seu salário, que, em última instância, originou-se do gasto público. Os
donos destes estabelecimentos pagarão aos seus funcionários, que comprarão mais em outros
estabelecimentos, e assim por diante.
Como se vê, estabelece-se um círculo vicioso de aumento e circulação da renda. Assim,
há um multiplicador dos gastos do governo, também chamado de multiplicador keynesiano.
Esse multiplicador demonstra de forma numérica (o que não é o nosso foco aqui) como ocorre
essa multiplicação dos gastos. O mesmo fenômeno ocorre quando há redução de tributos e,
conseqüentemente, maior renda disponível para as pessoas, no entanto, neste caso, o efeito
multiplicador é menos intenso que na situação em que os gastos públicos são aumentados.
Além dos efeitos expostos no quadro 02, a política fiscal também pode interferir na
distribuição de renda. Alguns exemplos, apenas para elucidar: transferências de renda (Bolsa
Família), impostos progressivos e políticas assistenciais como o seguro-desemprego. Em
relação a estes instrumentos, também os chamamos de estabilizadores automáticos, pois
quando a renda e o emprego da economia diminuem, o seguro-desemprego funciona como um
impulso, para que a economia volte a ter renda circulando, evitando, assim, que haja mais
redução nos níveis de emprego.
A grande restrição à intervenção pública por meio da política fiscal é a questão do
déficit público e da dívida pública, bem como as formas de financiamento para contorná-los.
Vejamos agora estes dois temas.
Déficit Público
A arrecadação total de impostos no país corresponde à chamada carga tributária
bruta. A diferença entre a carga tributária bruta e as transferências governamentais é a carga
tributária líquida do governo. É com base nesta carga tributária líquida que o governo pode
financiar seus gastos correntes (o chamado consumo do governo). A diferença entre a carga
tributária líquida e os gastos correntes determina a poupança do governo em conta corrente.
Carga tributária bruta (CTB) = Total de impostos arrecadados
Carga tributária líquida (CTL)=(CTB) – Transferências do governo
Poupança do governo = (CTL) – Gastos correntes
A poupança do governo não é o resultado do orçamento público, nem se constitui em
uma medida do déficit público, pois não considera as despesas de capital. O que ela mostra é a
capacidade de investimento do governo, sem pressionar outras fontes de financiamento. Deixe-
me explicar: quando o governo apresenta poupança positiva (excesso de carga tributária líquida
sobre os gastos correntes) é sinal que sobrou um dinheiro que poderá ser usado para as despesas
de capital, que são nada mais nada menos que o investimento público (construção de escolas,
estradas, portos, etc).
A diferença entre a poupança do governo (ou poupança pública) e o investimento
público fornece o valor do déficit ou superávit público. Se a poupança do governo for maior que
o investimento, haverá superávit público. Se o investimento for, em valor, maior que a
poupança, haverá déficit público. Note que a diferença entre poupança do governo e
investimento público significa a diferença entre a arrecadação total e o gasto total. Assim:
Déficit/superávit público=Poupança do governo– gastos de capital
ou
Déficit/superávit público = Total de impostos – Transferências do governo – Gastos
correntes – gastos de capital (investimentos)
Quando há superávit público, isto significa que o governo está arrecadando mais do que
está gastando, logo, está fazendo política fiscal contracionista (restringindo a demanda
agregada). Quando há déficit público, isto significa que o governo está gastando mais do que
está arrecadando, logo, está fazendo política fiscal expansiva (aumentando a demanda
agregada).
Resumimos assim as duas principais maneiras de se obter recursos para financiar o
déficit público:
• Emitir moeda: o Banco Central (instituição emissora de moeda) emite moeda e a
entrega ao Tesouro Nacional (União);
• Venda de títulos públicos ao setor privado (interno e externo).
A primeira forma de financiamento do déficit (emissão de moeda) tem o inconveniente de
provocar. A segunda forma faz aumentar o endividamento público. Este, por sua vez, traz uma
nova categoria de gastos que é a rolagem e o pagamento dos serviços (juros, custas,
emolumentos, etc) dessa dívida.
Este método de apuração do déficit público explicado acima é o método tradicional, no
entanto, ele apresenta algumas incorreções, porquanto considera o conceito de governo levando
em conta apenas a administração direta (União, Estados, Municípios e DF). Todavia, sabemos
que existem outras instituições públicas não enquadradas na administração direta que auferem
receitas e realizam gastos. Temos, por exemplo, as empresas estatais (empresas públicas e
sociedades de economia mista), as autarquias e as fundações públicas.
A fim de solucionar este problema, o Brasil passou a utilizar a partir do início da década de
1980 um método mais abrangente utilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Este
método é o de Necessidade de Financiamento do Setor Público Não Financeiro (NFSP).
Não se assuste com o nome, pois ele próprio sugere o seu significado: necessidade de
financiamento (ou seja, é igual a déficit). Neste ponto, devemos distinguir três conceitos de
déficit ou necessidade de financiamento do setor público:
• Déficit nominal ou total (Necessidade de Financiamento do Setor Público –
Conceito nominal): engloba qualquer necessidade de novos financiamentos para fazer
frente a qualquer despesa.
• Déficit primário ou fiscal (Necessidade de Financiamento do Setor Público –
Conceito primário): é medido pelo déficit total, excluindo a correção monetária e
cambial da dívida e os pagamentos de juros de dívidas contraídas anteriormente. De
fato, é a diferença entre os gastos públicos e a arrecadação tributária no exercício,
independente de juros e correções da dívida passada.
• Déficit operacional (Necessidade de Financiamento do Setor Público – Conceito
operacional): é medido pelo déficit primário acrescido dos pagamentos de juros da
dívida passada. Em outras palavras, é o déficit nominal, excluindo a correção monetária
e cambial. Este é o conceito considerado mais adequado para refletir as necessidades
reais de financiamento do setor público, uma vez que o conceito nominal apresenta-se
inconveniente, já que é muito suscetível às variações nas taxas de inflação (elas causam
correção monetária) e às variações na taxa de câmbio (causam correção cambial).
Assim, as cláusulas de correção monetária (devido à inflação) fazem com que qualquer
aumento da inflação eleve as NFSP, sem que isso signifique maiores gastos.
No Brasil, as NFSP são apuradas pelo conceito de caixa, exceto pelas despesas de
juros, apuradas pelo conceito de competência. Por exemplo, ao emitir títulos de longo prazo,
com pagamentos concentrados no tempo, o déficit poderia ser baixo durante algum tempo e
depois aumentar violentamente no momento do vencimento do título. Assim, o regime de
competência neste caso torna a despesa de juros mais regular ao longo do tempo, sendo,
portanto, mais consistente com a apuração da dívida do setor público junto ao sistema
financeiro.
5 – Política Monetária
Nos itens anteriores, nós vimos que o governo, pelo gasto público, consegue afetar a
demanda agregada e o nível de produto da economia de forma direta. Diferentemente, a política
monetária afeta as mesmas variáveis de forma indireta, por meio das intervenções no mercado
financeiro (de ativos) que influenciam a taxa de juros.
Por política monetária, entende-se a atuação do Banco Central para definir as condições
de liquidez da economia: quantidade ofertada de moeda, nível de taxa de juros, etc. Antes de
chegarmos ao nosso objetivo (verificar o mecanismo de funcionamento da política monetária),
estudaremos, em primeiro lugar, o que é moeda. Em segundo, a demanda de moeda. Em
terceiro, a oferta de moeda. Por fim, a política monetária.
Moeda
Moeda é tudo aquilo que é aceito para liquidar transações, isto é, para pagar pelos bens
e serviços e para quitar obrigações. Veja que, por essa definição, qualquer coisa poderia ser
moeda, desde que aceita como forma de pagamento. O que é utilizado como moeda varia ao
longo do tempo e entre as diferentes comunidades, e requer-se apenas que o ativo que
desempenhe esse papel cumpra as funções básicas atribuídas à moeda, que são estas:
• Meio de troca - ser intermediária das trocas é sem dúvida a principal função da moeda
e a que a distingue de outros ativos. Esta função da moeda é decorrência da aceitação
geral da sociedade, que realiza as transações econômicas utilizando este ativo como
meio de troca.
• Unidade de conta - a moeda fornece o referencial para que os valores das demais
mercadorias sejam cotados. Desta forma, os valores dos bens e serviços transacionados
são expressos em quantidade de moeda, de tal forma que ela seja o denominador
comum de valor.
• Reserva de valor - esta é função decorrente de sua primeira função – meio de troca. Só
há sentido em utilizar a moeda como meio de troca se, entre uma transação em
determinado momento e outra transação em momento posterior, ela mantiver durante
certo intervalo de tempo o seu valor ou seu poder de compra. Moedas inseridas em
economias altamente inflacionárias têm a sua função de reserva de valor seriamente
comprometida.
Demanda de moeda
Em primeiro lugar, podemos entender que as pessoas demandam moeda para realizar as
trocas, para poder comprar. Nesse sentido, então, os indivíduos não demandariam, ou não
reteriam moeda por ela mesma, mas pelos bens que eles podem adquirir. Essa é a chamada
demanda de moeda pelo motivo transacional e ela é dependente da renda das pessoas. Isto é,
quanto maior é a renda das pessoas, mais elas realizam transações econômicas, por conseguinte,
mais demandam moeda por motivos transacionais.
Os indivíduos devem fazer frente as defasagens entre recebimentos e pagamentos das
dívidas, guardando moeda para poderem fazer as transações necessárias. O ato de guardar
moeda visando a usá-la em momentos futuros é a demanda de moeda por motivo precaucional.
Os indivíduos têm incerteza em relação ao futuro e guardam moeda para precaver-se de
infortúnios. Vale ressaltar que a guarda de moeda, tanto pelo motivo transação, quanto pelo
motivo precaução, não rende juros ao indivíduo.
Um terceiro motivo para demandar moeda, ressaltado por Keynes durante a década de
1930, é o motivo especulação, também chamado de motivo portfólio. Os indivíduos, a priori,
podem escolher manter sua riqueza na forma do ativo moeda (liquidez absoluta) ou em títulos
diversos que, apesar de possuírem menor liquidez que a moeda, geram rendimentos ao seu
portador. Quando as pessoas demandam títulos, isso significa que elas estão abrindo mão de
demandar moeda, e vice-versa. Ter um título significa ter menos moeda e ter mais moeda
significa ter menos títulos. Assim, quando compramos um título (uma ação negociada na
BOVESPA, por exemplo), abrimos mão de reter moeda (por motivos transação e precaução).
Assim, podemos concluir o seguinte: quanto maior a taxa de juros, maior será a
demanda por títulos e, por conseguinte, menor será a demanda por moeda. A demanda por
moeda visando especificamente à compra de títulos é a nossa demanda motivo especulação.
Assim, percebemos que a demanda de moda por motivo especulação é inversamente
proporcional à taxa de juros, pois quando esta é alta, as pessoas geralmente demandam menos
moeda e mais títulos.
Pelo exposto, vemos que a demanda por moeda depende tanto da renda como da
taxa de juros. Quanto maior (menor) for a renda, maior (menor) será a demanda por moeda.
Quanto maior (menor) for a taxa de juros, menor (maior) será a demanda por moeda. As raízes
dessas relações estão nos três motivos pelos quais os agentes demandam moeda (transação,
precaução, especulação).
Oferta de moeda
As transações realizadas pelos agentes econômicos podem ser realizadas na forma de
papel-moeda (dinheiro em espécie ou, no linguajar popular, dinheiro “vivo”) ou mediante
moeda bancária (cheques e cartões de débito/crédito). A moeda bancária é aquela moeda que os
agentes (o público) mantém depositada nos bancos comerciais (é o nosso saldo em Conta
Corrente quando tiramos o extrato bancário). Se somarmos o dinheiro que está com o público e
o dinheiro que as pessoas têm para disponibilidade imediata em suas contas bancárias, teremos
os meios de pagamento da economia (M1), o primeiro grande agregado do sistema monetário.
Os meios de pagamento (M1) correspondem aos ativos com liquidez absoluta (moeda), ou
seja, podem prontamente ser usados como poder de compra, e que não rendem juros (logo,
dinheiro em caderneta de poupança não é considerado M1, pois rende juros).
Meios de pagamento (M1) = Papel-moeda em poder do público (PMPP) + Depósitos a vista
(DV)
Meios de pagamento restritos:
• M1 = PMPP + DV
Meios de pagamento ampliados:
• M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos
emitidos por instituições depositárias
• M3 = M2 + quotas de fundo de renda fixa + operações compromissadas e
registradas no sistema SELIC
• M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez
Produto(P)
O produto afere o valor total da produção da economia em determinado período de
tempo. Nessa aferição é essencial evitar a dupla contagem: não faria sentido somar todos os
valores produzidos por todas as unidades produtivas do país. Deixe me explicar melhor:
suponha 01 litro de leite produzido em uma fábrica qualquer. Esse leite produzido poderá virar
leite condensado, que poderá virar uma calda de chocolate, que poderá virar uma cobertura de
uma deliciosa torta vendida em uma padaria. No entanto, esse produto só pode ser contado uma
vez no cálculo do produto de um país, caso contrário o produto do país será superestimado. O
procedimento correto, neste caso, é contabilizar apenas a torta que foi vendida na padaria, isto é,
o produto final.
Existe também outra forma equivalente de aferir o produto obtém-se pelo conceito de
valor adicionado. Denomina-se valor adicionado em determinada etapa de produção a diferença
entre o valor bruto produzido nesta etapa e os consumos intermediários. Assim, temos o
seguinte em relação às várias (três) formas pelas quais podemos calcular o produto de um país:
É o valor total dos bens e serviços finais produzidos no país num determinado período
de tempo.
O total dos valores brutos produzidos menos os consumos intermediários num
determinado período de tempo.
A soma dos valores adicionados num determinado período de tempo.
Renda(Y)
Renda é o somatório das remunerações de fatores de produção (salários + lucros +
juros + aluguéis + royalties) pagas aos agentes de uma economia durante determinado período
de tempo.
Consumo(C)
O consumo é valor dos bens e serviços absorvidos pelos indivíduos para a satisfação de
seus desejos. Nós temos dois tipos de consumo: o consumo das famílias (C) e o consumo do
governo (G). Quando se fala em consumo final, isto quer dizer que estamos falando dos dois
consumos somados (consumo final = consumo das famílias + consumo do governo).
Assim:
CFINAL = C + G
O consumo das famílias é o valor dos bens adquiridos voluntariamente pelos indivíduos
no mercado, enquanto o consumo governo é o valor de bens e serviços adquiridos pelo governo
e que, geralmente, são postos à disposição do público gratuitamente. Também é parte do
consumo do governo os gastos correntes, de custeio (salários de funcionários, pensionistas, etc).
Poupança(S)
Poupança é a renda não consumida (S=Y–C). Nós temos três tipos de poupanças:
poupança privada (SP), poupança pública (SG) e poupança externa ou do resto do mundo (SEXT).
O somatório da poupança privada com a poupança pública nos remete à poupança interna
(SINT). Assim, temos:
S=Y–C
S = SP + SG + SEXT
S = SINT + SEXT
Importante destacarmos mais a fundo o que significa o conceito de SEXT (poupança do
resto do mundo). Neste ponto, a referência é o resto do mundo. Assim, se o Brasil importa mais
do que exporta, logicamente, o resto do mundo estará fazendo poupança às custas das
transações econômicas com o Brasil. Em outras palavras, se o Brasil é deficitário nessas
transações externas (importações, exportações, transferências, envio e recebimento de rendas do
exterior), o resto do mundo é superavitário e, logicamente, terá poupança externa positiva. Por
outro lado, se o Brasil é superavitário nestas transações externas, o resto do mundo terá
deficitário, tendo poupança externa negativa ou despoupança externa.
Assim, podemos dizer que a SEXT é o mesmo que dizer “déficit do balanço de
pagamentos em transações correntes”. Se houver superávit em transações correntes, teremos
SEXT negativa. Outra nomenclatura também usada e que é sinônimo de “déficit do balanço de
pagamentos em transações correntes” é “passivo externo líquido”. Assim:
Déficit no BP em TC = SEXT = Passivo externo líquido
Investimento(I)
Em Economia, investimento tem uma conotação diferente da que usamos em nossas
vidas reais. No dia a dia, para nós, investimento é quando você compra algo (um título ou
imóvel, por exemplo) para vender mais tarde auferindo lucro. Em Economia, entretanto, isso
não é correto: investimento é o acréscimo do estoque físico de capital. Como capital é o
conjunto de bens de que dispõem as empresas para produzir, nós temos que o termo “investir”,
em Economia, significa, obrigatoriamente, comprar bens que aumentarão a produção da
economia, caso contrário não será investimento.
Se uma firma decide produzir mais mercadorias (aumentando a carga de trabalho dos
funcionários, por exemplo), estará investindo. Assim, percebe-se que há dois tipos de
investimento: um fixo (compra de bens de capital) e outro variável (estoques de produtos ou
prestação de serviços). A parte fixa é o que chamamos de formação bruta de capital fixo
(FBKF); a parte variável é o que chamamos de variação de estoques (ΔE). Assim:
I = FBKF + ΔE
Absorção Interna(AI)
Absorção (interna) é a soma do consumo final (consumo das famílias + consumo do
governo) com o investimento. Trata-se do valor dos bens e serviços que a sociedade absorve em
determinado período de tempo ou para o consumo de seus indivíduos/governo ou para o
aumento do estoque de capital. Assim:
AI = C + I + G
Despesa Agregada
A economia como um todo possui quatro tipos de agentes: famílias, empresas, governo
e resto do mundo. O gasto das famílias é C. O gasto das empresas é I. O gasto do governo é G.
O gasto do resto do mundo em relação ao nosso país é o valor das exportações subtraído das
importações (exportações líquidas) e representamos por X–M (X=exportações e
M=importações).
A despesa agregada é a destinação do produto. Ou seja, ele agrega as despesas de todos
os agentes da economia na compra do que foi produzido por toda a economia. Somando as
despesas de todos os agentes, na compra do que foi produzido, temos que a despesa agregada
será: C + I + G + X – M.
Assim:
Despesa agregada = C + I + G + X – M
Nota 1 despesa agregada é o mesmo que demanda agregada.
Nota 2 a despesa agregada inclui as despesas dos agentes efetuando compras daquilo que foi
produzido, uma vez que a despesa é a destinação do produto. Assim, perceba que, neste caso, o
gasto do governo com salários de servidores e pensionistas não entra no cômputo da despesa
agregada do país. Nesse G, que está na fórmula, estão somente as compras (de bens e serviços)
do governo.
INVESTIMENTO = POUPANÇA
Numa economia fechada e sem governo (não tem G nem X–M na despesa agregada), a
produção de bens finais terá apenas duas utilizações: ou será consumida pelas famílias
(consumo das famílias) ou será acumulada pelas empresas, como investimentos (sob a forma de
bens de capital e/ou de variação de estoques). Assim:
P=C+I
Por outro lado, sabe-se que renda da economia tem duas utilizações: ou é apropriada
pelas famílias para consumo (consumo das famílias) ou é poupada (poupança das famílias –
privada – SP). Assim:
Y = C + SP
Como sabemos, produto=renda=despesa, logo, P será igual a Y:
P=Y
C + I = C + SP
I = SP
Portanto, sabemos que as poupanças realizadas pelas famílias é que financiam os
investimentos totais realizados pelas empresas. Se supusermos agora que estamos em uma
economia completa (aberta e com governo), teremos:
I = SP + SG + SEXT
FBKF + ΔE = SP + SG + SEXT
Assim, vemos que são as poupanças que financiam os investimentos da economia.
Partes desses investimentos são financiados pela poupança privada, parte pela poupança pública
e parte pela poupança externa.
Déficit Publico
Como déficit público(DP)=IG–SG; I=SP+SG+SEXT e I=IP+IG, então:
IP + IG = SP + SG + SEXT
IG – SP = SP – IP + SEXT
DP = (SP – IP) + SEXT
Assim, pela ótica da contabilidade nacional, o déficit público é financiado, em parte,
pelo excesso de poupança privada sobre o investimento privado e, em outra parte, pela
poupança externa (=déficit no balanço de pagamentos em transações correntes).
Ótica do produto
As três maneiras de se calcular pela ótica do produto são:
1) Produto = Soma dos bens e serviços finais produzidos
2) Produto = Valor bruto da produção – Consumo intermediário
3) Produto = Σ Valores dos valores agregados ou adicionados
Ótica da renda
Devemos atentar inicialmente que renda é o somatório das remunerações dos fatores de
produção. Assim, como produto=renda, o PIB pode ser calculado por intermédio da soma das
remunerações de todos os fatores de produção na economia.
Renda Nacional = salários + juros + lucros + aluguéis + Impostos
diretos – transferências a empresas + ORG5 (Outras Receitas do Governo)
Ótica da despesa
A despesa ou demanda agregada (DA) é o destino da produção, isto é, os agentes
econômicos que compram a produção (são os gastos que os agentes econômicos realizam para
comprar a produção, ou seja, é a alocação do produto).
PIB = C + I + G + X – M
10 - Balanço De Pagamentos
Conceito e Generalidades
No contexto da globalização e da integração dos mercados, em que os países cada vez
mais realizam transações com o resto do mundo, torna-se importante a mensuração destas
atividades econômicas internacionais. Nesse sentido, surge o Balanço de Pagamentos (BP) que,
de modo geral, tem o objetivo de registrar as operações econômicas entre um país e o resto do
mundo.
Contabilização
A contabilização segue o método das partidas dobradas, isto é, a cada débito em
determinada conta deve corresponder um crédito em alguma outra e vice-versa. A fim de
facilitar a contabilização, nós podemos dividir as contas do BP em dois grandes grupos, a saber:
a) as contas operacionais
b) as contas de reservas (ou conta de caixa)
As contas operacionais correspondem efetivamente à transação realizada. Nas palavras
de Simonsen & Cysne: correspondem ao fato gerador do recebimento ou da transferência de
recursos ao exterior. Temos como exemplo as contas de: exportações, importações,
empréstimos, financiamentos, transferências unilaterais, etc.
Como a contabilização segue o método das partidas dobradas, a cada transação
registrada em qualquer conta operacional corresponderá uma contrapartida de sinal oposto na
conta de reservas (ou conta caixa). Assim, quando temos entrada de recursos (exportação, por
exemplo), haverá um lançamento a crédito (positivo) na conta operacional (conta de exportação)
e um lançamento a débito (negativo) na conta de reservas (conta caixa), semelhante ao que
acontece na Contabilidade das empresas.
A) Balança Comercial
Nesta conta, são classificadas as exportações e importações de bens. As duas transações
são registradas no critério FOB (free on board), isto é, pelo preço de venda subtraído (líquido)
dos custos de frete e seguros, que são contabilizados no Balanço de Serviços.
O saldo líquido entre as receitas das exportações e as despesas de importação representa
o saldo da balança comercial. Quando as exportações superam as importações, temos superávit
da balança comercial. No caso contrário, temos déficit da balança comercial.
Vale ressaltar que receitas significam entrada de recursos enquanto despesas de
residentes significam saída de recursos.
B) Balança de Serviços
São classificadas as transações envolvendo compra e venda de serviços. Na
metodologia antiga, o balanço de serviços é dividido em: serviços não fatores e serviços fatores
(rendas).
Nos serviços não fatores, temos os serviços de frete e de seguros, gastos com viagens,
serviços governamentais (gastos com embaixadas, consulados, missões diversas). Quando um
residente brasileiro presta/vende serviços a não residentes, temos receitas de serviços (exemplo:
turista estrangeiro em viagem ao Brasil). Por outro lado, quando residentes brasileiros
tomam/compram serviço de não residentes, temos despesas de serviços (exemplo: brasileiro em
viagem ao exterior).
Nos serviços de fatores (rendas), como o próprio nome sugere, são classificadas as
transações que envolvem remuneração dos fatores de produção, como juros, lucros, rendas do
trabalho, royalties, etc. Quando um residente envia remuneração de um fator de produção a um
não residente, temos despesa de serviços (exemplo: uma filial de empresa estrangeira instalada
no Brasil – residente – envia lucros à matriz sediada no exterior – não residente). Por outro lado,
quando um residente recebe de um não residente remuneração de um fator de produção, temos
receita de serviços (exemplo: uma filial de empresa brasileira instalada no exterior – não
residente – envia lucros à sua matriz, instalada no Brasil – residente).
C) Transferências Unilaterais
São classificados os donativos recebidos e enviados ao exterior. Os donativos são
considerados receitas, enquanto os donativos enviados são considerados despesas para fins de
contabilização.
D) Saldo de Transações Correntes
É a soma dos saldos da balança comercial, da balança de serviços e das transferências
unilaterais. Também é denominado saldo em conta corrente. O déficit em transações correntes
significa que o resto do mundo fez poupança realizando transações com Brasil. Assim, o déficit
em TC é o mesmo que dizer que houve poupança externa.
Assim, temos:
SEXT = - TC = - (BC + BSv +/- TU)
Como o balanço de serviços inclui remunerações de serviços de fatores (que são as
rendas) e não fatores (serviços comuns). Podemos definir assim também:
SEXT = - TC = - (XNF – MNF – RLEE +/-TU)
Onde XNF e MNF significam exportações e importações de bens e serviços (ou seja,
exclui as remunerações dos fatores de produção, daí a nomenclatura XNÃO FATORES)
E) Balanço de Capitais Autônomos
Também chamado de movimento de capitais autônomos ou simplesmente de balanço ou
movimento de capitais, contém os capitais que entram e saem do país. Os capitais que entram
são considerados receitas, enquanto os capitais que saem são considerados despesas.
F) Erros e Omissões
Na prática, sempre haverá transações que, por motivos diversos, não serão
contabilizadas pelos órgãos/instituições oficiais (transações ilícitas, ocultas, etc). Nesse sentido,
ao final da contabilização haverá ajustes a serem realizados, que são justamente os erros e
omissões. Na grande maioria dos casos, este saldo é omitido, quando devemos considerá-lo
nulo.
G) SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS
É dado pela soma do saldo em conta corrente, com capitais
autônomos e com erros e omissões.
H) Movimento de Capitais Compensatórios
O saldo do balanço de capitais compensatórios sempre iguala, com o sinal trocado, o
saldo do balanço de pagamentos.