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SAMUELSON NORDHAUS

ECONOMIA
19a EDIÇÃO
S187e Samuelson, Paul A.
Economia [recurso eletrônico] / Paul A. Samuelson, William
D. Nordhaus ; tradução: Elsa Fontainha, Jorge Pires Gomes ;
revisão técnica: Emílio Hiroshi Matsumura. – 19. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-8055-105-1

1. Economia. I. Nordhaus, William D. II. Título.

CDU 330

Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107


capítulo

1 Conceitos centrais da Economia

A Era da Cavalaria chegou ao fim; sucedeu‑lhe a dos sofistas, dos economistas e dos contadores.
Edmund Burke

a. poR QuE EStuDaR ECoNoMIa? de você um gênio. Mas, sem a Economia, os dados da
sorte serão lançados contra você.
Ao iniciar esta leitura, você deve estar querendo saber: Esperamos que venha a descobrir que, além de útil,
por que estudar Economia? Enumeremos as razões. a Economia é mesmo uma matéria fascinante. Gera‑
Muitos estudam Economia para que isso os ajude a ções de estudantes, quase sempre com surpresa, têm
obter um bom emprego. descoberto quão estimulante é conhecer o que está
Há quem pense que deve compreender mais profun‑ além da superfície e compreender as leis fundamentais
damente o que existe por trás dos relatórios sobre in‑ de Economia.
flação e desemprego.
Ou há pessoas que querem compreender quais polí‑
ticas poderiam amenizar o aquecimento global ou o ESCASSEZ E EFICIÊNCIA: OS TEMAS GÊMEOS
que significa dizer que um iPod é “made in China”. DA ECONOMIA
Definições de Economia
Por quem os sinos dobram
Iniciemos com uma definição de Economia, ou ciência
Todas essas razões, e muitas outras, fazem sentido. econômica. Ao longo do último meio século, o estudo
Contudo, como teremos de reconhecer, existe uma ra‑ de economia se expandiu, incluindo um vasto leque de
zão fundamental para aprender as lições básicas de temas. Eis alguns dos principais assuntos que são trata‑
Economia: durante toda a sua vida – desde o berço até dos neste livro:1
à sepultura – você enfrentará as verdades cruéis da
Economia. • A Economia explora o comportamento dos merca‑
Como eleitor, tomará decisões sobre questões que dos financeiros, incluindo taxas de juro e de câmbio
não poderão ser compreendidas até que tenha domina‑ e preços de ações.
do os rudimentos desta matéria. Sem o estudo de Eco‑ • O assunto examina as razões pelas quais algumas
nomia, não estará completamente informado sobre o pessoas, ou países, têm rendas elevadas, enquanto ou‑
comércio internacional, a política fiscal, ou as causas tros são pobres; avança com a análise de formas para a
das recessões e do desemprego. redução da pobreza sem prejudicar a economia.
Escolher a profissão da sua vida é a decisão econômi‑ • Estuda os ciclos econômicos – as flutuações no crédi‑
ca mais importante que tomará. O seu futuro depende‑ to, desemprego e inflação – bem como as políticas
rá não só de suas capacidades, mas também da forma para suavizar seus efeitos.
como as forças econômicas nacionais e regionais afe‑
tam os seus salários. O seu conhecimento de Economia
poderá ajudá‑lo também a tomar decisões acertadas so‑
1
bre a compra de um imóvel, o pagamento da educação Nos itens apresentados há vários termos específicos. Em caso de
dúvida, consulte o Glossário ao final do livro que contém os prin‑
de seus filhos e a poupança de uma quantia para a apo‑ cipais termos técnicos econômicos usados no texto. Os termos
sentadoria. É claro que o estudo de Economia não fará que aparecem em negrito são os definidos no Glossário.
4  capítulo 1  •  Conceitos centrais da Economia

a Inglaterra e os Estados Unidos ainda se debatiam segundo.2 Um exemplo dessa síndrome ocorreu na
com a Grande Depressão dos anos 1930, com o desem‑ Grande Depressão dos anos 1930, nos Estados Uni‑
prego afetando mais de um quarto da população ativa dos. Algumas pessoas haviam observado que pe­
norte­‑americana. Na sua nova teoria, Keynes desenvol‑ ríodos de expansão econômica eram precedidos ou
veu uma análise das causas dos ciclos econômicos, com acompanhados de aumento dos preços. A partir
períodos alternados de desemprego e inflação elevada. daí, concluíram que o remédio apropriado para a
A macroeconomia examina uma grande variedade de depressão era o aumento dos preços e dos salários.
assuntos, tais como a determinação do investimento e Essa ideia originou várias leis e regulações para im‑
do consumo totais, como os bancos centrais fazem a pulsionar os salários e os preços de um modo inefi‑
gestão da moeda e das taxas de juro, o que causa as ciente. Tais medidas promoveram a recuperação
crises financeiras internacionais e por que razão alguns econômica? É quase certo que não. De fato, elas
países se desenvolvem rapidamente, enquanto outros fi‑ provavelmente retardaram a recuperação, a qual
cam estagnados. Embora a macroeconomia tenha pro‑ não ocorreu até que a despesa global começasse a
gredido muito desde as suas primeiras conclusões, as aumentar à medida que o governo aumentava as
questões abordadas por Keynes ainda continuam a deli‑ despesas militares na preparação para a Segunda
mitar o estudo atual da macroeconomia. Guerra Mundial.
• Falha em manter tudo o mais constante. Uma segunda ar‑
LÓGICA DA ECONOMIA madilha é a falha em manter tudo o mais constante
A vida econômica é uma enorme e complexa colmeia quando se pensa em uma questão. Por exemplo, po‑
de atividades, com as pessoas comprando, vendendo, deremos querer saber se o aumento dos impostos fará
negociando, investindo e persuadindo. O objetivo fi‑ aumentar ou diminuir as receitas fiscais. Alguns têm
nal da ciência econômica, e deste livro, é compreender defendido o argumento sedutor de que podemos co‑
essa complexidade. Como procedem os economistas na mer o nosso bolo fiscal e continuar a dispor dele. Ar‑
sua função? gumentam que o corte nas alíquotas dos impostos
Os economistas usam a abordagem científica para com‑ fará, ao mesmo tempo, aumentar as receitas tributá‑
preender a vida econômica. Isso envolve a observação rias e reduzir o déficit fiscal. Apontam o corte nos
dos acontecimentos econômicos e a elaboração de esta‑ impostos de Kennedy‑Johnson, em 1964, que dimi‑
tísticas e de registros históricos. Para fenômenos com‑ nuiu drasticamente as alíquotas dos impostos e foi
plexos, como os impactos dos déficits fiscais, ou as cau‑ seguido de um acréscimo das receitas tributárias em
sas da inflação, a pesquisa histórica tem sido uma fonte 1965. Portanto, eles argumentam que reduzir as alí‑
importante de conhecimento. quotas dos impostos leva ao aumento das receitas.
A economia se baseia frequentemente em análises e Por que esse raciocínio é falacioso? O argumento
teorias. As abordagens teóricas permitem aos econo‑ admite que os demais fatores eram constantes – em
mistas realizar amplas generalizações, como as relati‑ particular, é ignorado o crescimento global da eco‑
vas às vantagens do comércio internacional e da espe‑ nomia de 1964 a 1965. Como a renda das pessoas
cialização, e às desvantagens dos impostos e das quotas aumentou nesse período, as receitas fiscais totais au‑
de importação. mentaram, embora as alíquotas dos impostos tenham
Além disso, os economistas desenvolveram uma técni‑ diminuído. Estudos econométricos detalhados indi‑
ca especializada, conhecida por econometria, que aplica as cam que as receitas fiscais teriam sido ainda maiores
ferramentas estatísticas aos problemas econômicos. Com em 1965 se as alíquotas tivessem sido mantidas ao ní‑
o uso da econometria, os economistas podem lidar com vel de 1964. Desse modo, aquela análise falhou ao
grandes quantidades de dados e extrair relações simples. não manter outros fatores constantes quando efe‑
Os economistas principiantes devem também ser tuou os cálculos.
alertados para as falácias comuns do raciocínio econô‑ Lembre­‑se de manter tudo o mais constante quando esti‑
mico. Pelo fato de as relações econômicas serem com‑ ver analisando o impacto de uma variável sobre o sistema
plexas, envolvendo muitas variáveis diferentes, é fácil econômico.
ficar confuso no que diz respeito à razão exata que está
na origem dos acontecimentos, ou sobre o impacto das • A falácia da composição. Às vezes, admitimos que o
políticas na economia. A seguir, são apresentadas algu‑ que é verdade para uma parte de um sistema tam‑
mas falácias mais comuns encontradas no raciocínio bém é verdade para o conjunto. Em economia, con‑
econômico. tudo, verificamos com frequência que o todo é dife‑
rente da soma das partes. Quando se admite que aquilo
• A falácia do post hoc. A primeira falácia está relacio‑
nada à inferência da causalidade. A falácia do post 2
Post hoc é uma abreviatura da expressão post hoc, ergo propter hoc.
hoc acontece quando, pelo fato de um evento ocorrer antes Traduzido do latim, a expressão completa significa “posto isso,
de outro, admitirmos que o primeiro evento é a causa do portanto, necessariamente em decorrência disso”. Ver Glossário.
A frieza da razão a ser viço de corações apaixonados   5

que é verdade para uma parte é também verdade para o


todo, você cai na falácia da composição. fatos, elas envolvem princípios éticos e valores. Embo‑
Seguem­‑se algumas afirmações verdadeiras que ra a análise econômica possa fundamentar esses deba‑
poderão surpreender quem ignorar a falácia da com‑ tes, ao analisar as prováveis consequências de políticas
posição: (1) Se um agricultor tiver uma colheita inco‑ alternativas, as respostas podem ser resolvidas apenas
mum, a sua renda aumentará; se todos os agricultores com debates e decisões acerca dos valores fundamen‑
tiverem uma colheita recorde, a renda agrícola dimi‑ tais da sociedade.
nuirá. (2) Se uma única pessoa receber muito mais
dinheiro, essa pessoa ficará muito melhor; se todos
receberem muito mais dinheiro, a sociedade irá pro‑
A FRIEZA DA RAZÃO A SERVIÇO
vavelmente ficar pior. (3) Se for fixado um elevado DE CORAÇÕES APAIXONADOS
imposto de importação sobre um produto como cal‑ Ao longo do último século, a economia se transformou
çado, ou aço, os produtores desse setor irão certamen‑ de uma planta frágil em uma árvore frondosa. Com os
te lucrar; se  forem fixados impostos de importação seus ramos em expansão, encontramos explicações
elevados em todos os produtos, o bem­‑estar econômi‑ para os benefícios do comércio internacional, conse‑
co do país será prejudicado. lhos para a redução do desemprego e da inflação, fór‑
Estes exemplos não têm qualquer truque ou ma‑ mulas para investimento de fundos de pensões e pro‑
gia. Em vez disso, resultam de sistemas de indivíduos postas para o leilão de créditos de carbono de forma a
interagindo. Frequentemente, o comportamento do ajudar a retardar o aquecimento global. Pelo mundo,
agregado apresenta­‑se muito diferente do comporta‑ os economistas promovem a coleta de dados e o aper‑
mento individual. feiçoamento do nosso conhecimento sobre as tendên‑
Mencionamos essas falácias apenas de uma forma cias econômicas.
breve nesta introdução. À medida que apresentarmos Você poderá perguntar: Qual é a finalidade desse
os instrumentos de economia, daremos exemplos de exército de economistas que medem, analisam e calcu‑
como o descuido com a lógica econômica pode con‑ lam? O objetivo último da ciência econômica é melhorar as
duzir a erros, às vezes, graves. Ao final deste livro, você condições de vida da sociedade no seu dia a dia. Aumentar
poderá rever a razão pela qual cada um desses exem‑ o produto interno bruto não é um mero jogo de núme‑
plos paradoxais é verdadeiro. ros. Rendas mais elevadas significam uma boa alimen‑
tação, moradias confortáveis e saneamento básico. Sig‑
nificam água potável e vacinas contra as doenças que
Economia positiva versus Economia normativa sempre afetaram a humanidade.
Rendas mais elevadas permitem mais do que alimen‑
Ao analisar questões econômicas, devemos distinguir
to e moradia. Os países ricos têm recursos para cons‑
cuidadosamente as questões de fato das questões de
truir escolas, de modo a que os jovens possam aprender
juízo de valor. A economia positiva descreve os fatos
a ler e a desenvolver a  competência necessária para
de uma economia, enquanto a economia normativa
operar com tecnologias e computadores modernos. À
envolve juízos de valor.
medida que a renda aumenta, os países podem finan‑
A economia positiva trata de questões do seguin‑
ciar pesquisas científicas para determinar as técnicas
te tipo: Por que razão os médicos ganham mais do que
agrícolas adequadas ao clima e solos específicos, ou
os porteiros? O Acordo de Comércio Livre na América
para desenvolver vacinas contra doenças. Com os re‑
do Norte (NAFTA) aumentou ou diminuiu a renda da
cursos gerados pelo crescimento econômico, as pessoas
maioria dos norte‑americanos? Taxas de juros mais ele‑ têm tempo livre para atividades culturais – como cine‑
vadas desaquecem a economia e reduzem a inflação? ma ou música –, e a sociedade dispõe de tempo de lazer
Embora sejam difíceis de responder, todas essas ques‑ para ler, ouvir e tocar música. Embora não exista um
tões podem ser resolvidas com recurso à análise e a padrão único de desenvolvimento econômico, e as cul‑
evidência empírica. Isso as coloca no âmbito da econo‑ turas sejam diferentes por todo o mundo, a libertação
mia positiva. da fome, da doença e da submissão aos elementos da
A economia normativa envolve preceitos éticos natureza é uma aspiração humana universal.
e normas de equidade. Para garantir que a inflação dos Mas séculos de história da humanidade também
preços não acelere demais, o desemprego deveria au‑ mostram que os corações apaixonados por si só não
mentar? Os Estados Unidos deveriam negociar acor‑ matam a fome ou curam a doença. Um mercado livre e
dos adicionais para reduzir as tarifas sobre as importa‑ eficiente não gera necessariamente uma distribuição
ções? A distribuição de renda nos Estados Unidos se de renda que seja socialmente aceitável. A escolha do
tornou muito desigual? Não existem respostas certas melhor caminho para o progresso econômico ou para
ou erradas para essas questões, porque, em vez de uma distribuição equitativa do produto de uma socie‑
dade exige cabeças frias que objetivamente ponderem
6  capítulo 1  •  Conceitos centrais da Economia

os custos e os benefícios das diferentes abordagens, consumo (como pizzas)? Ou iremos produzir menos
que tentem, tanto quanto é humanamente possível, bens de consumo e mais bens de capital (como for‑
manter a análise livre da ilusão do autoengano. Por ve‑ nos para pizzas), que permitirão ampliar a produção
zes, o progresso econômico exige demolir uma fábrica e o consumo no futuro?
obsoleta. Por vezes, como quando países de planeja‑ • Como os bens são produzidos? Uma sociedade deve
mento centralizado adotaram os princípios do merca‑ determinar quem irá produzir, com quais recursos e
do, as coisas pioram antes de melhorarem. As escolhas com qual tecnologia de produção. Quem cultiva a ter‑
são especialmente difíceis no campo da assistência mé‑ ra e quem ensina? A eletricidade será obtida a partir
dica, em que os recursos limitados envolvem literal‑ de fontes de energia renovável ou fóssil? As fábricas
mente a vida e a morte. serão dirigidas por pessoas ou por robôs?
Você já deve ter ouvido a expressão: “De cada um,
• Para quem os bens são produzidos? Quem irá usufruir
de acordo com a sua capacidade; a cada um, de acor‑
do fruto da atividade econômica? A distribuição da
do com a sua necessidade”. Os governos têm apren­
renda e da riqueza é justa e equitativa? Como é re‑
dido que nenhuma sociedade pode funcionar por
partido o produto nacional entre as diferentes famí‑
muito tempo com base nesse princípio utópico. Para
lias? Existem muitos pobres e poucos ricos? As ren‑
manter uma economia saudável, os governos têm de
das elevadas devem pertencer aos professores, aos
preservar os incentivos para que as pessoas trabalhem
atletas, aos trabalhadores da indústria automotiva ou
e poupem.
aos investidores em ações? A sociedade deve propor‑
As sociedades podem apoiar durante algum tempo
cionar aos pobres um mínimo de consumo, ou, se
quem fica desempregado, mas quando o subsídio ao
quiserem comer, as pessoas devem trabalhar?
desemprego é demasiado e por muito tempo, as pessoas
podem passar a depender do Estado e deixar de procu‑
rar emprego. Acreditam­‑se que o governo lhes deve a ECONOMIAS DE MERCADO, DIRIGIDAS
sua subsistência, isso pode enfraquecer seu espírito em‑ E MISTAS
preendedor. Mesmo que os programas governamentais
Quais são as diferentes formas de uma sociedade res‑
persigam objetivos nobres, isso não os isenta de uma
ponder às questões de o quê, como e para quem? As dife‑
apuração cuidadosa e de uma gestão eficiente.
rentes sociedades estão organizadas em sistemas econômi‑
A sociedade procura combinar a disciplina do mer‑ cos alternativos e a economia estuda os vários mecanismos
cado com a generosidade dos programas sociais. Ao que uma sociedade pode usar para aplicar seus recur‑
usar a frieza da razão para informar aos corações apai‑ sos escassos.
xonados, a ciência econômica pode desempenhar o seu Em geral, distinguimos duas formas fundamentais
papel na busca do equilíbrio adequado para a socieda‑ de organizar uma economia. Em um extremo, o gover‑
de eficiente, próspera e justa. no toma a maioria das decisões econômicas, sendo
aqueles que estão no topo da hierarquia os que dão
diretivas econômicas aos que estão nos escalões inferio‑
B. TRÊS PROBLEMAS DA res. No outro extremo, as decisões são tomadas nos
ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA mercados, em que os indivíduos ou as empresas acer‑
tam a troca de bens e serviços, normalmente por meio
Qualquer sociedade humana – seja um país industrial
de pagamentos em dinheiro. Examinemos brevemente
avançado, uma economia de planejamento centralizado
cada uma dessas duas formas de organização.
ou uma sociedade tribal isolada – tem de se defrontar e
Nos Estados Unidos e, de forma crescente, no mun‑
resolver três problemas econômicos fundamentais. Toda
do, a maioria das questões econômicas é resolvida pelo
sociedade deve possuir um modo de determinar que
mecanismo de mercado. Por isso, o seu sistema econô‑
bens serão produzidos, como são produzidos esses bens e
mico é designado de “economia de mercado”. Uma eco-
para quem são produzidos.
nomia de mercado é aquela em que os indivíduos e as
De fato, estas três questões da organização econômi‑
empresas privadas tomam as decisões mais importan‑
ca – o quê, como e para quem – são tão importantes atual‑
tes sobre a produção e o consumo. Um sistema de pre‑
mente quanto o foram no início da civilização humana.
ços, de mercados, de lucros e prejuízos, de incentivos e
Analisemos as questões da organização econômica:
prêmios determina o quê, como e para quem. As empresas
• Que bens serão produzidos e em quais quantidades? produzem as mercadorias que geram os maiores lucros
Uma sociedade deve determinar quanto deve produ‑ (o quê), com as técnicas de produção que são as menos
zir de cada um dos inúmeros bens e serviços possíveis dispendiosas (o como). O consumo é determinado pelas
e quando deverão ser produzidos. Hoje, deveremos decisões individuais sobre como aplicar as rendas prove‑
produzir pizzas ou camisas? Poucas camisas de alta nientes de salários e de propriedades geradas pelo tra‑
qualidade ou muitas camisas baratas? Utilizaremos balho e pela posse de patrimônios (o para quem). O caso
os recursos escassos para produzir muitos bens de extremo de economia de mercado, em que o governo se
Insumos e produtos   7

exime de tomar decisões econômicas, é chamado eco‑ Confrontada com o fato inegável de os bens serem
nomia de laissez­‑faire. escassos em relação ao desejado, uma economia deve
Em contrapartida, uma economia dirigida é aque‑ decidir como lidar com recursos limitados. Será ne‑
la em que o governo toma todas as decisões impor‑ cessário escolher entre diferentes conjuntos de bens
tantes acerca da produção e da distribuição. Em uma potenciais (o quê), selecionar entre as diferentes tecno‑
economia dirigida, tal como esteve em vigor na União logias de produção (o como) e decidir ao final quem
Soviética durante a maior parte do século XX, o Esta‑ deve consumir os bens (o para quem).
do possui a maior parte dos meios de produção (terra
e capital); também possui e dirige a atividade das em‑ INSUMOS E PRODUTOS
presas na maioria dos ramos de atividade; é o empre‑
gador da maioria dos trabalhadores e quem comanda Para responder a essas três questões, toda sociedade
a sua atividade; e decide como a produção da socieda‑ deve fazer escolhas acerca dos fatores de produção e dos
de deve ser dividida entre os diversos bens e serviços. produtos. Os fatores de produção ou insumos são ma‑
Em resumo, em uma economia dirigida, o governo térias-primas ou serviços utilizados para produzir bens
dá a resposta às principais questões econômicas por e serviços. Uma economia usa a sua tecnologia disponí‑
vel para combinar insumos e gerar os produtos. Os pro-
meio da posse dos recursos e do seu poder de impor
dutos são os vários bens ou serviços úteis que resultam
as decisões.
do processo de produção e que ou são consumidos, ou
Nenhuma sociedade contemporânea se enquadra com‑
são utilizados em um produto posterior. Considere a
pletamente em uma dessas categorias extremas. Em vez
“produção” de uma pizza. Dizemos que os ovos, a fari‑
disso, todas as sociedades são economias mistas, com
nha, o sal, o calor, o forno e a mão de obra qualificada
elementos de mercado e de direção centralizada.
do pizzaiolo são os insumos. A pizza apetitosa é o produ‑
A vida econômica é organizada ou por meio de co‑ to. Na educação, os fatores de produção são o tempo de
mando hierarquizado ou de mercados voluntários aula ministrada e os estudantes, os laboratórios e as sa‑
descentralizados. A maioria das decisões nos Estados las de aula, os livros etc., enquanto os produtos são cida‑
Unidos e em outras economias com renda elevada é dãos informados, produtivos e bem remunerados.
tomada pelos mercados. Mas o Estado desempenha Os insumos podem ser classificados em três grandes
um papel importante na supervisão do funcionamen‑ categorias: terra, trabalho e capital.
to do mercado; o governo publica leis que regulam a
• A terra – ou, mais genericamente, os recursos natu‑
atividade econômica, promove o funcionamento de
rais – representa a dádiva da natureza para as nossas
serviços de educação, policiamento e controle da po‑
sociedades. Consiste na terra utilizada na agricultu‑
luição. A maioria das sociedades tem em vigor um sis‑ ra ou para a implantação de moradias, fábricas e es‑
tema de economia mista. tradas; nos recursos energéticos para combustível
dos nossos automóveis e para iluminar as nossas ca‑
sas; e nos recursos não energéticos, tais como miné‑
C. POSSIBILIDADES TECNOLÓGICAS rios de cobre e de ferro ou areia. Em um mundo con‑
DA SOCIEDADE gestionado, temos de ampliar o âmbito dos recursos
naturais para incluir os nossos recursos ambientais,
Cada arma que é fabricada, cada navio de guerra tais como o ar limpo e a água potável.
que é lançado ao mar, cada míssil que é disparado,
significa, em última instância, um roubo a quem tem • O trabalho consiste no tempo despendido na produ‑
fome e não tem o que comer. ção – a trabalhar nas fábricas de automóveis, a de‑
senvolver programas de computador, a ensinar nas
Presidente Dwight D. Eisenhower escolas ou a assar pizzas. Milhares de serviços e tare‑
Qualquer economia tem um estoque limitado de re‑ fas, em todos os níveis de competência, são realiza‑
cursos – trabalho, conhecimento tecnológico, fábricas, dos pela mão de obra. É, ao mesmo tempo, o fator de
ferra­mentas, terra, energia. Ao decidir o quê e como os produção mais comum e o mais importante para
itens devem ser produzidos a economia está decidin‑ uma economia industrial avançada.
do a forma de aplicar os seus recursos em milhares de • O capital é formado pelos bens duráveis de uma eco‑
diferentes bens e serviços possíveis. Em que parcela nomia, desenvolvidos com a finalidade de produzi‑
de terra o trigo será semeado? Ou que parcela será rem, depois, outros bens. Os bens de capital incluem
utilizada para a construção de habitações? Quantas máquinas, estradas, computadores, softwares, cami‑
fábricas produzirão computadores? Quantas produzi‑ nhões, altos­‑fornos, automóveis, máquinas de lavar e
rão pizzas? Quantas crianças serão formadas como edifícios. A acumulação de bens especializados de
atletas profissionais, ou economistas profissionais, ou capital é essencial para a tarefa do desenvolvimento
programadores? econômico, como veremos a seguir.
8  capítulo 1  •  Conceitos centrais da Economia

Voltando a apresentar os três problemas econômicos Possibilidades de produção alternativas


nestes termos, a sociedade deve decidir: (1) que produ‑
Manteiga
tos e em que quantidade; (2) como ou com que insumos (milhões de Armas
gerar os produtos desejados; e (3) para quem devem ser Possibilidades quilos) (milhares)
criados e distribuídos os produtos. A 0 15
B 1 14
FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES C 2 12
DE PRODUÇÃO
D 3 9
Aprendemos cedo na vida que não podemos ter tudo. E 4 5
Ouvimos: “Você pode tomar um sorvete de chocolate
F 5 0
ou de baunilha. Os dois, não!”. Da mesma forma, as
possibilidades de consumo dos países são limitadas pe‑ TABELA 1­‑1  Recursos escassos limitados obrigam a um tra‑
los recursos e pela tecnologia de que dispõem. de-off de manteiga e de armas.
A necessidade de escolha entre alternativas limitadas Insumos limitados e tecnologia obrigam que a produção
torna­‑se ainda mais dramática em tempo de guerra. No de armas e manteiga seja limitada. À medida que nos des‑
debate sobre se os Estados Unidos deviam invadir o Ira‑ locamos de A para B... até F, estamos transferindo mão de
que em 2003, as pessoas queriam saber quanto a guerra obra, máquinas e terra da indústria de armamento para a
indústria da manteiga e, assim, podemos aumentar a pro‑
custaria. Na ocasião o governo afirmou que custaria
dução desta.
apenas US$ 50 bilhões, enquanto alguns economistas
disseram que ela custaria cerca de US$ 2.000 bilhões.
Isso não é apenas uma montanha de dinheiro. Essa A Tabela 1­‑1 apresenta uma relação das possibilida‑
quantia representa recursos desviados de outras com‑ des. A combinação F indica o extremo em que é produ‑
pras. À medida que os valores começaram a subir, as zido o máximo de manteiga e nenhuma arma, enquan‑
pessoas naturalmente perguntavam: por que estamos to a combinação A representa o extremo oposto, em
policiando Bagdá em vez de Nova York, ou a reparar o que todos os recursos vão para armas. No meio – em E,
sistema elétrico no Oriente Médio em vez do Centro dos D, C e B – quantidades crescentes de manteiga são sa‑
Estados Unidos? As pessoas compreendem, tal como o crificadas em troca de mais armas.
fez o ex­‑general e presidente Eisenhower, que, quando o Como um país pode transformar manteiga em ar‑
produto é usado em atividades militares, há menos dis‑ mas? A manteiga é transformada em armas não fisica‑
ponibilidade para consumo e investimentos civis. mente, mas pela alquimia do desvio dos recursos eco‑
Podemos imaginar esta escolha considerando uma nômicos de uma linha de produção para outra.
economia que produz apenas dois bens econômicos: ar‑ Podemos representar as possibilidades de produção
mas e manteiga. As armas representam, é claro, a despe‑ da nossa economia de forma mais expressiva no gráfico
sa militar, e a manteiga corresponde à despesa civil. representado na Figura 1­‑1. Esse gráfico quantifica a
Suponha que a nossa economia aplica toda a sua ener‑ manteiga ao longo do eixo horizontal e as armas no
gia produzindo o bem civil – a manteiga. Há uma quan‑ eixo vertical. Se você estiver inseguro quanto aos dife‑
tidade máxima de manteiga que pode ser produzida rentes tipos de gráficos e em relação a passar de uma
por ano. A quantidade máxima de manteiga depende tabela para um gráfico, consulte o apêndice referente a
da quantidade e da qualidade dos recursos da econo‑ este capítulo. Marcamos o ponto F, a partir dos dados
mia e da eficiência produtiva com que esses recursos da Tabela 1­‑1, contando para a direita, no eixo horizon‑
são utilizados. Suponha que a quantidade máxima de tal, 5 unidades de manteiga, e, subindo, no eixo verti‑
manteiga que pode ser produzida com a tecnologia e cal, 0 unidade de armas; de forma similar, obtém­‑se E,
os recursos existentes é de 5 milhões de quilos. avançando­‑se para a direita 4 unidades de manteiga e
Em outro extremo, imagine todos os recursos aplica‑ subindo 5 unidades de armas; e, finalmente, obtém­‑se
dos na produção de armas. Novamente, em virtude das A, avançando, para a direita, 0 unidade de manteiga e,
limitações dos recursos, a economia pode produzir so‑ para cima, 15 unidades de armas.
mente uma quantidade limitada de armas. Para esse Completando todas as posições intermédias com ou‑
exemplo, suponha que a economia possa produzir 15 mil tros pontos preenchidos, representativos de todas as
armas de certo tipo caso não seja produzida qualquer
diferentes combinações de armas e manteiga, teríamos
quantidade de manteiga.
a curva contínua, indicada como a fronteira de possibili‑
Essas são as duas possibilidades extremas. Entre elas
dades de produção (ou FPP), na Figura 1­‑2.
existem muitas outras. Se estivermos dispostos a abrir
mão de alguns quilos de manteiga, poderemos ter mais A fronteira de possibilidades de produção (ou FPP)
armas. Se estivermos dispostos a abrir mão de ainda representa as quantidades máximas de produtos que
mais manteiga, poderemos ter ainda mais armas. podem ser produzidas de maneira eficiente por uma
Fronteira de possibilidades de produção   9

15 Fronteira de possibilidades de produção


A
B
A
A
12 15
C B
Armas (milhares)

12 C
9
D

Armas (milhares)
9 D I
6
E

6 U
3 E

F 3
0 1 2 3 4 5
Manteiga (milhões de quilos) F
M
FIGURA 1­‑1  As possibilidades de produção em gráfico. 0 1 2 3 4 5
Esta figura apresenta as combinações alternativas do par de Manteiga (milhões de quilos)
produtos a partir da Tabela 1­‑1. FIGURA 1­‑2  Uma curva contínua une os pontos marcados
das possibilidades de produção do exemplo.
Esta fronteira mostra a curva ao longo da qual a sociedade pode
economia, dados o seu conhecimento tecnológico e a substituir armas por manteiga. Pressupõe um dado patamar de
quantidade de insumos disponíveis. tecnologia e uma dada quantidade de fatores de produção. Os
pontos exteriores à fronteira (tais como o ponto I) são não fac‑
tíveis ou inatingíveis. Qualquer ponto do interior da curva,
Aplicando a FPP às escolhas de uma sociedade como o U, indica que a economia não atingiu a eficiência pro‑
A FPP é o menu de escolhas de uma economia. A Figu‑ dutiva, que ocorre quando, por exemplo, o desemprego é ele‑
ra 1­‑2 mostra a escolha entre armas e manteiga, mas vado durante recessões.
esse conceito pode se aplicar a um leque ampliado de
escolhas econômicas. Assim, quanto mais recursos o
A Figura 1­‑5 representa a escolha de uma economia
governo usar para gastar em rodovias, menos haverá
entre (a) bens de consumo corrente e (b) bens de capi‑
para produzir bens privados, como moradias; quanto
tal (máquinas, fábricas etc.). Sacrificando o consumo
mais decidirmos consumir em alimentação, menos po‑ corrente e produzindo mais bens de capital, a econo‑
deremos consumir em vestuário; quanto mais uma mia de um país pode crescer mais rapidamente, tor‑
economia consumir no presente, menor será sua pro‑ nando possível um maior consumo de ambos os bens
dução de bens de capital, que se transformará em mais (de consumo e de capital) no futuro.
bens de consumo no futuro.
Os gráficos das Figuras 1­‑3 a 1­‑5 apresentam algumas
aplicações importantes da FPP. A Figura 1­‑3 mostra o Não se deixe enganar pelo tempo
efeito do crescimento econômico nas possibilidades de
O grande poeta norte­‑americano Carl Sandburg es‑
produção de um país. Um crescimento dos insumos, ou
creveu: “O tempo é a moeda de sua vida. É a única
o progresso tecnológico, permite a um país produzir
moeda que você tem, e só você pode determinar como
mais de todos os bens e serviços, deslocando, assim, a
será gasta. Tenha cuidado para não deixar com que ou‑
FPP para fora. A figura também ilustra que os países po‑
tras pessoas a gastem por você”. Isso salienta que uma
bres têm de aplicar a maior parte dos seus recursos na
das decisões mais importantes com que as pessoas se
produção de alimentos, enquanto os países ricos podem
confrontam é como usar o seu tempo.
usufruir de mais bens de luxo, à medida que o potencial
Podemos ilustrar essa escolha usando a fronteira de
produtivo aumenta.
possibilidades de produção. Por exemplo, você, como
A Figura 1­‑ 4 ilustra a escolha entre bens privados
estudante, pode dispor de 10 horas para estudar para
(comprados a um preço) e bens públicos (pagos por
as próximas provas de economia e história. Se estu‑
meio de impostos). Os países pobres podem arcar com
dar unicamente história, você irá obter uma boa nota
poucos bens públicos, tais como saúde pública e educa‑
nessa prova, mas obterá uma nota ruim em economia,
ção. Mas, com o crescimento econômico, os bens públi‑
e vice­‑versa. Considerando as notas das duas provas
cos, assim como a qualidade do meio ambiente, passam
a ocupar uma parcela crescente da produção.
10  capítulo 1  •  Conceitos centrais da Economia

(a) País pobre (b) País rico

L L
Bens de luxo (carros, equipamentos de som, ...)

Bens de luxo (carros, equipamentos de som, ...)


B

A A

N N
Bens de primeira necessidade (alimentos, ...) Bens de primeira necessidade (alimentos, ...)
FIGURA 1­‑3  O crescimento econômico desloca a FPP para fora.
(a) Antes do desenvolvimento, o país é pobre. Esse país precisa aplicar a maior parte de seus recursos na alimentação e possui
pouca infraestrutura. (b) O crescimento dos insumos e o progresso tecnológico fazem deslocar para fora a FPP. Com o cresci‑
mento econômico, o país se move de A para B, expandindo pouco o consumo alimentar, se comparado com o crescimento de
seu consumo de bens de luxo. Se desejar, o país poderá aumentar o seu consumo de ambos os bens.

(a) Sociedade rural isolada (b) Sociedade urbana moderna

Pu Pu
Bens públicos (ar puro, ...)

Bens públicos (ar puro, ...)

C
A A

Pr Pr
Bens privados (alimentos, ...) Bens privados (alimentos, ...)
FIGURA 1­‑4  As economias têm de escolher entre bens públicos e bens privados.
(a) Uma comunidade rural isolada vive no nível de subsistência, sobrando poucos recursos para bens públicos, como manter
pavimentação de estradas ou saúde pública. (b) Uma economia urbana moderna é mais abastada e aplica uma maior parcela
de sua renda mais elevada em bens públicos ou serviços do governo (estradas, proteção ambiental e educação).

como o “produto” do seu estudo, elabore a FPP das Recentemente, nos Estados Unidos, foram coleta‑
notas, dados os seus recursos limitados de tempo. dos dados sobre como os americanos usam seu tem‑
Como alternativa, se os dois produtos são “notas” e po. Mantenha um diário do uso de seu tempo em dois
“divertimento”, como você desenharia essa FPP? Onde ou três dias. Depois visite <http://www.bls.gov/tus/
se  colocaria nessa fronteira? E onde se situariam os home.htm> e compare a forma como usa o seu tempo
seus amigos preguiçosos? com os resultados de outras pessoas.
Fronteira de possibilidades de produção   11

(a) Escolhas do presente (b) Consequências futuras

I I
Investimento em capital

Investimento em capital
Pa
ís
3

Pa
ís
2

Pa B3
ís
1
A3
B2
A2
A1 B1
C C
0 Consumo presente 0 Consumo futuro
FIGURA 1­‑5  O investimento para consumo no futuro exige o sacrifício do consumo no presente.
Um país pode produzir tanto bens de consumo (pizzas e espetáculos) como bens de capital (fornos para pizzas e salas de
espetáculos). (a) Três países partem da mesma situação. Têm a mesma FPP, indicada no gráfico da esquerda, mas têm diferen‑
tes taxas de investimento. O País 1 não investe para o futuro (apenas substituindo máquinas) e permanece em A1. O País 2
reduz moderadamente o consumo e investe em A 2. O País 3 sacrifica muito o consumo atual e investe fortemente. (b) Nos anos
seguintes, os países que investem mais fortemente tomam a dianteira. Assim, o País 3, poupador, deslocou muito para fora a
sua FPP, enquanto a FPP do País 1 permaneceu estática. Os países que investem mais podem ter no futuro, simultaneamente,
investimento e consumo mais elevados.

Custos de oportunidade monetárias são uma medida muito restrita do custo.


Devemos questionar se as qualidades preciosas e úni‑
Quando escreveu sobre os caminhos não percorridos,
cas de Yellowstone seriam prejudicadas com o funcio‑
Robert Frost apontou para um dos mais profundos con‑
namento da mina, e com as consequências em termos
ceitos de economia, o custo de oportunidade. Tendo em
de ruído, poluição da água e do ar, bem como a de‑
vista que os nossos recursos são limitados, temos de de‑
gradação do meio ambiente para os visitantes. Ainda
cidir como aplicar o tempo e a renda que possuímos.
Quando você decide se estudará economia, comprará que o custo monetário fosse pequeno, o custo de opor‑
um automóvel ou irá para a universidade, está abrindo tunidade da perda da vida selvagem seria, de fato, mui‑
mão de alguma coisa – haverá uma oportunidade per‑ to grande.
dida. A melhor alternativa de que se prescinde repre‑ Em um mundo de escassez, a escolha de uma coisa
senta o custo de oportunidade de uma decisão. significa abrir mão de outra. O custo de oportunidade
O conceito de custo de oportunidade pode ser ilus‑ de uma decisão é o valor do bem ou do serviço de que
trado utilizando a FPP. Observe a fronteira na Figu‑ se abre mão.
ra 1‑2, que mostra o trade-off entre produzir armas ou
manteiga. Suponha que o país decide aumentar as suas
compras de armas de 9 mil, em D, para 12 mil, em C. Eficiência
Qual é o custo de oportunidade dessa decisão? Você Os economistas dedicam muito de seu estudo na explo‑
pode calculá­‑lo em termos monetários. Mas, em econo‑ ração da eficiência de diferentes tipos de estruturas de
mia, precisamos sempre “ir além” do dinheiro para mercado, incentivos e impostos. Recorde que a eficiên‑
analisar os impactos reais das decisões alternativas. Na cia significa que os recursos da economia estão sendo
sua essência, o custo de oportunidade de passar de D usados da forma mais eficaz possível para satisfazer os
para C é a manteiga de que se abre mão para produzir desejos das pessoas. Um aspecto importante de toda a
as armas adicionais. Nesse exemplo, o custo de oportu‑ eficiência econômica é a eficiência produtiva, que é fa‑
nidade de 3 mil armas adicionais é de 1 milhão de qui‑ cilmente retratada em termos de FPP. Eficiência signi‑
los de manteiga. fica que a economia está na fronteira, em vez de no inte‑
Ou considere o exemplo da vida real do custo de rior da fronteira de possibilidades de produção.
abertura de uma mina de ouro, perto do Parque Natu‑
ral de Yellowstone. O empresário argumentava que a A eficiência produtiva ocorre quando uma economia
mina tinha apenas um custo diminuto, tendo em vista não pode produzir mais de um bem sem que produza
que as receitas de Yellowstone dificilmente seriam afe‑ menos de outro bem. Isso significa que a economia está
tadas. Mas um economista responderia que as ­receitas em sua fronteira de possibilidades de produção.
12  capítulo 1  •  Conceitos centrais da Economia

Vejamos por que razão a eficiência produtiva exige subitamente nesses anos. Em vez disso, foi a redução da
que se esteja sobre a FPP. Vamos partir da situação indi‑ despesa global que empurrou temporariamente a eco‑
cada pelo ponto D na Figura 1­‑2. Suponha que o merca‑ nomia para o interior da FPP nesse período.
do exige mais um milhão de quilos de manteiga. Se Um tipo diferente de ineficiência ocorre quando os
ignorássemos a restrição representada pela FPP, pode‑ mercados não estão refletindo a verdadeira escassez,
ríamos pensar que seria possível produzir mais mantei‑ como no caso da degradação ambiental. Suponha que
ga sem reduzir a produção de armas, movendo­‑nos, uma empresa de um setor não controlado decida des‑
por exemplo, para o ponto I, para a direita do ponto D. pejar produtos químicos em um rio, matando peixes e
Mas o ponto I está além da fronteira, na região “não destruindo a possibilidade de atividades de lazer. A
factível”. A partir de D, não podemos ter mais mantei‑ empresa não está fazendo isso necessariamente por‑
ga sem abrir mão de algumas armas. Assim, o ponto D que tem más intenções. O que acontece é que os pre‑
­corresponde à eficiência produtiva, enquanto o ponto I ços no mercado não refletem verdadeiramente as
é não factível. prioridades sociais – o preço de poluir um ambiente
Um ponto adicional acerca da eficiência produtiva não controlado é nulo, não representando o verdadei‑
pode ser ilustrado com o uso da FPP: estar sobre a FPP ro custo de oportunidade em termos de peixes e lazer
significa que produzir mais de um bem exige inevita‑ que se perdem.
velmente o sacrifício de outros bens. Quando produzi‑ A degradação ambiental também pode empurrar a
mos mais armas, estamos substituindo manteiga por economia para dentro da sua FPP. A situação é ilustra‑
armas. A substituição é a lei da vida em uma economia da na Figura 1­‑ 4(b). Como as empresas não se defron‑
de pleno emprego, e a fronteira de possibilidades de tam com preços corretos, a economia se desloca do
produção descreve o menu de escolhas da sociedade. ponto B para o ponto C. Os bens privados são aumen‑
Os desperdícios dos ciclos econômicos e a degradação ambien- tados, mas os bens públicos (como o ar e água puros)
tal.  As economias são castigadas com o uso ineficien‑ diminuem. O controle eficiente do meio ambiente
te dos recursos, por várias razões. Quando há recursos pode mover­‑nos de novo para nordeste, para a frontei‑
não utilizados, a economia não está seguramente na ra eficiente tracejada.
sua fronteira de possibilidades de produção, mas, em Ao concluirmos este capítulo, regressemos breve‑
vez disso, em algum ponto no seu interior. Na Figu‑ mente ao nosso tema inicial: Por que estudar Econo‑
ra 1­‑2, o ponto U representa um ponto no interior da mia? Talvez a melhor resposta à questão seja uma famo‑
FPP; em U, a sociedade produz somente 2 unidades de sa dada por Keynes, ao final de A Teoria Geral do Emprego,
manteiga e 6 unidades de armas. Alguns recursos estão do Juro e da Moeda:
subutilizados e, se forem aproveitados, poderemos ob‑ As ideias dos economistas e dos filósofos políticos, tanto
ter uma maior produção de todos os bens. A economia quando estão certas como quando estão erradas, são
pode deslocar­‑se de U para D, produzindo mais mantei‑ mais poderosas do que em geral se julga. De fato, o mun‑
ga e mais armas e, assim, melhorar a eficiência da eco‑ do é governado por pouco mais do que isso. Os homens
nomia. Podemos ter as nossas armas e comer mais man‑ práticos, que pensam que estão completamente livres de
quaisquer influências intelectuais, são geralmente os es‑
teiga também.
cravos de algum falecido economista. Autoritários até à
Historicamente, ocorre uma fonte de ineficiência loucura, ouvindo vozes no ar, destilam a sua insanidade
durante os ciclos econômicos. De 1929 a 1933, duran‑ com base em algum escritor acadêmico de há alguns
te a Grande Depressão, o produto total dos Estados anos. Estou certo que o poder dos interesses ocultos é
demasiadamente empolado, em comparação à gradual
Unidos reduziu em 25%. A economia não sofreu um
vitória das ideias. Não imediatamente, de certo, mas
deslocamento para dentro da FPP por involução tec‑ após um certo intervalo. Porque, no campo da economia
nológica. Em vez disso, o pânico, as falências de ban‑ e da filosofia política, poucos são influenciados por no‑
cos e de empresas e a redução da despesa deslocaram vas teorias após terem atingido os 25 a 30 anos de idade,
a economia para o interior da sua FPP. Uma década de modo que não é provável que as ideias que os funcio‑
mais tarde, as despesas militares para a Segunda Guerra nários públicos, os políticos, ou até mesmo os agitado‑
Mundial expandiram a demanda e o produto cresceu res, aplicam em relação aos acontecimentos atuais sejam
rapidamente, empurrando de novo a economia para as mais recentes. Mas, mais cedo ou mais tarde, para o
a FPP. bem ou para o mal, perigosas são as ideias, e não os inte‑
resses ocultos.
Situações similares ocorrem periodicamente duran‑
te as recessões. A mais recente desaceleração econômi‑ Em última instância, a razão pela qual estudamos Eco‑
ca ocorreu em 2007­‑2008, quando problemas no mer‑ nomia é compreender como as ideias poderosas da
cado imobiliário e do crédito se espalharam por toda a ciên­cia econômica se aplicam às questões centrais das
economia. A produtividade da economia não regrediu sociedades humanas.
Conceitos para revisão   13

RESUMO

A. Por que estudar Economia? vadas. Todas as sociedades têm combinações diferentes de
1. O que é a Economia? Economia é o estudo da forma como controle do Estado e de mercado; todas as sociedades são
as sociedades decidem a utilização de recursos produtivos economias mistas.
escassos e que têm usos alternativos, para produzir bens C. Possibilidades tecnológicas da sociedade
de variados tipos e distribuí-los entre os diferentes gru‑
6. Dados os recursos e a tecnologia, as escolhas de produção
pos. Estudamos Economia para compreender não só o
entre dois bens, por exemplo, manteiga e armas, podem ser
mundo em que vivemos, mas também muitos mundos em
resumidas na fronteira de possibilidades de produção (FPP). A
potencial que os proponentes de mudanças estão constan‑
FPP mostra como a produção de um bem (como armas) é
temente nos fazendo.
equilibrada com a produção de outro bem (como mantei‑
2. Os bens são escassos porque os indivíduos desejam muito ga). Em um mundo de escassez, a escolha de uma coisa sig‑
mais do que a economia pode produzir. Os bens econômi‑ nifica abrir mão de qualquer outra. O valor do bem ou ser‑
cos são escassos, não são gratuitos, e a sociedade tem de viço perdido é o custo de oportunidade.
escolher os bens limitados que podem ser produzidos com
os recursos disponíveis. 7. A eficiência produtiva ocorre quando a produção de um
bem não pode ser aumentada sem a redução na produção
3. A microeconomia trata do comportamento de entidades de outro bem. Isso é ilustrado pela FPP. Quando uma eco‑
individuais, como mercados, empresas e famílias. A ma‑ nomia está sobre a sua FPP apenas poderá produzir mais
croeconomia observa o desempenho da economia como de um bem se reduzir a produção de outro bem.
um todo. Em todas as questões econômicas, mantenha­‑se
atento às falácias da composição e do post hoc e lembre­‑se 8. A fronteira de possibilidades de produção ilustra muitos
de manter tudo o mais constante. processos econômicos básicos: como o crescimento econô‑
mico faz expandir a fronteira, como um país escolhe rela‑
B. Três problemas da organização econômica tivamente menos alimentos e outros bens de primeira ne‑
4. Qualquer sociedade deve responder a três questões fun‑ cessidade, à medida que se desenvolve, como um país
damentais: o quê, como e para quem? Que tipo de bens escolhe entre bens privados e bens públicos e como as so‑
e serviços, entre o vasto leque de possibilidades, e qual ciedades escolhem entre bens de consumo e bens de capi‑
quantidade deverá produzir? Como deverão os recursos tal que aumentam o consumo futuro.
ser utilizados na produção desses bens? E para quem de‑ 9. As sociedades estão, por vezes, no interior da sua fronteira
vem os bens ser produzidos (isto é, qual deverá ser a dis‑ de possibilidades de produção por causa de recessões eco‑
tribuição da renda e do consumo entre os diferentes indi‑ nômicas ou de falhas microeconômicas de mercado. Quan‑
víduos e classes)? do as condições de crédito são restringidas, ou a despesa
5. As sociedades respondem a estas questões de formas dife‑ diminui de repente, uma sociedade se move para dentro
rentes. As formas atuais mais importantes da organização da sua FPP em recessões; isso ocorre em decorrência de
econômica são a dirigida e a de mercado. A economia diri‑ questões de rigidez macroeconômicas, não por causa de
gida funciona sob o controle centralizado do governo; involução tecnológica. A sociedade também pode estar
uma economia de mercado funciona por meio de um sis‑ dentro de sua FPP se os mercados falham, porque os pre‑
tema não formalizado de preços e lucros, no qual a maio‑ ços não refletem as prioridades sociais, como com a de‑
ria das decisões é tomada por indivíduos ou empresas pri‑ gradação ambiental da poluição do ar e da água.

CONCEITOS PARA REVISÃO

Conceitos fundamentais – “manter tudo o mais constante” – economias mistas


– escassez e eficiência Problemas­‑ chave da organização Escolha entre as possibilidades de
– bens ilimitados versus bens econômica produção
econômicos
– o quê, como e para quem – insumos e produtos
– macroeconomia e microeconomia
– sistemas econômicos alternativos: – fronteira de possibilidades de
– economia normativa versus
economia dirigida versus de produção (FPP)
economia positiva
mercado – eficiência e ineficiência produtiva
– falácia da composição, falácia do
– laissez­‑faire – custo de oportunidade
post hoc
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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