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Sistemas processuais penais

APRESENTAÇÃO

Falar em sistemas processuais significa falar das formas de atuação possíveis do Estado para
com o Direito Penal, ou seja, como opera o Estado no sentido de fazer valer as normativas
penais que o regulam.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá se aproximar dos sistemas processuais penais,
conhecendo suas principais caracteristicas e aplicabilidades.

Os sistemas processuais penais estão divididos entre acusatório, inquisitório e misto. Além de
trabalharamos as caracteristicas e formas de atuação dentro de cada um desses sistemas, também
exploraremos a divergência doutrinária quanto ao sistema processual penal brasileiro.

Aprofundaremos os estudos de direito processual penal com a aproximação ao inquérito


policial, como ele funciona, quais suas características e principais objetivos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer os sistemas processuais penais.


• Definir inquérito policial, a sua finalidade e natureza jurídica.
• Analisar o procedimento do inquérito policial.

INFOGRÁFICO

Você sabe o que é um Inquérito Policial, suas caracteristicas e procedimento? É chegada a hora
de nos aproximarmos desse conteúdo. Neste inforgráfico, você terá acesso às principais
caracteristicas do Inquérito Policial. Ainda, conseguirá acompanhar o passo a passo cronológico
desde a conclusão do inquérito.
CONTEÚDO DO LIVRO

Neste capítulo, você irá estudar ideias acerca dos sistemas processuais penais, sendo eles:
acusatório, inquisitivo e misto. Serão explorados, portanto, os conceitos de cada um deles. Além
disso, estudará o instituto do inquérito policial, sua conceituação, natureza jurídica e o passo a
passo desse procedimento.

Leia o capítulo Sistemas processuais penais, da obra Teoria do processo judicial e extrajudicial,
base teórica para essa Unidade de Aprendizagem.

Boa leitura.
TEORIA DO
PROCESSO JUDICIAL
E EXTRAJUDICIAL

Ariane Perdomo
Sistemas processuais penais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Reconhecer os sistemas processuais penais.


„ Definir inquérito policial, a sua finalidade e natureza jurídica.
„ Analisar o procedimento do inquérito policial.

Introdução
Falar em sistemas processuais significa falar das formas de atuação pos-
síveis do Estado com o Direito Penal, ou seja, como opera o Estado no
sentido de fazer valer as normativas penais que o regulam.
Os sistemas processuais penais estão divididos em acusatório, in-
quisitório e misto. Neste capítulo, além de trabalhar as características e
formas de atuação dentro de cada um desses sistemas, você também vai
explorar a divergência doutrinária quanto ao sistema processual penal
brasileiro. Ainda, vai aprofundar os estudos de Direito Processual Penal
com a aproximação ao inquérito policial, como ele funciona, as suas
características e os seus principais objetivos.

Sistemas processuais penais


O acontecimento de uma conduta típica move no Estado uma necessidade de
ação, que consiste na obrigação de aplicar uma punição. O processo penal tem
como função a garantia da aplicabilidade dessas sanções de forma alinhada
às garantias constitucionais do sujeito. Ou seja, o poder do Estado de punir
fica limitado a algumas regras.
Esse sistema, no entanto, não ocorre de maneira igualitária em todos
os países, tampouco em todo o tempo, ou seja, verificamos, portanto, uma
tridivisão do processo penal em sistemas processuais. Essa divisão pressupõe
a existência de um sistema acusatório, um sistema inquisitivo e outro misto.
Importante destacar que, pensando em um panorama histórico, os sistemas

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inquisitoriais estiveram muito mais presentes em Estados cuja forma de governo


se demonstra mais repressiva, ou seja, aqueles cujos interesses dos indivíduos
acabam sendo subalternos aos interesses do Estado.
Em sentido contrário, os sistemas acusatórios vigoraram e até o momento
vigoram em sociedades cujo Estado preocupa-se com os interesses dos indiví-
duos e age de forma democrática e protegendo a liberdade individual. Pensando
em uma lógica histórica, o sistema acusatório foi o mais utilizado até a metade
do século XII. Após houve um movimento de transição ao modelo inquisitório,
já que, no primeiro, o processo ficava sob o comando dos particulares, no
entanto, havia a necessidade de que essa atividade fosse institucionalizada.
O sistema inquisitório começou sendo adotado pela Igreja e, aos poucos, foi
aderido pelos Estados. O sistema, adotado pela Igreja, pressupunha ação
intolerante contra aqueles que descumprissem seus ordenamentos, porém, da
mesma forma, foi absorvido pela ação estatal. Esse sistema foi o mais adotado
até o final do século XVIII, início do século XIX.
Falaremos de algumas características de cada um deles e, a seguir, apro-
ximaremos da realidade brasileira, objetivando identificar o sistema aplicado
na nossa atuação penal.

Sistema acusatório
Nesse sistema, os papéis de acusar, atuar na defesa e decidir acerca do ocor-
rido são bastante divididos e exercidos por sujeitos diferentes. O juiz atua
nesse sistema como um sujeito totalmente apartado das partes, com postura
passiva no que diz respeito à propositura da ação. As partes do processo
possuem uma característica isonômica entre si, além disso, ao réu, até que
se tenha o julgamento da ação, é assegurada a presunção de inocência. Ou
seja, não será considerado culpado no curso do processo, o que garante a
ele responder ao processo em liberdade, salvo exceções que venham a exigir
procedimento contrário.
O contraditório e a ampla defesa regem esse modelo, o que significa
dizer que o acusado toma conhecimento de todos os atos processuais e ma-
nifestações, além disso, tem o direito de manifestar-se, ou seja, defender-se
de tudo que for a si atribuído. Vale dizer que, além de o réu ter acesso aos
atos processuais, eles são, em regra, regidos pelo princípio da publicidade,
o que assegura o livre acesso da sociedade ao processo. O princípio da pu-
blicidade pode ceder, dando espaço ao segredo de justiça, caso se verifique
a necessidade de privacidade.

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Sobre a produção de provas, o juiz, em regra, assume atuação passiva, ou


seja, é de responsabilidade e competência das partes, acusado e acusação, a
iniciativa pela produção de provas, cabendo essa atuação de ofício pelo juiz
apenas em casos excepcionais.

Podemos dizer que a característica mais relevante e marcante desse sistema é a separa-
ção entre o juiz e a acusação. Ou seja, não deve o primeiro atuar no sentido de auxiliar
o processo de condenação do acusado, mas sim, como participante imparcial, analisar
tudo o que foi produzido por acusado e acusação e então realizar um julgamento.

Sistema inquisitório
Nesse sistema, em contraponto ao sistema acusatório, os papéis assumidos
pelos agentes do processo penal não são tão bem divididos. Tal afirmativa se
faz tendo em vista que ao juiz é atribuída tanto a função de julgar quanto a
de participar da acusação e da defesa. Esse é o modelo que, de acordo com a
doutrina, gera maior injustiça.
Além do fato de não podermos dizer ser o julgador imparcial, também não
há praticamente qualquer limitação para a obtenção da confissão dos acusados.
O procedimento não vinha resguardado pelo princípio da publicidade, pelo
contrário, era secreto. As garantias do contraditório e da ampla defesa que
estão no sistema acusatório, no inquisitório, não são visualizadas. Assim, o
processo correr de forma secreta é uma discricionariedade do magistrado que
pode assim definir, sem que haja qualquer fundamentação para a medida.
Os interesses da acusação prevalecem quanto aos demais. Nesse sentido,
não se faculta à defesa manifestar-se acerca de cada manifestação levantada
no processo. Tanto as partes quanto o juiz podem atuar na produção de provas.
No que diz respeito à liberdade do réu, vale dizer que, nesse sistema, o
que se presume é sua culpa. Assim, a prisão preventiva é algo extremamente
recorrente, sendo que responder ao processo em liberdade torna-se, portanto,
uma exceção a ser devidamente fundamentada.
O Estado assume o poder quase integral do processo penal, na medida
em que atua diretamente em todos os andamentos processuais, acusando,
produzindo provas e julgando.

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Sistema misto
Esse sistema, como o próprio nome revela, abrange cada um dos outros dois
sistemas trabalhados. Ou seja, ele engloba elementos acusatórios e elementos
inquisitórios. Como um movimento no sentido de afastar o modelo inquisitório,
ele acaba trazendo garantias presentes no acusatório. Para parte da doutrina,
não existe nenhum sistema puramente acusatório ou puramente inquisitório,
sendo, portanto, esse o modelo mais recorrente.
No sistema misto, no que diz respeito à separação das funções de acu-
sação, defesa e decisão, há uma clara divisão. No entanto, isso não impede,
em situações excepcionais, o juiz de agir de forma ativa, assumindo funções
próprias de acusação e defesa.
Nesse modelo, há a garantia do contraditório e da defesa, em níveis que
vão variar de maior para menor, de acordo com as demais garantias asse-
guradas pelo País. Como o direito ao contraditório e à defesa são variáveis,
também varia nesse sistema o quesito de isonomia das partes, que, em regra,
acontece, no entanto, por vezes, é relativizado, seja em favor da defesa ou
em favor da acusação.
No que diz respeito à publicidade dos atos, estes devem ser públicos,
mas podem ganhar caráter secreto mesmo sem existência de lei que assim
determine, ou seja, pode acontecer esse afastamento da publicidade dos atos
por motivação do juiz.
Quanto à produção de provas, ela é uma garantia de titularidade da defesa
e da acusação, podendo, no entanto, ser assumida pelo juiz em casos que
entenda pertinente.
Não presumimos nem a culpa nem a inocência nesse sistema. A regra é que
o processo deve ser respondido com o acusado em liberdade, no entanto, essa
garantia não é absoluta, podendo ser relativizada de acordo com a legislação
de cada país, bem como por motivação do juiz.

Sistema processual penal brasileiro


Não há unidade por parte dos doutrinadores no sentido de escolher um dos
três sistemas para inserir o sistema penal brasileiro. Uma parte da doutrina
vai atribuir ao Brasil o sistema misto, outra parte rebate essa posição e a ele
atribui caráter acusatório.
O grande ponto de conflito entre essas duas correntes doutrinárias consiste
no fato de que entendem o sistema como acusatório e desconsideram a fase do
inquérito policial, por ainda não ser o processo. Já a parte da doutrina que o

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compreende como misto percebe ser necessário enfrentar o sistema como um


todo, sem desconsiderar a fase que tramita sob a presidência de uma autoridade
policial. Nesse caso, portanto, a fase do inquérito seria inquisitória e a fase
judicial seria acusatória.
A Constituição Federal traz elementos que correspondem ao sistema acu-
satório, no entanto, aqueles que estabelecem a crítica ao posicionamento
enfrentam-no no sentido de que, mesmo com as garantias constitucionais,
devemos verificar o efetivamente feito e como é efetivamente conduzido o
sistema. Ou seja, embora garantias que correspondam à caixa do acusatório,
a prática e a legislação infraconstitucional, por vezes, são inquisitivas.

A doutrina majoritária entende o sistema penal brasileiro como acusatório, uma vez
que desconsidera a existência do inquérito, já que ele não faz parte do processo penal,
mas sim é um momento administrativo e dispensável.

Obtenha mais informações sobre o sistema carcerário brasileiro assistindo ao vídeo 2


minutos para entender - Sistema Carcerário Brasileiro, disponível no YouTube.

Inquérito policial: natureza jurídica, conceito


e finalidade
O inquérito policial é um procedimento de natureza jurídica administrativa,
instaurado pela autoridade policial a fim de diligenciar no sentido de captar
elementos suficientes para atribuição de provável autoria e materialidade de
um crime. É preparatório para a ação penal, já que, por meio dele, inicia-se a
investigação de um ato ilícito.

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O inquérito é de responsabilidade da polícia judiciária e, por se dar na


esfera administrativa, não estão presentes ainda nesse momento as garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Durante o inquérito policial,
resguardado o interesse na investigação, os atos não serão públicos, podendo
desenvolver-se em sigilo a fim de proteger os interesses.
Considerando que não é assegurado ao investigado o direito de contra-
ditório e ampla defesa, as provas produzidas nessa esfera servem apenas
como elementos para firmar uma convicção do juiz. Portanto, todas as provas
devem ser confirmadas na esfera judicial, nesse caso, com a devida atenção
às garantias legais. Ou seja, o juiz não pode fundamentar suas decisões com
base naquilo que for produzido nesse momento.
A finalidade do inquérito policial vai ser o estabelecimento de elementos à for-
mação da convicção ministerial ou do ofendido (se for o caso) de que existem razões
suficientes para o oferecimento de denúncia, ou seja, elementos que demonstrem
um indicativo claro de materialidade — existência de um crime — e de autoria.
Caso o ofendido ou o Ministério Público já estejam devidamente conven-
cidos desses elementos — materialidade e autoria —, o inquérito policial se
torna facultativo, ou seja, não é peça fundamental à propositura de ação penal,
seja ela pública ou privada.
O inquérito possui sete principais características que vão dizer respeito
aos seus elementos.

„ Escrito — os atos realizados no inquérito sempre serão levados a termo,


ou seja, transformados em um documento escrito.
„ Oficiosidade — ele pode ser instaurado de ofício pela autoridade policial
quando da notícia de um crime.
„ Oficialidade — significa que só podem atuar nesse procedimento
agentes públicos dotados de competência para tanto.
„ Inquisitorial — não assegura o contraditório e a ampla defesa.
„ Indisponibilidade — embora seja de iniciativa da autoridade policial, ela
não pode realizar seu arquivamento, que só poderá ser realizado pelo juiz.
„ Discricionariedade — a condução da investigação, ou seja, a forma de
condução e as diligências perseguidas são elaboradas de acordo com
a discricionariedade da autoridade policial, que é a responsável pela
condução do processo.
„ Sigilo — o princípio da publicidade aqui é afastado, já que, para o sucesso
da investigação, por vezes, o sigilo se torna imprescindível. Esse sigilo, no
entanto, não vale para juiz, agente ministerial e advogado do investigado.

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De acordo com o Informativo 0505, da Sexta Turma do Superior Tribunal de


Justiça (STJ):

DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILICITUDE DE PROVA. GRA-


VAÇÃO SEM O CONHECIMENTO DO ACUSADO. VIOLAÇÃO
DO DIREITO AO SILÊNCIO.
É ilícita a gravação de conversa informal entre os policiais e o condu-
zido ocorrida quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, se
não houver prévia comunicação do direito de permanecer em silêncio.
O direito de o indiciado permanecer em silêncio, na fase policial, não
pode ser relativizado em função do dever-poder do Estado de exercer a
investigação criminal. Ainda que formalmente seja consignado, no auto
de prisão em flagrante, que o indiciado exerceu o direito de permanecer
calado, evidencia ofensa ao direito constitucionalmente assegurado (art.
5º, LXIII) se não lhe foi avisada previamente, por ocasião de diálogo
gravado com os policiais, a existência desse direito. HC 244.977 —
SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/9/2012 (BRASIL,
2012, documento on-line).

Inquérito policial: o procedimento


O inquérito policial pode ser instaurado para crimes de:

„ ação penal pública incondicionada de representação;


„ ação penal pública condicionada;
„ ação penal privada.

No que diz respeito à ação penal pública incondicionada, o inquérito


pode iniciar de ofício, pelo auto de prisão em flagrante, mediante requisição
da autoridade judiciária ou do Ministério Público ou a requerimento do
ofendido.
A instauração de ofício pela autoridade policial será realizada por meio
de portaria indicando:

„ objeto da investigação;
„ circunstâncias que giram no entorno do fato;
„ procedimentos a serem diligenciados.

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A instauração é chamada de oficio, pois, sempre que a autoridade policial


tiver notícia de um crime, independentemente do meio de informação, tem a
obrigação de mandar instaurar um inquérito.
A instauração que ocorre mediante requisição do juiz ou do Ministério
Público tem como característica o fato de ser obrigatório seu cumprimento
pela autoridade policial. Mesmo que esta verifique ser incabível a instauração,
terá força de determinação. Por outro lado, aquela que ocorre por requerimento
do ofendido tem como característica o fato de ser uma solicitação, portanto,
não torna a autoridade policial vinculada à necessidade de instauração. Se
entender não ser cabível o inquérito, o delegado fará um despacho justificado.
Dessa manifestação negativa, cabe recurso ao chefe de polícia do Estado.
O auto de prisão em flagrante dispensa a portaria prevista para aqueles
instaurados de ofício. Isso porque é o próprio auto de prisão em flagrante que
dá a instauração do inquérito.
No que diz respeito à ação penal pública condicionada, o inquérito pode
depender de representação do ofendido, de requisição do Ministério Público
ou do juiz, ou ainda de auto de prisão em flagrante.
A instauração que dependerá da representação do ofendido diz respeito
àquelas em que a manifestação da vítima acerca do interesse de apurar o crime
acontecido é um requisito para que se apure. Essa manifestação de vontade de
representar pode acontecer perante qualquer uma das autoridades envolvidas no
processo penal, ou seja, tanto autoridade judiciária quanto policial ou ao agente
ministerial. Caso a vítima manifeste ao juiz ou ao promotor o desejo de repre-
sentar, será deles a iniciativa de manifestar a representação, logo, requisitarão à
autoridade policial a instauração, mediante o fato de o ofendido ter representado.
Caso ocorra a prisão em flagrante de um crime condicionado à representação,
a sua manutenção preso e, por consequência, o prosseguimento do inquérito
ficam também condicionado ao aporte posterior da representação da vítima.
No que diz respeito à ação penal privada, o inquérito só poderá ser ins-
taurado caso seja assim requerido pelo ofendido, por seu representante legal
ou, ainda, em caso de falecimento, por seu cônjuge, ascendente, descendente
ou irmão. Caso o desejo do ofendido seja manifestado perante o Ministério
Público ou o juiz, deverá ser requisitada por eles a instauração do inquérito,
devidamente instruída pelo requerimento do ofendido. Da mesma forma que
na ação penal pública condicionada, em caso de prisão em flagrante, também
é possível a instauração, no entanto, é requisito a autorização da vítima no
prazo de 24 horas da prisão.
Uma vez instaurado o inquérito policial, a autoridade policial deverá di-
ligenciar no sentido de incrementar a investigação, ou seja, trabalhar na pro-

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dução de elementos que venham a construir o opinio delicti. O inquérito será


encerrado quando a autoridade entender que existem elementos suficientes
a fim de demonstrar o acontecimento do crime e possível autoria. O fim do
inquérito acontece com a elaboração de um relatório conclusivo que poderá,
inclusive, indicar a tipificação penal na qual incorreu o agente, bem como
poderá haver representação pela prisão do investigado.
O prazo para conclusão do inquérito policial em casos de prisão, ou seja, que
o investigado esteja preso, é de 10 dias, o que, caso estejamos falando de crime
previsto na Lei de Drogas, passará para 30 dias. Por outro lado, caso esteja o
investigado em liberdade, a regra geral será de conclusão em 30 dias, ao passo
que, no que diz respeito à Lei de Drogas, passará para 90 dias para sua conclusão.
Uma vez instaurado o inquérito policial, ele necessariamente deverá ser
remetido à autoridade judiciária, ainda que, por ocasião da investigação, a
autoridade policial perceba que não era caso de instauração — ela não poderá
arquivar diretamente. Uma vez autuado, o inquérito é remetido ao Ministério
Público para primeira manifestação. O agente ministerial, diante do inquérito
policial, tem três possibilidades de ação, vejamos cada uma delas:

„ Baixar em diligências — nesse caso, o Ministério Público entende que


não há esclarecimento suficiente acerca dos fatos e impõe a medida de
que retorne à autoridade policial para que siga diligenciando no sentido
de melhor arquitetar essas construções de autoria e materialidade. O
Ministério Público, nesse caso, indicará as diligências que entende per-
tinentes a serem realizadas, e o juiz fará a remessa à autoridade policial.
„ Declarar incompetência — no caso de o Ministério Público verificar
incompetência de juízo ou de foro, pedirá a remessa ao competente. Caso o
agente ministerial que receba o inquérito cuja competência fora levantada
entenda não ser competente, deverá suscitar o conflito de competência.
„ Arquivamento — Caso o agente ministerial entenda inexistirem ele-
mentos para oferecer a denúncia. Neste caso, ele deverá comunicar a
vítima, o investigado e a autoridade policial e encaminhar os autos
para a instância de revisão ministerial para homologação. A vítima
ou seu representante legal terão 30 dias para submeter a matéria à
revisão da instância competente do respectivo órgão ministerial, caso
discordem do arquivamento. Em se tratando de ações penais relativas
a crimes praticados contra União, Estados e Municípios, a revisão do
arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia
do órgão a quem couber a sua representação judicial.

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Caso não se trate de hipótese de arquivamento, mas tendo o investigado


confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem
violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. É necessário
ressaltar que a vigência deste procedimento, previsto no art. 28, caput, do
Código de Processo Penal, encontra-se suspensa em virtude de decisão pro-
ferida na Adin 6.299 — DF.

Algumas diligências possíveis no inquérito policial (art. 6º do Código de Processo


Penal) são:
„  preservar o local do acontecimento dos fatos até que a perícia chegue ao local;
„  apreender objetos relacionados ao fato;
„  colher provas que sirvam ao esclarecimento dos fatos;
„  ouvir a vítima;
„  ouvir o indiciado;
„  reconhecer pessoas e acareações;
„  determinar a realização de perícias, incluindo exame de corpo de delito;
„  reconhecer o indicado por meio datiloscópio;
„  tomar conhecimento da vida pregressa do indiciado;
„  colher informações familiares do indiciado.

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Referência

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Informativo nº. 0505, 20 set. a 3 out. 2012. Disponí-
vel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/informativo-tribunal,informativo-505-
-do-stj-2012,39956.html>. Acesso em: 14 maio 2018.

Leituras recomendadas
AVENA, N. Manual de processo penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
FERRAJOLI, L. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2010.
GAVIÃO, R. O inquérito policial no Brasil e seus conceitos: questões de validade entre
forma e conteúdo. 2015. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito
do Sul de Minas. Pouso Alegre, 2015. Disponível em: <https://sucupira.capes.gov.
br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.
jsf?popup=true&id_trabalho=3615252>. Acesso em: 14 maio 2018.
LOPES JÚNIOR, A. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
SOUZA, D. T. Q. A permeabilidade inquisitória do processo penal em relação aos atos de
investigação preliminar. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito) — Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016. Disponível em: <https://
sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTra-
balhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=3616374>. Acesso em: 14 maio 2018.

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DICA DO PROFESSOR

O acontecimento de uma conduta típica move no Estado uma necessidade de ação, que consiste
na necessidade de aplicar uma punição. O Processo Penal tem como função a garantia da
aplicabilidade dessas sanções de forma alinhada às garantias Constitucionais do sujeito. No que
diz respeito aos sistemas processuais penais, sabemos que são três: acusatório, inquisitivo e
misto.

Nesta Dica do Professor, você compreenderá a principal caracteristica de cada um desses


modelos e, além disso, as dinâmicas que giram no entorno das divergências doutrinárias acerca
de qual o sistema processual penal que temos em nosso país.

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EXERCÍCIOS

1) São características do sistema penal acusatório:

A) Concentração da acusação, defesa e julgamento em um só órgão.

B) Produção de provas desde o inquérito policial.

C) Garantia ao contraditório e à ampla defesa.

D) Sigilo do procedimento como regra.

E) Juiz como elemento principal da produção de provas no processo.

2) A investigação de um crime no Brasil acontece, via de regra, encabeçada pela


autoridade policial. São características presentes no Inquérito Policial:
A) Produção de provas, nessa fase, poderá servir de fundamentação à condenação na esfera
judicial.

B) Permissão de busca por novas informações de qualquer natureza, mesmo com o seu
arquivamento.

C) Assegura-se à defesa o direito de informação de todas as diligências realizadas, após


finalizadas e levadas a termo nos autos.

D) Necessidade de que a notícia do crime seja identificada, ou seja, veda denúncias anônimas
de um fato criminoso.

E) Objetivando preservar o andamento das investigações, manter o investigado


incomunicável.

3) Acerca do Inquérito Policial, é correto afirmar:

A) A autoridade policial, verificando que faltam elementos para configuração de autoria e


materialidade, poderá, de ofício, determinar seu arquivamento.

B) É assegurado o contraditório e a ampla defesa, em qualquer circunstância.

C) É um procedimento que, em regra, corre em sigilo, de modo que nem mesmo aquele que
desempenha função de defesa poderá ter acesso.

D) É presidido por uma autoridade policial e é inquisitório quanto ao procedimento.

E) Mesmo nos casos de ação penal pública condicionada, o inquérito poderá ser instaurado
por iniciativa e convicção da autoridade policial.

4)
O Inquérito Policial, quanto ao seu procedimento:

A) Não é indispensável à ação penal.

B) Quando feita sua remessa à autoridade judiciária, todos os instrumentos do crime são
retirados, já que é na fase judicial que podemos construir as provas.

C) Em razão do princípio da oralidade, pode não ser escrito.

D) Uma vez fundamentando sua motivação, a autoridade policial poderá arquivar o inquérito,
caso nas diligências realizadas não se identifiquem critérios para a demonstração de
materialidade e autoria.

E) Embora a regra seja ser presidido por um delegado de polícia, em razão da sobrecarga de
trabalho, poderá ser presidido por um escrivão.

5) Quanto aos prazos do inquérito policial, é correto afirmar:

A) Em regra, deve ser finalizado em 30 dias.

B) Todas as diligências devem ser feitas na semana seguinte à ocorrência do crime.

C) No que diz respeito a processos de réu preso, independentemente do crime, o prazo para
conclusão é de 90 dias.

D) Nos crimes previstos na Lei de Drogas, o prazo para conclusão do inquérito no caso de o
investigado encontrar-se em liberdade é de 90 dias.

E) 30 dias é o tempo máximo que um investigado, por qualquer crime, que esteja em
liberdade, poderá aguardar pela conclusão do inquérito policial.
NA PRÁTICA

Considerando a problemática que gira no entorno do sistema processual brasileiro, é importante


falar que a fase de investigação, ou seja, durante o Inquérito Policial, uma vez que não se
propicia o contraditório e a ampla defesa, há uma fragilidade nas garantias do investigado. A
Súmula 14 do STF, no ano de 2009, veio para garantir o acesso aos procuradores às informações
do Inquérito Policial.

No entanto, na prática, ainda seguem ocorrendo situações de violação dessa súmula. Tal
problemática pode ser ilustrada. Acompanhe, na imagem a seguir, a ementa de decisão do TJRS,
em que, por três anos de duração do Inquérito Policial, estava sendo negado o acesso ao
advogado do investigado aos autos.

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SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

O papel do inquérito policial no processo de incriminação no Brasil: algumas reflexões a


partir de uma pesquisa

Neste link, você terá acesso a um artigo que aponta um olhar crítico ao Inquérito policial como
elemento de construção de fundamentos de incriminação.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Inquérito policial, sistema de justiça criminal e políticas públicas de segurança: dilemas e


limites da governança

Neste link, você terá acesso a um artigo que revela pontos acerca da gestão pública de segurança
desde um olhar para o sistema penal. Nesse caso, o autor faz interações desde o crime de
homicídio.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


O inquérito policial em questão - situação atual e a percepção dos delegados de polícia
sobre as fragilidades do modelo Brasileiro de investigação criminal

Neste link, você terá acesso a um artigo que apresenta um olhar dos delegados de polícia para o
problema do sistema penal brasileiro.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

O inquérito policial no Brasil e seus conceitos: questões de validade entre a forma e o


conteúdo

Neste link, você terá acesso a um sítio em que você poderá baixar um tese de um mestrado que
foi produzido acerca dos vícios de forma do Inquérito Policial.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

A permeabilidade inquisitória do processo penal em relação aos atos de investigação


preliminar

Neste link, você terá acesso a um sítio em que você poderá baixar um tese de um mestrado que
foi produzido acerca do caráter inquisitório do sistema penal.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Sistema carcerário brasileiro

Neste link, você terá acesso a um vídeo que faz uma visão crítica do sistema carcerário
brasileiro.

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