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Aulas Teóricas de Direito Processual Civil I – ID ZOOM: 229 

673 1939
Prof. Paula Costa e Silva

Interessa-nos perceber porque é que o rito só pode e só deve ser aquele.

Para que serve o processo? Para sabermos onde está o certo e onde está o errado.

Esta estrutura serve para nós sabermos se o autor tem razão. Se no final, é possível adjudicar
alguma coisa ao autor como ele pedir, ou se não é.

Vamos lidar com uma estrutura em que se dita uma solução, solução que é olhada para o
sistema jurídico de forma diferente como é lidada pela lei. A lei é mutável ao longo do tempo.

Auxiliares para a cadeira:

 Código de Processo Civil


 Código Civil
 Constituição da República Portuguesa

Bibliografia:

 Todos os livros da biblioteca


 (2 livros) Lebre de Freitas - processo civil e ação declarativa comum – não coincide a
100% com o que vamos dar – é bom para dar uma vista de olhos
 Com o que a prof mais se identifica – MTS: 2 livros – as partes, o objeto e a prova;
estudos sobre o novo processo civil – mas nenhum é atualizado a 2013 mas não tem mal
porque as alterações legislativas não ocorrem em zonas críticas, a única coisa que temos
de fazer é comparar as regras que o prof referia com as do Código de hoje.
 CPC Anotado – Lebre de Freitas e isabel Alexandre – mas a arrumação não serve o
critério que aqui seguimos, mas podemos consultar – tem a vantagem de indicar
jurisprudência.

Aulas práticas assim que possível, a equipa está pronta.


Alguém tem de pedir algo. Tipicamente, essa pessoal pede alguma coisa contra outra pessoa.
Isto porque a autonomia privada falhou na composição entre estas duas pessoas.

Há um impulso, de alguém que pedes e depois de alguém contra quem se pede. Depois, alguém
que ouviu o que pediu e aquele contra quem se pede, vai definir a linha entre o certo e o errado.

O Processo é dinâmica, não é estática – cabe no capítulo de teoria geral em que de um lado
estavam factos e do outros situações. Nós lidamos com facto de alta complexidade.

Nós temos vários factos que concorrem para uma composição final.

O resultado final não tem de coincidir com o conteúdo de nenhum dos factos pretéritos.

São raríssimos de encontrar deveres de prestar na estrutura processual.

Cada uma das partes que persuadir o decisor de que tem razão. O decisor quer persuadir ambas
as partes de que o decidiu é o correto.

A estrutura processual tem 3 Garantias:

Garantias do decisor:

Garantias na própria estrutura do procedimento:

Exigimos que o decisor seja imparcial e consiga fundamentar as suas decisões – um prof que dá
uma nota na faculdade e não tem de a justificar tem uma liberdade maior. A fundamentação é
essencial para que as partes compreendam aquela decisão como sendo a melhor possível. Não
admitimos como boa uma solução que resulte de um procedimento em que não haja igualdade,
se ambas não tiverem a mesma chance de persuadir o decisor, elas estão numa situação de
desequilíbrio  princípio da igualdade das partes.

Mas, igualdade das partes onde? A fazer o que? No exercício de situações jurídicas processuais.
Temos de permitir que de cada vez que um fala e diz coisas novas, o outro possa responder.

Problema de Legitimidade:

Quem é que pode exercer o direito à indemnização?

Quem pode e deve ser o legitimo contraditor?

Imaginemos:

A é português, B é russo, estavam num pavilhão de malta, em águas italianas, começou uma
discussão e A levou com uma frigideira de marca alemã.

Interessa-nos saber qual é o tribunal que pode conhecer disto tudo? De entre todos os tribunais
do mundo qual é que pode exercer jurisdição?
Estas duas perguntas não têm de ter a mesma resposta. Ex: vamos supor que seria o tribunal
português – isto não quer dizer que seja o Direito português a regular – o tribunal português
pode aplicar direito que não é o seu direito próprio.

A instaura ação em Portugal, dirige-se a um tribunal português – é diferente de saber se o


tribunal português é o competente, o tribunal dirá, mas aqui já não se questiona isso.

- E se os tribunais português forem competentes, qual será o tribunal?

- O tribunal português pode exercer jurisdição? E no plano interno, o tribunal escolhido pelo A
é o indicado pelo Estado para gerir este conflito?

Há outros meios de intervir perante a crise da autonomia privada – mediação.

Princípios fundamentais só há dois: igualdade e contraditório; os restantes são princípios


estruturantes.

O essencial é perceber a finalidade das regras de competência internacional – é uma matéria


complexa, que é a chave para descomplicar.

23.09.2020

Estrutura do Processo

Ponto de partida: Art.552º

Começamos a abrir a cadeia pela petição inicial – é através deste ato que tem início o
procedimento. Sobre este ato, vamos encontrar a possibilidade de responder, que surge no
Art.569º - matéria da contestação, mas para que seja possível que o réu possa contestar tem de
haver um ato intermédio, em que o réu sabe que contra ele pende uma ação, esse ato intermédio
é a citação (Art.563º)  Arts.219º e ss., muito importante o nº1 do Art.219º. Este ato de citação
é determinante porque é um ato através do qual se dá a conhecer ao réu que contra ele pende
uma ação e através da citação, ele vai saber as razões pelas quais ele é demandado – 552º - quais
os factos essenciais e os fundamentos de direito, as razões pelas quais é demandado e o réu fica
também a sabe o que dele se pede, pois fica a saber o pedido formulado.

Só conseguimos compreender a citação se compreendermos que previamente há uma petição


inicial. E só conseguimos perceber a contestação se entendermos que antes de isso, o réu souber
que foi proposta uma ação e os seus contornos, ou seja, se ele tiver conhecimento da petição
inicial.  A partir daqui todos os atos até à sentença final (ato através do qual o juiz extingue o
processo) podem ou não fazer parte do concreto procedimento.

Desde a petição e citação, todas os demais atos não são de existência necessária.

Ação Procedente – dá razão ao autor;


Ação Improcedente – não se dá razão ao autor.
O juiz está vinculado ao que lhe pede, mas também está vinculado à lei, assim, o juiz julgará a
ação procedente ou improcedente consoante reconheça que o autor tem razão ou não tem razão.

Onde entra a defesa do réu? Como é que é possível que o processo decorra sem defesa por parte
do réu? Já vimos que o réu tinha de tomar conhecimento de eu contra ele pendia uma ação,
através do ato de citação (Art.563º), que servia para que o réu fosse advertido que podia exercer
o seu direito de defesa. Todavia, o réu pode não querer exercer esse direito de defesa. Se o réu
entender que a ação é absolutamente destituída de fundamentação e não tem sequer cobertura no
ordenamento jurídico, o réu ao não se defender adota a postura correta, pois sabe que não é por
se defender ou não que o juiz vai dar ou não razão ao autor.

Contestação  Art.569º + Art.573º/1, 1ªparte

Recapitulando:

Petição (Art.552º) – com factos essenciais e pedido


Citação (Art.563º) – dar a conhecer ao réu tudo isto + abertura do prazo de 30 dias para exercício
do direito de defesa, se o quiser fazer
Contestação – Art.569º + 573º - tudo tem de ser dito naquele momento (princípio da
concentração). Se permitíssemos que o réu fosse contestando ao longo do tempo nunca mais se
estabilizava o processo, não se sabia qual tinha sido o ataque e a defesa.

Os atos acontecem de uma forma sequencial porque eles se pressupõem uns aos outros, há uma
cadeia ordenada.

Art.552º (o autor propõe a ação)  Art.3º/1, parte inicial - O tribunal só pode resolver o
conflito se a resolução lhe for pedida por uma das partes. Na petição inicial, o autor dirige-se ao
tribunal, pedindo que resolva o conflito. O autor pede, requer, solicita, no fundo, postula – este
ato de pedir algo ao tribunal é um ato postulativo. Sendo assim, a conduta do réu, a constatação,
também é um ato postulativo, também requer ao tribunal que o autor não tem razão.

Assim, tanto a petição como a contestação são atos postulativo e são condutas de persuasão, isto
é, o tribunal não está vinculado a fazer o que o réu lhe pede tal como não estava vinculado a
fazer o que lhe pediu o autor.

Tanto a petição como a constatação são condutas de persuasão, o efeito imediato é unicamente
que o tribunal exerça jurisdição.
Art.573º e 569º completam a leitura do Art.3º/1 – “e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição”  através da citação. A outra parte é chamada para dizer tudo o que tem a
dizer, de forma concentrada (573º), na contestação (569º). Aqui, no Art.3º/1, 2ªparte e em
ligação com o Art.573º, surge-nos o Princípio do contraditório – o réu pode falar sobre aquilo
que o autor disse, apresentando contestação.

Regra crucial da citação: é da boa ou má citação do réu que pode depender o bom ou mau
exercício do contraditório. Nos termos do Art.187º, a), a falta de citação determina a nulidade
de todo o processo depois da petição inicial. A violação do contraditório atinge uma intensidade
valorativa tal, que nada se salva depois da petição, pois tudo o que vem depois pressuporia que
o réu se poderia ter defendido se assim quisesse e lhe foi retirado esse direito. Não há processo
equitativo sem contraditório.

O autor pode responder ao que o réu disse? A configuração e formas dos atos através dos quais
o autor pode dizer alguma coisa depende da concreta conformação da contestação.

Assim, se a estrutura da defesa do réu se assemelha à estrutura de ataque de autor, talvez o


autor possa responder à defesa do réu nos mesmos termos em que o réu respondeu ao ataque
que lhe foi feito. A questão é saber quando é que o autor tem direito a contraditório exercido
num ato autónomo ao procedimento – quando o réu, na sua contestação, formula um pedido
contra o autor dizendo quais são os fundamentos de facto e de direito para que aquele
pedido contra o autor deva ser julgado procedente, isto é, quando o réu deduza reconvenção
– nestes casos, e de acordo com o Art.584º/1, o autor pode responder à reconvenção
deduzida pelo réu, num ato processual apenas destinado a esta resposta.

Petição Se não for deduzida


Citação Contestação
inicial reconvenção e não houver
exceções – então não há
contraditório

Se houver reconvenção – significa


Se não foi deduzida reconvenção,
que há algo de novo naquele ato em
mas há exceções - nos termos do
concreto, há um pedido deduzido pelo
Art.3º/3 tem de haver uma resposta,
réu contra o autor, então o autor não pode
não pode haver violação do
deixar de ser ouvido, se assim quiser,
contraditório. Não vai haver um
sobre o que o réu disse de novo.
articulado próprio de resposta, vai ser
Pode haver resposta à reconvenção através de resposta em audiência
em articulado próprio. (audiência prévia (Art.3º/4), ou em
audiência final se não houver
O réu pode, na contestação, ter trazido audiência prévia, dependendo a
matéria, que é do ponto de vista de estrutura procedimental).
qualificação do objeto do processo, nova.
Nesse caso, o princípio do contraditório
pressupõe que o autor possa ser ouvido
sobre essa matéria nova  Art.3º/3.
Direito de resposta do autor sobre contestação do réu, pode haver ou não? Se o réu não trouxe
nada de novo na contestação, então o autor não pode responder, pois o contraditório não o
justifica.
Do ato concreto da contestação não emerge o direito de resposta do autor. A situação jurídica
processual que integra a esfera do concreto autor depende do conteúdo do ato de contestação.

Depois disto há logo sentença? Em situações muito simples é possível, mas não é o mais
comum. Por norma, o juiz não sabe exatamente o que aconteceu porque a versão do autor e do
réu são versões contraditórias. O juiz vai ter de tentar saber como se configurou a realidade, vai
ter de saber qual é a realidade de facto para a qual vai ditar uma decisão de Direito. Que factos
têm de ser provados? Só tem de ser provado aquilo que fizer falta. Mas que faça faltam em
relação a quê? Que fizer falta em relação ao pedido que o autor deduziu e que, eventualmente,
também faça falta relativamente ao pedido que o réu deduziu contra o autor.

Os factos do processo não nos interessam na sua abstração, interessam-nos sempre no


contexto de relação – “os factos para aquele pedido”.

Saber quais são os factos determinantes não é fácil.

Há uma cooperação necessária entre o tribunal e as partes  o juiz terá de dizer às partes
qual é o objeto que ainda há de vir a ser discutido e quais são as razoes de facto essenciais que é
necessário demonstrar para que o juiz possa dar razão a um ou a outro.

Assim, não nos é possível dizer que depois da petição inicial, da citação, da contestação e
sentença a seguir, pois há uma fase intermédia  a instrução, uma fase de produção de sobre
aquilo que o juiz entenda que ainda não está suficientemente provado no processo.

Aquilo que é objeto de instrução não é uma coisa inequívoca, as partes pedem para que o juiz
decida e têm de saber sobre o que é que o juiz entende que deve recair a instrução, para
que as partes possam persuadi-lo de forma eficaz, ou seja, exercer um contraditório denso
em matéria de instrução.

O que significa que depois de as partes terem falado e antes de o juiz poder ditar a sentença, há
de haver aqui por regra, uma fase de instrução, mas como o projeto daquilo que se vai ter de
provar não é uma evidência, depende de debate e interação entre as partes e o juiz, então
voltamos a falar em audiência prévia (Art.3º/4), um ato oral em que estão presentes as partes e
o tribunal em que se vai discutir o que é que ainda falta provar, como é que se vai provar e
o que interessa ou não interessa do que foi dito pelo autor e o réu quando puderam
pronunciar-se no ataque e defesa, respetivamente.
Assim:

Petição Inicial Citação Contestação

Audiência Final Instrução Audiência Prévia


(em que se faz produção de prova)

 A estrutura base é: Petição Inicial, Citação e Sentença.


Sentença No entanto, esta estrutura é dotada de racionalidade e é elástica,
por isso, vai comportar tantos atos processuais quantos sejam
justificados pelo conteúdo de atos pretéritos.

Arts.591º/2 e 595º/1 e 2 - fase intermédia de audiência prévia

Art.596º/1 e 599º - instrução; → Arts.410º e ss. - regulação dos meios de prova

A Sentença – Arts.607º e ss.

Art.607º/1 – o processo é concluso ao juiz, é entregue ao juiz, abrindo-se uma conclusão ao


processo. E abre-se conclusão para que? Para que seja proferida sentença.

Art.608º/2 – o juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua
apreciação e não pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes. Tem de conhecer
(que significa decidir) de tudo o quanto lhe tenham pedido que conhecesse e não pode conhecer
de outras coisas para além daquelas que lhe pediram que conhecesse  o Art.608º é uma
manifestação forte do princípio do dispositivo.

Art.609º/1 – a sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que
se pedir.

A estrutura que é o processo é sempre complexa. Contraditório e Igualdade – este contraditório


vai depender do conteúdo concreto das condutas processuais que integram a cadeia, a existência
do contraditório é inevitável perante coisas novas, o modo de exercício é que pode depender de
opções quanto aos atos estruturais.

Estas condutas que vimos são postulativas e são condutas de persuasão – tanto o autor como o
réu querem persuadir o tribunal de que têm razão, tal como o tribunal quer persuadir as partes
em como a decisão que profere é a melhor decisão possível – assim, se falámos condutas
postulativas que são condutas de persuasão, então também há outras que não são condutas de
postulação: estes atos são os negócios processuais.
Na figura dos negócios processuais há uma situação jurídica cujo conteúdo é radicalmente
alterado: o dever de dizer o Direito por parte do tribunal.

Vimos que quando o autor pede alguma coisa havia um efeito que não se provocava logo:

Se, por exemplo, o autor pedir que o réu seja condenado a indemniza-lo, não se
constitui imediatamente o dever de o réu indemnizar o autor, tem de se esperar pela
sentença se o autor tem direito a ser indemnizado ou não – o que significa que quando
um ato é postulativo, o tribunal tem dever de conhecer (de decidir) autonomamente,
aplicando só critérios que a lei lhe dá.

No negócio processual não há dever de dizer o Direito, há direito de decidir exercendo a função
jurisdicional. O negócio processual vai determinar o modo de ser, dentro das margens de
liberdade da autonomia privada que as partes têm, de configuração, de pressupostos processuais
ou de conteúdos de atos processuais, o negócio processual vai regular essas matérias, impedindo
que o juiz as confronte com o padrão de legalidade, para saber se pode ou não aceitar aquilo que
foi autonomamente disposto. A única coisa que o juiz vai poder fazer é verificar se o negócio
processual, tal como o negócio jurídico em geral, pode ou não valer.

Assim, na nossa cadeia vamos ter atos de persuasão e atos constitutivos, estes últimos, que
vinculam a intervenção do tribunal. Exemplo: Art.94º - a regra diz que as partes podem
convencionar qual a jurisdição competente para dirimir um litígio determinado; quer isto dizer
que ao abrigo do Art.94º/1, as partes podem, num conflito plurilocalizado (um conflito que
apresenta conexão, relação com mais do que uma ordem jurídica), determinar que tribunais, e
entre as ordens de tribunais dos vários Estados que têm conexão com aquele conflito, qual o
Estado cujos tribunais vão ser competentes para conhecer desse mesmo conflito. No contexto da
competência internacional, as partes podem escolher, através de pacto de jurisdição, qual o
Estados cujos tribunais são competentes para conhecer.

Está em causa dizer que seja qual for o critério legal que atribui jurisdição a um
concreto tribunal, a competência desse tribunal não vai ser aferida por esse critério legal, vai ser
aferida pelo pacto, pela convenção, pelo negócio processual. Será o negócio processual a
atribuir jurisdição ao concreto tribunal – isto quer dizer que a única coisa que o tribunal perante
o qual foi instaurada ação pode fazer, é verificar se o pacto pode ou não valer, se no fundo, os
limites da convenção processual que é o pacto de jurisdição foram ou não respeitados.

O princípio do contraditório, juntamente com o princípio de igualdade substancial das partes,


é o princípio fundamental que se reconduz ao princípio do processo equitativo, com
assento constitucional, é aquele que vai determinar em larga medida, a concreta estrutura
que vai ter um procedimento

Impulso – Art.3º/1

Falta de citação gera nulidade em todo o processo.

Arts.591º, 595º, 596º, 599º - verificar estas normas, em que se visa condensar e perguntar o que
ainda há para fazer.
Próxima aula – outros princípios que regulam cadeia e outras regras complexas - ler Arts.5º, 6º,
7º e 8º CPC e tomar especial atenção ao que está no Art.590º (quais os princípios e onde é que
interferem em regimes que os concretizam).

30.09.2020

Depois da instrução, entramos na fase da decisão. A prova já foi feita, o juiz está em condições
de decidir.

Audiência intercalar  instrução  decisão

Anulabilidade – Art.287º CC aplica-se ao processo

Art.3º CPC  Art.20º/4CRP

Art.3º/3 CPC – “observar” é orientar a sua conduta segundo o princípio do contraditório 


contraditório na audiência prévia.

O CPC tem uma organização sistemática – 1º princípios, matérias gerais, prova, etc. aplicam-se
a tudo.

O Art.552º/1:

O “autor deve”

d) Factos essenciais. Para se referir aqui a factos essenciais é porque há outros factos – os factos
instrumentais.

Art.483º CC – sabermos se um facto é essencial ou não para desencadear o direito à


indemnização depende do contexto em que discuto esse direito a indemnizar. Se os factos
críticos são sempre aqueles, em concreto, os factos que preenchem o tipo, são diferentes – dar
duas bofetadas a alguém é diferente de destruir um carro – os factos essenciais críticos são
sempre os mesmos, ainda que a sua configuração concreta seja absolutamente distinta.

Primeiro intervenção do autor e depois intervenção do réu. A essa intervenção do réu segue-se a
intervenção coletiva no tribunal com ambas as partes, o juiz dizia quais eram as questões sobre
as quais tinha de se pronunciar e dizia que as partes tinham de fazer prova sobre certas matérias.
É nesta fase que o juiz deve identificar problemas no que o autor disse de modo a que as
intervenções possam alcançar o seu intuito de utilidade.

O juiz deve exortar as partes a completarem a matéria de facto e a suprirem as deficiências, esta
intervenção nesta fase é de instrução.

Acabada esta fase inicia-se a fase da decisão. O juiz está agora e condições de decidir.
Na estrutura típica:

O réu pode nada dizer, mas tem de ter oportunidade de dizer – primeira dimensão do
princípio do contraditório.

Se o réu trouxer factos ao processo que são novos, desencadeia o exercício necessário do
contraditório pelo autor – o autor tem de ser chamado a pronunciar-se sobre esses factos.
Portanto ainda estamos dentro do princípio do contraditório entre as partes.

Pode acontecer que o réu apenas diga que o contrato é anulável e que o juiz perceba
que na verdade é nulo. (O regime da anulabilidade (287º/1CC), sendo um vício do ato
jurídico é para proteção do direito de um particular, já no regime da nulidade a ordem jurídica
não deixa prevalecer um ato jurídico que ninguém quer.)

Ninguém, para além do autor da declaração, pode vir dizer que o negocio é anulável – nos
termos do 247ºCC. Já a nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e
pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal, ou seja, o tribunal não está vinculado pelo
princípio do pedido (como acontece na anulabilidade) – 286ºCC. Isto porque quando a lei
estabelece a nulidade está a proteger interesses para além das partes – está a proteger os
interesses de ordem pública.

É o juiz que verifica a existência de nulidade que não foi debatido – 2ª dimensão do princípio
do contraditório – sempre que o tribunal também traga matéria nova de facto e que não foi
discutida, mesmo que esteja na fase da decisão o juiz, tem de voltar a abrir o contraditório para
as partes se pronunciarem e exercerem contraditório sobre a matéria (neste caso a matéria de
nulidade) – Art.3º/1 CPC. Há uma matriz constitucional que impõe esta solução – 20º/4 CRP.

NOTA – Art.3º CPC FAZER REMISSÃO PARA 20º/4CRP, E VICE-VERSA.

Se o réu não foi devidamente citado não se pode defender, se não se pode defender não se pode
entender que houve persuasão adequada do tribunal por parte do réu então os atos de cadeia?
são inválidos.

Art.3º/3 CPC – outra dimensão do contraditório:

O juiz tem de guiar a sua conduta obrigatoriamente pelo princípio do contraditório. E ao juiz
que compete controlar quando é que sobre determinada alegação em que há apresentação de
meio de prova novo tem de ser observado este princípio, como o faz? Notifica a parte do ato
que acabou de ser praticado – este é o modo de interação entre o tribunal e as partes.

“não lhe sendo lícito” – o desvalor do ato do juiz é a invalidade do próprio ato de decisão*, não
uma RC. Isto porque para que é que interessa às partes desencadear uma ação de RC contra o
juiz? Nada, têm é de impedir que o juiz decida sem que possam persuadir primeiro o tribunal. O
pensamento nesta disciplina deve ser cinético e o parâmetro de referencia na analise dos casos
deve ser sempre o que é pedido.

*Invalidade da decisão em si? Não, invalidade em cadeia. A sentença cai porque vem na
sequencia da violação do contraditório.
Exemplo prático: A prova documental deve ser produzida em articulado com os factos que se
querem provar. Mas, quando o documento não foi dado ao tribunal na altura devida, mas não
pode deixar de ser considerado, tem de ser dado contraditório nessa altura.

= Estrutura elástica e inteligente.

3º/4CPC - O que qualifica a exceção é a existência de factos novos. Ao juiz cabe determinar se
deve ou não haver convocação da audiência prévia, de acordo com os parâmetros que a lei lhe
dá.

552º CPC – processos de declaração comuns do 552º seguem forma única – a forma do 558º.
Mas há também processos especiais que não seguem esta forma. SE TIVERMOS DE OLHAR
PARA PROCESSO ESPECIAL NÃO DEVEMOS OLHAR PARA 552º, MAS SIM PARA A
PARTE DO CODIGO QUE TEM ESSE PROCESSO ESPECIAL.

552º/… alínea d) “tem de trazer ao processo os factos essenciais e expor as razões de direito” –
Aquilo que não é essencial é instrumental. Não há factos intermédios.

EX: Autor diz que réu tem de suprir defeitos da obra. A pergunta é: o CC da ao autor esse
direito? Está nas regras da empreitada? Sim, ele tem então direito e factos, então nos termos da
alínea e) do 552º faz o pedido. O que o tribunal vai ter de fazer então é olhando para o pedido e
perguntar se as razoes de direito e os factos são suficientes para o pedido. O facto desencadeia a
regra?

483ª/1CC – se não demonstrar o modo da ação (dolosa, negligente, ilícita) não há direito à
indemnização.

Os factos críticos e essenciais que desencadeiam o tipo são sempre iguais. Se os factos da regra
do tipo são enunciados da mesma forma, se são sempre aqueles (dolosa, negligente, ilícita e
etc). Por outro lado, em concreto os factos que preenchem as previsões do tipo são diferentes.
Ex: caso da prostituta (encomenda carruagem para passear pela cidade e atrair clientes, queria
uma carruagem diferente das comuns. Na entrega ela não paga preço da criação da carruagem, é
demandada pela empresa para pagar. Decisão é que ela não pode ser condenada a pagar pois a
empresa sabia que a carruagem seria para pratica ilícita e sabia que seria paga com fruta dessa
mesma prática ilícita) tem mesmo fecho que o caso do plutónio, apesar de terem factos
diferentes a preencher as previsões do tipo.

O importante da dicotomia entre factos essenciais e factos instrumentais não é modo da relação
entre os factos, mas o modo da relação e o tipo legal que se está a aplicar.
7.10.2020

Estivemos a ver o Art.483.º/1 do Código Civil. Estávamos a ver o princípio segundo o


qual o autor e réu têm de alegar os factos essenciais, conjugando este Art.com o 5.º do CPC.
Vimos o princípio do impulso e, ainda, o princípio segundo o qual quem tem de trazer ao
processo, alegar partes essenciais, são o autor e o réu. O Art.5º era uma regra com signatário
efetivo o juiz. Faltando alegação e prova de um facto essencial (de um dos factos que permite
preencher o tipo legal a que a parte recorre para provocar a ação) a ação ou exceção é julgada
improcedente.

O juiz tem de se socorrer ao conjunto de factos que o Art.5.º do CPC estipula para poder
decidir e para o processo poder prosseguir. O Art.5.º/2 do CPC tem suscitado muitas dúvidas,
pois além dos factos essenciais, o juiz ainda pode considerar os factos instrumentais que
resultem da instrução da causa, prosseguindo as alinhas. A alínea b) suscitou problemas, já na
versão anterior do código, na interpretação do Art.264.º havia problemas. Na alínea a) temos
factos instrumentais, e na b) factos que sejam complementos. E a pergunta é: estes factos
complementares, concretizadores, são factos essenciais? São factos instrumentais? Ou são
factos de uma terceira categoria? A regente só aceita as duas categorias, o facto ou é
instrumental ou essencial, como vimos no Art.403.º/1 do CC. Logo, estes factos na alínea b)
são essenciais, concretizam factos essenciais. Saber se o facto complementa um essencial ou
instrumental é fundamental para sabermos, verificado ou não esse facto, se pode ou não julgar
procedente a ação ou julgar procedente a exceção. Voltando ao Art.403.º/1 do CC – se
porventura, a parte não qualifica o modo de ação, a ação não pode prosseguir, o juiz não pode
julgar a ação procedente.

O Art.5.º/1 e 2 do CPC. A causa de pedir só é integrada por factos essenciais; sabendo o


regime do Art.581.º/4 do CPC (fazer remissão do Art.5.º a este) que nos diz a definição da causa
de pedir. O que está em causa é o direito de proceder de alguma coisa (dos factos essenciais).
Logo, no Art.5.º/1 do CPC, ao falar-se das partes essenciais, a causa de pedir é constituída
somente de factos essenciais, assim se deve interpretar (diz a Prof. Regente). A professora
não concorda a toda a força que o CPC discipline a forma como os advogados apresentam o
caso e assim defendam a parte. Adiante, a parte “aproveita-se” dos factos. O réu, quando se
defende, tem de perceber do que se está a defender. A ação tem de ser inteligível, e para ser
julgada procedente precisamos de averiguar todos os factos essenciais, e o réu não necessita de
saber todos os factos essenciais para se defender, só precisa disso para conseguir defender-se
contra a precedência da ação.

O Art.5.º diz-nos que é essencial o princípio do contraditório; sempre que uma das
partes alega matéria nova, o réu pode defender-se e vice-versa. A alínea a) não menciona a
possibilidade de se defender, mas, como refere a Regente, o princípio do contraditório
atravessa toda a alegação. Logo, não temos terceira categoria e não é por não ter sido alegado
um facto complementar ou concretizador que a ação tenha de ser julgada improcedente, logo,
temos de aproveitar todos os factos para haver uma decisão exauriente do litígio.

Porque é que a professora entende o juiz como destinatário do Art.5.º do CPC? Pois
resulta do Art.615.º/1, alínea d) do CPC, o juiz é que vai julgar a procedência ou não da ação e o
Art.5.º limita a sua decisão, não pode julgar improcedente a ação em factos não essenciais que
forma alegados; essa decisão de improcedência será inválida (nula). Este núcleo fáctico que
encontramos (causa de pedir e exceção) na petição inicial e contestação, factos essenciais
alegados pelas duas partes, estabilizam o processo, não podemos, agora, alterar
substancialmente a matéria sobre o qual o processo se vai debruçar.

O princípio do impulso está relacionado com outra matéria, a dos deveres essenciais
do juiz. Podemos querer um processo totalmente adversarial, em que as partes têm todo o
encargo de trazer ao processo o que é relevante e podemos ter uma matriz não adversarial, em
que ao juiz também compete uma função ativa. O juiz, além de assistir, ao verificar
insuficiências no “jogo”, vai intervir. E os processos costumam ter matriz não adversarial, tendo
o juiz um forte poder interventivo/assistencial, ao menos assim é no modelo continental,
contraposto ao anglo-saxónico. Mas este poder do juiz tem vindo a aumentar desde o fim do
século XX, tanto no UK como no Continente.

Há dois princípios apenas essenciais (contraditório e igualdade), mas quando o juiz tem
poder assistencial, o juiz não deixa de ser imparcial, pois pode agora corrigir vícios? O juiz
deve, apesar de ser imparcial, exercer estes poderes? Sim, diz a matriz continental, tudo deve
fazer para concorrer a uma decisão de mérito sem nunca pôr em causa a imparcialidade, como
mantém então a igualdade? Vai tratar os vícios dos dois lados de modo igual, corrige tanto as
insuficiências de uma parte como da outra – Art.590.º/2, alínea b). O processo é concluso ao
juiz. O juiz vai olhar para o processo, tanto para a contestação como a petição, etc. e vai
lembrar-se do Art.5º e do Art.581º/4. Depois, vai perguntar se toda a matéria de facto relevante
(todos os factos essenciais) foi ou não alegada. Se verificar uma insuficiência na alegação da
matéria de facto, o juiz deve (há consequências se violar este preceito), exortar as partes para
suprirem estas insuficiências na alegação da matéria de facto. O juiz indicia o autor e o réu a
alegarem factos essenciais, não que a parte tenha ou não razão, mas convida-os a alegarem mais
factos.

Imaginem que o autor não alegou factos dos quais resulta que o réu não tenha agido
negligentemente. Se o juiz verifica que o autor omitiu esses mesmos factos, ele deve exortar o
autor a suprir, pois caso contrário, a ação é julgada improcedente. Julgada improcedente por
faltarem factos, a parte pode ainda instaurar uma nova ação, agora com tudo completo. O
Art.590.º do CPC depois vem dizer que tem de haver contraditório sobre aquilo que é alegado,
caso a parte cumpra a decisão que o juiz notifica. E se o juiz não exortar a parte (seja por que
razão for)? O juiz cometeu uma nulidade processual secundária. Deixa de praticar um ato que
a lei impõe. A partir daqui todos os atos subsequentes são destruídos em cadeia por força
do Art.590º/2, alínea b) do CPC.

No CPC brasileiro de 2015 e no de Argentina de 2020, encontramos também estes


princípios. Art.7.º do CPC português: “obter a justa composição do litígio”. A composição do
litígio só se obtém com uma decisão de mérito (quando condena ou não o réu). A justa
composição do litígio com brevidade e eficácia. Os Arts.581º/4, o 5.º e o 590º/2, alínea b), do
CPC conjugados garantem e procuram o máximo possível a melhor averiguação possível
de factos, tudo enquadrado com o Art.7.º do CPC indica-nos que a melhor decisão possível
necessita de todos estes passos. Até aqui falámos da alegação de factos, mas falta a fase da
instrução, a da prova. O juiz abre, depois, a fase da instrução. Aqui os poderes instrutórios do
juiz são bem fortes.

No Art.429.º do CPC temos a posse de cada meio de prova. No número 1, se uma


parte quiser um documento da parte contrária, pode requerer ao juiz para lhe auxiliar, para a
contraparte juntar o documento (há consequências se a parte não obedece à decisão judicial).
Exceções dilatórias

Passemos agora para uma matéria dura. Saltámos a alínea a) do 590.º/2 do CPC,
porquê? Exceções dilatórias, o que são? As exceções são sempre o efeito útil que se retira de
factos novos. E agora, podemos pensar no Direito Romano, em que falámos de uma distinção
clara entre as funções do pretor e as do juiz. O pretor era como que um funcionário público,
“eleito” e dava a actio ao autor; verificava se o que lhe era pedido (com base nos factos
alegados) estava ou não disponível no Direito Romano. Sendo a actio prevista, emitia uma
injunção ao juiz (sujeito de direito privado) e dizia que se provados todos os factos, condena;
e a seguir dizia “exceto se provado XYZ”. Daqui vem a noção de exceção que ainda usamos.
A exceção era algo que impedia que o juiz condenasse o réu. O réu não tinha outra liberdade
que não fosse, olhando para a actio, fazer com que a prova acontecesse, para dizer sim está ou
não está verificado os pressupostos da actio. A exceptio não era declarada improcedente ou não,
tudo o que ela servia era impedir a decisão do autor; factos novos que se provados impedem
algo, ainda hoje é assim.

E dilatórias? Dilatar é postergar no tempo, fazer depois em vez de agora. O que não
se faz agora, mas faz-se depois quando verificada uma exceção dilatória? O conhecimento do
mérito da causa. Não impede para sempre, impede naquele momento.

O que são estas exceções dilatórias? Factos novos que dilatam no tempo a
possibilidade de decisão de mérito. Podem ser o efeito provocado pelo não preenchimento de
pressupostos processuais. Porque é que a falta destes impede o proferimento da decisão do
mérito? Pois estes permitem que a decisão foi tomada o mais próximo possível ao Art.7.º/1 do
CPC, criam a condição para a mais justa decisão possível.

Art.576.º/2 do CPC – exceções dilatórias obstam a que o tribunal conheça do mérito da


causa e dão lugar à absolvição da instância. Remeter para os artigos 277.º e 278.º do CPC.

Temos 3 conteúdos possíveis na decisão: procedência, improcedência e absolvição


de instância (por falta de preenchimento de pressupostos processuais). O que tem isto a ver
com dilatação temporal? Estamos a falar de algo que se movimento na estrutura processual, a
instância. Art.277.º do CPC – causas de extinção da instância. Art.278.º do CPC – causas de
absolvição da instância. Notem, a exceção dilatória na alínea e) vem referida como “alguma
outra”, pressupondo que há exceções dilatórias anteriores. As exceções dilatórias são as
exceções equivalentes à falta de pressupostos nos negócios jurídicos. Art.279.º/1 do CPC – o
“dilatória” não impede para sempre, impede agora; ainda que o processo, por enquanto se
extinga, pode o autor fazer uma nova ação sobre o mesmo objeto.

Art.6.º/2 do CPC: o juiz providencia oficiosamente (falámos em conhecimento oficioso


no Art.3º/3, o conhecimento oficioso do juiz é justificado por interesses que transcendem os
interesses individuais das partes, interesses de ordem pública) pelo suprimento da falta de
pressupostos, mais uma vez, o juiz tem um papel interventivo. Sem os pressupostos, surgem
exceções dilatórias.

Art.278.º/3 do CPC: as exceções dilatórias são a consequência da falta de


preenchimento de pressupostos processuais. Não ocorre a absolvição da instância (artigos
278.º/1 e 590.º/2 do CPC) quando a decisão de mérito é favorável a uma das partes, cujo
interesse é tutelado, dado os pressupostos. Se tutelarmos o interesse de uma das partes, pode o
juiz proferir uma decisão de mérito mesmo com pressupostos faltando. Outro caso de
intervenção forte dos tribunais. Na fase da instrução temos a produção de prova.

Art.411.º do CPC – Princípio do Inquisitório - incumbe ao juiz (não deve). Porquê o


verbo “incumbir”? Pois foi escrito numa altura em não se dizia que o juiz tinha deveres. Livro
de filósofo “On Bullshit”, George Carlin, muito importante. Esta regra revela-nos o que mudou,
do fundo do alto da sua graça o juiz tem uma margem de apreciação, no dever não há margem.
Incumbe ao juiz realizar o necessário para apurar a verdade e proceder à justa composição do
litígio (Art.7.º/2 do CPC); mais uma vez o dever de cooperação do juiz. Mas há factos que ao
juiz não é lícito conhecer, então quais os factos lícitos? Os do Art.5.º do CPC . O Art.411.º
do CPC não abre os limites do Art.5.º. Art.467.º/1: o juiz pode requerer, tal como as partes, a
perícia; mais uma vez o juiz faz as diligências necessárias ao apuramento da verdade; a perícia
que entende necessária para apurar a verdade e para chegar à justa composição do litígio.
São tudo manifestações tópicas do princípio do Art.411.º.

14.10.2020

Dever de gestão do tribunal:

O que está em causa? A concessão de poderes/deveres ao tribunal de não apenas


adaptação das estruturas de decisão, mas de exercício das suas funções concedendo a máxima
racionalidade à sua decisão. Nós temos a ideia de que o direito americano sempre foi muito
fluído, mas é nos EUA que nascem estes poderes de gestão – managerial powers.

Os tribunais passaram a ter a necessidade de adaptar o modo de decisão de certas


estruturas. O sistema penitenciário não garantia os direitos fundamentais aos encarcerados, e um
tribunal, o supremo tribunal, disse que o modo de funcionamento dessa estrutura tinha de ser
alterado para corresponder algures no tempo a este novo modelo – os direitos fundamentais – os
encarcerados iam queixando-se que as estruturas não se adaptaram. Criou-se uma interlocução
atípica para ver se a adaptação está a correr bem e de todo.

O fim do processo é a decisão de mérito, com brevidade eficácia e justa de uma causa.
Estes poderes têm o poder máximo nas intervenções do tribunal para impedir problemas que
possam retardar a tal decisão. São poderes muito fortes – todos os dias ouvimos falar que
aconteceu mais alguma coisa neste ou naquele processo. Decidir uma causa é muito mais difícil
quando o caso é complexo e progressivamente mais complexo. Os poderes fortes têm este
dever – artigo 4.º da CRP – de decidir a causa em tempo útil. O tribunal pode impedir casos
de complexidade (objetiva e/ou subjetiva), mesmo que a lei admitisse essa situação de
complexidade. Desmonta a complexidade.

Onde encontramos apoio no CPC?

Artigo 264.º – acordo entre as partes pode alterar o pedido e a sua causa. Ainda que
haja acordo, o juiz pode impedi-la se esta perturbar inconvenientemente a discussão e
instrumento e julgamento da causa.
Artigo 37.º/4 do CPC – hipercomplexidade processual – muitas partes e objetos –
juiz manda desfazer a complexidade, pois a complexidade retarda a discussão, instrução e
julgamento da causa.

Assunto muito debatido. Não sendo um princípio fundamental, é quase fundamental –


publicidade do processo. Queremos que o processo seja público. Sindicamos o modo como se
exerce a função jurisdicional: publicidade das audiências e das decisões; assim publicamente
controlamos a imparcialidade do juiz. Princípio com assento constitucional. Razão política – na
CRP diz: (artigo 202.º - justiça é administrada em nome do povo) não há legitimação
democrática dos juízes (não são eleitos), logo, temos de os legitimar através do modo e razão de
ser da sua atuação. Todas as situações são suscetíveis de ponderação, inclusive valores.
Ponderamos onde temos casos hiperpessoais – aqui a publicidade pode ser afastada.

A nossa lei tipifica os casos em que é possível não haver publicidade, e é um elenco
curto. Podemos alargar, na matéria de instrução, estes limites à publicidade. Perante uma
regra com tipicidade fechada, podemos alargar? A Prof. Regente diz que sim, pois a analogia
nunca pode ser excluída; em casos e razões diferentes aplicamos a mesma regra de excluir a
publicidade (artigos 131.º e 132.º do CP). Não podemos confundir o problema da publicidade
com o nunca conhecer a decisão. Todas as decisões são publicadas de forma anónima. Mas
temos um limite muito fino, há conflitos tão singulares que só podem envolver que têm sujeitos
que imediatamente identificamos, aqui tem de haver o mínimo de publicidade, embora mesmo
com a exclusão da publicidade é impossível esconder.

Pressupostos processuais

 Artigo 278.º/3 do CPC: absolvição de instância. O pretor verificava se o caso era de


direito e atribuía uma actio. O juiz não se preocupava com os problemas de
admissibilidade do processo, ia logo ao mérito da decisão. Esta é a origem dos
pressupostos processuais, mas o que mudou? Quem vê o mérito da causa é também
quem verifica os pressupostos processuais, o juiz faz a função do pretor. Além do juiz
cumprir estas duas verificações, já não há uma cisão temporal entre ver o mérito da
causa e os pressupostos processuais – o juiz verifica logo sobre as duas matérias.
 Isto indica o artigo 5.º/1 do CPC – tem de conhecer da petição, da contestação; pois
nesta última o réu deduz as exceções. Quando perguntamos se o juiz deve ou não
exortar as partes a completar os atos ao preencher com factos essenciais, pedindo aos
dois (igualdade), sabemos que sim. O juiz intervém e sana; depois dos articulados.
Remeter o artigo 5.º/1 aos artigos 577.º, 552.º, 590.º, 581.º, 573.º do CPC. Artigo
590.º/2 do CPC – fim dos articulados; juiz escreve um despacho. Artigo 595.º/1 do CPC
– conhecer das exceções dilatórias no despacho; num despacho faz tudo de uma só faz;
conhece os pressupostos/admissibilidade, conhece o mérito da causa, as exceções
dilatórias, etc.
 Artigo 607.º do CPC – sentença.
 Artigo 127.º do CC – exceções à incapacidade do menor.
Capacidade jurídica:

 Relatividade das posições contratuais: o contrato produz efeitos inter partes e não
erga omnes. Não podemos convencionar que um terceiro tenha obrigações.
 Imparcialidade, contraditório, igualdade de armas: estes princípios atravessam tudo.
A publicidade não é tão fundamental. Partes que vendem uma empresa podem querer
que seja secreto, para que outros concorrentes não possam interferir – exclusão da
publicidade nos contratos não é tão problemático. Qual o documento básico de uma
sociedade? Contrato Societário: funda uma nova pessoa jurídica. Contrato de Sociedade
difere dum contrato de intercâmbio entre prestações? Num de sociedades o número de
partes pode ser ilimitado, não dirimimos um litígio entre uma só parte, a sociedade tem
de ser representada num caso.

Princípio do instrutório (ou do inquisitório):

 Artigo 411º do CPC – outra manifestação forte do dever de cooperação do juiz, que
está no artigo 7.º como princípio geral do sistema. “Quanto aos factos de que lhe é lícito
conhecer” – quais são? Os que estão mencionados no artigo 5.º - factos essenciais
alegados e todos os factos instrumentais; o princípio do inquisitório diz que o juiz tem
o dever de realizar ou ordenar oficiosamente as diligências necessárias ao
apuramento da verdade. Este principio constitui o inverso do principio da
controvérsia. Com a revisão de 1995-96 o juiz passou a ter iniciativa de depoimento de
parte (artigo 452.º/1 do CPC) até então de exclusiva iniciativa das partes e ter o dever
de ordenar o depoimento testemunhal de pessoa que haja razões para presumir, no
decurso da ação, que tem conhecimento de factos importantes para a decisão em causa
(artigo 526.º/1 do CPC). O ónus da prova só, em principio, terá as mesmas regras que o
ónus da alegação porque tal deixa de acontecer quando se dá a sua inversão, ou seja,
quando passa a caber à outra parte ou no campo do direito disponível, por convenção
das partes: a inversão do ónus da prova não dispensa nunca o ónus da alegação pelo que
não está dispensado de os alegar aquele a quem, nos termos do artigo 342.º do CC,
aproveitam os factos não carecidos de prova.
 Artigo 429.º/1 do CPC;
 Artigo 452.º/1 do CPC – qual é o parâmetro deste “pode”? Artigos 7.º/1, 411.º e
467.º/1 do CPC.

Princípio da cooperação:

 O dever de cooperação presente no artigo 7.º do CPC;


 As partes estão sujeitas a deveres processuais, assim como os terceiros sendo que a
sua violação dá lugar a sanções pecuniárias;
 Também os juízes têm de colaborar com as partes, tendo de haver uma cooperação
entre estes;
 Cooperação material: proporcionarem condições para a tomada de decisões no menor
tempo possível; Artigo 417.º/2 e artigo 7.º do CPC; artigo 490.º do CPC (submetendo-se
a inspeção formal) e prestando depoimento de partes (artigo 452.º do CPC) e ainda
praticando os demais atos que o tribunal determine. Há dois limites expressos no
artigo 417.º/3 do CPC: respeito pelos direitos fundamentais e o respeito pelo
direito e dever de sigilo sendo que em caso de colisão, poderá a parte deduzir
escusa. O artigo 7.º/2 do CPC dá ao juiz o poder de pedir esclarecimentos em matéria
de facto e de direito sobre a matéria em causa – isto não se confunde com o artigo 417.º
do CPC porque este prevê o depoimento das partes e o artigo 7.º/2 ocupa-se do ato,
verbal ou escrito de prestação de informações e esclarecimentos ao tribunal do qual
pode igualmente resultar prova por confissão (artigo 356.º/2 do CC) mas que vida
esclarecimentos que o tribunal pretenda obter sobre alegações dos factos da causa de
modo a ter perfeita compreensão do seu conteúdo. No segundo plano (matéria de
direito) pode ser pedido às partes que esclareçam a sua posição quanto aos
fundamentos de direito do pedido e das exceções. O momento mais adequado para o
pedido e a prestação destes esclarecimentos é o da audiência prévia (artigo 591.º/1,
alínea c) do CPC). No entanto, o artigo 7.º/2 do CPC possibilita a prestação de
esclarecimentos fora da audiência prévia. O convite às partes para o suprimento das
deficiências dos articulados passou a ser um exercício de um poder vinculado
 Cooperação formal: artigos 7.º/4 e 151.º do CPC; na ação executiva, para que tenham
lugar com brevidade as providências executivas; deve o juiz providenciar pelo
suprimento de obstáculos com que as partes se defrontem na obtenção de
informação ou documento necessário ao exercício de uma faculdade, à observância dum
ónus ou ao comportamento dum dever processual.

Pressupostos processuais:

 Pressupostos de admissibilidade de uma decisão de mérito. Hoje quem faz a análise


das condições de admissibilidade é o mesmo sujeito que se vai pronunciar sobre o
mérito da causa. É nos despachos centrais que o juiz simultaneamente verifica o
preenchimento dos pressupostos processuais e, ainda, se pronuncia sobre o mérito. O
juiz tem de conhecer a causa do pedido (petição inicial) e causas de exceção
(contestação) para sanar as possíveis faltas – artigo 590.º/2 do CPC.
 Exceções dilatórias são o efeito (DO NÃO PREENCHIMENTO REGULAR DOS
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS) decorrente da falta de pressupostos processuais.
 Artigo 590.º/2 e 591.º remetem para o 595.º do CPC: é no mesmo momento que o
mesmo sujeito verifica a admissibilidade da ação e o mérito da causa.
 O ato final do processo é a sentença – artigo 607.º do CPC.
 Artigo 278.º do CPC: nas alíneas deste artigo tendem a proteger a parte que não é
capaz judiciariamente.
o N.º 3: se substituir uma exceção dilatória e se essa é uma proteção do réu, então
o juiz pode e deve absolver o réu da instância, nos termos do artigo 278.º do
CPC. Temos de perceber a função dos pressupostos processuais que é a
proteção das partes. Havendo exceções dilatórias temos de entrar neste
artigo.
21.10.2020

Na jurisdição administrativa e fiscal temos o supremo tribunal administrativo, os


tribunais de primeira instância, e os tribunais de segunda instância em matéria
administrativa e fiscal estes chamam-se tribunais centrais – só há dois para o território
inteiro: tribunal central administrativo norte e administrativo sul.
Arts.209º e 212º Lei de organização e funcionamento dos tribunais judiciais.

Em que é que se salda esta independência e imparcialidade dos tribunais e juízes/árbitros:

 Esta independência foi sempre acompanhando a teoria da separação de poderes.


 Em Portugal na Constituição de 1822 tivemos independência dos tribunais face às
cortes e ao rei; depois na carta constitucional de 1826 a essa independência acrescentou-
se o carater perpetuo dos juízes e a não responsabilidade dos mesmos; a constituição de
1911 assinala carater vitalício em inamovibilidade dos juízes e mais uma vez a não
responsabilidade, a constituição de 33 fez o mesmo. Na CRP atual os artigos 202º e
216º tem essas mesmas garantias.
 Lei de organização do sistema judiciário  L62/2013 26 agosto: Art.22º -
independência dos tribunais; Art.4º - independência dos juízes. De acordo com estes
artigos da lei orgânica há separação em relação ao que é a independência dos tribunais
por um lado, e por outro a dos juízes. Importante notar que a constituição
expressamente só se refere à independência dos tribunais, e não refere diretamente a
imparcialidade. Isto porque as CRP´s tinham tradição de não referir imparcialidade para
que essa depois fosse regulada pela legislação ordinária. Mas há quem defenda que o
Art.20º/4 tem como pressuposto a imparcialidade pois esta é corolário do princípio do
processo equitativo.

Mas se há contraposição entre independência dos tribunais (Art.22º) e independência dos juízes
(Art.4º) na L62/2013 26 agosto, como se distingue?

 A independência dos tribunais salda-se numa espécie de imunidade/não sujeição a


instruções que provenham de outros órgãos, porque a sua independência é nos
termos em que “apenas estão sujeitos à lei”. Essa independência também se salda
na eficácia das decisões judiciais – pois não estão dependentes de atos externos,
nem tão pouco esta eficácia pode ser impedida, modificada, anulada ou revogada
por outro ato.
 No caso dos juízes e árbitros é diferente. A sua independência visa que sobre os
juízes ou sobre os árbitros possam ser exercidas pressões indevidas seja interna ou
externamente.
 No campo da imparcialidade também se pode fazer a distinção entre tribunais e juízes.
A dicotomia independência/imparcialidade é explicada em alguns manuais desta forma:
A independência apela a um critério mais objetivo ao passo que a imparcialidade se
refere a um critério mais subjetivo. Mas nem sempre é assim, as duas influenciam-se
mutuamente. Este critério de distinção não serve, falta um pouco de rigor.
 Então, ser imparcial nos tribunais significa que a pronúncia que estes vão realizar está
desligada dos interesses na causa. Só têm interesse em proferir uma decisão correta.
 Já para juízes e árbitros, ser imparcial vai significar que terão de se motivar na sua
própria atuação para atingir uma decisão correta, e não se devem motivar através de
razões pessoais.

Em relação à imparcialidade o que é que releva?

 Pode relevar a ideia de o juiz natural – em princípio para aquela determinada causa o
juiz que se manterá será o juiz considerado competente pelas regras de competência, e
em função de uma distribuição aleatória.
 Matéria dos impedimentos e das suspeições (juízes) – 115º a 129º CPC –
enumeração taxativa. Para este regime remetem outros regimes como o Código de
Processo Penal (Art.4º) p. ex.
 Caráter inamovível – juízes (e árbitros - apesar de ser um pouco diferente pois a sua
designação não é vitalícia) em princípio não podem ser destituídos de funções durante o
período de designação.
 Irresponsabilidade pelo conteúdo das decisões – Art.4º/2 e 5/1, Lei 62/2013, 26 agosto;
Art.216º/1 e 2 CRP e Art.9º/4 e 5 da Lei de arbitragem voluntária.

NOTA: 9º/3, 10º/6 LAV – independência e imparcialidade dos árbitros.

O que são impedimentos e o que são suspeições?

 Impedimentos: 115ºCPC – quando se verifica uma das causas o juiz deve declarar-se
impedido (o que não invalida que as partes também o possam pedir).

 Suspeições: 119º e ss. – A intervenção do juiz pode criar risco de afetação da imparcialidade
e por isso a intervenção do juiz pode ser vista com desconfiança pela comunidade. O juiz não
pode declarar-se suspeito, mas pode pedir para ser dispensado apesar de que esse pedido
vai ser decidido por outro tribunal.

A suspeição obedece a ponderação com recurso a conceitos indeterminados, ou seja, não há um


automatismo de recondução a uma das alíneas do artigo.

Nota: A relação entre a LAV e o CPC tem de levar em conta também diretrizes de alguns
códigos deontológicos como a Associação Portuguesa de Arbitragem // e IVA? – em relação a
conflitos de interesses.

Na arbitragem, porque é que a questão de independência e imparcialidade é ainda mais


importante no ponto de vista do estatuto do decisor? Porque surge como causa de anulação
da própria decisão arbitral e causa de fundamento da oposição à execução – Art.46º/3 alínea a)
sub-alínea 4 da Lei de Arbitragem Voluntária.
Essa maior importância leva a que, ao contrário do que sucede nos tribunais estaduais, os
árbitros tenham dever de revelação – sejam obrigados a revelar algumas circunstâncias que
porventura as partes queiram tomar conhecimento, pois não as revelar às partes pode
comprometer a sua imparcialidade.

Competência:

 Conceito de Lima Pinheiro – Complexo de poderes atribuídos ao tribunal para o


exercício da função jurisdicional.
 Conceito fundamental da competência na função jurisdicional – Art.202º/1CRP.
 202º/2 CRP – administrar a justiça consiste em assegurar a tutela dos direitos objetivos
e subjetivos dos cidadãos.
 A função jurisdicional é um poder soberano, para administrar a justiça, e em matéria de
processo civil administrar a justiça significa, essencialmente, a composição dos litígios
submetidos à apreciação do tribunal.

Competência

Em abstrato: Em concreto:

A nível de competência interna – Medida do poder Competência para julgar


jurisdicional atribuído a determinado tribunal. uma determinada causa
A nível de competência internacional – Medida de poder
jurisdicional atribuído ao conjunto dos tribunais de
determinada ordem jurídica/país.

A competência internacional – atribuída a todos os tribunais


portugueses.

Já a competência interna respeita a competência de


determinado tribunal da ordem jurídica – Portugal – para julgar
determinada ação.

Comarca – divisão territorial para efeitos de administração de justiça, e distribuição da


competência territorial para apreciar as ações propostas no território português. Cada comarca
terá competência para conhecer as ações cujos elementos da causa de pedir estejam
relacionados geograficamente com o seu território, p. ex.: réu reside naquela área, acidente
foi naquela área, cumprimento do contrato foi naquela área.
Fundamentos axiológicos da independência internacional – são essencialmente 2:

1. Em primeiro lugar visa-se a proteção internacional de direitos independentemente


da nacionalidade do indivíduo.
2. Em segundo lugar visa-se evitar ou prevenir a denegação de justiça – situação em
que determinada pessoa pretende obter tutela jurisdicional de direito ou interesse e
nenhum tribunal se declara competente.

A competência internacional também pode ser legal ou convencional:

A competência legal recorre da lei.

A convencional decorre dos pactos de jurisdição – essencialmente são negócios jurídicos nos
termos dos quais as partes atribuem competência internacional para o conhecimento dos litígios
provenientes de um contrato, aos tribunais de determinado país.

Nota: Os regulamentos europeus com mais pertinência em matéria de competência são vários, o
mais importante é o regulamento 12/15 de 2012 (também conhecido como regulamento de
Bruxelas) pois é relativo à competência judiciária ao conhecimento e execução de decisões em
matéria civil e comercial.

O sistema de competência internacional é coordenado por conjunto de princípios, quatro


deles fundamentais:

 Princípio da proximidade – Proximidade geográfica (das partes ao tribunal p. ex. –


encontra-se no nosso CPC e no Art.4º do regulamento 12/15);
 Princípio da eficácia prática da decisão – Significa que, sobretudo nas ações
condenatórias, ao autor não lhe interessa apenas obter vencimento na ação, ou seja, não
interessa apenas que o tribunal dite que a sentença é que o réu deve pagar, interessa-lhe
sim que a condenação seja coerciva de forma a obrigar de facto o réu ao pagamento;
 Princípio da concorrência da competência internacional – Quando o autor pretende
propor ação, de acordo com a análise que faz da competência internacional, pode
concluir que os tribunais de mais do que um país se consideram competentes para
propor a ação, ex.: o domicílio do réu é num país e o contrato foi celebrado noutro país
- nesta hipótese o autor pode escolher onde propõe a ação.
 Princípio da autonomia da vontade das partes – O direito reconhece as convenções
das partes em que estas atribuem competência internacional aos tribunais de um
determinado Estado.
28.10.2020

O primeiro pressuposto processual que se tem de averiguar é a competência de um


tribunal.

Uma nota muito importante sobre competência: a perspetiva através da qual determinamos a
competência de um tribunal é a do tribunal perante o qual pende uma ação – a competência é
SEMPRE determinada pelo tribunal de ação e a partir das regras determinativas de competência
que o tribunal de ação tem de aplicar, ou seja, o tribunal só pode dizer uma de duas coisas: se
é competente ou se não é competente. E não pode dizer, quando se afirma incompetente, qual
o tribunal competente. Vai ser o juiz do outro tribunal, se ação for instaurada lá, que vai
determinar se ele é competente ou não.

Na determinação da competência trabalhamos com a técnica dos elementos de conexão. Vamos


ter de perguntar qual, dos vários elementos que tem uma ação, é o elemento de conexão
relevante para a aferição de competência.

Perguntas que o juiz português se deve colocar em matéria de competência (tipicamente


acontece no momento do despacho saneador):

1º - Sou competente de um ponto de vista internacional? Se sim, partimos para a 2ª.

2º - Sou eu o tribunal competente de um ponto de vista interno?

Quando é que a pergunta relativa à competência internacional releva, ou seja, quando é que o
juiz se coloca esta pergunta? Quando o conflito que vai ser decidido tem elementos de
conexão com mais do que uma Ordem Jurídica, ou seja, quando o conflito é
plurilocalizado (ex.: uma das partes não é nacional//contrato tem de ser cumprido no
estrangeiro).

Então, a partir do momento em que há um elemento de conexão com uma ordem jurídica
que não a portuguesa o tribunal tem sempre de se perguntar à cerca da sua competência
internacional.

Art.59ºCPC – competência internacional


Regulamento 12/15 de 2012

 Temos de conjugar os termos “competência”, “reconhecimento” e “execução” que


constam no título do regulamento, pois, é através da uniformização das regras de
competência primária que se garante a mais rápida e eficaz circulação das decisões.
 O que é então competência primária? É a competência de um tribunal para julgar a ação
em primeira instância, ou seja, é a competência para conhecer do objeto do processo
numa primeira instância.
 O que é a “rápida e eficaz circulação das decisões”? Temos de ir à razão da função
jurisdicional. É uma emanação de soberania, e só podemos, como é óbvio, exercer
soberania dentro do espaço em que somos soberanos. Isto significa que um ato
praticado no exercício da função jurisdicional só é uma manifestação de soberania do
estado português dentro do mesmo. Para que essa decisão possa produzir efeitos fora do
espaço português essa decisão vai ter de ser aceite pelo estado de destino, no exercício
da sua própria soberania, como uma decisão boa. O estado de destino tem de a aceitar
para que a decisão tenha o seu efeito útil garantido. Ex: Uma decisão proferida por um
tribunal Alemão só tem razão de soberania dentro do território da Alemanha, não em
território Português. Terá de ser o estado português a aceitar a decisão para que ela em
Portugal produza os seus efeitos. A circulação de uma decisão é assim, que ela seja
reconhecida fora do estado me que foi proferida – em estados de destino.
 O que quer então dizer que a decisão é reconhecida no estado de destino? É poder
provocar no estado de destino os mesmos efeitos que provoca no estado que a
emanou/foro. E os efeitos típicos de qualquer sentença são dois: a decisão torna
indiscutível o objeto sobre o qual o tribunal se pronunciou – provoca efeito de caso
julgado; um outro efeito muito importante que a sentença tipicamente provoca é a
constituição de um título executivo – incumprido o comando da decisão pode ser
coercivamente imposta à parte condenada.

O processo típico quando não é aplicável nenhum instrumento internacional que facilite o
reconhecimento é o dos artigos 978º e ss do CPC. Mas devemos sempre aferir primeiro se é
aplicável algum dos regulamentos e se não for aplica-se então o CPC. Não sendo aplicável
nenhum dos regulamentos, os artigos fundamentais no CPC em matéria de competência
internacional são os Arts.62º - alínea a) contém o critério da coincidência; alínea b) critério da
causalidade; alínea c) critério da necessidade, 63º e 94º.

Arts. 36º e 39º do Regulamento 12/15 – O que têm de diferença entre o regime dos arts. 978º e
ss do CPC? Dispensamos o processo do 978º e ss para aceitarmos na nossa ordem jurídica as
decisões proferidas dentro da UE quando aplicável este regulamento.

Quando se aplica o regulamento 12/15:

Aplica-se sempre que seja chamada a intervir uma regra atributiva de competência exclusiva a
um tribunal, ou seja, sempre que está em causa uma competência exclusiva. Qualquer tribunal
cuja competência resulta de outra qualquer regra que esteja a ser aplicada em violação destas
regras, é um tribunal que viola uma competência exclusiva.
Aplica-se também quando o demandado tem domicílio num Estado-membro – 4º/1 – este
critério tem dupla-função: é critério para a aplicação do regulamento e é critério atributivo de
competência ao abrigo do regulamento*.

 A regra de competência exclusiva do regulamento afasta mesmo as competências


exorbitantes. Isto porque o critério geral de aplicação do regulamento é o critério do
domicílio do demandado, mas regras de competência exclusiva dispensam a
concretização deste critério.
 NOTA: Se o requerido não tiver domicílio num Estado-membro a competência dos
tribunais do Estado-membro é regida pelas leis do mesmo – 6º/1.

Quando é que temos então competências exclusivas? Arts.24º e 25º do Regulamento.

 Art.25º do Regulamento – A convenção das partes vai prevalecer sobre todas as regras,
tirando as do Art.24º. O que significa que a convenção só vai ser válida se não
prejudicar uma competência exclusiva. Portanto a regra de competência exclusiva
prevalece sobre a convenção.

NOTA: Se os tribunais de um país forem exclusivamente competentes para determinada ação a


sentença que seja proferida por outro país não será reconhecida em nenhum outro estado-
membro.

* Pode haver competências concorrentes. Para além do domicílio pode haver outros fatores
de conexão. Se verificada uma dessas conexões o demandante pode escolher demandar o
requerido no tribunal do seu domicílio ou no tribunal que resulta como competente da outra
competência especial prevista no regulamento. Qual é a consequência de as competências serem
concorrentes? É que o demandado, se demandado no tribunal de um estado diferente daquele
onde ele tem domicílio não pode invocar a competência do tribunal.

Contudo, se a competência não for aferível por nenhum critério especial o único tribunal
competente é o do domicílio do demandado. Embora isto não corresponda a toda a verdade,
pois, há sempre um critério que permite fixar a competência de um tribunal – o tribunal perante
o qual o demandado compareça sem arguir a incompetência desse tribunal (isto fora dos casos
de competência exclusiva – porque esses não podem ser afastados de maneira alguma).

Esquema em matéria de competência do regulamento 12/15:

Competências exclusivas – Arts.24º e 25º

Se não houver competências exclusivas para a aplicação do regulamento usa-se o critério dos
artigos 4º/1 e 6º/1 para determinar o tribunal competente para se propor a ação
Competências concorrentes: Se para além do domicílio do demandado se puder aplicar outro
critério de competência o demandante escolhe

Contudo, caso o demandado compareça num tribunal sem arguir a sua incompetência este ato
fixa-a – tirando os casos de competência exclusiva.

Se o tribunal não for competente não pode conhecer o mérito da causa. Que regime se aplica
então ao reconhecimento da incompetência? Arts.27º e ss do regulamento, mas temos de olhar
também para o esquema geral – se não tiver sido prejudicada uma regra de competência
exclusiva, mas o reu for demandado num estado-membro diverso daquele do seu domicilio o
tribunal tem de verificar se está concretizado outro critério especial – já se aplica aqui a lei do
foro/CPC no caso de Portugal.

Notas finais da regente quando ao regulamento:

Nota 1: No sistema do regulamento a litispendência (verifica-se quando a mesma ação entre os


mesmos sujeitos pende quando uma outra ainda não terminou com sentença transitada em
julgado, ou seja, temos simultaneamente duas ações com os mesmos sujeitos) tem relevância, ao
contrário do que acontece no Art.580º/3 CPC.

Nota 2: Há duas exceções muito importantes neste regulamento: Não se aplica nem quanto à
arbitragem nem às falências.

Nota 3: Também são importantes os regulamentos 2019/1011, e 650/2012 de 4 de julho.

Se a competência se puder aferir pelo regulamento, ou seja, se este for aplicável, e se o tribunal
for então incompetente em consequência dessa mesma aplicação, posso aplicar as regras do
CPC? NÃO. Tendo de aplicar o instrumento internacional para aferição da sua competência,
falhando a concretização da mesma competência o tribunal não pode recorrer a outros critérios.
Isso seria violar a regra que manda dar prevalência ao direito internacional.

Importante à cerca do Art.62º CPC:

Há casos em que pela alínea a) chegamos à conclusão de que os tribunais portugueses não são
internacionalmente competentes, mas a alínea b) indica essa competência. Por exemplo: Um
turista russo passou férias em Portugal e depois de ter regressado ao seu país decide relatar os
mais difamatórios factos sobre o hotel onde ficou nas redes sociais. O hotel decide propor ação
de responsabilidade civil extracontratual. Os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes? Se aplicarmos o critério da coincidência chegamos à conclusão de que não são,
pois, a alínea encaminha-nos para o Art.71º/2 e o facto ocorreu quando o turista já estava na
Rússia. Mas pelo critério da alínea b) vemos que não há dúvida que de os danos são constituídos
por factos que ocorreram em Portugal, e estes factos integram também a causa de pedir, a modo
que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes já não pode critério da
coincidência, mas sim pelo da causalidade.

4.11.2020

Competência fundada em convenção e competência fundada em regra

Conjunto de contratos destinados à construção de várias obras (caminhos de ferro, hospitais,


aeroportos, portos) na Líbia, durante o período do General Kadafi. Os contratos que nos
interessam tinham a cláusula: para qualquer conflito, são exclusivamente competentes os
tribunais da Líbia – as partes tinham aceitado esta convenção. Qual era a particularidade
relativamente ao qual o conjunto veio perguntar se se podia pensar na competência dos tribunais
português? Alguns contratos eram feitos com empresas brasileiras em consórcio, que recorriam
para a execução de parte das execuções devidas a empresas que tinham em Portugal – essas
empresas portuguesas, com autorização da Líbia, executar essas empreitadas.

Como é típico destes contratos havia garantias, a parte que ganhava concurso tinha de constituir
garantia com a Líbia, que visava a boa execução do contrato.

Houve garantias bancárias (3) dadas por bancos brasileiros e outras dadas por bancos
portugueses. Todos os bancos garantiam tudo. A Líbia entra em situação de guerra civil e logo
no inicio das enormes perturbações, foi preciso retirar com emergência vários trabalhadores da
Líbia, ainda foi possível tirar parte do equipamento que tinha ido para la, mas levanta-se o
problema: a execução do trabalho foi interrompida.

Houve várias negociações e chegaram à seguinte conclusão: a Líbia dizia que não prescindia
das empreitadas e as empresas brasileiras diziam que não podiam continuar porque não havia
condições. Líbia diz: então vou acionar garantia bancarias e pedir aos bancos que paguem,
porque se verifica que o consorcio que não cumprir o contrato. Como é que o consorcio pode
reagir de modo a impedir que os bancos paguem garantias bancárias à primeira solicitação?
(mas este problema não se coloca agora). A que tribunais se pode pedir que os bancos não
paguem? – a convenção que diz que a jurisdição é dos tribunais da Líbia pode produzir efeitos
quando ao pais ao qual se atribui a jurisdição se encontra em guerra civil? E se porventura se
declarar impossível o cumprimento daquela convenção, quais os tribunais que podem resolver o
conflito?

Qual a natureza da convenção que diz que os tribunais competentes são os da Líbia? Pacto de
jurisdição, que contribui competência exclusiva, mas que para os outros tribunais, é visto como
um pacto privativo de jurisdição. Este pacto é válido?  não se aplica regulamento – temos de
ir ao direito interno: Art.94º CPC – segundo este Art. este pacto é válido. Então pergunta-se:
mas é possível cumprir o pacto? Não havia condições para fazer uma citação na Líbia, não dava
sequer para chegar à porta do tribunal. Conclui-se que não era possível cumprir o pacto de
jurisdição – e no plano internacional quais são os tribunais bem colocados para decidir?
Tribunais portugueses ou os tribunais brasileiros?

Há 2 critérios que não dão aqui para atribuir competência aos tribunais portugueses:
coincidência e causalidade; mas há um que dá: critério da necessidade – c). porque é que os
tribunais portugueses aceitaram? O CPC brasileiro não explicita o princípio da necessidade.

A opção acabou por recair em pt pq se entendem que sendo uma matéria em que poucas vezes
os tribunais são convidados a pensar (princípio da necessidade), pensou-se que eé melhor postar
num estado cujo CPC tenha uma regra, e, na altura, o CPC brasileiro era muito recente.

A outra convenção de competência que podia ter sido celebrada era a favor de recorrer a
tribunais arbitrais.

Convenção que prevê que nestes casos seja possível recorrer a tribunais arbitrais:

Convenções de arbitragem: grandes franjas da litigância são absorvidas por uma jurisdição
que convive com a jurisdição dos tribunais estaduais – as partes escolhem um tribunal, um
decisor, fora da esfera dos tribunais estaduais, para exercer a função jurisdicional (30:25).

“Tribunal arbitral exerce jurisdição” - ao dizer isto, estamos a agregar aqui o Art.20º/4 CRP;
tem de obedecer à igualdade e contraditório

Esta convenção tem dupla eficácia: previne a jurisdição de qualquer outro tribunal que não o
arbitral – nenhum tribunal que não o tribunal arbitral pode.

Pacto de jurisdição e convenção arbitral, têm em comum serem convencionados pelas partes, as
partes escolheram, por isso também podem renunciar à concreta relevância da convenção
naquela concreta ação: Se o réu for demandado num tribunal estadual e ele nada disser, então
consolida-se assim - até pode ser melhor para ele ser em tribunal estadual em vez de ser no
tribunal arbitral; mas isso não significa que noutra ação ele não possa invocar a convenção – o
limite é o principio da boa fé.

A grande distinção entre violação de convenções (o tribunal não tem competência para
oficiosamente controlar a violação da convenção, porque são as partes que decidem) e de outras
regras legais (o tribunal tem competência para oficiosamente controlar a violação).
Organização interna dos tribunais portugueses

Tribunais portugueses têm competência internacional, mas depois: qual o tribunal competente?

Lei 62/2013, 26 de agosto (atualizada a 9 de setembro de 2019) – Lei porque é matéria da


competência da AR. Esta Lei, no que nos interessa, aplica-se à jurisdição dos tribunais judiciais
– tem na cúpula o Supremo Tribunal de Justiça.

STJ

Tribunais da Relação

Tribunais de 1ª instância
Entre os tribunais de 1ª instancia não há hierarquia.

As leis de organização judiciária sofrem uma pressão enorme

Conceitos de organização judiciária:

1. Alçada: valor até ao qual um tribunal decide sem que haja recurso das suas decisões –
Art.44º - se for inferior ou igual a 5mil euros, em principio não é recorrível. Se o valor
for sup a 5 mas inferior a 30mil a decisão do juiz da 1ª insta pode ser recorrida para a
relação, mas já não pode ir a supremo (pq 30mil é o valor max da sua alçada). Se valer
1M, na 1ª insta à recurso para relação e depois há recurso também para o STJ, pq
ultrapassa o valor da alçada do tribunal da relação. O valor das relações é 30mil, isto
quer dizer que a relação decide causas cujo valor está entre 5mil e 30mil euros? Não, a
plenitude da jurisdição é da primeira instância - a 1ª instância vai de 1 euro a infinitos.
STJ não tem alçada, não se pode dizer que é a 3ª instância, não é instância porque não
há recurso depois do STJ.
2. Especialização dos tribunais: atendendo aos recursos limitados que temos, que tribunais
são precisos criar? Olha-se para os campos muitos especializados de litigância em que
há muita incidência de processos especiais – Art.40º/2. Dentro da competência
especializada: tribunais especializados de competência territorial alargada, justificam
que haja juízes especificamente especializados nelas, mas basta que haja um tribunal
cuja competência territorial abarque todo o país – exemplo: propriedade intelectual – há
cada vez mais conflitos, mas não tem sentido criar vários tribunais de competência
especializada nesta matéria  é importante a matéria do tribunal e vai exercer
jurisdição sobre todo o território.
Art.37º/1 que conjuga com o 41º - critério da distribuição da competência segundo o valor da
ação – pista que descodifica: faz distinção entre juízes centrais e juízes locais – o que é que
vamos perceber que distingue ambos? É que as causas mais complexas são da jurisdição dos
juízes centrais, as de menor complexidade dos locais (Art.117º)  os juízes com menor
experiencia não entram para os juízes centrais, portanto, na colocação de juízes nos tribunais,
não são colocados nos tribunais com causas de menor complexidade – isto acaba por bater certo
porque não é o mesmo julgar um caso de 500€ e um caso de 50 mil, está em causa a experiencia
e a maturidade do juiz.

Onde é que estou sentado? - Critério do território - é o ponto a partir do qual resolvemos
sempre os casos

Na minha circunscrição, que tribunal exerce jurisdição sobre a concreta causa? Na minha
área territorial, em que tenho jurisdição, há algum outro tribunal que consuma a área de
competência que é convocada para a resolução desta causa? Esta causa é pouco ou muito
complexa?

Com estas perguntas – valor da causa, matéria e território.

Depois só temos de perguntar: se eu decidir isto tudo mal, o recurso vai para onde? – critério da
hierarquia (mas isso, por agora não interessa ao juiz).

O tribunal é competente? Território, Matéria e valor.

E se não for competente, o que acontece? As consequências não são iguais: há critérios cujo
preterição a lei considera particularmente grave e entende que há interesses de ordem publica
copulados; há critério cuja violação a lei considera menos graves. Quando está em causa mais
grave  absolvição do réu da instancia (99º/1 e 2); se for os que a lei considera menos
relevantes no sentido da boa administração da justiça  processo é remetido de um tribunal
para outro.

Qual a diferença entre os dois? Se remeter o processo não se desperdiçam atos processuais, não
tem de se começar do inicio, na absolvição da instancia os atos deixam de produzir efeitos.

O que a lei considera mais grave – incompetência absoluta; os de menor gravidade –


incompetência relativa. Mas não nos deixemos iludir, temos de ver caso a caso o que é que a lei
determina para a situação em concreto - há caso em que a única razão pela qual integramos o
exemplo na incompetência absoluta …

Violação da convecção arbitral – incompetência absoluta – absolvição do reu da instancia

O Pacto de Jurisdição

O Art.97º/1 apenas refere os pactos privativos de jurisdição, está nas incompetências absolutas
porque não era possível remeter o processo para o tribunal estrangeiro que fosse realmente
competente. Não está o pacto atributivo porque ele se viola quando há sentença em tribunal
estrangeiro  regras do regulamento ou regras do processo.
11.11.2020

PARTES

Como é que sabemos quem é uma parte no processo? Da determinação de quem são as partes
numa ação resulta a determinação dos sujeitos processuais aos quais se atribui um certo estatuto.

Essa determinação também produz variados efeitos, nomeadamente a delimitação dos sujeitos
vinculados pela decisão. Ou seja, temos de saber quem são as partes para, ao abrigo dos
Arts.619º/1 e 581º/2 CPC, sabermos quem são os sujeitos vinculados por uma decisão.

Só conseguirmos explicar a enorme complexidade das configurações subjetivas possíveis da


instância se dissermos que, formalmente, a parte é:

 Quem demanda em nome próprio – autor.


 Quem é demandado em nome próprio – réu.

Contudo, esta definição só explica quem são os sujeitos da ação, mas a finalidade que as regras
processuais pretendem alcançar não acontece apenas com o conceito formal de parte. Temos de
fazer uma interpretação que distinga se aquela regra ainda pressupõe um conceito material de
parte – relacionado à ligação entre sujeito e objeto – ou se a regra pressupõe um conceito
formal. Ex.: Quando olhamos para o artigo 581º/2 CPC verificamos que o conceito formal de
parte é insuficiente para o preenchimento da identidade da parte. Quem é que fica afinal
vinculado pela decisão? Não podemos dizer apenas que é aquele que foi demandado em nome
próprio. Há partes que têm uma ligação com o objeto processual e isso vincula-as à decisão.

 Há então uma outra construção, que vem da doutrina italiana, e que é a “parte
complexa”. Foi criada justamente porque só conseguimos explicar as vinculações das
partes à decisão vendo a dupla vinculação presente nos conceitos de parte formal e de
parte material. Necessitamos de unir os dois conceitos para entender todos os efeitos
úteis de uma decisão e todos os efeitos úteis de um processo.

Que tipos de partes – de acordo com o conceito formal – é que conseguimos distinguir?

 Partes principais (não só são demandadas em nome próprio e demandam em nome


próprio como têm uma relação com o objeto da ação – são casos em que o efeito do
caso julgado se repercute diretamente na esfera jurídica destes sujeitos).
A parte principal pode sê-lo desde o início da ação (originária) ou supervenientemente.
Quando é que a parte principal originária assume uma configuração diferente na
pendencia da ação? Quando forem desencadeados incidentes de intervenção de terceiros
(todo aquele que não demandou/foi demandado em nome próprio) que se podem
constituir como partes principais. Ex.: Obrigação solidária – Apenas um dos credores
demanda um dos devedores pedindo a sua condenação ao pagamento da dívida na sua
integralidade. Qualquer um dos outros credores solidários tem um interesse simétrico ao
do credor original, e qualquer um dos devedores solidários tem um interesse/dever
simétrico ao do devedor original. O que significa que atendendo à configuração da
situação material, a configuração subjetiva da instância pode ser alterada por
intervenções de terceiros. Estas intervenções de terceiros tanto podem ser espontâneas
ou provocadas* – pode ser provocada a intervenção daquele que podia demandar em
nome próprio ou que podia ser demandado em nome próprio.

 Intervenções de terceiros a título principal – artigos: 311º, 316º, 333º, 338ºCPC.


 Intervenções de terceiros a título acessório – artigos 321º a 326ºCPC.

 Partes acessórias (a decisão não pode provocar imediata regulação de situação jurídica
inscrita nas suas esferas jurídicas, estas partes assumem essa mesma posição para
auxiliarem a tutela dos interesses da parte principal à qual se associam).
A parte acessória está a discutir um objeto que não lhe pertence, tem interesse na
decisão, mas apenas isso. Consequentemente, esta parte só vai poder dizer coisas
relativamente ao objeto que está a ser discutido. Se houver contradição na conduta da
parte acessória face à conduta da parte principal, desconsidera-se a conduta da parte
acessória, e só se irá dar relevância processual à conduta da parte principal.

 Originárias

 Supervenientes

 Provocadas *

 Espontâneas

Nota: Exceção dilatória é a falta de algum pressuposto processual.

Há casos em que temos, durante determinado tempo, vários autores ou réus. São os casos em
que um terceiro coloca a dúvida legítima quanto à ligação substantiva entre autor ou réu com o
objeto do processo. Rogando ser ele, contra o autor ou contra o réu, o titular do interesse em
discussão. Chama-se a esta intervenção de terceiro oposição. Depois o opoente substituirá o
autor ou réu, mas até lá tem de ser garantida a igualdade e o contraditório a todas as partes.

Substituição processual – Aquele que demandando ou sendo demandado em nome próprio o


faz para terceiro. Ex.: 443º e 444ºCC - novo promissário vai constituir-se como autor nesta
ação, vai exigir em nome próprio, mas não para si, e sim para terceiro.

A parte aqui está configurada através do conceito formal de parte – demanda ou é demandado
em nome próprio – se o interesse é próprio ou alheio já é outro problema.
263º/3CPC – adquirente não é parte em sentido formal se nunca interveio no processo, mas é
parte material, porque é da sua esfera jurídica que se vão inscrever os efeitos possíveis úteis da
decisão de mérito.

Pressupostos de regularidade da instância:

1º - Competência do tribunal: Se o tribunal é incompetente só tem competência para se declarar


incompetente.

2º - Pressupostos relativos às partes: personalidade judiciária, capacidade judiciária,


legitimidade judiciária, representação – ligada à capacidade, patrocínio judiciário,
interesse processual.

18.11.2020

Personalidade judiciária

Art.11º/1CPC - personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de se ser parte. Ou seja, só


pode ser parte quem tiver personalidade judiciária.

Critérios da personalidade judiciária:

 Critério da coincidência – Art.11º /2CPC – quem tem personalidade jurídica


(Arts.66º/1 158ºCC e 4º/1 e 5CSC) tem personalidade judiciária.
 Critério da diferenciação patrimonial – Art.12ºCPC – Se o legislador sentiu
necessidade de estender a personalidade judiciária a algumas entidades ou patrimónios,
fê-lo porque, das duas uma, ou é absolutamente claro que as realidades jurídicas
presentes nas alíneas do artigo não têm personalidade jurídica, visto que se tivessem
teriam também personalidade judiciária. Ou pelo menos é controverso na doutrina e na
jurisprudência se estas entidades têm personalidade jurídica ou não.
 Critério da afetação ou da prática do ato – Art.13º/1CPC – têm personalidade
judiciária as sucursais/filiais.

Nota: O Estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode ser demandado, ou seja,


tem personalidade judiciária. Mas apesar de esta decisão constar em alguns acórdãos, não
parece muito adequada à maioria da jurisprudência.

Sociedades irregulares

 Art.12ºCPC – sociedades que ainda não foram registadas. Ainda assim podem
considerar-se desprovidas de personalidade jurídica?
 O Art.12º parece indicar que estas sociedades ainda não têm personalidade jurídica, ou
seja, o registo em falta seria constitutivo da personalidade, e seria por via do mesmo que
as sociedades adquiriam a personalidade.
 Mas uma outra perspetiva doutrinária entende que o registo não atribui personalidade
jurídica, consequentemente, essas sociedades irregulares têm a sua personalidade
judiciária atribuída pela norma do artigo 11/2ºCPC e não é necessário recorrer à norma
de extensão do artigo 12º alínea d) CPC.

Fundações não reconhecidas:

 As fundações necessitam de ato de reconhecimento para atribuição da personalidade


jurídica. Por isso, o que é que isto quer dizer em termos de personalidade judiciária?
 Tem-se concluído na doutrina que o ato de reconhecimento não atribui personalidade
jurídica – Acórdão STJ 20/10/2005 – ou seja, ainda que não reconhecida, uma fundação
não deixa de ter personalidade jurídica e, por conseguinte, não deixa de ter
personalidade judiciária através da aplicação do artigo 11º ou 12º (consoante a posição
doutrinária explicada acima).

Como é que se resolvem os casos em que o autor propõe a ação e demanda como réu uma
entidade que não tem personalidade judiciária, ou seja, quando não é um caso abrangido
pelas normas dos Arts.12º e 13º?

Antes de mais, relembra a prof. que tribunal deve, oficiosamente, sanar a falta deste
pressuposto – nos termos do Art.6º/2 e 590º/2 a) CPC. A falta de personalidade deve ser sanada
quando se verifique uma das seguintes hipóteses:

1º - Caso de o demandado ser pessoa falecida. Por vezes ocorre que o autor manteve algum
negócio jurídico com determinada pessoa e que essa pessoa morra sem o autor saber. A
resolução do problema não passa pela absolvição da instância, mas sim pelo incidente de
habilitação (dos sucessores) – Arts.351º e ss. CPC. Caso os herdeiros não estejam identificados,
ocupa o lugar de réu a herança jacente (que tem personalidade judiciária nos termos do
12ºCPC).

2º - Caso de o autor demandar sucursal/filial/agência fora dos casos previstos no


Art.13ºCPC. Pode ser sanado o problema através do Art.14ºCPC.

 Fora destes casos a falta de personalidade judiciária não pode ser sanada. A sua falta
constitui uma exceção dilatória nominada – 577º, c) CPC – e de conhecimento oficioso
578º CPC. Isto conduz à absolvição do réu da instância – Art.278º/1 c) CPC.
 Ex.: Invés de demandar sociedade dona de um EC chamado “Bolas e bolinhas”, o autor
demanda como réu a “Bolas e bolinhas”. Ora um EC não tem personalidade jurídica
nem personalidade judiciária e não há assim nenhum réu. Nestes casos o juiz
normalmente identifica a exceção dilatória e absolve a instância.

Os argumentos para a insanabilidade da personalidade judiciária são essencialmente dois:

 O legislador não previu no CPC qualquer mecanismo normativo que possibilite a


sanação da falta de personalidade judiciária.
 Não se pode aplicar analogicamente as normas dos Arts.14º e 351º e ss CPC, pois, estas
normas têm carater excecional e, portanto, não comportam aplicação analógica nos
termos do artigo 11ºCC.

Nota: A extinção da instância por via da absolvição não impede o autor de propor nova ação
com o mesmo objeto – Art.279ºCPC.

Capacidade judiciária

A capacidade judiciária é a suscetibilidade de estar por si em juízo – Art.15º/1CPC – ou seja, é a


suscetibilidade de a parte estar pessoal e livremente em juízo. Isto importa porque há casos de
pessoas não podem estar em juízo nem pessoal nem livremente, mas há casos em que poderão
estar pessoalmente e não livremente. A capacidade judiciária tem por base a capacidade de
exercício de direitos.

É importante então lembrar a distinção entre capacidade jurídica de gozo e de exercício:


Personalidade jurídica suscita a possibilidade de se ser titular de direitos e deveres; a capacidade
de gozo é a concreta medida dos direitos e deveres de que a pessoa pode ser titular – Art.67ºCC;
a capacidade de exercício será a concreta medida de direitos e deveres de que a pessoa pode por
si/autonomamente realizar e cumprir.

 Não possuem, por exemplo, capacidade judiciária:

 aqueles que podem intervir pessoal, mas não livremente – maiores acompanhados ou
maiores com capacidade limitada;
 aqueles que não podem atuar nem pessoal nem livremente – menores e alguns maiores
com capacidade limitada.

Todavia, não devemos concluir que um incapaz não pode estar pessoal e livremente em
juízo. Pode estar sim, mas apenas em determinados casos. Ou seja, os incapazes podem
estar pessoal e livremente em juízo nas causas contidas dentro dos limites da sua
capacidade de exercício. Ex.: Há casos em que a capacidade de exercício dos menores lhes
é reconhecida pelo legislador (Art.127ºCC e para os maiores acompanhados Art.147ºCC) –
como no caso do menor de 16 anos que já tem uma profissão que lhe afere um rendimento.

A incapacidade pode aferir-se tanto na parte ativa como na parte passiva. Quando a
incapacidade se verifica na parte ativa, verifica-se que o incapaz propõe a ação sem a
intervenção do representante legal ou do curador. Quanto ao réu, a incapacidade é relevante
quando é proposta uma ação contra um incapaz sem identificação pelo autor do representante
legal daquela parte – isto porque cabe ao autor o ónus de realizar as diligências necessárias
para que todos os pressupostos processuais se encontrem preenchidos.

Problemas associados aos menores e aos maiores acompanhados:


 Maiores acompanhados, quer sujeitos a representação – 145º/2 a) e b) CC, quer
sujeitos a administração de bens – 145º/2 c), só podem estar em juízo por intermédio
dos seus representantes. Se não acontecer, verifica-se a falta de capacidade judiciária e
há então uma irregularidade processual.
 Tendo sido decretada a administração de bens, a representação só é necessária nas ações
relativas aos bens cuja administração foi decretada.
 Importa relevar que hoje em dia o regime do acompanhamento é muito mais flexível, é
possível, portanto, adaptar o regime ao grau da incapacidade do maior. Portanto o
âmbito da incapacidade e da necessidade de representação resultará sempre da sentença,
a sentença determina o conteúdo e a extensão da limitação.
 Quanto aos maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação importa
tomar em consideração as hipóteses de acompanhamento do artigo 145º/2, d) CC.
Nestes casos o maior deverá intervir pessoalmente na ação. Todavia, quando da ação
possa resultar um efeito jurídico que o maior acompanhado apenas pudesse produzir
mediante autorização do acompanhante este tem de intervir na ação orientando o maior
e deverá ser citado na ação – Art.19º – mas se houver divergência de vontades prevalece
a vontade do acompanhado.
 Quanto ao menor, ele é representado, em princípio, pelos pais ou tutor – 124º e
1921º/1CC & 16º/2 e 3CPC.
 Se o menor tiver um administrador de bens é esse mesmo administrador que deve
representar o menor em todas as ações que digam respeito aos bens.
 Se os pais do menor estiverem em desacordo relativamente à ação rege o regime do
“desempate” – 18ºCPC.
 Para terminar – quando um menor ou maior acompanhado é sujeito a representação
deve ser citada a pessoa do seu representante legal, e não o próprio menor ou maior
acompanhado – Art.223º/1CPC.

E quando as ações são propostas por incapazes ou contra incapaz?

Trata-se de uma irregularidade processual e cabe ao juiz e às partes sanar a falta deste
pressuposto para que a ação possa prosseguir.

Em princípio a questão será identificada em sede de despacho pré-saneador –


Art.590ºCPC ou em audiência prévia. Mas o juiz também pode levantar a questão a
qualquer momento – Art.28º/1CPC. O juiz manda então oficiosamente, ou a requerimento da
parte, manda citar o representante legal – Art.27º/1 e 28ºCPC. Este, em bom rigor, até pode
intervir espontaneamente na ação. Mas, no caso de ser citado deve ser-lhe concedido um prazo
sobre os atos praticados pelo incapaz. E temos neste caso duas hipóteses:

 Se o representante ratificar os atos, o processo segue como se o vicio não se tivesse


verificado – Art.27º/2;
 Se os atos não forem ratificados é anulado todo o processado desde que a falta de
capacidade se verificou. Neste caso, ao representante é concedido prazo para renovar os
atos. Ex.: Imagine-se que o juiz se apercebe da falta de capacidade do réu depois da fase
dos articulados, e que o réu tinha contestado sendo incapaz. Nesse caso, depois de citar
o representante e de lhe ser dado prazo para ratificar, se o representante não quiser
ratificar passam a contar novamente 30 dias para que este conteste. Ou seja, será
apresentada nova contestação e o processo segue a partir daí. – Art.27º/2CPC.
Não havendo ratificação nem renovação dos atos praticados deverá entender-se que a
falta de capacidade judiciária não foi suprida.
 Nota: Parece duvidoso que a possibilidade dos novos 30 dias para renovar os atos seja
aplicável à petição inicial, pois não há nenhum período para a sua apresentação. Mas,
eventualmente, o Art.27º/4 deita alguma luz em relação a este caso, e parece confirmar
que a hipótese de renovação não se aplicará à petição inicial, ou seja, quando o autor é
incapaz desde a petição inicial.

Então e se a incapacidade não for, de todo, sanada? A incapacidade constitui então uma
exceção dilatória – Art.577º c) CPC. Importa, ainda assim, distinguir duas hipóteses:

 Se a incapacidade afetar o autor, fica sem efeito todo o processado – Art.27º/2CPC – e o


réu é absolvido da instância – Art.577º/c) e 278º/1 e) CPC.
 Se a incapacidade afetar o réu, a consequência não pode ser esta. O réu não pode ser
absolvido da instância porque, dessa forma, os incapazes nunca seriam julgados,
bastando que o representante nunca ratificasse ou renovasse os atos do incapaz ou que
nunca se apresentasse espontaneamente no processo. Portanto, não havendo ratificação
ou renovação, os atos praticados pelo incapaz não produzem efeito, mas a instância não
é extinta. Opera nestes casos o regime da sub-representação previsto no
Art.21ºCPC – incapaz será representado pelo ministério público.
 Importa referir que há casos em que a falta de capacidade do reu poderá não levar à sub-
representação e poderá até não impedir a decisão de mérito, pois, segundo o Art.278º/3,
se estiverem presentes todos os elementos para conhecer o mérito da causa e a exceção
dilatória tutele o interesse processual da parte que está afetada pela parte que não
preenche todos os pressupostos, poderá o julgador tomar uma decisão de mérito desde
que essa decisão seja integralmente favorável a essa parte.

Capacidade judiciária das pessoas coletivas:

Podemos ter partes que não são pessoas.

Como se resolve o problema de saber o que acontece a uma decisão proferida a favor ou contra
quem tem personalidade judiciária – é parte, mas não tem personalidade jurídica?

Dir-se-á que os efeitos dessa mesma decisão só se poderão produzir em quem tem personalidade
jurídica. Será então difícil sustentar que a decisão possa, do ponto de vista dos seus efeitos,
reproduzir-se em quem não é visto como parte (material ou formalmente). Nesse aspeto, a
decisão é proferida a favor ou contra quem está como parte, mas os efeitos dessa decisão
projetam-se na esfera jurídica de quem pode ou não ser considerado pessoa.

Art.25ºCPC – Contrário ao caso do estado – este é representado pelo Ministério Público e é um


caso de representação legal (Art.24º) – quanto às pc e as sociedades a questão dependerá de
saber quem vai suprir a capacidade judiciária e irá exercer a representação. O CPC diz que
temos de olhar para a lei. P. ex.: Em relação à representação orgânica temos de olhar para o que
diz o CC (Art.163º) e o CSC.

Nota: Por vezes, para efeitos de representação, é necessária autorização ou deliberação nesse
sentido. Ex.: Administrador de um condomínio está a representá-lo numa ação, porém, não tem
os poderes que lhe deveriam ter sido conferidos pela assembleia de condóminos nos termos do
1437º/3CC.  Há um determinado tempo para esta incapacidade ser sanada.

25.11.2020

Legitimidade

Quando estudámos o conceito de parte chegámos à seguinte conclusão: o conceito de parte que
consegue explicar todas as configurações da instância, é um conceito estritamente formal: nós
dizemos que é parte quem demanda em nome próprio e é parte aquele que é demandado em
nome próprio – o que significa que este conceito, na sua evolução, não permite estabelecer
nenhuma relação entre a parte e o objeto do processo (aquilo que se discute).

A pergunta que agora se coloca é: haverá algum pressuposto processual que possa assegurar
uma ligação entre as partes e aquilo que se discute num processo? Porque é que esta é uma
pergunta útil? O processo tem uma finalidade última, que é sabermos que o autor tem razão –
significa que nós alocamos ao processo uma qualquer finalidade, qualquer utilidade – o
processo terá utilidade se aquilo que nele se decide tiver impacto direto nas esferas jurídicas
daqueles cujas situações jurídicas estão em questão. Estamos sempre a olhar para a utilidade da
decisão de mérito. Devemos requerer que aqueles que são constituídos como partes, sejam os
legítimos contraditores de um concreto objeto processual.

Assim, o pressuposto processual, a existir, que está bem colocado para resolver este
problema, que assegurará a ligação entre a parte e aquele que deve ser a parte, é a
Legitimidade.

Quando chegamos à instância do Processo, temos sempre de integrar na nossa cabeça um


software diferente daquele que integramos quando resolvemos um problema de direito
substantivo. Qual é a grande diferença entre resolver um problema de direito substantivo
ou de direito processual? Nós já sabemos que no processo e na pendência de um processo as
coisas não são porque são afirmadas, as coisas só passam a ser, se afirmadas e desde que
decididas com trânsito em julgado, tal como afirmadas – até haver uma decisão com trânsito
em julgado, nós nunca sabemos se aquilo que se afirma num processo, corresponde ou não
corresponde à realidade; e, correspondendo à realidade, tem as consequências extraídas que
dessa realidade se pretendem extrair com o pedido que se formula.

Logo, temos de juntar ao pressuposto da legitimidade ainda outra coisa, que é a vigência no
processo que nos interessa de um princípio dispositivo. Portanto, até haver decisão em trânsito
em julgado, as coisas são estritamente afirmadas, quer no plano de facto, quer no plano de
direito - exemplo:

- A partir das ações de condenação: A demanda B, em nome próprio; A pede


condenação de B a cumprir uma certa obrigação. Como é que isto se descreve de forma
tecnicamente correta? (ligar o software) A afirma ser titular de uma concreta situação jurídica
+ A afirma ser titular de uma situação jurídica concreta e que dela resulta uma faculdade de
exigibilidade contra o réu, o B; assim, A requer/postula a condenação de B – mas como é
evidente, nós só sabemos se o A é titular da situação jurídica que se arroga e que B é parte
passiva nessa relação a partir do momento em que houver uma decisão judicial que diga,
de forma relativamente imutável, que as coisas são como A as afirma. Enquanto assim não
acontecer, nós estamos num contexto de insegurança e incerteza.

Quando a ação é instaurada, não sabemos nem podemos saber se as situações jurídicas
alegadas pelo autor e os factos em que ele as fundamenta, efetivamente se verificaram ou
não, pois ainda não foi feita prova, então nós não sabemos se as tais situações jurídicas, que
são uma consequência dos factos alegados, efetivamente existem ou não.

Toda a legitimidade processual tem de partir de uma hipótese e não da certeza. O processo
existe precisamente para remover a incerteza em torno da hipótese que é colocada pelo autor.
Portanto, princípio do dispositivo, postulação e finalidades do próprio processo – o pressuposto
da legitimidade vai cruzar tudo isto e vai supor tudo isto.

A haver uma qualquer ligação entre aquilo que se discute, quem discute e quem deve discutir
aquilo que se discute, essa ligação nunca pode levar à confusão entre a legitimidade
substantiva, aquela que resulta de demonstrados os factos e a verificação dos tipos de
direito material, e a legitimidade processual, que há de ser um pressuposto que parte de uma
hipótese e que dentro da autossuficiência do processo permite a discussão dessa hipótese, para
no final acertarmos, sabermos se essa hipótese se verifica ou não se verifica, através da decisão
transitada em julgado.

Regime da Legitimidade Singular – é o caso que a professora apresentou – A instaura uma


ação de condenação contra B  Art.30º CPC – regra aparentemente simples, mas cheia de
ratoeiras:

Art.30º/1 – “interesse direto” não é uma evidência, não consegues daqui retirar um conteúdo
percetivo e, por isso, o nr 2 vem explicar o modo como se concretiza a palavra “direto”:

Art.30º/2 – o interesse em demandar exprime-se pela utilidade que a procedência da ação pode
ter; o interesse em contradizer exprime-se pelo prejuízo que dessa procedência advém.

 Há uma reação de concretização entre o nr 1 e o nr 2, o nr 2 parece não ter autonomia


face ao nr 1.

Art.30º/3 – “são titulares do interesse relevante para efeitos da legitimidade…” – ainda sendo
complexa a tarefa de concretização do que é o interesse direto em demandar e em contradizer, o
nr 3 vem esclarecer que são titulares do interesse relevante (leia-se: do interesse direto,
porque é desse que resulta, nos termos do nr 1, a legitimidade) os sujeitos da relação
controvertida.

A legitimidade não se afere pela relação material controvertida (Prof. PCS diria: situação
material controvertida) tal como ela efetivamente existe, mas sim “tal como é configurada
pelo autor”. Isto porque se não tivéssemos este acrescento final e disséssemos apenas que era a
situação material controvertida, iriamos confundir a legitimidade processual com a legitimidade
substantiva, pois a situação material controvertida é precisamente aquilo que se está a discutir, a
tentar acertar. E só no fim do processo nós podemos saber se a parte é efetivamente legítima,
porque só perante a decisão com trânsito em julgado é que nos sabemos como é, efetivamente, a
relação material controvertida.

Os pressupostos processuais têm de ser preenchidos pelo autor e têm de estar preenchidos
desde o momento da propositura da ação. O que significa que a legitimidade processual, o
pressuposto processual relativo às partes, tem de estar verificada no momento da propositura da
ação.

Não podemos esperar pelo fim da ação para saber se a parte é legítima ou não, porquê?
Chegávamos ao final da ação e dizíamos que, afinal, o autor não é credor do réu, não tem o
direito, por exemplo, a ser indemnizado, consequentemente, o autor não é parte legítima, então a
consequência seria a absolvição do réu da instância – e como já sabemos, o processo não existe
para que se chegue a conclusões formais, mas para que se resolva de forma exauriente um
conflito, com uma decisão de mérito justa e celeremente proferida. Se juntarmos tudo, vemos
que não seria possível, no nosso sistema, concebermos a legitimidade processual em termos tais
que ela implicasse o acertamento final de sim ou não, se se verifica a hipótese que o autor
coloca ou não se verifica, isso é uma questão de mérito, uma questão de legitimidade
substantiva, não é uma questão de legitimidade processual e a parte final do nr 3 do
Art.30º diz-nos precisamente isto.

Há, logo aqui, uma relação entre a parte e o objeto, mas é uma relação, também, relativamente
formalizada. Não temos uma relação substancial, temos uma relação que se estabelece pela
hipótese apresentada pelo autor, não com a realidade que efetivamente se acerta na decisão
final.

O Art.30º tem várias ratoeiras, uma delas já vimos, a outra está numa espécie de uma construção
piramidal: A regra central está no nr 1 e, depois, as demais regras, limitam-se a verificar o que
está neste nr 1. Só que nós conseguimos identificar casos em que a lei atribui legitimidade ainda
que a parte não tenha um interesse direto em demandar, nem um interesse direto em contradizer
– há situações que escapam à aparente construção piramidal, essas situações estão na 1ªparte do
nr 3 do Art.30º: “na falta de indicação da lei em contrário” – mas aquilo que o nr 3 exceciona é
o modo como se determina o interesse relevante para a determinação de legitimidade, não
escapa, aparentemente, esta parte da regra, aos nrs 1 e 2 da própria regra. Aparentemente, as
situações em que a lei indica coisa contrária àquela que está na última concretização, seriam
situações em que apesar de não haver coincidência entre os sujeitos da hipótese colocada pelo
autor, ainda assim havia legitimidade? A falta de indicação da lei em contrária exceciona-se, sai
do núcleo do que vem a seguir, mas não escapa às previsões do nr 1 e 2 do Art.30.º O que
significa que encontramos aqui uma ratoeira: nós temos casos em que a legitimidade se
determina por imposição da lei a partir de um critério de descoincidência, em que não é
necessário verificarmos se há interesse em demandar ou interesse em contradizer.

Vamos ver 2 casos:

1. Caso em que a legitimidade escapa à segunda parte, mas em que nós conseguimos
identificar um interesse em quem demanda.
2. Caso em que a determinação da legitimidade escapa a partir da primeira vírgula, mas
em que já nem conseguimos identificar um interesse.
 Uma delas já vimos aqui, relativamente ao contrato a favor de terceiro (Art.443º CC) –
temos aqui um caso estranho de atribuição direta feita a terceiro que até tem uma
particularidade, essa atribuição não depende de aceitação e é exatamente a existência do
interesse sério do promissário que pode explicar esta estrutura – não apenas aqui um fecho de
vinculações, há vários. O beneficiário da prestação é o terceiro e era o promissário que tinha o
interesse sério em que o promitente cumprisse perante o terceiro; e como era a faculdade de
exigibilidade? Relativamente à prestação, quem pode exigir é o terceiro, mas o credor é o
promissário.

Agora juntamos isto ao 30º/3, “na falta de indicação em contrário” – tendo por referência o
direito à prestação, quem é que pode exigir o cumprimento dessa prestação? Apenas o terceiro –
o direito material dá, aqui, uma faculdade de exigibilidade a alguém que não é o credor.
Desviando-se das regras de legitimidade que encontramos no Art.762º e ss. CC. Esta é uma
regra que escapa às regras gerais de legitimidade. Quando a lei diz “o promissário pode exigir”,
a lei está a dar-lhe uma faculdade de exigibilidade própria, mas relativamente ao direito de
crédito do terceiro – há um caso de disjunção entre faculdade de exigibilidade e titular da
situação material controvertida  aqui estamos perante um caso de legitimidade indireta, em
que alguém exige em nome próprio, porque tem conferida por lei uma faculdade de
exigibilidade própria, mas por direito alheio. Nós aqui, ainda conseguimos encontrar um
interesse do promissário quando a lei lhe atribui esta faculdade de exigibilidade, o interesse
sério na promessa. O promissário retira uma vantagem do cumprimento realizado diretamente
ao terceiro, e tem interesse em demandar, conseguimos ainda ver um interesse neste legitimário
indireto, que como está a estabelecer em nome próprio direito alheio, nós qualificamos como
sendo um substituto processual. Assim, aquele que exerce, em nome próprio, direito alheio,
é classificado como substituto processual. É uma parte principal, mas que litiga numa
situação de peculiar legitimidade, tem legitimidade indireta (ainda identificamos um
interesse).

 Um dos casos em que não conseguimos identificar qualquer interesse é o caso do


administrador de insolvência, ele tem de ser remunerado na sua qualidade, mas esse interesse
não é um interesse relevante para a determinação do Art.30º - quando o administrador de
insolvência atua, atua como parte e como parte que é, tem de preencher o pressuposto da
legitimidade – a legitimidade do administrador de insolvência escapa à pirâmide do Art.30º.

Mas há outro caso, que está no Art.263º (Título II – Da Instância) – estamos confrontados com
um caso peculiar em que se admite uma modificação das partes na ação, é, no fundo, uma
alteração subjetiva da instância. Temos aqui uma brecha no princípio da estabilidade – citado o
réu, a instância mantém-se a mesma quanto às partes e objeto e só são permitidas as exceções
previstas na lei – só serão permitidas as alterações, tanto objetivas como subjetivas, que não vão
prejudicar a utilidade de toda a sequência que está para trás. Todos os regimes pressupõem que
seja possível continuar a dar utilidade aos atos de sequência que já foram praticados, portanto,
agora, vou admitir algumas alterações, quer objetivas quer subjetivas, mas elas têm de ter uma
racionalidade, uma justificação, sob pena de termos de inutilizar tudo.

Neste contexto, tentaremos, então, perceber o 263º - ele provoca, efetivamente, uma alteração
subjetiva da instância? Aqui há outra enorme ratoeira: há casos em que provoca, tipicamente
nada se altera, o que se muda não são as partes na ação, não há alteração subjetiva da instância,
o que se altera é a configuração da legitimidade das partes que originariamente a tinham
concretizada de um outro modo. Assim, o Art.263º, a propósito da alteração subjetiva da
instância, alteração de autor ou de réu, vamos verificar que, tipicamente, essa alteração não
ocorre.

Art.263º/1 – “o transmitente continua a ter legitimidade para a causa” – quem é que é parte na
ação, apesar da transmissão? O transmitente, não houve nenhuma alteração subjetiva da
instância. Agora, a lei diz mais “continua a ter legitimidade para a causa” – isto quer dizer que
houve uma quebra na legitimidade tal como ela se configurava antes da transmissão – como é
que ela se configurava? Temos de nos lembrar do Art.30º/3, depois da primeira vírgula, perante
a hipótese colocada pelo autor, as partes da situação material controvertida eram autor e
réu, e depois da transmissão, as partes na ação, de acordo com o Art.263º/1, continuam a
ser o autor e réu originários, só que se houve uma transmissão, a legitimidade do autor ou
do réu, dependendo do polo em que ocorreu a transmissão, já não pode mais ser uma
legitimidade por coincidência, porque se tornou ostensivo no processo, porque se perdeu o
contacto com a situação material controvertida, tal como ela era alegada pelo autor.

E quais as consequências se a transmissão for feita por aquele que não tinha legitimidade
substantiva para o fazer? Isso não é um problema de legitimidade processual, essa a lei diz que
continua assegurada – o que é que isto tem que ver com a afirmação audaz da professora, de
onde partimos que era: “há uma ratoeira metodológica no Art.30º/3, antes da primeira virgula,
porque nem sempre há um interesse direto e pode ser excluída a responsabilidade por vícios
redibitórios” - ? Se, porventura, o transmitente fosse necessariamente responsável perante
o transmissário, nós ainda conseguíamos encontrar o interesse dele em permanecer na
ação, mas pode haver renúncia à responsabilidade por vícios redibitórios, o que significa
que o transmitente continua na ação, vinculado por regra, agora de direito processual
(Art.263º), podendo não ter nenhum interesse direto em demandar nem nenhum interesse
direto em contradizer, pois a procedência ou improcedência podem ser, para ele, totalmente
inconsequentes. É preciso muito cuidado na aproximação ao Art.30º.

Particularidades das legitimidades indiretas:

É jurisprudência comum constante de tribunais internacionais dizerem que quando a parte


instaura ação para apenas esclarecer uma dúvida, ela abusa do direito de ação. É uma situação
que merece censura. A ação tem de ter um efeito útil, que há de ser chegar ao fim com uma
decisão de mérito que provoca os seus efeitos nas esferas daqueles onde estão as situações
jurídicas reguladas. Isto implica uma alteração, nos limites subjetivos do caso julgado, sempre
que há casos de legitimidade indireta. A parte que está a litigar diz que não é a titular da
situação material controvertida, a situação é ostensiva (é tipicamente uma ratoeira de exame),
então pergunta-se o que é que ela está ali a fazer - quando a lei permite que aquele que não é
titular discuta uma coisa que é de terceiro, há um efeito que integra sempre este regime, o da
vinculação do terceiro ao caso julgado formado sobre a decisão obtida no confronto entre o
substituto processual e a contraparte. Integra o próprio regime da substituição, legitimidades
indiretas, que haja vinculação ao caso julgado daquele que, não tendo sido parte
processual, é parte material. Há vinculação daquele em cuja esfera jurídica se podem,
efetivamente, inscrever os efeitos da decisão de mérito – Art.263º/3.

Doutrina mais antiga afirma: faz parte da noção de substituição a vinculação do substituído ao
caso julgado formado no confronto com o substituto.
O que acontece quando falta a legitimidade singular? Exceção dilatória nominada (Art.577º,
e)), cuja consequência é a Absolvição da Instância (Art.278º/1, d)), não pode ser a remessa do
processo para outro tribunal, pois isso não resolve o problema da legitimidade. Esta exceção
dilatória é insuprível, pois o suprimento das exceções dilatórias visa o aproveitamento dos atos
processuais praticados e não podemos fazer uma troca de sujeitos na ação e vincular aquele que
entra na ação àquilo que já estava feito por aquele que lá estava antes. Não teria nenhum efeito
útil haver aqui uma sanação, logo esta exceção dilatória é insuprível  isto é tudo aquilo que
não acontece quando a legitimidade processual é uma legitimidade plural.

A legitimidade processual é uma emanação de uma legitimidade substantiva, este pressuposto


não é criativo. Eu coloco uma hipótese em face daquela que é a legitimidade substantiva.

Quando é que nós podemos perguntar se há ou não pluralidade de partes, mais


corretamente pluralidade de compartes num processo? Quando a própria situação
material tem uma pluralidade de compartes – exemplo:

- Suponhamos que aparece uma espécie de peixes, bichos e plantas, destruídos numa
zona de um certo rio, perto desse rio há varias fabricas que fazem descargas poluentes, mas não
sabemos se a descarga poluente foi feita por uma ou se a descarga poluente que matou aquilo
tudo pressupôs todos ao mesmo tempo a poluir, ou se a descarga poluente resulta de dois ou três
dos dez que fazem poluição (questão de causalidade cumulativa).

Qual o problema que se coloca aqui no Processo? Vamos imaginar que está em causa
exigir uma indemnização – exige-se a quem?

◇ Se for um caso de causalidade única, dizemos que é à Fábrica x, que há


provas e perícias que a natureza dos produtos poluentes que provocaram a
morte da fauna e flora é aquela – vamos ao direito material da responsabilidade
e dizemos: “perante a hipótese de o juiz vir a demonstrar que, eu só tenho de
instaurar ação contra àquela”.
◇ No entanto, se a perícia apontar no sentido de haver causalidades
cumulativas, o direito da responsabilidade comporta-se, aqui, de uma forma
distinta, na identificação dos sujeitos do dever de indemnizar – a pergunta da
legitimidade processual vai ser esta: “como é que configuramos, no caso
concreto, o réu na ação, de forma singular ou plural, atendendo à natureza da
causalidade que estamos concretamente a indicar?”.

Assim, a legitimidade processual plural é sempre uma manifestação da configuração da


situação material controvertida. Temos de olhar para a situação controvertida, tal como ela
está configurada e perguntar: “perante isto, temos de ter vários, posso ter alguns, ou basta que
tenha um?”.

Há uma consequência que resulta sempre, que é transversal a todas as formas de partes
plurais ou de compartes em processo, que é a vinculação ao caso julgado: se instaurar a
ação contra 1, tenho 1 vinculado, se instaurar ação contra 3, tenho 3 vinculados, sempre assim –
é preciso ter sempre atenção ao facto de haver sempre consequências imediatas na delimitação
subjetiva do caso julgado. Nos termos do 519º/1 CPC, as partes delimitam o caso julgado e não
vamos vincular outros senão as partes, àquele caso julgado. Porque é que isto pode ser
relevante? Porque se tenho 1 vinculado, assumo o risco da não vinculação dos demais,
nomeadamente, corro o risco insolvencial de não ter vinculado os demais, pois agora só
podemos atacar/atingir aqueles que ficaram vinculados.

Várias modalidades de compartes processuais, a partir das regras de direito substantivo:

 Arts.518º e 519º CC – obrigações solidárias. O credor pode exigir a integralidade de


todos ou cada um, não podendo cada um opor ao credor qualquer benefício de divisão interna
que exista entre os devedores solidários, isso é um problema não oponível ao credor. Isto
significa que o credor, em termos materiais, pode exigir a integralidade da prestação a qualquer
um. Podendo fazê-lo em termos materiais, então em termos processuais também pode exigir a
qualquer um a integralidade da prestação, sem que aquele a que exige possa opor, material ou
processualmente, qualquer benefício de divisão. Neste caso, o credor de devedores solidários
tem uma opção de configuração da parte processual passiva muito livre, porque não há qualquer
impacto na extensão da condenação por ele ter constituído ou não um litisconsórcio – quer tenha
1, quer tenha 2, quer tenha todos, ele consegue sempre a condenação na integralidade, mas há
uma coisa que ele não consegue: se ele puser 2 ou todos, então ele tem 2 ou todos vinculados ao
caso julgado, mas se ele vincular só 1, então ele só tem esse vinculado ao caso julgado.
Significa isto, que se esse 1 vinculado ao caso julgado, falindo, pode justificar a ruína no credor,
pois não pode pegar na sentença e dizer “bem, este faliu, então agora vou pedir aos outros”, pois
não estão vinculados – Art.522º e 526º CC. A legitimidade, aqui, é assegurada por qualquer um
dos devedores, o que significa que o credor tem total liberdade, sem impacto na legitimidade, de
configurar ou não uma contraparte plural – este litisconsórcio, esta legitimidade plural é
voluntária e mais, ela é voluntária e porque não há qualquer impacto da constituição da
pluralidade na extensão da condenação, é um litisconsórcio simples, pois tem um efeito de
todo o litisconsórcio, limita-se a conseguir abranger pelo caso julgado, 1, 2 ou todos, tem o
efeito simples que resulta sempre da constituição de uma comparte – é isso que se quer dizer
quando se diz que o litisconsórcio é voluntário e simples.
 Imaginemos, agora, que a dívida não é solidária, mas sim uma dívida parciária ou
conjunta: Art.534º CC – cada um dos devedores só é “responsável” por uma quota parte, quer
isto dizer que há um beneficio de divisão que é oponível ao credor. Ora, se em termos
substantivos, o credor só pode exigir uma quota a alguém, em termos processuais, ele só pode
conseguir uma condenação sub-rogatória dessa mesma exigibilidade pela quota pela qual aquela
pessoa é concretamente responsável. Isto significa duas coisas: se o credor demandar pela parte
pela qual esse devedor é responsável, então há legitimidade processual; mas também há
legitimidade processual se ele o demandar por tudo, só que ele não pode ser condenado em tudo
porque não é substantivamente responsável por tudo, o que significa que a configuração de uma
comparte plural é voluntária – o credor consegue o efeito útil ainda, tendo lá apenas um
devedor, depende da liberdade do credor fazer como ele quer  este litisconsórcio já não é
simples, é conveniente – para que o credor consiga uma condenação na extensão de toda a
obrigação, ele tem de demandar todos os codevedores que estão em regime de
parciariedade ou conjunção – cada um deles assegura legitimidade, mas cada um deles
não é suficiente para a integralidade da exigibilidade da prestação.
 Se a obrigação for indivisível, nos termos do Art.535º CC, ela só pode ser exigida de
todos, em termos materiais, logo, em termos processuais ela também só poderá ser exigida de
todos. Nesta circunstância o credor não tem liberdade na configuração da contraparte, pois
a legitimidade só está assegura se ele tiver constituído como compartes todos os devedores
– assim sendo, este litisconsórcio não é voluntário, mas sim necessário.

Partindo do direito material, espelha-se no Art.32º e 33º CPC – litisconsórcio voluntário,


conveniente e simples; litisconsórcio necessário.

O Art.33º tem uma interpretação extremamente complexa. Regula a matéria do litisconsórcio


necessário e diz-nos que há litisconsórcio necessário (para além de quando a lei o impõe -
obrigações indivisíveis), quando a natureza das coisas imponha a constituição de um
litisconsórcio.

Onde está o ponto de fricção deste 33º/3? Há uma clivagem na nossa doutrina e depois com
alguma repercussão, mas pouca, na jurisprudência na interpretação do Art.33º/3 quando diz: “A
decisão produz o efeito útil normal sempre que, não vinculando os restantes interessados, possa
regular definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao pedido formulado”.
Divergência entre MTS e Regente – exemplo:

- Compra e Venda: A compra uma coisa a B e C. A requer a anulação do contrato


relativamente a B, deixando C de fora. Pergunta-se: está assegurada a legitimidade?

O prof. MTS responde que sim, está, porque nos termos do Art.33º/3, entre as partes na ação a
questão da validade ou invalidade do contrato fica definitivamente resolvida. Mas
questionamos: então o contrato pode ser inválido entre A e B e ser válido entre A e C? O prof.
MTS diz que pode, constitui-se, aqui, uma compropriedade forçada.

A construção do prof. MTS tem efetivamente apoio na lei – o efeito útil normal é isto, é
regular definitivamente, entre as partes na ação, a situação jurídica sobre a qual recaiu a decisão.

Só que a prof. Regente crê que esta interpretação da regra não contempla as razões
últimas do litisconsórcio necessário, que tem a ver com a coerência na regulação, nas
situações jurídicas que não podem ser, logicamente, incompatíveis.

Assim, questionando se o contrato pode ser simultaneamente válido e inválido, o prof. MTS
responde que esse não é um problema do litisconsórcio, pois não lhe compete assegurar
coerência entre decisões.

Já a prof. Regente defende que esta forma de ler a regra não é uma forma compatível com o
modo como se define o caso julgado e as razões do caso julgado. Defende que as regras do
litisconsórcio necessário visam, também, assegurar a coerência entre decisões e não
colocar os tribunais na possibilidade de se contradizer. Assim, a prof. faz uma interpretação
amplexiva do Art.33º/3 e diz que, para além de regular definitivamente, tem de regular
exaurientemente as situações jurídicas, de modo a que não possam criar-se posteriormente
decisões incompatíveis com as previamente reguladas.

Esta regra permite-nos, depois, chegar a outro ponto muito interessante: tem que ver com um
regime que, ultimamente, tem preocupado muita gente, nomeadamente os arbitralistas. Há uma
outra distinção que integra a Teoria Geral do Processo, que é a que distingue os litisconsórcios,
legitimidade, de uma outra coisa que se convencionou chamar de litisconsórcios unitários –
exemplo:
- Art.59º CSC (ação de anulação de uma deliberação social) – não há necessidade de
pluralidade para assegurar a legitimidade, nunca podia resultar deste artigo um litisconsórcio
necessário.

Agora imaginemos que em vez de um sócio, está um sócio, o órgão de fiscalização e


mais outro sócio – a deliberação pode ser válida para uns e para outros ser inválida? Não, este
litisconsórcio, sendo um litisconsórcio voluntário, é um litisconsórcio unitário – o conteúdo
da decisão tem de ser igual para todas as compartes processuais constituídas. Não é
possível haver conteúdos diferenciados para diferentes compartes processuais.

A prof. Regente defende que, quando falamos desta figura, do litisconsórcio unitário, não
estamos a falar de verdadeiro litisconsórcio, no sentido de legitimação. O crivo da
legitimação já foi passado, pois é o Art.59º CSC que está a dizer que pode ser um, podem ser
todos, podem uns entrar e outros sair, como quiserem. Convencionou-se tratar os casos em que
o conteúdo da decisão tem de ser igual para todos como litisconsórcio necessário, mas os
problemas de “preterição” deste litisconsórcio unitário não se resolvem com regras de
legitimidade – são outras as regras que têm de intervir para resolver os problemas de
contradição do conteúdo da decisão quando há vários compartes na ação.

A ação que anula uma deliberação social tem de ter eficácia para todos os que estão
eventualmente vinculados por aquela deliberação social, para todos os sócios. Não tem nada a
ver com regras de legitimidade de litisconsórcio.

O facto de o caso julgado, no litisconsórcio unitário, não acarreta nenhum problema de


constitucionalidade, porque, como já vimos, há uma coisa chamada intervenções de terceiros:
o que significa que quem quer intervir numa ação, tendo uma legitimidade igual à do autor
ou do réu, pode intervir como parte principal e pode ser provocado a intervir. Portanto, o
grande argumento de que é preciso cuidado com a regra do Art.61º pois pode gerar grande
inconstitucionalidades, se aquilo não for litisconsórcio necessário, não faz sentido. Não faz
sentido pois os problemas do Art.61º superam-se através das intervenções de terceiros. Aqueles
que querem exercer contraditório podem constituir-se como compartes, porque têm interesses
simétricos.

O que se faz quando se pretere um litisconsórcio? Só há preterição de litisconsórcio quando o


litisconsórcio é necessário, porque só aí é que ela é uma condição da admissibilidade da ação.
Quando há preterição de litisconsórcio necessário  exceção dilatória, mas suprível – porquê
suprível? Porque basta que entre aquele que falta para que tudo se consiga aproveitar, não
tem de se deitar fora tudo o que já foi feito. O que significa que se admite a sanação da
preterição de litisconsórcio necessário através das intervenções dos terceiros, provocadas ou
espontâneas.

O aproveitamento do processo é algo de tão relevante que se admite, em caso de preterição


de litisconsórcio necessário, que a sanação ocorra e até ao trânsito em julgado da decisão,
inclusivamente no Supremo Tribunal de Justiça – Art.261º CPC (princípio do
aproveitamento máximo do ato jurídico).
2.12.2020

Interesse Processual

1. Matéria das ações para tutela de interesses difusos: artigo 31.º do Código de
Processo Civil “CPC”;

1.1 Será necessário interligar o regime previsto no artigo 31.º do CPC com disposto no
artigo 52.º da Constituição da República Portuguesa “CRP” (direito de petição e
direito de ação popular), principalmente com o disposto no n.º 3 do artigo 52.º, uma
vez que este faz referência à legitimidade para intentar uma ação popular quando
menciona que é conferido a todos o direito de ação popular quando estão em causa
interesses difusos:

“É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos


interesses em causa, o direito de ação popular nos casos e termos previstos na lei,
incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente
indemnização, nomeadamente para:
a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infrações
contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida e a
preservação do ambiente e do património cultural;
b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias
locais”

1.2 O regime da legitimidade processual tendo por base interesses difusos tem a sua
origem histórica nas ações dos contribuintes contra o Fisco e corresponde à exceção
inscrita na primeira parte do artigo 30/3.º do CPC na parte em que refere: “ Na falta
de indicação da lei em contrário”.

1.3 Será ainda fundamental interligar a legitimidade para as ações de interesses difusos
com o disposto no artigo 15.º e artigo 19.º da Lei n.º 83/95 de 31 de agosto (Direito
de Participação Procedimental e de Ação Popular).

1.4 A Senhora Professora chamou à atenção para o facto do artigo 15.º da Lei da Ação
Popular não ser integralmente compatível, no que diz respeito ao aferimento da
legitimidade, com o disposto no n.º 3 do artigo 52.º da CRP, uma vez que o artigo
15.º da Lei da Ação Popular refere expressamente que: “Recebida petição de ação
popular, serão citados os titulares dos interesses em causa na ação de que se trate,
e não intervenientes nela, para o efeito de, no prazo fixado pelo juiz, passarem a
intervir no processo a título principal, querendo, aceitando-o na fase em que se
encontrar, e para declararem nos autos se aceitam ou não ser representados pelo
autor ou se, pelo contrário, se excluem dessa representação, nomeadamente para o
efeito de lhes não serem aplicáveis as decisões proferidas, sob pena de a sua
passividade valer como aceitação, sem prejuízo do disposto no n.º 4.
Fazendo menção expressa a titulares dos interesses em causa, mas o n.º 3 do artigo
52.º da CRP refere que se conferem a todos o direito de ação popular quando se está
perante interesses difusos;

1.5 Definição de interesses difusos: são interesses de todos, sendo que são insuscetíveis
de apropriação privada;

1.6 O regime da legitimidade processual dos titulares de interesses difusos é uma


matéria que tem atual relevância e que se expressa também no Direito dos Valores
Mobiliários (matéria dos interesses difusos e interesses de classes);

2. Interesse em Agir como Pressuposto Processual

2.1 A matéria do pressuposto processual inominado do interesse em agir está, segundo


da Professora Paula Costa e Silva, intrinsecamente ligado à responsabilidade
processual simples que se encontra no artigo 535.º do CPC (responsabilidade do
autor pelas custas) e prevê a inversão do pagamento das custas e encargos
processuais, contudo a Professora defende que na verdade e em termos dogmáticos
o que está em causa não é uma responsabilidade propriamente dita porque a
propositura de ações não constitui um ato ilícito, mas sim uma norma que prevê um
critério de imputação de custas e encargos processuais;

2.2 A regra geral que regula a repartição de custas e encargos processuais consta do
artigo 527.º do CPC que prevê que “quem perde, paga tudo” – “o vencido paga ao
vencedor”;

2.3 Porém, no que diz respeito à responsabilidade processual simples, é essencial


abordar o disposto no artigo 535.º do CPC tendo em conta que é este que regula a
inversão das custas, ou seja, mesmo que o Réu perca a ação e seja condenado no
pedido, será o Autor que terá de pagar as custas e os encargos processuais porque
este, apesar de ter razão quanto ao mérito da causa (teve uma decisão favorável):
pe. Ser o autor o credor da obrigação que vincula o devedor réu, não tem interesse
processual e a ação proposta pelo autor não era justificável ao tempo que este a
propôs. Assim a consequência de o Autor intentar ações inúteis que não merecem
tutela jurisdicional no momento em que esta é proposta consubstancia uma exceção
dilatória cuja consequência não é a absolvição do réu da instância, mas sim a
inversão do pagamentos das custas e encargos processuais nos termos do artigo
535.º do CPC;

2.4 Divergência doutrinária entre o Professor MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e Professora


PAULA COSTA E SILVA:
a) O Professor MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA defende que o pressuposto
processual do interesse em agir decorre do artigo 30/2.º do CPC na parte que
refere a utilidade das ações propostas e que a falta do interesse processual gera
uma exceção dilatória inominada que leva à absolvição do réu da instância nos
termos do artigo 278.º, al. e) do CPC;

b) A Professora PAULA COSTA E SILVA defende que a falta de prossuposto


processual não tem sempre as mesmas consequências, sendo que:

i. Regra Geral: a única consequência da falta de interesse processual é a


inversão de custas que consta do artigo 535.º do CPC, ou seja, mesmo
que o Autor tenha uma decisão favorável, é a este que lhe é imputada a
responsabilidade pelas custas.

Argumentos: à luz do sistema processual como um todo esta posição é


possível sustentar à luz do disposto no n.º 3 do artigo 610.º do CPC
(condenações in futurum) porque este refere que: 3 - Nos casos das
alíneas a) e b) do número anterior, o autor é condenado nas custas e a
satisfazer os honorários do advogado do réu, que prevê e à luz do
artigo 557.º do CPC (pedidos de prestações vincendas) o autor
configura o objeto do processo partindo do pressuposto que as
obrigações ainda não são exigíveis (ou seja não existiria interesse
processual) mas se o Autor comprovar que há um grave prejuízo se este
não intentar a ação (alegação de interesse processual) naquele momento
é possível, excecionalmente, configurar ações cujo objeto é a
condenação do réu em prestações que ainda não se venceram (ou seja
não são exigíveis). Assim, neste caso, só é possível o Autor configurar
ações sobre prestações vincendas (art. 557.º do CPC) se este alegar o
seu interesse processual que no caso se materializa na alegação de
grave prejuízo se este não intentar a ação naquele momento;

ii. Contudo se o réu contestar (cf. n.º 1 do artigo 535.º do CPC) a


Professora entende que a previsão do artigo 535.º do CPC não está
preenchida e nesse caso, a consequência de falta de interesse processual
será, como defende o Professor Miguel Teixeira de Sousa, a absolvição
do réu da instância;

3. Última matéria do semestre: Responsabilidade processual agravada – artigo 542.º


do CPC (Responsabilidade no caso de má-fé - Litigância de má-fé):

1 - Tendo litigado de má-fé, a parte é condenada em multa e numa indemnização à


parte contrária, se esta a pedir.
2 - Diz-se litigante de má-fé quem, com dolo ou negligência grave:
a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar;
b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da
causa;
c) Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;
d) Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável,
com o fim de conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade,
entorpecer a ação da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado
da decisão.
3 - Independentemente do valor da causa e da sucumbência, é sempre admitido
recurso, em um grau, da decisão que condene por litigância de má-fé.

3.1 Aproximação deste regime à lógica do direito penal no sentido em que só há


responsabilidade no caso de má-fé nos casos tipificados no n.º 2 do artigo 542.º
do CPC;

3.2 Divergência da Professora Paula Costa e Silva e Professor Menezes Cordeiro


no que diz respeito à natureza do artigo 542.º do CPC (nomeadamente no que
diz respeito ao paralelo com a responsabilidade civil aquiliana que consta do
artigo 483.º do CC);

3.3 Consequência da litigância de Má-fé: obrigação de indemnizar que consta do


artigo 543.º do CPC (Conteúdo da indemnização):
1 - A indemnização pode consistir:
a) No reembolso das despesas a que a má-fé do litigante tenha obrigado a parte
contrária, incluindo os honorários dos mandatários ou técnicos;
b) No reembolso dessas despesas e na satisfação dos restantes prejuízos sofridos
pela parte contrária como consequência direta ou indireta da má-fé.
2 - O juiz opta pela indemnização que julgue mais adequada à conduta do litigante
de má-fé, fixando-a sempre em quantia certa.
3 - Se não houver elementos para se fixar logo na sentença a importância da
indemnização, são ouvidas as partes e fixa-se depois, com prudente arbítrio, o que
parecer razoável, podendo reduzir-se aos justos limites as verbas de despesas e de
honorários apresentadas pela parte.
4 - Os honorários são pagos diretamente ao mandatário, salvo se a parte mostrar que
o seu patrono já está embolsado.

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