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TA CONTATO

ROBERTO PIVA: 20 POEMAS COM BRÓCOLI


(1981)
19 ABRIL, 2019PRIMATA  LEAVE A COMMENT

Roberto Piva (1937-210) é autor da plaquete Ode a Fernando Pessoa (Massao Ohno, 1961) e dos
livros Paranóia (Massao Ohno, 1963), Piazzas (Massao Ohno, 1964), Abra os olhos e diga ah! (Massao
Ohno, 1975), Coxas (Feira de Poesia, 1979), 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno,
1981), Quizumba(Global, 1983) e Ciclones (Nankin, 1997), reunidos em três volumes pela editora
Globo, sendo o último – Estranhos Sinais de Saturno – acompanhado de poemas inéditos. Marcada
pelo experimentalismo, múltiplos diálogos e alta qualidade das imagens poéticas, sua obra é uma das
mais intensas da poesia brasileira contemporânea.

Os poemas a seguir foram selecionados de 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno, 1981), quinto livro
do poeta. Confira as postagems sobre suas outras obras neste endereço.

VI

o cacique tomava chá com seu corpo pintado.


                        o pajé dançava com a casca do 

                                   gambá.

                        você brincava


com meu caralho.
                                   Macunaíma & Alice no país
da
                                                          Cobra Grande.

                                      mesma estrutura narra-ação


&
                                                      barroco elétrico pinçando

                                                         estilhaços de visões.

                                           palmeiras de cobre.

                                                         meu cu como
bandeira
                                            do navio pirata.

                                                a lua começa a


cantar.

VII

mestre Murilo Mendes tua poesia são


os sapatos de abóboras que eu calço

nestes dias de verão.

negócio de bruxas.

o sol caía na marmita do


adolescente da lavanderia.
você veria isto com 
seu olhar silvestre.
um murro bem dado no vitral
que eu mais adoro.

XIV

para o Carlinhos

vou moer teu cérebro. vou retalhar tuas 


coxas imberbes & brancas.
vou dilapidar a riqueza de tua 
adolescência. vou queimar teus 
olhos com ferro em brasa.
vou incinerar teu coração de carne &
de tuas cinzas vou fabricar a 
substância enlouquecida das 
cartas de amor.

XVI

abandonar tudo. conhecer praias. amores novos.


poesia em cascatas floridas com aranhas
azuladas nas samambaias.
todo trabalhador é escravo. toda autoridade
é cômica. fazer da anarquia um
método & modo de vida. estradas.
bocas perfumadas. cervejas tomadas
nos acampamentos. Sonhar Alto.

XX

vocês estão cegos graças ao temor


olhares mortos sugando-me o sangue
não serei vossa sobremesa nesta curta
temporada no inferno
eu quero que seus rostos cantem
eu quero que seus corações explodam em
línguas de fogo
meu silêncio é um galope de búfalos
meu amor cometa nômade de
riso indomável
façam seus orifícios cantarem o hino
à estrela da manhã
torres & cabanas onde foi flechado o
arco-íris
eu abandonei o passado a esperança
a memória o vazio da década de 70
sou um navio lançado ao
alto-mar das futuras
combinações

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