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Atividade avaliativa de Filosofia do Direito

Aluna: Laura Brandão Osório Silva – 120007032


Professor: Marcus Fabiano Gonçalves

1) Discorra sobre os sentimentos dos espectadores que acompanham a ocorrência


da VERGONHA SIMPLES durante o fracasso no desempenho de papéis sociais
específicos (indiferença, crítica, compaixão e escárnio). Tente incluir na sua
resposta os seguintes temas: identidade intersubjetiva, ocupações/trabalho e
autoestima.
Durante a vida o indivíduo é estimulado desde o nascimento a desenvolver
diversas habilidades que podem ser ordenadas, conforme a classificação proposta por
Wright, nas chamadas habilidades corporais (falar, correr), habilidades instrumentais
(cozinhar, construir), habilidades técnicas (cantar, pintar) e por fim nos papéis sociais
vinculadas ao trabalho já na vida adulta. Nas sociedades modernas, o trabalho, segundo
a representação social, é responsável por propiciar, além do ganho financeiro, valores
como a honra e a identidade intersubjetiva do indivíduo, responsável pela autoestima. A
autoestima é construída a partir do esforço para obter destaque e, por conseguinte,
retornos positivos ao se externar publicamente o desenvolvimento da capacidade
ostentada pela pessoa como parte da sua identidade, exprime-se, portanto, na
consciência de ser bom em sua capacidade predeterminada. Desse modo, o
reconhecimento de êxito na realização do seu trabalho, no desenvolvimento do papel
social previamente escolhido, possui um importante peso nos sentimentos humanos.
Diante dessas noções, quando determinado sujeito, ao falhar na realização do seu
trabalho, frustra os espectadores capazes de julgar suas habilidades de desempenho
relacionada a sua atividade de identificação, sobre ele pode-se afirmar que recai o
sentimento da vergonha simples. É o que ocorre, por exemplo, quando um ator realiza
uma peça de teatro sem sucesso ou um engenheiro constrói um edifício defeituoso.
Nestes casos, o indivíduo experimenta um mal estar interior gerado pela perda da
autoestima por conta do fracasso na sua atividade social específica, que se produz na
intersubjetividade social mas também pode afetá-lo nas esferas do convívio social. É
importante frisar nessa análise que o fracasso em uma atividade que não foi eleita como
a atividade específica não atingirá a autoestima individual - se uma pessoa é uma má
cozinheira, mas ela não se autointitula como cozinheira, essa falta de capacidade na
cozinha não irá despertar nela o sentimento de vergonha, porque a sua identidade
perante a comunidade não será afetada.
Os indivíduos são condicionados desde os primórdios da vida a realizarem
avaliações sobre o comportamento daqueles que convivem no seu meio comunitário. Ao
observarem a falha do profissional na sua atividade especial, os espectadores não
formarão avaliações morais, a valoração de bom ou mal será apenas direcionada ao
desenvolvimento técnico relacionado àquele desempenho. As ações fracassadas que
geram a vergonha simples podem provocar na sociedade os sentimentos de indiferença,
crítica, compaixão e escárnio.
Nesse sentido, diante da falha do indivíduo na sua atividade profissionalizante,
os espectadores podem permanecer emocionalmente neutros, não manifestar sentimento
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algum, já que não é exigido socialmente que as pessoas sejam infalíveis na realização
das suas atividades específicas. Por outro lado, podem também manifestar o sentimento
de compaixão, relacionado ao estado de compreensão e aptidão para coloca-se no lugar
do outro, à capacidade de possuir piedade diante do sofrimento alheio. Além disso,
conforme sugere o autor Ernst Tugendhat, a resposta a falha pode ser exprimida por
meio de simples críticas que geralmente vão se dirigir a ação e não a pessoa, e são
isentas de indignação, expressando em muitos casos a insatisfação com um serviço
prestado. Por fim, o escárnio também é plausível de ser externado pelos espectadores
diante do mal desempenho do profissional que se autointitula como capacitado para a
realização da atividade. Isso ocorre de maneira similar a quando a queda de alguém
após tropeçar em um objeto pode provocar risadas nos indivíduos que assistem à cena.
Portanto, a vergonha simples ou vergonha do ridículo não é antiética, já que ela
resulta da má sorte, de uma incapacidade momentânea ou da falta de atenção do
indivíduo, por exemplo, mas não de um desvio das normas morais da sociedade. Por
conta disso, a ação individual que motiva esse sentimento pode ser recebida de diversas
formas pela sociedade, mas - a não ser que se trate de um fracasso em um trabalho
relacionado a uma função pública - não haverá uma reprovação moral, ou seja, uma
reprovação associada ao rompimento com a estrutura de cooperação social.

2) Durante a pandemia do CORONAVÍRUS, após ser flagrado desviando para uso


próprio a verba pública para compra de respiradores, um determinado político
indagado por jornalistas cobre o rosto diante das câmeras de televisão. Pode-se
dizer que existe aí um caso nítido de VERGONHA MORAL em um ato de
corrupção. Disserte sobre os sentimentos de indignação e censura dos espectadores
que acompanham o desenvolvimento desse episódio. Tente incluir em sua resposta
as ideias de consciência da transgressão e vontade de ocultação da conduta anti-
cooperativa.
A ética congrega normas e valores a serem seguidos, noções de condutas sociais
corretas e reprováveis na sociedade que todos devem conservar para o bem comum. Por
conta dessas normas morais, os indivíduos impõem-se mutuamente a necessidade de ser
um bom cooperador para a sociabilidade. A capacidade individual de ser um bom
cooperador diante desses padrões gerais consagrados em uma sociedade é a chamada
capacidade central de socialização. Quando um indivíduo falha na sua habilidade central
para a socialização, os espectadores naturalmente experimentarão a indignação e vão
externar a censura.
Diante do desvio de verba pública para uso próprio realizado pelo político - um
ato extremamente imoral e reprovável - certamente a população dirigiu-se ao político
com forte desprezo, por se tratar de um indivíduo que optou por cometer uma
antijuridicidade atentando contra normas responsáveis pela manutenção da
sociabilidade, que são socialmente compreendidas como padrões que devem ser
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Professor: Marcus Fabiano Gonçalves

respeitados por todos. Assim, ele passa a presenciar a indignação do povo, será
considerado indigno, merecedor de tratamento diverso daquele dado aos indivíduos que
seguem as regras de cooperação da comunidade e desperta, portanto, a censura da
sociedade.
Ao sofrer a indignação e a censura, o sentimento de vergonha expresso pelo
político ao cobrir o rosto diante das câmeras reflete a tomada de consciência da
transgressão de normas éticas pelo conhecimento dos deveres e proibições adquiridos
no processo de socialização que permitem a ele reconhecer que o desvio cometido trará
consequências, já que mesmo a corrupção sendo claramente reprovável, o sujeito optou
por cometê-la. Por conta desse fracasso na sua capacidade central para cooperação,
acompanhado das consequentes reações negativas da população, o transgressor
experimenta um estado interior ruim, um sofrimento psíquico impulsionado pela
sensação iminente de desprazer gerada por sanções externas punitivas e pela
possibilidade de exclusão na participação social. Essa perda de autoestima, que
caracteriza a vergonha moral e envolve o tormento interno de saber que provocou a
indignação e o desapontamento das pessoas e que isso trará possivelmente sofrimentos,
é a chamada sanção interna ou consciência moral.
O sentimento de culpa experimentado pelos indivíduos que produz a vergonha
moral que reflete a sua vontade de pertencer à sociedade após ter conscientemente
violado normas morais e ter experimentado a indignação e a censura do povo, não
necessariamente garante que ele haja de forma cooperativa com o bem comum. As
ofertas de prazer das condutas transgressivas tentativa de fugir da indignação e da
censura ocultação da conduta anti cooperativa expectativa da imputabilidade é
reforlçada pela ameaça de castigo,

fenomeno avestruz , vontade de ocultação quando a conduta anticoperativa e descoberta


quebra do sentido moral
Atividade avaliativa de Filosofia do Direito
Aluna: Laura Brandão Osório Silva – 120007032
Professor: Marcus Fabiano Gonçalves

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