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ERG009
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FUNDAÇÃO COPPETEC
GRUPO DE ERGONOMIA E NOVAS TECNOLOGIAS
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PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - COPPE/UFRJ
PROGRAMA DE ENGENHARIA MECÂNICA - COPPE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL - EE/UFRJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - FAU/UFRJ
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA - ABERGO
PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS
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Prof. Mario Cesar Rodriguez Vidal D.Ing.
Sumário
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Por métodos de análise global estamos indicando alguns estudos que permitirão ao
ergonomista situar sua intervenção no contexto da empresa. São, por assim dizer, métodos de
reconhecimento do terreno onde a ação ergonômica deverá produzir seus feitos.
A utilidade dos métodos globais está em permitir uma base para avaliações custo-benefício
e para ações de sensibilização da estrutura de gestão induzindo um programa de providencias
necessárias, algumas delas urgentes. Um método global deve ser prático no sentido de se contrapor
a longas e exaustivas auditorias, ou mesmo a inspeções de rotina de difícil realização que acabam
por serem relegadas ou descontinuadas. Porém eles devem se constituir em aplicações de
conhecimentos, experiências e vivências, de gestores, técnicos e operadores para que tenham a
efetividade de um método da Boa Ergonomia. Nesse quadro se trata em geral de instrumentos de
natureza participativa ou que requerem algum nível de envolvimento das pessoas na empresa.
Dividiremos esses métodos em três grupos: (i) métodos de mapeamento, (ii) métodos de
levantamentos orientados e (iii) métodos de clarificação de problemas pouco estruturados.
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geração de relatórios.
O terceiro grupo é composto de alternativas aos métodos orientados, de grande utilidade nos
casos de mapeamento de problemas pouco estruturados e em situações difusas. Estes métodos de
clarificação, nossa contribuição a esse problema, são os Roteiros Dinâmicos e a Metodologia de
Conversa-ação. Os Roteiros Dinâmicos podem ser entendidos como listas de verificação abertas
que são empregadas mediante uma metodologia especial de coleta de dados Nos roteiros dinâmicos
ao invés de tópicos se colocam temas para observação e registro, que poderão ser acrescidos de
outros temas ao longo da análise global. O uso de roteiros dinâmicos requer uma competência em
pesquisa, além de uma boa dose de sensibilidade do analista. A Conversa-Ação é uma metodologia
de roteirização dinâmica que se baseia em interações planejadas e conduzidas de forma metódica
pelos analistas, como instrumento de coleta de dados. Este método, dada sua característica
fortemente situada, tem como contrapartida a existência do acesso do analista a pessoas e locais
físicos da organização.
• contingências,
• população de trabalhadores,
• funcionamento e
• fluxo de produção.
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Esses dados estão geralmente dispersos em vários setores da firma ou na cabeça de algumas
pessoas. É um importante trabalho organizá-los de forma coerente de forma a que se possa
visualizar com quem se trabalha efetivamente.
O objetivo, aqui, é o de situar-se no contexto no qual a empresa funciona, para que se tenha
um maior aprofundamento dos aspectos subjacentes à demanda e permita detalhar a metodologia do
estudo ou da intervenção, situando de forma mais clara as dificuldades e exigências da intervenção
solicitada. Naturalmente, esse estudo tem uma caraterística de levantamento e informação, além de
permitir ao grupo de Ação Ergonômica possuir uma visão de conjunto dos processos da organização
importantes para uma consolidação do grupo, em geral formado por pessoas de setores diferentes e,
por isso mesmo, com visões parciais da organização. Este levantamento das bases do
funcionamento aparece como nivelador dos conhecimentos das pessoas do GAE acerca da
organização.
Estas bases podem ser esquematicamente subdividas nas seguintes dimensões: econômicas,
sociais, legislativas, geográficas e técnicas. O quadro três topifica alguns desses dados.
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Dimensões Objeto/Objetivo
Trata-se de um estudo clássico de engenharia de métodos que, aqui deve ser sintetizado ao
extremo, quer dizer, que se evidenciem os principais fluxos de materiais, informações e pessoas no
espaço de produção. Os mapofluxogramas, esquemas de deslocamento plotados sobre a planta baixa
da instalação ou da seção fornecem um excelente descritivos. Neste tipo de representação gráfica se
utiliza a convenção ASME1:
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ASME = American Society of Mechanical Engineering. Esta pictografia é a recomendada pela OIT. Maiores detalhes
podem ser obtidos em BARNES, R.M. Estudo e medida do Trabalho, Ed. Edgard Blucher, São Paulo
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Operação Estocagem
Inspeção
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Reza a NR5 em seu artigo 5.16, inciso (o),na redação da portaria # 25 de 29/12/94 que a CIPA tem como uma de suas
atribuições...elaborar, ouvidos os trabalhadores de todos os setores do estabelecimento e com a colaboração do
SESMT, quando houver, o MAPA DE RISCOS, com base nas orientações constantes do anexo IV, devendo o mesmo
ser refeito a cada gestão da CIPA. Os grifos são nossos e eles chamam a atenção para o caráter participativo e
educativo que o regulamento em pauta pretende imbuir à Sociedade .
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O Mapa de Risco tem como resultado principal uma esquematização, em planta baixa com
uma codificação que apresente um destaque proporcional aos riscos encontrados. Este instrumento
deve permitir à empresa de elaborar um Plano de Prevenção de Riscos Ambientais, de acordo com a
forma estabelecida pelas Normas Regulamentadoras de número 4, anexo IV, e número 9, artigo
9.2.
Podem existir várias fontes geradoras de um mesmo agente de risco e o seu efeito
abranger todo o local de trabalho, cada fonte será identificada por um círculo e na margem do Mapa
de Risco será colocado um círculo com o mesmo número, com o objetivo de mostrar que a ação
desse agente se dá por todo o ambiente. Por exemplo, em uma Galvanoplastia os vapores exalados
de alguns tanques irão se espalhar por toda área de trabalho.
Quando houver em um mesmo local riscos diferentes com a mesma gravidade a
representação poderá ser feita utilizando-se um único círculo, dividindo-o em setores com as cores
correspondentes. Os riscos com a mesma gravidade em um mesmo local poderão ter um mesmo
número no Mapa de Risco, a fim de facilitar a sua identificação no Quadro (no no Mapa).
Poderá ocorrer situações em que a fonte do risco não é material, sendo de difícil
identificação espacial. Neste caso, o procedimento adotado será semelhante ao da situação anterior.
Por exemplo, se o arranjo físico (layout) for inadequado, não haverá forma de localizar o círculo
em um ponto específico no Mapa, logo o círculo ficará na margem do Mapa de Risco.
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A descrição normalmente indicada para os mapas de riscos não deve ser confundida com a
modelagem operante obtida pela Análise Ergonômica do Trabalho. A natureza e uso de modelos
descritivos, aqui, tem a finalidade precípua de situar um posto ou um conjunto de postos análogos
na estrutura de funcionamento da empresa, conquanto as modelagens operantes tem uma finalidade
de instruir mudanças no posto de trabalho entendido como um conjunto integrado de interfaces de
diversas naturezas (físicas, cognitivas e organizacionais). Este tipo de modelos descritivos pode ser
estabelecido por dois caminhos complementares:
• mediante uma descrição superficial centrada nas tarefas, assinalando o que existe de
procedimentos e métodos formais nos locais inspecionados;
• mediante uma descrição mais aprofundada, com base na análise ergonômica do trabalho, nos
locais onde uma perícia mais elaborada seja necessária.
Nas análises superficiais serão identificadas as tarefas executadas por cada trabalhador, os
locais onde são exercidas e suas freqüências de realização. Nas análises mais aprofundadas
considerações mais especificamente ergonômicas acerca da variabilidade de modos operatórios e
das circunstâncias onde ocorre podem vir a ser necessárias. Empresas com um maior grau de
organização documental dispõem dos registros necessários para a elaboração destes dados. Em
outros casos caberá aos agentes elaborar esses dados na forma de um documento ou Caderno.
O inventário de riscos em que se constitui o mapa de riscos requer uma criteriosa listagem
de matérias-primas e insumos, produtos intermediários em processamento e resíduos provenientes
da produção. Com tais elementos é possível fazer uso de bancos de dados toxicológicos e identificar
possíveis fatores endêmicos.
O inventário atualizado é informação relevante que deve ser tão bem documentada quanto
possível e atualizada a cada mudança nos itens que a compõem. No caso de sua inexistência o
ergonomista deverá recomendar à empresa que forme um quadro simplificado e que o distribua para
todos os setores da empresa.
A NR-9 estabelece 5 grupos de riscos ambientais. Esta tabela sintetiza o quadro das
condições de trabalho do processo de produção estudado.
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Apesar de ser uma praxe normativa a definição dos conceitos utilizados em seu corpo,
na NR-09 não está bem definido os conceitos de risco, agentes bem como os critérios de gradação
de gravidade. MATTOS (1992) propõe que os riscos e/ou agentes, devam ser caracterizados
segundo:
(a) natureza da fonte de risco,
(b) área de alcance ou ação,
(c) a relação com o exercício da atividade e com o tipo de lesão.
A gradação da gravidade dos riscos devera ser objeto de uma busca criteriosa de
benchmarkings e sua análise de sensibilidade para o contexto da empresa. MATTOS & SIMONI
(1983) sugerem três critérios de gravidade dos riscos, quais sejam:
i) possibilidade de morte iminente;
ii) ocorrência de acidentes e doenças com lesões irreversíveis; e
iii)quantidade de pessoas expostas aos agentes.
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Os agentes ergonômicos tal como aqui entendidos se restringem aos aspectos posturais da atividade de trabalho. Neste
sentido há uma redução do conceito de ergonomia e mesmo uma certa contradição com o texto e a essência mesmo da
NR-17. Alias não é esse o único problema de incompatibilidade desta NR com outras normas do mesmo corpo
normativo: as cores que codificam grupo de risco são conflitantes com os códigos de cores para Sinalização de
Segurança indicados na NR-26.
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resultado claro e imediato. Seu maior problema reside exatamente no fato de se basearem em
experiências já vivenciadas e codificadas pelos autores das listas. Como nem sempre se pode
garantir que os problemas da atividade sejam os mesmos, as Listas de Verificação encontram aqui,
um sério handicap.
O mais criterioso seria que o ergonomista, aproveitando os elementos oriundos da Instrução
da Demanda, e com base em referências científicas, estabeleça uma Lista e limitando seu emprego a
uma varredura inicial exploratória, algo como uma boa lavagem num carro para verificar onde
aparecem pontos de corrosão que requeiram um tratamento mais específico. Em anexo
apresentamos algumas listas e protocolos de verificação, além de um checkpoint desenvolvido pelo
GENTE/COPPE para levantamento preliminar de questões relativas à incidência de LER/DORT em
ambientes de escritório.
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Topos = campo
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Esta esquematização indigente deriva de um problema mais complexo, que é o das representações inadequadas como
veremos mais adiante
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Relayout é um termo técnico em engenharia de produção que significa um remanejamento do espaço para que o
trabalho seja melhor executado e que os resultados da ativade fluam de uma forma mais eficiente. Rearranjo é uma
tradução bastante próxima deste sentido, embora não veicule o significado pleno que não se limita a questões de
organização espacial, mas também a critérios econômicos e organizacionais.
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razões se é chamado para intervir sobre um problema que já estaria definido, uma vez que a
Ergonomia vai bem mais além de um conjunto de limitadas prescrições técnicas de caráter genérico.
Pelo contrário, é exatamente uma definição clara e orientada que permitirá uma boa Instrução da
Demanda. Para tanto,é necessário um tratamento linguístico, no nível discursivo (falas e textos
organizacionais interpretados coerentemente). Assim fazendo estaremos contextualizando as
certezas veiculadas à observação da situação e às contingências onde aparecem. O forte e
característico da Ergonomia, na acepção que adotamos, da ergonomia situada (Vidal, 1993) está no
fato de construir, conjuntamente uma formulação de problemas, sua origem na variabilidade ( de
componentes situacionais, contextuais, de pessoas e da organização) e sua negociação quanto às
necessidades e desideratos, donde a estranheza que traz uma definição fechada, pronta e acabada de
problemas a considerar.
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Vemos aqui a necessidade do caráter global que deva ter a exploração do funcionamento da empresa, no sentido de
que o diagnóstico aponte não apenas os pontos a intervir, mas também a problemática cientifica e tecnológica
subjacente ao estudo, estando nisso de acordo com Theureau (1993) que preconiza um programa tecnológico
associado a uma intervenção mais consistente e com Daniellou (1992, cap.7) onde a passagem à teoria científica é tão
própria à Ergonomia como sua manifestação no plano da tecnologia.
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quem, onde, quando e sobre que, é possível obter uma grande riqueza do material empírico obtido e
das modelagens dele decorrentes.
Por se tratar de propor um método devo colocar as expectativas de que me cercava para
formular uma proposta. Três elementos me chamaram mais à atenção no quadro de uma pesquisa de
campo ou de uma intervenção, quais sejam:
• a falta inconsciente de vontade de aprender algo novo - que significa, na pratica científica
a atitude soberba onde a pessoa se julga detentora de um saber ao qual bastaria enriquecê-
lo de exemplificações extraídas de uma intervenção superficial. Isto é relativamente
comum quanto mais premente se torna a necessidade de resultados que, assim produzidos
quase sempre beiram a mediocridade;
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humano como sujeito de interações sociais que se acrescentam aos planos biológicos, cognitivos e
psíquicos das atividades de trabalho (Lacoste, 1992, Daniellou, 1992), tornando a observação um
recurso suplementar às suas próprias técnicas de elucidação da influência do contexto sobre o agir,
aqui refletidos no aspecto da expressão verbal. É por este caminho que julgamos que o problema
metodológico sustenta o interesse por conceitos e métodos advindos da sociolinguística interacional
para a Análise Ergonômica do Trabalho. Conversar, comunicar, cooperar, abrem uma outra
perspectiva para a Análise Ergonômica do Trabalho .
Toda pessoa vive num mundo social que a leva a interargir com outros (...)Nestes
contatos tende a exteriorizar uma linha de conduta (...) E como os demais
participantes supõem nesta pessoa uma posição mais ou menos intencional(...) se
ela quiser se adaptar à s reações [ de seus interlocutores] deve considerar a
impressão que os outros fizeram a seu respeito.
(Goffman,1974, p. 9).
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Quanto ao primeiro aspecto vale transcrever o que é colocado por Daniellou (1992):
“A representação que um sujeito constrói de uma dada situação se ancora numa
biografia que é, entre outras coisas, uma história social. Ë durante esta história
que a pessoa adquiriu as palavras e enunciados para descrever as passagens
constantes de seu trabalho e poder interagir com os demais quanto a elas.(...)
possibilidade de simbolizar uma situação e poder reportá-la em termos discursivos
com outros.
(...)
Fazemos a hipótese de que a existência de enunciados disponíveis para
simbolizar representações acerca do trabalho desempenha um importante papel
para a construção de representações para o trabalhador(...).
Quanto a nós acrescentamos o valor desses enunciados para a organização como um todo e
não unicamente para os trabalhadores. A articulação com o contexto historicamente constituído que
é a organização nos indica que os enunciados disponíveis são permeados por representações de
caráter dominante, como o trabalho “manual”, “repetitivo”, “desqualificado” etc. Além disso, a
confrontação entre comunidades discursivas em diferentes pólos de poder inibe o grau de
disponibilidade de certos enunciados e, por aí, fazendo com que representações equivocadas
prevaleçam sobre aquelas que seriam mais pertinentes para a projetação da tecnologia. Foi possível,
como veremos mais adiante, demonstrar que existem diferenciações discursivas significativas com
as variações contextuais presença/ausência da chefia ou a identificação regional motivante.
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O efeito borboleta é uma noção da teoria do caos que foi descrita por Cleick (1987) como sendo o fato de que a
combinação teoricamente possível de inúmeros fatores meteorológicos pode fazer a ligação entre um bater de asas de
uma borboleta em Hong Kong e um tufão na Califórnia. Significa dizer que no interior de um sistema, mínimos
elementos de entrada podem gerar repercussões macroscópicas. Ora, considerando a interação como um sistema
progressivo de entendimentos/desentendimentos o efeito borboleta é uma realidade tangível.
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5.2.3 Entre a ética e a Epistemologia: escolhendo interlocutores e o modo de falar com cada um
A segunda questão enfoca o status hierárquico dos interlocutores, questão que, esta sim,
podemos responder da seguinte forma: que agentes e que práticas poderemos versar juntos (con-
versar)? O método recomenda que esta escolha seja tão distribuída quanto possível, ao longo dos
níveis da organização. Neste caso a escolha recai por pessoas que, de diferentes pontos de vista e de
lugares hierárquicos diferenciados podem evocar a atividade já devidamente observada e face à qual
poderão ser autoconfrontados numa análise sistemática. Uma técnica simples daí derivada é coletar
propósitos verbais (descrições da atividade por agentes que dela participem) de por exemplo um
chefe e dois subordinados. As falas oriundas de atores diferenciados são freqüentemente
complementares e não necessariamente conflitantes. Seus discursos, até onde pudemos constatar,
apresentam um caráter de complementaridade que permite praticar a desconfiança necessária sem
perda do valor intrínseco de uma escuta respeitosa. A possibilidade desta escolha é a própria
medida do grau de liberdade existente na intervenção e seu próprio exercício já ajuda a entender o
contexto da empresa onde ocorre. Em muitas passagens a possibilidade de conversar é
extremamente colocada em dificuldade ou usada como recurso de boicote à intervenção. Ferreira
(1995), chega ao extremo de desenvolver formas de Conversa-ação tendo como ponto de partida a
impossibilidade de conversas em situação.
Numa outra ordem de idéias está o problema da simetria, colocado por Bloor (apud Latour e
Woolgar, 1986), que estabelece que toda explicação epistemológica deve explicar o sucesso e o
insucesso na investigação. Este pensamento, à raiz da obra de Lévi-Strauss (1962), tenta nos
resguardar de discriminar os vencidos dando a impressão de valorizá-los. E isto se torna tão forte
quanto nos aproximamos do detalhe, do coletivo, da situação. Quem seriam os deserdados da
história da evolução tecnológica e o que teriam que dizer ? Numa situação quem detêm a decisão e
quem dela esta alijado? Quais as formas de imposição e de resistências que encontramos numa
realidade da produção?
A última reflexão neste item é a reflexividade, a entrevista guiada por fatos de identidade,
nisto residindo uma terceira fonte de escolha de interlocução. A empatia criada pelo fato de
identidade como facilitador da conversa é efetiva (engenheiros com engenheiros, arquitetos com
projetistas, identidades de gênero e assim por diante). A reflexividade na Conversa-ação significa a
percepção de atributos de cada interlocutor numa interação e a busca de atributos comuns
facilitadores.
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O caráter apenas indicativo desta sistematicidade se prende ao caráter sociológico da estrutura de poder numa
empresa. Numa fase de análise da demanda e muitas vezes durante uma boa parte da análise global não é evidente a
percepção da organização informal onde os laços de poder, alianças e temores apareçam de forma inequívoca.
Entretanto, a posição hierárquica traz uma vertente lingüística bastante mais captável já que é através da linguagem
que o enquadramento da pessoa na organização prescrita aparece de forma evidente e evidenciável.
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superiores. Foi quando descobrimos que a pesquisa situada, mesmo exploratória se pautava por
embarreiramentos de diversas ordens.
Algumas vezes o que falávamos soava mal, muito mal. Havíamos tocado em pontos que
faziam com as pessoas se recolhessem, desfazendo um clima de conversa duramente atingido. Uma
escorregada imperdoável! As bases teóricas da Ação Ergonômica nos informa acerca do conceito
de ideologia defensiva (Dejours, 1980), segundo o qual uma pessoa ou um grupo não menciona
fatos que os remetem ao sofrimento ou constrangimento. A prática nos mostrava quão agudo era seu
efeito, sendo que éramos, então protagonistas de um fato de que somente conhecíamos a
modelagem teórica. As manifestações da ideologia defensiva que enfrentamos se caracterizaram
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basicamente por alterações no rumo da conversa de diversos tipos: negações, desvios, omissões e
transferencias do poder-falar.
As negações de fatores de periculosidade mais ou menos visíveis denotam um temor
agudo escamoteado. Numa conversa-ação sobre o risco de morte num canteiro de pré-fabricação
pesada, ao perguntarmos mais detalhes sobre a morte de um colega, a reação do interlocutor, foi a
de uma série de negativas sobre a real periculosidade daquela situação de trabalho, ao mesmo
tempo em que ressaltou uma série de aspectos positivos daquela ocupação e naquele local. Com
isto, percebemos que na narrativa passara a apresentar uma série de omissões defensivas.
Na evolução desta conversação o próprio mestre de obras se declarou incompetente
(invalidação) para responder certas questões ali colocadas, transferindo o poder-falar para o
jovem engenheiro responsável, muito embora o ponto de conversação já atingido nos permitia
identificar esta declaração de incompetência como uma defesa. É neste instante que o ergonomista
deve intervir, de forma a não destruir o nível de relação já alcançado. Para tanto fizemos um desvio
de conversa rumo a aspectos positivos do trabalho, para retornarmos a uma interação leve entre o
entrevistado e o grupo, uma positivação da conversa (CRU (1991), recurso muito empregado em
Psicologia Dinâmica.
A posição metodológica adotada foi a de não intervir diretamente sobre o fluir da
conversação a menos da constatação do risco de ruptura trazido à tona pelas manifestações da
ideologia defensiva, acima categorizadas. Isto porém nos chamou a atenção para a necessidade de
prepararmo-nos para a conversa. Descobrimos, talvez não da maneira mais agradável, a
importância do preparo para as interações de pesquisa, do valor do silêncio tático e da importância
da escuta. Nascia o método de conversa-ação.
A pesquisa foi integralmente realizada e muitos de seus resultados circularam entre as
empresas e nas diversas comunicações que fizemos para congressos e revistas especializadas.
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