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ARTIGO

Politécnica
Revista do Instituto Politécnico da Bahia „ Fundado em 1896
Ano 7 „ Edição Trimestral „ Janeiro de 2014 „ ISSN 1809 8169
19-E

A representação gráfica na
engenharia: sua evolução técnica

Estudo da reação alcalis-sílica Estudando circuitos


(RAS) associada ao uso da elétricos com o
lama vermelha em argamassas programa Maple
Fazer saneamento Efeitos da Urbanização
ambiental em Salvador Sobre os Padrões
1 EU PENSO ASSIMde outra forma é possível de Vento.
SUMÁRIO

Editorial .......................................................................Pág.3

Expediente.....................................................................Pág.4

Estudo da reação alcalis-sílica (RAS) associada ao uso da lama vermelha


em argamassas ...............................................................Pág.5

Fazer saneamento ambiental em Salvador de outra forma é possível...Pág.13

Efeitos da Urbanização Sobre os Padrões de Vento..................Pág.19

Estudando circuitos elétricos com o programa Maple..................Pág.23

A representação gráfica na engenharia: sua evolução técnica...Pág.29

Notícias........................................................................Pág.32

2 POLITÉCNICA
EDITORIAL

O
s artigos desse número da Revista Politécnica, ainda Academia de Ciências da Bahia - ACB que contratou uma
em meio eletrônico, abordam temas bem variados, pesquisa sobre o entendimento de inovação, noticiado no
VHQGRTXHGRLVGHOHVDERUGDPWHPDVFRPUHÀH[RV número anterior de nossa Revista.
em área urbana. Um artigo mostra como o crescimento ur-
bano de uma cidade pode afetar o padrão de direção dos 1RVGDGRVOHYDQWDGRVSDUDD$&%¿FRXFODUDDQHFHVVLGD-
ventos, e mostra ainda que esse efeito pode se acentuar de de divulgação maior do assunto relacionado com pes-
j PHGLGD TXH D iUHD XUEDQD H[SDQGH FRPR QR FDVR QD quisa, com tecnologia e inovação, não somente entre os
Cidade do Salvador, com seu relevo marcado por nume- universitários, mas nas escolas desde o curso fundamen-
rosos pequenos vales, encostas por vezes razoavelmente tal, estimulando os alunos a perguntarem sempre: O que?
íngremes, com altitudes variando desde o nível do mar até Como? Quando? Onde? Por que? E que os professores
R Pi[LPR GH  PHWURV QD SDUWH PDLV DQWLJD GD FLGDGH devem procurar responder ou orientar o estudante para o
chegando a perto de cem metros na porção norte do muni- local onde poderão encontrar a resposta mais apropriada a
cípio. Um segundo artigo apresenta a sugestão de um mo- ¿PGHHVFODUHFHUVXDVG~YLGDV
delo alternativo de saneamento para a cidade do Salvador.
São perguntas fundamentais que conduzem à solução de
Um terceiro artigo trata dos resultados de uma pesquisa SUREOHPDV H j LQRYDomR LQRYDomR VLJQL¿FDQGR WDQWR XP
tecnológica com materiais de construção, um quarto faz equipamento novo como um modo novo de resolver um
XP KLVWyULFR GD UHSUHVHQWDomR JUi¿FD XVDGD SHORV HQJH- problema novo ou um problema antigo. Esse caminho es-
nheiros e um quinto artigo trata das novas possibilidades WLPXODDSHUFHSomRGHTXHDH[SHULrQFLDSHVVRDOGHYHVHU
abertas aos engenheiros para efetuar cálculos rápidos e QHFHVVDULDPHQWH FRPSDUWLOKDGD H TXH GHVVD H[SHULrQFLD
precisos, antes impossíveis sem as ferramentas de hoje pode surgir uma ideia que, após avaliação e, em alguns
como o computador e sugere que novidades poderão ain- FDVRVH[SHULPHQWDomRUHVXOWDUiHPXPSURGXWRQRYRRX
da aparecer nessa área. uma solução melhor para um problema qualquer. Esse é
XPFDPLQKRSDUDDLQRYDomRFLHQWt¿FDHWHFQROyJLFD
Os artigos todos, deste número da Revista, têm um fulcro
QDViUHDVGHSHVTXLVDFLHQWt¿FDHWHFQROyJLFDHLQRYDomR Portanto, a Revista está no caminho certo de criar dúvidas,
sugerir soluções a seus leitores e estimular outras pessoas
(VVDDERUGDJHPGRVDXWRUHVGHL[DFODUDDLPSRUWkQFLDGH a fazer o mesmo, dando à UFBA as características de uma
SHVTXLVDQDXQLYHUVLGDGHGHQWURGHVHXREMHWLYRHGH¿QL- Universidade completa.
omRRULJLQDOXQLYHUVLGDGHGH¿QLGDFRPRVHQGRXPFRQMXQ-
WR GH SHVVRDV GH DPSOR VDEHU LQWHUHVVDGDV HP H[SDQGLU Sylvio de Queirós Mattoso, DSc (Geociências)
o conhecimento. Aliás, essa é também a preocupação da Engenheiro de minas e metalurgista

3 POLITÉCNICA
EXPEDIENTE REVISTA E COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA - 2012-2013

INSTITUTO POLITÉCNICO DA BAHIA


Fundado em 1896

REVISTA POLITÉCNICA SUPLENTES:


Prof. ARMANDO SÁ RIBEIRO JÚNIOR
FUNDADOR Prof. LUIS EDMUNDO PRADO CAMPOS
Prof. JOSÉ GOES DE ARAÚJO

COORDENADOR CONSELHO DELIBERATIVO


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Prof. ADEMIR FERREIRA DOS SANTOS
CONSELHO EDITORIAL: Prof. ADINOEL MOTTA MAIA
Prof. ANTONIO CARLOS REIS LARANJEIRAS
Prof. ADEMAR NOGUEIRA Prof. GABRIEL BARRETTO DE ALMEIDA
Prof. ANDRÉ LUÍS VALENTE Prof. GERALDO SÁVIO FRANCO SOBRAL
Prof. CAIUBY ALVES DA COSTA Prof. GUARANI VALENÇA DE ARARIPE
Prof. JOÃO AUGUSTO DE LIMA ROCHA Prof. JOÃO CARLOS BELTRÃO DE CARVALHO
Prof. JORGE EURICO MATTOS Prof. JOSÉ GOES DE ARAÚJO
Prof. LUIZ ROBERTO MORAES Prof. LUÍS GONZAGA MARQUES
Prof. RICARDO DE ARAÚJO KALID Prof. MARIO MENDONÇA DE OLIVEIRA
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Prof. RICARDO DE ARAÚJO KALID A publicação das fotos e ilustrações desta edição
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devida publicação dos créditos dos seus autores.

4 POLITÉCNICA
ARTIGO

Estudo da reação alcalis-sílica (RAS)


associada ao uso da lama vermelha
em argamassas
Daniel V. Ribeiro (1); António S. Silva (2); de revestimentos ou até mesmo descolamento do revestimento
João A. Labrincha (3); Márcio R. Morelli (4) FHUkPLFRGHYLGRDRSURFHVVRH[SDQVLYRGHYLGRjUHDomRiOFDOLV-
-sílica (RAS), proveniente da elevada concentração de íons alcali-
nos (principalmente o sódio). Assim, foram avaliadas as possíveis
(1)
Universidade Federal da Bahia - verasribeiro@hotmail.com; 5$6GHDFRUGRFRPDVQRUPDV$670& ³6WDQGDUGWHVW
(2)
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Portugal - ssil- method for potencial alkali reactivity of aggregates – Mortar-bar
va@lnec.pt; (3) Universidade de Aveiro & CICECO, Portugal - jal@ method”) e NBR 11582 (“Cimento Portland – Determinação da
ua.pt; (4) Universidade Federal de São Carlos - morelli@ufscar.br H[SDQVLELOLGDGH GH /H &KDWHOLHU´  2V UHVXOWDGRV REWLGRV IRUDP
bastante satisfatórios quanto ao comportamento das argamassas
IUHQWH j 5$6 PRVWUDQGR TXH DV UHDo}HV H[SDQVLYDV GRV iOFDOLV
Resumo: No presente trabalho, estudou-se a lama vermelha, re- presentes não comprometem o uso deste resíduo em substituição
VtGXRVyOLGRJHUDGRQRSURFHVVRGHEHQH¿FLDPHQWRGDEDX[LWDH parcial ao cimento Portland para aplicações secundárias.
que, devido a seu elevado pH, é considerado “perigoso”. O uso
GDODPDYHUPHOKDWHPVLGRGLYXOJDGRH[WHQVLYDPHQWHDSHVDUGH Palavras-chave: Cimento, argamassas, lama vermelha, RAS, du-
seu uso indevido poder causar sérias patologias em argamassas rabilidade.

5 POLITÉCNICA
ARTIGO

Study of alkali-silica reaction (ASR) associated


with the use of red mud in plastering mortars
Abstract: In this paper, the red mud, the main waste generated which is the focus of the present work. The ASR was evaluated,
in aluminium and alumina production by the Bayer process from DFFRUGLQJWRWKH$670& 6WDQGDUGWHVWPHWKRGIRUSR-
EDX[LWHRUHDQGFRQVLGHUHG³KD]DUGRXV´GXHWRWKHKLJKS+ZDV tential alkali reactivity of aggregates - Mortar-bar method) and NBR
studied. Although the use of this waste has been reported in pre-  ³3RUWODQG&HPHQW'HWHUPLQDWLRQRIWKHH[SDQVLRQRI/H
vious studies, some pathologies may be associated with its use, Chatelier”) standards. The results were very satisfactory as to the
due to the high concentration of alkali ions (mainly sodium), favo- mortars behavior concerning the ASR, despite the high alkali con-
ring the alkali-silica reaction (ASR). Despite these potential proble- centration in red mud.
ms arising from the indiscriminate use of red mud as an addition
to mortars, there are few studies that contemplate this problem, Keywords: Cement, mortar, red mud, ASR, durability.

1. INTRODUÇÃO HPLVV}HVGH&2GHYLGRjWHPSHUDWXUDPDLVEDL[DGHFOLQ-
querização e formação de clínquers mais leves, capacidade
A lama vermelha é um resíduo sólido proveniente da indús-
de reutilizar resíduos industriais, características de boa re-
WULDGHEHQH¿FLDPHQWRGDEDX[LWDeXPPDWHULDOFRPSOH[R
VLVWrQFLDERDVSURSULHGDGHVDQWLLQ¿OWUDomRERDUHVLVWrQFLD
cuja composição química e mineralógica varia muito, de-
à corrosão e pega rápida.
SHQGHQGRGDIRQWHGHEDX[LWDHGRVSDUkPHWURVGRSURFHV-
A busca por alternativas ambiental e economicamente viá-
so tecnológico de produção. Baseado nos três diferentes
veis de reciclagem incluem: aplicações da lama vermelha
tipos de produção da alumina, a lama vermelha pode ser
como adsorvente para a remoção de cádmio, zinco e arsê-
FODVVL¿FDGDFRPRODPDYHUPHOKD%D\HUODPDYHUPHOKDVLQ-
terizada ou lama vermelha proveniente dos dois métodos QLRÀ~RUFKXPERHFURPRHPVROXo}HVDTXRVDV ; como


(8)
FRPELQDGRV 'HYLGR DR IDWR GH PDLV GH  GD DOXPLQD componente de materiais de construção, tais como tijolos ,
produzida em todo o mundo ser proveniente do processo FHUkPLFDV H WHOKDV , esmaltes ; como compósitos de
(9) 

(11)
Bayer, pesquisas que busquem alternativas a este tipo de base polimérica para substituir a madeira , cimentos ricos
UHVtGXRWrPSDUWLFXODULPSRUWkQFLD em ferro(4,5), etc. A utilização como material de construção
Matrizes alcalinas como as de cimento Portland (argamas- comum tem sido sugerida como uma alternativa que garan-
sas e concretos) são comumente usadas no acondiciona- WHDOWDVWD[DVGHFRQVXPR
(12).

PHQWR GH UHVtGXRV (ODV WrP EDL[R FXVWR PRVWUDP XPD No entanto, seu uso indevido pode causar sérias patolo-
história amplamente documentada de segurança, e são gias em argamassas de revestimentos ou até mesmo des-
provenientes de uma tecnologia facilmente acessível. A FRODPHQWR GR UHYHVWLPHQWR FHUkPLFR GHYLGR DR SURFHVVR
alcalinidade reduz a solubilidade de muitas espécies inor- H[SDQVLYR UHVXOWDGR GD UHDomR iOFDOLVVtOLFD 5$6 $ GH-
JkQLFDVSHULJRVDVHLQLEHSURFHVVRVPLFURELROyJLFRV$OpP gradação do concreto por ações químicas é um fenômeno
disso, uma vez que essas matrizes necessitam de água H[WUHPDPHQWH FRPSOH[R TXH HQYROYH PXLWRV SDUkPHWURV
para hidratação, elas podem facilmente incorporar resíduos nem sempre fáceis de serem isolados e que atuam em di-
úmidos (1), tais como a lama vermelha. A lama vermelha foi ferentes graus.
escolhida para o presente trabalho, devido aos seus eleva- As reações álcalis-agregado (RAA) são reações químicas
GRVWHRUHVGHDOXPLQDHy[LGRVGHIHUURVHPHOKDQWHVDRV que se desenvolvem entre constituintes reativos dos agre-
do cimento. JDGRV H tRQV DOFDOLQRV H KLGUR[LORV SUHVHQWHV QD VROXomR
Diversos estudos têm avaliado a utilização da lama ver- intersticial da pasta de cimento, podendo ter um efeito alta-
melha diretamente como um componente do clínquer (2- 5), mente prejudicial para as argamassas(13, 14). Essas reações
e a sua adição às formulações de argamassa e concreto VmRGHFDUiWHUIRUWHPHQWHH[SDQVLYROHYDQGRDRGHVHQYRO-
também foi relatada  . De acordo com SINGH et al.(5), os YLPHQWRGHWHQV}HVLQWHUQDVQRPDWHULDOHFRQVHTXHQWH¿V-
cimentos baseados em compostos alumino-ferrosos têm suração, frequentemente acompanhadas do aparecimento
uma série de vantagens sobre o cimento Portland comum. GHHÀRUHVFrQFLDVHH[VXGDo}HVjVXSHUItFLH
Estas incluem a conservação de energia e a redução das $SHVDUGHGL¿FLOPHQWHVHUUHIHULGDFRPRFDXVDSULPiULDGR

6 POLITÉCNICA
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FRODSVRD¿VVXUDomRJHUDGDSHOD5$$SRGHIDYRUHFHURX- $ 5$$ Vy VHUi SHULJRVD TXDQGR FRH[LVWLUHP HVWDV FRQGL-
tros processos de deterioração como a carbonatação, des- ções (13, 15). Assim sendo, devido à elevada concentração
FRODPHQWR GH UHYHVWLPHQWRV FHUkPLFRV H D FRUURVmR GDV GHtRQV1DH2+QRUHVtGXRGHEDX[LWDSURYHQLHQWHVGR
armaduras, no caso do concreto armado(14). uso da soda cáustica no processo Bayer, as RAA são foco
([LVWHP WUrV WLSRV GLVWLQWRV GH 5$$ UHDo}HV iOFDOLVVtOLFD de preocupação quanto à utilização deste material de ele-
(RAS), reações álcalis-silicato e reações álcalis-carbonato. vado pH como aditivo ao cimento Portland em concretos e
A RAS é o tipo de RAA mais comum e que tem recebido argamassas. Segundo diversos autores, uma concentração
maior atenção, correspondendo essencialmente a uma re- GH1D2VXSHULRUDQRDJORPHUDQWH(13) ou superior a 3
ação química entre certas formas de sílica reativa. Possui Kg/m3 no concreto(18)pVX¿FLHQWHSDUDGHVHQFDGHDUD5$$
estrutura mais ou menos desordenada e, por isso, é instável 2ViOFDOLVSUHVHQWHVQRFLPHQWR3RUWODQGVmRH[SUHVVRVQD
num meio de elevado pH, e os íons alcalinos (Na+ e K+) e IRUPDGHy[LGRGHSRWiVVLR .2 Hy[LGRGHVyGLR 1D2 
KLGUR[LORV 2+ SUHVHQWHVQDVROXomRLQWHUVWLFLDOGDSDVWD A quantidade de álcalis disponíveis no cimento Portland
de cimento, produzem um gel de silicato alcalino(14). Devido p H[SUHVVD HP HTXLYDOHQWH DOFDOLQR HP 1D2 1D2 
à elevada concentração de sódio na lama vermelha, a RAS .2 SRUDSUHVHQWDUPHOKRUFRUUHODomRFRPDH[-
é fonte de grande preocupação. pansão devida à RAA  .
A velocidade de reação dependerá da concentração dos Para ocorrer a RAA, o agregado deve conter formas de sílica
KLGUy[LGRV DOFDOLQRV QD VROXomR LQWHUVWLFLDO 2V tRQV FiOFLR FDSD]HVGHUHDJLUTXLPLFDPHQWHFRPRVtRQVKLGUR[LODHRV
&D  FXMD IRQWH SULQFLSDO p D SRUWODQGLWD KLGUy[LGR GH álcalis presentes na solução dos poros, tais como: vidro vul-
cálcio) formada pelas reações de hidratação do cimento, FkQLFRVtOLFDDPRUIDVtOLFDPLFURVFULVWDOLQDWULGLPLWDFULVWR-
penetram rapidamente no gel, dando origem a geles de sili- balita, calcedônia, opala, quartzo e feldspato deformados  .
catos de cálcio, sódio e potássio. Estes geles são capazes
GHDEVRUYHUPROpFXODVGHiJXDHH[SDQGLUJHUDQGRIRUoDV 2. MATERIAIS E MÉTODOS
H[SDQVLYDV(14, 15).
2.1. Materiais
$ UHDomR iOFDOLVVLOLFDWR p XP IHQ{PHQR PDLV FRPSOH[R H
WHPVLGRSRXFRH[SORUDGR6XS}HVHTXHRPHFDQLVPRGH Utilizou-se um cimento Portland CP-II 32 Z, da marca Itaú,
H[SDQVmRVHMDVHPHOKDQWHj5$6VHQGRQRHQWDQWRPDLV comercialmente encontrado na cidade de São Carlos, São
lenta(14). Frequentemente estes dois tipos de reações são 3DXOR3DUDRVHQVDLRVGHYHUL¿FDomRGDUHDomRiOFDOLVVt-
englobados num mesmo termo genérico de reações álcalis- lica (RAS) foi utilizada uma areia graduada, segundo a res-
-sílica (RAS). pectiva norma, e de alta reatividade, proveniente do rio Tejo,
$UHDomRiOFDOLVFDUERQDWRpH[SOLFDGDSRUXPDGHVGRORPL- em Portugal, com o objetivo de tornar a análise mais efetiva.
tização, ou seja, uma decomposição do carbonato duplo de Por apresentar-se na forma pastosa, a lama vermelha, ge-
cálcio e magnésio (dolomita) por ação da solução intersticial rada pela ALCOA do Brasil, em Poços de Caldas (MG), e
alcalina, a qual origina um enfraquecimento da ligação pas- utilizada neste trabalho, foi seca e, posteriormente, desa-
WDGHFLPHQWRLQHUWH1mRKiDIRUPDomRGHJHOHVH[SDQVL- glomerada para que se tivesse à disposição um material
YRVHDH[SDQVmRpDWULEXtGDjDEVRUomRGHtRQVKLGUy[LORV pulverulento. O teor de líquido presente inicialmente no re-
pelos minerais de argila(14). VtGXRpGHFHUFDGH,VWRVLJQL¿FDTXHRWHRUGHVyOLGRV
Assim, os fatores condicionantes da RAA associados à ve- DSHQDV   TXH IRL XWLOL]DGR QHVWH HVWXGR QD YHUGDGH
locidade da reação são  : UHSUHVHQWDXPDSURYHLWDPHQWRGHFHUFDGHYH]HVPDLV
UHVtGXR  2LGHDOVHYHUL¿FDGDDHIHWLYLGDGHGDDGL-
z7HPSHUDWXUDVHQGRPDLRUDH[SDQVmRTXDQWRPDLRUD ção deste resíduo, é aproveitar a própria água constituinte
temperatura; como água de mistura da argamassa.
zUmidade Elevada;
z$OFDOLQLGDGHVX¿FLHQWHPHQWHHOHYDGDGDVROXomR
2.2. Métodos
2.2.1. Caracterização das Matérias primas
intersticial;
z([LVWrQFLDGHDJUHJDGRVUHDWLYRVFRPFRQFHQWUDo}HV A caracterização dos materiais envolveu análises de difra-
GHQWURGHXPDIDL[DFUtWLFDH omRGHUDLRV; 5LJDNX*HLUJHÀH[0(*)'LIIUDFWRPH-
z*UDQXORPHWULDVHQGRPDLRUDIRUoDGHH[SDQVmRj WHU FRQ¿JXUDGR FRP UDGLDomR &X.Į YROWDJHP GH  N9
PHGLGDTXHGLPLQXLDVXSHUItFLHHVSHFt¿FDGRPDWHULDO FRUUHQWHLJXDODP$HYHORFLGDGHGHYDUUHGXUDLJXDOa

7 POLITÉCNICA
ARTIGO
ƒPLQ  H ÀXRUHVFrQFLD GH UDLRV ; 3KLOLSV 3: ;UD\  TXHpVXEVWLWXtGRHPPDVVDSHODODPDYHUPHOKDQRV
)OXRUHVFHQFH6SHFWURPHWHU HQTXDQWRRVSDUkPHWURVItVL- WHRUHVGHHSDUDDVUHVSHFWLYDVFRPSRVL-
FRVWDLVFRPRiUHDVXSHU¿FLDOHVSHFt¿FD HVWLPDGDSRU%(7 ções.
XVDQGRXPHTXLSDPHQWR0LFURPHWULFV*HPLQL9 
Após a mistura das matérias-primas, são moldados três
H D PDVVD HVSHFt¿FD +HOLXP 3\FQRPHWHU $FFXS\F 
FRUSRVGHSURYDSULVPiWLFRV [[PP SDUDFDGD
9GD0LFURPHWULFV WDPEpPIRUDPGHWHUPLQDGRV
FRPSRVLomR H (VVHVFRUSRVGHSUR-
va devem ser desmoldados 24 horas após a moldagem e
terem o seu comprimento aferido.
5HDomRÈOFDOLV6tOLFD 5$6 H([SDQVLELOLGDGH
A seguir, colocam-se os corpos de prova em recipiente com
De acordo com REIS & SILVA (14)DLQGDQmRH[LVWHXPPp-
iJXDHPHVWXIDD± 2°C, onde as amostras devem per-
todo universalmente aceito para a avaliação da reativida-
manecer por mais 24 horas até nova medida do compri-
de dos agregados aos álcalis. Os dois métodos clássicos
mento. Após esta medida, deve-se colocar os corpos de
desenvolvidos nos Estados Unidos, as normas ASTM C
SURYDHPVROXomRGH1D2+ 1 WDPEpPHPHVWXIDD
289 (“Standard test method for potencial alkali reactivity
± 2°C e realizam-se medidas do comprimento a cada dois
RIDJJUHJDWHV±&KHPLFDOPHWKRG´ H$670& ³6WDQ-
GLDV DWp FRPSOHWDUHPVH  GLDV GH HQVDLR  GLDV HP
dard test method for potencial alkali reactivity of aggrega-
NaOH).
tes – Mortar-bar method”) estão entre as mais utilizadas no
mundo. No Brasil, o método mais comum para se avaliar a $ H[SDQVmR p FDOFXODGD FRPR R DXPHQWR SHUFHQWXDO GR
H[SDQVLELOLGDGHGHXPDJORPHUDQWHpDQRUPD1%5 comprimento ao longo do ensaio, de acordo com a seguin-
³&LPHQWR3RUWODQG±'HWHUPLQDomRGDH[SDQVLELOLGDGHGH te análise:
Le Chatelier”). ([SDQV}HVLQIHULRUHVDDRVGLDVVmRLQGLFDWLYDV
O método químico, embora rápido, não é indicado para to- GHFRPSRUWDPHQWRLQyFXRLVWRpDH[SDQVmRpGHVSUH]t-
dos os tipos de agregados, principalmente os que contêm vel;
carbonatos, e não permite uma estimativa do potencial de ([SDQV}HVGHPDLVGHDRVGLDVVmRLQGLFDWLYDV
H[SDQVmRDVVRFLDGRjUHDWLYLGDGHGRDJUHJDGR(14). GHH[SDQVmRSRWHQFLDOPHQWHGHOHWpULD
2PpWRGRGDEDUUDGHDUJDPDVVD $670& EDVHLDVH ([SDQV}HVHQWUHHDRVGLDVVmRGXYLGR-
QDPHGLGDGDVH[SDQV}HVGHEDUUDVGHDUJDPDVVDVFRQ- sas. Para estes casos, é interessante continuar o ensaio
servadas a 38°C em ambiente úmido, sendo considerado DWp RV  GLDV FRP R REMHWLYR GH YHUL¿FDU VH R OLPLWH GH
internacionalmente mais seguro. No entanto, os resultados H[SDQVmRLJXDOpXOWUDSDVVDGR
são obtidos apenas após seis meses de análise e, por isso,
foram propostas algumas alterações para acelerar sua ob- 3DUD D DYDOLDomR GD H[SDQVLELOLGDGH GR DJORPHUDQWH YLD
agulhas de Le Chatelier (NBR 11582), prepara-se uma pas-
tenção, conservando as amostras de argamassa em solu-
ta com consistência normal, segundo a MB 3433 (“Determi-
o}HVDOFDOLQDVHDXPHQWDQGRDWHPSHUDWXUDGHHQVDLRe
nação da água de consistência normal”), preenchendo-se
RFDVRGRVPpWRGRVDFHOHUDGRVGHH[SDQVmRTXHXWLOL]DP
R FLOLQGUR PP GH GLkPHWUR H PP GH DOWXUD  GH RLWR
XPD VROXomR GH FORUHWR GH VyGLR D ƒ& H GRV PpWRGRV
DJXOKDVHGHL[DQGRHPFXUDLPHUVDSRUKRUDV
GH H[SDQVmR XOWUDDFHOHUDGRV FRPR R HQVDLR VXODIULFD-
no NBRI (National Building Research Institute) em que o Após as primeiras 24 horas, medem-se os afastamentos
HQVDLR p UHDOL]DGR D ƒ& H FRQVHUYDomR HP VROXomR GH GDVH[WUHPLGDGHVGDVKDVWHVHFRORFDPVHDVHJXLUTXD-
KLGUy[LGRGHVyGLR 1D2+  tro agulhas em cura a frio durante sete dias e as outras
quatro em cura a quente, em água fervendo, até que não
$QRUPD$670& ³6WDQGDUGWHVWPHWKRGIRUSR-
VHYHUL¿TXHPHPGXDVPHGLo}HVFRQVHFXWLYDVYDULDo}HV
tencial alkali reactivity of aggregates – Mortar-bar method”)
GHDIDVWDPHQWRGDVH[WUHPLGDGHVGDVKDVWHV
é baseada no método sul-africano e foi utilizada no presen-
te estudo. Segundo esta norma, deve ser usada uma areia $H[SDQVLELOLGDGHDIULRWHPSRUREMHWLYRYHUL¿FDUDLQÀXrQ-
JUDGXDGDHDDUJDPDVVDGHYHWHURWUDoR FLD GR 0J2 H D H[SDQVLELOLGDGH D TXHQWH YLVD YHUL¿FDU D
(aglomerante : areia graduada : água). O aglomerante é LQÀXrQFLD GR &D2 2V UHVXOWDGRV DSUHVHQWDGRV VmR XPD
composto apenas pelo cimento na amostra de referência média dos valores observados.

8 POLITÉCNICA
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma característica que chama a atenção é a área super-
¿FLDOGRUHVtGXRGHEDX[LWDEDVWDQWHHOHYDGDRTXHPRV-
3.1. Caracterização das Matérias-primas
WUDVHUHVWHUHVtGXRPXLWRPDLV¿QRTXHRSUySULRFLPHQWR
3.1.1. Cimento Portland e areia
3RUWODQGHRHOHYDGRS+SUy[LPRDROLPLWHGDQRUPD1%5
2FLPHQWR3RUWODQGXWLOL]DGRWHPiUHDVXSHU¿FLDOHVSHFt¿FD 
GH  P2J H VXD PDVVD HVSHFt¿FD IRL LJXDO D  .J 9HUL¿FRXVHDLQGDDGLVWULEXLomRGRWDPDQKRGHSDUWtFXODV
dm3. A composição química do cimento utilizado é apre- e as fases presentes no resíduo. Estes resultados podem
sentada na Tabela 1. A areia utilizada apresentou área su- VHUYHUL¿FDGRVQD)LJXUDHSHORGLIUDWRJUDPDGD)LJXUD
SHU¿FLDO HVSHFt¿FD GH  P2J H PDVVD HVSHFt¿FD 
Kg/dm3'HDFRUGRFRPDQRUPDEUDVLOHLUD1%5HVWD Figura – (A) Distribuição do tamanho de partículas da
DUHLDpFODVVL¿FDGDFRPR³DUHLD¿QD´RXXWLOL]iYHOLQIHULRU lama vermelha seca e desaglomerada (resultado médio
de cinco determinações) e (B) Difratograma de raios X da
Tabela ±&RPSRVLomRTXtPLFD HPy[LGRV GRFLPHQWR3RU-
lama vermelha.
WODQGREWLGDSHODWpFQLFDGHHVSHFWURPHWULDGHÀXRUHVFrQ-
cia de raios X.
(A)
Al2O3 MgO Fe2O3 SO3

   

3.1.2. Lama vermelha

A lama vermelha foi recebida como uma pasta, contendo


FHUFDGHGHiJXDOLYUH1RSUHVHQWHHVWXGRRPDWH-
rial foi seco e moído e então utilizado como um material
em pó.

A composição química da lama vermelha utilizada é apre-


sentada na Tabela 2, enquanto as principais característi-
cas físicas estão mostradas na Tabela 3. A alta concentra- (B)
omRGHFRPSRVWRVIHUURVRVGiDRUHVtGXRGDEDX[LWDXPD
cor vermelha típica.

Tabela 2±&RPSRVLomRTXtPLFD HPy[LGRV GDODPDYHU-


PHOKDREWLGDSHODWpFQLFDGHHVSHFWURPHWULDGHÀXRUHVFrQ-
cia de raios X.

CaO SiO2 K2O

  

Tabela 3 – Resultados de caracterização física e de pH da


lama vermelha seca e desaglomerada.
2EVHUYDVHTXHRGLkPHWURPpGLRGHSDUWtFXODV ' GD
Propriedade Resíduo de Bauxita
ODPD YHUPHOKD p GH FHUFD GH  ȝP &RPR HVSHUDGR
ƌĞĂƐƵƉĞƌĮĐŝĂůĞƐƉĞĐşĮĐĂ ϮϬ͕ϮϳŵϮͬg R KLGUy[LGR GH DOXPtQLR $O 2+ 3), o carbonato de cálcio
(CaCO3 Ry[LGRGHVLOtFLR 6L22 HRy[LGRGHIHUUR )H2O3)
DĂƐƐĂƵŶŝƚĄƌŝĂ Ϭ͕ϲϯŬŐͬĚŵϯ
são os compostos predominantes. No entanto, quantida-
DĂƐƐĂĞƐƉĞĐşĮĐĂ Ϯ͕ϵϬŬŐͬĚŵϯ des relativas de um aluminosilicato de potássio (muscovita
- KAl2(AlSi3O)(F,OH)2) e FeO(OH) são também relevan-
Ɖ,;ϭ͗ϭͿ ϭϮ͕Ϭϰ
WHV$OpPGHVWHVXPDIDVHFRPSOH[DGHVyGLRHDOXPtQLR

9 POLITÉCNICA
ARTIGO
{o carbonato silicato de sódio e alumínio (Na5Al3CSi3O15)} YLGDGH$VVLP DV DPRVWUDV GH UHIHUrQFLD  VHP UHVt-
IRLLGHQWL¿FDGD GXR DSUHVHQWDUDPXPDH[SDQVmRPpGLDLJXDODMi
&RPRREMHWLYRGHYHUL¿FDUDIRUPDGDVSDUWtFXODVGDODPD DRVGLDVFKHJDQGRDDRVGLDV$H[SDQVmR
vermelha após desaglomeração, utilizou-se em um micros- GDDPRVWUDGHUHIHUrQFLD¿FRXEDVWDQWHDFLPDGRYDORUGH
FySLR HOHWU{QLFR GH YDUUHGXUD 0(9 $V PLFURJUD¿DV VmR  YDORUGHUHIHUrQFLDSDUDFRPSRVLo}HVQmRH[SDQ-
mostradas na Figura 2. Como podemos observar, o resíduo sivas).
GHEDX[LWDDSUHVHQWDXPDHVWUXWXUDÀRFXODGDDVVRFLDGDD A adição da lama vermelha, surpreendentemente, reduziu
SODFDVeXPDHVWUXWXUDTXHIDYRUHFHDDGLomRjVPDWUL]HV D H[SDQVLELOLGDGH SURYRFDGD SHOD 5$6 GDV DUJDPDVVDV
FHUkPLFDV SRU VHU VHPHOKDQWH j HQFRQWUDGD QR FLPHQWR 3DUD XPD DGLomR GH  LQFOXVLYH D H[SDQVmR DRV 
Portland. GLDV ¿FRX DEDL[R GRV  2EVHUYDVH QD )LJXUD 
TXHQRVLQVWDQWHVLQLFLDLV SULPHLURVFLQFRGLDV DH[SDQ-
Figura ± 0LFURJUD¿DV GR UHVtGXR GH EDX[LWD REWLGDV SRU são dos corpos de prova contendo lama vermelha foi mais
microscopia eletrônica de varredura (MEV), mostrando sua acentuada do que as amostras de referência. Aparente-
HVWUXWXUDGHÀRFRVPLVWXUDGDDSODFDVVROWDV mente o Na+ livre presente na lama vermelha foi consumi-
do nestes primeiros instantes, na reação com o agregado
UHDWLYRIDYRUHFHQGRXPDPHQRUH[SDQVmRQRVPRPHQWRV
seguintes.

Figura ±&XUYDVGHH[SDQVmRGDVDUJDPDVVDVFRQWHQGR
ODPDYHUPHOKDFRPRDGLomRSDUDDYHUL¿FDomRGDUHDomR
DOFDOLVVtOLFDGHDFRUGRFRPDQRUPD$670&

3.2. Estudo da Reação Álcalis-Sílica (RAS) e Expansibi-


lidade das Argamassas.
Uma grande preocupação quando se pensa em utilizar a
lama vermelha como adição em matrizes cimentícias está
no fato de este resíduo apresentar um elevado teor de ál-
calis, principalmente o sódio. Como mostrado na revisão
de literatura, a RAS é altamente prejudicial à estrutura de
argamassas e concretos. Alguns autores  já demonstraram que entre as alterna-
$UHDomRHQWUHRVKLGUy[LGRVDOFDOLQRVVROXELOL]DGRVQDIDVH WLYDVSDUDUHGX]LUD5$6HVWiDDGLomRGHPDWHULDLVSR]ROk-
líquida dos poros das argamassas e concretos com alguns nicos ativos. Assim a reatividade da lama com o cimento
agregados reativos é lenta e resulta em um gel que, ao se pode ter sido mais relevante positivamente do que a sua
acumular em vazios da matriz e na interface pasta-agrega- elevada presença de álcalis, que contribui negativamente.
GRQDSUHVHQoDGHiJXDVHH[SDQGHH[HUFHQGRSUHVVmR Possivelmente, o fato de a lama vermelha ser rica em só-
LQWHUQD QR PDWHULDO$R H[FHGHU D UHVLVWrQFLD j WUDomR D dio é pouco relevante neste ensaio, já que a solução de
SUHVVmRLQWHUQDSRGHSURPRYHU¿VVXUDo}HV$5$6UHTXHU contato (NaOH 1N) fornece sódio em quantidade mais que
DDWXDomRFRQMXQWDGHiJXDDJUHJDGRUHDWLYRHiOFDOLV   VX¿FLHQWHSDUDD5$6$VVLPDVDPRVWUDVWrPH[SDQVmR
Assim, foram realizados testes para avaliar uma possível VXSHULRU DR OLPLWH GRV  DRV  GLDV SRLV D TXDQWL-
UHDomR H[SDQVLYD (VFROKHXVH R PpWRGR DFHOHUDGR GDV dade de álcalis do material pode ser mobilizada para o
EDUUDV $670& HRGDVDJXOKDVGH/H&KDWHOLHUSRU ataque de sílica reativa nas primeiras 48 horas antes da
serem os mais aceitos internacionalmente. argamassa ser imersa na soda.
Para que os resultados provenientes do método das barras (VWD H[SDQVmR SRXFR SURQXQFLDGD p WDPEpP REVHUYDGD
fossem realçados, utilizou-se uma areia de elevada reati- pela microscopia ótica. Como pode ser observado na Figu-

10 POLITÉCNICA
ARTIGO
UDQmRVHYHUL¿FDPJUDQGHVGLIHUHQoDVHQWUHDVHVSHV- Figura – ([SDQVLELOLGDGH GH SDVWDV GH FLPHQWR 3RUWODQG
suras dos geles formados entre a pasta e o agregado nas contendo diversos teores de lama vermelha, obtidos por
Figuras 5a e 5b (sem resíduo) e as observadas nas Figuras meio das agulhas de Le Chatelier (NBR 11582).
FHG FRQWHQGRGHUHVtGXR 

Figura – 0LFURJUD¿DVyWLFDVGHDPRVWUDVGDVDUJDPDVVDV
de cimento Portland: (A) e (B) sem a presença de resíduo
 H & H ' FRQWHQGRGHUHVtGXRFRPRDGLomR

&RPRGLWRDQWHULRUPHQWHDH[SDQVLELOLGDGHDIULRWHPFRPR
REMHWLYR YHUL¿FDU D LQÀXrQFLD GR 0J2 H D H[SDQVLELOLGDGH
D TXHQWH YLVD YHUL¿FDU D LQÀXrQFLD GR &D2 $VVLP H DR
contrário do esperado para o estudo da RAS, a substituição
do cimento Portland pela lama vermelha tende a reduzir
DH[SDQVLELOLGDGHGH/H&KDWHOLHUXPDYH]TXHRVWHRUHV
GH0J2 QmRGHWHFWDGR H&D2  QHVWHUHVtGXRVmR
razoavelmente inferiores aos encontrados no cimento Por-
WODQG HUHVSHFWLYDPHQWH FRPRIRLPRVWUDGRQDV
Tabelas 1 e 2.
$GLPLQXLomRGDH[SDQVmRFRPDGLomRVXFHVVLYDGDODPD (VWD H[SHFWDWLYD IRL FRQ¿UPDGD SHORV UHVXOWDGRV REWLGRV
vermelha pode ter ocorrido devido a um efeito de dilui- TXH PRVWUDP XPD HYLGHQWH UHGXomR GD H[SDQVLELOLGDGH
ção do teor de cimento, pois o cálcio é fundamental no SDUDDVGXDVFRQGLo}HVGHHQVDLR&RPRHVSHUDGRDH[-
mecanismo da RAS, como demonstram os estudos de SDQVLELOLGDGHDIULRpPXLWREDL[DXPDYH]TXHWDQWRDODPD
BLESZYNSKISND et al.(19) e SHEHATA et al.  . A mini- YHUPHOKD TXDQWR R FLPHQWR DSUHVHQWDP EDL[RV WHRUHV GH
PL]DomR GD H[SDQVmR UHODFLRQDGD j UHGXomR GR WHRU GH 0J2 H D H[SDQVLELOLGDGH D TXHQWH DSUHVHQWD XPD TXHGD
KLGUy[LGRGHFiOFLRQDDUJDPDVVDTXHGLPLQXLXFRPRDX- DFHQWXDGDGH UHIHUrQFLD SDUD GHODPD
PHQWRGRWHRUGHDGLo}HVSR]ROkQLFDVDWLYDVQRFLPHQWRIRL YHUPHOKD RTXHUHÀHWHDGLIHUHQoDFRQVLGHUiYHOQRVWHR-
YHUL¿FDGDHPH[WHQVLYRHVWXGRUHDOL]DGRSRU081+2=  . UHV GH &D2 HQWUH R FLPHQWR 3RUWODQG H R UHVtGXR 
FRQWUD 
Resultados semelhantes aos apresentados na Figura 5 $VVLPSRGHPRVREVHUYDUTXHDVUHDo}HVH[SDQVLYDVGRV
haviam sido obtidos por GARCÍA-LODEIRO et al.(21) que, ao álcalis presentes na lama vermelha (Na+ e Ca+) não com-
DGLFLRQDUHP FLQ]DV YRODQWHV PDWHULDO SR]ROkQLFR  DR FRQ- prometem o uso deste resíduo em substituição parcial do
FUHWR REVHUYDUDP XPD H[SDQVmR PHQRU HP FRPSDUDomR cimento Portland para aplicações secundárias.
às amostras de referência. Coincidentemente, os estudos
de MUNHOZ  mostram que o teor mínimo de adição de 4. CONCLUSÕES
SR]RODQDDWLYDSDUDTXHD5$6VHMDPLWLJDGDpHQWUHH Após a análise dos resultados apresentados, pode-se con-
1RSUHVHQWHHVWXGRIRLREVHUYDGRTXHHVWHYDORUpGH cluir que:
FHUFDGH zContrariamente ao esperado, a lama vermelha não
Além do método das barras, buscou-se avaliar as possíveis DXPHQWDDH[SDQVmRGDVDUJDPDVVDVSHODUHDomRiOFDOLV
UHDo}HVH[SDQVLYDVUHVXOWDQWHVGDXWLOL]DomRGDODPDYHU- sílica (RAS). Este fenômeno pode estar associado a um
PHOKDSRUPHLRGRPpWRGRGHH[SDQVLELOLGDGHGH/H&KDW- efeito de diluição do teor de cálcio no aglomerante, pois
elier. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 5. este elemento é fundamental no mecanismo da RAS;

11 POLITÉCNICA
ARTIGO
zA presença da lama vermelha proporciona uma -RXUQDORIWKH(XURSHDQ&HUDPLF6RFLHW\YQS±

UHGXomRQDH[SDQVLELOLGDGHSURYHQLHQWHGDUHDomRFRPR <$/&,116(91,&98WLOL]DWLRQRIEDX[LWHZDVWHLQFHUDPLFJOD]HV
MgO e o CaO do aglomerante para as duas condições de &HUDPLFV,QWHUQDWLRQDOYQS
ensaio (a frio e a quente);
z$VUHDo}HVH[SDQVLYDVGRViOFDOLVSUHVHQWHVQDODPD
11. ASOKAN, P.; SAXEAN, M.; ASOLEKAR, S.R. Coal combustion re-
sidues-environmental implications and recycling potentials. Resources,
&RQVHUYDWLRQDQG5HF\FOLQJYQS
vermelha (Na+ e K+) não comprometem o uso deste
resíduo em substituição parcial do cimento Portland para *25'21-13,112&.:50225(00$SUHOLPLQDU\LQYHVWL-
gation of strength development in Jamaican red mud Composites. Cement
aplicações secundárias.
DQG&RQFUHWH&RPSRVLWHVYQS

13. MEHTA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e


materiais. São Paulo: PINI, 1994. 249 p.
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 $1'5,2/2 )5 2EVHUYDomR GH HVWUXWXUDV GH FRQFUHWR 9DOLGDGH
 *ODVVHU )3 )XQGDPHQWDO DVSHFWV RI FHPHQW VROLGL¿FDWLRQ DQG VWDEL- quanto à ocorrência da reação alkali-agregado. In: SIMPÓSIO SOBRE
OL]DWLRQ-RXUQDORI+D]DUGRXV0DWHULDOVYQS REATIVIDADE ÁLCALI-AGREGADO EM ESTRUTURAS DE CONCRE-
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-RXUQDORI+D]DUGRXV0DWHULDOYQS iOFDOLVtOLFDHiOFDOLVLOLFDWRS'LVVHUWDomR 0HVWUDGRHPFRQV-
trução civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo,
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&$%(=$HWDO5HGPXGDVDFRUURVLRQLQKLELWRUIRUUHLQIRUFHGFRQFUH- ±
WH7KH-RXUQDORI&RUURVLRQ6FLHQFHDQG(QJLQHHULQJYQS
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alkali–silica reaction in Fly-ash Concrete immersed in alkaline solutions.
$05,73+$/(66HWDO$QRYHOSURFHVVIRUPDNLQJUDGLRSDTXHPDWH- $GYDQFHG&HPHQW%DVHG0DWHULDOVYQS±
ULDOVXVLQJEDX[LWH²5HGPXG-RXUQDORIWKH(XURSHDQ&HUDPLF6RFLHW\
YQS 6+(+$7$0+7+20$60'$7KHHIIHFWRIÀ\DVKFRPSRVLWLRQ
RQ WKH H[SDQVLRQ RI FRQFUHWH GXH WR DONDOL±VLOLFD UHDFWLRQ &HPHQW DQG
$05,73+$/(663$7(/08WLOLVDWLRQRIUHGPXGÀ\DVKIRUPDQX- &RQFUHWH5HVHDUFKYQS±
IDFWXULQJEULFNVZLWKS\URSK\OOLWH6LOLFDWHV,QGYQS
*$5&Ë$/2'(,52,3$/202$)(51È1'(=-,0e1(=$$OND-
9,1&(1=2065(1=&67()$120*,29$11,&%DX[LWHUHG OL±DJJUHJDWHUHDFWLRQLQDFWLYDWHGÀ\DVKV\VWHPV&HPHQWDQG&RQFUHWH
mud in the ceramic industry. Part 2: production of clay based ceramics. 5HVHDUFKYQS±

12 POLITÉCNICA
ARTIGO

Fazer saneamento ambiental em


Salvador de outra forma é possível
Luiz Roberto Santos Moraes mulação e implementação (concretização) da política e do PMSB,
considerando os princípios fundamentais estabelecidos pelas re-
Resumo: O artigo apresenta uma breve análise situacional dos
feridas Leis e a participação e o controle social, fazer saneamento
serviços públicos de saneamento de Salvador-BA, e a necessidade
em Salvador de outra forma é possível.
de formulação e implementação (ou concretização) de política de
saneamento, bem como de elaboração e implementação do Plano Palavras-chave: Saneamento ambiental, política municipal de
Municipal de Saneamento Básico-PMSB, conforme estabelecido saneamento, Salvador.
SHOD/HLQR /HL1DFLRQDOGH6DQHDPHQWR%iVLFR H
SHOD/HLQR 3ODQR'LUHWRUGH'HVHQYROYLPHQWR8UEDQR Abstract: A brief situational analysis of public sanitation in Salva-
do Município do Salvador). Ele também analisa as variações na dor, Bahia, and the need to formulate and implement sanitation
OHJLVODomR UHODWLYD DR DVVXQWR RFRUULGDV QRV ~OWLPRV  RX PDLV policy, as well as development and implementation of the Munici-
anos, e propõe medidas para satisfazer as necessidades, atuais e pal Plan of Basic Sanitation-PMSB, as established by Law 11,445
futuras, de serviços públicos de saneamento básico à população   1DWLRQDO %DVLF 6DQLWDWLRQ /DZ  DQG WKH /DZ 
do município de Salvador. O artigo indica que, por meio da for- (Urban Development Plan of the Municipality of Salvador) is pre-

13 POLITÉCNICA
ARTIGO
sented. The paper also analyzes the changes in the legislation on dever de todos os seres humanos e obrigação do Estado,
WKHVXEMHFWGXULQJWKHODVW\HDUVRUPRUHDQGSURSRVHVPHD- DVVHJXUDGDSRUSROtWLFDVS~EOLFDVHVRFLDLVSULRULGDGHV¿-
sures to meet the needs, current and future, of public services of
QDQFHLUDV WHFQRORJLDV DSURSULDGDV H H¿FLrQFLD JHUHQFLDO
basic sanitation to the population of the city of Salvador. It indicates
that, through the formulation and implementation of policy and of que viabilizem o acesso universal e igualitário aos bene-
the PMSB considering the fundamental principles established by fícios do saneamento ambiental. Ela pode ser entendida
these laws and social participation and control, making sanitation como o estado de qualidade ambiental capaz de prevenir a
in Salvador is otherwise possible.
ocorrência de doenças relacionadas ao ambiente e de pro-
Keywords: Environmental sanitation, policy of municipal sanita- mover as condições ecológicas favoráveis ao pleno gozo da
tion, Salvador. saúde e do bem-estar da população.

As ações de saneamento conformam uma série de me-


INTRODUÇÃO didas que promovem a salubridade ambiental e a saúde,
contribuem para a promoção da disciplina sanitária do uso
O conceito de saneamento, como qualquer outro, vem sen-
e ocupação do solo urbano e são também essenciais no
do socialmente construído ao logo da história da humanida-
meio rural. Abrangem o abastecimento de água, o manejo
de, em função das condições materiais e sociais de cada
DGHTXDGRGHH[FUHWDVKXPDQRVHVJRWRVVDQLWiULRVRXWURV
época, do avanço do conhecimento e da sua apropriação
resíduos líquidos e de resíduos sólidos, a drenagem e o
pela população. A noção de saneamento assume conteú-
manejo de águas pluviais urbanas, o controle ambiental de
GRVGLVWLQWRVHPFDGDFXOWXUDHPYLUWXGHGDUHODomRH[LV-
vetores e reservatórios de doenças transmissíveis, a pre-
tente entre homem/natureza e também em cada classe so-
YHQomR H R FRQWUROH GD TXDOLGDGH GR DU H GR H[FHVVR GH
cial, relacionando-se, nesse caso, às condições materiais
UXtGRVHGHHPLVV}HVFDORUt¿FDOXPtQLFDHOHWURPDJQpWLFD
GH H[LVWrQFLD H DR QtYHO GH LQIRUPDomR H FRQKHFLPHQWR
e radioativa e, mesmo, a preocupação com a melhoria das
025$(6%25-$ 
condições de habitação e a educação sanitária e ambiental.
A percepção de que boa parte das doenças e agravos à Atualmente, utiliza-se o conceito mais amplo de saneamen-
saúde é relacionada a pouca quantidade e/ou à qualidade to ambiental.
duvidosa da água utilizada; ao contato com água poluída;
A promoção e melhoria da saúde da população e da salu-
DRVH[FUHWRVKXPDQRVUHVtGXRVOtTXLGRVHVyOLGRVGLVSRV-
bridade ambiental na cidade passam também pelo acesso
tos no ambiente de forma inadequada; as águas de chuvas
às ações e serviços públicos de saneamento ambiental. O
empoçadas ou causando inundações; ao ar alterado em
(VWDWXWR GD &LGDGH /HL QR   HQWHQGH R GLUHL-
VXDTXDOLGDGHHDRH[FHVVRGHUXtGRVHGHHPLVV}HVFD-
to ao saneamento ambiental, para as presentes e futuras
ORUt¿FDHOHWURPDJQpWLFDHUDGLRDWLYDIH]QDVFHUDLGHLDGH
gerações, como parte do direito a cidades sustentáveis,
saneamento, ou seja, o ato de tornar o espaço são, habitá-
LPSRUWDQWHGLUHWUL]GDSROtWLFDXUEDQD %5$6,/ $IRU-
YHOKLJLrQLFRVDOXEUHVDXGiYHOGH¿QLGRSHOD2UJDQL]DomR
mulação e a implementação (ou concretização) de política
Mundial da Saúde como o controle de todos os fatores do
pública municipal de saneamento, de forma democrática e
PHLRItVLFRGRKRPHPTXHH[HUFHPRXSRGHPH[HUFHUHIHL-
integrada, torna-se necessário para reduzir as desigualda-
tos deletérios sobre seu bem-estar físico, mental ou social,
des sociais e intra-urbanas e proporcionar a todos os cida-
¿FDQGRFODUDDVXDUHODomRFRPRDPELHQWHHFRPDSURWH-
dãos o acesso, com qualidade, a essas ações e serviços
omRHSURPRomRGDVD~GH 025$(6 
essenciais. Infelizmente, isso não vem sendo observado
Pode-se perceber que, ao longo do tempo, as preocupa- em Salvador.
ções no campo do saneamento passam a incorporar não
O artigo tem como objetivos apresentar uma breve análise
só questões de ordem sanitária, mas também ambiental. A
situacional dos serviços públicos de saneamento de Salva-
visão antropocêntrica de antes, perde um pouco a sua força
dor-BA, e indicar a necessidade de formulação e implemen-
e dá lugar a uma nova perspectiva da relação sociedade-
tação, de forma participativa, da política de saneamento,
-ambiente. Certamente, por isso, o conceito de saneamento
EHP FRPR GD HODERUDomR H H[HFXomR GR 3ODQR 0XQLFLSDO
passa a ser tratado em termos de saneamento, saneamen-
de Saneamento Básico-PMSB, conforme estabelecido pela
to básico e saneamento ambiental.
/HLQR /HL1DFLRQDOGH6DQHDPHQWR%iVLFR H
Garantir a salubridade ambiental, indispensável à seguran- SHOD/HLQR 3ODQR'LUHWRUGH'HVHQYROYLPHQWR
ça sanitária e à melhoria da qualidade de vida, é direito e Urbano do Município do Salvador).

14 POLITÉCNICA
ARTIGO
PERCURSO METODOLÓGICO ADOTADO PARA TXDOL¿FDomR GR JDVWR S~EOLFR H IRUPXODomR GH DUFDERXoR
ELABORAÇÃO DO ARTIGO jurídico-institucional que fortaleça o princípio da função so-
cial dos serviços públicos de saneamento ambiental, bem
Para a elaboração do artigo foi realizada revisão crítica da
como os princípios da universalidade, equidade, integrali-
ELEOLRJUD¿DFRQVXOWDGDEHPFRPRIRLWDPEpPFRQVLGHUDGD
dade, intersetorialidade e de participação e controle social.
DH[SHULrQFLDGRDXWRUQDiUHD
'HDFRUGRFRPD&RQVWLWXLomR)HGHUDO$UW9pFRPSH-
tência dos municípios [...] “organizar e prestar, diretamen-
RESULTADOS E DISCUSSÃO te ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços
As condições de saneamento em Salvador ainda são mui- S~EOLFRVGHLQWHUHVVHORFDO´ %5$6,/S $VVLP
to precárias. Estudos realizados pela Universidade Federal a responsabilidade pela organização e prestação dos ser-
GD %DKLD QR SHUtRGR  LQGLFDP TXH HPERUD D viços públicos de saneamento básico é do município. No
cobertura da rede de distribuição de água, segundo dados caso de Salvador, o Governo Municipal, desde 1925, trans-
R¿FLDLVDWLQMDGDSRSXODomRGD&LGDGHDTXDOLGDGH feriu em lei a prestação dos serviços públicos de água e
esgoto para o Governo do Estado da Bahia, assinando Ter-
da água distribuída em alguns bairros ainda apresenta pro-
mo de Acordo por tempo indeterminado em 1929 (BAHIA,
blemas; o fornecimento de água é intermitente e a desigual-
1925a, 1925b, 1929).
dade no acesso ao serviço é uma realidade, principalmente,
na periferia da Cidade. Com relação ao esgotamento sani- Atualmente, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento
WiULRDSHVDUGRHOHYDGRPRQWDQWHGHUHFXUVRV¿QDQFHLURV S.A.- EMBASA é a prestadora dos serviços públicos de
LQYHVWLGRVQRV~OWLPRVDQRVSHOR*RYHUQRGR(VWDGRGD abastecimento de água e esgotamento sanitário em Salva-
Bahia, a cobertura com rede pública de esgotamento sani- dor, embora os serviços tenham sido prestados ao longo
WiULRDWLQJHDGDSRSXODomRHRVULRVXUEDQRVFRQWLQX- GRVDQRVVHPUHJXODomRH¿VFDOL]DomRHVHPXPFRQWUDWR
am poluídos. O problema da drenagem de águas pluviais, o de concessão/programa entre o Município e a EMBASA.
manejo e a gestão dos diferentes resíduos sólidos gerados Em dezembro de 1999, o Governo Municipal aprovou a Lei
DLQGDQmRRWLPL]DGRVRH[FHVVRGHHPLVV}HVDWPRVIpULFDV QRSDUDTXHR0XQLFtSLR¿UPDVVHFRQYrQLRFRP
H GH UXtGRV HP DOJXPDV iUHDV GD &LGDGH WDPEpP FRQ¿- o Governo do Estado da Bahia para a desestatização da
JXUDPVHHPXPDUHDOLGDGHTXHQHFHVVLWDVHUPRGL¿FDGD EMBASA, com vistas ao seu processo de privatização en-
Assim, a situação dos serviços públicos de saneamento tão em curso. Devido à grande pressão popular junto ao
em Salvador está distante de preencher os requisitos de 3RGHU([HFXWLYR0XQLFLSDOD/HLIRLUHYRJDGDHPPDUoRGH
um serviço público justo do ponto de vista social, uma vez $SHQDVHPGH]HPEURGHpTXHR0XQLFtSLRHR
que uma boa parcela dos moradores da Cidade ainda não (VWDGR¿UPDUDP&RQYrQLRGH&RRSHUDomRSDVVDQGRDUH-
dispõe de serviço de esgotamento sanitário; moradores da JXODomRH¿VFDOL]DomRGHVVHVVHUYLoRVDLQGDGHIRUPDSUH-
periferia urbana continuam submetidos ao abastecimento cária, para a então CORESAB, atual Agência Reguladora
público de água intermitente; a qualidade da água ainda se de Saneamento Básico do Estado da Bahia-AGERSA e, em
apresenta, em alguns bairros, com inconformidades, sem PDLRGHD&kPDUD0XQLFLSDODSURYRXOHLDXWRUL]DQGR
atender aos padrões de potabilidade vigentes; e persistem R0XQLFtSLR¿UPDUFRQWUDWRGHSURJUDPDFRPD(0%$6$R
carências profundas no campo da drenagem e manejo de que até agora não aconteceu.
águas pluviais e da limpeza urbana e manejo de resíduos Por seu lado, a Prefeitura Municipal de Salvador-PMS apre-
sólidos. Apesar dos investimentos realizados nas últimas VHQWDGH¿FLrQFLDVHPVXDHVWUXWXUDLQVWLWXFLRQDOQDiUHDGH
décadas, uma boa parcela da população ainda encontra-se saneamento. Atualmente, as ações de saneamento estão
H[FOXtGDGRVVHUYLoRVUHYHODQGRDQHFHVVLGDGHQmRVyGH sob a responsabilidade de diversos órgãos e Secretarias.
mais investimentos, bem como de: utilização de tecnologias A Secretaria de Urbanismo e Transporte-SEMUT assume
apropriadas às realidades socioambientais, com ênfase no a responsabilidade pelos projetos e obras de drenagem de
uso racional da água, na não geração ou na minimização da águas pluviais e de redes de esgoto implantados pela PMS.
geração de esgotos, resíduos sólidos, emissões atmosféri- $LQGDQHVVD6HFUHWDULDDVDo}HVGH¿VFDOL]DomRGHSURMH-
cas e ruídos, na utilização do saneamento ecológico/ecos- WRVH[HFXomRGHREUDVGHGUHQDJHPXUEDQDHGHPDQXWHQ-
saneamento e da permacultura; gestão integrada dos ser- omR¿FDPDFDUJRGD6XSHULQWHQGrQFLDGH&RQVHUYDomRH
viços; apropriação dos serviços pelos usuários cidadãos; Obras Públicas do Salvador-SUCOP. A limpeza pública no

15 POLITÉCNICA
ARTIGO
Município é de responsabilidade da Secretaria de Ordem SDUDTXHD(0%$6$SXGHVVH¿UPDUFRQWUDWRGHSURJUDPD
Pública-SEMOP que terceirizou a totalidade dos serviços com o Município, atropelando a discussão com a popula-
prestados diretamente por meio da Empresa de Limpeza omR ORFDO H[LJrQFLD HVWDEHOHFLGD QD UHIHULGD /HL H QD /HL
Urbana do Salvador - LIMPURB, agora responsável pela QR7DO3ODQRIRLDSURYDGRSRUOHLHPPDLRGH
GH¿QLomRGDVSROtWLFDV¿VFDOL]DomRHFRQWUROHGRVVHUYLoRV  (QFRQWUDPVH DWXDOPHQWH HP HODERUDomR DV SDUWHV
de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos (SALVA- do Plano Municipal de Saneamento Básico referentes aos
'25E  componentes Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urba-
nas e Manejo de Resíduos Sólidos e de Limpeza Urbana.
$VDo}HVGH9LJLOkQFLDGD4XDOLGDGHGDÈJXDSDUD&RQVX-
3HODOHLGHPDLRGHR3RGHU([HFXWLYR¿FDYDREULJD-
mo Humano estão sob a responsabilidade da Coordenado-
GRDHQFDPLQKDUj&kPDUD0XQLFLSDODWpGHMXQKRGH
ria de Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde-
3URMHWRGH/HLFRPREMHWLYRGHHGLWDUR3ODQR0XQLFL-
-SMS e as ações de controle de vetores transmissores de
pal de Saneamento Básico de Salvador, mediante a conso-
doenças é de responsabilidade de sua Subcoordenadoria
lidação dos Planos Setoriais de: I – Abastecimento de Água
de Controle de Zoonoses, enquanto as ações de controle
e Esgotamento Sanitário; II – Drenagem e Manejo de Águas
de emissões atmosféricas e de qualidade do ar, bem como
Pluviais Urbanas, e III – Manejo de Resíduos Sólidos e de
GHH[FHVVRGHUXtGRVHVWmRDFDUJRGD6HFUHWDULDGD&L-
Limpeza Urbana, o que até hoje não aconteceu.
dade Sustentável-SECIS e Superintendência de Controle e
Ordenamento do Uso do Solo do Município-SUCOM, res- Além da fragilidade jurídico-institucional, constata-se que
SHFWLYDPHQWH 6$/9$'25E  RFRUSRWpFQLFRHJHUHQFLDOGD306pLQVX¿FLHQWHSDUDRV
JUDQGHVGHVD¿RVGD&LGDGHHPWHUPRVGHVDQHDPHQWREi-
$/HL2UJkQLFDGR0XQLFtSLR/20HVWDEHOHFHHPVHX$UW
VLFR 6RPDVH D LVVR D LQH[LVWrQFLD GH LQLFLDWLYDV SDUD D
TXH³23RGHU([HFXWLYRHODERUDUiHRSHUDUiXP3OD-
contratação e capacitação de pessoal.
QR 'LUHWRU GH 6DQHDPHQWR D VHU DSURYDGR SHOD &kPDUD
Municipal e obrigatório para as empresas concessionárias Essa realidade fez com que não houvesse qualquer atitu-
ou permissionárias dos serviços públicos, que o deverão GHGD306HPH[HUFHURVHXSRGHUGHGHOHJDomRMXQWRD
atender rigorosamente, não sendo permitida a renovação EMBASA, cuja relação, normalmente, se dá em torno de
da concessão ou permissão nos casos de infrações” (SAL- TXHVW}HVUHODFLRQDGDVDRVFRQÀLWRVJHUDGRVSHODVREUDVQD
9$'25S HD/HLQR 3''8  &LGDGH3RUH[HPSORGXUDQWHRVQRYHDQRVGDLPSODQWDomR
mesmo oriunda de um processo pouco participativo, não do Programa Bahia Azul em Salvador e, mais recentemen-
te, durante a implantação do Sistema de Disposição Oce-
DWHQGHQGR DR (VWDWXWR GD &LGDGH /HL QR  
kQLFDGR-DJXDULEH žHPLVViULRVXEPDULQRGD&LGDGH D
FRQWHPSODHPVHXV$UWDDSDUWLUGHFRQWULEXLo}HV
PMS não teve qualquer tipo de envolvimento, a não ser por
da sociedade civil, dispositivos importantes sobre o sanea-
meio de um convênio para pavimentar os logradouros pú-
mento básico como: o que estabelece que o Município ins-
EOLFRVGDQL¿FDGRVSHODVLQWHUYHQo}HVGDVREUDVHSRUID]HU
tituirá Política Municipal de Saneamento Básico; a criação
aprovar no Conselho Municipal de Meio Ambiente-COMAM
do Sistema Municipal de Saneamento Básico e de órgão
a licença ambiental para as obras.
PXQLFLSDOUHJXODGRUH¿VFDOL]DGRUGRVVHUYLoRVD&kPDUD
Temática de Saneamento Básico do Conselho Municipal A normatização e o controle dos serviços públicos de sane-
de Salvador; o Fundo Municipal de Saneamento Básico (já amento básico devem estar sempre sob a absoluta tutela do
LQVWLWXtGR SHOD OHL DSURYDGD HP PDLR GH   H R EDQFR Poder Público e da população local, defendendo seus reais
de dados sobre saneamento básico integrado ao Sistema LQWHUHVVHVHLPSHGLQGRRVPRQRSyOLRVWpFQLFRH¿QDQFHLUR
de Informações Municipal-SIM Salvador, e nos Art. 98 a 2 SURFHVVR GH ¿VFDOL]DomR H FRQWUROH GRV VHUYLoRV EHP
FRPRDWUDQVSDUrQFLDQDH[HFXomRHDORFDomR GRVUHFXU-
GLUHWUL]HVSDUDRVFRPSRQHQWHVGRVDQHDPHQWREiVLFR
sos, não pode fugir das mãos dos mesmos. Nesse sentido,
6$/9$'25D 
tornam-se necessários o estabelecimento de mecanismos
Porém, até o momento, Salvador não dispõe de sua política e processos institucionais apropriados, que possibilitem um
municipal de saneamento básico, dispondo apenas de um real e democrático controle por parte do Poder Público e
Plano de Água e Esgotos, elaborado de forma apressada, GDSRSXODomRVREUHRSODQHMDPHQWRDUHJXODomRD¿VFD-
visando, principalmente, atender ao estabelecido na Lei no OL]DomRDH[HFXomRGDVDo}HVHDSUHVWDomRGRVVHUYLoRV
 %5$6,/   H SURSRUFLRQDU DV FRQGLo}HV públicos de saneamento básico.

16 POLITÉCNICA
ARTIGO

A legislação relacionada às ações e serviços públicos de FLVDVHULQVWDODGR 6$/9$'25D &RPRUHVXOWDGRRV


saneamento, tanto aquela que regula institucionalmente a LQYHVWLPHQWRVFHUWDPHQWHVHULDPDPSOLDGRVHTXDOL¿FDGRV
área, quanto à articulação inter-setorial e interdisciplinar, in- o acesso da população aos serviços públicos de saneamen-
cluindo normas e padrões de qualidade sanitária e ambien- to aumentaria em direção à universalização e à qualidade
tal, na medida em que incorpore efetivamente sua relação dos serviços e a relação prestador público do serviço-usuá-
com o ambiente e a saúde, poderá contribuir para potencia- ULRFLGDGmRWHQGHULDDPHOKRUDUVLJQL¿FDWLYDPHQWH
lizar seus benefícios e deverá ser utilizada pela PMS.

O Município de Salvador necessita de Política Municipal de


CONCLUSÃO
Saneamento Básico e seus instrumentos, construída por
meio de processo democrático e participativo e instituída 2JUDQGHGHVD¿RTXHVHFRORFDSDUDR3RGHU3~EOLFRHRV
SRUOHL7DO3ROtWLFDGHYHULDHVWDEHOHFHUSRUH[HPSORTXH diversos segmentos da sociedade soteropolitana, está na
caso o Município resolvesse conceder os serviços públicos construção de uma nova ordem socioambiental pautada na
de saneamento básico para a iniciativa privada, além de lei ética, justiça social, justiça ambiental, solidariedade, transpa-
autorizativa seria necessário o referendo popular por meio rência, tecnologias apropriadas, integração das ações/servi-
de plebiscito, com aprovação de dois terços dos votantes. ços e interinstitucional, e participação e controle social, que
&RPRHVWDEHOHFLGRQD/HLQRWDO3ROtWLFDGHYHULD venha praticar, em relação às ações e serviços públicos de
saneamento básico, política baseada nos referidos aspectos.
criar como instrumento básico o Sistema Municipal de Sa-
neamento Básico, integrado ao Sistema Municipal de Pla- Assim, urge em Salvador a formulação e instituição, por lei,
nejamento e Gestão-SMPG, e composto de Plano Municipal de política municipal de saneamento básico, como estabe-
de Saneamento Básico, Fundo Municipal de Saneamento OHFLGR SHOD /HL QR  H SHOD /HL QR 
Básico e de Sistema de Informações em Saneamento Bá- sistêmica, articulada com as políticas de saúde, meio am-
sico integrado ao Sistema de Informações Municipal (SIM biente/águas, desenvolvimento urbano, habitação de inte-
Salvador), além de contar com instrumentos de participação resse social e trabalho, emprego e renda, dentre outras,
e controle social, como a Conferência Municipal de Salvador que contemple os princípios de universalidade, equidade,
HD&kPDUD7HPiWLFDGH6DQHDPHQWR%iVLFRGR&RQVHOKR integralidade, intersetorialidade, sustentabilidade, quali-
Municipal de Salvador, este último de caráter deliberativo, dade dos serviços, transparência das ações, utilização de
FRQVXOWLYRH¿VFDOL]DGRUFRQWDQGRQDVXDFRPSRVLomRFRP tecnologias apropriadas e gestão pública, assegurando a
a participação do Poder Público e, de forma majoritária, com participação e o controle social na sua formulação, imple-
representantes de organizações da sociedade civil, que pre- mentação e avaliação.

17 POLITÉCNICA
ARTIGO

7DOGHVD¿RLPSOLFDWDPEpPQDQHFHVVLGDGHGRH[HUFtFLRGH e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Ur-


cooperação entre os entes federados: o município de Sal- EDQLVPR8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGD%DKLD6DOYDGRU

vador, que pela Constituição Federal é o titular dos servi- %5$6,/ /HL QR  GH  GH DEULO GH  ³'LVS}H VREUH
ços públicos de saneamento básico; o estado da Bahia por normas gerias de contratação de consórcios públicos e dá outras
meio de sua empresa estatal, a EMBASA - delegatária dos SURYLGrQFLDV´SXEOLFDGDQR'28GH
serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento
%5$6,//HLQRGHGHMDQHLURGH³(VWDEHOHFHDV
sanitário -, da Companhia de Desenvolvimento Urbano do diretrizes nacionais sobre o Saneamento Básico; altera a ... e dá
Estado da Bahia-CONDER e do Instituto do Meio Ambiente RXWUDVSURYLGrQFLDV´SXEOLFDGDQR'28GH
e Recursos Hídricos-INEMA; e a União, dando cumprimen-
%5$6,//HLQRGHGHMXOKRGH³5HJXODPHQWDRV
WR j /HL QR  TXH HVWDEHOHFH DV GLUHWUL]HV QD-
arts. 182 e 183 da Constituição Federal e estabelece diretrizes
cionais para o saneamento básico e para a Política Federal gerais da política urbana e dá outras providências”, publicada no
de Saneamento Básico, por meio de programas, projetos e '28GH
ações federais relacionados à área.
%5$6,/&RQVWLWXLomR7H[WR&RQVWLWXFLRQDOGHGHRXWXEUR
Desse modo, fazer saneamento em Salvador de outra for- de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucio-
QDLVQRVDH(PHQGDV&RQVWLWXFLRQDLVGH5HYLVmR
ma, diferente daquelas realizadas até aqui, é possível!
QRVD%UDVtOLD6HQDGR)HGHUDO6XEVHFUHWDULDGH(GLo}HV
E-mail de contato: 7pFQLFDV

MORAES, Luiz Roberto Santos; BORJA, Patrícia Campos. Políti-


Escola Politécnica da UFBA/Mestrado em Meio Ambiente,
FDGH6DQHDPHQWRQR%UDVLO6DOYDGRU5H&(6$1mRSX-
Águas e Saneamento –
blicado.
moraes@ufba.br ou lrsmoraes@gmail.com
MORAES, Luiz Roberto Santos. A necessidade de formulação e
implementação, de forma democrática e integrada, de políticas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS públicas de saneamento ambiental. Documento preparado para a
%$+,$ /HL Qƒ  GH  &ULD D 6XE6HFUHWDULD GH 1ª. Conferência das Cidades da Bahia, etapa preparatória da 1ª.
Saúde e Assistência Social. Salvador, 1925a. &RQIHUrQFLD1DFLRQDOGDV&LGDGHVUHDOL]DGDHPH
QR &HQWUR GH &RQYHQo}HV GD %DKLD 6DOYDGRU  1mR SXEOL-
%$+,$7HUPRGH$FRUGR¿UPDGRHQWUHR(VWDGRHR0XQLFtSLRGH cado.
Salvador objetivando a administração dos Serviços de Águas e
Esgoto da capital pelo Estado. Salvador, 1925b. SALVADOR. Órgãos Municipais. Disponível em: www.salvador.
EDJRYEU$FHVVRHPMXOE
%$+,$7HUPRGH$FRUGR¿UPDGRHQWUHR(VWDGRGD%DKLDHR0X-
nicípio de Salvador objetivando alterar a cláusula do Termo Aditivo 6$/9$'25/HLQRGHGHIHYHUHLURGH³'LVS}HVR-
¿UPDGRHPVREUHRSUD]RGHDGPLQLVWUDomRGRV6HUYL- bre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município do
ços de Águas e Esgoto da capital pelo Estado, passando o mesmo 6DOYDGRU3''8  H Gi RXWUDV SURYLGrQFLDV´ 'LVSRQtYHO HP
a ser indeterminado. Salvador, 1929. ZZZVDOYDGRUEDJRYEU$FHVVRHPMDQD

BORJA, Patrícia Campos. Política de Saneamento, Instituições Fi- 6$/9$'25/HL2UJkQLFDGR0XQLFtSLRGR6DOYDGRU(GLomRFRQ-


nanceiras Internacionais e Mega Programa: Um Olhar através do VROLGDGDDWpD(PHQGDQRPDLRGH'LVSRQtYHOHPZZZ
3URJUDPD%DKLD$]XOI7HVH 'RXWRUDGRHP$UTXLWHWXUD FPVEDJRYEU$FHVVRHPMDQ

18 POLITÉCNICA
ARTIGO

Efeitos da Urbanização Sobre os


Padrões de Vento.
Vivian de Oliveira Fernandes1 Keywords: :LQG ODQG XVH URXJKQHVV OHQJWK UHPRWH VHQVLQJ
$OH[DQGUH$TXLQRGD&XQKD2 urban climate.
0DXUR-RVp$OL[DQGULQL-XQLRU3
INTRODUÇÃO
Lucimary Moreira Gomes Cardoso4
A cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, pos-
VXLDSUR[LPDGDPHQWHPLOK}HVKDELWDQWHV ,%*( 
Resumo: Este artigo é parte integrante de um projeto de disser- GLVWULEXtGRVHPXPDiUHDSHQLQVXODUGHNPFXMDDO-
tação no qual aborda o efeito dos padrões de vento na cidade de WLWXGHDOFDQoDRVPHWHPRFOLPDFODVVL¿FDGRFRPR
Salvador. quente e úmido.

Palavras-chave: Vento, ocupação do solo, comprimento de rugo- 1RV~OWLPRVDQRV6DOYDGRUWHYHRVHXFUHVFLPHQWRXU-


sidade, sensoriamento remoto, clima urbano. EDQRPDLVLQWHQVL¿FDGRRXVHMDFUHVFHXDVXEVWLWXLomRGH
iUHDVYHUGHVSRUXPD]RQDXUEDQDHGL¿FDGDDOWHUDQGRR
Abstract: This paper is part of a master project which analyses the relevo, impermeabilizando uma área maior do solo, dimi-
wind patterns that affect the city of Salvador, Bahia, Brazil. QXLQGRRÀX[RGHFDORUVHQVtYHOUHVSRQViYHOSHOREDODQoR

1 – Engenheira Cartógrafa, Mestre e Doutora em Engenharia Civil e Doutora em Engenharia Civil. Professora Adjunta do Departamento
de Engenharia de Transportes e Geodésia da UFBA e Membro Permanente do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana.

2 – *UDGXDQGRHP(QJHQKDULDGH$JULPHQVXUDGD8)%$H&DUWRJUi¿FDH%ROVLVWDGH,QLFLDomR&LHQWt¿FD±&13T

2 – Engenheiro Cartógrafo, Mestre em Eng. Civil.2 – Engenheiro Cartógrafo, Mestre em Eng. Civil.

2 – Engenheiro Cartógrafo, Mestre em Eng. Civil.

19 POLITÉCNICA
ARTIGO
GH HQHUJLD QD VXSHUItFLH H DXPHQWDQGR R ÀX[R GH FDORU
sensível, responsável pela sensação térmica sentida.

2 - REFERENCIAL TEÓRICO

Estudos relacionados ao clima urbano tornam-se cada vez


mais frequentes, devido à intima relação entre o processo
de urbanização e as alterações das variáveis climáticas.
O microclima, no caso, corresponde ao clima de peque-
QRV HVSDoRV XUEDQRV H p LQÀXHQFLDGR SHOD DomR KXPDQD
nas transformações do seu entorno. Formados a cada vo-
lume geométrico imaginário no espaço habitado ou não
*(,*(5   (P ODWLWXGHV WURSLFDLV H VXEWURSLFDLV R
processo de urbanização vem se tornando cada vez mais Figura 1 - Recorte Fachada Sudeste da Imagem de
6DWpOLWH/$1'6$770
acelerado e é acompanhado pelo aumento de problemas
severos associados à deterioração ambiental, condições de
vida insalubres, escassez de energia e água e aumento da 3.2 - Análise dos Regimes de Vento a superfície
H[SRVLomR GD SRSXODomR D HQFKHQWHV H YHQWRV H[WUHPRV
Muitos destes problemas poderiam ser reduzidos se o pla- Na Figura 2 são vistos os resultados obtidos para escoa-
nejamento urbano incorporasse estudos relativos ao clima mento médio mensal, à superfície, dos dados de vento da
7$(6/(5 2TXHVHSHUFHEHFRQWXGRpTXHSHV- estação meteorológica principal de Salvador. Foi feito trata-
quisas com esta abordagem ainda são pouco aplicadas ao mento estatístico dos dados de vento coletados nessa esta-
zoneamento das cidades. omRGRSHUtRGRDQDOLVDGR H HFRPSDUDGR
à média histórica (normais climatológicas). Podemos notar
$ FDUDFWHUL]DomR GR YHQWR HP TXDOTXHU SRQWR ij Ȝ ]  GD TXHRDQRGHDSUHVHQWDYHORFLGDGHVPpGLDVPHQVDLV
DWPRVIHUDUHTXHUGRLVSDUkPHWURVDGLUHomRHDYHORFLGDGH VXSHULRUHVDRSHUtRGRHSDUDWRGRVRVPHVHV$
PyGXOR $PEDV VmR JUDQGH]DV LQVWDQWkQHDV H SRQWXDLV média mensal das normais climatológicas foi superior em
pois, o escoamento do ar depende das condições atmos- todos os meses aos três períodos analisados.
IpULFDVTXHYDULDPQRHVSDoRHFRPRWHPSR1DVSUR[L-
midades da interface superfície-atmosfera o vento é alta-
PHQWHLQÀXHQFLDGRSHODVFDUDFWHUtVWLFDVJHRPpWULFDVHSHOR
estado de aquecimento da própria superfície subjacente
9$5(-­26,/9$ 

3 - MATERIAL E MÉTODO

3.1 - Área de estudo

A área selecionada para avaliar os padrões de vento na


cidade de Salvador abrange sua fachada sudeste. Esta
GHOLPLWDomRVHMXVWL¿FDSHODORFDOL]DomRGDVHVWDo}HVPHWH- Figura 2 - Velocidade média mensal dos ventos do
RUROyJLFDV¿[DVFRPGLVSRQLELOLGDGHGHGDGRVGHYHQWRHP município de Salvador-BA
VXSHU¿FLHHDQHFHVVLGDGHGHXWLOL]DomRGHVVHVGDGRVSDUD
o controle da simulação.
No trimestre janeiro, fevereiro e março é possível perceber
A fachada sudeste compreende cinco regiões administrati-
que o vento médio apresenta as menores velocidades para
vas da cidade de Salvador, são elas; Barra, Rio Vermelho,
os três anos analisados, chegando aos 1,31 m/s em janei-
Pituba, Boca do Rio e Itapuã.
UR GH  1R PrV GH MXQKR DV YHORFLGDGHV VRIUHP XP
$¿JXUDPRVWUDRUHFRUWHGDIDFKDGDVXGHVWHGDFLGDGH DFUpVFLPRVLJQL¿FDWLYRTXHVHPDQWrPFUHVFHQWHVDWpVH-
proveniente de um recorte de uma imagem de satélite LAN- WHPEURFRPH[FHomRGHMXOKRGHTXDQGRDWLQJH
DSAT que foi utilizada para o cálculo de rugosidade desta m/s. No quadrimestre que compreende os meses agosto a
fachada (região). novembro o vento médio apresentou-se com as maiores ve-

20 POLITÉCNICA
ARTIGO
ORFLGDGHVSDUDHDWLQJLQGRDRVPV
HPDJRVWRGH(PGH]HPEURDVYHORFLGDGHVPpGLDV
mensais voltam a diminuir. Comparando o desempenho
médio mensal da velocidade do vento para os três perío-
dos com as normais climatológicas, o mês de maio sofre
GLVFUHSkQFLD

&ŝŐƵƌĂϰ͗ŝƐƚƌŝďƵŝĕĆŽƉĞƌĐĞŶƚƵĂůĚĞĐĂƐŽƐĚĞĚŝƌĞĕĆŽĚŽǀĞŶƚŽ
Figura 3: Direção do vento médio mensal para o município ĚŽŵƵŶŝĐşƉŝŽĚĞ^ĂůǀĂĚŽƌͲƉĂƌĂŽƐĂŶŽƐĚĞϭϵϵϱ;ĂͿĞϮϬϬϭ;ďͿ͕
de Salvador-BA para os anos de 1995 (Vermelho) ϮϬϬϰ;ĐͿĞEŽƌŵĂŝƐůŝŵĂƚŽůſŐŝĐĂƐ;ĚͿ͘
H D]XO  SUHWR 

ϰͳ/^h^^KK^Z^h>dK^WZKWK^d
O vento possui uma grande variabilidade no tempo e espa- dZ>,K
ço, assim para determinação de sua direção predominante
A tabela 1 apresenta valores calculados do comprimento de
foram realizadas operações de contagem da freqüência ho-
UXJRVLGDGH = SDUDHOHPHQWRVGDVFODVVHVXUEDQDVDWUD-
rária das direções com base na rosa dos ventos.
vés do método morfométrico Regra Prática (Rt), seguindo
Pode-se considerar que os regimes dos ventos resultam RVSULQFtSLRVGHGHWHUPLQDomRGHSDUkPHWURVHPHGLGDVGH
da sobreposição de mecanismos atmosféricos sinóticos densidade urbana sugeridos por Grimmond e Oke (1999).
(globais) e de mesoescala (regionais), afetados ainda pela Para as classes naturais foram atribuídos os valores da
rugosidade dos elementos urbanos (locais). Quanto aos re- FODVVL¿FDomR'DYHQSRUWFRQIRUPDQGRD7DEHOD
gimes sinóticos, Salvador se encontra na latitude de transi-
omRHQWUHGRLVPHFDQLVPRVLPSRUWDQWHVDLQÀXrQFLDGR$Q-
WLFLFORQH6XEWURSLFDOGR$WOkQWLFRSHUWXUEDGRSHODGLQkPLFD
LQWHUPLWHQWH GDV RQGDV GH PDVVDV SRODUHV H D LQÀXrQFLD
constante dos alísios. Estes mecanismos são determinan- dĂďĞůĂϭͲsĂůŽƌĞƐĐĂůĐƵůĂĚŽƐĚŽĐŽŵƉƌŝŵĞŶƚŽĚĞƌƵŐŽƐŝĚĂĚĞ;Ϭ)
tes quanto à direção predominantemente entre Nordeste e ƉĂƌĂĄƌĞĂƐƵƌďĂŶĂƐĚĂĄƌĞĂĚĞĞƐƚƵĚŽ
Sudeste (Figura 3).

'HYLGRDVXDORFDOL]DomROLWRUkQHDDFLGDGHGH6DOYDGRUp
De acordo com os manuais e revisão de estimativas publi-
LQÀXHQFLDGDSRUXPLPSRUWDQWHVLVWHPDGHPHVRHVFDODDV
cadas na literatura para o comprimento de rugosidade, os
brisas marinhas e terrestres. Elas atuam o ano todo e são
YDORUHVFDOFXODGRVDFLPDVDWLVID]HPHFRQWHPSODPDIDL[D
perceptíveis nas velocidades e direções de vento.
aceitável.
A distribuição de freqüência do número percentual de casos
O método para gerar os padrões de vento no aplicativo
da direção do vento à superfície é ilustrada na Figura 4. Ela
:LQG0DSTM apresenta limitações quanto à entrada de da-
revela que o vento predominante é do quadrante Sudeste
dos de comprimento de rugosidade, que devem ser inferio-
para ambos os períodos. Calmaria e ventos dos quadran-
res a 5 m.
WHV1RUGHVWHH/HVWHWrPIUHTrQFLDVEDL[DVWHQGRRFRUUL-
GRSULQFLSDOPHQWHQRYHUmRSDUDRVDQRVGHH Os valores calculados do comprimento de rugosidade (Z)
4XDQWRjVD]RQDOLGDGHQRWDVHTXHRVYHQWRVPi[L- serão incorporados às imagens de satélite juntamente com
mos ocorrem no segundo semestre (inverno e primavera). os valores divulgados no manual e se conformará ao mode-
ORGHUXJRVLGDGHSDUkPHWURQHFHVViULRSDUDJHUDUPDSDV
de padrões de vento.

dĂďĞůĂϮͲŽŵƉƌŝŵĞŶƚŽ
ĚĞƌƵŐŽƐŝĚĂĚĞ;ϬͿ
ƉĂƌĂŵŽĚĞůŽĚĞƌƵŐŽƐŝĚĂĚĞ

21 POLITÉCNICA
ARTIGO
KE^/ZO^&/E/^ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
%$55<5*&+25/(<5-$WPRVSKHUH:HDWKHUDQG&OLPDWH/RQ-
O artigo proposto é parte inicial de um projeto de disserta- GRQ0HWKXHQHGDSXG$<2$'(-2,QWURGXomRjFOLPDWRORJLD
ção de mestrado e visa contribuir com dados quantitativos, para os trópicos. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
para períodos distintos, avaliando as variações climáticas
ECHENIQUE, M. Modelos: una discussión. In: MARTIN, L.; MARCH, L.;
para a cidade de Salvador, padrões de vento, descrevendo ECHENIQUE, M. La estructura del espacio urbano. Barcelona: Gustavo
a tendência geral das diferentes áreas e tipologias urbanas. *LOL

Esse estudo poderá indicar o quanto a qualidade da venti- GRIMMOND, C. S. B.; OKE, T. R. Aerodynamic properties of urban areas
lação foi reduzida devido à vasta área da ocupação urbana derived from analysis of surface form. Journal of Applied Meteorology. v.
S
indicando quais os padrões de vento atuais. Será também
observada a aplicabilidade dos métodos de simulação com- 6$5$,9$ - $ * $HURGLQkPLFD GRV HGLItFLRV DOWRV FDUDFWHUtVWLFD GR
escoamento e resposta à turbulência de formas prismáticas. 1983. Tese
SXWDFLRQDOGDVFRQGLo}HVGHFLUFXODomRGHDUSDUDDGH¿QL-
(Concurso para Especialista) - Departamento de Estruturas, Laboratório
ção de orientações para o planejamento urbano. Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 1983.
(VSHUDVHWDPEpPTXHHVVHHVWXGRDX[LOLHDWUDEDOKRVIX-
TAESLER, R. Urban Climatological Methods and Data. In: TECHNICAL
turos como base de informações na avaliação das tendên- CONFERENCE ON URBAN CLIMATOLOGY AND ITS APPLICATIONS
cias de mudanças climáticas locais e conseqüentemente :,7+ 63(&,$/ 5(*$5' 72 7523,&$/ $5($6 *HQHYD  3UR-
FHHGLQJV*HQHYD:02S
globais.
9$5(-­26,/9$0$0HWHRURORJLDHFOLPDWRORJLD5HFLIH9HUVmR
E-mail de contato: digital 2.

:,(5,1*$-'$9(13257$**5,0021'&6%1HZUHYLVLRQ
vivian.fernandes@ufba.br1±DOH[DQGUH#\DKRRFRP RI'DYHQSRUWURXJKQHVVFODVVL¿FDWLRQ,Q(8523($1 $)5,&$1&21-
br2±PDXURDOL[DQGULQL#XIEDEU3 - lucimary_moreira@ )(5(1&(21:,1'(1*,1((5,1*(LQGKRYHQ3URFHHGLQJV
yahoo.com.br4 (LQGKRYHQS

22 POLITÉCNICA
ARTIGO

Estudando circuitos elétricos


com o programa Maple
Ricardo Silva Palavras-chave: computadores pessoais, programas especia-
ULFVLOYD#JPDLOFRP lizados para engenharia, cálculos simbólicos, circuitos elétricos,
MAPLE.

Conforme já mostrado pelo Prof. Caiuby Alves da Costa em


Abstract: The availability of personal computers brought new pos-
sibilities for engineers. Calculations which were impossible are now VHXDUWLJRQDHGLomRGH2XWXEURGHGD5HYLVWDGR,QV-
easily done with the help of specialized programs. New frontiers WLWXWR 3ROLWpFQLFR GD %DKLD 2XWXEUR GH   D HYROXomR
have been reached in speed, accuracy and easiness. A new bre- dos computadores tem sido meteórica nos últimos anos.
ed of programs has appeared recently, allowing calculations to be Como resultado para a engenharia, os desenvolvimentos
made symbolically.
matemáticos de gênios como Euler, Laplace, Fourier e
Resumo:$GLVSRQLELOLGDGHGHFRPSXWDGRUHVSHVVRDLVWURX[HQR- outros podem, hoje em dia, ser aplicados aos cálculos de
vas possibilidades aos engenheiros. Cálculos que eram impossí- engenharia com uma facilidade nunca sonhada por eles.
veis são agora feitos com facilidade com a ajuda de programas
Isto se deve, basicamente, aos programas para compu-
especializados. Novas fronteiras tem sido alcançadas em veloci-
dade, acuidade e facilidade. Uma nova safra de programas surgiu WDGRU ³VRIWZDUHV´  HVFULWRV HVSHFL¿FDPHQWH SDUD UHDOL]DU
recentemente, permitindo cálculos simbólicos. estes cálculos. O mais conhecido e utilizado deles é, sem

23 POLITÉCNICA
ARTIGO
dúvida, o MATLAB, usado por engenheiros em todo mundo. Este cálculo é feito simbolicamente, utilizando equações di-
IHUHQFLDLVHDR¿QDOpPRVWUDGRJUD¿FDPHQWHRUHVXOWDGR
A necessidade de enfoques didáticos em determinadas si-
Os comentários constantes da listagem do programa procu-
WXDo}HVPRWLYRXSURIHVVRUHVGD8QLYHUVLGDGHGH:DWHUORR
UDPPRVWUDURVLJQL¿FDGRGHFDGDSDVVRSHUFRUULGR
QR&DQDGiDGHVHQYROYHUHPDSDUWLUGHXPVLVWHPD
que realizasse cálculos algébricos simbólicos. Daí surgiu o Os valores numéricos de cada componente do circuito são:
0$3/(KRMHHPVXD9HUVmR$VYDQWDJHQVGRFiOFXOR
simbólico incluem não só a facilidade da compreensão dos 5 RKPV
cálculos mas, principalmente, sua aplicação como ferra- / P+
menta didática.
C= 3,3 microF
6HJXHVH XP H[HPSOR VLPSOHV GH FiOFXOR GH XP FLUFXLWR
RLC em série, alimentado por uma fonte variável no tempo. 9 VLQ W

PERCURSO METODOLÓGICO USADO PARA ELABORAÇÃO DO ARTIGO

24 POLITÉCNICA
ARTIGO

25 POLITÉCNICA
ARTIGO

26 POLITÉCNICA
ARTIGO

27 POLITÉCNICA
ARTIGO

BIBLIOGRAFIA

Costa, C. A. da – O Cálculo Matemático na Engenharia: Sua Evolução e Instrumentos – Revista do Instituto Politécnico da Bahia –
$QR±2XWXEURGH
MAPLE - http://www.maplesoft.com/products/Maple/professional/
MATLAB - http://www.mathworks.com/products/matlab/
6LOYD5±(VWXGDQGR6LQDLVH6LVWHPDVFRPR0DSOH±$SRVWLOD±(VFROD3ROLWpFQLFD±8)%$±

28 POLITÉCNICA
ARTIGO
Divulgação

NALNAOAJP=¾»KCN¹ł?=J=
engenharia: sua evolução técnica
Caiuby Alves da Costa Abstract: this article presents the engineering graphics represen-
tation evolution and the techniques used to do it
Resumo:(VWHDUWLJRGHVFUHYHDHYROXomRGDUHSUHVHQWDomRJUi¿-
ca na engenhara e a evolução para realiza-la. Keywords: engineering’s graphics representation, history of engi-
neering ,evolution of instruments for engineering drawing.
Palavras-chave: D UHSUHVHQWDomR JUi¿FD QD HQJHQKDULD HYROX-
ção dos instrumentos de desenho, historia da engenharia A REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Representações
JUi¿FDVGH
Leonardo
da Vinci

29 POLITÉCNICA
ARTIGO
2GHVHQKRSUy[LPRDRVGRVQRVVRVGLDVDSDUHFHPHPVX-
portes como o papiro e o pergaminho e após o papel. Os
instrumentos de escrita eram o caniço, as penas de pás-
saros, os pinceis no oriente e as pontas de metal entre os
URPDQRV2OiSLVPRGHUQRGDWDGR¿QDOGRVpFXOR;9,,,

O primeiro desenho técnico é atribuído caldeu gravado


QXPD SUDQFKD FHUkPLFD UHSUHVHQWDQGR XPD IRUWDOH]D QR
DQR$&HDSULPHLUDSURYDHVFULWDGHVXDXWLOL]DomR
GHYHVHD9LWUXYLXV$&

8PDJUDQGHPXGDQoDRFRUUHXQRVDQRVFRPDXWLOL-
zação da perspectiva por Brunelleschi e Leonardo da Vinci.
(VWH ~OWLPR DVVRFLRX R LQWHUHVVH FLHQWt¿FR D DUWH XVDQGR
perspectiva, desenho técnico e empregando as relações
geométricas.

e QD 5HQDVFHQoD TXH RV TXH RV REMHWRV FRPHoDP D WHU


XPD UHSUHVHQWDomR WULGLPHQVLRQDO VHQGR XP H[HPSOR A Perspectiva Paralela
disso os trabalhos de Raphael Sanzio. A perspectiva, ini-
No desenho em perspectiva paralela, as linhas de fuga des-
cialmente, era a perspectiva cônica, também chamada de
locam-se apenas para um ponto (PF). Pode-se trabalhar
perspectiva linear. A idéia de Brunelleschi era que o pintor
com 1, 2, 3 pontos de fuga.
GHYHULDDGRWDUXPDSRVLomR¿[DFRPUHODomRDRVREMHWRV
que iria reproduzir pois para criar geometricamente a ilusão
de profundidade.

A Perspectiva Cônica
)RQWH/XtV&DQRWLOKR±:LNLSHGLD
A perspectiva cônica mostra os objetos de maneira seme- 3HUVSHFWLYD,VRPHWULFD$[RQRPHWULD
lhante à forma como são vistos pelo olho humano, como
DSDUHFHULDPHPXPDIRWRJUD¿D
A Geometria Descritiva

A Geometria Descritiva é um ramo da geometria, surgida no


século XVIII, que tem como objetivo representar objetos de
três dimensões em um plano bidimensional. Esse método
foi desenvolvido por Gaspard Monge e teve grande impacto
no desenvolvimento tecnológico desde sua sistematização.
3HUFHELGDVXDLPSRUWkQFLDD*HRPHWULD'HVFULWLYDIRLWUD-
tada com atenção e considerada, no início, como segredo
de Estado. A Geometria Descritiva utiliza-se da épura para
representar objetos, a partir de observadores que se en-
FRQWUDP VLWXDGRV QR LQ¿QLWR SRQWRV LPSUySULRV  RV TXDLV
determinam direções de retas projetantes. A épura de Mon-
JHpDSODQL¿FDomRGRTXHIRLSURMHWDGRRUWRJRQDOPHQWHQRV
planos de projeção, também ortogonais entre si. A Linha de
terra (LT) é a reta de interseção entre os planos de projeção
propostos por Monge, chamados de Vertical (ou Frontal) e
Horizontal, os quais dividem o espaço em quatro diedros ou
Imagens: projeção cônica, perspectógrafo quadrantes.

30 POLITÉCNICA
ARTIGO
e XPD FLrQFLD TXH HVWXGD RV PpWRGRV GH UHSUHVHQWDomR
JUi¿FDGDV¿JXUDVHVSDFLDLVVREUHXPSODQR5HVROYHSUR-
blemas como: construção de vistas, obtenção das verdadei-
ras grandezas de cada face do objeto através de métodos
descritivos e também a construção de protótipos do objeto
representado Imagens de desenhos técnicos – Algumas Imagens

9LVWDH[SORGLGDERPED3DGU}HVGLPHQVLRQDLVGHSDSHO
cortes de um carro
5HSUHVHQWDomRGDLQWHUVHFomRGHGRLVVyOLGRV3LUkPLGH±(VIHUD

5HSUHVHQWDomRGHXPD3LUkPLGH

Desenho Técnico
Desenho técnico é um ramo especializado do desenho, ca-
racterizado pela sua normalização e pela apropriação que
faz dos seguintes conteúdos:
Geometria Descritiva: vistas ortogonais, cortes, seções,
GHWHUPLQDomRGHGLVWkQFLDViUHDVHSODQL¿FDomRGHVyOLGRV Corte e vista lateral de locomotiva
Perspectivas: métodos ilustrativos de representação do
espaço e de objetos.
Perspectiva isométrica: método de representação parale-
ODTXHVHGHVHQYROYHDžFXMDVPHGLGDVGRVHL[RVSULQFL- BIBLIOGRAFIA
pais permanecem inalteradas.
Costa, C. A –Introdução à Engenharia Elétrica – Notas de Aula-Escola Po-
Perspectiva cavaleira: método paralelo mais comumente litécnica - UFBA

UHSUHVHQWDGRDHJUDXVTXHDGRWDUHGXo}HV &DQRWLOKR/0/±&ODVVL¿FDomRGDVSHUVSHFWLYDV
para as diagonais da profundidade.
:LNLSHGLD7HFKQLFDO'UDZLQJ7RROV
Perspectiva do arquiteto: método com dois pontos de fuga.
:LNLSpGLD$+LVWRU\RI&RPSDVVDQG7ULDQJOH
Desenho Geométrico: construções fundamentais e con-
FRUGkQFLDV :LNLSHGLD3HUVSHFWLYH JUDSKLFDO

31 POLITÉCNICA
NOTÍCIAS

IPB já deu início aos trabalhos de organização dos seguintes eventos para o próxi-
O mo ano de 2014:

vento 1: ENCONTRO LUSO BRASILEIRO DE DEGRADAÇÃO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO, a


E ser realizado na cidade de Salvador – Bahia, no FIESTA CONVENTION CENTER, no período de 06 a 09 de
agosto de 2014. Prof. Daniel Veras do DCTM da ESCOLA POLITÉCNICA. Para informações adicionais, acesse
www.degrada2014.com.br

vento 2: COMPÓSITOS c/ fibras [ve-


Egetais, químicas, etc], professor Dr. Ri- E
vento 3: “Nova Metodologia de
ENSINO” com coordenação do
cardo Fernandes Carvalho, coordenador do Grupo
de Pesquisa “Gestão e Produção Sustentável do Am- Prof. Luis Carlos Campos da Pontifí-
biente Construído” – GP Sustentável, da Universida- cia Universidade Católica – PUC.
de Federal da Bahia – UFBA. Os compósitos feitos Os modelos atuais de ensino e aprendizagem
com fibras naturais absorvem CO2 da atmosfera, estão ficando ultrapassados, principalmente em
contribuindo com a preservação ambiental. “Uma razão do progresso da Tecnologia da Informação.
alternativa, as fibras sintéticas, que consomem ener- O processo tradicional de formação de conheci-
gia e liberam CO2 na atmosfera”, explica Carvalho, mento baseia-se apenas na orientação cognitiva,
“são ‘avançados’ porque a elaboração do produto é com teoria e prática repassada por um professor,
mais tecnológica, científica e avançada”, conclui. este como principal agente, interagindo de ma-
Os produtos resultantes da tecnologia verde avança- neira ativa. Desta forma, o processo torna o estu-
da são viáveis economicamente e sustentáveis por dante um agente passivo. Neste modelo não há
gerarem menos impacto ambiental. Atualmente já incentivo, nem espaço, para desenvolver o auto-
estão em teste de uso, por exemplo, os compósitos -aprendizado. Problem Based Learning e Peer
de fibras de sisal para utilização em reservatórios de Instruction, são os novos modelos que estão re-
água e as fibras de piaçava para protótipos de com- volucionando as Escolas em todo o mundo.
ponentes em distribuição elétrica de resistência.

32 POLITÉCNICA
NOTÍCIAS

PARTICIPAÇÃO DO IPB EM EVENTOS

- No dia 6 de novembro de 2013 o IPB realizou Assembleia Geral Extraordinária, na qual foi aprovado o texto
do novo Estatuto e foram eleitos os membros dos Conselhos Deliberativo e Fiscal para o biênio 2014-2015.
Acima uma foto tirada durante a reunião.

- O IPB participou, em 17 de dezembro passado, do Simpósio “Integridade na Atividade Científica” pro-


movido pela Academia de Ciências da Bahia – ACB, a convite do seu presidente Prof. Dr. Roberto Santos. O
encontro contribuiu para dar continuidade a uma forte aliança entre o IPB e a ACB, em defesa da CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, e INOVAÇÃO, no nosso Estado. Na foto acima vemos o Professor Doutor Roberto Santos e mem-
bros da Diretoria do IPB no salão de eventos da FAPESB.

- OS CONVÊNIOS com a SICM, SEAGRI, EBDA e maturidade em Gestão Estratégica nas Empresas.
o breve lançamento de Edital de Gestão da Inova- Isso tem gerado vantagens competitivas relevan-
ção pela FAPESB, que têm como foco a INOVAÇÃO tes, através de Sistemáticas consagradas nas melho-
TECNOLÓGICA, objetivam levar Sistemáticas e Fer- res Escolas de Negócio do mundo e adotadas por
ramentas de Gestão Estratégica da Inovação que Empresas de classe mundial. Este movimento vem
mudem completamente a cultura de inovação das garantindo maior sucesso econômico e redução
empresas existentes do Estado. EXCELENTES RESUL- drástica dos riscos nos aportes de capitais das INS-
TADOS vêm ocorrendo nos programas de incentivos TITUIÇÕES FINANCEIRAS do Governo e Privadas. O
às Empresas que buscam INOVAÇÕES na EUROPA, IPB/ESCOLA POLITÉCNICA/FEP irá se reunir em bre-
em decorrência de, além do apoio tradicional finan- ve com o presidente da DESENBAHIA, oferecendo o
ceiro, as Instituições Governamentais estarem inves- nosso apoio ao Programa de Incentivo à INOVAÇÃO
tindo também fortemente na elevação do nível de denominado INOVACRED.

33 POLITÉCNICA
ARTIGO

Politécnica

34 EU PENSO ASSIM

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