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Depressão e Neoliberalismo:
Constituição da Saúde Mental
na Atualidade
Depression and neoliberalism:
Constitution of the mental health

Lenita Gama
Cambaúva &
Mauricio Cardoso
da Silva Junior

Universidade
Estadual
de Maringá
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2005, 25 (4), 525-535


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PSICOLOGIA CIÊNCIA E
PROFISSÃO, 2005, 25 (4), 525-535

Resumo: Tendo em vista o grande número de indivíduos acometidos por


depressão nos dias atuais, este estudo objetiva contribuir para a
compreensão desse fenômeno ao buscar relações existentes entre o
mesmo e o neoliberalismo, modelo político-econômico em vigência, por
meio de um referencial psicanalítico e histórico-social. Tem, também,
como propósito uma reflexão sobre a prática do psicólogo. Para isso,
realizou-se uma análise acerca da atuação dos fatores sociais na constituição
da saúde mental dos indivíduos.
Palavras-chave: depressão, neoliberalismo, saúde mental, Psicologia.

Abstract: Having in mind the great number of individuals suffering from


depression in the present days, the goal of this study is to contribute for
the comprehension of this phenomenon looking for a relationship between
depression and neoliberalism, a political-economic model of our days,
through psychoanalytical and historic-social referentials. It also points out
a consideration about the practical assistance of the psychologist. For this
purpose, an analysis was carried out in order to know how the social
factors can influence the constitution of the individual mental health.
Key words: depression , neoliberalism , mental health , Psychology.

Pode-se observar, na atualidade, um grande Michels (1981), em desânimo, pessimismo,


número de indivíduos acometidos pelo mal diminuição da auto-estima, falta de interesse pelo
denominado depressão. Paoliello (2001) expõe mundo externo, diminuição da atividade sexual,
dados segundo os quais a depressão atinge de 5 insônia, falta de apetite, expressão de
a 6% da população mundial, sendo considerada sentimentos auto-punitivos e descrença em
a quarta doença no ranking da OMS (Organização capacidades individuais, sendo que a atenção,
Mundial da Saúde), com perspectivas de que concentração e memória podem ser
atinja o segundo lugar em 2010. Conforme prejudicadas devido à ruminação mental dos
divulgado pela BBC Brasil (2004), para tornar problemas – excessiva preocupação com
mais evidente a gravidade dessa questão, na problemas pessoais, dificuldades em contatos
Inglaterra, estima-se que foram emitidas, no ano sociais e idéias suicidas. Tais sintomas confluem
de 2001, cerca de 24 milhões de receitas com as principais queixas dos pacientes na clínica
médicas de antidepressivos. De acordo com atual, que, segundo Lowenkron (2003), são,
essa mesma fonte, há indícios de que elementos entre outros, vida ausente de sentido, sentimento
do antidepressivo Prozac se encontram diluídos de vazio, de aniquilamento, perda de identidade,
nos rios e redes de esgoto de Londres. dificuldade de nomear as experiências, solidão.

Os sintomas que remetem à depressão Mas, ao mesmo tempo em que a categoria


consistem, de acordo com autores como depressão se encontra tão disseminada entre a
Fenichel (1981), Kolb (s/d) e Mackinnon e população de um modo geral, ela carece de
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uma definição mais clara. Autores como Di Loreto questão que foge ao alcance da presente análise.
(1997), Rodrigues (2000), Paoliello (2001), O fato é que há a queixa de sintomas
Lowenkron (2003) e Monteiro (2004) põem em relacionados à depressão, independentemente
xeque a atual “epidemia” depressiva. Estaria da estrutura psíquica subjacente a ela. Se,
havendo um “hiperdiagnóstico” de depressão. conforme explana Rodrigues (2000), toda
O conceito estaria sendo banalizado, neurose (como, por exemplo, a neurose
generalizado, sendo que qualquer forma de obsessivo-compulsiva ou a histeria) pode
tristeza manifestada pelos indivíduos ganha a manifestar sintomas depressivos, e a tristeza, para
conotação de que deva ser combatida a todo Freud, segundo a autora, é constituinte de uma
custo, para que se vista a indumentária da personalidade “normal”; algo pode estar
felicidade. É nessa luta contra a tristeza que nos ocorrendo na atualidade que atue como
deparamos com uma grande proliferação de potencializador desse aspecto da personalidade.
recursos farmacológicos e terapêuticos contra a
depressão. Um quadro que atinge tais proporções requer
uma análise para além do individual, caso
Segundo Rodrigues (2000), esse alto índice de queiramos compreender que fatores estão
depressão registrado na contemporaneidade envolvidos nesse fenômeno, como expõem
deve-se, muitas vezes, ao diagnóstico padrão Fromm (1979) e Di Loreto (1997). É possível,
da psiquiatria: os sintomas são agrupados no então, conceber fatores sociais que colaborem
DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de para a crescente onda de depressão no mundo
Transtornos Mentais) sob a denominação de contemporâneo?
“transtornos do humor”, dentre os quais se
localiza a depressão. Porém, a autora expõe que Na perspectiva de autores como Fromm (1979)
esse agrupamento se torna problemático na e Guinsberg (2001), sim. O modo como está
medida em que os sintomas apresentados pelos organizada a sociedade é decisivo para a saúde
indivíduos são cindidos de sua etiologia: as mental de seus membros. Como afirmam esses
classificações estariam baseadas somente na autores, o meio social oferece aos indivíduos
descrição e observação do fenômeno, modelos de estruturação e funcionamento da
ignorando-se o sujeito. Não lidando com as personalidade, e a subjetividade dos mesmos é
causas da depressão, as vertentes biologicistas constituída de acordo com tais modelos. Suas
limitam-se a trabalhar com seus sintomas. necessidades e ideais, entre outros, estarão
apoiados nos moldes preexistentes fornecidos
Se considerarmos somente os sintomas para pela cultura. Aqueles que não conseguem suprir
lançarmos o diagnóstico, podemos estar a demanda dos ideais propostos pela cultura são
incorrendo em erros, isso porque, como afirma marginalizados e considerados anormais e/ou
Lowenkron (2003), um diagnóstico deve patológicos.
contemplar, na perspectiva psicanalítica, os
mecanismos que estão por trás dos sintomas, No âmbito psíquico, de acordo com Laplanche
do que é aparente. Dessa forma, os sintomas e Pontalis (1983), o meio social tem suas regras,
acima descritos não bastariam para estabelecer imposições e exigências interiorizadas pelo
o diagnóstico de um quadro de depressão. Afinal, indivíduo por meio da instância da personalidade
seria legítimo considerar que as manifestações denominada superego. Tal instância assume as
do mal-estar atual se enquadram sob a funções de auto-observação do indivíduo, de
denominação “depressão”? moralidade e a função de ideal (o modelo ao
qual o sujeito procura conformar-se). Portanto,
Se está ocorrendo, de fato, um diagnóstico o superego é produto da cultura, referente à
abusivo, como levantam os autores, essa é uma sociedade em que vive o indivíduo.

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Tendo em vista tais considerações, propusemo- [...] o sistema de objetivos do indivíduo deve
nos investigar possíveis nexos entre o crescimento ser soberano, não estando sujeito aos ditames
da incidência da depressão, como apontado alheios. É esse reconhecimento do indivíduo
pelas estatísticas, com o modo como está como juiz supremo dos próprios objetivos, é a
estruturada a sociedade atualmente, ou seja, de convicção de que suas idéias deveriam governar-
acordo com os pressupostos do neoliberalismo, lhe, tanto quanto possível, a conduta, que
modelo político-econômico em vigência no constitui a essência da visão individualista (p.76).
mundo capitalista. Para tanto, pensamos ser
pertinente apresentar alguns dos principais Sennett (1999), ao analisar essa perspectiva,
pressupostos dessa sociedade para o conclui que o indivíduo deve depositar confiança [...] o sistema de
prosseguimento do trabalho. em si mesmo e ter lealdade para consigo próprio, objetivos do
indivíduo deve ser
sendo o outro um obstáculo à sua realização
soberano, não
Princípios regentes do sistema pessoal. Tornando-se um ser que se basta, o estando sujeito aos
homem necessita minimamente do outro para ditames alheios. É
neoliberal esse
constituir-se. Os objetivos individuais, sendo
reconhecimento
inconciliáveis e conflitantes aos objetivos do indivíduo como
O neoliberalismo consiste em um sistema
comuns, trazem como conseqüência, como juiz supremo dos
econômico e político que surge com a proposta próprios objetivos,
explanam Guinsberg (2001) e Sennett (1999), a
de resgatar alguns pressupostos do liberalismo é a convicção de
(neo - novo - liberalismo) que haviam sido fragilização das relações sociais, que adquirem que suas idéias
um caráter superficial, com laços tênues ligando deveriam
abandonados na ocorrência da crise de 1929, governar-lhe, tanto
quando então o Estado adotou medidas de bem- os seres uns aos outros. Interagir com o outro
quanto possível, a
estar social propostas por Keynes (1883-1946) perde o sentido quando o indivíduo se concebe conduta, que
como um “super-homem”, e o que é de âmbito constitui a essência
para retomar o crescimento do País (Cambaúva, da visão
2002). Tais medidas vigoraram até os anos 70 privado se sobrepuja ao que é público, o que
individualista
do século XX, quando uma nova crise do leva ao esvaziamento daquele, posto que o que
capitalismo atingiu a economia mundial. Visando passa a existir é o público enquanto instância Hayek
a uma retomada do crescimento econômico, para expressão do privado, significando, assim,
vem à cena um grupo de pensadores – Sociedade a publicização do privado.
Mont Pèlerin – que, desde o final dos anos 40,
criticavam as práticas protecionistas e de bem- O homem, possuindo auto-suficiência, não
estar social, as quais seriam responsáveis pela necessitaria da proteção do Estado. Um real
estagnação da economia (Paulani, 1999 e governo, na concepção de Hayek (1987), se
Guinsberg, 2001). Dentre esses pensadores, efetua pelo mercado. Este, sendo guiado por
situa-se Hayek (1899-1992), que, como solução interesses particulares, seria a garantia da
à crise capitalista, fundamentou o neoliberalismo. liberdade individual, pois o sujeito não estaria
preso à vontade e aos interesses de uma classe
Comecemos pela visão sobre a qual se alicerça social ou de um governante. Diante de um
esse sistema. Segundo Hayek (1987), os homens mecanismo imprevisível e flutuante, regido pela
são desiguais por natureza. Concebido como juiz concorrência entre os indivíduos, o destino destes
de suas próprias aspirações, cada indivíduo deve fica “aberto”, indeterminado, inconstante e
lutar para atingir seus próprios objetivos, mesmo imprevisível, e, em tese, teriam chances iguais
causando prejuízo aos seus semelhantes. Nesse de lutarem pelo sucesso pessoal.
“cada um por si”, o homem pode contar apenas
consigo mesmo, posto que, na perspectiva Para ele [Hayek], será a ordem de mercado que
neoliberal, é dotado de capacidades tais como deverá superar os impasses criados pela vida em
autocontrole e auto-suficiência diante dos sociedade, baseada em normas que não serão
demais. Para Hayek (1987), plenamente conhecidas por todos, mas que,
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ainda assim, regerão a vida social e a distribuição inatingível, toda a responsabilidade por não se
de bens (Garcia, 2003, p.5). adequar àquele modelo recai sobre o indivíduo.
Hayek é partidário da visão que Bock (1999)
Os indivíduos ficam, então, à mercê da sorte, denomina “perspectiva do Barão de
do destino, do acidental – palavras constantes Munchausen”, segundo a qual o indivíduo é
na obra de Hayek (1987). Submetendo-se à responsável e capaz de desenvolver sua
impessoalidade, à incerteza, à irracionalidade e individualização independentemente do meio;
às vicissitudes do mercado, segundo o autor, seria, portanto, responsável pelo seu sucesso ou
“... será a ordem
de mercado que torna-se possível a construção de algo que está fracasso, devendo arcar com as conseqüências
deverá superar os acima de nossa capacidade de compreensão. de seus atos sozinho, como se não sofresse
impasses criados O conhecimento das regras que regem a vida influência dos aspectos históricos ou econômicos
pela vida em
sociedade, não pode ser atingido por todos, e é justamente vigentes no meio em que vive.
baseada em a imprevisibilidade e a inconsciência daquele
normas que não conhecimento que é a garantia da liberdade. Para Freud (1973) e Kehl (2003), o homem é
serão plenamente
conhecidas por um ser desamparado, frágil ante as vicissitudes
todos, mas que, Com efeito, uma das principais justificativas da da vida, ante a morte. Além de recorrer à figura
ainda assim, concorrência é que ela dispensa a necessidade de deuses, por exemplo, pode suportar a vida
regerão a vida
social e a de um “controle social consciente” e oferece através do estabelecimento de vínculos com seus
distribuição de aos indivíduos a oportunidade de decidir se as semelhantes. Ao estabelecer laços (investir libido
bens” perspectivas de determinada ocupação são no outro), sua vida adquire sentido, posto que
Garcia suficientes para compensar as desvantagens e reconhece a si mesmo através do olhar do outro.
riscos que a acompanham (Hayek, 1987, p.58). A vida em sociedade, as trocas afetivas, nascem,
portanto, de uma questão de sobrevivência.
Em uma realidade tão instável, Maia (2001) e
Sennett (1999) concordam ao afirmarem que Segundo Figueiredo (1991b), na sociedade
os indivíduos se deparam com a necessidade neoliberal, o indivíduo adquire uma espécie de
de tornarem-se flexíveis ante a vida, ou seja, liberdade que considera negativa, e que vem
devem estar abertos a mudanças, a se adaptarem acompanhada do desamparo. O homem, em
de acordo com a situação e a dançarem outras formas de organização política, econômica
conforme a música, o que significa que devem e social, encontrava-se, em parte, apoiado,
assumir uma espécie de identidade polimorfa. protegido pelo Estado e pela sociedade. Apesar
Seus projetos de vida devem pautar-se no de o sistema capitalista possuir mobilidade social
imediato, a curto prazo, posto que a vida é regida (afinal, pelo menos em teoria, ninguém nasce
pela incerteza, pela sorte. predestinado, mas, sim, cada um terá de construir
seu caminho durante a vida), o indivíduo deve
Homem hodierno, desamparo e caminhar só, defender seus próprios interesses,
narcisismo em competição com os demais, não contando
com qualquer arrimo.

Como já afirmamos anteriormente, os


[...] esse indivíduo livre é um desamparado. Ele
indivíduos que não portam as qualidades exigidas
pode escolher (até certo ponto), mas, mesmo
pelos ideais da cultura são excluídos da mesma.
que sua escolha seja real, ele passa a conviver
Na cultura neoliberal, segundo Maia (2001), são
com uma indecisão: seu destino, pelo menos
culpabilizados por não possuírem as capacidades teoricamente, passa a depender dele, de sua
requeridas pelo modelo neoliberal, como, por capacidade, de sua determinação, de sua força
exemplo, auto-suficiência e identidade flutuante. de vontade, de sua inteligência e também da
Mesmo que esse ideal de homem seja sua esperteza, da sua arte de vencer, de passar

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por cima dos concorrentes, de chegar primeiro – vazio do fiador último da história simbólica
e de sua sorte [...] Todavia, se pode subir, pode pessoal e da humanidade. Nesse contexto, seu
também descer, pode chegar à miséria sem que próprio “eu” constitui um desses ídolos
ninguém se preocupe com ele – e isso, numa divinizados (Pereira, 1999, p.127).
sociedade tradicional, também é muito
improvável (Figueiredo, 1991b, pp. 25-26). Através do conteúdo até o momento exposto,
pode-se notar que a atual forma de organização
A cultura atual, ao estabelecer esse ideal, propicia social possui algumas características que
o investimento libidinal do indivíduo em si propiciam o adoecimento dos seus membros.
mesmo, que, na visão de Maia (2001) e Mas tais fatores estariam relacionados com a onda
Guinsberg (2001), favorece as denominadas de depressão que atinge a humanidade
patologias do narcisismo, entre as quais se situa atualmente?
a depressão. Estas remetem o indivíduo ao estágio
do desenvolvimento humano no qual o bebê Depressão na
não se reconhece enquanto ser separado do contemporaneidade:
mundo externo: percebe-se fundido com o
mundo, não há o sentimento de alteridade, de
conseqüência psíquica do
reconhecimento do outro, sendo que a libido neoliberalismo?
se encontra voltada para si mesmo, requerendo
que suas necessidades sejam satisfeitas Como se sabe através dos escritos de Fenichel
imediatamente, caso contrário geram grande (1981), o depressivo encontra-se regredido
tensão (Laplanche e Pontalis, 1983). narcisicamente. Fechado para o mundo externo,
apresenta como sintoma a ruminação mental de
Segundo Freud (1973), um retorno a essa fase seus problemas pessoais, na tentativa de resolvê- Quando se
descobre
ocorre diante do desamparo, de situações nas los por si só. Mackinnon e Michels (1981)
abandonado
quais o indivíduo se depara com a desproteção destacam que a auto-estima de tais indivíduos pelos deuses que
que o levam a recorrer a mecanismos que o baseia-se na autoconfiança, que os faz buscar ele próprio criou, o
homem tem de
defendam de possíveis aniquilações, como enfrentar seus problemas independentemente
enfrentar seu
rejeição ao perigo que o ameaça. Regride, daquilo que os rodeia. Não temos aqui uma desamparo mais
portanto, ao estágio em que a criança se sente grande similaridade no que tange ao perfil de radical, o do lugar
vazio do fiador
onipotente, ela se basta. Tais manifestações indivíduo cobrado pelo sistema neoliberal,
último da história
podem ser compreendidas como resultado da quando este exige um ser auto-suficiente, isolado simbólica pessoal
tentativa de os indivíduos se incluírem na cultura; dos demais? e da humanidade.
Nesse contexto,
o adoecimento reflete, portanto, o caráter social seu próprio “eu”
(nos termos de Fromm, 1979, o ideal de sujeito) A sociedade contemporânea, favorecendo uma constitui um desses
cobrado dos mesmos. O homem, encontrando- regressão narcísica, distancia os indivíduos uns ídolos divinizados

se desamparado pelo próximo (que lhe é dos outros. De acordo com Mackinnon & Michels
Pereira
obstáculo à realização pessoal), abandonado pelo (1981), a depressão também tem como sintoma
Estado, desloca a libido de objetos externos e o isolamento social. O indivíduo tende a
investe-a em si mesmo para que possa suportar esquivar-se do contato social, buscando resolver
a caminhada que fará solitariamente rumo aos por si só seus problemas, desvalorizando o apoio
seus objetivos – incertos – a serem atingidos. do próximo. O contato entre as pessoas, na
Destituído de apoio, iguala-se a um deus. sociedade atual, conforme aponta Monteiro
(2004), se dá de forma superficial, no qual os
Quando se descobre abandonado pelos deuses indivíduos evitam falar de si mesmos. Segundo
que ele próprio criou, o homem tem de os autores, vive-se em uma época de
enfrentar seu desamparo mais radical, o do lugar incomunicação. O homem sente-se solitário,
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mesmo em meio a uma multidão. Concebe-se imediato, presente no indivíduo depressivo. Este
que os conflitos devem ser elaborados no âmago pode apresentar, como traço de personalidade,
de cada um, sendo refutável quem os exponha a denominada adicção de amor, que, para
publicamente, posto que o homem deve Fenichel (1981), consiste na busca por relações
sustentar a imagem que lhe é exigida pelo ideal, com o outro apenas para que suas necessidades
como nos jargões sorria, você está sendo filmado, sejam satisfeitas, através de um vínculo narcísico
e no stress. Exige-se um indivíduo “desafetado”. com o objeto, a fim de obter prazer imediato.
O valor do mal-estar é, assim, revogado. O Assim, não importa as características desse objeto,
conflito psíquico, sinal de bom funcionamento e, sim, que este supra sua carência. Dessa
mental, como expõem Guinsberg (2001), Di forma, a libido se encontra investida em si
Loreto (1997) e Monteiro (2004), é tido como mesmo, não se deslocando para o objeto, fator
patológico, em nome de uma concepção de essencial para o estabelecimento de relações
sujeito saudável enquanto ausente de conflitos. com o outro (Maia, 2001).

A palavra, segundo Monteiro (op. cit.), o veículo A identidade dos indivíduos se encontra, assim,
para elaboração da angústia, do trauma, do luto em crise, pois, como postula Bock (1999, p.3):
bem como instrumento que vincula os seres “[...] não sabemos mais quem somos, isso porque
uns aos outros, é abolida do cotidiano. Se a o sabermos a nós mesmos só é possível quando
palavra é abolida, a atividade do indivíduo em sabemos nosso mundo e o dos outros”. Nessa
nomear suas experiências fica prejudicada. crise, conforme aponta Monteiro (2004) e
Como expõem Kehl (2003) e Lowenkron (2003), Guinsberg (2001), surgem os mal-estares, tais
o indivíduo mergulha no vazio, na ausência de como os sentimentos de vacuidade, tristeza, ou
sentido da existência, pois encontra-se até melancolia, todos esses sintomas embutidos
com o mesmo rótulo: depressão.
depauperado subjetivamente. Sem a palavra,
retorna ao desamparo, posto que, se as
Podemos dizer que o indivíduo se encontra
experiências não são nomeadas, são
inserido num meio fragmentado: fragmentação
desconhecidas para o indivíduo. Ante o medo
do tempo, que perde a linearidade para ser
do desconhecido que ronda o ego
composto de instantes; fragmentação do
permanentemente nessa sociedade, resta a
conhecimento, pois não é possível ter-se o
defesa narcísica de investir libido em si mesmo,
conhecimento total acerca dos fenômenos
resguardando-se do meio externo hostil. sociais, mas somente parcelas destes (Fernandez,
2003); fragmentação do espaço, pois não há
Ainda no campo das relações interpessoais, limites espaciais ante a globalização e a mídia
observa-se que, principalmente entre o público eletrônica; extinguem-se, assim, as distâncias, e
jovem, o “ficar” é a forma de relacionamento ocorre a fragmentação de si mesmo, já que o
amoroso em voga na atualidade, consistindo em indivíduo não possui uma identidade fixa, mas
uma espécie de relacionamento relâmpago, sem flexível.
vínculos entre os envolvidos. Remete à lógica
do imediatismo presente na cultura, conforme À luz de Freud (2000), a depressão deriva da
explana Maia (2001), como forma de evitar perda de objeto investido libidinalmente. Ao
frustrações com um vínculo mais sério, evitar ocorrer a perda, o ego inicia o luto a fim de
perdas, obter satisfação momentânea. O outro elaborá-la. Em lugar de a libido, com a perda,
é somente um instrumento que, depois de deslocar-se para outro objeto – como ocorre no
oferecer ao desfrutador o prazer almejado, é luto normal – esta é investida no ego, que se
descartado. identifica com o objeto abandonado, o que
acarreta uma mudança estrutural, passando a ser
Pode-se notar que essa forma de relacionamento tratado pelo superego como se fosse o objeto
atende à necessidade narcísica do prazer internalizado.

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Os indivíduos, imersos no jogo do “cada um por às suas regras e sofrendo suas retaliações. Como
si” e “que vença o melhor”, devem depositar fé o ego do depressivo se encontra regredido, é
em si mesmos; perdem, assim, o que lhes servia infantil (orientado oralmente), ele obedece ao
de amparo: perda de seus próximos, que se superego como se fosse um filho diante da
tornam obstáculos à realização pessoal e perda autoridade dos pais. Sofrendo constantes ataques
de um Estado, que os deixa entregues à sua dessa autoridade, o ego sente-se abandonado,
própria sorte, regido pelo mecanismo impessoal desamparado.
do mercado. A desigualdade entre os indivíduos
é vista como natural e necessária no modelo O ideal de homem requerido pela sociedade
neoliberal, impondo a todos grandes limitações contemporânea é, segundo Guinsberg (2001) e
no curso da vida. Segundo Guinsberg (2001) e Maia (2001), algo muito distante da realidade
Fenichel (1981), a insatisfação com a vida, que dos seres humanos, quase inatingível. Para o
exige muitos sacrifícios dos indivíduos, se primeiro autor, esse fator eleva os índices de
caracteriza como um dos fatores que favorecem depressão tanto nas classes médias quanto nas
a depressão. menos privilegiadas. Nas classes médias, o
desejo não é satisfeito plenamente, é
[...] uma sociedade que não consegue dar inesgotável, posto que não existe nada fixo, tudo
satisfações necessárias aos seus membros por é temporário, instantâneo; em se tratando de
força cria grande número de indivíduos de caráter consumo, por exemplo, sempre existem
oralmente dependente. Os tempos instáveis e produtos novos lançados no mercado, cada um
as depressões econômicas, privando os homens superando o anterior em alguma inovação. Já as
das suas satisfações, também privando-os do seu classes mais baixas não têm possibilidade, não
poder e prestígio e dos modos habituais por que têm acesso aos ideais de consumo da cultura,
regular a auto-estima, aumentam-lhes as acabam ficando à margem da sociedade, ou seja,
necessidades narcísicas e a dependência oral são excluídas. Nota-se que o neoliberalismo se
(p.379). caracteriza como um sistema gerador de
insatisfação nos indivíduos, ante a vida e para
Os homens, no modelo neoliberal, são consigo mesmos.
culpabilizados pelas situações de crise que
atingem a sociedade, tais como miséria e De acordo com Paulani (1999) e Guinsberg (2001),
recessões econômicas. O fracasso, o insucesso, o mercado adquire força de entidade máxima,
a perda, a derrota têm suas causas atribuídas à único capaz de assegurar a liberdade individual,
falta de capacidade de o indivíduo lidar com as no qual as forças que a regem são desconhecidas,
adversidades (Figueiredo, 1991a). O impessoais, não passíveis de serem conhecidas
neoliberalismo exige um indivíduo onipotente, na sua totalidade pelos sujeitos. Para Paulani (1999),
e, quando este falha, toda a culpa recai sobre Hayek admite que o mercado regente da
seus ombros. sociedade é “[...] amoral, mas é o que de melhor
se pode conseguir!” ( p. 122).
Um sistema que atribui demasiada
responsabilidade ao indivíduo tem seus reflexos Se tentar conseguir algo melhor que isso, fica
em nível psíquico. O superego, enquanto pior. Então não há saída. Temos de abrir mão de
representante das normas que regem a cultura, nossa suposta capacidade racional e submeter-
adquire uma crueldade e sadismo em demasia nos à lógica míope da economia de mercado,
ao exigir o cumprimento do ideal cobrado pelo convivendo com seus resultados. É um fim
neoliberalismo e culpar unicamente o ego caso melancólico demais, havemos de convir, para o
não cumpra tais expectativas. Segundo Fenichel homem moderno, que se descobriu todo
(1981), o superego do depressivo possui caráter poderoso há alguns séculos em função de sua
sádico. O ego está a ele subjugado, obedecendo capacidade racional (Paulani, 1999, p. 122).
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Todos devem submeter-se aos seus das exigências e ideologias do sistema econômico
pressupostos como se estes fossem verdades e político, é a estrutura da personalidade que
inquestionáveis, naturais, e que devem ser atua cobrando do ego as exigências do modelo
aceitos pelos indivíduos como se não existisse neoliberal, que apresenta ideais quase inatingíveis
outra alternativa: todos devem, contestando e culpabiliza unicamente o indivíduo por não
ou não, adaptar-se às leis mercadológicas. atingir esses ideais, ou seja, abandona o indivíduo
Quando se pressupõe uma força desconhecida à própria sorte, deixando-o em situação de
e poderosa nas rédeas da vida, ocorre uma desamparo; o superego adquire, assim, um
desvalorização da pessoa, que abdica de caráter sádico, (característica da depressão) e o
compreender o mecanismo que rege a ego se vê flagelado, desamparado, condição
sociedade e entrega-se ao jogo da sorte, o que, presente na depressão.
para Guinsberg (op. cit.), colabora para a
depressão. Considerando que o indivíduo se constitui como
tal a partir das relações sociais que mantém, há
Considerações finais uma unidade entre fatores internos e externos.
Isso significa que fatores histórico-sociais não só
Segundo Bock (1999 b, p.30), “[...]o são constitutivos do psiquismo como também
desenvolvimento do indivíduo se dá no contato colaboram para o aparecimento de patologias.
com a cultura e outros homens”. A ideologia do O homem atual é, a um só tempo, desamparado
neoliberalismo entende que o indivíduo se faz e onipotente e, portanto, vulnerável ao
por si próprio, não necessitando de mais nada aparecimento de doenças psíquicas. O sistema
para sua constituição além de si próprio. Butler neoliberal não cria a depressão, mas propicia o
(1987, p.47), grande defensor de Hayek, afirma seu afloramento, ou seja, fornece várias condições
que: para que o indivíduo seja por ela acometido.

[...] não são as finalidades que unem as pessoas. Para Bock (idem, p.34): “O indivíduo só pode
As relações entre os homens são, na verdade, ser realmente compreendido em sua
relações-meios. Hayek lamenta que muitos não singularidade quando inserido na totalidade social
consigam aceitar que a união da humanidade e histórica que o determina a dá sentido à sua
depende, afinal, das relações econômicas e do singularidade”.
modo como elas fornecem a satisfação pessoal.
Entender a ideologia neoliberal e suas implicações
A falta de referências, o isolamento, a propicia ao psicólogo compreender a causa da
necessidade de ter e não ser alguém são algumas depressão como expressão dos tempos. Muda a
das conseqüências da adoção desses valores idéia de que o homem é o único responsável
pela sociedade atual. Assim, podemos dizer que pelas suas desventuras; muda, assim, a prática
a atual conjuntura propicia a entrada dos do psicólogo – do enfoque na doença para o
indivíduos em um estado depressivo, posto que enfoque na prevenção. Segundo Bock (ibidem),
favorece uma regressão narcísica e a adoção de a Psicologia vem trabalhando com uma visão
um caráter depressivo, isso porque se naturalizada de homem, o que não possibilita
encontram desamparados pelo meio social, que entendê-lo historicamente, o que implica uma
cobra auto-suficiência e desapego do próximo atuação descontextualizada e ideológica. Para a
bem como culpabiliza-os pelo fracasso, e tem autora, entender o psiquismo humano é
na força impessoal e incerta do mercado o motor compreender as mediações sociais que o
regente do destino das pessoas. constituem. Ao psicólogo cabe a responsabilidade
de apreender as ideologias vigentes por meio
É possível, assim, estabelecer uma relação acerca do olhar crítico e, dessa forma, ter uma atuação
do desamparo e do adoecimento: o superego, que possibilite a transformação social, e não a
representante interno do meio social e portador sua legitimação.

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2005, 25 (4), 525-535


535
Lenita Gama Cambaúva & Mauricio Cardoso da Silva Junior PSICOLOGIA CIÊNCIA E
PROFISSÃO, 2005, 25 (4), 525-535

Lenita Gama Cambaúva

Mestre em Filosofia da Educação pela PUC/SP, professora do


Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá.

Mauricio Cardoso da Silva Junior

Acadêmico do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá.


E-mail: o.mauriciojr@ig.com.br.

Recebido 30/03/05 Reformulado 04/10/05 Aprovado 03/11/05

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