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OBSERVAÇÃO
U M A IN T R O D U Ç Ã O
EDICON
EN SIN A N D O O B S E R V A Ç Ã O
UMA INTRODUÇÃO
Matos
Ph. D. pela Columbia University
ProP do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Revisão técnica
Antônio Jayro da Fonseca Mota Fagundes
Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo
Prof, das Faculdades “Farias Brito”
EDICON®
São Paulo
1986
Sumário
Prefácio______ 15
Apresentação
Rachel Rodrigues Kerbauy--------- 17
Introdução--------- 21
UNIDADE 1
A NECESSIDADE DA OBSERVAÇÃO EM CIÊNCIA
Questões de estudo--------- 31
UNIDADE 2
9
UNIDADE 3
A SITUAÇÃO DE OBSERVAÇÃO - I
UNIDADE 4
A SITUAÇÃO DE OBSERVAÇÃO - II
Texto: o relato das condições em que a observação ocorre
(Critérios para uma descrição adequada.)______ 50
UNIDADE 5
O REGISTRO DO COMPORTAMENTO - I
Texto: A técnica de registro contínuo--------- 58
(Observação e registro; quando usar o registro
contínuo; a escolha dos comportamentos a serem
registrados; a sistemática de registro.)
Questões de estudo______ 64
O REGISTRO DO COMPORTAMENTO - II
UNIDADE?
UNIDADE 8
11
UNIDADE 9
A DEFINIÇÃO CIENTÍFICA
UNIDADE 10
UNIDADE 11
12
UNIDADE 12
O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTOS - I
UNIDADE 13
O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTOS - II
Texto: A definição de classes de
comportamento------------- 150
(Características da definiçãode umaclasse
comportamental; o problemada unidade de análise;
como denominar uma classe.)
15
Estimuladas pelos membros da banca examinadora e. premidas pelas
solicitações de colegas, orientanda e orientadora se dispuseram a retomar o
trabalho e adaptá-lo para ser publicado como livro. Desde sua primeira aplicação,
o curso original passou por sucessivas reformulações e vem sendo aplicado, de
forma regular, aos alunos de Psicologia do Instituto Metodista de Ensino Superior,
em São Bernardo do Campo. O que aqui se apresenta é fruto de uma revisão dos
procedimentos e materiais de ensino assim produzidos. Conservou-se a estrutura
básica do curso original; as modificações dizem respeito principalmente ao
material utilizado - textos e audiovisuais - bem como à elaboração de um
Manual do Professor3.
A publicação deste livro representa uma tentativa de contribuir para o
ensino da observação de comportamento de forma sistemática. Embora a obra se
destine, em princípio, a estudantes de Psicologia, seu uso pode ser estendido a
outros estudantes e profissionais que necessitem de semelhante treino, uma vez
que o curso independe de conhecimentos anteriores específicos.
M. A. M.
3. O Manual do Professor encontra-se à venda nas livrarias. Os filmes foram produzidos pelo
CAVE — Centro Audio Visual Evangélico, e poderão ser obtidos no seguinte endereço:
CAVE - Rua do Sacramento, 230 - CEP 09720 Rudge Ramos - São Bernardo do Campo.
Apresentação
17
professores de Psicologia que atuem na Universidade. Que o resultado seja fruto
da experiência, conhecimento e análise de dados, de pessoas que amadureceram
mais ainda, trabalhando. É obra ímpar, porque foi iniciada como pesquisa no
trabalho de dar aulas e pela maneira de apresentar o conteúdo para estudantes de
Psicologia.
As autoras planejam seu material instrucional. Modelam o comportamento do
estudante e, progressivamente, introduzem conceitos. As perguntas possíveis do
aluno são apresentadas nos primeiros capítulos: por que um curso de observação e
quais as características da observação científica que tornam necessário um
treinamento. Aos poucos o aluno vai sendo conduzido, não só a entender as
diversas maneiras de ver um fato, como as diferentes maneiras de definir o
comportamento e a necessidade de definir claramente os objetivos, para que possa
observar os fatos relevantes para determinada situação. Os exemplos, no decorrer
do livro, vão tornando claro porque existe um sistema de notação mais adequado,
com convenções que facilitam a anotação de dados, bem como da possibilidade
do aluno criar um sistema próprio de observação e de símbolos.
Notamos o cuidado na programação do material e percebemos como o
mesmo decorre da experiência analisada, quando verificamos os locais em que
várias informações aparecem. De fato, estas encontram-se exatamente onde
perguntas poderiam ser formuladas pelo leitor. Há ainda os exemplos, o material
de observação e as ilustrações, que abrangem desde o ambiente de interação da
mãe e da criança em sua sala de estar, até uma pessoa patinando. Cada material
está adequado ao que se pretende ensinar a observar naquele momento. Se vamos
aprender a observar expressões faciais, são apresentados rostos de menina,
menino, homem e mulher, e respostas simples, como levantar a mão, são
escolhidas para rediscutir o problema da definição do comportamento.
Importante ainda foi a variação de situações, todas diferentes, e as várias
tarefas nos exercícios de estudo, desde erros a corrigir e coleta de dados diante de
projeções, até identificação de eventos. Existe a dificuldade crescente das tarefas
propostas, mas tomou-se cuidado para que comportamentos e conceitos
necessários para a execução de tarefas novas já fossem dominados pelo
estudante. Ele vai se assegurando de sua maestria através das questões de estudo
que facilitam sua aprendizagem, servindo quer como roteiro, quer como avaliação
do que aprendeu e, para assegurar-se a eficácia de seu trabalho, há ainda
exercícios de avaliação.
O livro é um trabalho que entusiasma, pois leva o leitor a percorrer os
caminhos propostos. Ao profissional experiente e conhecedor do assunto serve
como modelo de trabalho, obrigando-o a perceber as opções das autoras na
maneira de programar seu material. Destaca-se aí a preocupação com a
demonstração da relevância da observação nas várias áreas de atuação do
psicólogo. Nos exemplos sobre a observação do comportamento do agricultor ou
do pedreiro pode existir uma amostra de como o trabalho dos psicólogos pode se
estender. Há ainda a surpresa de verificar que o aluno chega em seu trabalho,
através do livro, ^té classes de comportamentos.
Ao aluno, é um guia seguro para trabalhar independentemente de seu
referencial teórico. Ele fará algo e prosseguirá em seu trabalho. A ele é dada a
certeza de que as cousas que faz são relevantes para sua aprendizagem. Ele
mesmo poderá ir se avaliando através dos exercícios e verificações apresentadas.
Contingente a seu trabalho, obtém os reforçadores: dominou aquele assunto,
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poderá seguir sem dificuldade a tarefa seguinte e, no final do livro, sintetizará suas
observações em classes de comportamentos de acordo com sua função ou
morfologia. Mais importante ainda: poderá iniciar suas próprias observações;
saberá fazê-lo.
Resta ainda uma palavra: a bibliografia citada é geralmente de autores
brasileiros. E o livro em si, como foi realizado, pode servir como modelo de uma
maneira de produzir material relevante, decorrente do trabalho em cursos.
Ensinar passará a ser uma maneira do professor produzir material que será
avaliado por seus próprios alunos, podendo atingir mais adequadamente o
estudante e propiciar ao professor novos reforçadores para seu desempenho. A
educação começará a ter o lugar que merece. A sala de aula será o laboratório e a
função do professor, como transmissor de saber e de cultura, poderá ter a
dignidade perdida.
Este livro pode ser o início de um belo caminho para todos nós, por isso
agradeço às autoras por o estarem publicando e permitirem que apresente os
:rabalhos de uma antiga aluna de graduação, muito querida, e de uma colega, a
quem respeitamos.
Rachel Rodrigues Kerbauy
Prof* do Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo
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Introdução
21
O reconhecimento da importância da observarão e evidenciado pelo fato de
que cursos de observação do comportamento vêm sendo incluídos no currículo de
Psicologia, quer como disciplinas autônomas, quer como parie do programa de
outras disciplinas, em geral em Psicologia Experimental, Psicologia do
Desenvolvimento e Psicologia Social.
A existência desses cursos, entretanto, traz algumas dificuldades àqueles que
se propõem a ministrá-los. A primeira, relaciona-se à definição dos objetivos e
programa da disciplina. A escolha de objetivos para um curso de observação,
ministrado ao nível de graduação em Psicologia, devido a diversidade de
finalidades a que a observação atende e a variedade de problemas envolvidos com
a sua utilização, torna-se uma decisão arbitrária. As possibilidades de conteúdo
são muitas e vão desde a discussão dos enfoques observacionais, dos problemas
relativos ao uso da observação, da seleção dos eventos observados, da
interferência do observador na situação, da ética da observação, das técnicas de
registro utilizadas, da fidedignidade dos registros, do estabelecimento de
categorias comportamentais, etc., até o planejamento e execução de um estudo
observacional.
A segunda dificuldade advém do fato de inexistirem textos de apoio que
forneçam dicas acerca de como proceder na situação de observação, isto é, textos
que ensinem o aluno a observar1. E a terceira, é a dificuldade que o professor
encontra para avaliar e acompanhar o desempenho do aluno durante seu
treinamento em observação.
Frente à necessidade de planejar um curso de observação, e cientes destas
dificuldades, partimos para a busca de soluções. A proposta de curso que
apresentamos neste livro é uma entre as muitas possíveis, e foi tomada tendo em
vista a população à qual desejamos atingir: psicólogos em formação, que ainda
não se definiram por uma orientação teórica de trabalho.
O curso é introdutório e pretende ajudar a desenvolver algumas habilidades
básicas que sirvam tanto ao futuro pesquisador, que se proponha a conduzir um
estudo observacional, como ao futuro profissional, que pretenda utilizar a
observação sistemática em seu trabalho. Embora saibamos que muitas
orientações trabalham de forma diferente, consideramos que o treinamento em
observação e registro de eventos será útil ao aluno, uma vez que o levará a atentar
para as particularidades do comportamento e as circunstâncias em que ele ocorre,
coisas que são importantes independente do tipo de orientação teórica abraçada.
Ao definir os objetivos terminais do curso, consideramos como fundamental
a utilização da linguagem objetiva nos relatos observacionais. O uso da linguagem
objetiva elimina a confusão com relação a interpretação dos eventos observados
e, segundo Ferster, Culbertson e Boren (1977), permitiria a comunicação das
descobertas realizadas por profissionais de diferentes orientações teóricas.
. Outras habilidades consideradas básicas foram: a identificação das
condições em que os comportamentos ocorrem e a classificação e definição dos
comportamentos observados. A descrição das condiçõe_s_ em que os
comportamentos ocorrem tem se mostrado relevante para o estabelecimento de
hipóteses explicativas do comportamento. A identificação das condições envolve
a descrição do sujeito, a especificação do local onde o organismo se encontra, e as
mudanças no ambiente imediato que ocorrem durante a permanência do
organismo na situação, isto é, os eventos antecedentes e conseqüentes ao seu
comportamento.
Por outro lado, o mero registro dos comportamentos em linguagem objetiva
não basta. Numa etapa posterior, é necessário que o observador identifique as
características comuns existentes entre os comportamentos observados,
classifique-os e descreva os critérios utilizados na classificação. Do mesmo modo,
a definição dos critérios permite a comunicação e a repetição, por outros
observadores, dos registros efetuados. Duas são as formas de classificação
abordadas no livro, uma se refere à morfologia, ou melhor, à postura e padrão do
movimento apresentado; outra se refere à função, ou melhor, ao efeito que o
comportamento produz no ambiente. A escolha de uma ou outra vai depender dos
objetivos da própria observação.
Outra opção, feita ao planejar o curso proposto, foi com relação à técnica de
registro a ser ensinada. Escolheu-se a técnica de registro contínuo porque a mesma
independe de conhecimento anterior da situação a ser observada, permite manter
a linguagem própria do aluno e, conseqüentemente, pode ser utilizada em
qualquer fase do trabalho. Além disso, a técnica de registro contínuo fornece
informações não só com relação ao tipo de evento observado, mas com relação à
sua seqüência temporal e freqüência.
O curso visa quatro objetivos e é composto por treze unidades de ensino. As
unidades estão relacionadas a um objetivo ou mais. A tabela, apresentada a
seguir, mostra os objetivos terminais do curso e as unidades em que são
desenvolvidos.
Objetivos terminais e unidades correspondentes
23
Para poder acompanhar e avaliar o desempenho dos alunos nas atividades
de observação e registro, sem a necessidade de fazer uso de atividades de campo,
recorremos a recursos audiovisuais. Audiovisuais, tais como o videoteipe, têm
sido utilizados para o treinamento de observadores (Blumberg, 1971; Nay e
Kerhoff, 1974; Jenkins, Nadler, Lawler e Cammann, 1975). A utilização de
videoteipe ou de filme para o treinamento é vantajosa na medida em que:
a) permite selecionar os comportamentos e ambientes a serem apresentados e
graduar suas dificuldades; b) possibilita avaliar com precisão a execução dos
observadores, uma vez que facilita a comparação entre os registros efetuados e
eventos observados; e c) permite a interrupção e repetição das cenas. A
interrupção da cena, por sua vez, possibilita o feedback imediato ao desempenho
do observador, enquanto que a repetição facilita a análise das dificuldades.
Um dos recursos audiovisuais utilizados foi o filme. Foram produzidos três
filmes super 8, destinados às atividades práticas de observação e registro das
unidades 4, 5, 6 e 8. O primeiro filme focaliza o ambiente físico onde a ação se
desenvolverá e, posteriormente, os comportamentos motores apresentados por
uma criança num parque infantil. O segundo, enfoca as expressões faciais e ações
motoras de uma pessoa numa situação de espera; e o terceiro, o ambiente físico e
social e as interações entre uma pessoa e seu ambiente. Convém esclarecer que
embora os filmes façam parte do material do curso, o mesmo poderá ser
ministrado independentemente destes.
Outro material audiovisual utilizado é a fotografia. Fotografias aparecem
como recurso tanto para a descrição do ambiente, como para a descrição de
comportamentos, principalmente na classificação e definição de classes de
comportamento.
O livro contém o material escrito referente às treze unidades de ensino. Uma
ficha de apresentação antecede o material de cada unidade. A ficha de
apresentação descreve os objetivos da unidade, o material contido no livro e as
atividades propostas.
O material contido neste livro consiste, basicamente, em textos, questões e
exercicios de estudo, instruções para as atividades práticas, protocolo de
observação e folhas de análise.
As atividades propostas são: ler texto e/ou instrução, responder questões de
estudo, resolver exércício de estudo, participar de discussão, observar e registrar,
analisar os registros, responder questões ou resolver exercício de avaliação. Seria
importante que, antes de ler qualquer texto de instrução, o aluno se familiarizasse
com os objetivos descritos na ficha de apresentação da unidade respectiva.
Igualmente, tem mostrado nossa experiência que, se o aluno executar as
atividades indicadas nessa ficha, na ordem em que estão listadas, seu
aproveitamento será maior, porque sua aprendizagem será cumulativa.
Os textos procuram fundamentar o trabalho a ser realizado. As instruções
visam orientar o leitor com relação à atividade prática a ser desenvolvida. Elas
descrevem o objetivo do trabalho a ser realizado, o material a ser utilizado, bem
como fornecem informações sobre o preenchimento do protocolo de observação e
folhas de análise. As questões de estudo pretendem levar o leitor a rever e analisar
o texto lido. Os exercicios de estudo tentam favorecer a aprendizagem. Eles
consistem na análise de relatos de observação ou de definições, e na descrição de
situações e comportamentos. As situações e comportamentos a serem descritos
24
são ilustrados por fotografias. A atividade de discussão visa solucionar as dúvidas
existentes com relação ao material, assim como fornecer feedback aos
comportamentos apresentados nas atividades anteriormente realizadas.
As atividades de observação e registro, nas unidades 4, 5. 6 e 8, são feitas
recorrendo-se a projeção de filmes. O professor poderá substituir os filmes por
outros recursos, tais como dramatização ou observação em situação natural.
Descrições detalhadas de como utilizar os filmes ou de como substituí-los são
fornecidas no Manual do Professor. Ao realizar uma atividade prática, o
observador deverá preencher o protocolo de observação, e no caso da Unidade 8,
também as folhas de análise.
25
UNIDADE 1
A N E C E S S ID A D E
D A O BSERVA ÇÃ O
EM C IÊ N C IA
objetivos
A o final d a unidade, o leitor deverá ser cap az de verbalizar sobre:
• A observação com o um instrum ento p a ra a coleta de dados acerca do
com portam ento e, d a situação am biental
• A im portância da observação p a ra o psicólogo
• As características da observação científica
• A necessidade de treinam ento em observação
material
• T exto: “ Por que um curso de o b serv ação ?”
• Q uestões de estudo
atividades
• Ler o texto “ P o r que um curso de o b servação?”
• R esponder as questões de estudo
• P articip ar de um a discussão sobre as questões de estudo
• R esponder as questões de avaliação
Por que um curso de observação?
28
os modos pelos quais essas conseqüências se distribuem no tempo determinam
diferentes padrões de comportamento; que o comportamento pode ficar sob
influência de estímulos particulares do ambiente, em detrimento de outros.
29
—
í 30
A observação científica é uma observação
sistemática e objetiva.
estudo
31
UNIDADE 2
A IM P O R T Â N C IA D A
L IN G U A G E M C IE N T ÍF IC A
objetivos
D ad o um relato de observação, o leitor deverá ser capaz de:
• Identificar os trechos do relato que contrariam as características de um a
linguagem científica
• Identificar as características da linguagem científica que estão sendo
violadas em cad a um desses trechos
material
• Texto: “ A linguagem científica”
• Q uestões de estudo
• Exercício de estudo
atividades
• Ler o texto “ A linguagem científica”
• R esponder as questões de estudo
• R esolver o exercício de estudo
• P articip ar de um a discussão sobre as questões e/o u exercício de estudo
• R esolver o exercício de avaliação
33
A linguagem científica
34
-A h! Venta-Grande! Que noite de almirante você vai passar! Ceia, viola e os
braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva . . .
Genoveva é cabocla, tem vinte anos e olhos pretos. Às três horas da tarde,
Deolindo dirigiu-se à Rua de Bragança”.
O que parece logo “ saltar aos olhos” é que o relato aproximadamente
científico não tem poesia. Isto mesmo! Um relato científico não usa o recurso da
linguagem figurada, não recorre a interpretações, nem a impressões subjetivas.
à objetividade é uma característica fundamental da linguagem científica.
Tentemos agora observar algumas mudanças sofridas pelo texto quando foi
transformado em linguagem aproximadamente científica:
O apelido Venta-Grande bem como a informação que estava entre
parênteses foram suprimidos. Trata-se de uma linguagem coloquial. Também
foram suprimidos o termo batiam (referente às horas), e as frases: “Era a fina flor
dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos”. Excluiu-se,
do mesmo modo, os termos esperta (referente a Genoveva) e atrevido (atributo
para o olho de Genoveva). Tais mudanças excluem recursos de linguagem, os
quais representam impressões subjetivas do autor e se referem a eventos ou
características que não foram observados.
Observemos também que os termos longa (referente à viagem) e depressa
(referente à saída de Deolindo para a terra), foram substituídos por medidas (6
meses; 10 minutos). Uma linguagem científica não comporta termos como
“longa” e “depressa”, os quais permitem várias interpretações a respeito do
tempo real.
A ordem de alguns trechos da descrição foi mudada. Num relato científico,
na maioria das vezes, a apresentação dos eventos na ordem em que ocorreram é
da maior importância. Já imaginou se você fosse descrever o comportamento da
abelha fazer mel e citasse as ações da abelha fora de ordem? E se isso acontecesse
com um relato científico das ações envolvidas no preparo de um bolo?
Bom, voltemos às mudanças na estória do Deolindo. Embora seja uma
linguagem coloquial e com figuras de estilo, a fala dos companheiros de Deolindo
não foi suprimida ou alterada. Por quê? Trata-se de uma reprodução do que
realmente foi dito. É a linguagem dos personagens, não do autor. Em alguns
casos, o cientista pode ter como objetivo descrever as características das
interações verbais entre pessoas. Poderá então usar transcrições no seu relato.
Não vamos agora esperar que todas as pessoas passem a usar uma
linguagem científica. O que determina .a adequação das características da
linguagem é o objetivo. É óbvio que a estória do Deolindo, se fosse contada pelo
escritor de modo aproximadamente científico, não teria beleza. Seria um desastre!
E o que dizer de duas amigas que contassem as “novidades” daquela maneira?
Um escritor, um cientista e uma pessoa comum, pretendem influenciar seus
ouvintes e leitores, de maneira diferentes. Portanto, usam linguagens com
características diferentes.
Relato n9 1 Relato n9 2
1) s \ n á a à procura de um lugar para 1) ônibus com todos os assentos
se sentar. ocupados. S dentro do ônibus, de
pé, anda em direção à porta
dianteira do ônibus.
2) Como não encontra, pára em 2) Ônibus com todos os assentos
frente ao primeiro banco, atrás do ocupados. S parada em frente ao
motorista. Tenta pedir um lugar primeiro banco, atrás do motorista,
aos passageiros que se encontram de pé, vira a cabeça em direção aos
sentados naquele banco. passageiros que estão sentados no
banco.
3) Como ninguém se incomoda, 3) Ônibus com todos os assentos
cansada, ela desiste. ocupados. S parada em frente ao
primeiro banco atrás do motorista,
de pé; passageiros do banco olham
em direção à rua, S expira fundo e
fecha os olhos.
1. Nos relatos de observação é costume, para evitar a divulgação nos nomes, identificar,
através de letras, as pessoas presentes na situação. A letra maiúscula S é, em geral,
utilizada para designar o sujeito observado.
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Possivelmente, se outro observador estivesse presente na situação, interpretaria as
ações do sujeito de um modo diferente. O segundo relato elimina as divergências
entre os observadores, na medida em que descreve exatamente as ações que
ocorrem.
Alguém poderia, entretanto, argumentar que a linguagem objetiva não
exprime com veracidade o que está ocorrendo, uma vez que elimina informações
relevantes acerca do fenômeno, informações que dão sentido à ação. Neste caso
responderíamos dizendo que uma descrição mais refinada, que inclua gestos,
verbalizações, entonação de voz, expressões faciais etc., forneceria ao leitor a
imagem requerida.
De uma maneira geral, os principais erros contra a objetividade que devem
ser evitados num relato são:
38
Relato n? 3 Relato n9 4
1) Sobre o tapete, a meio metro da 1) Sobre o tapete da sala está uma
mesa de centro, está uma bola bola pequena.
vermelha de 5 cm de diâmetro.
2) Um menino, de aproximadamente 2) Uma criança movimenta-se em
quatro anos de idade, anda em direção à bola.
direção à bola.
3) De frente à bola, o menino agacha- 3) De frente à bola, a criança muda
se e a pega. de postura e a pega.
4) Levanta-se. Permanece parado de 4) Levanta-se. Por algum tempo
pé, segurando a bola por permanece parado de pé,
aproximadamente 10 segundos. segurando a bola.
5) Grita “ô”, “ô” e joga a bola em 5) Grita: “ô”, “ô” e joga a bola em
direção à porta. direção à porta.
6) Corre em direção à bola. 6) Movimenta-se em direção à bola.
39
fornecerá o diâmetro da bola, ou anotará p referencial de comparação (bola
menor do que as outras); ao invés de registrar “a criança jogou durante algum
tempo", o observador anotará “ um menino de aproximadamente 4 anos jogou
futebol durante mais ou menos 30 minutos”, isto é, ele especificará o sexo e a
idade da criança, a ação que ocorre e o tempo de duração da ação. Convém
lembrar que sç um termo tiver sido anteriormente definido, poderá ser empregado
no registro. Por exemplo, se o observador especificar, no inicio do registro, que o
termo “criança” se refere a um menino de aproximadamente 4 anos, poderá
utilizar este termo posteriormente.
TERMOS OU EXPRESSÕES AMBÍGUAS
Isto é, quando numa expressão, um termo pode ser referente tanto ao sujeito
da frase quanto a seu complemento, o observador deve usar termos adicionais que
indiquem precisamente a que ou quem o termo se refere. Por exemplo: ao
registrar “P amarra o sapato. Encosta na parede”, alguém poderia indagar: P
encostou-se ou encostou o sapato á parede? Cuidado semelhante deve ser tomado
quando se usam palavras que podem ter vários significados. Por exemplo, em
-algumas regiões do Brasil, se alguém registra: “A/ quebrou as cadeiras”,
certamente se perguntará: quebrou moveis que servem de assento, ou fraturou os
ossos ilíacos?
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Questões de estudo
1) Quais são as características de uma linguagem científica?
2) O que é uma linguagem objetiva?
3) Em relação à objetividade como característica da linguagem científica, que tipo
de erro um observador menos cuidadoso comete?
4) O que significa clareza e precisão na linguagem?
5) Com relação à clareza e precisão na linguagem, que tipo de erro pode ocorrer?
6) Como o observador deve proceder para registrar os fatos com linguagem
científica?
Exercício de estudo
Seguem-se três relatos de observação onde são cometidos erros em relação à
objetividade ou clareza e precisão. Cada relato é apresentado primeiro como um
todo e em seguida é subdividido em trechos. Para realizar este exercício, você
deverá:
a) sublinhar no relato (apresentado como um todo) as palavras que contrariam as
características da linguagem científica, justificando;
b) Assinalar com “ I” (no parênteses ao lado esquerdo), trechos do relato que
violam a característica de objetividade na linguagem; e
c) Dentre os trechos do relato que você considerou objetivos, isto é, cujos
parênteses estão em branco (não assinalados), assinalar com “ II” aquele(s) que
viola(m) a característica de clareza e precisão.
RELATO N? 1
‘V e M estão namorando. Em determinado momento, M fica nervosa. J,
zangado, pega o paletó para sair. Anda em direção à porta. Próximo à porta,
arrepende-se e vira-se na direção de M. M lhe faz uma desfeita. J não gosta do
comportamento de M. Vira-se em direção à porta, coloca a mão na maçaneta,
abre a porta e sai da sala”.
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RELATO N? 2
“ C sobe no selim da bicicleta e pedala. Sua mãe o observa apreensivamente,
enquanto ele vai até a esquina e volta. Ao chegar diz a ela: “Não quero mais
brincar”. Sua mãe não responde mas certamente ouviu. C puxa o braço da mãe
para saber porque ela não responde. Em seguida, entra em casa para assistir
desenho animado”.
RELATO N? 3
“Quando L entrou no carro, seu gato quis entrar também. O gato gosta de
ficar olhando à janela. Ao entrar no carro, o gato sujou as coisas que estavam
sobre o assento. L, aborrecida, pegou o gato pelo cangote e colocou-o na calçada.
O gato se queixou. L abriu o porta-luvas e pegou algo para limpar as marcas do
gato”.
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UNIDADE 3
A S IT U A Ç Ã O
DE O B S E R V A Ç Ã O - I
objetivos
Ao final da unidade, o leitor deverá ser capaz de:
• V erbalizar sobre:
• a im portância da especificação das condições em que a observação
ocorre
• a caracterização do sujeito, do am biente físico e do am biente social
• O bservar e fazer o diagram a de um a situação
material
• Texto: “ O protocolo de observação”
• Q uestões e exercício de estudo
atividades
• Ler o texto “ O protocolo de observação”
• R esponder as questões e resolver o exercício de estudo
• P articipar de um a discussão sobre as questões e exercício de estudo
• R esponder a questão e resolver o exercício de avaliação
O protocolo de observação
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
1. Nome do observador
2. Objetivo da observação
3. Data da observação
4. Horário da observação
5. Diagrama da situação
6. Relato do ambiente físico
7. Descrição do sujeito observado
8. Relato do ambiente social
9. Técnica de registro utilizada e
registro propriamente dito
10. Sistema de sinais e abreviações
Os itens deste protocolo estão relacionados basicamente a três conjuntos de
informação, a saber:
1) os itens 1 e 2 referem-se à identificação geral.
2) os itens 3 a 8 referem-se à identificação das condições em que a observação
ocorre. Este conjunto inclui especificações com relação a “quando” e “onde” a
observação foi realizada e “quem” foi observado; e
3) os itens 9 e 10 referem-se ao registro de comportamentos e circunstâncias
ambientais. Esse conjunto inclui informações sobre “como” a observação foi
realizada, isto é, a técnica de registro, o sistema de sinais e abreviações
utilizado e informação sobre “o que” foi observado, isto é, o registro
propriamente dito.
Nesta unidade, focalizaremos essencialmente os itens referentes ao segundo
conjunto de informações, ou melhor, os relacionados à identificação das
condições em que a observação ocorre. O primeiro conjunto de informações -
identificação geral - não será focalizado, uma vez que o item 1 não necessita de
explicações para o seu preenchimento, e que o item 2 depende do trabalho a ser
realizado. O terceiro conjunto de informações - registro dos comportamentos e
circunstâncias ambientais - será objeto da Unidade 5.
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Um protocolo de observação contém
basicamente três conjuntos de informações:
1 — identificação geral; 2 — identificação das
condições em que a observação ocorre: e 3 —
registro dos comportamentos e circunstâncias
ambientais.
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• o formato do local ou quando possível, suas dimensões;
• o número, tipo e diposição de portas, janelas, móveis e demais objetos
presentes;
• as condições da iluminação existente, por exemplo, luz natural, duas lâmpadas
centrais acesas, etc; e
• as condições relacionadas ao funcionamento dos objetos, por exemplo,
televisão ligada, ruído de motor, etc.
Caso haja alguma característica pouco comum à situação, esta
característica deve ser mencionada. Por exemplo, a existência de uma parede
esburacada, um móvel quebrado, etc.
Exemplo de descrição do ambiente físico: sala de estar da residência do
sujeito. A sala mede aproximadamente 2,50m por 4,50m. A janela está
localizada na parede frontal da sala, a 0,90 m do chão. A janela mede 2,00 m
de comprimento por 1,10 m de altura. A sala possui duas portas. A porta,
localizada à esquerda da janela, dá acesso à uma varanda e a outra, localizada
no extremo oposto, dá acesso à sala de jantar. A sala contém os seguintes
móveis e objetos, um sofá, duas poltronas, um aparelho de televisão, uma
estante, uma mesa de centro, duas mesas laterais, um porta-revistas e dois
vasos com plantas. A estante abriga um conjunto de som. A sala é acarpetada.
No momento da observação, a iluminação é natural e a televisão está ligada.
Descrever o ambiente social significa identificar as pessoas que estão
presentes no local (com exceção do sujeito que é identificado à parte) e descrever
a atividade geral que aí está ocorrendo.
Ào identificar as pessoas presentes no ambiente, o observador fornece
informações com relação ao número, sexo, idade e função destas pessoas (as
pessoas devem ser identificadas por letras maiúsculas). Se existirem
características comuns às pessoas presentes, é importante especificar também
estas características. As características comuns a que nos referimos são o nível
sócio-econômico, o grau de escolaridade, particularidades físicas, etc. Por
exemplo crianças faveladas que freqüentam a Escola-Parque da Prefeitura; jovens
de ambos os sexos, entre 15 e 17 anos, pertencentes ao grupo de jovens da
Paróquia Santo Antônio, etc.
Descrever a atividade geral significa identificar a atividade que está sendo
desenvolvida no local, por exemplo: aula de matemática, aula de ginástica, etc;
identificar a localização das pessoas e descrever sucintamente o que elas estão
fazendo. A descrição da atividade geral é uma descrição estática, é uma
“fotografia” do ambiente social.
Exemplo de descrição do ambiente social: “Estão presentes na sala, além do
sujeito (S ), quatro pessoas. A observadora (Ob), de aproximadamente 20 anos,
aluna de Psicologia; a mãe (M), com aproximadamente 35 anos, professora
primária, a tia (7), de aproximadamente 20 anos, estudante de Pedagogia, e a
irmã do sujeito (/), de 4 anos de idade. A mãe e a tia estão sentadas no sofá,
assistindo televisão e conversando. A observadora está sentada em uma das
poltronas e a irmã de S na outra poltrona. A irmã está folheando uma revista.
46
Para descrever o ambiente físico e social, o observador utiliza de dois
recursos: o relato e o diagrama.
O relato é a descrição verbal do ambiente. Os exemplos dados anteriormente
são de relatos do ambiente físico e do ambiente social.
O diagrama é a representação do ambiente através de um desenho
esquemático e de legendas informativas (é uma planta do local). O diagrama
representa simbolicamente a área observada e os elementos que estão dentro dela:
portas, janelas, móveis e pessoas. A utilidade do diagrama é a de facilitar a
visualização, por terceiros, do ambiente observado, além de fornecer ao
observador pontos de referência para o registro dos comportamentos. Por
exemplo, vendo o diagrama o leitor tem condições de visualisar em que direções o
sujeito anda.
Ao fazer o diagrama, o observador deve:
• utilizar escalas proporcionais às dimensões reais da área;
• utilizar a mesma escala para representar as portas, janelas e móveis:
• localizar, corretamente, na área as portas, janelas e móveis;
• manter a proporção relativa das distâncias existentes entre portas, janelas
e móveis; e
• utilizar símbolos de fácil compreensão.
tfl
C/5
O
p
L /\
O
Legendas:
a b c d parede mesa de centro M mãe
IT1 r n T I TD janela televisão T tia
zzj--------- iz porta IEI / irmã
estante • vaso Ob observadora
sofá 5 localização
1 porta-revistas inicial
A mesa lateral do sujeito
poltrona
47
Quando as pessoas presentes permanecem num local fixo, ou quando
permanecem a maior parte do tempo num local, o observador poderá indicar, no
diagrama, a localização destas pessoas. É costume indicar também no diagrama,
a localização inicial do sujeito.
Para facilitar a elaboração do diagrama adotamos as seguintes convenções:
• as janelas, portas e móveis são representados por símbolos. É conveniente que
você utilize os símbolos que considerar mais adequados (móveis semelhantes
devem ser representados por símbolos semelhantes);
• paredes ou lados da área são identificados por letras minúsculas;
• os objetos, por números (exemplo o n9 1 representa um porta-revistas); e
• as pessoas por letras maiúsculas; a letra S é reservada para indicar o
sujeito e as letras Ob para indicar o observador.
Exercício de estudo
Fazer o diagrama do ambiente físico de um dos recintos de sua casa.
48
UNIDADE 4
A S IT U A Ç A O
D E O B S E R V A Ç A O - II
objetivos
Ao final d a unidade, o leitor deverá ser cap az de:
• F azer o diagram a de um a situação
• F azer o relato, em linguagem científica, do am biente físico, do sujeito, e
do am biente social desta situação
material
• Texto: “ O relato das condições em que a observação o co rre”
• Exercício de estudo
• Instruções p ara a atividade prática
• Protocolo de observação: parte inicial
atividades
P arte A
• Ler o texto “ O relato das condições em que a observação o co rre”
• Resolver o exercício de estudo
• P articipar de um a discussão sobre o exercício de estudo
P arte B
• Ler as instruções p ara a atividade prática
• O bservar e registrar um a situação estipulada
49
O relato das condições
em que a observação ocorre
50
FIGURA 4.1. Situaçao de observaçao
grau de coordenação motora que o sujeito apresenta”. O segundo observador tem
como objetivo “estudar a interação mãe-criança”. Ao descrever as condições em
que a observação ocorre, os dois observadores fornecerão as seguintes
informações gerais:
Relato do ambiente físico. Sala de estar da residência do sujeito, medindo
aproximadamente 4 metros de comprimento por 3 metros de largura. A sala
contém duas portas, uma janela e os seguintes móveis: um sofá, uma poltrona, um
tapete e um vaso com plantas. Sobre o tapete estão espalhados os seguintes
brinquedos: uma girafa, um elefante, uma boneca, um vagão de trem e sete cubos.
A iluminação é natural.
Descrição do sujeito observado.S,menina de 2 anos de idade, classe média.
Relato do ambiente social. M, mãe de S, de 30 anos de idade. A mãe está
sentada no sofá e interage continuamente com S.
Além destas, cada observador acrescentará informações específicas em seu
relato.
O observador 1 incluirá no relato do ambiente físico, informações acerca:
a)do formato do brinquedo; b) do material que é feito o brinquedo; e c) do tamanho
do brinquedo.
O observador 2, por sua vez, incluirá no relato do ambiente social,
informações acerca: a) do grau de escolaridade da mãe, b) da profissão da mãe; e
na descrição do sujeito, informações sobre: c) a família (número de pessoas que
vivem na casa, idade e relação de parentesco com o sujeito).
Exercício de estudo
A foto 4.2. mostra a seguinte situação de observação:
Relato do ambiente físico. Sala de brinquedo de um conjunto residencial,
medindo aproximadamente 4 m de comprimento, por 3m de largura. A sala
possui duas portas, uma janela e uma escada. A parede de fundo é interrompida
dando acesso a um corredor. Nesta parede existe uma imitação de janela em
miniatura. As paredes da sala estão pintadas com desenhos de flores.
A sala está mobiliada com móveis próprios para crianças: um sofá e duas
poltronas. Pela sala estão espalhados os seguintes brinquedos: três bolas, três
ursos de pelúcia, três vagões de trem, duas bonecas, uma de plástico e outra de
pano e 10 cubos. A iluminação é natural.
Descrição do sujeito observado. S, menina de 3 anos de idade, classe me'diá,
moradora do conjunto.
Relato do ambiente social. Duas crianças, um menino (F) e uma menina (/),
ambos com 3 anos de idade, classe média, vizinhos de S e moradores do conjunto
residencial. As crianças estão brincando. Elas estão sob os cuidados da mãe de /,
que está na sala ao lado.
Suponhamos que dois observadores estejam registrando esta situação, cada
um com um objetivo. O primeiro observador tem como objetivo “identificar as
condições e circunstâncias em que S apresenta o comportamento de imitação” . O
segundo observador tem como objetivo “identificar a preferência de S pelos
brinquedos” .
Observe a fotografia 4.2. Damos a seguir uma lista de itens que estes
observadores registraram. Identifique qual foi o observador que registrou cada
52
FIGURA 4.2. Situaçao de observaçao
item. Coloque dentro dos parênteses os númerosque designam os observadores.
A saber:1 - observador 1; 2 - observador 2.
a) - ( £ ) cor dos brinquedos;
b) - ( )com que freqüência essas crianças brincam juntas;
c) - ( ) tamanho dos brinquedos;
d) - (5 ) a quem pertence cada um dos brinquedos;
e) - ( ) características comportamentais de F e I (por exemplo, liderança,
cooperação, etc); e
0 - (r ) novidade ou não do brinquedo.
54
PR O TO C O LO D E O BSERV AÇÃO
1) Nome do observador: _
2) Objetivo da observação:
3) D ata da observação: __
4) Horário da observação:
5) Diagrama da situação:
55
6) Relato do ambiente físico:
56
UNIDADE 5
O R E G IS T R O D O
C O M P O R T A M E N T O -I
objetivos
Ao final da unidade, o leitor deverá ser capaz de:
• Observar e registrar continuamente, em linguagem científica,
comportamentos motores emitidos por um sujeito numa situação
material
• Texto: “A técnica de registro contínuo”
• Questões de estudo
• Instruções para a atividade prática
• Protocolo de observação: parte final
atividades
Parte A
• Ler o texto “A técnica de registro contínuo”
• Responder as questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre as questões de estudo
Parte B
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar comportamentos
A técnica de registro contínuo
Dentre as várias técnicas utilizadas pelo observador para o registro dos
comportamentos e circunstâncias ambientais, destaca-se a técnica de registro
continuo1.
A técnica de registro contínuo consiste em, dentro de um período
ininterrupto de tempo de observação, registrar o que ocorre na situação,
obedecendo à seqüência temporal em que os fatos se dão.
No exemplo abaixo, temos um trecho do registro do comportamento de uma
criança em situação de refeição. 'O registro foi realizado em uma creche, no
refeitório, no horário previsto para alimentação das crianças, conforme a rotina
da instituição. Na observação usou-se registro contínuo com o fim de levantar
dados para o treinamento de atendentes.
“S se encontra no canto cd (canto formado pelas pareces c e d) da sala de
refeição, de pé, defronte da mesa 6, a aproximadamente 20 cm desta mesa.
Atendente entra na sala com toalha na mão. S olha em direção à atendente.
Atendente coloca a toalha sobre a mesa 6. S vira-se de costas, anda em direção à
mesa 2. De pé, retira a toalha da mesa 2. Dobra a toalha. Toalha dobrada em
forma aproximada de bola. S joga a toalha em direção a um menino. Menino
pega a toalha. S sorri.”
Como se vê, o registro contínuo é uma espécie de “filmagem” do que
acontece. Ao registrar, o observador conta o que presencia, na seqüência em que
os fatos ocorrem.
1. LOCALIZAÇÃO DO SUJEITO
1. Este livro focaliza apenas a técnica de registro contínuo. Informações sobre outras
técnicas, bem como sobre registradores de comportamento e cálculo de concordância
entre observadores, podem ser encontradas em Antônio Jayro F. M. Fagundes.
Descrição, definição e registro de comportamento. São Paulo: EDICON, 1981.
58
2. POSIÇÃO E POSTURA DO SUJEITO
3. EVENTOS COMPORTAMENTAIS
4. EVENTOS AMBIENTAIS
60
O objetivo do estudo determina a variedade e tipo de comportamentos a
serem registrados. Dependendo do objetivo o observador poderá: a) fazer um
registro amplo das ações, isto é, registrará os comportamentos motores
(mudanças na postura ou na posição, manipulação de objetos ou pessoas e
locomoções), as expressões faciais e os comportamentos vocais; b) selecionar a
classe de comportamento a ser registrada, registrando unicamente os
comportamentos motores ou unicamente as expressões faciais, etc; c) focalizar a
observação e registro em determinada parte do corpo, tal como boca ou mãos. Por
exemplo, se o objetivo do estudo for “verificar o problema de articulação
apresentado por uma criança”, o observador focalizará o comportamento vocal,
as posturas e os movimentos bucais; se o objetivo do estudo for “identificar
problemas de manipulação motora fina”, o observador focalizará as posturas,
posições e movimentos de mão.
61
SISTEMÁTICA DE REGISTRO
S vira-se de costas.
Anda em direção à mesa 2.
Retira a toalha da mesa 2.
Dobra a toalha.
62
como: começa, continua, pára, etc. Nesse sentido, a flecha funciona como o sinal
de aspas e deve ser usado para assinalar repetição. A fecha deve ser colocada
entre uma linha e outra, indicando a repetição da ação. Por exemplo:
Além das convenções descritas acima, que serão adotadas e que você deve
memorizar, damos a seguir duas sugestões, que visam diminuir > tempo gasto
com o registro (você poderá seguir ou não tais sugestões).
1) Você pode utilizar símbolos para se referir a aspectos do ambiente físico, tais
como janelas, portas e móveis; letras minúsculas para identificar as paredes ou
lados, de uma área; números para se referir aos objetos; e letras maiúsculas
para identificar as pessoas que emitem as ações ou são objeto de uma ação.
Os símbolos, números e letras devem ser especificados na legenda do
diagrama, no relato do ambiente físico ou no relato do ambiente social (veja
Unidade 3).
63
2) Você pode utilizar, também, sinais ou abreviaturas para registrar os
comportamentos observados. Por exemplo: utilizar “pg” para “pega”, “nd”
para “andar” , e t c ..
A expressão “em direção a” poderá ser substituída por uma flecha
horizontal. Por exemplo: “5 anda em direção ao quarto” poderá ser
substituído por “S anda -► quarto” .
Se utilizar sinais ou abreviaturas para registrar os comportamentos, ao
terminar o registro, você deve apresentar uma legenda referente a estes sinais e
abreviaturas.
estudo
1) O que é um registro contínuo?
2) Identifique a utilidade do registro contínuo para o psicólogo.
3) Quais são as dificuldades existentes com relação ao registro contínuo?
4) Quais são as maneiras de resolver este problema
(dificuldades com relação ao registro contínuo)?
5) Explique os fatores que influenciam o grau de detalhamento deum registro.
6) Explique o que determina a variedade e tipo decomportamento a ser
registrado.
7) Explique a diferença entre postura e posição.
8) Explique os tipos de comportamento motor.
9) O que éuma sistemática de registro?
10) Explique os cuidados que o observador deve tomar com relação ao tempo do
verbo e seus complementos. Dê exemplos.
11) Como fazer para indicar a direção da ação?
12) Como indicar eventos sucessivos e eventos simultâneos?
13) Como indicar a continuidade de uma ação?
14) Qual a vantagem de se utilizar símbolos ou abreviaturas?
64
Lembretes
5. Se a atividade for feita com uso de outros recursos, o professor fornecerá as instruções
adicionais necessárias.
65
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Observar e registrar continuamente, em linguagem Científica, os
comportamentos motores e as expressões faciais
apresentadas por um sujeito
material
• Texto: “O registro das expressões faciais”
• Exercício de estudo
• Instruções para a atividade prática
• Protocolo de observação
atividades
Parte A
• Ler o texto “O registro das expressões faciais”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo
Parte B
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar comportamentos
69
O registro das expressões faciais
Na atividade prática da unidade anterior, focalizamos unicamente os
comportamentos motores. Nesta unidade focalizaremos, além dos
comportamentos motores, as expressões faciais apresentadas pelo sujeito.
O registro das expressões faciais envolve o registro da direção do olhar da
pessoa (fixação visual) e o registro das modificações que ocorrem no rosto (testa,
sobrancelhas, olhos, nariz, boca, bochechas e queixo). Expressões faciais são
movimentos tais como: enrugar a testa; franzir as sobrancelhas; franzir o nariz;
abrir ou fechar os olhos; apertar, lamber ou morder os lábios; inflar as bochechas;
tremer o queixo; mostrar a língua; abrir ou fechar a boca, etc.
A dificuldade em registrar as expressões faciais é devida ao fato dos
movimentos ocorrerem, em geral, em conjunto, isto é, ocorrerem modificações
simultâneas de duas ou mais partes do rosto. A dificuldade está relacionada_
também ao fato das expressões faciais freqüentemente acompanharem os
comportamentos motores do sujeito.
70
FIGURA 6.1 Rosto de menina
Exercício de estudo
As fotografias seguintes mostram o rosto de pessoas. Observe as fotos e
descreva abaixo as expressões faciais apresentadas pelas pessoas.
a) D escrição :_ _ ______________________________________________________
2) Descrição:
3) Descrição:
4) Descrição:
72
Instruções para a atividade prática
Na unidade anterior fizemos o registro contínuo dos comportamentos
motores apresentados por uma pessoa. Nesta unidade, além dos comportamentos
motores, iremos registrar também as expressões faciais de pessoas.
O objetivo geral da observação é identificar os comportamentos que uma
pessoa apresenta numa situação.
Ao terminar a leitura destas instruções, preencha os itens 1, 2, 3 e 4 do
protocolo de observação.
A sessão de observação constará de duas partes. Na primeira parte, você
descreverá o sujeito e o ambiente em que ele se encontra, itens 5, 6, 7 e 8 do
protocolo de observação. Na segunda parte da sessão, deverá registrar
continuamente os comportamentos do sujeito. Nesta parte você deverá observar
e simultaneamente registrar:
a) a localização inicial do sujeito e como ele se encontra; e
b) os comportamentos motores (mudanças na postura ou posição, manipulações
de objetos ou pessoas e locomoções) e as expressões faciais (fixações visuais e
modificações que ocorrem no rosto) que o sujeito apresenta.
Lembretes
• Obedeça as convenções de registro que foram estabelecidas. Terminada a
observação, numere os eventos registrados.
• Se usar sinais ou abreviaturas, acrescente o item 10 ao protocolo,
especificando o sistema de sinais e abreviaturas utilizado.
74
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
1) N om e do o b servador:_
2) Objetivo da observação:
3) D a ta da observação:__
4) H orário da observação:
5) D iagram a da situação:
75
6) R ela to do am biente físic o :
76
9) Técnica de registro contínuo:
UNIDADE 7
O S E V E N T O S A M B IE N T A IS
EM Q U E O
C O M P O R T A M E N T O SE IN SER E-I
material
• Texto: “Eventos físicos e sociais”
• Questões de estudo
• Exercício de estudo
atividades
• Ler o texto “Eventos físicos e sociais
• Responder as questões de estudo
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre as questões e exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
79
Eventos Físicos e sociais
80
EVENTOS FÍSICOS
São as mudançasjjpjambiente físico. Por exemplo: o ambiente se iluminar
ou escurecer quando o sujeito pressiona o interruptor; o som do telefone; a porta
bater pela ação do vento etc. .
Os eventos físicos podem aparecer em decorrência de uma ação da pessoa
observada, ou da ação de outras pessoas, ou ainda da natureza. Ao analisar os
eventos físicos citados acima verificamos que: a iluminação ou escurecimento do
ambiente é decorrente de uma ação da pessoa observada; o som do telefone é
decorrente da ação de outras pessoas (não observadas); e que a batida e
conseqüente fechamento da porta, é decorrente da ação da natureza (o vento). Se
completarmos o segundo e o terceiro exemplo dizendo que o sujeito pega o
telefone e diz “alô”, ou que o sujeito se levanta e tranca a porta, poderemos
analisar as relações entre o comportamento e os eventos ambientais. No primeiro
exemplo, o evento físico (iluminação e escurecimento do ambiente) ocorreu após a
ação do sujeito e em conseqüência desta ação. Dizemos que este é um evento
conseqüente ao comportamento do sujeito. No segundo e no terceiro exemplos, os
eventos físicos ocorreram antes da ação do sujeito. Neste caso dizemos que eles
são eventos antecedentes ao comportamento do sujeito.
A porta bate e
se fecha S se levanta.
S tranca a porta.
81
EVENTOS SOCIAIS
83
Eventos antecedentes Comportamentos do sujeito Eventos conseqüentes
Exercício de estudo
Damos, a seguir, dois relatos de observação. Você deve identificar os
eventos físicos e sociais existentes em cada relato e estabelecer a relação desses
eventos com os comportamentos do sujeito. Transcreva o relato em três colunas.
Proceda da seguinte maneira:
• inicialmente, comece identificando e sublinhando os eventos ambientais
(físicos e sociais) existentes no relato;
• a seguir, identifique os comportamentos do sujeito que estão relacionados
aos eventos ambientais sublinhados;
• transcreva, então, os comportamentos do sujeito e eventos ambientais nas
colunas apropriadas para a análise;
• coloque entre parênteses, após cada evento ambiental, as siglas EF e E S
quando se tratar, respectivamente, de um evento físico ou de um evento
social; e
• finalmente, complete a análise descrevendo as relações funcionais que
supõe existir entre os eventos ambientais e comportamentais relatados.
Faça isso no espaço apropriado que é dado a seguir.
1) S volta da escola carregando os livros a tiracolo, presos por um cinto. A
mãe de S encontra-se no portão. 5” corre em direção à mãe. A mãe sorri. Neste
momento, a presilha que prende os livros se abre e os livros caem no chão.
85
Eventos antecedentes Comportamentos do sujeito Eventos conseqüentes.
5 vA qU o- & -c - c X M f jl
S>Ov^\~~.oLc> Qr> .JLAsxÁs&y O -
A/L^s2- Ofei^-O t gii-. <? Õvk Ua
cS O&V/Ux o ^v JL c,
& «X . - VVÈr" i CL \/w o \i , Vv*S
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tí_ yV *J* ^ p , ^
M ko^ Qp.«x 'Ç yU s^oL t& o
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jlwLe^ ó^^vvx-
Relações funcionais:
5 íov- dcsv. ‘c a oí>^ Ow ___ç> S JLwx ÒLÁ-uí- ^ vh _j> riA ,
(X wvfrsjl. ^UÍHAA.
(X oL^ S oLcsl
1 ^~Cit^p.CX vT. VVvOi-fâ1
dÜL s S .
^ ^ ^ V w M ' -?. S-
dU>e^ixx_ ,
material
• Instruções para a atividade prática de observação e análise
• Protocolo de observação
• Folhas de análise
atividades
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar eventos comportamentais e ambientais
• Analisar os registros
$7
Instruções para a atividade prática
de observação e análise
A atividade consistirá:
a) do registro dos comportamentos e eventos ambientais que ocorrem numa
situação; e
b) da análise dos registros efetuados.
O objetivo desta atividade é o de identificar eventos físicos e sociais e
estabelecer a relação destes eventos com os comportamentos do sujeito.
Para realizar a atividade proposta, você utilizará o protocolo de observação
e as folhas de análise que acompanham estas instruções.
88
5) finalmente, complete sua análise, descrevendo as relações funcionais que você
supõe existir entre os eventos ambientais e comportamentais registrados. Faça
isso na quarta folha de análise.
89
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
1) Nome do observador: __
2) Objetivo da observação:
3) D ata da observação: __
4) Horário da observação:
5) Diagrama da situação:
91
6) Relato do ambiente físico:
92
9) Técnica de registro contínuo:
F O L H A D E A N Á L IS E
O bserv ad o r ___________
/ d o_
°^> ^ o o j^ c c x ^
- C^v. -fí ^
>^<xXUrtX, oxvtJ-OL -^a*JLe-
oc^vjUir' oí^-K_t(Jtt^ oX-. 0\_ JL^- ocn.
A l^ v ^ v oo^H/Cfcov.
objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Dada uma definição, identificar se a linguagem empregada é objetiva,
clara, precisa e direta; se a definição é explícita e completa; e se só inclui
elementos que lhe são pertinentes
material
• Texto com exercício de estudo: “A definição de eventos
comportamentais e ambientais”
• Questões de estudo
atividades
• Ler o texto “A definição de eventos comportamentais e ambientais” e
resolver o exercício de estudo que o acompanha
• Responder as questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre os exercícios e questões de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
99
A defi nição de eventos
comportamentais e ambientais
EXERCÍCIO 1
São apresentadas dez fotos na Figura 9.1. Observe cada uma, procurando
identificar aquelas que representam o comportamento “levantar a mão”. Escreva,
no espaço existente para a resposta, as letras correspondentes às fotos que
representam o comportamento “levantar a mão”.
Resposta:
100
FIGURA 9.1 Comportamento "levantar a mao"
Se dermos, entretanto, uma definição diferente para o comportamento,
outras respostas seriam aceitas. Então vejamos:
Definição n9 2: “deslocar a mão para cima, estando a mesma afastada da
cabeça e a palma da mão aproximadamente no mesmo plano que o antebraço” ;
Definição n9 3: “colocar a palma da mão acima do ombro ombro” ;
Definição n9 4: flexionar a mão ou os dedos para cima” ;
Definição n9 5: “mover uma ou mais estruturas do membro superior (braço,
antebraço, mão ou dedos) para cima”.
103
Segundo Cunha3, o importante numa definição “é que se procure descrever
um fenômeno de modo que ele seja, não referido apenas, mas colocado sob os
olhos de outra pessoa exatamente como foi visto, ouvido, tocado, enfim,
observado”.
Dçfinir é descrever as características através
das quais o observador identifica o evento. A
definição garante a comunicação e facilita a
compreensão dos eventos observados.
A definição deve ser feita de forma direta ou afirmativa, isto é, deve indicar
as características do objeto ou do comportamento, evitando-se o erro comum de
dizer o que ele não é.
Exemplo: definir “ficar em pé” por “deixar de estar sentada”.
Como você pode observar, esta definição indica o que a pessoa não está
fazendo. Neste sentido, além de contrariar o item b, viola também as
características de clareza e precisão (item a), uma vez que não se especifica o que
o sujeito faz ou como ele se encontra quando “deixa de estar sentado”.
EXERCÍCIO 2
Damos a seguir, duas definições que estão erradas. Os erros estão
relacionados aos cuidados que o observador deve ter ao definir, a saber: ser
objetivo, claro, preciso e direto. Identifique e explique, no espaço existente após a
definição, os erros cometidos.
1) Proximidade física: “quando uma pessoa se encontra não muito distante do
sujeito”.
104
2) Arranhar: “friccionar a ponta da unha sobre o corpo da outra pessoa para
produzir ferimento”.
d) ELEMENTOS PERTINENTES
Incluir somente elementos pertinentes, que constituam características
intrínsecas, ao fenômeno ou objeto que está sendo definido. As propriedades
definidoras de um evento são os elementos fundamentais, cujas presenças
identificam o evento, distinguindo-o de outro. Por exemplo, se definíssemos
“balançar chocalho” como: “estando a criança no berço com um chocalho entre
as mãos, consiste em flexionar sucessivamente a mão que segura o chocalho, de
forma a deslocar o chocalho alternadamente no espaço, produzindo ou não o som
dos guizos”, estaríamos incluindo na definição um aspecto não essencial ao
comportamento de balançar chocalho, a localização da criança no berço. Tal
localização pode ocorrer em algumas ocasiões, mas não é peculiar ao
comportamento “balançar chocalho”.
105
EXERCÍCIO 3
Verifique os erros cometidos nas seguintes definições. Os erros estão
relacionados aos cuidados que o observador deve ter ao defmir, a saber: ser
objetivo, claro, preciso e direto; cuidar para que a definição seja explícita e
completa e só inclua elementos pertinentes. Identifique e explique, no espaço
existente após a definição, os erros cometidos.
3) Abotoar: “atritar o botão através da casa”.
106
Ao definirmos eventos comportamentais e
ambientais, devemos ser: objetivos, claros,
precisos e diretos; devemos cuidar para que a
definição seja explícita e completa e só inclua
elementos que lhe sejam pertinentes.
estudo
1) O que é definir?
2) Explique a importância, em ciência, de uma boa definição.
3) Explique o que vem a ser uma linguagem objetiva, clara e precisa.
4) Por que a definição de “ficar em pé”, como “deixar de estar sentada”, é uma
definição que contém erro?
5) Explique outros cuidados que devem ser tomados ao elaborar uma definição.
6) Defina o seguinte evento comportamental: Pentear cabelos.
107
UNIDADE 0 1
D E F IN IÇ Õ E S M O R F O L Ó G IC A S
E F U N C IO N A IS D O
C O M P O R T A M E N T O -I
material
• Texto com exercício de estudo: “As maneiras de definir um
comportamento”
• Questões de estudo
atividades
• Ler o texto “As maneiras de se definir um comportamento” e resolver o
exercício de estudo que o acompanha
• Responder às questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício e questões de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
109
A s maneiras de se definir
um comportamento
Na Unidade 9 mostramos a importância de uma definição e identificamos as
principais características que uma definição deve atender. Nesta unidade, veremos
as diferentes maneiras de se definir comportamento.
Ao. analisar um comportamento, há basicamente dois aspectos a serem
considerados: o morfológico e o funcional.
Morfologia diz respeito à forma do comportamento, isto é, à postura,
aparência e movimentos apresentados pela pessoa. Função diz respeito às
modificações ou efeitos produzidos pelo comportamento no ambiente. Por
exemplo, quando você relata que M está com os ombros caídos, e pálida, ou que
move a cabeça lateralmente para a direita, você está focalizando os aspectos
morfológicos dos comportamentos apresentados por Aí (uma postura: ombros
caídos; uma aparência pálida; e um movimento: move a cabeça lateralmente para
a direita). Quando diz que M se aproxima da janela, ou que M abre a bolsa, você
está enfatizando os aspectos funcionais dos comportamentos, isto é, os efeitos
produzidos no ambiente (proximidade da janela e bolsa aberta, respectivamente).
As definições comportamentais podem focalizar aspectos morfológicos,
aspectos funcionais, ou ambos. As que dão ênfase à descrição da forma do
comportamento serão denominadas de definições morfológicas1; e aquelas que
enfatizam o efeito produzido no ambiente, de definições funcionais. Chamaremos
de mistas, as que incluem tanto aspectos morfológicos como funcionais.. .
Vejamos alguns exemplos de definição de comportamento:
Beijar: “estando os lábios juntos, projetados para frente, numa forma
arredondada e franzida, consiste em encontar ou não os lábios numa
superfície e inspirar o ar pela boca, estalando os lábios2”.
Marcar gol: “quando uma bola, chutada por um jogador, penetrar entre as
traves”. ÍVW ort f-' ~
Atirar: “estando um objeto preso entre os dedos, consiste em estender o
antebraço abruptamente e, simultaneamente, abrir a mão,
produzindo o lançamento do objeto para longe do corpo3”.
1. A definição morfológica requer, em geral, especificações bastante complexas. O nível
de especificação que vamos requerer, entretanto, é bem simples. Exemplos de
descrições -morfológicos mais elaboradas e sofisticadas podem ser encontrados no
artigo de Cunha que descreve um curso de observação científica, ministrado a pós-
graduados de Psicologia. (Walter Hugo A. Cunha. Acerca de um curso pós-graduado
destinado ao treino da observação científica no domínio das ciências do
comportamento. Ciência e Cultura, 1974, 26, 846-853.)
2. Definição adaptada de Cecília G. Batista. Catálogo de comportamentos motores
observados durante uma situação de refeição. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1978, p. 64.
3. Idem, p. 66.
110
A definição de “ beijar” é uma definição morfológica na medida em que
descreve a postura dos lábios (lábios juntos, projetados para frente, numa forma
arredondada e franzida) e os movimentos que ocorrem (inspiração do ar pela
boca, estalando os lábios); e a definição de “ marcar gol”, por outro lado, é uma
definição funcional. Nela não se teve a preocupação de identificar os aspectos
morfológicos (partes do corpo que executam o movimento, nem o movimento que
ocorre), mas apenas de descrever o efeito do comportamento de chutar, “ a bola
penetrar entre as traves”. A definição de “atirar” é considerada uma definição
mista, pois focaliza tanto aspectos morfológicos (extensão abrupta de antebraço e
abertura da mão), como aspectos funcionais (lançamentos do objeto para longe
do corpo).
A escolha do tipo de definição a ser utilizado depende do objetivo do estudo
observacional. Em geral, quando a observação visa a seleção ou avaliação de
pessoas, definições funcionais são suficientes. Entretanto, quando a observação
visa o treinamento da pessoa, é necessário especificar também a morfologia do
comportamento.
Se o objetivo é a seleção ou avaliação profissional, basta verificar se o efeito
desejado foi obtido, ou melhor, se a tarefa foi feita de acordo com os critérios
estabelecidos. Por exemplo, posso avaliar a eficiência de um pedreiro, verificando
o produto do seu trabalho. Neste caso, o comportamento do pedreiro de
“construir paredes” será definido funcionalmente, descrevendo-se os efeitos do
mesmo (tijolos sobrepostos, unidos e alinhados). Entretanto, se o objetivo for o
treinamento do pedreiro, será necessário recorrer a definições que descrevam não
só o efeito, mas tambem as posturas e movimentos que ele apresenta ao construir
a parede, na seqüência em que estes movimentos e posturas ocorrem. Neste caso,
será necessário descrever a forma como ele pega a pá, como alisa o cimento,
como coloca o tijolo, etc.
A descrição da morfologia do comportamento é especialmente importante
no caso de tratamento ou recuperação de pessoas com deficiências de natureza
física. Por exemplo, quando o psicólogo trabalha na recuperação de uma criança
com lesão cerebral, a evolução do trabalho, isto é, a mudança de critério para
requerer dela novos comportamentos, vai depender de pequenas alterações na
forma do comportamento (no modo pelo qual a criança coloca o pé ao andar, no
seu jogo de pernas e coxas etc., ou na seqüência em que estes movimentos
ocorrem). Neste caso, para poder acompanhar o progresso da criança, o
psicólogo deve recorrer a definições que identifiquem e diferenciem cada uma
destas pequenas alterações.
111
Lembramos, contudo, que essas mudanças de expressão facial e de postura,
freqüentemente ocorrem no contexto de uma interação social. Neste caso, as
definições funcionais ou mistas seriam mais adequadas.
Por outro lado, quando os aspectos morfológicos consistirem basicamente
dejnovimentos de difícil identificação e observação, a definição funcional é
preferível. Por exemplo, nas vocalizações —tais como falar, cantar, murmurar etc.
— a forma dos comportamentos não é acessível à observação direta, pois os
movimentos, em sua maioria, se processam a nível interno. Neste caso, a
definição deverá focalizar, preferencialmente, os aspectos funcionais destes
comportamentos, ou seja, os sons produzidos4 ” .
112
Vamos ver se você acertou?
A primeira definição é mista. Ela focaliza tanto os aspectos morfológicos
(flexão seguida de extensão da perna), como os funcionais (estabelecimento de
contato dos pés com a bola e deslocamento da bola de sua posição).
A segunda e a terceira definição são exclusivamente funcionais, na
medida em que se limitam a descrever os efeitos dos comportamentos (na
segunda, o deslocamento e produção do clique da barra; e na terceira, a
introdução e envolvimento do garfo no alimento). A forma destes
comportamentos, isto é, como a barra é pressionada, ou como o garfo é
manipulado (posturas e movimentos) é um elemento ausente nas definições
dois a três.
A quarta é uma definição morfológica. Ela focaliza exclusivamente as
alterações na forma do comportamento (movimento dos lábios e diminuição
da distância entre eles).
Resumindo, definições morfológicas focalizam a postura, aparência e
movimentos apresentados pela pessoa; definições funcionais salientam os
efeitos produzidos pelo comportamento no ambiente; e definições mistas
focalizam ambos, isto é: aspectos morfológicos e aspectos funcionais.
Na prática, você pode seguir a seguinte “dica” . Para diferenciar uma
definição morfológica de uma funcional, verifique se o referencial utilizado na
definição é o sujeito ou o ambiente externo. As definições morfológicas
descrevem o que ocorre com o sujeito (movimentos, posturas, aparências),
tendo como referencial o próprio sujeito. Isto é, um movimento de braço é
descrito como uma flexão que resulta num determinado ângulo de abertura do
braço em relação ao corpo do indivíduo. As definições funcionais referem-se a
efeitos produzidos no ambiente físico e social (alteração no estado, ou posição
ou localização de objetos ou pessoas; produção de sons ou ruídos); ou nas
relações que o sujeito mantém com este ambiente (na localização ou posição
do sujeito ou de uma parte de seu corpo). Exemplo de alterações em objetos e
pessoas seria “/ abre a porta e empurra C para fora” (neste caso, os
comportamentos de J produzem, respectivamente, uma mudança na posição
da porta e na localização de C). Como exemplo de alteração nas relações que
o sujeito mantém com o ambiente físico, temos: “/ aproxima a mão da maçaneta
da porta . .. J sai da sala” . (Neste exemplo, os efeitos produzidos são,
primeiro, uma mudança na posição da mão em relação à porta, e, depois, uma
mudança na localização de /.)
113
Questões de estudo
1) Explique as características:
a) de uma “definição morfológica” do comportamento;
b) de uma “definição funcional” do comportamento; e
c) do que é chamado uma “definição mista”.
2) Dê um exemplo de como o objetivo de um estudo determina o tipo de
definição a ser utilizada. Justifique.
3) Indique, nos exemplos abaixo, que tipo de definição seria mais provavelmente
usada. Justifique sua escolha.
Encolher-se.
Cantar.
Franzir as sobrancelhas.
Abrir os olhos.
Sussurrar.
UNIDADE 11
D E FIN IÇ Õ E S M O R F O L Ó G IC A S
E F U N C IO N A IS D O
C O M P O R T A M E N T O -II
objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Descrever aspectos morfológicos e aspectos funcionais do
comportamento
material
• Texto com exercício de estudo: “Morfologia e função do
comportamento”
atividades
• Ler o texto “Morfologia e função do comportamento”, e resolver o
exercício de estudo que o acompanha
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
115
Morfologia e função
do comportamento
116
FIGURA 11.1
A mesura
EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE DEFINIÇÕES:
2. Observe as próximas figuras. Nelas foi incluída mais uma foto. A foto d
mostra o momento final da seqüência, após a ocorrência do comportamento.
Descreva, no espaço existente após cada figura, os aspectos funcionais. Tente
elaborar sua descrição, de forma que ela se assemelhe a uma definição do
comportamento reproduzido na seqüência.
121
FIGURA 11.4
Minguau de banana
morfológicos). Por exemplo, Batista 1 defmiu “ amassar” como: “ atritar o garfo
contra o alimento, produzindo um alimento mais pastoso ou fracionado do que
antes de ser amassado”.
Analise, agora, as duas figuras apresentadas a seguir, e defina
funcionalmente os comportamentos nelas representados.
123
FIGURA 11.5 0 refrigerante
hlGURA 11.6 Economize agua
• > *w » » 1 »1 *' «
127
3.3. Definição mista do comportamento
(Figura 11.5 O refrigerante)
128
UNIDADE 12
O PR O B LEM A D A
C L A S S IF IC A Ç Ã O DE
C O M P O R T A M E N T O S -I
objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Agrupar os comportamentos em classes e identificar os elementos
utilizados como critério para a classificação
material
• Texto: “Agrupamento dos comportamentos em classes”
• Exercício de estudo
atividades
• Ler o texto “Agrupamento dos comportamentos em classes”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o texto e sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
131
Agrupamento dos
comportamentos em classe
132
Convém salientar que os comportamentos analisados acima, além das
semelhanças morfológicas, apresentam também uma semelhança com relação à
função, uma vez que produzem o deslocamento de um objeto sobre uma
superfície.
A utilização de critérios exclusivamente morfológicos ocorre, em geral,
quando o interesse, é o de identificar e descrever as próprias posturas, aparências e
movimentos apreséntados.
Podemos lembrar aqui uma ocasião em que agrupamentos morfológicos se
mostrariam particularmente úteis. Vejamos. Se precisássemos estudar o
funcionamento de uma determinada parte do corpo que critério utilizaríamos?
Obviamente, o critério morfológico. Suponhamos que o objetivo do meu estudo
fosse “identificar por que os operários de uma determinada fábrica apresentam
deformações de postura após um certo tempo de trabalho” . Neste caso,
inicialmente eu poderia descrever, usando uma classificação morfológica, os
problemas de postura encontrados. Posteriormente, eu iria verificar as causas
destes problemas. Poderia, por exemplo, classificar morfologicamente também as
posturas que os operários exibem durante o trabalho, verificando se estas seriam
as causas das deformações de postura.
133
3 - AGRUPAMENTOS PELA M ORFOLOGIA E FUNÇÃO
134
FIGURA \Z.] Comportamento 1
KIGURA 12.1 Comportamento 2
Do ponto de vista das semelhanças íuncionais, podemos dizer que nos três
casos ocorre a “introdução e deslocamento da faca no objeto (pão, carne ou
cebola), de forma a produzir a divisão do mesmo” . Compare, agora, sua resposta
com esta descrição funcional.
Numa descrição das semelhanças morfológicas, diríamos que, nas fotos, as
pessoas apresentam o dedo indicador da mão direita estendido e os dedos médio,
anular e mínimo flexionados, com a falanginha e falangeta voltadas para dentro;
enquanto que na mão esquerda, os dedos, na maioria das fotos, estão
aproximadamente estendidos e unidos, com exceção do polegar que se encontra
afastado dos demais. Focalizaríamos, também, os movimentos que ocorrem
dizendo que o antebraço e a mão direita se deslocam horizontalmente para frente
e para trás do corpo; e que, enquanto isso, a mão esquerda se mantém praticamente
imóvel. Verifique se a sua descrição contém esses elementos.
Amplitude do agrupamento
138
No exemplo anterior, o agrupamento morfológico “preparar a terra usando
equipamentos movidos por tração” inclui tanto o uso de trator como o uso de
tração animal. Um maior rigor no critério colocará o uso de trator e de tração
animal em classes distintas, uma vez que existem diferenças entre o
comportamento de “dirigir um trator” e o comportamento de “conduzir um
animal”.
Utilizando o critério morfológico, um observador poderá classificar os
comportamentos “andar devagar”, “ andar depressa” e “andar em ritmo normal”
em uma única classe, na medida que estes comportamentos apresentam
semelhanças na forma (deslocamentos alternados dos membros inferiores, que se
processa da seguinte maneira: quando a coxa e perna de um dos membros é
estendida verticalmente, a coxa do outro membro é flexionada para frente;
concomitante ao movimento da coxa, a perna correspondente é flexionada e em
seguida estendida). Se o observador, entretanto, for mais específico e considerar,
além das partes do corpo envolvidas e da forma geral dos movimentos, também
as diferenças existentes no ritmo, força e amplitude dos movimentos, classificará
estes comportamentos em classes distintas.
Os comportamentos “morder a ponta do lápis”, “morder uma maçã” e
“morder um colega” apresentam semelhanças tanto na forma (aproximação das
arcadas dentárias superior e inferior) como no efeito produzido (objeto
comprimido entre os dentes), podendo ser agrupados numa única classe. No
entanto, se fossem considerados os fatores motivacionais envolvidos, poderíamos
classificar estes comportamentos em três classes funcionalmente distintas.
“Morder a ponta do lápis” poderia ser classificado como um tique, “morder uma
maçã”, como um comportamento de alimentação, e “ morder um colega”, como
um comportamento de agressão. Do mesmo modo, se fôssemos mais específicos
quanto à morfologia, poderíamos distisguir variações na abertura ou na força do
fechamento da arcada dentária, bem como outros aspectos morfológicos
subsidiários, como retração ou não dos lábios.
139
2?) Todos os comportamentos observados e registrados devem ser
classificados, não importando que para isso se criem classes com um único
elemento comportamental. Em outras palavras, o observador pode e deve definir
tantas classes quantas forem necessárias para que seu trabalho fique completo.
39) O observador deve ser coerente com o critério utilizado, isto é, se
optou pelo critério morfológico deve utilizá-lo exclusivamente, e o grau de
especificidade deve ser o mesmo para todas as classes.
O ideal seria que estas três regras fossem utilizadas por todos. Notamos,
contudo, que em alguns estudos, elas nem sempre são seguidas, especialmente a
terceira. Algumas vezes, o não seguimento da 3? regra é justificável. Por exemplo,
se o objetivo do trabalho for descrever as formas de interação social entre uma
criança e sua mãe, e se os recursos e tempo disponíveis para realização do
trabalho são limitados, não há por que aplicar critérios rigorosos, extremamente
específicos na classificação de comportamentos que não estejam diretamente
relacionados ao objetivo. Neste caso, é comum que se use um critério duplo
(morfológico e funcional) bastante específico para os comportamentos de
interação. Porém, quanto aos demais comportamentos (como os que ocorrem na
ausência da mãe, ou que, ocorrendo em sua presença não representam interação)
é admissível usar uma classificação mais ampla e geral.
Exercício de estudo
Analise as quatro figuras apresentadas (Figuras 12.2; 12.3; 12.4 e 12.5). As
fotos a, b e c de cada figura representam diferentes momentos de um
comportamento. Ao analisar as figuras, procure identificar as semelhanças
existentes entre os comportamentos ilustrados (semelhanças na forma e/ou no
efeito produzido).
A seguir, agrupe os quatro comportamentos em classes. Use, em primeiro
lugar o critério funcional, depois o morfológico, e, por último, o critério duplo.
Atenção! Ao utilizar um determinado critério, especifique quantas classes
foram formadas e descreva as características de cada classe.
Para descrever as características de cada classe:
a) identifique os comportamentos incluídos, ou seja, liste os comportamentos que
você incluiu em cada classe;
b) descreva as semelhanças existentes entre os comportamentos incluídos na
classe, de acordo como critério adotado;
c) se a classe for formada por um único comportamento, descreva as
características deste comportamento;
d) verifique se todos os comportamentos foram incluídos; e
e) verifique se não há sobreposição de classes.
FIGURA 12.2 Comportamento 1
FIGURA 12.3 Comportamento 2
I-IGURA 12.4 Comportamento 3
FIGURA 12.5 Comportamento 4
1. Agrupam entos pela funcionalidade.
146
3. A grupam entos pela morfologia e função (duplos).
147
UNIDADE 13
O PR O B LEM A D A
C L A S S IF IC A Ç A O DE
C O M P O R T A M E N T O S -II
objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Definir classes de comportamento pela morfologia e/ou função
material
• Texto: “A definição de classes de comportamento”
• Exercício de estudo
atividades
• Ler o texto “A definição de classes de comportamento”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação
149
A definição de classes
de comportamento
150
com a enxada ou enxadão”, deveria focalizar o efeito comum produzido, “ sulcos
na terra e revolvimento da mesma”. Por outro lado, e ainda do mesmo modo,
num agrupamento duplo, a definição focalizaria as semelhanças na forma e no
efeito dos comportamentos. Assim, a definição do agrupamento duplo, que inclui
os comportamentos “cortão pão”, “cortar cebola” e “cortar carne”, deveria
descrever a postura dos dedos que seguram a faca e a postura dos dedos que
seguram os objetos (pão, cebola e carne), os movimentos que ocorrem e o efeito
produzido na seqüência natural em que os eventos ocorrem.
Uma definição completa focalizaria todas as semelhanças existentes entre os
comportamentos, ou seja, além de focalizar as semelhanças relativas ao critério
utilizado, a definição descreveria também as semelhanças referentes às condições
necessárias para que o comportamento ocorra. Ou seja, a definição do
agrupamento morfológico dos comportamentos “apagar com a borracha”,
“riscar com a caneta” e “lixar a unha” deveria referir-se ao fato de que o objeto
(borracha, caneta e lixa) está preso entre os dedos da pessoa, e que uma parte do
objeto está em contato com uma superfície. No agrupamento funcional dos
comportamentos “passar o trator”, “passar o arado animal” e “cavar com a
enxada ou enxadão”, a definição deveria referir-se ao uso de instrumentos. E no
agrupamento duplo dos comportamentos “cortar pão”, “ cortar cebola”, “ cortar
carne”, a definição deveria referir-se ao fato da faca estar entre os dedos de uma
mão, e o objeto (pão, cebola e carne) estar apoiado sobre uma superfície e
imobilizado pela outra mão.
Além disso, uma definição completa especificaria também a unidade de
análise considerada. Unidade de análise são os critérios utilizados pelo
observador para delimitar o início e o fim de um comportamento ou seqüência
comportamental. Sua explicitação se faz necessária quando se quer quantificar os
comportamentos, pois a precisão na contagem dos eventos depende desta
explicitação.
Portanto, as definições das classes de comportamento só estariam completas
se acrescentássemos a informação referente à unidade de análise. Por exemplo, a
definição do agrupamento “cortar pão”, “cortar carne”, “cortar cebola”, estaria
completa se especificássemos que “uma unidade inicia quando ocorre o
deslocamento do antebraço e da mão, e termina quando: a) é interrompido o
contato da faca com o objeto (pão, cebola, carne) ou, b) ocorre uma interrupção
na seqüência de movimentos que produzem o corte, interrupção esta de 10 ou
mais segundos”.
Em geral, a identificação do início da primeira unidade é feita a partir da
identificação do evento comportamental e das condições necessárias para sua
ocorrência. A identificação do início das unidades subseqüentes é feita a partir,
obviamente, do término das unidades anteriores.
A delimitação da unidade de análise possibilita a quantificação precisa dos
comportamentos. Se não tivéssemos estabelecido a unidade de análise na
definição da classe descrita anteriormente, e o sujeito, após ter produzido um
corte no pão (sem porém separá-lo em partes distintas) levantasse a faca e,
imediatamente após, voltasse a introduzi-la no corte existente, certamente os
observadores ficariam em dúvida se o sujeito havia cortado uma ou duas vezes o
pão. Pela especificação da unidade a ser considerada, fica claro que, neste caso,
existiriam dois cortes, isto é, duas unidades.
151
A exata delimitação da unidade de análise é arbitrária, ela varia em função
das conveniências do observador (facilidades no registro) e dos objetivos do
estudo observacional. Assim, ao invés da unidade de análise estabelecida
anteriormente, poderíamos ter definido o término da unidade de corte pela
“ocorrência da divisão do objeto em duas partes distintas”. Nestátaaso, a
ocorrência do comportamento só seria contada quando o objeto fosse
completamente seccionado, não importanto o número de interrupções nos
movimentos, ou no contato da faca com o objeto.
Um último cuidado a ser tomado com relação ao problema de definição de
classes, diz respeito à denominação a ser dada à classe. É importante atribuir
nomes às classes analisadas, pois isso facilita o processo de comunicação, bem
como sua referência posterior, eliminando a repetição constante de sua definição.
Segundo Cunha2, o nome adotado deverá ser o que mais pronta e
objetivamente evoque a definição da classe. No exemplo analisado, a
denominação “cortar alimento com faca” é apropriada, uma vez que sugere ao
leitor a ação que está sendo definida.
Resumindo os cuidados que um observador deve tomar ao definir uma
classe, poderíamos dizer que:
Para verificar até que ponto o que foi dito nesta unidade foi aprendido por
você, seria conveniente que relesse o texto referente à Unidade 12, “Agrupamento
dos comportamentos em classe”, e tentasse identificar se os cuidados
mencionados na Unidade 9, bem como nesta, estão sendo levados em conta.
Existem três exemplos, no texto da Unidade 12, que contêm descrições de
agrupamentos. Essas descrições poderiam, agora, ser reelaboradas por você, sob
a forma de uma definição de classe comportamental. Faça isso em folhas à parte.
Como definir é uma tarefa complexa e difícil, e a fim de que você não omita
nenhum item, fornecemos abaixo um padrão para orientá-lo na forma de
apresentar definições. Isto é, após analisar as descrições dos agrupamentos,
segundo os critérios e cuidados já mencionados, sugerimos que transcreva o
resultado de sua análise do seguinte modo:
152
1) Critério de agrupamento e exemplo de comportamentos incluídos na classe;
2) Denominação da classe;
3) Descrição das condições;
4) Descrição dos eventos em sua seqüência; e
5) Descrição da unidade de análise.
Após realizar esta tarefa, compare suas definições com as que apresentamos
a seguir:
EXEMPLO 1
153
EXEMPLO 3
Exercício de estudo
O exercício'de estudo que iremos realizar terá como base a Unidade 12. Ou
seja, você irá analisar as Figuras 12.2 Comportamento 1; 12.3 Comportamento
2; 12.4 Comportamento 3 e 12.5 Comportamento 4 do exercício de estudo da
Unidade 12.
Obedeça o padrão adotado:
154
1) Considere a Figura 12.2 Comportamento 1 e a Figura 12.5 Comportamento
4. Usando o critério morfológico, defina a classe que contém o
comportamento 1 e o comportamento 4.
155
3) Finalmente, analise a Figura 12.3 Comportamento 2 e a Figura 12.4
Comportamento 3. Usando o critério duplo, defina morfológica e
funcionalmente a classe que contém os comportamentos 2 e 3.
156
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