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ENSINANDO

OBSERVAÇÃO
U M A IN T R O D U Ç Ã O

Marilda Fernandes Danna


M aria Am élia Matos

EDICON
EN SIN A N D O O B S E R V A Ç Ã O
UMA INTRODUÇÃO

M arilda Fernandes Danna


Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo
Prof* do Instituto Metodista de Ensino Superior

Matos
Ph. D. pela Columbia University
ProP do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Revisão técnica
Antônio Jayro da Fonseca Mota Fagundes
Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo
Prof, das Faculdades “Farias Brito”

Um livro didático para ensinar registro contínuo,


classificação e definição de comportamento

2? edição revista pelos autores


1? reimpressão

EDICON®
São Paulo
1986
Sumário

Prefácio______ 15
Apresentação
Rachel Rodrigues Kerbauy--------- 17
Introdução--------- 21

UNIDADE 1
A NECESSIDADE DA OBSERVAÇÃO EM CIÊNCIA

Texto: Por que um curso de observação?______ 28


(O uso da observação na coleta de dados; a
importância dos objetivos na observação;
características da observação científica.)

Questões de estudo--------- 31

UNIDADE 2

A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM CIENTÍFICA

Texto: A linguagem científica--------- 34


(Linguagem científica e linguagem coloquial;
características da linguagem científica; termos e
expressões a serem evitados.)

Questões e exercício de estudo_______ 41

9
UNIDADE 3

A SITUAÇÃO DE OBSERVAÇÃO - I

Texto: O protocolo de observação______ 44


(A necessidade de descrever as condições em que
o comportamento ocorre; a descrição do sujeito
observado; o relato do ambiente físico e social; a
diagramação do ambiente; sistema notacional
adotado no diagrama.)
Questões e exercício de estudo______ 48

UNIDADE 4

A SITUAÇÃO DE OBSERVAÇÃO - II
Texto: o relato das condições em que a observação ocorre
(Critérios para uma descrição adequada.)______ 50

Exercício de estudo, fazendo uso de fotografias______ 52


A tividade prática: Descrição do sujeito, do ambiente físico
e do ambiente social______ 54

UNIDADE 5

O REGISTRO DO COMPORTAMENTO - I
Texto: A técnica de registro contínuo--------- 58
(Observação e registro; quando usar o registro
contínuo; a escolha dos comportamentos a serem
registrados; a sistemática de registro.)

Questões de estudo______ 64

Atividade prática: Registro de comportamentos


motores ______ 64
UNIDADE 6

O REGISTRO DO COMPORTAMENTO - II

Texto: O registro das expressões faciais__ ____70


(O olhar e a fisionomia; as dificuldades do registro
das expressões faciais.)

Exercício de estudo, fazendo uso de fotografias______ 72

Atividade prática: Registro de comportamentos motores e


expressões faciais______ 74

UNIDADE?

OS EVENTOS AMBIENTAIS EM QUE O


COMPORTAMENTO SE INSERE - I

Texto: Eventos físicos e sociais______ 80


(As mudanças no ambiente físico e social; eventos
ambientais antecedentes e conseqüentes; as relações
entre o comportamento e os eventos ambientais.)

Questões e exercício de estudo______ 85

UNIDADE 8

OS EVENTOS AMBIENTAIS EM QUE O


COMPORTAMENTO SE INSERE - II

Atividade prática: Registro de eventos comportamentais e


ambientais e análise destes registros--------- 88

11
UNIDADE 9
A DEFINIÇÃO CIENTÍFICA

Texto: A definição de eventos comportamentais e


ambientais______ 100
(A importância de definição para a comunidade
cientifica; a objetividade e clareza na definição; a
definição direta e afirmativa; explicitação e
enumeração completa; pertinência; exercícios de
análise de definições.)
Questões de estudo______ 107

UNIDADE 10

DEFINIÇÕES MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO


COMPORTAMENTO - I
Texto: As maneiras de se definir um
comportamento______ n o
(A identificação de características morfológicas e
funcionais; o que determina o tipo de definição a ser
empregado; exercício de análise de definições.)

Questões de estudo______ 114

UNIDADE 11

DEFINIÇÕES MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO


COMPORTAMENTO - II

Texto: Morfologia e função do


comportamento______ H6
(A descrição de aspectos morfológicos do
comportamento; a descrição de aspectos funcionais
do comportamento; exercício análise de definições.)

12
UNIDADE 12

O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTOS - I

Texto: Agrupamento dos comportamentos em


classes______ 132
(A importância da classificação; critérios
morfológicos e critérios funcionais; a intersecção de
critérios; a escolha do critério e o objetivo de trabalho
do observador; a amplitude do agrupamento e o grau
de especificidade dos critérios adotados; algumas
regras para o agrupamento dos comportamentos
observados.)
Exercício de estudo, fazendo uso de
fotografias--------- 140

UNIDADE 13

O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTOS - II
Texto: A definição de classes de
comportamento------------- 150
(Características da definiçãode umaclasse
comportamental; o problemada unidade de análise;
como denominar uma classe.)

Exercício de estudo------------ 154

Referências bibliográficas--------- 157


13
Prefácio

Em 1976, três colegas do Curso de Pós-gradução do Instituto de Psicologia


da Universidade de São Paulo reuniam-se sistematicamente para discutir
problemas ligados à pratica do método observacional, como instrumento de
coleta de dados em Psicologia. Cecília estava interessada em desenvolver um
sistema de treinamento para pais que possibilitasse a prevenção de problemas
comportamentais cotidianos que, se acumulados, podem representar uma crise.
Para isso se propunha observar o cotidiano de uma família, especificamente, a
interação de pais e filhos. Jaíde, às voltas com seu Doutoramento, estava
preocupada em analisar seqüências comportamentais apresentadas por
retardados profundos institucionalizados, análise esta que possibilitasse a
identificação das condições próximas e distantes, que antecedem ou sucedem ao
comportamento. Para estabelecer relações funcionais desta ordem, pretendia
observar os sujeitos nas diversas situações existentes na instituição. Marilda
estava preocupada com a formação do aluno de Psicologia. Considerava que a
observação é um dos principais instrumentos de trabalho que o psicólogo dispõe e
que o aluno deveria ser ensinado a utilizar adequadamente este instrumento.
O resultado dessas discussões foi o estabelecimento de uma seqüência de
objetivos comportamentais relativos à atividade de um observador que atuasse
como auxiliar em uma pesquisa observacional. A partir daí, o grupo se desfez e
cada integrante prosseguiu seu trabalho, no sentido que lhe era próprio e
necessário. Jaíde aplicou o programa de treinamento de observadores que tinha
sido elaborado, e iniciou suas próprias observações. Cecília produziu um catálogo
dos comportamentos emitidos em situação natural1. Marilda elaborou um curso
introdutório de observação de comportamento, destinado a estudantes de
Psicologia. A análise do material elaborado, bem como dos resultados obtidos
com a aplicação desse curso foi feita, e serviu como seu tema da dissertação de
mestrado2.

1. Cecília G. Batista. Catálogo de comportamentos motores observados durante uma


situação de refeição. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1978.

2. Marilda F. Danna. Ensinando observação: análise e avaliação. Dissertação de


Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São
Paulo, 1978.

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Estimuladas pelos membros da banca examinadora e. premidas pelas
solicitações de colegas, orientanda e orientadora se dispuseram a retomar o
trabalho e adaptá-lo para ser publicado como livro. Desde sua primeira aplicação,
o curso original passou por sucessivas reformulações e vem sendo aplicado, de
forma regular, aos alunos de Psicologia do Instituto Metodista de Ensino Superior,
em São Bernardo do Campo. O que aqui se apresenta é fruto de uma revisão dos
procedimentos e materiais de ensino assim produzidos. Conservou-se a estrutura
básica do curso original; as modificações dizem respeito principalmente ao
material utilizado - textos e audiovisuais - bem como à elaboração de um
Manual do Professor3.
A publicação deste livro representa uma tentativa de contribuir para o
ensino da observação de comportamento de forma sistemática. Embora a obra se
destine, em princípio, a estudantes de Psicologia, seu uso pode ser estendido a
outros estudantes e profissionais que necessitem de semelhante treino, uma vez
que o curso independe de conhecimentos anteriores específicos.
M. A. M.

3. O Manual do Professor encontra-se à venda nas livrarias. Os filmes foram produzidos pelo
CAVE — Centro Audio Visual Evangélico, e poderão ser obtidos no seguinte endereço:
CAVE - Rua do Sacramento, 230 - CEP 09720 Rudge Ramos - São Bernardo do Campo.
Apresentação

A maneira de ensinar alunos, seja quanto ao conteúdo ou à forma, vem


sendo analisada há séculos e pesquisada mais sistematicamente nas últimas
décadas. Pontos extremos e médios nesse continuum permitem posições diversas.
Há aqueles que duvidam até mesmo da possibilidade de ensinar um professor a
ensinar, pois isto é uma arte, e há aqueles que defendem uma programação
rigorosa de todas as situações de ensino. Além dessas posições, há os que nem
mesmo se preocupam com discussões sobre como tornar o ensino mais eficiente,
pois o professor não pode ensinar, mas, simplesmente, ajudar o estudante a
aprender.
Em toda essa controvérsia, há pessoas que assumiram suas posições, como é
o caso das autoras deste livro. Preocuparam-se com o comportamento de quem
aprende e procuram planejar as condições para seu aprendizado.
Essa tomada de posição é decorrente do trabalho que ambas desenvolvem
tanto em Psicologia, como em Educação. Ambas ensinam. Ambas têm um
referencial teórico comum.
Neste livro, encontramo-nos diante de uma fase do processo de ensinar que
deve ser reforçador para ambas. De um trabalho de mestrado de Marilda
Fernandes Danna, no qual se percebia a contribuição significativa do orientador,
da sugestão da banca examinadora, da qual fazíamos parte, de que efetuassem
modificações na tese para transformá-la em livro, surgiu um trabalho novo.
Possivelmente, o resultado desse trabalho, como se apresenta hoje, é um reforço
para a aluna que passa a trabalhar com sua orientadora em co-autoria.
Maria Amélia Matos tem se destacado por sua atuação em congressos,
conferências, sociedades científicas em geral e na Universidade de São Paulo
como professora de Psicologia Experimental, tanto a nível de graduação, como de
pós-graduação. Nesse trabalho didático, os reforçadores adicionais à professora
são pouòos: fica apenas a gratidão e a admiração de seus orientandos e a
aprendizagem que ocorre, após a orientação segura, da qual a tese é produto final,
e possivelmente, a satisfação de formar pessoas que atuem proficuamente em sua
área de pesquisa. É portanto reconfortante verificarmos que esse livro traz a
colaboração tanto da orientanda como de sua orientadora, podendo ser um
reforçador adicional não cogitado: a passagem por diversas etapas de trabalho,
obrigando novas formas de relacionamento e d satisfação de ter um livro
publicado.
É importante, pois, que um trabalho que tem como objetivo ensinar alunos a
coletar dados sobre o comportamento em situação ambiental, seja feito por

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professores de Psicologia que atuem na Universidade. Que o resultado seja fruto
da experiência, conhecimento e análise de dados, de pessoas que amadureceram
mais ainda, trabalhando. É obra ímpar, porque foi iniciada como pesquisa no
trabalho de dar aulas e pela maneira de apresentar o conteúdo para estudantes de
Psicologia.
As autoras planejam seu material instrucional. Modelam o comportamento do
estudante e, progressivamente, introduzem conceitos. As perguntas possíveis do
aluno são apresentadas nos primeiros capítulos: por que um curso de observação e
quais as características da observação científica que tornam necessário um
treinamento. Aos poucos o aluno vai sendo conduzido, não só a entender as
diversas maneiras de ver um fato, como as diferentes maneiras de definir o
comportamento e a necessidade de definir claramente os objetivos, para que possa
observar os fatos relevantes para determinada situação. Os exemplos, no decorrer
do livro, vão tornando claro porque existe um sistema de notação mais adequado,
com convenções que facilitam a anotação de dados, bem como da possibilidade
do aluno criar um sistema próprio de observação e de símbolos.
Notamos o cuidado na programação do material e percebemos como o
mesmo decorre da experiência analisada, quando verificamos os locais em que
várias informações aparecem. De fato, estas encontram-se exatamente onde
perguntas poderiam ser formuladas pelo leitor. Há ainda os exemplos, o material
de observação e as ilustrações, que abrangem desde o ambiente de interação da
mãe e da criança em sua sala de estar, até uma pessoa patinando. Cada material
está adequado ao que se pretende ensinar a observar naquele momento. Se vamos
aprender a observar expressões faciais, são apresentados rostos de menina,
menino, homem e mulher, e respostas simples, como levantar a mão, são
escolhidas para rediscutir o problema da definição do comportamento.
Importante ainda foi a variação de situações, todas diferentes, e as várias
tarefas nos exercícios de estudo, desde erros a corrigir e coleta de dados diante de
projeções, até identificação de eventos. Existe a dificuldade crescente das tarefas
propostas, mas tomou-se cuidado para que comportamentos e conceitos
necessários para a execução de tarefas novas já fossem dominados pelo
estudante. Ele vai se assegurando de sua maestria através das questões de estudo
que facilitam sua aprendizagem, servindo quer como roteiro, quer como avaliação
do que aprendeu e, para assegurar-se a eficácia de seu trabalho, há ainda
exercícios de avaliação.
O livro é um trabalho que entusiasma, pois leva o leitor a percorrer os
caminhos propostos. Ao profissional experiente e conhecedor do assunto serve
como modelo de trabalho, obrigando-o a perceber as opções das autoras na
maneira de programar seu material. Destaca-se aí a preocupação com a
demonstração da relevância da observação nas várias áreas de atuação do
psicólogo. Nos exemplos sobre a observação do comportamento do agricultor ou
do pedreiro pode existir uma amostra de como o trabalho dos psicólogos pode se
estender. Há ainda a surpresa de verificar que o aluno chega em seu trabalho,
através do livro, ^té classes de comportamentos.
Ao aluno, é um guia seguro para trabalhar independentemente de seu
referencial teórico. Ele fará algo e prosseguirá em seu trabalho. A ele é dada a
certeza de que as cousas que faz são relevantes para sua aprendizagem. Ele
mesmo poderá ir se avaliando através dos exercícios e verificações apresentadas.
Contingente a seu trabalho, obtém os reforçadores: dominou aquele assunto,

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poderá seguir sem dificuldade a tarefa seguinte e, no final do livro, sintetizará suas
observações em classes de comportamentos de acordo com sua função ou
morfologia. Mais importante ainda: poderá iniciar suas próprias observações;
saberá fazê-lo.
Resta ainda uma palavra: a bibliografia citada é geralmente de autores
brasileiros. E o livro em si, como foi realizado, pode servir como modelo de uma
maneira de produzir material relevante, decorrente do trabalho em cursos.
Ensinar passará a ser uma maneira do professor produzir material que será
avaliado por seus próprios alunos, podendo atingir mais adequadamente o
estudante e propiciar ao professor novos reforçadores para seu desempenho. A
educação começará a ter o lugar que merece. A sala de aula será o laboratório e a
função do professor, como transmissor de saber e de cultura, poderá ter a
dignidade perdida.
Este livro pode ser o início de um belo caminho para todos nós, por isso
agradeço às autoras por o estarem publicando e permitirem que apresente os
:rabalhos de uma antiga aluna de graduação, muito querida, e de uma colega, a
quem respeitamos.
Rachel Rodrigues Kerbauy
Prof* do Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo

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Introdução

A necessidade da observação do comportamento humano é um fato


reconhecido pelo psicólogo. A observação está envolvida, de forma direta ou
indireta, em todas as atividades profissionais por ele executadas. Ao fazer uma
entrevista, ao aplicar um teste, ao fazer uma dramatização, durante um
treinamento, o psicólogo está continuamente fazendo uso de observação.
Entretanto, embora todos admitam sua importância, a ênfase dada aos
procedimentos de observação e o nívél de exigência nos registros variam, em
função do enfoque teórico do psicólogo. Os psicólogos comportamentais, em
geral, são bastante rigorosos com relação aos procedimentos de observação e
registro. Estes psicólogos preferem a observação sistemática aos testes, e a
consideram como um dos principais instrumentos de coleta de dados acerca do
comportamento e da situação ambiental. Esta preferência pode ser vista no
trabalho desenvolvido por Mejias (1973), em situação escolar, e nas descrições
sobre o uso da observação, em programas de modificação de comportamento,
feitas por Windholz (1975) e por Jacquemin e Alves (1976).
Nos últimos anos, sob influência da Etologia, vem ocorrendo um interesse
crescente pela pesquisa observacional do comportamento humano. Como
exemplo podemos citar os estudos de McGrew (1972), aqueles relatados por Hutt
e Hutt (1974), e Blurton Jones (1972).
No Brasil, já é grande o número de estudos observacionais do
comportamento em situação natural. Entre eles destacamos os trabalhos que
focalizam a interação mãe-criança (Solitto, 1972; Alves, 1973; Batista, 1978); a
interação criança-criança (Carvalho, 1977 e 1978; Ferreira, 1978a; Vieira, 1979-,
e Branco e Mettel, 1980); a interação professor-aluno (Barreiro e Alves, 1979a e
1979b; Simonassi e Mettel, 1980); os comportamentos do aluno em sala de aula
(Marturano, 1978 e 1979; Rodrigues, 1979); o brinquedo, a exploração e o jogo
(Mettel e Branco, 1978; Vieira, 1978); e as condições e comportamentos em
creches (Secaf e Ferreira, 1980; Borges e Mettel, 1980). Além destes, destacamos
ainda os trabalhos sobre interação verbal mãe-criança realizados por Marturano
(1975, 1976 e 1977), Stella (1976) e Prorok e Silva (1979), em condições naturais
e de laboratório; e os estudos experimentais de Ferreira (1978b), Secaf e Ferreira
(1978) sobre a reação da mãe e da criança em episódios estruturados de
separação.

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O reconhecimento da importância da observarão e evidenciado pelo fato de
que cursos de observação do comportamento vêm sendo incluídos no currículo de
Psicologia, quer como disciplinas autônomas, quer como parie do programa de
outras disciplinas, em geral em Psicologia Experimental, Psicologia do
Desenvolvimento e Psicologia Social.
A existência desses cursos, entretanto, traz algumas dificuldades àqueles que
se propõem a ministrá-los. A primeira, relaciona-se à definição dos objetivos e
programa da disciplina. A escolha de objetivos para um curso de observação,
ministrado ao nível de graduação em Psicologia, devido a diversidade de
finalidades a que a observação atende e a variedade de problemas envolvidos com
a sua utilização, torna-se uma decisão arbitrária. As possibilidades de conteúdo
são muitas e vão desde a discussão dos enfoques observacionais, dos problemas
relativos ao uso da observação, da seleção dos eventos observados, da
interferência do observador na situação, da ética da observação, das técnicas de
registro utilizadas, da fidedignidade dos registros, do estabelecimento de
categorias comportamentais, etc., até o planejamento e execução de um estudo
observacional.
A segunda dificuldade advém do fato de inexistirem textos de apoio que
forneçam dicas acerca de como proceder na situação de observação, isto é, textos
que ensinem o aluno a observar1. E a terceira, é a dificuldade que o professor
encontra para avaliar e acompanhar o desempenho do aluno durante seu
treinamento em observação.
Frente à necessidade de planejar um curso de observação, e cientes destas
dificuldades, partimos para a busca de soluções. A proposta de curso que
apresentamos neste livro é uma entre as muitas possíveis, e foi tomada tendo em
vista a população à qual desejamos atingir: psicólogos em formação, que ainda
não se definiram por uma orientação teórica de trabalho.
O curso é introdutório e pretende ajudar a desenvolver algumas habilidades
básicas que sirvam tanto ao futuro pesquisador, que se proponha a conduzir um
estudo observacional, como ao futuro profissional, que pretenda utilizar a
observação sistemática em seu trabalho. Embora saibamos que muitas
orientações trabalham de forma diferente, consideramos que o treinamento em
observação e registro de eventos será útil ao aluno, uma vez que o levará a atentar
para as particularidades do comportamento e as circunstâncias em que ele ocorre,
coisas que são importantes independente do tipo de orientação teórica abraçada.
Ao definir os objetivos terminais do curso, consideramos como fundamental
a utilização da linguagem objetiva nos relatos observacionais. O uso da linguagem
objetiva elimina a confusão com relação a interpretação dos eventos observados
e, segundo Ferster, Culbertson e Boren (1977), permitiria a comunicação das
descobertas realizadas por profissionais de diferentes orientações teóricas.
. Outras habilidades consideradas básicas foram: a identificação das
condições em que os comportamentos ocorrem e a classificação e definição dos
comportamentos observados. A descrição das condiçõe_s_ em que os
comportamentos ocorrem tem se mostrado relevante para o estabelecimento de
hipóteses explicativas do comportamento. A identificação das condições envolve
a descrição do sujeito, a especificação do local onde o organismo se encontra, e as
mudanças no ambiente imediato que ocorrem durante a permanência do
organismo na situação, isto é, os eventos antecedentes e conseqüentes ao seu
comportamento.
Por outro lado, o mero registro dos comportamentos em linguagem objetiva
não basta. Numa etapa posterior, é necessário que o observador identifique as
características comuns existentes entre os comportamentos observados,
classifique-os e descreva os critérios utilizados na classificação. Do mesmo modo,
a definição dos critérios permite a comunicação e a repetição, por outros
observadores, dos registros efetuados. Duas são as formas de classificação
abordadas no livro, uma se refere à morfologia, ou melhor, à postura e padrão do
movimento apresentado; outra se refere à função, ou melhor, ao efeito que o
comportamento produz no ambiente. A escolha de uma ou outra vai depender dos
objetivos da própria observação.
Outra opção, feita ao planejar o curso proposto, foi com relação à técnica de
registro a ser ensinada. Escolheu-se a técnica de registro contínuo porque a mesma
independe de conhecimento anterior da situação a ser observada, permite manter
a linguagem própria do aluno e, conseqüentemente, pode ser utilizada em
qualquer fase do trabalho. Além disso, a técnica de registro contínuo fornece
informações não só com relação ao tipo de evento observado, mas com relação à
sua seqüência temporal e freqüência.
O curso visa quatro objetivos e é composto por treze unidades de ensino. As
unidades estão relacionadas a um objetivo ou mais. A tabela, apresentada a
seguir, mostra os objetivos terminais do curso e as unidades em que são
desenvolvidos.
Objetivos terminais e unidades correspondentes

Objetivo terminal Unidade


I — Observar e descrever o sujeito, o ambiente físico e o
ambiente social da situação de observação, utilizando
para isso uma linguagem científica; 2-3-4
II — Observar e registrar os eventos comportamentais e
ambientais, utüizando a técnica de registro contínuo; 2-5-6-7-S
III — Identificar os eventos antecedentes e conseqüentes
ao comportamento; 2-7-8
IV - Definir classes de comportamento pela morfologia
e/ou função. 2-9-10-11-12-13

Devido à escassez de publicações sobre como observar e registrar, tivemos


que escrever os textos destinados ao curso. Os textos descrevem, justificam e
exemplificam as etapas do trabalho de observação, sendo completados por
exercícios e instruções para as atividades práticas de observação e registro. Os
textos estão relacionados aos objetivos da unidade, mas, se necessário, poderão
ser utilizados isoladamente por professores, procurando extrair material e
sugestões para cursos de observação.

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Para poder acompanhar e avaliar o desempenho dos alunos nas atividades
de observação e registro, sem a necessidade de fazer uso de atividades de campo,
recorremos a recursos audiovisuais. Audiovisuais, tais como o videoteipe, têm
sido utilizados para o treinamento de observadores (Blumberg, 1971; Nay e
Kerhoff, 1974; Jenkins, Nadler, Lawler e Cammann, 1975). A utilização de
videoteipe ou de filme para o treinamento é vantajosa na medida em que:
a) permite selecionar os comportamentos e ambientes a serem apresentados e
graduar suas dificuldades; b) possibilita avaliar com precisão a execução dos
observadores, uma vez que facilita a comparação entre os registros efetuados e
eventos observados; e c) permite a interrupção e repetição das cenas. A
interrupção da cena, por sua vez, possibilita o feedback imediato ao desempenho
do observador, enquanto que a repetição facilita a análise das dificuldades.
Um dos recursos audiovisuais utilizados foi o filme. Foram produzidos três
filmes super 8, destinados às atividades práticas de observação e registro das
unidades 4, 5, 6 e 8. O primeiro filme focaliza o ambiente físico onde a ação se
desenvolverá e, posteriormente, os comportamentos motores apresentados por
uma criança num parque infantil. O segundo, enfoca as expressões faciais e ações
motoras de uma pessoa numa situação de espera; e o terceiro, o ambiente físico e
social e as interações entre uma pessoa e seu ambiente. Convém esclarecer que
embora os filmes façam parte do material do curso, o mesmo poderá ser
ministrado independentemente destes.
Outro material audiovisual utilizado é a fotografia. Fotografias aparecem
como recurso tanto para a descrição do ambiente, como para a descrição de
comportamentos, principalmente na classificação e definição de classes de
comportamento.
O livro contém o material escrito referente às treze unidades de ensino. Uma
ficha de apresentação antecede o material de cada unidade. A ficha de
apresentação descreve os objetivos da unidade, o material contido no livro e as
atividades propostas.
O material contido neste livro consiste, basicamente, em textos, questões e
exercicios de estudo, instruções para as atividades práticas, protocolo de
observação e folhas de análise.
As atividades propostas são: ler texto e/ou instrução, responder questões de
estudo, resolver exércício de estudo, participar de discussão, observar e registrar,
analisar os registros, responder questões ou resolver exercício de avaliação. Seria
importante que, antes de ler qualquer texto de instrução, o aluno se familiarizasse
com os objetivos descritos na ficha de apresentação da unidade respectiva.
Igualmente, tem mostrado nossa experiência que, se o aluno executar as
atividades indicadas nessa ficha, na ordem em que estão listadas, seu
aproveitamento será maior, porque sua aprendizagem será cumulativa.
Os textos procuram fundamentar o trabalho a ser realizado. As instruções
visam orientar o leitor com relação à atividade prática a ser desenvolvida. Elas
descrevem o objetivo do trabalho a ser realizado, o material a ser utilizado, bem
como fornecem informações sobre o preenchimento do protocolo de observação e
folhas de análise. As questões de estudo pretendem levar o leitor a rever e analisar
o texto lido. Os exercicios de estudo tentam favorecer a aprendizagem. Eles
consistem na análise de relatos de observação ou de definições, e na descrição de
situações e comportamentos. As situações e comportamentos a serem descritos

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são ilustrados por fotografias. A atividade de discussão visa solucionar as dúvidas
existentes com relação ao material, assim como fornecer feedback aos
comportamentos apresentados nas atividades anteriormente realizadas.
As atividades de observação e registro, nas unidades 4, 5. 6 e 8, são feitas
recorrendo-se a projeção de filmes. O professor poderá substituir os filmes por
outros recursos, tais como dramatização ou observação em situação natural.
Descrições detalhadas de como utilizar os filmes ou de como substituí-los são
fornecidas no Manual do Professor. Ao realizar uma atividade prática, o
observador deverá preencher o protocolo de observação, e no caso da Unidade 8,
também as folhas de análise.

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UNIDADE 1
A N E C E S S ID A D E
D A O BSERVA ÇÃ O
EM C IÊ N C IA

objetivos
A o final d a unidade, o leitor deverá ser cap az de verbalizar sobre:
• A observação com o um instrum ento p a ra a coleta de dados acerca do
com portam ento e, d a situação am biental
• A im portância da observação p a ra o psicólogo
• As características da observação científica
• A necessidade de treinam ento em observação

material
• T exto: “ Por que um curso de o b serv ação ?”
• Q uestões de estudo

atividades
• Ler o texto “ P o r que um curso de o b servação?”
• R esponder as questões de estudo
• P articip ar de um a discussão sobre as questões de estudo
• R esponder as questões de avaliação
Por que um curso de observação?

É a pergunta natural que surge no início do curso. Os alunos, em geral, estão


interessados em saber em que medida o curso de observação contribuirá para
sua formação profissional. Para responder a esta questão, é necessário analisar a
importância do uso da observação na atividade profissional do psicólogo.
0 psicólogo, quando atua como cientista do comportamento, investiga,
descreve e/ou aplica princípios e leis de comportamento. Quer na descoberta,
quer na aplicação dos princípios e das leis, o psicólogo lida principalmente com
informações a respeito do comportamento e das mudanças no ambiente físico e
social que se relacionam àquele comportamento. Assim, poderíamos dizer que um
psicólogo está basicamente interessado em responder a duas questões gerais: O
que os organismos fazem? Em que circunstâncias ou sob que condições
ambientais?
Ao longo do desenvolvimento da Psicologia como ciência, a observação tem
se mostrado o instrumento mais satisfatório na coleta dos dados que respondem
àquelas duas questões. Por quê? O uso de informações obtidas através da_
observação parece colocar o cientista mais sob a influência do que acontece na
realidade do que sob a influência de suposições, interpretações e preconceitos.
Isto, é claro, possibilita uma melhor compreensão da natureza e ações
transformadoras mais eficazes. Por exemplo, uma pessoa supõe que um fenômeno
tem uma determinada causa; se a sua suposição se baseia em dados obtidos
através da observação, provavelmente esta pessoa não só explicará, como poderá
prever, produzir, interromper ou evitar o fenômeno como uma possibilidade de
acerto maior do que quem usa outros recursos. Mas, não basta que esse indivíduo
sozinho tenha observado o fenômeno para ele ser tomado como real. E não há
maiores méritos em fazer esse trabalho, se a sociedade não pode participar dele. O
cientista que registra e relata as suas observações, permite que outros possam
repetir o que ele está fazendo. Assim, seus procedimentos e conclusões podem ser
criticados, aperfeiçoados e aplicados por outras pessoas. A observação é um
instrumento de coleta de dados que permite a socialização e conseqüentemente a
avaliação do trabalho do cientista. Através da observação sistemática do
comportamento dos organismos, em situação natural ou de laboratório, os
pesquisadores têm conseguido identificar algumas das relações existentes entre o
comportamento e certas circunstâncias ambientais.
Por exemplo, o uso da observação tem permitido descobrir que o
comportamento é influenciado pelas conseqüências que produz no ambiente; que

28
os modos pelos quais essas conseqüências se distribuem no tempo determinam
diferentes padrões de comportamento; que o comportamento pode ficar sob
influência de estímulos particulares do ambiente, em detrimento de outros.

A observação é utilizada para coletar dados


acerca do comportamento e da situação
ambiental.

Além disso, a observação é utilizada pelo psicólogo nas diferentes situações


de aplicação da Psicologia, tais como, clínica, escola e indústria. Na clinica o
psicólogo recorre á observação ao investigar, por exemplo, a queixa apresentada
pelo cliente, isto é, para identificar o que vem a ser “ agressividade”,
“nervosismo”, “dificuldades na aprendizagem”, “timidez”, “ciúmes”, etc; sua
freqüência, assim como as situações em que estes comportamentos ocorrem. Os
psicólogos escolares recorrem à observação para identificar dificuldades de
socialização, deficiências na aprendizagem, assim como deficiências no ensino
ministrado ou mesmo no currículo da escola. O psicólogo industrial recorre à
observação para identificar as necessidades de treinamento, a dinâmica dos
grupos de trabalho, para fazer análise de função, etc.
_ Baseado nessas observações, o psicólogo faz o diagnóstico preliminar da,
situação-problema, isto é, identifica as deficiências existentes, identifica as
variáveis que afetam o comportamento e os recursos disponíveis no ambiente.
Com estes elementos, ele é capaz de decidir quais são as técnicas e procedimentos,
mais adequados para obter os resultados que pretende atingir.
A observação, entretanto, não se limita a estas duas fases iniciais. Ao
introduzir modificações na situação, isto é, durante e após aplicação de um
procedimento, o psicólogo utiliza a observação também para avaliar a eficácia
das técnicas e procedimentos empregados. O psicólogo clínico observa o
desempenho de seu cliente; o psicólogo escolar, o desempenho de alunos e
professores; o psicólogo industrial, o desempenho dos funcionários para verificar
a ocorrência ou não de alterações comportamentais. Através deste
acompanhamento, o psicólogo tem condições de avaliar o grau de mudança na
situação e, portanto, a eficácia de suas técnicas terapêuticas, dos programas de
ensino e treinamento utilizados.

Os dados coletados por observação são usados


para diagnosticar a situação-problema , para
escolher as técnicas e procedimentos a serem
empregados e para avaliar a eficácia dessas
técnicas e procedimentos .

Os dados coletados por observação referem-se aos comportamentos


exibidos pelo sujeito: contatos físicos com objetos e pessoas, vocalizações e
verbalizações, movimentações no espaço, expressões faciais, gestos, direções do
olhar, posturas e posições do corpo, etc. Os dados referem-se também à situação
ambiental, isto é, às características do meio físico e social em que o sujeito se
encontra, bem como às mudanças que ocorrem no mesmo.

29

O tipo de dado a ser coletado depende do objetivo para o qual a observação


está sendo realizada. Se a observação tem por objetivo identificar o repertório de
comportamento1 de um sujeito, o psicólogo registrará todos os comportamentos
que o sujeito apresenta durante a observação. (Naturalmente, que ao registrar
todos os comportamentos do sujeito, o grau de precisão da observação torna-se
menor do que quando o observador seleciona os comportamentos a serem
registrados.) Se a observação tem por objetivo identificar as variáveis que
interferem com um dado comportamento, o observador registrará toda vez que o
comportamento ocorrer, bem como as circunstâncias ambientais que
antecederam e seguiram a esse comportamento. Por exemplo, registrará o local
em que o sujeito se encontra, o que acontece neste local antes e depois da
ocorrência do comportamento, bem como o comportamento de outras pessoas
que estão presentes no local. Se o objetivo da observação é detectar a eficácia de
um procedimento sobre um dado comportamento, o observador registrará o
comportamento antes, durante e após a aplicação do procedimento, bem como as
características de que se reveste a aplicação daquele procedimento.

O objetivo da o b sen a ç ã o determ ina quais serão


os dados a serem coletados.

Neste ponto é necessário esclarecer que a observação a que nos referimos


neste texto difere da observação casual que fazemos no nosso dia-a-dia. A
observação científica a que nos referimos é uma observação sistemática e
objetiva.
Entendemos que a observação é sistemática pelo fato de ser planejada e
conduzida em função de um objetivo anteriormente definido. Como já foi dito, a
definição do objetivo ajuda o investigador a selecionar, entre as inúmeras
possibilidades, aquelas características que transmitem a informação relevante. As
observações científicas são realizadas em condições explicitamente especificadas.
Especificar as condições, ou melhor, planejar as observações, significa
estabelecer:

• onde: em que local e situação a observação será realizada;


• quando: em que momentos ela será realizada;
• quem: quais serão os sujeitos a serem observados;
• o que: que comportamentos e circunstâncias ambientais devem ser
observados; e
• como: qual a técnica de observação e registro a ser utilizada.

A objetividade na observação significa ater-se aos fatos efetivamente


observados. Fatos que sejam visíveis, audíveis, palpáveis, degustáveis, cheiráveis,
enfim, perceptíveis pelos sentidos. Desta forma deixam-se de lado todas as
impressões subjetivas e interpretações pessoais.

1. Repertório comportamental: conjunto de comportamentos de um organismo.

í 30
A observação científica é uma observação
sistemática e objetiva.

Por que um curso de observação? - perguntamos. Tendo em vista que a


observação científica é utilizada pelo psicólogo como um instrumento para coletar
dados, e que a observação científica é uma observação sistemática e objetiva, que
requer a adoção de procedimentos específicos de coleta e de registro de dados,
consideramos de fundamental importância um curso que possibilite o treinamento
dos alunos no uso deste instrumento.
O curso proposto tem por objetivo oferecer um treinamento em observação
e registro do comportamento e das circunstâncias em que este comportamento
ocorre. Um treinamento que atenda as exigências de sistematização e objetividade
da observação. Ao longo do curso discutiremos também alguns cuidados técnicos
e éticos que o observador precisa e deve atender durante o seu trabalho.

Para atender as características de uma


observação científica é necessário um treino
específico.

estudo

1) Por que considerar a observação um instrumento de trabalho para o


psicólogo?
2) Identifique quatro situações em que o psicólogo utiliza a observação.
Exemplifique.
3) Para que servem os dados coletados por observação?
4) Que tipo de dados são coletados por observação?
5) Em que medida o objetivo da observação se relaciona ao tipo de dado
coletado?
6) Quais são as características de uma observação científica?
7) O que é uma observação sistemática?
8) O que é uma observação objetiva?
9) Por que é importante um curso de observação?
10) Explique o objetivo deste curso.

31
UNIDADE 2
A IM P O R T Â N C IA D A
L IN G U A G E M C IE N T ÍF IC A

objetivos
D ad o um relato de observação, o leitor deverá ser capaz de:
• Identificar os trechos do relato que contrariam as características de um a
linguagem científica
• Identificar as características da linguagem científica que estão sendo
violadas em cad a um desses trechos

material
• Texto: “ A linguagem científica”
• Q uestões de estudo
• Exercício de estudo

atividades
• Ler o texto “ A linguagem científica”
• R esponder as questões de estudo
• R esolver o exercício de estudo
• P articip ar de um a discussão sobre as questões e/o u exercício de estudo
• R esolver o exercício de avaliação

33
A linguagem científica

A maioria das pessoas costuma observar ocorrências e relatá-las a outrem.


Dependendo do objetivo a que servem, observação e relato de ocorrências podem
ser feitos de diferentes maneiras. Para a ciência, cujo objetivo é predizer e
controlar os eventos da natureza, um fato só adquire importância e significado se
é comunicado a outros através de uma linguagem que obedece a certas
características. E é sobre as características da linguagem científica que iremos
falar neste texto.
A linguagem científica difere da que usamos em nossa vida diária, a
linguagem coloquial, bem como da usada na literatura.
No exemplo a seguir, temos um trecho extraído da literatura. Quando você
está lendo um romance, provavelmente encontra relatos de acontecimentos que
fazem uso de uma linguagem semelhante a esta:
“Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do Arsenal da
Marinha e enfiou pela Rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a
fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos.
A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à
terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo:
- Ah,Venta-Grande! Que noite de almirante você vai passar! Ceia, viola e os
braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva . . . chamava-se Genoveva,
caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido”. (Machado de
Assis - Noite de almirante. Em Antologia escolar de contos brasileiros. Rio
de Janeiro: Ed. de Ouro, 1969, p. 15.)
Analisemos o exemplo. Trata-se de um relato literário. Evidentemente o
autor não pretende descrever apenas o que aconteceu realmente. Também não
necessita fazê-lo da maneira mais fiel possível. Lógico! O trabalho de um escritor
não exige que o que ele conta seja constatado da mesma maneira pelos outros. Ele
não quer demonstrar fatos. Sua tarefa é mais comunicar e produzir impressões
sobre coisas que podem até não ter acontecido. O objetivo de um escritor permite,
e até exige, que “dê asas à sua imaginação”.
Se o comportamento de Deolindo e os aspectos do ambiente que atuam
sobre seu comportamento estivessem sendo descritos cientificamente, seria
aproximadamente assim:
“Deolindo é marujo. A corveta à qual serve encontra-se no porto, após uma
viagem de 6 meses. Deolindo, 10 minutos após ter obtido licença, dirigiu-se à
terra. Saía do Arsenal da Marinha e os companheiros disseram, sorrindo:

34
-A h! Venta-Grande! Que noite de almirante você vai passar! Ceia, viola e os
braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva . . .
Genoveva é cabocla, tem vinte anos e olhos pretos. Às três horas da tarde,
Deolindo dirigiu-se à Rua de Bragança”.
O que parece logo “ saltar aos olhos” é que o relato aproximadamente
científico não tem poesia. Isto mesmo! Um relato científico não usa o recurso da
linguagem figurada, não recorre a interpretações, nem a impressões subjetivas.
à objetividade é uma característica fundamental da linguagem científica.
Tentemos agora observar algumas mudanças sofridas pelo texto quando foi
transformado em linguagem aproximadamente científica:
O apelido Venta-Grande bem como a informação que estava entre
parênteses foram suprimidos. Trata-se de uma linguagem coloquial. Também
foram suprimidos o termo batiam (referente às horas), e as frases: “Era a fina flor
dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos”. Excluiu-se,
do mesmo modo, os termos esperta (referente a Genoveva) e atrevido (atributo
para o olho de Genoveva). Tais mudanças excluem recursos de linguagem, os
quais representam impressões subjetivas do autor e se referem a eventos ou
características que não foram observados.
Observemos também que os termos longa (referente à viagem) e depressa
(referente à saída de Deolindo para a terra), foram substituídos por medidas (6
meses; 10 minutos). Uma linguagem científica não comporta termos como
“longa” e “depressa”, os quais permitem várias interpretações a respeito do
tempo real.
A ordem de alguns trechos da descrição foi mudada. Num relato científico,
na maioria das vezes, a apresentação dos eventos na ordem em que ocorreram é
da maior importância. Já imaginou se você fosse descrever o comportamento da
abelha fazer mel e citasse as ações da abelha fora de ordem? E se isso acontecesse
com um relato científico das ações envolvidas no preparo de um bolo?
Bom, voltemos às mudanças na estória do Deolindo. Embora seja uma
linguagem coloquial e com figuras de estilo, a fala dos companheiros de Deolindo
não foi suprimida ou alterada. Por quê? Trata-se de uma reprodução do que
realmente foi dito. É a linguagem dos personagens, não do autor. Em alguns
casos, o cientista pode ter como objetivo descrever as características das
interações verbais entre pessoas. Poderá então usar transcrições no seu relato.
Não vamos agora esperar que todas as pessoas passem a usar uma
linguagem científica. O que determina .a adequação das características da
linguagem é o objetivo. É óbvio que a estória do Deolindo, se fosse contada pelo
escritor de modo aproximadamente científico, não teria beleza. Seria um desastre!
E o que dizer de duas amigas que contassem as “novidades” daquela maneira?
Um escritor, um cientista e uma pessoa comum, pretendem influenciar seus
ouvintes e leitores, de maneira diferentes. Portanto, usam linguagens com
características diferentes.

Psicólogos e cientistas do comportamento são


pessoas comuns que usam linguagem coloquial
no seu dia-a-dia. M as na sua atividade
profissional, quando estão interessados em
descrever, explicar e alterar o comportamento
devem usar uma linguagem científica.
35
CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM CIENTÍFICA

Como já foi sugerido, a objetividade é a característica fundamental da


linguagem_científica. Pela objetividade, o relato científico se distingue dos demais.
Sem objetividade não teríamos bases sólidas para estudar um fenômeno;
estaríamos estudando apenas a opinião das pessoas que supostamente estão
“descrevendo” o fenômeno.
A linguagem objetiva busca eliminar todas as impressões pessoais. e _
subjetivas que o observador possa ter, ou interpretações que ele possa dar acerca
dos fatos.
Vimos anteriormente como seria o relato em linguagem objetiva da estória
de Deolindo. Vejamos outro exemplo. São dadas, a seguir, duas descrições dos
comportamentos apresentados por uma senhora dentro de um ônibus; a primeira
é um relato não objetivo e a segunda é feita em linguagem objetiva.

Relato n9 1 Relato n9 2
1) s \ n á a à procura de um lugar para 1) ônibus com todos os assentos
se sentar. ocupados. S dentro do ônibus, de
pé, anda em direção à porta
dianteira do ônibus.
2) Como não encontra, pára em 2) Ônibus com todos os assentos
frente ao primeiro banco, atrás do ocupados. S parada em frente ao
motorista. Tenta pedir um lugar primeiro banco, atrás do motorista,
aos passageiros que se encontram de pé, vira a cabeça em direção aos
sentados naquele banco. passageiros que estão sentados no
banco.
3) Como ninguém se incomoda, 3) Ônibus com todos os assentos
cansada, ela desiste. ocupados. S parada em frente ao
primeiro banco atrás do motorista,
de pé; passageiros do banco olham
em direção à rua, S expira fundo e
fecha os olhos.

Ao analisar os relatos verificamos que o termo “cansado” se refere a uma


impressão do observador acerca do estado do sujeito, e que o mesmo foi
eliminado e substituído, no segundo relato, pela descrição dos comportamentos
exibidos pelo sujeito naquele momento, “expira fundo e fecha os olhos”. Foram
também eliminadas, no segundo relato, as interpretações: “ à procura de
um lugar para sentar” ; “como não encontra” ; “tenta pedir um lugar aos
passageiros” ; “como ninguém se incomoda” e “ela desiste”.
A importância da objetividade na linguagem torna-se evidente quando se
comparam os dois relatos. No primeiro, as ações do sujeito são descritas de
acordo com um determinado ponto de vista, que pode ou não estar correto.

1. Nos relatos de observação é costume, para evitar a divulgação nos nomes, identificar,
através de letras, as pessoas presentes na situação. A letra maiúscula S é, em geral,
utilizada para designar o sujeito observado.

36
Possivelmente, se outro observador estivesse presente na situação, interpretaria as
ações do sujeito de um modo diferente. O segundo relato elimina as divergências
entre os observadores, na medida em que descreve exatamente as ações que
ocorrem.
Alguém poderia, entretanto, argumentar que a linguagem objetiva não
exprime com veracidade o que está ocorrendo, uma vez que elimina informações
relevantes acerca do fenômeno, informações que dão sentido à ação. Neste caso
responderíamos dizendo que uma descrição mais refinada, que inclua gestos,
verbalizações, entonação de voz, expressões faciais etc., forneceria ao leitor a
imagem requerida.
De uma maneira geral, os principais erros contra a objetividade que devem
ser evitados num relato são:

UTILIZAR TERMOS QUE DESIGNEM ESTADOS SUBJETIVOS

Tais como “cansada”, “triste”, “ alegre”, “nervosa” etc. Ao invés de utilizar


termos que exprimam uma impressão pessoal acerca do estado do sujeito, o
observador deve descrever aquilo que observou, ou melhor, os indicadores
comportamentais de um estado subjetivo. Indicadores tais como, postura
corporal, gestos e expressões exibidos pelo sujeito. Por exemplo, ao invés de
registrar “5 está alegre”, o observador registrará “ S sorri”.

ATRIBUIR INTENÇÕES AO SUJEITO

Por exemplo: “tenta pedir um lugar aos passageiros”, “ a professora ia


pegar o apagador” etc.
Ao invés de interpretar as intenções do sujeito, o observador deve descrever
as ações observadas. Nos exemplos, ao invés de registrar “tenta pedir um lugar
aos passageiros”, o observador registrará “vira a cabeça em direção aos
passageiros” ; ao invés de registrar “a professora ia pegar o apagador”, o
observador registrará “ a professora estende a mão em direção ao apagador”.

ATRIBUIR FINALIDADES À AÇÃO OBSERVADA

Por exemplo, “5 fecha a porta porque venta”, “S anda à procura de um


lugar para sentar” e t c ..
Ao invés de interpretar os motivos que levaram o sujeito a se comportar, o
observador deve descrever o comportamento e as circunstâncias em que ele
ocorre. Nos exemplos, em lugar de escrever “5 fecha a porta porque venta” , o
observador registrará “5 fecha a porta. Venta lá fora” ; ao invés de registrar “<S
anda à procura de um lugar para sentar” , o observador registrará “S anda em
direção à porta dianteira do ônibus”. É certo que S pode ter fechado a porta
porque ventava e que ande no ônibús a procura de um lugar para sentar, mas não
é objetivo dizê-lo, uma vez que o sujeito pode fechar a porta por outros motivos,
assim como a senhora do nosso exemplo, que pode ter andado para a frente do
ônibus porque ia descer no próximo ponto, ou porque viu uma pessoa que lhe
pareceu conhecida ou sem nenhuma finalidade especial.
Algumas vezes, ocorrem eventos.os quais têm alguma relação entre si e
acontecem um após o outro, de forma que o primeiro cria oportunidade para o
segundo e assim sucessivamente. Um exemplo seria a situação onde alguém se
37
dirige a um armário, abre-o, retira um doce da lata que há dentro do armário e
leva o doce à boca. Nesses casos, alguns relatos tendem a referir às últimas ações
como uma finalidade em função da qual ocorrem as ações iniciais. “Abriu o
armário para comer doce”. Uma linguagem científica prescinde de atribuir
intenções às pessoas que estão sendo observadas. O correto seria relatar os
eventos na ordem em que ocorrem, evitando termos que indicam atribuição de
finalidade - “abriu o armário para comer doce” - ou de causalidade - “porque
estava com fome”.

Um relato objetivo evita:


a) utilizar termos que designem estados
subjetivos;
b) interpretar as intenções do sujeito; e
c) interpretar as finalidades da ação.

Outro aspecto que caracteriza um relato científico é o uso de uma linguagem


clara e precisa. Uma linguagem é considerada clara e precisa quando: a) obedece
os critérios de estrutura gramatical do idioma; b) usa termos cujo significado,
para a comunidade que terá contato com o relato, não é ambíguo; isto é, as
palavras usadas são freqüentemente aceitas na comunidade como referentes a
certos fenômenos e eventos e não a outros; c) indica as propriedades definidoras
dos termos, fornecendo referências quantitativas e empíricas, sempre que: o relato
pode ser usado por comunidades diferentes (cientistas e/ou leigos de diferentes
áreas de conhecimento, grupos social, econômica e culturalmente diferentes) ou
quando, mesmo para uma comunidade restrita, os termos sem a indicação dos
referenciais podem ser relacionados pelo leitor a eventos de diferentes naturezas e
magnitudes. Por exemplo, termos como “longe”, “imediato”, “rápido”, “ alto”
etc., que dizem respeito a aspectos mensuráveis da natureza (distância, latência,
velocidade, freqüência etc.) devem em geral estar acompanhados da indicação da
amplitude de valores à qual se referem.
Se retomarmos a leitura do trecho literário que fala a respeito do
personagem Deolindo, poderemos verificar que, diferentemente do relato
científico, a linguagem literária não necessita obedecer rigorosamente à exigência
de clareza e precisão. Assim, não é de surpreender que o autor se sinta
inteiramente à vontade para dizer sobre Deolindo: . . .“levava um grande ar de
felicida,de nos olhos” . . . “veio à terra tão depressa alcançou licença” . . .
Um cientista teria que explicitar o que observou nos olhos de Deolindo e que
tomou como indicador de felicidade; seria uma mudança no brilho? em quanto
mudou? seria nos movimentos palpebrares? ou seria no tamanho da pupila? O
que quer que fosse, deveria ser descrito com precisão. A respeito de “vir à terra
tão depressa alcançou a licença”, o que quer dizer a palavra depressa? Quanto
tempo exatamente transcorreu entre a licença e a saída?
Para ser considerado claro e preciso, um relato deve responder previamente
a essas interrogações.
Vejamos outro exemplo. A seguir, são apresentados dois relatos de uma
mesma cena. O primeiro relato (n9 3) é claro e preciso, e no outro (n9 4)
cometeram-se erros com relação à clareza e precisão.

38
Relato n? 3 Relato n9 4
1) Sobre o tapete, a meio metro da 1) Sobre o tapete da sala está uma
mesa de centro, está uma bola bola pequena.
vermelha de 5 cm de diâmetro.
2) Um menino, de aproximadamente 2) Uma criança movimenta-se em
quatro anos de idade, anda em direção à bola.
direção à bola.
3) De frente à bola, o menino agacha- 3) De frente à bola, a criança muda
se e a pega. de postura e a pega.
4) Levanta-se. Permanece parado de 4) Levanta-se. Por algum tempo
pé, segurando a bola por permanece parado de pé,
aproximadamente 10 segundos. segurando a bola.
5) Grita “ô”, “ô” e joga a bola em 5) Grita: “ô”, “ô” e joga a bola em
direção à porta. direção à porta.
6) Corre em direção à bola. 6) Movimenta-se em direção à bola.

Ao analisar os dois relatos, verificamos que os termos ou expressões


“movimenta-se” e “muda de postura”, utilizados no relato n? 4, não descrevem
claramente quais foram as ações observadas. E que os termos “bola .pequena”,
“criança” e “por algum tempo” carecem de um referencial físico de comparação,
ou seja, falta-lhes precisão.
Para preencher os requisitos de clareza e precisão na linguagem, o
observador deve evitar o uso de:

A^| TERMOS AMPLOS


Isto é, termos cujo significado inclui uma série de ações. Por exemplo,
“brincar” pode significar “jogar bola”, “jogar peteca”, “nadar”, “pular corda”
etc.
Em lugar de utilizar termos amplos, o observador deve especificar os
comportamentos apresentados pelo sujeito. Ao invés de registrar “o menino
brinca com a bola”, o observador especificará cada uma das ações apresentadas
pelo garoto, ou seja, “o menino anda em direção à bola, pega a bola, joga-a no
chão, chuta-a com o pé” etc. No exemplo dado anteriormente, deixará de registrar
“a criança movimenta-se”, e indicará como o menino se movimenta, se ele anda,
corre, engatinha etc.; ao invés d e“5" muda de postura”, o observador registrará a
mudança de postura ocorrida, se ele se agacha, deita, ajoelha etc.

TERMOS INDEFINIDOS OU VAGOS


Isto é, termos que não identificam o objeto ou identificam parcialmente os
atributos do objeto. Por exemplo, os termos “bola pequena”, “por algum tempo”,
“criança”, empregados no relato n9 4.
Ao invés de utilizar termos indefinidos ou vagos, o observador deve
especificar o objeto ao qual a ação é dirigida, e fornecer os referenciais físicos
utilizados para a descrição dos atributos do objeto; referenciais relativos a cor,
tamanho, direção etc. Por exemplo, deixará de registrar “bola pequena”, e

39
fornecerá o diâmetro da bola, ou anotará p referencial de comparação (bola
menor do que as outras); ao invés de registrar “a criança jogou durante algum
tempo", o observador anotará “ um menino de aproximadamente 4 anos jogou
futebol durante mais ou menos 30 minutos”, isto é, ele especificará o sexo e a
idade da criança, a ação que ocorre e o tempo de duração da ação. Convém
lembrar que sç um termo tiver sido anteriormente definido, poderá ser empregado
no registro. Por exemplo, se o observador especificar, no inicio do registro, que o
termo “criança” se refere a um menino de aproximadamente 4 anos, poderá
utilizar este termo posteriormente.
TERMOS OU EXPRESSÕES AMBÍGUAS
Isto é, quando numa expressão, um termo pode ser referente tanto ao sujeito
da frase quanto a seu complemento, o observador deve usar termos adicionais que
indiquem precisamente a que ou quem o termo se refere. Por exemplo: ao
registrar “P amarra o sapato. Encosta na parede”, alguém poderia indagar: P
encostou-se ou encostou o sapato á parede? Cuidado semelhante deve ser tomado
quando se usam palavras que podem ter vários significados. Por exemplo, em
-algumas regiões do Brasil, se alguém registra: “A/ quebrou as cadeiras”,
certamente se perguntará: quebrou moveis que servem de assento, ou fraturou os
ossos ilíacos?

Num relato claro é preciso evitar:


a) termos amplos;
b) termos indefinidos ou vagos; e
c) termos ou expressões ambíguas .»

Para facilitar o trabalho de registrar o comportamento e os aspectos do


ambiente com objetividade, clareza e precisão, o observador deve usar:
a) Verbos que identifiquem a ação exibida pelo sujeito. Tais como: correr, andar,
bater etc.
b) Termos que identifiquem os objetos ou pessoas presentes na situação e suas
características. Por exemplo, termos tais como: sapato, bola, homem, cor
vermelha, janela fechada etc.
c) Referenciais físicos. Os referenciais utilizados são as partes do corpo do sujeito,
os objetos e pessoas presentes no ambiente e os padrões de medida adotados
oficialmente (metro, quilo, litro etc.). Exemplo do uso de referenciais: “coloca a
ponta do dedo sobre o nariz”, “é o menino mais alto da classe” etc.

Para garantir a objetividade, clareza e precisão


nos registros, o observador utiliza:
a) verbos que descrevem a ação observada;
b) termos que indentijlcam os objetos ou
pessoas presentes, e
c) referenciais físicos.

40
Questões de estudo
1) Quais são as características de uma linguagem científica?
2) O que é uma linguagem objetiva?
3) Em relação à objetividade como característica da linguagem científica, que tipo
de erro um observador menos cuidadoso comete?
4) O que significa clareza e precisão na linguagem?
5) Com relação à clareza e precisão na linguagem, que tipo de erro pode ocorrer?
6) Como o observador deve proceder para registrar os fatos com linguagem
científica?

Exercício de estudo
Seguem-se três relatos de observação onde são cometidos erros em relação à
objetividade ou clareza e precisão. Cada relato é apresentado primeiro como um
todo e em seguida é subdividido em trechos. Para realizar este exercício, você
deverá:
a) sublinhar no relato (apresentado como um todo) as palavras que contrariam as
características da linguagem científica, justificando;
b) Assinalar com “ I” (no parênteses ao lado esquerdo), trechos do relato que
violam a característica de objetividade na linguagem; e
c) Dentre os trechos do relato que você considerou objetivos, isto é, cujos
parênteses estão em branco (não assinalados), assinalar com “ II” aquele(s) que
viola(m) a característica de clareza e precisão.
RELATO N? 1
‘V e M estão namorando. Em determinado momento, M fica nervosa. J,
zangado, pega o paletó para sair. Anda em direção à porta. Próximo à porta,
arrepende-se e vira-se na direção de M. M lhe faz uma desfeita. J não gosta do
comportamento de M. Vira-se em direção à porta, coloca a mão na maçaneta,
abre a porta e sai da sala”.

l)-( ) J e M estão namorando


2)!- ( ) Em determinado momento,
3)1- ( ) M fica nervosa.
4) - ( ) J, zangado,
5) - ( ) pega o paletó para sair.
6)-( ) Anda em direção à porta.
7)-( ) Próximo à porta,
8)-( ) arrepende-se
9)-( ) e vira-se na direção de M.
10)-( ) M lhe faz uma desfeita.
11)-( ) J não gosta do comportamento de M.
12)-( ) Vira-se em direção à porta,
13)-( ) coloca a mão na maçaneta,
14)-( ) abre a porta
15)-( ) e sai da sala.

41
RELATO N? 2
“ C sobe no selim da bicicleta e pedala. Sua mãe o observa apreensivamente,
enquanto ele vai até a esquina e volta. Ao chegar diz a ela: “Não quero mais
brincar”. Sua mãe não responde mas certamente ouviu. C puxa o braço da mãe
para saber porque ela não responde. Em seguida, entra em casa para assistir
desenho animado”.

l)-( C sobe no selim da bicicleta


2)-( e pedala.
3) - ( Sua mãe o observa apreensivamente,
4) - ( enquanto ele vai até a esquina
5) - ( e volta.
6)-( Ao chegar diz a ela: “ Não quero mais brincar”
7)-( Sua mãe não responde
8)-( mas certamente ouviu.
9) - ( C puxa o braço da mãe
10)-( para saber porque ela não responde.
11)-( Em seguida, entra em casa
12)-( para assistir desenho animado.

RELATO N? 3
“Quando L entrou no carro, seu gato quis entrar também. O gato gosta de
ficar olhando à janela. Ao entrar no carro, o gato sujou as coisas que estavam
sobre o assento. L, aborrecida, pegou o gato pelo cangote e colocou-o na calçada.
O gato se queixou. L abriu o porta-luvas e pegou algo para limpar as marcas do
gato”.

D - ( ) Quando L entrou no carro,


2)-( ) seu gato quis entrar também.
3)-( ) O gato gosta de ficar olhando à janela.
4) - ( ) Ao entrar no carro, o gato sujou as coisas que estavam sobre o
assento.
5) - ( ) L, aborrecida, pegou o gato pelo cangote
6) - ( ) e colocou-o na calçada.
7)-( ) 0 gato se queixou.
8) - ( ) L abriu o porta-luvas
9) - ( ) e pegou algo
10) - ( ) para limpar as marcas do gato.

42
UNIDADE 3
A S IT U A Ç Ã O
DE O B S E R V A Ç Ã O - I

objetivos
Ao final da unidade, o leitor deverá ser capaz de:
• V erbalizar sobre:
• a im portância da especificação das condições em que a observação
ocorre
• a caracterização do sujeito, do am biente físico e do am biente social
• O bservar e fazer o diagram a de um a situação

material
• Texto: “ O protocolo de observação”
• Q uestões e exercício de estudo

atividades
• Ler o texto “ O protocolo de observação”
• R esponder as questões e resolver o exercício de estudo
• P articipar de um a discussão sobre as questões e exercício de estudo
• R esponder a questão e resolver o exercício de avaliação
O protocolo de observação

Protocolo de observação é a folha onde o observador registra os dados


coletados. Um protocolo contém uma série de itens, que abrangem as
informações relevantes para a análise dos comportamentos. Uma das habilidades
requeridas do observador é a de preencher corretamente esses itens.
Apresentamos, a seguir, um modelo de protocolo.

PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
1. Nome do observador
2. Objetivo da observação
3. Data da observação
4. Horário da observação
5. Diagrama da situação
6. Relato do ambiente físico
7. Descrição do sujeito observado
8. Relato do ambiente social
9. Técnica de registro utilizada e
registro propriamente dito
10. Sistema de sinais e abreviações
Os itens deste protocolo estão relacionados basicamente a três conjuntos de
informação, a saber:
1) os itens 1 e 2 referem-se à identificação geral.
2) os itens 3 a 8 referem-se à identificação das condições em que a observação
ocorre. Este conjunto inclui especificações com relação a “quando” e “onde” a
observação foi realizada e “quem” foi observado; e
3) os itens 9 e 10 referem-se ao registro de comportamentos e circunstâncias
ambientais. Esse conjunto inclui informações sobre “como” a observação foi
realizada, isto é, a técnica de registro, o sistema de sinais e abreviações
utilizado e informação sobre “o que” foi observado, isto é, o registro
propriamente dito.
Nesta unidade, focalizaremos essencialmente os itens referentes ao segundo
conjunto de informações, ou melhor, os relacionados à identificação das
condições em que a observação ocorre. O primeiro conjunto de informações -
identificação geral - não será focalizado, uma vez que o item 1 não necessita de
explicações para o seu preenchimento, e que o item 2 depende do trabalho a ser
realizado. O terceiro conjunto de informações - registro dos comportamentos e
circunstâncias ambientais - será objeto da Unidade 5.

44
Um protocolo de observação contém
basicamente três conjuntos de informações:
1 — identificação geral; 2 — identificação das
condições em que a observação ocorre: e 3 —
registro dos comportamentos e circunstâncias
ambientais.

A identificação das condições em qúe a observação ocorre é importante, na


medida em que fornece elementos indispensáveis à análise e interpretação dos
comportamentos.
Sabemos que o número e tipo de respostas que um organismo apresenta
estão relacionados tanto às características individuais do organismo (sua espécie,
etapa de maturação biológica, história de vida), como ao ambiente em que ele se
encontra. Isto significa que determinados comportamentos têm maior
probabilidade de ocorrer em uma situação do que em outra. Por exemplo, é mais
provável que eu sorria e dance numa festa do que num velório. É mais provável
que uma criança dê cambalhotas na sala de estar de sua casa, onde existe um
tapete macio, quando as pessoas presentes riem e conversem, do que num pátio de
cimento ou numa casa desconhecida, ou quando as pessoas presentes falem baixo
ou chorem. Neste caso, a sala, o tapete e o comportamento das pessoas presentes
indicam ocasiões para dar uma cambalhota.
Vejamos, então, quais são as condições que devem ser identificadas pelo
observador.
Uma das condições a ser identificada é quando a observação ocorre, isto é, a
data (item 3 do protocolo) e o horário (item 4 do protocolo) em que a observação
foi realizada. Estas informações são importantes porque alguns comportamentos
estão relacionados a datas e horários, isto é, a probabilidade de ocorrência destes
comportamentos é maior em determinadas horas do dia, em determinados dias da
semana ou do mês.
Outra condição a ser identificada é quem foi observado, ou melhor, o sujeito
da observação (item 7 do protocolo).
Ao descrever o sujeito deve-se fornecer informações com relação a: espécie,
idade, sexo e experiência anterior do organismo com relação à situação. Quando se
trata de seres humanos, é necessário informar também o nível sócio-econômico e
o grau de escolaridade. Se o sujeito é portador de alguma deficiência ou usa
aparelhos corretivos, estas particularidades devem ser mencionadas.
Exemplo de descrição do sujeito: T, sexo feminino, 7 anos e 6 meses de
idade, classe média-baixa, freqüenta a 1? série do l 9 grau da “ Escola Sorriso”. T
usa óculos e aparelho nos dentes.
O terceiro aspecto a ser identificado diz respeito ao ambiente onde a
observação é realizada. A descrição do onde implica na descrição do ambiente
físico e social.
Descrever o ambiente físico significa descrever o local em que o sujeito se
encontra. Ao descrever o ambiente físico deve-se, em primeiro lugar, identificar o
local em que o sujeito se encontra (por exemplo: pátio de uma escola, escritório de
uma firma, etc.), e em seguida fornecer suas características. As características
relevantes, isto é, características a serem descritas são:

45
• o formato do local ou quando possível, suas dimensões;
• o número, tipo e diposição de portas, janelas, móveis e demais objetos
presentes;
• as condições da iluminação existente, por exemplo, luz natural, duas lâmpadas
centrais acesas, etc; e
• as condições relacionadas ao funcionamento dos objetos, por exemplo,
televisão ligada, ruído de motor, etc.
Caso haja alguma característica pouco comum à situação, esta
característica deve ser mencionada. Por exemplo, a existência de uma parede
esburacada, um móvel quebrado, etc.
Exemplo de descrição do ambiente físico: sala de estar da residência do
sujeito. A sala mede aproximadamente 2,50m por 4,50m. A janela está
localizada na parede frontal da sala, a 0,90 m do chão. A janela mede 2,00 m
de comprimento por 1,10 m de altura. A sala possui duas portas. A porta,
localizada à esquerda da janela, dá acesso à uma varanda e a outra, localizada
no extremo oposto, dá acesso à sala de jantar. A sala contém os seguintes
móveis e objetos, um sofá, duas poltronas, um aparelho de televisão, uma
estante, uma mesa de centro, duas mesas laterais, um porta-revistas e dois
vasos com plantas. A estante abriga um conjunto de som. A sala é acarpetada.
No momento da observação, a iluminação é natural e a televisão está ligada.
Descrever o ambiente social significa identificar as pessoas que estão
presentes no local (com exceção do sujeito que é identificado à parte) e descrever
a atividade geral que aí está ocorrendo.
Ào identificar as pessoas presentes no ambiente, o observador fornece
informações com relação ao número, sexo, idade e função destas pessoas (as
pessoas devem ser identificadas por letras maiúsculas). Se existirem
características comuns às pessoas presentes, é importante especificar também
estas características. As características comuns a que nos referimos são o nível
sócio-econômico, o grau de escolaridade, particularidades físicas, etc. Por
exemplo crianças faveladas que freqüentam a Escola-Parque da Prefeitura; jovens
de ambos os sexos, entre 15 e 17 anos, pertencentes ao grupo de jovens da
Paróquia Santo Antônio, etc.
Descrever a atividade geral significa identificar a atividade que está sendo
desenvolvida no local, por exemplo: aula de matemática, aula de ginástica, etc;
identificar a localização das pessoas e descrever sucintamente o que elas estão
fazendo. A descrição da atividade geral é uma descrição estática, é uma
“fotografia” do ambiente social.
Exemplo de descrição do ambiente social: “Estão presentes na sala, além do
sujeito (S ), quatro pessoas. A observadora (Ob), de aproximadamente 20 anos,
aluna de Psicologia; a mãe (M), com aproximadamente 35 anos, professora
primária, a tia (7), de aproximadamente 20 anos, estudante de Pedagogia, e a
irmã do sujeito (/), de 4 anos de idade. A mãe e a tia estão sentadas no sofá,
assistindo televisão e conversando. A observadora está sentada em uma das
poltronas e a irmã de S na outra poltrona. A irmã está folheando uma revista.

As condições a serem identificadas são: data e


horário da observação, sujeito observado,
ambiente físico e ambiente social.

46
Para descrever o ambiente físico e social, o observador utiliza de dois
recursos: o relato e o diagrama.
O relato é a descrição verbal do ambiente. Os exemplos dados anteriormente
são de relatos do ambiente físico e do ambiente social.
O diagrama é a representação do ambiente através de um desenho
esquemático e de legendas informativas (é uma planta do local). O diagrama
representa simbolicamente a área observada e os elementos que estão dentro dela:
portas, janelas, móveis e pessoas. A utilidade do diagrama é a de facilitar a
visualização, por terceiros, do ambiente observado, além de fornecer ao
observador pontos de referência para o registro dos comportamentos. Por
exemplo, vendo o diagrama o leitor tem condições de visualisar em que direções o
sujeito anda.
Ao fazer o diagrama, o observador deve:
• utilizar escalas proporcionais às dimensões reais da área;
• utilizar a mesma escala para representar as portas, janelas e móveis:
• localizar, corretamente, na área as portas, janelas e móveis;
• manter a proporção relativa das distâncias existentes entre portas, janelas
e móveis; e
• utilizar símbolos de fácil compreensão.

tfl
C/5
O
p

L /\
O

Legendas:
a b c d parede mesa de centro M mãe
IT1 r n T I TD janela televisão T tia
zzj--------- iz porta IEI / irmã
estante • vaso Ob observadora
sofá 5 localização
1 porta-revistas inicial
A mesa lateral do sujeito
poltrona

47
Quando as pessoas presentes permanecem num local fixo, ou quando
permanecem a maior parte do tempo num local, o observador poderá indicar, no
diagrama, a localização destas pessoas. É costume indicar também no diagrama,
a localização inicial do sujeito.
Para facilitar a elaboração do diagrama adotamos as seguintes convenções:
• as janelas, portas e móveis são representados por símbolos. É conveniente que
você utilize os símbolos que considerar mais adequados (móveis semelhantes
devem ser representados por símbolos semelhantes);
• paredes ou lados da área são identificados por letras minúsculas;
• os objetos, por números (exemplo o n9 1 representa um porta-revistas); e
• as pessoas por letras maiúsculas; a letra S é reservada para indicar o
sujeito e as letras Ob para indicar o observador.

Para descrever o ambiente físico e social o


observador utiliza dois recursos: o relato e o
diagrama

1) Quais são as informações que um protocolo de observação deve conter?


2) Por que é necessário identificar as condições em que a observação ocorre?
3) Com relação ao sujeito, quais são as informações a serem fornecidas?
4) Com relação ao ambiente físico, quais sao as informações a serem fornecidas?
5) Com relação ao ambiente social, quais são as informações a serem fornecidas?
6) Quais são os recursos utilizados pelo observador para descrever a situação
ambiental? Explique cada um.
7) Para que serve o diagrama?
8) Explique quais são os cuidados que o observador deve tomar ao fazer o
diagrama.
9) Explique as convenções adotadas com relação ao diagrama.

Exercício de estudo
Fazer o diagrama do ambiente físico de um dos recintos de sua casa.

48
UNIDADE 4
A S IT U A Ç A O
D E O B S E R V A Ç A O - II

objetivos
Ao final d a unidade, o leitor deverá ser cap az de:
• F azer o diagram a de um a situação
• F azer o relato, em linguagem científica, do am biente físico, do sujeito, e
do am biente social desta situação

material
• Texto: “ O relato das condições em que a observação o co rre”
• Exercício de estudo
• Instruções p ara a atividade prática
• Protocolo de observação: parte inicial

atividades
P arte A
• Ler o texto “ O relato das condições em que a observação o co rre”
• Resolver o exercício de estudo
• P articipar de um a discussão sobre o exercício de estudo
P arte B
• Ler as instruções p ara a atividade prática
• O bservar e registrar um a situação estipulada

49
O relato das condições
em que a observação ocorre

Identificamos, na Unidade 3, quais são as informações que o observador


deve fornecer ao fazer a descrição do sujeito, do ambiente físico e do ambiente
social. Em determinadas ocasiões, entretanto, é necessário que além destas
informações gerais, o observador forneça informações mais especificas acerca
dessas condições.
O tipo de informação a ser fornecida dependerá do objetivo do estudo
observacional. O objetivo do estudo determinará quais serão as características,
não citadas anteriormente, que deverão ser descritas, ou o grau de detalhes com _
que uma dada característica deverá ser focalizada.
Por exemplo, se o objetivo do estudo for “verificar se o professor utiliza
corretamente o material didático”, será necessário fornecer, no relato do
ambiente físico, mais detalhes com relação ao material didático existente
(espécie, quantidade, material de que é feito, formato, tamanho, cor,
funcionamento, estado de conservação, onde está localizado, etc).
Se o objetivo do estudo for “verificar se o professor atende às características
individuais dos alunos”, será necessário fornecer, no relato do ambiente social,
informações detalhadas de cada aluno: nível sócio-econômico, particularidades
físicas (deficiência física ou uso de aparelhos corretivos) e de comportamento (tais
como, ser rápido, ser lento, cometer erros de linguagem, trocar letras, etc).
Se o objetivo do estudo for “verificar como uma criança que apresenta
dificuldades de aprendizagem interage com os colegas”, será necessário
caracterizar, na descrição do sujeito, a dificuldade da criança (se ela troca letras,
se é dispersiva, etc).
Por estes exemplos, vemos que as informações específicas estão baseadas
em hipóteses, lançadas pelo observador, acerca dos fatores que poderiam afetar o
comportamento em estudo. Estas informações mais específicas poderão ser
obtidas por observação direta, por análise de documentos (relatórios, plantas,
fichas de matrícula, etc) ou por entrevistas.

O objetivo do estudo observacional determina o


grau de detalhes com que o relato do ambiente
físico , do ambiente social e do sujeito será
realizado.
Vejamos outro exemplo. A foto 4.1 mostra uma situação de observação.
Suponhamos que dois observadores estejam registrando esta situação, cada
um com um objetivo. O primeiro observador tem como objetivo “determinar o

50
FIGURA 4.1. Situaçao de observaçao
grau de coordenação motora que o sujeito apresenta”. O segundo observador tem
como objetivo “estudar a interação mãe-criança”. Ao descrever as condições em
que a observação ocorre, os dois observadores fornecerão as seguintes
informações gerais:
Relato do ambiente físico. Sala de estar da residência do sujeito, medindo
aproximadamente 4 metros de comprimento por 3 metros de largura. A sala
contém duas portas, uma janela e os seguintes móveis: um sofá, uma poltrona, um
tapete e um vaso com plantas. Sobre o tapete estão espalhados os seguintes
brinquedos: uma girafa, um elefante, uma boneca, um vagão de trem e sete cubos.
A iluminação é natural.
Descrição do sujeito observado.S,menina de 2 anos de idade, classe média.
Relato do ambiente social. M, mãe de S, de 30 anos de idade. A mãe está
sentada no sofá e interage continuamente com S.
Além destas, cada observador acrescentará informações específicas em seu
relato.
O observador 1 incluirá no relato do ambiente físico, informações acerca:
a)do formato do brinquedo; b) do material que é feito o brinquedo; e c) do tamanho
do brinquedo.
O observador 2, por sua vez, incluirá no relato do ambiente social,
informações acerca: a) do grau de escolaridade da mãe, b) da profissão da mãe; e
na descrição do sujeito, informações sobre: c) a família (número de pessoas que
vivem na casa, idade e relação de parentesco com o sujeito).

Exercício de estudo
A foto 4.2. mostra a seguinte situação de observação:
Relato do ambiente físico. Sala de brinquedo de um conjunto residencial,
medindo aproximadamente 4 m de comprimento, por 3m de largura. A sala
possui duas portas, uma janela e uma escada. A parede de fundo é interrompida
dando acesso a um corredor. Nesta parede existe uma imitação de janela em
miniatura. As paredes da sala estão pintadas com desenhos de flores.
A sala está mobiliada com móveis próprios para crianças: um sofá e duas
poltronas. Pela sala estão espalhados os seguintes brinquedos: três bolas, três
ursos de pelúcia, três vagões de trem, duas bonecas, uma de plástico e outra de
pano e 10 cubos. A iluminação é natural.
Descrição do sujeito observado. S, menina de 3 anos de idade, classe me'diá,
moradora do conjunto.
Relato do ambiente social. Duas crianças, um menino (F) e uma menina (/),
ambos com 3 anos de idade, classe média, vizinhos de S e moradores do conjunto
residencial. As crianças estão brincando. Elas estão sob os cuidados da mãe de /,
que está na sala ao lado.
Suponhamos que dois observadores estejam registrando esta situação, cada
um com um objetivo. O primeiro observador tem como objetivo “identificar as
condições e circunstâncias em que S apresenta o comportamento de imitação” . O
segundo observador tem como objetivo “identificar a preferência de S pelos
brinquedos” .
Observe a fotografia 4.2. Damos a seguir uma lista de itens que estes
observadores registraram. Identifique qual foi o observador que registrou cada

52
FIGURA 4.2. Situaçao de observaçao
item. Coloque dentro dos parênteses os númerosque designam os observadores.
A saber:1 - observador 1; 2 - observador 2.
a) - ( £ ) cor dos brinquedos;
b) - ( )com que freqüência essas crianças brincam juntas;
c) - ( ) tamanho dos brinquedos;
d) - (5 ) a quem pertence cada um dos brinquedos;
e) - ( ) características comportamentais de F e I (por exemplo, liderança,
cooperação, etc); e
0 - (r ) novidade ou não do brinquedo.

Instruções para a atividade prática


A atividade a ser realizada é um exercício de observação e registro das
condições existentes durante a observação.
O objetivo geral da observação é o de identificar os comportamentos
motores que uma pessoa apresenta numa determinada situação.
O registro dos dados deverá ser efetuado na folha de protocolo que
acompanha estas instruções.
É importante lembrar que a atividade proposta se limita ao preenchimento
dos itens 1 a 8 do protocolo, referentes à identificação geral e à identificação das
condições existentes. É importante lembrar também que o objetivo geral,
especificado acima, só será completamente atingido quando estivermos de posse
das informações referentes aos comportamentos apresentados pela pessoa. Como
já dissemos, você aprenderá a fazer esse registro na Unidade 5.
As instruções, a seguir, aplicam-se unicamente quando a atividade de
observação e registro é feita utilizando-se um filme. Quando a atividade é feita
fazendo-se uso de outros recursos, o professor fornecerá as instruções adicionais
necessárias1.

Instruções para a observação e registro feita com o uso de projeção defilme


As instruções referem-se à seqüência de comportamentos que o observador
deve apresentar durante o exercício de observação.
1) Preencha os itens 1, 2, 3 e 4 do protocolo de observação.
2) Sente-se numa posição que favoreça uma boa visualização da tela onde será
feita a projeção e aguarde o seu início.
3) Durante a projeção, olhe para a tela procurando memorizar tudo o que vê.
4) Após a projeção, preencha o item 5 do protocolo de observação. Você terá
aproximadamente 5 minutos para esta atividade. Após estes 5 minutos, a
projeção será repetida.
5) Durante a repetição da projeção, olhe novamente para a tela. Apenas olhe,
não anote, nem escreva coisa alguma. (Esta segunda projeção é feita para que
você possa completar ou corrigir a descrição das condições existentes.)
6) Após a repetição, reveja as anotações referentes ao item 5 e modifique onde
necessário. A seguir, preencha os itens 6, 7 e 8.

1. Lembrete ao professor. A parte III do Manual do Professor descreve o filme produzido


para esta atividade, assim como sugere outros recursos que poderiam substituí-lo.

54
PR O TO C O LO D E O BSERV AÇÃO

1) Nome do observador: _
2) Objetivo da observação:

3) D ata da observação: __
4) Horário da observação:
5) Diagrama da situação:

55
6) Relato do ambiente físico:

7) Descrição do sujeito observado:

8) Relato do ambiente social:

56
UNIDADE 5
O R E G IS T R O D O
C O M P O R T A M E N T O -I

objetivos
Ao final da unidade, o leitor deverá ser capaz de:
• Observar e registrar continuamente, em linguagem científica,
comportamentos motores emitidos por um sujeito numa situação

material
• Texto: “A técnica de registro contínuo”
• Questões de estudo
• Instruções para a atividade prática
• Protocolo de observação: parte final

atividades
Parte A
• Ler o texto “A técnica de registro contínuo”
• Responder as questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre as questões de estudo

Parte B
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar comportamentos
A técnica de registro contínuo
Dentre as várias técnicas utilizadas pelo observador para o registro dos
comportamentos e circunstâncias ambientais, destaca-se a técnica de registro
continuo1.
A técnica de registro contínuo consiste em, dentro de um período
ininterrupto de tempo de observação, registrar o que ocorre na situação,
obedecendo à seqüência temporal em que os fatos se dão.
No exemplo abaixo, temos um trecho do registro do comportamento de uma
criança em situação de refeição. 'O registro foi realizado em uma creche, no
refeitório, no horário previsto para alimentação das crianças, conforme a rotina
da instituição. Na observação usou-se registro contínuo com o fim de levantar
dados para o treinamento de atendentes.
“S se encontra no canto cd (canto formado pelas pareces c e d) da sala de
refeição, de pé, defronte da mesa 6, a aproximadamente 20 cm desta mesa.
Atendente entra na sala com toalha na mão. S olha em direção à atendente.
Atendente coloca a toalha sobre a mesa 6. S vira-se de costas, anda em direção à
mesa 2. De pé, retira a toalha da mesa 2. Dobra a toalha. Toalha dobrada em
forma aproximada de bola. S joga a toalha em direção a um menino. Menino
pega a toalha. S sorri.”
Como se vê, o registro contínuo é uma espécie de “filmagem” do que
acontece. Ao registrar, o observador conta o que presencia, na seqüência em que
os fatos ocorrem.

Registro contínuo consiste em, dentro de um


período ininterrupto de tempo de observação,
registrar o que ocorre na situação, obedecendo
à seqüência temporal em que os fa to s se dão.

Os fatos registrados pelo observador referem-se a:

1. LOCALIZAÇÃO DO SUJEITO

O observador descreve a localização do sujeito no ambiente, indica onde o


sujeito se encontra. No exemplo apresentado: “S se encontra no canto cd (canto
formado pelas paredes c e d) da sala de refeição”.

1. Este livro focaliza apenas a técnica de registro contínuo. Informações sobre outras
técnicas, bem como sobre registradores de comportamento e cálculo de concordância
entre observadores, podem ser encontradas em Antônio Jayro F. M. Fagundes.
Descrição, definição e registro de comportamento. São Paulo: EDICON, 1981.

58
2. POSIÇÃO E POSTURA DO SUJEITO

O observador descreve como o sujeito se encontra, faz referência à posição e


postura do sujeito. Por exemplo, em pé (ereto ou curvo); ajoelhado; agachado;
deitado (encolhido ou distendido); etc.
Cabe aqui fazer a distinção entre postura e posição. Quando se fala de
postura2 o referencial é o próprio corpo (por exemplo: curvo, ereto, encolhido,
distendido, etc), enquanto que ao se tratar de posição o referencial é o ambiente
(por exemplo: em pé, deitado, etc). O critério que diferencia estes termos é,
portanto, o referencial utilizado.

3. EVENTOS COMPORTAMENTAIS

O observador descreve os eventos comportamentais que ocorrem, isto é, as


ações do sujeito. As ações a serem registradas são:
3.1.0 comportamento motor. Comportamentos que resultam no
estabelecimento de contato físico do sujeito com o ambiente ou comportamentos
que mudam o contato físico existente.
Incluímos entre os comportamentos motores:
3.1.1. Mudança na postura ou na posição. Comportamentos tais
como: agachar-se; levantar-se, virar a cabeça para trás; erguer o braço, etc.
3.1.2. Manipulações de objetos ou pessoas. Comportamentos tais
como: apanhar a boneca, colocar a boneca sobre a cama, chutar a bola, es­
crever no caderno, beliscar o menino, colocar o dedo no nariz, passar a mão
no cabelo, etc.
3.1.3. Locomoções. Comportamentos que resultam no deslocamento
do sujeito em relação a pontos fixos do espaço. Comportamentos como: andar,
correr, engatinhar, subir, descer, saltar, etc.
3.2. As expressões faciais. Comportamentos tais como: enrugar a testa,
franzir as sobrancelhas, sorrir, piscar os olhos, etc.
3.3. O comportamento vocaP. Sons, articulados ou não, produzidos pelo
aparelho fonador. Por exemplo: cantar, assobiar, dar gargalhadas, murmurar,
sons onomatopaicos4, falar, etc.

O registro dos eventos com portam entais inclui:


o registro de com portam entos m otores
(m udanças na postura ou na posição,
m anipulações de objetos ou pessoas e
locomoções); as expressões fa c ia is e os
com portam entos vocais.

2. Cunha define postura como “disposições espaciais estacionárias de partes do


organismo umas em relação a outras”. (Walter Hugo A. Cunha. O Estudo Etológico
do Comportamento Animal. Ciência e Cultura, 1975, 27, 265.)
3. Dados os objetivos estabelecidos, focalizaremos durante as atividades práticas apenas
os comportamentos motores e as expressões faciais.
4. Sons onomatopaicos: aqueles que imitam o som natural da coisa sigrJficMa. Exemplo:
tzz barulho de bomba pulverizadora.
59
Além dos fatos diretamente relacionados ao sujeito (sua localização; postura
e posição; e os eventos comportamentais que ocorrem), o observador registra
também os eventos ambientais.

4. EVENTOS AMBIENTAIS

Isto é, mudanças que ocorrem no ambiente durante a observação. Os


eventos ambientais podem ser:
4.1. Eventos físicos: mudanças no ambiente físico. Por exemplo: a bola bate
na trave, o telefone toca, etc.
4.2. Eventos sociais: comportamentos das outras pessoas presentes no
ambiente. Por exemplo: “Uma menina se aproxima de S e coloca o dedo na
palma da mão de S ”, “ O menino joga a bola em direção a S ”, “O pai entra na
sala e diz: Você quer passear?”, etc.

Os fa to s registrados através da técnica de


registro contínuo são: 1) a localização do
sujeito; 2) sua postura e posição; 3) os eventos
comportamentais; e 4) os eventos ambientais.

O registro contínuo é, em geral, utilizado durante a fase inicial de um


trabalho ou de uma pesquisa, quando o observador faz o levantamento do
repertório comportamental do sujeito e das circunstâncias ambientais. A partir da
análise dos dados coletados e de acordo com o objetivo do estudo observacional,
o observador seleciona os comportamentos ou classes de comportamento a serem
observadas, numa segunda etapa de trabalho. Este é o caso do exemplo, dado no
começo deste texto. O registro contínuo, feito na situação de refeição da creche,
foi repetido com outras crianças por um total de 7 dias e em diferentes horários de
refeição. Os dados obtidos nas sessões de observação, permitiram selecionar os
comportamentos a serem observados separadamente, mediante o uso de outras
técnicas, diferentes do registro contínuo.

O registro contínuo é freqüentemente utilizado


para um levantamento inicial do repertório
comportamental do sujeito e das circunstâncias
ambientais.

Além de possibilitar um levantamento dos eventos na seqüência temporal em


que ocorrem - comportamentos do sujeito e circunstâncias ambientais - o
registro contínuo possibilita referir a uma vasta gama de comportamentos e
eventos ambientais, sem a imposição da definição prévia daquelas ocorrências.
O difícil, entretanto, ao se utilizar esta técnica é estabelecer o grau de
detalhamento que deve ser dado no registro. É impossível para o ser humano
observar e registrar tudo com o máximo de detalhes, por isso, ao observar e
registrar continuamente, podemos selecionar determinados eventos, em
detrimento de outros. A seleção dos eventos é feita em função do objetivo do
estudo observacional.

60
O objetivo do estudo determina a variedade e tipo de comportamentos a
serem registrados. Dependendo do objetivo o observador poderá: a) fazer um
registro amplo das ações, isto é, registrará os comportamentos motores
(mudanças na postura ou na posição, manipulação de objetos ou pessoas e
locomoções), as expressões faciais e os comportamentos vocais; b) selecionar a
classe de comportamento a ser registrada, registrando unicamente os
comportamentos motores ou unicamente as expressões faciais, etc; c) focalizar a
observação e registro em determinada parte do corpo, tal como boca ou mãos. Por
exemplo, se o objetivo do estudo for “verificar o problema de articulação
apresentado por uma criança”, o observador focalizará o comportamento vocal,
as posturas e os movimentos bucais; se o objetivo do estudo for “identificar
problemas de manipulação motora fina”, o observador focalizará as posturas,
posições e movimentos de mão.

O objetivo do estudo determina a variedade e


tipo de comportamento a ser registrado.

A seleção dos comportamentos a serem observados possibilita o


refinamento dos registros, isto é, o detalhamento dos comportamentos. Quando o
observador registra poucos eventos, ele pode fornecer um número maior de
informações acerca destes eventos. Por exemplo, pode identificar se o sujeito
“pega a bola com a mão direita ou com a esquerda”.
A riqueza de detalhes que o observador fornece em um registro contínuo
depende:
a) Da variedade de tipos de comportamento que ele observa e registra
simultaneamente. Se ele observar apenas os comportamentos motores ele
poderá fornecer descrições mais detalhadas do que se ele observar:
comportamentos motores, expressões faciais e comportamentos vocais;
b) Da velocidade com que os eventos ocorrepi. Um observador consegue dar
uma descrição mais detalhada quando os eventos ocorrem com maior
morosidade, do que quando ocorrem com rapidez. Por exemplo, compare as
seguintes situações: um adulto lendo um jornal e uma criança pulando
amarelinha. A morosidade dos comportamentos exibidos na primeira situação
propicia mais informações :acerca das posturas do adulto, suas expressões
faciais, etc, informações quase que impossíveis de se registrar na segunda
situação; e
c) Do grau de treinamento do observador. O treinamento do observador implica
numa familiarização com a situação de observação, com o material a ser
utilizado (prancheta, protocolo de observação, cronômetro, gravador, etc.), e
com a sistemática de registro.

O grau de detalhamento que um observador


fornece num registro continuo depende: a) da
variedade de tipos de comportamento
observados b) da velocidade dos eventos
observados; e c) do treinamento do observador.

61
SISTEMÁTICA DE REGISTRO

A sistemática de registro envolve não só os procedimentos específicos da


técnica de registro utilizada, como o conjunto de convenções adotadas pela_
observador. As convenções variam em função a técnica de registro utilizada, e em
alguns casos, em função do trabalho que está sendo realizado.
As convenções que estamos adotando, com relação ao registro contínuo,
visam uniformizar as condições de registro, bem como garantir a compreensão
dos mesmos. A seguir, especificamos as convenções adotadas:
1) Inicie o registro informando a localização do sujeito e como ele se encontra.
Por exemplo: “S se encontra no canto cd da sala de refeição, de pé, defronte
à mesa 6, a aproximadamente 20 cm desta mesa”.
2) Indique a pessoa que emite a ação. Por exemplo: “S olha em direção à
atendente”.
3) Ao registrar os eventos, empregue o verbo no tempo presente. Por exemplo:
“ S vira-se de costas, anda em direção à mesa 2”.
4) No caso dos verbos transitivos, indique os complementos do verbo. Por
exemplo: “5 vira-se de costas retira a toalha da mesa 2”.
5) No caso da ação ter uma direção, indique no registro em que direção a ação
ocorre. Por exemplo: “S anda em direção à mesa 2”, “S joga a toalha em
direção a um menino”.
Os referenciais a serem utilizados para indicar direção são:
a) objetos, pessoas ou partes do ambiente; por exemplo: “ 5 anda até a
cama”, “S conversa com uma menina”, “ 5 vai até o corredor” ; e
b) partes do corpo do próprio sujeito; por exemplo: “ 5 põe a mão na testa”.
6) Use o grau normal ao se referir aos objetos. Por exemplo:
“S ergue o braço da boneca” (ao invés de “S ergue o b ratinho da
bonequinha”).
7) Registre as ações que ocorrem e não as que não ocorrem. É errado registrar
a ausência de um comportamento. Por exemplo: “S cai mas não chora”.
8) Registre eventos sucessivos em linhas separadas. Os eventos sucessivos
devem ser registrados um abaixo do outro. Por exemplo:

S vira-se de costas.
Anda em direção à mesa 2.
Retira a toalha da mesa 2.
Dobra a toalha.

9) Registre os eventos simultâneos numa mesma linha. Separe cada um dos


eventos com barras verticais. Por exemplo: Atendente coloca toalha sobre a
mesa 6 / S vira-se de costas.
10) Utilize uma flecha vertical para indicar a continuidade da ação. A flecha de
continuidade indica que o comportamento continua enquanto outros são
emitidos simultaneamente.
A flecha de continuidade elimina o emprego de termos desnecessários, tais

62
como: começa, continua, pára, etc. Nesse sentido, a flecha funciona como o sinal
de aspas e deve ser usado para assinalar repetição. A fecha deve ser colocada
entre uma linha e outra, indicando a repetição da ação. Por exemplo:

Atendente entra na sala com toalha na mão.


'l S olha em direção à atendente.
'i /Atendente coloca toalha sobre a mesa 6.
/ S vira-se de costas.
/ S anda em direção à mesa 2.
S retira a toalha da mesa 2.

No exemploacima, logo após a atendente entrar na sala, S olhou emsua


direção. S continuou olhando na direção da atendente, enquanto ela colocava a
toalha na mesa 6. Antes da atendente terminar de colocar a toalha, S virou-se de
costas e andou em direção à mesa 2. Quando S retirou a toalha da mesa 2, a
atendente já havia terminado de colocar a toalha na mesa 6.
11) Terminada a observação, numere os eventos registrados. Por exemplo, o
registro apresentado anteriormente ficaria assim:

S no canto cd da sala, de pé, defronte à mesa 6,


a aproximadamente 20 cm desta mesa.
(1) Atendente entra na sala com toalha na mão.
u / (2) S olha em direção à atendente.
w/ (3) Atendente coloca toalha sobre a mesa 6.
j / (4) S vira-se de costas.
I / (5) S anda em direção à mesa 2.
(6) S retira a toalha da mesa 2.
(7) Dobra a toalha em forma aproximada de bola.
(8) Joga a toalha em direção a um menino.
(9) Menino pega a toalha / (10) S sorri.

Além das convenções descritas acima, que serão adotadas e que você deve
memorizar, damos a seguir duas sugestões, que visam diminuir > tempo gasto
com o registro (você poderá seguir ou não tais sugestões).
1) Você pode utilizar símbolos para se referir a aspectos do ambiente físico, tais
como janelas, portas e móveis; letras minúsculas para identificar as paredes ou
lados, de uma área; números para se referir aos objetos; e letras maiúsculas
para identificar as pessoas que emitem as ações ou são objeto de uma ação.
Os símbolos, números e letras devem ser especificados na legenda do
diagrama, no relato do ambiente físico ou no relato do ambiente social (veja
Unidade 3).

63
2) Você pode utilizar, também, sinais ou abreviaturas para registrar os
comportamentos observados. Por exemplo: utilizar “pg” para “pega”, “nd”
para “andar” , e t c ..
A expressão “em direção a” poderá ser substituída por uma flecha
horizontal. Por exemplo: “5 anda em direção ao quarto” poderá ser
substituído por “S anda -► quarto” .
Se utilizar sinais ou abreviaturas para registrar os comportamentos, ao
terminar o registro, você deve apresentar uma legenda referente a estes sinais e
abreviaturas.

estudo
1) O que é um registro contínuo?
2) Identifique a utilidade do registro contínuo para o psicólogo.
3) Quais são as dificuldades existentes com relação ao registro contínuo?
4) Quais são as maneiras de resolver este problema
(dificuldades com relação ao registro contínuo)?
5) Explique os fatores que influenciam o grau de detalhamento deum registro.
6) Explique o que determina a variedade e tipo decomportamento a ser
registrado.
7) Explique a diferença entre postura e posição.
8) Explique os tipos de comportamento motor.
9) O que éuma sistemática de registro?
10) Explique os cuidados que o observador deve tomar com relação ao tempo do
verbo e seus complementos. Dê exemplos.
11) Como fazer para indicar a direção da ação?
12) Como indicar eventos sucessivos e eventos simultâneos?
13) Como indicar a continuidade de uma ação?
14) Qual a vantagem de se utilizar símbolos ou abreviaturas?

Instruções para a atividade prática


A atividade consiste no registro contínuo dos comportamentos motores
apresentados por uma pessoa numa situação.
O objetivo geral da observação é o de identificar os comportamentos
motores que a pessoa apresenta na situação.
A atividade proposta é continuação daquela realizada na Unidade 4. Por
essa razão você receberá de volta o protocolo preenchido na Unidade anterior. A
este protocolo será acrescentado um novo item (9), referente ao registro contínuo.
Durante a sessão você deverá observar e simultaneamente registrar:
a) a localização inicial do sujeito e como ele se encontra (postura e posição); e
b) os comportamentos motores (mudanças na postura ou posição, manipulações
de objetos ou pessoas, e locomoções) que o sujeito apresenta.

64
Lembretes

• Focalize sua atenção nos comportamentos motores. Não se preocupe


em registrar as expressões faciais que o sujeito possa apresentar.
• Obedeça às convenções de registro que foram estabelecidas. Não se
esqueça de numerar, após a observação, os eventos registrados.
• Procure seguir também as sugestões dadas. (As sugestões não entram
no critério de avaliação.) .
• Se utilizar sinais ou abreviaturas para registrar os comportamentos, ao
terminar o registro, acrescente um 10? item ao protocolo. Nele você
especificará o sistema de sinais e abreviações utilizado.

Instruções para o registro feito com o uso de projeção de film e

As instruções a seguir aplicam-se somente quando a atividade é feita


utilizando-se um filme5.
O filme foi produzido numa velocidade mais lenta, de modo a facilitar a
observação e registro dos comportamentos apresentados pela pessoa. A projeção
começa com as seguintes palavras “Registro Contínuo”. Estas palavras indicam o
início da sessão de observação.

5. Se a atividade for feita com uso de outros recursos, o professor fornecerá as instruções
adicionais necessárias.

65
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO

9) Técnica de registro contínuo:


UNIDADE 6
O R E G IS T R O D O
C O M P O R T A M E N T O -11

objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Observar e registrar continuamente, em linguagem Científica, os
comportamentos motores e as expressões faciais
apresentadas por um sujeito

material
• Texto: “O registro das expressões faciais”
• Exercício de estudo
• Instruções para a atividade prática
• Protocolo de observação

atividades
Parte A
• Ler o texto “O registro das expressões faciais”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo

Parte B
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar comportamentos

69
O registro das expressões faciais
Na atividade prática da unidade anterior, focalizamos unicamente os
comportamentos motores. Nesta unidade focalizaremos, além dos
comportamentos motores, as expressões faciais apresentadas pelo sujeito.
O registro das expressões faciais envolve o registro da direção do olhar da
pessoa (fixação visual) e o registro das modificações que ocorrem no rosto (testa,
sobrancelhas, olhos, nariz, boca, bochechas e queixo). Expressões faciais são
movimentos tais como: enrugar a testa; franzir as sobrancelhas; franzir o nariz;
abrir ou fechar os olhos; apertar, lamber ou morder os lábios; inflar as bochechas;
tremer o queixo; mostrar a língua; abrir ou fechar a boca, etc.
A dificuldade em registrar as expressões faciais é devida ao fato dos
movimentos ocorrerem, em geral, em conjunto, isto é, ocorrerem modificações
simultâneas de duas ou mais partes do rosto. A dificuldade está relacionada_
também ao fato das expressões faciais freqüentemente acompanharem os
comportamentos motores do sujeito.

O registro das expressões faciais envolve o


registro: a) da direção do olhar da pessoa;
b) das modificações que ocorrem no rosto
(testa, sobrancelhas, olhos, nariz, boca.
bochechas e queixo).

Para esclarecer melhor estas colocações, antes do exercício de observação,


vamos fazer alguns exercícios de descrição das expressões faciais. Para tanto,
vejamos um exemplo. A fotografia 6.1 mostra o rosto de uma menina.
Se fôssemos descrever a expressão facil desta menina, diríamos:“A menina
está com as bochechas engorgitadas, as pálpebras inferiores levantadas, sobrancelhas
franzidas e boca aberta com exposição de dentes.” Esta é uma descrição mais
objetiva do que dizer que ela está “assustada” , “com dor” ou “medo” .

70
FIGURA 6.1 Rosto de menina
Exercício de estudo
As fotografias seguintes mostram o rosto de pessoas. Observe as fotos e
descreva abaixo as expressões faciais apresentadas pelas pessoas.

a) D escrição :_ _ ______________________________________________________

2) Descrição:

3) Descrição:

4) Descrição:

72
Instruções para a atividade prática
Na unidade anterior fizemos o registro contínuo dos comportamentos
motores apresentados por uma pessoa. Nesta unidade, além dos comportamentos
motores, iremos registrar também as expressões faciais de pessoas.
O objetivo geral da observação é identificar os comportamentos que uma
pessoa apresenta numa situação.
Ao terminar a leitura destas instruções, preencha os itens 1, 2, 3 e 4 do
protocolo de observação.
A sessão de observação constará de duas partes. Na primeira parte, você
descreverá o sujeito e o ambiente em que ele se encontra, itens 5, 6, 7 e 8 do
protocolo de observação. Na segunda parte da sessão, deverá registrar
continuamente os comportamentos do sujeito. Nesta parte você deverá observar
e simultaneamente registrar:
a) a localização inicial do sujeito e como ele se encontra; e
b) os comportamentos motores (mudanças na postura ou posição, manipulações
de objetos ou pessoas e locomoções) e as expressões faciais (fixações visuais e
modificações que ocorrem no rosto) que o sujeito apresenta.

Lembretes
• Obedeça as convenções de registro que foram estabelecidas. Terminada a
observação, numere os eventos registrados.
• Se usar sinais ou abreviaturas, acrescente o item 10 ao protocolo,
especificando o sistema de sinais e abreviaturas utilizado.

Instruções para o registro feito com o uso de projeção de filme


N a primeira parte da sessão, a projeção focalizará o sujeito e o ambiente em
que a ação ocorre.
Durante a projeção, olhe para a tela procurando memorizar tudo o que vê.
Após a projeção preencha o item 5 do protocolo. Você terá aproximadamente 5
minutos para esta atividade. Após estes 5 minutos, a projeção será repetida.
Finda a segunda projeção, reveja as anotações referentes aos item 5,
modificando onde se fizer necessário. A seguir preencha os itens 6, 7 e 8 do
protocolo.
Terminada esta parte, a projeção continuará. Ao iniciar a segunda parte da
sessão, a projeção mostrará as palavras “Registro Contínuo”. Estas palavras
indicam o início da cena a ser observada e registrada a seguir.

74
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO

1) N om e do o b servador:_
2) Objetivo da observação:

3) D a ta da observação:__
4) H orário da observação:
5) D iagram a da situação:

75
6) R ela to do am biente físic o :

7) D escrição do sujeito observado:

8) R ela to do am biente social:

76
9) Técnica de registro contínuo:
UNIDADE 7
O S E V E N T O S A M B IE N T A IS
EM Q U E O
C O M P O R T A M E N T O SE IN SER E-I

Ao final da unidade o leitor deverá :


• Verbalizar sobre:
• eventos físicos e sociais
• a relação que os eventos ambientais mantêm com o comportamento
do sujeito
• Dado um relato de observação, identificar os eventos físicos e sociais e
estabelecer sua relação com o comportamento do sujeito

material
• Texto: “Eventos físicos e sociais”
• Questões de estudo
• Exercício de estudo

atividades
• Ler o texto “Eventos físicos e sociais
• Responder as questões de estudo
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre as questões e exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

79
Eventos Físicos e sociais

Em geral, o observador do comportamento está interessado em obter dados


referentes não só às características próprias do comportamento, - duração,
freqüência, forma etc. - mas também, e principalmente, referentes às
circunstâncias nas quais o comportamento ocorre. Procedendo desse modo, o
observador pode identificar relações funcionais entre eventos. A identificação e
descrição de tais relações funcionais permite ao cientista analisar, predizer e
alterar, se for o caso, os eventos observados. Por exemplo, pouco se pode fazer
com a informação de que uma criança chora em média uma hora e meia por dia.
Por outro lado, se além de informações sobre a duração do choro, o registro
permitir identificar o momento em que o choro ocorre mais freqüentemente, o
local, há quanto tempo após a última refeição, condições físicas da criança, o que
as pessoas fazem quando a criança chora, o observador poderá identificar se há
problemas, a sua natureza e o que deve ser feito para modificar a situação.
Independentemente de haver ou não problema, poderá descrever condições
físicas, sócio-econômicas e culturais, como por exemplo características de um
grupo de crianças que apresentam choro de maior duração, e comparar com outro
grupo.
A indicação das circunstâncias sob as quais o comportamento ocorre é uma
informação importante para o entendimento do fenômeno, qualquer que seja a
técnica de registro usada.
Ao falarmos, na Unidade 3, sobre as condições em que a observação ocorre,
estávamos nos referindo a algumas destas circunstâncias. A descrição das
condições, isto é, de quando (data e horário da observação) e onde (ambiente
físico e social) a observação foi realizada e quem (sujeito) foi observado, fornece
alguns dos elementos indispensáveis à análise do comportamento. Essa descrição
porém é estática e não basta. Para analisar completamente o comportamento, é
necessário identificar também as interações que ocorrem, num determinado
período de tempo, entre o sujeito e o ambiente, isto é, mudanças no ambiente que
sejam decorrentes da ação do sujeito (ou de fatores não identificados) e mudanças
no ambiente que produzam mudanças no comportamento do sujeito. Esta dupla
descrição é o que tentaremos fazer nesta unidade.
Os comportamentos de uma pessoa não só alteram as condições do
ambiente, mas, por sua vez, também são afetados por alterações que ocorrem
neste ambiente. As mudanças que ocorrem no ambiente durante a observação são
denominadas de eventos ambientais.
Os eventos ambientais podem ser físicos ou sociais.

80
EVENTOS FÍSICOS
São as mudançasjjpjambiente físico. Por exemplo: o ambiente se iluminar
ou escurecer quando o sujeito pressiona o interruptor; o som do telefone; a porta
bater pela ação do vento etc. .
Os eventos físicos podem aparecer em decorrência de uma ação da pessoa
observada, ou da ação de outras pessoas, ou ainda da natureza. Ao analisar os
eventos físicos citados acima verificamos que: a iluminação ou escurecimento do
ambiente é decorrente de uma ação da pessoa observada; o som do telefone é
decorrente da ação de outras pessoas (não observadas); e que a batida e
conseqüente fechamento da porta, é decorrente da ação da natureza (o vento). Se
completarmos o segundo e o terceiro exemplo dizendo que o sujeito pega o
telefone e diz “alô”, ou que o sujeito se levanta e tranca a porta, poderemos
analisar as relações entre o comportamento e os eventos ambientais. No primeiro
exemplo, o evento físico (iluminação e escurecimento do ambiente) ocorreu após a
ação do sujeito e em conseqüência desta ação. Dizemos que este é um evento
conseqüente ao comportamento do sujeito. No segundo e no terceiro exemplos, os
eventos físicos ocorreram antes da ação do sujeito. Neste caso dizemos que eles
são eventos antecedentes ao comportamento do sujeito.

Os eventos físic o s podem vir antes ou após um


com portam ento. Os eventos que ocorrem antes
de um com portam ento são denom inados de
eventos antecedentes. Os eventos que ocorrem
após um com portam ento são denom inados de
eventos conseqüentes.

As relações entre o comportamento e os eventos físicos ficam mais claras


quando se transcreve os dados em três colunas: eventos antecedentes,
comportamentos do sujeito e eventos conseqüentes.
Ao transcrever nossos exemplos, teremos:

Eventos Comportamentos Eventos


antecedentes do sujeito conseqüentes

S pressiona o interruptor 0 ambiente se ilumina


ou escurece.

Som do telefone S pega o telefone.


S diz: “alô” .

A porta bate e
se fecha S se levanta.
S tranca a porta.

81
EVENTOS SOCIAIS

São os comportamentos das outras pessoas presentes no ambiente. O


comportamento do sujeito é aquele que eu estou análisando, os comportamentos
das outras pessoas presentes são uma das circunstâncias que podem afetar o
comportamento do sujeito.
Essa simultaneidade de comportamentos, emitidos pelo sujeito e outras
pessoas presentes, bem como sua rapidez e interdependência, produzem uma
situação de observação extremamente complexa. Devido a isso, o registro_.de
eventos sociais requer uma atenção especial. Razão pela qual estabelecemos, a
seguir, alguns critérios que orientem o leitor na seleção dos eventos sociais a
serem registrados.
Em geral, o observador registra os eventos sociais (comportamentos das
outras pessoas presentes no ambiente):
1. Quando a pessoa emite um comportamento em relação ao sujeito ou ao grupo
do qual o sujeito faz parte. Vejamos dois exemplos:

a) S, segurando pacotes, passa em frente a uma loja.


Um dos pacotes cai no chão.
Um vendedor da loja pega o pacote/ diz: - “Oi moço, o Sr. deixou cair este
pacote”.
S vira-se,
anda em direção ao vendedor,
pega o pacote/ diz: - “Muito obrigado” .
b) S está no tanque de areia cavocando um buraco, juntamente com outras
três crianças.
A professora se aproxima do grupoI diz: - “Quem quer ouviruma estória?”
S e as crianças gritam: - “ Eu, eu, eu...”
No primeiro exemplo, o comportamento do vendedor foi registrado porque
foi dirigido ao sujeito; no segundo exemplo, o comportamento da professora foi
registrado porque foi dirigido ao grupo do qual o sujeito faz parte.
2. Quando a pessoa apresenta um comportamento em relação a um objeto que_
pertence ou está relacionado ao sujeito observado. Vejamos os exemplos:
a),S escreve no caderno.
J pega a borracha de S.
S diz: “ Devolva logo”.
J balança afirmativamente a cabeça.
b)S, na pia, lava a louça do almoço.
P pega um prato do escorredor.
Nesses exemplos os comportamentos das pessoas / eP foram registrados porque
os mesmos foram dirigidos a objetos pertencentes (no primeiro exemplo) ou que
se relacionavam (no segundo exemplo) ao sujeito observado.
3. Quando o sujeito observado emite um comportamento em relação a uma
pessoa ou grupo de pessoas.
Por exemplo:
a) S olha em direção a J.
J passa no corredor.
b )5 anda em direção a um grupo de crianças.
A s crianças pulam amarelinha.
Nesses exemplos, o comportamento de J e do grupo de crianças foi
registrado porque o sujeito apresentou um comportamento em relação aos
mesmos.

Eventos sociais são os comportamentos das


outras pessoas presentes no ambiente. Os
eventos sociais podem ocorrer antes ou após um
comportamento do sujeito.

Também as relações entre os eventos sociais e os comportamentos do sujeito


são melhor analisados ao se transcrever os dados em três colunas: eventos
antecedentes, comportamentos do sujeito e eventos conseqüentes. Ao transcrever
os exemplos citados, teremos:

Eventos Comportamentos Eventos


antecedentes do sujeito conseqüentes
l.a. S segurando pacotes
passa em frente
a uma loja. Um dos pacotes
cai no chão.
Um vendedor da loja
pega o pacote/ diz:
- “Oi, moço, o Sr.
deixou cair este pacote”.
S vira-se.
S anda em direção
ao vendedor.
S pega o pacote/ diz:
-
- “Muito obrigado”.

No exemplo l.a. o evento físico “pacote cair no chão” constitui-se num


evento conseqüente ao comportamento de S “passar em frente da loja, segurando
pacotes’’. O evento social “o vendedor pegar o pacote” e “dizer: - Oi, moço...”
constitui-se num evento antecedente aos comportamentos de S “virar-se”, “ andar
em direção ao vendedor”, “pegar o pacote e dizer: - Muito obrigado”.
No exemplo 2.a., o evento social “/ pega a borracha de S ” constitui-se num
evento antecedente ao comportamento de S dizer: - “Devolva logo”; enquanto o
evento social “J balança afirmativamente a cabeça” constitui-se num evento
conseqüente a este comportamento de S.
Nos demais exemplos (l.b., 3.a. e 3.b.), os eventos sociais constituem-se em
eventos antecedentes aos comportamentos do sujeito.
Observe que o exemplo 2.b. não foi transcrito para a folha de análise. Isto
ocorreu pelo fato de o relato não fornecer elementos para se estabelecer relações
entre o evento social “P pega um prato do escorredor” e os comportamentos do
sujeito.

83
Eventos antecedentes Comportamentos do sujeito Eventos conseqüentes

l.b. S está no tanque de areia,


cavocando um buraco
com outras três crianças.
A professora se
aproxima do
grupo/ diz: - “Quem
quer ouvir uma
estória?”. S e as outras crianças
g ritam :-“ Eu, eu, eu . . .”
2.a. S escreve no caderno.
J pega a borracha dqS.
S diz:—“ Devolva logo”. J balança
afirmativamente a
cabeça.
3.a.
J passa no corredor. S olha em direção a J.
3.b.
Um grupo de crianças S anda em direção
pula amarelinha. às crianças.

Os eventos ambientais (físicos e sociais)


constituem-se em eventos antecedentes e
conseqüentes aos comportamentos do sujeito.

Convém lembrar que algumas vezes ocorrem mudanças no ambiente, ou


este contém aspectos que, de fato, parecem não alterar o modo de agir das
pessoas presentes nesse ambiente. Outras características ou mudanças
ambientais, contudo, parecem ter uma relação funcional com o comportamento.
Uma análise comportamental completa envolve uma tentativa de identificação
dos eventos que têm uma relação funcional com o comportamento porque são
eventos que, ocorrendo antes do comportamento, propiciam ou dificultam a
ocorrência desse comportamento; ou que, seguindo ao comportamento, alteram
as condições ambientais em que a pessoa se encontra e, a curto prazo, alteram a
seqüência de comportamentos que poderiam se seguir.
Questões de estudo
1) Explique porque é necessário registrar os eventos físicos e sociais.
2) Defina eventos físicos e eventos sociais.
3) Dê um exemplo de um evento físico que anteceda ao comportamento do
sujeito.
4) Dê um exemplo de um evento social que anteceda ao comportamento do
sujeito.
5) Dê um exemplo de um evento físico que se segue ao comportamento do sujeito.
6) Dê um exemplo de um evento social que se segue ao comportamento do
sujeito.
7) Explique as situações em que o observador deveria registrar os eventos sociais.
8) Explique o modo de representar as relações entre os eventos ambientais e os
comportamentos do sujeito.

Exercício de estudo
Damos, a seguir, dois relatos de observação. Você deve identificar os
eventos físicos e sociais existentes em cada relato e estabelecer a relação desses
eventos com os comportamentos do sujeito. Transcreva o relato em três colunas.
Proceda da seguinte maneira:
• inicialmente, comece identificando e sublinhando os eventos ambientais
(físicos e sociais) existentes no relato;
• a seguir, identifique os comportamentos do sujeito que estão relacionados
aos eventos ambientais sublinhados;
• transcreva, então, os comportamentos do sujeito e eventos ambientais nas
colunas apropriadas para a análise;
• coloque entre parênteses, após cada evento ambiental, as siglas EF e E S
quando se tratar, respectivamente, de um evento físico ou de um evento
social; e
• finalmente, complete a análise descrevendo as relações funcionais que
supõe existir entre os eventos ambientais e comportamentais relatados.
Faça isso no espaço apropriado que é dado a seguir.
1) S volta da escola carregando os livros a tiracolo, presos por um cinto. A
mãe de S encontra-se no portão. 5” corre em direção à mãe. A mãe sorri. Neste
momento, a presilha que prende os livros se abre e os livros caem no chão.

85
Eventos antecedentes Comportamentos do sujeito Eventos conseqüentes.
5 vA qU o- & -c - c X M f jl
S>Ov^\~~.oLc> Qr> .JLAsxÁs&y O -
A/L^s2- Ofei^-O t gii-. <? Õvk Ua
cS O&V/Ux o ^v JL c,
& «X . - VVÈr" i CL \/w o \i , Vv*S
<=*- Ov-ft
tí_ yV *J* ^ p , ^
M ko^ Qp.«x 'Ç yU s^oL t& o
-/^<- c y J l/x À ^ j&»&>
jlwLe^ ó^^vvx-

Relações funcionais:
5 íov- dcsv. ‘c a oí>^ Ow ___ç> S JLwx ÒLÁ-uí- ^ vh _j> riA ,
(X wvfrsjl. ^UÍHAA.

2) S joga areia para cima. A areia cai em M, irmã de S. M chora. A mãe de 5 dá


um tapa na mão de S. S chora.

Eventos antecedentes Comportamentos do sujeito Eventos conseqüentes.


3 CxaAa.O'- y>/ c>w^ -K_ (X CXK_4ac - c CjU è .. V , /‘V\ y
x v wv 5 -'M». CÊ-^jâvO.

(X oL^ S oLcsl
1 ^~Cit^p.CX vT. VVvOi-fâ1
dÜL s S .

Relações funcionais: S -^ / ,o-~— x.


M ./ Sv — oO l

^ ^ ^ V w M ' -?. S-
dU>e^ixx_ ,

L Pr G's O fV/ Qr( s -fc> E A. 1-pv' Oh2, c. 0^ £ \J £ rvlo s

86 h rvJT £C - JÍ- Q õaS. ü KV>


oj Cx^c. oLO
UNIDADE 8
O S E V E N T O S A M B IE N T A IS
EM Q U E O
C O M P O R T A M E N T O SE IN SER E-II

Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:


• Registrar continuamente, em linguagem científica, seqüências de
mudanças de eventos
• Identificar, no registro efetuado, os eventos físicos e sociais e estabelecer
a relação destes eventos com os comportamentos do sujeito

material
• Instruções para a atividade prática de observação e análise
• Protocolo de observação
• Folhas de análise

atividades
• Ler as instruções para a atividade prática
• Observar e registrar eventos comportamentais e ambientais
• Analisar os registros

$7
Instruções para a atividade prática
de observação e análise
A atividade consistirá:
a) do registro dos comportamentos e eventos ambientais que ocorrem numa
situação; e
b) da análise dos registros efetuados.
O objetivo desta atividade é o de identificar eventos físicos e sociais e
estabelecer a relação destes eventos com os comportamentos do sujeito.
Para realizar a atividade proposta, você utilizará o protocolo de observação
e as folhas de análise que acompanham estas instruções.

PARTE A —Registro dos comportamentos do sujeito e eventos ambientais

Você deverá observar e simultaneamente registrar seqüências de mudanças


de eventos, isto é, os comportamentos do sujeito (comportamentos motores e
expressões faciais) e os eventos ambientais (eventos físicos e sociais) que ocorrem
numa situação.
Ao terminar esta parte, transcreva os registros efetuados para as folhas de
análise.

PARTE B — Análise dos registros efetuados

As três primeiras folhas de análise contêm três colunas: eventos ambientais


antecedentes; comportamentos do sujeito; e eventos ambientais conseqüentes.
Proceda como na Unidade 7:

1) identifique e sublinhe os eventos ambientais (eventos físicos e eventos sociais)


registrados;
2) a seguir, identifique os comportamentos do sujeito que estão relacionados aos
eventos ambientais sublinhados;

3) transcreva, então, os comportamentos do sujeito e os eventos ambientais nas


colunas apropriadas da folha de análise;
4) identifique se o evento é físico ou social, colocando as siglas EF (evento físico)
ou ES (evento social), entre parênteses, após cada evento ambiental; e

88
5) finalmente, complete sua análise, descrevendo as relações funcionais que você
supõe existir entre os eventos ambientais e comportamentais registrados. Faça
isso na quarta folha de análise.

Instruções para o registro feito com o uso de projeção de film e

Você assistirá a projeção de um filme. O filme apresentará o ambiente e


posteriormente a seqüência de eventos a ser registrada. O aparecimento das
palavras “ Registro Contínuo” marca o início da cena de observação.
Ao terminar a projeção, preencha o item 8 do protocolo - relato do
ambiente social. Identifique no relato as outras pessoas que apareceram na
situação e a atividade geral que ocorreu.

Observação. Após a leitura destas instruções, e antes de iniciar o exercício


de observação, você deve preencher os itens 1 a 7 do protocolo. Com relação aos
itens 5, 6 e 7, visando a facilitação de sua tarefa, seu professor lhe fornecerá as
informações necessárias a respeito do sujeito e do ambiente físico. Tendo
preenchido estes itens, aguarde o início da projeção do filme.

89
PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO

1) Nome do observador: __
2) Objetivo da observação:

3) D ata da observação: __
4) Horário da observação:
5) Diagrama da situação:

91
6) Relato do ambiente físico:

7) Descrição do sujeito observado:

8) Relato do ambiente social:

92
9) Técnica de registro contínuo:
F O L H A D E A N Á L IS E

O bserv ad o r ___________

E ventos antecedentes C o m p o rta m e n to s do sujeito E ventos co nseqüentes


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UNIDADE 9
A D E F IN IÇ Ã O C IE N T ÍF IC A

objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Dada uma definição, identificar se a linguagem empregada é objetiva,
clara, precisa e direta; se a definição é explícita e completa; e se só inclui
elementos que lhe são pertinentes

material
• Texto com exercício de estudo: “A definição de eventos
comportamentais e ambientais”
• Questões de estudo

atividades
• Ler o texto “A definição de eventos comportamentais e ambientais” e
resolver o exercício de estudo que o acompanha
• Responder as questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre os exercícios e questões de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

99
A defi nição de eventos
comportamentais e ambientais

Vimos, nas unidades anteriores, que o uso da linguagem científica nos


relatos de observação, permite a comunicação e elimina as divergências entre os
observadores com relação à interpretação dos eventos observados. A
compreensão exata de um relato, entretanto, só é obtida se o observador definir
estes eventos.
A definição é condição indispensável para que dois ou mais observadores
concordem quanto a ocorrência e características de um determinado evento.
Para exemplificar melhor a importância da definição faremos um exercício,
seguindo sugestão de Hall'.

EXERCÍCIO 1

São apresentadas dez fotos na Figura 9.1. Observe cada uma, procurando
identificar aquelas que representam o comportamento “levantar a mão”. Escreva,
no espaço existente para a resposta, as letras correspondentes às fotos que
representam o comportamento “levantar a mão”.
Resposta:

Analisemos as respostas dadas no exercício. Alguns de vocês podem


achar que todas as fotos representam o comportamento “levantar a mão” ; alguns
dirão que unicamente as fotos b e c, ou outras combinações, tais como: b, c , h e j;
ou a, b , c , d e e; ou g, e, i etc., representam este comportamento. De certa forma,
qualquer uma das respostas é válida, uma vez que está baseada na opinião
pessoal de cada um, acerca do que vem a ser “levantar a mão” .
Para haver consenso, isto é, concordância entre nós, seria necessário
definirmos antes o comportamento “levantar a mão”.
Se definirmos o comportamento “levantar a mão” como “ colocar a mão
acima do ombro , estando a mesma afastada da cabeça e a palma da mão
aproximadamente no mesmo plano que o antebraço” (definição n9 1), todos
concordaremos que apenas as fotos b e c representam este comportamento.

1. Robert V. Hall. Modificação do comportamento: a mensuração do comportamento.


São Paulo: EPU/EDUSP, 1975, v. 1.

100
FIGURA 9.1 Comportamento "levantar a mao"
Se dermos, entretanto, uma definição diferente para o comportamento,
outras respostas seriam aceitas. Então vejamos:
Definição n9 2: “deslocar a mão para cima, estando a mesma afastada da
cabeça e a palma da mão aproximadamente no mesmo plano que o antebraço” ;
Definição n9 3: “colocar a palma da mão acima do ombro ombro” ;
Definição n9 4: flexionar a mão ou os dedos para cima” ;
Definição n9 5: “mover uma ou mais estruturas do membro superior (braço,
antebraço, mão ou dedos) para cima”.

De acordo com a definição 2: as fotos b, c, h e j representam “levantar a


mão” ; seguindo-se a definição 3, as fotos a, b, c, d e e; de acordo com a definição
4, as fotos g e /; e adotando-se a definição 5 todas as fotos representam o
comportamento em questão.
A definição identifica o evento que está sendo observado e,
conseqüentemente, garante a comunicação e facilita a compreensão deste evento.
A importância principal da definição é permitir que as pessoas interessadas
em um certo conjunto de fenômenos sejam perfeitamente capa7es de
compreenderem-se umas às outras e identificar o fenômeno em discussão.
Segundo Bijou, Peterson e Ault2 “o problema principal na definição de
eventos é estabelecer um critério ou critérios, de forma que dois ou mais
observadores possam concordar sobre sua ocorrência”. Por exemplo, se se deseja
registrar o número de vezes que uma criança bate em outra, os critérios que
distinguem o comportamento “bater” do comportamento “encostar a mão” ou
“empurrar” deve ser claramente especificados.
Definir um evento é descrever as características através das quais o
observador identifica o evento, isto é, enunciar os atributos e qualidades próprias
e exclusivas de um evento de modo a caracterizá-lo e distingui-lo de outros. Por
exemplo:
1) Batida de porta: “quando a porta encostar no batente, produzindo ruído”.
2) Falas dirigidas ao sujeito “quando uma outra pessoa falar e simultaneamente
olhar na direção do sujeito observado ou chamá-lo pelo nome”.
3) Chutar pedra: “fletir e estender a perna de modo a produzir contato do sapato
ou do pé com a pedra”.
As duas primeiras definições sao de eventos ambientais. A primeira é de um
evento físico e a segunda, de um evento social. A terceira definição é de um evento
comportamental.
Através destas definições é possível distinguir os eventos observados, isto é,
distinguir uma “batida de porta” de um “encostar de porta”, na medida em que a
primeira inclui a produção de ruído. O mesmo acontece com o evento social
“falas dirigidas ao sujeito”, e com o evento comportamental “ chutar pedras”.
Através da definição, o observador é capaz de identificar os elementos que
caracterizam o evento observado.
2. Sidney W. Bijou, Robert F. Peterson e Marion H. Ault. A method to integrate
descriptive and experimental field studies at the levei of data and empirical concepts.
Journal o f Applied Behavior Analysis, 1968, 1, 1980.

103
Segundo Cunha3, o importante numa definição “é que se procure descrever
um fenômeno de modo que ele seja, não referido apenas, mas colocado sob os
olhos de outra pessoa exatamente como foi visto, ouvido, tocado, enfim,
observado”.
Dçfinir é descrever as características através
das quais o observador identifica o evento. A
definição garante a comunicação e facilita a
compreensão dos eventos observados.

Colocada a importância da definição, você deve aprender como elaborá-la. Para


isso, existem alguns cuidados a serem tomados.
a) LINGUAGEM CIENTÍFICA
A definição deve ser feita em linguagem científica, isto é, numa linguagem
objetiva, clara e precisa (veja Unidade 2).
b) FORMA DIRETA

A definição deve ser feita de forma direta ou afirmativa, isto é, deve indicar
as características do objeto ou do comportamento, evitando-se o erro comum de
dizer o que ele não é.
Exemplo: definir “ficar em pé” por “deixar de estar sentada”.
Como você pode observar, esta definição indica o que a pessoa não está
fazendo. Neste sentido, além de contrariar o item b, viola também as
características de clareza e precisão (item a), uma vez que não se especifica o que
o sujeito faz ou como ele se encontra quando “deixa de estar sentado”.

EXERCÍCIO 2
Damos a seguir, duas definições que estão erradas. Os erros estão
relacionados aos cuidados que o observador deve ter ao definir, a saber: ser
objetivo, claro, preciso e direto. Identifique e explique, no espaço existente após a
definição, os erros cometidos.
1) Proximidade física: “quando uma pessoa se encontra não muito distante do
sujeito”.

3. Walter Hugo A. Cunha. Alguns princípios de categorização, descrição e análise do


comportamento. Ciência e Cultura, 1976, 28, 18.

104
2) Arranhar: “friccionar a ponta da unha sobre o corpo da outra pessoa para
produzir ferimento”.

Vamos verificar as respostas dadas. A definição de proximidade física n ã a é


precisa. Para ser precisa ela deveria fornecer a medida da distância máxima que
poderia existir entre a pessoa e o sujeito. Por exemplo: “quando a pessoa se
encontra a menos de dois metros do sujeito”. A definição de arranhar, por sua
vez, não é objetiva. A expressão “para produzir ferimentos” atribui uma
finalidade à ação. Ao invés de interpretar os motivos para a ação, a definição deve
especificar o resultado da mesma, isto é, o tipo de ferimento produzido. Por
exemplo, “friccionar a ponta da unha sobre o corpo da outra pessoa, produzindo
um sulco na pele”.
c) EXPLÍCITA E COMPLETA
Além dos cuidados salientados no itens a e b, a definição deve ser explícita e
completa. Isto é, deve especificar as características que identificam o evento
observado. Por exemplo, seria incompleta a seguinte definição de morder:
“aproximação entre si das arcadas dentárias superior e inferior”, pois não se faz
referência à presença de um objeto entre os dentes. Uma definição de morder,
mais completa e explícita, é dada por Vieira4 - “Morder: estando a boca aberta,
consiste na aproximação entre si das arcadas dentárias superior e inferior, de tal
forma que um objeto é mantido preso entre os dentes”.

d) ELEMENTOS PERTINENTES
Incluir somente elementos pertinentes, que constituam características
intrínsecas, ao fenômeno ou objeto que está sendo definido. As propriedades
definidoras de um evento são os elementos fundamentais, cujas presenças
identificam o evento, distinguindo-o de outro. Por exemplo, se definíssemos
“balançar chocalho” como: “estando a criança no berço com um chocalho entre
as mãos, consiste em flexionar sucessivamente a mão que segura o chocalho, de
forma a deslocar o chocalho alternadamente no espaço, produzindo ou não o som
dos guizos”, estaríamos incluindo na definição um aspecto não essencial ao
comportamento de balançar chocalho, a localização da criança no berço. Tal
localização pode ocorrer em algumas ocasiões, mas não é peculiar ao
comportamento “balançar chocalho”.

4. Telma Antônia M. Vieira. Elaboração de um catálogo de categorias de


comportamento: uma contribuição para o estudo etológico do homem. Dissertação de
Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 1975,
p. 31.

105
EXERCÍCIO 3
Verifique os erros cometidos nas seguintes definições. Os erros estão
relacionados aos cuidados que o observador deve ter ao defmir, a saber: ser
objetivo, claro, preciso e direto; cuidar para que a definição seja explícita e
completa e só inclua elementos pertinentes. Identifique e explique, no espaço
existente após a definição, os erros cometidos.
3) Abotoar: “atritar o botão através da casa”.

4) Dormir: “tirar uma soneca”.

5) Andar: “mudar a posição no espaço por meio de movimentos alternados de


pernas e balanço de braços.

Vejamos os erros. A definição de abotoar (definição 3) não está completa.


Falta especificar o que acontece quando o botão é atritado, isto é, a ocorrência da
junção das partes do tecido que contêm, respectivamente, casa e botão. Uma
definição completa de abotoar poderia ser “ atritar o botão através da casa,
produzindo a junção das partes de tecido que contêm, respectivamente, casa e
botão5.
A definição de dormir não é clara nem explícita. Ela é uma definição
circular; ao invés de descrever os atributos do comportamento, fornece um
sinônimo do termo dormir. A definição deveria descrever as características do
evento observado, isto é, deveria referir-se ao fechamento dos olhos, a alteração
no ritmo respiratório, etc.
A definição de andar (última definição) inclui um elemento não pertinente,
“o balanço de braços”. Balanço de braços não é um aspecto essencial para que se
afirme que alguém está a andar; é um aspecto circunstancial, que poderá ocorrer
em determinadas ocasiões, mas não caracteriza o andar.
5. Definição adaptada de Cecília G. Batista. Catálogo de comportamentos motores
observados durante uma situação de refeição. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1978, p. 94.

106
Ao definirmos eventos comportamentais e
ambientais, devemos ser: objetivos, claros,
precisos e diretos; devemos cuidar para que a
definição seja explícita e completa e só inclua
elementos que lhe sejam pertinentes.

estudo
1) O que é definir?
2) Explique a importância, em ciência, de uma boa definição.
3) Explique o que vem a ser uma linguagem objetiva, clara e precisa.
4) Por que a definição de “ficar em pé”, como “deixar de estar sentada”, é uma
definição que contém erro?
5) Explique outros cuidados que devem ser tomados ao elaborar uma definição.
6) Defina o seguinte evento comportamental: Pentear cabelos.

107
UNIDADE 0 1

D E F IN IÇ Õ E S M O R F O L Ó G IC A S
E F U N C IO N A IS D O
C O M P O R T A M E N T O -I

Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:


• Identificar se uma definição é morfológica, funcional ou apresenta estes
dois aspectos
• Diferenciar os aspectos morfológicos e funcionais de uma definição

material
• Texto com exercício de estudo: “As maneiras de definir um
comportamento”
• Questões de estudo

atividades
• Ler o texto “As maneiras de se definir um comportamento” e resolver o
exercício de estudo que o acompanha
• Responder às questões de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício e questões de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

109
A s maneiras de se definir
um comportamento
Na Unidade 9 mostramos a importância de uma definição e identificamos as
principais características que uma definição deve atender. Nesta unidade, veremos
as diferentes maneiras de se definir comportamento.
Ao. analisar um comportamento, há basicamente dois aspectos a serem
considerados: o morfológico e o funcional.
Morfologia diz respeito à forma do comportamento, isto é, à postura,
aparência e movimentos apresentados pela pessoa. Função diz respeito às
modificações ou efeitos produzidos pelo comportamento no ambiente. Por
exemplo, quando você relata que M está com os ombros caídos, e pálida, ou que
move a cabeça lateralmente para a direita, você está focalizando os aspectos
morfológicos dos comportamentos apresentados por Aí (uma postura: ombros
caídos; uma aparência pálida; e um movimento: move a cabeça lateralmente para
a direita). Quando diz que M se aproxima da janela, ou que M abre a bolsa, você
está enfatizando os aspectos funcionais dos comportamentos, isto é, os efeitos
produzidos no ambiente (proximidade da janela e bolsa aberta, respectivamente).
As definições comportamentais podem focalizar aspectos morfológicos,
aspectos funcionais, ou ambos. As que dão ênfase à descrição da forma do
comportamento serão denominadas de definições morfológicas1; e aquelas que
enfatizam o efeito produzido no ambiente, de definições funcionais. Chamaremos
de mistas, as que incluem tanto aspectos morfológicos como funcionais.. .
Vejamos alguns exemplos de definição de comportamento:
Beijar: “estando os lábios juntos, projetados para frente, numa forma
arredondada e franzida, consiste em encontar ou não os lábios numa
superfície e inspirar o ar pela boca, estalando os lábios2”.
Marcar gol: “quando uma bola, chutada por um jogador, penetrar entre as
traves”. ÍVW ort f-' ~
Atirar: “estando um objeto preso entre os dedos, consiste em estender o
antebraço abruptamente e, simultaneamente, abrir a mão,
produzindo o lançamento do objeto para longe do corpo3”.
1. A definição morfológica requer, em geral, especificações bastante complexas. O nível
de especificação que vamos requerer, entretanto, é bem simples. Exemplos de
descrições -morfológicos mais elaboradas e sofisticadas podem ser encontrados no
artigo de Cunha que descreve um curso de observação científica, ministrado a pós-
graduados de Psicologia. (Walter Hugo A. Cunha. Acerca de um curso pós-graduado
destinado ao treino da observação científica no domínio das ciências do
comportamento. Ciência e Cultura, 1974, 26, 846-853.)
2. Definição adaptada de Cecília G. Batista. Catálogo de comportamentos motores
observados durante uma situação de refeição. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1978, p. 64.
3. Idem, p. 66.

110
A definição de “ beijar” é uma definição morfológica na medida em que
descreve a postura dos lábios (lábios juntos, projetados para frente, numa forma
arredondada e franzida) e os movimentos que ocorrem (inspiração do ar pela
boca, estalando os lábios); e a definição de “ marcar gol”, por outro lado, é uma
definição funcional. Nela não se teve a preocupação de identificar os aspectos
morfológicos (partes do corpo que executam o movimento, nem o movimento que
ocorre), mas apenas de descrever o efeito do comportamento de chutar, “ a bola
penetrar entre as traves”. A definição de “atirar” é considerada uma definição
mista, pois focaliza tanto aspectos morfológicos (extensão abrupta de antebraço e
abertura da mão), como aspectos funcionais (lançamentos do objeto para longe
do corpo).
A escolha do tipo de definição a ser utilizado depende do objetivo do estudo
observacional. Em geral, quando a observação visa a seleção ou avaliação de
pessoas, definições funcionais são suficientes. Entretanto, quando a observação
visa o treinamento da pessoa, é necessário especificar também a morfologia do
comportamento.
Se o objetivo é a seleção ou avaliação profissional, basta verificar se o efeito
desejado foi obtido, ou melhor, se a tarefa foi feita de acordo com os critérios
estabelecidos. Por exemplo, posso avaliar a eficiência de um pedreiro, verificando
o produto do seu trabalho. Neste caso, o comportamento do pedreiro de
“construir paredes” será definido funcionalmente, descrevendo-se os efeitos do
mesmo (tijolos sobrepostos, unidos e alinhados). Entretanto, se o objetivo for o
treinamento do pedreiro, será necessário recorrer a definições que descrevam não
só o efeito, mas tambem as posturas e movimentos que ele apresenta ao construir
a parede, na seqüência em que estes movimentos e posturas ocorrem. Neste caso,
será necessário descrever a forma como ele pega a pá, como alisa o cimento,
como coloca o tijolo, etc.
A descrição da morfologia do comportamento é especialmente importante
no caso de tratamento ou recuperação de pessoas com deficiências de natureza
física. Por exemplo, quando o psicólogo trabalha na recuperação de uma criança
com lesão cerebral, a evolução do trabalho, isto é, a mudança de critério para
requerer dela novos comportamentos, vai depender de pequenas alterações na
forma do comportamento (no modo pelo qual a criança coloca o pé ao andar, no
seu jogo de pernas e coxas etc., ou na seqüência em que estes movimentos
ocorrem). Neste caso, para poder acompanhar o progresso da criança, o
psicólogo deve recorrer a definições que identifiquem e diferenciem cada uma
destas pequenas alterações.

O objetivo do estudo observacional determina o


tipo de definição a ser utilizado.

Existem, entretanto, comportamentos que são mais facilmente descritos, ou


em termos morfológicos ou em termos funcionais. Em geral, quando o
comportamento não produz mudanças perceptíveis no ambiente externo, a
definição morfológica é mais adequada. Exemplos de comportamentos
compatíveis com definições quase que exclusivamente morfológicas: mudanças de
expressão facial (sorrir, enrugar a testa, franzir as sobrancelhas etc) e mudanças
de postura (curvar-se, encolher-se, inclinar a cabeça etc).

111
Lembramos, contudo, que essas mudanças de expressão facial e de postura,
freqüentemente ocorrem no contexto de uma interação social. Neste caso, as
definições funcionais ou mistas seriam mais adequadas.
Por outro lado, quando os aspectos morfológicos consistirem basicamente
dejnovimentos de difícil identificação e observação, a definição funcional é
preferível. Por exemplo, nas vocalizações —tais como falar, cantar, murmurar etc.
— a forma dos comportamentos não é acessível à observação direta, pois os
movimentos, em sua maioria, se processam a nível interno. Neste caso, a
definição deverá focalizar, preferencialmente, os aspectos funcionais destes
comportamentos, ou seja, os sons produzidos4 ” .

EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE DEFINIÇÕES


Verifique se as definições apresentadas a seguir são morfológicas, funcionais
ou mistas. Justifique sua resposta. £
1) Chutar bola: “fletir a perna e estendê-la rapidamente; produzindo contato dos
"'pés" com a bola e o deslocamento da mesma ?\
Resposta: — > — - —&---------------------------------------------------------------------------
Justificativa:-------------------------------------------------------------------------------------

2) Pressionar a barra: “qualquer deslocamento da barra que seja acompanhado


do clique característico do aparelho”.
Resposta: '' ^ C' 0 ^ ^ --------------------------------------------------------------
Justificativa:------------------------------------------------------------------------------------

3) Espetar com garfo: “introduzir os dentes de um garfo no alimento, ficando os


dentes do garfo total ou parcialmente envolvidos pelo alimento5”.
Resposta: 0 ^ ^ --------------------------------------------- ----- ----- .—
Justificativa:-----------------------------------------------------------------------------------

4) Fechar a boca: “estando o lábio superior afastado do lábio inferior, mover os


lábios d e forma a diminuir a distância entre eles, em relação à posição
anterior6.”
Resposta: — ^ \ Q i ; - é v C f e ______________________________________
Justificativa: ------------------------------------------------------------------------------------

4. N o c a s o e s p e c ífic o d a f o n ia tria e d a fo n o a u d io lo g ia , o p r ó p rio o b je tiv o d o tr a b a lh o


d e te r m in a a n e c e s s id a d e d e u m a d e s c riç ã o m o r fo ló g ic a s (m o v im e n to d e lín g u a , la rin g e ,
c o r d a s v o c a is ), p o r m a is difícil q u e ela se ja.
5. D e fin iç ã o a d a p t a d a de C e c ília G . B a tis ta , o b r a c ita d a , p. 105.
6. D e fin iç ã o a d a p ta d a de C e c ília G . B a tis ta , o b r a c ita d a , p. 95.

112
Vamos ver se você acertou?
A primeira definição é mista. Ela focaliza tanto os aspectos morfológicos
(flexão seguida de extensão da perna), como os funcionais (estabelecimento de
contato dos pés com a bola e deslocamento da bola de sua posição).
A segunda e a terceira definição são exclusivamente funcionais, na
medida em que se limitam a descrever os efeitos dos comportamentos (na
segunda, o deslocamento e produção do clique da barra; e na terceira, a
introdução e envolvimento do garfo no alimento). A forma destes
comportamentos, isto é, como a barra é pressionada, ou como o garfo é
manipulado (posturas e movimentos) é um elemento ausente nas definições
dois a três.
A quarta é uma definição morfológica. Ela focaliza exclusivamente as
alterações na forma do comportamento (movimento dos lábios e diminuição
da distância entre eles).
Resumindo, definições morfológicas focalizam a postura, aparência e
movimentos apresentados pela pessoa; definições funcionais salientam os
efeitos produzidos pelo comportamento no ambiente; e definições mistas
focalizam ambos, isto é: aspectos morfológicos e aspectos funcionais.
Na prática, você pode seguir a seguinte “dica” . Para diferenciar uma
definição morfológica de uma funcional, verifique se o referencial utilizado na
definição é o sujeito ou o ambiente externo. As definições morfológicas
descrevem o que ocorre com o sujeito (movimentos, posturas, aparências),
tendo como referencial o próprio sujeito. Isto é, um movimento de braço é
descrito como uma flexão que resulta num determinado ângulo de abertura do
braço em relação ao corpo do indivíduo. As definições funcionais referem-se a
efeitos produzidos no ambiente físico e social (alteração no estado, ou posição
ou localização de objetos ou pessoas; produção de sons ou ruídos); ou nas
relações que o sujeito mantém com este ambiente (na localização ou posição
do sujeito ou de uma parte de seu corpo). Exemplo de alterações em objetos e
pessoas seria “/ abre a porta e empurra C para fora” (neste caso, os
comportamentos de J produzem, respectivamente, uma mudança na posição
da porta e na localização de C). Como exemplo de alteração nas relações que
o sujeito mantém com o ambiente físico, temos: “/ aproxima a mão da maçaneta
da porta . .. J sai da sala” . (Neste exemplo, os efeitos produzidos são,
primeiro, uma mudança na posição da mão em relação à porta, e, depois, uma
mudança na localização de /.)

113
Questões de estudo
1) Explique as características:
a) de uma “definição morfológica” do comportamento;
b) de uma “definição funcional” do comportamento; e
c) do que é chamado uma “definição mista”.
2) Dê um exemplo de como o objetivo de um estudo determina o tipo de
definição a ser utilizada. Justifique.
3) Indique, nos exemplos abaixo, que tipo de definição seria mais provavelmente
usada. Justifique sua escolha.
Encolher-se.
Cantar.
Franzir as sobrancelhas.
Abrir os olhos.
Sussurrar.
UNIDADE 11
D E FIN IÇ Õ E S M O R F O L Ó G IC A S
E F U N C IO N A IS D O
C O M P O R T A M E N T O -II

objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Descrever aspectos morfológicos e aspectos funcionais do
comportamento

material
• Texto com exercício de estudo: “Morfologia e função do
comportamento”

atividades
• Ler o texto “Morfologia e função do comportamento”, e resolver o
exercício de estudo que o acompanha
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

115
Morfologia e função
do comportamento

Vimos, na unidade anterior, que as definições morfológicas focalizam a


forma do comportamento, isto é, as posturas, aparências e movimentos
apresentados pela pessoa. E que as definições funcionais enfatizam as
modificações produzidas pela pessoa no ambiente.
Vimos também que ao elaborar uma definição morfológica, devemos utilizar,
como referencial, o próprio corpo da pessoa. Quer dizer, ao descrever um
movimento, devemos indicar a direção e sentido do mesmo," tomando como
referência as partes do corpo (cabeça, tronco, pés etc.), ou suas regiões (região
central; regiões laterais: direita e esquerda; região anterior e região posterior). Por
exemplo, ao descrever os comportamentos de um ginasta fazendo exercícios
abdominais eu diria: “dobra o tronco no sentido póstero-anterior de forma a
aproximar a cabeça dos joelhos”.
Na definição funcional, em geral, é feito o inverso. O referencial utilizado é o
ambiente externo (ambiente físico e social) e não o próprio sujeito. Por exemplo,
descrevo funcionalmente o comportamento de aproximação entre duas pessoas,
dizendo: “5 está a uma distância igual ou inferior a um metro de N ”. Neste caso,
N é o meu ponto de referência.
Atenção! A descrição “/ / tira o chapéu da cabeça e o coloca sobre a mesa”
é uma descrição funcional. “Colocar o chapéu sobre a mesa” é, obviamente,
funcional, assim como tirar o chapéu da cabeça. Veja bem, o fato de eu descrever
o comportamento em relação à cabeça de H não torna morfológica a descrição, já
que não focalizei os'movimentos e posturas envolvidos nesse gesto. Ao contrário,
descrevi um efeito (o chapéu ficou fora da cabeça) produzido no ambiente
externo, pelo comportamento de H; houve uma mudança na posição relativa de
uma parte do corpo de H (cabeça) e no ambiente externo (chapéu).
Até aqui você analisou várias definições, classificando-as de acordo com os
aspectos morfológicos e funcionais. É evidente, contudo, que ao observador não
basta identificar definições. Na realidade, ele deve elaborá-las com base em suas
próprias observações. Apresentamos, a seguir, ilustrações à guisa de exercício.
Você deve descrever as situações apresentadas nas ilustrações.

116
FIGURA 11.1
A mesura
EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE DEFINIÇÕES:

1. Observe a Figura 11.1. Ela consiste em um conjunto de três fotografias.


Cada uma (fotos a, b e c) mostra um momento diferente do comportamento que
está sendo ilustrado. Após observar a figura, descreva os aspectos morfológicos
do comportamento em questão. Tente elaborar a descrição sob forma de uma
definição.
1.1. Definição morfológica do comportamento (Figura 11.1 A mesura)

Vejamos se você acertou. A Figura 11.1 mostra uma menina fazendo


uma mesura. Na foto a, ela está com o corpo ereto; na foto b, a menina está
com a região superior do tronco obliquamente inclinada, no sentido póstero-
anterior; e na foto c, a inclinação da região superior do tronco é mais
pronunciada, apresentando-se perpendicular à região inferior.
Uma definição que enfatizasse os aspectos morfológicos deveria
descrever as posturas do corpo e o movimento executado. Por se tratar de
fotos, o que vemos na seqüência é uma sucessão de posturas. Neste caso, o
movimento deve ser inferido. E você acertou quer tenha descrito as três
posturas do corpo, quer tenha descrito a postura inicial do corpo e inferido o
movimento executado.
Portanto, poderíamos dizer que a Figura 11.1 mostra o comportamento
de “fazer uma mesura” e defini-lo como: “estando uma pessoa em pé, com o
corpo ereto, consiste em mover a região superior do tronco no sentido
póstero-anterior”.
São apresentadas outras duas figuras para serem analisadas. Proceda de
acordo com as instruções dadas anteriormente.
1.2. Definição morfológica do comportamento
(Figura 11.2 O adeus)
FIGURA 11.2 0 adeus
/
1.3. Definição morfológica do comportamento
(Figura 11.3 As palmas)

2. Observe as próximas figuras. Nelas foi incluída mais uma foto. A foto d
mostra o momento final da seqüência, após a ocorrência do comportamento.
Descreva, no espaço existente após cada figura, os aspectos funcionais. Tente
elaborar sua descrição, de forma que ela se assemelhe a uma definição do
comportamento reproduzido na seqüência.

2.1. Definição funcional do comportamento


(Figura 11.4 Mingau de banana)

Vamos conferir! A Figura 11.4 mostra uma banana sendo amassada. Na


foto a, a mão de alguém está segurando um garfo e este está sobre uma das
extremidades de uma banana. Nas fotos b e c, a mão de alguém continua
segurando o garfo, estando este introduzido na banana. Na foto d vemos uma
massa pastosa.
Uma definição que focalizasse os aspectos funcionais do comportamento
reproduzido na Figura 11.4 deveria focalizar o contato do garfo como alimento,
assim como a alteração na forma da banana, ao invés de focalizar a postura da
mão e dos dedos ao segurar o garfo e os movimentos realizados (aspectos

121
FIGURA 11.4
Minguau de banana
morfológicos). Por exemplo, Batista 1 defmiu “ amassar” como: “ atritar o garfo
contra o alimento, produzindo um alimento mais pastoso ou fracionado do que
antes de ser amassado”.
Analise, agora, as duas figuras apresentadas a seguir, e defina
funcionalmente os comportamentos nelas representados.

2.2. Definição funcional do comportamento


(Figura 11.5 O refrigerante)
a a h h .a lQ u A ^ c W - c y i ^ , y? c <9
e i cx JLrecou to-coJ NUft-
__ Ova a X ^ Í Qv o Pr' ■J? JL ^

2.3. Definição funcional do comportamento


(Figura, 11.6 Economize água)
___ Cx iy i h is x ., __ > 1 p i h / v v n A Á j\y ^ \Q ÍA ^ Q o *^Q€LA
vv> ç U ___ CX . A r_P ^ q ^ ^

w O J r '__ q A jT Q x aaa^ ___ J?


f-vAjT a ACL> ju . /rfv

3. Com as próximas figuras você deverá tentar elaborar uma definição


mista, isto é, uma definição que inclua aspectos morfológicos e funcionais do
comportamento.

3.1. Definição mista do comportamento


(Figura 11.7 Fazer recortes)

1. Cecília G. Batista. Catálogo de comportamentos motores observados durante uma


situação de refeição. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1978, p. 61.

123
FIGURA 11.5 0 refrigerante
hlGURA 11.6 Economize agua
• > *w » » 1 »1 *' «

FIGURA 11.7 Fazer recortes


Vejamos como você se saiu! A Figura 11.7 mostra o comportamento
“cortar com tesoura”. Na foto a, a mão esquerda de alguém segura uma folha de
papel intato, enquanto a mão direita segura uma tesoura. Os dedos estão
flexionados, sendo que o polegar e o indicador estão introduzidos nos orifícios da
tesoura. As lâminas da tesoura estão abertas e o papel está entre as lâminas. Na
foto b, a mão esquerda de alguém continua segurando o papel, e os dedos da mão
direita continuam flexionados com o polegar e o indicador introduzidos nos
orifícios da tesoura. As lâminas da tesoura estão fechadas e o papel está entre as
lâminas e parcialmente secionado. Na foto c, a postura e posição da mão e dos
dedos continua a mesma. As lâminas da tesoura estão abertas, sendo que a
tesoura avançou a 1/3 no papel. A foto d mostra o papel dividido em duas partes
distintas.
Uma definição mista do comportamento “cortar com tesoura” focalizaria
tanto aspectos morfológicos (postura dos dedos e movimentos realizados), como
aspectos funcionais (efeito destes movimentos sobre as lâminas da tesoura e sobre
o papel). A definição de “cortar com tesoura” apresentada a seguir é um exemplo
de definição mista: “estando os dedos de uma das mãos flexionados, com o
polegar e o indicador introduzidos nos orifícios da tesoura, consiste em elevar e,
alternadamente, abaixar o polegar de forma a produzir a aproximação das duas
lâminas até que elas se atritem, dividindo o objeto em duas partes” (definição
adaptada de Batista 2). Poderíamos completar a descrição do comportamento
reproduzido pela Figura 11.7, dizendo que “após o atrito das lâminas, a mão que
segura a tesoura se desloca, avançando a tesoura no papel e que, após o avanço
da tesoura, os movimentos do polegar (de elevar e abaixar) se repetem, até dividir
o papel em duas partes distintas”.
Observe novamente duas das figuras já apresentadas, Figura 11.3 (As
palmas) e Figura 11.5 (O refrigerante). Anteriormente você definiu, ou
morfologicamente (Figura 11.3 As palmas) ou funcionalmente (Figura 11.5 O
refrigerante), os comportamentos nelas representados. Agora, deve elaborar uma
definição mista do comportamento ilustrado em cada uma das figuras.

3.2. Definição mista do comportamento


(Figura 11.3 As palmas)

2. Cecília G. Batista, obra citada, p. 61.

127
3.3. Definição mista do comportamento
(Figura 11.5 O refrigerante)

3.4. Definição mista do comportamento


(Figura 11.8 A patinação)
Por último, observe a Figura 11.8 A patinação. Após observar os aspectos
morfológicos e funcionais do comportamento ilustrado na figura, apresente uma
definição mista deste comportamento. a
ch. A- .X S U x x ^

/ol __of AA L\Ã7\.: Má ■'Qv V -


A ac^cx* p' ■,rv,vv-d:n t

128
UNIDADE 12
O PR O B LEM A D A
C L A S S IF IC A Ç Ã O DE
C O M P O R T A M E N T O S -I

objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Agrupar os comportamentos em classes e identificar os elementos
utilizados como critério para a classificação

material
• Texto: “Agrupamento dos comportamentos em classes”
• Exercício de estudo

atividades
• Ler o texto “Agrupamento dos comportamentos em classes”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o texto e sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

131
Agrupamento dos
comportamentos em classe

Para conhecer um organismo, .para estudá-lo, é necessário passar algumas


horas em contato com ele, observando e registrando seus comportamentos. No
início, os comportamentos parecem ser infinitamente variáveis. Entretanto, após
observações repetidas, passa-se a perceber semelhanças com relação à morfologia
e/ou função do comportamento.
A partir das semelhanças, e também das diferenças, encontradas entre os
comportamentos, o observador, numa segunda etapa de trabalho, passa a
classificar estes comportamentos. A classificação é uma forma de organizar os
dados disponíveis. Ela visa estabelecer ordem, coerência e uniformidade entre os
eventos observados.
Os critérios adotados para a classificação são os mesmos utilizados para
definir o comportamento, ou seja: 1) sua morfologia; 2) sua função; ou 3) ambos.
E assim como nas definições, a escolha do critério de classificação depende do
objetivo de trabalho do observador. (Se você tem dúvidas, consulte novamente as
Unidades 10 e 11.)

1 - AGRUPAMENTOS PELA M ORFOLOGIA


Os comportamentos que apresentam semelhanças no movimento, e/ou
postura, e/ou aparência podem ser agrupados segundo essas semelhanças, tal
agrupamento será dito “morfológico” (pela morfologia).
Vamos ao exemplo. Os comportamentos: “apagar com a borracha” , “riscar
com a caneta” e “lixar a unha” apresentam semelhanças morfológicas. Nos três, a
postura dos dedos que prendem o objeto (borracha, caneta e lixa) é semelhante:
“os dedos estão flexionados” ; e os movimentos que ocorrem também são
semelhantes: “movimentos lineares do antebraço e/ou mão, com alternações
sucessivas do sentido do movimento” . O fato de estes três comportamentos
apresentarem certas semelhanças com relação à morfologia permite que eles
sejam colocados numa mesma classe, a qual denominaremos de “movimento em
vai e vem” . Pense em outros comportamentos que poderiam ser incluídos
nesta classe.
Evidentemente que, dependendo dos objetivos, essa classe poderia ser
subdividida em muitas outras. Neste caso eu poderia levar em conta as diferenças
no ritmo ou na força dos movimentos com que a pessoa apaga, risca ou lixa.

132
Convém salientar que os comportamentos analisados acima, além das
semelhanças morfológicas, apresentam também uma semelhança com relação à
função, uma vez que produzem o deslocamento de um objeto sobre uma
superfície.
A utilização de critérios exclusivamente morfológicos ocorre, em geral,
quando o interesse, é o de identificar e descrever as próprias posturas, aparências e
movimentos apreséntados.
Podemos lembrar aqui uma ocasião em que agrupamentos morfológicos se
mostrariam particularmente úteis. Vejamos. Se precisássemos estudar o
funcionamento de uma determinada parte do corpo que critério utilizaríamos?
Obviamente, o critério morfológico. Suponhamos que o objetivo do meu estudo
fosse “identificar por que os operários de uma determinada fábrica apresentam
deformações de postura após um certo tempo de trabalho” . Neste caso,
inicialmente eu poderia descrever, usando uma classificação morfológica, os
problemas de postura encontrados. Posteriormente, eu iria verificar as causas
destes problemas. Poderia, por exemplo, classificar morfologicamente também as
posturas que os operários exibem durante o trabalho, verificando se estas seriam
as causas das deformações de postura.

2 - AGRUPAM ENTOS PELA FUNCION ALIDAD E


São agrupamentos que têm como referencial as modificações produzidas no
ambiente. Por exemplo, ao preparar a terra para o plantio, um lavrador pode
apresentar diferentes tipos de comportamento, tais como: “passar o trator”,
“passar o arado animal” ou “cavar com a enxada ou enxadão”. Todos estes
f\jru
comportamentos, embora sejam morfologicamente diferentes, apresentam alguns
efeitos comuns, tais como “ sulcos na terra e revolvimento da mesma”. Esta
semelhança com relação à função dos comportamentos permite que eles sejam
agrupados numa mesma classe, a qual denominaremos “ sulcar a terra”.
O agrupamento pela função é escolhido quando estamos interessados em
analisar a ocorrência de determinado efeito do comportamento sobre o ambiente.
Freqüentemente, este é o tipo de agrupamento utilizado ao se realizar uma análise
funcional do comportamento, isto é, das condições que antecedem e sucedem o
comportamento e das relações deste com estas condições (Millenson *, Ferster,
Culbertson e Boren 2; Bijou e Baer 3).
A expressão “tocar a campainha” refere-se a uma variedade de
comportamentos que produzem o toque da campainha, e que podem apresentar
variações de duração e força, ou mesmo de postura, ou de partes do corpo
envolvidas. Variações estas que, apesar de existirem, não são consideradas, uma
vez que o critério é o efeito produzido. Do mesmo modo podemos nos referir “ a
discar o telefone” como uma classe de comportamentos que produzem o giro do
disco do telefone. Nesta classe são incluídos “discar com o dedo indicador”,
“discar com o lápis”, “discar depressa”, “discar devagar” etc.

1. J. R. Millenson. Princípios de análise do comportamento. Brasília: Coordenada, 1975.


2. Charles B. Ferster, Stuart Culbertson e Mary C. P. Boren. Princípios do
comportamento. São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1977.
3. Sidney W. Bijou e Donald M. Baer. O desenvolvimento da criança: uma análise
comportamental. São Paulo: EPU, 1980.

133
3 - AGRUPAMENTOS PELA M ORFOLOGIA E FUNÇÃO

Os agrupamentos pela morfologia e função obedecem a um critério duplo. O


critério duplo consiste na identificação de semelhanças na forma e no efeito dos
comportamentos.
Quando necessitamos da informação acerca de como um dado efeito é
produzido, recorremos ao critério duplo. Por exemplo, se quisermos saber como
um lavrador “sulca a terra” teremos que considerar as diferenças na morfologia
dos comportamentos que produzem este efeito e, provavelmente, colocar os
comportamentos “passar o trator”, “passar o arado animal” e “cavar com a
enxada ou enxadão” em classes diferentes. Ao classificar os comportamentos, os
etólogos, em geral, utilizam critérios duplos oii critérios morfológicos e, mais
raramente, os funcionais (Carthy 4, Hutt e H u tt5, Cunha 6).
Vejamos um exemplo de agrupamento duplo. A Figura 12.1 ilustra três
comportamentos.
Os três comportamentos representados na Figura 12.1 apresentam
semelhanças tanto na forma (posturas e movimentos), como no efeito produzido
no ambiente, podendo ser agrupados numa mesma classe, a qual denominaremos
“cortar alimento com faca”.
Identifique as semelhanças existentes entre os comportamentos nesta figura.
Para facilitar a identificação das semelhanças na morfologia, tente visualizar as
fotografias sem objetos e instrumentos envolvidos, isto é, sem o pão, cebola ou
-carne, e sem a faca. Escreva suas respostas nos espaços apropriados.

A - Semelhanças com relação à função:

B - Semelhanças com relação à morfologia:

4. John D. Carthy. O estudo do comportamento. São Paulo: Nacional/EDUSP, 1969.


5. Sidney J. Hutt e Corine Hutt. Observação direta e medida do comportamento. São
Paulo: EPU/EDUSP, 1974.
6. Walter Hugo A. Cunha. Alguns princípios de categorização, descrição e análise do
comportamento. Ciência e Cultura, 1976, 28, 15-24.

134
FIGURA \Z.] Comportamento 1
KIGURA 12.1 Comportamento 2
Do ponto de vista das semelhanças íuncionais, podemos dizer que nos três
casos ocorre a “introdução e deslocamento da faca no objeto (pão, carne ou
cebola), de forma a produzir a divisão do mesmo” . Compare, agora, sua resposta
com esta descrição funcional.
Numa descrição das semelhanças morfológicas, diríamos que, nas fotos, as
pessoas apresentam o dedo indicador da mão direita estendido e os dedos médio,
anular e mínimo flexionados, com a falanginha e falangeta voltadas para dentro;
enquanto que na mão esquerda, os dedos, na maioria das fotos, estão
aproximadamente estendidos e unidos, com exceção do polegar que se encontra
afastado dos demais. Focalizaríamos, também, os movimentos que ocorrem
dizendo que o antebraço e a mão direita se deslocam horizontalmente para frente
e para trás do corpo; e que, enquanto isso, a mão esquerda se mantém praticamente
imóvel. Verifique se a sua descrição contém esses elementos.

Amplitude do agrupamento

Em geral, é o objetivo do trabalho que determina a escolha do critério de


classificação. É importante considerar o problema da escolha do critério porque
ele influirá na amplitude do agrupamento a ser formado. De acordo com o critério
utilizado, uma classe inclurá um número maior ou menor de comportamentos,
isto é, ela será mais abrangente ou mais restrita. Critérios exclusivamente
morfológicos, ou exclusivamente funcionais têm uma abrangência maior do que
critérios duplos.
Voltemos a analisar o trabalho de um lavrador. Vamos considerar que, ao
preparar a terra para o plantio, ele poderá apresentar um dos seguintes
comportamentos: 1) capinar com a enxada; 2) cavar com a enxada ou enxadão;
3) capinar com a capinadeira; 4) lavrar com o arado.
Se adotássemos o critério funcional, poderíamos formar duas classes de
comportamento, as quais seriam denominadas “limpar a terra” e “sulcar a terra”.
Na primeira classe, incluríamos os comportamentos 1 e 3 (capinar com a enxada
e com a capinadeira) e na segunda, os comportamentos 2 e 4 (cavar com a enxada
ou enxadão e lavrar com o arado). Se utilizássemos o critério morfológico,
poderíamos formar também duas classes, as quais denominaríamos “preparar a
terra usando instrumentos manuais” e “preparar a terra, usando equipamentos
movidos por tração”. Neste caso, estaríamos considerando as diferenças
morfológicas existentes no uso de instrumentos manuais (enxada e enxadão) e na
utilização de equipamentos movido por tração (trator ou tração animal). Na
primeira classe, incluríamos os comportamentos 1 e 2 (capina, com a enxada e
cavar com a enxada e enxadão); e na segunda, os comportamentos 3 e 4 (capinar
com a capinadeira e lavrar com o arado). Finalmente, se adotássemos o critério
duplo, isto é, se considerássemos o efeito e a morfologia, colocaríamos cada um
destes comportamentos em classes distintas.
A amplitude do agrupamento é também influenciada pelo grau de
especificidade do critério adotado, isto é, pelo rigor com que eu aplico um critério.
O grau de especificidade, por sua vez, depende dos objetivos do estudo
observacional e das conveniências do observador.

138
No exemplo anterior, o agrupamento morfológico “preparar a terra usando
equipamentos movidos por tração” inclui tanto o uso de trator como o uso de
tração animal. Um maior rigor no critério colocará o uso de trator e de tração
animal em classes distintas, uma vez que existem diferenças entre o
comportamento de “dirigir um trator” e o comportamento de “conduzir um
animal”.
Utilizando o critério morfológico, um observador poderá classificar os
comportamentos “andar devagar”, “ andar depressa” e “andar em ritmo normal”
em uma única classe, na medida que estes comportamentos apresentam
semelhanças na forma (deslocamentos alternados dos membros inferiores, que se
processa da seguinte maneira: quando a coxa e perna de um dos membros é
estendida verticalmente, a coxa do outro membro é flexionada para frente;
concomitante ao movimento da coxa, a perna correspondente é flexionada e em
seguida estendida). Se o observador, entretanto, for mais específico e considerar,
além das partes do corpo envolvidas e da forma geral dos movimentos, também
as diferenças existentes no ritmo, força e amplitude dos movimentos, classificará
estes comportamentos em classes distintas.
Os comportamentos “morder a ponta do lápis”, “morder uma maçã” e
“morder um colega” apresentam semelhanças tanto na forma (aproximação das
arcadas dentárias superior e inferior) como no efeito produzido (objeto
comprimido entre os dentes), podendo ser agrupados numa única classe. No
entanto, se fossem considerados os fatores motivacionais envolvidos, poderíamos
classificar estes comportamentos em três classes funcionalmente distintas.
“Morder a ponta do lápis” poderia ser classificado como um tique, “morder uma
maçã”, como um comportamento de alimentação, e “ morder um colega”, como
um comportamento de agressão. Do mesmo modo, se fôssemos mais específicos
quanto à morfologia, poderíamos distisguir variações na abertura ou na força do
fechamento da arcada dentária, bem como outros aspectos morfológicos
subsidiários, como retração ou não dos lábios.

Os agrupamentos poderão ser amplos ou


restritos. A amplitude do agrupamento depende
do critério utilizado e do grau de especificidade
considerado.

Como proceder ao classificar os comportamentos?

Existem algumas regras básicas para o agrupamento dos comportamentos,


que podem nortear o seu trabalho.
I9) As classes formadas devem ser mutuamente exclusivas, isto é, não deve
ocorrer sobreposição de classes. Cada comportamento deve pertencer a apenas
uma das classes. Por exemplo, provavelmente ninguém colocaria, qualquer que
fosse o critério utilizado, os comportamentos “ andar” e “comer” como
pertencentes a uma mesma classe. Contudo, é freqüente encontrarmos
classificações com o: c/asse 1 - andar; classe 2 - comer; classe 3 - dirigir-se ao
armário da cozinha. É provável, neste caso, que as classes 1 e 3 ou 2 e 3 estejam
sobrepostas. Isso seria evitado possivelmente com a eliminação da classe 3 ou
com a sua transformação em subclasse, da classe 1 ou 2.

139
2?) Todos os comportamentos observados e registrados devem ser
classificados, não importando que para isso se criem classes com um único
elemento comportamental. Em outras palavras, o observador pode e deve definir
tantas classes quantas forem necessárias para que seu trabalho fique completo.
39) O observador deve ser coerente com o critério utilizado, isto é, se
optou pelo critério morfológico deve utilizá-lo exclusivamente, e o grau de
especificidade deve ser o mesmo para todas as classes.
O ideal seria que estas três regras fossem utilizadas por todos. Notamos,
contudo, que em alguns estudos, elas nem sempre são seguidas, especialmente a
terceira. Algumas vezes, o não seguimento da 3? regra é justificável. Por exemplo,
se o objetivo do trabalho for descrever as formas de interação social entre uma
criança e sua mãe, e se os recursos e tempo disponíveis para realização do
trabalho são limitados, não há por que aplicar critérios rigorosos, extremamente
específicos na classificação de comportamentos que não estejam diretamente
relacionados ao objetivo. Neste caso, é comum que se use um critério duplo
(morfológico e funcional) bastante específico para os comportamentos de
interação. Porém, quanto aos demais comportamentos (como os que ocorrem na
ausência da mãe, ou que, ocorrendo em sua presença não representam interação)
é admissível usar uma classificação mais ampla e geral.

Exercício de estudo
Analise as quatro figuras apresentadas (Figuras 12.2; 12.3; 12.4 e 12.5). As
fotos a, b e c de cada figura representam diferentes momentos de um
comportamento. Ao analisar as figuras, procure identificar as semelhanças
existentes entre os comportamentos ilustrados (semelhanças na forma e/ou no
efeito produzido).
A seguir, agrupe os quatro comportamentos em classes. Use, em primeiro
lugar o critério funcional, depois o morfológico, e, por último, o critério duplo.
Atenção! Ao utilizar um determinado critério, especifique quantas classes
foram formadas e descreva as características de cada classe.
Para descrever as características de cada classe:
a) identifique os comportamentos incluídos, ou seja, liste os comportamentos que
você incluiu em cada classe;
b) descreva as semelhanças existentes entre os comportamentos incluídos na
classe, de acordo como critério adotado;
c) se a classe for formada por um único comportamento, descreva as
características deste comportamento;
d) verifique se todos os comportamentos foram incluídos; e
e) verifique se não há sobreposição de classes.
FIGURA 12.2 Comportamento 1
FIGURA 12.3 Comportamento 2
I-IGURA 12.4 Comportamento 3
FIGURA 12.5 Comportamento 4
1. Agrupam entos pela funcionalidade.

1.1. Quantidade de classes formadas

1.2. Descrição das classes:


2. A grupam entos pela morfologia.

2.1. Quantidade de classes formadas:

2.2. Descrição das classes:

146
3. A grupam entos pela morfologia e função (duplos).

3.1. Quantidade de classes formadas:__________

3.2. Descrição das classes:___________________

147
UNIDADE 13
O PR O B LEM A D A
C L A S S IF IC A Ç A O DE
C O M P O R T A M E N T O S -II

objetivos
Ao final da unidade o leitor deverá ser capaz de:
• Definir classes de comportamento pela morfologia e/ou função

material
• Texto: “A definição de classes de comportamento”
• Exercício de estudo

atividades
• Ler o texto “A definição de classes de comportamento”
• Resolver o exercício de estudo
• Participar de uma discussão sobre o exercício de estudo
• Resolver o exercício de avaliação

149
A definição de classes
de comportamento

Dissemos anteriormente que ao definir um evento devemos descrever as


características através das quais o observador identifica esse evento.
Conseqüentemente, para definir uma classe de comportamentos devemos,
também, descrever as características dos comportamentos que formam esta
classe.
Os cuidados a serem tomados, com relação à definição de classes de
comportamento são, portanto, iguais àqueles tomados quando da definição de
eventos comportamentais particulares. Ou seja, definições de classes de
comportamento devem:
1) Obedecer aos critérios especificados para uma linguagem científica
(objetividade, clareza e precisão);
2) Ser expressas na forma direta e afirmativa;
3) Ser explícitas e completas; e
4) Incluir somente elementos que lhes sejam pertinentes.
Embora esses requisitos já tenham sido discutidos na Unidade 9, seria
importante retomar, de maneira mais aprofundada, a análise do que vem a ser
uma definição “explícita e completa”, tendo em vista as especificidades do
agrupamento dos comportamentos em classes.
Vimos que os critérios de um agrupamento baseiam-se nas semelhanças
entre os comportamentos incluídos nesse agrupamento1. Portanto, uma definição
de classe para ser explícita deveria focalizar as semelhanças existentes no aspecto
considerado como critério para o agrupamento. Além disso, essas semelhanças
deveriam ser descritas na seqüência natural em que ocorrem.
Por exemplo, num agrupamento morfológico, uma definição que focalizasse
as semelhanças na forma dos comportamentos seria explícita. Assim, uma
definição explícita do agrupamento morfológico, que inclui os comportamentos:
“apagar com a borracha”, “riscar com a caneta” e “lixar a unha”, deveria
focalizar a postura dos dedos que seguram o objeto (borracha, caneta e lixa); e os
movimentos que ocorrem. Do mesmo modo, num agrupamento que obedecesse a
critérios funcionais, uma definição explícita focalizaria os efeitos comuns
produzidos pelos comportamentos. A definição do agrupamento funcional, que
inclui os comportamentos: “passar o trator”, “passar o arado animal” e “cavar

1. Se você encontrar dificuldade em lembrar os critérios de agrupamento, releia a


Unidade 12.

150
com a enxada ou enxadão”, deveria focalizar o efeito comum produzido, “ sulcos
na terra e revolvimento da mesma”. Por outro lado, e ainda do mesmo modo,
num agrupamento duplo, a definição focalizaria as semelhanças na forma e no
efeito dos comportamentos. Assim, a definição do agrupamento duplo, que inclui
os comportamentos “cortão pão”, “cortar cebola” e “cortar carne”, deveria
descrever a postura dos dedos que seguram a faca e a postura dos dedos que
seguram os objetos (pão, cebola e carne), os movimentos que ocorrem e o efeito
produzido na seqüência natural em que os eventos ocorrem.
Uma definição completa focalizaria todas as semelhanças existentes entre os
comportamentos, ou seja, além de focalizar as semelhanças relativas ao critério
utilizado, a definição descreveria também as semelhanças referentes às condições
necessárias para que o comportamento ocorra. Ou seja, a definição do
agrupamento morfológico dos comportamentos “apagar com a borracha”,
“riscar com a caneta” e “lixar a unha” deveria referir-se ao fato de que o objeto
(borracha, caneta e lixa) está preso entre os dedos da pessoa, e que uma parte do
objeto está em contato com uma superfície. No agrupamento funcional dos
comportamentos “passar o trator”, “passar o arado animal” e “cavar com a
enxada ou enxadão”, a definição deveria referir-se ao uso de instrumentos. E no
agrupamento duplo dos comportamentos “cortar pão”, “ cortar cebola”, “ cortar
carne”, a definição deveria referir-se ao fato da faca estar entre os dedos de uma
mão, e o objeto (pão, cebola e carne) estar apoiado sobre uma superfície e
imobilizado pela outra mão.
Além disso, uma definição completa especificaria também a unidade de
análise considerada. Unidade de análise são os critérios utilizados pelo
observador para delimitar o início e o fim de um comportamento ou seqüência
comportamental. Sua explicitação se faz necessária quando se quer quantificar os
comportamentos, pois a precisão na contagem dos eventos depende desta
explicitação.
Portanto, as definições das classes de comportamento só estariam completas
se acrescentássemos a informação referente à unidade de análise. Por exemplo, a
definição do agrupamento “cortar pão”, “cortar carne”, “cortar cebola”, estaria
completa se especificássemos que “uma unidade inicia quando ocorre o
deslocamento do antebraço e da mão, e termina quando: a) é interrompido o
contato da faca com o objeto (pão, cebola, carne) ou, b) ocorre uma interrupção
na seqüência de movimentos que produzem o corte, interrupção esta de 10 ou
mais segundos”.
Em geral, a identificação do início da primeira unidade é feita a partir da
identificação do evento comportamental e das condições necessárias para sua
ocorrência. A identificação do início das unidades subseqüentes é feita a partir,
obviamente, do término das unidades anteriores.
A delimitação da unidade de análise possibilita a quantificação precisa dos
comportamentos. Se não tivéssemos estabelecido a unidade de análise na
definição da classe descrita anteriormente, e o sujeito, após ter produzido um
corte no pão (sem porém separá-lo em partes distintas) levantasse a faca e,
imediatamente após, voltasse a introduzi-la no corte existente, certamente os
observadores ficariam em dúvida se o sujeito havia cortado uma ou duas vezes o
pão. Pela especificação da unidade a ser considerada, fica claro que, neste caso,
existiriam dois cortes, isto é, duas unidades.

151
A exata delimitação da unidade de análise é arbitrária, ela varia em função
das conveniências do observador (facilidades no registro) e dos objetivos do
estudo observacional. Assim, ao invés da unidade de análise estabelecida
anteriormente, poderíamos ter definido o término da unidade de corte pela
“ocorrência da divisão do objeto em duas partes distintas”. Nestátaaso, a
ocorrência do comportamento só seria contada quando o objeto fosse
completamente seccionado, não importanto o número de interrupções nos
movimentos, ou no contato da faca com o objeto.
Um último cuidado a ser tomado com relação ao problema de definição de
classes, diz respeito à denominação a ser dada à classe. É importante atribuir
nomes às classes analisadas, pois isso facilita o processo de comunicação, bem
como sua referência posterior, eliminando a repetição constante de sua definição.
Segundo Cunha2, o nome adotado deverá ser o que mais pronta e
objetivamente evoque a definição da classe. No exemplo analisado, a
denominação “cortar alimento com faca” é apropriada, uma vez que sugere ao
leitor a ação que está sendo definida.
Resumindo os cuidados que um observador deve tomar ao definir uma
classe, poderíamos dizer que:

Ao definir uma classe de comportamentos o


observador deverá:
— Identificar as condições necessárias à
ocorrência dos comportamentos, quando
estas condições existirem;
— Descrever os eventos na seqüência em que
ocorrem, isto é, do estado inicial ao final;
— Identificar a unidade de análise que está
sendo considerada; e
— Atribuir uma denominação à classe.

Para verificar até que ponto o que foi dito nesta unidade foi aprendido por
você, seria conveniente que relesse o texto referente à Unidade 12, “Agrupamento
dos comportamentos em classe”, e tentasse identificar se os cuidados
mencionados na Unidade 9, bem como nesta, estão sendo levados em conta.
Existem três exemplos, no texto da Unidade 12, que contêm descrições de
agrupamentos. Essas descrições poderiam, agora, ser reelaboradas por você, sob
a forma de uma definição de classe comportamental. Faça isso em folhas à parte.
Como definir é uma tarefa complexa e difícil, e a fim de que você não omita
nenhum item, fornecemos abaixo um padrão para orientá-lo na forma de
apresentar definições. Isto é, após analisar as descrições dos agrupamentos,
segundo os critérios e cuidados já mencionados, sugerimos que transcreva o
resultado de sua análise do seguinte modo:

2. Walter Hugo A. Cunha. Alguns princípios de ^dtegorização, descrição e análise do


comportamento. Ciência e Cultura, 1976, 28, 15-24.

152
1) Critério de agrupamento e exemplo de comportamentos incluídos na classe;
2) Denominação da classe;
3) Descrição das condições;
4) Descrição dos eventos em sua seqüência; e
5) Descrição da unidade de análise.
Após realizar esta tarefa, compare suas definições com as que apresentamos
a seguir:

EXEMPLO 1

Agrupamento pela morfologia


Comportamentos incluídos: “apagar com a borracha” , “riscar com a
caneta” e “lixar a unha” (conforme proposto na Unidade 12).

Denominação: Movimento em vai e vem.


Condição: Estando os dedos de uma das mãos flexionados ao redor de um
objeto de modo a prendê-lo, e uma parte do objeto em contato com
uma superfície;
Eventos em
sua seqüência: consiste em mover linearmente o antebraço e/ou a mão, que
prende o objeto, alternando sucessivamente o sentido do
movimento.
Unidade de
análise: A unidade inicia quando inicia o movimento do antebraço e/ou
da mão, e termina quando ocorre: a) uma interrupção maior
do que 10 segundos, na seqüência dos movimentos; ou b) perda
de contato do objeto com a superfície; ou c) perda de contato da
mão com o objeto.
EXEMPLO 2

Agrupamento pela funcionalidade

Comportamentos incluídos: “passar o trator”, “passar o arado animal’


“cavar com a enxada ou enxadão” (conforme proposto na Unidade 12).

Denominação: Sulcar a terra.


Condição: Através de um instrumento (arado, enxada ou enxadão);
Eventos em
sua seqüência: produzir sulcos e/ou revolver a terra.
Unidade de
análise: Uma unidade ocorre quando acontece mudança de carreador
(fileira), ou quando ocorre uma interrupção da tarefa igual ou
superior a cinco minutos.
Como pode ver, a identificação da unidade de análise em agrupamentos
exclusivamente funcionais é bem mais simples de que nos agrupamentos
morfológicos, pois basta identificar o término do efeito comportamental definido
como critério.

153
EXEMPLO 3

Agrupamento pela morfologia e função

Comportamentos incluídos: “cortar pão”, “cortar cebola” e “cortar carne”


(conforme Figura 12.1 da Unidade 12).
Denominação: Cortar alimento com faca.
Condição-. Estando os dedos de uma das mãos sobre um objeto (pão,
cebola, carne), que se encontra apoiado numa superfície, de
forma a prendê-lo e imobilizá-lo, e, na outra mão, estando o
polegar e indicador estendidos, e os dedos médio, anular e
míi.imo flexionados ao redor do cabo de uma faca;
Eventos em
sua seqüência: consiste em deslocar horizontalmente o antebraço e a mão que
segura a faca para frente e para trás, introduzindo e deslocando a
^aca no objeto, de forma a produzir a divisão do objeto.
Unidade de
análise: Uma unidade inicia quando ocorre o deslocamento do
antebraço e da mão, e termina quando: a) é interrompido o
contato da faca com o objeto (pão, cebola, carne), ou b) ocorre
uma interrupção na seqüência de movimentos que produzem o
corte, interrupção esta de 10 ou mais segundos.
Comparando os três exemplos, verificamos que, no Exemplo 2, o tempo
estabelecido como critério de término de unidade é superior ao tempo estabelecido
nos outros (Exemplos 1 e 3). Você poderá se perguntar o porquê desta diferença.
É bom lembrar que quando se usa critérios temporais (que se baseiam na duração
total ou na pausa dos comportamentos) eles devem ser escolhidos com certo
cuidado. Embora seja arbitrária, a escolha do critério deverá levar em conta a
duração média dos comportamentos. Assim, comportamentos que têm uma
duração breve requerem critérios mais restritos, e comportamentos de longa
duração, critérios mais amplos. Esta foi a razão porque escolhemos 10 segundos
como critério de pausa para as classes “movimento em vai e vem” e “cortar alimento
com faca” , e cinco minutos para a classe “sulcar a terra” .

Exercício de estudo
O exercício'de estudo que iremos realizar terá como base a Unidade 12. Ou
seja, você irá analisar as Figuras 12.2 Comportamento 1; 12.3 Comportamento
2; 12.4 Comportamento 3 e 12.5 Comportamento 4 do exercício de estudo da
Unidade 12.
Obedeça o padrão adotado:

Critério de agrupamento e exemplo de comportamentos incluídos na classe;


Denominação da classe;
Descrição das condições;
Descrição dos eventos em sua seqüência; e
Descrição da unidade de análise.

154
1) Considere a Figura 12.2 Comportamento 1 e a Figura 12.5 Comportamento
4. Usando o critério morfológico, defina a classe que contém o
comportamento 1 e o comportamento 4.

2) Considere, agora, a Figura 12.2 Comportamento 1, a Figura 12.3


Comportamento 2 e a Figura 12.4 Comportamento 3. Usando o critério
funcional, defina a classe que contém os comportamentos 1, 2 e 3.

155
3) Finalmente, analise a Figura 12.3 Comportamento 2 e a Figura 12.4
Comportamento 3. Usando o critério duplo, defina morfológica e
funcionalmente a classe que contém os comportamentos 2 e 3.

156
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