Você está na página 1de 32

SB.

24-Y (Jaguaribe SW )

2
GEOLOGIA
2.1 Contexto Geológico Regional felizmente ainda insuficientes para solucionar os
diversos problemas inerentes à sua história evoluti-
2.1.1 Generalidades va.

A Folha Jaguaribe SW localiza-se no cen-


tro-oeste da Província Borborema (Almeida et al., 2.1.2 Subdivisão Tectono-Estratigráfica da
1977), abrangendo, ainda, parte da porção oriental Província Borborema
da Província (Sinéclise) do Parnaíba (figura 2.1).
Engloba domínios afetados pela Orogênese Bra- Os trabalhos pioneiros de Brito Neves (1975;
siliana, situados entre os crátons do São Francisco 1978); Santos & Brito Neves (1984) e Santos et al.
e São Luís. A província, como um todo, cobre uma (1984) foram responsáveis pelos primeiros ensaios
2
superfície superior a 380.000km da Região Nor- de compartimentação da Província Borborema. Fo-
deste do Brasil e exibe um quadro composto por ram individualizas extensas faixas de dobramentos
conjuntos de intrincada evolução geológica em marginais (Sergipana e Médio Coreaú), interiores (Ria-
tempos arqueanos-proterozóicos. Extensas zonas cho do Pontal, Piancó-Alto Brígida, Seridó, Pa-
de cisalhamento dividem a província em diversos jeú-Paraíba, Jaguaribeana, Rio Curu-Independência),
blocos (domínios) orogênicos, caracterizados por desenvolvidas durante o Ciclo Brasiliano. Estas faixas
associações litológicas e evolução tecto- se alternam com expressivos “maciços” gnáissi-
no-metamórfica específicas (Caby et al., 1991). co-migmatítico-graníticos, de idades radiométricas
Esse regime, de caráter predominantemente trans- (Rb/Sr) paleoproterozóicas a arqueanas, exibindo
corrente, é responsável por seu atual arcabouço re- retrabalhamento no Neoproterozóico (Pernambu-
gional, produto da justaposição de blocos e/ou fai- co-Alagoas, Caldas Brandão, Rio Piranhas, Tauá,
xas de diferentes graus metamórficos e, muitos de- Santa Quitéria e Marginal do Cráton São Francisco).
les, com história evolutiva característica, distinta da A distribuição geográfica desses elementos pode
dos blocos adjacentes. ser visualizada na figura 2.2.
A sua região de abrangência tem sido, nas últi- A consolidação desse modelo propiciou o surgi-
mas décadas, palco de inúmeros trabalhos de cu- mento de controvérsias, defendidas por duas ver-
nho geológico, geotectônico e geocronológico; in- tentes principais, no que se relaciona aos temas

– 7–
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

650 0
450
55
0
00 000

10 OC
EA
1

N
O
0
750 7
10
8
6

AT
2

LÂNTIC
3
0
35
150
4

O
Legenda 5
1 - Rio Branco;
2 - Tapajós; 9
3 - São Francisco;
250
4 - Tocantins; 10
5 - Mantiqueira;
6 - Borborema; Folha Jaguaribe SW
7 - Amazônica;
8 - Parnaíba;
9 - Paraná;
10 - Costeira e Margem Continental 1.000km
350

Figura 2.1 – Províncias estruturais do Brasil (Almeida et al., 1977).

mono (Caby, 1985, 1989; Caby & Arthaud, 1986; estudos de Davison & Santos (1989), na Faixa
Arthaud & Hartmann, 1986; Archanjo & Salim, 1986; Sergipana, seguidos por trabalhos de Jardim de Sá
Archanjo & Bouchez, 1991; Caby et al., 1995) e poli- et al. (1992) e Jardim de Sá (1994), devendo-se, no
ciclismo (Jardim de Sá & Hackspacher, 1980; Jar- entanto, sua difusão ao longo de toda a província,
dim de Sá, 1984, 1988 e 1994) orogenético das fai- aos trabalhos de Van Schmus et al. (1994), Santos
xas de dobramentos. (1995), Santos et al. (1997) e Silva Filho (1995), cujo
A partir da década de 80, o conceito de terrenos modelo pode ser visualizado na figura 2.3. Dessa
suspeitos (Coney et al., 1980) passou a ganhar es- forma, atualmente, a Província Borborema constitui
paço nas Ciências Geológicas, a tal ponto que, di- o produto de intensa aglutinação de diversos terre-
versos compartimentos crustais do mundo, tais nos alóctones, cada um deles com características
como: Apallaches, Cordilheira Americana, Tasma- e evolução geológica específicas, representando
nides da Austrália, entre outros, vêm sendo consi- verdadeiras micro-placas continentais, onde estão
derados como mosaicos de terrenos suspeitos, le- registrados ciclos orogenéticos pretéritos. A agluti-
vando os estudiosos da Província Borborema a re- nação final acima referida, ocorreu no desenrolar
definir sua compartimentação, à luz desses novos da Orogênese Brasiliana, que teve seu ápice em
conhecimentos. O processo iniciou-se com os 580± 30Ma (Jardim de Sá, 1994).

– 8–
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

42º00’ 40º00’ 34º00’


COBERTURAS FANEROZÓICAS
F O
COBERTURAS MOLÁSSICAS h Fortaleza c
4º00’ e 4º00’
COBERTURAS METASSEDIMENTARES

a
E

no
DOS CRÁTONS E DOS MACIÇOS

ro
f


nc
SISTEMAS DE DOBRAMENTOS

Parnaíba
D

ia
a - Sergipano; b - Pajeú-Paraíba; g Coste
ira

A
c - Riacho do Pontal; d - Piancó-Alto Brígida; f

t lâ
e - Seridó; f - Jaguaribeano; Natal
6º00’ e 6º00’
g - Rio Curú-Independência;

Província

ntico
f C e B
h - Médio Coreaú
MACIÇOS GNÁISSICO-MIGMATÍTICO- B
GRANÍTICOS
A - Pernambuco-Alagoas
B - Caldas Brandão d b
8º00’ 8º00’
C - Rio Piranhas Recife
c
D - Tróia A
E - Santa Quitéria A
F - Granja G
G - Marginal do Cráton São Francisco
10º00’ 10º00’
Cráton São a
Francisco
ZONAS DE CISALHAMENTO
E FALHAS
42º00’ 40º00’ 34º00’
FOLHA JAGUARIBE SW

Figura 2.2 – Subdivisão da Província Borborema em maciços, sistemas de dobramentos e coberturas.


Fonte: Santos & Brito Neves, 1984.

2.1.3 Subdivisão Tectono-Estratigráfica da acrescionários, como sinônimos, constituindo enti-


Folha Jaguaribe SW dades com forte significado genético, implicando a
presença de acresção continental.
Como todo novo conceito, sua correta aplicação A individualização e caracterização de terrenos
e aceitação, ainda gera controvérsias, devidas, envolvendo concepções genéticas (terrenos acres-
principalmente, à grande profusão de termos a ele cionários ou suspeitos) subentende a realização de
relacionados, tais como: terrenos, terrenos suspei- estudos multitemáticos, envolvendo, entre outros,
tos, terrenos acrescionários, terrenos alóctones, estratigrafia, sedimentologia, metamorfismo, geolo-
terrenos tectono-estratigráficos, entre outros. gia estrutural, litoquímica, geocronologia e paleo-
Berg et al. (1978) usaram o termo terrenos tecto- magnetismo, num estágio tal, que boa parte da Re-
no-estratigráficos, considerando-os como entida- gião Nordeste do Brasil, nela incluindo-se a área
des geológicas limitadas por descontinuidades ocupada pela Folha Jaguaribe SW, ainda não dis-
tectônicas (falhas e/ou zonas de cisalhamento) de põe. Diante disso, os autores do presente trabalho
extensão regional, caracterizadas por uma história optaram pela sua subdivisão em terrenos tecto-
geológica evolutiva distinta da dos terrenos contí- no-estratigráficos, cuja distribuição pode ser visuali-
guos. Trata-se, portanto, de um conceito ligado, zada na figura 2.4, onde acham-se individualizados,
muito mais a caracteres descritivos do que genéti- dentro do Domínio Cearense, os terrenos Ceará,
cos, e abrange temas fundamentais da análise de Ceará Central, Orós-Jaguaribe, Granjeiro e Acaraú,
terrenos, como tectônica e estratigrafia. Jones et al. e, dentro do Domínio da Zona Tansversal, o Frag-
(1983) consideraram os termos, terrenos e terrenos mento Icaiçara e o Terreno Piancó-Alto Brígida.

– 9–
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

42º00’ 40º00’ 38º00’ 36º00’ 34º00’


2º00’ 2º00’

Oc
ea no
TMC
Fortaleza

LT
4º00’ At 4º00’
lân
t ico
Bacia do
Parnaíba TOJ
TCE
Bacias
Costeira
Bacia s
TAC
Potiguar
SP TOJ
ZC ? Natal
6º00’ ? 6º00’
TCC
TRP
LJT TSD TCB

TOJ TGJ
LP LP
João
Bacia do TAP Pessoa
Araripe TPB
TAM TRC
8º00’ TPB 8º00’
TGJ

TPA
FIC TAP Recife
LPE
TLC
TPA
TPO TPA
TCM
á b
Jato

TCM
TSE
10º00’ 10º00’
Bacia do Tucano –

CRÁTON DO
SÃO FRANCISCO TSE

TSE
0 50 100 km
CSF

12º00’ 12º00’

42º00’ 40º00’ 38º00’ 36º00’ 34º00’

FIC - Fragmento Icaiçara; Terrenos: TAC - Acaraú; TAM - Alto Moxotó; TAP - Alto Pajeú;
TCB - Caldas Brandão; TCC - Ceará Central; TCE - Cearense; TMC - Médio Coreaú;
TGJ - Granjeiro;TMC - Canindé-Marancó; TOJ - Orós-Jaguaribe; TPA - Pernambuco-Alagoas;
TPB - Piancó-Alto Brígida; TPL - Paulistana; TPO - Riacho do Pontal; TRC - Rio Capibaribe;
TRP - Rio Piranhas; TSD - Seridó; TSE - Sergipano; CSP-Cráton São Francisco; ZCSP - Zona
de Cisalhamento Senador Pompeu; LP - Lineamento Patos; LPE - Lineamento Pernambuco;
LT - L i n e a m e n t o Tr a n s b r a s i l i a n o ; L J T - L i n e a m e n t o J a g u a r i b e - Ta t a j u b a .
Zona de cisalhamento transcorrente; Zona de cisalhamento contracional
Folha Jaguaribe SW

Fonte: Jardim de Sá (1994) e Santos et al. (1998), modificado.

Figura 2.3 – Principais terrenos tectono-estratigráficos propostos para a Província Borborema.

– 10 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

42º00’ 39º00’
6º00’ 6º00’
T
TCC
TAC
TCE SP

ZCT
ZC
BM
T Pp
T T
Eo TCC
BM
T ZCA

T T

FB
T TOJ TGJ
Eo

ZC
Pp
BM
Eo TOJ
LP

Eo
T
TPB

Eo
Pp
Pp Pp
T T Pp
T BM

BM BM
TOJ

T BM

TGJ
T TPB
J
Pp TO
T TPB
TGJ TPB
T
LPE BM T FIC
8º00’ TPB 8º00’
42º00’ ESCALA 39º00’
10 km 0 10 20 40 50km

COBERTURAS SEDIMENTARES DOMÍNIO DA ZONA TRANSVERSAL

T Formações Superficiais BM Bacias Sedimentares Mesozóicas FIC Fragmento Icaiçara

Pp Bacia do Parnaíba Eo Bacias Molassóides Eoproterozóicas TPB Terreno Piancó - Alto Brígida

DOMÍNIO CEARENSE
Convenções
TCE Terreno Ceará TOJ Terreno Orós - Jaguaribe
Limites entre unidades litoestratigráficas
Zona de cisalhamento transcorrente
TCC Terreno Ceará Central TGJ Terreno Granjeiro
Zona de cisalhamento contracional
TAC Terreno Acaraú
Falha Normal

Lineamentos: Patos (LP) e Pernambuco (LPE).


Zonas de Cisalhamento: de Aiuaba (ZCA), de Senador Pompeu (ZCSP), de Tauá (ZCT) e de Farias Brito (ZCFB).

Figura 2.4 – Subdivisão da Folha Jaguaribe SW em terrenos tectono-estratigráficos.

2.2 Estratigrafia Após a análise e o tratamento dos dados obtidos


neste trabalho, o quadro estratigráfico final da área
2.2.1 Generalidades conflita, em alguns pontos, com algumas hipóteses
existentes ao nível dos recentes conhecimentos geo-
À semelhança de outras regiões ocupadas por lógicos nordestinos. O modelo litocronoestratigráfico
rochas pré-cambrianas polideformadas, a organi- proposto, atende aos preceitos do Código de No-
zação litoestratigráfica da Folha Jaguaribe SW tam- menclatura Estratigráfica, notadamente no tocante à
bém mostrou-se uma tarefa bastante árdua e ainda manutenção da maioria das denominações já consa-
não pode ser considerada consensual, já que apre- gradas na literatura. De forma a uma melhor adapta-
senta alguns aspectos passíveis de discussão. ção aos modelos geológico/geotectônico atuais, al-
Isso se deve, principalmente, ao insuficiente nível gumas unidades litocronoestratigráficas foram rede-
de informações referentes à cartografia geológica, finidas, em função dos novos dados geocronológicos
análise estrutural, geofísica, litogeoquímica e geo- e das evidências de campo, adquiridos durante a
cronologia. execução do trabalho ora apresentado.

– 11 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Foram identificados conjuntos litotectônicos dis- constituem as bacias sedimentares, a descrição dos
tribuídos do Arqueano ao Proterozóico Superior, ten- corpos desta unidade foi efetivada neste ítem espe-
do sido evidenciado que os mais antigos foram re- cífico, e não nos seus respectivos terrenos de ocor-
trabalhados nos ciclos Transamazônico e Brasilia- rência, para não torná-la repetitiva, já que são muito
no. Citam-se os complexos arqueanos Cruzeta e comuns e observados em quase todos os domínios
Granjeiro; os paleoproterozóicos Barro, Parnamirim, da folha mapeada. Os termos discriminados, englo-
Acopiara, Parambu, Jaguaretama e São Nicolau; e bam quatro grupos: Diques Ácidos a Intermediários,
os conjuntos mesoproterozóicos Ceará, Orós e Ria- Granitóides Pós-Tectônicos, Tardi a Pós-Tectônicos
cho Gravatá. As seqüências neoproterozóicas são e Cedo a Sintectônicos (quadro 2.1).
Lavras da Mangabeira e Caipu, e os grupos Salguei-
ro e Cachoeirinha. Ocorrem, ainda, rochas plutôni-
cas em variado grau de deformação e de idades 2.2.2.2 Granitóides Cedo a Sintectônicos
que vão do Arqueano ao Neoproterozóico. (Ng1a, b ,c, d)
As últimas manifestações relacionadas às fases
finais do Ciclo Brasiliano, são registradas através São os corpos de maior expressão existentes na
da unidade Diques Ácidos a Intermediários (da), folha. Têm forma alongada, limitam-se por extensas
que reúne aplitos, riolitos, andesitos, pegmatitos e zonas de cisalhamento e, por isso, dispõem-se pa-
veios de quartzo, e a sedimentação molássica do ralelamente aos trends estruturais regionais, po-
Grupo Rio Jucá, do Eocambriano, na Bacia trans- dendo exibir uma lineação de estiramento mineral
tensiva do Cococi. de baixo rake e foliação milonítica verticalizada e
Finalizando o desenho da Folha Jaguaribe SW, ci- contatos gradacionais. São heterogêneos, forte-
tam-se as rochas paleozóicas da Bacia do Parnaíba, mente foliados nas bordas, isotrópicos na parte
as bacias interiores de Iguatu, Lima Campos, Lavras central (foto 1) e, geralmente, apresentam mais de
da Mangabeira e Malhada Vermelha, as do Araripe, uma geração de magma. Retêm restos de rochas
compreendendo parte dos estados do Ceará, de Per- básicas e das encaixantes. Os dados geocronoló-
nambuco e do Piauí, e a Bacia Serra Vermelha, a sul, gicos disponíveis, os posicionam no final do Ciclo
no Estado de Pernambuco. As bacias sedimentares Brasiliano, por volta de 650Ma (Gomes et al., 1981).
encontram-se aleatoriamente dispersas nos vários Composicionalmente apresentam características
terrenos que compõem os setores da área trabalha- de magmatismo calcialcalino a alcalino, engloban-
da. Por isso, para melhor visualização e evitar repeti- do tipos essencialmente plutônicos. Ressalte-se
ções, elas foram descritas num ítem específico, e não que alguns corpos aqui posicionados, podem, na
no seu respectivo terreno de ocorrência. realidade, pertencer a outra classe mais nova, pois,
Ainda, há, em vários locais da Folha Jaguaribe como concluíram Macedo et al. (1997) para o grani-
SW, um Magmatismo Básico (diques e soleiras de tóide de Serrinha, por problemas de contaminação
diabásio) relacionado ao que Almeida (1967) deno- por magma diorítico, a idade do corpo pode ser
minou de fase de Reativação Wealdeniana da Pla- menor do que a obtida pela datação. Entretanto, é
taforma Sul-Americana. A figura 2.5 apresenta, su- mais ou menos consensual, que tais granitóides re-
cintamente, o arcabouço geológico global da folha. presentam um estágio de posicionamento sincolisi-
Considerando a subdivisão em terrenos tecto- onal em relação à grande colagem brasiliana (capí-
no-estratigráficos proposta para as regiões da folha tulo 3, item 3.2).
ocupadas por rochas pré-cambrianas, o presente Parente & Arthaud (1995) mapearam o batólito
capítulo iniciar-se-á pela descrição das unidades que granítico situado entre a Zona de Cisalhamento de
transcendem os limites dos citados terrenos, como: Tatajuba e a de Farias Brito, como do tipo Lima
Magmatitos Neoproterozóicos, Bacias Sedimenta- Campos, do Mesoproterozóico, pertencente ao
res, Magmatismo Básico, e Formações Superficiais. Grupo Orós. Neste trabalho de síntese da Folha Ja-
guaribe SW, este batólito foi considerado como de
idade neoproterozóica, pelas suas características
2.2.2 Magmatitos Neoproterozóicos litoestruturais. Estruturalmente apresentam-se com
fácies deformada bem pronunciada, notadamente
2.2.2.1 Generalidades nas bordas, e, litologicamente compreendem: or-
tognaisses granodioríticos (Ng 1a); granitos, grano-
Usando o mesmo procedimento adotado para a dioritos, monzonitos, tonalitos e sienitos (Ng 1b);
descrição da parte referente às unidades que granitos e granodioritos porfiríticos a hornblenda e

– 12 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

42º00` 39º00`
6º00` Pa N 2
6º00`
N 2

A 1 N
1 NN 2
2

N 1 Pa
Dl TQc Ssgj Pa
Ac N 1 Pa Atg
Cpo Dp N 2
Pgrmg
Dc
N 2
N 2
Ppa
N 1 BI

N 3 Atg TQm

g
TQc

At
N 2

TQc BL
O Mor
I I I
I I
I I I N 1 Atg
Ssgj N 1 Mor PJ
Mor
TQc TQc N 1
Mc Mor N 2
A
p
Nc N 2
Cpo N 2
TQc TQc N 2

Ag
N 1 A
Dl TQc m
N
2 P Bl Nl
Mor Psn
P
Dc O Mor
P
Ag
TQc
Pgr
A
O
N 1
Nc N 1
O
Mor
Dp TQc
N 3
Sm
Ssgj
N 1 BA
TQc A
BA

Dc
Dc A
BA
N 1

N 1 Sm

N 3

Psn N 2
TQc N 1
N 1 TQc Nc Nc Sm BA
Dc NS
Mi TQc Sm
N 2
Dp TQc
A A
Ssgj N 3
NS
Ag N P 1
Nc
2
Pgr TQc N
1 N 3
Pgr Pp
8º00` BA N 2 Pba Mrg 8º00`
42º00` 39º00`

LEGENDA
Coberturas cenozóicas PALEOPROTEROZÓICO
Cobertura colúvio - eluviais (TQc)
Formação Moura (TQm)
Coberturas mesozóicas Seqüência Caipú (Ncp)
BA: Bacia do Araripe BI: Bacia do Iguatu; BL: Bacia Granitóides sintectônicos (Pg ) Complexo Barro ( Pba )
de Lima Campos; Blm: Bacia de Lavras da Mangabeira.
ARQUEANO
Seqüência Lavras da Mangabeira (Nl) Complexo Metaplutônico (Pgr)
Magmatismo básico Metatonalitos (Ag 1)
Suíte TTG (A )

Coberturas paleozóicas Complexo Jaguaretama (Pj)


Bacia do Parnaíba: formações: Jaicós (Ssgj); Grupo Cachoeirinha (Nc) Complexo Cruzeta (Ac)
Complexo Granjeiro ( Ag )
Pimenteiras (Dp);Cabeças
; (Dc); Longá (Dl) e Poti (Cpo)
Complexo São Nicolau (Psn)

Grupo Rio Jucá ( O) Grupo Salgueiro (Ns) Complexo Tonalítico - Granodiorítico (Atg)
Complexo Granítico-Migmatítico (Pgrmg)
NEOPROTEROZÓICO MESOPROTEROZÓICO
Granitóides pós-tectônicos: (Ng 3) CONVENÇÕES
Complexo Parambu (Ppa)
Grupo Orós: (Mor) Seqüência Ipueirinha (Mi)
Limite entre unidades litoestratigráficas
Granitóides tardi a pós-tectônicos: (Ng 2)
Complexo Parnamirim (Pp)
Zona de cisalhamento
Grupo Ceará (Mc) Complexo Riacho Gravatá (Mrg)
Granitóides cedo a sintectônicos: (Ng 1) 10 0 10 20km
Falha extensional
Complexo Acopiara ( Pa )
Escala

Figura 2.5 – Arcabouço geológico simplificado.

biotita (Ng 1c), enquanto o tipo Ng 1d engloba diori- traços estruturais, sendo por elas influenciados,
tos e quartzo dioritos porfiróides. Sua idade é esti- apresentando, como resposta, uma incipiente foli-
mada em cerca de 650Ma (quadro 2.1). ação desenvolvida notadamente nas bordas.
Apresentam raros restos das encaixantes e de bá-
sicas (foto 2), além de contatos bruscos a gradaci-
2.2.2.3 Granitóides Tardi a Pós-Tectônicos onais com as encaixantes. Geocronologicamente
(Ng2a, b) são datados entre 570 e 620Ma, e, petrografica-
mente, são representados por biotita granitos e
São corpos intrusivos, de dimensões alongadas monzodioritos (Ng 2a) e quartzo sienitos, granitos,
ou ovaladas, às vezes circulares, em forma de granodioritos e monzodioritos (Ng 2b) (quadro
stocks, alinhados paralelamente aos grandes 2.1).

– 13 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Quadro 2.1 – Caracterização dos granitóides meso e neoproterozóicos.

GRANITÓIDES

MESOPROTEROZÓICOS NEOPROTEROZÓICOS

CEDO A TARDI A
CARACTERÍSTICAS ANOROGÊNICOS PÓS-TECTÔNICOS (Ng3)
SIN-TECTÔNICOS (Ng1) PÓS-TECTÔNICOS (Ng2)
Stocks circulares a
FORMA DE OCORRÊNCIA Corpos estreitos alongados Batólitos alongados Stocks
alongados
NÍVEL CRUSTAL Epizona Mesozona Meso a epizona Epizona
ENCLAVES Supracrustais e autólitos
Supracrustais Supracrustais Supracrustais
quartzo-dioríticos
Foliação milonítica Foliação milonítica marginal Foliação milonítica marginal
DEFORMAÇÃO Isotrópico
acentuada medianamente acentuada incipiente a isotrópica
Fina a média, localmente
TEXTURA Porfirítica Grossa a porfirítica Média a grossa / porfirítica
porfirítica
Ortognaisse granítico a gra- Biotita granito; biotita grano-
nodiorítico (Ng1a); granito, Biotita granito, monzodiorito diorito; hornblenda monzo-
ESPECTRO Biotita-hornblenda granito e
monzonito e sienito (Ng1b); (Ng2a); granito; quartzo sie- diorito e monzonito (Ng3a);
COMPOSICIONAL biotita granito
hornblenda-biotita granito nito (Ng2b) granito, monzodiorito e sie-
(Ng1c) nito avermelhado (Ng3b)
K-feldspato, plagioclásio, K-feldspato, plagioclásio,
MINERAIS quartzo, biotita e/ou K-feldspato, plagioclásio, K-feldspato, plagioclásio,
quartzo, biotita e/ou horn-
CARACTERÍSTICOS quartzo e biotita quartzo e biotita
hornblenda blenda
MINERAIS ACESSÓRIOS Zircão, ilmenita e magnetita Apatita e zircão Zircão, apatita e magnetita Zircão, magnetita e epidoto
Calcialcalino de médio a Alcalino, localmente com
QUIMISMO Calcialcalino a alcalino Alcalino
alto potássio afinidade trondhjemítica
ORIGEM IM e IC IC IC IC
IDADE (Ma) 1.673 650 570 a 620 520 a 550

2.2.2.4 Granitóides Pós-Tectônicos (Ng3a, b, c) nas imediações de batólitos graníticos, com os


quais têm íntima correspondência genética, re-
Os corpos mapeados têm forma geralmente ar- presentando os seus estágios finais. Apresen-
redondada, tamanho reduzido e contatos nitida- tam-se geralmente isolados, porém, às vezes,
mente discordantes com as encaixantes. Ocorrem formam enxames de diques, como a sudeste e
profusamente em todos os terrenos da folha leste de Parambu, no extremo-nordeste da Folha
mapeada, tendo idades amplamente aceitas como Valença do Piauí (SB.24-Y-A), nas imediações do
do final do Ciclo Brasiliano, com valores situados no povoado Marrecas, porção noroeste da Folha
intervalo de 520 a 550Ma, porém com alguns resul- Iguatu (SB.24-Y-B) e a nordeste de Patos, na Fo-
tados de 512Ma (Gomes et al., 1981), este fora dos lha Picos (SB.24-Y-C). Datações efetuadas em
limites da Jaguaribe SW. Nesta unidade foram dis- outras áreas geologicamente semelhantes,
criminados os seguintes tipos: granitos e granodio- apontaram valores compreendidos no intervalo
ritos leucocráticos com K2O>Na2O (Ng 3a); grani- de 452 a 550Ma (Brito Neves & Pessoa, 1974),
tos, monzonitos, granodioritos e sienitos (Ng 3b); pi- atingindo, pois, o Ordoviciano. Litologicamente
roxenitos (foto 3) e quartzo-alcalifeldspato sienitos compreendem riolitos, traquitos, aplitos, andesi-
de coloração avermelhada a acinzentada (Ng 3c) tos, dacitos, pegmatitos e veios de quartzo. Estu-
(quadro 2.1). dos em lâminas delgadas, efetuados em um pro-
vável andesito milonitizado, próximo ao contato
2.2.2.5 Diques Ácidos a Intermediários (da) do embasamento com uma pequena bacia tafro-
gênica, a sul da Bacia do Cococi, revelaram que
Apresentam-se em corpos com espessura da a fase tectônica inicial, formadora de grabens
ordem de dezenas de metros e comprimento até pertencentes ao final do Ciclo Brasiliano, foi sin-
quilométrico, não deformados, não metamorfiza- crônica a um vulcanismo ácido do tipo andesíti-
dos e verticalizados. Observam-se geralmente co/riolítico (figura 2.5).

– 14 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

2.2.3 Bacia Transtensiva do Cococi fácies proximal, associados a zonas de falha, na


base, com planície aluvial no topo (quadro 2.3).
2.2.3.1 Generalidades
Formação Cococi (ÎOc)
Moraes et al. (1962, apud Vasconcelos et al.,
1998) pioneiramente denominaram de É a que aflora mais extensivamente na bacia. É
“Eo-Paleozóico do Rio Jucá” a seqüência anquimeta- composta quase que exclusivamente de sedimen-
mórfica constituída de conglomerados, arenitos e fo- tos pelíticos, tendo suas melhores exposições ao
lhelhos, com raras intercalações de calcário, afloran- longo do rio Jucá. Constitui-se de folhelhos, ar-
tes no leito do rio homônimo. Neste trabalho, estas dósias, siltitos calcíferos e argilitos, coloração vari-
denominações também serão adotadas, com idade ando de avermelhada a arroxeada. Próximo ao
eocambriana, haja vista as formações apresenta- topo voltam a ocorrer horizontes de arenitos arcosi-
rem-se anquimetamorfizadas e deformadas em regi- anos. Ambientes de sedimentação: flúvio-lacustre
me frágil, jazendo num semi-graben. O Grupo Rio a leques aluviais no topo (quadro 2.3).
Jucá marca o final do Ciclo Brasiliano, é representado
por sedimentos molássicos, recobre discordante- Formação Melancia (ÎOm)
mente rochas pré-cambrianas e, do mesmo modo, é
recoberto pelos sedimentos paleozóicos da Forma- Representa uma fase de reativação tectônica da
ção Jaicós, sendo, por isso, aqui considerado como bacia. Predominam conglomerados, brechas e mi-
de idade eocambriana. Tectonicamente representa crobrechas, com intercalações, no topo, de areni-
uma bacia relacionada a reativações transtensivas tos finos, siltitos e até mesmo pelitos. Os ambientes
de zonas de cisalhamento transcorrentes protero- de sedimentação foram leques aluviais na base e
zóicas. planície de inundação no topo (quadro 2.3).
Além da sua ocorrência clássica na Bacia do Co-
coci, ocorre também em outras pequenas áreas a
sul, como em Primavera, Vaquejador, ao longo do 2.2.4 Bacia do Parnaíba
riacho Riachão, riacho Santo Antônio e em São Ju-
lião e Mandacaru, nas folhas SB.24-Y-A e 2.2.4.1 Grupo Serra Grande
SB.24-Y-C. Vasconcelos et al. (1998), seguindo as
idéias de Cavalcante et al. (1983), consideraram O nome Serra Grande foi usado pela primeira vez
ta i s s edim en t o s c o mo d e i d a d e cam- por Small (1913) para representar um espesso pa-
bro-ordoviciana, subdivididos da base para o topo cote de arenitos que forma a escarpa leste da Bacia
nas formações Angico Torto, Cococi e Melancia, do Parnaíba. Carozzi et al. (1975) elevaram a For-
descritas adiante (figura 2.5). O quadro 2.2 mostra mação Serra Grande à categoria de grupo, congre-
a distribuição das bacias sedimentares presentes gando as formações: Mirador, Ipu, Tianguá e Itaim.
na Folha Jaguaribe SW. Segundo Góes & Feijó (1994), Caputo & Lima
(1984) e Góes et al. (1992) redefiniram este grupo,
representado pelas formações Ipu, Tianguá e Jai-
2.2.3.2 Grupo Rio Jucá cós, o que será adotado neste trabalho.

Formação Angico Torto (ÎOa) Formação Jaicós (Ssgj) – A Formação Jaicós


(Plummer, 1946, in Góes & Feijó, 1994) é a única uni-
Ocorre bordejando toda a bacia, sendo a unida- dade do Grupo Serra Grande que aflora na Folha Ja-
de basal do grupo. Compõe-se de sedimentos pse- guaribe SW (figura 2.5). É representada por arenitos
fíticos, correspondendo a conglomerados arcosia- cremes a esbranquiçados, granulação média, gros-
nos, intercalados, no topo, com arenitos mais finos sa a conglomerática, geralmente caulínicos. Exibem
e siltitos. Os seixos dos conglomerados são de lito- estratificação cruzada de pequeno porte na parte
logias pré-cambrianas como: granitos, gnaisses, basal. Na parte média predominam arenitos mal se-
xistos, quartzitos, quartzo e outras. Os tipos litológi- lecionados, finos a grossos, com intercalações de
cos arcosianos presentes caracterizam uma sedi- conglomerados. Na parte superior ocorrem arenitos
mentação realizada em ambiente de forte gradien- finos a médios, cremes e, às vezes, avermelhados.
te energético, com desníveis topográficos acentua- Apresentam estratificação cruzada de pequeno por-
dos, típicos de depósitos de leques aluviais de te e intercalações de siltitos argilosos. Foi deposita-

– 15 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

BACIAS DO
IDADE AMBIENTE BACIAS DO MÉDIO BACIA DO BACIA DO
ARARIPE E
(Ma) TECTÔNICO JAGUARIBE PARNAÍBA COCOCI
SERRA VERMELHA
65
Grupo Araripe
CRETÁCEO

Ke
Formação Exu
Ks
Formação Santana
135
Jkdb
Magmatismo fissural
MESOZÓICO

JURO-CRETÁCEO

Grupo Iguatu
Jkl
Formação Lima Campos
Rift Intracontinental
Jkm
Formação Malhada Vermelha
Jki
Formação Icó
Grupo Vale do Cariri
JURÁSSICO

Jm
Formação Missão Velha
Jb
Formação Brejo Santo
205
Grupo Canindé
CARBO-
NÍFERO

Cpo
Formação Poti
Dl
335 Formação Longá
SILURIANO DEVONIANO

Dc
PALEOZÓICO

Formação Cabeças
Dp
Formação Pimenteiras
Sinéclise
410

Grupo Serra Grande


Sm Ssgj
Formação Mauriti Formação Jaicós
438
Grupo Rio Jucá
EOCAMBRIANO

Om
Formação Melancia
Rift Intracontinental Oc
Formação Cococi
Oa
Formação Angico Torto

da em ambiente fluvial entrelaçado. É datada do Si- ção. Têm formas alongadas, bem delineadas e curvi-
luriano, por correlação com outras formações seme- líneas, e suas direções gerais apresentam um certo
lhantes, de outras bacias; por estar assentada dis- paralelismo com os trends lineagênicos estruturais
cordantemente sobre rochas pré-cambrianas, ou das rochas do embasamento, sugerindo que os seus
sobre molassas eocambrianas e com base em da- processos genéticos tenham sido de lá originados, a
dos obtidos em furos de sondagens (Góes & Feijó, partir de prováveis reativações de estruturas pretéritas
1994, quadro 2.4). registradas nas litologias pré-cambrianas, com reflexos
Em íntima e exclusiva associação com os arenitos nas litologias da Formação Jaicós. Na ausência de
da Formação Jaicós, no extremo-nordeste da Folha critérios geológico/geomorfológicos que permitissem
Valença do Piauí (SB.24-Y-C), foram identificados vá- uma datação mais segura, apresenta-se, aqui, uma
rios corpos lenticulares alinhados e referidos como primeira tentativa de enquadramento cronoestrati-
cristas silicificadas. Foram reportadas por Lima et al. gráfico desta unidade, entendendo-se como válido, o
(1978) com essa mesma denominação, entretanto seu posicionamento no Tércio-Quaternário, rela-
sem que haja sido apontada a idade de sua forma- cionando-as geneticamente aos processos cenozói-

– 16 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

Quadro 2.3 – Unidades litoestratigráficas da Bacia do Cococi.

Unidade Litologia Ambiente deposicional

Formação Melancia
(ÎOm) Conglomerados polimícticos com
Leques aluviais na base e planície
níveis de arenitos finos, siltitos e fo-
de inundação no topo.
lhelhos avermelhados.
JUCÁ

Formação Cococi

Ardósias, folhelhos, argilitos e silti-


(ÎOc)

tos calcíferos avermelhados, com Flúvio-lacustre a leques aluviais no


RIO

intercalações de arenitos grossei- topo.


ros e conglomeráticos.
GRUPO

Formação Angico
Torto (ÎOa)

Brechas, microbrechas, conglome-


rados polimícticos, arenitos arcosia-
nos, às vezes calcíferos, intercala-
Leques aluviais e planície de inun-
ções de arenitos finos, siltitos e argi-
dação no topo.
litos no topo, com intercalações su-
bordinadas de arenitos finos, siltitos
e argilitos.

cos de formação dos relevos atuais. Considera-se (1967) e Carozzi (1975), agrupando as formações
esse evento como tendo sido gerado da lixiviação Pimenteiras, Cabeças e Longá. Será adotado, nes-
e/ou outros processos físico/químicos, possivelmente te trabalho, a proposição de Góes & Feijó (1994)
atuantes conjunta ou isoladamente, em zonas de fra- que consideram como pertencentes a este grupo,
turas/falhas, processos esses correlacionados com a as formações Itaim, Pimenteiras, Cabeças, Longá e
mesma época da formação da Superfície de Aplaina- Poti (figura 2.5), estando, entretanto, a Formação
mento Velhas (King, 1956). Os corpos encontram-se Itaim englobada na Formação Pimenteiras.
destacados na topografia, por atuação de erosão di-
ferencial, a partir da elevação geral da bacia, notada- Formação Pimenteiras (Dp) – Small (1913) criou
mente nas bordas, conseqüência da atuação de mo- o termo Pimenteiras para designar um pacote de fo-
vimentos isostáticos. lhelhos vermelhos aflorantes na cidade do mesmo
nome, no Piauí. Esta formação será considerada
como englobando a Formação Itaim, de Góes & Fei-
2.2.4.2 Grupo Canindé jó (1994), de acordo com Kegel (1952) que a consi-
derou como membro inferior da Formação Pimentei-
Segundo Góes & Feijó (1994), o termo Grupo Ca- ras. Engloba arenitos cinzas e avermelhados, granu-
nindé foi originalmente utilizado por Rodrigues lação fina, bastante argilosos, com níveis ferrugino-

– 17 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Quadro 2.4 – Litoestratigrafia da Bacia do Parnaíba.

Unidade Litologia Ambiente Deposicional

Arenitos cinza-esbranquiçados, finos a


Formação
Poti (Cpo)

médios, com intercalações de folhelhos


Delta e planície de maré, com influência oca-
carbonosos e restos de plantas carbo-
sional de tempestades.
nizadas, além de horizontes de siltitos
avermelhados.
F. Longá

Folhelhos e siltitoss cinza-escuros e ar-


(DI)

roxeados, micromicáceos, aspecto Nerítico plataformal.


mosqueado, com bioturbações.
Grupo Canindé

Formação
Cabeças

Arenitos esbranquiçados, finos a


(Dc)

médios, com raras intercalações de sil- Nerítico plataformal sob ação de correntes in-
titos e folhelhos cinzas e arroxeados. duzidas por marés.
Contêm estratificações cruzadas.
Pimenteiras
Formação

Arenitos cinzas e avermelhados, granu-


(Dp)

lação fina, bastante argilosos, com ní-


veis ferruginosos. Contêm estratifica-
ção cruzada e plano-paralela, de pe- Nerítico plataformal com tempestades e ma-
queno porte. Alternam-se com horizon- rés dominantes no topo.
tes de siltitos a r g ilo so s c r e-
me-amarelados e folhelhos amarelados
e micáceos.
Serra Grande

Jaicós (Ssgj)

Arenitos claros, caulínicos, granulação


Formação
Grupo

grossa a conglomerática. Há granode-


crescência em direção ao topo, bem Fluvial entrelaçado.
como intercalações de siltitos argilo-
sos.

sos. Contêm estratificação cruzada e pla- des, celenterados e peixes (Mesner & Wooldridge,
no-paralela, de pequeno porte. Alternam-se com 1964, in Angelim, no prelo) permitem atribuir a ida-
horizontes de siltitos argilosos creme-amarelados e de eo a neodevoniana à Formação Pimenteiras (fi-
folhelhos amarelados e micáceos. Reporta-se o gura 2.5).
ambiente de deposição da Formação Pimenteiras
como deltaico e plataformal dominado por marés e Formação Cabeças (Dc) – A denominação de
tempestades (Góes & Feijó, 1994), com tempesti- Formação Cabeças é devida a Plummer (1946),
tos abundantes na base, e nerítico de plataforma, para agrupar uma seqüência de arenitos existentes
dominada por tempestades no topo (Della Fávera, nos arredores da cidade de Cabeças, hoje Dom
1990, apud Góes & Feijó, 1994). O rico conteúdo Expedito Lopes, no Piauí. Compõe-se de arenitos
fossilífero, representado por trilobitas, braquiópo- esbranquiçados, finos a médios, com raras interca-

– 18 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

lações de siltitos e folhelhos cinza e arroxeados. com ligeira inclinação para o norte, proporcionan-
Contém estratificações cruzadas. Tais sedimentos do a existência dos inúmeros pontos d’água que
foram depositados em ambiente nerítico platafor- drenam os municípios da região do Cariri, no Esta-
mal, sob a ação predominante de correntes induzi- do do Ceará. Geologicamente compreende os gru-
das por processos de marés (Della Fávera, 1990, in pos Araripe (formações Exu e Santana), Vale do
Góes & Feijó, 1994). A idade desta formação é Cariri (formações Missão Velha e Brejo Santo), e a
meso a neodevoniana (figura 2.5) (Lima et al., 1978, Formação Mauriti. A Bacia de Serra Vermelha é
apud Ribeiro et al., 1998). uma pequena bacia situada a sul da do Araripe,
com aproximadamente 30km na direção les-
Formação Longá (Dl) – Albuquerque e De- te-oeste, e largura da ordem de 10km, tendo maior
quech (1946) foram os primeiros a referir como representatividade na Folha Aracaju NW (SC.24-V)
folhelhos do rio Longá, aos sedimentos do rio do a sul e exibe apenas as formações: Santana e Exu
mesmo nome, posicionando-os no Devoniano. (quadro 2.5).
Compreende folhelhos e siltitos cinza-escuros e
arroxeados, micromicáceos, aspecto mosquea-
do, com bioturbações. Contém intercalações es- 2.2.5.2 Formação Mauriti (Sm)
porádicas de arenitos finos. O ambiente de sedi-
mentação foi nerítico plataformal, dominado por Em obediência ao princípio de prioridade do Có-
tempestades (Góes & Feijó, 1994). Segundo Ri- digo de Nomenclatura Estratigráfica, Gomes et al.
beiro et al. (1998), Kegel (1953), registrou uma (1981) utilizaram o termo Formação Cariri, cuja cria-
fauna de lamelibrânquios na borda leste da serra ção é creditada a Barbosa (1970). Este termo foi
de Campo Maior, no Piauí, característica da par- adotado em alguns estudos subseqüentes, realiza-
te superior do Devoniano Superior. Ainda estes dos na Bacia do Araripe, da qual integra a parte ba-
autores registram análises paleontológicas efe- sal da sua estratigrafia. Entretanto, como frisaram
tuadas pela CPRM que inferem, para esta forma- Ponte & Appi (1990) a denominação de Formação
ção, idade neodevoniana/eocarbonífera (figura Cariri, embora tenha a prioridade de utilização, re-
2.5). vela-se inadequada pois: o termo Cariri correspon-
de a uma região onde afloram outras formações; os
Formação Poti (Cpo) – Paiva (1937) foi o criador termos Tacaratu e Serra Grande também são ina-
deste termo para representar uma sucessão de dequados, pois são exclusivos de outras bacias e
arenitos cinza-esbranquiçados, finos a médios, não há evidências geológicas conclusivas de que
com intercalações de folhelhos carbonosos e res- as formações Mauriti, Serra Grande e Tacaratu pos-
tos de plantas carbonizadas, além de horizontes de sam ter correspondido a uma única sedimentação
siltitos avermelhados. Segundo Ribeiro et al. (1998) pretérita e, finalmente, não há utilização exclusiva
é datada do Carbonífero Inferior (Mississipiano) de um ou outro termo, e sim o uso, em trabalhos es-
(Aguiar, 1971) tendo, como ambiente de sedimen- pecíficos e mesmo regionais, dos nomes, Mauriti,
tação (Góes & Feijó, 1994), deltas e planícies de Cariri e Tacaratu. Por isso, será aqui utilizada a de-
maré, sob influência ocasional de tempestades (fi- nominação de Formação Mauriti, substituindo, na
gura 2.5). Bacia do Araripe, o termo Formação Cariri, concor-
dando com Ponte & Appi (1990), para representar
uma seqüência de conglomerados, arenitos gros-
2.2.5 Bacias do Araripe e Serra Vermelha sos, em parte silicificados, de coloração cinza a es-
branquiçada e tons avermelhados, com estratifica-
2.2.5.1 Generalidades ção plano-paralela e cruzada. Podem conter hori-
zontes de siltitos e folhelhos. Ocorre na porção les-
A Bacia do Araripe, situada numa região limítrofe te da Bacia do Araripe, em exposições geralmente
entre os estados, do Ceará, de Pernambuco e do limitadas por falhas normais, repousando direta-
Piauí, corresponde a uma faixa com cerca de mente sobre rochas pré-cambrianas e recoberta,
180km de comprimento na direção leste-oeste, e discordantemente, pela Formação Brejo Santo. A
largura variando de 30 a 70km no eixo norte-sul. espessura aflorante varia de 10 a 50m. É datada do
Forma um platô com bordos irregulares, bastante Siluriano, por correlação com outras formações se-
entalhados pela erosão, e altitude máxima ca. melhantes, existentes nas bacias do Parnaíba e do
900m. Os sedimentos presentes são horizontais, Tacaratu (quadro 2.5).

– 19 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

2.2.5.3 Grupo Vale do Cariri siderada neste trabalho como fácies superior desta
(quadro 2.5).
A denominação de Grupo Vale do Cariri é credita-
da a Ponte & Appi (1990), para designar um conjun- Formação Brejo Santo (Jb) – Segundo Ponte &
to de formações aflorantes no vale homônimo, corre- Appi (1990) o uso inicial do termo Brejo Santo é devi-
lacionáveis às seqüências pré-rifte e rifte das bacias do a Gaspary & Anjos (1964), para designar a parte
pericratônicas do nordeste, e datado do Neojurássi- basal da Formação Missão Velha, de Beurlen
co ao Neocretáceo. Engloba as formações Brejo (1963), reunindo arenitos finos e argilosos, bem es-
Santo e Missão Velha, que recobre a primeira atra- tratificados. O nome deriva-se da localidade homô-
vés de contato gradacional. A Formação Abaiara, nima, no Estado do Ceará e, a despeito de terem
por possuir pequena área de exposição e contato sido utilizadas as denominações Aliança e Sergi da
gradacional com a Formação Missão Velha, foi con- Bacia do Recôncavo (Braun, 1966), em substituição
Quadro 2.5 – Litoestratigrafia da Bacia do Araripe.

Unidade Litologia Ambiente


Deposicional
Formação

Arenitos amarelados a avermelhados, gros-


(Ke)
Exu

sos a médios, com níveis conglomeráticos, Fluvial entrelaçado


Grupo Araripe

estratificação plano-paralela e cruzada e in- a fluvial meandrante


tercalações caulínicas e sílticas.

Folhelhos de coloração cinza e avermelha-


Formação
Santana

da, em parte calcíferos e fossilíferos, com in-


(Ks)

Marinho oscilante
tercalações de calcários laminados cremes,
estuarino
margas, siltitos, calcarenitos, arenitos finos
e gipsita no topo.
Missão Velha

Arenitos avermelhados, finos a grossos,


Formação

com intercalações de níveis calcíferos, sílti-


(Jm)

cos e conglomeráticos. Apresenta estratifi-


Lacustre
cação plano-paralela e cruzada e corpos
sigmoidais amalgamados. Há troncos de
Grupo Vale do Cariri

madeira silicificada.
Brejo Santo

Folhelhos, argilas calcíferas, margas de co-


Formação

Fluvial meandrante
loração variegada e arenitos casta-
(Jb)

e lacustrino raso,
nho-avermelhados, finos, com intercalações
com alguma influên-
de lâminas de aragonita e calcários ostracoi-
cia eólica
dal.
Mauriti (Sm)

Conglomerados, arenitos grossos, em parte


Formação

silicificados, de coloração cinza a esbran-


Fluvial, com retra-
quiçada e tons avermelhados, com estratifi-
balhamento eólico
cação plano-paralela e cruzada. Podem
conter horizontes de siltitos e folhelhos.

– 20 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

aos termos Missão Velha e Brejo Santo, não houve berta por uma outra, regressiva continental, a For-
aceitação desta concepção, e, logo em seguida, tais mação Exu (quadro 2.5).
termos tiveram suas terminologias restritas às suas
bacias de origem, por sugestão de vários autores que Formação Santana (Ks) – Beurlen (1963) subdi-
se seguiram, consagrando assim a utilização dos ter- vidiu esta formação nos membros Crato, Ipubi e Ro-
mos Brejo Santo e Missão Velha, à Bacia do Araripe. mualdo, divisão esta adotada em trabalhos subse-
A Formação Brejo Santo é formada por folhelhos, ar- qüentes, mormente aqueles mais detalhados. Sen-
gilas calcíferas, margas de coloração variegada e are- do esta síntese de caráter regional, aquela divisão
nitos castanho-avermelhados, finos, com intercala- não será aqui adotada, já que tais membros têm es-
ções de lâminas de aragonita e calcário ostracoidal. pessura de algumas dezenas de metros, sendo in-
Foi depositada em ambiente fluvial meandrante e la- viável sua representação na escala do mapa. Esta
custrino raso, com alguma influência eólica (Lima et formação encerra um dos maiores conteúdos fossi-
al., 1998) e repousa discordantemente sobre a Forma- líferos cretáceos conhecidos, sendo, por isso, de
ção Mauriti. Ponte & Appi (1990), consideram-na como extrema importância, como importante supridora
do Jurássico Superior, Kimeridgeano (quadro.2.5). de material fóssil imprescindível ao estudo desse
período da história do planeta. A sua espessura é
Formação Missão Velha (Jm) – Foi pioneira- da ordem de 50 a 180m e foi depositada em ambien-
mente descrita por Small (1913) com o nome de te referido como o ápice da transgressão marinha,
Arenito Inferior do Araripe. A denominação Forma- com recuo e avanço do mar, em ambiente estuarino
ção Missão Velha é creditada a Beurlen (1963), po- restritivo à circulação de água do mar, sugerido pela
rém com abrangência muito ampla, pois incluía, presença das lentes de gipsita. É datada, segundo
também, áreas posteriormente definidas como per- Ponte & Appi (1990) como do Cretáceo Médio, Aptia-
tencentes a outras formações, inclusive da Forma- no/Albiano (quadro 2.5).
ção Brejo Santo (Medeiros, 1990). O termo foi pos-
teriormente reutilizado e aplicado em áreas com Formação Exu (Ke) – A denominação de Forma-
arenitos grossos, mal selecionados, com estratifi- ção Exu é devida a Beurlen (1963). Embora tenha
cações cruzadas e leitos conglomeráticos (Ponte & sido questionada por alguns estudiosos, a sua utili-
Appi, 1990) que gradam, superiormente, para are- zação para designar um conjunto de rochas sedi-
nitos finos, siltitos e folhelhos (Formação Abaiara, mentares, por ser Exu uma pequena cidade situada
segundo vários autores), depositada em ambiente em terrenos pré-cambrianos, tal designação foi
lacustre. Neste trabalho serão adotados estes mes- mantida, devido à consagração do uso na literatura
mos conceitos, todavia abarcando, na Formação geológica nordestina. Esta litologia capeia a Chapa-
Missão Velha, a Formação Abaiara. É, pois, forma- da do Araripe e tem espessura máxima de 280m.
da por arenitos avermelhados, finos a grossos, com Eventualmente pode estar assentada diretamente
intercalações de níveis calcíferos, sílticos e conglo- sobre rochas pré-cambrianas, preenchendo peque-
meráticos. Exibem estratificação plano-paralela e nas bacias. Predominam arenitos amarelados a
cruzada do tipo acanalada de médio porte, espar- avermelhados, grossos a médios, com níveis con-
sos corpos arenosos lenticulares e sigmoidais glomeráticos, estratificação plano-paralela e cruza-
amalgamados, além de troncos de madeira silicifi- da e intercalações caulínicas e sílticas, formando, às
cada. É recoberta discordantemente pela For- vezes, acamadamento rítmico. Predomina um ambi-
mação Santana e recobre, através de contato grada- ente de sedimentação continental fluvial entrelaça-
cional, a Formação Brejo Santo. A sua localidade-tipo do a fluvial meandrante. Embora afossilífera, foi da-
situa-se nos arredores da cidade de Missão Velha, no tada por Ponte & Appi (1990) como do Cretáceo Mé-
Ceará, e, de acordo com Pontes & Appi (1990) é da- dio, Albiano/Cenomaniano (quadro 2.5).
tada do Jurássico Superior, Tithoniano (quadro.2.5).

2.2.6 Bacias do Médio Jaguaribe


2.2.5.4 Grupo Araripe
2.2.6.1 Generalidades
O registro litológico correspondente à sedimen-
tação das rochas que compõem o Grupo Araripe, As bacias do Médio Jaguaribe (Iguatu, Lavras da
de idade cretácica, comprova uma seqüência Mangabeira, Lima Campos e Malhada Vermelha),
transgressiva oscilante (Formação Santana) reco- do tipo pull-apart, foram formadas num contexto de

– 21 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

instabilidade tectônica, exibindo registros de ativi- glomeráticos, estratificação cruzada acanalada de


dade sísmica contemporânea às suas respectivas pequeno a médio porte e intercalações de siltitos e
implantações, no Período de Reativação Wealdeni- argilitos avermelhados e esverdeados. Em direção
ana da Plataforma Brasileira, no início do Mesozói- ao topo, esses arenitos tornam-se mais finos, inter-
co (Almeida, 1967). A principal característica des- calados com horizontes de argilitos e siltitos, local-
se estágio foi a retomada de processos tectônicos mente com finos leitos de margas calcíferas, às ve-
distensivos, reaproveitando antigas zonas de cisa- zes fossilíferas. Os arenitos conglomeráticos exis-
lhamento transcorrentes pré-cambrianas, que pas- tentes nas proximidades de José de Alencar são re-
saram, a partir de então, a ser normais e de pouca portados como pertencentes a essa formação. Se-
extensão, resultando na formação dessas peque- gundo Vasconcelos et al. (1998), Srivastava (1990)
nas bacias rapidamente entulhadas com sedimen- indica como ambientes de sedimentação para
tos imaturos (figura 2.5). O período de instabilidade essa formação, leque aluvial distal e fluvial braided
tectônica prolongou-se até após a deposição de, (quadro 2.6).
no mínimo, a parte basal do Grupo Iguatu, pelo
acentuado mergulho de tais sedimentos, que che- Formação Malhada Vermelha (JKm) – Está pre-
ga a atingir até mais de 45° de inclinação em dire- sente nas bacias maiores, de Iguatu, Lima Campos
ção ao centro da bacia, em alguns locais. e Malhada Vermelha, e tem espessura entre 400 e
800m. A sedimentação inicia-se por siltitos puros a
argilosos, roxos a esverdeados, com horizontes de
2.2.6.2 Grupo Iguatu margas carbonáticas intercaladas com arenitos fi-
nos a muito finos, localmente calcíferos, finamente
O Grupo Iguatu será aqui empregado no mes- laminados ou formando pequenos bancos maci-
mo conceito de Ponte et al. (1991) constituído, do ços, com laminações cruzadas e marcas de ondas.
topo para a base, pelas formações Lima Campos, A porção intermediária compõe-se de argilitos e fo-
Malhada Vermelha e Icó, datadas do Ju- lhelhos, às vezes calcíferos, esverdeados a varie-
ro-Cretáceo. gados, alternando com siltitos e arenitos finos. Mais
para o topo, predominam arenitos finos e siltitos
Formação Icó (JKi) – Na borda sul da Bacia de arenosos, variegados, que gradam progressiva-
Iguatu, ocorre ao longo de uma estreita faixa, e, na mente para termos mais grosseiros. Restos de os-
parte norte, em pequenas exposições. O contato tracóides, conchostráceos, fragmentos de verte-
com a formação sobrejacente é gradacional, por brados e vegetais são encontrados nessa forma-
diminuição na granulometria dos sedimentos. É o ção, que é a mais fossilífera do grupo. A sedimenta-
único representante do Grupo Iguatu nas manchas ção ocorreu em um sistema flúvio-lacustre, sendo a
situadas nas margens do rio Bastiões. Litologica- presença de folhelhos e sedimentos calcíferos, in-
mente constitui-se de arenitos cremes a avermelha- dicação de maior ou menor profundidade da bacia
dos, médios e finos, com níveis mais grossos a con- (quadro 2.6).
Quadro 2.6 – Estratigrafia da Bacia de Iguatu.

Unidade Litologia Ambiente Deposicional

Formação Leque aluvial, fluvial


Lima Campos Arenitos finos, grossos a conglomeráticos
braided e planície de
(JKl) com intercalações de siltitos e folhelhos.
inundação

Formação Siltitos e argilitos com horizontes de mar-


Malhada gas intercaladas com arenitos finos calcí-
Vermelha feros, com laminações cruzadas e marcas Flúvio-lacustre
(JKm) de ondas. No topo há arenitos e siltitos
que gradam para termos mais grosseiros.

Formação Arenitos médios com níveis mais grossei-


Leque aluvial distal e flu-
Icó (JKi) ros a conglomeráticos e intercalações de
vial braided
siltitos, argilitos e margas.

– 22 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

Formação Lima Campos (JKl) – Ocorre nas A figura 2.6 mostra a correlação estratigráfica
bacias de Lima Campos (com espessura máxima proposta para as bacias preenchidas por sedimen-
da ordem de 300m), Iguatu, e na borda norte da tos do Grupo Iguatu.
Bacia de Malhada Vermelha. É formada por areni-
tos finos na base, evoluindo para fácies mais gros-
sa a conglomerática, com níveis intercalados de 2.2.7 Magmatismo Básico (JKl e JKdb)
siltitos e folhelhos. É datada do Juro-Cretáceo e,
de acordo com Vasconcelos et al. (1998), Srivas- Almeida (1967) caracterizou, dentro do Estágio
tava (1990) reconheceu, baseado na textura, es- de Reativação da Plataforma Sul-Americana, duas
truturas sedimentares e composição mineralógi- atividades ígneas: uma mesozóica e outra terciária.
ca, três ambientes deposicionais predominantes: Para os dois sets de rochas magmáticas continen-
leque aluvial, fluvial braided e planície de inunda- tais, várias datações existem, registrando dois in-
ção (quadro 2.6). tervalos específicos, um de 160 a 175Ma, e outro

IGUATU
UC UL E
FORM. LIMA
CAMPOS

LIMA CAMPOS
>100m

F
BR LUV
M. VERMELHA
FORMAÇÃO MALHADA VERMELHA

AI IA
JURO - CRETÁCEO

DE L
> 100m
IGUATU

D
Arenitos médios a mal
selecionados com ho-
rizontes pelíticos inter-
> 100m

calados.
> 300m
GRUPO

G
G G G

FLÚVIO-
L. da MANGABEIRA
> 250m

LACUSTRE Alternância de arenitos


finos, siltitos e folhelhos, G G G

com horizontes fossilí-


> 200m

feros.
FORM. ICÓ

> 70m
> 100m

FLUVIAL Arenitos grossos a


>20m

conglomeráticos
BRAIDED

Arenito; Estratificação cruzada acanalada;


Pelitos; Estratificação cruzada tabular;
Carbonatos; G G Horizontes fossilíferos;
Siltitos e argilitos; Rochas básicas;
Níveis calcíferos; Rochas pré-cambrianas.

.
Fonte: Vasconcelos & Gomes (1998). UC - Unidade cronológica; UL - Unidade litoestratigráfica; E - Espessura.

Figura 2.6 – Correlações estratigráficas entre as principais bacias sedimentares mesozóicas


da região de Iguatu-CE.

– 23 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

entre 125 e 145Ma (Gomes et al., 1981), logo, do fi- dos alinhamentos dos diques de diabásio, sua for-
nal do Jurássico e início do Cretáceo. Vasconcelos ma típica de ocorrência.
et al. (1998) assinalam uma idade jurássica para o
início do rifteamento da Bacia Lavras da Mangabei-
ra, pelas idades de 176Ma (K/Ar) obtidas por Priem 2.2.8 Formações Superficiais
et al. (1978) em uma amostra de uma soleira de dia-
básio dessa mesma bacia, associado aos arenitos Ocorrem capeando indistinta e discordantemen-
basais da Formação Icó, base do Grupo Iguatu. te diferentes litologias ao longo de toda a área ma-
Esse fenômeno magmático é responsável pela co- peada, muitas vezes ocupando superfícies de di-
locação de corpos filonianos preenchendo siste- mensões bastante consideráveis, como na porção
mas de fraturas, cujos alinhamentos principais são oeste da folha, onde superpõem sedimentos paleo-
NE-SW e E-W, como os corpos situados na Folha zóicos da Bacia do Parnaíba. Localmente chegam
Valença do Piauí (SB.24-Y-A) a sudoeste de Pio IX e a formar tipos de relevos característicos, sob a for-
Quixaba, e na Folha SB.24-Y-C a sudoeste de Pa- ma de mesetas dissecadas nas bordas, como na
tos, todas no Estado do Piauí. Ocorre também sob a serra do Ermo e adjacências, no Estado do Ceará.
forma de derrames e soleiras, como nas bacias do Esses depósitos acham-se caracterizados no qua-
Parnaíba (extremo-ocidental das folhas Valença do dro 2.7.
Piauí e Picos, respectivamente, SB.24-Y-A e Y-C),
Iguatu e Lavras da Mangabeira. Inclui basaltos,
gabros, microgabros e diabásios, coloração cin- 2.2.9 Domínio da Zona Transversal
za-escura, granulação fina a média, homogêneos,
faneríticos, com uma constituição mineralógica à A área deste domínio corresponde ao território
base de anfibólio, piroxênio e plagioclásio, con- geográfico compreendido entre as zonas de cisa-
tendo, localmente, cristais de sulfetos metálicos. lhamento dextrais, Patos, a norte, e Pernambuco, a
Ocorre indistintamente em vários terrenos estuda- sul. Geologicamente compreende os complexos
dos e, tendo em vista suas características geológi- meso e neoproterozóicos: Alto Moxotó (Complexo
co-estrutural-temporais, foi correlacionado ao de- Lagoa das Contendas); Alto Pajeú (complexos Ria-
nominado vulcanismo Rio Ceará Mirim, de Gomes cho da Barreira e São Caetano), ausentes na Folha
et al. (1981). Foi identificado também, por outros Jaguaribe SW, e as unidades que se encontram pre-
autores, em outras áreas da Província Borborema, sentes: Complexo Riacho Gravatá, grupos Salgueiro
com a mesma idade (Almeida et al., 1988), deno- e Cachoeirinha, além da porção terminal nordeste
tando, inclusive, um significativo realce nos ma- do Fragmento Icaiçara (complexos Barro, Parnami-
pas aeromagnéticos estudados, pelos destaca- rim e Rochas Intrusivas, todos paleoproterozóicos).

Quadro 2.7 – Caracterização das formações superficiais.

Unidade Litologia Ambiente


Deposicional

Cascalhos e areias com granulação varia-


Aluvião (Qa) da, localmente com concentração de ma- Fluvial
terial argiloso.
Coberturas Sedimentos inconsolidados, localmente la- Leques
Colúvio-Eluviais teritizados, de constituição essencialmente aluviais
(TQc) areno-síltico-argilosa.

Formação Moura Sedimentos inconsolidados e/ou com fraca Leques


(TQm) diagênese, incluindo cascalhos, areias e aluviais
argilas.

– 24 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

É observada uma extensa atividade granítica bra- Rochas Intrusivas (Pg1a e Pg1b)
siliana, cortando as unidades precedentes, com
grande variabilidade composicional (figura 2.4). Ocorrem na parte central do Fragmento Icaiça-
ra e são integradas predominantemente por ortog-
naisses porfiríticos calcialcalinos. Têm como ca-
2.2.9.1 Fragmento Icaiçara racterística marcante a presença de fenocristais
de feldspato alcalino de tamanho centimétrico e
Forma uma estrutura antiformal paleoproterozói- forma sigmóide, com indicação de cinemática
ca, que inclui rochas ortoderivadas, porfiríticas ou transcorrente dextral e regime dúctil (foto 14).
não, tendo, no núcleo, resquícios de uma seqüên- Apresentam contatos tectônicos ou intrusivos com
cia paraderivada, denominada Complexo Barro. as outras unidades citadas acima. O grau de strain
Tem a forma de um “U”, com concavidade voltada a que foram submetidas foi variado, pois exibem
para sul, e é orlado pelos metapelitos da Faixa Pian- estruturas magmáticas com diferentes níveis de
có-Alto Brígida. Normalmente apresenta contatos preservação. Foram marcadas por um metamorfis-
tectônicos com as outras unidades, dentre os quais mo de grau médio a baixo, fácies de transição xis-
cita-se os de empurrão com os grupos Cachoeiri- to-verde a anfibolito. Legrand et al. (1991) e Mace-
nha e Salgueiro. Litologicamente constitui-se pelo do et al. (1991) obtiveram na região do Seridó, res-
Complexo Parnamirim, supostamente a base, re- pectivamente, idades de 1.934 ± 12Ma e 2.078 ±
presentado por rochas gnáissico-migmatíticas e o 242Ma. Destaca-se a importância desses corpos
Complexo Barro, uma unidade metassedimentar, como marcadores estruturais e cronológicos da Oro-
superior. Todo o conjunto é intrudido por augen gênese Transamazônica nas faixas de dobramentos
gnaisses porfiríticos estratóides, datados em 1.969 da Província Borborema, cuja colocação encontra-se
± 9Ma (Medeiros et al., 1993), cuja área de exposi- intimamente relacionada a uma deformação tangen-
ção na folha pode ser visualizada na figura 2.5. cial (Vasconcelos et al., 1997b). À luz do atual nível de
conhecimento, adotou-se que estas rochas são intru-
Complexo Parnamirim (Pp) sivas nos complexos Parnamirim e Barro, pois con-
têm xenólitos de rochas xistosas, muito provavelmen-
Apresenta-se na parte mais externa da estrutura te deste último complexo. Litologicamente compre-
antiformal, com limites tectônicos com os grupos endem dois tipos distintos, ambos com inclusão de
Cachoeirinha e Salgueiro, tendo, a sua porção nor- restos de supracrustais: augen gnaisse granítico a
te/nordeste, empurrada sobre ele. É representado quartzo sienito alcalino (Pg 1a) e biotita augen gnaisse
por gnaisses bandados, orto e paraderivados (al- granítico, cinzentos com ou sem anfibólio, composi-
guns com granada) tendo, aqueles, protólitos gra- ção granítica a granodiorítica, localmente tonalítica
níticos, granodioríticos e sieníticos. O metamorfis- (Pg 1b). Suas áreas de exposição estão melhor repre-
mo atingiu a fácies anfibolito médio e retrabalha- sentadas na folha contígua a sul, Aracaju NW
mento para xisto-verde, durante ou após o evento (SC-24-V) (quadro 2.8 e figura 2.5).
de deformação principal. Santos et al. (1997) suge-
rem também um evento de subducção (metamor-
fismo de alta pressão/baixa temperatura), indicado 2.2.9.2 Terreno Piancó-Alto Brígida
pela presença de resquícios de uma fácies eclogíti-
ca nas suítes metamáfico-ultramáficas (quadro 2.8 Barbosa et al. (1964, apud Gomes et al., 1981)
e figura 2.5). denominaram de Salgueiro-Cachoeirinha uma se-
qüência de xistos e filitos aflorantes na área do Proje-
Complexo Barro (Pba) to do Cobre. Vários trabalhos se seguiram a partir de
então, separando os xistos de acordo com o grau
Aflora na parte central do Fragmento Icaiçara, na metamórfico, presença de vulcânicas, níveis de me-
estrutura anticlinal de Barro. É representado por gra- taconglomerados e outros critérios que, de certa for-
nada-biotita xistos com estaurolita e cianita, interca- ma caíram em desuso, ou pela dificuldade de apli-
lados com paragnaisses, mármores, calcissilicáti- cação, ou falta de comprovação subseqüente (ver
cas, formações ferríferas, quartzitos e anfibolitos. Campos Neto et al., 1994). A litoestratigrafia da Fai-
Maiores detalhes sobre esta unidade podem ser ob- xa de Dobramentos Piancó-Alto Brígida (Brito Ne-
tidos em Medeiros (1992). O metamorfismo atingiu a ves, 1975) é basicamente constituída pelos grupos
fácies anfibolito médio (quadro 2.8 e figura 2.5). Cachoeirinha e Salgueiro, englobando as seguintes

– 25 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Quadro 2.8 – Unidades litoestratigráficas do Fragmento Icaiçara.

Símbolo Unidade Litologia


Litoestratigráfica

Pg 1a Riebeckita-augita-ferroaugita augen gnaisse graníti-


co a quartzo sienito alcalino.
Rochas Intrusivas Biotita augen gnaisse granítico, cinzento, com ou sem
Pg 1b anfibólio, composição granítica a granodiorítica, lo-
calmente tonalítica.
Xistos aluminosos intercalados com paragnaisses,
Pba Complexo Barro mármores, calcissilicáticas, formações ferríferas,
quartzitos e anfibolitos.
Pp Complexo Parnamirim Orto e paragnaisses bandados.

unidades: Complexo Metavulcano-sedimentar Ria- Estruturalmente encontra-se em zona de atuação


cho Gravatá, Complexo Metavulcano-sedimentar dos lineamentos Pernambuco, no e xt r e-
Poço dos Cachorros, Complexo Metaturbidítico Ser- mo-sudoeste, e Patos, na porção nordeste. Em am-
ra Olho d’Água e Nappe Piancó (Campos Neto et al., bos os setores, acham-se registrados em seus tec-
1994). A evolução dos conhecimentos referentes ao tonotipos, os efeitos típicos daquelas tran-
Grupo Cachoeirinha acompanha pari passu a do corrências, como foliação milonítica verticalizada,
Grupo Salgueiro, com quem divide, em termos lito- associada a uma lineação mineralógica de baixo
estratigráficos, uma terminologia quase gêmea. A rake. As associações petrotectônicas, o grau de
distinção se refere, basicamente, ao grau metamór- metamorfismo e de polideformação, bem como da-
fico, notando-se, de um modo geral, que os modelos dos geocronológicos observados em áreas seme-
existentes colocam os xistos (Grupo Salgueiro) na lhantes, permitiram a indicação da idade paleopro-
base, e os filitos (Grupo Cachoeirinha), no topo, ten- terozóica para este complexo (figura 2.5 e quadro
do, cada grupo, suas intercalações específicas de 2.9). Indícios petrográficos mostram que o comple-
metavulcânicas, formações ferríferas e conglomera- xo foi submetido a um metamorfismo da fácies anfi-
dos (figura 2.4). bolito médio a alto, com indícios de fusões locais e
retrometamorfismo para xisto-verde.
Complexo Metaplutônico (Pgr)
Complexo Riacho Gravatá (Mrg)
Consiste num conjunto rochoso existente no
quadrante centro-sul da folha em estudo, que se O Complexo Riacho Gravatá (Campos Neto et
prolonga para sudoeste, até a base da Bacia do al., 1994) ocorre apenas numa pequena faixa no
Parnaíba, numa estreita faixa de direção aproxima- extremo-sudeste da Folha Jaguaribe SW e corres-
da leste-oeste, correspondendo à distância entre ponde a partes dos grupos Salgueiro, de Silva Filho
as cidades de Trindade e Ouricuri pela BR-316, em (1985 apud Angelim, no prelo) e Cachoeirinha, de
Pernambuco. Representa o embasamento dos gru- Barbosa, (1970 apud Angelim, no prelo). Segundo
pos Cachoeirinha e Salgueiro, com os quais, nor- Campos Neto et al. (1994), este complexo é uma en-
malmente, possui contatos tectônicos. Constitui-se tidade pré-orogênica, com seqüências metassedi-
de gnaisses e migmatitos diversos, possivelmente mentares de ambiente marinho plataformal e séries
ortoderivados, tendo como paleossomas predomi- metavulcânicas do tipo rifte. Encontram-se meta-
nantes: biotita gnaisses, biotita-hornblenda gnais- morfizadas no início do grau médio e no limite supe-
ses e muscovita gnaisses, de composição variando rior do grau fraco. Corresponde a uma seqüência de
de granítica, predominante, a granodiorítica em metarritmitos pelito-psamíticos, representados pela
parte, correlacionável ao Complexo Caicó. Con- alternância de vários tipos de xistos e filitos, acinzen-
tém, ainda, lentes de anfibolitos e de paraderivadas tados a negros, localmente grafitosos, podendo
como: quartzitos, mármores, xistos e gnaisses. conter horizontes metatufáceos e metavulcânicas

– 26 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

Quadro 2.9 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Piancó-Alto Brígida.

Símbolo Unidade Litologia


Litoestratigráfica

Grupo Filitos, xistos pelíticos com quartzo, calcissilicáticas, me-


Nc
Cachoeirinha tarritmitos e metavulcânicas.
Xistos a granada, muscovita, biotita e sillimanita, mais ou
menos migmatizados, metassiltitos, metarenitos, metarrit-
Ns Grupo Salgueiro mitos, com intercalações de seqüências ferríferas banda-
das, raras metavulcânicas ácidas e intermediárias e níveis
de metaconglomerados.
Xistos e filitos, acinzentados a negros, grafitosos, com hori-
Complexo zontes metatufáceos e metavulcânicas ácidas, metamáfi-
Mrg
Riacho Gravatá cas e metaultramáficas, e raras intercalações de forma-
ções ferríferas e calcários cristalinos.
Gnaisses e migmatitos diversos, composição variando de
Complexo granítica a granodiorítica, em parte, com lentes de anfiboli-
Pgr
Metaplutônico tos e paraderivadas como quartzitos, mármores, xistos e
gnaisses.

ácidas, metamáficas e metaultramáficas, além de Grupo Cachoeirinha (Nc)


raras intercalações de formações ferríferas e calcá-
rios cristalinos. Santos, 1998 (apud Angelim, no pre- Petrograficamente o Grupo Cachoeirinha é ca-
lo) faz referências a datações efetuadas por Brito racterizado por rochas metamorfizadas regional-
Neves et al. (1990) pelo método Pb/Pb, obtendo ida- mente na fácies xisto-verde, representadas por fili-
de de 1.070 ± 30Ma, e Rb/Sr de 950 ± 7Ma, respecti- tos, xistos pelíticos com quartzo, calcissilicáticas,
vamente para a idade de sedimentação e metamor- metarritmitos e metavulcânicas (foto 4). Na região
fismo do Complexo Riacho Gravatá (figura 2.5 e de Bodocó, em Pernambuco, intrusões graníticas
quadro 2.9). batolíticas formaram, no contato com tais metapeli-
tos, uma auréola de termometamorfitos, cujos tipos
mais comuns ostentam uma mineralogia típica de
Grupo Salgueiro (Ns) rochas hornfélsicas: sillimanita, cordierita, estauro-
lita e andaluzita (foto 5), com clorita, muscovita, bio-
As maiores áreas de exposição das rochas deste tita, granada e variados teores de quartzo, confor-
grupo situam-se na folha contígua, Aracaju NW me assinalaram Paiva & Gomes (1996). Normal-
(SC.24-V), a sul, e correspondem a uma seqüência mente apresenta contactos tectônicos com outras
essencialmente terrígena com contribuição pelítica unidades (fotos 6 e 7). A idade é creditada ao Brasi-
e vulcanogênica, de fácies anfibolito médio a alto. liano, inferida a partir das datações obtidas em inú-
Compõe-se, segundo Santos (1998, apud Angelim, meros corpos graníticos intrusivos nas litologias
no prelo), de granada-muscovita-biotita xistos, silli- desse grupo (figura 2.5 e quadro 2.9).
manita-granada-biotita xistos mais ou menos mig-
matizados, metassiltitos, metarenitos, metarritmi-
tos, com intercalações de formações ferríferas ban- 2.2.10 Domínio Cearense
dadas, raras metavulcânicas ácidas e interme-
diárias e níveis de metaconglomerados. É datado 2.2.10.1 Terreno Granjeiro
do Neoproterozóico, a partir de inúmeras determi-
nações efetuadas por vários autores em plutônicas O Terreno Granjeiro (Vasconcelos et al., 1998),
intrusivas (figura 2.5 e quadro 2.9). no âmbito da Folha Jaguaribe SW, possui duas

– 27 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

principais áreas de exposição, uma na sua porção Complexo Granjeiro (Ag)


centro-leste, proximidades da cidade homônima,
que se projeta para a folha vizinha, Jaguaribe SE, e, O Complexo Granjeiro constitui um conjunto lito-
a outra, no seu quadrante sudoeste (foto 19), es- lógico formado por gnaisses para e ortoderivados,
tando, a continuidade física entre as duas, enco- metabasitos anfibolitizados, tufos máficos, félsicos
berta por sedimentos mesozóicos da Bacia do Ara- e metaultrabasitos associados a xistos, quartzitos,
ripe. Ocorrem sob a forma de megasigmóides, com metacalcários, calcissilicáticas, metachertes e for-
estruturação sugestiva de fragmentos tectonica- mações ferríferas bandadas, caracterizando uma
mente imbricados, limitando-se a sul, na principal associação vulcano-sedimentar, portadora de hori-
área de ocorrência, pelo Lineamento Patos, e, a zontes químico-exalativos, podendo tratar-se de
norte, pela Zona de Cisalhamento de Farias Brito (fi- remanescente de crosta oceânica antiga (Vascon-
gura 2.4). celos et al., 1998). Seu posicionamento no Arquea-
Do ponto de vista litoestratigráfico, o Terreno no é corroborado pelos resultados de datações
Granjeiro apresenta, como unidade mais antiga, geocronológicas efetuadas em amostras dos meta-
restos de uma seqüência vulcano-sedimentar tonalitos que lhes são intrusivos, fornecendo valo-
exalativa (Ag), intrudida, e, localmente, assimila- res em torno de 2.513Ma (Vasconcelos et al.,
da por metaplutônicas arqueanas de composi- 1997a) pelo método Pb/Pb, por evaporação de mo-
ção tonalítica a granodiorítica, com restrita contri- nocristais de zircão, datação realizada nos labora-
buição de trondhjemitos (Ag ). Esse conjunto, por tórios de Geologia Isotópica da Universidade Fede-
sua vez, acha-se cortado, discordantemente, por ral do Pará – PARAISO.
granitóides tabulares de idade paleoproterozói- As metaplutônicas arqueanas (Ag ) intrudem e, lo-
ca (Pg ). Como unidades mais novas, identifica- calmente, assimilam litotipos da unidade descrita
das nesse terreno, ocorrem, ainda, as se- acima. Constituem um importante evento magmáti-
qüências supracrustais neoproterozóicas: La- co plutônico, representado por uma associação to-
vras da Mangabeira (Nl) e Caipu (Ncp) (figura 2.5 nalito-granodiorítica, com subordinada presença de
e quadro 2.10). termos trondhjemíticos, e linhagem calcialcalina.

Quadro 2.10 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Granjeiro.

Unidade
Símbolo Litologia
Litoestratigráfica

Seqüência Quartzitos com horizontes de metaconglomerados basais,


Nl Lavras da xistos, filitos e, subordinadamente, lentes de calcissilicáti-
Mangabeira cas e metavulcânicas.
Predominância de metapelitos/metapsamitos representa-
Seqüência dos por quartzitos, muscovita-biotita xistos, sericita-clorita
Ncp xistos, tremolita xistos, ocasionalmente com estruturas pri-
Caipu
márias preservadas, com intercalações de lentes de meta-
vulcânicas básicas a intermediárias.
Granitóides Ortognaisses porfiríticos de composição granítica a grano-
Pg
Sintectônicos diorítica, intensamente foliados.
Ortognaisses cinza, bandados, de composição tonalítica a
Ag Metaplutônicas granodiorítica, localmente trondhjemítica, associados a
corpos tabulares de leucogranitóides e metapegmatóides.
Associação vulcano-sedimentar constituída pela alternân-
cia de gnaisses para e ortoderivados, metagrauvacas,
Complexo contendo frações subordinadas de metachertes, calcissili-
Ag
Granjeiro cáticas, metabásicas/metaultrabásicas e metavulcânicas
ácidas, além de corpos lenticulares de quartzitos, forma-
ções ferríferas bandadas e metacalcários.

– 28 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

Do ponto de vista deformacional, a região de Os termos mais potássicos apresentam-se com


abrangência do Terreno Granjeiro apresenta-se textura granoblástica xenomórfica, às vezes com
policiclicamente deformada, destacando-se, pelo presença de porfiroclastos de feldspatos (potássico
menos, dois eventos tectônicos maiores. Um, mais e plagioclásio), arredondados ou alongados segun-
antigo, de provável idade transamazônica (2,1 - do a foliação. O quartzo encontra-se poligonizado e
1,8Ga), com nítidas evidências de uma tectônica recristalizado dinamicamente. O feldspato potássi-
tangencial e metamorfismo de alto grau. E o outro, co, às vezes, apresenta bordas albitizadas ou com
mais novo, atribuído ao Ciclo Brasiliano (800 - reentrâncias de mirmequitas, podendo conter inclu-
600Ma), caracterizado pela presença de estrutu- sões de quartzo e plagioclásio da matriz, indicando
ras originadas em regime do tipo transcorrente e um processo de potassificação posterior. Como mi-
geração de intenso plutonismo granítico. nerais acessórios, incluem, zircão e apatita.
Litologicamente, mostra variações composicio- Muitas vezes os ortognaisses tonalíticos adqui-
nais, distinguindo-se, desde gnaisses uniforme- rem um aspecto bandado acentuado, por se encon-
mente bandados, a ligeiramente foliados, até tipos trarem intimamente associados a corpos de meta-
bastante homogêneos e, ocasionalmente, áreas de básicas anfibolitizadas do Complexo Granjeiro e
exposição de rochas migmatíticas, com diferentes abundantes venulações de material trondhjemítico e
graus de migmatização. leucogranitóides esbranquiçados. Em alguns locais
Nos termos mais gnáissicos predominam bioti- os tonalitos acham-se totalmente envolvidos por
ta-hornblenda gnaisses, mais abundantes, e biotita granodioritos, sendo, o conjunto, truncado por leu-
gnaisses de composição tonalítica, às vezes gra- cogranitos derivados da fusão parcial do tonalito.
nodiorítica, e, muito subordinadamente, trondhje- Nota-se a presença de finos leitos de melanossoma,
mítica. Apresentam-se com coloração cinza, gra- caracterizando processo de fusão parcial in situ.
nulação média a grossa, exibindo um bandamento
milimétrico, que varia de bem definido a incipiente,
realçado pela alternância de leitos escuros, forma- Metaplutônicas (Ag)
dos por hornblenda e biotita, e claros, compostos
por feldspato e quartzo. Constituem tipos de afini- Estudos geocronológicos recentemente efetua-
dade calcialcalina, derivação mantélica e de pro- dos em metatonalitos da região de Granjeiro-CE
vável ambiência de arco magmático, conforme evi- (Vasconcelos et al., 1997a) pelo método Pb/Pb por
denciado nos estudos litoquímicos efetuados nos evaporação em zircão forneceram uma idade bem
trabalhos de Vasconcelos et al. (1998). marcada de 2.513 ± 47Ma (foto 20), valor esse con-
Os termos mais potássicos, menos abundantes, siderado como idade mínima de cristalização de
são representados por biotita ortognaisses, médios zircões relacionados à época de colocação do pro-
a grossos, eventualmente porfiríticos, com porfiro- tólito ígneo dessas rochas.
clastos de microclina e plagioclásio, imersos numa
matriz mais quartzosa.
Ao microscópio, os termos mais tonalíticos se Granitóides Sintectônicos (Pg)
apresentam como rochas de textura granoblástica
a xenoblástica, bandada, formada por plagioclásio Os granitóides paleoproterozóicos (Pg ) são
(42%), biotita (21%), hornblenda (21%) e quartzo constituídos por termos de composição granodiorí-
(16%), além de titanita, zircão, apatita e allanita, tica a granítica e são tidos como granitóides sin a
como minerais acessórios. Exibem, portanto, uma tardi-colisionais em relação ao Evento Transama-
composição tonalítica, metamorfizada em fácies zônico.
anfibolito médio, dado pela paragênese: plagioclá- Esses granitóides mais potássicos, geralmente
sio + quartzo + hornblenda + biotita. são rochas de coloração cinza a esbranquiçada,
A análise dos óxidos dos elementos maiores de- textura granular grossa a porfirítica, com foliação
nota tratar-se de rochas essencialmente pobres bem desenvolvida e penetrativa, em graus va-
em SiO2 e K2O, ricas em Na2O, CaO, MgO, TiO2, riáveis de strain. Sua forma de ocorrência varia de
FeO e P2O5. Os índices de diferenciação de sheets, com espessura variando de métrica a de-
Thornton e Tuttle são baixos, e os índices petroge- camétrica, a corpos batolíticos e geometria ainda
néticos, sempre inferiores a 1, atestam o caráter não totalmente conhecida, e com a constante pre-
eminentemente sódico dessas rochas (Vasconce- sença de xenólitos da suíte TTG e metamáfica/me-
los et al., 1998). taultramáficas. Sua intrusão é controlada pela de-

– 29 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

formação tangencial paleoproterozóica, observan- 1999, dentre outros). O Grupo Orós e a Faixa Jagua-
do-se que, na maioria das vezes, seus corpos re- ribe, juntamente com os complexos Jaguaretama e
presentativos se alojam ao longo de planos axiais São Nicolau, constituem o que Parente & Arthaud
de dobras isoclinais ligadas à tectônica tangencial (1995) definiram como uma unidade geotectônica
imposta às rochas mais antigas presentes na área. especial, o Sistema Orós-Jaguaribe. Este terreno
No que se relaciona à geocronologia, os dados dis- encontra-se intrudido por inúmeros corpos granitói-
poníveis referem-se a estudos de Vasconcelos et des, reportados ao final do Ciclo Brasiliano (quadro
al. (1997a), efetuados em amostras das proximida- 2.11).
des da cidade de Várzea Alegre-CE. O método
adotado foi o Pb/Pb por evaporação em zircão, for- Complexo Jaguaretama (Pj)
necendo uma idade de 2.080 ± 16Ma, considerada
como idade mínima de cristalização. Forma uma faixa orientada estruturalmente se-
gundo a direção E-W, limitada por zonas de cisalha-
Seqüências Lavras da Mangabeira e Caipu mento dextrais, tendo continuidade mais expressiva
para leste, adentrando na Folha Jaguaribe SE.
Como supracrustais neoproterozóicas identifica- Predominam litologias ortoderivadas: ortog-
das no âmbito desse terreno, ocorrem as se- naisses granodioríticos, tonalíticos e graníticos,
qüências: Caipu, formada por uma associação vul- com leucotonalitos, trondhjemitos e lentes de
cano-sedimentar com predominância de metapeli- anfibolitos. Inclui restos de paraderivadas fre-
tos/metapsamitos de médio a baixo grau metamór- qüentemente migmatizadas, como biotita gnais-
fico, à qual se intercalam horizontes de metavulcâ- ses com ou sem sillimanita e granada, quartzi-
nicas básicas a intermediárias; e Lavras da Manga- tos, quartzitos ferríferos, xistos, mármores, ro-
beira, constituída por xistos, quartzitos, metacon- chas calcissilicáticas e metavulcânicas miloniti-
glomerados e, subordinadamente, calcissilicáticas zadas. Foram afetadas por um metamorfismo da
e metavulcânicas. fácies anfibolito, localmente atingindo a fácies
granulito. É correlacionado às rochas pertencen-
tes ao Complexo São Nicolau, aflorante mais a su-
2.2.10.2 Terreno Orós-Jaguaribe doeste, porém com maior abundância de paraderi-
vadas (figura 2.5 e quadro 2.11).
Este terreno forma uma vasta área de afloramen-
tos com trend NE-SW, recoberta por sedimentos da Complexo São Nicolau (Psn)
Bacia do Parnaíba em sua extremidade sudoeste.
Os limites são feitos por zonas de cisalhamento Constitui uma faixa com trend NE-SW, limitada
dúcteis transcorrentes, sendo a de Aiuaba a que a sul pela Zona de Cisalhamento dúctil dextral de
define o seu limite norte, com o Terreno Ceará Cen- Aiuaba. Aqui predominam magmatitos de caráter
tral, e a de Farias Brito, o limite sul. O prolongamen- eminentemente plutônico (foto 15), representa-
to desses lineamentos, passando por baixo da Ba- dos por ortognaisses a hornblenda e biotita, cin-
cia do Araripe, permite correlacionar as litologias zentos, de composição tonalítica a granodioríti-
metapelíticas existentes a nordeste e sudoeste ca, com intercalações anfibolíticas e localmente
destes terrenos, respectivamente denominadas de associados a raros remanescentes de paraderi-
Grupo Orós e Seqüência Ipueirinha (figura 2.4). vadas, às vezes migmatizadas, constituídas por
Seu embasamento é constituído por dois comple- xistos, quartzitos, gnaisses e mármores (foto 13).
xos paleoproterozóicos: Jaguaretama e São Nico- Ocorrem variações litológicas, desde gnaisses ban-
lau, formados predominantemente de metatonalitos dados até tipos homogêneos e de aspecto migmatí-
milonitizados e, localmente, associados a restos de tico. Estudos petrográficos em lâminas delgadas re-
paraderivadas migmatizadas em diferentes graus. A velaram protólitos ígneos, como biotita granito pórfi-
seqüência supracrustal é formada pelo Grupo Orós, ro, biotita granodiorito, metadiorito fino foliado e ou-
do Mesoproterozóico, que geologicamente é a uni- tros, inclusive de paraderivadas, não individualiza-
dade mais bem conhecida, seja ao nível de carto- dos em mapa. Formam cinturões alongados, ocu-
grafia básica, seja em termos geocronológicos ou pando relevo acidentado e contatos tectônicos re-
petrográficos, com razoável acervo de dados (ver presentados por zonas de cisalhamento dúcteis,
Macedo, Sá e colaboradores, 1988, 1991, 1992, transcorrentes e dextrais. É correlacionado ao Com-
1995; Parente & Arthaud,1995; Nogueira Neto et al., plexo Jaguaretama, que ocorre a nordeste, com

– 30 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

Quadro 2.11 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Orós-Jaguaribe.

Símbolo Unidade Litologia


Litoestratigráfica

Seqüência Seqüência vulcano-sedimentar representada por clorita xistos


Mi orto e paraderivados. Inclui lentes de quartzitos, quartzitos fer-
Ipueirinha
ríferos, metachertes e metamáficas.
Na base, ocorrem gnaisses, metavulcânicas de composição
ácida a básica (metarriolitos, metadacitos, metandesitos e anfi-
bolitos) e quartzitos, interacamadados com metavulcânicas e
Mor Grupo Orós ortognaisses porfiríticos grosseiros (Mg) intrudidos por granitos
porfiríticos sin a tardi-tectônicos. Em direção ao topo, inclui mi-
caxistos diversos, metassiltitos, quartzitos e metacalcários as-
sociados localmente a extensos depósitos de magnesita.
Ortognaisses a hornblenda e biotita, cinzentos, de composi-
Complexo ção tonalítica a granodiorítica, com intercalações anfibolíticas
Psn
São Nicolau e localmente associados a remanescentes paraderivados
migmatizados em diferentes graus.
Ortognaisses granodioríticos, tonalíticos e graníticos, com leu-
cotonalitos e trondhjemitos e lentes de anfibolitos. Inclui restos
Complexo de paraderivadas freqüentemente migmatizadas: biotita gnais-
Pj
Jaguaretama ses com ou sem sillimanita e granada, quartzitos, quartzitos fer-
ríferos, xistos, mármores, rochas calcissilicáticas e metavulcâ-
nicas milonitizadas.

quem tem continuidade geográfico/estrutural atra- autor a caracterizá-la como Grupo Orós, o que foi
vés das zonas de cisalhamento transcorrente, como adotado por outros, subseqüentes, como Sá (1991),
a de Tatajuba, seu limite sul. Estruturalmente corres- Parente (1995), Oliveira & Cavalcante (1993),
pondem a terrenos polideformados, submetidos a Medeiros et al. (1993) e Vasconcelos et al. (1998).
um metamorfismo de fácies anfibolito (figura 2.5 e Existe um razoável número de informações geo-
quadro 2.11). cronológicas, obtidas através dos métodos Rb/Sr,
A idade paleoproterozóica assumida, deve-se a U/Pb e Sm/Nd (Macedo et al., 1988; Sá, 1991) para
dados de campo que permitiram uma correlação os metamorfitos deste grupo e seu embasamento,
com outras áreas geologicamente semelhantes e tendo sido obtidos dados indicando, o Ciclo Meso-
melhor estudadas, a exemplo de Vasconcelos et al. proterozóico e o Paleoproterozóico, respectiva-
(1998), que compararam, geologicamente, re- mente, para os metamorfitos e para o seu embasa-
giões da Folha Iguatu com outras áreas no Rio mento. Sá (1991) caracterizou este grupo como do
Grande do Norte (região do Seridó) e Ceará (Hack- Mesoproterozóico. Parente & Arthaud (1995) dis-
spacher et al., 1990; Pessoa et al., 1986; Brito Ne- cordam de Sá (1991) com relação ao rifteamento e
ves, 1975). Adicionando argumentos favoráveis a magmatismo, tendo este ocorrido, segundo aque-
essa interpretação, Gomes et al. (1981) obtiveram, les autores, após a deposição da seqüência sedi-
pelo método Pb/Pb, idade de 1.985 ± 23Ma em um mentar, em ambiente de plataforma ou de parapla-
hornblenda-biotita metaquartzo diorito (foto 16, taforma, e não durante a deposição. Isto implica em
amostra JG-445), conforme ilustrado na figura 2.7. interpretar que a sedimentação deve ter tido início
no final do Paleoproterozóico a início do Mesopro-
Grupo Orós (Mor) terozóico. Vasconcelos et al. (1998), concordando
com Sá (1991), assinalaram que a sedimentação
Gomes et al. (1981) consideraram esta unidade desse grupo teria se efetuado em ambiente de rifte
como Grupo Ceará. Cavalcante (1987) redefiniu a intracontinental, no Proterozóico Médio, e identifi-
utilização desta concepção, tendo sido o primeiro caram três fases de deformação, relacionadas ao

– 31 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

JG-445 Idade = 1.985 23Ma


2.500
Idade [Ma] 4 13 15 23

2.000
x

1.500

1.000

Etapas de aquecimento

Figura 2.7 – Idade 207Pb/ 206Pb em monocristais de zircão do metatonalito de Várzea Nova (CE).
Círculos preeenchidos: blocos considerados para o cálculo da idade. X: blocos rejeitados devido a
razão 206Pb/ 204Pb < 2.500. Quadrado: blocos rejeitados manualmente devido ao incremento dos
valores da razão 207Pb/ 206Pb. Círculos vazios: blocos rejeitados devido ao espalhamento > 2s.

Ciclo Brasiliano: uma mais antiga, representada dos), na base do Grupo Orós, e, sim, termos que
por micas orientadas; uma segunda gerou dobras refletem uma sedimentação marinha epicontinen-
recumbentes facilmente identificáveis, e a terceira, tal, como xistos aluminosos e quartzitos quase pu-
relacionada às grandes transcorrências dextrais. ros, ou aluminosos. Caso a argumentação desses
As fases, inicial e final estão relacionadas à fácies autores, de que o magmatismo, de idade 1.673Ma
xisto-verde, enquanto a intermediária atingiu a tenha se processado após a sedimentação, esta
fácies anfibolito, com a presença de estaurolita e tem que, obrigatoriamente, ser mais antiga que
andaluzita. 1.673Ma, o que não encontra suporte nos dados
Cavalcante (1999) mapeou a Seqüência Meta- de campo e geocronológicos existentes. Aqueles
vulcano-sedimentar de Peixe Gordo, também mesmos autores, ainda mapearam como Faixa Ja-
como Grupo Orós, apresentando características guaribe, pertencente ao Sistema Orós-Jaguaribe,
geológico-estruturais comuns a ambas as ocorrên- uma seqüência metassedimentar existente
cias, inclusive de cunho cronológico, tendo obtido imediatamente a noroeste da Zona de Cisalha-
idades de 1.796 ± 55Ma em metarriolito porfirítico, mento Farias Brito, o que não será aqui considera-
que representa a Formação Campo Alegre, soto- do, e, sim, como duas unidades distintas: o Grupo
posta à Formação Santarém, metassedimentar. Orós e a Seqüência Caipu.
Parente & Arthaud (1995) argumentam que a se- Neste trabalho indica-se, com os dados existen-
dimentação inicial não se processou em ambiente tes para o Grupo Orós, uma sedimentação e vulca-
tipo rifte, pois não são observados sedimentos típi- nismo no início do Mesoproterozóico e evolução
cos de ambiente rifte como clásticos imaturos (ar- tectonotermal no Brasiliano, com deformação e me-
cóseos, quartzitos feldspáticos e conglomera- tamorfismo monocíclicos, não tendo sido observa-

– 32 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

dos, ainda, eventuais registros de uma outra defor- micas. A segunda, caracterizando a principal folia-
mação mais antiga, obliterada por uma outra mais ção metamórfica, gerou dobras isoclinais a recum-
nova, como, por exemplo, uma tangencial, bastan- bentes muito bem identificáveis, sob condições de
te comum em outros litotipos da Província Borbore- fácies xisto-verde (com granada e biotita) até anfi-
ma. bolito, com estaurolita e andaluzita. As zonas de ci-
O Grupo Orós acha-se muito bem exposto na Fo- salhamento dúcteis e dextrais correspondem à ter-
lha Iguatu (SB.24-Y-B), compreendendo uma faixa ceira fase de deformação, na qual foi gerada uma
alongada, de direção norte-sul, que se inflete para intensa foliação milonítica, fácies xisto-verde, obli-
sudoeste na altura da cidade de Iguatu, prolongan- terando sobremaneira as evidências pretéritas das
do-se daí, em direção sudoeste, onde, no extre- duas primeiras fases. Dados mais específicos so-
mo-sudoeste da Folha Jaguaribe SW, é recoberto bre o Grupo Orós podem também ser obtidos em
pela Formação Jaicós. Inclui, na base, uma suces- Macedo, Sá e colaboradores (1988, 1991, 1992,
são de gnaisses, metavulcânicas de composição 1995).
ácida a básica (metarriolitos, metadacitos, metan-
desitos e anfibolitos) e quartzitos, interacamada- Seqüência Ipueirinha (Mi)
dos com ortognaisses porfiríticos grosseiros, intru-
didos por granitos porfiríticos sin a tardi-tectônicos Melo & Vasconcelos (1991) mapearam como
(figura 2.5 e quadro 2.11). Em direção ao topo, Grupo Cachoeirinha, uma seqüência metavulca-
compõem este grupo, micaxistos diversos, metas- no-sedimentar mesoproterozóica, metamorfizada
siltitos (foto 9, metaturbiditos?), quartzitos e meta- na fácies xisto-verde, que aflora no extre-
calcários (foto 8) associados, localmente, a exten- mo-sudoeste do Terreno Orós-Jaguaribe. Em dire-
sos depósitos de magnesita. ção nordeste, é recoberta pelos sedimentos da
Os granitóides tipo Lima Campos (Mg ), são or- Bacia do Araripe, e, a partir daí, voltam a aflorar, po-
tognaisses porfiríticos, grosseiros (foto 10), róseos, rém já com a denominação de Grupo Orós. Os con-
com fenocristais centimétricos de feldspato potás- dicionamentos geológico-estruturais e tipos litoló-
sico, de forma sigmóide, com indicação de cinemá- gicos existentes nesses dois setores são perfeita-
tica dextral. Apresentam normalmente uma foliação mente correlacionáveis entre si, a partir das proje-
milonítica penetrativa, subvertical. Vasconcelos et ções dos grandes traços das zonas de cisalhamen-
al. (1998), através da observação das relações de to existentes. Desta forma, pela inexistência de
contato entre esses granitóides e os metassedi- uma continuidade física entre essas duas associa-
mentos, aliado à presença de enclaves tanto des- ções metavulcano-sedimentares, propomos a de-
ses metassedimentos e de metavulcânicas, as- nominação de Seqüência Ipueirinha, de idade me-
sociaram uma simultaneidade da colocação des- soproterozóica, correlacionável ao Grupo Orós, an-
ses corpos com o inicio da sedimentação do Grupo teriormente denominada de Grupo Cachoeirinha,
Orós. por Melo & Vasconcelos (op. cit.).
Alguns outros corpos granitóides porfiríticos ma- É constituída de xistos variados, alguns de ori-
peados neste trabalho foram correlacionados aos gem vulcânica, incluindo lentes de quartzitos,
do tipo Lima Campos, considerando aspectos pe- quartzitos ferríferos, metachertes e metamáficas
trológicos e condicionamentos geológicos. Contu- (quadro 2.11). A seqüência é cortada por granitos,
do, sugere-se a realização de um programa com- granodioritos e gabros, de idade brasiliana. O me-
plementar de datações geocronológicas, para con- tamorfismo que atingiu o conjunto litológico é de
firmação dessa interpretação, pois há uma grande baixo grau, fácies xisto-verde. Em termos deforma-
semelhança textural das fábricas exibidas por cor- cionais, são referidas três fases, reportadas ao Ci-
pos granitóides porfiríticos brasilianos, deformados clo Brasiliano.
por zonas de cisalhamento, com aquelas exibidas
pelos granitóides Lima Campos, mesoproterozói-
cos. 2.2.10.3 Terreno Ceará Central
Em termos deformacionais, é mais ou menos
consensual, (Gomes et al., 1981; Macedo et al., Forma uma faixa de direção aproximada NE-SW,
1988; Parente, 1995; Vasconcelos et al., 1998) que limitada pelas zonas de cisalhamento dextrais, de
o Grupo Orós foi afetado por três fases de deforma- Senador Pompeu, a norte, e de Aiuaba, a sul. Os
ção brasilianas: a mais antiga, gerou, na fácies xis- seus afloramentos se iniciam, na parte oeste do Do-
to-verde, uma foliação definida por orientação de mínio Cearense, próximo aos sedimentos da Bacia

– 33 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

do Parnaíba e se prolongam para nordeste em dire- reno Ceará Central foram denominados de Comple-
ção à Folha Iguatu (SB.24-Y-B) (figura 2.4). xo Tonalítico-Granodiorítico, correlacionável à uni-
É composto por um complexo arqueano (Com- dade Mombaça do Complexo Cruzeta, de Oliveira &
plexo Tonalítico-Granodiorítico) e dois paleoprote- Cavalcante (1993). Litologicamente compõe-se de
rozóicos: Complexo Acopiara, de natureza essen- uma complexa associação ortoderivada, gnáissi-
cialmente paraderivada, e Granitóides Sintectôni- co-migmatítica, associada a corpos de anfibolitos,
cos de composição granítica a granodiorítica. O metacalcários, charnoquito e metaultramáficas. Se-
Mesoproterozóico é formado pelo Grupo Ceará, de gundo aqueles autores, o metamorfismo atingiu fáci-
constituição paraderivada e de ambiente marinho es anfibolito até a fusão, gerando diferentes graus
plataformal. Todos os litotipos acima descritos de migmatização, com posterior retrometamorfismo
acham-se cortados por um extenso plutonismo gra- para xisto-verde. Os litotipos exibem um padrão de-
nítico calcialcalino predominante. formacional complexo, reconhecidamente polifási-
co, típico de terrenos arqueanos (figura 2.5 e quadro
Complexo Tonalítico-Granodiorítico (Atg) 2.12).

Oliveira & Cavalcante (1993) mapearam, na Folha Complexo Acopiara (Pa)


Mombaça, um conjunto de metamorfitos arqueanos,
denominado de Complexo Cruzeta, representado Neste trabalho, o Complexo Acopiara abarca as
pelas unidades: Tróia, Pedra Branca e Mombaça, litologias consideradas por Vasconcelos et al.
ortoderivadas, com raros remanescentes metasse- (1998) como Grupo Ceará, associação gnáissi-
dimentares. A idade arqueana foi baseada em Pes- co-migmatítica, que aflora no extremo-nordeste da
soa et al. (1986), que obtiveram valores de 2.540 ± Folha Iguatu (SB.24-Y-B). Compreende uma asso-
60Ma, em biotita gnaisses da unidade Pedra Bran- ciação de rochas gnáissico-migmatíticas de cará-
ca. Adotou-se, neste trabalho, que a Zona de Cisa- ter essencialmente paraderivado, localmente enri-
lhamento Senador Pompeu divide dois ambientes quecida por material grafitoso (e. g. em Piquet Car-
geotectônicos distintos, o Terreno Ceará Central e o neiro - CE) e/ou scheelitífero (nas proximidades de
Terreno Ceará, sendo, por isso, utilizadas terminolo- Milhã, Betânia e Tataíra, no Ceará). Ocorrem, asso-
gias distintas nesses terrenos. Assim, o Complexo ciados, gnaisses aluminosos paraderivados, à silli-
Cruzeta ficou restrito exclusivamente ao Terreno Ce- manita e granada. Metamorficamente estão em alto
ará, e os termos petrotectônicos arqueanos do Ter- grau, fácies anfibolito alto, e variado grau de mig-

Quadro 2.12 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Ceará Central.

Símbolo Unidade Litologia


Litoestratigráfica

Micaxistos variados, quartzitos e gnaisses a duas micas,


Mc Grupo Ceará com intercalações de metacalcários e lentes subordinadas
de calcissilicáticas.

Granitóides Ortognaisses porfiríticos, de coloração cinza, foliados,


Pg composição granítica a granodiorítica e idade em torno de
Sintectônicos
2.100Ma.

Complexo Rochas gnáissico-migmatíticas, de caráter essencialmen-


Pa te paraderivado, localmente enriquecidas por material gra-
Acopiara
fitoso e/ou scheelitífero.

Comp. Tonalítico- Rochas gnáissico-migmatíticas, ortoderivadas, associa-


Atg das a corpos de anfibolitos, metacalcários, charnockito e
Granodiorítico
metaultramáficas.

– 34 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

matização, podendo localmente atingir a anatexia e mármores), quanto rochas que eram assinaladas
(figura 2.5 e quadro 2.12). como mais antigas, apenas por exibirem grau me-
tamórfico mais elevado. Dados de campo deste tra-
Granitóides Sintectônicos (Pg) balho, permitiram identificar, em alguns locais, con-
tatos gradacionais entre tipos mais e menos meta-
São formados por ortognaisses de composição mórficos, o que sugere, em princípio, a mesma ida-
granodiorítica a granítica e ocorrem, geralmente, de para tais conjuntos rochosos. Mesmo sem se
sob a forma de corpos tabulares concordantes com dispor de um número de determinações geocrono-
a foliação regional. lógicas que indiquem as reais idades desses me-
Constituem rochas de coloração cinza, textura tassedimentos, considera-se que o atual empilha-
granular grossa a porfiróide, com foliação bem de- mento exibido, pode refletir, com uma certa segu-
senvolvida e penetrativa, em graus variáveis de rança, a pretérita ordem de sedimentação, permi-
strain. Sua intrusão, aparentemente, é controlada tindo a adoção da mesma idade para o conjunto,
pela deformação tangencial paleoproterozóica, já ressalvando, entretanto, a necessidade de dados
que muitos de seus corpos se alojam ao longo de adicionais imprescindíveis a uma interpretação
planos axiais de dobras isoclinais geradas durante mais conclusiva.
esse evento. Sua idade de intrusão é atribuída ao Litologicamente compreende uma associação
período compreendido entre 1.900 e 2.080Ma, com de micaxistos variados, quartzitos (foto 11) e gnais-
base em correlações com outros corpos melhor es- ses a duas micas (foto 12), com intercalações de
tudados (Vasconcelos et al., 1998). metacalcários e lentes subordinadas de calcissili-
cáticas, compondo, segundo Vasconcelos et al.
Grupo Ceará (Mc) (1998), uma típica seqüência depositada em ambi-
ente marinho plataformal.
Conforme assinalaram Vasconcelos et al. (1997),
ainda é problemática a individualização do Grupo
Ceará, no que se refere principalmente à litologia, 2.2.10.4 Terreno Acaraú
empilhamento cronoestratigráfico, idades e ambi-
entes de sedimentação. Como naquele estudo fo- Este terreno situa-se na porção centro-norte da fo-
ram incorporadas ao Grupo Ceará rochas que tra- lha, limitado, a leste, pela Zona de Cisalhamento de
dicionalmente eram pertencentes ao “embasamen- Tauá; a oeste, pelos sedimentos basais da Bacia do
to”, o arcabouço apresentado é conflitante em rela- Parnaíba e, a sul, pela Bacia do Cococi (figura 2.4).
ção aos modelos antigos. Isto posto, considera-se
este grupo como constituído por uma típica se- Metaplutônicas (Ag1)
qüência depositada em ambiente marinho platafor-
mal, tendo os estudos petrográficos revelado para- As litologias desta unidade ocorrem numa área
gêneses compatíveis com um metamorfismo regio- de forma arredondada, situada a oeste da Zona de
nal de fácies anfibolito (Winkler, 1977), podendo Cisalhamento de Tauá. Boas exposições podem
atingir a anatexia em alguns locais. ser observadas na BR-020, a sudoeste da cidade
É sugerida uma possível atuação de eventos po- de Tauá, no Ceará. Correspondem a afloramentos
lifásicos/policíclicos, pela existência de um ou mais de ortognaisses, muito alterados, composição to-
bandamentos gnáissicos, com distintas orienta- nalítica a granodiorítica, associados a lentes de
ções, provavelmente transamazônicos, sendo obli- metabásicas/metaultrabásicas e sheets de leuco-
terados por uma foliação milonítica resultante da metagranitóides e metapegmatóides (figura 2.5 e
atuação de zonas de cisalhamento transcorrentes. quadro 2.13). A idade arqueana é devida a correla-
Tais efeitos são mais ou menos observáveis, de- ções com a unidade Tróia do Complexo Cruzeta,
pendendo da área estudada, o que sempre dificul- descrita adiante.
ta o estabelecimento de um padrão uniforme, ou
seja, válido para toda a área de exposição deste Complexo Parambu (Ppa)
complexo, advindo daí, as dissensões naturais, tra-
tando-se de trabalhos em áreas pré-cambrianas. Ocorre no trecho situado entre a BR-020, a sudo-
O Grupo Ceará, como foi aqui empregado, agru- este de Tauá, e a cidade de Parambu, no Ceará.
pa, tanto as clássicas seqüências metassedimen- Compreende um conjunto de rochas predominan-
tares de baixo grau metamórfico (xistos, quartzitos temente paraderivadas (foto 17), subordinadamen-

– 35 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

te com termos metaplutônicos, metamorfizadas em postamente transamazônica, são observadas raras


alto grau, com abundante granada e migmatizada lineações de estiramento, sem que pudesse ter
em diferentes graus. Tais características permiti- sido apontada uma indicação preferencial de pos-
ram a individualização desta unidade em relação sível transporte de massas, pelo insuficiente núme-
ao contexto regional adjacente, destacando-se, ro de medidas estruturais disponíveis. Inclui restos
que até então, ela não havia sido apontada em ou- de seqüências paraderivadas de alto grau, separá-
tros mapeamentos. veis em mapeamentos com escala compatível. Li-
As suas litologias são: muscovita-biotita gnais- tologicamente foram identificados ortognaisses
se com granada e sillimanita, quartzito micáceo e (foto 18) com ou sem biotita, muscovita e granada,
feldspático, xistos, lentes de mármore, calcissili- biotita metagranito pórfiro, anfibolito e restos de se-
cáticas e metaplutônicas com granada, com varia- qüências paraderivadas (gnaisses finamente folia-
dos níveis de migmatização (figura 2.5 e quadro dos e muscovita sericita quartzito). Foi indicada a
2.13). Em termos deformacionais, constatou-se que idade paleoproterozóica pelas características lito-
esta seqüência foi afetada por uma tectônica de na- estruturais apresentadas, como: grau metamórfico,
tureza contracional tangencial, com indicação de litologias e aspectos deformacionais (quadro 2.13).
transporte tectônico para oeste, marcada por uma
foliação gnáissica, conspícua. Ressalta-se que, em
função dos poucos dados até então obtidos, tal as- 2.2.10.5 Terreno Ceará
sertiva deve ser encarada com reservas, passível de
confirmação. A idade paleoproterozóica é inferida a Ocupa uma pequena faixa situada entre as zo-
partir dos litotipos envolvidos, sua deformação e nas de cisalhamento Tauá e Senador Pompeu, res-
grau de metamorfismo apresentados. pectivamente a oeste e leste. A sudoeste é recober-
to pelos sedimentos da Bacia do Cococi. Suas lito-
Complexo Granítico-Migmatítico (Pgrmg) logias encontram-se extremamente deformadas
por essas duas zonas de cisalhamento, apresen-
Este complexo, de trend NW-SE, mapeado a su- tam-se orientadas segundo um trend NE-SW e são
doeste de Parambu, é recoberto pelos sedimentos componentes do Complexo Cruzeta (figura 2.4).
da Formação Jaicós a oeste, e, a nordeste, encon-
tra-se em contato com o Complexo Parambu. Estru- Complexo Cruzeta
turalmente apresenta um foliação metamórfica re-
presentada por um bandamento gnáissico de bai- Esse conjunto de ortometamorfitos já foi denomi-
xo ângulo e milonítica, em alguns locais. Associa- nado de complexo Caicó (Campos et al. 1976) e
das a essa foliação milonítica, pré-brasiliana, su- complexo Nordestino (Gomes et al., 1981). Oliveira

Quadro 2.13 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Acaraú.

Símbolo Unidade Litoestratigráfica Litologia

Ortognaisses com ou sem biotita, muscovita e


Complexo
Pgrmg granada, metagranito pórfiro e restos de se-
Granítico-Migmatítico
qüências paraderivadas.
Muscovita-biotita gnaisse com granada e silli-
manita, quartzito micáceo e feldspático, xis-
Ppa Complexo Parambu tos, lentes de mármore, calcissilicáticas e me-
taplutônicas com granada. Ostenta variados
graus de migmatização.
Ortognaisses cinzentos, de composição tonalí-
tica a granodiorítica, associados a corpos lenti-
Ag 1 Metaplutônicas culares de metabásicas/meta-ultrabásicas e
sheets de leucometagranitóides e me-
tapegmatóides.

– 36 –
SB.24-Y (Jaguaribe SW )

& Cavalcante (1993) consideraram o Complexo Proterozóico Inferior. Este complexo é constituído
Cruzeta como constituído apenas pelas unidades pelas unidades Tróia, Pedra Branca e Mombaça (fi-
Tróia e Pedra Branca, recoberto pela unidade gura 2.5 e quadro 2.14).
Mombaça. A idade arqueana para este complexo
baseia-se nas datações Rb/Sr de 2.540 ± 60Ma ob- Unidade Tróia (Act) – Ocorre na porção noroes-
tidas por Pessoa et al. (1986) em amostras relacio- te da Folha Iguatu (SB.24-Y-B), a leste da cidade de
nadas à unidade Pedra Branca, intrusivas na unida- Tauá, numa pequena faixa de trend aproximado
de Tróia. Vasconcelos et al. (1998) englobaram a NE-SW, limitado por zonas de cisalhamento. Litolo-
unidade Mombaça no Complexo Cruzeta, que pas- gicamente é composto por uma associação meta-
saria a se compor das unidades: Tróia, Pedra Bran- plutonovulcano-sedimentar de ortoanfibolitos (me-
ca e Mombaça, de idade arqueana e retrabalhadas tabasaltos e metagabros), metatufos básicos e res-
no Proterozóico. Ainda, aqueles autores considera- tos de rochas paraderivadas representadas por
ram parte das rochas ocorrentes a norte da Zona de quartzitos, micaxistos, metachertes e rochas cal-
Cisalhamento Senador Pompeu, na Folha Jaguari- cissilicáticas não individualizadas (figura 2.5 e qua-
be SW, como granitóides pré-colisionais; uma ter- dro 2.14).
minologia diretamente relacionada à tectônica glo-
bal (figura 2.5). Neste trabalho, estas rochas serão Unidade Pedra Branca (Acpb) – É aqui utilizada
consideradas como pertencentes à unidade Mom- no sentido de Oliveira & Cavalcante (1993) para re-
baça, do Complexo Cruzeta, conforme assinalado presentar uma seqüência de ortognaisses graníti-
por Vasconcelos et al. (1998), porém de idade ar- cos cinzentos, parcialmente migmatizados, de
queana (Oliveira & Cavalcante, op. cit.) e não do composição tonalítica (predominante), granodiorí-

Quadro 2.14 – Unidades litoestratigráficas do Terreno Ceará.

Símbolo Unidade Litologia


Llitoestratigráfica

Biotita gnaisses diversos, ortoderivados, geralmen-


Mombaça

te migmatizados, com ou sem anfibólio e granada,


Acm geralmente cinzentos, composição granodiorítica,
granítica e quartzo-diorítica. Apresenta lentes de
anfibolitos, calcissilicáticas, metacalcários, quartzi-
tos ferruginosos e metaultramáficas.

Seqüência de ortognaisses graníticos cinzentos,


Complexo Cruzeta

Branca
Pedra

parcialmente migmatizados, de composição tonalí-


Acpb tica (predominante), granodiorítica e granítica mais
Unidade

raramente. É cortada por diques e sheets de leuco-


granitos pegmatóides e metabasitos.
Tróia

Associação plutono-vulcano-sedimentar formada


por ortoanfibolitos (metabasaltos e metagabros),
Act metatufos básicos e restos de rochas paraderiva-
das representadas por quartzitos, micaxistos, me-
tachertes e rochas calcissilicáticas não individuali-
zadas.

– 37 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

tica e granítica, mais raramente. É cortada por di- nada, geralmente cinzentos, composição grano-
ques e sheets de leucogranitos pegmatóides e me- diorítica, granítica e quartzo-diorítica. Apresenta
tabasitos (figura 2.5 e quadro 2.14). lentes de anfibolitos, calcissilicáticas, metacalcá-
rios, quartzitos ferruginosos e metaultramáficas.
Unidade Mombaça (Acm) – Será aqui utilizada Forma uma faixa de direção estrutural NE-SW, limi-
para representar um conjunto de tectonotipos, tada por zonas de cisalhamento que se afunilam
como definido por Oliveira & Cavalcante (1993): para sudoeste. É diferenciada das outras unida-
biotita gnaisses diversos, ortoderivados, geral- des, pela maior abundância de rochas paraderi-
mente migmatizados, com ou sem anfibólio e gra- vadas (figura 2.5 e quadro 2.14).

– 38 –

Você também pode gostar