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Dickran Berberian
RESUMO
Um dos maiores dramas dos consultores de fundações é o de saber quanto de recalque uma
estrutura já sofreu. Da mesma forma é também um dilema que se impõe ao profissional de patologias, avaliar
o risco envolvido e o prognóstico de um dado problema. Somando a tudo isto não é raro verificar-se que têm
sido reforçados fundações quando na realidade o problema estava sendo gerado por deslocamentos da
estrutura. O autor tenta, mesmo no pequeno espaço disponível, mostrar os resultados de suas experiências
adquiridas em mais de 300 obras analisadas, comparadas por comprovação teórica/experimental em
laboratório, ensaiando protótipos em tamanho real.
Os primeiros resultados desta pesquisa permitiram: 1. Correlacionar, ainda que de forma aproximada, os
sintomas patológicos de uma edificação aos prováveis recalques diferenciais ou distorcionais causadores do
problema; 2. Formar uma idéia sobre a gravidade, sobre o risco, e também e o nosso prognóstico dos
problemas; 3. Construir uma regra simples que permite através da atitude e morfologia das trincas, localizar
os pontos em processo de recalque e de deformação da estrutura; 4. Estimar de forma aproximada a
magnitude dos recalques em função da abertura das trincas no caso de estrutura de concreto ou aço e
alvenaria.
Palavras chaves: Correlação, Danos, Prognóstico, Trincas, Risco, Recalque da Fundação, Deslocamentos
Estruturais
ABSTRACT
One of the greatest dramas of consultants of foundations is to know how much settlement the
structure has suffered. Likewise it is also a dilemma that requires the pathologist to evaluate the risk involved
and the prognostic for a given problem. Adding to all, this is not often seen that foundations have been
underppining, when in reality the problem was being generated by displacements of the structure. The author
tries, even in the small space available, show the results of their experiences in more than 300 cases analyzed
were compared by proving theoretical / experimental laboratory prototypes rehearsing in full size.
The first results of this research allowed: 1. correlate, albeit approximately, the pathological symptoms of a
building or the likely distortional differential settlements causing the problem, 2. To form an idea about the
severity of the risk as well and our prognosis of problems; 3. Build a simple rule that allows through the
attitude and morphology of the cracks, find the points is suffering the settlement process and/or deformation
of the structure 4. Estimate of the approximate magnitude of the differential settlements due to the opening
of cracks in case of buildings of concrete or steel structure with masonry.
Keywords: Correlation, Damage, Prognosis, Cracks, Risk, Underpping of the Foundation, Structural
Displacements
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Diretor Presidente da INFRASOLO LTDA
Consultor Técnico FUNDEX LTDA
Professor da Engenharia Civil da UnB
Professor da Engenharia Civil da Fac. IESPLAN
O recalque de uma estrutura sob a ótica do solo é causado principalmente por quatro fenômenos, a
saber:
• Recalque Imediato
• Recalque por Adensamento Primário
• Recalque por Adensamento Secundário
• Recalque por Colapso
Funda
Sub.s
Figura 1. Recalques Total e Diferencial
Figura 2. Rutura por puncionamento causado por colapso
Os danos estruturais são muito influenciáveis pela interação solo/estrutura - ISE, amenizando-os e
redistribuindo-os.
Na grande maioria das obras os recalques são absorvidos e passam despercebidos durante a
construção, quando pilares e lajes são construídos no prumo e no nível.
Quando a magnitude dos recalques e principalmente dos recalques diferenciais é relativamente
pequena, de uma maneira geral, as cintas e os quatro primeiros andares das estruturas os absorvem e os
redistribuem. À medida que o processo se acentua, os danos deixam de ser somente arquitetônico-funcionais,
podendo em alguns casos produzir até o colapso da estrutura.
• A estrutura praticamente
não sofre danos funcionais
e estéticos;
• Rutura das redes externas;
• Alterações nos passeis e
calçadas;
Figura 3. Recalque Uniforme
ϕmáx
• Típicos de Estruturas
Rígidas e terrenos
linearmente desuniforme;
• Recalques linearmente
desuniforme;
• Estrutura sofre pequenos
danos;
• Desaprumos.
Figura 4.
Figura 4. Inclinação Uniforme
• Solo heterogêneos;
δ
• Recalques Distorcionais;
• Estrutura sofre Danos e
Fissurações.
Figura 5.
Como foi visto anteriormente, os recalques e outros tipos de deslocamentos decorrentes, são as
principais causas das fissuras e até em certos casos, do colapso total da estrutura.
Vários pesquisadores e entidades técnicas têm procurado estabelecer um paralelo entre estes
deslocamentos e os danos causados aos vários tipos de estruturas. Apesar de que a interação solo/estrutura é
um fenômeno complexo e depende de uma enorme gama de parâmetros, já existem estudos sistematizados
que podem servir de ponto de partida para estudos mais específicos.
Velloso & Lopes (1996) sumarizam no seu recente livro Fundações COPPE/UFRJ as experiências de
Bjerrum (1963), Vargas e Silva (1973), Skempton & MacDonald (1956), Grant et al (1974), Novais e
Ferreira (1976), Burland & Wroth (1974), Wahls (1981).
Recomendações de Berberian
O autor recomenda uma interelação entre a Distorção Angular β e danos observados em vários casos
de obras. Abaixo, são apresentados os conceitos e consequências dos principais tipos de recalques:
• Recalques totais uniformes dentro de certos limites não comprometem seriamente a segurança de
uma estrutura. Se uma estrutura recalca verticalmente ou se inclina como um corpo rígido, com variação
linear dos recalques entre seus pontos extremos, não haverá sérios danos estruturais.
Nesse caso, ocorrerão efeitos estéticos, funcionais e comprometimento do sistema de dutos
enterrados. Se um edifício de 18m de comprimento recalcar 1,5 cm de um lado e 12 cm do outro, de forma
linear (rígida) sem que ocorram recalques diferenciais consideráveis entre estes pontos, provavelmente a
estrutura não ressentirá destes recalques. O prédio irá inclinar-se β = (12 - 1,5) / 1800 ⇒ Frisc = 0,58
apresentando também só efeitos estéticos.
• A aceitabilidade da estrutura é definida pelo projetista da estrutura baseado nos recalques
diferenciais Δ, distorcionais β e principalmente no fator Frisc = β . 1000.
• Os recalques totais, diferenciais e distorcionais podem ser calculados teoricamente durante a
elaboração do projeto e/ou podem ser medidos no decorrer da obra.
• O tempo de ocorrência dos recalques é um fator importante, uma vez que recalques lentos e longos
permitem um gradativo ajuste solo/estrutura, fazendo com que a estrutura resista melhor aos recalques.
• O recalque diferencial pode ser estimado grosseiramente como sendo 0,75 do recalque total
máximo.
• Skempton e MacDonald (1956), Apud Velloso e Lopes (1997) sugerem para recalques totais
limites: 4,0cm para sapatas isoladas e entre 4,0 a 6,5cm para fundações em radier.
• Tensões residuais nas estruturas podem ser importantes, porque quase sempre os recalques
começam a ser observados e lidos após algum tempo, quando já ocorreram recalques não medidos, uma vez
que mesmo em estruturas similares, as tolerâncias aos recalques diferenciais e distorcionais são diferentes.
• Materiais de construção mais dúcteis, por exemplo, o aço e as resinas plásticas podem tolerar
maiores recalques do que estruturas de concreto ou em alvenaria estrutural.
• Conforme já enfatizado anteriormente, é possível que, dependendo das características peculiares de
uma dada estrutura, nada disso ocorra, mesmo que β atinja valores muito altos.
• É também de praxe recomendar reforços quando a velocidade de recalques atinge valores em torno
de 60μcm/dia (alguns autores sugerem até 100μcm/dia). A experiência tem mostrado que, quando a
velocidade de recalques atinge este valor, os danos causados até a reversão do processo poderão ser
inadmissíveis, colocando em risco a estabilidade da edificação.
• ISE.Interação Solo-Estrutura: Quanto mais rígida e de uma maneira geral pode-se dizer "quanto mais
alta" for uma estrutura, maior será a redistribuição dos recalques, forçando a uma redução dos recalques
diferenciais e distorcionais, viabilizando até em certos casos, projetos cujos recalques sem considerar o ISE
eram inicialmente inadmissíveis. Na tabela 1, B corresponde ao lado onde está sendo considerado o
desaprumo.
Frisc
0,15
Abertura de Fissura mm
y = 0,0387x + 0,0287
R2 = 0,0279
0,10
Frisc 1.0
0,05
β = 1/1175
-
0,5 1,0 1,5
Frisc β = (1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
0,10
1,2 1,3 1,4 1,5
Frisc β = (1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
Na foto a esquerda, trinca causada por abatimento da cinta apoiada em aterro colapsado (vazamento
de esgoto com pH elevado ~ 6.3). A parede se manteve intacta, deslocando o revestimento do teto,
por ser reforçada com barita (centro radiológico). O que parece ser um pilar é na realidade uma
boneca. Berberian/infrasolo (1982).
Figura 7. TTrincas generalizadas causadas por abatimento do aterro e cintas, nada tem a verr com recalques
FRISC 2.0
• Algum mas Fissuras s Inclinadas, sub-milimétric
cas.
afis=0,25mm
m • Limitte de Seguran nça para obras onde não se e admitem fisssuras.
(0,20 a 1,0) • Fissu uras com abertura entre 0,30
0 a 1,0mm m, normalmen nte causam ssomente dano os leves em
edificcações residen
nciais e comerciais, e muito
o leves em obrras industriaiss.
β = 1/500
0 Em geral
g causa daanos apenas estéticos,
e acelerando o enveelhecimento d das fachadas.
• Segu undo Thornbu urn (1985) , trincas entre 1 e 2mm ca ausam danoss leves e moderados em
edificações residen
nciais e comerrciais e muito leves em edifi
ficações indusstriais. Figura 8.
8
• Consultar especialistas
e e patologiass.
em
Frisco médio β = 3,20
• Portas e Esquadrias
3
E tiipo máximo a ar fogem do esquadro e
ag garram ao fec char. Idem, arrmários embuttidos que se descolam
d do
mm
2,0 y = 0,5488x
2 te
eto e das pare
edes. Figura 9..
Abertura de Fissura
R = 0,0403
Abertura de Fissura mm
4,2
y = 0,2101x + 3,3106
R2 = 0,5361
4,1
4,0
3,9
3,8
3,7
2,0 3,0 4,0
Frisc β = (1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
Figura 10 Trinca de recalque (no pilar a direita, com ligeira torção)
• Segundo Thornburn & Huctinson (1985), trincas entre 2 a 5mm produzem somente danos
leves nas edificações industriais e moderadas nas residências e comerciais. Figura 10.
• Meyerhof (1956) alerta para ocorrência de danos estruturais quando β alcança 1/250.
• Levantamento de pisos cerâmicos e graníticos devido a torção nas lajes.
Frisc β = (1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
15,0
Abertura de Fissura mm
y = 1,9121x - 0,4011
R2 = 0,5833
14,0
β = 1/150 13,0
12,0
afis = 12,5mm
(10,0 a 15,0) 11,0
10,0
5,7 6,2 6,7 7,2 7,7
Frisco = 1000 .β = 1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
• Até esta abertura pode-se mascarar fissuras que reabrem, tomando-a com um mastique elástico
de baixa dureza Shore.
• Os recalques diferenciais neste nível podem induzir a rutura das tubulações.
• Skempton & MacDonald (1956) e Bjerrum (1963) alertam para ocorrência de danos estruturais
quando β = 1/150.
• Limites, segundo Navfac (1971), com β = 1/160 a 1/125, para galpões em estruturas com 1 a 2
pavimentos, em aço aporticadas, paredes flexíveis e cobertura treliçada.
• Escoramentos já podem ser necessários.
• A velocidade de recalque possivelmente já é muito alta, maior que 40 milésimos de milímetro por
dia, Vr > 40 μ/dia.
• O ed. Areia Branca 12 andares desabou por ruptura do pilarete das sapatas, após 3 estalos (com
intervalos de 24hs), com a = abertura de fissuras de aproximadamente 10mm nos pilaretes.
FRISC 8.0
β = 1/125
Frisc médio β = 8,40
afis = 17,5mm
Abertura de Fissura mm
20,0 y = 3,4002x - 11,153
R2 = 0,7113
(15,0 a 20,0)
19,0
18,0
17,0
16,0
15,0
7,8 8,1 8,3 8,6 8,8 9,1
Frisco = 1000 .β = 1000.(ρ 2 - ρ 1) / L
Figura
14. Rolamento de Elementos Roliços Face Elevada
Inclinação da Edificação
50,0
y = 8,6551x - 51,964
R2 = 0,2878
40,0
30,0
FRISC 10.0
20,0
9,0 10,0 11,0
Figura 16.P
Painéis de Alve
enaria em Tam
manho Real para
p Análise de Trincas. Berrberian (1991))
Umm dos principais subproduutos dessa peesquisa perm mitiu ao autorr a elaboraçãão de uma reegra simples,,
mas eficiennte que perm mite a locallização do ponto
p que está
e recalcanndo ou defoormando, allém de umaa
correlação aproximada entre a abbertura da trrinca e o recalque r já sofrido pelaa estrutura. Essa regra,,
denominadaa “Influência do Estadoo de Tensões em Pain néis Bidimennsionais Subbmetidos a Tensões dee
Cisalhamennto Nulas na Determinaçãão dos Pontoos de Deslocaamento de um ma Estruturaa”, permite com
c precisãoo
definir os poontos a reforrçar, conheciida na práticaa da engenhaaria como “RRegra do Dickkran”:
“A perpendiculaar traçada peelo ponto méédio do comp primento dass fissuras (ouu pelo ponto
o da aberturaa
máxima), ouu seja, a meddiatriz indicaa a fundação em recalquee ou o ponto de d flecha mááxima de um ma estrutura.”
Fisssura
90º 90º
90º
Fig
gura 17. Indicador de Re
ecalque de Fu
undações e/ou Deformaçções Estruturais
P2
CONCLUS
SÕES
Fica evidente
e a necessidade
n d se ampliarr estatisticam
de mente o lequue de informaações colhiddas em obrass
onde se poode ao mesm mo tempo medir
m os recaalques e acoompanhar a malha de fiissuração, faace a grandee
quantidade de parâmetroos intervenieentes na corrrelações propposta. Entreetanto os subbprodutos, deesta pesquisaa
são evidentees e da maioor importânciia, face ao vetor
v profissional envolviido. O métoddo da mediattriz propostoo
por Berberian , vem se confirmado
c a cada obra onde se anallisou trincas de diversas inclinações e atitudes. A
intercorrelação apresenttada entre as distorções angulares e os danos associados,
a vvem mostran ndo ser umaa
poderosa ferramenta no diagnostico das patologiias.
FERENCIAS
REF S BIBLIOGR
RAFICAS