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UVA – Engenharia Civil – Edificações I – Terreno de fundação – Notas de aula – 2022 1

TERRENO DE FUNDAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
Fundações são elementos estruturais com função de transmitir as cargas da estrutura ao terreno
onde ela se apoia, devendo suportar as tensões causadas pelos esforços solicitantes decorrentes do
carregamento e das reações do solo.
O solo, por sua vez, deve suportar todo o carregamento das fundações sem sofrer ruptura e sem
apresentar deformações exageradas ou diferenciais. Para tanto, as características do solo e subsolo
devem ser investigadas e avaliadas para fins de projeto e execução das fundações. A escolha do tipo
mais adequado de fundação deve ser analisada dentre os vários tipos disponíveis, em ordem
crescente de complexidade e custos.
RECALQUES DE FUNDAÇÕES DE EDIFICAÇÃO
Os recalques são provocados pela deformação terreno de fundação sob ação das cargas,
geralmente, conforme a seguir:
 Recalque elástico
• Devido às deformações elásticas do solo,
• Ocorre imediatamente após a aplicação das cargas,
• Importante nos solos arenosos (e relativa importância nas argilas).
 Recalque por adensamento
• Devido à expulsão da água e ar dos vazios,
• ocorre mais lentamente e depende da permeabilidade do solo,
• muito importante nos solos argilosos.
 Recalque por compressão secundária
• Devido ao rearranjo estrutural causado por tensões de cisalhamento,
• ocorre muito lentamente nos solos argilosos,
• geralmente desprezado no cálculo de fundações, salvo em casos particulares, quando
assume importância decisiva.
Os recalques de um edifício apresentam diversas tendências. As principais, em geral, são:
1. Recalque total uniforme:
A estrutura experimenta um movimento de translação de um corpo rígido, todas as deformações
diferenciais são transferidas e absorvidas aos demais elementos estruturais, a edificação sofre um
recalque uniforme como se fora apoiada em um único bloco ou sapata. A Norma Brasileira
estabelece limites de deformação.
2. Recalque diferencial com rotação:
A estrutura, como um todo, experimenta um movimento de rotação de um corpo rígido, o edifício
geralmente se inclina para um dos lados.
3. Recalque diferencial acompanhado de distorção:
A estrutura não funciona como um corpo rígido, o movimento do edifício é acompanhado de
deformações angulares, de consequências graves para a estrutura e para os fechamentos (fissuras,
trincas, rupturas estruturais localizadas).
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2. CARACTERÍSTICAS DO TERRENO DE FUNDAÇÃO


Os terrenos em geral são heterogêneos, constituídos de diferentes camadas superpostas que
variam quanto à espessura, disposição, inclinação e propriedades geológicas. Essas características,
conforme se apresentam, oferecem comportamento, propriedades e resistências diferentes.
A determinação das propriedades e do comportamento dos solos é tarefa bastante complexa e
difícil, pois variam com o local e com a profundidade, e apresentam uma variação muito ampla de
suas características de acordo com a heterogeneidade de sua natureza;
A capacidade de suporte do solo de fundação é o item mais importante a ser levado em conta na
elaboração e execução de projetos de fundação. A resistência do terreno, na grande maioria dos
casos, tende a aumentar com a profundidade. Os terrenos mais homogêneos oferecem mais
estabilidade às fundações.
3. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS, GEOLÓGICAS E OBSERVAÇÕES LOCAIS
O Terreno de fundação deve ser previamente investigado para fins de projeto e execução das
fundações, quanto à natureza geológica e resistência do subsolo, levando-se em conta as
peculiaridades da obra em projeto. As investigações do terreno de fundação constituído por solo,
rocha, mistura de ambos ou rejeitos compreendem:
1) Investigações de campo (sondagens e ensaios):
– Ensaios de reconhecimento à percussão e/ou outros métodos;
– Medição dos níveis d’água e dos movimentos das águas subterrâneas;
– Coleta de amostragem de solo;
– Medição da espessura das camadas e avaliação da orientação dos planos que as separam;
– Ensaios de in situ de permeabilidade;
– Realização de provas de carga e outras investigações.
2) Investigações em laboratório
– Os ensaios de laboratório visam à determinação de características diversas do terreno de
fundação, utilizando amostras representativas das condições locais obtidas nas sondagens.
– Os principais ensaios são: caracterização, resistência, deformabilidade, permeabilidade,
expansibilidade, colapsibilidade e outros;
– A análise físico-química da água é realizada sempre que houver suspeita de sua agressividade aos
materiais constitutivos das fundações a executar;
– O lançamento de fundações em terreno não homogêneo requer estudos e cuidados mais
apurados, a fim de que sejam evitados os recalques acentuados e principalmente recalques
diferenciais.
– O perfil de sondagem de reconhecimento do subsolo servirá para escolha do sistema de fundação
mais adequado e mais econômico.
4. DEFORMAÇÃO DO SOLO
Os espaços intermediários das partículas de solo são constituídos de um conjunto de partículas de
água e ar. As partículas do solo, de maneira geral, se encontram livres para se deslocarem entre si.
As cargas provenientes das fundações comprimem o solo imediatamente abaixo delas provocando
deformações, denominadas de recalques. Este recalque do solo deve ser calculado e comparado ao
recalque compatível e admissível pela estrutura da obra, devendo ser evitados os recalques
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diferenciais, pois geralmente provocam sérios danos às edificações. A ruptura do solo deve ser
impedida, pois ocorre, quase sempre, com grandes deformações e danos.
A deformação do solo ocorre devido a vários fatores, dentre os quais:
1) O Deslocamento de partículas de solo e água da zona mais comprimida para a menos
comprimida;
2) O rearranjo das partículas que escorregam entre si e ocupam os espaços vazios;
3) A expulsão da água e do ar dos poros do solo;
4) A fragmentação das partículas de solo.
A deformação se verifica, geralmente, em duas etapas:
1. Deformação Imediata: ocorre logo após o carregamento das fundações.
2. Deformação Lenta: continua a ocorrer após a deformação imediata.
O terreno de fundação deve oferecer estabilidade e segurança em relação à ruptura do solo, deve
ser imune à erosão e não sofrer deformações excessivas;

5. PROGRAMAÇÃO DE SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO DOS SOLOS PARA FUNDAÇÕES


DE EDIFÍCIOS - NBR 8036:1983
A elaboração de projetos geotécnicos para construção de edifícios exige uma programação de
sondagens de simples reconhecimento dos solos destinada a fundações de edifícios. Esta
programação abrange o número, a localização e a profundidade das sondagens.
5.1 Número e locação das sondagens
O número de sondagens e a sua localização em planta dependem do tipo da estrutura, de suas
características especiais e as condições geotécnicas do subsolo. O número de sondagens deve ser
suficiente para fornecer um quadro, o melhor possível, da provável variação das camadas do
subsolo do local em estudo.
O número mínimo de furos de sondagem deve ser:
– Para área de projeção em planta do edifício até 200 m² – dois furos;
– Para área de projeção em planta do edifício entre 200 m² e 400 m² – três furos;
– Para área de projeção em planta do edifício entre 400 m² e 1.200 m² – um furo a cada 200 m²;
– Para área de projeção em planta do edifício entre 1.200 m² e 2.400 m² – um furo a cada 400
m²;
– Para área de projeção em planta do edifício acima de 2.400 m² – o número de sondagens deve
ser fixado de acordo com o plano particular da construção conforme a área, a importância e
peculiaridade da obra e o tipo de fundação a ser adotado.
A distância entre os furos varia de 15 a 30 metros, conforme a necessidade.
Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, como nos estudos de
viabilidade ou de escolha de local, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a distância
máxima entre elas seja de 100 m, com um mínimo de três sondagens.
As sondagens devem ser localizadas em planta e obedecer às seguintes regras gerais:
1. Na fase de estudos preliminares ou de planejamento do empreendimento, as sondagens devem
ser igualmente distribuídas em toda a área; na fase de projeto podem-se localizar as sondagens
de acordo com critério específico que leva em conta o projeto de fundações e detalhes
estruturais;
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2. Quando o número de sondagens for superior a três, não devem ser distribuídas ao longo de um
mesmo alinhamento.
5.2 Profundidades das sondagens
A profundidade a ser explorada pelas sondagens de simples reconhecimento, para efeito do projeto
geotécnico, é função do tipo de edifício, das características particulares de sua estrutura, da forma
da área carregada e das condições geotécnicas e topográficas locais.
A exploração deve ser levada a profundidades tais que incluam todas as camadas impróprias ou que
sejam questionáveis como apoio de fundações, de tal forma que não venham a prejudicar a
estabilidade e o comportamento estrutural ou funcional do edifício.
As sondagens devem ser levadas até a profundidade onde o solo não seja mais significativamente
solicitado pelas cargas estruturais, fixando-se como critério aquela profundidade onde o acréscimo
de pressão no solo, devida às cargas estruturais aplicadas, for menor do que 10% da pressão
geostática efetiva.
A sondagem à percussão pode ser ela interrompida quando a sondagem atingir rocha ou camada
impenetrável ou camada de solo de compacidade ou consistência elevada, desde que as condições
geológicas locais mostrarem não haver possibilidade de se atingirem camadas menos consistentes
ou compactas.
SONDAGEM SPT – STANDARD PENETRATION TEST
O SPT é o ensaio mais executado no mundo e no Brasil. No Brasil o ensaio está normalizado pela
ABNT através da NBR 6484:1980.
A sondagem SPT tem por finalidades:
1. Conhecer as características do solo através de amostra retirada a cada metro perfurado.
2. Determinação das condições de compacidade (areias) ou consistência (argilas) em que ocorrem
os diversos tipos de solo;
3. A resistência oferecida pelo solo à cravação do amostrador a cada metro perfurado.
4. Determinação da resistência do solo estimada através de correlação a partir do SPT obtido na
sondagem.
5. A posição dos níveis d’água quando encontrados durante a perfuração.
6. Determinação da espessura das camadas constituintes do subsolo e avaliação da orientação das
superfícies que as separam.
Execução do Ensaio SPT:
1. A sondagem inicia-se escavando com emprego do trado concha ou helicoidal ou cavadeira
manual até a profundidade de 1,00 m e recolhe-se a amostra zero. O trado concha deve ter
(100±5) mm de diâmetro;
2. Prossegue-se com a escavação do segundo metro até 55 cm e daí introduz-se a sonda
(amostrador padrão);
3. Inicia-se a percussão fazendo penetrar no solo uma sonda (amostrador padrão) de 60 cm de
comprimento e 2” de diâmetro por meio de percussão utilizando-se um peso de 60 kg (martelo),
caindo de 75 cm de altura;
4. O martelo é suspenso utilizando-se de um tripé, uma roldana e um cabo. O martelo consiste de
uma massa de ferro de 60 kg de forma cilíndrica, com uma haste-guia de 1,20 m de comprimento,
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perfeitamente retilíneas e ortogonais à superfície que recebe o impacto. Encaixado na parte


inferior do martelo, deve ter um coxim de madeira dura;
5. A cada metro perfurado é recolhida uma amostra do solo e contado o número de quedas
necessárias para cravação de cada 15 cm dos últimos 45 cm restantes de cada metro;
6. Utilizando-se de uma referência fixa, marca-se na haste de perfuração, com giz, um segmento de
45 cm divididos em três trechos iguais de 15 cm.
7. Se, apenas com um golpe do martelo, o amostrador penetrar mais do que 15 cm, anota-se a
penetração obtida.
8. O processo de perfuração por lavagem, associado aos ensaios penetrométricos, deve ser
utilizado até onde se obtiver, nesses ensaios, uma das seguintes condições:
a) quando, em 3 m sucessivos, se obtiver índices de penetração maior do que 45/15;
b) quando, em 4 m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/15 e 45/30;
c) quando, em 5 m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/30 e 45/45.
9. Caso a penetração seja nula dentro da precisão da medida na sequência de cinco impactos do
martelo, o ensaio deve ser interrompido;
10. Determinar a profundidade do lençol d’água quando atingido;
11. Nas operações subsequentes de perfuração, intercaladas às operações amostragem deve ser
utilizado trado helicoidal até se atingir o nível d’água freático. Quando o avanço da perfuração
com emprego do trado helicoidal for inferior a 50 mm após 10 minutos de operação, ou nos casos
de solos aderentes ao trado, passa-se ao método de perfuração por circulação de água, também
denominado por lavagem;
12. A operação de perfuração realizada por circulação de água utiliza-se do trépano de lavagem
como ferramenta de escavação e a remoção do material escavado por meio de circulação de
água realizada pela bomba d’água motorizada, através da composição das hastes de perfuração;
13. Durante a operação de perfuração, devem ser anotadas as profundidades das transições de
camadas detectadas por exame tátil-visual e da mudança de coloração dos materiais trazidos da
boca do furo pelo trado helicoidal ou pela água de lavagem;
14. Tendo-se executado as sondagens corretamente, as informações são condensadas e
apresentadas em um relatório escrito e outro gráfico;
15. Informações e procedimentos mais detalhados encontram-se na norma ABNT NBR 6484:1980.
Relatório sumário de sondagem:
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Estimação da tensão admissível do solo


1. O SPT é dado pelo número de golpes necessários para que o amostrador penetre os últimos 30
cm de cada metro de cravação.
2. A tensão admissível do solo para uma determinada fundação é estimada através de métodos
semi-empíricos (tabelas e fórmulas) que correlacionam o SPT obtido com a resistência admissível
para o solo. As primeiras correlações sugiram com a publicação do livro de Terzaghi e Peck no
ano de 1948.
6. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS
Os solos são identificados e classificados por sua textura, composição granulométrica, plasticidade,
consistência ou compacidade, etc. A Tabela do Anexo A (Informativo) da NBR 6122:2010 - Projeto e
Execução de Fundações atribui a seguinte classificação em função do SPT:
a. Coesivos ou argilosos – classificados segundo a sua consistência: Argilas e siltes argilosos.

Índice de penetração Consistência


SPT menor do que 2 Muito mole
De 2 a 5 Mole
De 6 a 10 Média
De 11 a 19 Rija
Acima de 19 Dura

b. Não Coesivos ou arenosos – classificados segundo sua compacidade: Areias e siltes arenosos.

Índice de penetração Compacidade


SPT ≤ 4 Muito fofos
De 2 a 5 Fofo(a)
De 5 a 12 Medianamente compactos
De 12 a 30 Compactos
Maior do que 30 Muito compactos
c. Rochas:
Classificação quanto à granulometria do solo:
1. ROCHA – As rochas de dimensões limitadas são assim denominadas:
1) Bloco de rocha: pedaço isolado de rocha de diâmetro superior a 1,0 m.
2) Matacão: pedaço de rocha de diâmetro médio superior a 0,25 m e inferior a 1,0 m.
3) Pedra de mão: pedaço de rocha de diâmetro médio de 0,76 m a 0,20 m.
2. SOLOS – Materiais provenientes da decomposição in situ das rochas.
1) Pedregulhos – Solos constituídos predominantemente por grãos de diâmetro máximo entre
4,8 mm e 100 mm.
2) Areias – Solos constituídos predominantemente por grãos de diâmetro máximo entre
0,075 mm e 4,8 mm.
1. Grossa: Diâmetro entre 1,20 mm e 4,8 mm.
2. Média: Diâmetro entre 0,42 mm e 1,20 mm.
3. Fina: Diâmetro entre 0,075 mm e 0,42 mm.
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3) Silte – Solos constituídos predominantemente por grãos de diâmetro máximo


0,005 mm e 0,075 mm.
4) Argila – Solos constituídos predominantemente por grãos de diâmetro máximo inferior a
0,005 mm.
1. Argila muito mole: escorre facilmente entre os dedos, quando apertadas na mão.
2. Argila mole: são facilmente moldadas pelos dedos.
3. Argila média: podem ser moldadas normalmente entre os dedos.
4. Argila rija: Requer grande esforço para ser moldada pelos dedos.
5. Argila dura: Não pode ser moldada entre os dedos e se desagrega sob grande esforço.

8. PRESSÃO MÁXIMA ADMISSÍVEL (Recomendada para pequenas obras)

Rochas sã, maciça 20,0 kg/cm²


Terreno de excepcional qualidade (Piçarra, cascalho, areia e pedregulho compactos) 4,0 kg/cm²
Terrenos bons: argilo-arenosos, areia grossa e areia fina compacta 2,0 kg/cm²
Terrenos comuns: Argila mole, areia fofa, aterros de areia 1,0 kg/cm²
Aterros velhos (mais de 20 anos), recalcados e consolidados 0,5 kg/cm²

9. PRESSÕES ADMISSÍVEIS BÁSICAS (σo) – TABELA da NBR 6122/1996

Classe Descrição Valores


1 Rocha sã, maciça, sem laminações ou sinal de decomposição. 30 kg/cm²
2 Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas. 15 kg/cm²
3 Rochas alteradas ou em decomposição. 11 a 14 kg/cm²
4 Solos granulares concrecionados – conglomerados. 10 kg/cm²
5 Solos pedregulhos compactos a muito compactos. 6 kg/cm²
6 Solos pedregulhos fofos. 3 kg/cm²
7 Areias muito compacta 5 kg/cm²
Classe Descrição Valores
8 Areias compactas 4
9 Areias medianamente compacta 2
10 Argilas duras 3
11 Argilas rijas 2
12 Argilas médias 1
13 Siltes duros (muito compactos) 3
14 Siltes rijos (compactos) 2
15 Siltes médios (medianamente compactos) 1

– Para solos das classes 4 a 9, as pressões devem ser aplicadas quando a profundidade da fundação
for menor ou igual a 1 m. Quando a fundação estiver a uma profundidade maior e for totalmente
confinada pelo terreno adjacente, os valores básicos da tabela podem ser acrescidos de 40% para
cada metro de profundidade além de 1 m, limitado ao dobro do valor fornecido na tabela.
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– Para os solos das classes 10 a 15, as pressões devem ser aplicadas a um elemento de fundação
não maior que 10 m².
– O fator de segurança mínimo aplicado sobre os valores de capacidade de carga de fundações
superficiais, obtidos por cálculo ou experimentalmente, é 3,0.

10. CONSOLIDAÇÃO DO LEITO DE FUNDAÇÃO


1. Apiloamento Manual ou Mecânico
Consiste no adensamento do terreno por meio manual (malho) ou mecânico (sapo), diminuindo
os seus vazios. Obtém-se, geralmente, um aumento de 20% na resistência do terreno.
2. Calçada
No fundo da cava cravam-se pedras em camadas. Os esforços serão transmitidos de topo e
lateralmente. Obtém-se, geralmente, um aumento de 25% na resistência do terreno.
3. Estacas Curtas
Consiste na cravação de pequenas estacas de 1,50 a 2,00 m, de seção 10 x 10 cm, de madeira
ou preferencialmente de concreto e em seguida feita uma base de concreto simples de 30 cm
de espessura sobre as cabeças das estacas. As estacas são afastadas entre si de 50 cm. Obtém-
se, geralmente, um aumento de 30% na resistência do terreno.
4. Colchão de Areia
Consiste em apoiar a fundação sobre um colchão artificial de areia acamada e molhada. A areia
deve estar completamente confinada sem possibilidade de fuga. Na prática adota-se para uma
altura mínima 1,00 m para obtenção de uma resistência de 1,0 Kg/cm² e de 2,0 m de altura para
resistência 2,0 kg/cm². Despreza-se o peso próprio da areia e adota-se o ângulo espraiamento
das cargas de 45°.

11. RECALQUES DE FUNDAÇÕES DE EDIFICAÇÃO


Os recalques são provocados pela deformação terreno de fundação sob ação das cargas. Os
recalques de um edifício apresentam diversas tendências:
1. Recalque total uniforme:
A estrutura experimenta um movimento de translação de um corpo rígido, todas as deformações
diferenciais são transferidas e absorvidas aos demais elementos estruturais, a edificação sofre
um recalque uniforme como se fora apoiada em um único bloco ou sapata. A Norma Brasileira
estabelece limites de deformação.
2. Recalque diferencial com rotação:
A estrutura, como um todo, experimenta um movimento de rotação de um corpo rígido, o
edifício geralmente se inclina para um dos lados.
3. Recalque diferencial acompanhado de distorção:
A estrutura não funciona como um corpo rígido, o movimento do edifício é acompanhado de
deformações angulares, de consequências graves para a estrutura e para os fechamentos
(fissuras, trincas, rupturas estruturais localizadas).

 MANIFESTAÇÕES
As manifestações decorrentes do mal desempenham de uma fundação ocorrem em duas áreas
distintas:
a) Nos próprios elementos de fundação
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Estas manifestações quando ocorrem não são percebidas de imediato, pois as peças encontram-
se enterradas, e somente após a constatação de manifestações provocadas na superestrutura, se
investiga as fundações.
∙Estacas metálicas - oxidação e/ou corrosão.
∙Concreto armado - corrosão das armaduras, deformações excessivas, fissuras, trincas, rupturas,
esmagamento e deterioração do concreto e da armadura.
∙ Estacas de madeira - apodrecimento e perda de material.
b) Na superestrutura
As manifestações se apresentam na superestrutura como repercussão do mau funcionamento do
sistema de fundação, e sob a forma de danos. Estes podem ser classificados em três tipos:
1. Danos Arquitetônicos
São aqueles que atentam contra a estética e a aparência da obra, tais como as fissuras e
rachaduras em paredes e revestimentos, desaprumo da edificação, desnivelamento de piso,
etc.
Geralmente, nesta situação, verifica-se se houve estabilização do processo sem danos
estruturais e procede-se a recuperação destes elementos arquitetônicos danificados.
2. Danos Funcionais
São aqueles que afetam o funcionamento e a utilização da obra, tais como vazamentos
decorrentes de rompimento de tubulações de água e esgoto, danificação de
impermeabilizações, mal funcionamento e desgaste de elevadores devido aos desaprumos
e/ou desnivelamentos, emperramento de portas e janelas, desnivelamento de pisos, etc.
Quando o mau funcionamento da edificação atinge limites insuportáveis, faz-se necessário o
reforço de fundação.
3. Danos Estruturais
São aqueles causados à própria estrutura de sustentação da obra, como lajes, vigas e pilares, e
se manifestam através de fissuras, trincas, deformações excessivas, esmagamento, etc.
Neste caso o reforço é inevitável tendo em vista o comprometimento da estabilidade e
segurança da obra.

 CAUSAS GERAIS SUBJETIVAS


De uma forma geral as suas causas subjetivas mais prováveis dos problemas de mau
funcionamento de um sistema de fundações são:
1 ∙ Ausência, insuficiência ou má qualidade das investigações geotécnicas.
2 ∙ Má interpretação dos resultados da investigação geotécnica.
3 ∙ Erro na estimativa dos esforços provenientes da estrutura.
4 ∙ Adoção inadequada da tensão admissível do solo ou cota de apoio.
5 ∙ Modelos inconvenientes de cálculo das fundações.
6 ∙ Escolha inadequada do tipo de fundação.
7 ∙ Detalhamento deficiente do projeto e/ou má especificação dos materiais.
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8 ∙ Má execução e/ou emprego de materiais de má qualidade.


9 ∙ Modificação no carregamento e/ou uso da obra.
10∙ Modificações de áreas e/ou acréscimo de andares.
11∙ Influência acidental externa: Escavações, deslizamentos, vibrações, etc.

 PRINCIPAIS TIPOS DE RECALQUES


 Recalque diferencial por sobreposição de tensões.
Mesmo em terrenos uniformes e com cargas balanceadas, este tipo de recalque ocorre pela
superposição dos bulbos de tensões de sapatas próximas, ou de dois edifícios.
Recalques nas zonas centrais do edifício:
Supondo que as transmissões das cargas se façam de forma aproximada de 45 o, tem-se que os cones
de influência começam a se sobrepor a uma profundidade que será igual à separação entre as
bordas mais próximas das sapatas adjacentes; com isto, a parte central do terreno sob a estrutura
estará submetida a tensões superiores às zonas externas, produzindo recalques maiores nos
elementos centrais do edifício.
Recalques entre dois edifícios:
1) Quando se constrói um edifício próximo a outro recém-construído, as duas zonas de influência se
cortam a partir de uma profundidade igual à metade da distância entre eles, provocando
recalques nas extremidades mais próximas dos edifícios e fazendo um inclinar-se em direção ao
outro.
2) Quando se constrói um edifício junto a outro existente, cujo terreno de fundação já esteja
consolidado, este poderá sofrer recalque diferencial se inclinar afastando-se do edifício mais
antigo.
 Recalque diferencial provocado por maciços de solo não uniformes
Em maciço de solo não uniforme verificam-se, algumas vezes, módulos diferentes de
deformação em regiões bem próximas sob uma mesma edificação. As fundações assentadas em
solos de módulos diferentes irão sofrer recalques diferentes, mesmo que suas cargas estejam
balanceadas.
 Recalques provocados por vibrações no subsolo
Este tipo de recalque é, em sua grande maioria, provocado por cravações de estacas
próximas a fundações de prédio vizinho já existente. As vibrações provocam um adensamento do
subsolo de suporte das fundações do edifício vizinho, levando-o a inclinar-se em direção ao terreno
em obras.
 Recalque provocado por escorregamento de taludes
Ocorre em fundações diretas assentadas sobre maciço de terra próximo aos taludes, que por uma
ação qualquer venha a escorregar, provocando abatimento do subsolo logo abaixo das fundações,
e em alguns casos trazendo consigo a edificação. Este tipo de recalque ocorre com frequência em
edificações sobre morros e encostas, e às vezes com acidentes graves.
 Recalques provocados por fugas de material do subsolo
São recalques provocados pelo carreamento de material, geralmente arenosos, do subsolo pela
percolação da água em direção a um rio, córrego, canal ou bueiro.
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 Recalque provocado por rebaixamento do lençol freático


A execução de rebaixamento do lençol freático junto a uma edificação já existente pode provocar
um abatimento no subsolo abaixo das fundações decorrente do preenchimento dos vazios
deixados pela água, provocando nova acomodação do solo. Estes abatimentos, não raramente,
são acompanhados de recalques diferenciais.
 Adoção de diferentes sistemas de fundação em uma mesma obra
Normalmente não é aconselhável a utilização de sistemas diferentes de fundação em uma mesma
obra, ressalvando os casos excepcionais. O se uso inadequado pode levar a recalques diferenciais,
pois a transmissão das cargas se faz de formas diferentes e com recalques diferentes em cada
sistema. É o caso de alguns pilares apoiados em fundações diretas superficiais e outros em bloco de
estacas.
 Escorregamento de fundação por falta de ancoragem
Este tipo de problema ocorre em fundações corridas assentadas em terrenos inclinados. Não
raramente em pequenas obras, principalmente muros divisórios, a escavação do leito de fundação
tende a acompanhar a inclinação do terreno, e a fundação inclinada gera uma componente na
horizontal que tende fazer a fundação escorregar, gerando fissuras e rachaduras nas alvenarias e
estrutura.
 Fissuramento de fundação provocado por efeito dinâmico
Muito raramente, os elementos de fundações são projetados para atender a efeitos dinâmicos
provocado por vibrações na estrutura. Como exemplo, tem-se o fissuramento de alguns blocos de
fundação do estádio do Morumbi. Atualmente, com a evolução dos computadores, é possível se
determinar com rapidez e precisão a frequência natural dos elementos.
 Deterioração de elementos de fundação por ação de agentes agressivos
As fundações neste caso são atacadas por agentes agressivos do meio, geralmente, águas ácidas
residuais ácidas, cloretos da água do mar, águas ricas em ácidos orgânicos de regiões pantanosas, e
em alguns casos de águas puras que provocam dissolução e lixiviação do concreto. Nas fundações
as armaduras devem ser bem recobertas e o concreto deve ser adequado ao meio em que estas
forem assentadas.
 Recalque diferencial de fundações assentadas sobre secções de corte e aterro
As obras assentadas em uma área de corte e aterro estão sujeitas a ter recalque diferencial quando
parte das fundações são assentadas sobre o aterro e parte sobre a região de corte, sem que os
devidos cuidados sejam feitos.
 Fundações contínuas solicitadas por carregamentos desbalanceados
Quando o carregamento de fundações contínuas é tomado como uniforme por simplificação, pode
ocorrer recalque diferencial se os devidos cuidados não forem tomados, pois os trechos mais
carregados apresentam maior recalque.
 Fundações isoladas solicitadas por carregamentos desbalanceados
Fundações isoladas adjacentes com carregamentos diferentes sofrem recalques diferentes,
considerando o mesmo tipo de solo. Quando a estrutura não absorve estes recalques diferenciais
excessivos, verificam-se danos indesejáveis na estrutura.
 Recalque diferencial de fundações provocado por “dolinas”.
Trata-se de afundamentos localizados do terreno que se processa lentamente causados por falhas
em camadas profundas do subsolo (geralmente cavernas).

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