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RESUMO
ABSTRACT
This presents the importance of strategic planning in the building foundations work, presenting the current
practice in the real estate market and how it could be improved, aiming to reduce risks and costs, while
improving quality and term of foundation work.
INTRODUÇÃO
O ideal em qualquer tipo de obra é que os projetos executivos já estejam à disposição antes do início
delas. Infelizmente, sabemos que isso nem sempre ocorre – pelo contrário, no Brasil, é muito comum que as
licitações sejam realizadas com base em projetos básicos e, em particular nas obras imobiliárias, com base em
projetos ainda em aprovação nas prefeituras. Sabemos, pois, que obras bem projetadas e com devida
antecedência permitem melhor planejamento, otimizando prazos, custos e minorando riscos. Com projetos
executivos é possível negociar melhor os fornecedores de materiais e mão de obra e garantir qualidade e prazo.
Apesar de tudo isso ser óbvio e de amplo conhecimento, a prática tem mostrado um panorama diferente.
Embora, possa não refletir o que ocorra com todas as obras, pois cada caso é um caso, o que se observa
de modo geral no desenvolvimento de um empreendimento imobiliário é o seguinte:
a) Busca e compra do terreno, onde aspectos geológicos ou geotécnicos são ignorados, importando
fundamentalmente o preço, em função de parâmetros mercadológicos. Por tanto, são comprados
terrenos sem uma única sondagem;
b) Define-se o produto e coloca-se o projeto para aprovar na Prefeitura para obter o alvará de execução,
com o que poderá se fazer o lançamento e início de venda do empreendimento. Nesta fase, alguns
realizam sondagens simples para elaborar o projeto de fundações e montam um orçamento preliminar
para guiar o preço de venda;
c) E, não raras vezes, só após um volume de vendas ser efetivado, começa a buscar por uma construtora
– ou seja, quando já estão estabelecidos todos os parâmetros financeiros, significando que a escolha
da construtora será definida por aquela que conseguir executar a obra com um custo compatível com
o preço de venda que fora praticado.
Neste status quo é particularmente importante lembrar o quanto representa a Fase de Fundações em
empreendimentos de padrão normal;
d) O custo da fase de fundações, incluindo a contenção, representa em média de 7 a 10% do custo total
de uma obra, podendo chegar a porcentuais maiores (até cerca de 15%) em obras diferenciadas como
em Santos, onde os comprimentos das estacas são muito maiores; e
e) O prazo de execução da fase de fundações, incluindo a contenção, representa em média de 15 a 25%
do prazo total das obras.
As exigências contratuais predominantes no mercado, que preveem multas pelo estouro do custo total
da obra, como do prazo total dependem de condições negociais e tolerâncias negociadas. Entretanto, pode-se
dizer que as tolerâncias para custo é algo como 2 a 3% do custo total; e no caso do prazo, após vencer o período
de tolerância, as multas são diárias. Percebe-se, assim, a importância de se conseguir cumprir tanto custo como
prazo em qualquer fase da obra, mas em particular também na fase de fundações.
Como os serviços de fundações são iniciadas ainda num canteiro que está se montando, incorporadores
e construtoras acabam não dando a devida atenção à esta fase e raramente lembram de penalizar uma empresa
de fundações por atrasos na execução. E, como estão no começo da obra, acreditam recuperar eventuais atrasos,
esquecendo-se o fato de que a fase de fundações é caminho crítico irrecuperável num cronograma.
A IMPREVISIBILIDADE MAIOR
Salvo, alguns empreendimentos comerciais com diferenciais marcantes, pode-se dizer que a construção
predial apresenta uma analogia muito próxima de uma indústria de montagem. Assim, os custos envolvidos
na execução da estrutura, alvenaria, fachada e acabamento, são bem previsíveis. Sem dúvida, a fase de
fundações é a que apresenta maior imprevisibilidade, tanto de custo como de prazo.
É a fase em que maior número de surpresas podem surgir, pois está se tratando com a natureza do
terreno, onde a investigação geotécnica realizada é, no geral, restrito a sondagens à percussão SPT. É
lamentável destacar, que nem todas as empresas de sondagens oferecem serviços de qualidade e dentro das
normas da ABNT, podendo comprometer o projeto e execução das contenções e fundações. Verificamos
situações em que há necessidade de refazer ou complementar as sondagens porque o que se encontrou na
execução da fundação era discrepante com os relatórios. Não há dúvidas de que um maior e melhor
investimento prévio para contratar sondagens de qualidade e outros ensaios complementares, tanto de campo
como de laboratório, propiciarão conhecimentos que resultarão em projetos mais seguros e otimizados. E
temos situações de terrenos em que a presença de matacões e topos resistentes podem não ter sido corretamente
previstos, por questões inerentes às dificuldades de prospecção do terreno. Mais adiante serão discutidos outros
aspectos que corroboram definir esta fase da obra como a de maior imprevisibilidade.
Assim, não se pode comparar a fase de fundações com todo o resto da obra, em termos de variabilidade
de custos. Tanto é assim que muitos contratos de construção são assinados com duas fases. É possível se
negociar a primeira fase de fundações a preço de custo e a segunda fase, por um custo mais fechado (em geral,
tem uma prevalência no mercado o critério de Preço Máximo Garantido – PMG).
Apesar das construtoras conseguirem essa certa “garantia”, quanto ao custo, a questão de prazo de
execução é menos discutida, justamente porque esta fase é marginalizada ainda no planejamento total da obra.
O cumprimento do custo, prazo e qualidade da execução não depende só das empresas de fundação,
depende de um bom planejamento dos serviços. Há, pois, que se discutir o que planejar, como planejar e quem
deve planejar. Não há dívida de que o ideal e natural seria a Incorporadora já associada à uma Construtora
desenvolver este planejamento – não apenas da fundação como de toda a obra. No entanto, conforme discutido
no item 2, o status quo predominante este planejamento nem sempre acontece, de forma que se espera que o
presente trabalho possa contribuir para mudar este quadro.
A seguir, são elencados tópicos que devem ser lembrados no planejamento da execução de fundações,
antes do início dos serviços.
Embora já seja uma rotina e exigida pelas seguradoras, a vistoria da vizinhança deve ser a primeira das
atividades a serem desenvolvidas. Uma boa empresa especializada deve ser contratada e com base na formação
geológica-geotécnica e tipo de projeto de contenção e fundação a ser adotada, deve ser definida a extensão dos
vizinhos a ser vistoriada. É comum que, numa primeira tentativa de vistoria, muitos não autorizem a sua
realização. Caso seja importante, uma notificação extrajudicial e até judicial deve ser feita de modo a evitar
futuros casos contenciosos.
Só após a realização das vistorias e/ou notificações, devidamente registrados no Cartório é que devem
ser iniciados os serviços de fundações.
Outra atividade prévia ao início das atividades de fundações é a contratação do seguro de risco de
engenharia, normalmente de atribuição da Incorporadora ou Construtora, porém é importante que o mesmo
inclua uma extensão da cobertura de Responsabilidade Civil Geral e Cruzada para Risco de Fundações. Como
se sabe, atualmente todos os seguros de risco incluem cláusulas de exclusão de cobertura de responsabilidade
civil geral e cruzada para reclamações de indenização por danos decorrentes de acidentes ocasionados por
sondagem de terreno, rebaixamento de lençol freático, escavação, abertura de valas e galerias, estaqueamento
e quaisquer serviços e/ou trabalhos executados abaixo do nível do solo, conforme relatado anteriormente por
Niyama, 2012.
Com a extensão da cobertura “com fundações”, como ficou praxe chamar esta cobertura adicional, a
seguradora responderá pelos danos causados a bens, terras ou prédios, desde que fique comprovado que antes
do início da construção, estes bens eram “perfeitas”, que tivessem sido vistoriadas com devido relatório e que
o dano resulte em desmoronamento parcial ou total, ou iminente, resultando em trincas e rachaduras que
comprometam a estabilidade.
Além do seguro de risco de engenharia que a obra contrata, cada projetista ou executora também devem
estar protegidos através dos seguros profissionais, para casos em que possam ser acionados posteriormente
pela seguradora da obra que entender pertinente o seu ressarcimento.
Assim, embora possa parecer um aspecto burocrático, é essencial que os dois tópicos acima, 4.1 e 4.2,
estejam em ordem antes do início da obra.
Análise e Revisão do Projeto
Por mais que o projetista de fundações seja de confiança e parceiro habitual, sempre é recomendável
que seja feita uma análise e revisão do projeto de contenções e fundações. Falar-se de uma revisão de projeto
não é muito comum em fundações, mas há algum tempo, é prática corrente em projetos de estruturas,
principalmente em obras de responsabilidade. E mesmo em projetos de fundações tem ocorrido. Estas revisões
são importantes, pois muitas vezes, a sondagem ou o projeto podem ser antigos e no momento do início da
obra, as condições de contorno podem ter mudado. Obras executadas na vizinhança podem ter alterado a
situação de interferências, principalmente no caso de contenções com uso de tirantes provisórios, por exemplo.
Uma outra situação é o nível do lençol de água. Uma região onde tenha se construído muitas obras com
subsolos, é frequente ter havido rebaixamento do nível d’água. Agravada pela atual seca, não raras vezes,
dependendo da época do ano, o nível do lençol pode ter rebaixado alguns metros, viabilizando escolha de
outros tipos de contenção ou fundação, que representassem economia de custos.
Uma revisão pode ocorrer até mesmo pela disponibilidade de equipamentos, em função da data de início
de uma obra sem flexibilidade, ou mesmo pela mudança no mercado de preços dentre as soluções possíveis,
incluindo materiais e serviços. Ou seja, tanto Contratantes como Contratados devem estar atentos às
possibilidades de revisão do projeto para melhorar a qualidade, segurança ou o custo de uma obra.
Como se sabe, a Norma NBR 6122/2010[2] estabelece no seu capítulo 6.2.1.2 a possibilidade de revisão
do coeficiente de segurança no projeto de estaqueamento, de 2,0 para 1,6, desde que as provas de carga sejam
estáticas, executadas antes do início da obra, levadas até duas vezes a carga admissível prevista no projeto
original e apresentem resultados satisfatórios, seguindo-se as metodologias previstas na NBR 12.131/2006[3]
– e o que estabelece a NBR 6122/2010 no seu capítulo 9 – Desempenho das Fundações. Entretanto, a realização
das provas de carga para redução do coeficiente de segurança e a realização de provas de carga para atender
os requisitos daquele capítulo 9 são coisas distintas. O capítulo 9 descreve como verificar o desempenho das
fundações profundas, segundo critérios estabelecidos na Tabela 6, daquele mesmo capítulo. Como os ensaios
de avaliação de desempenho (prova de carga e/ou ensaios de carregamento dinâmico) passaram a ser
obrigatórios, procura-se conciliar a realização destes ensaios para o objetivo de redução do coeficiente de
segurança. Na prática, em função dos custos de mobilização de equipamentos serem significativos, realizam-
se provas de carga e, enquanto se aguarda os resultados e a revisão do projeto, o equipamento é utilizado para
execução de estacas de periferia, não relacionadas à redução do coeficiente de segurança.
Observe-se que até este momento não se iniciou a obra da fundação, propriamente dita – está se
discutindo ainda a necessidade de um bom planejamento estratégico.
Já, como se sabe, a avaliação de desempenho das fundações é feita durante a execução da fundação. Na
avaliação de desempenho conta-se com provas de carga (estáticas) ou ensaios de carregamento dinâmico que
pode substituir a prova de carga, numa proporção de 1:5, ou seja, para cada prova de carga serão necessários
5 ensaios dinâmicos até o limite de duas vezes o número de estacas da coluna B, da Tabela 6 da norma NBR
6122/2010. Apenas como exemplo, numa obra com 250 estacas hélice contínua, deverão ser executados 10
ensaios dinâmicos + uma prova de carga estática, para finalidade de avaliação de desempenho.
Atentar, no entanto, que a avaliação do desempenho da fundação não se restringe apenas ao que ocorre
dentro da obra. No seu capítulo 9.1, a norma prevê que também seja necessário o monitoramento de outras
grandezas como deslocamentos horizontais, desaprumos, integridade ou tensões, grandezas estas que deveriam
ser comparadas com as previsões de projeto. E, muitas vezes, estas grandezas devem ser medidas junto às
divisas dos vizinhos ou mesmo nas estruturas dos vizinhos que a obra poderá afetar.
No caso, por exemplo, de uma obra em Santos, onde os prédios vizinhos já apresentem desaprumos, é
recomendável que se façam medidas de recalque e de desaprumos, antes do início da obra, para dirimir
qualquer dúvida posterior se a obra acelerou algum processo de deformação. Da mesma forma, se for realizar
rebaixamento do lençol, é recomendável que se meçam posição dos níveis de água do lençol, antes, durante e
posteriormente à obra de fundação. Outra recomendação, em casos de utilizar equipamentos que produzem
vibração ou ruído que possam incomodar os vizinhos, deve se programar a contratação cautelar de empresas
especializadas nestas medições, para resguardo de eventuais reclamações futuras.
O orçamento e planejamento devem incluir todas estas pequenas contratações que garantem a
verificação de desempenho das contenções e fundações. Em particular, como própria norma obriga, o
programa de monitoramento de recalques não deve ser esquecido, cujo custo será em função da necessidade
de execução de uma referência de nível indeslocável e da frequência e período em que as leituras devam ser
realizadas, em conformidade com o estabelecido em projeto. Muitas vezes o projeto não especifica esta
obrigatoriedade, tão pouco a frequência de leituras que depende de cada obra. Na falta de uma definição, o
ideal é que se consiga levantar uma curva carga – recalque, estimando-se as possíveis cargas atuantes durante
a subida da estrutura e carregamento da edificação. Assim, o ideal é que as leituras sejam iniciadas na 1ª laje
tipo até a estabilização das leituras após a conclusão da obra.
Canteiro de Obra
GESTÃO DO PLANEJAMENTO
As questões e recomendações elencadas nos capítulos acima, nem sempre são passíveis de serem
aplicadas com facilidade. Com um ciclo de vida de um empreendimento, hipotético, bastante simplificado e
resumido, apresentado na Tabela 1, tentar-se-á mostrar o status quo do mercado já discutido anteriormente no
capítulo 2, bem como propor alternativas para alterar esta situação.
Nesta Tabela 1, o ciclo começa na aquisição de um terreno, em geral efetivada sem nenhum estudo
geológico ou geotécnico. Logo em seguida, o projeto arquitetônico do prédio é submetido à aprovação na
Prefeitura. Em geral, por ocasião da negociação do terreno, já se define o produto (se empreendimento
comercial, residencial ou misto) e o projeto de arquitetura estará sendo elaborado. Veja que o tempo para
elaboração e aprovação do projeto com a emissão do alvará de execução pode demorar, em média, um ano.
CONCLUSÕES
O planejamento de obras de fundações prediais não é uma tarefa simples e não tem recebido a devida
atenção. É muito forte a ideia de que é uma atividade terceirizada a empresas de fundações e o prazo de
execução também não tem merecido a devida preocupação, por se tratar da primeira etapa da obra, quando
tudo ainda está se organizando. Esquece-se que é uma atividade no caminho crítico da obra - cada dia a mais
dispensada nessa fase, poderá faltar no futuro da obra.
Com uma cogestão entre incorporador, projetista e executores, desde o início do projeto, logo após a
aquisição do terreno, é possível otimizar custos e prazos e minorar riscos. A postura atual de se contratar o
projeto e/ou execução a poucos dias do início da obra deve ser revista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Niyama, S. Responsabilidade Civil em Obras de Fundações. In: SEFE7 - Seminário de Engenharia de
Fundações Especiais e Geotecnia – SEFE 7, junho de 2012, São Paulo, SP.
[2] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122 – Projeto e execução de fundações,
outubro de 2010.
[3] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12.131 – Estacas – Prova de carga estática –
método de ensaio, novembro de 2006.