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Boas Práticas em

RDC
Regime Diferenciado de
Contratações Públicas

Palestrante: André Pachioni Baeta


Algumas Inovações e Pontos Polêmicos do RDC

Inversão das fases de habilitação e apresentação das propostas de preço;

Fase recursal única;

Sigilo do orçamento;

Contratação integrada a partir de anteprojeto de engenharia;

Remuneração variável vinculada ao desempenho do contratado;

Negociação de condições mais vantajosas com as licitantes;

Contratação simultânea para o mesmo objeto;

Possibilidade de disputa por lances;

Procedimento de disputa aberto ou fechado, permitindo a combinação de
ambos os modos de disputa;

Formato eletrônico ou presencial;

Possibilidade de lances intermediários ou de o edital estabelecer intervalo
mínimo entre dois lances subsequentes de uma mesma licitante.
Algumas Inovações e Pontos Polêmicos do RDC

Divulgação eletrônica do edital, acabando com a obrigatoriedade de
publicação de avisos de licitação em jornais.

Novos critérios de julgamento das propostas: (i) menor preço ou maior
desconto; (ii) técnica e preço; (iii) melhor técnica ou conteúdo artístico; (iv)
maior oferta de preço; (v) maior retorno econômico;

Catálogo eletrônico de padronização de compras, serviços e obras;

Contratos de eficiência;

Pré-qualificação permanente;

Acesso a documentos contábeis da contratada;

Novos critérios para exame da exequibilidade e economicidade das
propostas;

Uso do Sinapi e de outras fontes de preços referenciais.
Objetos em que o RDC pode ser utilizado
• Contratos necessários à realização obras da Copa das Confederações e da
Copa do Mundo/2014, incluídas na matriz de responsabilidade, desde que ao
menos fração do empreendimento esteja concluída até a realização do
evento e que seja inviável, do ponto de vista técnico e econômico, o
parcelamento das frações da empreitada a serem concluídas a posteriori.
• Contratos necessários à realização da Olimpíada/2016 e dos Jogos
Paraolímpicos, incluídas na Carteira de Projetos Olímpicos, desde que ao
menos fração do empreendimento esteja concluída até a realização do
evento e que seja inviável, do ponto de vista técnico e econômico, o
parcelamento das frações da empreitada a serem concluídas a posteriori.
•Obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os aeroportos das
capitais dos Estados da Federação distantes até 350 km das cidades sedes
dos mundiais referidos acima.
•Ações do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.
Objetos em que o RDC pode ser utilizado
• O RDC pode ser utilizado para licitar obras e serviços de engenharia para o
sistema público de ensino ou para o Sistema Único de Saúde.
•Aquisição de bens e contratação de obras e serviços de engenharia para
modernização, construção, ampliação ou reforma de aeródromos públicos
com recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil – FNAC.
•A CONAB ou instituição financeira pública federal poderão contratar ações
relacionadas à reforma, modernização, ampliação ou construção de unidades
armazenadoras próprias destinadas às atividades de guarda e conservação
de produtos agropecuários em ambiente natural.
•Até o momento, não há previsão legal para a utilização do RDC para
compras e licitações de serviços que não sejam de engenharia no âmbito do
SUS e do sistema público de Ensino. Nesses casos, o pregão eletrônico
ainda deverá ser utilizado.
Usar RDC ou Lei 8666/93?

Dentre as inovações do RDC em relação à Lei 8.666/1993,


podem-se destacar:
 criação de novo critério de julgamento pelo maior desconto,
coibindo a prática do jogo de planilha e do jogo de cronograma
em obras públicas;
 possibilidade de utilização da forma eletrônica ou presencial,
em modos de disputa aberto, fechado ou por combinação de
ambos, possibilitando que o gestor público opte pela melhor
forma de licitação no caso em concreto;
 possibilidade de utilização de disputa por lances;
 possibilidade de utilização de remuneração variável, instituindo
mecanismos de premiação para os construtores que
executarem obras com maior qualidade ou com antecipação de
prazos de execução;
Usar RDC ou Lei 8666/93?

 realização da fase de habilitação após o julgamento das


propostas de preços;
 fase recursal única, proporcionando celeridade às licitações;
 divulgação eletrônica do edital.
Usar RDC ou Lei 8666/93?

 Assim, o RDC apresenta alguns avanços no regime das


contratações públicas, na medida em que mescla institutos do
pregão presencial ou do eletrônico com os da Lei Geral de
Licitações, além de institutos próprios, objetivando agilizar o
procedimento licitatório, a exemplo da inversão de fases,
redução de prazos, redução do número de recursos,
publicações eletrônicas, tudo isso implicando redução de
custos para o erário e estimulando a competitividade.
 Por outro lado, o aumento da discricionariedade proporcionado
pelo RDC traz reflexos sobre o dever de os gestores motivarem
melhor os atos administrativos.
As duas opções do RDC
A Escolha do Regime de
Execução Contratual no
RDC
Regimes de Execução Contratual (Lei 12.462/2011)

Art. 8º. Na execução indireta de obras e serviços de


engenharia, serão admitidos os seguintes regimes:
I – empreitada por preço unitário;
II – empreitada por preço global;
III – por tarefa;
IV – empreitada integral
V – contratação integrada.
§ 1º Nas licitações e contratações de obras e serviços de
engenharia serão adotados, preferencialmente, os
regimes discriminados nos incisos II, IV e V do caput
deste artigo.
Preço Unitário x Preço Global

“Na verdade, a definição dos regimes de execução de obras e serviços de


engenharia deve ocorrer de acordo com o objeto a ser contratado. Veja-
se a empreitada por preço unitário, a qual é melhor aplicável a situações
em que há maiores incertezas acerca dos quantitativos dos serviços mais
relevantes¸ como obras que envolvam grandes movimentos de terra,
cujas características somente seriam adequadamente definidas quando da
execução contratual.”

(Zymler & Dios, Regime Diferenciado de Contratação – RDC. Belo Horizonte: Fórum, 2013).
A Escolha do Regime de Execução Contratual
EMPREITADA POR PREÇO GLOBAL
Vantagens Desvantagens Indicada para:

•Simplicidade nas medições •Como o construtor corre •Regra de bolso: todas as


(medições por etapa riscos nos quantitativos de obras e serviços executados
concluída); serviços, o valor global da “acima da terra”
•Menor custo para a proposta tende a se situar apresentam boa precisão na
Administração Pública na em patamar superior caso a estimativa de quantitativos;
fiscalização da obra; obra fosse contratada pelo •construção de edificações;
•Evita pleitos do construtor e regime de preços unitários; •linhas de transmissão.
a assinatura de aditivos; •Tendência em haver maior •Contratação de projetos.
•O valor final do contrato é percentual de riscos e
fixo; imprevistos inclusos no BDI
•Dificulta o jogo de planilha; do construtor;
•Incentiva o contratado a •A licitação e contratação
cumprir os prazos de exige projeto básico com
execução; elevado grau de
•Melhor controle dos prazos detalhamento dos serviços
pelos contratantes. (art. 47 da Lei 8666/93).
EMPREITADA POR PREÇO UNITÁRIO
Vantagens Desvantagens Indicada para:
•Pagamento apenas dos •Exige rigor nas medições dos •Regra de bolso: todas as
serviços efetivamente serviços; obras executadas “abaixo da
executados; •Maior custo da Administração terra” apresentam incertezas
•Apresenta menor risco para acompanhamento da obra; intrínsecas nas estimativas de
para o construtor, à •Favorece o Jogo de Planilha; quantitativos, por exemplo,
medida que este não corre •Necessidade frequente de execução de fundações,
risco sobre os aditivos para inclusão de novos serviços de terraplanagem,
quantitativos de serviços, serviços ou alteração dos desmontes de rocha, etc..;
permitindo a apresentação quantitativos dos serviços •Implantação, pavimentação,
de uma proposta com BDI contratuais; duplicação e restauração de
menor; •O preço final do contrato é rodovias;
•Minimiza riscos incerto, pois é baseado em •Canais, barragens, adutoras,
geológicos do construtor, estimativa de quantitativos que perímetros de irrigação, obras
permitindo a adoção de podem variar durante a de saneamento;
um BDI menor; execução da obra; •Infraestrutura urbana;
•A obra pode ser licitada •Exige que as partes renegociem •Obras portuárias, dragagem
com um projeto com grau preços unitários quando ocorrem e derrocamento;
de desenvolvimento alterações relevantes dos •Reforma de edificações.
inferior ao exigido para quantitativos contratados. •Supervisão de obras.
uma empreitada por preço •Menor incentivo ao
global ou integral. cumprimento de prazos.
EMPREITADA INTEGRAL
Vantagens Desvantagens Indicada para:
•As mesmas da empreitada •As mesmas da empreitada •Via de regra, aplicável a
por preço global; por preço global; empreendimentos
•O empreendimento é •O preço final do contrato extremamente complexos
entregue pronto para tende a ser mais elevado pois que utilizam tecnologia de
operação; o construtor assume riscos ponta ou que exigem
•O proprietário da obra tem diversos (geológico, conhecimentos e tecnologia
garantias sobre a hidrológico, de performance que não estão disponíveis
performance do projeto; do empreendimento e de para uma única empresa;
•O contratante tem maior desempenho dos •Subestações de energia;
garantia sobre o prazo de equipamentos; •Refinarias, plantas
entrega da obra; •O preço final do contrato petroquímicas;
•Facilita a interface entre também é mais elevado •Instalações Industriais;
projetistas, executores de devido a necessidade de o •Oleodutos, Gasodutos;
obras civis, fornecedores de construtor gerenciar o •Usinas Nucleares;
equipamentos e responsáveis empreendimento como um •Usinas hidroelétricas e
pela montagem; todo. termoelétricas;
•Diminui o número de litígios •Estações de bombeamento
entre as partes e pleitos do
construtor;
•Há clara definição da
responsabilidade pela
perfeita execução contratual.
Contratação Integrada
Contratação Integrada (Lei 12.462/2011)

Art. 9o Nas licitações de obras e serviços de


engenharia, no âmbito do RDC, poderá ser
utilizada a contratação integrada, desde que
técnica e economicamente justificada.
§ 1o A contratação integrada compreende a
elaboração e o desenvolvimento dos projetos
básico e executivo, a execução de obras e serviços
de engenharia, a montagem, a realização de
testes, a pré-operação e todas as demais
operações necessárias e suficientes para a
entrega final do objeto.
Contratação Integrada (Lei 12.462/2011)
§ 4o Nas hipóteses em que for adotada a contratação
integrada, é vedada a celebração de termos aditivos aos
contratos firmados, exceto nos seguintes casos:
I - para recomposição do equilíbrio econômico-financeiro
decorrente de caso fortuito ou força maior; e
II - por necessidade de alteração do projeto ou das
especificações para melhor adequação técnica aos
objetivos da contratação, a pedido da administração
pública, desde que não decorrentes de erros ou omissões
por parte do contratado, observados os limites previstos no
§1º do art. 65 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
Contratação Integrada

Regime de execução contratual equivalente ao
turn-key ou EPC (Engineering, Procurement and
Construction Contracts).

É uma modalidade de preço fixo, dessa forma tem
as mesmas vantagens e limitações da empreitada
por preço global.

Contratação Integrada é equivalente a:
projeto básico + projeto executivo + Empreitada
Integral
Utilização da Contratação Integrada (Lei 12.462/2011)
§ 2º No caso de contratação integrada:
...
III - será adotado o critério de julgamento de técnica e preço.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Art. 20. No julgamento pela melhor combinação de técnica e preço, deverão
ser avaliadas e ponderadas as propostas técnicas e de preço apresentadas
pelos licitantes, mediante a utilização de parâmetros objetivos
obrigatoriamente inseridos no instrumento convocatório.
§ 1º O critério de julgamento a que se refere o caput deste artigo será utilizado
quando a avaliação e a ponderação da qualidade técnica das propostas
que superarem os requisitos mínimos estabelecidos no instrumento
convocatório forem relevantes aos fins pretendidos pela administração
pública, e destinar-se-á exclusivamente a objetos:
I - de natureza predominantemente intelectual e de inovação tecnológica ou
técnica; ou
II - que possam ser executados com diferentes metodologias ou tecnologias
de domínio restrito no mercado, pontuando-se as vantagens e qualidades
que eventualmente forem oferecidas para cada produto ou solução.
Utilização da Contratação Integrada
Acórdão TCU nº 1.510/2013 – Plenário:
9.1. notificar a Infraero, (...), observe os seguintes requisitos para as licitações baseadas
no regime de contratação integrada:
9.1.1. a obra ou o serviço de engenharia deve preencher pelo menos um dos requisitos
elencados no art. 20, §1º, da Lei 12.462/2011, quais sejam, a natureza
predominantemente intelectual e de inovação tecnológica do objeto licitado (inciso I);
ou que possam ser executados com diferentes metodologias ou tecnologias de
domínio restrito no mercado, pontuando-se na avaliação técnica, sempre que possível,
as vantagens e benefícios que eventualmente forem oferecidas para cada produto ou
solução (inciso II);
9.1.1.1. para enquadramento do objeto nos ditames do inciso II, § 1º, do art. 20 da Lei
12.462/2011, a expressão "de domínio restrito de mercado" refere-se, especificamente,
ao termo "tecnologias", e não, necessariamente, às "diferentes metodologias";
9.1.1.2. tendo em vista que uma obra licitada com base no anteprojeto já carrega em si a
possibilidade de a contratada desenvolver metodologia e/ou tecnologia própria para a
feitura do objeto, no caso de a motivação para a utilização da contratação integrada
estiver baseada nessa viabilidade de emprego de diferenças metodológicas, nos
moldes do art. 20, § 1º, inciso II, da Lei 12.462/2011, justifique, em termos técnico-
econômicos, a vantagem de sua utilização, em detrimento de outros regimes
preferenciais preconizados no art. 8º, § 1º c/c art. 9º, § 3º da Lei 12.462/2011;
9.1.2. faz-se necessária a motivação acerca da inviabilidade do parcelamento da licitação,
em razão da diretriz enraizada no art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011;
Utilização da Contratação Integrada
Não preenchem os requisitos necessários à contratação integrada,
relacionados ao critério de julgamento pela combinação de técnica e
preço, dispostos no § 1º do Art. 20 da Lei 12.462/2011, a contratação
de serviços comuns, para os quais o Tribunal já determinou o emprego
da modalidade pregão. (Acórdãos 2.163/2013 e 2.164/2013, ambos do
Plenário).
Utilização da Contratação Integrada

A Lei 8.666/93 só admite licitação de obras por técnica e preço em
objetos de grande vulto, majoritariamente dependentes de
tecnologia nitidamente sofisticada e de domínio restrito. Tal restrição
tem uma explicação muito simples: admitir a contratação de serviços
ordinários de construção civil por técnica e preço implica em elevado
risco de se contratar a proposta que não é aquela mais vantajosa para a
Administração. Pode ser que, do ponto de vista do contratante, a
metodologia de execução seja indiferente para a caracterização do
objeto licitado, não se admitindo que em um processo de licitação por
técnica e preço selecione-se aquela proposta que não seja a de menor
preço.
Utilização da Contratação Integrada


Dessa forma, a utilização da contratação
integrada para as obras públicas deve recair
preferencialmente sobre aquelas com diferentes
metodologias/tecnologias de domínio restrito no
mercado, em que a técnica de execução constitua
um fator preponderante para a finalidade da
licitação, para a caracterização do objeto e para o
atendimento ao interesse público.
Utilização da Contratação Integrada

REISDORFER aduz que a contratação integrada reflete a
intenção de permitir um maior grau de flexibilidade a
licitação. Tal flexibilização, por um lado, traz um
componente de incerteza na contratação, pois a
Administração Pública disporá de menos dados para o
controle das propostas. Por outro lado, ela permite
absorver técnicas inovadoras e remeter determinados
riscos de projeto ao futuro contratado.

Assim, segundo o autor, a lógica da contratação integrada
é a de atribuir maior responsabilidade ao contratado e
diminuir os riscos assumidos pela Administração Pública
em atividade que possa ser melhor desempenhada pela
iniciativa privada.
Utilização da Contratação Integrada

Por outro lado, DAL POZZO apresenta uma visão mais contundente da
contratação integrada:

“Se a Administração Pública deixar de estabelecer, de maneira completa, o
conjunto de elementos suficientes para caracterizar os que está
pretendendo contratar, não haverá torneio possível, pois, em verdade,
estarão sendo oferecidas propostas para alguma coisa que não se sabe
ao certo o que efetivamente é: trata-se de um pressuposto lógico do
certame.

E as consequências são absolutamente nefastas, pois essa imprecisão
possibilita o oferecimento de propostas com valores que podem ser
ínfimos, inexequíveis de plano, ou então propostas com valores muito
acima daqueles que efetivamente se poderiam conseguir, caso estivesse
bem delineado o objeto da contratação a ser entabulada.”

Prossegue o autor afirmando que “o regime de execução contratual ora
previsto pelo RDC pode vir a ensejar a celebração de um negócio jurídico
com condições absolutamente desconhecidas pelas partes,
desconectadas das reais implicações técnicas e econômicas que serão
levadas a efeito durante o ajuste.”
Utilização da Contratação Integrada
 ROMIRO alerta para o enorme risco financeiro existente na
contratação integrada:

Ao não oferecer aos licitantes projetos básicos desenvolvidos a partir de


programas de necessidades, de estudos de viabilidades e anteprojetos
detalhados e consistentes, a Administração suprime informações
imprescindíveis aos interessados para avaliação de riscos e dos reais
custos do empreendimento a ser executado. Esta incerteza pode
comprometer o resultado da licitação e a conclusão da obra diante da
possibilidade de ocorrência de eventos que impactam o custo do
empreendimento sem que tenham sido adequadamente identificados e
precificados por ocasião da licitação. A empresa, em razão do porte ou
da situação econômico-financeira, poderá não suportar este aumento de
custos sem revisão contratual, o que a levará a sérias dificuldades
financeiras, à falência ou ao abandono da obra, ou às três situações,
não necessariamente nesta ordem.
“Pois qual de vós, querendo edificar uma
torre, não se assenta primeiro a fazer as
contas dos gastos, para ver se tem com
que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de
haver posto os alicerces, e não a podendo
acabar, todos os que a virem comecem a
escarnecer dele,
Dizendo: Este homem começou a edificar
e não pôde acabar.”
Lucas 14:28-30
Utilização da Contratação Integrada

Algumas das recentes licitações que utilizaram a contratação integrada
justificaram o emprego desse regime de execução alegando a urgência
na implantação do empreendimento e a indisponibilidade de um projeto
básico para a licitação.

A esse respeito, ZYMLER & DIOS apresentam o seguinte
posicionamento:

“Não deve ser aceitável, cabe ressaltar, a administração, com o intuito
de agilizar o procedimento ao não elaborar o projeto básico
previamente à licitação, enquadrar obras e serviços de engenharia no
regime de contratação integrada quando esses empreendimentos não
preenchem os requisitos para uma licitação do tipo técnica e preço”.
Contratação Integrada – Algumas Licitações
 VLT de Cuiabá (NF= NT*60%+NP*40%);
 assinado o contrato em 20/6/2012, 78 dias após a publicação
do edital.

 BRT de Belo Horizonte (NF= NT*30%+NP*70%);

 Construção do Aeroporto Afonso Pena em Curitiba (NF=


NT*40%+NP*60%);

 Pavimentação da BR-163/PA – DNIT (NF= NT*30%


+NP*70%);
Contratação Integrada – Fatores de Ponderação de
Preço e Técnica

Para obras licitadas por contratação integrada,


sugere-se adotar os seguintes pesos:

 70% preço;
 30% técnica;
Será que a contratação integrada é sempre
vantajosa do ponto de vista econômico?
(Folha de São Paulo). Pressionado, governo aceita pagar mais por grandes
obras
Pressionado pelas empreiteiras, o governo federal alterou o modelo de
contratação de grandes obras e incorporou uma elevação automática de preços
sobre o orçamento inicial do projeto. Chamada de "adicional de risco", essa
elevação é uma forma de compensar os tradicionais aditivos, que foram
praticamente extintos em 2011 após uma série de suspeitas de desvio de
recursos por meio de acréscimos feitos após a contratação.A restrição a aditivos
nasceu quando o governo criou o RDC (Regime Diferenciado de Contratações),
hoje adotado nas obras rodoviárias --R$ 8 bilhões em contratos--, aeroportos e
ferrovias.
(...).A partir de agora, o governo insere, já no orçamento do edital, um valor extra
para compensar custos que eventualmente surjam durante a execução obra.Esse
valor extra, que varia de acordo com o risco estimado pelo governo, é adicionado
ao custo da obra e é desembolsado independentemente da ocorrência dos
obstáculos. No Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes),
primeiro órgão a adotar a novidade, o extra vai girar em torno de 17%, percentual
que é uma média histórica dos aditivos anteriores. (...) O diretor-executivo do Dnit
(...) informou que o valor adicional vai variar de acordo com a qualidade do projeto
que o órgão vai licitar. Quanto menos detalhes tiver, maior será a taxa...
A contratação integrada realmente reduz o prazo
de implantação de um empreendimento?
Etapas para execução de uma edificação com aproximadamente 20 mil metros quadrados.
Contratação Demais Regimes
Etapa Integrada de Execução
Levantamentos Preliminares 60 a 90 dias 60 a 90 dias
Plano de Necessidades 30 dias 30 dias
Estudo de Viabilidade 60 a 120 dias 60 a 120 dias
Licitação do Anteprojeto 90 a 180 dias Etapa inexistente
Licitação dos Projetos Etapa inexistente 90 a 180 dias
Licenciamento e aprovação do projeto legal nos órgãos competentes 30 a 120 dias 30 a 120 dias
Licitação da obra e dos projetos, no regime de contratação integrada 120 a 240 dias Etapa inexistente
Desenvolvimento do Projeto Básico 60 a 120 dias 90 a 180 dias
Análise e aprovação do projeto básico 60 a 90 dias 30 a 60 dias
Licitação da Obra nos demais regimes de execução contratual Etapa inexistente 60 a 120 dias
Elaboração do Projeto Executivo e Execução da Obra 540 a 720 dias 540 a 720 dias
Prazo Total 1050 a 1710 dias 990 a 1620 dias
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada

Para que utilização da contratação integrada em obras públicas
mostre-se vantajosa e eficaz, é fundamental que os diversos tipos de
riscos associados ao empreendimento sejam elencados e analisados.

A contratação integrada tem como objetivo atribuir maior
responsabilidade ao contratado e diminuir os riscos assumidos pela
Administração Pública em atividade que possa ser melhor
desempenhada pela iniciativa privada. Para que se consiga tal intento,
a Administração Pública deverá adaptar seus instrumentos contratuais
para que apresentem disposições específicas sobre a alocação de
todos os riscos possíveis do empreendimento.

Esses contratos, por natureza, são instrumentos complexos, pois
envolvem a realização de um negócio jurídico que têm por objeto
empreendimentos de grande vulto e partes com interesses
antagônicos, e incompletos, haja vista que a previsão de forma
exaustiva das diversas situações possíveis é tarefa bem difícil.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada

A alocação objetiva de riscos é fundamental em qualquer contrato, pois tem
como objetivo garantir maior eficiência ao processo de contratação pública,
evitando que o contratado assuma riscos que seriam melhor geridos pela
Administração Pública, a medida que o princípio geral da alocação de risco
estabelece que o risco deve ser atribuído a quem tem melhor capacidade de
gerenciá-lo. Na contratação integrada tal providência toma maior significância
em virtude da complexidade do empreendimento.

É o caso da lei 8.666/93 que, calcada na teoria da imprevisão, mostra-se um
instrumento claramente insuficiente (e ineficiente) para regulamentar o grande
espectro de riscos possíveis na execução de uma obra pública. Com a ideia de
preservar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, a referida lei atribui
ao Poder Público uma série de riscos.

A ampla maioria dos gestores públicos desconhece que a teoria da imprevisão
aplica-se fundamentalmente para os eventos não regulamentados em contrato,
ou seja, a eventos extracontratuais. Se o contrato administrativo dispuser que
determinado risco caberá ao particular, não seria o caso de se aplicar a teoria
da imprevisão.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada

A matriz de riscos é uma das formas de se fazer a análise dos riscos previstos
para o empreendimento, servindo como diretriz para redação das cláusulas
contratuais. Nela, todos os riscos são indicados de forma genérica, para serem
futuramente regulamentados no contrato administrativo. Assim, o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato será avaliado de forma conjunta com a matriz
de riscos.

Apesar de não constar no rol de elementos previstos para o anteprojeto,
recomenda-se que a matriz de riscos seja elaborada e que componha o
anteprojeto de engenharia sempre que a contratação integrada for utilizada.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Dificuldade de contemplar no Contratado Cláusula contratual impondo a
projeto básico as especificações obrigação de alteração do projeto pelo
constantes do anteprojeto. contratado.

Possibilidade de ultrapassar o prazo Contratado Exigência de garantia contratual ou


previsto para a elaboração dos seguro garantia (performance bond).
projetos básicos e/ou executivo, Cláusula contratual prevendo a
gerando custos adicionais. aplicação de penalidades e de rescisão
unilateral do contrato.

Não aprovação dos projetos pelo Contratado Exigência de garantia contratual ou


contratante. seguro garantia (Performance Bond).

Cláusula contratual impondo a


obrigação de alteração do projeto pelo
contratado.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação

Mudanças de projeto básico e/ou executivo Contratante Celebração de aditivo contratual.


por solicitação do contratante.

Mudanças de projeto por determinação de Contratante Celebração de aditivo contratual.


outras entidades públicas (prefeitura, corpo de
bombeiros etc.) ou exigidas para obtenção do
licenciamento ambiental do empreendimento.

Erros nos projeto elaborado pelo contratado. Contratado Cláusula contratual impondo a correção dos
erros por conta do contratado.

Cláusula contratual prevendo a aplicação de


penalidades e de rescisão unilateral do
contrato.

Detecção de condições geológicas que Contratado Seguro contra riscos de engenharia.


ensejem a alteração da solução das fundações
previstas no anteprojeto, gerando novos custos
para a conclusão da obra.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Erro na estimativa de custo da obra, inclusive os Contratado Seguro contra riscos de engenharia.
decorrentes de omissão de serviços no orçamento
e de previsões insuficientes de quantitativos de
serviços.

Erro na estimativa de prazo da obra. Contratado Seguro contra riscos de engenharia.


Alteração da legislação, regulamentos e normas Contratante Celebração de aditivo contratual.
que causem alteração do projeto.

Atraso na liberação da obra por fatos não Contratante Cláusula contratual prevendo revisão do
imputáveis ao contratado, gerando custos cronograma e/ou recomposição do equilíbrio
adicionais. econômico-financeiro.
Roubos e furtos na obra. Contratado Seguro contra riscos de engenharia.
Atrasos causados por demora na obtenção de Contratado Cláusula contratual prevendo a aplicação de
licenças ambientais por culpa do contratado penalidades e de rescisão unilateral do contrato.

Risco de inadimplência do contratante. Contratante Cláusula prevendo que o contratado pode


suspender os serviços e rescindir o contrato após
inadimplência superior a 90 dias.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Prejuízos advindos de quebra de máquinas ou Contratado Seguro contra riscos de engenharia.
de perda de materiais
Aumento de custos, perda de serviços e/ou Contratado/Contratante Cláusula contratual dispondo que o contratado
materiais, danos às instalações e atraso da arca com os prejuízos advindos chuvas
obra causados por chuvas ou outros eventos ocorridas dentro das médias históricas nos
climáticos e ambientais. últimos 12 meses, arcando o contratante com
os danos advindos de chuvas acima da média
histórica.
Danos e atrasos causados por inadimplência Contratado
dos fornecedores de materiais e equipamentos.

Danos causados por acidentes de trabalho ou Contratado


por segurança inadequada do canteiro de
obras.
Prejuízos causados a terceiros devido à Contratado Seguro de Responsabilidade Civil
realização das obras
Eventos seguráveis caracterizados como Contratado Seguro de Riscos de Engenharia.
forçam maior ou caso fortuito, que
prejudiquem a continuidade da obra ou
elevem os custos incorridos pelo contratado.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Eventos seguráveis caracterizados como Contratado Seguro de Riscos de Engenharia.
forçam maior ou caso fortuito, que
prejudiquem a continuidade da obra ou
elevem os custos incorridos pelo contratado.
Eventos não seguráveis caracterizados como Contratante Recomposição do Equilíbrio Econômico-
forçam maior ou caso fortuito, que Financeiro.
prejudiquem a continuidade da obra ou
elevem os custos incorridos pelo contratado.
Aumento dos custos em virtude de alterações Contratado
das distâncias médias de transporte entre
jazidas, bota-foras e áreas de depósito de
materiais
Alteração da legislação, regulamentos e Contratante Recomposição do Equilíbrio Econômico-
normas que causem aumento no custo das Financeiro.
obras.
Mudanças tributárias alterando os custos da Contratante Recomposição do Equilíbrio Econômico-
obra, exceto alterações do imposto de renda e Financeiro.
da contribuição social sobre o lucro líquido.
Alteração das alíquotas do imposto de renda e Contratado
da contribuição social sobre o lucro líquido.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Gerenciamento e administração inadequada da Contratado
construção, causando aumento dos custos ou
descumprimento dos prazos contratuais.

Prejuízos causados por subcontratados. Contratado


Danos e atrasos causados por greves, Contratado/Contratante Cláusula contratual prevendo que o contratado
manifestações sociais e/ou públicas. arca com os prejuízos ocorridos em um prazo até
30 dias, a cada período de 12 meses, enquanto o
contratante assume o ônus decorrente das
paralisações além desse prazo.

Custos associados ao atraso na conclusão da Contratado Cláusula contratual prevendo a aplicação de


obra por culpa do contratado. penalidades e de rescisão unilateral do contrato.

Atrasos causados por demora na obtenção de Contratante Recomposição do Equilíbrio Econômico-


licenças ambientais por culpa do contratante. Financeiro.

Revisão do prazo de execução contratual.

Atrasos causados por demora na obtenção de Contratado Cláusula contratual prevendo a aplicação de
licenças ambientais por culpa do contratado penalidades e de rescisão unilateral do contrato.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada
Risco Alocação Mitigação
Aumentos nos custos com salários e materiais Contratado
de construção não decorrentes de alterações
tributárias ou políticas públicas, ensejando
aumentos de custos superiores aos índices de
reajuste contratual.
Prejuízos causados por erros e defeitos na Contratado Cláusula contratual prevendo a aplicação de
execução da obra ensejando reconstrução total penalidades e de rescisão unilateral do contrato.
ou parcial.
Problemas de liquidez financeira do construtor Contratado Cláusula contratual prevendo a aplicação de
ou de subcontratados. penalidades e de rescisão unilateral do contrato.
Não atendimento dos parâmetros mínimos de Contratado
performance estabelecidos no anteprojeto.
Custos adicionais gerados por ações judiciais Contratado
contra o construtor e os seus subcontratados
por força da execução da obra.
Interposição de ações judiciais contra o Contratado Cláusula contratual prevendo a retenção de
contratante por conta da realização da obra por parte dos pagamentos devidos ao contratado no
fatores atribuíveis ao contratado. caso do contratante ser acionado judicialmente
por fatores imputáveis ao contratado.
O uso da Matriz de Riscos na Contratação Integrada

Acórdão TCU nº 1.510/2013 – Plenário:
9.1.3. a "matriz de riscos", instrumento que define a
repartição objetiva de responsabilidades advindas de
eventos supervenientes à contratação, na medida em que é
informação indispensável para a caracterização do objeto e
das respectivas responsabilidades contratuais, como
também essencial para o dimensionamento das propostas
por parte das licitantes, é elemento essencial e obrigatório
do anteprojeto de engenharia, em prestígio ao definido no
art. 9º, § 2º, inciso I, da Lei 12.462/2011, como ainda nos
princípios da segurança jurídica, da isonomia, do
julgamento objetivo, da eficiência e da obtenção da melhor
proposta;
Conteúdo do Anteprojeto (Decreto 7.581/2011)
Art. 74.  O instrumento convocatório das licitações para
contratação de obras e serviços de engenharia sob o regime
de contratação integrada deverá conter anteprojeto de
engenharia com informações e requisitos técnicos destinados a
possibilitar a caracterização do objeto contratual, incluindo:
I - a demonstração e a justificativa do programa de necessidades,
a visão global dos investimentos e as definições quanto ao
nível de serviço desejado;
II - as condições de solidez, segurança, durabilidade e prazo de
entrega;
III - a estética do projeto arquitetônico; e
IV - os parâmetros de adequação ao interesse público, à
economia na utilização, à facilidade na execução, aos impactos
ambientais e à acessibilidade. 
Conteúdo do Anteprojeto (Decreto 7.581/2011)
§ 1º  Deverão constar do anteprojeto, quando couber, os seguintes
documentos técnicos:
I - concepção da obra ou serviço de engenharia;
II - projetos anteriores ou estudos preliminares que embasaram a
concepção adotada;
III - levantamento topográfico e cadastral;
IV - pareceres de sondagem; e
V - memorial descritivo dos elementos da edificação, dos componentes
construtivos e dos materiais de construção, de forma a estabelecer
padrões mínimos para a contratação. 
§ 2º  Caso seja permitida no anteprojeto de engenharia a apresentação de
projetos com metodologia diferenciadas de execução, o instrumento
convocatório estabelecerá critérios objetivos para avaliação e julgamento
das propostas. 
Conteúdo do Anteprojeto (Decreto 7.581/2011)
§ 3o  O anteprojeto deverá possuir nível de definição suficiente para
proporcionar a comparação entre as propostas recebidas das licitantes.  
§ 4º Os Ministérios supervisores dos órgãos e entidades da administração pública
poderão definir o detalhamento dos elementos mínimos necessários para a
caracterização do anteprojeto de engenharia.
(Incluído pelo Decreto nº 8.080, de 2013)

Art. 75.  O orçamento e o preço total para a contratação serão estimados com base
nos valores praticados pelo mercado, nos valores pagos pela administração
pública em contratações similares ou na avaliação do custo global da obra,
aferida mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica. 
§ 1º Na elaboração do orçamento estimado na forma prevista no caput, poderá ser
considerada taxa de risco compatível com o objeto da licitação e as contingências
atribuídas ao contratado, devendo a referida taxa ser motivada de acordo com
metodologia definida em ato do Ministério supervisor ou da entidade contratante.
(Incluído pelo Decreto nº 8.080, de 2013)
§ 2º A taxa de risco a que se refere o § 1º não integrará a parcela de benefícios e
despesas indiretas - BDI do orçamento estimado, devendo ser considerada
apenas para efeito de análise de aceitabilidade das propostas ofertadas no
processo licitatório. (Incluído pelo Decreto nº 8.080, de 2013)
Grau de Precisão do Orçamento
( Gráfico adaptado de CARDOSO, Roberto S., Orçamento de Obras em Foco . Editora Pini, 2009.)

+ 50%

+ 40%

+ 30%

+ 20%
Erro da estimativa (%)

+ 10%

0% 1 2 3 4

- 10%

- 20%

- 30%

- 40%

- 50% Desenvolvimento dos projetos de engenharia (%)

10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Divulgação dos
Orçamentos no RDC
Orçamento Sigiloso (Lei 12.462/2011)

Art. 6o Observado o disposto no § 3o, o orçamento previamente estimado


para a contratação será tornado público apenas e imediatamente após o
encerramento da licitação, sem prejuízo da divulgação do
detalhamento dos quantitativos e das demais informações
necessárias para a elaboração das propostas.
§ 1o Nas hipóteses em que for adotado o critério de julgamento por maior
desconto, a informação de que trata o caput deste artigo constará do
instrumento convocatório.
§ 2o No caso de julgamento por melhor técnica, o valor do prêmio ou da
remuneração será incluído no instrumento convocatório.
§ 3o Se não constar do instrumento convocatório, a informação
referida no caput deste artigo possuirá caráter sigiloso e será
disponibilizada estrita e permanentemente aos órgãos de controle
externo e interno.
Orçamento Sigiloso no RDC
AC 3011/2012 – Plenário (Copa 2014) - VOTO:
75. Concluo, então, que, como o sigilo no orçamento-base não é obrigatório, e pelo dever de
motivação de todo ato, se possa recomendar à Infraero que pondere a vantagem, em termos de
celeridade, de realizar procedimentos com preço fechado em obras mais complexas, com
prazo muito exíguo para conclusão e em que parcela relevante dos serviços a serem executados
não possua referência explícita no Sinapi/Sicro, em face da possibilidade de fracasso das
licitações decorrente dessa imponderabilidade de aferição de preços materialmente relevantes
do empreendimento.
76. Quero deixar claro que entendo ser o RDC um avanço histórico em matéria licitatória.
Contratos por desempenho, inversão de fases, fase recursal única, disputa aberta, pré-qualificação
permanente, sustentabilidade... Incluiu-se um arsenal de mecanismos para melhor dotar os
gestores de instrumentos para contratações que mais atendam o interesse público. Delinearam-se
outros meios para objetivar o que vem a ser a melhor proposta. Nessa miríade de possibilidades,
entretanto, com incremento na discricionariedade aos gestores, o contraponto é um maior
dever motivador. Com mais caminhos, aumenta-se a necessidade de transparência quanto à
escolha da trilha mais adequada a ser seguida. O sigilo do orçamento, como optativo, é uma
dessas portas a serem devidamente motivadas. Orçamento aberto ou fechado, basta sopesar, em
cada caso, a melhor escolha. O que ora apresentamos, deste modo, é que a extrema urgência no
término da obra é um dos fatores a serem ponderados, em face do risco de licitações fracassadas.
Possibilidade de Abrir o Orçamento na Fase de Negociação
Nas licitações regidas pelo RDC é possível a abertura do sigilo do
orçamento na fase de negociação de preços com o primeiro colocado,
desde que em ato público e devidamente justificado
..o diretor da unidade técnica (...) apontou possível quebra de sigilo do
orçamento na fase de negociação efetuada após a definição da melhor
proposta da fase de lances (...) Como o valor negociado representou desconto
irrisório (0,023%) em relação ao orçamento da administração, a ocorrência
poderia apontar para quebra do sigilo do orçamento em benefício da empresa
licitante e em prejuízo à obtenção de proposta mais vantajosa. O relator (...)
Considerou também que, não obstante o momento da publicação do
orçamento estar previsto na Lei 12.462/2011 (imediatamente após o
encerramento da licitação, art. 6º) e no Decreto 7.581/2011 (imediatamente
após a adjudicação do objeto, art. 9º), “a questão merece cautela,
notadamente por se tratar de novidade em matéria licitatória, pois existem
situações em que não vislumbro como manter, de modo judicioso e a estrito
rigor, o sigilo na fase de negociação”. (...) Para se “fazer valer a real
possibilidade de negociar, desde que em ato público e devidamente justificado,
não vejo, em princípio, reprovabilidade em abrir o sigilo na fase de
negociação”. (Acórdão n.º 306/2013-Plenário).
Revisão do Orçamento Sigiloso no RDC

AC 3366/2012 – Plenário (POA):


9.1. notificar à Infraero, (...), que:
9.1.1. é ilegal a revisão do orçamento fechado durante a fase
externa da licitação sem a tempestiva disponibilização à
equipe de auditoria, o que contraria os preceitos estabelecidos
pelo art. 6º, § 3º, da Lei 12.462/2011, e capítulo II – da fase
interna – e art. 9º, § 1º, do Decreto 7.581/2011, alertando-a
que todas as revisões necessárias devem, em regra, ser feitas
na fase interna da licitação;
Algumas situações em que não é possível
assegurar o sigilo do orçamento
•Obras executadas mediante convênio ou contrato de repasse.
Nesse caso, o órgão repassador e o mandatário da União
terão conhecimento prévio do orçamento. Existe a
necessidade de formalizar o convênio/termo de compromisso
ou contrato de repasse previamente à licitação, publicando
extrato no DOU.
•Obras de grande vulto, em que exista um PT específico para
a obra na LOA ou no Plano Plurianual. A dotação
orçamentária será um indicativo do valor do orçamento.
•Quando se está licitando obras padronizadas (creches,
quadras poliesportivas etc.), em que os valores de outras
licitações podem servir como um indicativo do orçamento.
Algumas situações em que não é possível
assegurar o sigilo do orçamento

•Em obras da Copa e Olimpíadas, pois o valor estimado dos


empreendimentos consta da matriz de responsabilidade e da
carteira de projetos olímpicos.
•Quando o orçamento base é confeccionado por um
particular, contratado para elaborar os projetos da obra.
•Quando o orçamento foi obtido mediante cotações junto à
fornecedores. Tais fornecedores saberão o valor do
orçamento e terão informação privilegiada para participar da
licitação.
Critérios de Julgamento
no RDC
Critérios de Julgamento

Poderão ser utilizados os seguintes critérios de julgamento:

menor preço ou maior desconto, os quais poderão considerar os
custos indiretos, relacionados com as despesas de manutenção,
utilização, reposição, depreciação e impacto ambiental, dentre outros
fatores,para a definição do menor dispêndio;

melhor combinação de técnica e preço, sendo permitida a atribuição
de fatores de ponderação distintos para valorar as propostas
técnicas e de preço, não devendo o percentual de ponderação mais
relevante ser superior a 70%;

melhor técnica ou conteúdo artístico, quando, fixado o orçamento por
parte da Administração, serão consideradas exclusivamente as
propostas técnicas ou artísticas apresentadas pelos licitantes com
base em critérios objetivos previamente estabelecidos no
instrumento convocatório;
Critérios de Julgamento

maior oferta, a ser utilizado no caso de contratos que gerem
receita para a administração pública; ou

maior retorno econômico, de forma a selecionar a proposta
que proporcionará maior economia decorrente da execução do
contrato para a administração pública e será utilizado
exclusivamente para a celebração de contratos de eficiência.

Os critério de julgamento no RDC são os verdadeiros tipos de
licitação!
Julgamento pelo maior desconto (Lei 12.462/2011)
Art. 19. O julgamento pelo menor preço ou maior desconto
considerará o menor dispêndio para a administração pública,
atendidos os parâmetros mínimos de qualidade definidos no
instrumento convocatório.
(...)
§2o O julgamento por maior desconto terá como referência o
preço global fixado no instrumento convocatório, sendo o
desconto estendido aos eventuais termos aditivos.
§3o No caso de obras ou serviços de engenharia, o
percentual de desconto apresentado pelos licitantes deverá
incidir linearmente sobre os preços de todos os itens do
orçamento estimado constante do instrumento convocatório.
Julgamento pelo maior Desconto
O critério de julgamento pelo maior desconto é uma relevante
inovação do RDC, constituindo-se no caminho preferencial do
novo regime, apresentando várias vantagens em relação aos
demais critérios de julgamento:

Menores prazos entre publicação do edital e a apresentação
das propostas;

Evita o jogo de planilha e o jogo de cronograma;

Racionaliza o exame da economicidade e exequibilidade das
propostas das licitantes;

Não adota o orçamento sigiloso;

Estabelece critério claro e objetivo para a inclusão de preços
de serviços novos no contrato mediante termo aditivo.
Jogo de Planilha

Para evitar o ‘jogo de planilha’, verifica-se que o Decreto
Regulamentador apresentou disposição semelhante à
existente em sucessivas LDO:
“§6o A diferença percentual entre o valor global do contrato e
o obtido a partir dos custos unitários do orçamento estimado
pela administração pública não poderá ser reduzida, em
favor do contratado, em decorrência de aditamentos
contratuais que modifiquem a composição orçamentária.” (§
6o do art. 42 do Decreto)
Manutenção do Desconto
SITUAÇÃO ORIGINAL APÓS ADITIVOS

PARADIGMA
QUANT. FINAL

ORÇAMENT
CONTRATO
ORÇAMENTO
QUANT.
INICIAL

CONTRATO
ITEM

O
PARADIGMA

$ unit $ total $ unit $ total $ total $ total


1 100 30,00 3.000,00 25,00 2.500,00 400 12.000,00 10.000,00
2 200 30,00 6.000,00 20,00 4.000,00 300 9.000,00 6.000,00
3 300 20,00 6.000,00 10,00 3.000,00 300 6.000,00 3.000,00
4 400 10,00 4.000,00 25,00 10.000,00 200 2.000,00 5.000,00
TOTAIS 19.000,00 19.500,00 29.000,00 24.000,00
Desconto original 2,56%

MÉTODO DO DESCONTO
Orçamento paradigma final 24.000,00
-Desconto de 2,56% (615,38)
Valor final do contrato 23.384,62

Valor contratado com aditivos 29.000,00


Valor final do contrato (23.384,62)
Desequilíbrio do contrato em prejuízo à Administração: 5.615,38
Processamento da Licitação de Melhor
Combinação de Técnica e Preço

A Lei e o Decreto são absolutamente omissos


quanto ao procedimento a ser adotado no
processamento das licitações de técnica e preço.
Seguir o procedimento preconizado pela Lei
8.666/93 por analogia no RDC, em que primeiro se
faz o julgamento da proposta técnica, pode produzir
resultados desastrosos para o órgão licitante.
Realização da abertura das propostas de preços e
da fase de lances antes do julgamento da proposta
técnica.

LICITANTE NOTA TÉCNICA PROP. COMERCIAL NOTA PREÇO 0,5*NT + 0,5*NP


1 100 R$ 260.000.000,00 96,1538 98,0769
2 73,85 R$ 250.000.000,00 100,0000 86,9250
MENOR PROPOSTA: R$ 250.000.000,00 Máximos: 98,0769

Procedimento adequado! Como as licitantes não sabem as notas


técnicas, disputam ao máximo na fase de lances. A licitante 1
sagra-se vencedora com uma proposta comercial ligeiramente
superior.
Julgamento da proposta Técnica antes da fase de
lances.

LICITANTE NOTA TÉCNICA PROP. COMERCIAL NOTA PREÇO 0,5*NT + 0,5*NP


1 100 R$ 330.000.000,00 75,7576 87,8788
2 73,85 R$ 250.000.000,00 100,0000 86,9250
MENOR PROPOSTA: R$ 250.000.000,00 Máximos: 91,6346

Um verdadeiro desastre!
A licitante 1 já sabe previamente que tem nota técnica muito
melhor do que a licitante 2. Não reduz o seu preço na fase de
lances, pois sabe que já ganhou o certame. Se a proposta da
licitante 1 estiver abaixo do orçamento base da licitação, será
ganhadora por um preço muito superior ao da licitante 2.
Remuneração Variável
Remuneração Variável

O RDC tem como objetivo melhorar a eficiência das contratações
públicas. Dessa forma, a Lei 12.462/2011 instituiu dois mecanismos
muito importantes em relação ao regime (praticamente) fixo de
remuneração previsto na Lei Geral de Licitações: a remuneração
variável vinculada ao desempenho da contratada e o contrato de
eficiência, no qual a remuneração do contratado será proporcional à
economia gerada para a Administração Pública.

SCHWIND observa que a remuneração variável e os contratos de
eficiência são mecanismos pelos quais se pretende subordinar a
remuneração do particular à obtenção de um resultado futuro pré-
determinado acerca do qual não se tem certeza sobre sua ocorrência.
Constituem-se em contratos de risco em que o contratado assume o
risco de ter ao menos parte de sua remuneração vinculada diretamente
ao alcance de certos resultados.
Remuneração Variável

Os parâmetros escolhidos para avaliação do
desempenho do contratado poderão ser:

Alcance de metas;

Padrões de qualidade;

Cumprimento de prazos;

Sustentabilidade ambiental;

Entende-se que a remuneração do contratado possa
tanto aumentar, no caso de superação dos
parâmetros de avaliação de desempenho, quanto
diminuir, em caso de desempenho insuficiente.
Remuneração Variável
•O valor da remuneração variável deverá ser proporcional ao benefício a ser
gerado para a administração pública, não podendo ultrapassá-lo, tornando
imprescindível que os parâmetros escolhidos para a avaliação do desempenho
do contratado possam ser apropriados financeiramente.
•A utilização da remuneração variável exige anteprojetos ou projetos
básicos/executivos adequados, de modo a que os parâmetros de eficiência
observem a prática efetiva do mercado.
• Caso contrário, o instituto poderia ser desvirtuado em razão de falsos sinais
de eficiência, pois parâmetros por demais elastecidos provocariam dispêndios
adicionais para a Administração.
• Na utilização da remuneração variável, deverá ser respeitado o limite
orçamentário fixado pela administração pública para a contratação. Embora
salutar esse regramento, o instituto terá sua aplicação limitada quando a
proposta vencedora for de valor próximo àquele limite fixado pela
Administração, pois haverá pouca margem para a variação da proposta inicial.
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função da antecipação de prazos
•Situação aplicável a empreendimento cuja implantação gere
receita ou economia de despesas.
• Exemplo 1: Construção de usina hidroelétrica de 300 MW. Considerando um
prazo contratual de implantação de 48 meses; considerando que a obra foi
contratada por R$ 800 milhões; considerando que o orçamento base da
licitação foi de R$ 900 milhões; considerando que a energia gerada será
vendida por R$ 100/MWH;
Mensalmente, a usina gerará R$ 21,6 milhões de receita.
Ante o exposto, o contrato poderia ter uma cláusula de remuneração variável
estabelecendo o pagamento do valor total do contrato (V) de acordo com a
seguinte equação:
V = Mínimo [900 ; 800 + 0,5 x (48-t) x 21,6]
Em que V é o valor devido ao contratado (em R$ milhões) e t é o prazo de
conclusão da obra em meses.
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função de superação de parâmetros de
qualidade

•Situação aplicável a empreendimento cuja melhoria da qualidade


possa ser quantificada em termos financeiros.
Exemplo 3: Restauração de uma rodovia.
Existem modelos de previsão de desempenho que são utilizados
com a finalidade de prever a condição futura de um pavimento ao
longo do tempo, bem como para estimar os recursos necessários
para a sua preservação, realizando-se análise econômica dos
custos que ocorrem durante o ciclo de vida do pavimento.
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função de superação de parâmetros de qualidade
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função de superação de parâmetros de
qualidade
Ante o exposto, várias entidades internacionais adotam critérios de
remuneração variável em função do IRI do pavimento. O gráfico abaixo mostra
as equações de incentivo/desincentivo utilizadas pelo Estado de Minnesota:
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função de superação de parâmetros de
qualidade
Em outro exemplo, o Estado do Missouri utiliza os seguintes fatores de
pagamento em função do IRI obtido:
Exemplos de Aplicação da Remuneração Variável
•Pagamento de bônus em função de superação de
parâmetros de qualidade
O gráfico abaixo apresenta um comparativo entre os parâmetros de
remuneração variável utilizados em obras rodoviárias por diversos estados
americanos.
Conclusões:
•Apesar de não constar do texto da Lei ou do Regulamento,
recomenda-se a elaboração de uma matriz de risco na fase de
anteprojeto para orientar a lavratura da minuta do instrumento
contratual, o qual deverá alocar exaustivamente os riscos entre
o contratante e o contratado.
•Na contratação de obras por contratação integrada, é preferível
dar maior valoração para a nota de preço, em detrimento da
nota técnica.
•Recomenda-se que o uso da contratação integrada se restrinja
aos objetos de grande vulto e complexidade, que utilizam
tecnologia e metodologia de execução de domínio restrito no
mercado.
Conclusões:
•A contratação integrada, por também ser uma modalidade de
preço global, não deve ser aplicada a objetos em que não se
pode estimar com precisão os quantitativos de serviços, por
exemplo, obras rodoviárias, obras de saneamento, reformas etc.
•Aos poucos será construído entendimento doutrinário, técnico e
jurisprudencial sobre as características e o conteúdo do
anteprojeto.
• Entende-se que o anteprojeto deve propiciar a plena
comparação das propostas das licitantes e deve ter elementos
suficientes para a caracterização da obra ou serviço a ser
contratado.
• Recomenda-se que o anteprojeto permita a estimativa do
custo da obra com boa margem de precisão.
Conclusões:
•Entende-se que a relação de documentos apresentadas no art.
74 do Decreto 7.581/2011 não é exaustiva.
•O gestor público deve cuidar de elaborar um edital que
efetivamente caracterize o objeto licitado. Para alcançar esse
objetivo, caso seja necessário, o administrador público deve
disponibilizar outros documentos além daqueles elencados no
Regulamento do RDC.
•O anteprojeto deve caracterizar adequadamente o objeto a ser
licitado. Nos termos do art. 5º, “o objeto da licitação deverá ser
definido de forma clara e precisa no instrumento convocatório,
vedadas especificações excessivas, irrelevantes ou
desnecessárias”.
Conclusões
•As bases para o contratado fazer jus a ganhos
extraordinários devem estar bem planejadas e objetivamente
registradas no instrumento convocatório;
• Deve-se observar o nível de eficiência praticado pela
iniciativa privada (art. 4º, IV);
•Deve haver um limite máximo de valor fixo para esses
pagamentos;
•A administração pública deve aferir, com a necessária
precisão, o desempenho do contratado, segundo os
parâmetros objetivos pré-fixados;
•O benefício a ser gerado deve ser quantificado
monetariamente; e
•A remuneração variável deve ser proporcional ao benefício
a ser gerado.
Conclusões
•Entende-se que a remuneração do contratado possa tanto
aumentar, no caso de superação dos parâmetros de
avaliação de desempenho, quanto diminuir, em caso de
desempenho insuficiente.
Obrigado!!!

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