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TÉCNICA
FARMACÊUTICA E
FARMÁCIA GALÉNICA
I Volume
4- Edição
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Preâmbulo
Circunstâncias várias concorreram para que fosse ganhando corpo a ideia de escrever este
livro sobre Técnica Farmacêutica e Farmácia Galénica.
E como era por demais sensível a falta de um ic\lo no nosso próprio idioma sobre estas
disciplinas basilares do curriculum cios estudos farmacêuticos, não quisemos esquivar-nos, uma
vez equacionada a possibilidade da sua publicarão, a tentar converter em realidade um tão
aliciante projecto.
Por is.so, assegurada a sua edição pêlos competentes serviços da benemérita Fundação
Calouste Gulbenkian, lançámo-nos. entusiasticamente, na realizarão da tarefa que nos
propuséramos levar a cabo. guiados pela ideia de sermos tileis aos estudantes e aos nossos
colegas.
No entanto, se bem que ao iniciarmos a feitura deste livro tivéssetnos a consciência das
dificuldades com que iríamos deparar, a verdade é que elas se revelaram, à medida que
prosseguia o trabalho, bem custosas de tornear.
De facto, os assuntos relacionados com a Técnica Farmacêutica e a Farmácia Galénica são
hoje Ião vastos e multiformes que se tornou, em certos casos, extremamente difícil concatená-los
de modo a dar-lhes uma forma harmoniosa e equilibrada.
Poderá ta/vê: parecer que a obra agora apresentada se In um tatuo extensa e excessivamente
pormenorizada em certos capítulos. A razão disso filia-se, porem, f i o carácter que pretendemos
emprestar a este livro, que foi escrito com a dupla finalidade de servir de texto a estudantes e
poder, simultaneamente, interessar aos pós-gradtiados.
Exactamente por causa da sua vastidão e variedade dos tópicos nele tratados, admitimos,
francamente, que este livro não fera saído tão perfeito quanto desejávamos que ele se
apresentasse. Por isso, .serão bem acolhidas todas as críticas e sugestões tendentes a aperfeiçoá-
lo, se algum dia viermos a ter oportunidade para o fazer.
É-m>s particularmente graio reconhecer, neste momento, que um dos principais motivos que
nos levou a escrever este manual foi o caloroso incitamento que alguns categorizados colegas nos
dispensaram, fcsie fado contribuiu para que nunca nos sentíssemos desamparados e se não fosse os
estímulos deles recebidos, a ajuda que nos
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deram e os sábios conselhos que nos prodigalizaram talvez não tivéssemos »hegado ao fim. E se
apesar de tudo alguma deficiência houver que apontar nas páginas que se seguem, a culpa é
exclusivamente nossa, que não soubemos apreender convenientemente aquilo que outros nos
transmitiram correctamente.
Resta-nos agradecer a todos quantos directa ou indirectamente concorreram, de algum modo,
para tornar possível a concretização desta obra. Um imperativo de consciência impõe-nos, contudo,
que individualizemos algums agradecimentos.
Assim, confessamo-nos particularmente gratos ao E\mo. Senhor Professor Dr. José Vale
Serrano, que gentilmente se dignou discutir alguns capítulos deste livro e cujas sugestões e elevado
espírito crítico muito contribuíram para o melhorar em vários aspectos.
Também ao Exmo. Senhor Professor Dr. Carlos Ramalhào desejamos agradecer o ter
amavelmente acedido a apreciar o capítulo sobre Esterilização.
Aos nossos colegas Exmos. Senhores Doutores Aluísio Marques Leal, Alfredo do Amaral e
Albuquerque e Alberto Roque da Silva queremos, do mesmo modo, patentear a nossa gratidão pela
prestimosa ajuda que nos dispensaram.
igualmente agradecemos ao Exmo. Senhor Doutor Rui Morgado a sua valiosa colaboração, a
qual, entre outros aspectos, nos foi particularmente útil na compilação e ordenação das gravuras
que ilustram o texto.
E também com o maior prazer que registamos a amável anuência de Wulkex ao pedido para
que nos fosse permitida a utilização de várias gravuras do seu catálogo de instrumentos de vidro
para laboratório, o mesmo acontecendo com a firma Emílio de Azevedo Campos, Lda., que com a
melhor vontade nos cedeu fotografias de alguns aparelhos de marcas por si representadas.
E porque os últimos não são, necessariamente, os menos importantes, queremos terminar
expressando o nosso reconhecido agradecimento à Fundação Calousle Gulbcn-kian, sem cujo
decisivo apoio este livro talvez nunca viesse a ser publicado.
I PARTE
TÉCNICA FARMACÊUTICA
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Operações farmacêuticas de uso geral
2.1. PESAGEM
2.1.2. PESOS
Na maioria dos países vigora o sistema métrico decimal, cuja unidade fundamental é o kg,
com os seus múltiplos e submúltiplos.
Acontece que na Inglaterra e nos Estados Unidos o sistema decimal tem sido facultativo,
ulili/undo-se ainda hoje os pesos usados no comércio em geral ou em Farmácia, designando-se
estes últimos por por pesos, apotecúrios. l ' m a vê/ que lais pesos figuram nos livros sobre
Farmácia Galé nica originários daqueles países, julgamos conveniente indicar a correspondência
dos diversos pesos apotecários e o seu valor em g, a qua l é dada na Tabela I.
Tabela I. Pesos apotecários
/'*.,, Sinthvh Corresporiênci* 1 'ítlor cm <*ráuía
On<,a ;1 8 dracmas ^ 1 . 1 00
Gr:io gr 0.06-48
Correspondem- ia
Medida Símbolo Inglaterra Estados Unidos
Galão C 4,546 l 3,785 1
Pinto O 0,568 l 0.473 1
Onça fluida fl. oz., f 28,4(K) ml 29,570 ml
Dracma fluida fl. dr., f 3,550 ml 3,690 ml
Mínimo m 0,059 ml 0,061 ml
Acontece que certos medicamentos líquidos, geralmente muito activos, são prescritos
em gotas e não em peso ou em volume. Para contar o número de gotas indicado na
prescrição é costume retirar incompletamente a rolha do frasco que contém o líquido
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e deixá-lo escoar do gargalo, ou utili/ar pequenas pipetas munidas com tetmas de borracha, o
que está longe de constituir um modo rigoroso de executar esla operação.
Qualquer destes processos não origina gotas de peso uniforme, pois tanto este como o volume
da gota dependem de vários factores, como a forma do recipiente donde aquela escoa, a
temperatura, a capilaridade e a densidade do líquido. Deste
modo, corre-se o risco mais que provável de a mesma prescrição,
executada em duas farmácias diferentes, poder apresentar uma
actividade variável se as golas forem contadas por qualquer dos
processos acima indicados, pois só por mero acaso as condições
instrumentais serão as mesmas nos dois laboratórios. Para evitar
esta variabilidade do peso das golas criou-se o conta-gotas normal,
instrumento que t a / parle do equipamento obrigatoriamente
existente em todos os laboratórios farmacêuticos, cujas
características vêm indicadas na Farm Porl. V, V. 1.1.
Como aí se di/, podem ser utili/ados outros contas-gotas
desde que satisfaçam ao seguinte ensaio: 20 gotas de água a
2()±1"C que se escoam em queda livre de um conta-golas
? normal conservado em posição vertical, com um débito de uma
gota por segundo, pesam 1000 -t 50 mg, lendo o conta-gotas
sido lavado cuidadosamente antes do emprego. Com um dado
conla-gotas, executar pelo menos 3 determinações: nenhum
resultado deverá afaslar-se mais de 5 por cento da média das
3 determinações.
Outra das vantagens do conta-goias nornuil é a de permitir determinar pequenas massas
de líquidos sem recorrer ao emprego de uma balança, o que torna esta operação exlrema-J.OU
J,O.) mente simples de executar. Na realidade, uma vê/ que o refe-Fig. 2. Conta-gotas normal r'^°
instrumento permite a obtenção de gotas de peso eons-Dimensões em milímetros (ante. basta
saber-se o número de golas originado por l g de
líquido por este processo. Na Tabela III dá-se o número de
golas correspondente a l g de líquido, medido por um conta-goitis nanuul à temperatura de
15"C. indicando-se também o peso de XX golas do mesmo líquido fornecidas pelo referido
instrumento.
Vejamos como se utili/am, na prática, os valores que figuram na Tabela 111 e, para isso,
suponhamos que pretendíamos usar 0,2 g de tintura de ópio. Conforme está indicado na referida
tabela, LV1 gotas desta tintura pesam I g; logo, por uma simples regra do três. calcula-se que a
0,2 correspondem 1 1 .2 gotas, Basta, portanto, contar XI golas de tintura de ópio, utili/.ando o
conta-goias nonuiíl. para que tenhamos o peso pretendido.
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Querendo utilizar os dados indicados na coluna que nos dá o peso corresponde n lê a XX gotas de
medicamenlo, verifica-se, no exemplo apontado, que XX gotas de tintura de ópio pesam 0,354 g. Desle
modo, pelo processo atrás retendo, calcula-se que são precisas XI gotas para se obter 0,2 g de produto.
Ao executar uma prescrição médica é necessário ter em consideração as densidades dos líquidos que nela
figuram, nunca se devendo, sem prévia correcção, medir um volume quando se indica um peso, ou
inversamente. Assim, por exemplo, se o médico prescrever 10 g de uma tintura e quisermos executar a
prescrição medindo o volume de líquido correspondente àquele peso, teremos de medir 10,75, 11 ou 11,23 ml
conforme a tintura tiver uma densidade de 0,930, 0.910 ou 0,890. respectivamente, sendo esses volumes
calculados pela fórmula:
PV=—
d
Dum modo geral, pode dizer-se que as tinturas têm uma densidade compreendida entre 0,870 e 0,980. e os
extractos fluidos uma densidade que vai desde 1,030 a 1,10 e mais, ao passo que os xaropes são ainda mais
densos: d= 1.30-1,33.
A Tabela IV indica a densidade de alguns líquidos de interesse farmacêutico, podendo, com os dados nela
contidos, fazer-se, sem dificuldade, a conversão de um peso em volume, ou vice-versa, para o que basta
ulili/ar a fórmula acima referida.
Produto Densidade
Acetato de etilo 0,900-0,904
» » amónio (sol.) 1,032-1.034
Ácido acético 1,064
» azótico 1,390
» clorídrico l. l H6
» láctico 1.210-1,220
fosfórico 1,660-1,680
» sulturico 1.S30-1.843
» » diluído 1.068
(') Segundo DKNOFL, A., Cours de Pharmacie Pratique. L pág. 34. 1955, Lês Presses, Unívcrsilaires de
Licge.
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Um medicamento líquido para uso interno, como um xarope, uma poção, etc., raramente é prescrito para ser
administrado de uma só vez. Em regra destina-se a ser ingerido em doses fraccionadas, as quais são, quase sempre,
indicadas na respectiva prescrição. Como não é de esperar que o doente possua em casa os instrumentos de medida
usados nos laboratórios, é bastante corrente usarem-se certos utensílios caseiros, como colheres, cálices ou copos,
na medição das doses das preparações farmacêuticas líquidas.
Deste modo, c da maior conveniência que o farmacêutico conheça a capacidade dos recipientes geralmente
utilizados para esse fim, bem como o peso de medicamento que podem conter, a f i m de ser possível estabelecer, com
certo rigor, a posologia de um medicamento assim adminislrado. Na Tabela V indica-se a capacidade de algumas
dessas medidas mais utilizadas na prática diária, bem como a quantidade, expressa em g, correspondente ao volume
assinalado, para o caso da água, de um xarope e de um óleo.
Volume
Medida Xarope
Colher de café 4,75
» » sobremesa
» » sopa 13,75
Cálice de licor
» >•* vinho licoroso
Copo de vinho
» » água
Chávena de café
» » chá
As capacidades referidas para os diversos tipos de colheres são obtidas enchendo--as bem e rasando, depois, a
superfície do líquido com a lâmina de uma faca. Os volumes indicados são geralmente aceites como mais ou menos
uniformes, mas já o mesmo não acontece no caso dos copos e chávenas. Na realidade, a capacidade destes
recipientes varia de tal modo que não devem ser utilizados na medição de doses de medicamenlos bastante aclivos.
Para minimi/ar este inconveniente, muitos destes medicamentos, hoje de preparação industrial, são acompanhados
de um instrumento de medida próprio que pode consistir numa colher de material plástico ou de um pequeno copo
convenientemente graduado.
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BIBLIOGRAFIA
DENOCL, A., Cours de Pharmaàe Pratique, Lês Presses Universitaires de Liège. 1955, Tomo I. GouwrhiN,
S. W., Metrology, in RF,MINGTON'S Pharniaceutical Sciences. Cap. 9, 8 1 . Marck Puhlishitig Company.
Easlon. U. S. A. 1980.
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As operações farmacêuticas propriamente ditas são todas aquelas que se praticam com o objectivo de
transformar um fármaco numa forma farmacêutica. Se bem que nalguns casos se utilize uma única operação,
acontece, por vezes, que a obtenção de uma forma farmacêutica implica a execução de várias operações
devidamente programadas. Assim, para obtermos um pó a partir de uma droga de natureza vegetal teremos
que a submeter, previamente, a uma série de tratamentos, como a monda, secagem e divisão grosseira, e só
então ela estará apta a ser pulverizada mediante um processo adequado. Além disso, para que o pó a obter
apresente as características de tenuidade requeridas, aquele terá que ser submetido à tamisação.
No exemplo dado verifica-se que algumas das operações citadas precedem a redução da droga a pó, ao
passo que a tamisação só se aplica à droga já dividida. É por este motivo que é costume dividir as operações
farmacêuticas, independentemente da sua natureza, em operações preliminares, operações principais e
operações complementares ou acessórias. Assim, ao fazermos a pulverização de uma droga esta será a
operação principal, enquanto que a monda, a secagem e a divisão grosseira serão operações preliminares,
A tamisação. como é evidente, representará a operação complementar.
Consideradas na generalidade, as operações farmacêuticas propriamente ditas podem dividir-se em dois
grandes grupos: as operações mecânicas e as operações físicas.
Entende-se por operações mecânicas todas aquelas que apenas modificam o aspecto exterior das
drogas, sem, no entanto, alterarem o seu estado físico ou constituição química. Conforme o objectivo a que
conduzem, podem considerar-se dois grupos: Operações de separação e de divisão.
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É uma operação mecânica que se pratica para separar as partes inertes ou alteradas que acompanham, por
vezes, as drogas, principalmente as de origem vegetal, ou, ainda, para eliminar as substâncias estranhas
fraudulentamente ou não adicionadas àquelas.
Com a monda pretende-se, por conseguinte, eliminar tudo o que esteja a contaminar uma droga e que
possa fazer baixar a sua actividade farmacológica por um efeito de diluição, quando se trata de produtos
inertes, ou alterar essa actividade no caso de se tratar de produtos dotados de acção farmacodinâmica
própria.
A monda constitui, como é evidente, uma operação preliminar a que devem submeter-se todas as drogas
vegetais antes de as transformar em formas medicamentosas, fazendo-se por vários processos, conforme a
natureza da droga, os quais passamos a descrever.
4.1.1.1. À mão
São várias as drogas cuja monda tem que ser feita utilizando esta técnica. Assim, as amêndoas, utilizadas
na preparação da Emulsão comum, devem ser privadas do respectivo tegumento para que fiquem
completamente brancas e sem a adstringência que os taninos existentes na película que as envolve lhes
comunicam. Para mondar as amêndoas mergulham-se em água aquecida a 60/70°C, deixando-as permanecer aí
durante alguns minutos. Deste modo, o tegumento incha e torna-se flácido, destacando--se, então, com relativa
facilidade, bastando, para tanto, premi-las entre os dedos.
Outras vezes monda-se a droga à mão, separando-a de partes inertes ou de produtos estranhos que lhe
são misturados. Se uma determinada droga é constituída por
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Este processo de monda é utilizado para eliminar as partículas de terra que aderem às raízes (ruibarbo,
ipecacuanha, valeriana, salsapurrilha, etc.). É executado colocando a droga num crivo ou tamis feito de
arame e tendo malhas bastante largas, ao qual se imprimem sacudidelas bruscas. Deste modo, os fragmentos
de terra destacam-se das raízes e passam alravés da rede do crivo, ficando a droga retida neste.
É ulilizado para separar ceríus matérias muito leves, como poeiras, restos de pedúnculos, glumas,
glumélulas, etc., que acompanham algumas sementes. Para executar este processo de triagem pode colocar-se
a droga num pene iro e expor este ao vento ou a uma corrente de ar proveniente de um compressor ou mesmo
de uma ventoinha, a qual faz voar as partículas aderentes às sementes, ficando estas retidas no peneira
devido à sua elevada densidade.
A monda por lavagem é menos utilizada do que os processos atrás referidos, estando indicada apenas
naqueles casos em que as impurezas que se pretendem eliminar estão de tal modo aderentes à droga que só
uma lavagem consegue arrastá-las.
Assim, aplica-se a lavagem com água para mondar a goma-urábica e algumas sementes utilizadas na
preparação de emulsões, como as amêndoas doces, as sementes de abóbora c outras.
Os folíolos do sene, utili/ados pela sua acção purgativa devido aos antraglucósidos que contêm,
devem ser lavados com álcool para eliminar uma substância resinosa e
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certas antraquinonas sob a forma reduzida neles existentes, as quais provocam cólicas. Para extrair esses
produtos têm sido aconselhados vários processos, todos eles baseados na maceração do seni; c.n álcool de
graduação variável, como, por exemplo, o de KRE-MEL, que utiliza álcool de 50°, e o de MAURIN, que emprega
álcool de 95°.
O sulfato ferroso cristalizado é outra droga que se recomenda mondar por lavagem com álcool, a fim de
eliminar o sesquióxido de ferro e o sulfato férrico formados à superfície dos respectivos cristais c^mo
resultado da acção oxidante do ar.
4.1.2. TAMISAÇÃO
4.1.2.1. Tamises
Os instrumentos utilizados para fazer uma tamisação denominam-se tamises e são constituídos
por um aro de diâmetro variável, tendo, geralmente, 15 cm de altura e
apresentando uma das extremidades fechada por um tecido aplicado de
modo a ficar bem tenso. (Fig. 4). Este tecido representa a parte fundamental
do tamis, pois é ele que, em função da abertura das respectivas malhas,
permite a separação das partículas submetidas à lamisação consoante os seus
diâmetros. Os tecidos utilizados na fabricação dos tamises são constituídos
Fig, 4. Tamis simples por fios da mais variada natureza, como ferro galvanizado, latão, aço
inoxidável, seda, crina ou fibras sintéticas,
sendo de notar que tanto a abertura das malhas dos tecidos como a homogeneidade dos pós que
originam dependem do material utilizado.
Assim, os fios de ferro servem para a preparação de tecidos de malhas relativamente largas, usados na
fabricação de tamises que recebem a designação de crivos, e cuja utilização na monda das drogas já
atrás referimos. Por sua vez, as redes de fios de latão originam pós bastante homogéneos, de
tenuidade intermédia, ao passo que os tecidos de seda são os utilizados na fabricação dos tamises de
malhas mais apertadas; os tecidos feitos de crina são irregulares, susceptíveis de se deformarem,
originando, por conseguinte, pós caracterizados por falta de homogeneidade das respectivas
partículas. Na prática farmacêutica usam-se duas espécies de tamises,
denominados, respectivamente, tamises simples e tamises cobertos. Estes
últimos devem ser empregados sempre que as drogas a tamisar sejam irritantes
ou tóxicas e são constituídos de modo a formar um conjunto fechado que evita a
disseminação das partículas na atmosfera, impedindo, assim, que elas entrem
em contacto com os olhos, o nariz e a boca do operador, panes do organismo
onde a sua acção se faz sentir imediatamente. Como se pode ver na Fig. 5, um
tamis coberto consta, essencialmente, de três partes: o tamis propriamente dito
(B), a tampa (A) c a parte inferior (C), destinada a receber o pó tamisado, e
tanto esta
como a tampa são fechadas numa das extremidades por uma carneira bem
esticada, devendo a parte lisa da pele ficar virada para o interior do tamis, a Fig. 5. Tamis coberto
fim de permitir que o pó se destaque facilmente, acabada a operação.
Como já tivemos ocasião de dizer, a parte principal de um tamis é o tecido utilizado como
elemento separador das partículas a tamisar e qualquer que seja a natureza do material empregue na
fabricação de um tecido este é sempre constituído por
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um certo número de malhas por unidade de superfície, de modo que as características dessas malhas
constituem os factores fundamentais para bem se definir um tamis.
Na Fig. 6 representamos uma malha, ou seja, aquilo que se pode considerar como a unidade
constitutiva de um determinado tecido. Como o esquema indica, a malha é igual à soma do diâmetro
dos fios (d) com a distância que separa dois fios consecutivos, que é designada por lúmen ( l ) . Deste
modo, pode cscrever-sc: M = / + d. Por outro lado, qualquer tecido terá
l
um número de malhas por cm, n ~ ——. e um número
i M
de malhas por cm-, n = ——.
M2
É costume considerar ainda a superfície útil de um tamis, que é a relação entre
l—
a superfície correspondente apenas ao lúmen ou orifício da malha c a superfície
total desta, e que c dada pela expressão:
l2K = ————— =
l3 n 2
(l + d)~ Fig. 6. Malha de um tamis
-
a qual mostra que a superfície útil está directamente relacionada com o diâmetro das partículas
tamisadas, aumentando este quando aquela aumenta.
Uma vez que os tamises são especialmente usados para estabelecer a tenuidade dos pós, é necessário
dispor-se nos laboratórios farmacêuticos de vários daqueles instrumentos, os quais diferem entre si
pela abertura das respectivas malhas, a qual se escalona desde uma dimensão máxima a outra,
mínima.
Dado que a malha é a unidade basilar dos tecidos e como estes, por seu turno, constituem a
peça fundamental dos tamises, é natural que aquela fosse escolhida como o elemento sobre que
assenta a classificação destes instrumentos. Pode dizer-se, no entanto, que essa classificação está
longe de ser uniforme, tendo variado bastante através dos tempos e sendo diferente de país para país.
Em geral, os tamises foram designados sempre por um número, costume que ainda hoje se
mantém, mas antigamcnle lal numeração era puramente empírica e não tinha qualquer relação com
as dimensões das malhas. Depois começou a usar-se uma numeração que indicava o número de
malhas por polegada ou por cm, até que, modernamente, se estabeleceu um critério mais rigoroso de
classificação.
Um simples relance de olhos à Fig. 7 mostra como é inconsistente a classificação dos tamises
baseada, apenas, no número de malhas por unidade de superfície, como fazia a Farmacopeia
Portuguesa IV, 2.a edição. Suponhamos que os dois quadrados maiores A e fi, representando
pedaços de tecidos diferentes, têm l cm2 de superfície e estão divididos cm dezasseis quadrados
pequenos. Ambos têm, portanto, o mesmo número de malhas por unidade de área e seria de admitir, a
priori, que originassem um
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tamisado igual. Porém, como a Fig. 7 mostra claramente, isso é impossível, vis to que o lúmen das
malhas do tecido A é maior do que o do tecido B, resultando, portanto, que o tamisado originado por
A será constituído por partículas maiores do que o dado por B.
Reconhecida a possibilidade de existirem tamises podendo apresentar o mesmo número de
malhas mas com abertura desiguais, foi-se levado a concluir que um tamis
só ficaria bem definido estabelecendo o número de
malhas por unidade de comprimento e f ix ando as
respectivas aberturas e o diâmetro dos fios, critério já
adoptado pelo Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV
(').
Na Tabela VI indicam-se os tamises inscritos na
Farmacopeia Portuguesa V (V. 1.4), bem como as
respectivas características. Estes tamises têm malhas
Fig. 7. Variação da abertura das quadradas, embora para operações não destinadas à
malhas em função do diâmetro análise possam ser utilizados instrumentos de malhas
dos fios do tecido circulares 1,25 vezes a largura das malhas quadradas
cujo diâmetro interior seja do igual
tamis correspondente. Tabela VI. Características dos tamises descritos na
Farmacopeia Portuguesa V (V.1.4.
Número dos Tolerância das aberturas Diâmelni do lïu
tamises
(Dimensões Tolerância Tolerância Tolerância Dimensões Dimensões Imijk--,
nominais dai máxima para para a média intermédia + nominais ;idiinssi\t~is
abertura^ uniu abertura das aberturas Z recomendada
+X ±Y sa d max il min
11 200 770 350 560 2500 2900 2 100
8 000 600 250 430 2000 2300 1 700
5 600 470 180 320 1 600 1 900 1 300
4 000 370 130 250 1 400 1 700 1 200
2 XOO 290 90 190 1 120 1 300 450
2 0(X) 230 70 150 900 1040 770
1 400 180 50 110 710 820 fiOO
l 000 140 30 90 560 640 4 SÓ
710 112 25 69 450 520 ,180
500 89 18 54 315 360 270
355 72 13 43 224 260 190
250 58 9,9 34 160 190 130
180 47 7,6 27 125 150 106
125 38 5,8 22 90 104 77
90 32 4,6 18 63 72 54
63 26 3,7 15 45 52 38
45 22 3,1 13 32 37 21
38 — — — 30 35 24
dcsie livro,
( ' ) O leitor poderá encontrar mais pormenores a respeito desta matéria na .V pág. 37 e
seguintes.
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Tolerância máxima (') para uma abertura + X: nenhuma dimensão da abertura deve
ultrapassar a dimensão nominal de mais de X com
2(w°-75)
X = ————— + 4(w°'25) W = abertura da malha
Tolerância para a média das aberturas ± Y: a abertura média não deve afastar-se da abertura
nominal mais de ± Y com
,6
27
Tolerância intermédia + Z: não mais de 6 por cento do total das aberturas do tamis deve ter
dimensões compreendidas entre os limites do «nominal + X» e do «nominal + Z» com
X+Y
Diâmetro do fio d: os diâmetros dos fios dados no quadro aplicam-se à tela metálica montada
num caixilho. As dimensões nominais recomendadas dos diâmetros do fio podem afastar-se destes
valores dentro dos limites d max e d min. Estes limites correspondem a um intervalo de + 15 por
cento em relação às dimensões nominais recomendadas. Num tamis de controlo, os fios da trama e
da urdidura devem ter o mesmo diâmetro nominal.
Em primeiro lugar, deve escolher-se o tamis a utilizar na operação de acordo com a tenuidade
que o material tamisado deve apresentar, sendo necessário, ainda, que a rede do tamis e o produto a
tamisar sejam compatíveis entre si. Quer isto dizer que pode haver substâncias capazes de atacarem
os fios do tecido do tamis, ou vice-versa, e, por isso, deve ter-se sempre em atenção este facto ao
seleccionar o instrumento a empregar.
Ao fazer uma tamisação poderemos usar um tamis simples ou coberto, sendo de aconselhar o
emprego de um tamis deste último tipo sempre que se trabalhe com substâncias irritantes ou tóxicas.
Uma vez colocado o produto a tamisar sobre o tecido
do instrumento, imprimem-se a este movimentos alternados para um e outro lado, procurando evitar
sacudidelas e golpes violentos, de modo a que o material deslize naturalmente c sem qualquer
pressão sobre a rede tamisantc, passando através das respectivas malhas apenas as partículas cujo
diâmetro c ligeiramente inferi or à abertura
daquelas. A lamisação será dada por terminada quando já não
passar mais pó através das malhas e em nenhuma caso se deve
comprimir o produto sobre a rede tamisante. pois em tais
circunstâncias as malhas podem deformar-se e permitir a pas-
sagem de partículas maiores, o que faria com que o material
tamisado perdesse a sua homogeneidade. Na Fig. K as setas
representam os movimentos que se devem imprimir ao tamis e
como este ____________________ é um tamis simples o
tamisado é recolhido sobre
uma folha de a
Fig. 8. Movimento a ,mpnmir ao tamis P ï*l «tendida na
banca de tra-
durante a tamisação balho.
4.1.3. LEVIGAÇÃO
41
BIBLIOGRAFIA
ECANOW, B. e SAUIK. F — i n — Dispcnsing of Medication, pág. 98, Mack Publ. Co., Pennsylvania,
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Paris. 1949.
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4.2.1. DECANTAÇÃO
Trata-se de uma operação mecânica que tem por fim separar um líquido sobrenadante de um
sólido ou de um líquido. Para que tal separação se possa realizar é condição necessária que o
sólido se lenha depositado, previamente, no fundo do vaso contendo a mistura a decantar, ou, no
caso de dois líquidos, que estes sejam imiscíveis e se disponham cm camadas perfeitamente
separadas, de acordo com as respectivas densidades.
A decantação pratica-se, correntemente, nos laboratórios quando se pretende isolar um
precipitado formado no decurso de uma reacção química, quando se quer separar das águas-mães os
cristais obtidos numa cristalização ou quando se pretende purificar um sólido por lavagem, no
caso de este conter impurezas solúveis n u m determinado líquido. Todos estes casos constituem
exemplos de decantação em que se despreza o líquido sobrenadante, sendo a operação praticada
com o objectivo de aproveitar o sólido depositado, podendo, no entanto, acontecer que, por vezes,
seja o líquido decantado a parte que interessa conservar.
A decantação de dois líquidos é também um processo de separação muito utilizado e implica
sempre a presença de duas fases imiscíveis, sendo uma geralmente aquosa e a outra constituída por
um ou mais líquidos orgânicos. Dela se I a/ largo uso, como, por exemplo, nas técnicas de dosagem
dos alcalóides existentes nas drogas vegetais e em muitos processos extractivos e de purificação
de substâncias.
Durante a operarão deve apoiar-se ao bico ou hordo cio r eci p i en t e que t: n L-erra a
m i s tur a a decantar uma vareta em posição vertical (Fig. 10). para que o liquido adira e
escorra ao longo dela, diminuindo-se, assim, o el eito dos movimentos resultantes da
contracção do veio líquido, que, de outro modo, poderão Ia/e r levantar o sedimento.
4.2.1.2. Por pipeta
F.sta técnica é aplicada, indiferentemente, à
decantação de um líquido de um sólido ou de dois
líquidos, mas apenas se usa quando o volume de líquido a
decantar seja redu/.ido. Pratica-se mergulhando uma
pipeta no líquido que se pretende separar, aspirando-se
este. por sucção, com a boca ou com o a u x í l i o de uma pêra
de borracha adaptada à parle superior da pipeta. Neste
último caso. a pêra deve ser comprimida antes de imergir o
instrumento no líquido, fa/endo-se, então, a sua
descompressão gradualmente, o q ue permite controlar o
volume do líquido aspirado para a pipeta. Fig. 10. Decdntdção por escoamento
Ao decantar dois líquidos há a considerar se se pretende
retirar a camada superior ou a interior. No primeiro caso, basta mergulhar a pipeta até um
pouco acima da superfície de separação e aspirar, depois, o l í q u i d o que c o n s t it u i a (ase mais
leve. Na segunda hipótese, teremos que tapar o orifício superior da pipeta e só então ela será
mergulhada até penetrar na fase mais densa. Deslapando-a depois, o líquido que const i t u i a camada
inferior subirá até certa altura, podendo a subida ser a u x i l i ad a por sucção.
Como variantes do processo da pipeta podemos referir, ainda, o uso de conta-gotas e de
seringas hipodérmicas. as quais, graças ao seu êmbolo fa cil men te inanejável. são
especialmente indicadas pura a decantação de pequenos volumes de líquidos.
ângulo, distinguindo-se estes últimos pela sua grande flexibilidade, o que os torna muito úteis em
certos casos.
Os sifões apresentam, em regra, braços desiguais e quando tal acontece o braço mais curto
deve mergulhar no líquido a decantar, mas esta condição não é, todavia, absolutamente essencial
para o seu funcionamento. Na realidade, a única força que promove o escoamento é a resultante da
diferença de peso das colunas líquidas contidas nos dois ramos do sifão, a qual só depende das
alturas das referidas colunas, uma vez que, salvo casos excepcionais, os sifões são de secção
constante.
Portanto, para que um sifão funcione é, de facto, indispensável que as duas colunas de líquido
que o constituem sejam de alturas desiguais e a velocidade de escoamento depende directamente
dessa diferença, como facilmente se pode demonstrar.
Suponhamos que se pretendia transferir o líquido contido num recipiente A para outro, B, como
esquematicamente se representa na Fig. I I . A força que solicita o líquido de A para B c igual à
pressão atmosférica diminuída do peso da coluna de líquido que tem por base a secção do sifão c por
altura h. Por sua vez, a força que solicita o liquido de B para A é igual à diferença entre a mesma
pressão atmosférica
e o peso da coluna de líquido que tem também por base a
secção do sifão e por allura h'. Uma vez que a pressão
atmosférica e a secção do sifão são iguais em ambos os casos,
as duas forças dependem directamente de h c h', como já antes
referimos, e a velocidade com que o líquido se desloca pode
calcular-se pela expressão: v = \ 2g(h'-h). Desta expressão é
intuitivo dedu/ir-se que a velocidade de escoamento depende da
diferença (h'-h), que vai diminuindo à medida que os valores
das duas alturas se aproximam e se anula quando elas se
igualam, ou seja, que o sifão deixa, nesse momento, de
funcionar. Para que tal não aconteça, e reportando-no s ainda
à Fig. 11, torna-se necessário que os dois recipientes se
Fig. 11. Sifão não encontrem ao mesmo nível, só se obtendo transvasamento total do
líquido de A para B se as duas colunas de líquido nunca atingirem alturas iguais durante Ioda a
operação.
Para que um sifão funcione terá que ser posto em carga, isto é, terá que ser cheio com o líquido
a sifonar. Tratando-se de um sifão rígido e de pequenas dimensões, é relativamente fácil carregã-io,
para o que basta virar as aberturas dos ramos para cima e enchê-lo com o líquido a decantar.
Conseguido isto, tapa-se o orifício do ramo maior com um dedo e inverte-se, depois, o instrumento,
mergulhando de seguida o ramo menor no recipiente contendo o líquido a transvasar e colocando o
ramo maior no reservatório destinado a receber o decantado. Este processo toma-se, porém, de
difícil execução quando o sifão é flexível, como os constituídos por tubos de borracha, e
45
nestes casos carrega ••(• u s i f ã o as pu and o pela .thciiuia do ramo maioi. a te q ; > • o
liquido comece a i, orrer. |- s(a ;ispn,K L i,i pode !a/<T-M_- (.0111 a hoca desde que o
liquido .1 decanUu uáo s eja IOMIO nem eonosi\o ou eaustKo; t|ii.iiulo t a l aconteça c
ncccssar 10 ulih/ai di sp o^iliv os cs|ii\'i;iis. (|U'.- pcmiiluni carrcí_'.ir o sil; o
opci.klor \a \ - \ ^ . \ ?_ iTproilu/eni-se dois upos cspc ciais Je Mfoes: o niodclo \ [u-de
sei posio rin e;ui:;( por aspiiaeao ,1 liota. yi',i>,as :io mho Ji.1 SOLMHJIK;I kiie-i.il. ao
passo que o modelo f, r c;ine;j.ado por aspini^ao niecaniea udh/.indo o i-mhol.i j cie
aeopukido.
4.2.1.4. Por vasos florentinos
(K \;isos lloieiiiiiios ehissiros s.io reeipienie^-em 101 n ia
de Lianata leiuin uma iiihu ladina l ai era l dobiada em sMVio eiijj F ig. 12. ' .pó de .'toe
a l l ma e sempie mleiioi ao eai-
galo ( ] - I L T - l1^ . \ \ e s e i \ e m paia sepai.u os olros e-^seneiais ii.i .ÍLUI.I quando es(i.-s
produtos sãu prepaiatios poi de^nhKão cm oMiente de \api>i O d s- sii lado t.1 lecehido
num desies recipientes e apôs ,d»uim (empo de icpou-,0 ,t rsseiu ia. poique e menos densa,
sohicnada a aiiua e |iinl.i-se no colo elo \a--o, cnLjii.inlo es la ulíima \ a i esco ando pelo
luho lateral. Nos i^asox m,i[s NIIOS cm que a essência e de maioi densidade que a asMia
uiih/arn-se ie*. i i e i u e s unno o da f ü: l; í : em t al cnvuiisiãncia. a a^iu. a
medida que o ileslilaJu \'\\\ sendo lecolliidn. eseoa p>'|o tuho u-locado na pane
sii|>erioi direita do vaso. ücaniio a essência no lundu deste.
() aparelho di- D I S M V K I is e Mi KI > e uma moddicai,ao dos \ a s o s t lo i e nt i n o s
clássicos. disiinoiii[idii se destes pela pari K u landade de apresentai diia^- inhuladura-..
uma superioi e ouha mleiioi i f j j j . I 4i. O desnlado e iccehido no disposiii\o alu\es do
tunil de ponta huen ai neule r e e u i \ a * l a e a essência, separando-se da as.Mia. I k a a
46
sobrenadar esta. que vai sendo descarregada da proveta pelo sifào. Logo que a essência atinja o
pequeno tubo, situado na parte superior esquerda do aparelho, sai para o exterior, o que permite
recolhê-la à medida que se separa, evitando-se, assim, a substituição do vaso quando estiver cheio,
como acontece com os recipientes florentínos.
4.2.2. EXPRESSÃO
que constituem os respectivos sucos celulares depende da sua textura e, por conseguinte, o grau de
compressão a aplicar para se conseguir uma expressão conveniente dependerá da natureza do
material a tratar. Deste modo, é de esperar que as substâncias polposas ou moles e os vegetais
herbáceos, dada a relativa fragilidade das suas paredes celulares, não necessitem de ser sujeitos a
tão fortes pressões como os produtos de textura compacta para cederem os líquidos que contêm.
A expressão é, em regra, praticada a frio, devendo, em casos especiais, ser feita em aparelhos
aquecidos, e, além disso, pode ser executada manualmente ou por meio de prensas.
Este processo pode apresentar duas variantes, consistindo a primeira em esmagar a substância
a espremer com a mão. Aplica-se a casos muito restritos, como na preparação de sucos de amoras e
groselhas, sendo estes frutos transformados numa pasta por pressão manual, completando-se depois a
expressão por um processo mecânico.
A segunda variante consiste em encerrar o material num tecido apropriado, aplicando-se,
seguidamente, uma torção progressiva nas extremidades daquele, o que obriga o líquido a
abandonar o sólido e escorrer para o exterior do invólucro de pano, sendo recebido num recipiente
colocado por baixo.
Se bem que este processo de expressão não possa ser considerado tão eficiente como os que
utilizam as prensas, c, no entanto, bastante utilizado como operação acessória na preparação de
soluções extractivas. Na realidade, sempre que se submete um produto vegetal a uma extracção com
um solvente, completada a operação apenas se obtém uma fracção do volume de líquido inicialmente
adicionado à droga, pois, encontrando-se esta mais ou menos seca, fixa, por embcbição das suas
células, uma parte importante do solvente. Tal facto resultaria num prejuízo considerável se nos
limitássemos a aproveitar o líquido que sobrenada o sólido e desprezássemos aquela parte que fica
retida pelas partículas da substância extraída.
Esse é o motivo porque a preparação de qualquer solução extractiva, seja um decocto,
macerado ou tintura, deve ser sempre completada com a expressão do marco, islo é, da parte da
droga submetida ao processo extractivo e que não foi dissolvida, a fim de se recuperar o líquido por
ela retido. Esta operação pode ser feita vantajosamente por meios mecânicos, mas no caso de
preparações em muito pequena escala, em que o marco a espremer pesa, no máximo, algumas
dezenas de gramas, é evidente que o processo de mais fácil e prática execução é, precisamente, a
expressão manual por torção.
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Exceptuando o caso de o resíduo a espremer ser diminuto, a expressão deve ser feita por um
processo mecânico, o qual é mais eficiente e origina maior quantidade de líquido. Os aparelhos
utilizados na expressão mecânica são chamados prensas* das quais existem numerosos modelos,
adequados a cada caso, permitindo operar a frio ou a quente e capazes de exercerem, por vezes,
pressões m u i t o consideráveis, e que se podem dividir em dois lipos distintos: as prensas de
parafuso e as prensas hidráulicas.
A prensa de COLLAS (Fig. 16) representa o tipo mais simples de prensa de parafuso, tendo sido
muito utilizada na oficina farmacêutica. É constituída por dois cilindros
concêntricos apoiados num suporte, sendo o interior perfurado e
de diâmetro menor que o situado externamente. O parafuso que exerce a
pressão termina por um disco justo ao cilindro interior, sendo aquele
obrigado a subir ou descer ao longo da prensa conforme o movimento que
se imprime ao volante que acciona o parafuso.
A substância a espremer é envolvida num tecido resistente, a fim de
evitar que a pressão exercida force as partículas a passarem através dos
orifícios do cilindro perfurado c. eventualmente, os obstruam, sendo
então colocada no cilindro interno. Feito isto, desce-se o disco accio-
nando o volante da prensa, de modo que a pressão exercida sobre a
substância vá aumentando progressivamente e actue de modo uniforme
Fig. 16. Prensa de COLLAS sobre toda a superfície do corpo
a espremer, o qu al deve ser disposto na prensa em camadas
uniformes que ocupem todo o cilindro. A medida que a pressão vai actuando, o líquido escorre para
o espado entre os dois cilindros e sai pelo bico da prensa, sendo recolhido n u m vaso colocado por
baixo deste.
Quando se verifique que não há mais aumento de pressão por accionamento da alavanca como
atrás se descreve, esta é retirada da posição inicial A, colocada conforme se vê na Fig. 18 e
novamente accionada para trás e para diante, conseguindo-se, deste modo, um apreciável aumcnlo
da força aplicada sobre o material. Acabada a operação, querendo subir o parafuso para poder
retirar o produto espremido e colocar outra carga
na prensa, removem-se as peças de aço terminadas em forma
de cunha (B) que se projectam sobre a superfície do anel que
rodeia o parafuso A, rodam-se e tornam-se a colocar nos
respectivos orifícios, Como as cunhas terminais destas peças
ficam, agora, colocadas ao contrário, quando se puxa a alavanca
na direcção do operador o anel funciona como roda livre, mas ao
fazer-se o movimento oposto o parafuso anda para cima e,
portanto, a pressão diminui.
Qualquer que seja o lipo de prensa de parafuso
considerado, há certos pormenores de construção a respeitar paru
que o aparelho funcione eficientemente. Assim, é de mencionar que
a rosca do parafuso deve apresentar as superfícies das espirais
Fig. 18. Prensa superior e inferior paralelas e não convergentes e terminando em
diferencial de dupla ponta aguçada, como acontece nos parafusos vulgares. Além
acção
disso, o bloco da prensa não deve estar ligado à extremidade do parafuso, para que aquela se
mantenha imóvel quanto este é accionado, e as partes interiores do aparelho serão estanhadas ou de
aço inoxidável para evitar reacções com os taninos e ácidos porventura existentes no material a
espremer. É necessário, ainda, que o parafuso exerça a pressão bem no centro do disco terminal, a
f i m de se evitar que o aparelho sofra avarias.
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As prensas deste tipo apenas são usadas em instalações à escala industrial, podendo espremer uma
grande quantidade de material com a maior eficiência c um dispêndio mínimo de trabalho,
baseando-se o seu funcionamento na perteita elasticidade dos líquidos, expressa pelo conhecido
princípio de Pascal.
Nestas circunstâncias, quando dois cilindros A e B, contendo um fluido qualquer ('), estão ligados
por um tubo (Fig. 19). toda a pressão exercida sobre a superfície do líquido em A é transmitida
integralmente e em todas as direcções ao líquido encerrado no (ubo de ligação e, desle, ao líquido
no cilindro 6. Se os dois cilindros tiverem a mesma secção, é evidente que a (orça ou pressão
aplicada em A será a mesma que se transmitirá a B: admitamos, porém, que o cilindro B icm uma
área da base t O vezes superior à de A. Sendo a
pressão, como se sabe, a força exercida por
unidade de superfície, fácil se torna concluir que a
torça que se exerce em A se toma, efectivamente,
10 ve/es superior em fl.
O mecanismo que opera estas prensas esiá
representado na Fig. 19. Fa/endo subir o pistão
em A por acção da respectiva alavanca, o óleo é
aspirado do reservatório f através da válvula
C. que impede, depois, que o
óleo volte para trás. O abaixamento do pistão
força o óleo a passar para o cilindro fi, sendo
impossível o seu retrocesso mercê da válvula D.
Operando a alavanca, o óleo é continuamente
Fig. 19. Diagrama de uma prensa hidráulica
bombeado para B, o que obriga o pislào H a
subir, comprimindo o material colocado na
plataforma G contra o anteparo /. Terminada a operação, diminui--se a pressão na prensa
abrindo-se uma torneira, o que faz com que o óleo abandone o cilindro B e retome para o
reservatório /' e, como consequência disto, o pistão H descerá ate atingir o seu curso mais baixo.
No mercado encontram-se vários modelos destas prensas, usadas, principalmente, na
preparação industrial de óleos obtidos por expressão de frutos ou sementes. Uns e outros são
previamente esmagados em moinhos de rnós ou rolos, colocando-se, então, a massa assim obtida em
seiras de cairo, as quais são, depois, empilhadas na prensa e convenientemente espremidas.
Dadas as suas dimensões e capacidade, estes tipos de prensas raramente são utilizados para
espremer os marcos resultantes das soluções extractivas farmacêuticas. No entanto, existe um moi>'o
de prensa para trabalho em pequena escala, próprio para espremer as drogas utilí/adas na
preparação de tinturas, o qual incorpora o princípio do parafuso e da prensa hidráulica.
Uma prensa deste tipo está representada na
r
Fig. 20. O material a espremc L colocado no c ili n
dro perfurado, fazendo-se descer o disco compressor
da extremidade do parafuso accionando o volante. A
pressão adicional necessária para a expressão com
pleta do marco é aplicada movendo as alavancas
situadas à direita, que, por sua vez, fazem girar outro
parafuso, o qual aplica uma pressão ao líquido encer
rado no pequeno e estreito cilindro inferior, em cujo
interior existe um pistão. Como o cilindro perfurado
ende se colocou a droga nasce na extremidade supe
rior do pistão, este, ao subir, comprime a substância
centra o disco ligado ao parafuso e, assim, se realiza Fjg_ 20 Prensa para {inturas accío_
uma expressão bastante eficiente. nada por parafuso e pressão hidráulica
Na expressão mecânica de qualquer substância devem respeitar-se certas condições para que a
operação se realize com o máximo rendimento e os líquidos espremidos não sejam alterados. São os
seguintes os principais factores a que se deve atender ao praticar uma expressão:
1) E necessário que o material de que é fabricada a prensa .seja compatível com a substância a
espremer. Deste modo, deve ter-se em consideração que o ferro reage com os taninos existentes em
muitos vegetais, e nesse caso impõe-se a utilização de prensas estanhadas ('} ou esmaltadas. No
caso da preparação de sucos acentuadamente ácidos recomenda-se empregar prensas de aço
inoxidável.
2) O material herbáceo deve ser submetido a uma contusão prévia, a fim de se fenderem as
respectivas paredes celulares, o que facilita a expressão. Feito isto, pode ser colocado directamente
na prensa, não necessitando ser envolvido em tela.
3) Toda a substância a espremer que esteja reduzida a pó deve ser envolvida num tecid»
resistente e só então colocada na prensa, procurando-se, com isto, evitar a obstrução dos orifícios
do cilindro interno do aparelho pêlos fragmentos do produto sujeito à operação.
4) A substância deve ser colocada na prensa de modo a formar uma camada un iforme,
isto é. lendo igual espessura em toda a superfície do cilindro.
5) A pressão deve ser aplicada lenia e progressivamente, de modo a evita r que o
tecido envolvente do material a espremer se rompa.
6) A pressão deve ser uniforme e intermitente, só se aplicando nova força depois de ter
cessado o escoamento do liquido libertado pela pressão anterior.
7) Ao atingir-se o limite da pressão dada pelo aparelho, deve deixar-se este em
repouso durante algum tempo, mas manlcndo-se a pressão, para se oblcr o máximo de
rendimento cm líquido.
8) Tratando-se de materiais que originem sucos viscosos, deve misturar-se-lhes uma
substância sólida, como pulha cortada e lavada ou casca de arroz, o que facilita o
escoamento dos sucos com tais caracteríslicas.
9) Quando a substância que se prelende obler por expressão é sólida ã temperatura
ambiente no local onde se pratica a operação, é necessário u t i l i / a r prensas com pralos e
disco compressor convenientemente aquecidos, para que ela funda e possa escorrer
livremente.
4.2.3. CENTRIFUGAÇÃO
É um» operação destinada a separar sólidos de líquidos ou líquidos não mi.scíveis.
Efectua-se utilizando aparelhos especiais — as centrífugas — que fazem a separação,
por meio de força centrífuga, de duas ou mais substâncias de densidades diferentes,
devendo uma delas ser. necessariamente, um líquido.
A centrifugação pode ser praticada com u fim de se isolar um sólido em suspensão
num líquido, operação correntemente praticada nos laboratórios de análises bioquímicas
para se conseguir, por exemplo, um sedimento de urina. Outras vezes execu Ia-se para se
obter um líquido límpido, quando a filtração através de papel ou de outra membrana
porosa não é aplicável, devido ao facto de o sólido a separar, por ser de natureza
gotnosa ou gelatinosa, obstruir os poros da superfície filtrante. A cenirifugacáo útil i/a-se,
ainda, para desfazer emulsões tantas vezes formadas durante os processos de extracção.
obter-se com elas maiores velocidades do que com as do modelo anterior, resultando
daí urna melhor sedimentação. Além disso, cm vê/ de as partículas atravessarem iodo
o comprimento do tubo para sedimentarem, como acontece com y s cent rífugas de
cabeça vertical, deslocam-se neste caso segundo um ângulo de 45-5(1", chovam contra
as paredes do tubo e descem para o fundo, como
Super,ic'.e
u\/re se mostra na Fig. 23. Uma vê/ que o trajecto
rotaçã através do líquido é menor c a resistência ao
Camr.ho
seguido atrito das partículas sobre as paredes do tubo é.
pela geralmente, pequena, a sedimentação torna-se
mais fácil e rápida. É este. aliás, o mol ho por
Ui.pert.ci que alguns sólidos lïoculentos e tin;unente
e livre ern
repouso divididos, dificilmente sedimentáveis numa
centrífuga de cabeça vertical. depositam sem
dificuldade quando submetidos à
Seaim.ertj ern ângulo
centrifugação n u m rotor angular. Hste tipo de aparelho nào
Fig. 23. Sedimentação numa serve, contudo, para a medição volumétrica dos
centrífuga de cabeça sedimentos, pois estes. c'imo a |-ig. 13
cónica mostra, depositam-se formando uni ângulo com o eivo do
lubo.
O terceiro tipo c representado pelas centrífugas de cesto (Fig. 2 4 ) . usadas, sobretudo, para
separar os c ristai s das respectivas águas-màes, servindo ainda para os secar.
O cesto é constituído por um recipiente cilíndrico,
geralmente perfurado, que roda dentro de uma câmara
onde se j u n t a o líquido separado, que é depois retirado
para o exterior através cio tubo lateral que se s i t u a , no
caso da Fig. 25. na parte direita do aparelho.
A fim de se reter o sólido no interior do cesto,
este deve ser previamente forrado com papel dç filtro.
rede de arame de malhas muito apertadas ou qualquer
outro material adequado. Fstas centrífugas, no entanto,
só trabalham bem com sedimentos cristalinos cujas
partículas tenham dimensões ra/.oáveis.
Na realidade, se o produto a sedimentar c de
nature/a gelatinosa, depressa obstruirá os poros do
material filtrante q u e t e n h a sido utilizado para forrar o
cesto, de modo que a filtração, a partir de cerlo Fig. 24. Centrífuga de césio
momento, é retardada ou cessa por completo.
Em casos destes deve usar-se um césio sem orifícios, como o da Fig. 25. A
suspensão a ee n t ri f ug a r é introduzida lenta mas continuamente pela parte i n t e r i o r do
cesto, deslocando-se as partículas sólidas para a perif eria , onde se depositam sobre as
55
paredes, fluindo o líquido límpido pela parte superior para a câmara de drenagem. Quando a
camada do sedimento depositado sobre as paredes do césio atinge proporções consideráveis, o
liquido começa a sair turvo e, nessa altura, é necessário interromper a centrifugação e proceder à
limpeza do aparelho.
Por vezes, utilizam-se centrífugas especiais. Assim, emprega-se uma centrífuga aquecida
para clarificar líquidos viscosos ou quando a substância que se pretende separar tem um
ponto de fusão superior à temperatura ambiente, como acontece com a gordura do leile, cuja
dosagem se faz centrifu-gando a quente aquele Saída do líquido
produto, depois de tratado com ácido sulfúrico.
Existem também centrífugas Sedimento
refrigeradas que se utilizam para centrifugar
produtos biológicos, operando-se a temperaturas
capazes de inibirem as acções enzimáticas susceptíveis
de alterarem os referidos produtos. Estes aparelhos
servem, ainda, para separar substâncias que apenas
se mantêm sólidas a baixas lemperaturas ou para obter
os produtos formados numa cristalização fraccionada a
diferentes temperaturas, como, por exemplo, no Fifl. 25. Sedimentação numa centrífuga de
caso das proteínas do soro sanguíneo. O cesto não perfurado
processo de arrefecimento mais vulgarmente
usado nestas máquinas é um sistema de compressão e
expansão, estando a serpentina de evaporação
colocada no interior do aparelho.
A Fig. 26 representa o diagrama de uma supercentrífuga SHARPLES, tipo centrífuga contínua,
que serve para separar sólidos de líquidos e desfazer emulsões. Esta centrífuga, ao contrário do que
é usual, é movida por um motor colocado na parte superior, verificando-se a separação na parte
móvel, espécie de panela, que eslá suspensa do eixo ligado ao motor. O material a centrifugar entra
pela parte inferior do aparelho e emerge da parte superior deste. Durante o trajecto ao longo da
câmara de separação o material é submetido a uma força centrífuga relativa da ordem de 62 000 G,
de modo que, ao atingir a saída, deu-se a sedimentação das partículas que estavam em suspensão.
As ultracentrífugas constituem um outro tipo de centrífuga especial que se caracteriza pelas
altas velocidades que é capaz de desenvolver. De facto, tais máquinas, que em geral estào equipadas
com um rotor relativamente pequeno, podem
56
atingir mais de 100000 r.p.in, c exercem forças da ordem de l milhão de G. São, por isso, usadas na
investigação de colóides e para determinar o tamanho das partículas e o peso molecular de certos
compostos, como as proteínas e ácidos
nuclcicos, por observação directa ou indirecta do ritmo de separação
das partículas em solução ou em suspensão.
i ir; £s=>i
Motor —
i
i
j
j
j
S
i
.
ü
.
^
4.2.3.2. Cálculo da força centrífuga desenvolvida por uma
centrifugadora
F = R @2 (1)
57
aio de rotação
25 g
——— ____
a = 2 ° 3'
Vector = 25,02 g
Muitas vezes usa-se uma oulra grandeza chamada força centrífuga relativa (F. C. R.), a qual se
define como o número de gravidade G que aclua sobre uma massa girando à volla de um eixo num
determinado raio e velocidade. A força centrífuga relativa pode ser calculada a partir da equação
(2), desde que se tome para valor de M a unidade. Assim lemos que:
F. C. R. = 0,00001117 r N2 (3)
superfície livre do líquido contido no tubo ou a que vai desde o referido eixo ao fundo do
mesmo. Deste modo, sabendo-se que a suspensão em causa sedimenta a uma velocidade tal
que origina uma força centrífuga relativa de 491 G à superfície livre do líquido ou de 894
G no fundo do tubo, qualquer outro operador pode conseguir o mesmo desde que meça as
distâncias indicadas na Fig. 28, bastando, depois, calcular a velocidade que se deve
imprimir à centrífuga para atingir os valores de F. C. R. indicados.
No fundo do tubo
F. C. R. = 0.0001117 X 20 X [2.000)* = 894 G
A superfície livra do liquido
F.C. R. = 0,0001117 X 11 X (2.000)2 = 491 G
Por vezes acontece que os tubos utilizados numa centrifugação rebentam. Este
fenómeno é devido à pressão que o líquido exerce sobre qualquer ponto das paredes do
recipiente que o contém. Em repouso, esta pressão, designada por pressão hidrostática, é
numericamente igual ao produto da densidade do líquido pela altura da camada líquida
medida desde a sua superfície livre até ao ponto considerado (?=hxd), e o seu valor não
justifica, por si só, o estilhaçamento dos tubos de vidro tantas vezes usados no decurso de
uma centrifugação. No caso. porém, de o líquido girar a altas velocidades, a pressão
exercida em qualquer ponto do tubo estará grandemente aumentada devido à forca
centrífuga desenvolvida pela máquina e deve ser designada, mais propriamente, por
pressão centrífuga (P. C.).
A pressão centrífuga é igual à pressão hidrostática multiplicada pela força centrífuga
relativa (3), tomando-se para o seu cálculo, neste caso, como valor de r a distância que vai
desde o centro de rotação até metade da altura do líquido nos tubos de centrifugação. Um
exemplo numérico ajudar-nos-á a fazer uma ideia da magnitude que a pressão centrífuga
pode atingir.
59
Suponhamos que num tubo de centrifugação se colocava uma urina de densidade 1,015, de
modo a atingir a altura de 6 cm. Nestas circunstâncias, a pressão hidrostática exercida pelo líquido
em causa sobre o fundo do tubo seria:
P = h x d = 6 x 1,015-6,09 g. cnr2
Ao pretendermos centrifugar esta urina, o tubo em questão foi colocado numa centrífuga em
que a distância do eixo de rotação ao fundo do tubo era de 12 cm e a que se imprimiu uma
velocidade de 3000 r.p.m. Como nas condições operatórias a distância do eixo de rotação ao centro
da coluna de líquido, C, c igual a 9 cm, a F. C. R. desenvolvida, calculada pela equação (3), será:
não devendo causar estranheza, portanto, que um tubo de vidro possa rebentar durante a operação,
dada a força que se exerce sobre o seu fundo.
É evidente que se podem utilizar tubos feitos de material mais resistente que o vidro,
fabricando-se tubos metálicos e de plástico para serem empregados nas centrifugações. No entanto,
é relativamente fácil contrabalançar a pressão exercida no interior de um tubo de centrifugação e
evitar, deste modo, o seu estilhaçamento. Para isso, basta encher o espaço entre o tubo de vidro e o
suporte metálico com um líquido apropriado, o qual exercerá então uma pressão centrífuga dirigida
do exterior para o interior do tubo, capaz de anular em parte a pressão interna.
Retomando o exemplo da Fig. 29, admitamos que colocávamos água dentro do suporte
metálico, de modo a obtermos uma camada com a altura de 5,5 cm. Nestas condições, a pressão
hidrostática exercida por esta sobre o fundo do tubo de vidro era
Deste modo, a pressão centrífuga exercida pela água sobre o fundo de vidro será
Dado que a pressão centrífuga no interior do tubo de vidro é. como vimos, de 5511 g. c m -
e existe agora uma outra, exercida de tora para dentro, de 5115 g. cm"2, o vidro fica apenas sujeito
a uma pressão de 3% g. cm 2, por ele perfeitamente suportada.
- ———————— 6 crn ———
————
1 2 cm
í ï —————— c ——————
, t
Superfície livre do
liquido Tubo de
t
-• ——————— 5.5 cm —— X K \ \ i
——— .
Suporte metálico
No exemplo dado o líquido usado para encher o espaço entre o suporte e o tubo foi a água,
mas em alguns casos terá que usar-se um líquido mais denso, como a glicerina ou o elilenoglicoi.
É evidente que a escolha do fluido a u l i l i / a r nesta espécie de almofadagem dos tubos de
centrifugação dependerá" da densidade do produto a centrifugar, pois quanto maior ela for, mais
elevada terá que ser lambem a densidade do líquido exterior para que a pressão .seja reduzida a um
valor compatível com a resistência do tubo. Aliás, é mesmo possível conseguir-se que as pressões no
interior e no exterior do tubo sejam perfeitamente iguais e, neste caso, aquele flutuará dentro do
suporte metálico, o que representa a condição ideal para se reali/ar uma centrifugação.
cem o seu eixo e marca na escala o número de revoluções por minuto a que ela gira.
Noutros modelos o indicador de velocidade é um tubo de vidro, cheio, ate certa altura, de
líquido, tendo gravados traços sobre os quais estão inscritos vários números. Quando a centrífuga
está parada, a superfície livre do líquido corresponde ao zero da escala e dispòe-se
horizontalmente, mas logo que a máquina entre em movimento o líquido toma a forma de um para-
bolóide de revolução cujo vértice desce à medida que a velocidade aumenta. A
posição do vértice sobre a escala gravada nos tubos indicará, deste modo, o
número de rotações que a centrífuga está dando em determinado momento.
Estes indicadores baseiam-se, portanto, na altura que a parábola descrita
pelo líquido encerrado dentro do tubo de vidro atinge estando este em
movimento, conforme está indicado na Fig. 30. Suponhamos, então, que temos
um recipiente cilíndrico, cheio de líquido até certa altura, c rodando à Fig. 30. Indicador de
volta de um eixo cenlral com velocidade uniforme. Nestas condições, a velo-cidadde de unia
superfície livre do líquido, que em repouso c horizontal, toma a forma de centrífuga
um parabolóide de revolução cuja altura pode ser calculada pela relação
h= (4)
2g
E de notar que a altura, hr da parábola acima da superfície livre do líquido cm repouso, é igual
a hr que representa a distância desse mesmo ponto ao vértice da parábola. Portanto,
l h^h^ —
h (6)
* 2
cador de velocidade deste tipo basta conhecer-se o raio do tubo para calcularmos a
velocidade linear à periferia e, a partir desse valor, a altura da parábola. Imaginemos que se
pretendia marcar um tubo com 0,6 cm de diâmetro para indicar velocidades compreendidas
entre 500 e 3000 revoluções por minuto. O zero da escala corresponde, como já se disse, á
superfície livre do líquido em repouso; para obter a marca correspondente a 500 r. p. m.
calcula-sc, em primeiro lugar, a velocidade linear periférica correspondente a esta rotação
pela fórmula (6):
(15 J)2
h = ————— = 0,125 cm 2x980
mas como o vértice apenas cai abaixo da superfície livre em repouso metade d*i altura total da
parábola, isto é, h2 (Fig. 30), a distância a que ele baixa quando o cilindro gire a 500 r.p.m. será,
evidentemente, igual a 0,625 mm. Deste modo, marcar-se-á no tubo de vidro um traço distante
0,625 mm da superfície livre do líquido em repouso, o qual indicará 500 r.p.m., Procedendo a
cálculos idênticos, verificar-se-á que a distância de 2,52 mm corresponde a 1000 r.p.m., 5,7 mm a
1500 r.p.m., 10,1 mm a 2000 r.p.m., 15,7 mm a 2500 r.p.m. e 22,7 mm a 3000 r.p.m.
tubos nus suportes metálicos, é conveniente encher com água ou outro líquido apropriado o
espaço entre o suporte e a parede do tubo. sempre que a c ent rifuga ção se faça a 2000 r. /j. m. ou
mais. para contrabalançar a pressão c e nt r íf u g a sobre o interior dos tubos.
Utilizando tuhos de capacidade superior a 5U ml é necessário usar um processo mais
rigoroso para avaliar a quantidade de suspensão a verter em cada par de tuhos. Em geral,
tratando-se de centrífugas de cabeça vertical, aconselha-se colocar «s tubos, encaixados nos
respectivos suportes, nos pratos de uma balança, vertendo em cada um a suspensão, até se obter
igualdade de peso dos dois conjuntos. Outras ve/cs co locam--se apenas os tubos de vidro dentro
de dois copos dispostos nos pratos de uma balança, que se equilibra, procedendo-se, então, como
no caso anterior.
Alem disso, trabalhando com tubos desta capacidade, c sempre recomendável proceder à sua
almofadagem com água ou outro líquido, independentemente da velocidade que se imprime à
centrífuga.
Uma vez colocados os tubos na centrífuga, esta é fechada, iniciando-se. assim, a operação
propriamente dita. Para isso, liga-se, em primeiro lugar, a máquina à corrente eléctrica, devendo
u reóstato que comanda a velocidade do rotor estar na posição correspondente ao zero. A
velocidade da centrífuga deve ser aumentada, depois, gradualmente, até atingir o valor
pretendido, sendo necessário, porém, nunca ultrapassar o limite marcado pelo fabricante do
aparelho, sob risco de se provocar a quebra de qualquer peça metálica e originar acidentes
graves se uma delas for lançada para fora da máquina, dada a considerável força com que
actuaria sobre qualquer obstáculo com que colidisse.
Temi i nada a centrifugação é necessário parar a centrífuga, diminuindo-se a velocidade mmVo
iggfmj.sf/mnífr, para evitar que o líquido redemoinhe dentro dos tubos e levante o sedimento formado
durante a centrifugação. Este pormenor deve ser sempre respeitado se se quiser obter um líquido
perfeitamente límpido, mas deve ser especialmente observado sempre que o sedimento não fique
bem comprimido contra o l und o do tubo, o que acontece quando é de natureza flocosa ou
constituído por partículas muito leves que têm tendência para se disseminar no líquido ao
menor movimento.
Os pormenores que acabámos de descrever d i/e m respeito apenas às centrífugas de c<j/M%Yf
wf/et// e (/«x"/^'' pois as rcv;?;Vyif,(^ f/r rrsffj são operadas de modo diferente. No caso do cesto ser
perfurado, é necessário forrá-lo, previamente, com um material filtrante apropriado, após o que se
põe a centrífuga a girar a pequena velocidade. Lança-se, então, na máquina em movimento um
pouco da suspensão a cent ri lugar, para que o elemento filtrante adira perfeitamente às paredes
do cesto, após o que se aumenta a velocidade da centrífuga. A partir deste momento vá i-se
introdu/mdo a suspensão a pouco c pouco, de acordo com o ritmo a que se faz a drenagem do
líquido para o exterior, ficando o sólido retido sobre o filtro que forra o cesto. Terminada a
operação, a centrífuga é desligada c deixada parar por si, altura em que é aberta e retirado o
sólido depositado.
64
Generalidades
A filtração é a separação das partículas sólidas em suspensão num líquido por efeito de uma
pressão sobre uma superfície porosa, ficando o sólido retido e passando o líquido através das
aberturas do septo filtrante.
Toda a substância capaz de fazer a referida separação é denominada filtro, o qual, para actuar
convenientemente, deve ser montado numa base ou suporte.
Para que se possa executar uma filtração são necessárias várias condições. Como é lógico,
terá que haver um septo filtrante e será preciso que durante a operação exista uma diferença de
pressão nos dois lados do mesmo; além disso, há que fornecer a suspensão a filtrar à parte onde a
pressão é mais elevada e que remover o líquido do lado do septo onde a pressão é mais baixa. Os
sólidos retidos pelo seplo filtrante constituem o resíduo, ao passo que o líquido que o atravessa
representa o filtrado.
A filtração é uma operação da maior importância, quer do ponto de vista laboratorial, quer
industrial, e pratica-se com dois objectivos distintos: para isolar e aproveitar os sólidos em
suspensão num líquido ou para obter filtrados límpidos e altamente clarificados.
Estão incluídos no primeiro caso o isolamento de precipitados e de cristais formados no
decurso de uma cristalização, a remoção de líquidos aderentes a sólidos, a obtenção de precipitados
com fins analíticos, etc., etc.
O segundo objectivo da filtração é aquele que mais interessa à Técnica Farmacêutica, pois
numerosas substâncias medicamentosas são administradas sob a forma de solução, a qual deve
apresentar-se sempre convenientemente límpida e transparente.
A natureza dos produtos sujeitos à filtração varia enormemente e dela está dependente a sua
filtrabïiidade', ou seja, a maior ou menor facilidade com que podem ser filtrados. Assim, alguns
líquidos são particularmente difíceis de filtrar, constituindo um verdadeiro problema a sua
clarificação, ao passo que certas soluções viscosas podem originar filtrados límpidos mas a um
ritmo tão lento que a operação se torna extremamente morosa.
Outra classe de produtos de difícil filtração é representada pelas suspensões coloi-dais, como
os soles de ouro, sulfuretos de arsénio, etc., que só podem ser clarificados por ultrafíltração,
utilizando membranas especiais. Por outro lado, existe uma grande variedade de substâncias,
caracterizadas por apresentarem uma estrutura cristalina ou granular, as quais, geralmente, são
filtráveis sem qualquer dificuldade.
são, do grau de hidratação e, ainda, da viscosidade do líquido, a qual constitui, sem dúvida, o factor
que mais influencia a velocidade de filtração. Há, portanto, a maior vantagem em estabelecer uma
relação entre a filtrabilidade e as características das partículas sólidas em suspensão, pois deste modo
toma-se possível estabelecer o comportamento provável de qualquer produto durante uma filtração.
Para que tal relação possa ser tentada é necessário, porém, dispor-sc de uma classificação de
partículas para efeitos de filtração. Em geral, estas classificações são meramente empíricas e uma
das que se pode considerar como adaptável ao fim em vista é a que classifica os produtos sujeitos à
filtração segundo a estrutura física das partículas que os constituem, lendo em vista, especialmente, a
sua deformação sob pressão. Atendendo a este critério, agrupam-se as partículas sólidas cm três
tipos distintos: rígidas, semicompressíveis e compressíveis.
Apesar de se afirmar que as partículas finamente divididas, quando suspensas e molhadas por
um líquido, podem sofrer uma certa compressão, a verdade é que as partículas cristalinas e
granuladas são tão pouco sujeitas a deformações nas condições em que se realiza a maioria dos
processos de filtração que podem ser consideradas essencialmente rígidas. Deste modo, tais
partículas originam sobre o filtro uma camada filtrante dotada de elevada porosidade e
permeabilidade, sendo de esperar que não venham a entupir os septos filtrantes, dada a pouca
tendência que apresentam para serem forçadas a penetrar nos orifícios
daqueles. Na realidade, conforme a fig. 31 mostra, as partículas rígidas, por
não se deformarem devido à pressão sobre elas exercida pelo líquido onde
estão suspensas, originam cana-Hculos bem delimitados, através dos quais o
líquido pode f lu ir livremente até atingir a superfície filtrante, o que confere
à filtração nestas condições uma apreciável velocidade.
Já o mesmo não acontece, porém, corn as partículas com-pressíveis, que Fig. 31. Diagrama
mostrando a
sofrem apreciável deformação quando sujeitas a uma pressão. Em resultado formação de
disso, têm tendência para se encostarem umas às outras e, portanto, os canalículos na filtra-
interstícios da camada filtrante apresentam-se muito mais estreitos c menos ção de partículas
perfeitamente delimitados. Acresce, ainda, que certas partículas compressíveis podem achatar contra
a superfície filtrante, formando uma película que dificulta a passagem do líquido através dos
respectivos poros ou penetram neles, acabando por obstruí-los, o que toma a filtração dificilmente
realizável. Estão neste caso a maioria das substâncias coloidais e altamente hidratadas, bem como
os precipitados gelatinosos, de natureza gomosa, gordurosa e todos os produtos amorfos, em geral.
Por isso, a filtração de suspensões contendo partículas cujas características correspondem às que
acabamos de apontar é sempre morosa, por vezes difícil, havendo necessidade de recorrer em muitos
casos a técnicas especiais.
66
Uma vez que os materiais a filtrar são os mais diversos e os objectivos da filtração também
variam, o aspecto teórico da filtração está longe de ter sido solucionado, pois até à data ainda não
surgiu uma teoria que abarcasse a questão nos seus múltiplos aspectos.
Em vista disso, e até porque nos parece que o assunto estaria deslocado aqui, pensamos não
ser aconselhável tratar, desenvolvidamente, os aspectos matemáticos das diversas teorias que têm
sido formuladas a respeito da filtração. Somos, porém, compelidos a fazer-lhes uma breve
referência, pois só assim se poderão compreender racionalmente os princípios básicos que regem
esta operação. Antes de mais, contudo, fixemos a nossa atenção na série de fenómenos que se
desenrolam na filtração.
Em geral, os produtos a filtrar são constituídos quase sempre por partículas sólidas de
diferentes formas e tamanhos, se não mesmo pertencentes a diferentes tipos, suspensas num líquido.
Quando se verte uma suspensão destas num filtro, o sistema sólido-
-líquido entra em contacto com aquele e, como há diferença de pressão nos dois lados do septo
filtrante, o líquido passa através dele, ficando retidas as partículas maiores. Acontece, porém, que o
líquido arrasta, usualmente, consigo algumas partículas suspensas, podendo suceder que as de
menores dimensões acabem por atravessar o filtro e que outras fiquem retidas, mecanicamente,
dentro dos poros daquele, com a consequente diminuição das respectivas aberturas. Por outro lado,
as partículas maiores, depositadas à superfície do septo filtrante, formam uma estrutura sobre as
aberturas dos poros, reduzindo as suas dimensões, sem, no entanto, os obstruírem completamente.
Deste modo, vai-se formando o verdadeiro septo filtrante, constituído por duas partes distintas
mas profundamente interligadas: o filtro e as partículas suspensas que ficam retidas e que se vão
depositando sob a forma de uma camada à superfície daquele. Pode dizer-se, então, que a filtração
está em pleno funcionamento, tornando-
-se o líquido que atravessa a camada filtrante progressivamente mais límpido e livre de partículas
sólidas. O líquido é, assim, obrigado a caminhar ao longo dos interstícios deixados entre si pelas
partículas sólidas da referida camada, até atingir o filtro propriamente dito, que constitui o último
obstáculo a vencer, para poder fluir livremente para o exterior.
Mas, como é natural, o deslocamento do líquido através dessa rede de finos canalículos faz-se
perante uma resistência que lhe é oposta pelo próprio filtro e pelas partículas que constituem a
camada filtrante. A resistência devida ao filtro não varia de modo significativo durante a filtração é
manifesta-se como consequência da sua espessura e porosidade. Já o mesmo não acontece com a
resistência oposta pela camada de partículas depositadas sobre o filtro, a qual, longe de ser
constante, aumenta, em geral, de modo contínuo durante a operação. Tal resistência depende do
aumento da espessura da camada filtrante e das características físicas das partículas que a
compõem, pois, conforme se trata de partículas rígidas, semicompressíveis ou compressíveis, assim a
67
velocidade da filtração se torna cada vê/ mais lenta, sendo, então, necessário aumentar a pressão se
quisermos manter o ritmo de escoamento.
Resumindo, poae JÍ7er-se que o escoamento do líquido através de uma camada filtrante é
comandado por duas forcas antagónicas, sendo favorecido por uma delas, ou seja, a pressão
diferencial, ao passo que é dificultado pela outra, representada pela resistência oferecida pêlos
elementos da unidade filtrante, considerada como constituída pelo filtro e pela camada sólida «^bre
ele depositada.
Estes dois factores são d_ tal importância que figuram sempre nas fórmulas que têm sido
propostas para traduzir, matematicamente, o fenómeno da filtração. Assim, no caso da camada
filtrante ser constituída por partículas rígidas, admite-se que os respectivos interstícios
correspondem a uma multiplicidade de tubos capilares e, nestas condições, a velocidade do fluxo do
líquido através deles pode ser expressa pela forma que representa a lei de POISEUILLE:
V = pnrt/8 Kl ( 1 )
De acordo com esta fórmula, verifica-se que, mantendo-se constantes os outros elementos, a
velocidade de filtração é directamente proporcional à diferença de pressão nos dois lados do filtro e
inversamente proporcional à espessura deste. Acontece, porém, que a equação (2) pressupõe que o
comprimento dos capilares é o mesmo em toda a espessura da camada filtrante, o que está longe de
se verificar, além de que os valeres de N e r não são, em regra, conhecidos e raramente podem ser
determinados, Deste modo, e apesar de a expressão de POISEUILLE ter servido como ponto de partida
para o tratamento matemático da filtração, tornou-se inadequada na prática, sobretudo nos casos
em que os sólidos que formam a camada filtrante são constituídos por partículas heterogéneas e
compressíveis. Os desvios geralmente observados em relação à lei de POISEUILLE são devidos à
resistência e ao seu carácter variável, e esta, como já se disse, é exercida principalmente pelo filtro e
pêlos sólidos sobre ele depositados.
A resistência oferecida pelo filtro é geralmente tomada, nas considerações matemáticas da
filtração, como o valor que atinge após iniciada esta, quando os interstícios do filtro estão
parcialmente obstruídos e se iniciou já a formação da camada filtrante. No entanto, mesmo a partir
deste momento tal resistência pode variar, pois depende de vários factores, como a pressão, a
natureza das partículas, etc. Por outro lado, a resis-
68
tência devida à camada filtrante varia com a respectiva espessura, mas é de notar que apenas no
caso de sólidos perfeitamente rígidos tal aumento é proporcional ao aumento da espessura.
Ora, uma das premissas sobre que se baseia a aplicação da lei de POISHUILLE à filtração é a de
a superfície filtrante ser constituída por partículas inteiramente inde-formáveis, mas tal condição
está longe de ser observada na prática. Na realidade, uma das causas que frequentemente modifica a
resistência oferecida pela camada filtrante no decurso de uma filtração é o rearranjo e disposição
das partículas muito finas entre os espaços deixados pelas partículas maiores, sob o efeito de uma
pressão prolongada, a qual origina, ainda, a deformação dos elementos compressíveis da camada,
tudo isto concorrendo para que a resistência vá aumentando.
Em consequência dos factos apontados surgiram outras teorias para a filtração. podendo citar-
se, entre elas, a de KOZENI, primitivamente estabelecida para as camadas porosas e aplicada, depois,
às camadas filtrantes. Como base desta teoria admite-se que a resistência oposta à passagem de um
líquido através de uma camada sólida é função da superfície com ele em contacto.
A teoria de KOZENI serviu de ponto de partida para o estabelecimento de várias equações
aplicáveis a problemas específicos da filtração. Uma dessas equações é a de KOZENI-CARMAN, que
pode ser expressa do seguinte modo ('):
\ ^ i r ^APgi
L KS2(l-e)2\ L n L J
V=
e em que
Esta fórmula, como, aliás, a de POISEUILLE, indica que o fluxo de líquido é directamente
proporcional à diferença de pressão através da camada e à respectiva área, c inversamente
proporcional à viscosidade do líquido, à espessura da camada e à super-
fície por unidade de volume da referida camada. Como se vê, nesla fórmula são introduzidas duas
novas grandezas, S e c, para caracterizarem a camada filtrante em vez do raio dos respectivos poros,
figurando, ainda, uma constante. K, cujo valor se situa entre 3 e 6. Na prática, a utilização desta
constante não definitiva permite um maior rigor
71
no cálculo dos resultados do que a constante introduzida por POSIEUILLC —,
o
que não varia com o sistema filtrante. °
E evidente que a fórmula de KOXLNI-CARMAN também está sujeita a várias limitações, pois, entre
outros factores, exige que a porosidade se mantenha constante, que as partículas tenham dimensões
muito semelhantes, que a diferença de pressão nas duas extremidades da camada seja elevada e que
os fenómenos de superfície sejam desprezáveis. Ora, estas exigências nem sempre são satisfeitas,
motivo por que tul fórmula na© conduz, invariavelmente, a resultados exactos, mas, apesar disso,
representa um elemento muito ú t i l para o estudo da filtração. Entre as limitações da sua
aplicação citamos a filtração por papel, em que é preferível utilizar a fórmula de POISHUÍLLK. ao
contrário do que sucede tratando-se de sistemas constituídos por leitos filtrantes de materiais muito
porosos.
Mais recentemente, urna outra teoria permitiu elaborar, a partir da lei de DAKCY, a equação
seguinte que relaciona os factores de que depende a velocidade de filtração, qualquer que seja o
scpto filtrante utilizado
S x AP x B
Q-——————°-
em que
, Q = débito da filtração
S = superfície út i l de filtração
AP = pressão diferencial
B(i = permeabilidade do meio filtrante
n = viscosidade do líquido
e = espessura da camada filtrante
quanto maiores elas forem maior será a velocidade média da filtração tomando-se, portanto,
evidente a conveniência de a camada filtrante ser constituída por grânulos o mais grossos possível.
Tratando-se de uma filtração de cristais, as dimensões destes podem, até certo ponto, ser
modificadas pelo operador, para o que basta intervir nas condições da cristalização, de modo a
favorecer a formação de cristais do tamanho adequado. Casos há, porém, em que é impossível
modificar as dimensões das partículas a filtrar, e, então, recorre-se a substâncias especiais,
denominadas adjuvantes de filtração, que se caracterizam por terem uma elevada porosidade e que
adicionadas ao sólido a filtrar aumentam a porosidade da camada formada por este.
A medida que a filtração se processa, a espessura da camada filtrante vai aumentando, do que
resulta uma diminuição do débido de filtrado. Esta diminuição do fluxo de líquido pode, aliás, ser
compensada aumentando a área da superfície filtrante e a pressão diferencial actuante sobre os dois
lados do septo filtrante. Deve ter-se em atenção, porém, que um aumento de pressão só beneficiará a
velocidade da filtração desde que não provoque uma diminuição da porosidade da camada,
significando isto que este último processo só facilitará o fluxo do líquido desde que o septo poroso
seja constituído, inteiramente, por partículas rígidas. Caso contrário, o aumento da pressão poderá
exercer um efeito oposto ao que se pretende obter.
Os materiais filtrantes, ou, como mais correntemente são designados, os filtros, podem ser
constituídos pelas mais variadas substâncias, que, no entanto, devem obedecer a certas condições.
Assim, as membranas filtrantes devem ser inertes, isto é, não devem reagir com o líquido a
filtrar nem dissolver-se nele, além de que deverão sofrer um mínimo de alterações de ordem física
por contacto com os líquidos, não devendo inchar, distorcer ou engelhar. Dada a multiplicidade de
produtos que podem ser sujeitos à filtração, deverá escolher-se o filtro mais adequado a cada caso
particular, mas tal escolha, em princípio, é norteada pela ideia de que a superfície filtranle a
empregar deverá deixar passar o máximo de líquido e reter, convenientemente, os sólidos em
suspensão. Passaremos, seguidamente, em revista alguns dos materiais filtrantes utilizados na
prática corrente.
4.2.4.3.1. Papel
O papel de filtro representa, sem dúvida, a superfície filtrante mais largamente utilizada em
todos os laboratórios químico-farmacêuticos. Usado na filtração desde há muito, o papel para fins
laboratoriais foi grandemente melhorado pelo célebre químico BFRZELIUS e a sua fabricação
continua a ser altamente especializada, a ela se dedicando apenas algumas firmas de reputação
internacional.
71
O papel de filtro é um papel não gomado e calandrado de modo especial, para que as fibras
permitam um escoamento rápido do líquido e aparece no mercado sob várias formas, as mais comuns
das quais são as variedades circular e folha quase quadrada. Mais importante do que a forma é a
textura do papel, que condiciona as suas propriedades filtrantes. A textura de um papel de filtro pode
ir desde o tipo mole até ao duro e extraduro, passando por vários graus intermédios de porosidade.
Os papéis duros podem apresentar vários aspectos, tais como lisos, rugosos ou com aparência de
crepe. Também a sua pureza varia bastante, podendo ser representada pelas seguintes qualidades:
crua, refinada, isenta de cinzas, de gordura, de amido, etc. Os papéis de filtro podem ser fabricados
com variadas espessuras, tendo os papéis mais grossos poros mais largos do que os papéis finos.
Na análise química, especialmente na análise gravimétrica, utilizam-se papéis de filtro
altamente purificados, os quais fornecem, por incineração, um peso de cinzas determinado e
conhecido, que é subtraído ao peso registado após a incineração dos precipitados. Na prática
laboratorial corrente, quando a filtração é praticada com o objectivo de se obter a clarificação de
líquidos, aconselha-se trabalhar com papéis do tipo correspondente à textura espessa, pois têm poros
mais abertos e permitem filtrações a ritmo mais acelerado. Os vários fabricantes usam uma
classificação própria para os seus papéis e cada utente deve familiarizar-se com ela, a fim de poder
escolher as qualidades que mais lhe possam interessar.
As polpas de papel ou de celulose podem ser empregadas na filtração por gravidade ou para
formarem camadas filtrantes na filtração por sucção. Tais produtos são ainda usados como
adjuvantes na filtração de produtos dificilmente filtráveis, adicionando-se aos líquidos sob agitação.
No comércio encontram-se vários produtos industrializados de polpa de papel, sob a forma de pó
ou de pastilhas, a qual também pode ser facilmente preparada no laboratório por desintegração de
papel de filtro. Para isso, basta humedecer com solução de hidróxido de sódio o papel cortado em
pequenos fragmentos e procurar, depois, desagregá-lo por trituração num almofariz, ou, melhor
ainda, num liquefactor provido de navalhas, colocando-se a polpa assim obtida num funil com
algodão e lavando-a com água até esta não acusar alcalinidade. Procede-se, depois, à secagem numa
estufa e conserva-se em frascos rolhados o produto assim obtido.
4.2.4.3.3. Tecidos
Tecidos feitos de variadíssimas fibras podem ser utilizados quer como suportes de superfícies
filtrantes, quer, propriamente, como filtros. Exceptuando, porém, o seu emprego na filtração de
xaropes, os tecidos raras vezes são usados na prática labora-
72
torial corrente, estando o seu uso quase exclusivamente reservado às técnicas de filtração em larga
escala.
Em princípio, qualquer tecido poderá ser empregue na filtração desde que seja compatível
com o líquido a filtrar, dependendo as suas características de filtração das fibras de que é feito, do
seu peso, trama, etc.
Geralmente, os tecidos de fibras naturais, como os de algodão, lã e juta, são mais apertados do
que os de fibras sintéticas ou de vidro, devido ao facto de aquelas apresentarem uma superfície
ondulada e coberta por filamentos extremamente finos. Apesar de se caracterizarem por uma alta
faculdade de retenção de partículas, os tecidos de fibras naturais incham frequentemente quando
humedecidos, facto este que se acentua com o seu uso repetido e os torna superfícies filtrantes
bastante morosas. Outro inconveniente apresentado por esta classe de tecido é o de engelharem
acentuadamente depois de molhados e secos.
Os materiais têxteis sintéticos, como o nylon e outros, apresentam nítidas vantagens sobre os
tecidos naturais no campo da filtração, pois não incham nem engelham depois de secos, além de que
suportam melhor o contacto com certos líquidos.
A Miliipore Filter Corporation prepara três tipos de filtros com base em nylon puro, designados,
respectivamente, por DURALON NC (14|i) ('), NS(7|4.) (') e NR(1(4.) ('), os quais se caracterizam por
serem quimicamente muito resistentes, não suportando, porém, temperaturas superiores a 75°C. A
mesma firma produz filtros de cloreto de polivinilo, denominados POLÏVIC BC (6\i) ('), os quais são
recomendados para a filtração de ácidos e bases concentrados, a temperaturas inferiores a 60"C,
Os tecidos de vidro são ainda mais resistentes, pois suportam temperaturas elevadas, podem
contactar com a grande maioria dos reagentes químicos, incluindo os ácidos concentrados. São,
porém, incompatíveis com os álcalis quentes e o acido fluorídrico, além de que o seu preço é elevado
em relação ao dos outros tecidos.
As fibras naturais, excepção feita para o algodão, pouco ou nenhum uso têm recebido no
campo da filtração. Nos laboratórios da oficina farmacêutica está, no entanto, muito generalizada a
prática de se filtrarem certas soluções através de uma pequena porção de algodão hidrófilo
adaptada a um funil. Este processo origina líquidos bem clarificados desde que o filtro seja
previamente lavado para se arrastarem as fibras soltas, mas só funcionará eficientemente com
soluções de fraca viscosidade, pois o algodão torna-se compacto uma vez molhado e por efeito da
pressão da camada líquida.
O algodão de vidro constitui um bom malerial de filtração, pois apresenta todas as qualidades
atrás assinaladas aos tecidos de igual fibra. Usa-se, geralmente, sob a forma de uma camada
aplicada a um funil e presta óptimos serviços na filtração de líquidos corrosivos, como os ácidos
concentrados, que atacam o papel e outros meios filtrantes.
(') Os números indicam os diâmetros médios dos poros dos vários tipos de filtros.
73
As fibras soltas de asbesto ou amianto também têm aplicação como meio filtrante. Assim é que
na análise química gravimétrica se utiliza nos cadinhos de GOOCH uma variedade de asbesto
designada por anfíbolo, o qual é um silicato de cálcio e magnésio bastante anidro. O amianto
destinado à filtração deve ser convenientemente escolhido e aquele destinado a ser utilizado nos
cadinhos de GOOCH deverá ser de alta pureza e constituído por fibras compridas e dotadas de certa
flexibilidade.
O amianto pode ser igualmente utilizado na filtração sob a forma de placas, pré ferindo-se,
neste caso, a variedade designada por crisótilo, a qual é um silicato de magnésio hidratado e menos
inerte que o anfíbolo, sendo dotada de certa capacidade adsorvente. Deve ter-se em conta que o teor
de ferro dos amiantos varia consideravel-mente com a sua origem, podendo, por vezes, originar
incompatibilidades com os líquidos filtrados.
Como o próprio nome sugere, estes materiais filtrantes distinguem-se dos anteriores p»r serem
dotados de rigidez, o que lhes permite apresentar forma definida e permanente. As superfícies
filtrantes rígidas distinguem-se por serem dotadas de elevada robustez, o que lhes confere grande
duração, e possuírem bom poder clarificador. A par destas qualidades de carácter positivo
apresentam algumas desvantagens, a maior das quais é a de serem, por vezes, de difícil limpeza.
Alguns produtos de natureza orgânica complexa obstruem estes filtros de tal modo que os inutilizam
rapidamente. Além disso, as superfícies filtrantes rígidas originam filtrações muito lentas e
caracterizam-se por terem um efeito adsorvente, o que se verifica, principalmente, com as unidades
de poros muito finos. Nestas condições, o filtrado terá uma composição no início e poderá
apresentar uma outra, completamentc diferente, algum tempo após o começo da operação.
Em geral, os meios filtrantes rígidos são constituídos por materiais porosos da mais variada
natureza, cuja porosidade e permeabilidade é extremamente variável, o que permite utilizá-los para
numerosos fins. Assim, podem ser feitos de alumina, carvão, metais, borracha e
produtos sintéticos, sílica, terra de diatomáceas, caulino, porcelana e vidro
poroso, apresentando-se sob a forma de cadinhos, placas, tubos e velas
filtrantes. Vejamos, detalhadamente, alguns destes elementos filtrantes, pois são de
grande interesse para a Técnica Farmacêutica.
4.2.4.3.5.1. Alumina
actua como uma espécie de cimento. Nos chamados filtros de Aloxite usam--se grãos cristalinos de
óxido de alumínio agregados por cerâmica. Estes filtros podem ser utilizados em substituição dos
cadinhos de GOOCH. servindo para a recolha de precipitados.
4.2.4.3.5.2. Carvão
O carvão sob a forma granular ou de grafite, misturado a certas substâncias ligan-tes, serve
para preparar septos filtrantes caracterizados por serem altamente refractários e resistentes aos
agentes químicos.
Estas superfícies rígidas podem ser constituídas por discos ou placas perfuradas, por
elementos em forma de cunha e ainda por placas resultantes da agregação de metais reduzidos a pó
de tenuidade adequada.
Os discos e placas perfuradas, de porosidade variável, são usados, principalmente, na
filtração sob altas pressões, podendo servir ainda como suporte a outros materiais filtrantes pouco
resistentes.
Os chamados metafiltros (Fig. 33) são constituídos por placas metálicas em forma de cunha,
dispostas umas sobre as outras e mantidas em posição por meio de um
suporte. As partes afiladas das cunhas dos diferentes elementos que formam o filtro estão orientadas
para o exterior, ficando as bases viradas para o interior. Como a Fig. 34 mostra, o espaço entre
duas placas consecutivas vai estreitando gradualmente de fora para dentro, até que na parte virada
para o centro do filtro é tão reduzida a distância que separa as placas que equivale a um verdadeiro
poro. Deste modo, a suspensão caminha ao longo das cunhas, ficando as partículas retidas pêlos
estrangula-
75
menío.s da parte interior, fluindo o líquido clarificado para a parte central do filtro. Estes filtros
trabalham melhor adicionando à suspensão a fillrar um adjuvante, como o carvão ou o kieselguhr
(terra de infusórios), que se acumula enlre as placas, constituindo, assim, uma camada filtrante
bastante eficiente, e podem ser operados por pressão ou por sucção. Nu Fig. 35 rcproduzem-se
modelos dcslcs fil tr os correspondentes às duas referidas modalidades.
[{justem no mercado filtros rígidos feitos de borracha dura, os quais podem ser ©btidos
perfurando, mecanicamente, lâminas de borracha, de modo a obterem-se poros muito estreitos ou
provocando a sua formação por um processo especial durante a transformação d° látex natural cm
folhas.
76
4.2.4.3.5.5. Sílica
Hoje em dia, os filtros de sílica mais usados são os de BERKFELD, fabricados com kieselguhr ou
terra de infusórios natural, produto constituído quase exclusivamente por sílica, SiOr Aquela
substância, depois de lavada e tamisada, é misturada com
amianto e outros ingredientes, obtendo-se uma
massa que é prensada de modo a originar cilindros
ocos e fechados apenas numa das extremidades. Após
secagem, os cilindros são aquecidos a 1200°C e
arrefecidos seguidamente. À exlremidade aberta
adapta-se, então, uma peça de metal ou de porcelana,
mantida fixa à custa de um cimento adequado, a qual
termina por uma espécie de gargalo por onde escoa o
líquido filtrado.
Estes filtros de BERKFELD sào fabricados em
diversos tamanhos (Fig. 36) e com porosidade
variável, podendo ser utilizados para filtração sob
pressão ou por sucção. Dadas as suas características,
estão especialmente indicados na filtração de produtos
Fig. 3b. Filtros de Berkfeld bacteriológicos, pois são capazes de reter vários
microrganismos. Designam-se por letras, conforme o
grau de porosidade que apresentam: N, M, W e WW, correspondendo as duas últimas categorias
aos filtros de poros mais apertados.
Diversos materiais de natureza argilosa têm sido utilizados na preparação de filtros rídigos,
entre os quais os mais conhecidos são os filtros ou velas de CHAMBERLAND. Estes elementos filtrantes
são semelhantes aos filtros de BERKFELD, com a diferença de que na sua constituição entram caulino e
quart/o aglutinados por aquecimento a temperaturas controladas. São usados, principalmente, na
filtração bacteriológica, sendo fabricados com várias porosidades, as quais dependem da finura dos
grãos dos materiais usados na sua preparação e, ainda, da temperatura a que foram submetidos.
São, igualmente, classificados por uma letra e um número: LI, L2, L3..., L7, L l l . As velas L7 e L l l
utilizam-se na filtração esterilizante.
77
reconhecimento de modo fácil e seguro e permita escolher o filtro mais recomendável ao fim em
vista.
Na Europa tal classificação assentava, essencialmente, na letra G, antecedida e seguida de
dois números, marcados de modo bem visível no funil. O algarismo que antecedia a letra estava
relacionado com a capacidade do filtro, ao passo que o algarismo que se lhe seguia caracterizava a
porosidade (').
A nossa actual Farmacopeia (V. 1.2) adoptou o sistema de classificação proposto pela
Organização Internacional de Normalização, atribuindo a estes filtros um número de porosidade.
Na Tabela VII transcrevemos essa classificação, figurando nela, igualmente, os usos desses
diferentes filtros.
Tabela VII. Classificação dos filtros de vidro poroso adoptada pela Farmacopeia Portuguesa V
e sua correspondência noutros países
Número de porosidade Diâmetro máximo dos Rep. Fed. da França Reino Unido
(R Poit.) <2) poros em mjcrómetros Alemanha
Usos especiais
Diâmetro em micrómetros
< 2,5 filtração bacteriológica
4 — 10 filtração ultrafina, separação de microrganismos de grande diâmetro
10 — 40 filtração analítica, filtração muito fina de mercúrio, dispersão muito fina de gases
40 — 100 filtração fina, filtração de mercúrio, dispersão de gases
100 — 160 filtração de materiais grosseiros, dispersão e lavagem de gases, suporte para outros
materiais de filtração
160 — 500 filtração de materiais muito grosseiros, dispersão e lavagem de gases
(') Dado que um filtro de determinada porosidade pode ser fabricado em vários tamanhos,
teremos, por exemplo, para um filtro G5 variantes como 1G5, 2G5, 3G5, 6G5, etc. Esta era a notação
usada pêlos fabricantes alemães.
(2) Notação proposta pela Organização Internacional de Normalização (OIN).
79
As placas filtrantes são geralmente feitas de substâncias fibrosas, tais como polpa de papel e
amianto, utilizadas separadamente ou misturadas e submetidas a uma compressão conveniente até se
obterem produtos com a densidade requerida.
As fibras para a fabricação destes discos são escolhidas e sujeitas a tratamentos especiais,
conforme os fins a que se destinam, podendo aqueles serem utilizados para clarificar ou
esterilizar líquidos. Como a celulose e o amianto têm propriedades absorventes, segue-se que estas
superfícies filtrantes podem fixar certas substâncias exislenles nas soluções a clarificar. Por outro
lado, acontece que o amianto cede alcalinidade aos líquidos aquosos que contactam com ele, de
modo que se recomenda lavar, previamente, os filtros deste tipo com água acidulada, e, depois,
com água destilada, até re:iccuo neutra. Como exemplo destes filtros podemos citar os de tipo SEIT/,,
dotados de propriedades filtrantes e esterilizantes, usados com frequência na filtração de soluções
medicamentosas.
As firmas Millipore Filter Corporation e Sartorius Membranfilter GmbH fabricam uma gama
mu i t o variada de discos filtrantes dotados de extraordinária capacidade de retenção de
partículas, os quais são especialmente úteis para a esterilização de soluções farmacêuticas e de
líquidos biológicos alteráveis por acção do calor.
Tais fillros são constituídos por membranas porosas de ésteres da celulose, altamente
purificados e biologicamente inertes, sendo apresenlados em do/e porosidades diferentes, desde 8 [i
a 0,01 |a de diâmetro médio de abertura de poro (ver Tabela VII I, pág. 83) e caracterizando-se
por efeitos de adsorção e absorção praticamente nulos.
Segundo os fabricantes, estas superfícies filtrantes apresentam grande uniformidade do
diâmetro dos poros, destacando-se, ainda, pela circunstância de estes constituírem canal ículos que
atravessam directamente a espessura da membrana com um mínimo de ramificações entre si. Cada
cm2 da superfície do filtro contém milhões destes estreitíssimos canais, representando cerca de
80% do volume total do filtro, o que lhe confere uma notável porosidade e permite um débito de
filtrado cerca de 40 vezes superior ao obtido com os filtros convencionais de abertura de poros
semelhante. Assim, um disco Millipore SC (8 (0. de diâmetro de poro) filtra cerca de 950 ml de
água por minuto e por cm2 de área filtrante a 25°C e a uma pressão diferencial de 700 mm de Hg,
enquanto, por exemplo, um disco Miílipore PH (0,3 |i) filtra, nas mesmas condições, 40 ml de água.
Estes filtros actuam, principalmente, como se fossem tamises, e, assim, todas as partículas
cujas dimensões ultrapassem as aberturas dos respectivos poros ficam retidas à superfície do filtro
quando através deste passa um líquido em que elas estejam suspensas. No entanto, uma elevada
percentagem de partículas de (amanho inferior à abertura dos poros também c retida por estes
filtros graças às forças de VAN DER WAALS, a um aprisionamento ocasional ao longo do percurso
ligeiramente tortuoso dos canalículos e, ainda, pela barreira formada pêlos sólidos depositados
sobre o filtro.
80
como as soluções salinas, vitamínicas e de glucose, as quais podem ser esterilizadas por simples
filtração através de um filtro GS, com ou sem pré-filtro de fibras de vidro.
Estas superfícies filtrantes são montadas cm suportes especialmente concebidos para
satisfazerem às necessidades da prática laboratorial ou industrial no domínio da filtração, podendo
obter-se dispositivos para filtração desde alguns mililitros ale volumes da ordem dos milhares de
litros.
Já por várias vezes nos referimos, ainda que episodicamente, aos adjuvantes de filtração.
Passadas que foram em revista as principais superfícies filtrantes, chegou o momento de
considerarmos mais dctalhadamcntc estas substâncias de Ião grande utilidade.
Recordemos que a maior ou menor facilidade com que uma filtração se processa depende,
fundamentalmente, da natureza das partículas suspensas no líquido a filtrar e que irão formar a
camada filtrante à superfície do seplo. No caso de tais partículas serem compressíveis, já sabemos
que se vão deformando por efeito da pressão, daí resultando uma filtração morosa pêlos motivos
atrás discutidos. Ora, é em casos como estes que os adjuvantes prestam magníficos serviços, pois
criam as condições para que a filtração se faça do modo o mais favorável possível. Poderemos,
então, dizer que um adjuvante de filtração é toda a substância inerte utilizada com o fim de aumentar
a velocidade de filtração e o grau de clarificação, pretendendo-se, umas ve/es, conseguir um só destes
objectives, havendo, porém, casos em que se procura a simultaneidade dos mesmos.
A principal função de um adjuvante é formar uma estrutura em forma de rede, que seja rígida,
porosa e permeável, a qual retenha as partículas em suspensão, deixando fluir livremente o líquido
através dos seus canalículos. Deste modo, impede-se que os sólidos se acumulem sobre a membrana
filtrante e a obstruam, e porque o adjuvante tem uma estrutura rígida a compressibüidade das
partículas nele retidas é mínima. Consegue-se, assim, que a deformação dos sólidos compressíveis
seja de tal modo diminuída que não há o risco de vir a interferir com a velocidade de escoamento do
líquido a filtrar.
Na prática, adicionam-se os adjuvantes ao próprio líquido a filtrar, o que origina uma camada
filtrante complexa constituída pelas partículas do adjuvante e dos sólidos pré--exislenies na
suspensão a clarificar. A retenção dos sólidos pode ser feita, em certos casos, por adsorção, mas em
geral deve-se a uma intervenção mecânica pura e simples da rede formada pelo adjuvante.
E intuitivo que nem todas as substâncias podem servir como adjuvantes de filtração, pois é
necessário que possuam algumas características, sem as quais não podem exercer a função que delas
se pretende. As principais propriedades que caracterizam um bom adjuvante podem resumir-se do
seguinte modo: L") possuir uma estrutura física tal que permita a formação de uma rede porosa
indeformável; 2.°) apresentar um grau de divisão suficiente para reter as partículas sólidas a filtrar;
3.°) ter aptidão para se manter em suspensão no líquido; 4.°) estar livre de impurezas; 5.") não reagir
com o líquido; 6.11) ser anidro.
82
4a frx IO4
d = K. —— , sendo K =
1033 x IO6
em que d é o diâmetro do poro (em |i), a é igual à tensão superficial dos líquidos usados à
temperatura de 20°C, respectivamente 72,5 dine. cm"1 para a água e 16,6 dine.cm ' para o éter, P a
pressão à qual sai do filtro a primeira bolha de gás (em mm de Hg), e b a pressão atmosférica,
também em mm de Hg (').
Tabela VIII. Valores médios das aberturas dos poros dos filtros usuais f1)
Certas misturas muito viscosas podem ser diluídas, conseguindo-se, assim, uma apreciável
diminuição das respectivas viscosidades, com o consequente aumento da filtrabili-dade.
Também o ajustamenlo do pH dos líquidos pode concorrer para facilitar a filtração, o mesmo
acontecendo com a adição de um electrólito e o uso judicioso de adjuvantes.
Os adjuvantes da filtração podem ser aplicados directamente ao filtro, para formarem uma
camada de revestimento que actue desde o início da filtração, ou adicionam-se ao líquido a filtrar
numa percentagem variável. A prática indicará a quantidade de adjuvante a utilizar em cada caso, não
nos devendo esquecer que o emprego destas substâncias poderá resolver muitos casos de filtração
tidos como de difícil execução.
Tais são, em resumo, alguns dos tratamentos a que se podem submeter certos produtos a filtrar,
os quais, longe de esgotarem o assunto, representam apenas sugestões destinadas a facilitar a
resolução de alguns problemas gerais de filtração, pois os casos específicos surgirão sempre e terão
que ser tratados como tal.
E posto isto, consideremos, agora, os diversos processos de filtração, para o que é necessário
agrupá-los de modo a facilitar o seu estudo. São vários os critérios usados para esse fim, baseados
em certos elementos, como a natureza da superfície filtrante, o volume do líquido a filtrar e a força
usada para conseguir-sc a filtração. Repare-se que este último elemento é comum a todas as técnicas
de filtração, pois sem uma diferença de pressão aquela é irrealizável, e, por isso, ele representa,
quanto a nós, a base mais racional para se estabelecer uma classificação.
Deste modo, agruparemos as diversas técnicas de filtração de acordo com a força nelas
utilizada, constituindo-sc, assim, três classes distintas: 1) Filtração por acção cia gravidade; 2)
filtração por sucção; 3) filtração sob pressão.
Seguidamente, estudaremos cada um destes três lipos de filtração, dando especial atenção aos
dispositivos neles utilizados, já que os materiais filtrantes foram tratados anteriormente.
filtração é realizada com o objectivo de se aproveitar o sólido retido, devendo utilizar-se um filtro
com pregas sempre que a filtração tenha por fim obter um líquido límpido.
Além do papel, podem usar-se fibras soltas nos funis, como o algodão hidrófilo c a lã de vidro,
as quais se aplicam de modo a constituírem uma camada ou rolho sobre a parte mais estreita do
funil, onde começa a haste, na qual penetra frequentemente.
Para que a filtração por esta técnica se processe nas melhores condições é de toda a
conveniência ter presentes certas regras empíricas que devem ser respeitadas na prática. São elas:
1. Ao dobrar um filtro nunca se devem vincar as dobras junto do ápex, pois este é o ponto onde
aquelas convergem e tornar-se-ia demasiado fraco para suportar a pressão do líquido, podendo
romper com o peso deste. Ao colocar um filtro de pregas num funil deve ter-se o cuidado de forçá-lo
de modo u que a extremidade penetre na haste do funil, pois tal precaução permite obter maior
velocidade de filtração e evita que a ponta do filtro alargue, formando uma bolsa, e se encha de
líquido, diminuindo-se, assim, a possibilidade de ruptura.
2. Deve humedecer-se o filtro com o líquido a filtrar ou com o solvente correspondente ao
líquido a filtrar, o que torna a filtração mais rápida.
3. Quando o filtro se destina a receber um grande volume de líquido é necessário tomar
precauções para evitar a sua ruptura. Para isso, pode utilizar-se um filtro duplo ou colocar no
gargalo do funil, antes de pôr o filtro, um pouco de algodão envolvido em gaze. Pode usar-se,
também, um cone de metal perfurado.
4. Ao verter o líquido a filtrar no filtro, aquele deve ser dirigido contra as suas paredes, para
se evitar um impacto directo sobre a ponta do filtro, que é a sua parte mais frágil.
5. O papel deve ser cortado com as dimensões precisas para nunca ultrapassar as paredes do
funil, o que evita perdas por evaporação ou embebição.
87
A filtração por gravidade faz-se, por vezes, mantendo o funil aquecido e isto porque,
independentemente da natureza do produto a filtrar, o aumento da temperatura, fazendo baixar a
viscosidade dos líquidos, torna sempre mais rápida a fillração.
Na tabela IX indicam-se as viscosidades de alguns líquidos em função da temperatura, e os
números que nela figuram mostram, claramente, como os líquidos altamente viscosos se tornam
muito mais fluidos quando convenientemente aquecidos.
Viscosidade em centipoisc
Líquido 0" 10" 20' 40" 70" W()"C
Agua 1,79 1,13 1,01 0,65 0,41 0,28
Álcool etílico 1,79 1,75 1,72 1,65 1,55 —
Éter sulfúrico 0,28 — 0,23 0,20 — —
Benzeno 0,91 0,76 0,65 0,50 0,36 —
Óleo de rícino — 2420 986 231 — 16,9
Azeite — 138 84 36 12,4 —
Glicerina (2) 4220 2518 830 — — —
As soluções em solventes orgânicos e aquosos são, em geral, pouco viscosas c, por isso, filtram
sem dificuldade à temperatura ambiente, mas há casos em que se torna necessário proceder a um
filtração a quente. Os óleos, por exemplo, sobretudo no inverno, são dificilmente filtráveis à
temperatura ambiente, e certas gorduras e ceras, sólidas à temperatura normal, só poderão ser
filtradas a uma temperatura superior à dos respectivos pontos de fusão. Por outro lado, algumas
soluções devem ser filtradas a lempe-
(') Segundo Cummings, in Technique ofOrganir Cfietnisrry, vnl. Ill, pág. 563.
Ç-} No caso da glicerina as temperaturas correspondem, na realidade, a 2,8". 8,1" c 2(U"C,
respectivamente.
88
entre eles os funis, os quais tornaram esta operação facilmente praticável. Um dispositivo destes é
formado por uma rede de material refractário e maleável, tendo no interior uma resistência
eléctrica, bastando ligar o aparelho a uma tomada de corrente para aquecer o funil (Fig. 42).
4.2.4.5.1.2. Filtração a frio
A filtração destes líquidos, particularmente do éter, impõe certas precauções, a fim de evitar a sua
evaporação, o que obriga a utilizar filtros especiais. Pode, no entanto, improvisar-se um filtro destes
com bastante facilidade, conforme se representa na Fig. 43. O dispositivo mantém-se fechado, sendo
o ar existente no balão deslocado através do tubo lateral para o funil.
4.2.4 5 1 4. Filtros de lã ou algodão
tuído por um cone de tecido, geralmente flanela, cuja base esta ligada a um aro de folha de Flandres
ou a um quadrado de madeira (Fig. 44). Estes filtros são usados para clarificar líquidos bastante
densos, como os xaropes, podendo u filtração ser auxiliada por um adjuvante, neste caso a polpa de
papel. Porque a filtração se pode tornar lenta a partir de certo momenlo, estes tlltros têm um fio
preso ao vértice do cone, o qual, uma vez puxado para cima, obriga a extremidade do filtro a
dobrar-se para o interior, fazendo com que o líquido contacte com nova superfície de tecido ainda
não obstruída. Na filtração de um volume apreciável de líquido utiliza-se o tecido montado num
suporte rectangular de dimensões adequadas, dispositivo este conhecido por fillro de TAYLOR.
4,2.4.5.1.5. Filtração continua
A filtração de grandes volumes de líquido por acção da gravidade obriga a
Flg. 44. Manga
de uma vigilância quase permanente da operação, sobretudo se esta se processa
Hipócrates rapidamente, para se poder manter o filtro carregado. Para evitar este
inconveniente têm-se idealizado vários dispositivos, um dos quais está representado na Fig. 45.
Consta ele de um frasco de boca larga, cuja rolha tem dois orifícios. O líquido é colocado no frasco e,
com a boca destapada, é sifonado para o funil, mantcndo-se neste o nível desejado ajustando,
convenientemente, a altura do outro tubo. Com efeito, enquanto o líquido não enche conveniente-
mente o funil, este tubo encontra-se em contacto directo com a atmosfera, permitindo a entrada de ar
no frasco e, devido a este facto, é possível o funcionamento do sifão. Quando o líquido atinge certa
altura no filtro dá-se a obturação do tubo em referência e o isolamento do sistema em relação ao ar
não permite que haja transferência do material a filtrar do frasco para o funil.
A filtração por sucção é especialmente indicada quando se utilizam certas superfícies filtrantes
rígidas, cujos poros são tão apertados que tornariam a filtração demasiado lenta se fosse praticada
nas condições normais de pressão. Entretanto, presta-se a realizar filtrações com os mais variados
tipos de funis e de materiais filtrantes.
Assim, podem servir neste tipo de filtração os funis
cónicos descritos a propósito da filtração por gravidade,
desde que os papéis de filtro sejam protegidos por um
cone perfurado que evite a sua ruptura (Fig. 47). Os cones
utilizados para este efeito são feitos de vários materiais,
como porcelana, platina, papel endurecido, ele. Desde
que se utilize um papel bastante duro, o uso de tais cones
é desnecessário, se bem que os papéis desta textura
tornem a filtração muito lenta.
Os filtros de vidro poroso, cuja importância na Fig. 46. Frascos de Kitasato para
filtração por sucção. A, com funil; B,
filtração de soluções medicamentosas já foi posla em com cadinho filtrante
relevo, constituem um exemplo típico
de filtros por sucção. Como os anteriores, trabalham montados num frasco de KITASATO de capacidade
apropriada ao volume de líquido a filtrar. Os metafiltros, a que também já fizemos referência na
altura própria, trabalham por sucção ou sob pressão e, por isso, podem ser incluídos entre os
aparelhos próprios para realizar este tipo de filtração.
As velas filtrantes tipo BERKFELD e CHAMBERLAND constiluem outros exemplos de aparelhos utilizados
na filtração por sucção, representando-se na Fig. 48 um esquema geralmente utilizado para
trabalhar com estes filtros. As velas são montadas numa espécie de manga metálica, apenas ficando
fora desta o respectivo tubo de saída, o qual se adapta a uma rolha de borracha que fecha a boca do
balão de Kn ASATO. O líquido é introduzido pela parte superior da manga, realizando-se a filtração
mercê da depressão criada no balão.
92
Também os filtros tipo SRITZ podem ser operados por sucção e, como no caso das velas, usam-
se para filtrar ou esterilizar líquidos. Existem vários modelos, reproduzindo-sc na Fig. 49 uma unidade
destas, própria para filtração laboratorial em pequena escala.
Entrada
!l
do liquido
_i filtrar
V
„- A Vela
Suport
e Vazio
^ Líquido
/
filtrado D Tubo de
ligação &
máquina de
Fig. 48. Dispositivo para filtração por sucção com vetas filtrantes
Os filtros Miüipore e Sartorius tanto servem para executar filtrações por sucção como sob
pressão, dependendo o modo como trabalham dos suportes utilizados.
De um modo geral, a filtração por sucção com estes filtros reserva-se apenas para pequenos
volumes de líquido, existindo vários dispositivos, como funis de BUCHNEK cm aço inoxidável ou pyrex,
os quais são constituídos por duas peças, entre as quais se
coloca o disco filtrante. Na Fig. 50 representam-se alguns destes dispositivos, mostrando a gravura C
como se procede à colocação de um disco filtrante nestes funis.
Existem ainda outros filtros por sucção que se caracterizam por trabalharem quando imersos na
própria suspensão a filtrar, conforme se pode ver na Fig. í 1. As folhas propriamente ditas são
construídas de material variável, o qual serve de suporte ao septo filtrante, que pode ser um tecido ou
papel de fillro, ou funcionam elas próprias como elemento filtrante. Nestes dispositivos, que
mergulham na suspensão a filtrar, o sólido fica retido na parte exterior da superfície fillranle, sendo o
filtrado aspirado por sucção e recolhido no frasco onde se faz o vácuo (Fig. 52).
Na Fig. 53 estão representados vários tipos de filtros que se utilizam imersos, próprios para
filtrações em pequena escala, os quais são designados por bastões filtrantes. Como as folhas
filtrantes, podem ser constituídos por superfícies rígidas ou por um suporte ao qual se adapta o septo
filtrante.
Todos estes dispositivos acabados de descrever são utilizados na filtração por sucção com fins
clarificantes ou esterilizantes. Caso, porém, se pretenda isolar um sólido é necessário utilizar funis de
BUCHNEK, de HIRSCH, cadinhos de Goorn, de ALUNDUM e outros.
Os funis de BUCHNER e de HIRSCH (Fig. 54) são geralmente feitos de porcelana e servem para
isolar sólidos em quantidade apreciável. A placa perfurada neles existente serve de suporte ao filtro,
que pode ser uma simples rodela de papel, cortada de modo a adaptar-se perfeitamente à placa.
Actualmente fabricam-se filtros destes tipos cuja placa é feita de vidro poroso.
Os cadinhos de GOOCH, representados na Fig. 55, bem como os filtros de ALUNDUM e outros, são
exemplos típicos de filtros por sucção destinados a isolar precipitados para fins analíticos. Estes
últimos constituem uma superfície filtrante, mas os cadinhos de GOOCH representam apenas um
suporte sobre cuja placa perfurada se coloca uma camada de fibras de amianto ou outro material
filtrante.
Fig. 55.
Cadinho de
Gooch
A B
Fig. 54. A, funis de Buchner; B. funil de Hirsch
Neste tipo de filtração utiliza-se uma pressão exercida sobre o próprio líquido para aumentar a
velocidade de escoamento daquele, o que exige que a superfície filtrante esteja montada num
dispositivo fechado e se disponha de um meio de poder obter uma pressão adequada c controlável.
Este tipo de filtração é muito menos usado na prática laboratorial do que a filtração por
gravidade ou por sucção, se bem que esteja indicado para filtrar líquidos com certas características,
como os muito viscosos, que tenham elevadas tensões de vapor ou
contenham em dissolução um gás em apreciável quantidade.
Existem dispositivos que permitem aplicar este processo de filtração à
escala laboratorial, como o representado na Fíg. 56. O filtro c posto num W i faro
recipiente de paredes resistentes, e uma vez colocada a tampa na respectiva
posição e vedado o conjunto por meio dos parafusos com orelhas, admite-
se no reservatório ar ou oulro gás comprimido. Deste modo, exerce-se uma
maior pressão à superfície do líquido a filtrar, cuja velocidade de
escoamento aumenta mercê disso. No caso da Fig. 56, a superfície Fig. 56. Dispositivo para
filtrante é constituída por fibras soltas, como o amianto ou a lã de filtração sob pressão
vidro, mas podem usar-se outros elementos filtrantes, como as folhas e
bastões filtrantes, já anteriormente descritos. A Fig. 57 representa outros dispositivos utili/ados para
este processo de filtração, empregando-se num deles um filtro de vidro poroso e no outro um dos
referidos bastões filtrantes, mas todos eles apenas se prestam a filtrar, em cada operação, diminutos
volumes de líquidos, especialmente o aparelho correspondente à Fig. 57 A.
Existem, porém, outros dispositivos
especialmente concebidos para
corresponderem às necessidades
Saída
do encontradas na prática. Assim, a Fig. 58
representa um filtro de Stir/ funcionando
por pressão, o qual é próprio para
filtração de volumes da ordem de algumas
centenas de ml, havendo, porém, outros
modelos de maior capacidade. Tais filtros
são utilizados, sobretudo, na filtração
esteri-lizante.
B
As velas filtrantes usadas, como já vimos, na filtração por sucção, servem também
para com elas se fazerem filtrações sob pressão, bastando, para isso, ligar a parte superior
do invólucro metálico a um reservatório de gás comprimido ou a uma bomba. O mesmo
acontece com os metafiltros, que podem ser operados, indiferentemente,
por sucção ou sob pressão, conforme se descreve na pãg. 74.
Os filtros representados na Fig. 59, A, B e C, são modelos próprios para a
filtração clarificante de volumes apreciáveis de líquido. Os dois primeiros
trabalham com um único disco filtrante, colocado entre as placas metálicas, que
depois de apertadas fecham o conjunto hermeticamente, sendo o líquido a filtrar
introduzido sob pressão no aparelho por meio de uma bomba aspirante-premente. O
modelo da Fig. 59 C é constituído por cinco discos metálicos. A Fig. 59 C representa
o aparelho aberto, mas como depois de fechado toma uma forma cilíndrica, tal
modelo é designado por filtro de tambor. Qualquer destes filtros tem já um
rendimento apreciável e neles se usam, como elementos filtrantes, discos de papel
ou de tecido.
Os chamados filtros-prensas são utilizados, principalmente, nas instalações
Fig. 58. industriais em que haja necessidade de filtrar grandes volumes de líquidos, como,
Filtro de Seitz por exemplo, nas fábricas de antibióticos e outras. São estes filtros constituídos por
para funcionar
sob pressão uma série de placas que se apoiam geralmente sob duas barras transversais
apertadas umas contra as outras por meio de um parafuso que as comprime de encontro a uma
espécie de anteparo. Cada um destes filtros pode ter um número variável de placas, normalmente de
12 a 50, prestando-se para clarificar líquidos ou para isolar sólidos neles suspensos.
B
Fig. 59. Filtros por pressão
97
Assim, nos filtros de câmara, conforme se pode ver no diagrama da Fig. 61, as placas apresentam
um orifício central e têm os bordos pronunciadamcnlc salientes, de modo que ao encostarem umas às
outras unem-se por esses rebordos mas como a parte central está rebaixada formam entre si cavidades
ou câmaras, as quais recebem o liquido a filtrar através do orifício cenlral, saindo o filtrado para o
exterior por urna conduta ou torneira colocada
num dos cantos da placa
Nos filtros de quadro as placas não
apresentam os bordos salientes e, por isso, é
necessário intercalar entre cías uma esquadria
de madeira, borracha ou outro material, a qual
evita que aquelas adiram umas às outras, o que Fig. 61. Placas usadas num filtro-prensa de
permite a formação das cavidades. A câmara vistas de face e em corte
alimentação
dos filtros deste tipo é feita através de um dos orifícios existentes na margem das placas, de modo que
quando elas estão colocadas no aparelho os orifícios das diversas piar coincidem perfeitamente,
formando um canal por onde o líquido circula. As esqu' apresentam, igualmente, orifícios
coincidentes com os das placas, o que permitf acesso do líquido às diversas cavidades situadas entre
duas placas conseculivas.
98
a saída do filtrado por uma conduta formada na margem da placa por igual processo, conforme se
pode ver na Fig. 62.
Em qualquer dos casos as placas dos filtros-prensa são ligeiramente rugosas, apresen tando
saliências feitas de modo a impedir que os tecidos usados na filtração adiram com-píetamente à
superfície daquelas, pretendendo-se, com isto, criar uma espécie de canais
que permitam ao filtrado correr livremente
até aos orifícios da saída.
As suspensões a filtrar são introduzidas nos filtros sob
pressão, utilizando-se para isso bombas do tipo aspirante-
premente, sendo a pressão aplicada da ordem dos 6 a 10
kg.crrr2. Se é certo que uma pressão elevada pode aumentar,
temporariamente, o
Fig. 62. Placas usadas num filtro-prensa de quadro rendimento da filtração, não deve esquecer-se
que uma pressão exagerada pode tornar muito compacta a camada filtrante, sendo aconselhável, por
isso, trabalhar a pressões relativamente baixas durante as filtrações prolongadas. Além da pressão, os
elementos que condicionam o rendimento de um filtro são: área e número de placas filtrantes,
temperatura, viscosidade do líquido e natureza das partículas em suspensão. Existem filtros-prensa
que podem ser aquecidos, os quais devem ser utilizados nos casos já anteriormente descri-los a
propósito da filtração a quente.
Como já atrás referimos, os filtros Millipore ou Sartorius também são utilizados para filtrações
sob pressão, existindo vários modelos de suportes próprios para este tipo de filtração com tais
elementos filtrantes, os quais permitem trabalhar com volumes de líquido muito variáveis.
Assim, a Fig. 63 representa um destes filtros adaptável a uma seringa
hipodérmica, desde que esta tenha um bico metálico lipo Suporte do filtro
LUER. A peça de metal constitui o suporte propriamente
dito para o filtro, separando-se em duas partes, entre as
quais se intercala o disco. Este tem um diâmetro de 13
mm, podendo usar-se com ele, neste dispositivo, um pré-
fil-tro. Este dispositivo, depois de convenientemente
esterilizado na autoclave, é adaptado a 'ia seringa e
agulha também previamente es- Fig. 63. Adaptador de Swinny para
esterilizar líquidos através de uma seringa
adas e serve para esterilizar, por filtração, um hipodérmica
pequeno volume de líquido contido na podendo ser muito útil na Farmácia de Oficina na
esterilização de certos medica-mo os colírios.
99
a saída do filtrado por uma conduta formada na margem da placa por igual processo, conforme se
pode ver na Fig. 62.
Em qualquer dos casos as placas dos filtros-prensa são ligeiramente rugosas, apresen tando
saliências feitas de modo a impedir que os tecidos usados na filtração adiram com-píetamente à
superfície daquelas, pretendendo-se, com isto, criar uma espécie de canais
que permitam ao filtrado correr livremente
até aos orifícios da saída.
As suspensões a filtrar são introduzidas nos filtros sob
pressão, utilizando-se para isso bombas do tipo aspirante-
premente, sendo a pressão aplicada da ordem dos 6 a 10
kg.crrr2. Se é certo que uma pressão elevada pode aumentar,
temporariamente, o
Fig. 62. Placas usadas num filtro-prensa de quadro rendimento da filtração, não deve esquecer-se
que uma pressão exagerada pode tornar muito compacta a camada filtrante, sendo aconselhável, por
isso, trabalhar a pressões relativamente baixas durante as filtrações prolongadas. Além da pressão, os
elementos que condicionam o rendimento de um filtro são: área e número de placas filtrantes,
temperatura, viscosidade do líquido e natureza das partículas em suspensão. Existem filtros-prensa
que podem ser aquecidos, os quais devem ser utilizados nos casos já anteriormente descri-los a
propósito da filtração a quente.
Como já atrás referimos, os filtros Millipore ou Sartorius também são utilizados para filtrações
sob pressão, existindo vários modelos de suportes próprios para este tipo de filtração com tais
elementos filtrantes, os quais permitem trabalhar com volumes de líquido muito variáveis.
Assim, a Fig. 63 representa um destes filtros adaptável a uma seringa
hipodérmica, desde que esta tenha um bico metálico lipo Suporte do filtro
LUER. A peça de metal constitui o suporte propriamente
dito para o filtro, separando-se em duas partes, entre as
quais se intercala o disco. Este tem um diâmetro de 13
mm, podendo usar-se com ele, neste dispositivo, um pré-
fil-tro. Este dispositivo, depois de convenientemente
esterilizado na autoclave, é adaptado a 'ia seringa e
agulha também previamente es- Fig. 63. Adaptador de Swinny para
esterilizar líquidos através de uma seringa
adas e serve para esterilizar, por filtração, um hipodérmica
pequeno volume de líquido contido na podendo ser muito útil na Farmácia de Oficina na
esterilização de certos medica-mo os colírios.
100
operações unicamente na circunstância de a u Ura-filtração implicar uma diferença de pressão nos dois
lados da membrana, a qual, por isso, terá de ser incorporada num suporte que lhe dê a rigidez
necessária.
Por outro lado, repare-se que a ultra-filtração difere sensivelmente da filtração vulgar, pois
naquela é apenas a membrana filtrante que actua como agente separador das partículas de diferentes
dimensões. De facto, na ultra-filtração deve evitar-se, ao contrário do que se faz na filtração vulgar,
que os sólidos se depositem em quantidade apreciável sobre a membrana semipermeável, pois se tal
acontecer os poros desta deixarão de ser o principal elemento separador das partículas a filtrar.
As membranas utilizadas nesta operação podem ser preparadas com colódio, gelatina, acetato de
celulose, ácido silícico, etc. Estas substâncias são usadas sob a forma de gele, com o qual se impregna
o suporte a utilizar na filtração, como papel de filtro, cadinhos, filtros de vidro poroso, etc. A
porosidade das membranas depende bastante do modo como são preparadas. Assim, os filtros de
BECHHOLD, feitos com soluções diluídas de colódio, apresentam poros com 3-5 \i de abertura, ao passo
que se forem preparados com uma solução concentrada daquele produto os poros terão l (I de
diâmetro.
A ultra-filtração não é um processo muito utilizado na prática laboratorial corrente, reservando-
se a sua aplicação a casos específicos, como a filtração de colóides, a separação destes de cristalóides
e o fraccionamento de misturas de compostos tendo elevados mas diferentes pesos moleculares.
A firma alemã Membranfilter-Geseüschaft, de Gõttingen, é especializada na preparação de ultra-
fillros baseados no processo de ZSIGMONDY, oferecendo uma gama bastante grande de elementos
filtrantes deste tipo. Os filtros em questão são preparados impregnando placas de vidro poroso com
uma solução de nitrocelulose em ácido acético e acetona, secando-se a película assim formada por
uma corrente de ar com determinada percentagem de humidade.
Deste modo, é possível obterem-se membranas filtrantes com aberturas de poros de dimensões
definidas mas variáveis, susceptíveis de numerosas aplicações, entre as quais destacamos o seu
emprego na filtração esterilizantc de líquidos e em certas análises bacteriológicas. Assim, a variedade
Coli 5 é aconselhada na análise bacteriológica da água, a qual é filtrada através de uma pequena
membrana de 5 cm de diâmetro, onde ficam retidas e como que concentradas as bactérias existentes no
volume de água filtrado, procedendo-se, depois, à incubação da placa filtrante num meio de cultura
apropriado.
Esta técnica pode ter bastante interesse nos ensaios de controlo da esterilidade de soluções
farmacêuticas adicionadas de bacteriostãticos, pois no filtro apenas ficarão retidos os microrganismos
possivelmente existentes na solução, passando no filtrado as substâncias que, pela sua presença,
impedem a multiplicação daqueles. A incubação do filtro num meio de cultura, uma vez
convenientemente lavado, revelará, depois, com segurança, a presença ou ausência de agentes
microbianos no produto ensaiado.
101
Os uitra-filtros podem ser operados por sucção ou sob pressão, existindo dispositivos vários que
permitem realizar esta operação nas melhores condições possíveis. O modelo clássico é constituído pelo
filtro de ZSICMONDY, representado na Fig. 66 /t, o qual trabalha por sucção. Este aparelho, como, aliás,
todos os outros, é constituído por uma espécie de funil que se separa em duas partes mantidas
firmcmcnlc unidas, quando o filtro está montado, por dois parafusos com porcas de orelha. A placa
filtrante, como se vê no esquema, é intercalada entre as duas partes do funil. O filtro de THIESSEN (Fig.
66 fí), por seu turno, tanto pode trabalhar por sucção como sob pressão, e o modelo apresentado na Fig.
66 B serve para filtrações Rg 66 A u|tra_fi|tro de Zsig^ondy;
B
esterilizantes. < ullra-fillro de Thiessen
um colorímetro de DUBOSCQ e que deve trabalhar num local escurecido. Nos tubos colocam-se o líquido a
observar e um padrão, o qual pode ser constituído pela própria solução
submetida a uma filtração padronizada ou por suspen soes
preparadas cm condições definidas.
4.2.5. CLARIFICAÇÃO
Tubos
de A clarificação tem por objectivo separar do^ líquidos partículas
sólidas finamente divididas ou substâncias de natureza coloidal neles
existentes que provoquem a sua turvação, sem. no entanto, se recorrer ao
emprego de filtros como elementos primaciais para se realizar tal
operação.
Em geral, pratica-se a clarificação sempre que as características do
material a separar , como o seu estado coloidal, grau de divisão,
compressibilidade, etc., façam com que os filtros sejam obstruídos, tor-
nando, portanto, a filtração dificilmente realizável.
Lâmpa No fundo, a maioria dos métodos utilizados consiste,
da de
alta justamente, em promover a aglomeração dos sólidos dispersos
no líquido por cuja turvação são responsáveis, o qual, após a
sedimentação desse aglomerado, se torna límpido. Conseguida a
sedimentação das partículas anteriormente suspensas, o líquido
Fig. 67. Aparelho para avaliar a
limpidez de um líquido pelo efeito límpido é separado por decantação ou por filtração. Repare-se,
de Tyndall porém, que esta só é aplicada depois de o material causador da
turvação do líquido ter sido profundamente modificado por um tratamento
prévio, e daí o motivo por que se diz que os filtros não representam os
agentes verdadeiramente activos da clarificação. Sob todos os aspectos, pode considerar-se que a
filtração é executada aqui como uma operação meramente acessória.
Vejamos, seguidamente, cm que consistem os processos de clarificação mais utilizados na
prática.
Tratando-se de um líquido viscoso, o seu aquecimento torna-o menos denso e mais fluído e por
isso as partículas nele suspensas, responsáveis pela sua turvação, têm tendência a separar-se,
depositando-se as mais pesadas e juntando-se à superfície as mais leves. Em gerat, aquece-se o
produto à ebulição, pois o desprendimento de bolhas gasosas que esta provoca facilita a junção das
partículas mais leves à superfície, as quais são, depois, removidas por meio de uma escumadeira,
espécie de colher perfurada, de contorno circular c muito ligeiramente côncava.
Se o produto a clarificar contiver substâncias de natureza proteica, como é o caso dos sucos
herbáceos e dos produtos de origem animal, o aquecimento provoca a coagulação dessas
substâncias, de que resulta a formação de um precipitado mais ou menos volumoso, o qual aprisiona na
sua rede as partículas suspensas, arrastando-as ao sedimentar.
Após ter-se praticado a escumação, quando seja necessário fazê-la, e deixado depositar as
partículas mais densas, o líquido límpido é decantado com os devidos cuidados por qualquer das
técnicas descritas no respectivo capítulo.
Se bem que o calor possa concorrer para a clarificação de um líquido por simples diminuição
da sua viscosidade, a verdade é que a sua acção é muito mais eficaz se o produto a clarificar contiver
substâncias proteicas. Estão neste caso, como já referimos, os sucos vegetais e animais, mas muitos
produtos há que não contêm essas substâncias, de modo que para os clarificar convenientemente
pelo calor é necessário adicionar-lhes uma proteína estranha.
A substância que mais vulgarmente se utiliza para este fim é a albumina ou clara de ovo. Esta
pode ser adicionada directamente ao líquido, havendo quem preconize que se adicione à albumina
igual volume de líquido a clarificar e se coe, depois, a mistura através de uma gaze, juntando-se o
produto coado ao total do líquido. Este é aquecido à ebulição, até que a albumina coagule, deixando-
se, depois, que sedimente, para que se faça a clarificação.
Em geral, uma clara de ovo é suficiente para clarificar cerca de 5 l de líquido. O uso da
albumina do ovo está contra-indicado quando no material a clarificar haja substâncias reduioras.
Nestas circunstâncias, e dado que a albumina do ovo contém enxofre na sua molécula, pode suceder
que se dê a redução deste a sul fure to de hidrogénio, que confere cheiro muito desagradável ao
líquido clarificado. Podem utilizar-se outras substâncias em substituição da albumina do ovo, como o
sangue de boi, o barro espanhol, etc. A utilização de substâncias proteicas deve ser feita com a
necessária prudência, pois estas formam precipitados em presença de metais pesados e fenóis, pelo que
nunca deverão ser adicionadas a líquidos em cuja composição figurem aqueles produtos.
104
A gelatina é utilizada, especialmente, quando o líquido que se pretende (ornar límpido é rico em
taninos, pois aquela reage com estes compostos, precipitando-os, acontecendo que o precipitado assim
formado aprisiona nas suas malhas as partículas suspensas no líquido, arrastando-as para o fundo ao
sedimentar. Geralmente, adiciona-se a gelatina sob a forma de solução a l ou 2% em água aquecida,
não tardando que em presença de taninos se observe a formação de um precipitado floculento, que
por repouso à temperatura ambiente sedimenta ao fim de algum tempo.
Por vezes, usa-se, igualmente, a gelatina para clarificar certos líquidos não taninosos, e nesse
caso o mecanismo pelo qual aquela substância aclua consiste na neutralização das partículas
coloidais existentes no líquido. Estas, carregadas negativamente, são neutralizadas pela carga
eléctrica positiva da gelatina, daí resultando a sua aglomeração c sedimentação, com a subsequente
clarificação do líquido.
As substâncias deste tipo estão sendo usadas na purificação da água e dos esgolos e actuam
exactamente como a gelatina em presença de partículas coloidais. Actualmente, os produtos mais
usados são representados por poliamidas catiónicas, que neutralizam a carga eléctrica negativa das
partículas suspensas, promovendo assim a sua floculação.
Como o preço destas substâncias é relativamente elevado, são usadas conjuntamente com
floculantes inorgânicos, como o alúmen e o sulfato férrico.
A polpa de papel e outras substâncias, como o talco, caulino e terra de infusórios, são
igualmente utilizadas na clarificação. O agente clarificante é adicionado, sob agitação, ao líquido a
clarificar, o qual, depois, é abandonado em repouso, para ser, ulteriormente, decantado ou filtrado.
Estas substâncias actuam como adsorventes, fixando portanto os sólidos responsáveis pela turvação.
105
Este processo de clarificação é aplicado aos sucos de frutos, os quais são geralmente bandonados durante
alguns dias num local fresco, sofrendo então uma dupla fermentação que concorre para os tornar mais límpidos.
Uma dessas fermentações é a alcoólica, a qual consiste, como se sabe, na transformacão da glicose em
álcool e anidrido carbónico por acção das leveduras. O álcool formado facilita sobretudo a dissolução de
certas substâncias, como matérias corantes, e se a sua concentração atingir determinado valor, o que, aliás,
raramente acontece, poderá concorrer para a precipitação das substâncias albuminóides e mucilaginosas
existentes no suco. Por seu lado, as bolhas de anidrido carbónico, ao abandonarem o líquido, fazem o
arrastamento de certas substâncias em suspensão, as quais passam a formar uma camada à supefície, facilmente
removível por escumação.
Simultaneamente com a fermentação alcoólica, ocorre, nos sucos de frutos, a fermentacão péctica,
durante a qual a pectose, composto de natureza glucídica existente em certos frutos, se transforma em ácido péctico
por intervenção de um fermento chamado pectase.
Este ácido péctico, cuja formação demora algum tempo a observar-se e é facilitada pela presença de
um ácido e de certos catiões, como o cálcio e o bário, apresenla-se com o aspecto de um gele que engloba na sua
massa numerosas partículas sólidas contidas nos sucos, concorrendo, assim, para a sua clarificação.
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Françaincs, 1951, e Bibliografia Científica do l. P. Lisboa,
N." 22, vol. II, 1953.
107
5.1.1. GENERALIDADES
Na prática laboratorial e pela razão atrás apontada, a divisão de uma substância facilita a sua
dissolução, motivo por que se aconselha pulverizar previamente os corpos que se pretende dissolver.
Também na extracção das drogas vegetais por solventes, a divisão previa daquelas desempenha
um papel da maior relevância. De facto, se pretendermos extrair uma droga inteira, como uma raiz,
uma casca ou um lenho, o solvente dificilmente penetraria nos respectivos tecidos, pois, estando
aqueles intactos, as membranas celulares actuariam como verdadeiras barreiras que dificultariam
essa penetração. Uma vez, porém, que a droga a extrair tenha sido convenientemente dividida, já isso
não acontece. Nestas circunstâncias, os tecidos foram lacerados e rebentadas, na sua maioria, as
paredes das células, deixando, assim, de existir barreiras que impeçam a penetração do solvente,
tornando-se, deste modo, muito mais rápida e eficiente a dissolução dos constituintes celulares no
líquido extractor.
É evidente que o grau de divisão a que se há-de submeter uma droga varia com o fim a que esta
se destina e, ainda, com a sua natureza, além de que a solubilidade dos seus princípios activos num
determinado solvente condiciona, também, o grau de divisão a que aquela deve ser sujeita.
Se bem que seja impossível estabelecer regras gerais quanto à divisão das drogas, pode-se, no
entanto, enunciar certos princípios orientadores. Assim:
1 — As drogas que se destinem a ser administradas sob a forma de pós, pílulas, cápsulas ou
suspensões devem ser divididas o mais finamente que é possível.
2 — Quanto mais compacta for a estrutura da droga maior deve ser o respectivo grau de
divisão.
3 — As drogas contendo princípios dificilmente solúveis devem ser mais finamente divididas do
que aquelas cujos constituintes são mais solúveis.
4 — Quanto menos a droga se deixar embeber pelo solvente, maior deve ser o seu estado de
divisão. Este facto tem grande importância na preparação de soluções extractivas, pois
quanto mais facilmente o solvente penetrar no interior das células e se misturar com o
respectivo conteúdo melhor será o rendimento da extracção. Compreende-se, por isso,
que os solventes que embebem perfeitamente o material a extrair não exigem que este se
apresente extremamente dividido para que se possa obter um bom rendimento extractivo.
exigem processos adequados para serem reduzidos a pequenas partículas. Cada classe de
substâncias terá, pois, que ser submetida a técnicas especiais de divisão, as quais passamos a
estudar seguidamente.
de consistência mole ou dura e caracteriza-se por ser possível obter fragmentos com o volume e a
forma desejada, diferindo, neste pormenor, da contusão.
Os instrumentos utilizados neste processo de divisão podem ser tesouras ou facas, caso as
substâncias a seccionar não sejam demasiadamente duras, como acontece com
as folhas, plantas herbáceas, certas cascas
e frutos. Geralmente, porém, usam-se
corta-raízes, empregados, sobretudo, para
seccionar os materiais fibrosos e rijos,
como as raízes, lenhos e muitas cascas.
Estes instrumentos são formados por uma
plataforma sobre a qual está montada uma
alavanca cujo ponto de apoio e a potência
se situam nas respectivas extremidades,
ficando a resistência, correspondente à
lâmina cortante, no meio. Existem vários
modelos destes intrumentos, que se dife
renciam pela forma do cutelo e pelas
dimensões, conforme se pode ver na
Fig. 68. Na indústria usam-se máquinas
especiais que permitem cortar as drogas
em fragmentos com as dimensões deseja-
Fig. 69. Aparelho para seccionar plantas das (Fig. 69).
É a operação que permite redu/ir os corpos sólidos a fragmentos relativamente pequenos, mas de
dimensões desiguais, por meio de choques repetidos. Aplica-se, principalmente, a substâncias duras
e secas, como raízes, cascas, certas sementes e, por vezes, a folhas muito secas, quando se destinem a ser
submetidas à acção de um solvente qualquer. E utilizada, também, para a divisão grosseira dos
produtos químicos que se apresentem sob a forma de cristais com dimensões apreciáveis.
A contusão pode ser efectuada por vários meios,
usando-se, sobretudo nos laboratórios farmacêuticos, um
almofariz, onde a droga é colocada e batida com pan
cadas verticais do pilão, até ficar devidamente fragmen
tada. Quando a substância se apresenta em fragmentos
grandes e duros está indicado proceder à sua contusão
com um martelo. Fig. 70. Esmagador de maxilas
111
A rusuração consiste na divisão dos corpos em pequenas partículas por atrito contra uma
superfície áspera, como uma lima ou um raspador, ou por meios mecânicos diversos. Esta operação
é menos correntemente praticada que as anteriores, estando apenas reservada para o caso de
substâncias de grande dureza, como os metais e a noz--vómica, e para aquelas dotadas de certa
elasticidade, como o sabão, que se aglomera sob a acção das pancadas do pilão.
Nos laboratórios farmacêuticos os instrumentos vulgarmente utilizados para se efectuar esta
operação são limas, de preferência as de dentes grossos, e os raladores de meia cana. Na rasuração
do sabão pode utilizar-se, com bons resultados, uma simples faca, tornando-se mais fácil obter
raspas daquela substância por este processo do que por meio de limas ou raladores, sobre os quais o
sabão tem tendência a aglomerar-se se não estiver bem seco.
É um processo de divisão grosseira apenas reservado para os metais, sendo esta a técnica por
que se preparam as granalhas de estanho, zinco, chumbo, etc. O metal fundido é vertido num
recipiente cujo fundo é constituído por uma rede de malhas mais
112
ou menos apertadas, através das quais passam as gotículas do metal que são recebidas num outro
recipiente contendo água fria. Em contacto com esta o metal solidifica, ficando dividido em
fragmentos de forma granular cujo diâmetro dependerá, como é evidente, da abertura dos orifícios
do vaso donde escoa o melai em fusão.
5.1.3. PULVERIZAÇÃO
do pó que se deseja obter. Estamos, assim, perante uma série de operações dispostas e comportando-
se como elos de uma cadeia, cada uma com a sua acção específica mas concorrendo todas para a
obtenção dos pós, que constituem o objectivo desta longa e, por vezes, complicada série de
manipulações. Deste modo, poderemos dizer que a pulverização se divide em três fases distintas,
representadas pelas operações preliminares, a operação principal e as operações acessórias ou
complementares, cada uma das quais passaremos a considerar com o detalhe que merece.
Constituem um conjunto de operações a que é necessário submeter a droga para torná-la apta
a poder ser reduzida a pó sem qualquer dificuldade. Dum modo geral, uma mesma droga deve ser
sujeita, se não a todas, pelo menos à grande maioria das operações aqui mencionadas. É evidente
que uma pulverização só poderá ser devidamente conduzida por quem tenha um conhecimento
adequado de cada fármaco, pois não é unicamente u sua estrutura física que condiciona o processo a
escolher para a sua redução a pó. A aplicação judiciosa das operações preliminares exige, na
realidade, de quem as pratique, conhecimentos sobre a constituição química das diferentes drogas,
pois só nessas circunstâncias se poderá decidir, por exemplo, qual o processo de secagem mais
aconselhado ou em que casos é conveniente fazer-se a estabilização do material a pulverizar.
Como algumas das operações preliminares que passamos a abordar já foram anteriormente
estudadas, limitar-nos-emos, nesses casos, a enunciá-las, dedicando especial atenção àquelas que,
pela primeira vez, são mencionadas neste livro.
Toda a droga deve ser mondada, destinando-se esta operação, como se disse, a separar as
partes inúteis ou estranhas que a acompanham. Pratica-se por qualquer dos processos descritos na
respectiva secção, tendo em conta a natureza da droga.
5.1.3.1.3. Secagem
É uma das operações preliminares mais importantes, que se torna imperioso executar sempre
que a substância tenha um certo grau de humidade, pois nestas condições ela apresenta-se elástica
e toma-se pouco friável, resistindo, por isso, à desagregação. Como todos os fármacos de origem
biológica contêm uma percentagem considerável de água, segue-se que terão que ser
convenientemente secos antes de submetidos à pulverização propriamente dita, sendo, no entanto,
dispensável esta operação no caso de produtos químicos não higroscópicos.
A secagem das drogas vegetais pode fazer-se por exposição ao ar, em atmosfera seca e
arejada, mas o processo que geralmente se utiliza é a secagem em estufas, a 40-45°C, por tempo
variável. Com certa prática, é fácil reconhecer-se se uma droga está convenientemente exsicada, o
que é indicado pelo modo como ela parte, quando se trata de uma droga de textura compacta, ou
como se desagrega quando esmagada entre os dedos, no caso das folhas.
Deve ter-se em conta, porém, que a secagem por aquecimento a 40-45°C nem sempre pode ser
aplicada, pois existem numerosas drogas que não suportam uma temperatura daquela ordem, a qual
pode originar alterações ou perda de alguns dos seus princípios activos.
Em tais circunstâncias, as drogas serão exsicadas à temperatura de 25°C, também numa
estufa, e no caso de esta temperatura ser ainda excessiva recorre-se a um outro processo, corno a
secagem à temperatura ambiente em exsicadores.
Como exemplos de drogas que devem ser exsicadas por aquecimento a 25°C podemos citar as
seguintes:
a) Drogas contendo essências: Anis, badiana, funcho, alcaravia, sabina, etc., etc.
b) Drogas contendo substâncias alteráveis: rosa vermelha, castóreo, açafrão.
c) Drogas que amolecem a temperatura mais elevada: É o caso do sabão. A secagem deste deve
fazer-sc, inicialmente, à temperatura de 25°C, e só quando estiver quase totalmente seco é que se
acaba a secagem elevando a temperatura até 45°C.
As substâncias contendo resinas, porque amolecem facilmente por acção do calor, constituem
um grupo de fármacos cuja exsicação deve fazer-se, de preferência, em exsicadores. Estão neste caso
a assa-fétida, o eufórbio, a mirra, a goma-guta, a goma--amoníaca e a escamónia.
5.1.3.1.4. Amolecimento
Esta operação só é aplicada quando a substância seja muito compacta ou apresente uma
consistência córnea que a torne resistente aos processos correntes de pulverização. Representam
exemplos clássicos de drogas que devem ser submetidas a esta operação
115
5.1.3.1.5. Estabilização
A estabilização é uma operação que tem por fim manter inalterável a composição química das
drogas vegetais, procurando-se evitar, com a sua aplicação, as transformações de ordem enzimática
a que os fármacos estão sujeitos durante a secagem e, posteriormente, durante a sua armazenagem,
as quais tantas vezes provocam a sua inactivação.
Esse objectivo, como, aliás, é óbvio, só poderá ser plenamenta atingido desde que se proceda à
destruição total dos enzimas responsáveis por essas transformações.
Durante os primeiros séculos da história da civilização o homem dependia, como, aliás, ainda
hoje acontece entre as populações mais primitivas, tanto para a sua alimentação, como para o
tratamento das doenças que o afligiam, dos produtos naturais que o rodeavam. Deste modo, tinha
quase permanentemente à sua disposição as plantas de que necessitava e, por tal motivo, as drogas
eram consumidas, na sua grande maioria, no estado fresco.
À medida, porém, que o mundo conhecido se foi dilatando, muitas drogas começaram a ser
importadas de longínquas regiões, tornando-se necessário secá-las para as preservar e ser possível
conservá-las durante períodos consideráveis. Aconteceu, então, que vários fármacos tidos, durante
séculos, como altamente eficazes, começaram a perder a reputação de que até aí gozavam, uma vez
que a sua actividade diminuía depois de secos.
Este fenómeno, aparentemente sem explicação plausível, só viria a ser devidamente
compreendido e controlado quando se descobriram os enzimas e se determinaram as funções que
eles exercem no metabolismo celular. A vida das células está dependente de um conjunto de reacções
extraordinariamente complexas, umas de natureza anabólica, outras de natur/a catabólica. mas
todas comandadas por sistemas enzimáticos altamente específicos, os quais presidem à formação dos
componente celulares e à sua decomposição. Na célula viva normal os processos anabólicos e
calabouços estão harmoniosamente conjugados mas em certas condições tal equilíbrio pode ser
alterado, com consequências desastrosas para a utilidade das plantas como produtos
medicamentosos.
116
Alguns casos há em que se pode tornar benéfica c mesmo desejável -i acção dos fermentos
sobre certos constituintes da célula vegetal, pois dela resultam outros compostos de alto interesse
terapêutico. É o que acontece, por exemplo, com o amig-dalósido, que se transforma, por acção da
emulsina, em ácido cianídrico e aldeído benzóico. As sementes de mostarda, por sua vez, apenas se
tornam verdadeiramente activas depois de o sinigrósido ter sido desdobrado pela mirosina, ao passo
que a vanilina só aparece nos frutos da baunilha como consequência de um processo fermen-tativo.
É evidente que em casos destes a destruição dos enzimas responsáveis pelas transformações
conducentes à formação dos compostos considerados úteis tornará a droga desprovida de acção
terapêutica. No entanto, esta acção benéfica dos fermentos sobre os constituintes das drogas
vegetais está restrita a um número limitado de casos, acontecendo, em regra, que a actividade
enzimática levada a cabo na planta depois de colhida exerce um efeito nefasto sobre os princípios
activos nela existentes, transformando-os, por meio de hidrólises e oxidações, em compostos por
vezes muito diferentes dos produtos iniciais.
Os processos bioquímicos que têm lugar nos tecidos mantêm-se em actividade mesmo depois de
colhidas as drogas, pois a morte das células dá-se vagarosamente. Nestas condições, as reacções
enzimátieas continuam durante a secagem das plantas, acontecendo, porém, que as células vão
perdendo agora, progressivamente, a faculdade de controlar essas reacções, até aí caracterizadas
por se processarem segundo moldes sabiamente estabelecidos, de que resulta um verdadeiro caos na
actividade bioquímica celular. E assim se iniciam as acções enzimátieas de carácter destrutivo, com
a inac-tivação total ou parcial, durante a secagem, de várias drogas contendo glucósidos por
intervenção das respectivas glucosidades.
Normalmente, o enzima e o composto sobre o qual aquele actua especificamente podem
encontrar-se na mesma célula mas estão localizados em formações diferentes e, portanto, afastados,
ou existe um mecanismo desconhecido que impede a sua intervenção de modo descontrolado. A
secagem da droga, contudo, provoca a desidratação desta, o que determina a ruptura completa do
equilíbrio pre-existente nas diferentes células, podendo registar-se uma plasmólise com retracção do
protoplasma, que se destaca da membrana celular e se contrai em maior ou menor escala conforme
o grau de desidratação sofrida. Estas modificações permitem o contacto dos fermentos com os
respectivos substratos, o que nunca acontece nas células normais, e, assim, aqueles têm a
possibilidade de actuarem livremente enquanto a planta possuir certo grau de humidade, o que
explica a alteração de muitas drogas ocorrida durante a primeira fase da secagem.
Entre as alterações a que os componentes dos vegetais estão sujeitos contam-se os fenómenos
de hidrólise e de oxidação, os primeiros dos quais se devem a enzimas denominados hidrolases,
capazes de actuarem sobre vários substratos.
117
Esta técnica de estabilização representa o processo mais antigo e mais simples de destruição
dos enzimas vegetais e consisle em adicionar a planta fresca, cortada em pequenos fragmentos, ao
álcool fervente contendo carbonato de cálcio, cuja função é a de neutralizar os ácidos existentes no
produto a estabilizar, evitando que estes originem uma possível hidrólise dos glucósidos contidos na
planta.
A operação é realizada aquecendo à ebulição, num recipiente de capacidade apropriada,
álcool de 95", contendo alguns gramas de carbonato de cálcio, adicionando-se a
droga, a pouco e pouco, de modo a não interromper a ebulição.
Terminada a junção da planta, adapta-se ao recipiente, geralmente um balão,
um refrigerante de refluxo, e mantém-se o aquecimento durante 30-40
minutos. Deve usar-se uma quantidade de álcool correspondente a cinco vezes
o peso da droga e terminado o período de aquecimento deixa-se arrefecer,
decanta-se o líquido e repete-se o tratamento, utilizando, desta vez, álcool de
90°.
Este método, idealizado pelo bioquímico BOURQUELOT, enferma do defeito de
originar uma solução alcoólica de certos constituintes da planta fresca e não,
propriamente, uma planta estabilizada, além de que apenas se presta a tratar
pequenas quantidades de planta. Por isso sofreu algumas modificações no
decorrer dos tempos, tendo surgido aparelhos especialmente concebidos para
trabalharem em maior escala, se bem que conducentes sempre à obtenção de
um extracto estabilizado. Um desses aparelhos, já de carácter industrial, é o de
BOURQUELOT--HÉRissEY, o qual é constituído por um alambique aquecido por
um banho de água. Na tampa do alambique existem duas aberturas, estando
uma ligada a uma serpentina e a outra a um tubo mais largo, destinado à
introdução da droga. Este último tubo é hermeticamente fechado na
extremidade por uma tampa fixada
Fig. 72.
Estabilizador
119
por parafusos e tem na parte inferior uma espécie de válvula circular que se pode mover do exterior
por um manipulo que a faz rodar sobre um eixo apoiado, interiormente, às paredes do referido tubo
(Fig. 72).
Colocado o álcool e o carbonato de cálcio no alambique, A, fecha-se a abertura do tubo de
carga, B, e a respectiva válvula, C, aquecendo-se o aparelho até que o álcool entre em ebulição.
Nessa altura, mantendo-se a válvula horizontal, remove-se a tampa do tubo de carga e introduz-se a
droga, cortada em pequenos fragmentos, após o que se toma a fechar o tubo. Feito isto, roda-se a
válvula cautelosamente, para que a droga caia, a pouco e pouco, sobre o álcool ebuliente, sendo
importante que a chegada do produto à caldeira seja regulada de modo a não interromper a
ebulição do álcool. Esgotada a carga, introdu-zem-se no aparelho novas porções de planta,
conscguindo-se por este processo uma
estabilização rápida e sem grande perda
de álcool.
O aparelho de BOURQUELOT-
-HÉRissEY foi aperfeiçoado por WATTIEZ e
STERNON, consistindo a inovação mais
importante da versão destes autores na
possibilidade de fazer-se a concentração Vazio
da alcoolatura, por destilação do álcool,
no próprio estabilizador. O corpo
principal deste aparelho (Fig. 73), ou
seja, a câmara de estabilização, é
constituído por Fig. 73. Estabilizador de WATTIEZ e STERNON
três partes, A, B e C, tendo a parte
inferior, A, um duplo fundo que permite
o aquecimento do aparelho por meio de uma corrente de vapor ou o arrefecimento das alcoo-
laturas fazendo circular nela água fria. O aparelho funciona do seguinte modo:
Faz-se entrar na câmara, por F. com auxílio do vácuo e após tcr-se fechado a válvula //, a
quantidade de álcool julgada necessária. Em seguida restabelece-sc a pressão, fecha-se a válvula
/, que comunica com o refrigerante R' e abre-se H. Aquece-
-se o álcool à ebulição e introduz-se o material a estabilizar através do tubo de carga lateral,
cuja tampa, E, deve ser novamente fechada antes de manobrar a válvula D. Os vapores do álcool
passam através de // para a serpentina /í, onde são condensados, voltando através de G para a
câmara. Terminada a operação, o extracto alcoólico da planta é arrefecido substituindo o vapor
que circulava na dupla parede de A por uma corrente de água fria, fazendo sair o líquido para o
exterior abrindo a torneira M. Depois, repete-se a extracção do material por nova porção de
álcool, após prévia expressão daquele. Querendo concentrar as alcoolaturas obtidas, fecha-se a
válvula H e abre-se /, auxiliando-se a destilação, caso se queira, com o emprego de vácuo.
120
operatórias, para que o álcool se vaporizasse e os respectivos vapores actuassem sobre os enzimas.
Ora, durante este período acontece poder registar-se um certo grau de actividade enzimática, o que,
a dar-se, provoca a decomposição parcial dos constituintes alteráveis pêlos fermentos.
Para que a estabilização possa fazer-se nas devidas condições, torna-se necessário que os
vapores do álcool actuem rapidamente e à temperatura conveniente sobre as drogas, condição que
não é obtida utilizando as autoclaves. A fim de eliminar, tanto quanto possível, este inconveniente, a
casa DFROY construiu um estabilizador baseado no método de PERROT-ÜORIS, o qual está
representado na Fig. 74.
Caldeira Autoclave
Condensador
O aparelho em questão é formado por uma caldeira produtora de vapores de álcool, .4, unia
autoclave de dupla parede, C, e um condensador, E. Para trabalhar com este estabilizador começa-se
por aquecer a autoclave, admitindo vapor de água na dupla parede pela torneira F, deixando
ligeiramente aberta a torneira A".,, a fim de permitir o escoamento da água de condensação. O álcool
é aquecido, por seu turno, na caldeira A, ate que os respectivos vapores atinjam a pressão
conveniente, introduzindo-se, então, rapidamente, a planta, disposta em tabuleiros montados num
carro, no interior da autoclave. Fechada esta, admitem-se nela os vapores de álcool através da
torneira ligada ao tubo G, mantendo-se a pressão na autoclave à roda de l kg.cm~2 e continuando
sempre o aquecimento da dupla parede.
Quando a operação estiver terminada, corta-se a admissão do vapor de álcool e liga-se o
interior da autoclave com o condensador £, para recuperar o álcool utilizado na estabilização. Logo
que a pressão no interior igualar a pressão atmosférica fecha-se a conduta de vapor de água para a
dupla parede, em f, e abre-se completa-mente a torneira K.,, podendo, então, abrir-se o aparelho
para retirar as plantas já estabilizadas.
122
A) Calor seco. Tem sido utilizado desde há muito para a preparação do Chá Verde, sujeito a
uma torrefacção ligeira que lhe conserva aquela coloração, pois este tratamento destrói os fermentos
que promovem a oxidação dos taninos e catequinas, fenómeno responsável pela cor escura do Chá
Preto.
No entanto, a destruição dos enzimas pelo calor seco é uma técnica que exige o emprego de
temperaturas elevadas, havendo processos industriais que utilizam uma corrente de ar aquecido a
30Ü-800(1C, a qual deve actuar sobre o produto a estabilizar durante um curto espaço de tempo,
geralmente de 30 segundos a alguns minutos.
A utilização de temperaturas tão elevadas é motivada pelo facto de os fermentos serem mais
dificilmente dcstruíveis em meio anidro e ainda porque se toma imperioso reduzir ao máximo o
tempo crítico durante o qual os enzimas poderão actuar antes de serem destruídos. No entanto, este
processo, além de poder originar uma crosta impermeável à superfície dos órgãos vegetais de textura
compacta, é susceptível de alterar alguns constituintes das plantas, caramelizando os açúcares e
coagulando as proteínas, além de promover a volátil ização dos óleos essenciais. Como se
depreende, trata-se de uma técnica bastante drástica, susceptível de provocar acentuadas alterações
nos vegetais.
B) Correntes de alta frequência. Além dos métodos acabados de descrever, foi proposto, mais
recenlemente, o emprego de correntes de alta frequência para fazer a estabilização das drogas
vegetais. A técnica em questão foi idealizada por DANIEL-BRUNET e LAURENT, e baseia-se no facto de as
correntes com aquelas características constituírem uma apreciável fonte de calor, capaz de destruir
os enzimas existentes nas plantas. Como os vegetais são corpos semicondutores, poderão ser atra-
vessados pela corrente que à sua passagem provoca no interior das células uma acentuada elevação
de temperatura susceptível de promover a coagulação dos fermentos do suco celular.
Imediatamente após a sua colheita, o material a estabilizar é colocado entre as armaduras de
uma máquina electrostática de alta frequência, tendo um oscilador de uma potência útil de l KW,
sendo submetido, durante alguns segundos, à acção de um campo de alta frequência de milhões de
períodos por segundo. Este processo foi experimentado, com bons resultados, com a farinha de
mostarda e as folhas de Aucuba, tendo-se mostrado bastante eficiente. Todavia, mercê de
dificuldades técnicas de vária ordem, não tem sido utilizado, ale ao presente, na estabilização
industrial de drogas vegetais.
123
Depois de submetida às operações preliminares aconselháveis, a droga está, então, apta a ser
reduzida a pó, utilizando-se, para isso, o processo mais consentâneo com a natureza do material a
pulverizar e a tcnuidade do pó a obter. Vejamos as técnicas de pulverização mais vulgarmente
utilizadas.
É o processo utili/ado para pulverizar a grande maioria das drogas vegetais, como folhas,
raízes, cascas e lenhos, as drogas animais, como as cantáridas, e os produtos químicos que se
apresentem sob a forma de cristais relativamente grandes.
125
Colocada a droga no almofariz em pequenas porções, esta é contundida com o pilão, o qual se
faz descer verticalmente sobre o fundo do almofariz, continuando-se a operação até que a droga
esteja reduzida a pó. Ao proceder à pulverização de uma determinada quantidade de substância é
recomendável não a colocar toda no almofariz, poís se aquela formar uma camada muito espessa no
fundo, o choque do pilão contra este é amortecido e a operação será, por isso, mais demorada.
Muitas substâncias, mercê das suas características físicas especiais, não são pulverizáveis
directamente, tornando-se necessário adicionar-lhes uma substância estranha para facilitar a sua
redução a pó. Tais substâncias são designadas por intermédios, os quais podem ficar
permanentemente misturados com o pó ou serem eliminados terminada a pulverização, que, em
qualquer dos casos, recebe o nome de pulverização por intermédio, podendo este ser um corpo sólido,
líquido ou gasoso,
Podem ser solúveis ou insolúveis. Entre os primeiros figuram o açúcar, o cloreto de sódio e o
sulfato de sódio.
126
Os intermédios deste tipo mais vulgarmente utilizados são o álcool, o éter, a água e o azeite.
Assim, a cânfora é pulverizada num almofariz depois de humedecida com umas gotas de álcool
ou de éter, enquanto o espermacete deve ser adicionado de algumas gotas de azeite.
Na pulverização do fósforo coloca-se este num frasco cheio de água, que se aquece a banho-
maria, até fusão da substância. Deixa-se, então, arrefecer o frasco, agitando-o permanentemente,
para que a água se interponha entre as partículas do fósforo, que assim solidifica sob a forma de pó.
Esta técnica, aplicada apenas a substâncias friáveis e moles, que se aglomeram sob a acção do
pilão, consiste em friccionar o corpo a pulveri/ar sobre um tamis invertido. A substância é, deste
modo, facilmente transformada em pó da tcnuidade desejada o qual é recolhido numa folha de papel
colocada por baixo do tamis. Raros são, porém, os corpos cujas características permitem a sua
pulverização por este processo, limitando--se a sua aplicação à obtenção dos pós de magnésia e de
carbonato de magnésio.
127
A pulverização química, como a sua própria designação indica, está longe de representar um
processo geral de pulverização, constituindo apenas um processo de preparação de certos compostos
obteníveis, em determinadas condições, sob a forma de partículas de dimensões reduzidíssimas,
equivalentes a um pó.
São vários os processos utilizados para esse fim. Assim, por exemplo, podemos intervir nas
condições de cristalização de certos compostos, a qual, normalmente, conduz à formação de cristais
de dimensões apreciáveis, de modo que ela seja perturbada e origine microcristais. Para isso
prepara-se, em geral, uma solução concentrada de uma substância, arrefecendo-a e agitando-a
continuamente até que comece a depositar o sólido.
Por vezes, alguns compostos podem ser obtidos num estado de extrema divisão graças a uma
hidratação. É o caso dos hidróxidos de cálcio e de bário, preparados por hidratação dos respectivos
óxidos.
O fenómeno inverso, ou seja, a desidratação de sais contendo água de cristalização, também
conduz ao mesmo resultado. Na verdade, é possível, por este processo, obter, sob a forma de pó, o
fosfato de sódio e os sulfates de sódio e de cobre. A eflores-cência destes compostos oblénvse
facilmente colocando-os num lugar seco, verificando--se que à medida que se dá a evaporação da
água de cristalização os cristais se vão cobrindo de uma camada de pó. A evaporação pode, em
certos casos, ser apressada, colocando o produto numa estufa, a baixa temperatura, mas este
procedimento está contra-indicado quando se trate de compostos altamente hidratados, como o
sulfato de sódio (10 H20} e o foslado de sódio (12 H.,0), pois acontece que estes sais podem fundir
na sua própria água de cristalização, formando-se, então, uma espécie de crosta que impede a sua
desidratação.
Um processo bastante comum de preparar certas substâncias num estado de grande divisão
recorre a reacções químicas. Assim, o nitrato básico ou subnitrato de bismuto obtém-se por reacção
enlre a água e o respectivo nitrato; o óxido amarelo de mercúrio prepara-se fazendo reagir soluções
de cloreto mercúrico e de hidróxido de sódio; o enxofre precipitado obtém-se fa/endo actuar o ácido
clorídrico sobre uma solução de sulfureto de sódio e o carbonato de cálcio prepara-se por reacção
entre o cloreto de cálcio e o carbonato de sódio.
Como estas reacções se passam em meio aquoso, acontece que os produtos formados, dado o
seu grau de divisão, se apresentam com o aspecto de massas pastosas, que devem ser exsicadas
rapidamente, e, para isso, é necessário dividi-las previamente em pequenos fragmentos ou trocixcos,
operação que abordaremos mais adiante, ao estudar as operações complementares da pulverização.
128
5.1.3.2.5. Porfirização
A pulverização por este processo utiliza-se muito raramente na oficina farmacêutica, se bem
que assuma grande importância na indústria, pois é o processo usado para reduzir a pó grandes
quantidades de substâncias.
Na realidade, pode dizer-se que são pouquíssimas as drogas que se pulverizam com auxílio de
moinhos nos laboratórios oficinais, reservando-se a sua utilização apenas para aquelas drogas
constituídas por tecidos elásticos ou contendo uma proporção elevada de gordura, como é o caso da
cravagem do centeio, que só deve ser pulverizada no momento do emprego, para evitar a sua
alteração.
Existe no mercado uma variedade muito grande de moinhos desde os modelos operados
manualmente aos accionados por motores. Estes últimos são os mais utilizados, oferecendo os
construtores aparelhos de diferentes características, permitindo a pulverização de drogas em
pequena ou grande escala e variando bastante a tenuidade dos produtos por eles fornecidos, desde
um pó grosso até um pó micronizado.
129
Estes aparelhos apenas são utilizados na oficina farmacêutica, podendo usar-se na moedura
da cravagem de cenicio um moinho de café ou de pimenta. Em geral, os moinhos manuais dividem-
se em dois tipos: 1) os que têm superfícies planares de moenda e 2) aqueles em que essas
superfícies são cónicas.
A Fíg, 77 representa um moinho do primeiro tipo, o qual é
consumido por um esmagador helicoidal que força a droga contra o
espaço situado entre as duas rodas sulcadas colocadas na sua
extremidade. A roda com a abertura maior está adaptada ao corpo do
moinho, sendo, por isso, fixa, ao passo que a outra se encontra ligada à
barra helicoidal, movendo-se .solidariamente com esta.
O moinho HANCE pertence ao tipo de superfícies
' • A j XT *. iu i j
j i Fia. 77. Moinho manual
cónicas de moenda. Neste aparelho as rodas do modelo d* superfícies planares
anterior estão substituídas por duas peças cónicas en
caixando uma na outra, sendo uma móvel e outra fixa. As superfícies destas peças que
contactam uma com a outra estão cobertas com dentes dispostos em filas consecutivas
e coincidindo uns com os outros, sendo eles os elementos responsáveis pela pulveriza
ção da substância introduzida no moinho, podendo regular-se a tenuidade do produto
obtido por meio de um parafuso existente na base, que faz afastar ou aproximar a peça
móvel da outra.
O primeiro (Fig, 78) pertence à classe dos moinhos por atrito e é largamente utilizado na
pulverização de raízes, folhas, cascas, etc. Este aparelho é constituído por uma câmara de
pulverização na qual gira uma peça central tendo quatro navalhas que
exercem a sua acção cortante contra outras seis,
montadas nas paredes da câmara. Esta está
circundada por uma rede formando um tamis, de
modo que o material só pode abandonar a câmara de
pulverização quando as suas partículas forem
suficientemente pequenas para atravessarem as
respectivas malhas. Em regra, o aparelho é fornecido
com três redes cujas malhas têm uma abertura de 0,5
mm, l mm e 2 mm, respectivamente, podendo, no
entanto, obterem-se outros tamises,
O moinho de RAYMOND é um aparelho compacto
que se presta à pulverização de quantidades
Fig. 78. Moinho de WILEY variáveis de material, desde algumas dezenas de g,
até alguns kg. Este
moinho é construído segundo o princípio dos
martelos oscilantes, tendo oito destes martelos girando à volta de um disco, o qual é movido por um
eixo accionado pelo motor.
pulverização com fragmentos de outra substância anteriormente pulverizada no mesmo moinho. Além
disso, estas máquinas devem caracterizar-se por grande robustez, simplicidade de operação e
manutenção, exigindo-se-lhes ainda que mantenham uma produção contínua de partículas com
dimensões específicas e de limites bastante apertados. Assim é que os moinhos industriais devem ser
capazes de originarem, em certos casos, produtos cujas partículas passem por tamises cuja abertura
de malha seja de 0,074 mm.
1. Atrito. As máquinas que trabalham segundo este princípio pulverizam uma substância por
fricção entre duas superfícies, sendo especialmente utilizadas no caso de materiais fibrosos.
2. Laminagem. Os aparelhos deste tipo possuem uma peça rolante muito pesada para esmagar
e pulverizar o material. Se bem que, teoricamente, seja o movimento rolante o directamente
responsável pela pulverização, o facto é que a substância também é submetida a um ligeiro atrito
entre o rolo e o fundo do moinho.
3. Impacto. Nos moinhos que exercem a sua acção por impacto existem martelos ou barras
girando a altas velocidades que golpeiam os fragmentos do material a pulverizar, fazendo-os colidir
uns com os outros e com as paredes do aparelho. O impacto provoca a desagregação das partículas
maiores até reduzi-las às dimensões pretendidas. Em certos moinhos especiais, o impacto é
provocado por um jacto de um fluído elástico.
A moagem industrial depende de vários factores que poderemos enumerar como se segue:
abrasão, humidade, inflamabilidade, temperatura, toxicidade e composição química do material a
pulverizar e tamanho das partículas do pó obtido.
100 \L indica que o produto ensaiado não deve ser moído por esse método. Considera--se aceitável,
do ponto de vista económico, a moagem de substâncias que apresentem índices de abrasão iguais ou
inferiores a 20 (i.
2546,4 P = T (WK - 60 V K ) - L
' * m a'
devida à radiação na máquima, expressa em BTU ('), Km o calor específico do material em BTU.
libra'1, grau"1 e K calor específico do ar (0,0183 BTU. pé"3, grau'1).
Composição química — Vários produtos podem reagir com o material de que é feito o moinho.
Assim, o sulfato de cobre penta-hidratado ocasiona um efeito elec-trolítico que leva à corrosão do
ferro do aparelho e os brometos e os iodetos alacam as superfícies de ferro. Por estas razões, usam-
se, com frequência, moinhos cujas partes que contactam com os materiais a pulverizar são de aço
inoxidável.
Moinhos de atrito
Estes moinhos são constituídos por duas superfícies de moenda feitas de pedra ou de aço e
que se movem em sentidos opostos, havendo, porém, alguns deles em que uma das superfícies
permanece imóvel.
Um dos tipos de moinhos deste género largamente utilizado na pulverização de
drogas é constituído por duas mós de pedra siliciosa, muito dura, em que só uma delas,
que tanto pode ser a superior
como a inferior, é móvel,
sendo a outra fixa. Os dois
discos de pedra, dispostos hori
zontalmente, estão montados
muito próximos um do oulro,
podendo o espaço entre eles ser
aumentado ou diminuído, con
forme a tenuidade das par-
_____ _ _
tículas que se pretende obter. v *&
A droga é admitida no moinho .
Fig 79 Mojnho de mós horizontais
através de um orifício situado
no centro do disco superior, sendo fragmentada pelo atrito a que é sujeita mercê do movimento de
um dos discos.
Conforme se vê na Fig. 79, as superfícies das duas mós apresentam sulcos que se estendem
desde a parte central até à periferia, sulcos esses que têm por função permitir
('} Unidade do sistema British Thcrmal, expressa em pé. s^Vgrau Fharenheit. que é
igual a 1,5587. IO4 W.m-"1. K~' (Watt por metro por grau Kelvin. no sistema MKS).
134
que o pó saia para o exterior do moinho graças à força centrífuga e à corrente de ar provocada pela
rotação do disco móvel. Este tipo de moinhos tende a produzir partículas de forma esférica, ao contrário
dos moinhos de impacto, cujos pós sào preferentemente constituídos por aglomerados de partículas
mais irregulares e achatadas.
que as mós, no seu rápido movimento circular, originam uma corrente de ar de baixo para cima, a
qual arrasta consigo as partículas mais leves fazendo com que caiam fora do parapeito. As maiores
e, portanto, as mais pesadas, incapazes de ultrapassarem essa barreira, cairão outra vez sobre a
base do moinho, para serem novamente pulverizadas até se tornarem suficientemente leves para
serem arrastadas para além do parapeito. Este tipo de moinho representa o género de maquinaria
mais utilizada industrialmente na produção de pós muito finos.
Pertencentes a este tipo podemos citar os moinhos de martelos fixos ou móveis, muitos deles
tendo acopulado um sistema gerador de uma corrente de ar, destinada a promover o arrastamento e
facilitar a recolha das partículas resultantes da pulverização do material. Nalgumas máquinas o pó é
tamisado ou separadas as partículas pelo ar em função da sua tenuidade, voltando os fragmentos
maiores à câmara de pulverização, dizendo-se, então, que se trata de um processo de pulverização em
circuito fechado (Fig. 82).
Como moinhos de martelos
oscilantes mais usados na indústria
farmacêutica contam-se o moinho de Ciclone colector
FITZPATRIK, o Micro-Atomizador e o Moinho
Tornado.
Nestes aparelhos (Fig. 83), os
martelos ou discos estão fixados sobre
um eixo por meio de uma cavilha,
sistema que permite a cada um deles
oscilar livremente quando o referido eixo
se move. O conjunto dos martelos está Separador mecânica
encerrado numa câmara que é envolvida por ar
a toda a volta por um tamis (moinho
Retorno do produto
Tornado), o qual pode também existir incompletamente
unicamente na parte inferior da câmara pulverizado ao
(moinho de FITZPATRIK) e que apenas moinho
permite a passagem de partículas de
determinadas dimensões. Conjugando a Produto acabado
velocidade a que o — Moinho
moinho trabalha com a abertura das malhas do tamis, é possível oblerem-se pós de várias tenuidades.
Acontece, porém, que certas substâncias mostram tendência a entupirem a rede dos tamises,
impedindo, assim, a passagem das partículas através deles, observando-se tal
facto sobretudo com as drogas de natureza resinosa, que amolecem devido ao aumento de
temperatura provocado pêlos impactos que sofrem. Este inconveniente pode ser minimizado
adicionando ao material a pulverizar pequenos fragmentos de gelo seco, o qual faz baixar a
temperatura na câmara do moinho e diminui o risco de entupimento do tamis. Por este motivo,
existem moinhos de FITZPATRIK providos de um invólucro que torna possível o arrefecimento da
câmara de pulverização de substâncias resinosas ou contendo óleos essenciais.
O moinho tipo ABBÉ (Fig. 84)
constitui outro exemplo de aparelho que
trabalha por impacto, permitindo a pulve
rização de grande variedade de drogas. A
substância a introdu/ir no moinho é colo
cada na tremonha, donde cai depois, auto
maticamente, por meio de agitação, para
uma segunda tremonha situada sobre a
porta do moinho. O material cai no cen- Fig. 84. Moinho tipo Abbé
137
tro da câmara de pulverização e é lançado contra as paredes desta pela força centrífuga gerada pelo
movimento do rotor. Este tem uma série de pás na periferia, sendo o material fragmentado em virtude
do impacto que sofre contra as referidas pás, girando a grande velocidade, e os dentes montados em
anéis concêntricos na porta e nas paredes da câmara de pulverização.
O rotor está construído para trabalhar a grandes velocidades, sendo possível reduzir uma
substância a pó bastante ténue porque as saliências da câmara c as pás apresentam uma grande
superfície. Quando a porta do moinho está fechada, as saliências da câmara formam com as pás do
rotor um espaço praticamente cerrado, donde o material introduzido só poderá sair quando estiver
reduzido a partículas tão diminutas que possam atravessar os estreitos orifícios criados entre as
superfícies de moenda. Para se obterem pós finos, coloca-se à volta do rotor um tamis conveniente e
como a câmara de pulverização oferece fácil acesso, aberta a porta do moinho, a colocação dos
tamises e a limpeza do aparelho executam-se sem qualquer dificuldade.
Os chamados moinhos de bolas (Fig. 85) são aparelhos em que a pulverização é conseguida
por uma acção combinada de atrito e impacto. A substância é colocada num recipiente, geralmente
cilíndrico, de aço, porcelana ou outra substância dura, contendo no interior várias esferas também
de metal ou porcelana, sendo o recipiente animado de um movimento rotativo em volta do seu eixo
maior. Deste modo, a queda das esferas umas sobre as outras e sobre as paredes do cilindro
provoca a fragmentação do material a pulverizar com um mínimo de perdas.
Estes moinhos têm a vantagem de oferecerem uma grande superfície de moenda em relação ao
limitado espaço que ocupam, sendo, além disso, extremamente fáceis de limpar. No entanto, a sua
duração depende muito da dureza do material de que são feitas as bolas, pois estas, como se
compreende, estão em permanente choque umas
138
com as outras. Tais aparelhos prestam-se bem para a pulverização de substâncias higroscópicas,
extractos e produtos químicos de elevado preço, visto que a perda de
material é mínima. As Fig. 85 e 86 representam um
desles aparelhos, existindo modelos em que se pode montar
Classificador mais do que um cilindro.
A indústria farmacêutica utiliza, actualmente,
Saída para o produto
reduzido a pó e para o várias substâncias medicamentosas sob a forma de
fluido partículas de dimensões reduzidíssimas. É o que
acontece, por exemplo, com os antibióticos administrados sob a
forma de suspensões injectáveis, cujas partículas, neste caso,
devem ter diâmetros médios da ordem de apenas alguns \L,
Ahmentador pois nestas condições o produto será absorvido num ritmo
tal que assegure concentrações sanguíneas realmente activas.
As substâncias que se apresentam num tal estado de divisão
constituem os pós
Fig. 87. Diagrama de um micronizados, os quais só podem ser preparados por
micronizador Üpo Jet-O- técnicas diferentes dos processos convencionais de
Mizer Fluid Energy
pulverização, devendo notar-se, além disso, que a classificação das respectivas partículas
também não pode ser feita recorrendo aos tamises.
Em geral, a preparação dos pós micronizados faz-se em moinhos de tipo especial,
denominados micronizadores, os quais não só promovem a divisão da droga como
efectuam, paralelamente, a sepa
ração e calibração das partículas
obtidas. Estes aparelhos, ao
contrário dos anteriormente des
critos, não possuem quaisquer
partes móveis, sendo a fragmen
tação conseguida submetendo a
substância a correntes de certos
fluidos elásticos animados de alta
velocidade. Os fluidos mais usa
dos são o ar ou um gás inerte, os
quais são comprimidos c introdu
zidos na câmara de pulverização.
Deste modo, a substância a divi
dir fica exposta à acção da cor
rente do gás, sendo arrastada pelo
violento turbilhão originado pelas Fig. 88. Modelo laboratorial de micronizador Jet-O-Mizer
139
mente por uma espécie de forro, facilmente substituível, feito de borracha sintética, de
teflon, de nylon, etc.
Como já atrás frisámos, esta espécie de moinhos é a única que permite obter
partículas cujas dimensões não ultrapassam alguns p, de diâmetro, mas, além disso,
apresenta ainda a importante vantagem de
impedir o aquecimento do material
Partículas grandes Para o colector
nela pulverizado. Na realidade, o
calor gerado pelo impacto dos de
Câmara Partículas reduzidas sólidos uns contra os
de outros é
"imensões
prontamente neutralizado pelo efeito
refrigerante devido à brusca expansão do
fluido na câmara de pulverização. Deste
modo, . .jdas as substâncias alteráveis pelo
Entrada calor, como, por exemplo, antibióticos e
do enzimas, podem ser reduzidas a pós
extremamente finos sem que haja o risco
de perderem actividade devido a uma
subida de temperatura.
Por outro lado, estes aparelhos
Entra distinguem-se por fornecerem partículas
da do
gás — ._.,; ,"4 cujos diâmetros são bastante unifor-
Fig. 90. Micronizador Gem T-X mes, variando apenas dentro
Cam —a de Entrada
de limites relativamente a estreitos, e quando tal facto constitui
uma característica pulverizaçã do gás imprescindível de certos pós, como
acontece com os antibióticos, corticóides e outras substâncias, o emprego dos micronizadores
permite resolver este problema da melhor maneira possível.
5.1.3.3.1. Tamisação
Como a constituição química dos vegetais não é a mesma em todos os tecidos que os formam,
compreende-se que as fracções obtidas nas diversas tam i sacões a que os sujeitamos durante uma
pulverização terão, necessariamente, uma constituição diferente. Impõe-se, por isso, que, acabada a
pulverização, se misturem intimamente os produtos resultantes das sucessivas tamisações praticadas
no decurso da operação, mistura essa que pode ser feita num almofariz ou em aparelhos especiais,
chamados misturadores de pós, a cujo uso se recorre sempre que a quantidade da droga a processar
é elevada. Para assegurar uma perfeita homogeneidade do produto recomenda-se que, após a
mistura, se proceda a uma tamisação final.
Como atrás acentuámos, a pulverização das drogas faz-se, regra geral, sem resíduo, mas em
casos muito especiais pode desprezar-se uma parte da droga e diremos, então, que se faz uma
pulverização com resíduo. Como é lógico, uma pulverização deste último tipo só é realizável se os
princípios activos da droga se localizam, especificamente, em determinados tecidos c estes
apresentam um grau de friabilidade que permite pulverizá-los numa fase separada daquela em que
são pulverizadas as partes consideradas como inertes.
O exemplo clássico e, podemos dizer, quase único, de uma droga cuja pulverização se faz
deixando resíduo c representado pelo caso da ipecacuanha. Acontece que nas raízes desta planta,
que constituem a droga, os seus princípios activos acham-se exclusivamente localizados no
parênquima corlical e no floema. Ora, como estes tecidos estão situados externamente c são bastante
mais moles do que as formações do lenho, serão eles os primeiros a fragmentar-se quando a
ipecacuanha c pulverizada. Assim, ao proceder à pulverização deste fármaco, as partes reduzidas a
pó vão sendo separadas por tamisação, considerando-se terminada a operação quando se tiverem
recolhido três quartos do peso de raiz de que se partiu inicialmente. Este procedimento tem a dupla
vantagem de evitar o penoso trabalho que seria necessário despender para conseguir a pulverização
de uma parte tão dura como é o cilindro central da ipecacuanha, além de que, e isso é mais
importante, obsta a que a parte realmente activa da droga seja diluída por aquela que não contém
princípios de interesse farmacológico.
Como se verá na Farmácia Galénica, existem vários métodos para determinar o tamanho das
partículas que constituem um pó. Tais processos representam técnicas mais ou menos precisas mas,
pela sua natureza e demorada execução, apenas se aplicam ao produto final de uma pulverização
quando haja necessidade de estabelecer, com rigor, as dimensões das partículas constituintes de um
pó.
Por outro lado, acontece que a tamisação é uma operação fácil e rapidamente praticável, não sendo
de estranhar, por isso, que geralmente se recorra a ela para fazer a classificação dos pós. Na
realidade, sendo os tamises constituídos por tecidos cujas malhas obedecem a características bem
estabelecidas, é lógico considerar a abertura da
143
malha como o elemento calibrador das dimensões das partículas que passem através dela.
É evidente que todos os sólidos que atravessem uma rede tamisante possuirão. Teoricamente,
dimensões ligeiramente interiores ao lúmen das malhas do tamis, podendo, para fins práticos,
considerarem-se tais dimensões como sendo iguais. Por vezes, no entanto, as partículas tamisadas
poderão ser sensivelmente menores que a abertura da malha dos tamises utilizados para a sua
calibração, mas o risco de tal acontecer será diminuído ao mínimo pelas sucessivas tamisações que
se devem fazer no decurso de uma pulverização.
Apesar disso, porém, um pó será sempre constituído por um conjunto de partículas
caracterizadas por uma certa irregularidade de tamanho. Se a operação tiver sido devidamente
executada, sem dúvida que a maioria dos elementos que constituem o pó apresentará dimensões
correspondentes ao lúmen das malhas do tamis utilizado na sua preparação, os quais, todavia, serão
sempre acompanhados de uma certa proporção de elementos de menores dimensões.
É por esta razão que um pó só ficará convenientemente definido, no que diz respeito à sua
tenuidade, se se fixar a percentagem máxima de partículas de menores dimensões que poderá conter.
Quer isto dizer que a classificação de um pó, para ser estabelecida com certo rigor, deverá ser feita
em referência a dois tamises e não apenas a um. Assim, um determinado pó deverá passar
integralmente através do tamis que nominalmente lhe corresponde, e, quando submetido à tamisação
por um tamis de malhas mais apertadas, não deverá originar mais de 40% de tamisado, que
corresponderá, evidentemente, à quantidade máxima permitida de fragmentos de menor diâmetro.
Este critério é hoje seguido pelas principais farmacopeias e dado que, na realidade, é o único
que permite uma classificação consistente e precisa dos pós, foi adoptado igualmente no projecto da
monografia sobre Pós do Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV e também como um dos métodos
de classificação usados pela Farmacopeia Portuguesa V.
Os pós micronizadofí constituem uma classe à parte, só podendo ser obtidos recorrendo a
meios especiais, como os micronizadores, a que já atrás fizemos referência. O diâmetro médio das
suas partículas pode, em muitos casos, não exceder uma dezena de u,, e porque não existem tamises
cuja abertura de malha se aproxime dessas dimensões, as suas partículas apenas são mensuráveis
recorrendo a técnicas próprias, que serão estudadas na Farmácia Galénica, no capítulo referente aos
Pós.
é conduzido terá, necessariamente, influência nos resultados, achamos conveniente indicar a técnica
preconizada pela U.S.P. XXII, a qual, pelo facto de estar padronizada, oferece a vantagem de
conduzir a resultados comparáveis e reproduzíveis.
Assim, a referida farmacopeia recomenda que se utilizem tamises padronizados e cobertos,
fazendo-se o ensaio, no caso de pós grosseiros ou medianamente grosseiros, partindo de uma
quantidade de pó compreendida entre 25 e 100 g, procedendo-se à tamisação agitando o tamis com
movimentos rotativos horizontais, e verticalmente batendo-o levemente sobre uma superfície
compacta, como o tampo de uma mesa. A
tamisação deve fazer-se durante, pelo menos, 20 minutos, ou até que não
passe mais pó através do tamis. Terminada esta, pesa-se rigorosamente a
fracção retida no tamis e a que o atravessou e foi recolhida no recipiente
inferior.
No caso dos pós finos ou muito finos, o ensaio será praticado como
anteriormente, mas a tamisação deverá prolongar-se, no mínimo, durante
30 minutos e a quantidade de pó não deve exceder 25 g. Além disso,
tratando-se de pós com carácter oleoso ou outros que apresentem
tendência para tapar as abenuras do tamis, deve escovar-se a rede
Fig. 91. Conjunto
de tamises tamisante a intervalos regulares, assim como devem desfazer-se os agregados
padronizados formados durante a operação. Porém, em caso algum se procederá de modo a
aumentar a tenuidade do pó.
Este ensaio da determinação do grau de tenuidade pode fazer-se mecanicamente, utilizando-se,
para isso, tamises padronizados montados num agitador que produza os movimentos horizontais e
verticais da agitação manual atrás descrita, devendo-se, em tal caso, observar as instruções
fornecidas pela casa construtora do aparelho (Fig. 91). A título de exemplo, na Tabela X indicamos
as características que deviam apresentar os pós descritos na respectiva monografia publicada no
Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV. Segundo o critério seguido pela U. S. P., os limites
indicados não deverão ser excedidos em mais de 0,2%.
A trociscação é uma operação que tem por fim dividir em pequenos fragmentos
o aglomerado resultante de uma porfirização por via húmida, u fim de facilitar e tornar
mats rápida a secagem do produto pulverizado. Aplica-se, do mesmo modo, às massas
pastosas resultantes de uma pulverização por v i a
química, praticando-se por meio de um instrumento
designado trociscador, representado na Fig. 92. Este é
constituído por uma espécie de palmatória, apresentan
do na parte mais larga um orifício onde encaixa um
funil que deve ter uma base muilo curta e um tanto
larga. Colocado o produto no referido funil, bate-se
ligeiramente corn o pé fixado na face inferior da pai- Fig 92. Trociscador
maioria sobre uma folha de papel de filtro estendida
numa mesa, provocando cada impacto a queda de um pequeno cone ou Irocisco sobre o papel.
Dividida a totalidade da massa em pequenos trociscos, colocam-se estes numa estufa, até completa
cxsicação, após o que deverão ser reduzidos a pó por trituração num almofariz.
A divisão destas substâncias faz-se por meio de uma operação denominada polpa-ção, que se
aplica exclusivamente a produtos vegetais frescos c carnudos, com o f i m de os transformar numa
pasta mole, que se separa das partes fibrosas e duras.
A polpação origina uma forma farmacêutica designada por polpa, hoje quase caída em desuso,
representada na Farmacopeia Portuguesa IV pela polpa de tamarindos.
A polpação propriamente dita deve ser precedida de um tralamento prévio da droga, de modo a
transformá-la numa pasta. Se a substância apresentar uma textura suficientemente mole procede-se
ao seu esmagamento por epistação, ou seja, comprimindo-a, num almofariz, com o pilão, imprimindo
a este um movimento dirigido da periferia para o centro. Transformada a droga numa massa,
coloca-se esta sobre um tamis invertido, de crina, de malhas relativamente largas, comprimindo-a,
então, com uma espátula especial denominada polpadw, que a obriga a atravessar o tamis, reco-
lhendo-se o produto tamisado num recipiente colocado por baixo. Assim, as partes moles e carnudas
do vegetal, sob a forma de uma pasta mais ou menos consistente, serão poipadas e formarão uma
polpa, ficando retidas pelo tamis Iodas as formações fibrosas e duras, as quais serão rejeitadas.
Acontece que, em ccrlos casos, a substância não se apresenta branda para ser polpada e,
então, terá que ser amolecida por maceração ou digestão em água quente,
146
BIBLIOGRAFIA
BENTLEVS Textbook of Pharmaceuncs, pág. 234, London, Baillière, Tindall and Cox, 1977. CASARIO,
S., Tecnologia Farmacêutica, pág. 69, Istiluio Ediloriale Cisalpino, Milano-Varcse, 1960. GORJS, A.;
LIOT A., JANOT, M. M. e GORIS, A., Pharmacie Galénique, Tomo I, pág. 244, Masson et Cie,
Éditcurs, Paris, 1949. JONES, J. W., Physic.al and Chemical subdivision of drugs, Cap. 5, apud
American Pharmaty, 5." Edição,
J. B. Lippincott Company, Philadelphia, 1960. RIPPIE, E, G., Powders, cap. 88, in REMINGTON~S
Pharmaceutical Sciences, pág. 1535, 16." Edição, Mack
Publishing Company, Easton, U.S.A., 1980. RIPPIE, E. G., Powders, cap. 89, in REMÏNGTOKTS
Pharmaceutical Sciences, pág. 1585, 17.a Edição, 1985.
147
5.3.1. GENERALIDADES
tindo a formulação racional de pomadas de carácter não gorduroso, havendo, por outro lado, factos
demonstrativos de que a forma emulsão pode aumentar a actividade de certos agentes terapêuticos
quando estes constituem a fase dispersa, o que não é de causar estranheza se pensarmos no
extraordinário aumento de superfície a que tais substâncias ficam sujeitas depois de
convenientemente emulsionadas.
Acresce ainda o facto de as emulsões terem alio potencial termodinâmico e, portanto, cederem
com facilidade fármacos para locais do organismo onde eles possam formar sistemas de baixo
potencial, ou seja, termodinamicamente mais estáveis. A seu tempo este problema será devidamente
encarado.
Se bem que, por vezes, se faça uma distinção entre emulsões naturais e artificiais, tal divisão
parece-nos destituída de qualquer importância, pois, hoje em dia, a quase totalidade das emulsões de
interesse farmacêutico pertence à segunda categoria.
Em qualquer dos casos, porém, só haverá emulsão quando um líquido estiver dividido em
pequeníssimos glóbulos no seio de um outro. Teremos, assim, que a fase que se apresenta dividida
constitui a fase interna, dispersa ou descontínua, ao passo que o líquido que rodeia as gotículas da
fase dispersa recebe o nome de fase externa,
dispersante ou contínua (Fig. 93). Além disso, em quase todas as
emulsões figura um terceiro componente, denominado agente
emulsivo, o qual nncorre para tomar a emulsão mais estável, pois
inteipõe-se entre as fases dispersa e dispersante, retardando, assim,
a sua separação, e que constitui a interfase.
Como os dois componentes básicos de uma emulsão são a
água e um óleo ou uma substância lipos-solúvel, poderemos
classificar as emulsões em dois tipos distintos, de acordo com a
natureza da respectiva fase dispersa. Assim, se o óleo constitui a
fase dispersa estaremos perante uma emulsão óleo/água (O/A),
sendo
Fig. 93 Emulsão, representando a cmu|são do üpo
l
água/ó eo (A /O) SC se verificar O
r
os círculos a fase dispersa e a parte .
tracejada a fase dispersante inverso.
Dado que existem dois tipos de emulsões, levanta-se muitas vezes na prática o problema de
determinar se uma preparação é do tipo O/A ou A/O, para o que se pode recorrer a vários processos
os quais passamos a descrever.
149
Ensaio de diluição
Um dos ensaios mais simples que se pode executar para determinar o tipo a que pertence uma
emulsão consiste em misturar um pequeno volume desta com igual volume de água. Se a mistura se
mantiver inaJterada, isto é, desde que não haja separação das fases, conclui-se que estamos em
presença de uma emulsão O/A. Do mesmo modo, se a diluição de uma emulsão com óleo permanecer
estável, isso significa que ela c do tipo A/O. Este ensaio pode ser feito num tubo ou numa lâmina de
vidro, diluindo-se, neste caso, uma gota da preparação com uma ou duas golas de água ou de óleo e
observando o resultado de tal mistura ao microscópio. Desde que o líquido adicionado à emulsão
corresponda à sua fase externa, haverá apenas um efeito de diluição, não se registando, por isso,
separação das fases. Para maior segurança, é recomendável que a emulsão a ensaiar seja sempre
diluída com água e com óleo.
Em face do que acabámos de dizer, é evidente que se pode enunciar a seguinte regra: Sempre
que se adicione um determinado líquido a uma emulsão e esta continue a manter-se estável, o líquido
adicionado corresponde à sua fase externa.
Tal ensaio permite a identificação do tipo a que pertence uma emulsão pela diferente
distribuição de um determinado corante pelas duas fases que a constituem. Assim, se misturarmos um
corante hidrossolúvel corn uma emulsão e esta corar uniformemente, é evidente que a fase contínua
será, neste caso, representada pela água, e a emulsão pertencerá ao tipo O/A. Do mesmo modo, um
corante lipossolúvel que origine uma coloração uniforme indica que a preparação será do tipo A/O.
Se este último corante apenas tingir pequenos glóbulos dispersos num fundo não corado, isso
significa, evidentemente, que a emulsão é do tipo O/A; por outro lado, se for esse o resultado do
ensaio com um corante hidrossolúvel a emulsão é do tipo A/O.
Estes ensaios praticam-se misturando, numa lâmina de vidro, uma pequena porção de emulsão
com a solução do corante, observando-se, seguidamente, o aspecto que tal mistura apresenta ao
microscópio. Como no ensaio anterior, para maior segurança, a mesma emulsão deve ser misturada
com um corante hidrossolúvel e outro lipossolúvel, devendo, como é óbvio, coincidir o resultado dos
dois ensaios.
Como os óleos são maus condutores da corrente eléctrica, esta só poderá atravessar uma
emulsão quando a água representar a sua fase contínua. De acordo com isto, se tivermos um circuito
eléctrico no qual esteja intercalada uma lâmpada e mergulharmos
150
as duas extremidades do referido circuito na emulsão a ensaiar, a lâmpada acenderá caso a emulsão
seja do tipo O/A, mantendo-se apagada se for do tipo A/O. Por vezes, a adição de uma pequena
quantidade de um electrólito, como o cloreto de sódio, às emulsões O/A aumenta a intensidade do
fenómeno se ela tiver sido preparada com agentes emulsivos não iónicos.
Pode dizer-se que estes são os ensaios mais facilmente praticáveis e os que se usam
rotineiramente na determinação do tipo de uma emulsão. Outros, porem, têm sido propostos, mas ou
são de execução mais complicada ou as suas indicações são mais falíveis do que as fornecidas pêlos
métodos anteriormente descritos. Estão neste caso, por exemplo, as técnicas baseadas nas diferenças
de viscosidade e de tensão superficial das emulsões O/A e A/O. Outro processo de determinação do
tipo de uma emulsão fundamenta-se no facto de certos óleos se tornarem fluorescentes sob a acção
da luz ultravioleta, de modo que uma emulsão que apresente fluorescência uniformemente
distribuída, quando examinada à luz de WOOD, deverá, logicamente, ser do tipo A/O.
Salvo casos especiais de emulsificação espontânea, fenómeno pela primeira vê/ descrito por
GAD em 1878, a mistura íntima de dois líquidos imiscíveis não é facilmente conseguida, pois há
determinados factores que se opõem à dispersão de um deles, representando a fase interna, no outro,
constituindo a fase externa.
Na realidade, a emulsificação consiste, essencialmente, em dividir uma das fases de um sistema
hcicrogéneo em pequenos glóbulos, de que resulta um aumento por vezes extraordinário da
respectiva superfície, mas tal objectivo é contrariado pela tensão superficial que os líquidos possuem.
Esta, como é do conhecimento geral, representa a tendência que um liquido tem para reduzir a sua
área de superfície a um mínimo de energia potencial. Deste modo, se quisermos aumentar a
superfície de um líquido qualquer teremos que despender uma certa energia, sob a forma de trabalho,
para vencer a atracção que a massa do mesmo líquido exerce sobre as suas moléculas situadas à
periferia.
Se por exemplo, dispersarmos l ml de óleo em glóbulos tendo 0,01 \í (K)"6 cm) de diâmetro em l
ml de água, obteremos uma emulsão em que a superfície da fase dispersa é aumentada de modo
extraordinário. Com efeito, sendo a área das partículas
dispersas dada pela expressão S = ——, em que í/.( representa o diâmetro das
dn
partículas, em cm, teremos:
Para que tal grau de dispersão possa ser atingido, torna-se, porém, necessário despender
uma certa energia calculável pela fórmula
emulsões farmacêuticas contêm uma proporção muito maior de fase dispersa, teremos que recorrer
ao uso de substâncias dotadas de determinadas características, chamadas agentes emulsivos ou
emulgentes, para as prepararmos.
Podemos afirmar, por conseguinte, que os emulgentes se utilizam com a dupla finalidade de
modificarem a tensão interfasial dos líquidos a emulsionar, facilitando, desse modo, a formação do
pretendido sistema disperso, além de promoverem a sua estabilização. Compreende-se, portanto, que tais
substâncias sejam imprescindíveis na preparação de emulsões duradouras e com bom aspecto, sendo
ainda de salientar que são elas que, na grande maioria dos casos, determinam o tipo da emulsão
formada.
Considerando que uma emulsão é constituída por uma fase aquosa e outra oleosa, se
adicionarmos um determinado composto a um sislcma desta natureza, três hipóteses se poderão
formular quanto à sua distribuição nas referidas fases: Dissolução total na parte aquosa, se a
substância for hidrossolúvel; dissolução na camada oleosa, se for lipossolúvel, ou distribuição pelas
duas fases, se o composto tiver uma constituição química tal que uma parte da molécula seja solúvel
na água e a outra solúvel nos óleos.
GIBBS estudou este fenómeno da absorção de uma substância em presença de duas fases e
estabeleceu o conceito de que as moléculas dissolvidas numa ou nas duas fases podiam emigrar para
a superfície ou interfase e criou o termo excesso de superfície. F, para designar a diferença de
concentrações de uma determinada espécie molecular no interior e à superfície de uma dada fase.
Admitindo que um certo composto apenas está dissolvido numa das fases e que, além disso, se
trata de uma solução diluída, o excesso de superfície pode ser relacionado com a concentração e a
tensão superficial do seguinte modo:
r=
-C V dC
Esta expressão, conhecida por equação de adsorção de GIBBS, indica que à medida que a
concentração varia no interior da fase, varia, concomitantemente, F. No entanto, nem sempre haverá
excesso de substância dissolvida na interfase, pois isso apenas se verifica quando o valor de F for
positivo, como acontece no caso de a substância baixar a tensão superficial. Quando, porém, o
composto aumenta a tensão superficial, F é negativo, e, nesta eventualidade, a concentração da
substância será maior no interior do que à superfície da fase.
Daqui se infere que só os compostos capazes de baixarem a tensão superficial poderão
originar um excesso de superfície ou, por outras palavras, concentrarem-sc à superfície de um
líquido ou distribuírem-se na interfase de dois líquidos imiscíveis. Este fenómeno de migração traduz
as três possibilidades de distribuição de um corpo quando adicionado a um sistema água-óleo e
depende de certas características ffsico-químicas por ele apresentadas, as quais são determinadas,
em última análise, pela sua estrutura química.
154
Para melhor compreensão do que se passa quanto à distribuição de uma substância num
sistema ãgua-óleo suponhamos que esta é constituída por uma parte hidrófila, representada por um
círculo, e por uma parte lipófila, representada por um rectângulo, conforme está esquematicamente
indicado na Fig. 94, No caso das moléculas do grupo A, o esquema mostra que a sua parte lipófila é
a predominanle c, portanto, o composto dissolver-se-á integralmente na fase oleosa. Por outro lado,
as moléculas do grupo B apresentam uma constituição equilibrada, pois as suas metades polar e não
polar são
aproximadamente iguais, motivo por que elas se dis-põem na
interfase, ficando a parte polar orientada para a água e a pane
não polar dirigida para o óleo. Finalmente, as moléculas do
grupo C têm uma constituição nitidamente polar, dissolvendo-se,
por conseguinte, na fase aquosa.
Acontece que os compostos polares aumentam a
Fig. 94. Distribuição de três tipos tensão superficial
dos líquidos e os compostos predo-
de moléculas num sistema óleo-água. , , -. ,
Aimoléculascomgruponâopolarmais minantemente não polares, como os ácidos
gordos,
forte; B: moléculascom grupos polares diminuem-na de modo pouco
acentuado. Mas, quer
e não polares de igual forga: C: mole- nu QUl
devido à &ua constituição quírmca,
cuias com um forte grupo polar i
-i
dissolvem-se totalmente numa ou noutra fase da emulsão, não
sendo capa/es de se concentrarem na interfase. Só os compostos cuja molécula seja constituída por
uma parle hidrófila e outra lipófila equilibradas se distribuem na interfase, sucedendo que, além
disso, apresentam a propriedade de actuarem sobre a tensão superficial dos líquidos, diminuindo-a
de modo apreciável. São estes, precisamente, os que constituem os agentes emulsivos primários e
caracterizam-se, como acabamos de dizer, por serem tênsio-activos e originarem uma película
disposta entre as duas fases que formam uma emulsão.
Na prática, os agentes emulsivos mais utili/.ados apresentam as duas propriedades acima
referidas, mas acontece que a sua hidrossolubilidade e lipossolubilidade nunca são precisamente
iguais. Elas devem ser, evidentemente, equilibradas, pois só deste modo é possível que se concenlrem
na interfase., mas em cada molécula há sempre um ligeiro predomínio da parte polar sobre a não
polar ou vice-versa. No primeiro caso, é intuitivo que uma parte maior da molécula se dissolve na
água, acontecendo que o composto será mais solúvel na fase oleosa quando seja a parte não polar a
predominante.
Este facto está, aliás, directamente ligado com o tipo de emulsão que um determinado agente
emulsivo origina. Na realidade, se o emulgente é predominantemente hidrófilo conduz à obtenção de
uma emulsão do tipo O/A, acontecendo que a emulsão por ele originada é do tipo A/O quando possui
características lipófilas. Esta relação entre a solubilidade preferencial de um agente emulsivo e o
tipo de emulsão a que ele
155
conduz foi estabelecida por BANCROFT, que enunciou o postulado seguinte: Aquela fase em que o
agente emulsivo for mais solúvel constituirá a fase contínua ou externa da emulsão.
Este postulado representa a primeira tentativa para explicar como um determinado agente
emulsivo origina um certo tipo de emulsão. Outros autores, como HARKINS, admitem que o tipo de
emulsão depende da fase que é curvada pelo agente emulsivo, a qual passará a representar a fase
externa. Esta teoria é classicamente aplicada ao caso dos Óleo
sabões como agentes emulsivos, representando-se na Fig. 95 Cadeia
hidrocarfaoruda
como é que os sabões de um metal monova-lenle e bivalentc
'ff
se comportam na prática. No fundo tudo depende da
configuração geométrica do composto em causa, bastando o
simples exame da Fig. 95 para se compreender como é que um
Água
sabão de sódio provoca o envolvimento do óleo pela
água. Neste caso, como a área da parte hidrófila do
composto é maior que a da parte lipófila, as moléculas,
orientando-se conforme está indicado no diagrama,
necessariamente que obrigarão a fase aquosa a curvar-se,
acabando por envolver o óleo. Tratando-se de Cadeia
hi-
uni sabão de zinco, este possui dois radicais lipófilos para drocarbon
ada
um elemento hidrófilo, tendo, evidentemente, uma maior Fig. 95. Orientação das moléculas de sabão
área da parte lipófila, o que provocará a curvatura da fase num sistema água-óleo. A: Formação de
uma emulsão A/O à custa de um sabão de
oleosa sobre a água.
A teoria de HARKINS tem sido, todavia, contestada por vários autores, os quais põem em
dúvida que as moléculas de sabão possam exercer uma influência nítida na curvatura da interfase,
até porque elas são acentuadamente menores do que os glóbulos da fase dispersa de uma emulsão.
Mais recentemente, pretendeu-se relacionar o tipo de emulsão com a coalescência da
respectiva fase dispersa. Assim, DAVIES detende que ao preparar-se uma emulsão se formam,
simultaneamente, emulsões O/A e A/O e que o tipo final que subsiste depende, directamente, da
velocidade de coalescência das partículas nas duas emulsões iniciais e simultaneamente formadas.
Desle modo, se a emulsão O/A coalescer mais rapidamente que a emulsão A/O, a preparação final
pertencerá a este último tipo, e inversamente, se se der o contrário. DAVIES mostrou, por outro lado,
existir uma relação teórica entre a cinética da coalescência e a regra de BANCROFT e o equilíbrio
hidrófilo-lipófilo, e a sua teoria c considerada por muitos como bastante plausível.
Se bem que o agente emulsivo tenha uma influência dominante sobre o tipo da emulsão, não se deve
esquecer que na prática é necessário ter em
156
As considerações feitas no parágrafo anterior tiveram como finalidade chamar a atenção para
as características que um agente emulsivo deve possuir. Como então vimos, só os compostos em cuja
molécula existam grupos hidrófilos e lipófïlos poderão ser adsorvidos à superfície das duas fases
que constituem uma emulsão e, assim originarem a película interfasial, tão importante para a
estabilidade destes sistemas dispersos.
Lembramos que a hidrofilia e lipofilia desses compostos terão que ser convenientemente
equilibradas, pois, de outro modo, eles serão totalmente absorvidos no interior de uma das fases. Na
prática, porem, nunca se obtêm compostos em que a parte hidrófila e lipófila das respectivas
moléculas se contrabalaçam perfeitamente, motivo por que uma substância será sempre mais solúvel
na fase aquosa ou na fase oleosa. Uma vez, porém, que essa diferença de solubilidade nas duas fases
não seja demasiadamente acentuada, a substância nunca será inteiramente adsorvida no interior de
uma delas c originará, por conseguinte, uma película disposta na interfase.
Se bem que a formação deste filme tivesse sido relacionada, desde há bastantes anos, com a
existência de grupos polares e apoiares numa determinada molécula, a verdade é que só em 1948
GRIFFIN introduziu a noção de Equilíbrio Hidrófilo-Lipófilo. abreviadamente designado por E.H.L.,
estabelecendo assim, e pela primeira vez, um sistema para classificar, numericamente, um composto
determinado segundo as suas características de hidrofilia e lipofilia.
Este conceito de E.H.L. preconizado por GRIFFIN baseia-se, como aliás já era anteriormente
admitido, no reconhecimento de que todas as substâncias tênsio-activas são constituídas por uma
parte hidrossolúvel e oulra lipossolúvel, dependendo a sua solubilidade final da proporção em que
elas estão associadas numa mesma molécula.
A originalidade do sistema de GRIFFIN reside, contudo, em traduzir as propriedades hidrófilas e
lipótllas em termos de uma escala numérica, segundo a qual são atribuídos às substâncias (ênsio-
activas valores de E.H.L. que vão de l a 50, aumentando estes à medida que a substância se torna
mais hidrófila.
Deste modo, a noção um tanto vaga que anteriormente andava associada à hidro ou
lipossolubilidade de um determinado composto passou a ser substituída por um critério mais
objectivo e preciso, no qual cada produto c assinalado por um número que automaticamente o inclui
num grupo especial, cujas aplicações práticas figuram na própria escala de GRIFFIN.
157
De facto, conforme se pode ver na referida escala, reproduzida na Fig. 96, as substâncias
de E.H.L. muito baixo, portanto acentuadamente lipófllas, são agentes anti--espuma. Aquelas cujo
valor de E.H.L. vai de 3 a 9, possuindo ainda características de lipofilia, constituem os agentes
emulsivos A/O, mas a partir de 8 os tênsio-activos começam a apresentar propriedades
hidrófilas, as quais se acentuam com a subida do respectivo valor de E.H.L.
Assim, o grupo de substâncias cujo E.H.L. vai desde 8 a 16
engloba os agentes emulsivos O/A, situando-se os agentes
solubilizantes na zona compreendida entre 16 e 18. Estes últimos utilizam-se
para obter dispersões muito perfeitas de óleos e essências em água c, 15
desde que se empregue uma grande quantidade de fase dispersante, em relação à Detergent
fase dispersa, o produto obtido comporta-sc como uma pseudo-solução. es
Apesar de os limites de valores de E.H.L. que na escala de 12 —
GRIFFIN definem as emulsões A/O e O/A serem um tanto dilatados, Agentes
acontece que cada emulsão em particular tem um valor de E.H.L. que se pode emulsiv
considerar específico para cada caso. Esle valor dependerá do óleo ou
9-
Agentes
óleos presentes, das respectivas proporções, c, ainda, da circunstância de o óleo
malhant
constituir a fase interna ou externa da emulsão, e representa, para cada fórmula, es
o valor de E.H.L. correspondente ao seu óptimo de estabilidade.
Uma vez que são conhecidos os valores de E.H.L. de vários óleos e de muitos Agentes
emulsiv
agcnles emulsivos e existem métodos para a sua determinação quando não os os
conheçamos, a preparação das emulsões deixou de ter o carácter
empírico de que se revestia até alguns anos atrás, passando, actualmente, a ser
Agentes
feita em bases racionais e bastante precisas. anti-
Na realidade, a escolha do agente emulsivo mais apropriado para o
cada emulsão fazia-se, antigamente, por tentativas, não havendo outro Fig. 96. Escala de Griffin
caminho a seguir que não fosse o de experimentar, sucessivamente, várias
substâncias, até se encontrar
uma que conduzisse aos resultados desejados. Actualmente, porém, graças ao sistema
desenvolvido por GRIFFIN, a selecção do agente emulsivo mais adequado para cada fórmula de
emulsão tornou-se mais simples e racional, obedecendo a considerações de ordem teórica.
Assim, estabelecida a premissa de que cada emulsão tem um valor de E.H.L. que lhe é
próprio e que corresponde, simultaneamente, ao seu máximo de estabilidade, o problema
resume-se cm determinar esse valor e utilizar, na sua preparação, um agente emulsivo cujo
E.H.L. se situe o mais próximo possível do da emulsão a preparar.
158
Muitas vezes, contudo, o cmulgente é constituído por uma mistura de duas ou mais
substâncias, não raro acontecendo que uma seja um agente emulsivo O/A e outra um agente
emulsivo A/O. Sc bem que tal facto possa ser tido. à primeira vista, como um absurdo, a verdade é
que esle procedimento se explica perfeitamente do ponto de vista teórico e se justifica pêlos
resultados práticos a que conduz. Na realidade, acontece que os valores de E.H.L. são aditivos e,
por isso, se associarmos o S pá n 80, que é lipófilo (E.H.L.=4,3}, com o Twcen 80, que c hidrófilo
(E.//.L.= 15). tal mistura pode originar uma emulsão O/A ou A/O, dependendo o tipo da emulsão
apenas da proporção relativa daqueles dois agentes emulsivos que nelas figurem.
O emprego de misturas de emulgentes será pormenorizadamente considerado ao tratarmos da
forma farmacêutica Emulsão na Farmácia Galénica. e então se verá como é possível combinar dois
agentes emulsivos, de modo a conseguir-se um determinado valor de E.H.L. para assim obtermos
uma preparação com o máximo de estabilidade.
Limitamo-nos, por agora, a citar o facto e explicá-lo do ponto de vista teórico, acrescentando
que do uso desta prática resultam emulsões muito mais estáveis, pois tais misturas de emulgentes
actuam de uma maneira complexa, podendo exercer uma ou várias das seguintes acções: originar um
equilíbrio hidrófilo-lipófilo mais perfeito; estabelecer uma película interfasial mais estável; dar à
emulsão uma consistência mais conveniente.
O uso simultâneo de emulgentes de tipo oposto tem sido estudado por alguns investigadores,
como. por exemplo, por SCHULMAN e COCKBAIN, os quais admitem que as vantagens resultantes de certas
associações derivam da circunstância de alguns agentes emulsivos serem capazes de formar entre si
complexos interfasiais à superfície dos glóbulos dispersos. Segundo aqueles autores, esses
complexos provocam a formação e contribuem para a estabilização de uma emulsão porque
diminuem a tensão superficial mais acenluadamcnte do que quando se emprega um só agente
emulsivo, além de originarem uma película compacta, mas flexível, na interfase.
Deve ter-se em consideração que nem todos os emulgentes possuem a capacidade de se
complexarem e originarem uma película espessa na interfase de uma emulsão. Assim, o oleato de
sódio c o colesterol, apesar de serem agentes emulsivos de tipo contrário, podem dar origem a tal
complexo, o mesmo acontecendo com a mistura colesterol e sulfato de cetilo e sódio, tornando-se
possível, com o emprego destas combinações, a obtenção de boas emulsões O/A. Já o mesmo não
acontece, porém, com as combinações sulfato de celilo e sódio-álcool oleico e álcool celílico-oleato
de sódio, porque, segundo SCHLLMAN e COCKBAIN, a primeira não origina uma película compacta na
interfase c a segunda, apesar de a formar, apresenta apenas um fraco grau de complexação entre os
seus componentes.
Por seu turno, SFRRAI.ACH, JU.NBS e OWEN. trabalhando com emulgentes diferentes dos utilizados por
SCHULMAN e COCKBAIN, propuseram outra hipótese para explicar o notável poder emulgente de uma
mistura constituída por goma adraganta, goma arábica
159
e gelose. Segundo eles, cada um dos componentes que formam este emulgcnte exerce uma acção
específica, do somatório das quais resultariam as suas boas propriedades emulsivas, devendo-se à
goma arábica uma rápida formação da película interfasial, cuja espessura seria reforçada pela
goma adraganta, contribuindo a gelose para aumentar a consistência da emulsão.
Demonstrada a vantagem da utilização de uma mistura de emulgentes na preparação das
emulsões, deve ter-se em conta, porém, que alguns agentes emulsivos são incompatíveis e não podem
ser associados na mesma fórmula. Pelas razões atrás expostas, é um facto que a combinação de
agentes lipófilos e hidrófilos que, separadamente, conduzem a tipos opostos de emulsão, é
perfeitamente justificável e não resulta em qualquer incompatibilidade, pois o objectivo de tal
associação obedece à obtenção de um determinado valor de E.H.L. Acontece, no entanto, que certos
agentes emulsivos do mesmo tipo podem ser incompatíveis entre si, como, por exemplo, as
substâncias de natureza coloidal possuindo carga eléctrica de sinal contrário, que, uma vez
misturadas, coagulam. Também os agentes catiónicos e aniónicos, apesar de ambos favorecerem a
formação de emulsões O/A, não devem ser utilizados juntamente porque reagem entre si, anulando-
se, assim, as suas propriedades emulsivas.
Dentre as várias classificações que têm sido propostas para os agentes emulsivos, a seguida
por MARTIN na obra American Pharmacy é a que nos parece mais lógica, e, por isso, resolvemos
adoptá-la igualmente.
Segundo o referido autor, os diversos emulgentes podem e devem diferenciar-se em dois grupos
principais: os agentes emulsivos verdadeiros ou primários e os estabi-lizanles, agentes emulsivos
auxiliares ou secundários. Tal distinção é perfeitamente admissível, pois os agentes emulsivos
primários são todos aqueles que actuam sobre a tensão superficial e são, por isso, os únicos que,
simultaneamente, facilitam a obtenção de uma emulsão e promovem a sua estabilização, ao passo
que os agentes secundários, porque são dotados de fracas propriedades emulsionantes, quando
utilizados separadamente, apenas se limitam a concorrer para aumentar a estabilidade do produto
por aumento da viscosidade da fase externa, uma vez associados a um agente primário.
Os agentes emulsivos primários podem dividir-se ainda em agentes de origem natural c agentes
sintéticos, sendo de considerar, nesta última classe, os agentes aniónicos, catiónicos, anfólitos e não
iónicos, conforme a sua actividade emulgente depende da porção aniónica, catiónica ou de ambas,
ou ainda de ioda a molécula. Nas Tabelas XI, XII e XÏIÍ indicamos alguns dos principais agentes
emulsivos pertencentes aos vários tipos acabados de mencionar.
160
Catiónicos
Brometo de cetiltrimelilamónio Etossulfato
de N-cetil-N-etilmortblínio
(Atlas G-263) h ........................................................................................ 25-30
Cloreto de benzaleónio (cloreto de zefiran) í- ............................................ 25-30
Cloreto de laurildimeiilben/ilamónio
Anfólitos
Trietanolaminalaurilalanina
Não
Monoleaío de sorbitano {Span 80) b .......................................................... 4,3
Monolaurato de sorbitano (Span 20) b ........................................................ 8,6
Monoestearaio de polioxietileno (Mirj 45) b .............................................. 11.1
Monolaurato de polioxietileno (Atlas G-2127) b ........................................ 12. X
Monoleato de polioxietileno sorbitano (Tween 80) b ................................ 15,0
Monolaurato de polioxietileno sorbitano (Tween 20) b ............................ 16.7
Monolaurato de polictilenoglicol 400 d ...................................................... 13.1
A agitação manual representa o método mais simples para a obtenção de emulsões, sendo
aquele que geralmente se utiliza na oficina farmacêutica onde estas fórmulas se preparam em
pequenas quantidades e se destinam, invariavelmente, a serem consumidas em curto prazo de tempo.
Assim, pode obter-se facilmente uma emulsão agitando os líquidos e o agente emulsivo num
recipiente que se enche parcialmente, como um frasco ou um balão rolhados. É da maior importância
que o vaso a utilizar nesta operação tenha uma capacidade tal que nunca fique cheio com a mistura a
emulsionar, pois é absolutamente necessário que haja espaço suficiente para que o líquido que irá
formar a fase dispersa possa esparrinhar livremente e se fraccione em pequenas gotas. Além disso,
tem-se verificado que em muitos casos é mais vantajoso agitar a mistura intermitentemente, alterando
a agitação com períodos de repouso. De facto, durante a agitação ambos os líquidos são mais ou
menos divididos em glóbulos e, assim, durante o repouso, aqueles provenientes do líquido que há-de
constituir a fase externa da emulsão final, que, por definição, é contínua, reunir-se-ão uns aos outros,
enquanto os glóbulos da fase dispersa vão sendo envolvidos por uma película do agente emulsivo.
Aliás, está verificado que uma agitação demasiado forte ou prolongada pode aumentar o tamanho
dos glóbulos dispersos c isso só prejudica a estabilidade de uma emulsão,
O outro processo de agitação manual consiste em utilizar um almofariz, triturando a mistura a
emulsionar com o respectivo pilão, o que provocará o fraccionamento da fase dispersa na fase
externa. Deve usar-sc, de preferência, um almofariz de porcelana, de fundo não muito abaulado, ou,
melhor ainda, um almofariz de fundo plano e paredes verticais, tendo um pilão cilíndrico, conforme
foi proposto por COOPER ('), estando
(') Tal modelo de almofariz permite uma maior superfície de contado em relação à obtida no
tipo convencional, daí resultando uma mais fácil e completa mistura de sólidos ou emulsificação de
líquidos (J. Am, Pharm. Assoe... Prat. Edkion. 10, 420 1949).
163
contra-indicada a utilização de almofarizes c pilões de vidro, pois estes não oferecem o alrilo
suficiente paia originarem a divisão da fase interna cm glóbulos de reduzidas dimensões.
tem fraca estabilidade, pois, se a quantidade de ar incorporada for considerável, pode suceder que o
agente emulsivo se disponha, preferentemente, na interfase ar/água e não na interfase dos dois
líquidos a emulsionar, ocasionando uma precipitação irreversível, designada por desnaturação, que
ocorre, sobretudo, quando se utilizam prolemas como emul gentes.
5.3.5.2.2. Homogeneizadores
manual ou mecanicamente, contêm sempre glóbulos cujas dimensões estau longe de serem
uniformes, e a função deste tipo de maquinaria é a de fragmentar os glóbulos maiores, concorrendo,
assim, para reduzir os limites entre que variam os diâmetros das gotículas da fase dispersa, oblendo-
se, com o seu emprego, uma dispersão mais homogénea, a qual se traduz na obtenção de
emulsões mais estáveis e de melhor aspecto.
Estes aparelhos representam um dos elementos mais
importantes do equipamenio mecânico utilizado na
preparação das emulsões, reproduzindo-se na Fig. 99 um
pequeno modelo de homogeneizador operado
manualmente, o qual, pelas suas reduzidas dimensões e baixo
preço, está indicado para o trabalho de um pequeno laboratório ar
de farmácia. A emulsão é preparada por agitação num frasco ou Fig.
99.
num almofariz e colocada, depois, no Homogeneizador manual
recipiente do aparelho (Fig. 99). O accionamento da alavanca
provoca a aspiração do produto a homogeneizar para o interior do aparelho e a sua passagem, sob
pressão,
através de uma placa perfurada ou de uma válvula
de abertura muito estreita, de que resulta o
fraccionamento da fase dispersa em fragmentos de
tamanho uniforme e sempre de reduzidas
dimensões, em geral inferiores a 2,5 \i.
A homogeneização de emulsões preparadas
em larga escala obriga ao emprego de aparelhos
accionados por motores eléctricos. O princípio
sobre que se fundam tais aparelhos é o de obrigar
uma emulsão grosseiramente preparada a atra-
vessar uma estreitíssima válvula, submetendo-se o
produto a elevadas pressões. Em resultado desta
acção mecânica dá-se o fraccionamento de todos os
glóbulos cujas dimensões sejam superiores ao
orifício de saída da válvula, obtendo-se, deste
modo, uma relativa uniformidade nas dimensões
dos glóbulos.
C
omo se tivesse observado que uma
Fig. 100. Homogeneizador de dois andares única homogeneização,
166
moldes atrás descritos, apesar de inicialmente originar partículas de reduzidas dimensões, originava
a obtenção de emulsões com flóculos e formando creme com facilidade, prefere-se, actualmente,
utilizar aparelhos que façam a homogeneização em fases.
De facto, quando as emulsões, especialmente aquelas que contêm proteínas, são forçadas a
passar, sob elevada pressão, através de um orifício estreito, acontece que os glóbulos tendem a
aglomerar-se e originar grumos. Se o produto passar, depois, através de uma segunda válvula sob o
efeito de uma pressão bastante menor que a anteriormente aplicada, os glóbulos ficam perfeitamente
dispersos. Esta é a razão da preferência dada aos aparelhos que fazem uma dupla homogeneização
(Fig. 100), a primeira das quais é realizada forçando a emulsão através de uma válvula sob uma
pressão de 180 a 260 kg.ctrr2, logo seguida de outra, feita numa segunda câmara do
homogeneizador, mas agora sob uma pressão de 36 a 68 kg.cnr2.
A homogeneização representa sempre uma maneira de beneficiar uma emulsão, pois, reduzindo
o diâmetro médio das partículas dispersas, contribui para a maior estabilidade do produto pelas
razões que adiante se discutem. Entretanto, poderá acontecer que a homogeneização produza um
efeito contrário, isto é, apresse a separação das fases quando o produto a homogeneizar não
contenha um excesso de agente emulsivo suficiente para acompanhar o aumento da área da fase
dispersa resultante do fraccionamento dos glóbulos provocado pela homogeneização.
Qualquer que seja a finalidade a que se destine uma emulsão, esta deve manter--se estável
durante um prazo mais ou menos longo.
Todavia, apesar dos cuidados postos na execução de uma fórmula destas, acontece, por vezes,
que ela se altera algum tempo após a sua preparação. Excluindo as alterações de ordem microbiana,
que não inleressa considerar neste momento, podemos agrupar em três categorias essas alterações:
1) floculação c formação de creme; 2) coalescência e separação das fases; 3) alterações físicas e
químicas diversas.
Dado que a ocorrência de qualquer destes fenómenos modifica mais ou menos profundamente a
estabilidade das emulsões, vamos tratá-los com certo pormenor, pois é do maior interesse que o
farmacêutico os conheça e saiba como evitá-los ou corrigi-los, de modo a estar apto a preparar
fórmulas que satisfaçam plenamente ao fim a que se destinam.
V= 9r\
em que V é a velocidade de sedimentação das partículas dispersas, r o seu raio, úf, a densidade da
fase dispersa, d2 a densidade da fase dispersante, g a aceleração da gravidade e T) a viscosidade da
fase dispersante.
De acordo com esta lei, e como facilmente se pode concluir, quando as densidades da fase
dispersa e dispersante forem iguais, a velocidade de sedimentação dos glóbulos será igual a zero
(uma vez que o numerador da fracção é ?,ero) e, portanto, não haverá formação de creme. Quando,
porém, essas densidades são diferentes, o que geralmente acontece na prática, dois casos podem
verificar-se. Nas emulsões O/A, a densidade da fase dispersa (í/,) é inferior à da fase dispersante
(rf). Nestas circunstâncias, a diferença (d}-d2) é negativa e, portanto, V é também negativa. Isto
significa que a formação do creme se dará à superfície da emulsão. Contrariamente, nas emulsões
A/O em que a densidade da fase dispersa é superior à da fase dispersante, o valor de (d}-d2) é
positivo e a velocidade adquire, pois, valor positivo, querendo isto dizer que o creme se junla na
parte ' inferior da emulsão. Esta diferença de densidades das duas fases pode ser atenuada até certo
ponto, havendo autores que recomendam, por exemplo, que se aumente a densidade da fase oleosa
dissolvendo nela certos compostos, como o ot-bro-monaftaleno, bromofórmio e tetracloreto de
carbono, os quais, porém, não podem ser utilizados em emulsões medicinais. Quando se trate de
preparações farmacêuticas,
168
MILLLXS e BKCKHR ajustam a densidade da fase oleosa pela adição de uni óleo comestível bromado.
Por outro lado, a equação de STOKLS indica que a velocidade de separação dos glóbulos da
fase dispersa é proporcional ao quadrado do respectivo raio, havendo, por isso, toda a conveniência
em que as partículas da fase interna apresentem as menores dimensões possíveis. H este o motivo por
que a homogeneização é um dos passos mais importantes na preparação das emulsões, pois que,
fraccionando os glóbulos maiores cm partículas de tamanho diminuto, contribui, decisivamente, para
a maior estabilidade destas formas farmacêuticas.
Um exemplo dado por MARTIN mostra bem a influência do tamanho dos glóbulos na respectiva
velocidade de separação. Assim, consideremos o caso de uma emulsão O/A contendo óleo mineral, de
densidade í/^0,90, disperso numa fase aquosa, de densidade d. = 1,05. Se as partículas dispersas
tiverem um diâmetro médio de 5 (i e a viscosidade da fase externa for igual a 0,5 poise, a velocidade
de ascenção da camada olesosa será:
ou seja, aproximadamente, 0,36 cm por dia. Basta, porém, que o diâmelro das partículas seja igual a l ji
para que a velocidade baixe para 0,014 cm por dia, de modo que a uma diminuição de 1/5 nas
dimensões dos glóbulos corresponde uma diminuição da velocidade de separação igual a acerca
de 26 vezes o valor inicial, o que demonstra, de modo insofismável, a influência do tamanho do
raio das partículas no ritmo da formação de creme nas emulsões. Deve acrescentar-se que sempre
que o diârnerro das partículas é inferior a 5 |i os movimentos brownianos a que aquelas estão
sujeitas concorrem para impedir a sua reunião em aglomerados, o que fa/ d i mi n u i r ainda mais a
respectiva velocidade de separação.
Entretanto, deve desde já ficar bem claro que estabilizar emulsões à custa da diminuição do
raio das partículas dispersas tem, por vezes, inconvenientes graves. De facto, a biodisponibilidade
destas preparações está relacionada com o tamanho tias partículas, o que pode ter tal influência que
urna emulsão para uso tópico acabe por ser absorvida sistemicamente ou, pelo contrário, um
preparado que se pretende para uma acção geral se quede no local de aplicação.
A formula de Stokes também relaciona a velocidade de separação das partículas da fase
dispersa com a viscosidade da fase externa, tornando-se aquela tanto menor quanto maior for esta
última. B por tal motivo que se adicionam às emulsões, frequentemente.
169
várias substâncias, designadas por agentes emulsivos secundários, cuja função é a de aumentar a
viscosidade da fase externa, contribuindo, assim, para retardar o aparecimento de creme.
Tal prática encontra-se bastante generalizada, indicando-se na Tabela XIII (pág. 161) os
produtos usualmente empregados como agentes espessantes. A sua utilização impõe, no entanto, a
observância de certas precauções, pois poderá acontecer que um determinado agente flocule por
acção de algum dos constituintes da emulsão e, se isso se verificar, obter-se-á um efeito contrário ao
pretendido.
A força da gravidade não é de considerar, em condições normais, na estabilidade das emulsões,
dada a sua constância. No entanto, ela pode ser aumentada pela acção da força centrífuga e este
fenómeno constitui a base dos métodos geralmente utilizados para a formação de creme, pois em tais
circunstâncias a velocidade de separação das partículas dispersas aumenta de modo bastante
significativo. Alguns processos de quebra de emulsões, como, por exemplo, a preparação da
manteiga a partir do leite, fundamentam-se no emprego da força centrífuga.
Esta alteração das emulsões a que nos temos vindo a referir não apresenta uma modificação
irremediável, porquanto é possível recompor-se o sistema disperso inicial. De facto, admite-se que
no estado de creme as partículas que se aglomeraram, de modo a constituírem uma emulsão
concentrada, ainda estão rodeadas por uma película de emulgente, podendo, por conseguinte, serem
novamente dispersas por simples agitação.
Este tipo de alteração é muito mais profundo que o anterior, pois trata-se de um processo
irreversível e, como tal, uma vez registado não mais permite a recomposição da emulsão.
No caso presente dá-se a coalescência ou reagrupamento dos glóbulos da fase dispersa e a
breve trecho a emulsão desfaz-se, significando isto que as suas fases se separam completamente, de
modo a formarem duas camadas distintas.
Quando tal acontece, uma nova agitação é incapaz de tornar a dispersar as fases uma na outra,
o que só é possível obter-se se adicionarmos à mistura mais agente emulsivo. Este comportamento
parece sugerir que a coalescência dos glóbulos está directamente relacionada com o agente
emulsivo, admitindo-se hoje que o ritmo da coalescência depende, além de outros factores, muito
principalmente das características físicas da película formada pelo emulgente à volta dos glóbulos
dispersos. Se aquele é absorvido na interfase e se mostra capaz de formar uma película rígida e
compacta à volta dos glóbulos, comportando-se como se se tratasse de uma autêntica barreira, é
evidente que as partículas dispersas ficam envolvidas por uma parede que impede a sua junção.
Compreende-se, portanto, que a estabilidade de uma emulsão seja considerada, em grande parte,
como dependente do agente emulsivo utilizado na sua preparação, pois
170
a coalescência da fase dispersa será tanto mais retardada quanto mais eficaz for a película
interfasial que o emulgente origine.
Na realidade, SERRALACH, JONES e OWEN verificaram que um bom emulgente se caracleriza por
fazer baixar a tensão interfasial, de modo a originar glóbulos de dimensões reduzidas e uniformes e
ser capaz de formar, rapidamente, uma película que impeça o reagrupamento das partículas da fase
dispersa, dependendo a estabilidade da emulsão da circunstância de a película de emulgente se ir
tornando mais forte à medida que o tempo passa.
Por outro lado, se bem que o tamanho das partículas dispersas tenha uma influência decisiva
na velocidade de separação da fase dispersa, e o exemplo atrás citado é prova disso, KING chama a
atenção para a circunstância de que nem sempre da redução das dimensões das partículas dispersas
resulta uma maior estabilidade do sistema. Segundo aquele autor, a uniformidade do tamanho das
partículas constitui um elemento muito importante na estabilidade, pois se existirem partículas muito
pequenas, a par de outras de maior tamanho, acontece que aquelas se aglomeram entre estas
últimas, do que resulta uma coesão mais forte c, portanto, mais rápida coalescência da fase interna.
A relação entre o volume das fases, isto é, os volumes relativos de água e de óleo que figurem
numa emulsão pode, igualmente, exercer uma certa influência na estabilidade da preparação. De
facto, OSTWALD e outros mostraram que, se se tenlar incorporar mais de 74% de óleo numa emulsão
do tipo O/A, os glóbulos de óleo coalescem na maioria das vezes, desfazendo-se a emulsão. Este
valor, denominado ponto crítico, representa a concentração da fase interna para além da qual um
agente emulsivo é incapaz de originar uma emulsão eslável do tipo pretendido.
Acontece, no entanto, ser possível obterem-se emulsões estáveis cm que a fase interna é
superior a 74% do total da emulsão, mas tal facto deve-se à circunstância de nesses casos as
partículas dispersas se apresentarem com formas e dimensões irregulares, só assim se
compreendendo o aumento do ponto crítico, pois este, como é sabido, foi calculado partindo da
premissa de que todos os glóbulos dispersos são esféricos.
De um modo geral, as emulsões mais estáveis correspondem a uma relação do volume das fases
de 1:1, podendo dizer-se que a maioria destas preparações respeita tal regra, aliás descoberta
empiricamente há já muitos anos pêlos primeiros preparadores de emulsões.
Também a inversão das fases pode representar um papel importante na estabilidade das
emulsões, entendendo-se por tal fenómeno a transformação de uma emulsão O/A em outra A/O, ou
vice-versa. Do ponto de vista prático, a inversão das fases tanto pode
171
traduzir-se num prejuízo como num benefício, dependendo isso do facto de ocorrer ocasionalmente
ou ser provocada intencionalmente e com determinados fins.
Assim, por exemplo, se tivermos uma emulsão O/A estabilizada com um sabão de sódio,
podemos invertê-la numa outra do tipo A/O, por adição de cloreto de cálcio, pois nestas condições o
emulgente passará a ser um sabão de um metal bivalenle,
O mesmo fenómeno de inversão poderá ser provocado alterando a relação do volume das fases.
Suponhamos que se pretendia obter uma emulsão O/A e que misturávamos um emulgente hidrófilo
com o óleo e uma pequena quantidade de água. Uma vez que o volume de água seja pequeno em
relação ao do óleo, a agitação provocará, forçosamente, a dispersão da água no óleo, apesar de o
agente emulsivo originar, normalmente, a formação de um sistema contrário. À medida, porém, que a
primeira emulsão vai sendo gradualmente diluída com água, chega-se a um momento em que o ponto
de inversão é atingido, c desde aí a emulsão passa a ser do tipo O/A. B este, aliás, o princípio do
Método Continental utilizado na preparação de muitas emulsões farmacêuticas, e que estudaremos
na Farmácia Galénica.
BIBLIOGRAFIA
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Febiger, Philadelphia, 1960. SPAI TOM, L. M. Emulsões Farmacêuticas e Agentes Emulsivos in
Bibliografia Farmacêutica do Inslisuto
Pasleur de Lisboa, Vol. II, n." 24, 1954.
172
173
1. Refrigeração.
2. Evaporação.
3. Secagem e Exsicação.
4. Liotïlização.
5. Sublimação.
6. Torrefacção.
7. Carbonização.
8. Calcinação.
9. Cristalização.
10. Fusão.
11. Destilação.
6.1. REFRIGERAÇÃO
6.1.1. GENERALIDADES
A refrigeração é uma operação que tem por fim baixar a temperatura de um corpo, podendo o
grau de arrefecimento conseguido ser mais ou menos acentuado e estando dependente, como é
intuitivo, do processo utilizado.
A refrigeração e largamente empregada na técnica laboratorial para arrefecer misturas
reagentes exotérmicas, para promover a condensação de vapores, para aumentar a solubilidade dos
gases na água e na liofilização ou secagem pelo frio. Desempenha,
174
Qualquer subslância pode absorver calor de uma outra, tendo uma Icmperatura mais elevada,
e actuar, assim, como agente refrigerante. Como o calor transferido do corpo mais quente para o
mais frio aumenta a temperatura ou calor sensível deste último, daí nasceu a designação por que este
processo de arrefecimento é conhecido.
A água constitui o agente mais ulili/ado para fazer uma refrigeração por aumento do calor
sensível do refrigerante, pois, além de ser um produto barato e facilmente obtenível, tem ainda a
vantagem de possuir um elevado calor específico.
O ar também é usado, se bem que mais limitadamente, como agente refrigerante nesta técnica
de refrigeração, pois c menos eficiente que a água, dado que o seu calor específico é mais baixo e,
por consequência, possui um menor coeficiente de transferência de calor. A sua utilização está, por
isso, restrita aos casos em que a quantidade de calor a transferir é pequena ou quando apenas se
exige uma refrigeração lenta.
A refrigeração de corpos sólidos ou líquidos pela técnica em discussão faz-se colocando-os em
recipientes apropriados e mergulhando-os em água fria ou fazendo circular esta em serpentinas
adaptadas à volta do recipiente contendo o corpo a arrefecer. Quando a refrigeração se faz
imergindo o corpo a arrefecer na água, torna-se necessário promover a sua renovação, pois se não
se proceder assim acontece que ao fim de certo tempo estabelece-se um equilíbrio térmico entre
aquela e a subslância que se pretende arrefecer, deixando, então, de haver transferência de calor
entre ambas.
A principal aplicação laboratorial do arrefecimento pela água consiste na condensação de
vapores, obtida à custa de aparelhos especiais denominados refrigerantes ou condensadores de
refluxo. Estes são constituídos por um tubo interno, que pode apresentar forma variável, o qual está
rodeado por uma manga de vidro, onde circula a água refrigerante. Esta entra pela parte mais
próxima dos vapores a condensar e sai pela
175
parte mais distante desta, de modo que o tubo interior, ao qual tem acesso o vapor, está sempre
envolvido por uma camada de água fria, constantemente renovada.
Para que os refrigerantes actuem eficazmente é necessário que possuam duas características
fundamentais: uma rápida circulação da água. que permita a sua renovação a um ritmo acelerado, e
uma boa superfície de condensação.
Nos condensadores ditos tipo LIEBIG, que representam apenas ligeiras modificações do modelo
original devido àquele célebre químico alemão, as condições atrás referidas estão longe de se
verificarem. Na realidade, a água circula lentamente na manga envolvente do tubo de condensação e
por esse motivo os coeficientes de transferência de calor entre aquela e o referido tubo são baixos.
Tal facto, aliado ao diminuto comprimento do aparelho, torna estes refrigerantes pouco eficientes.
Em face disso, apareceram depois novos modelos de condensadores, nos quais se procurou
remediar os inconvenientes apontados ao refrigerante de LIBBIG, lendo-se construído aparelhos em que
a velocidade de circulação da água é maior e em que a superfície oferecida à condensação dos
vapores foi aumentada de modo acentuado.
Assim, no condensador de West
(Fig. 101S) conseguiu-se uma acção
refrigerante mais eficaz pelo simples
facto de se ter diminuído a distância
que vai da manga ao tubo interior.
Deste modo obteve-se urna cir-
culação mais rápida da água,
resultando disso que neste tipo de
aparelho é maior o volume de
água fria que nele circula por
unidade de tempo, o que se traduz,
como é lógico, por uma maior Fig. 101. Diversos tipos de refrigerantes; A, Refrigerante tipo Liebig; B,
capacidade de refrigeração. de West; C, de serpentina; D. condensador de bolas (Allihn)
Quando o gelo funde, o calor equivalente ao respectivo calor de fusão, ou sejam, 78,8
calorias.g~', tem que ser absorvido do meio ambiente, provocando, assim, um acentuado
arrefecimento. Este processo de refrigeração c por demais conhecido de todos para que nos
detenhamos em explicações que nos parecem escusadas.
Lembremos, entretanto, que umas vezes se utiliza apenas gelo e outras vezes se recorre ao
emprego de misturas frigoríficas, as quais se obtêm adicionando ao gelo sais minerais solúveis na
água. Neste caso, além do calor de fusão do gelo. há ainda que contar com o arrefecimento devido ao
calor de dissolução do sal utilizado, o qual, por si só, pode originar um apreciável arrefecimento.
Simultaneamente, a junção de um sal ao gelo provoca uma fusão mais rápida deste, resultando disso
que a absorção de calor do corpo a arrefecer é, também, mais rápida. O emprego das misturas
frigoríficas permite, por conseguinte, uma refrigeração mais apressada e eficiente.
A temperatura dada por uma mistura frigorífica depende de vários factores, como a natureza
do sal utilizado, das proporções relativas do sal e do gelo e, ainda, em certa medida, do tamanho das
partículas dos seus constituintes, estando demonstrado que a divisão dos componentes da mistura em
pequenos fragmentos permite, pelo menos, obter um arrefecimento mais rápido.
A temperatura mais baixa que é possível obter com um determinado sal corresponde ao seu
eutético com o gelo. Essas misturas eutéticas obtêm-se, geralmente, misturando o sal em questão com
gelo u temperatura ambiente, mas tais misturas têm que obedecer a proporções bem determinadas,
conforme se indica na Tabela XIV.
177
Apesar de a mistura eutética ser aquela que origina temperaturas mais baixas, isso nem
sempre significa que seja uma mistura desse lipo a que tem maior capacidade de arrefecimento.
Um exemplo basta para ilustrar esta afirmação. De facto, a mistura eutética de CaCl^ 6H^O com
gelo congela a -54,9°C mas apenas absorve 17,7 caloria por g a essa temperatura, ao passo que
uma mistura de 26,8% do mesmo sal com gelo tem um ponto de congelação igual a -8,PC mas
absorve 57,3 caloria por g.
Na Tabela XV indicam-se algumas temperaturas facilmente obteníveis no laboratório com
várias misturas não eutéticas, utilizando gelo picado. Nessa Tabela figuram também algumas
misturas de ácidos minerais diluídos com gelo, as quais têm sobre aí de sais a vantagem de
provocarem um arrefecimento mais rápido.
Tabela XV. Misturas frigoríficas.Temperaturas obtidas com misturas de vários sais ou ácidos
minerais com gelo picado (2)
Substância adicionada ao gelo Peso de substância adicionada a 100 panes Temperatura obtida
Na.CO, ........................................ de gelo em °C
20 -2
{>) International Critica! Tables. Vol. [, McGraw-Hill, New York, 1926, pág. 63
(2) Houben, Die Methoden der Organischen Chemie, Vol. I Thieme, Leip/ig, 1925, pág. 1926.
178
A absorção de calor provocada pela evaporação de um líquido de baixo ponto de ebulição pode ser
aproveitada para se obter um arrefecimento.
Operando sob pressão reduzida, obtêm-se temperaturas consideravelmente abaixo dos pontos de ebulição
dos líquidos. O mesmo efeito é conseguido fazendo borbulhar gases, como o ar, o hidrogénio ou o azoto, no líquido
a evaporar, pois, deste modo, a pressão parcial do líquido é reduzida à superfície obtendo-se uma evaporação
mais rápida e temperaturas mais baixas.
Como o ar pode formar misturas explosivas com materiais facilmente inflamáveis, tais como o éter sulfúrico,
o sulfurcto de carbono, os cloretos de metilo e de etilo e, ainda, com hidrocarbonetos, o seu uso pode tornar-se
perigoso, recomendando-se a sua substituição por outro gás, como o anidrido carbónico.
A evaporação parcial do solvente por sucção é um dos processos utilizados para
arrefecer uma solução. Também um dos meios de controlar a temperatura de uma
reacção exotérmica consiste em promover a evaporação parcial de um dos reagentes ou
de um solvente inerte, na presença do qual a reacção possa ser levada a efeito. Desde
que o ritmo de evaporação do referido solvente seja mantido adequadamente, é, assim,
possível manter a temperatura da reacção no valor desejado. Desde que a reacção seja
praticada à pressão atmosférica, deve escolher-se um líquido cujo ponto de ebulição
corresponda à temperatura da mistura reagente, podendo, evidentemente, utilizar-se um
líquido de ponto de ebulição mais elevado se a reacção for executada sob pressão re
duzida, j -i;-;.. . ; - . ... . - •-'.";;.. •• /' •''..
A refrigeração mecânica também se baseia no calor de vaporização de um líquido. Na realidade, os
aparelhos de refrigeração operam, em geral, segundo um ciclo de compressão-descompressão. Nestas máquinas,
uni determinado fluido é sujeito a uma compressão tal que se condensa e se torna líquido quando arrefecido por
água ou pelo ar circundante. O gás liquefeito é lançado, depois, através de uma válvula, numa serpentina, onde a
pressão é mais baixa, Esta súbita descompressão provoca a vaporização do líquido circulando na referida
serpentina, fazendo-se tal evaporação à custa do calor absorvido do meio ambiente, que assim é arrefecido. Os
vapores formados são aspirados depois para o compressor e sujeitos a nova compressão, iniciando-se, deste modo,
um outro ciclo. A amónia é a substância geralmente usada nas máquinas maiores, empregando-se outros gases,
como o diclorodifluormetano (Freon 12, por exemplo), nos frigoríficos menores.
' O anidrido carbónico sólido, também conhecido por neve carbónica ou gelo seco, pode ser usado como
refrigerante quando se pretendem temperaturas inferiores às J obtidas com o gelo vulgar. A temperatura
normal de sublimação da neve carbónica é *
179
de -78,5°C, mas essa temperatura pode ser ainda mais baixa se a sublimação for executada a pressão
reduzida. Por outro lado, o emprego da neve carbónica em pequenos fragmentos provoca a sua
sublimação mais rapidamente e origina temperaturas inferiores ao seu ponto de sublimação normal,
sendo possível, deste modo, obter-se uma temperatura à volta de -95,5°C.
O anidrido carbónico sólido pode ser utilizado, isoladamente, como refrigerante. Todavia,
como a transferência de calor terá que ser feita, neste caso, através de uma camada gasosa de CO,,
os coeficientes de transferência serão baixos em tais condições. Por este motivo, o gelo seco é quase
sempre usado em mistura com um produto orgânico de baixo ponto de congelação, como o éter
sulfúrico, a acetona ou o tolueno, oblendo-se, deste modo, temperaturas vizinhas de -100°C e, o que é
mais imporlantc, boas transferências de calor entre o corpo a arrefecer e a mistura refrigerante.
Desde que não se disponha de gelo, é relativamente fácil obter um abaixamento de temperatura
por efeito da absorção de calor registada durante a dissolução de sais. Vários sais orgânicos e
inorgânicos absorvem apreciável quantidade de calor ao dissolverem-se, provocando, por vezes, um
acentuado arrefecimento. Em geral, utilizam-se os sais minerais para esse fim, pois são mais baratos
e provocam maior abaixamento de temperatura. Na Tabela XVI indicamos as temperaturas obtidas
com a dissolução de certos compostos.
BIBLIOGRAFIA
EGLY, R. S. — Cooling and Refrígeration, in Technique of Organic Chemistry, Vol. 111.
Cap. I, pág. 77, Interscience Publishing Inc., N. Y., 1950.
(') Houbcn, Die Methoden der Organischen Chemic, Vol. I, Thieme, Leipzig, 1925, pág. Í296.
180
6.2. EVAPORAÇÃO
6.2.1. GENERALIDADES
em que Q é o peso de vapor produzido por unidade de tempo; K é uma constante, que varia com a
natureza do líquido, remoção do ar, ele.; S é a superfície de evaporação;
181
Consiste em colocar o líquido a evaporar num recipiente apropriado, como uma cápsula ou um
cristalizador, e deixá-lo exposto à temperatura ambiente, de preferência em local seco e arejado.
Tendo em conta o que atrás se disse, uma evaporação por este processo é sempre lenta, pelo que
apenas se utiliza quando se pretende evaporar pequenos volumes de líquido ou quando este possui
elevada pressão de vapor. A velocidade de evaporação será influenciada pêlos factores já discutidos
anteriormente c neste caso particular a superfície evaporante é, certamente, o elemento a tomar em
maior consideração.
Na maioria dos casos a evaporação de um líquido é feita com o auxílio do calor, pois,
aumentando a pressão de vapor com a subida da temperatura, consegue-se uma evaporação mais
rápida.
182
Para isso, desde que se trate de evaporar pequenas quantidades de líquido, este é colocado
numa cápsula e convenientemente aquecido. Tal aquecimento pode fazer-se, nalguns casos, a fogo
directo, o que nem sempre c recomendável, preferindo-se, geralmente, aquecer o recipiente contendo
o líquido a evaporar n u m banho apropriado.
Tratando-se de soluções aquosas, utiliza-se, em geral, um banho de água ou de vapor, nos quais
não se ultrapassa, em regra, a temperatura de 100"C. Quando se lorne necessário temperaturas
superiores, poder-se-á recorrer a outros banhos, como um banho de areia, ou banhos constituídos
por soluções saturadas dos seguintes sais: NaCl, P.E. 108,4"C; KNO^, P.E. 115,2ÜC; CaCl2, P.E.
179,5l)C. Usam-se ainda banhos de óleo mineral, de P.E. 300°C, banhos de silicones, etc.
Convém acentuar, mais uma vez, que o ritmo da evaporação depende muito do recipiente em
que o líquido está contido, devendo escolher-se sempre vasos pouco altos e de abertura larga, de
modo a que os líquidos possam oferecer urna apreciável superfície de evaporação. Estes requisitos
são apresentados pelas cápsulas de porcelana que constituem os recipientes mais usados para a
evaporação de volumes diminutos de líquido. Quando se trate de evaporações em maior escala
convém utilizar recipientes de outra natureza mas obedecendo às mesmas condições, tais como
aqueles representados nas Figs. 103 e 104 A.
como, também, pêlos laboratórios preparadores de produtos medicinais. As substâncias obtidas por
esta lécnica apresentam óptimas características, podendo mencionar-se o
facto de ficarem praticamente isentas de cheiro e
sabor estranhos e de, uma vê/ reidratadas, originarem
produtos semelhantes ao respectivo malerial fresco.
São numerosas as aplicações deste método de
evaporação no campo da indústria farmacêutica, sendo
de mencionar, entre outras, a sua utili/.ação na
preparação de extractos, de certos pós, de produtos
altamente oxidáveis, como a adrenalina, o ácido
ascórbico c outras vilaminas, ele.
A Fig. 109 mostra o esquema de um
Fig. 108. Evaporador constituído por cilindros
aquecidos
destes evaporadores, que fu ncio na da seguinte
maneira: o líquido a evaporar chega ao apare
lho através da conduta A e é nebulizado na câmara de secagem C, à custa do
atomizador B, geralmente uma centrífuga girando a alta velocidade. A parle central da
câmara é atravessada por uma conduta de ar quente (D), cuja abertura está situada por
debaixo do atomizador. Deste modo, o líquido nebuli/ado na câmara de secagem fica
suspenso durante alguns momentos no ar aquecido, perden
do rapidamente a água nele existente devido ã grande •
superfície oferecida à evaporação. Apesar de a temperatura
do ar ser relativamente elevada, uma vez que a evaporação
é quase instantânea, não se verificam quaisquer alterações
do material submetido a este tratamento.
O sólido resultante da evaporação é recolhido na parte inferior do
aparelho, sob a forma de pó muito fino, sendo imediatamente retirado para
fora por meio de um dispositivo transportador, situado em F. O tubo E
representa a saída do ar, estando equipado com filtros destinados a
relerem qualquer porção de sólido que possa ser arrastado pelo ar ao sair
do evaporador.
Como se depreende da descrição que acabamos de fazer dos diversos Fig. 109.
hvaporador
processos de evaporação, esta pode fa/er--se com o objectivo de se
recuperar um sólido dissolvido
ou apenas para concentrar uma solução. No primeiro caso pratica-se uma evaporação à secura e
no segundo faz-se uma evaporação ale determinado peso ou volume.
Como é intuitivo, na evaporação à secura o líquido terá que ser totalmente evaporado, de modo
a obter-se o sólido ou sólidos não voláteis nele dissolvidos. A evaporação a determinado peso
ou volume é o processo usado para se concentrarem
185
soluções e, como a própria designação indica, far-se-á, somente, uma evaporação parcial do
solvente, sendo necessário, portanlo, determinar o momento em que se deve interromper a operação.
Para evaporar uma solução até determinado peso tara-se uma cápsula, pesa-sc a solução
inicial e promove-se a sua evaporação, a qual deverá ser interrompida quando o liquido acusar o
peso desejado. Quando a concentração deva ser feita até determinado volume, a maneira lógica de
verificar se o volume pretendido to t atingido é transvasar o líquido evaporante, de tempos a tempos,
para uma proveta, e medir o respectivo volume. Como tal processo é incómodo e moroso, pois obriga
a um arrefecimento do líquido a medir, utilizam-se, por vezes, recipientes de evaporação graduados,
que permitem seguir a concentração até perto do final, e só nesse momento se fará a medição
rigorosa do líquido a concentrar.
Quando não se disponha de tais recipientes, pode-se determinar, aproximadamente, a
concentração do líquido da seguinte maneira: Coloca-se no vaso, onde se irá proceder à
evaporação, um volume de água igual ao volume a que se quer concentrar a solução. Mergulha-se,
então, verticalmente, uma vareta na água, de modo que esta toque na parte mais funda do referido
vaso, marcando-se por intermédio de um tubo de borracha a ela adaptado a altura correspondente à
superfície livre da água. Feito isto. substitui--se a água pelo líquido a concentrar, o qual deverá ser
evaporado até que a sua superfície coincida com a altura marcada na vareta. Assim se obtém uma
indicação aproximada do grau de concentração desejado, procedendo-se, enlão, à sua determinação
por um processo mais exacto. Por vezes, torna-se possível seguir a marcha da concentração
determinando a densidade do líquido concentrado, mas para isso é necessário conhecer-se, de
antemão, a densidade do produto final.
Acabamos de ver que uma das grandes aplicações da evaporação no campo farmacêutico é o
seu emprego na preparação dos extractos. No capítulo precedente passámos em revista alguns dos
processos utilizados para tal fim, os quais eram realizados à pressão normal. Em tais condições
operatórias, a evaporação de líquidos aquosos obriga a um aquecimento a cerca de IOO"C,
recorrendo-se, em muitos dispositivos, a uma agitação do extracto, para apressar a sua vaporização.
Tais métodos de concentração conduzem quase sempre à obtenção de produtos de má
qualidade, pois se o calor, só por si, é susceptível de alterar um grande número de substâncias, a sua
acção é ainda mais prejudicial quando actua, simultaneamente, em presença do oxigénio. Na
realidade, se a evaporação for realizada em contacto com o ar e sob agitação, este mislura-se
intimamente com o produto a concentrar, o qual fica, assim, sujeito, durante tempo variável, à acção
conjunta de uma temperatura elevada e do oxigénio existente no ar nele incorporado pela agitação.
186
Mercê disso, os extractos obtidos por este processo podem ser mais ou menos profundamente
alterados na sua composição, o que se traduz, entre muitas outras coisas, por se tomarem menos
solúveis. Há, pois, toda a conveniência cm que a concentração das soluções contendo substâncias
alteráveis pela acção conjunta do oxigénio e do calor seja praticada ao abrigo do ar e a temperatura
o mais baixa possível.
7CO -
600-
500-
400
Álcool
melílico
Álcool
itilico
Ëler
elilico
Acetona
•
Piridina
D
200
100
O 20 40 60 80
100 l£0
Fig. 110. Pressões de vapor de vários
líquidos
Ora, como a temperatura de ebulição de qualquer líquido baixa quando se redu?. a pressão
sobre ele exercida, surgiu, naturalmente, a ideia de aplicar este princípio à evaporação dos líquidos.
A simples observação dos gráficos representando a variação das pressões de vapor de alguns
líquidos, reproduzidos na Fig. l K), mostra bem como é possível fazer baixar as suas temperaturas de
ebulição por redução da pressão, sendo fácil, por este meio, concentrar soluções aquosas a
temperaturas relativamente baixas, da ordem dos 4()-5í)llC. ou menos.
187
Correspondência á
Unidade Unidade SI (Pascal)
dinc.cm2 10-' Pa
Atmosfera (atm) 101 325 Pa = 101,325 KPa
Bar 105Pa = 0,lMPa
mm Hg 133,322387 Pa
Torr 133,322368 Pa
Psi 6894,757 Pa = 6,894757 KPa
BIBLIOGRAFIA
6.3.1. SECAGEM
A secagem é a operação que tem por fim privar os corpos da humidade neles existente. Sc bem
que o material a secar possa ser um gás, um líquido ou um sólido, sem dúvida que é a secagem dos
sólidos aquela que mais vezes se pratica na lécnica farmacêutica e, por isso, a ela nos referiremos
com mais pormenor. Em geral, a secagem apenas retira dos corpos a água neles existente sob a forma
de humidade higroscópica, como alguns autores a designam, para a distinguirem da água de crista-
lização dos corpos químicos, a qual só é eliminada totalmente pela Exsicaçâo (').
Tendo em consideração que no domínio farmacêutico a secagem é principalmente aplicada a
produtos sólidos, podemos dizer que são três os objectivos a atingir com a secagem das
substâncias de carácter medicinal: Melhor conservação, redução de volume e de peso e maior
facilidade de pulverização.
De facto, a humidade é altamente prejudicial à boa conservação das drogas, sobretudo das de
origem biológica, pois um produto desta natureza com certo grau de humidade oferece óptimas
condições para o desenvolvimento de bactérias e fungos, que o podem alterar profundamente.
Por outro lado, uma droga seca em condições que não provoquem a alteração dos seus
constituintes torna-se menos volumosa e mais rica, peso por peso, em princípios activos, o que só é
vantajoso. Finalmente, como já tivemos ocasião de salientar quando tratámos da Pulverização, a
secagem é uma das operações prévias a que é necessário submeter as drogas, pois eslas,
apresentando-se húmidas, dificilmente poderão ser pulverizadas, dada a elasticidade que apresentam
em tais circunstâncias.
A secagem de gases pode fuzer-se por vários processos, mas na prática apenas se utiliza a
secagem por adsorção ou por contacto com substâncias higroscópicas.
Certas substâncias porosas, como o gele de sílica, têm grande afinidade para a água, apesar
de não formarem com ela hidratos ou compostos químicos definidos.
Na prática, o gás a secar é obrigado a passar através de tubos ou torres contendo o exsicante,
o qual, uma vez exausta a sua capacidade de fixar água, pode ser regenerado por aquecimento u
temperatura conveniente. A secagem de gases por adsorção é considerada bastante eficiente desde
que o adsorvenle conserve as suas propriedades de fixação de água. A certa altura atinge-se um
ponto em que o exsicante deve ser substituído ou regenerado para poder actuar eficazmente.
O contacto com produtos sólidos ou líquidos ávidos de água constitui, sem dúvida, o processo
laboratorial mais utilizado para secar gases, reproduzindo-se na Fig. 112 alguns dispositivos
usados para isso.
Na tabela XVIII indica-se a quantidade de vapor de água contida em gases secos por contacto
com vários reagentes. Quando o gás a secar não reaja com o pentóxido de fósforo, este deve ser o
agente exsicante escolhido. Acontece, porém, que este óxido apresenta uma película de ácido
metafosfórico à superfície depois de algum tempo de exposição em atmosfera húmida, a qual
impede que o óxido subjacente a essa película exerça a sua função exsicante. Por esse motivo, terá
que ser fragmentado e revolvido periodicamente, ou, então, recomenda-se peneirá-lo sobre lã de
vidro, pois assim a superfície activa do reagente é bastante aumentada.
Ao secar um gás é necessário escolher o exsicante de acordo com a natureza química do
produto a secar. Assim, tanto o pentóxido de fósforo como o ácido sulfúrico não podem ser usados
para a exsicação de amoníaco ou de aminas, caso em que está indicada a utilização, por exemplo,
da potassa fundida ou do óxido de cálcio.
191
A secagem de líquidos pode fazer-se por vários processos, obrigando uns à evaporação da
água neles existente c recorrendo-se, noutros casos, a técnicas diferentes.
Desde que a água e o líquido a secar não formem misturas de ponto de ebulição constante e os
respectivos pontos de ebulição sejam suficientemente afastados, a destilação simples é o processo
indicado para remover do líquido a maior parte da água com ele misturada, terminando-se a
secagem por contacto com um agente higroscópico.
Em certos casos, porém, a água forma com o líquido a secar uma mistura azeotrópica, isto é,
uma mistura de ponto de ebulição constante, cujos vapores têm a mesma composição que a fase
líquida. Em tais circunstâncias, é impossível separar a água do outro constituinte, como acontece
com uma mistura de álcool e água. Se tivermos, por exemplo, utn líquido constituído por partes
iguais, em peso, de água e álcool, e o destilarmos, forma-sc, primeiramente, um vapor mais rico em
água. Entretanto, o ponto de ebulição vai baixando gradualmente, até se fixar em 78,15°C. Neste
momento, o vapor é constituído por 96% de álcool, sendo a composição do líquido no balão a
mesma.
(') WEISSBERÜER c PKOSKAUER, Organic Solvenls, Oxford Univ. Press. Londres, 1933, pág. 94.
192
Para se conseguir a separação da água é preciso adicionar, enlão, ao líquido a secar, uma
terceira substância, que origine com os seus componentes urna nova mistura a~eotrópica. Assim, o
álcool pode ser exsicado por destilação em presença de ben/cno. Este origina uma mistura
azeotrópica ternária com o álcool e a água, de P.E. 64,16"C, a qual permite a separação da água.
Subindo a temperatura para 68,24"C destila o benzeno sob a forma de a/colropo binário, e a
VHJ^C destila o álcool puro.
As mesmas substâncias já atrás mencionadas para a secagem de gases podem ser, igualmente,
utilizadas no caso dos líquidos. Além dos compostos entào referidos, usam--se. ainda, outros
produtos, corno o carbonato de potássio, os sulfatos de sódio e de cálcio e o óxido de bário.
O agente exsicante deve ser quimicamente inerte, isto é, não deve reagir com o líquido a secar
e também deve ser completamcntc insolúvel nele. O exsicante e o produto a secar são deixados em
contacto, durante várias horas, n u m vaso rolhado, que é agitado ocasionalmente, processando-se a
secagem em melhores condições se o sólido for adicionado em excesso.
uma vez conseguida a secagem, o líquido é geralmente separado do cxsicanle. procedendo-
se, eniào. à sua destilação, mas, se aquele tiver um baixo ponto de e b u l ição, a destilação pode
fazer-se mesmo em presença do exsicante.
Os processos de secagem até aqui mencionados são baseados na formação de hidralos entre o
exsicante e a água, recorrendo-se, por ve/es, a técnicas baseadas numa reacção química entre
aquela c o agente exsicante.
Assim, vários hidrocarbonetos podem ser dessecados por acção do sódio metálico em fio ou
de uma liga de sódio e potássio (10:16). Em casos destes a destilação subsequente à secagem
deve ser conduzida com o maior cuidado, para evitar que no destilado passem vestígios do
exsicante, o que, a verificar-se, poderia alterar, de modo sensível, as propriedades do líquido.
Na Tabela XIX indicam-se alguns reagentes próprios para a secagem de vários líquidos,
segundo BROUCUTON (').
Tabela XIX. Reagentes exsicantes indicados para certas classes de compostos orgânicos
Generalidades
Solido
*-— Vidro
Fig. 113. Esquema do trajecto da água na secagem de
sólidos ao ar
194
para /l. a fi m de repor, novamente, esse equilíbrio temporariamente desfeito. Esta transferência da água
do interior para o exterior do material pode, no entanto, l a/cr-se de duas maneiras. Assim, umas
vc/es acompanha o ritmo da evaporação em Â, mas também pode acontecer que este movimento seja
mais lento, tornando-se, então, impossível manter em 4 uma humidade constante.
No primeiro caso, o ritmo da secagem c regulado pela difusão da água através da película de
ar à superfície do produto a secar, ao passo que no segundo caso o factor que influencia esse
ritmo é o movimento da água através do próprio sólido. Acontece que na primeira alternativa o ritmo
da secagem será constante, dependendo apenas da espessura f/ da película de ar c da diferença de
humidade através da mesma película, sendo inteiramente independente do conteúdo de água
existente na massa do material a secar.
Quando a migração da água é mais lenta do que o ritmo de evaporação à superfície do sólido,
acontece, então, que a secagem fica dependente da deslocação da água através da própria substância,
a qual, por sua vez. depende de vários factores, como a sua concentração no sólido, a natureza
deste, porosidade, etc.
A exposição ao ar livre pode ser aproveitada pura a secagem dos sais cristali/.ados e das plantas
medicinais.
Assim, os produtos químicos contendo água de cristalização, colocados ao ar, vão-na perdendo
gradualmente pelo fenómeno da c florescência, tornando-se anidros ao f i m de certo tempo. A medida que se
tomam anidras, tais substâncias cobrem-se de uma camada de pó, que constitui o produto seco, a qual deve
ser removida periodicamente, para que se tome possível fazer-se a secagem das camadas subjacentes.
No entanto, é no campo da secagem das plantas medicinais que a exposição ao ar livre encontra a
sua mais importante aplicação. A secagem dos referidos produtos pode f aze r-se. por este processo, ao .w V,
à .sombru ou em c//?r/gf«.
A c.v/;m/^mv <V/r</(/(/ tvm /Y/An .w/í/w constitui uma técnica de secagem de aplicações limitadas,
pois só poderá ser utilizada com produtos pouco delicados e c u j a s qualidades não sejam influenciadas
pela acçãu directa do sol. Este método de secagem pode ser aplicado por exemplo, a raízes e rizomas, que
devem ser, previamente, cortados ao meio e colocados, depois, em tabuleiros ou redes.
195
Qualquer destes processos de secagem é bastante económico, pois não exige instalações
especiais, mas ambos requerem uma vigilância contínua uma vez que as condições atmosféricas
podem modificar-se de um momento para o outro, sendo praticamente impossível proteger as plantas
de uma chuvada súbita, que pode inutilizar uma secagem quase no seu termo.
Por isso, prefere-se fazer a secagem das drogas vegetais em abrigos especialmente construídos
para esse fim. Tais secadores devem ser instalados em locais convenientemente secos e possuírem
largas aberturas por onde entre o ar em grande quantidade. As plantas são estendidas cm prateleiras
existentes nestes secadores, as quais deverão estar suficientemenle afastadas umas das outras para que
o ar circule livremente entre elas e assim possa remover eficazmente a humidade contida nas drogas.
Por vezes, estas instalações estão equipadas com ventiladores que aspiram o ar carregado de
humidade, conseguindo-se, deste modo, uma secagem mais rápida.
P,>P
196
Quanto maior for a diferença entre P] c P-, mais rapidamente se conseguirá u secagem, pelo que
deve utilizar-se, como exsieantc, uma substância de baixa pressão de vapor. De acordo com a
Tabela XVIII (pág. 191), verifica-se que o melhor agente exsi-canlc c o anidrido fosfórico, pelo que
esta substância, juntamente com o cloreto de cálcio, são os exsicantes mais vulgarmente usados, se
bem que em muitos laboratórios se empregue, igualmente, o ácido s u lf úrico e o gele de sílica. Este
ú l t i mo produto, corado pelo cloreto de cobalto, apresenta-se azul se está anidro e róseo uma vê/
hidratado, pelo que é fácil saber-se quando é necessário substituí-lo. Alem
disso, o gele de sílica oferece ainda a
vantagem de poder ser desidratado por
aquecimento a I60"C, durante 2 horas, ficando
apto, após este tratamento, a ser utili/ado
novamente como exsicante, pelo que
constitui um produto bastante económico.
Hste facto, aliado às suas boas propriedades
exsicantes, tem contribuído para a
generalização do seu emprego como agente
cxsicanle.
Fig. 115. Modelos de exsicadores Na Fig. 115 representam-se dois modelos de
exsicadores correntemente utili/ados nos
laboratórios. De notar que os exsieadores aí reprodu/idos se diferenciam em dois tipos distintos
que se distinguem por um ter uma tampa inteiriça, ao passo que no outro a parte superior da tampa é
atravessada por um tubo ao qual está adaptada uma torneira. Nestes últimos exsicadores é possível,
mercê deste dispositivo, estabelecer comunicação com o seu interior mesmo depois de fechados, o
que permite, por isso, retirar o ai neles contido ligando o referido tubo, depois de aberta a torneira, a
uma máquina de vazio.
A vantagem destes modelos em relação aos do primeiro tipo reside na circunslân-
:ia de permitirem uma secagem mais rápida, pois que, eliminando por sucção o ar neles
ontido. permitem que as moléculas de água existentes no corpo a secar contactem mais
'aeilmente com o exsicante, o que encurta em cerca de 1/3 o tempo necessário para se
conseguir uma secagem conveniente.
197
E o processo mais correntemente utilizado para a secagem de corpos sólidos desde que
estes sejam termo-resistentes.
Os aparelhos geralmente usados para este fim são as estufas de ar cfucntc. das quais existe
no mercado grande variedade de modelos, na maioria aquecidos eléctrica-
mente, fazendo-se o aquecimento quer ao longo das paredes, quer nas próprias prateleiras onde se
dispõe o material a secar. Além disso, estas estufas estão, geralmente, equipadas com termostato, o
que permite a manutenção de uma temperatura constante durante o tempo desejado (Fig. 116).
A velocidade de secagem por este método depende de um certo número de factores, todos eles,
aliás, já considerados quando se tratou da Evaporação. Assim, a eliminação da humidade será
tanto mais rápida quanto mais dividido esliver o sólido a
secar, pois deste modo oferecerá uma maior superfície
à evaporação. Pelo mesmo motivo, o corpo a secar deverá
ser colocado, em camada delgada, nas prateleiras da
estufa.
Por outro lado, a secagem depende da diferença de
temperatura entre o ar circulante e o corpo a secar,
devendo procurar manter-se um afastamento acentuado
entre os valores da pressão de vapor no ar e na substância.
Para isso, é conveniente deixar escapar o ar da estufa, a fim
de evitar-se a sua saturação com vapor, pois quando tal
aconteça cessa a sua acção exsicante. Fig. 116. Diagrama de uma
estufa de ar quente
Também a velocidade a que o ar circula na
estufa tem grande importância na obtenção de uma boa secagem. Aliás, os dados que figuram na
Tabela XX mostram como alguns destes factores, tais como a temperatura de entrada e de saída do
ar e respectivo volume circulante, influenciam a velocidade de secagem. Tais valores são,
evidentemente, relativos a um determinado tipo de substância, pois variam consoante a natureza do
produto, a superfície do mesmo, etc., sem que, por isso, deixem de ser elucidativos.
Tabela XX. Quantidade de água retirada pelo ar, a diversas temperaturas e para diferentes
velocidades de fluxo, de um ambiente contendo material húmido
Temp. de entrada Temp. de saída Diferença Fluxo de ar Agua retirada
do ar("C) do ar ("C) t"C) (melhora) por m-f (}>)
40 30 10 60 16
60 40 20 30 33
SÓ 50 30 15 66
110 60 50 10 100
150 70 80 6 166
180 80 100 4 250
250 90 160 4 500
198
Acontece que na maioria das estufas a circulação do ar apenas se faz à custa de um pequeno
orifício situado na base. O ar enlra na estufa por este ventilador c sai para o exterior através de uma
abertura situada na parte superior, regulando-se o volume de ar admitido na estufa ajustando,
convenientemente, as tampas dos orifícios de entrada e de saída.
Certos modelos, porém, estão providos de um sistema de circulação forçada de ar, o que os torna
muito mais eficazes. Deste modo, conscgue-se eliminar as bolsas estagnadas de ar altamente
carregado de humidade formadas dentro da estufa, pois a circulação forçada provoca a sua
renovação constante por novas camadas de ar
mais seco. Por outro lado, a circulação forçada
aumenta a velocidade da corrente de ar que passa
sobre o corpo a secar, o que permite que a secagem se
processe mais facilmente (Fig. 117).
As estufas como a que se representa na Fig. 117
são modelos de laboratório, e, como tal, de
capacidade bastante limitada. Na industria
Fig. 117. Estufa de circulação forçada; A, farmacêutica, porém, há necessidade de secar, por
motor;
B, ventoinha; C. resistências de vezes, consideráveis quantidades de material, como
aquecimento; granulados para a preparação de comprimidos, e,
D, entrada de ar; E. saída de ar; F,
nesses casos, é v ulgar trabalhar-se com quantidades da
ordem das dezenas de kg. Em tais circunstâncias, as estufas convencionais são inadequadas para o
fim em vista, sendo necessário recorrer ao emprego de armários ou compartimentos de secagem,
cuja capacidade pode variar muito. Na Fig 118 A c B, pode ver-se um desses armários e a respectiva
secção vertical, o qual está especialmente indicado para a secagem de granulados.
A secagem de granulados fa/-se, actualmente, na indústria farmacêutica, mediante o emprego
de estufas de leito flutuante (Fluidized-Red Driers). Trata-se de estufas de ar quente, o qual incide
com certa pressão sobre o material a secar que se encontra numa câmara de secagem. Esta é
construída em tecido permeável ao ar ou a outros gases os quais a atravessam de baixo para cima, o
que ocasiona a movimentação das partículas a secar e o seu íntimo contacto com o ar ou o gás
utilizado. Nestas circunstâncias, cada partícula é complelamente rodeada pelo ar, o que confere
maior eficiência ao sistema. Além disso, o próprio turbilhão do ar mistura intimamente as partículas
entre si, o que leva à uniformização da temperatura em toda a câmara.
A Fig. 119 apresenta o esquema de uma destas estufas no qual está claramente indicado o seu
processo de funcionamento.
A propósito dos comprimidos voltaremos a considerar este assunto.
199
Também a secagem das plantas medicinais pelo ar quente, em escala industrial, só pode fazer-
se em instalações especiais. Entre outos processos usados para este fim, contam-se os secadores em
túnel, também chamados secadores contínuos ou de contra corrente, nos quais as drogas vegetais,
dispostas em tabuleiros assentes em carros metálicos deslizando sobre carris, são exsicadas por uma
corrente de ar quente, a qual se desloca em sentido contrario do do material a secar.
Os secadores contínuos podem assumir ainda a forma de um cilindro inclinado que gira em
volta do seu eixo. A substância a secar, geralmente pós ou granulados, é introduzida na parte
superior, circulando o ar quente em sentido inverso ao do produto que se pretende obter seco.
A vantagem destes secadores reside no facto de a secagem se fazer progressivamente, pois à
saída do aparelho o ar está mais quente e menos carrregado de humidade, sendo nesta fase do
percurso que é eliminada a humidade que não foi retirada na
200
passagem através da parte superior do aparelho. A Fig. 120 ilustra um aparelho deste tipo.
A secagem pelo ar quente pode tornar-se mais rápida e exigir temperaturas menos elevadas se
se fizer o vazio no interior da estufa. Estas estufas de vazio são construídas
de maneira a suportarem um vácuo mais ou menos acentuado, diferindo das
estufas normais sobretudo pelo aspecto da porta, a qual está construída de
modo a permitir uma vedação estanque e, ainda, por terem um tubo, provido
de torneira, que estabelece a comunicação do interior da estufa com o
exterior, por onde se faz o vazio (Fig. 121).
Como já referimos a propósito das estufas normais, também estes
modelos de estufas de vazio só se prestam para a secagem de quantidades
diminutas de material, utilizando-se, à semelhança do caso anterior,
armários de vazio para o tratamento de consideráveis volumes de produto a
s~* «x
o o secar.
o o A Fig. 122 representa um desses armários, tipo PASSRURG, o qual é
o o
constituído, geralmente, por uma câmara paralelipipédica de dupla parede
Fig. 119.s L/Esquema de * um
Fiuidized-Bed Died. 1. exaustor; 2. aquecida por vapor,, em cujo interior estão dispostas várias prateleiras
rede de dispersão do ar aspirado; também aquecidas. A parede anterior do armário é ocupada por uma porta
3. filtro de nylon; 4. pó a secar; 5.
redes de entrada de ar; 6. estanque, munida de fechos colocados no centro ou lateralmente, dispondo-
resistências de aquecimento do ar; se o material a secar em tabuleiros que se colocam nas prateleiras
9. regulação do fluxo de saída do
ar
aquecidas. Na parede posterior estão dispostos os tubos de chegada do
vapor para o aquecimento
da dupla parede e das prateleiras, encontrando-se montado na parte superior o tubo que estabelece
comunicação entre o interior do armário, o condensador de vapores e a máquina de vácuo. Mediante
a aspiração provocada por esta última, produz-se e
Materi
al
Ar frio
mantém-se um vazio relativo dentro do armário, o que permite uma secagem mais rápida e a
temperatura mais baixa do que seria conseguido operando-se à pressão normal.
201
Exs.
CONDENSAD
OR E VAZIO
Fig. 123. Esquema de um secador rotativo sob vazio Fig. 124. Exsicador de
Abderhalden
Neste lipo de secagem utiliza-se como fonte de calor para a evaporação da água a energia das
radiações infravermelhas de comprimento de onda compreendido entre l O 000-20 000 À.
Os raios infravermelhos são capazes de penetrar no material com que estejam em contacto c
transformarcm-se cm energia calorífica, promovendo, assim, uma elevação de temperatura
susceptível de assegurar a evaporação da humidade existente nos corpos sobre que incidem. A
vantagem deste processo de aquecimento em relação aos métodos
convencionais, geralmente utilizados,
reside no facto de que, com estes últimos, se obtém um
Lãmpadade l. V.
aquecimento rápido à superfície mas bastante
lento no interior dos corpos a secar, ao passo
que as radiações infravermelhas permitem uma
distribuição muito mais homogénea do calor
Tapete através do produto que se pretende exsicar.
transporta
dor Utilizam-se, em geral, lâmpadas de 250 W,
Produto desenvolvendo uma tem-
seco
Fig. 125. Secador em túnel por radiações
infravermelhas (Esquema)
203
peratura de 50 a 6O'C. que se podem colocar em estufas. Nas instalações de tipo industrial a
secagem por raios infravermelhos é feita em túneis ou galenas equipadas com lâmpadas capazes de
emitirem as mencionadas radiações, sendo o material a secar deslocado sobre passadeiras rolantes
ao longo da galeria. Este transporte, no entanto, deve ser realizado a uma velocidade
predeterminada, a qual permita que o material fique exposto ã acção das radiações infravermelhas
durante o tempo considerado necessário para que se dê a secagem.
6.3.5. EXSICAÇÃO
A exsicação é a operação por meio da qual se privam as substâncias cristalinas da sua água
de cristalização por aquecimento a uma temperatura elevada.
Em geral, os compostos tendo água de cristalização perdem-na, em pane, com relativa
facilidade por eflorcscência, daí resultando que (ais substâncias podem apresentar uma composição
variável e pouco definida. Por este motivo, e a fim de tornar a composição desses produtos uniforme,
é costume, muitas vezes, proceder à respectiva exsicação, ou seja, à eliminação lolal da sua água de
cristalização.
A exsicação deve fazer-se promovendo, numa primeira fase, a cflorescëncia do produto cm
causa, expondo-o ao ar, por vezes em ambiente ligeiramente aquecido.
Esta secagem inicial a baixa temperatura tem por fim evilar a fusão dos cristais ou a sua
dissolução na água de cristalização, o que, a verificar-se, pode interferir com a fase subsequente do
processo de exsicação.
Só depois de um período mais ou menos longo de exposição ao ar é que o composto deve
começar a ser gradualmente aquecido, até que acuse peso constante, momento em que se dá a
operação por terminada.
que o pó de dedaleira, colocado numa .atmosfera contendo 100% de humidade, pode absorver 80%
do seu peso de água.
Em geral, tais produtos são muito sensíveis à humidade relativa do ar e para poderem ser
conservados nas devidas condições deverão ser encerrados em recipientes especiais.
Para esse efeilo, são hoje correntemente utilizados frascos de capacidade apropriada, providos
de rolhas ocas, no interior das quais se coloca uma substância higroscópica, a qual origina uma
atmosfera seca dentro do frasco, à semelhança do que acontece nos exsicadores, de que alrás já
tivemos ocasião de falar.
Na Fig 126 representam-se dois modelos destes frascos, cuja substância exsicante é,
geralmente, o gele de sílica ou a alumina, produtos que se caracterizam por não deliquescerem e
serem facilmente regenerados por aquecimento.
BIBLIOGRAFIA
GENERALIDADES
Designa-se por liofilização uma técnica especial que permite a secagem de um corpo após
prévia congelação, removendo-se a água congelada (') por sublimação à custa de um vazio intenso,
de modo a dar-se, directamente, a passagem do estado sólido ao gasoso, sem que em qualquer
momento da operação o gelo formado retome o estado líquido.
Se bem que este processo de dessecação tenha recebido outras designações, como
criodessccação, criossubUmação ou freeze-drying, a verdade é que o termo liofilização, ao que parece
utilizado, pela primeira vez, por REICHEL, MASUCCI e BOYER, para denominar esta técnica de secagem, é o
mais empregado na linguagem científica corrente.
Dado que liófilo significa, textualmente, amigo dos solventes, o referido vocábulo traduz, com
fidelidade, as propriedades que caracterizam os produtos sujeitos a tal operação, os quais se
apresentam como corpos sólidos, de aspecto geralmente esponjoso e muito ávidos da fase líquida
deles eliminada, o que torna bastante fácil a sua redis-solução no momento desejado.
A aplicação da técnica da liofilização à secagem de substâncias alteráveis exigiu anos de
pacientes e laboriosas investigações antes que se tornasse a maravilhosa realidade que é
presentemente. De facto, há muito que os cientistas procuravam um meio apropriado à dessecação de
certos produtos de origem biológica, os quais, na sua grande maioria, são total ou parcialmente
destruídos quando submetidos aos processos convencionais para esse fim utilizados. E apesar de as
primeiras tentativas realizadas com tal objectivo datarem do século XVIII, a dessecação desses
produtos, exceptuando o caso particular do vírus da varíola, continuou por resolver durante muito
tempo.
Na primeira fase destas tentativas os produtos biológicos eram dessecados por processos
naturais, em que não intervinham nem aparelhos nem quaisquer artifícios que facilitassem ou
apressassem a secagem. Daí o motivo dos insucessos registados, o que levou, a partir de certa altura,
à utilização de várias técnicas físicas e químicas, as quais permitiram, então, obter resultados
nitidamente superiores aos conseguidos anteriormente.
Entretanto, dois físicos franceses inventaram em 1903 um aparelho que pode considerar-se como o
precursor dos liofilizadores actuais. De facto, numa comunicação apresentada naquele ano à
Academia das Ciências de Paris, D*ARSONVAL e BORDAS descreviam um sistema inédito de dessecação,
baseado na congelação do material a secar c na sua vaporização subsequente à custa do vazio,
fazendo a condensação dos vapores libertados durante a operação em recipientes colocados em
tubos de DEWAR,
contendo ar líquido ou neve carbónica misturada com acetona. Este dispositivo permitia, no dizer dos
citados investigadores, secar completamente e em poucos minutos, sem qualquer alteração do
material, farinhas, açúcares, bem como soros, vacinas e outros produtos.
Estava, assim, descoberto o princípio básico da liofilização, mas o facto passou despercebido, a
tal ponto que em 1909 o fisiologista americano SHACKELL, ignorando, certamente, os trabalhos dos
dois físicos gauleses, reinventou o processo já anteriormente posto em prática por D?ARSONVAL e BORDAS.
Desta vez, porém, um conjunto de circunstâncias várias concorreu para que as extraordinárias
potencial idades desta técnica de secagem não passassem despercebidas.
SHACKELL trabalhava no Instituto de Fisiologia da Faculdade de Medicina de St. Louis e dedicava-se
ao estudo das variações do teor de glicogénio no fígado e nos músculos. Tendo verificado que os
processos vulgares de secagem provocavam a hidrólise do glicogénio, teve a ideia de congelar o
material com que trabalhava, sendo os produtos assim congelados submetidos ao vazio, para se dar
aquilo que ele designava por volatilização do gelo, cujos vapores eram recolhidos em ácido sulfúrico.
Apesar de não utilizar o condensador que já figurava no dispositivo inventado por D!ARSONVAL e
BORDAS, nem por isso SHACKELL deixou de conseguir a sublimação do gelo formado por congelação do
material e a sua técnica permitiu-lhe resolver o problema que nessa altura o preocupava. E porque se
tratava, sem dúvida, de um cientista de larga visão, SHACKELL anteviu logo o extraordinário alcance
desta nova técnica, afirmando que ela permitia dessecar certos produtos instáveis relacionados com a
imunologia, que essas substâncias poderiam ser, então, preservadas indefinidamente e anunciava,
ainda, ter sido capaz de impedir, com a sua aplicação, os fenómenos que normalmente destroem o
complemento. E a sua intuição levou-o a acrescentar que os soros terapêuticos figuravam entre
aquelas substâncias às quais lhe parecia ser justificável aplicar este processo de dessecação.
Em 1911, ainda SHACKELL, mas agora de colaboração com HARRIS, aplicou com pleno êxito a sua
técnica de secagem à conservação do vírus da raiva, abrindo, assim, amplas perspectivas ao emprego
da liofilização como meio de preservar produtos de natureza complexa e eminentemente alteráveis.
Na realidade, a pouco e pouco foram-se alargando as aplicações desta técnica a outros campos
das ciências biológicas. Assim, dado que os microbiologistas sempre se preocuparam com o problema
da conservação das culturas bactcrianas, não é de estranhar que HAMMER utilizasse, pela primeira
vez, em 1911, a liofilização para tentar conservar em boas condições estes seres delicados,
conseguindo, deste modo, manter vivas algumys bactérias durante mais de um mês.
Em 1914, ROGERS aplicou a liofilização à preparação industrial de fermentos lácticos e, alguns
anos mais tarde, SWIFT anunciava ter conseguido manter vivos durante dois a três anos estreptococos
liofílizados.
207
Finalmente, em Junho de 1935, ano decisivo para a consagração dos méritos da liofilização,
EI.SER, THOMAS e STEFFEN publicaram a súmula das investigações que vinham realizando há cinco anos,
dando a conhecer os excelentes resultados obtidos com a aplicação da técnica da liofílização à
conservação de soros, vacinas e bactérias.
A esta comunicação seguiu-se, decorridos poucos meses, a publicação, no Journal of
immunology, de um importante trabalho sobre o mesmo assunto, devido a FLOSDORF e MUDD. Estes
autores, que fazem reviver o termo íiofilização, já anteriormente utilizado por RBICHFL e colab.,
descrevem, no citado trabalho, variados aparelhos para a prática desta operação, os quais lhes
permitiram confirmar ou demonstrar a possibilidade de liofilizar um grande número de produtos
biológicos.
A primeira consequência prática das investigações de FLOSDORF e MUDD foi a de tornar possível
a conservação de soros humanos e sua "distribuição regular para uso clínico pela Philadelphia
Serum Exchange. Isto era o prenúncio da importantíssima realização que iria seguir-se-lhe — a
liofílização do plasma, conseguida em 1940 — e que veio consagrar, de uma vez para sempre, as
ainda não ultrapassadas vantagens da íiofilização como meio de conservar corpos caracterizados
pela sua extrema fragilidade.
De facto, a liofili/ação c considerada hoje como sendo o método ideal para a secagem de
produtos tcrmolábeis ou de substâncias de natureza complexa em que figurem constituintes altamente
sujeitos a alterações por vários agentes, como o calor, o oxigénio, a humidade e tantos outros. E isso
porque, graças à congelação brusca c intensa a que os corpos a liofilizar são submetidos, estes
conservam todas as propriedades que possuíam no momento da congelação, mantendo-se
integralmente uma vez secos por sublimação do gelo formado.
Um dos exemplos mais demonstrativos do que é possível conseguir-se com a liofílização no
capítulo da preservação das características de um corpo a ela sujeito é, sem dúvida, o da
conservação dos microrganismos. Neste caso particular não interessa apenas mante-los vivos. O que
importa, sobretudo, é que possam desenvolver-se como antes de liofilizados, que apresentem os
mesmos caracteres morfológicos, culturais, bioquímicos e biológicos. Ora, isto é hoje perfeitamente
conseguido, cm muitos casos, desde que se recorra a técnicas adequadas.
As vantagens que a íiofilização oferece podem resumir-se do seguinte modo:
1 — A baixa temperatura a que se opera evita qualquer alteração química das substâncias
decomponíveis pelo calor. Por isso, um produto seco por esta técnica mantém inalterável a sua
composição química original, a sua actividade terapêutica e outras propriedades características. Se
for acondicionado e armazenado convenientemente, poderá manter-se sem alteração durante um
.longo período.
2 — A perda de constituintes voláteis está reduzida ao mínimo.
208
3 — Os produtos liofilizados apresentam uma estrutura esponjosa, o que contribui para a sua
rápida dissolução, assegurando-se, assim, a reprodução fiel do produto original uma vez posto o
liofilizado em contacto com a fase líquida primitiva.
4 — Durante a secagem o desenvolvimento de microrganismos e as reacções enzimáticas são
inibidas pelas baixas temperaturas a que se opera, o mesmo acontecendo nos produtos secos, pois o
seu teor em água é tão diminuto que torna impossível qualquer manifestação vital.
5 — A tendência que certos produtos têm paru coagularem quando dessecados por outras
técnicas está grandemente reduzida utilizando este processo.
Não é de estranhar, por conseguinte, que a lista dos produtos correntemente submetidos à
liofilização esteja a aumentar dia u dia. Entre eles, podemos citar, por exemplo, certos antibióticos,
como a pcnicilina, substâncias contendo proteínas termolábeis, soro e plasma sanguíneos, bactérias,
vírus, tecidos humanos para enxertos, etc.
Como é lógico, a liofilização, desempenha, igualmente, um papel da maior importância na
Tecnologia Farmacêutica, sendo já bastante numerosos os medicamentos preparados recorrendo à
sua utilização: soros, vacinas, globulinas, certas enzimas, hor-monas diversas, complexos vitamínicos
e antibióticos.
Esboçado, resumidamente, o caminho que foi necessário percorrer para se atingir o alio grau
de eficiência que caracteriza a liofili/ação, tal como é praticada actualmente, postas em relevo as
suas incontestáveis vantagens e dada uma ideia sumária das suas numerosas aplicações, impõe-se,
agora, que a estudemos em pormenor, para que fiquemos a conhecer os aspectos teóricos e práticos
basilares relacionados com esta importante operação.
Como se depreende da definição que demos de liofilização na pág. 205, esta consiste,
essencialmente, em desidratar pelo vácuo um produto congelado, através da sublimação do gelo. O
ponto fundamental do processo está em evitar que o gelo funda durante a operação, o que se
consegue com relativa facilidade desde que se actue abaixo do ponto triplo.
Se considerarmos o diagrama da Fig. 127, que representa o equilíbrio pressão--temperatura
para a água, verifica-se que há um ponto, precisamente o ponto triplo, definido pela intercepção das
coordenadas 0,0098°C e 4,58 mm de Hg, em que aquela coexiste, simultaneamente, nos estados
sólido, líquido e gasoso. Deste modo, torna-se evidente que para todos os pontos da linha
correspondentes a valores de pressão e temperatura inferiores aos que definem o ponto triplo, a água
só poderá existir nas fases sólida e gasosa em equilíbrio. Basta, portanto, operar em condições de
pressão e
209
Pressão em rrm de Hg
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Fig. 127. Diagrama do equilíbrio pressão-temperatura para a água
temperatura que se situem abaixo do referido ponto triplo para que se obtenha a sublimação
do gelo e se evite a sua fusão, sendo também evidente que a sublimação será tanto mais intensa
quanto mais baixa for a pressão para cada valor de temperatura inferior a 0°C. No diagrama
da Fig. 128 observa-se, de modo esquemático, a coexistência das fases sólida, l í q ui da e
gasosa no ponto triplo (T).
_
Do que acabámos de dizer ressalta que há duas fases
capitais em todo o processo da liofilização: a congelação
prévia do material a liofïlizar, seguida da sublimação do
gelo formado, estando implicitamente ligada a esta última o VAPOR DE AGUA
problema da condensação dos vapores libertados durante a
operação. TEMPERATURA
Fig. 128. Diagrama esquemático do equilíbrio
pressão-temperatura para a água
210
Como acabamos de ver, a liolili/.ação inicia-se pela congelação prévia do material a dessecar, e esla
deve ser condu/ida segundo condições bem determinadas para que se torne possível a obtenção de produtos
com as características desejadas.
Na realidade, durante a congelação pussam-se determinados fenómenos que podem originar sensíveis
alterações na estrutura íntima de muitos produtos biológicos correntemente submetidos a esía técnica de
secagem, pelo que é necessário conhecê-los para que seja possível eviuí-los.
Rniretanto. para que se (orne compreensível o que .se passa durante a congelação dos produtos de
origem biológica, de natureza sempre bastante complexa, i m põe-se estudar, primeiramente, a t e nome no [og ia
da congelação em sislcmas mais simples. E como é natural, começaremos por examinai' o que se pa^su na
cri;.lali/ação da água.
A agua pura manlém-se no estado líquido até 0"(\ desde que a pressão seja de 760 mm de Hg. começando
a congelar logo que a temperatura atinja aquele \alor. Acontece, porém, que em certos casos a água
permanece líquida a temperaturas in l e-riores a 0"C, o que corresponde a um estado üe sohre-fusão. Tal
fenómeno ocorre, principalmente, nas estruturas capilares e, d u m modo geral, sempre que a liberdade de
movimentos das moléculas está cerceada. Todavia, este estado de sobre-lusão é m u i t o instável e basta uma
variação térmica ou um eleito mecânico para se verificar a cristal i/açâo espontânea.
For outro lado. as dimensões dos cristais de gelo dependem da velocidade da congelação. Se esta é feita
lentamente, formam-se núcleos de cristali/.ação em número redi)7ido. e. deste modo, os cristais são grandes e
irregulares. Se, pelo contrario, a cofïiíclaç/ão é feita bru.sc;mienlo, origina inúmeros centros de cristali/acáo, os
quais, desenvolvendo-se. transfoiTmar-se-ào em outros tantos cristais, mas agora muilo mais numerosos por
(inidaííe de .superfície e, por conseguinte, de dimensões mais redu/idas.
Depois de terminada esta cnstalUacão ini cial , pode acontecer que se a temperatura não for muito baí\a
se ifé uma nova recrtMüii/ação inlerna do gelo, (radu/ida pela aglomeração do> erislalitos, em cristais mais
volumosos.
Além disso, em determinadas condições, sobretudo quando se opera a temperaturas muito b-üxas e a
congelação é feita bruscamente, dá-se o fenómeno da viirificíi^ao. Isto significa que a água origina um
vidro, como acontece quando se condensa o vapor de água sobre uma placa metálica mantida à temperatura
do azoto líquido. Se. entretanto, elevarmos a temperatura após formação do viclro. este permanece
inalterável até cerca de -)3()°r. Só a temperaturas superiores é que se inicia uma cristali/ação lenta, pró-
211
duzindo-se modificações que levam à formação de um estado caracterizado pela sua instabilidade, não tardando a
rcgistar-se a desvitrificação, traduzida pela cristalização normal do material até aí amorfo.
A água presente nos produtos de origem biológica contém em dissolução vários sais minerais e outras
substâncias de natureza mais ou menos complexa, as quais provocam alterações sensíveis nos fenómenos de
congelação.
A adição de sais à água altera não só a fornia como a cristalização se dá, mas também retarda a velocidade
da formação dos cristais.
Suponhamos o caso de uma solução de cloreto de sódio a IO"/™,. Ao arrefecer lentamente tal solução, os
primeiros cristais de gelo formam-se a cerca de -0,5"C. temperatura correspondente ao abaixamento crioscópico
do referido líquido. A partir daí a cristalização progride gradualmente, mas apenas se separa gelo no estado puro.
À medida, porém, que vai aumentando o número de cristais formados, o produto sujeito à congelação adquire a
estrutura de um sólido percorrido por vários interstícios, onde se acumula o que resta da solução ainda por
congelar, a qual se torna cada vez mais concentrada. De faclo, como nesta primeira fase apenas há formação de
gelo puro à custa da água da solução, a fase líquida vai diminuindo e, por consequência, terá que aumentar,
forçosamente, a sua concentração em produto dissolvido. Está calculado que, abaixo de -6"C, 90% da água
transforma-se em gelo e, portanto, a solução por congelar apresenta agora uma concentração 10 vezes superior à
do líquido inicial. Este aumento progressivo da concentração do líquido remanescente mantém-se até ser atingida
a temperatura de cerca de -21 "C, momento em que a solução intersticial congela bruscamente, formando-se uma
mistura íntima de cristais de gelo e de NaCl,2H2O. Tal mistura constitui um eutético e a sua temperatura de
congelação é, precisamente, de -21,3°C Como já tivemos ocasião de dizer quando tratámos dos processos de
arrefecimento (pág. 176), as misturas eutéücas apresentam composição diferente de umas para as outras mas
sempre fixa para cada caso particular, além de que cada uma tem a sua temperatura própria de congelação, a
qual se chama ponto eutético. Isto significa, por conseguinte, que se torna necessário determinar o ponto de
congelação para cada caso específico ou, então, impòe-se trabalhar a temperaturas muito baixas, como aliás se
faz na prática, pois só assim há possibilidade de se atingir o ponto eutético da solução que se pretende congelar.
212
Nem sempre, porém, os limites referentes à zona de congelação são nítidos e precisos como no exemplo que
escolhemos e, por isso, muitas vezes se fala de zona de eutexia, em vez de ponto eutético, o qual é sempre
perfeitamente definido.
Por outro lado, a adição de sais à água actua sobre a velocidade da cristalização. Vários autores, como REY,
TAMMAN e BUCHNER, entre outros, puderam demonstrar que diversos sais diminuem, consideravelmente, a velocidade
de formação dos cristais de gelo. Aliás, o mesmo acontece com certas substâncias orgânicas, como a glicerina, por
exemplo, verificando-se, além disso, que paralelamente ao atraso registado na cristalização as dimensões dos
cristais diminuem de modo muito considerável, ficando o líquido congelado nestas condições com um aspecto
característico, semelhante ao feltro.
Claro que os fenómenos a que aludimos apenas se observam durante a congelação lenta e gradual de uma
solução. De facto, é possível obter, igualmente, uma estrutura criptocristalina congelando rapidamente o líquido.
Nestas circunstâncias, não há, então, separação de fases, obtendo-se um produto vítreo e instável, o qual evolui
rapidamente, não tardando a cristalizar totalmente à semelhança do que acontece com a água pura.
Além da água e sais minerais, figuram, como constituintes dos produtos biológicos, numerosas outras
substâncias, muitas delas dotadas de elevado peso molecular, que se encontram nas células no estado coloidal.
Ora, a congelação de tais compostos é sempre delicada, pois há o risco de sofrerem alterações e romper-se de
modo irreversível o equilíbrio anteriormente existente entre as fases dos sistemas de que fazem parte. Vejamos,
resumidamente, em que podem consistir essas alterações, servindo-nos, para isso, de três exemplos diferentes.
Consideremos, em primeiro lugar, as experiências de HAZEL e SCHIPPER, com ácido silícico em solução coloidal.
Se um sole deste ácido for congelado rapidamente a temperatura inferior a -55"C e, depois, também rapidamente
descongelado, o produto mantém-se estável. Todavia, se a descongelação for realizada lentamente, dá-se a coa-
gulação irreversível do sole.
Por outro lado, se o mesmo produto for congelado rapidamente a uma temperatura superior a -55°C, por
exemplo a -40"C, e depois arrefecido com azoto líquido, haverá congelação e desnaturação, qualquer que seja a
velocidade de descongelação. O mesmo acontece sempre que a congelação seja obtida lentamente, constituindo
este caso um exemplo de como as condições de congelação e descongelação podem originar a ruptura de um
equilíbrio coloidal preexistente. Trata-se, aqui, evidentemente, de um fenómeno meramente físico.
Mas pode acontecer que a congelação actue sobre os sistemas coloidais por intermédio de variações de
concentração salina por ela originadas. Assim, ao arrefecermos
213
uma gema de ovo, a cristalização inicia-se a -0,5 8°C, e se o arrcfecimenlo não ultrapassar -6"C verifica-se que,
após descongelação, a gema conserva a sua fluidez e não foi alterada. O mesmo já não acontece se a temperatura
for mais baixa, pois neste caso sucede que durante a descongelação se forma um precipitado irreversível de
lecitovite-linas. Entretanto, congelando a gema de ovo por imersão em azoto líquido (-l96nC) e promovendo a sua
rápida descongelação, aquela não sofre qualquer alteração. Este comportamento variável do mesmo produto
perante duas condições operatórias diferentes explica-se porque na segunda eventualidade tanto o arrefecimento
como a dês congelação foram de tal modo bruscos que não houve possibilidade de se formarem soluções salinas
concentradas, responsáveis pela precipitação das lecitovitelinas, o que, todavia, acontece no primeiro caso.
Finalmente, a própria natureza do sistema coloidal tem uma influência directa sobre o modo como se dá a
congelação, conforme foi demonstrado pelas experiências de MORAN e HARDY. Estes autores procederam à
congelação de discos de gelatina e verificaram que a forma da cristalização dependia, sobretudo, do grau de
hidratação da referida substância.
Assim, quando o produto contem menos de 34% de água, a estrutura do congelado é sempre homogénea e
cristalina, qualquer que seja o modo como a congelação tenha sido conduzida. Uma vez, porém, que a quantidade
de água esteja compreendida entre 60-90%, a forma de cristalização já depende inteiramente d?, maneira como se
tiver processado a congelação, ficando o produto com aspecto diferente consoante esta é feita lenta, rápida ou
muito rapidamente.
Como acabámos de ver, quando se submete um produto à congelação, a primeira fase desta é representada
pela formação de gelo puro. Mas como também já acentuámos, sempre que o corpo se assemelhe a um sistema
capilar, é frequente observar--se o fenómeno da sobre-fusão, devido ao qual se mantém o estado líquido para tem-
peraturas nitidamene inferiores ao abaixamento crioscópico normal da solução que se pretende congelar.
Entretanto, a quantidade de gelo aumenta, gradualmente, à medida que a temperatura vai baixando. Deste
modo, a fase líquida diminui progressivamente e, mercê disso, a parte ainda não congelada torna-se, como é lógico,
cada vez mais hipertónica. O produto submetido à congelação assemelha-se, assim, a uma esponja de gelo, cujos
canalículos formam uma rede contínua cheia de um líquido altamente hipertónico, o qual só congelará quando for
atingido o respectivo ponto eutéüco.
214
Nestas condições, as células constitutivas dos produtos biológicos, quando arre tecidas a uriiii
temperatura superior à sua temperatura de eutexia. ficam cm contacto com líquidos hipertómcos c sofrerão,
forçosamente, alterações resultantes dos choques osmóticos provocados pela elevada concentração das soluções
que as banham. Isto significa que cm todo o processo de congelação existe uma /ona de temperaturas propícia
à formação de soluções de elevada concentração e. se quisermos evitar a acção nociva que estas exercem sobre
os sistemas coloidais das células, teremos que franqueá-la o mais rapidamente possível.
Pelo que atrás dissemos, ç de esperar que a uma temperatura correspondente ao pomo entérico a
cristalização seja total. Quando esse ponto é atingido, tud o se lorna sólido e não existe, por conseguinte, o
perigo de se formarem soluções hipertónicas, com os inconvenientes já referidos. Deste modo, comprende-se o
enorme interesse de que se reveste a determinação precisa da temperatura de solidificação de um determinado
material, pois este valor constitui o li mite térmico superior a não ultrapassar para que se possa executar uma
liofilização sem que haja o risco de se provocarem fenómenos de puffing l 1 ) ou de fusão localizada.
Dado o interesse prático que o conhecimento desse valor representa, surgiram vários métodos para a
determinação da temperatura de eutexia. constituindo o método proposto por (JRLAVLS, na opinião de RF.Y, um
dos melhores processos para esse f i m propostos.
O método em questão baseia-se no estudo da condutividade eléctrica do material congelado, o qual,
dada a sua estrutura espo.ijosa inicial, com canalículos cheios de líquido salino, é bom condutor da
corrente eléctrica, aumentando a sua resistência à medida que a congelação progride, ate um ponto em que
esta se torna m u i t o elevada e se admite que -o produlo está, então, completamcnte solidificado.
Com efeito, se arrefecermos, progressivamente, uma solução salina como o líquido de EARLE, verifica-
se que a sua resistência aumenta à medida que a temperatura baixa. Quando a temperatura atinge a
vizinhança de -45"C a resistência aumenta m u i t o rapi
( 1 ) O puffinx consiste na ebulição brusca do líquido relido nos inierslícios do produto c i|ii;ini1o
este é submetido ao va/io. o que origina uma espuma abundante.
215
damente, atingindo o valor de alguns milhões de ohm. em"1 ao redor de -50"C. Pode admitir-se que a cristalização
é, então, completa, e se o produto for reaquecido a resistência baixa rapidamente à medida que vai reaparecendo
a fase líquida. A partir de -20"C esta variação é mais lenta, sem dúvida porque, como geralmente se admite, a esta
temperatura as misturas eutéticas intersticiais readquiriram, na sua maior parte, o estado líquido.
Isto mostra que as propriedades físicas de um sistema aquoso mantido a baixa temperatura não dependem,
exclusivamente, da temperatura do sistema, num dado momento, sendo também necessário considerar o tratamento
térmico a que foi sujeito. Tudo parece indicar, portanto, que o período crítico seja o da congelação. Na realidade,
as curvas de variação da resistência correspondentes ao reaquecimento, traçadas no decurso de experiências
sucessivas, são perfeitamente sobreponíveis, ao passo que as mesmas curvas respeitantes ao período de
congelação apresentam grandes divergências. Tal facto pode airibuir-sc a uma sobre-fusão dos eutéticos em jogo,
como se depreende das investigações levadas a cabo por RFY. Este autor, servindo-se da observação microscópica
directa, verificou que as soluções de cloreto de sódio a 10%o, que em condições normais deviam estar
completamente cristalizadas a -2l,3"C, podem apresentar canalículos cheios de líquido mesmo quando arrefecidas
a cerca de -4O'C, temperatura à qual cristalizam, então, bruscamente.
Quer isto significar que, por vezes, o ponto de eutexia pode aparecer a temperaturas anormalmente baixas e
originar, assim, modificações nas curvas de resistência registadas durante a fase de congelação numa série de
ensaios, sem que o mesmo se observe nas curvas traçadas durante o período de reaquecimento do produto
congelado. Na realidade, o estudo da variação da resistividade eléctrica de uma solução aquosa de cloreto de
sódio mantida a baixa temperatura mostra que o eutético formado funde exactamente a -21,3°C quando o sistema
é aquecido.
Deste modo, pode afirmar-se que, para um sistema biológico qualquer, arrefecido a baixa temperatura, não
existe uma estrutura tipo que seja característica de um determinado valor de temperatura, salvo se ela for obtida
sempre do mesmo modo. De facto, a textura de um material congelado a -40'C será outra, diferente da primeira,
se o mesmo produto for previamente arrefecido a -8()"C e reaquecido, depois, à referida temperatura de -40°C. É
evidente, portanto, que o modo como o arrefecimento for realizado influencia directamente o processo da
cristalização e será o elemento determinante da estrutura final do produto congelado.
Em certa medida, porém, o estudo da resistividade do sistema a baixa temperatura permite ligar esta ou
aquela variação estrutural com um valor mais ou menos f ix o da resistividade eléctrica. Por este motivo, a medida
da resistividade do espécime, antes e durante a liofilização, pode fornecer indicações preciosas sobre a sua
estrutura e respectiva evolução e permitir, assim, que se regule, automaticamente, a operação quando isso se
torne necessário.
216
217
transformações vítreas seguidas de desvitrificação, como nas soluções p;licerinadas (Fig. 131).
Uma das principais vantagens oferecidas por este método de análise é, pois, a de
tornar possível seguir a evolução das fases vitrosas,
permitindo determinar, caso isso seja necessário, as .,
condições óptimas do tratamento térmico a aplicar a um
tal sistema. Suponhamos, por exemplo, que uma deter- .,
minada solução originava, no decurso de uma congela
ção moderadamente lenta, um sistema sólido em que *°
figurava uma percentagem notável de material vílreo. (
Ao pretender liofilizar um tal sistema, é de crer que no
decurso do reaquecimento o vidro se transformasse ~a
lentamente num líquido muito viscoso c, depois, se _,
tornasse cada vez mais fluido, originando assim um
acidente de puffing ou de fusão local. ~'
Em casos como este, a análise térmica diferencial _2 pode
mostrar que durante a fase de reaquecimento lento o líquido
viscoso cristaliza bruscamente e origina um sólido de estrutura o 10 to 9a
123 minutos
homogénea a determinada temperatura. De posse desta indicação, Azoto '
* horss
poder-se-ia aplicar ao material a liofilizar o tratamento térmico líquido
mais indicado: um primeiro arrefecimento para congelar a Fig. 131 Diagrama da análise térmica
solução; um reaquecimento lento e regular para provocar a diferencial de uma solução fisiológica
cristalização das formas vitrosas; finalmente, um novo arrefeci- tamponada (líquido de Earie contendo 5%
mento destinado a levar o sólido cristalino formado à temperatura de glicerina) congelada rapidamente em
azoto líquido e aquecida lentamente. Após
conveniente para a sublimação do gelo. uma modificação vitrosa a
Deste modo, uma vez conhecida a temperatura de -117°C, a solução apresenta um fenómeno
cristalização total, determinada por resistividade, a temperatura de de desvitriticação a
-105n C. Observa-se depois cristalização
fusão inicial e as propriedades térmicas do sistema a baixa
exotérmica da água cúbica em água
temperatura, torna-se possível conduzir uma liofilização com exagonal (-86°C) e, seguidamente, o início
segurança e o máximo de eficácia. Na realidade, o conhecimento da fusão do eulético gltcerina-água (a -
destes elementos evita, por um lado, a realização de um número 58°C), até fusão total, a -28°C. (Segundo
Rey}.
razoavclmenle
grande de ensaios para se estabelecer a técnica mais apropriada a cada produto e toma possível um
melhor aproveitamento das instalações de liofilização.
Como se depreende das considerações anteriormente feitas, para liofilizar um produto qualquer é
necessário arrefecê-lo suficientemente para que a sua cristalização seja total. Mas desde que se trate
de substâncias caracterizadas por grande fragilidade,
218
em particular tecidos vivos, a velocidade da congelação tem grande importância, pois entre o
aparecimento dos primeiros cristais de gelo e a crislalização total das misturas eutéticas estende-se,
por vezes, uma larga zona térmica, dentro de cujos limites se originam soluções fortemente
hipertónicas, cuja acção sobre os sistemas coloidais celulares c, como vimos, altamente prejudicial.
ImpÒe-se, portanto, que os limites dessa zona sejam atravessados o mais rapidamente possível e.
por isso, em todas as congelações lentas convém dar a devida atenção ao modo como se efectua a
transferência de calor através do espécime a congelar. Aliás, o exemplo proposto por MHRYMAN
ajuda--nos a compreender como as coisas se passam (Fig. 132).
Frente de cristalização
Fig. 132 Evolução da temperatura no interior de um sistema aquoso
isotrópico mergulhado num banho refrigerante a -196°C com contacto
térmico perfeito. (Segundo Meryman)
Suponhamos uma esfera de um líquido isotrópico mergulhada num banho refrigerante com o
qual estabelece um contacto térmico perfeito. Admitamos que no início da congelação a temperatura
do banho era de -l96"C e no centro da esfera de +20"C. Nestas condições, forma-se, muito
rapidamente, um invólucro de gelo à periferia da esfera e a sua espessura vai aumentando em
direcção ao centro desta. E como a condutibilidade calorífica do gelo é bastante superior à da água
e o seu calor específico é cerca de metade do daquela, acontece que a temperatura desce
rapidamente no interior da camada de gelo e o líquido residual no centro da esfera vai sendo
também arrefecido com facilidade. Assim, desde que a temperatura do banho seja mantida a -196"C,
a zona de temperaturas perigosas, que geralmente se estende de 0° a -40"C, será atravessada com a
rapidez suficiente para se evitar a actuação das soluções altamente concentradas.
Discutidos alguns dos aspectos mais importantes relacionados com a congelação do material a
liofilizar, passaremos, agora, a considerar os problemas que a fase seguinte do processo, ou seja, a
sublimação do gelo, envolve.
Para melhor compreensão do assunto, impõe-se que, antes de abordarmos o estudo da
aparelhagem utilizada na prática, consideremos a marcha teórica da sublimação, servindo-nos, para
isso, do esquema representado na Fig. 133.
O aparelho compreende, como se vê, uma câmara de secagem, A. ligada a um condensador, B,
por sua vez em comunicação com uma bomba de vazio. O material a secar é colocado na referida
câmara A, e se o sistema estiver fechado e em equilíbrio no vazio, existirá em A uma pressão de
vapor, p, correspondente à pressão de vapor saturante do gelo à temperatura /. Entretanto, se a
bomba de vazio trabalhar cm condições tais que a pressão no compartimento B seja mantida
constantemente a um valor inferior a p, produzir-se-á uma emissão contínua de vapor e a substância
vai secando lentamente.
Supondo que pt> é a pressão correspondente ao vazio limite dado pela máquina em B, o vapor
condensar-se-á aí se a temperatura T for tal que a pressão do vapor de água saturante do gelo a essa
mesma temperatura seja inferior a pti. Desta maneira, o gelo destilará sob a forma de vapor em A e
irá depositar-se à superfície do condensador B,
220
dependendo, como é evidente, o fluxo de vapor entre A e B das tempcralura^ / e T a que estas duas
partes do aparelho são mantidas, pois quanto mais afastadas elas estiverem mais rápido será esse
fluxo.
Prgduto
congelad
o \
Acontece, no entanto, que esta emissão contínua de vapor à superfície dos cristais de gelo
provoca dois fenómenos térmicos distintos; Por um lado, a vaporização origina um
arrefecimento continuo das superfícies emissoras de vapor e, por outro, exige que o meio
ambiente à periferia do produto mantido a uma temperatura fixa t. forneça a este uma quantidade
constante de calor. Na realidade, se admitirmos que o contacto térmico entre o material
congelado e o meio que o rodeia é perfeito, de tal modo que esse material esteja à referida
temperatura t, toma-se necessário, para que esta se mantenha sem variação, que se forneça
continuamente ao meio que circunda o material a secar uma certa quantidade de calor para
compensar o arrefecimento devido à sublimação do gelo. Só assim é possível, como se
compreende, manter em equilíbrio a temperatura do produto a liotïlizar com a do meio
ambiente, estando calculado que a quantidade de calor a fornecer, correspondente ao calor de
sublimação do gelo, é de 672 calorias por grama de água à temperatura de -30"C.
Isto significa, por conseguinte, que a sublimação do gelo apenas se dará a uma velocidade
razoável se o produto a liofilizar for convenientemente aquecido. Este aquecimento constitui, como é
óbvio, um dos pontos cruciais e mais delicados de todo o processo da liofilização propriamente
dita, e a ele voltaremos mais adiante; todavia, antes de o abordarmos mais pormenorizadamente
parece-nos aconselhável passar em revista outros factos ligados à sublimação.
Assim, mesmo que as condições de temperatura a que o espécime se encontre sejam as
consideradas óptimas, é preciso não perder de vista que o vapor que abandona a interfase
material-atmosfcra confinante terá que percorrer uma certa distância até chegar ao condensador
e que durante este percurso alguns obstáculos se opòem à sua marcha, sendo uns representados
pelo próprio material e outros devidos ao aparelho. Vejamos em que consistem.
e a sua marcha ao longo do material a liofilizar faz-se através dos espaços deixados livres pela
sublimação das sucessivas camadas de gelo. Ora, como tais espaços apresentam nas suas paredes
pequeníssimas soluções de continuidade, a camada dessecada fica atravessada por uma rede de
estreitos canalículos comunicando uns com os outros, a qual constitui a via de saída para o
exterior do vapor resultante da sublimação dos cristais de gelo à superfície da interfase.
É claro que esta travessia que o vapor é obrigado a fazer para atingir o exterior poderá
realizar-se com maior ou -menor facilidade e isso é que representa a resistência do espécime à
emissão do vapor, definindo-a GERSH e STEPHHSON como o inverso da probabilidade para que
uma molécula de água emitida por um cristal de gelo atinja a superfície exterior antes que seja
fixada de novo sobre outro cristal. São vários os factores que podem condicionar a resistência do
espécime, como a forma dos cristais de gelo, a disposição das misturas eutcticas e suas linhas de
fractura. Também a espessura da camada exsicada desempenha um papel a considerar, tendo-se
verificado ainda que, para espessuras iguais, a forma da referida camada é também um elemento
a ter em conta, sendo a forma esférica a mais permeável.
Por outro lado, o regime de circulação do vapor no interior da substância seca também
condiciona a resistência por ela oposta. Assim, no regime difuso, próprio dos produtos
congelados a temperaturas medianamente baixas, tendo originado cristais de apreciáveis
dimensões, o percurso médio livre das moléculas de água é pequeno em relação com os espaços
intercristalinos, e a resistência oferecida pelo material será, em tais condições, fraca. Tratando-
se, porém, de um regime de circulação molecular, o produto já opõe apreciável resistência à
emissão de vapor, pois neste caso o percurso médio livre das moléculas é muito grande em
relação aos interstícios que separam os cristais. É o que acontece com as soluções congeladas a
baixa temperatura, que originam uma rede microcristalina de estrutura muito fina.
levado a um grau tal que o ar dentro do aparelho seja eliminado o mais possível e, por outro lado,
é da maior importância que não existam estrangulamentos entre a câmara e o condensador. Esta
característica assume um interesse especial quando o fluxo de vapor é abundante, pois nesta
eventualidade tais estrangulamentos oferecem uma acentuada resistência à passagem daquele.
Quando a liofilização se faz a pressões da ordem de K)-4 mm de Hg o fluxo de vapor passa a
ser do tipo molecular e a resistência oferecida pelo aparelho depende neste caso, principalmenle,
da sua forma geométrica. Isto verifica-se nas liofilizaçòes executadas a lemperaturas muito
baixas, circunstância em que a dessecação é sempre bastante lenta. Por isso, o desenho da
aparelhagem desempenha, nestas circunstâncias, um papel preponderante, devendo esta ser
concebida de modo que as moléculas de vapor que deixem o produto atinjam a superfície de
condensação directamente, ou, quando muito, após uma ou duas reflexões sobre as paredes do
aparelho.
Acabámos de passar em revista alguns dos factores que podem contrariar, em certa medida,
a emissão de vapor à superfície dos cristais de gelo e já então tivemos oportunidade de salientar
a necessidade de fornecer uma certa quantidade de calor ao produto a sublimar.
De facto, as condições cm que se processa a liofilização devem assegurar um perfeito
equilíbrio entre a pressão e a temperatura a que a operação c executada, pois de outro modo esta
será extraordinariamente demorada. Com efeito, a velocidade de sublimação do gelo será tanto
maior quanto mais baixa for a pressão a que se opere e mais elevada a temperatura a que estiver
o material a dessecar, e, por este motivo, quando a liofilização for realizada a baixa temperatura
a sublimação só se verifica criando no aparelho um vazio muito pronunciado.
Entretanto, na prática recorre-se quase sempre ao aquecimento do material congelado para
apressar a sublimação do gelo, mas tal aquecimento terá que ser feito em condições
perfeitamente controladas, sob pena de conduzir a resultados desastrosos.
Na realidade, a quantidade de calor a fornecer deve ser tal que nunca, em qualquer
momento da operação, provoque a fusão dos eutéticos presentes no produto congelado, e, por
outro lado, terá que fornecer as calorias necessárias para a sublimação do gelo.
Daqui se torna evidente que os fenómenos ligados à referida sublimação constituem o fulcro
central da liofilização, podendo representar-se o processo de sublimação pela seguinte equação:
dQ dm
———— = Csub,———— O
dt dt
224
em que Q é a quantidade de calor necessária para sublimar a massa m no tempo t e Cíub! (calor de
sublimação) é uma conslanle, expressa em caloria. g~', que se calcula pela equação de CLAPEYRON:
T dp / l
(2)
J dt
a qual estabelece a relação entre a temperatura T, a. pressão do vapor saturante p e as massas específicas do
vapor e do sólido, respectivamente \ivap e |l.çrï/, sendo ./ o equivalente mecânico da caloria.
Como vimos ao descrever a marcha da emissão do vapor (pág. 220), à medida que o gelo é sublimado o material a
dessecar cobre-se de uma crosta mais ou menos espessa de material exsicado, percorrido por uma rede de canalículos
comunicando entre si, de modo que a ínterfase de sublimação se vai situando cada vez mais no interior da massa.
Considerando para uma área unitária da interfase de sublimação um canalículo a ela perpendicular, através do qual se
dá o fluxo de vapor, esse canalículo corresponderá aos espaços deixados livres pêlos cristais de gelo, que se pode
admitir serem cúbicos e todos de iguais dimensões. Representemos por A a área da face dos referidos cubos e por a a
área total das soluções de continuidade existentes nas respectivas paredes que, como vimos, constituem a via de escape
do vapor.
Ora a teoria clássica dos gases prevê a seguinte relação para a massa de vapor que passa através de um orifício, de um
ambiente para o outro, na unidade de tempo (CHAMPIONe DAVY):
dm s (/?,-/?,)
(3)
dt (2 n RT)
cm que s é a área da abertura através da qual flui o vapor,/?! e p,, são, respectivamente, as pressões interna e
externa, T a temperatura e K a constante dos gases perfeitos.
No caso que nos interessa s = a/A; p} = pf, ou seja, a pressão do vapor na interfase de sublimação; p, = p^ sendo p^ a
pressão à superfície externa. Teremos então:
dm a P -p
s
* (4)
dt A (2 TT RT)1
equação que exprime a quantidade de vapor que flui da massa a sublimar por unidade de tempo à temperatura T.
Para que o ritmo da emissão de vapor não sofra flutuações apreciáveis é necessário, portanto, que a interfase de
sublimação, cuja localização, como já dissemos, varia no decurso da secagem, receba do exterior uma quantidade de
calor que a mantenha a
225
uma temperatura constante. Ao discutirmos este assunto teoricamente partimos da premissa de que o contacto temi iço
entre a fonte de calor c o material era perlei to. mas na realidade as coisas passam-se de modo diferente, o que torna o
aquecimento do material um dos pontos mais delicados da liofilização.
De facto, acontece que, na prática, o calor fornecido ao material tem que atravessar uma serie de camadas
possuindo condutibi l idades térmicas diferentes, até atingir a superfície de evaporação, por vezes situada bem no
interior do produlo a secar. E como este é geralmente acondicionado cm frascos, cujas paredes podem apresentar uma
espessura muito variável, compreende-se como é difícil fazer chegar ao local exacto a quantidade de calor necessária
para a boa sublimarão do gelo. Acontece ainda que em vários modelos de liofilizadores de tipo industrial o fundo dos
recipientes é o único ponto em contacto com a superfície de aquecimento. Em tais aparelhos loma-sc necessário que
as superfícies de aquecimento estejam a temperaturas relativamente elevadas para aquecerem convenientemente a /ona
de sublimarão. Daqui resulta que o material congelado situado no fundo do frasco, se estiver em contacto directo com
a fonte de calor, corre o risco de ser aquecido a uma temperatura superior à da /ona de eutexia e sofrer fenómenos de
fusão. Um processo de aquecimento semelhante ao que acabamos de referir provoca, necessariamente, gradientes
térmicos variáveis conforme se trate da interfase de sublimação, da parte já seca ou da massa ainda congelada. Estas
variações de temperatura podem, contudo, anular-sc em parte se o calor fornecido for muito uniforme e
regularmente distribuído ao longo da superfície de aquecimento, sendo então de esperar que se possa estabelecer um
regime de equilíbrio entre a fonte de calor e o material. É que nas condições de vazio existentes no interior da câmara
de secagem a transferência de calor fax-se, principalmente, por radiação, o que, sem dúvida, assegura uma maior
uniformidade de distribuirão de calorias do elemento de aquecimento para o produto a liofïlizar.
Mas mesmo que se tenha atingido esse desiderato, o problema não fica complc* tamente resolvido. Lembremos,
mais uma vez, que a quantidade de calor fornecida ao produto congelado deve ser tal que nunca provoque a fusão das
misturas eutéticas nele existentes. Ora. o único processo de evitar que tal se verifique consiste em regular, com
precisão, a intensidade do aquecimento, a qual não pode ser constante à medida que o gelo sublime.
Este pormenor do aquecimento pode ser resolvido numa base empírica, fazendo-se a sublimação a uma
temperatura vizinha de -4()"C, a qual é suficiente para evitar os fenómenos de fusão. Fntrctanto. conhecida a
temperatura de cristalização total do produto a liofili/ar, pode e deve adoptar-se uma solução mais racional e mais
rentável, ou seja, a de aquecer o produto à temperatura mais elevada possível mas sempre abaixo do respectivo pomo
de eutexia, pois deste modo obter-se-á a secagem mais rapidamente.
É claro que este procedimento só c viável controlando-se a temperatura do produto durante a liofili/ação, para
o que existem, alias, vários processos. Alguns deles medem
226
O grau de vazio conseguido num liofilizador é um dos elementos da maior importância para que a
sublimação do gelo decorra com o êxito pretendido e isto por vários motivos, como passaremos a expor.
Em primeiro lugar, recordemos que a sublimação só pode realizar-se abaixo do ponto triplo, o qual,
como já dissemos, corresponde à temperatura de 0,0098°C e á pressão de 4,58 mm de Hg, o que obriga,
implicitamente, a trabalhar a uma pressão consideravelmentc inferior à pressão atmosférica normal.
Por outro lado, o vapor formado durante a sublimação do gelo terá que ser evacuado do aparelho, pois,
se assim não se fizesse, este ficaria, a breve trecho, saturado de vapor de água, o que se traduziria na
impossibilidade de se conseguir sublimar mais gelo a partir do momento em que isso se verificasse.
227
Acontece, ainda, que a velocidade de sublimação depende, como é intuitivo, das diferenças de pressão
do vapor saturante à superfície do gelo e da pressão existente na atmosfera com ele confinanle. Isto mostra a
necessidade imperiosa de se promover a aspiração do vapor resultante da sublimação para que esta se
processe a uma velocidade razoável, a qual será tanto maior quanto menor for a pressão no interior do
liolïlizador.
Acontece, ainda, que as moléculas de vapor que abandonam o material congelado podem ser reenviadas
para a superfície de sublimação se colidirem umas com as outras ou com partículas de ar existentes no
aparelho. Ora, a distância média percorrida por uma molécula sem que se registe qualquer choque,
denominada percurso médio livre, é uma função da pressão a que o sistema se encontra, como se pode ver na
Tabela XXI.
Na realidade, as bombas de vazio usadas na liofilização devem satisfazer a certos requisitos e, assim,
exige-se-lhes que sejam capazes de promoverem o vazio requerido num tempo relativamente curto, geralmente
três a oito minutos, a fim de evitar que o produto pré-congelado funda. Além disso, estas bombas devem manter
essa pressão cm presença do vapor formado dentro do aparelho, da humidade e dos vapores contaminan-tes.
Deste modo, para que a bombagem se faça em boas condições, a sua tubagem deverá ser curta e ter um
diâmetro apropriado. Como, por outro lado, após ter-se realizado o vácuo inicial a bomba terá que evacuar,
principalmente, vapor de água, este, como veremos mais adiante, poderá ser absorvido por produtos químicos
ou condensado sobre uma superfície arrefecida, o que melhora extraordinariamente as condições de
sublimação.
O vazio dado pelas máquinas utilizadas na liofilização é sempre poderoso e vai, em regra, dede l mm de
Hg a 0,01 mm de Hg e a sua capacidade de aspiração pode variar desde 0,1 l/s até cerca de 10000 l/s nas
bombas de difusão com quatro e cinco andares.
Uma vez que as bombas de êmbolo dão vazios muito limitados, as máquinas utilizadas nos liofilizadores
são, essencialmente, de dois tipos: bombas rotativas e de difusão.
As primeiras (Fig. 134) trabalham com óleo dotado de tensão de vapor muito baixa e são constituídas por
uma cavidade metálica cilíndrica A, existindo no interior desta um rotor B, também cilíndrico, montado
excentricamente em relação à cavidade A. O rotor, que é accionado electricamente, aspira em cada rotação
uma determinada quantidade de vapor, a qual é expelida para o exterior através do óleo, C.
Entretanto, se o óleo da máquina for contaminado pela humidade ou por vapores orgânicos, o vazio
máximo por ela originado baixará acentuadamente e, em certos casos, poderá mesmo não ullrapassr mais que
alguns mm apenas. Em geral, o óleo lubrificante não é contaminado por gases permanentes mas somenle
quando se faz a bombagem de vapores condensáveis, empregando-se diversos meios para evitar os
inconvenientes resultantes de tal condensação. Assim, wn dos dispositivos utilizados para esse fim é o da
comporia ou lastro de ar, o qual consiste num orifício de abertura regulável, permitindo a entrada de uma
quantidade controlada de ar na bomba. Daqui resulta que a pressão no interior desta passa a igualar a pressão
atmosférica antes que o vapor de água nela presente atinja a saturação e se condense. O ar é admitido na
bomba do lado da compressão, antes que esta se inicie, o que lhe permite aspirar vapores condensáveis sem
contaminarem o óleo.
O vazio máximo dado por uma determinada bomba pode ser melhorado se a ligarmos em série com uma
outra, mais pequena. Deste modo, nenhuma delas
229
trabalha em regime correspondente ao va/io extremo e à pressão atmosférica, pois a bomba mais rápida
funciona, nestas condições, entre o vazio extremo e uma pressão intermédia, ao passo que a outra trabalha entre
esta pressão e a pressão atmosférica.
Existem no mercado bombas rotativas
de dois andares, podendo, como dissemos,
utilizar-se duas delas ligadas em série, bas-
tanto apenas que a bomba directamente ligada
ao sistema a evacuar possua grande velocidade
de aspiração, podendo a outra ter uma capaci
dade dez vezes menor. Além de permitirem
um vazio maior, estas bombas de dois andares
são menos susceptíveis aos efeitos da con
taminação do óleo, que nelas aparecem
mais tarde e são de menor importância, pois
é a segunda bomba que os sofrerá e esta-
não está directamente ligada ao sistema a
aspirar. Fig. 134. Bomba rotativa (esquema)
As bombas de difusão dão um vazio mais elevado do que o obtido com as bombas rotativas e estão
indicadas para as liofilizações feitas à roda de —40"C.
Como se sabe, quando uma corrente de ar atinge o orifício de um tubo aberto, cuja outra extremidade está
mergulhada num líquido volátil, o líquido ou os respectivos vapores são aspirados no tubo e arrastados pelo
jacto de ar. É este, de facto, o princípio sobre que se baseiam as bombas de difusão, que podem trabalhar com
mercúrio, um óleo apropriado ou silicone, mantido numa caldeira situada na base da máquina, a qual é
evacuada à pressão de l mm de Hg por meio de uma bomba rotativa {Fig. 135 A) . O vapor formado na
caldeira sobe a grande velocidade pelo tubo vertical, emerge na extremidade deste e é deflectido para baixo
por uma peça em forma de cone.
A parte cimeira da bomba está ligada ao sistema mantido no vazio pela bomba rotativa e as partículas de
ar que nele ainda existam difundem pela bomba c são arrastadas pelo jacto de vapor. Este, ao descer, é
condensado sobre a parede da bomba arrefecida por água ou por ar e as moléclas são aspiradas pela bomba
rotativa. O jacto, a* descer, arrasta consigo as moléculas de vapor e impede que elas penetrem no sistema.
Estas bombas de difusão podem ser compostas de vários andares, em geral cinco no máximo, o que lhes
aumenta a sua estabilidade e lhes permite suportar um vazio
230
primário menos elevado. A sua velocidade de aspiração é muito grande, da ordem de 1.000 l/s para uma bomba
com 20 cm de diâmetro. Os fluidos utilizados nestas máquinas de vazio devem ter uma baixa tensão de vapor à
temperatura da água de refrigeração, uma boa estabilidade térmica e resistirem à oxidação, sendo os mais
utilizados os pertencentes ao grupo dos Aroclors.
3-° andar
Estas bombas de difusão apenas são postas a trabalhar depois de nelas se ter feito um vazio
apropriado à custa de uma bomba rotativa, a qual é igualmente usada para se obter um pré-vazio no
sistema a liofilizar.
Existe ainda um tipo especial de bomba de difusão modificada, conhecida por bomba BOOSTER,
cujo rendimento é extraordinário, pelo que tais máquinas são muito adequadas para a liofilização.
6.4.8. CONDENSAÇÃO
Já atrás dissemos que as bombas utilizadas na iiofilização devem ser dotadas de grande
capacidade de aspiração. No entanto, por maior que seja essa capacidade, não existe nenhum
modelo de bomba capaz de aspirar directamente a humidade existente num liofilizador sem que
trabalhe associada a um exsicante químico ou a um condensador refrigerado.
Na realidade, dada a pressão extremamente baixa a que os aparelhos funcionam, os fluidos
neles contidos ocupam um volume muito grande, acontecendo, por exemplo, que um g de água ocupa
cerca de 10 m3 à pressão de 10~' mm de Hg, estando calculado que uma bomba com a capacidade de
1500 l/min leva entre 5 e 10 horas para secar 100 ml de solução.
231
E por este motivo que os liofïlizadores estão equipados com um sistema de arrefecimento,
mantjdo a uma temperatura inferior à do material congelado, o qual promoverá a fixação do vapor
de água resultante da sublimação, condensando-o sob a forma de gelo.
Como seria de esperar, a sublimação só se verifica quando a tensão do vapor saturado à
superfície do gelo no material a líofilizar seja superior à tensão do vapor ao nível da superfície
condensante. Isto constitui o que FLOSDORF designou por motor da liüfïliztição,
Por outro lado, a intensidade do fluxo de sublimado é directamente proporcional à diferença
de tensões de vapor existentes à superfície do corpo a sublimar e do condensador e inversamente
proporcional à resistência oposta à passagem do vapor pelo espécime e o aparelho, como já atrás
dissemos. Desta maneira, é obrigatório que o condensador esteja a uma temperatura mais baixa que
o produto a sublimar (cerca de 20"C menos), oscilando essa temperatura, na prática, entre -40°C e -
60°C. A utilização destas temperaturas accntuadamentc baixas torna-se necessária porque ao fim de
certo tempo o condensador fica envolvido por uma espessa camada de gelo. Ora, como se ignora de
que modo se processa a transferência de calor através desta camada, c preferível actuar com uma
certa margem de segurança e trabalhar com o condensador a uma temperatura cerca de 10 a 15°C
inferior à temperatura teoricamente calculada.
Quando a maior parte da água que se encontrava sob a forma de gelo tiver sido retirada por
sublimação e uma vez que a pressão no interior do aparelho se mantenha baixa, é, então, possível
aquecer o material progressivamente até à temperatura ordinária. No decurso desta segunda fase da
liofilização a água que ainda resta no material está ligada por fenómenos de adsorção c evapora-se
directamente, condensando--se sob a forma de gelo no condensador. Se a primeira fase da operação
tiver sido suficientemente prolongada, o material apenas contém nesta altura quantidades insigni-
ficantes de vapor e desde que o vácuo seja suficiente a desidratação completa-se ao fim de algumas
horas.
Entretanto, se se quiser um produto muito seco, com menos de 1% de humidade, esta secagem
secundária deve prolongar-se durante 10 a 12 horas a um vazio de l a 5 x IO"-1 mm de Hg, ligando-
se então a câmara de secagem directamente à bomba, após ter-se interrompido a sua comunicação
com o condensador. Durante esta fase o produto continua a ser aquecido, se bem que na maioria das
vezes a temperatura não deva ultrapassar 40°C. Actualmente, porém, a tendência geral é a de
efectuar a secagem secundária fora do liofilizador propriamente dito, submetendo-se o material a
secar, colocado em recintos fechados, a um vazio moderado, em presença de uma substância
exsicante e à temperatura ambiente.
232
Em qualquer dos casos, islo é, no fim da liofilização ou da secagem secundária, uma vez
terminada a operação, é necessário interromper o vácuo e restabelecer a pressão no interior do
aparelho. Para isso, admílc-sc nele ar ou . mais vulgarmente, um gás inerte, como o azoto ou o
anidrido carbónico, o qual deve estar perfeitamente seco e, por vezes, ser esterilizado.
Nos capítulos anteriores procuramos dar uma ideia, do ponto de vista teórico, de alguns
fenómenos basilares que intervém na liofilização, discutindo as condições ideais que devem presidir
à execução deste processo de secagem para que se torne possível obter dele os melhores resultados
possíveis. Vamos agora abordar o assunto sob outro ângulo, isto é. iremos ver, nos capítulos
subsequentes, como a liofilização é realmente feita na prática, pondo desde já o leitor de sobreaviso
sobre algumas divergências que se manifestarão entre o que a teoria aconselha e o que se observa
no plano da realidade.
Essas divergências resultam, sobretudo, do facto de a liofilização ser hoje um processo de
índole industrial, aplicado à produção em larga escala, o que torna, por vezes, impossível
realizar, integralmente, na prática, aquilo que a teoria recomenda, pelo que, cm certos casos, foi
necessário adoptar soluções de compromisso.
Para ilustrar o que afirmamos, basta reparar no que se passa no domínio da congelação. A
teoria mostra-o e todos, aliás, estão de acordo sobre esse ponto, que é da maior vantagem proceder-
se à congelação rápida do material a liofilizar. Ora, se isso é possível fazer-se à escala laboratorial,
no domínio das grandes produções acontece que os produtos são congelados com certa lentidão e
isto simplesmente peía impossibilidade que há de congelar por imersão directa num banho uma
carga considerável de material acondicionado, por exemplo, em ampolas ou frascos-ampolas,
E posto isto, passemos a ver como na prática corrente se realiza a liofilização à escala
industrial.
Se bem que a congelação se possa obter por evaporação sob vazio, este processo apenas é
utilizado industrialmcnlc em fábricas ligadas à preparaç,~j de alimentos. Apesar de ser considerada
como a técnica que melhores resultados dó para a secagem de produtos sólidos, como vegetais,
frutos, carne, ele., não tem, contudo, qualquer aplicação na preparação de medicamentos.
A congelação por arrefecimento representa, pelo contrário, o processo mais largamente
utilizado na liofilização industrial de produtos biológicos c farmacêuticos, pelo
233
que se impõe estudá-la com o devido pormenor. Pode rcalizar-se de vários modos, consoante a
natureza do material e dos recipientes em que ele está contido, como passamos a descrever.
Isolamento
234
o material congelado para o liofilizar. O arrefecimento é conseguido por acção de uma corrente de
ar frio (Fig. 136) ou colocando as caixas sobre prateleiras refrigeradas (Hg. 137).
Quando a refrigeração por qualquer destes processos não dá resultados satisíalórios, recorre-
se a outros métodos mais eficientes de arrefecimento. Um deles consiste em
imergir as caixas com os frascos ou ampolas, cujo conteúdo
se pretende congelar, em álcool arrefecido a -45"C, mostrando a
Fig. 138 o esquema de um aparelho de congelação deste tipo.
Utilizando um dispositivo deslcs, a congelação dos produtos
encerrados em ampolas ou pequenos frascos conscgue-se em 30 a
40 minutos, tornando-se necessário conservar o material
congelado em compartimentos frigoríficos ale ser introduzido no
liofilizador.
Outro método de congelação bastante empregado consiste
em usar um dispositivo semelhante ao da Fig. 139. O
arrefecimento é obtido, neste caso, dispondo sobre a prateleira
do congelador uma camada uniforme de neve carbónica picada,
sobre a qual se colocam as caixas contendo os recipientes com o
material a congelar.
Fig. 137. Aparelho de liofilização Em qualquer destes processos a congelação é demorada
com prateleiras arrefecidas e outras
aquecidas. As primeiras servem para pela dificuldade de transferência de calor através da camada de
a congelação do material e as de ar entreposta entre o fundo dos recipientes e das caixas metálicas
cima para se proceder à liofilização
propriamente dita (Sistema Stocks) onde aqueles são colocados, havendo, no entanto, a possibilidade
de remediar em parte este inconveniente. Para isso, humedecem-se
com água os fundos dos referidos recipientes, conforme se mostra na Fig. 140. Após aspiração do
excesso de água, forma-se, por
capilaridade, uma delgada película de líquido entre o fundo da caixa e dos frascos, de modo que a
congelação é, assim, bastante mais rápida. A duração da secagem ulterior não é praticamente
influenciada por esta camada exterior de gelo, pois ela, sendo muito delgada, é facilmente sublimada
e cm nada interfere no desenrolar normal da operação.
caso de aparelhos de produção reduzida, por uma mistura de álcool e neve carbónica, com a qual se
obtêm, sem dificuldade, temperaturas à volta de -70°C. Na produção em larga escala o aspecto
económico passa a entrar em linha de conla, ulilizando-se, como banho, o álcool arrefecido a —45°C
por máquinas frigoríficas, o que torna a concepção destes aparelhos mais simples e, portanto, de
preço mais acessível. Esta lempcratura é suficiente para a congelação de numerosas substâncias a
liofilizar, entre elas o plasma e outros produtos derivados do sangue, desde que os frascos sejam
mantidos em rotação, depois de congelado o seu conteúdo, durante o tempo suficiente para que a
substância fique a uma temperatura sensivelmente inferior ao seu ponto de congelação. No caso do
plasma sanguíneo, a congelação e o arrefecimento a -25°C de 300 ml de
237
produto, cm frascos de 500 ml de capacidade, obtém-se, para uma série de cinco recipientes,
em cerca de 35 minutos.
Fig. 142. Fixação de uma sonda termométrica num Irasco contendo material a
liofilizar
Neste processo os frascos contendo o produto são submetidos, durante o arrefecimento, a uma
rotação à volta de um eixo vertical que deve coincidir, tanto quanto possível, com o seu eixo
geométrico. Deste modo, o líquido dentro do frasco descreve um parabolóidc de revolução, cuja
altura será tanto maior quanto maior a velocidade de rotação, à semelhança do que acontece com os
indicadores de velocidade das centrífugas, acabando por se estabilizar na posição representada na
Fig. 143 A, quando a velocidade atinge cerca de 900 r.p.m.
238
Os frascos são mantidos em rotação graças a um motor eléctrico e o arrefecimento pode ser
feito de dois modos:
a) por meio de uma corrente de ar frio. insuflada no dispositivo por um ventilador adequado,
como se usa nas grandes instalações tipo EDWARDS;
b) por aspersão com álcool arrefecido que proporciona uma congelação mais rápida e permite
ainda a substituição do motor eléctrico por uma turbina accionada por um jacto de álcool sobre
pressão, segundo o processo de WAÍÏNER.
Suporte
girando a
900 r. p. m.
Corrente de or fri o
Turbina
Em certos casos, os aparelhos utilizados para fazer a congelação fazem pane integrante dos
liofilizadorcs propriamente ditos, podendo então a câmara de secagem ser empregada,
alternadamente, para a congelação e a sublimação, c outras vezes constituem uma unidade separada
e totalmente independente. Quer se trate, porém, de um ou de outro tipo e qualquer que seja o
processo utilizado na congelação, esta tem que promover a cristalização total do produto a liofilizar
sob pena de não se conseguir o objectivo em causa.
suportar as pressões negativas a que é necessário trabalhar e tem uma porta que fecha
hermeticamente, através da qual se faz a carga e a descarga do liofilizador.
A câmara de secagem está directamente ligada ao condensador B e este, por sua vez, comunica
com a máquina de va/io C. Se bem que, por vezes, o condensador seja substituído por uma
substância ávida de água, acontece que na grande maioria dos aparelhos de carácter industrial o
único meio utilizado para fixar o vapor formado pela sublimação do gelo é ainda o condensador
clássico.
Na prática corrente, o material a liofilizar é mantido entre -20°C e -40°C, sendo raros os casos
cm que é necessário empregar temperaturas mais baixas. Nestas condições, a temperatura do
condensador deverá ser mantida entre -40°C e -60"C, dependendo esse valor dos obstáculos que o
vapor encontra para atingir o condensador e, em geral, o arrefecimento deste faz-se à custa de
máquinas frigoríficas relativamente simples, utilizando, por exemplo, o freon 12.
Dado que nos aparelhos de junção única os recipientes contendo o produto a dessecar ficam
encerrados num espaço hermeticamente fechado, o seu aquecimento só pode fazer-se por meio de
dispositivos especiais. Ao fazermos o estudo teórico da liotïlização, tivemos oportunidade de
salientar a importância deste aquecimento e, ao mesmo tempo, chamámos a alcncão para os riscos
que envolve se não for convenientemente controlado, dado que pode levar à fusão dos eutélicos
existentes no produto congelado.
A:; soluções que têm sido adoptadas para a resolução desta importante como delicada fase de
todo o processo de liofilizaçáo resumem-se, nas suas variadas modalidades, a dois processos
básicos: aquecimento das prateleiras por um fluido circulante ou por resistências eléctricas.
241
O primeiro dos mencionados processos consiste em fazer circular no interior das prateleiras da
câmara de secagem um fluido aquecido a uma temperatura conveniente por um dispositivo situado
fora daquela e equipado com um termostato.
Este processo permite obter um aquecimento bastante regular desde que a temperatura exigida
se situe entre 30-40°C, mas torna-se irregular para temperaturas mais elevadas, na vizinhança de
80-90°C. De facto, a regularidade do aquecimento por este processo depende de múltiplos factores,
como a velocidade de circulação do fluido no interior das prateleiras, secção da tubagem c sua
disposição. Por outro lado, a multiplicidade das junturas situadas no interior da câmara de
secagem impõe o maior rigor na construção destes dispositivos, pois que, a verificar-se uma fuga na
canalização, isto traria consequências desastrosas para a manutenção do vazio.
O processo de aquecimento por resistências eléctricas é feito de várias maneiras, consoante a
natureza dos recipientes em que o material a liofilizar está contido. Assim, nos aparelhos destinados
à liofilização de produtos acondicionados em ampolas ou pequenos frascos, o aquecimento faz-se
por resistências eléctricas colocadas na parte inferior das prateleiras metálicas.
E necessário, contudo, que estes dispositivos obedeçam a certos requisitos, entre os quais são
de mencionar os seguintes:
a) As placas que constituem as prateleiras devem ser feitas de um metal born condutor do
calor;
b) alem disso, devem apresentar uma espessura tal que o calor possa difundir-se facilmente em
toda a sua extensão e não se registem diferenças acentuadas de'calor de um ponto para o outro;
c) as resistências devem estar perfeitamente embutidas na parte inferior das prateleiras, de
modo a obter-se um contacto térmico regular em toda a superfície destas.
A fim de se evitar sobreaquecimentos locais, sempre possíveis, os frascos ou as ampolas são
colocados em caixas metálicas e estas assentes sobre grelhas dispostas à superfície das prateleiras.
Deste modo, o produto a liofilizar nunca fica em contacto directo com a fonte calorífica e apenas é
aquecido por radiação, o que assegura uma distribuição bastante regular do calor.
O aquecimento de produtos acondicionados em frascos de grande capacidade pode fazer-se
pelo processo acabado de descrever. Neste caso, os frascos são encerrados, lado a lado, em caixas
metálicas c estas colocadas sobre as prateleiras aquecidas.
Outro sistema de aquecimento para frascos de grande capacidade é aquele que utiliza
alvéolos aquecidos individualmente, como no aparelho representado na Fig. 146. Neste caso, como
as resistências são todas iguais e os frascos têm. para cada produto, as mesmas exigências térmicas,
o problema da regularidade do aquecimento pode considerar-se resolvido.
Por outro lado, o eixo dos alvéolos pode estar na posição vertical ou horizontal, considerando-
se os primeiros como oferecendo melhores vantagens, sobretudo porque permitem o aquecimento de
frascos de capacidade variável. Supondo que tais alvéolos
242
foram construídos para receberem frascos de 1 litro, eles permitem, no entanto, dessecar igualmente
bem produtos contidos em frascos de 500 ml ou menos. Basta, para isso, centrar os frascos mais
pequenos no alvéolo e mante-los nessa posição por meio de uma peça fixada na extremidade superior
daquele, a qual tem um orifício por onde passa o gargalo do frasco que, assim, nunca mais é
descentrado.
©ooo ooo
Como equipamento normal dos liofÍ li/adore s figuram vários instrumentos de medida que tornam
possível controlar, em qualquer momenlo, as condições em que a operação está a ser conduzida.
Entre eles são de mencionar os termómetros, representados por pares termoeléctricos ou sondas de
resistência, insertos no produto congelado, que indicam constantemente a temperatura a que este se
encontra, e os indicadores de vazio, geralmente vacuómetros de PIRANI ou de Mc LEOD, ou ainda tubos
de HITTORF. Dada a multiplicidade de modelos de lioíili/adores exislentes no mercado parece--nos
aconselhável não descrever nenhum deles em pormenor, pois todos se fundamentam nos princípios
básicos que acabámos de passar em revista. O leitor interessado no assunto poderá encontrar os
elementos referentes a vários aparelhos na bibliografia citada no final deste capítulo e, bem assim,
recorrendo aos catálogos das casas produtoras destes aparelhos.
1 — O grau de vazio obtiiïo no liofilizador nào é suficiente para obter o teor exigido de
humidade residual. Isso acontece quando o condensador não se encontra, na fase final da operação,
a uma temperatura suficientemente baixa, quando o aparelho apresenta fugas ou quando as
máquinas de vazio não têm as características convenientes.
2 — Dado o custo bastante elevado dos liofilizadores, os seus utentes procuram tirar deles o
maior rendimento possível, mantendo-os, por isso, continuamente em laboração. Ora, acontece que
em certos casos a secagem final do produto, depois de ter estado um certo tempo no liofilizador.
pode fazer-se sem inconveniente em aparelhos bastante mais simples e, portanto, mais baratos.
Torna-se, pois, recomendável, do ponto de vista económico, completar a secagem fora dos
liofilizadores, de modo que estes podem receber nova carga de material e aumentar, assim, o
rendimento da instalação.
Esta secagem secundária apenas se faz quando a água sob a forma de gelo tiver sido
eliminada por sublimação e só se justifica, portanto, quando se quer obter um produto
excepcionalmente desidratado e destinado a ser conservado em ampolas fechadas à chama.
A Fig. 147 representa um destes aparelhos, próprio para a secagem secundária de substâncias acondicionadas
em ampolas. Estas são montadas em rampas amovíveis,as
244
quais, colocadas no aparelho, ficam ligadas ao sistema de vazio e em comunicação com um recinto
onde existe uma substância exsicante, geralmente, P2OS> Os aparelhos deste tipo têm uma capacidade
limitada e apenas se utilizam para terminar a secagem de produtos liofilizados em aparelhos de junção
múltipla.
Abertura para desfazer o vazio na rampa de
secagem
ÍSSS^SS^KÍSW^^
indicadores de evaporação
Indicador de vazio
n " M Jl
"üEÍJIÜÜÜtr^
ÍÜÜÜÜ l ÜÜÜÜ
baixa pressão. Para rolhar sob va/io os frascos provenientes de uma lioiïliz.ação em grande escala,
utilizam-se dispositivos especiais que permitem a aplicação simultânea das rolhas de borracha num
número considerável de recipientes.
BIBLIOGRAFIA
DELLA PORTA, P. c ROWB. T. W. G., Lê vide, Jan. Fcv., N." 91, 54, (1961).
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Herman, Paris. 1960. ROWK, T. W. C!., Lê vide. lex pompes mécaniques a grandes viresses
de pompagr et f>on\pí'.\ u diffusinn.
Traitc de lyophilisation, llerman. Paris. 1960.
247
6.5. SUBLIMAÇÃO
Esta operação consiste em fazer passar uma substância directamente de sólida a gasosa, sem
passar pelo estado líquido, recolhendo-se a substância primitiva novamente solidificada.
Ao tratarmos díi LiofiUzação já nos referimos às condições que presidem à sublimação, a qual
só é possível realizar-se desde que não .se atinja o ponto triplo. Deste modo. para que um sólido
possa transformar-se, directamente, ern vapor, sem n formação intermediária de uma fase líquida, é
necessário que a pressão de vapor não ultrapasse o valor correspondente ao ponto triplo. Aliás»
isto conscgue-sc, facilmente, se o referido valor da pressão for relativamente elevado, pois, nestas
condições, a velocidade de vaporização será grande, íomando-se possível a sublimação do sólido à
pressão atmosférica.
E o que acontece, por exemplo, com a cânfora (ponto triplo: ! ~ J79°C. pressão de equilíbrio =
370 mm de Hg), a qual, se for aquecida, lentamente, a uma temperatura inferior a 179"C.
vaporizará" sem fundir, e, desde que o vapor seja condensado numa superfície fria. a pressão será
mantida sempre abaixo de 370 mm de Hg, de modo que a .sublimação será total.
Deve ler-se em consideração que se a pressão que define o ponto triplo de um sólido for
inferior a urna atmosfera c este for aquecido rapidamente, tal substância
Água
Bomb
a de
vazio
fundira logo que a tensão do seu vapor ultrapasse o valor correspondente ao referido pomo triplo. E
o que acontece com a cânfora quando aquecida num vaso fechado, em a|uc a condensação do vapor
se faça deficientemente. Nestas condições, a pressão vai
248
aumentando e logo que atinja o valor de 370 mm de Hg aquela cetona funde em vê/, de sublimar,
podendo, evidentemente, entrar em ebulição.
No caso de substancias com uma pressão correspondente ao ponto triplo moderadamente baixa
(ácido bcnzóieo, 6 mm de Hg, p.f. 122l'C; naflaleno, 7 mm de Hg, p.f. 80"C, ctc.), a sublimação só se
faz em boas condições desde que se opere n pressão reduzida.
Na prática laboratorial a sublimação representa um meio de purificar substâncias sólidas que
sejam voláteis, permitindo a sua fácil separação das impurezas fixas que as acompanham. Além disso,
é ainda utilizada no campo analítico e na preparação industrial de certos produtos, como a cânfora,
o iodo e o cloreto mercúrico, por exemplo.
Os aparelhos utilizados para a sublimação dos corpos são, em geral, muito .simples, sendo
constituídos por um recipiente onde se aquece a substância suhlimável e urna superfície fria onde se
condensem os vapores formados. Assim, podem usar-se balões, matrases, retortas, vasos de fundo
aplanado, etc., os quais são aquecidos a banho de areia ou de óleo ou ainda por vapor
sobreaquecido. A Fig 149 representa dois dispositivos de sublimação, sendo um para trabalhar à
pressão normal e outro y pressão reduzida.
6.6. TORREFACÇÃO
Esta operação executa-se aquecendo os corpos em contacto directo com o ar, para os privar da
sua água de constituição e de certas matérias voláteis, de que resultam modificações na cor, aroma e
composição química.
A torrcfacção pode considerar-se uma calcinação incompleta, sendo raramente utilizada em
Farmácia, pois modifica, accntuadamente, as propriedades das drogas a ela sujeitas. Assim, por
exemplo, o ruibarbo em pó, depois de submetido à lorrefacção, perde as suas propriedades
purgativas, conservando, no entanto, as suas características adstringentes.
6.7 CARBONIZAÇÃO
6.8. CALCINAÇÃO
6.9. CRISTALIZAÇÃO
A cristalização é uma operação que se executa com o fim de purificar substâncias sólidas,
sendo baseada nas suas diferenças de solubilidade n u m determinado solvente.
Na sua forma mais simples, o processo de cristalização consiste no seguinte: 1) dissolução
da substância num solvente apropriado, aquecido ã ebulição; 2} filtração da solução
quente, para e li m i n a r os sólidos insolúveis; 3) arrefecimento da solução, de modo a
permitir que a substância dissolvida cristalize; 4) separação dos cristais formados por um
processo adequado (filtração, centrifugação, decantação).
A eficiência desta operação depende, fundamentalmente, do solvente utili/ado. o qual
deve obedecer a certas condições, tais como: 1) ter um elevado poder dissolvente para a
substância a cristali/ar a temperaturas elevadas e um baixo poder dissolvente para a
mesrrm à temperatura ambiente; 2) deve dissolver bem as ímpure/as a eli min ar ou dissolvê-
las apenas em muito pequena concentração: 3) deve originar cri stais bem formados da
substância a purificar: 4) deve poder ser facilmente eliminado da substância cristalizada;
5) não deve reagir com ela.
6.10. FUSÃO
Esta operação consiste em fazer passar um corpo do estado sólido a líquido por acção
do calor. Correntemente praticada nos laboratórios com fi n s analíticos para a determinação
do ponto de fusão, método de controlo do estado de pure/a dos compostos sólidos de constituição
química definida, a fusào utiliza-se ainda no campo farmacêutico com vários f in s , tais como:
BIBLIOGRAFIA
GENERALIDADES
A destilação é um conjunto de operações que tem por fim separar as substâncias voláteis das
que o não são ou separar os constituintes de uma mistura líquida cujos componentes tenham pontos
de ebulição diferentes.
A destilação comporta uma serie de várias operações que poderemos enunciar do seguinte
modo, tendo em vista a ordem porque se processam: evaporação das substâncias voláteis,
condensação dos vapores formados c arrefecimento do destilado.
Em geral, a destilação pratica-se de acordo com dois métodos distintos. Num deles, o vapor
originado pela ebulição da mistura líquida é separado c condensado de modo que nunca volte ao
destilador nem contacte mais com novas porções de vapor. É o que acontece na chamada destilação
simples. No outro processo, denominado destilação fraccionada, a que se recoire quando se pretende
separar os componentes de uma mistura líquida, os vapores, antes de condensados, passam por uma
coluna de rectificação, onde se faz a separação dos constituintes da mistura.
Em casos particulares pode ainda praticar-se o que certos autores consideram como destilação
destrutiva. Esta consisle na decomposição pelo calor de determinadas substâncias, usualmente
produtos naturais, seguida da condensação c recolha das matérias voláteis que se formaram. Se bem
que não se trate de uma operação farmacêutica, ela é usada para obter drogas dotadas de alguma
actividade farmacológica. São exemplos do que afirmamos a destilação destrutiva da madeira e do
carvão para produzir alcatroes.
A destilação constitui um dos principais meios de que dispomos para separar os constituintes de
uma mistura líquida capaz de originar um vapor de composição diferente da sua e para os purificar
convenientemente, uma vez separados.
Daí o grande interesse de que esta operação se reveste tanto do ponto de vista científico como
industrial, recorrendo-se a ela, no campo farmacêutico, para preparar várias formas galénicas, como
os hidrolatos e alcoolatos, certas drogas, como as essências, e para a obtenção da água destilada,
sem dúvida o solvente mais utilizado na preparação de soluções medicinais.
A destilação é baseada no princípio da parede fria. Suponhamos dois vasos A e B, ligados por
um tubo, mantidos, respectivamente, a 50 e 10"C e que no vaso A existe um líquido. Este, como se
sabe, encontra-se em equilíbrio com o seu vapor o qual tem uma força elástica em A superior à de B,
pois a tensão de vapor de um líquido é
252
Além das leis da ebulição, também a regra das fases, estabelecida cm 1875 por WILLARD GIBBS se
aplica à destilação, a qual diz respeito ao equilíbrio das diferentes massas homogéneas que
constituem um sistema físico. Nela figuram três parâmetros, que são: a fase, os componentes e a
variância ou graus de liberdade. Vejamos o seu significado.
Fase. Num sistema físico, pode haver diversas massas homogéneas. Massas distintas quanto à
composição química mas em estado físico idêntico constituem uma só fase. Assim, uma mistura de
tolueno e benzeno, líquidos completamente miscívei.s um com o outro, formam uma só fase porque em
cada fracção desta mistura existe identidade física.
Se considerarmos, porém, a água, à ebulição, já teremos duas fases distintas, uma líquida e
outra gasosa. Neste caso há identidade do ponto de vista químico mas não há identidade física.
Componentes. O. componentes de um sistema físico são as substâncias químicas definidas que
nele figuram. Deste modo, o sistema água-vapor de água tem um só componente e possui duas fases,
ao passo que a mistura tolueno-bcnzeno tem uma só fase e dois componentes.
Variância. Se encerrarmos um líquido num recipiente onde se faça o vazio e o isolarmos cm
seguida, ao fim de algum tempo parte do líquido ter-se-á Iransformado em vapor, que ocupará o
espaço deixado livre pelo referido líquido. Diz-se que o líquido está. então, em equilíbrio com o seu
vapor, podendo tal equilíbrio depender de um ou vários factores, como a pressão, a temperatura e
a composição do líquido, mant-?ndo-se inalterado enquanto pelo menos algum dos factores não
variar.
Quando apenas basta f i x a r o valor de um único factor para que todas as outras condições de
equilíbrio sejam determinadas, o sistema possuirá urna variância = l, mas tornando-se necessário,
para se conseguir o equilíbrio, fixar dois factores, o sistema terá uma variância - 2 e assim
sucessivamente.
A regra das fases é expressa pela fórmula seguinte:
É o caso mais simples e serve para determinar o grau de pureza de um líquido. Se este for
encerrado num espaço fechado, produzirá vapor até que cslc último atinja certa pressão, a qual
apenas depende da temperatura a que o líquido estiver. Como se sabe, para uma dada temperatura,
a pressão do vapor em contacto com o seu póprio líquido é uma constante, sendo independente da
quantidade absoluta de líquido e de vapor presentes no sistema.
Contudo, a pressão de vapor de um líquido aumenta com a subida da temperatura, como se
pode ver na Fig. 151, e quando tal pressão iguala a pressão total exercida
sobre a superfície livre do líquido este entra em
ebulição.
Suponhamos a água em equilíbrio com o seu vapor. O
sistema tem, neste caso, duas fases (cp = 2), uma líquida e outra
gasosa, e o número de constituintes é igual a um, pois estamos
em presença de água apenas. Logo,
tp + V - N+2
2+V = l +2
V = l
Isto significa que um tal sistema é univariante e
determinado. Deste modo, se fixarmos a temperatura em 1(K)"C,
para este valor só há uma única pressão à qual é possível a
Fig. 151. Variação da pressão
de existência das duas fases líquida e gasosa em equilíbrio, ou seja
vapor de vários líquidos em função 760 mm de Hg. Inversamente, se fixarmos um valor de pressão,
da também só haverá equilíbrio entre as duas fases para um
determinado valor
de temperatura.
É mercê disto que a destilação de um composto químico de composição definida permite a sua
purificação, pois que, estando fixada a pressão, sabe-se, previamente, qual a sua temperatura de
ebulição. Assim, todo o vapor que passe acima ou abaixo dessa temperatura deve ser considerado
como impuro e, como tal, rejeitado,
255
Estas misturas podem subdividir-se em três grupos distintos, consoante o respectivo ponto de
ebulição varia com a composição.
Constituem os casos mais frequentes na prática. Aplicando a regra das fases a um sistema
destes, teremos (p - 2, A' = 2; logo:
q> + y = N + 2
2+V=2+2V=
2
A variância será, portanto, de 2, podendo fazer-se variar, independentemente, dois factores. Se,
no entanto, fixarmos, arbitrariamente, o valor da pressão, teremos ainda um
256
grau de variância,-que será a temperatura. Se, todavia, escolhermos uma dada temperatura, o
sistema torna-se invariável, e, nestas condições, para uma temperatura e pressão fixas, haverá uma
só composição da mistura líquida e da fase gasosa que lhe corresponde. Será, então, possível
traçar-se a curva dos pontos de ebulição em função da composição da mistura, como se pode ver
no gráfico da Fig. 152. Consideremos agora uma mistura líquida correspondente à composição
Lr Se tal mistura for aquecida, a
tensão do vapor subirá e, quando a temperatura
atingir tí, a mistura entrará em ebulição, originando
nessa altura um vapor cuja composição é V t o qual é
muito mais rico no componente A, mais volátil do
que B, o de ponto de ebulição mais alto. Se a
temperatura continuar a subir, o líquido vai
enriquecendo em B e o seu ponto de ebulição subirá
igualmente, como é natural. Ao atingir o valor tr a
composição do líquido variou gradualmente para
L1 e o vapor originado por tal mistura terá agora
uma composição correspondente a V2. Verifica-se,
deste modo, que a destilação permitiu uma
L 100
separação parcial dos componentes A e B e toma-
Í %
se evidente que fazendo destilações sucessivas é
Composição possível uma separação quase completa dos dois
Fig. 152. Mistura binária com ponto de componentes. Basta, para isso,
ebulição
aumentando progressivamente. A, composição redestilar cada fracção recolhida entre intervalos
do convenientes de temperatura e repetir as
vapor; B, curva representando a composição
destilações um certo número de ve/es para que tal
objectivo seja alcançado. Naturalmente que a separação por este processo é morosa e exige um
número considerável de destilações, dependendo a facilidade de separação dos dois componentes
da inclinação da curva correspondente aos pontos de ebulição. Na realidade, quanto mais
afastados eles forem um do outro, mais fácil se tornará a separação de dois líquidos por esta
técnica, que constitui, no fundo, uma destilação fraccionada.
Desde que a mistura de dois líquidos miscíveis em todas as proporções seja uma solução
ideal, a lei de RAOULT aplica-se-lhe integralmente e torna-se possível estabelecer uma relação entre
a composição molecular de uma mistura deste tipo e a do vapor em equilíbrio com ela.
Segundo a referida lei, a pressão de vapor de um componente de uma solução a uma dada temperatura é igual à
pressão de vapor da substância pura multiplicada pela sua fracção molar na solução. Deste modo, supondo que temos
uma solução i
257
constituída por dois componentes, A e B, aplicando a lei de RAOULT, podemos escrever que a pressão de
vapor exercida por cada um dos componentes é:
e
PA =P°A XA PB=Pf>B X
B W
em que p é a pressão de vapor da substância, p° a pressão de vapor da mesma substância pura a uma
determinada temperatura e x a sua fracção molar na solução. Deste modo, a pressão total P,
desenvolvida pêlos dois componentes da mistura, será:
Como, por outro lado, as pressões de vapor são proporcionais às fracções molares na fase
gasosa, a composição desta é dada por:
_
B
P
yV yjO y
__í_ — "A . A /4\
X X
B PB B
Se p°A = p°B, a composição do vapor é igual à do líquido, sucedendo o contrário se p°. e p°0
tiveram valores diferentes.
1 l
A D
Vejamos um exemplo concreto. Suponhamos que os componentes A e B da mistura tinham pressões
de vapor de 100 e 60 mm de Hg, respectivamente, e que a fracção molar de A era de 0,75 e a de B
0,25. Nesta eventualidade, as pressões de vapor parciais correspondentes a cada uma das substâncias
serão:
P A = 100x 0,75 = 75 mm de Hg e
pB= 60 x 0,25 = 15 mm de Hg
p = p + p = 90 mm de Hg
258
75 15
:v = —— -0,833 e < = —— -0,167
A
90 90
Portanto, uma solução contendo fracções molares de 0,75 de Á c 0,25 de B está em equilíbrio
com um vapor constituído por 83,3% do primeiro componente A, isto é, o de maior tensão de vapor
ou, o que vale o mesmo, o de menor ponlo de ebulição, que por isso figura em maior concentração na
fase vapor do que na fase líquida,
equilíbrio com ele. Os sistemas em que isto se verifica são chamados misturas
azeotrópicas e os seus componentes não podem, por conseguinte, ser separados por
destilação. .-..
constituído pelo componente A quase
í,
destas misturas se comporta como se se tratasse de um composto químico puro, pois a composição da
fase vapor é igual à da fase líquida, o que torna impossível a separação dos seus dois constituintes,
a não ser que se empreguem métodos especiais. Um dos processos utilizados para destruir tais
misturas consiste na adição de um terceiro componenlc que altere as relações da pressão de vapor
do a/eótropo, método este muito usado na secagem do álcool hidratado, conforme já nos referimos
na pág. 192. recorrendo-se, por vezes, a métodos químicos e outros.
Suponhamos uma mistura numa proporção qualquer de dois líquidos nào miscívcis, a qual é
aquecida à ebulição. Neste momento o sistema tem três fases, sendo duas delas representadas por
cada um dos líquidos imiscíveis e a terceira pelo vapor.
Aplicando a um sistema destes a regra das fases, teremos que (p = 3 e N = 2. Logo:
(p + y = N + 2 3 +
V=2+2
V- l
Se fixarmos a pressão num dado valor, 760 mm de Hg, por exemplo, o sistema fica
determinado, pois a tal pressão o ponto de ebulição da mistura assim como a composição do
respectivo vapor estão fixados, querendo isto significar que a destilação de dois líquidos imiscíveis
será conseguida sempre à mesma temperatura desde que as condições sejam, evidentemente, sempre
as mesmas lambem.
Um dos casos correntes de destilação de dois líquidos imiscíveis é a codestilação com água.
quer dizer, a destilação de um líquido qualquer em presença da água, com a qual ele não seja
miscível. o que permite que a destilação se faça a uma temperatura mais baixa do que normalmente
se conseguiria.
Suponhamos o caso do bcnzeno, que ferve a 80"C à pressão normal, e da água, que ferve a
l(MÏ"C nas mesmas condições, quando ambos estiverem puros. A mistura dos dois, contudo, entra
em ebulição a 69,2"C e isto porque ao aquecermos uma mistura de líquidos imiscíveis o respectivo
ponto de ebulição será a temperatura à qual a soma das pressões de vapor dos constituintes igualar
a pressão atmosférica. Acontece que em tais circunstâncias o ponto de ebulição da mistura será
inferior ao do componente mais volátil, pois, desde que os líquidos sejam totalmente imiscíveis, a lei
das pressões parciais de DALTON aplica-se aos respectivos vapores saturados. Segundo a referida lei,
quando dois ou mais gases ou vapores que não reajam quimicamente uns com os outros estão
misturados a uma tempera)ura constante, cada gás exerce a mesma
261
pressão como se estivesse isolado c a soma dessas pressões é igual à pressão lotai do sistema, o que
pode ser expresso do seguinte modo:
Nisto reside, de facto, a explicação por que a mistura benzeno-água ferve a 69,2ÜC, quando
isoladamente o primeiro ferve, à pressão normal, a 8G"C e a segunda a !00"C.
Querendo calcular a composição do vapor originado por uma tal mistura, basla ler presente
que, segundo a lei de HENRY, as concentrações molares dos constituintes de uma mistura gasosa
são proporcionais ás tensões de cada um dos gases. Vejamos como se faz esse cálculo, reportando-
nos, para isso, ao sistema benzeno-água, colocado, por exemplo, à pressão de 760 mm de Hg, que
designaremos por P.
Sendo pl\ e p"Berr as pressões de vapor da água c do benzeno, respectivamente, para a
temperatura de ebulição do sistema, que como vimos, é, nestas condições, 69,2"C, teremos:
p = p» + p"
1
A ' Kd!7
P"AA fracção
molar, em percentagem, da água no vapor será dada por —— 100 e a
P
P" ,,
do benzeno por —— '-^- 100. Como, por outro lado, u pressão do vapor de atuía a
P
69,2°C é de 225 mm de Hg c a do bcnzeno, nas mesmas condições, é igual a 535 mm
de Hg, a fracção molar dos dois componentes no vapor originado por estes dois líquidos será
então;
225
Agua - —— x 1 00 = 29,6% 760
535
Benzeno = —— x 100 ^ 70,4% 760
e querendo calcular as quantidades dos componentes, em peso, basta multiplicar as suas fracções
molares pêlos respectivos pesos moleculares, 18 para a água e 78 para o benzeno.
Deste modo. lemos:
A constituição do vapor originado pela mistura da água com o benzeno, expressa em g %, será,
pois, de:
5491 x 100
Benzeno =
533 + 5491
733,3
x 100x18 = 1753 partes
753
6.11.3.3. Destilação de um líquido imiscível com a água, à custa de vapor não saturado
usualmente, como imiscíveis com a água ou que apenas sejam muito pouco solúveis nela.
Aqui apenas consideraremos o caso de líquidos totalmente imiscíveis e, portanto, os vapores da
mistura obedecerão à lei das pressões parciais de DALTON, a que nos referimos no parágrafo anterior.
Partindo do princípio de que a destilação do líquido não miscível se faz em presença de vapor
nào saturado, isto é, não contendo água condensada, o sistema compreende, em tais condições, duas
fases, correspondentes, respectivamente, ao líquido cm questão e ao vapor não saturado e terá, de
igual modo, dois componentes. Portanto, como (p = 2 e N = 2, teremos:
y+V=N+2
:, *:,(.r • 2 + V = 2 + 2
V
>:-'* .. =2 , - , . . - . . .
Há, por conseguinte, dois graus de liberdade possíveis, mas, na prática, fixa-se a pressão,
escolhendo-se a temperatura conveniente às condições experimentais mais favoráveis.
Sendo P a pressão total de vapor do sistema e p" a pressão de vapor do líquido não miscível
com a água, deduz-se que P — pQ corresponde à pressão do vapor de água nào saturado. Deste
modo, a composição do destilado é dada pela relação:
em que M corresponde ao peso molecular do líquido e 18 é o peso molecular da água. Tal relação
mostra que a quantidade de líquido não miscível presente no destilado aumenta com a subida da
sua tensão de vapor e com a diminuição da pressão exercida sobre o sistema, o que sugere que
este tipo de destilação deve fazer-se sob pressão reduzida. Vejamos um exemplo concreto.
Suponhamos o caso do geraniol, cuja destilação em corrente de vapor se fazia a 100°C e à
pressão de 60 mm de Hg. Nestas condições, sendo a pressão total do sistema
P = 60 mm de Hg e a do
geraniol
- p° = 5,26 mm de Hg
Nestas circunstâncias
o que significa que o destilado é constituído por 45% de geraniol e 55% de água.
Se, entretanto, procedermos à destilação a 140°C e à pressão anteriormente utilizada, a
tensão de vapor do geraniol é agora p0 = 40,1 mm de Hg. Teremos, por conseguinte, que:
40,1x154 _ 6175,4
19,9 x 18 358,2
p° , = 5,26 mm de Hg
' gerânio! °
P = 30 mm de Hg
P - p° = 24,74 mm de Hg Deste
modo:
5,26x154 810
24,74x18 445
e o destilado conteria 64,5% de geraniol cm comparação com 45%, quantidade obtida trabalhando à
pressão de 60 mm de Hg.
Em face deste resultado, seria lógico generalizar que quanto mais baixa for a pressão a que se
opere, mais eficaz se torna este processo de destilação. Nào há d ú v i d a que operando sob pressão
reduzida a destilação cm corrente de vapor origina um destilado mais rico em produto não miscívcl
com a água, mas tal aumento de rendimento assim obtido nào é considerado compensador. De
facto, é preciso não esquecer que ao baixar a pressão, baixa, simultaneamente, a temperatura de
ebulição do líquido e na prática a destilação por vapor de água nunca deve ser feita a temperaturas
demasiadamente baixas pelo simples motivo de que a condensação e arrefecimento do vapor se
tomam difíceis em lais circunstâncias.
Na realidade, ao diminuir a pressão torna-se igualmente menor a diferença enlre a temperatura
dos vapores a condensar e da água de arrefecimento e esla, portanto, perde certa capacidade de
absorver calor. Resumindo, podemos di zer que uma temperatura de ebulição baixa exige uma
grande quantidade de água para o arrefecimento dos vapores destilados, o que se pode traduzir em
dificuldades de ordem técnica por vezes insuperáveis, pelo que, neste caso, se prefere trabalhar à
pressão normal.
/." Destilação
2.a Destilação
A2 B2 C2 D2 E,
Temperatura de ebulição °C 75-79 79-89 89-104 104-113 113-117
Volume obtido em ml 325 135 100 125 315
3." Destilação
A, B, C3 D3 E3
Temperatura de ebulição yC 73-76 76-88 88-104 104-115 115-118
Volume obtido em ml 360 110 70 105 355
4." Destilação
^ ** C* *V E,
Temperatura de ebulição °C 71-73 73-76 76-104 104-117 117-119
Volume obtido em ml 410 75 40 70 405
5." Destilação
A, B, C, D5 E5
Temperatura de ebulição °C 70-71 71-85 85-105 105-119 119-120
Volume obtido em ml 475 20 10 20 475
O recipiente A contém uma mistura binária, cuja composição corresponde a Lft (Fig. 152, pág.
256), sendo L2 e L a composição dos líquidos nos recipientes B c C, respectivamente.
Quando o líquido em A estiver à sua temperatura de ebulição, í4, emite vapores que passam
através da serpentina existente no fundo do recipiente B. Se nos reportarmos ao gráfico da Fig. 152,
pág. 256, que representa a temperatura cm função da concentração, vë-se que /4 > /,,-sendo esta a
temperatura de ebulição da mislura de composição L, contida em B. Deste modo, o vapor emitido em
A ao chegar a B aquece o conteúdo deste e fá-lo entrar em ebulição, condensando-se em seguida em
£', o mesmo acontecendo com o vapor emitido por B, que, após ter aquecido à ebulição o líquido do
recipiente C, se condensa em F.
Repare-se, no entanto, ainda segundo o gráfico da Fig. 152, pág. 256, que o vapor emitido no
recipiente A (V4) tem a mesma composição, Lr que o líquido encerrado cm B, e, assim, pode
suprimir-se a serpentina c fa/cr borbulhar directamente o vapor de A no líquido contido cm S; aliás,
acontece o mesmo com o vapor emitido em /? (V\), cuja composição, L ] t é, por sua vez, igual à do
líquido cm C, pelo que também nesse compartimento se faz a condensação do vapor de B.
Como se verifica ainda da observação do gráfico da Fig. 152 os líquidos à ebulição nos
recipientes A, B c C emitem um vapor mais rico que eles no componente mais volátil, e, por isso, tal
componente vai baixando de concentração nesses líquidos apesar da chegada sempre contínua de
vapor vindo do recipiente inferior, isto é, de A para fí, de B para C, ctc. Este desequilíbrio, no
entanto, é compensado, em parte, pelo
268
retorno parcial do líquido existente em cada um dos recipientes para o que lhe está situado
imediatamente abaixo, refluindo o líquido de B para A pelo tubo /, o líquido de C para B pelo tubo
K, e assim sucessivamente.
Vê-se, portanto, que uma série de recipientes como estes que acabámos de descre
ver permitiria realizar a separação dos dois constituintes de um líquido, a qual seria
tanto mais perfeita quanto maior o número de elementos que figuras
sem na referida série. Um aparelho destes, contudo, é puramente
& teórico, sendo substituído na prática pelas colunas de destilação
----- fraccionada ou de rectificação, cujo esquema está representado na
Fig. 156.
Uma coluna destas é constituída por um tubo cilíndrico, apresentando, a
espaços regulares, uma espécie de prato, o qual é perfurado por numerosos
orifícios através dos quais possa fluir o vapor ascendente. Estes pratos dividem
a coluna numa série de elemenlos: A, 5, C, etc., cujo funcionamento é
semelhante ao dos recipientes do aparelho teórico atrás descrito, sendo o
líquido mantido sobre cada prato mercê da pressão exercida pelo vapor que se
evola do prato situado por baixo, escoando o excesso de líquido para o prato
inferior através dos tubos F, G, //, etc.
Entretanto, a analogia entre uma coluna de fraccionamento e o aparelho teórico
atrás descrito só é completa se os vapores que abandonam cada um dos pratos
possuírem a composição tal qual é calculada à custa dos diagramas temperatura
de ebulição-composição. Quando isso se verifica, os pratos das colunas de
O
fraccionamento comportam-se como pratos teóricos, mas, na prática, esta condição
está longe de ser observada. De facto, é materialmente impossível evitar que
uma certa fracção do vapor emitido por um prato atravesse o líquido do prato
superior antes de ficar em equilíbrio perfeito com este, ou, ainda, que
determinada porção de líquido seja arrastada pela corrente de vapor de um
prato para o outro, e nisto reside o motivo por que um prato real é sempre
menos eficaz do que um prato
Fig. 156.
Esquema de teórico. " TI-;f<o; ^-ï:*n;-••' •
uma coluna de --1 :.. '- •• •
rectificação
Por isso, a eficiência de uma coluna de fraccionamento é
definida pela Altura Equivalente a um Prato Teórico (A.E.P.T.) e, assim, a uma coluna de 2 m que
tenha um poder de fraccionamento equivalente, por exemplo, a dez pratos teóricos corresponderá
uma
A.E.P.T. - -0,2 m.
10
269
Existem numerosos modelos de colunas de rectificação, mas em todos eles se procura manter
um contacto perfeito cnlre o vapor que sobe e o líquido que reflui, pois deste importante pormenor
depende o seu bom funcionamento. Aliás, estas colunas devem trabalhar sem que haja trocas de
calor com o exterior e para evitar isso alguns modelos estão providos de isolamento ou são
aquecidos para compensar qualquer possível perda de calor. Neste último caso, porém, o seu
aquecimento deve ser feito a uma temperatura cerca de 10-15"C abaixo daquela a que se encontra o
vapor, pois, se for exagerado, o poder separador da coluna é diminuído.
Passados em revista alguns aspectos teóricos desta operação, vejamos agora os processos
usados na prática laboratorial para se fazer uma destilação. São eles:
1 — Destilação simples;
2 — Destilação a pressão reduzida;
3 — Destilação em corrente de vapor;
4 — Destilação fraccionada.
Este processo, como já vimos, não permite uma separação completa dos componentes de uma
mistura binária, a não ser que estes tenham pontos de ebulição muito afastados. Apesar disso,
utiliza-se bastante, tanto no laboratório como no domínio industrial, sempre que não seja necessária
uma separação absoluta dos constituintes da mistura a destilar ou quando se pretenda separar um
líquido de produtos não voláteis nele dissolvidos.
São vários os tipos de aparelhos utilizados para fazer uma destilação simples, os quais constam,
essencialmente, de um recipiente onde se procede à vaporização do líquido a destilar e de um
dispositivo que permite arrefecer e condensar o vapor formado. A Fig. 157 representa um dispositivo
típico utilizado numa destilação simples à escala laboratorial.
O líquido a destilar é colocado no recipiente A, sendo os vapores formados arrefecidos e
condensados no refrigerante 6, recolhendo-se o condensado no balão C, servindo o termómetro T
para medir a temperatura do vapor. A fim de evitar o sobrea-quecimento do líquido a destilar e a sua
ebulição tumultuosa e irregular, deve adicionar-se ao líquido, antes de se iniciar o aquecimento,
pequenos fragmentos de porcelana porosa ou qualquer outro material apropriado.
270
O a q u eci m en t o do halão destilatório pode fa/er-se por vários meios; a fogo duect o.
por meio de invólucros ou manias em que estão incorporadas resistências eléctricas, a
banho de óleo. e depende, principalmente,
da nalure/.a do l i q u i d o ;i d e s t i lar, devendo ter-se o cuidado de nunca
u t il i za r uni bico de gás para o aquecimento de líquidos i n M amáveis.
Por seu tu rno , proeurar-se-á escol h er um condensador apropriado às
características do produto a destilar,
recorrendo-sc ao t i p o m a i s apropriado a cada
caso, lembr ando que estes utensílios
foram descritos quando tratámos da
Refrigerarão (pá». 174). Quando a
parenterat, representando, por isso, uma das matérias-primas que maior consumo têm nos
laboratórios farmacêuticos.
Entretanto, a destilação da água para uso farmacêutico, sobretudo aquela destinada à
preparação de soluções injectáveis, deve ser feita por processos adequados, pois a água destilada
tem que obedecer a condições bem especificadas, tais como não ser pirogcnica e não conter metais
ou gases dissolvidos, etc., devendo satisfazer aos rigorosos ensaios de controlo inscritos em todas as
farmacopeias.
Dada, pois, a importância que este produto representa para a actividade farmacêutica,
achamos justificável darmos uma ideia, ainda que sumária, dos principais modelos de aparelhos
utilizados na sua preparação.
Na generalidade, a água destilada é preparada a partir da água potável, devendo os aparelhos
utilizados na destilação satisfazer a certos requisitos, alguns deles de ordem meramente técnica e
outros de ordem económica, sobretudo a atender quando se trate de produção em grande escala.
Assim, um aparelho utilizado na destilação da água deve recuperar o calor latente
de vaporização, o que toma a produção mais económica. Além disso, não deve ocasio
nar o arrastamento de gotículas de água pelo vapor, o que elimina a presença de
substâncias dissolvidas ou suspensas e de pirogénio-s no destilado, não deve ceder à
própria água destilada as substâncias de que é feito e deve promover a eliminação dos
gases dissolvidos naquela antes da destilação propriamente dita. -?
Os aparelhos de destilação são de muitos e variados modelos, sendo uns construídos de vidro c
outros de metal. O vidro utilizado na fabricação dos destiladores deve ser dotado de alta resistência
hídrolítica, isto é, não deve ceder, mesmo em quantidade mínima, nenhum dos seus constituintes à
água. Exige-se, pois, mais de que um vidro neutro, um vidro muito resistente ao ataque pela água a
quente, como os vidros Pyrex e Jena. Normalmente, estes aparelhos são de baixo rendimento e
relativamente caros, alem de frágeis e difíceis de montar, dado o número de peças que os constituem.
Como metais usados na fabricação de destiladores podemos mencionar o cobre, geralmente
estanhado, e o aço inoxidável, sendo, por vezes, os refrigerantes prateados no seu interior.
Entre os aparelhos deste tipo lemos o de Schofí-Jena, de rendimento muito limitado, que pode
trabalhar acopulado com outro igual, produzindo directamente água bidestilada. A Fig. 159
reproduz um esquema deste aparelho. Mais prático e de rendimento um pouco mais elevado é o
bidestilador Vel, também inteiramente de vidro, reproduzido na Fig. 160.
272
Aquaaí. — Este aparelho, de origem alemã, c constituído de molde a produzir uma água de
qualidade superior, Todo de vidro Jena 20, o aquecimento é teito externamente, por meio de uma
espiral eléctrica, estando o refrigerante e o regulador de nível colocados no interior do balão de
destilação.
O regulador está construído de maneira a produzir um efeito de
depressão semelhante ao duma trompa de água exactamente depois da
primeira zona de condensação do vapor de água. Deste modo, enquanto
que este já se transformou em fase líquida, o anidrido carbónico, os
vestígios de amoníaco e produtos de decomposição orgânica, voláteis a
100°C, são eliminados.
O Biquast é a combinação com um segundo aparelho semelhante ao
primeiro, para a obtenção de água bidestilada. Eis os dados técnicos
destes aparelhos:
podendo aproveitar-se os 7 litros de água restante, que sai aquecida por H, para outros fins. Como
se pode ver na Fig. 162, há uma zona de água na parte de cima do condensador que, estando a um
nível superior ao da saída para H, não é removida
senão para substituir a água evaporada na caldeira.
Acontece, por outro lado, que a água acumulada nesse
ponto é mantida cons-tantemente à ebulição pelo vapor
libertado na caldeira c que começa a descer ao longo
do condensador, sendo aí que o amoníaco e oulros
gases se libertam. Repare-se que a extremidade
superior do condensador se eleva bem acima do nível
da água na câmara de ebulição e está protegida por
uma espécie de tampa de vidro, E, de modo que não
existe perigo de se verificar arrastamento de água
juntamente com o vapor.
Outro tipo de destilador metálico é representado
pelo aparelho de Barnstead, com numerosos modelos de
capacidade variável, os quais ainda são utili/ados em
alguns laboratórios.
Fig. 162. Aparelho Manesty para Na Fig. 163 reproduzimos um modelo deste
destilação de água
aparelho que funciona do seguinte modo: A água a
destilar entra no condensador por A e enquanto gira
em torno da parte externa deste é aquecida de tal modo
que quase ferve, devido ao calor latente de condensação do vapor existente dentro do
condensador.
Esta água segue pelo tubo B para um indicador de nível ligado a um evaporador aberto, C.
Estando a uma temperatura igual à do seu ponto de ebulição e em contacto com a atmosfera, a água
liberta praticamente todos os gases dissolvidos e todas as impurezas voláteis, efectuando-se, assim,
uma purificação preliminar. O indicador de nível, C, mantém, automaticamente, o nível constante,
saindo o excesso de água quente por G, podendo ser utilizada para outros fins.
No evaporador a água é transformada cm vapor, o qual sobe pelo tubo D para os tubos
internos do condensador, saindo, depois, pelo tubo E, água destilada, estéril e quimicamente pura,
graças a um processo simples, contínuo e automático.
Uma característica deste aparelho é a abertura H na extremidade do condensador. Por simples
diminuição do débito da corrente de água fria em A pode fazer-se sair por H um pouco de vapor não
condensado, as segurando-se, assim, uma maior eficácia, pois torna-se impossível a entrada de ar, e,
facto mais importante, impede-se a redissolução
275
de quaisquer gases que ainda não tenham sido eliminados, pois saem juntamente com o jacto de
vapor. Além disso, a abertura H torna o sistema aberto, impedindo, assim, o estabelecimento de
pressões internas.
Os destiladores que para este fim se empregam são de patente italiana e assentam em bases
teóricas completamente novas. A casa produtora é a firma PONZINI e MASCARINI, sendo conhecidos estes
aparelhos por destiladores de MASCARINI.
Como inovação curiosa, o dcstilador não contém qualquer refrigerante e o aquecimento é feito
electricamente, sendo o aparelho calorifugado, efectuando-se o seu funcionamento do seguinte
modo:
276
Numa caldeira de destilação (1), a água é mantida a nível constante graças a um alimentador
automático provido de um sistema de bóia (7).
Por meio de um dispositivo de aquecimento de pequeno poder (resistências, 5,6), aquece-se à
temperatura necessária a água contida em quantidade limitada na caldeira. Depois disso, o
aquecimento é consideravelmente reduzido e não é utilizado senão para compensar as perdas de
calor devidas a irradiação e ao transporte pela água à saída do escoador.
Os aparelhos podem ser fornecidos ainda com um dispositivo de regulação para funcionamento
inteiramente aulomãtico, graças ao qual o aquecimento é regulado de modo a manter o grau de vazio
nos limites desejados.
Existem modelos especiais para a destilação de água do mar, para bases navais e instalações a
bordo de barcos, etc.
Os primeiros aparelhos apresentavam o inconveniente, comum, de resto, à maioria dos
alambiques de movimentação contínua, de não permitirem uma desgaseificação conveniente da água.
Hoje, o problema parece estar inteiramente resolvido com a introdução, nos aparelhos, de uma saída
para gases incondensáveis.
Muitas substâncias não podem ser satisfatoriamente destiladas à pressão normal porque correm
o risco de se decomporem antes que o seu ponto de ebulição seja atingido. No entanto, desde que se
reduza a pressão exercida sobre a superfície livre de um líquido, a sua temperatura de ebulição
baixa de acordo com o grau de vazio feito, propriedade que é utilizada, na prática, para destilar
produtos constituídos por substâncias alteráveis ou decomponíveis pelo calor.
Aliás, a Tabela XXII é elucidativa sobre a relação pressão-temperatura de ebulição de vários
líquidos e mostra bem como, por este processo, é possível destilar a temperaturas relativamente
baixas certos líquidos com elevado ponto de ebulição.
Na Fig. 165 representamos, esquematicamente, um dispositivo que pode ser usado para fazer
uma destilação sob pressão reduzida, em cuja montagem só deve ulilizar-se tubo de borracha de
paredes grossas e rolhas também de borracha que adaptem perfeitamente ao bocal dos frascos. O
líquido a destilar é colocado num balão de CLAISEN com dois colos, X, introduzindo-se na abertura do
colo direito um termómetro, c u ja ampola deve ficar abaixo da saída do ramo lateral, enquanto que
pelo da esquerda passa um tubo capilar, fechado na extremidade superior por um tubo de borracha
ao qual se aplica uma pinça de pressão regulável. O papel deste tubo capilar é o de permitir a
passagem de uma corrente de tinas bolhas de ar através do líquido quando o aparelho estiver sob
pressão reduzida, o que regulariza a ebulição e impede o sobreaquecimento do produto a destilar.
condensador. Uma vez que se pretenda separar o produto destilado da água, é vantajoso recolher-se
o destilado num vaso florentino, que permite essa separação com relativa facilidade.
Todavia, a preparação das águas destiladas faz-se quase sempre recorrendo a um alambique
cuja curcúbita A mergulha num banho de água C, que faz parte integrante do aparelho, conforme se
mostra na Fig. 167.
Pêlos motivos apontados quando tratámos da teoria da destilação, tivemos ocasião de ver que,
na prática, a separação de dois líquidos miscíveis formando uma solução ideal se faz recorrendo à
técnica da destilação fraccionada. Esta difere da destilação simples porque entre o balão destilatório
e o condensador se intercala uma coluna de fraccionamento ou de rectificação, das quais existem
vários modelos, uns mais eficientes, outros de menor poder de separação. Como o dispositivo
utilizado neste processo de destilação é, basicamente, o mesmo utilizado na destilação simples,
tendo apenas a mais a coluna de rectificação, neste parágrafo trataremos, unicamente, destas
últimas.
Uma das colunas mais conhecidas é a de VKÍRFUX (Fig. 168 B), considerada como tendo uma
eficiência de separação mediana, É constituída por uma série de dentes de vidro formando vários
andares dispostos a intervalos regulares. Tais dentes, que nascem das paredes, afilam-sc na
extremidade e convergem no centro, estando dispostos de modo que as pontas de cada par quase
locam umas nas outras. A sua inserção na coluna é feita de modo que fiquem ligeiramente inclinados
para baixo e formam como que uma espiral de vidro, de modo que o vapor tem que contactar com
eles forçosamente.
v
U
Fig. 168. A, coluna de Widmer: B, coluna de Vigreux; C, coluna tipo Hempel. para
enchimento; D, cone de Honeycomb, para suporte do enchimento
Existem muitos outros tipos de colunas, tidas como mais eficientes que a de VIGREUX, alguns
modelos das quais se representam na Fig. 168. Entre elas, podemos mencionar as colunas de
WIDMER, com espiral interior, e a coluna tipo HEMPEL. Esta última é constituída por um simples tubo
de vidro, cheio até alguns centímetros abaixo da tubuladura lateral com um material apropriado,
como anéis de porcelana, anéis de FISKE, anéis de RASCHIG ou pérolas de vidro (Fig. 169).
281
BIBLIOGRAFIA
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282
283
GENERALIDADES
Uma vez que numerosas substâncias são prescritas sob a forma de solução, é da maior
conveniência que o farmacêutico esteja familiarizado com a solubilidade dos fármacos de uso mais
corrente. Em muitos casos, as farmacopeias indicam, com precisão, essa solubilidade, sendo de ter
em conta, porém, que a maneira de a exprimir varia de um livro para o outro. Assim, a Farmacopeia
Portuguesa IV referia que a solubilidade, quando não houvesse indicação especial, era referida à
temperatura de 15°C e definia-a como o número de partes de solvente necessárias para dissolver uma
parte de soluto. A nossa actual Farmacopeia adopta um critério menos rígido, designando a
solubilidade de uma substância nela descrita, na rubrica características, por termos como muito
solúvel, facilmente solúvel, solúvel, ele., cujo significado se dá na Tabela XXIII.
285
Um mEq corresponde a 1/1000 de um Eq, sendo este o peso de uma substância que se combina
com um átorno-grama de hidrogénio. Portanto, um Eq é o peso de um átomo-grama ou de um
radical dividido pela respectiva valência.
Assim, por exemplo, o peso atómico do Na+ é 22,98 (aproximadamente 23) e o seu Eq
determina-se dividindo esse peso pela valência daquele metal que é 1. Temos, pois, que o Eq do Na+
é 23:1, ou seja, aproximadamente, 23 g e o seu miliequivalente é igual a 23:1000, ou seja cerca de
0,023 g ou 23 mg. Um mEq de Na+ combina-se com um mEq de Cl, originando um mEq de NaCl
que, por seu turno, é igual a cerca de 0,0585 g ou 58,5 mg. .
No entanto, se o catião do sal for bivalente ou o sal contiver dois catiões
monovalentes, o Equivalente-grama destes compostos obtém-se dividindo o respectivo
peso molecular por 2; analogamente, no caso do composto conter três catiões monova
lentes, o seu Eqg corresponderá ao respectivo peso molecular, mas agora dividido
por 3. '•
É de notar que a água de hidratação de um composto tem que ser considerada na determinação
do seu peso molecular, embora não interfira na valência.
A título de exemplo, vejamos como se determinam os Eqg de vários sais:
CaCl,6HO K P O , 12HO
O cálculo do número total de mEq num determinado volume de uma solução pode fazer-se
dividindo a quantidade de electrólitos, expressa em g, existente nesse volume, pelo respectivo mEq,
também expresso em g. Vejamos dois exemplos:
1) Suponhamos uma solução contendo 1,20 g de bicarbonato de sódio em 20 ml e que
pretendíamos saber o número de mEq nela contidos.
O P,M. do bicarbonato de sódio é 84,02, pelo que o seu mEq é igual a 0,084. Como a solução
contém, em 20 ml, 1,2 g desta substância, o número de mEq existente
1.2
nesse volume será ————= 14,3 ou seja, a solução em referência contém 14,3 mEq de 0,084
Na+ e 14,3 mEq de HCO3~.
2) Suponhamos uma outra solução contendo 6 g de cloreto de sódio e 5,6 g de
lactato de sódio em 1000 ml. Para determinar os mEq nela existentes temos:
287
O P.M. de NaCl é 58,5, pelo que o seu mEq é igual a 0,0585 e o número de
6
mEq correspondente a 6 e deste sal é ———— = 102.6 mEq de Na e 102,6 mEq de Cl.
0,0585 *
Por outro lado, o P.M. do lactato de sódio é 112 e o seu mEq = 0,112. Logo,
+
5,6 = 50, o que significa que a solução contém 50 mEq de Na correspondentes
0,112
a 5,6, deste sal e mais 50 mEq de lactato. Deste modo, o número total de mEq, em 1000 ml desta
solução será:
• NaCl, P.M. 54,85 10.0 58,45 0,0585 Na* 170,9 Cl- 170.9
,. Glicose 10,00 — — — —
Glicose 5,0 — — — —
Total... Na--14,07; K+-l,0; Cl-18,30; Mg2+-3.0; Ca:*-5,80; Acet-4,70; Citrato-0,80
289
Como está indicado na Tabela XXIV, os números de mEq nela reproduzidos refercm-se a 100
ml de solução. Querendo saber-se o número de mEq em ,v ml de cada uma das soluções
mencionadas, basta dividir o número de mEq em 100 ml por 100 e multiplicar o resultado obtido
por x.
Diz-se que uma solução é ideal quando as moléculas dos seus constituintes não se atraem por
forças especiais e quando não se manifesta qualquer variação da energia interna ao misturarem-se
os seus componentes. Nestas condições, o único efeito observado é o de uma simples diluição dos
constituintes, não se registando, ao juntarcm-se os componentes da solução, desenvolvimento ou
absorção de calor, nem contracção ou aumento de volume.
A lei de RAUOLT estabelece que numa solução ideal a pressão de vapor de cada constituinte é
proporcional à sua fracção molar e, segundo DALTON, a pressão total de vapor da solução será dada
pela soma das pressões parciais dos respectivos constituintes.
Assim, se tivermos uma solução ideal formada por dois componentes A e B, a tensão de vapor
do constituinte A, p^ será igual à pressão de vapor p°A da substância no estado puro, multiplicada
pela fracção molar de A:
ou =
PA = P" A- ———— - ——— PA P" A- X
A" +n
Uma vez conhecidos os valores das pressões de vapor de cada constituinte puro para uma
temperatura determinada, pode construir-se um diagrama representando as variações das pressões
parciais e totais de vapor a essa mesma temperatura em função da composição da solução, como se
mostra na Fig, 170. No caso das soluções ideais, as propriedades de cada um dos seus constituintes
permanecem inalteradas e não são
290
praticamente influenciadas pela presença dos outros constituintes, pelo que estas obedecem à lei de
RAOULT, mas já o mesmo não acontece com as soluções não ideais ou
reais, as quais se afastam, nitidamente, da referida lei,
mercê de interacções de diversa nature/a que se manifestam
entre as moléculas dos seus constituintes.
Suponhamos, então, uma solução constituída por duas
substâncias, A e /ï, e que nela as forças de atracção entre
as moléculas de A e de B são mais fracas do que as das
moléculas de cada um dos constituintes entre si. Num caso
destes, a solução apresentará um desvio positivo em relação à
lei de RAOULT e a respectiva curva das pressões de vapor
passa, em certas circunstâncias, a apresentar um máximo,
como se pode ver na Fig. 171. Se, entretanto, as forças de
Fig. 170. Pressões de vapor parciais e atracção entre as moléculas de A e B forem mais intensas
totais de uma solução ideal para do que as forças de atracção de A para A e de B para B
uma
determinada temperatura observa-se um desvio negativo, apresentando, entào, a curva
das pressões de vapor um
mínimo desde que esse afastamento seja suficientemente grande. Em tal caso, como é
compreensível, as curvas das pressões de
vapor têm o aspecto das da Fig. 171 vistas
em posição invertida.
Estes desvios em relação à lei de
RAOULT são a consequência de fenómenos
ocorridos durante a dissolução de uma substância
noutra, como a solvatação e a
associação. A solvaíação traduz-se por um
desvio negativo, isto é, corresponde ao caso
cm que as forças de atracção entre os dois
constituintes da solução são mais fortes, e
quando isso se verifica acontece que a
solubilidade mútua das duas substâncias é
aumentada.
Por sua vez, os desvios positivos à Fig. 171. Pressões de vapor parciais e totais
referida lei traduzem-se por uma diminuição de uma solução não ideal a uma temperatura
de solubilidade mútua dos dois componentes determinada, apresentando um afastamento
positivo à lei de Raoult, para uma temperatura
da solução e são devidos, em grande parte, a determinada
uma interacção específica manifestada entre
as moléculas do mesmo constituinte, a qual provoca a associação das respectivas
moléculas em dímeros ou polímeros. No fundo, podem atribuir-se estes afastamentos
291
diferença existente entre as forças de coesão das moléculas da substância dissolvida, as quais
condicionam um certo número de inleracçõcs solvcnte-soluto, como passamos a expor.
Para que as moléculas possam existir agregadas sob a forma de líquidos ou sólidos existem
várias forças inlennolcculares que as mantêm unidas. Quando, porém, duas moléculas actuam uma
sobre a outra, duas espécies de forças se manifestam: as forças repulsivas e as forças atractivas.
Estas últimas são necessárias para manter as moléculas coesas, enquanto que as primeiras exercem
unia acção completamente oposta, de modo que o comportamento das moléculas de um composto é
governado por ambas.
A repulsão é devida ã interpenetração das nuvens electrónicas das moléculas e aumenta
exponencialmente com a diminuição da distância entre as mesmas, existindo, porém, uma distância
de equilíbrio, equivalente a 3 ou 4 Ã, em que as forças atractivas e repulsivas se igualam. A essa
distância a energia potencial de duas moléculas é mínima e o sistema atínge o seu estado mais
estável.
São várias, por outro lado, as forças atractivas intermolecularcs, corno as ligações
elcctrovalentes c covalentes. forças de Van Der WAALS e outras, e, ainda, us ligações hidrogénio, as
quais sào mais ou menos poderosas conforme o respectivo tipo e possuem uma certa energia que
pode ser tomada como índice da torça da ligação considerada. Assim, uma ligação electrovalente
tem uma energia aproximada de 100--200 kcal, mol '; uma ligação covalente possui uma energia de
50-150 kcal. mol ', a qual se situa enlre 1-10 kcal. mol"1 no caso das várias forças de Van Der
WAALS, enquanto que a energia de uma ligação hidrogénio é, conforme os casos, de 2-7 kcal.
Estas forças exercem, pois,como que uma pressão interna tendente a manter unidas as
moléculas, a qual é expressa em caloria por ml e pode ser calculada pela equação:
Atfv - RT
Pi = ———————— (4)
y
É do conhecimento geral que a água constitui um bom solvente dos sais e açúcares, ao passo que o
éter, o benzeno e os óleos, em regra, dissolvem facilmente as substâncias pouco sulúveis na água. A
observação destes factos levou a afirmar-se que o semelhante dissolve o semelhante, querendo isto
significar que a solubilidade depende, fundamentalmente, da circunstância de o soluto e o solvente
possuírem determinadas características em comum, como, por exemplo, a mesma ou aproximada
polaridade. Vejamos, pois, como essas características condicionam as interacções sol-vente-soluto e
influenciam a solubilidade de uma substância qualquer num líquido, para o que vamos considerar os
solventes agrupados em três classes: polares, não polares e semipolares.
H H H H
R — O - - - -H — O - - - R —C = O . . . . H —O - - .
Ligação hidrogénio álcool-água Ligação hidrogénio aldeído-água
;
' " '" . ' H H
H3cv !
^ )C^O-.. H —O.... R 3 N... .H- O - - - .
H3C/
Ligação hidrogénio cetona-água Ligação hidrogénio amina-água.
293
1 — Devido à sua elevada constante dieléctrica (cerca de 80, no caso da água), os solventes
polares reduzem a força de atracção entre iões com carga eléctrica oposta, solubilizando,
portanto, compostos com ligações electrovalentes.
2 — Os solventes polares são capazes de quebrar as ligações cova lentes de electrólitos
potencialmente fortes por reacções ácido-base, uma vez que tais solventes são
anfipróticos. É por este motivo que a água promove a ionização de compostos como o
HCl:
O O
^ ^ _+
R —C -f-NaOH^R C -O Na + H2O
OH
3 — Por último, repare-se que os solventes polares são capazes de solvatar moléculas e iões
através de forças de interacções dipolares, particularmente pela formação de ligações
hidrogénio, de que resulta um aumento da solubilidade de muitos compostos. Para que
isto se verifique é necessário, contudo, que o soluto seja também de natureza polar,
pois muitas vezes terá que competir com as ligações das moléculas do solvente já
associadas e só assim poderá obter lugar nessa estrutura previamente formada.
294
Como exemplo de uma interacção deste tipo pode citar-se a que ocorre entre o
oleato de sódio e a água:
7°
C17H33~C-C
Os líquidos não polares, tais como os hidrocarbonetos, têm uma baixa constante dieléctrica.
Nestas condições, são manifestamente incapazes de neulralizar as forças atractivas interino l ecul
are s dos electrólitos fortes ou fracos, assim como também não destroem as ligações covalentes nem
ionizam os electrólitos fracos, visto serem solventes apróticos. Por estas razões, os solutos de
natureza iónica ou polar são praticamente insolúveis ou apenas muito pouco solúveis nos solventes
apoiares.
Estes solventes só dissolvem, na realidade, compostos igualmente não polares que tenham uma
pressão interna semelhante, através de acções entre dipolos induzidos, sendo as moléculas do soluto
mantidas em solução por forças de Van Der WAALS--LoxnoN. Os óleos, gorduras sólidas, alcalóides
(forma base) e ácidos gordos são exemplos de compostos tipicamente solúveis em solventes apoiares.
Certos líquidos semipolares, como as cetonas e álcoois, podem indu/ir um certo grau de
polaridade nas moléculas de solventes não polares, actuando de modo a favorecerem a miscibiïidade
de um líquido não polar com outro polar. Assim, a acetona aumenta a solubilidade do éter na água e
o propilenoglicol aumenta a solubilidade mútua da água e essência de hortelã-pimenta e da água e
benzoato de benzilo.
Entende-se por solução simples a que resulta da dissolução total e completa de VM substância
de composição homogénea num solvente determinado. Dado, porém, K o presente capítulo se limita
ao estudo das soluções cujo solvente c um líquido, icna-. consideraremos os três casos seguintes:
solução de gás em líquido, solução de | i ï i d ( . em líquido e solução de sólido em líquido.
A solubilidade dos gases nos líquidos depende de vários factores, uns inerentes à i natureza dos dois
elementos constitutivos da solução e à presença de substâncias e s i i a i i h a - - dissolvidas, sendo os
outros representados pela pressão e a temperatura.
A influência da pressão na solubilidade dos gases é expressa pela lei de HENRY, a q u a l
estabelece que a concentração do gás dissolvido num dado solvente é propor-uoi ud à pressão
parcial do mesmo gás não dissolvido e em contacto com a solução, desJ.; que a temperatura
permaneça constante. Esta lei pode ser expressa pela equação ! k p, em que c é a concentração em
g/i, do gás dissolvido, p é a pressão parcial do p á - em contacto com a solução e k uma constante,
cujo valor depende da natureza du ü a-ï e do solvente em causa.
K n i i e i a i ü o , conhecem-se vários casos de gases que em solução aquosa se afastam,
mi k Umu M ii e da referida lei e apresentam uma solubilidade na água maior do que aquela que a
íe ona prevê. São exemplos disto, entre outros, o ácido clorídrico, o amoníaco e o n n i d n d n
carbónico, mas o seu comportamento é explicado pelo facto de tais compos-ins r e a g i r e m com a
água, fenómeno tido como responsável pelo aumento de solubilidade cm n eles observado.
Km geral, é costume exprimir a solubilidade de um gás num líquido pelo coefí-i ' i f i : h ' ;/f
absorção de BUNSEN, o qual se define como sendo o número de litros de um L \ ÍV m c d i < k : nas
condições normais de pressão e temperatura, que se dissolve em l litro de M i h e n i e a uma
determinada temperatura e à pressão de 760 mm de mercúrio. Na l a h c l a X X V indicam-se os
coeficientes de absorção de vários gases na água a diver-Nas lemper.iíuras e a pressão constante, os
quais mostram que a elevação da temperatura t a / d i m i n u i r a solubilidade do gás, mantendo-se
constante a pressão.
De f a c i o . ' o aumento da temperatura provoca uma diminuição da solubilidade da mai o i u ;
dos gases devido a, nessas condições, aumentar a sua expansibilidade. Esta propriedade impõe,
por conseguinte, que se adoptem certas precauções ao destapar recipientes comendo soluções
gasosas conservadas em locais aquecidos, recomendando--se q ue . í.m ím-. casos, os recipientes
sejam, previamente, arrefecidos.
296
O 20 30
H, 0,021 0,018 —
N^ 0,0245 0,016 0,0134
°2 0,0489 0,031 0,026
C02 1,713 0,88 0,665
Por outro lado, é frequente acontecer que a solubilidade de um gás num determinado líquido
diminua por adição, a este, de substâncias nele solúveis, particularmente se forem electrólitos. Em
tais casos, verifica-se que parte do gás dissolvido abandona a solução, designando-se esle
fenómeno por efeito de salting-out, o qual é devido à grande atracção para a água dos iões ou
moléculas da substância adicionada, de que resulta uma diminuição da concentração do solvente
nas proximidades das moléculas do gás dissolvido.
Se bem que alguns líquidos, como acabámos de ver, sejam miscíveis em todas as proporções,
outros há que uina vc/ misturados originam duas camadas distintas, cada uma das quais representa
uma solução saturada de um dos componentes do sistema no outro, que desempenha o papel de
solvente. Assim, se misturarmos água e éter, passado pouco tempo formar-se-ão duas fases distintas,
correspondendo a superior a uma solução de água no éter (este é o solvente porque está em maior
quantidade), enquanto a camada inferior representa uma solução de éter na água.
As solubilidades mútuas de tais líquidos, mantendo-se constante a pressão, são nitidamente
influenciadas pela temperatura, como se mostra na Fig. 172, onde se repre-
Fe
nol
Ág
senta o diagrama da composição das fases do sistema fenol-água (') em função da temperatura,
exemplo classicamente adoptado para ilustrar o assunto em discussão. Se misturarmos água e fenol
à temperatura de 0"C, obter-se-ão duas fases: uma delas constitui uma solução saturada de fenol na
água (cerca de 1% em peso) e a outra é uma solução saturada de água (27%) em fenol, cujas
composições correspondem, respectivamente, aos pontos a e b do gráfico da Fig. 172. À medida,
porém, que se eleva a temperatura, a solubilidade mútua das duas substâncias aumenta e ao atingir
aquela um certo valor, denominado temperatura crítica de dissolução, no exemplo presente
(') O fenol é um sólido de p. f. = 42°C, mas considera-se neste caso líquido, pois a adição de
uma quantidade mínima de água faz baixar imediatamente o seu p. f. e o sistema passa a ser
constituído, nestas condições, por duas fases líquidas.
298
65,85°C, a composição das duas misturas torna-se idêntica, passando ambas a conter 34,5% de fenol
e 65,5% de água, ao passo que acima de 65,85°C os dois líquidos se tomam miscíveis em todas as
proporções e passam a constituir um sistema homogéneo.
Do ponto de vista prático, o gráfico da Fig. 172 mostra-nos que todas as misturas cuja
composição se localize dentro da curva originarão sempre duas fases, enquanto que as
correspondentes a pontos situados fora dela constituirão um sistema homogéneo. Suponhamos, por
exemplo, que pretendíamos preparar uma solução de fenol na água à temperatura de 201>C. Nestas
condições, só é possível dissolver até um máximo de 8,4%, em peso, de fenol, conforme se pode ver
no diagrama da Fig. 172, em que o ponto ü dá a composição da solução àquela temperatura, sendo
evidente que se adicionarmos mais fenol a composição da mistura passa a cair no interior da curva
e, automaticamente, formar-se-ão duas camadas. Pela mesma razão, torna-se possível obter à
referida temperatura de 20°C uma solução perfeita de água em fenol, cuja concentração máxima é
definida pelo ponto b da mesma curva.
Em Farmácia utiliza-se uma preparação designada por fenol líquido, obtida misturando 100
partes, em peso, de fenol, aquecido a 45°C, com 10 partes de água, a qual, mesmo depois de
arrefecida, se mantém perfeitamente homogénea, pois a sua composição situa-se fora da zona
correspondente à formação das duas camadas.
Repare-se, porém, que nem todos os líquidos imiscíveis se comportam como o sistema água-
fenol. Na realidade, certos pares de líquidos apresentam uma maior solubilidade mútua quando a
temperatura baixa. Deste modo, a sua temperatura crítica de dissolução corresponde a um valor
mínimo e, portanto, a mistura desses líquidos só é homogénea para valores de temperatura situados
abaixo daquele. Outro exemplo é representado pelo que acontece com o sistema nicotina-água, o
qual tem duas temperaturas críticas de dissolução, entre as quais existe, portanto, uma zona em que
estes líquidos apenas são parcialmente solúveis. Finalmente, certos sistemas não possuem qualquer
temperatura crítica, significando isto que nunca se poderá obter com eles uma mistura homogénea,
qualquer que seja a temperatura a que se encontrem.
A adição de uma substância a uma mistura binária de líquidos parcialmente miscíveis pode
originar efeitos variáveis. De facto, se a substância adicionada apenas for solúvel num dos
componentes ou for predominantemente solúvel num deles, regista--se uma diminuição da
solubilidade mútua dos dois componentes. Isto traduz-se, na prática, por uma variação da
temperatura crítica de dissolução do sistema considerado, a qual, por adição de uma terceira
substância com as características referidas, sobe ou desce em relação ao seu valor inicial.
Assim, ao adicionarmos naftaleno a uma mistura de água e fenol verifica-se que a temperatura
crítica do sistema sobe cerca de 20°C em relação ao seu valor original
299
(65,85°C), pois aquele hidrocarboneto apenas é solúvel no fenol, ao passo que a adição de cloreto de
potássio, solúvel unicamente na água, origina uma subida de cerca de 8°C.
Quando, porém, a substância adicionada a uma mistura binária de dois líquidos se distribui,
aproximadamente, em igual concentração nas duas fases, o efeito observado é contrário ao acima
descrito. Hm tal circunstância, acontece, de facto, que a solubilidade mútua dos componentes é
acrescida e, como consequência disso, uma temperatura crítica de dissolução originalmente alta toma-
se mais baixa, ao passo que outra, baixa, c elevada. É isto o que acontece, por exemplo, quando se
adiciona um sabão alcalino ao sistema fenol-água.
Segundo a lei de RAOULT, pode considerar-se que a pressão parcial de vapor ps de uma
substância dissolvida é igual à pressão de vapor p"^ da mesma substância pura, no estado líquido e
a igual temperatura, multiplicada pela sua fracção molar x. Deste modo: p = p'\.x, representando p°
a pressão de vapor do sólido puro, quando fundido.
Por outro lado, a actividade, as, da substância dissolvida é a relação entre a sua pressão
parcial de vapor e a pressão de vapor que a mesma apresenta quando pura e no estado líquido.
Assim, a =pjp'\ sendo evidente que a actividade da substância no estado sólido é inferior à que a
mesma apresenta no estado líquido e apenas ambas se igualam quando se atinge o ponto de fusão.
A solubilidade ideal de uma sublância sólida pode ser calculada a partir da equação de CLAUSIUS-
CLAPEYRON:
d In p H -H
_________r s _ ______v_____.v
dT RT2
300
300 em
que:
d In a H -H
dT RT1
Uma vez, porém, que a actividade do soluto numa solução corresponde ao produto da sua
concentração pelo respectivo coeficiente de actividade, se a concentração estiver expressa em
fracção molar, x, podemos escrever que:
<*s = x . f (7)
em que Tf é a temperatura absoluta de fusão do sólido e T a temperatura absoluta da solução. Daqui resulta, por
conseguinte, que a fracção molar, jr, numa solução ideal, para determinado valor de temperatura, é uma
constante independente do solvente.
A partir da equação (8), HII.DEBRAND deduziu duas regras gerais relativas à solubilidade dos sólidos as
quais se podem enunciar da seguinte maneira:
Como atrás dissemos, a actividade de um soluto numa solução é dada pela equação (7), que na sua forma
logarítmica é:
Dado que nas soluções não ideais /^ l, combinando as equações (8) e (9) obteremos a
solubilidade de uma substância neste tipo de solução, a qual será definida
por:
• / Tf -r
2,303 R \ Tf . T
significando isto que a solubilidade numa solução real corresponde à solubilidade de uma susbtância numa
solução ideal mais o logaritmo do respectivo coeficiente de actividade. A medida, porém, que o valor de / tende
para l, o comportamento de uma solução não ideal aproxima-se cada vê/ mais do comportamento de uma solução
ideal, motivo por que a equação (10), quando f = l, se transforma em (8). Entretanto, raramente acontece que a
solubilidade determinada experimentalmente nas soluções reais coincida com o valor calculado utilizando a
equação da solubilidade ideal, e isto porque o coeficiente de actividade, /, depende de vários factores, como a
natureza do soluto e do solvente e a temperatura da solução.
O termo hg f que figura na equação (10) é obtido considerando as forças inter-moleculares de atracção que
devem ser vencidas ou, por outras palavras, o trabalho que c necessário realizar para remover uma molécula do
soluto e depositá-la no solvente, o qual pode considerar-se como sendo executado em três fases ('):
l — A primeira destas fases envolve a remoção de uma molécula do soluto a uma temperatura determinada
e implica a realização de um trabalho que destrua as suas ligações com as moléculas adjacentes e permita,
assim, a sua passagem ao estado de vapor. Esse trabalho realizado para destruir as ligações entre duas
moléculas adjacentes é 2 W,, em que o índice 2,2 se refere à interacção entre moléculas do soluto. Quando,
porem, uma molécula abandona o soluto, o espaço assim criado fecha-se e melade da energia dispendida é
recuperada deste modo, pelo que o trabalho dispendido neste processo é, afinal, apenas W22. Esquematicamente
pode representar-se o que acabámos de dizer do seguinte modo:
2 — O passo seguinte consiste na torção, no solvente, de um espaço suficientemente grande para acomodar a
molécula do soluto anteriormente libertada, o que envolve a
realização de um trabalho Wn reterindo-se o índice 1,1 à energia da interacção entre as moléculas do solvente.
o o oo
o o ———>• o o
00 00
Solvente Formação de um espaço
no solvente
oo oo
O 0 + 0 ———> O • O
oo oo
Solvente Molécula Solução
do soluto
Foi demonstrado por SCATCHARD e por HILDEBRAND e WOOD que o logaritmo do coeficiente de actividade é ainda
proporcional ao volume do soluto, considerado como um líquido superarrefecido, e à fracção do volume total da
solução ocupada pelo solvente, de modo que se pode escrever:
representando V2 o volume molar do soluto líquido, <|> a fracção do volume total ocupada pelo solvente e T a
temperatura absoluta da solução. A equação ( I I ) pode ser transformada nesta outra:
K. *2
/ « / = [(1^) ''"—O^O '"T ——— (12)
RT
303
na qual os termos W1/2 são aproximadamente iguais ao termo a/V2 da equação de Van
| Der WALLS para líquidos e gases não ideais, e servem para medir as pressões internas
Í (pág. 291) do solvente e do soluto em soluções ideais apoiares ou moderadamente
ï" polares. Aos referidos termos W112 chamam-se parâmetros de solubilidade e são desi-
| gnados pêlos símbolos ôt e õ.,, respectivamente para o caso do solvente e do soluto.
4 Fazendo as necessárias substituições na equação (12), podemos escrevê-la agora, pas-
| sando para logaritmos decimais, do modo seguinte:
Portanto, se substituirmos na equação (10) hg f pelo seu valor, leremos que a quantidade de
soluto não polar ou moderadamente polar dissolvida, expressa em fracção molar é:
(s, — s 2 y (H)
2,303 R \ T f . T / 2,303 RT
Secobarbital 95-96 1 g em 2 ml
Pentobarbital 132-133 1 » » 4 »
Amobarbital 156-158 1 » » 5 »
Fenobarbital 174-178 1 » » 10 »
Barbital 188-189 1 » » 14 »
a segunda deslas regras, os quais mostram como a solubilidade de alguns barbitúricos e sulfamidas
diminui progressivamente à medida que os respectivos pontos de fusão
aumentam.
304
Como vimos (pág. 302), o mecanismo da dissolução envolve a neuirali/ação das forças
intermoleculares que tornam coesos os iões ou as moléculas da substância a dissolver, a
separação das moléculas do solvente para que as partículas do solvido encontrem espaço onde se
encaixem, sendo ainda de considerar as interacções mútuas solvente-soluto. Como então dissemos,
a anulação das pressões internas dos constituintes de uma solução só pode conseguir-se à custa de
certo trabalho ou energia e, se esta for representada pelo calor, é evidente que tal fenómeno será
endotérmico, ao passo que as interacções soluto-solvente libertam calor c são, por conseguinte,
exotérmicas.
Deste modo. ao fazer-se uma dissolução haverá, simultaneamente, uma absorção e uma
libertação de calor, e, por isso, conforme a magnitude de um e outro destes fenómenos, assim a
operação será acompanhada de um abaixamento ou elevação da temperatura inicial do solvente,
podendo acontecer, também, que esta se mantenha sem alteração.
Desde que as interacções soluto-solvente sejam de fraca ou n u l a actividade, o fenómeno
térmico prevalecente será o da absorção de calor necessário para vencer a coesão das moléculas
ou iões do soluto e do solvente, e, portanto, a dissolução provocará um abaixamento da
temperatura que, por vezes, é extraordinariamente acentuado.
Caso, porem, a quantidade de calor libertada pelas interacções dos componentes seja e'evada
e sobreleve a energia calorífica necessária para vencer as pressões internas daqueles, a dissolução
será acompanhada de libertação de calor, não havendo, por outro lado, qualquer modificação da
temperatura quando a magnitude dos fenómenos endotér-micos e exotérmicos se iguala.
305
Acontece que a solubilidade dos sólidos nas soluções altamente não ideais pode ser tratada
usando o calor de dissolução em vez do calor de fusão, exprimindo-se, neste caso, a fracção molar
do soluto do seguinte modo:
-v, dH
*«S——— = —————— ( ——————— ) (15)
A-i 2,303 R \ Ti. T, /
Os fenómenos térmicos a que acabámos de aludir são bem palcntes ao dissolver--se um sal na
água. O efeito da temperatura na dissolução destes compostos está representado nos gráficos da Fig.
173, verificando-se que uma subida de temperatura aumenta a solubilidade dos compostos que
absorvem calor ao dissolverem-sc. Como, neste caso, o processo de dissolução é endotérmico, a
temperatura inicial do solvente baixa sempre de modo mais ou menos acentuado; compreende-se,
por isso, que o aquecimento da mistura aumente a solubilidade do sólido, o que, aliás, está explícito
nas expressões que regem quer a solubilidade ideal, quer a não ideal. Inversamente, porém, quando
a dissolução é um processo exotérmico, a solubilidade diminui com a subida da temperatura.
Se bem que a maioria dos sólidos absorva calor quando são dissolvidos, casos há em que isso
não se verifica. Assim, repare-se na curva de solubilidade do sulfato de sódio hidratado,
reproduzida na Fig. 173. Segundo ela, verit"Íca-se que até 32"C a dissolução deste sal é
endotérmica e, portanto, favorecida por um aumento da temperatura. A partir desse ponto, porém, a
curva começa a descer, pois o sal torna-se anidro e, portanto, a sua dissolução passa a constituir
um fenómeno endotérmico. O cloreto de sódio, por seu turno, constitui exemplo de uma substância
cuja dissolução na água não implica absorção ou libertação de apreciável quantidade de calor, pelo
que a respectiva solubilidade, tal como se depreende do exame da Fig. 173, pouco ou nada é
modificada pela variação da temperatura.
306
Como dissemos na pág. 305, estes fenómenos podem ser explicados em termos do calor de
dissolução. A//. Entende-se por calor de dissolução de uma substância cristalina a diferença entre o
calor de sublimação do sólido, dado pela energia reticular,
e o calor de hidratação dos iões na
solução:
Apenas acrescentaremos que muitos compostos insolúveis ou pouco solúveis na água podem
transformar-se em derivados solúveis naquele solvente à custa Já introdução, nas respectivas
moléculas, de radicais polares, sendo numerosos os exemplos de substâncias medicamentosas
tornadas hidrossolúveis por este processo, sem que, mercê disso, as suas propriedades terapêuticas
sejam alteradas.
Na Tabela XXVI1T indicamos algumas das reacções correntemente utilizadas para a obtenção
de derivados solúveis na água, de acordo com BIÍLLAVITA.
A forma cristalina ou amorfa sob que um sólido se encontra tem uma marcada influência na
respectiva solubilidade. Acontece, de facto, que muitos compostos podem apresentar-se em duas ou
mais formas cristalinas, as quais se distinguem não só pelo aspecto como, lambem, pêlos seus pontos
de fusão, densidade e coeficiente de solubilidade. Em regra, as substâncias polimórficas são
instáveis, tendendo, por isso, a converterem-se na sua forma estável, que. geralmente, se caracteriza
por ter um ponlo de fusão mais elevado e menor coeficiente de solubilidade.
308
Assim, o anidrido arsenioso pode apresenta r-se cm três tbrm;is distintas: prismática,
vítrea e octacdriea. O produto oficin ul (estável) corresponde ao uniiiriiio m:\eniti\o ociaédrico
q ue se dissolve cm SÓ parles de água e tem a densidade de 3,69, ao passo que a forma vítrea tem
a densidade de 3,7 e dissolve-se em 25 parles de água.
O enxofre sublimado c uma mistura polimórfica de cristais oclaédricos com prod u t o
amorfo, sendo os cristais muito mais solúveis no sulfureto de carbono (37.I.V/Í) do que a
variedade amorfa. Do mesmo modn, o fósforo branco c so lú vel cm siilíurclo de carbono (1:0,8
m l ) e no bcn/eno (1;3."> ml) , ao passo que o fósforo vermelho é insolúvel naqueles líquidos.
Um exemplo curioso deste polimorfismo é-nos dado pela ribollavina ou vi t a mi na B,,
sendo mais solúvel na água aquela que apresenta menor ponto de fusão, o que. aliás, está de
acordo com a ré ura de HILIM - BRAND .
de
= KS (C - C ) (17)
dl
que a dissolução da substância dependerá do seu coeficiente de difusão no solvente, o qual, como é
evidente, pode ser aumentado pela agitação da mistura.
É por este motivo, aliás, que vulgarmente se procura apressar a dissolução agitando a mistura
sólido-líquido com uma vareta ou com um agitador mecânico ou magnético, como os representados
nas Figs. 174 e 175.
B——.
-l
Para fixarmos ideias, relembremos que quanto mais polar for uma substância maior será a
respectiva constante dieléctrica e que, nestas condições, se poderá dizer que os compostos altamente
ionizáveis ou polares apenas se dissolverão em líquidos de elevada constante dieléctrica, ao passo que
os compostos apoiares unicamente se dissolvem em solventes de baixa constante dieléctrica.
Apesar de a polaridade, só por si, não explicar completamente a solubilidade de uma
substância num determinado solvente (pág. 292), a verdade é que o conceito de que o semelhante
dissolve o semelhante mais uma vez se confirma e conduz a resultados muito curiosos quando a
dissolução é encarada sob o aspecto de semelhança entre as constantes dieléctricas do solvente e do
soluto.
Assim, uma vez que a solubilidade de uma substância está, de certo modo, relacionada com a
sua constante dieléctrica e, ainda, com a do solvente, verificou-se que nalguns casos se torna possível
substituir um dado solvente, tido como o melhor para determinado composto, por outro ou por uma
mistura de vários líquidos, desde que o segundo solvente tenha a mesma constante dieléctrica que o
primeiro.
Este conceito tcm-sc revelado bastante útil, dado que veio abrir novos caminhos à resolução do
problema da dissolução de certos produtos farmacêuticos apenas solúveis em líquidos tóxicos, e,
portanto, sem qualquer possibilidade de utilização na preparação de soluções medicamentosas.
Numa circunstância destas, o líquido dotado de bom poder dissolvente para a droga que se pretende
dissolver, mas condenado pela sua toxicidade, será substituído por outro, não tóxico, que apresente a
mesma constante dieléctrica que ele.
Desde que o novo solvente seja constituído por uma mistura de dois ou mais líquidos, a
constante dieléctrica do sistema depende, como é óbvio, da constante de cada um deles e da respectiva
percentagem na mistura, sendo fácil calculá-la de modo aproximado uma vez conhecidos estes
elementos da seguinte maneira:
e, %A + z u % B + ...e %n
A K
n
sistema
l (K)
Assim, por exemplo, supondo que pretendíamos calcular a constante dieléctrica de um sistema
constituído por 50% de água, 30% de álcool e 20% de glicerina, teríamos, de acordo com a equação
dada acima e os valores constantes da Tabela XXIX:
e, x 50 +e,, .x 30 +e. . . x 20
agua âlrnnl
gíte crina
sistema
100
3i
311
Constante dicléctrica
Líquido a 20"C
Acetona................................................................ 21,4 (2)
Ácido clorídrico.................................................. 4,6
Água .................................................................... 80,4
Álcool .................................................................. 13,1
Azeite .................................................................. 3,1
Benzeno .............................................................. 2,3
Benzoato de benzilo .......................................... 4,9
Clorofórmio ........................................................ 4,8
Etanol .................................................................. 25,7
Éter etílico .......................................................... 4,34
Etilcelossolve ...................................................... 14,5
Dioxano .............................................................. 2,26
Formamida .......................................................... 109
ülicerol................................................................ 43
Metanol................................................................ 33,7
Propilenoglicol .................................................... 32 (2)
Tetracloreto de carbono .................................... 2,24
Vaselina líquida.................................................. 2,5
Vários casos de dissolução de substâncias medicamentosas têm sido resolvidos à luz deste
conceito, como o da progesteronu, por exemplo. Esta substância é solúvel n« bcn/oato de benzilo na
concentração de l (H) mg/mí, mas não é aconselhável injec-
.pura, é, como vimos, de cerca de 80. Este facto, aparen l emente sem interesse, faz, porém, com que
o xarope seja melhor dissolvente de certos compostos do que a água, como se pode ver na Tabela
XXXI, e isto sem dúvida porque aquele líquido está mais próximo das exigências dieléctricas dos
compostos que nela figuram.
(') Segundo os dados de vários autores, modificados por MARTIN, loc. cr'/., pág. 377.
(2) Calculado pela equação indicada na pág. 310.
315
quase insolúveis na água. podendo, no entanto, assumirem, dentro de limite s bem detmidos de pH, a
forma de iões, geralmente hidrossolúveis. Compreende-se, portanto, a importância de que se reveste o
conhecimento do comportamento de tais produtos em face do pH do meio, pois só através desse
conhecimento se torna possível obter soluções aquosas desses compostos, afinal aquelas que mais se
utilixam como forma medicamentosa.
Assim, os ácidos orgânicos com mais de cinco ãtopios de carbono são relativamente insolúveis na
água mas reagem com soluções aquosas diluídas de hidróxidos alcalinos, carbonatos e bicarbonatos,
originando sais solúveis na água. Por sua vê/, os ácidos gordos são praticamente insolúveis na água e
solúveis em líquidos de baixa constante dieléclricu. mas podem solubüizar-sc na água quando sob a
forma de sabões de metais alcalinos ou de etanolaminas.
Ao contrário do que acontece com os ácidos carboxílicos atrás mencionados, os hidroxiácidos são
bastante solúveis na água, dada a circunstância de se solvalarem com ci a por formação de ligações
hidrogénio através dos hídroxilos existentes nas respectivas moléculas.
Também os ácidos aromáticos reagem com as soluções aquosas diluídas de álealis, formando sais
solúveis que, no entanto, são facilmente decompostos pela adição de substâncias de carácter mais ácido,
o que provoca a precipitação do ácido orgânico insolúvel na água. Estão neste caso vários compostos,
como os ácidos benzóico e salicílico, sendo de notar que, apesar de este último ser um hidroxiácido, tal
facto em nada concorre para a sua dissolução na água pela circunstância de o seu hidroxilo estar
comprometido numa ligação intramolecular com um dos oxigénios do grupo car-boxílico.
Também o fenol se comporta como uma substância fracamente acídica e é apenas ligeiramente
solúvel na água, mas dissolve-se facilmente em soluções diluídas de hidróxidos alcalinos. Acontece,
no entanto, que o fenol é um ácido ainda mais fraco do que o H-,CO^, motivo por que não é solúvel nas
soluções de carbonatos e bicarbonatos.
São numerosíssimos os compostos orgânicos usados como agentes terapêuticos contendo, na
respectiva molécula, um átomo de azoto básico. Entre eles podemos mencionar os alcalóides, aminas
simpaticomiméticas, anestésicos locais, e tantos outros.
Estes compostos caracterizam-se por serem derivados animados, de fórmula geral R.Nff, dotados de
fraca polaridade e, por conseguinte, m uit o pouco solúveis na água e s ol ú vei s nos solventes apoiares.
Entretanto, desde que o p l l do meio seja suficientemente baixo, originam sais solúveis na água. sendo
este o mecanismo mercê do qual se consegue a sua dissolução naquele solvente:
É isto o que acontece, por exemplo, com a cocaína, cuja solubilidade é de l g/600 ml de água, a
qual, porém, aumenta para l g/0,4 ml em presença de ácido clorídrico. Tenha-se em atenção, no
entanto, que a adição de um álcali às soluções destes compostos promove a sua precipitação a partir
de certo valor de pH, pois tais compostos, como já dissemos, têm uma solubilidade muito diminuta na
água quando sob a forma de bases.
Ao contrário do que sucede com os compostos anteriores, o azoto alifático das sulfamidas tem
carácter suficientemente negativo para impedir a formação de sais com os ácidos e, por isso, aquelas
comportam-se como ácidos fracos. Nestas condições, as sulfamidas formam sais hidrossolúveis com
soluções alcalinas, os quais, porém, são decompostos por adição de um ácido forte.
NH.
H N Na Anião da
sulfamlamida
O Na
NH—C = O
Aniào do barbital
7,5
9,35
10.2
Generalidades
Entende-se por solução extractiva a que resulta da dissolução parcial de uma droga de
composição heterogénea num determinado solvente, querendo isto dizer que o solvente apenas
dissolve alguns dos constituintes da droga, ficando a maior parte desta por dissolver, a qual constitui
o que se designa por marco ou resíduo.
A par dos produtos químicos de composição definida, as drogas de origem vegetal representam,
de facto, a outra grande fonte de substâncias dotadas de propriedades i"ar-macológicas, e desde
sempre constituíram uma das matérias-primas utilizadas, tradicionalmente, pêlos farmacêuticos na
preparação de medicamentos.
Dada, porém, a sua composição complexa e ainda porque a sua administração, tal corno a
natureza no-las oferece, se torna desagradável ou desaconselhável, poucas vezes se utilizam
directamente. Na realidade, salvo raras excepções, representadas por alguns pós vegetais, na grande
maioria dos casos prefere-se submeter tais drogas a determinados processos tecnológicos tendentes a
retirarem delas aquilo que encerram de útil e a deixarem no marco ou resíduo tudo que não tem
actividade farmacológica ou seja inconveniente sob qualquer ponlo de vista.
Não admira, por conseguinte, que se tenha como facto assente que as técnicas de solução
extractiva nasceram no momento em que o homem começou a utilizar os vegetais como agentes
icrapêuticos, pois cedo aquele teria reconhecido que era bem mais fácil e agradável ingerir um
extracto do que a planta integral.
Está, de facto, provado que a maioria dos processos utilizados para a obtenção de soluções
extractivas já era conhecida dos povos das antigas civilizações, os quais utilizaram, em larga escala,
o processo mais simples para a preparação de um extraclo: a maceração em água. Com o decorrer
do tempo, associando a acção do calor à do dissolvente, foram sendo introduzidos outros métodos,
como a infusão, a decocção e a digestão, e ensaiaram-se outros solventes além da água.
318
Mesmo assim, a selectividade conseguida na prática pode considerar-se satisfatória, uma vez
que a simples variação do titulo do álcool utilizado como solvente confere a este valores diferentes da
respectiva constante dieléctrica, e, portanto, altera, de modo sensível, o seu poder dissolvente para
numerosas substâncias.
A luz deste conceito, poderemos compreender o motivo por que o álcool de concentração
relativamente elevada dissolve bem muitos dos compostos atrás citados como componentes activos
das drogas vegetais, mostrando-se, por outro lado, incapaz de dissolver os açúcares, gomas,
mucilagens, celulose, amido e pectina, enquanto que a água actua precisamente de modo inverso.
Desde que a escolha do solvente nào esteja sujeila às limitações impostas no campo
farmacêutico, a selectividade da extracção pode atingir um elevado grau, para o que basta jogar com
as polaridades relativas do solvente e dos compostos que se pretende extrair. É isto, afinal, o que se
faz nas investigações fitoquímicas, em que uma droga é extraída, sucessivamente, com solventes de
polaridade crescente, o que permite submetê-la a uma verdadeira extracção fraccionada, a qual
conduz à obtenção de fracções constituídas por compostos de polaridade também crescente.
Na técnica farmacêutica recorre-se, por vezes, a um processo destes para purificar uma droga,
como acontece, por exemplo, nas preparações de cravagem de centeio. Neste caso interessa,
sobretudo, obter um produto contendo os alcalóides existentes na droga, mas como esta tem uma
elevada percentagem do gordura, cuja presença no extracto c considerada inconveniente, é
aconselhável eliminá-la previamente.
Assim, o Formulário Nacional americano manda que a cravagem seja desengordurada por
lixiviação com hexano, líquido apoiar que dissolve a gordura mas não dissolve os alcalóides, e só
então é que o extracto propriamente dito é preparado por esgotamento da cravagem com álcool
diluído. Técnica semelhante é utilizada, aliás, pela Farmacopeia Portuguesa IV na preparação do
soluto injectável de ergotino, a qual implica, igualmente, um desengorduramento prévio da droga
com éter de petróleo, líquido de características muito parecidas com as do hexano.
Alguns autores especificam que as soluções extractivas, além de selectivas, devem ser ainda
económicas e conservadoras. Quer isto dizer que a solução extractiva, para ser económica, deverá
originar um bom rendimento extractivo no mínimo de tempo e com um mínimo de solvente. Por outro
lado, impõe-se que seja, igualmente, conservadora, isto é, a estrutura química dos princípios
dissolvidos deverá manter-se tal como na planta, nunca se devendo perder de vista que certos
processos usados na prática poderão originar alterações mais ou menos profundas de muitos
componentes das drogas. Se bem que estas alterações possam ser de varia natureza, são, particular-
mente, de temer as de carácter enzimáüco, que ocorrem facilmente nas macerações prolongadas em
meio aquoso, pelo que, sempre que a composição da droga assim o indique, esta deve ser estabilizada
previamente (pág. 114).
320
Como é natural, o estado de divisão da droga, pêlos motivos anteriormente expostos (pág. 308),
desempenha uma influência decisiva nos processos de dissolução extractiva, tanto mais que neste
caso os solventes terão que embeber as células e retirarem delas os princípios activos aí existentes.
Como é do conhecimento geral, a estrutura histológica das diversas partes componentes de uma
planta é bastante heterogénea, havendo órgãos, como as raízes e os caules, extraordinariamente
compactos devido à grande percentagem de xilcma que neles figura, ao passo que as folhas e as
flores são órgãos de textura mais delicada, quase exclusivamente formados por células de paredes
celulósicas finas.
Deste modo, como o poder de penetração dos solventes depende, entre outros factores, da
consistência dos tecidos que formam o material a extrair, compreende-se que quanto menos rígida
aquela for, menor será o grau de divisão necessário para se obter uma boa embebiçào. For isso, as
fannacopeias estipulam que as drogas a submeter a um processo extractivo serão, conforme os casos,
contundidas, cortadas ou reduzidas a pó, cuja tenuidade dependerá da respectiva textura
(geralmente desde pó grosso a pó grosso n." ///)•
7.6.2.3.2. Agitação
por que a preparação de tinturas por maceração obriga a prolongar-se a operação durante alguns
dias, a fim de se assegurar um bom rendimento extractivo.
Se tivermos em conta que, como adiante veremos, os processos de extracção dependem, em
grande parte, de fenómenos de difusão e que a renovação do solvente em contacto com a substância a
dissolver desempenha um papel de grande influencia na velocidade da dissolução (pág. 308), não
repugna aceitar, logo à primeira visla, que a agitação pode abreviar, consideravelmente, a duração
de um processo extractivo.
Não admira, portanto, que vários investigadores se tenham dedicado, ultimamente, ao estudo
deste assunto, chegando à conclusão de que, na realidade, a maceração pode ser consideravelmente
encurtada quando feita sob agitação. Citam-se, a este propósito, os resultados obtidos por RAMOS
MOKUADO, o qual verificou que o teor da tintura de genciana cm derivados xantónicos, quando
obtida por maceração sob agitação mecânica durante 6 horas, é praticamente Igual ao da tintura
obtida por maceração durante 10 dias. o mesmo sucedendo no que dÍ7, respeito à concentração de
hesperidina na tintura de casca de limão.
7.6.2.3.3. Temperatura
A subida de temperatura provoca um aumento da solubilidade dos princípios activos das drogas,
motivo por que os processos de extracção a quente são sempre mais rápidos do que aqueles
realizados à temperatura ambiente.
Entretanto, vários componentes das drogas vegetais podem sofrer alterações mais ou menos
profundas pela acção do calor: hidrólises, facilmente verificadas no caso de heterósidos e
alcalóides de tipo éster; racemizaçõcs, como acontece com a hiosciamina que se transforma em
atropina; descarboxilações, como se observa com o ácido mecónico do ópio que origina, por perda de
um carboxilo, ácido coménico.
Numa droga existem, por vezes, substâncias capazes de solubilizarem outras num determinado
solvente, acontecendo que lambem se pode observar o fenómeno oposto.
Assim, os heterósidos da dedaleira, aos quais esla deve as suas notáveis propriedades
cardJolónica.s, são muito pouco solúveis na água. Islo não impede, porém, que se utilize o infuso
aquoso daquela droga, o que se torna possível porque nela existem saponinas que solubilízam os
referidos heterósidos naquele líquido.
Normalmente, os alcalóides sào insolúveis na água mas o extracto de ópio, por exemplo, é
preparado por maceração aquosa porque o ácido mecónico nele existente torna os seus
alcalóides, particularmente a morfina, bastante hidrossolúveis.
322
Quando um líquido é posto em contado com unia supertíeie sólida, acontece que duas torças
absolutamente antagónicas começam a actuar. Uma é representada pela tcnsüo sitperjti ia ! do
líquido, a qual impede que este se espalhe, obrigando-o a ocupar a menor área possível, pelo que
ele toma, geralmente, a lonna de goticulas esféricas, ao passo que a outra corresponde à
atracção molecular entre o solido e o líquido, o que provoca a embebição da substância a extrair
pelo solvente.
listas torças actuam em sentidos opostos e poderão igualar-se ou sobrepor-se unia á outra,
havendo, portanto, a maior conveniência em que o sólido se deixe molhar facilmente pelo
solvente, pois só em tais condições esle poderá real i/ar. de modo efiea/. a sua acção dissolvente.
Ora. quanto menor for a tensão superficial de um líquido, maior e o seu poder de penetração
nos interstícios Je uma estrutura sólida, e. por conseguinte, maior será o seu poder de contacto e a
sua acção para aquela, pelo que seria de esperar qu^ a tensão superficial pudesse exercer uma
influência acentuada no rendimento de uma extracção sólido-líquido.
Manda a verdade di/er que durante muito tempo este aspecto dos fenómenos que presidem à
extracção foi comple^tmenlc ignorado, ale que em lu;\"í R I I I I K e V v i t s i ensaiaram o emprego
de vários agenles lensioactivos, misturados com o solvente, na preparação de extractos fluidos
de beladona. meimendro, ipecacuanha e quina, lendo verificado que alguns extractos assim
obtidos continham, em relação ás mesmas preparações feitas sem adição de tensioactivos. maiores
quantidades de alcalóides.
Dado o interesse de que tal assunto se reveste tanto do ponto de v i s t a farmacêutico como
industrial, numerosos autores têm dedicado, nestes últimos (rima anos. a sua atenção ao estudo da
influência dos tensioactivos na extracção de drogas contendo, especialmente, alcalóide>, sendo
os resultados obtidos considerados como bastante animadores c justificativos do emprego
generah/ado de tais produtos nas técnicas e xtractivas. De facto, RAMOS MORCXPO demonstrou que
lenómeno análogo se passa na extracção de derivados da ben/opirona, lendo verificado que o
'l\\'ccn 80 origina um aumento, poi ve/.es muito considerável, de compostos flavónicos nos
macerados de certas drogas.
Esta acção favorável dos tensioacíivos no rendimento de uma extracção parece estar
re'acionada com ti respectivo poder molhanle. com moditicações por ele indu/idas na
permeabilidade das membranas celulares e. ainda, com um mecanismo directo de soluhili/ação.
tradu/ido na formação de complexos princípio activo-agregados imcelares de tensmaclivo.
323
Segundo CARDONICA CARRO, OTERO AENLE e ARES POSADA, um tensioactivo favorecerá tanto mais o
rendimento extractivo quanto menor for a sua concentração crítica mïcelar e maior o seu poder
molhante. Por outro lado, de acordo com as observações daqueles autores, o tensioactivo só aumenta
a quantidade de princípios activos nos extractos desde que seja adicionado ao solvente numa
percentagem pelo menos igual à da sua concentração crítica micelar.
• Por tudo quanto dissemos anteriormente sobre a influência do solvente a propósito dii solução
simples (págs. 291 e 309) e ao tratarmos da selectividade que deve caracterizar uma solução
extractiva, é evidente que a natureza do solvente desempenha um papel de importância capital no
rendimento de uma extracção.
Todavia, por razões facilmente compreensíveis, os solventes utilizados na preparação de
soluções extractivas farmacêuticas, sobretudo daquelas que se destinem a uso interno, deverão ser
inócuos, o que limita a muito poucos aqueles que se utilizam na prática.
Na realidade, podemos dizer que os únicos solventes usados em farmácia para a obtenção deste
tipo de soluções são a água, misturas hidroalcoólicas de título variável, a glicerina diluída com
álcool e água, o vinho e o vinagre. Acontece que na preparação de extractos secos se usam, por
vezes, outros solventes, como o éter ou a acetona, os quais, porém, são ulteriormente eliminados
aquando da concentração final do produto.
7.6.2.3.7. Influência do pH
Como já vimos (pág. 315), o pH assume uma importância decisiva na dissolução de muitos
compostos, pelo que na sua extracção a partir das drogas vegelais é necessário tomar em
consideração esse facto. Apenas acrescentaremos ao que então dissemos que muitas drogas contendo
alcalóides são extraídas com álcool diluído, para se preparar o que em Farmácia Galénica se
designa por tinturas, sendo possível a extracção, ern tais condições, dos referidos compostos,
existentes nas plantas sob a forma de sais, graças à polaridade que o álcool etílico diluído apresenta.
prosseguir até que o solvente tenha retirado do produto a extrair a totalidade dos componentes que se
pretende dissolver. Muitas vezes, porém, a extracção é apenas relativa e nesta eventualidade, que
representa, aliás, o caso mais geral, as farmacopeia* indicam, especificamente, o tempo durante o
qual se deve prolongar a operação.
Nestes casos a extracção c realizada deixando a droga em contacto com o solvente durante
tempo e a temperatura variáveis e deve-se, principalmente, a um fenómeno de difusão, se bem que a
osmose intervenha igualmente, mas sempre de modo muito limitado.
325
Como atrás referimos, a droga a extrair deve ser dividida de acordo r-om a sua textura,
havendo muitos casos em que tem que ser pulverizada. Esta operação provoca não só um aumento
considerável da área oferecida à acção do solvente, como, inclusivamente, origina a ruptura das
paredes numa percentagem muito elevada de elementos celulares. Deste modo. o solvente tem
possibilidade de entrar cm contacto directo com os componentes de uma proporção muito grande de
células, uma vez que, fragmentadas as suas membranas, deixou de existir qualquer barreira que se
oponha à sua livre penetração na droga. Estamos, assim, perante um caso de dissolução simples, pelo
que. em grande parte, a extracção se resumirá à difusão da solução altamente concentrada em
princípios activos, localizada no interior das células fragmentadas, para o restante solvente, sendo
aqui que a agitação intervém favoravelmente, promovendo o aumento da velocidade com que essa
difusão se dá.
É necessário, contudo, não esquecer que mesmo numa droga pulverizada existe ainda um certo
número de células intactas e que, em tal circunstância, as suas membranas são de natureza
semipermeável, significando isto que elas permitem a penetração do solvente mas opõem-se à
passagem das substâncias dissolvidas.
Por outro lado, como é do conhecimento geral, quando uma membrana semipermeável separa
duas soluções, uma diluída e outra mais concentrada, o solvente desloca-se no sentido da solução
mais concentrada. Por consequência, como o succ celular é uma solução concentrada, o solvente que
banha as células penetrará no seu interior e, mercê disto, elas tornam-se cada vez mais túrgidas e
rebentam frequentemente, de modo que quando isso acontece estamos, de novo, perante um caso de
dissolução por simples contacto directo. Assim, apenas naquelas células cujas paredes se mantêm
intactas é que o fenómeno da osmose entra em jogo até que, teoricamente, se atinja igualdade de
concentração dentro e fora das células.
Como se torna evidente, a difusão será bastante lenta em tais casos, pelo que a extracção seria
um processo extremamente demorado se dependesse, em larga medida, de um fenómeno de natureza
puramente osmótica. Dado, porém, que a maioria das células apresenta as paredes fragmentadas,
quer como resultado da divisão prévia a que são submetidas, quer devido à pressão hidrostática
desenvolvida no seu interior durante a própria extracção, os processos extractivos a que nos vimos
referindo dependem, quase exclusivamente, do contacto directo do solvente com os componentes
celulares e da ulterior difusão da solução concentrada assim obtida.
Nos processo extractivos baseados na maceração, a droga é deixada em contacto com um
volume relativamente grande de solvente, até que os sólidos solúveis se distribuam uniformemente
através de toda a massa do líquido e se atinja um estado de equilíbrio, no que diz respeito a
concentração, entre o suco celular e o solvente que banha o material. Uma vez, porém, atingido esse
equilíbrio não mais há difusão e, a partir desse momento, a extracção cessa. Compreende-se, por
isso, que quanto maior for o volume de solvente em relação ao produto a extrair, mais tardiamente o
referido
326
equilíbrio será atingido, o que significa que, em tais circunstâncias, a extracção será levada mais
longe.
Outro mélodo correntemente utilizado na prática para se melhorar o rendimento extractivo é o
de repelir a operação várias vezes com doses fraccionadas de solvente. A renovação deste provoca a
alteração do equilíbrio a que acima aludimos, com o consequente aumento da difusão do material
solúvel do interior das células para o líquido que as rodeia, pelo que a extracção será
apreciavelmente melhorada.
Bi 2 3
Fig. 178. Diagrama ilustrando as diversas fases da extracção por maceração
A. A pulverização provocou a ruptura antecipada de certa
percentagem de células antes de serem molhadas pelo solvente. 1:
Logo que as células, até ai retraídas, entram em contacto com o
solvente, são embebidas por este. 2: Decorrido algum tempo, as
células ficam túrgidas e o suco celular já está recomposto, iniciando-
se a difusão do líquido intracelular para o exterior. 3: A difusão
terminou e neste momento a concentração das soluções dentro e fora
das células é igual.
B. Ao iniciar-se a maceração, certo número de células mantém
ainda as suas paredes íntegras. 1: A célula da esquerda, retraída
devido à exsicação, torna-se progressivamente mais túrgida quando
em contacto com o solvente. Como, neste caso, a parede celular está
intacta, funciona como uma membrana semiperrneável. Deste modo,
uma vez reconstituído o suco celular, o solvente passará para o
interior da célula. 2: Em virtude disso, a célula vai inchando cada vez
mais, acabando a parede por ceder à pressão interna sobre ela
exercida e rompe, após o que se inicia a difusão do seu conteúdo para
o exterior. 3: A difusão está em franco progresso e não tardará a
atingir-se o equilíbrio, como em A
A lixiviação, também chamada percolação ou deslocação, constitui uma das técnicas mais
importantes para a obtenção de soluções extractivas farmacêuticas.
A f i m de podermos dar uma ideia de como se desenrola o mecanismo da lixiviação, digamos
que esta consiste em submeter uma droga pulverizada e sujeita a uma maceração prévia, depois de
acondicionada num recipiente cilíndrico ou tronco-cónico, à acção de um solvente que a atravessa
em toda a extensão deslocando-se de cima para baixo.
Apresentando as coisas de uma forma muito simples, temos que a lixiviação de uma droga se
faz sobrepondo a esta uma camada de solvente que se vai deslocando, progressivamente, ao longo
dos interstícios existentes entre as partículas da substância. Deste modo, durante o deslocamento, o
líquido exerce o seu poder dissolvente sobre os princípios activos da droga, até ficar complctamente
saturado.
Desde já é de realçar o facto de que a lixiviação, contrariamente ao que acontece c«n a
maceração, em que o solvente se mantém estático, se abstrairmos, é claro, das correntes devidas à
difusão, é um processo de extracção verdadeiramente dinâmico, pois o solvente está sempre em
movimento contínuo. Este facto permite, por conseguinte, uma renovação permanente do solvente
que contacta com a droga, o que toma possível uma extracção total desta desde que a operação seja
convenientemente prolongada.
Neste processo de extracção há, pois, a considerar dois aspectos distintos, sendo um deles a
acção dissolvente propriamente dita, e o outro o deslocamento do líquido através do material a
exirair.
No que diz respeito ao fenómeno da dissolução, devemos ter presente que toda a droga
submetida a uma lixiviação é previamente reduzida a pó, cuja tenuidade varia c»m a sua natureza.
Deste modo, como já atrás dissemos a respeito da maceração, uma parte considerável das células
apresenta ruptura nas suas paredes, o que facilita extraordinariamente o contacto do solvente com
os sólidos a extrair. Também é de considerar, neste caso, a ruptura das membranas celulares por
aumento da pressão interna mercê da passagem de solvente para o seu interior, fenómeno que é de
esperar seja, sobretudo, mais pronunciado durante o período de maceração a que a droga é
submetida antes de se iniciar o deslocamento do solvente.
Como se vê, a acção extractiva é exercida em moldes praticamente iguais àqueles descritos a
propósito da maceração, isto é, a extracção é realizada, na sua maior parte, por contacto directo do
solvente com os princípios activos situados dentro das células fragmentadas, entrando, depois, em
jogo o fenómeno de difusão. Isto não exclui, evidentemente, a participação, se bem que em grau
muito limitado, de um mecanismo osmótico, o qual se verificará apenas nas células cujas membranas
se mantenham intactas.
Dado o carácter cinético da lixiviação, a difusão será, no entanto, acentuadamente mais rápida
neste caso do que na maceração, pois o movimento do solvente difícil-
328
mente permitirá que seja atingido um estado de equilíbrio absoluto entre as concentrações dos
líquidos localizados dentro e fora das células. As condições criadas por esta renovação constante do
solvente em contacto com a droga originam, assim, uma cor-rcnle difusória contínua orientada
sempre no sentido do interior para o exterior dos elementos celulares e, portanto, a extracção far-
se-á enquanto naquela houver material paru dissolver e se mantiver a substituição do líquido que as
banha. Nisto reside a diferença fundamental entre a mecânica da dissolução propriamente dita uil
como se processa numa maceração ou numa lixiviação.
Se, por um lado. o mecanismo básico da extracção é igual em todos os processos, aquilo que
imprime um cunho verdadeiramente característico e inconfundível à lixiviação é, como se depreende
do que .Uras dissemos, a movimentação regular do solvente ao longo da droga durante a operação.
Ora, acontece que esta movimentação do solvente que caracleri/a a lixiviação resulta da
actuação de várias forças, umas favorecendo-a c outras opondo-se a ela, pelo que é o somatório de
todos os factores intervenientes que determinará o modo como se fará a marcha do líquido através
do produto a esgotar. Vejamos, então, como esta se processa.
Suponhamos, para isso, que tínhamos colocado num recipiente cilíndrico, tapado na sua
extremidade inferior por um diafragma ou um pedaço de algodão hidrófilo, unui certa quantidade de
droga em pó e que sobre esta lançávamos uma camada de líquido A, conforme, está representado na
Fig. 179, 1. Imediatamente se observa que o liquide começa a movimentar-se através dos grânulos
da droga, não lardando, contudo, a parai na sua descida ao longo da coluna, como se indica na
Fig. 176, 2. Uma vez parado, o líquido só retomará a sua marcha descendente se adicionarmos à
coluna uma nova porção dele, sugerindo (ai comportamento (Fig. 179, 2, 3) que deve existir uma ou
mais forças capazes de obrigarem o solvente a deslocar-se para buixo, assim como, logicamente,
qualquer fenómeno actuará à semelhança de uma barreira invisível, mas intransponível, a qual se
opõe à livre deslocação do líquido até ao fundo da coluna.
Na realidade, é isto, precisamente, o que se passa. De facto, a pressão hidrostática
correspondente ao peso da coluna de líquido obriga este a descer ao longo da droga, enquanto outra
força, a da capilaridade, que representa a barreira a que acima nos referimos, se opòe ao movimento
descendente do solvente. Deste modo, dois c o nj unt os de forças antagónicas e desenvolvidas em
sentidos opostos comandam a descida do solvente, dependendo os movimentos deste das imensidades
relativas dessas forças contrárias. Perante isto, compreende-se que o líquido extractivo se deslocará
para baixo no momento em que a pressão hidrostática por ele exercida ultrapasse a força da
capilaridade e que seja obrigado a parar na sua marcha descendente quando uma e outra se igualam
(Fig. 179, 2, 4).
Uma vez atingido este ponto, o líquido só poderá mover-se de novo desde que a força da
capilaridade que se opõe ao seu deslocamento seja vencida pelo da coluna do solvente, o que se
consegue adicionando ao produto a lixiviar nova porção de líquido.
329
Graças a este facto, a primeira camada, A, é acrescida de uma segunda, B pelo que a pressão
hidrostática é aumenlada, retomando o solvente a sua marcha para baixo até ao momento em que a
capilaridade volte a contrabalançá-la. É isto, aliás, o que a Fig. 179, 3 e 4 mostra, podendo agora
compreender-se como a adição de sucessivas porções de solvente vai contrariando a acção da
capilaridade c força aquele a movimentar-se até ao tubo de saída.
Ph
equilíbrio entre as soluções fora e dentro das células, a difusão cessa, e. nestas condições, a
extracção só pode continuar se o líquido que ocupa os espaços intercelulares for renovado.
Para que a deslocação do solvente se faça a um ritmo adequado, torna-se necessário que a sua
altura no lixiviador seja mantida a um nível cerlo e determinado, mas outros factores há que
podem, igualmente, influenciá-la de um modo ou de outro.
Assim, o diâmetro das partículas do material a exlrair desempenha um papel importante a este
respeito, acontecendo que um pó demasiadamente fino retarda a velocidade de escoamento do
solvente porque origina canalículos muito estreitos, ao passo que as partículas grosseiras facilitam
e podem tornar demasiadamente rápida a sua marcha.
Também a tensão superficial do líquido utilizado exerce um efeito notável na deslocação deste.
De facto, como a capilaridade é função da tensão superficial dos líquidos e varia na razão directa
desta, na prática preferem-sc os líquidos de baixa tensão superficial. É que estes, além de
penetrarem bem nos interstícios da droga a extrair e serem, em regra, dotados de bom poder
molhante, deixam-se deslocar com relativa facilidade por não estarem muito sujeitos à acção da
capilaridade.
Por outro lado, os líquidos caracterizados por elevada viscosidade não são recomendáveis
para fazer uma lixiviação, pois deslocam-se lentamente, sendo, ainda, de notar que as drogas que
apresentam tendência a incharem por acção do solvente não se prestam a serem convenientemente
extraídas por esta técnica.
Ci
K=
Cs
Kr
fi/? = —— - —— (2)
Se a fase inferior for extraída, sucessivamente, com n volumes iguais da fase superior, cada
extracto conterá uma quantidade de soluto:
Kr
(3)
,,
" (Kr+l)n
Qfl=——-— (4)
( Kr+ \)"
332
Kr 2x1
Qh = —————— - ———————— - 0,667
( K r + 1) (2xl)+l
Quer isto significar, portanto, que adoptando o procedimento indicado poderíamos, após
agitação com l litro de éter sul t ui iço, obter cerca de 67% do total da substância contida na
solução aquosa.
Acontece, porém, que na prática se obtém um rendimento mais elevado se o líquido
extractivo for utilizado em várias fracções. Assim, vejamos o que aconteceria se
procedêssemos â extracção da solução aquosa usando ainda l li tr o de éter mas dividido cm
4 fracções de 250 ml cada.
Tomando em conta que, neste caso, a relação entre os volumes das d uns fases é de l : 4,
aplicando a equação (3), teríamos, unia vê/ qu e K - 2 e / = 0,25:
2 x 0,25
n
(2x0,25+ 1)"
e portanto, na
Pode dizer-se que os processos geralmente utili/ados para a obtenção de soluções extractivas
constituem variações da maceração e da lixiviação.
Assim, na maceração e técnicas correlacionadas a droga a extrair é posta em contacto com o
solvente, o qual actua sobre toda a sua superfície, circulando, deste modo, através dela em várias
direcções e exercendo a sua acção dissolvente até se estabelecer igualdade de concentração entre
os líquidos intra e exlracelulares.
Na lixiviação, pelo contrário, o dissolvente atravessa a droga pulverizada apenas num único
sentido, sendo o líquido constantemente renovado em virtude do movimento descendente a que está
sujeito. Mercê disto, durante a lixiviação a droga está sempre em contacto com novas porções de
solvente, pelo que nunca se estabelece igualdade de concentração entre os líquidos situados fora e
no interior das células, acabando estas l>«r cederem ao líquido extractivo a totalidade dos seus
constituintes solúveis desde que a operação seja suficientemente prolongada.
Com o decorrer do tempo, esies dois processos fundamentais de extracção sofreram algumas
modificações que conduziram ao aparecimento de outras técnicas, consideradas como métodos
dotados de características próprias e tidos, por conseguinte, como perfeitamente distintos e
individualizados uns dos outros. Assim, da maceração derivaram outr»s métodos extractivos, como a
digestão, a infusão e a decocção, ao passo que a diacolução, a evaculação e a extracção em
aparelho de SOHXLET são apenas meras variantes da lixiviação. Vejamos, pois, em que consiste cada
um destes processos utilizados na obtenção de soluções extractivas.
7.6.2.6.1.1. Maceração
A maceração é uma técnica de extracção em que a droga e o solvente são postos em contacto,
durante certo tempo, à temperatura ambiente, obtendo-se, deste modo, uma selução extractiva
designada por macerado.
A maceração utiliza-se, especialmente, na extracção de drogas com uma estrutura pauco
compacta e, por conseguinte, facilmente permeáveis aos líquidos e quando os seus princípios sejam
solúveis a frio ou alteráveis pela acção do calor,
Por ve/cs, recorre-se à maceração para se obter uma separação de certos princípios existentes
no material a extrair, conseguindo-se, por este processo, a dissolução de determinados constituintes
solúveis a frio, deixando no resíduo outros, insolúveis nas condições em que se opera, os quais não
têm qualquer acção farmacológica ou cuja presença no líquido extractivo seja indesejável ou,
mesmo, prejudicial. É graças a isto que, por exemplo, a maceração da ratânia permite obter um
líquido isento das muci-
334
lagens existentes naquela droga, apenas solúveis a quente, e que nos macerados de alteia, pela
mesma razão, se eliminam a fécula e a pectina que aquela contém.
Qualquer droga a submeter a esta operação deverá ser previamente dividida, conforme se
refere na pág. 320. Aliás, a Farmacopeia Portuguesa IV, no artigo respeitante aos macerados,
indica que o material a extrair será contundido, cortado ou grosseiramente pulverizado, conforme a
sua natureza. Isto significa que o grau de divisão de uma droga a macerar pode ser variável e
dependerá, muito especialmente, da respectiva estrutura, sendo intuitivo que quanto mais
compacta ela for maior deverá ser o seu estado de fragmentação. É de notar, porém, que este nunca
deve ir além do estado de pó grosseiro, pois só nestas condições é possível ao solvente uma fácil
circulação através do material a extrair, acontecendo que se a droga estiver sob a forma de pó
demasiadamente fino tem tendência, uma vez humedecida, para formar uma massa mais ou menos
aglomerada, no interior da qual o líquido extractivo dificilmente penetra e se difunde.
Se bem que, de um modo geral, não haja qualquer limitação específica quanto à natureza do
líquido a utilizar como solvente numa maceração, do ponto de vista farmacêutico este é quase
sempre a água ou misturas hidroalcoólicas e, em menor escala, o vinho ou o vinagre. Estes últimos,
aliás, nunca se empregam na preparação de soluções extractivas obtidas pela acção conjugada do
calor, uma vez que são alterados quando aquecidos.
O tempo de contacto da droga com o solvente durante a maceração é muito variável, indo
desde 30 minutos até vários dias. Em geral, as macerações prolongadas apenas são recomendáveis
quando o solvente c o álcool, o vinho ou vinagre, sendo absolutamente condenável o emprego da
água em tais casos, dado que os macerados aquosos são facilmente invadidos por microrganismos,
além de que há sempre o perigo de se registarem hidrólises enzimáücas de certos constituintes das
drogas. Por esta razão, a Farmacopeia Portuguesa IV especifica que as macerações aquosas
deverão ser feitas durante 2 horas e só no caso da preparação de tinturas, em que o solvente usado é
sempre um álcool mais ou menos concentrado, e de vinhos e vinagres, a droga é deixada em
contacto com o solvente durante muito mais tempo, em geral 10 dias.
A técnica da maceração geralmente adoptada preconiza um único esgotamento da droga pelo
solvente escolhido. Acontece, porém, que mesmo após o marco ter sido espremido este pode reter
uma quantidade importante de líquido, que, em certos casos, anda à volta de 30% do volume
inicialmente adicionado à droga. Tal facto traduz-se, como é evidente, numa perda importante de
solução extractiva, que fica aderente ao sólido que se pretende esgotar, sendo por este motivo que se
pratica, por vezes, uma maceração fraccionada. Neste processo a droga é extraída com novas
porções de solvente duas ou mais vezes, conseguindo-se, assim, uma mais perfeita extracção dos
constituintes solúveis existentes no material sujeito à operação.
Como já tivemos oportunidade de referir, a agitação constitui um factor importante na
dissolução, facilitando-a grandemente em virtude de promover uma renovação cons-
335
tante do solvente em contacto com o corpo a extrair (pág. 308). Por isso, não deve causar
estranheza que, apesar de as técnicas clássicas de maceração não considerarem a sua utilização, se
reconheça, actualmente, que o tempo normal de uma maceração possa ser consideravelmente
encurtado desde que a operação seja executada sob agitação constante (pãg. 320). Aliás, tem-se
proposto que a droga a macerar seja encerrada num saco de gaze e suspensa no solvente, pois, deste
modo, à medida que o líquido em contacto com a droga vai extraindo dela os princípios solúveis a
sua densidade aumenta, o que o obriga a deslocar-se para o fundo do recipiente, sendo substituído,
mercê disto, por novas porções de solvente, estabelecendo-se, portanto, uma renovação de líquido
análoga à provocada pela agitação, o que facilita bastante a extracção.
7.6.2.6.1.2. Digestão
porém, de líquidos voláteis, é necessário evitar a sua vaporização, a qual se pode traduzir numa
perda apreciável de solvente se o aquecimento for demasiadamente prolongado. Em tais casos, como
é lógico, deve utilizar-se um balão ao qual se adapte um refrigerante de refluxo, pois, nestas
condições, evita-se o facto atrás referido.
7.6.2.6.1.3. Infusão
É uma técnica extractiva que consiste em lançar sobre uma droga água fervente, mantendo-se
o sólido e o líquido, encerrados num vaso fechado, em contacto durante certo tempo.
A infusão é aplicável, principalmente, a substâncias de estrutura branda constituídas por
tecidos comparativamente moles, as quais, porém, deverão ser contundidas, cortadas ou
grosseiramente pulverizadas, conforme a sua natureza, a fim de que possam ser mais facilmente
penetradas e extraídas pela água.
A técnica para a prática da infusão descrita na nossa Farmacopeia IV consiste em submeter a
droga, previamente, a um dos tratamentos acima referidos, de acordo, evidentemente, com as suas
características, e infundi-la, depois, num vaso de louça, tapado, com água fervente, deixando em
contacto durante l hora, após o que se deixa arrefecer e se côa a solução obtida.
Os recipientes usados para infundir drogas deverão ser feitos de material que
suporte a temperatura de 100°C sem partir e seja mau condutor do calor, a fim de evitar o
arrefecimento demasiadamente rápido da água. Para este fim está especialmente indicado um
modelo de caneca de porcelana, própria para uso farmacêutico, tendo marcada no interior uma
graduação em g e provida de tampa, que impede perdas de solvente por evaporação.
O facto de se utilizar a água fervente faz com que o tempo geralmente atribuído à duração da
infusão seja significativamente mais curto do que o despendido numa maceração ou digestão, pois o
calor, como já vimos, facilita muito a dissolução.
No entanto, apesar desta incontestável vantagem, há sempre o risco de a água quente dissolver
uma apreciável quantidade de material inerte, como substâncias muci-laginosas e outras, que
poderão precipitar por arrefecimento. Além disso, a temperatura relativamente elevada a que a
água se encontra quando é posta em contacto com as drogas pode originar a coagulação quase
instantânea das matérias albuminosas existentes nas respectivas células, o que, a verificar-se,
dificulta bastante a extracção dos princípios nelas localizados por causa da camada isolante
constituída pelas albuminas coaguladas. Aliás, é em parte para evitar esta coagulação que certos
livros, como o Formulário Nacional Americano, mandam humedecer, previamente, a droga com
água fria, deixando-a em repouso durante 15 minutos, após o que se lança, então, sobre ela a água
fervente.
337
7.6.2.6.1.4. Decocção
A decocção consiste em manter um sólido em contacto, durante certo tempo, com um solvente,
normalmente a água, aquecido à ebulição, oblendo-se deste modo uma solução extractiva
denominada decocto ou cozimento.
A decocção é, pois, até certo ponto, semelhante à infusão, residindo a diferença fundamental
entre ambas no facto de a primeira ser executada a uma temperatura muito mais elevada, dado que
durante todo o processo extractivo a temperatura a que se opera é a correspondente à temperatura de
ebulição do solvente, ou seja, cerca de 100"C no caso de aquele ser a água, como, regra geral,
acontece.
Esta característica que define a decocção toma-a uma técnica de emprego restritivo, pois as
drogas a que ela se pode aplicar são em número reduzido, dado que muitos dos princípios activos
nelas existentes são alterados por um aquecimento prolongado a uma temperatura tão elevada.
De facto, apenas costuma ser usada com drogas muito compactas e de natureza lenhosa, cujos
princípios apenas sejam solúveis a quente e capazes de suportarem, sem alterações sensíveis, as
condições de temperatura e o período de aquecimento inerentes a este processo extractivo. Assim, por
exemplo, não se devem submeter à decocção drogas contendo essências, que se perderiam por
volatilização, nem compostos oxidáveis, hidrolisãvcis ou racemizáveis pela acção do calor.
Segundo a nossa anterior farmacopeia, as drogas a submeter à decocção devem ser previamente
contundidas, cortadas ou grosseiramente divididas, conforme a sua natureza, sendo depois adicionadas
de água na proporção de 1500 g para 100 g de droga, fervendo-se até o conjunto ficar reduzido a
1000 g, após o que se côa, espremendo, se deixa arrefecer e se decanta. Convém, além disso, ter-se
presente que o recipiente utilizado para fazer a decocção não deve ser atacado pêlos princípios activos
existentes na droga sujeita à operação, estando contra-indicado, por exemplo, o uso de vasos de ferro
para a decocção de drogas ricas em taninos, pois em tais condições obter-se-iam produtos fortemente
corados.
Em geral, os formulários estrangeiros procedem de modo diverso do nosso no que diz respeito
ao tempo de aquecimento, que fixam sempre de modo muito preciso: 15 minutos no caso da
Farmacopeia Americana, Brasileira e Helvética, e 15 a 30 minutos segundo a Farmacopeia Belga, consoante a
droga c de contextura branda ou compacta. Além disso, tanto a U.S.P. XVII como a Farmacopeia Helvética
mandam submeter as drogas a uma maceração prévia de 15 minutos e só então procedem à decocção pro-
priamente dita durante igual período.
Um tal critério parece-nos mais lógico e rigoroso, pois estabelecendo-se um tempo de aquecimento fixo
aumenta-se a probabilidade de .se obterem preparações mais uniformes. Este desiderato, no entanto,
dificilmente será atingido com a técnica da nossa anterior farmacopeia, uma vez que nela o período de
aquecimento eslá dependente do tempo necessário para se reduzir o peso inicial da mistura da droga e
solvente de 1600 g para 1000 g.
338
7.6.2.6.1.5. Lixiviação
dade ser tal que o pó humedecido e ligeiramente comprimido não ocupe mais de dois terços do
tronco de cone».
Segundo o conceito atrás exposto, a lixiviação é um processo em que se procura extrair da
parte não solúvel de uma droga os princípios solúveis nela existentes à custa do deslocamento lento
mas regular de um determinado solvenle através da substância pulverizada e acondicionada num
percolador. Nesta técnica, tal como é geralmente praticada, o solvente, mercê dos fenómenos e
forças a que nos referimos na pág. 327, atravessa de cima para baixo a coluna formada pela droga
colocada no lixiviador e, porque o líquido extractor está sendo constantemente renovado, aquela é
submetida às sucessivas loções a que se alude na definição citada anteriormente.
Uma vez que a lixiviação implica o uso obrigatório de aparelhos com características bem
definidas, é natural que comecemos pelo seu estudo, reservando para o final o exame
pormenorizado das diversas fases por que passa esta operação tão importante no campo
farmacêutico.
7.6.2.6.1.5.1. Lixiviadores
Conforme já atrás tivemos ocasião de referir, a nossa farmacopeia anterior permite que os
percoladores sejam feitos do mais diverso material mas estabelece que deverão ter a forma de um
tronco de cone invertido.
Em certos países, contudo, usam-se também lixiviadores de forma cilíndrica e, assim, a
Farmacopeia Americana permite a utilização destes dois tipos de percolador, os quais, no entanto, têm
aplicações específicas. Na realidade, a U. S. P. recomenda o uso de aparelhos cilíndricos na
preparação de extractos fluidos e de lixiviadores cónicos quando as drogas incham acentuadamente
em presença do solvente.
Acontece que a maioria das farmacopeias, entre elas a nossa, apenas se limita a fazer uma descrição
geral destes aparelhos, sem entrar em demasiados pormenores. O Codex, no entanto, é mais preciso a
este respeito e fixa do seguinte H B modo as características a que deve obedecer um lixiviador
cónico, tomando, como exemplo, um aparelho com a capacidade de 2 l, capaz de
fazer a lixiviação de 500 g de droga (Fig. 180):
cm
Altura do tronto de cone AH ..........
Diâmetro superior GB........................
36
Diâmetro inferior CA ........................
IO
Altura do cone infundibuliforme ......
6,5
Diâmetro do tubo de escoamento E Ângulo CAD
Fig. 180. 5l
Diag r a m a ...................................... 45°
de um Ângulo BAH ......................................
lixiviador caniço 3"
340
Este ângulo BAH, formado pela parede do lixiviador, AB, e a normal, HA, pode ser ligeiramente
mais aberto nos aparelhos de maior capacidade, mas em nenhum caso deve ultrapassar 5°.
Na Fig. 181 reproduz-se um percolador em forma de tronco de cone,
correntemente utilizado nas oficinas farmacêuticas, o qual é constituído de
modo a adaptar-se ao recipiente situado inferiormente, que se destina,
simultaneamente, a recolher o percolado e a servir de base ou suporte ao
lixiviador. O lixiviador propriamente dito está munido de uma torneira na parte
inferior, a qual, como veremos mais adiante, serve para regular a velocidade de
escoamento do solvente, tão importante para se obter uma lixiviação da droga.
Na preparação em larga escala de certas formas galénicas, como tinturas
e extractos, usam-se aparelhos de grande capacidade, geralmente construídos
de metal, os quais, em vez de fecharem por
meio de uma rolha, como os aparelhos ~"-
representados na Fig. 181, são vedados com uma
tampa (Fig. 182).
Fig. 181. Lixiviador
7.6.2.6.1.5.2. Prática da lixiviação
1 —Pulveri/ação da droga.
2 ~-Unmedeeimento do pó.
3—Acondicionamento do pó humedecido no l i \ i \ i a d o r e adição do solvente.
4—Período de maceração.
5 — Deslocação do solvente, regulada de modo a ohícr-se um determinado peso de
l i x i v i a d o n u m período de tempo prefix ad o.
Para que a percolaçiu) s eja o mais efica/ possível, i s t o é. para que ela p er mita obter
uma boa extracção da droga, torna-se necessário que esta se apresente f i n a m en t e dividida.
Lembramos que ao d i s cu t i r o mecanismo da extracção (pág. 327). t i ve m o s ocasião de d i / er
que esta depende, principalmente, do um fenómeno de difusão, o qual só é possível processar-se
em boas condições se a mamría das paredes celulares e s t i v er fragmentada. Como emào
assinalámos, esle faclo é de primordial importância para que se dê um contacto directo tio
solvente com as substancias solúveis do conteúdo celula r. além de que elimina as barreiras
que dificultam a livre passagem da solução assim formada para o exterior.
Teoricamente, portanto, haverá Ioda a vantagem em q u e a droga seja r cd u / i d a a um
estado de extrema divi são, mas na pratica o grau de pulvcri/a cão está condicionado por
vários factores de ordem geral ou particulares a cada droga.
Assim, considerando o assunto na generalidade, é evidente que a temiulude do pó
dependerá, fundamentalmente, da nalure/a tia droga e do solvente e a i n d a do g r a u de
342
extracção que se pretende obter. De facto, é ponto assome que deve ;t tender-se, em primeiro
lugar, à textura da droga, devendo esta ser lauto ma is hnameme d i v i d i d a quanto mais
compactos c duros íbrem os seus tecidos. Além disso, n s olubili dad e dos constituintes a
e x t r a i r é também um dos elementos que condicionam o grau de dmsáo da droga, pois se esta
contiver constituintes pouco ou dificilmente solúveis devera, como é lógico, ser redu/ida a pó
mais léniie do que outra que ceda facilmente os seus princípios.
Por outro lado, lambt:ni a nalure/a do solvente condiciona a lenuidade do pó. a qual
deverá ser maior desde que aquele não embeba os tecidos e lenha, por isso. dificuldade em
peneirar neles. Uma vê/, porém, que o dissolvente seja facilmente absorvido pelas células e as
laca inchar, já não se to rna necessário e e, ate. contraproducente que a substância se
apresente em partículas de dimensões n m i t o redu/idas. Concretizando, diremos que urna
li.ïiv/ii^tif com álcool etílico exige uma maior divisão da droga, pois este solvente torna os
tecidos mais rijos e penetra neles com d if ic u ld ade . ao passo que se praticarmos a operarão
com um álcool de t raça graduação esta aconselhado usar a droga mais grosseiramente
p ulve ri/n da . unia v c/ que esta e íacilmenic peneiradu e incha em presença de um
líquido desta nalure/a.
Pêlos motivos referidos na pág. 321, é evidente que quanto mais dividida uma droga se
apresentar mais lacil e rapidamente se obtém a sua extracção completa. Todavia, no caso da
i n i y i d í i J o há um limite a esse estado de d ivi são , o q u a l não pode ser ultrapassado sem se
correr o risco de perturbar o andamento normal da operação, pois nunca se deve esquecer
que um pó demasiadamente uno originara canalicuios muitos estreitos que dificultarão ou
poderão, mesmo, impedir o deslocamento do solvente ao longo da droga.
Do que acabámos de di/.er, conclui-se que o estado de div isào de uma droga a
••ubmeter á f ! \ i v u t ( ' ú o é um dos pomos capitais desla operarão, mas como esla depen-
dente de vários factores é praticamente impossível estabelecer uma regia gera! aplicável a
todas as substâncias, Daí. a farmacopeia especificar, para cada caso. a lenuidade do pó
a usar.
só poderia dar-se à custa dos interstícios que separam os grânulos do pó. Este facto é ainda agravado
pela pressão hidrostática a que a droga está sujeita pela camada líquida a ela sobreposta, a qual é
especialmente de considerar nas partes inferiores do lixívia-dor, pelo que, em tais circunstâncias,
haveria o perigo de se formar uma barreira sem soluções de continuidade através das quais o
solvente pudesse caminhar.
É, pois, para evitar isto que as drogas a lixiviar são humedecidas, previamente, com o mesmo
líquido utilizado na sua percolação. Em geral, adiciona-se ao pó, nesta fase, entre 40 a 50% do seu
peso de solvente, cifra essa que na maioria dos casos anda, porém, à volta de 50%, tendo-se o
cuidado de malaxar o produto humedecido com a mão, para que fique perfeita e igualmente molhado.
Força-se, então, a massa assim obtida a passar através de um crivo com 80 malhas por cm2,
procurando-se, com isto, desfazer quaisquer grumos resultantes da aglomeração das partículas a
quando do humedccimcnto e, ao mesmo tempo, conseguir grânulos mais homogéneos. Este granulado
é colocado, seguidamente, num recipiente de boca larga, provido de tampa, como uma caneca de
porcelana, onde é conservado, em regra, durante 2 horas, e, por vezes, mais.
Esta operação só é dispensada quando o solvente utilizado é o éter ou um líquido igualmente
volátil, pois o seu baixo ponto de ebulição, aliado ao seu fraco poder de embebição, torna inútil que
se proceda ao humedeci mento.
Colocado o lixiviador na posição vertical, para o que se pode usar um suporte metálico
apropriado ou se adapta o aparelho ao recipiente inferior destinado a receber o líquido deslocado,
introduz-se nele um fragmento de algodão hidrófilo, de modo a formar uma camada de 3 a 4 cm de
espessura. Sobre o algodão pode deitar-se um pouco de areia lavada, ou, como outros preferem,
lançar directamente sobre aquele a droga humedecida.
Esta deverá ser introduzida no lixiviador em pequenas porções de cada vez e ligeira mas
uniformemente comprimida com um calcador, repetindo-se esta operação sempre que se coloque no
aparelho nova quantidade de droga humedecida. Quando toda ela tiver sido transferida para o
lixiviador, cobre-se a sua superfície com uma rodela de papel de filtro e sobrepõe-se a esta uma
delgada camada de areia ou um disco perfurado de porcelana ou de metal, a fim de evitar que a
adição do solvente provoque a formação de crateras na droga e levante as partículas do pó já
comprimido (Fig. 183).
O acondicionamento da substância no lixiviador constitui, sem dúvida, a fase mais delicada de
todo o conjunto de operações que formam a lixiviação. Assim, caso a compressão do pó tiver sido
convenientemente executada, o solvente descerá vagarosamente e de modo regular ao longo da droga
humedecida, mas se o pó estiver desi-
344
Disco perfurado
—Camada de areia
P;ipel de filtro
—— Droga humedecida
Camada de areia
Algodão hidrófilo
Por outro lado, desde que o pó não esteja suficientemente comprimido, o dissolvente passará
através dele com excessiva velocidade, acontecendo precisamente o contrário se o pó tiver sido muito
comprimido. Trata-se, como se vê, de um passo da técnica bastante delicado e embora seja possível
afirmar que, regra geral, as drogas de natureza esponjosa ou as destinadas a serem extraídas por
líquidos aquosos devam ser
345
menos comprimidas do que aquelas com tecidos duros e compactos ou a extrair pelo álcool, a verdade
é que a sua correcta execução apenas se alcança através da prática.
Uma vez introduzida e devidamente acondicionada no lixiviador toda a carga de pó a
extrair, lança-sc o solvente sobre este, procurando manter sobre a areia ou o diafragma uma
camada líquida de 2 a 3 cm de espessura, conservando-se aberto o dispositivo que comanda a saída
do aparelho até o solvente começar a escoar pelo tubo. Neste momento, fecha-se o referido
dispositivo, tapa-se o l i x i v i a d o r e inicia-se a fase seguinte.
Desde que toda a massa do pó esteja perfeitamente embebida pelo solvente e este atinja uma
altura de 2 a 3 cm acima da areia ou do diafragma, deixa-se o pó a macerar durante um período
variável.
Este depende, principalmente, da natureza da droga e do solvente a utilizar, motivo por que a
nossa anterior farmacopeia estabelece a sua duração para cada caso específico, se bem que, em
geral, seja de 24 horas quando se trate da preparação de tinturas e de 48 horas no caso de alguns
extractos.
Esta maceração dostina-se a permitir a perfeita embebição da droga pelo solvente e a
dissolução dos respectivos constituintes naquele, devendo ser suficientemente prolongada para que
os fenómenos de difusão se dêem até se obler igualdade de concentração entre os líquidos situados
dentro e fora das células. Uma vez atingido este ponlo não há qualquer vantagem em prolongar por
mais tempo a maceração, e, a partir deste momento, pode íniciar-se a percolação propriamente dita.
sãs em golas de lixiviado poi minulo, a respeitar na lixiviação dos seguintes pesos de
droga:
Peso de droga N." de. gotas por minuto
100 g 1-2
l 000 » 10-15
2000 » 20-25
10000 » 40-70
Assim, o éter é utili /ado IKI preparação do extracto de leio macho, devendo empregar-se,
neste caso, un i hxiviador como o representado na l ' i g . !S1 . pág. 340, que impede a
evaporação do solvente.
A água c de Iodos os líquidos o menos indicado como solvente na li xi via ção , pois
grande número de drogas, sobretudo aquelas ricus ctn substâncias mucilaginosas. incha
quando cm contacto com ela, resultando disso a obstrução dos eanalículos c a impos-
sibilidade de. nestas condições, haver deslocamento de solvente ao longo da droga a extrair. A
Farmacopeia Portuguesa IV todavia, ainda descreve uma preparação obtida por lixiviação
com água: O í'\!mt'/i> de crura^et/i de centeio ou ergoíino, mas repare --se que neste caso a
droga é ulil i/n ch t no estado de pó grosso, a f i m de se e v i t a r que seja demasiadamente
embebida pela água.
Como já referimos na pág. 322. modernamente tem-se proposto adicionar ao solvente um
agente tensioaclivo, constituindo tal prática a maioi intnjcão registada, ultima ment e, na
tecnologia da extracção.
7.6.2.6.1 6 Diacolação
Este processo de extracção é uma var iant e da li xi via ção e disiingue-se dela. fun-
damentalmente, pelo lacto de a droga ser acondicionada n u m ou numa série de tubos compridos
e estreitos e o líquido ser forçado a atravessar, sob pressão, o produto a
extrair, sendo a velocidade de deslocação do
solvente, nesta técnica, accnluadamente inferior à da
percolação vulgar.
Hm vez de empregar um único tubo. o c]uai.
necessariamente, leria que ser baslanle comprido e, por
isso. pouco manejável. prefere--se, geralmente, u t i
li/ a r uma série deles, conforme se vê na Fig. 184, que
representa um diacolador de BRKDDÏN.
As drogas a extrair por este processo
devem ser redu/idas a pó grosseiro, a f i m de
não oporem grande resistência à passagem do
líquido e são tratadas como usualmente, islo e,
humedecidas e deixadas a macerar no aparelho
dur.mie .il guni tempo. O solvente passa de um
t u b o para o o u i i o por acção da pressão aplicada
no primeiro t u bo da série, acontecendo, como
se depreende da Fig. 1S4. que umas ve/es alra-
Fig. 184. Q.acoiddor de Breddm vessa ü droga
de baixo para cima e outras
349
vezes no sentido oposto, sendo o ritmo do deslocamento de cerca de 6 gotas por minuto.
A diacolação apresenta certos inconvenientes de ordem prática que têm obstado à sua
generalização como técnica extractiva, sendo o principal deles a dificuldade que o líquido
experimenta em atravessar a enorme espessura do material a extrair, sobretudo quando este tem
tendência a aumentar de volume por embebição.
7.6.2.6.1.7 Evacolação
Este processo extractivo foi proposto por KESSLER em 1934, diferindo da diacolação pela
circunstância de o Ifq uido ser deslocado através da droga pelo vazio que se faz no frasco onde se
recebe o extracto.
Na Fig. 185 representa-se um evacolador de KESSLER, aparelho relativamente simples e fácil de
improvisar. O tubo T destina-se a receber a droga a extrair e deve ter um diâmetro tal que 100 g de
produto atinjam no tubo uma altura de 85 a 90 cm.
Desde que a droga não tenha tendência a inchar, pode dispensar-se o
seu humedecimcnlo prévio; caso contrário, impõe-
-se praticar esta operação, que, no entanto, deveria ser feita empregando
apenas uma quantidade de líquido correspondente a 1/5 do peso do
material a extrair.
Antes de começar a operação propriamente dita deve tomar-
-se a precaução de marcar no frasco onde se faz o vazio, V, o nível
correspondente ao volume do solvente usado na extracção. Posto isto,
coloca-se o líquido no reservatório F, fecha-se a pinça a e liga-se o
aparelho a uma máquina de vácuo, de modo a extrair o melhor possível o
ar interposto na massa da droga. Feito o vazio, fecha-se a torneira d e abre-se
a, de modo que o tluxo de líquido em G seja de l gota por minuto.
Quando o líquido tiver atravessado toda a droga, fecha-se a torneira b
e deixa-se que suba no tubo até formar uma camada de l cm sobre a superfície
do material, momento em que se fecha igualmente a torneira a. A droga é Fig. 185.
mantida em maceração no solvente durante 24 horas e só então se abre a Evacolador de
Kessler
torneira b o
suficiente para que o líquido passe para o recipiente V à razão de l gota por minuto, sendo
necessário abrir, igualmente, a para se substituir o líquido que vai sendo recolhido em V.
Quando todo o líquido do recipiente F tiver passado para o lubo e nele tenha entrado algum ar,
fecha-se a torneira a e coloca-se no frasco F água destilada. Novamente se abre a, deixando passar a
água para o tubo contendo a droga, até aquela
350
formar sobre esta uma ligeira camada, regulando-se, a partir deste momento, o fluxo da água, que
deve ser, igualmente, de l gota por minuto. Deste modo, a água vai deslocando na sua frente o
solvente que ficou a embeber a droga, sendo fácil determinar a posição a que se encontram os
líquidos no tubo, pois na zona de contacto de ambos forma-se um anel turvo, quase sempre visível.
Torna-se, assim, possível seguir o deslocamento do solvente, mas quando tal não aconteça deve
deixar-se correr a água através do tubo até que no vaso V se tenha recolhido o volume de solvente
inicialmente posto em F. Conseguido isto, interrompe-se a operação fechando-se a torneira í- ou b e
abrindo d, a fim de restabelecer a pressão.
É utilizada para extrair sólidos com solventes voláteis e exige o emprego de um aparelho especial
como o representado na fig. 186. Tal aparelho é constituído por três partes fundamentais; e permite a
extracção contínua de um sólido colocado na alonga B à custa de um líquido existente no balão A. A
característica mais saliente deste processo é que apenas exige um volume relativamente reduzido de
líquido para se extrair por completo um determinado sólido. Este, depois de
convenientemente pulverizado, é acondicionado na parte B do aparelho de SOXHLET,
procedendo-se como indicámos a propósito do carregamento dos lixivia-dores, ou,
então, é colocado dentro de cartuchos especiais que são, D depois, introduzidos na
referida alonga B. O solvente é posto no. balão A e aquecido à ebulição, escapando-
se os respectivos vapores pelo tubo situado lateralmente à esquerda do aparelho, até
chegarem à parte superior do mesmo, onde são condensados pelo refrigerante C. O
líquido resultante desta condensação cai, depois, gota a gota, sobre a droga em B,
onde se acumula e exerce a sua acção dissolvente. A medida que o líquido vai subindo
na parte B do SOXHLET sobe, igualmente, de nível no tubo lateral direito. Ora, como
este é um sifão, logo que o líquido atinja o ponto D, dá-se a descarga do recipiente B
e todo ou quase todo o líquido passa para o balão inferior A.
Tendo regressado ao balão A, o solvente é novamente evaporado, condensado,
posto em contacto com a droga situada em B e descarregado através do sifão lateral,
repetindo-se este ciclo tantas vezes quantas as necessárias para que o produto seja
complctamente extraído.
Fig. 186. Como se compreende, o aquecimento a que está sujeito o balão A depende do
Aparelho de ponto de ebulição do solvente utilizado e este, ao vaporizar-se, deixa aderentes às
Soxhlet
paredes do referido balão as substâncias extraídas. Deste modo, em cada ciclo da
351
operação a droga a extrair está sempre em contacto com líquido constantemente renovado e
conservando, por isso, intactas as suas propriedades dissolventes. Neste facto reside, aliás, a
explicação do motivo por que o aparelho de SOXHLET permite uma extracção altamente eficiente
empregando uma quantidade tão dimunuta de dissolvente em comparação com a que é necessário
utilizar nas outras técnicas para se obter o mesmo grau de esgotamento.
Além dos processos atrás refridos, outros métodos de extracção de drogas têm sido propostos
nos últimos anos, os quais, porém, ainda não foram reconhecidos como oficiais por qualquer
farmacopeia, pelo que nos referiremos a eles muito resumidamente.
Assim, por exemplo, BAY e GRISVOLD sugeriram uma técnica para a extracção de folhas de
beladona baseada na sua desintegração num extractor de .sumo, munidos de palhetas, usando a
água como solvente.
Por outro turno, GREGO e DUMEZ propuseram uma técnica especial de extracção de várias drogas
vegetais, como a noz-vómica, beladona, meimendro, estramónio, etc., submetendo-as à acção do
solvente aquecido sob pressão.
Também DEAN et ai. prepararam tinturas de beladona e meimendro recorrendo ao uso de um
moinho coloidal, ao passo que HEAD ef ai e BOSE et ai. puseram em prática técnicas extractivas
para a quina e a rauvólfia, baseadas no emprego de ultra--sons.
Quando um composto é mais soiúvel na água do que num solvente orgânico e o quisermos
extrair de uma solução aquosa com um liquido destes, é evidenle que tal extracção só poderá ser
realizada em condições muito precárias e, mesmo assim, obrigando a utilizar volumes
consideráveis de solvente orgânico.
Entretanto, a operação torna-se muito mais fácil de praticar e exige muito menor quantidade de
solvente se utilizarmos um aparelho de extracção contínua líquido-- líquido, como aqueles
representados na Fig. IS7, A e B, cuja concepção e funcionamento são semelhantes aos do SOXHLET.
O aparelho A é utilizado para extracção de soluções aquosas com um solvente menos denso
que a água, sendo o líquido extractor, depois de condensado, conduzido através do funil até ao fundo
do tubo, pelo que é, depois, obrigado a passar de baixo para cima ao longo da camada aquosa,
retirando desta, no decurso da sua marcha, os constituintes nele solúveis. Logo que a sua altura no
extractor atinge o nível da
352
tubuladura lateral, passa para o balão a ela adaptado, onde é, depois, vaporizado por aquecimento,
deixando aí a substância extraída, repetindo-se a operação tantas vezes quantas as necessárias.
Fig. 187. Aparelhos para extracção líquido-líquido. A, para líquidos menos densos que
a água; B, para líquidos mais densos que a água
Por sua vez, o aparelho B usa-se com solventes orgânicos mais densos que a solução aquosa e,
neste caso, o movimento do líquido é descendente, fazendo-se o seu escoamento para o balão lateral
pelo tubo situado na parle inferior do extractor, que funciona de sifão.
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354
355
Esterilização
8.1. INTRODUÇÃO
Os microrganismos, à semelhança dos outros seres vivos, são constituídos por pro-toplasma,
uma mistura heterogénea de várias substâncias em solução verdadeira ou no estado coloidal. Ora,
entre os componentes fundamentais do protoplasma contam-se substâncias de natureza proteica, as
quais fazem parte integrante dos enzimas que comandam todas as funções vitais das células. Esta
circunstância torna os referidos sistemas enzimáticos sensíveis aos agentes desnaturantes das
proteínas, sendo aqueles, como resullado disso, total ou parcialmente inactivados pelo calor, outros
agentes físicos e por variadíssimos compostos químicos. E quando tal aconteça as complexas
reacções melabúlicas dependentes dos enzimas atingidos serão afectadas em grau corres-
357
pendente à desnaturação por eles sofrida, o que pode levar à morte ou, pelo menos, a uma
diminuição mais ou menos acentuada da vitalidade celular.
Na realidade, é hoje um facto geralmente admitido que o modo de acção do calor húmido sobre
os microrganismos é muito semelhante ao que se passa com a coagulação das proteínas por aquele
agente, estando muitos investigadores que se têm dedicado ao esludo deste fenómeno de acordo em
que a morte, pelo calor húmido, é devida a uma desnaturação das substâncias proteicas que
constituem as células microbianas. O calor seco, por seu turno, parece actuar, primariamente, por
um fenómeno de oxidação.
Repare-se, no entanto, que a sensibilidade dos diferentes microrganismos ao calor não é a
mesma, variando, além disso, para uma mesma espécie, com diversos factores, como o seu grau de
hidratação, idade da cultura, pH e composição do meio, etc.
Os germes presentes num produto a esterilizar pertencem, normalmente, aos grupos das
bactérias e fungos, incluindo as leveduras. Contudo, alguns microrganismos, sobretudo bactérias,
além de se apresentarem sob a forma vegetativa, isto é, sob a forma predominante quando o meio
lhes c favorável e lhes permite uma rápida multiplicação, originam, em certas circunstâncias,
esporos ou formas de resixíênda.
Ora, sucede que as formas esporuladas são extraordinariamente mais resistentes à acção letal
do calor do que as respectivas formas vegetativas e. quer umas, quer outras, reagem diferentemente
aquele agente físico conforme se encontrem hidratadas ou desidratadas. Assim, pode dizer-se que, de um
modo geral, as formas vegetativas são destruídas em meio aquoso por aquecimento a cerca de 60°C
e que os esporos são destruídos, em idênticas condições, quando aquecidos a 100-120°C. Em meio
anidro, porém, todos os microrganismos adquirem uma acentuada resistência ao calor c, por isso,
uma esterilização por calor seco deve ser feita a 181>'C, pois só a esta temperatura poderemos ter a
certeza da destruição dos esporos, cuja presença é sempre de considerar. Por outro lado, c curioso
realçar que as condições que asseguram a esterilização em meio aquoso — 60"C para as formas
vegetativas e 120"C para os esporos — correspondem, respectivamente, e com muito aproximação,
as temperaturas a que as proteínas são desnaturadas por coagulação quando hidratadas ou
dessecadas, facto que tem sido evocado em apoio do modo de acção do calor húmido sobre as
células microbianas, conforme atrás foi explanado.
Esta diferente termossensibilidade dos vários microrganismos constitui um dos mais delicados
problemas que se levantam no campo da esterilização, uma vez que torna impossível a aplicação
generalizada de uma única técnica a todo e qualquer material que se pretenda tornar estéril. De
facto, ao contrário do que em tempos se pensava, está actualmente demonstrado que, em razão da
diferente termossensibilidade dos diversos germes, um determinado processo de esterilização apenas
oferece segurança quando aplicado sempre nas mesmas condições ao mesmo tipo de material,
inicialmente infectado com os mesmos microrganismos, presentes na mesma concentrarão.
E como na prática se ignora a natureza dos germes existentes num produto a esterilizar e o seu
grau de poluição, jamais se pode ter a certeza, nas condições geral-
358
mente adoptadas, de que a esterilização é obtida com segurança absoluta, Daí o motivo por que se
impõe o controlo da esterilidade das preparações farmacêuticas sujeitas a uma técnica de
esterilização.
Como tivemos ocasião de dizer anteriormente, PASTEUR foi o primeiro a demonstrar que a
destruição dos microrganismos pelo calor é função de dois factores que actuam intimamente ligados:
temperatura e tempo de aquecimento. Por isso tem-se procurado determinar a termos sensibilidade
dos diferentes germes tendo em conta a actuação simultânea dos referidos factores, de modo a
exprimi-la em valores numéricos e tornar possível estabelecer comparações.
A princípio, utilizou-se para esse fim o chamado ponto térmico letal, definido como sendo a
mais baixa temperatura capaz de matar em 10 minutos os germes numa suspensão aquosa de uma
determinada bactéria, substituído, mais recentemente, pela noção de tempo térmico letal,
considerado como o mais curto período de lempo necessário para matar, a uma certa temperatura,
todos os microrganismos existentes numa dada suspensão.
Uma vez, porém, que os valores temperatura-tempo térmico letal estão dependentes de
numerosos factores, torna-se difícil oblerem-se dados iguais quando provenientes de laboratórios
diferentes, sendo, por isso, frequente encontrarem-se cifras referentes a uma mesma bactéria
variando de autor para autor. Apesar destas discrepâncias, o conhecimento do tempo térmico letal
pode, mesmo assim, prestar bons serviços na prática ao pretender estabelecer-se uma técnica de
esterilização para um determinado produto.
Um dos motivos que levou ao abandono do conceito de ponto térmico letal foi o de que, no
dizer de PERKINS, nele estava implícita a ideia de que uma determinada temperatura provocava a
morte imediata de uma população bacteriana, independentemente do período de aquecimento, das
condições do meio e do estado fisiológico dos organismos que a constituem, o que é erróneo.
De facto, quando uma suspensão de microrganismos vivos é exposta a uma dose letal de calor,
o número destes decresce de modo regular. Na realidade, se imaginarmos que num determinado
meio existem microrganismos todos idênticos, poderemos admitir, e a experiénciam comprova-o, que
ao iniciarmos a esterilização todos eles têm a mesma sensibilidade ao efeito do calor. Se fixarmos
para a temperatura um valor constante, será necessário um certo tempo para que metade do número
de germes existente em l ml do meio seja morta.
Se o aquecimento não tiver alterado a estrutura dos germes não mortos, é evidente que a sua
probabilidade de serem atingidos por novo aquecimento será a mesma que inicialmente. Deste modo,
bastará o mesmo lempo de aquecimento para destruir metade
359
Uma vez que a esterilização pelo calor húmido segue, aparentemente, a lei das reacções de
primeira ordem, pode calcular-se a constante K do ritmo de destruição dos microrganismos
recorrendo à seguinte equação, na qual t é o tempo de contacto com o ugente esterilizante.
Por seu turno, HIGUCHI e BUSSE derivaram e verificaram, experimentalmente, unia forma modificada da
clássica equação de ARRHENIUS para relacionarem o tempo de esterilização com ;i temperatura
absoluta, a qual é a seguinte:
0,219 A Ha
K
T
360
em que / é o tempo necessário para a esterilização, AHa representa o calor de activação exigido
para que se verifique a morte da espécie mais termorresistenle presente, em regra compreendido
entre 50-100 kcal, T é a temperatura absoluta da esterilização e K
é uma constante dependente do número e natureza da
N f espécie mais termorresistenle. Construindo um gráfico
utilizando, como coordenadas, o logaritmo do tempo
necessário para a esterilização e o recíproco da
\ \ \
temperatura absoluta da esterilização, obter-se-á uma
'Q \ ( linha recta, sendo os dado.s assim obtidos considerados
D de grande utilidade para se estabelecerem
-\ N
- K comparações entre tempos de esterilização a diferentes
N temperaturas e decidir quando é aconselhável operar a
\ * temperaturas mais altas ou mais baixas.
Por vezes, as curvas que relacionam a
50 60 /O 80 90 100 : destruição de um microrganismo em função do tempo
101201^0140100 de actuação do agente esterilizante a uma
Temperaturas (°C) determinada temperatura afastam-se, nitidamente,
Fig. 189. Relação entre tempo de daquelas representadas na Fig. 189, assumindo, então,
uma forma sigmoidal. Tal facto, no caso do agente u ti lizado ser o calor, é atribuído, entre outras
circunstâncias, ao facto de um aquecimento prolongado de uma população microbiana inicialmente
homogénea provocar o aparecimento de algumas formas termorresistentes.
Métodos químicos
Formol
Óxido de etileno.
361
conter ainda um germe vivo, pois se não se operar a 180°C em atmosfera seca, ou a 125°C em
presença de vapor de água, nunca se terá a certeza de eliminar todas as bactérias presentes desde
que, inicialmente, sejam em número elevado.
Acontece, de facto, que o número de germes presentes tem grande influência no sucesso da
esterilização. Assim, um meio contendo 1000 germes por ml poderá ser facilmente esterilizado por
aquecimento a 120°C durante 10 minutos, mas este processo de esterilização falhará se o mesmo
meio contiver 10000000 de germes por ml. Aliás, o facto é compreensível se nos lembrarmos que o
número de sobreviventes diminui exponencialmente com o tempo de aquecimento, de modo que, para
uma mesma temperatura, a duração da esterilização terá que ser tanto maior quanto maior o número
de microrganismos presentes no material a esterilizar.
Difere do processo anterior porque os objectos a esterilizar são passados à chama, sem,
contudo, os deixar atingir o rubro. Aplica-se, por exemplo, à esterilização dos bocais de tubos,
frascos, balões, lâminas, etc.
Constitui o método mais importante da esterilização pelo calor seco, útil i/ando-se, em regra,
estufas aquecidas electricamente e munidas de termostatos, sendo recomendável que possuam, também,
um dispositivo que assegure a circulação do ar no seu interior, o que torna o aquecimento mais
rápido e uniforme.
De facto, a circulação nas estufas de convecção natural depende ds correntes produzidas pela
subida do ar quente e descida do ar frio. Deste modo, quaisquer obstáculos que surjam no caminho
dessas correntes dificultam a circulação do ar, daí resultando, por vezes, diferenças acentuadas de
temperatura em diversos pontos dessas
363
estufas. Mercê disso, elas apenas devem ser utilizadas naqueles casos em que a esterilização exija um
tempo de aquecimento prolongado, pois em tais circunstâncias a deficiência atrás apontada acha-se
minimizada.
O que acabámos de dizer não se verifica nas estufas de convecção forçada, pois o ar quente c
obrigado a circular à volta dos objectos nelas colocados, verificando-se que as diferenças de
temperatura em vários pontos das prateleiras podem limitar-se a + l "C, enquanto nas de convecção
normal tais diferenças chegam a atingir 2O'C, segundo Avis. Outra grande vantagem das estufas de
circulação forçada de ar consiste na redução do tempo necessário para que seja atingido o equilíbrio
térmico entre o meio ambiente e o material a esterilizar.
Este método de esterilização tem as suas indicações específicas e em certos casos oferece
vantagens sobre a esterilização pelo calor húmido, pois este, apesar de ser considerado o método mais
eficaz para a destruição dos microrganismos, nem sempre pode ser utilizado eficazmente.
Produtos há, na realidade, como a vaselina, óleos, gorduras sólidas ou líquidas e pós, cuja
percentagem de água é muito diminuta e não se deixam penetrar pela humidade do vapor. Nestas
circunstâncias, os organismos resistentes que neles existam nunca ficam sujeitos a uma temperatura
letal, tornando-se impossível, por este motivo, esterilizá-los na autoclave.
Vários autores têm procurado explicar as diferenças registadas nas temperaturas necessárias
para se obter a esterilização pelo calor seco e húmido, relacionando este fenómeno com as condições
que provocam a coagulação das proteínas quando estas estão anidras ou hidratadas. Assim, já em 1810
LEWITH observara que a coagulação das proteínas ocorria a temperaturas tanto mais baixas quanto
maior a quantidade de água que continham e os dados seguintes ilustram o que se passa a este respeito:
Daqui se depreende ser necessário utilizar, pelo menos, a temperatura de 160°C nos métodos de
esterilização pelo calor seco, pois, mesmo que os germes estejam parcialmente hidratados, a sua
exposição ao ar seco desidrata-os por completo antes que seja atingida a temperatura necessária à sua
morte por coagulação.
Como, por outro lado, o calor seco sob a forma de ar quente penetra lentamente no material, a
esterilização exige um aquecimento prolongado e, por isso, este agente esterilizante só deve ser
utilizado quando o contacto directo do material com o vapor sob pressão é injustificável ou indesejável. ,
n :n. $ *:> ; '. u fj *..*"&• •&;—--'
364
Devido aos múltiplos factores envolvidos neste processo de esterilização, torna-se difícil
estabelecer um modo operatório uniforme, no que diz respeito à temperatura e tempo de
aquecimento aplicável a toda a espécie de material.
Verifica-se, assim, que os objectos de vidro e de metal podem ser esterilizados em mais curto
lapso de tempo, pois suportam temperaturas mais elevadas do que os pós, os quais estão sujeitos a
alterações físicas e químicas diversas quando submetidos a temperaturas que ultrapassem certo
valor. O que importa, sobretudo, é ficar-se com a ideia de que o tempo de esterilização varia,
sensivelmente, com a natureza do material, o volume deste e a temperatura a que a operação é
conduzida.
365
8.4
.1.1.1.3.2.1. Material de vidro
Deve ser convenientemente limpo e seco, rolhando-se com algodão cardado os balões, frascos
e tubos, e envolvendo em papel pardo iodos os utensílios que não permitem a aplicação de uma
rolha de algodão.
Nunca se deve colocar na estufa uma carga excessiva de material, sendo necessário que este
fique disposto de modo a permitir a livre circulação do ar aquecido por entre todas as peças a
esterilizar. Carregada a estufa, liga-se o aquecimento, iniciando-se a contugem do tempo de
esterilização apenas a partir do momento em que o termómetro da est uf a acuse a temperatura de
16()°C, a qual deverá ser mantida durante, pelo menos, l hora.
hstas são, aliás, a temperatura e exposição mínimas geralmente adoptadas, conforme PERKINS
refere, se bem que algumas farmacopeias prefiram adoptar outras condições, as quais, porém, são
estabelecidas tendo sempre em conta que a esterilização só pode ser conseguida pela conjugação
apropriada dos factores (empo de exposição e l empem n ira utilizada, os quais são os elementos que
condicionam o sucesso da operação, quer se empregue o calor seco, quer o calor húmido. Na Tabela
XXXIV indicamos as especificações dadas em algumas farmacopeias para a esterilização de
vidraria, podendo verificar-se que a maioria delas adopta processos que ultrapassam as condições
mínimas capazes de assegurarem o objectivo pretendido.
8.4.1.1.1.3.2.2. PÓS
Quuiquer que seja o tipo de recipiente em que os pós estejam acondicionados, verifica-se que a
transferência de calor através das respectivas paredes se processa tão lentamente que se toma
necessário prolongar, por vezes, o aquecimento durante um tempo anormalmente longo.
366
Assim, por exemplo, está demonstrado que são precisos 115 minutos pura que um frasco de
pouco mais de 100 ml de capacidade, contendo um pó, atinja, na estufa de ar quente, a temperatura
de 1600C no seu interior. Se considerarmos que o tempo necessário para destruir os germes
presentes na substância é de 2 horas, teremos que a esterilização, conduzida em tais circunstâncias,
exigirá um aquecimento da amostra a lóO^C, durante 4 horas.
Este facto deve-se tanto à espessura da camada de pó a esterilizar como à área exposta ao
calor, pois verificou-se que se aquecermos 30 g de pó, espalhados numa caixa de PETRI, de modo a
formar uma camada com 0,06 cm de espessura, a sua temperatura é já elevada ao fim de 30 minutos
e começa, a partir daí, a subir paralelamente à da estufa. Decorridos 60 minutos, o pó e o ar
ambiente estão à temperatura de I60°C, tornando-se, assim, possível conseguir a sua esterilização
ao fim de 2 horas.
Perante estes factos, PERKINS insiste em que nunca se deve proceder à esterilização de
embalagens de pós contendo mais de 30 g de produto, recomendando que, sempre que possível, o pó
deve ser aquecido numa caixa de PETRI, espalhado em camada delgada, à temperatura de 160°C,
durante 2 horas, ou de 170°C, durante l hora.
As Farmacopeias Britânica e Japonesa são das poucas que se referem, textualmente, à
esterilização destes produtos, indicando a primeira que a substância deve ser acondicionada de
molde a ficar em camada muito pouco espessa, sendo mantida a 150°C, durante l hora. A última
prescreve um processo mais de acordo com as indicações de PERKINS, recomendando que os pós
sejam esterilizados em caixas de PHTRI com tampa, espalhados de modo que a altura da camada não
ultrapasse 100 mm, devendo ser mantidos durante, pelo menos, l hora, à temperatura de 170-180ÜC.
Acontece, porém, que certas substâncias, como algumas sulfamidas, não suportam um
aquecimento a 160°C, pelo que é necessário esterilizá-las a temperatura mais baixa. Recorrendo,
mais uma vez, às indicações fornecidas por PERKINS, podemos dizer que tais substâncias serão
convenientemente esterilizadas em pequenas porções de 4-5 g, acondicionadas num duplo invólucro
de papel, fazendo o aquecimento a 140-150°C, durante 2 horas, no mínimo.
A Farmacopeia Portuguesa V (IX, 1) indica que a esterilização pelo calor seco de produtos
acondicionados nas suas embalagens definitivas pode ser feita por um dos seguintes métodos:
Trata-se, como se vê, de indicações de ordem geral não se especificando quais as substâncias a
que cada um destes métodos deverá ser aplicado. Deste modo, a selecção da técnica a utilizar fica ao
critério do operador que deverá ter em conta, como é evidente, as características do produto a
esterilizar para o guiar na escolha da técnica a utilizar.
8.4
367
.1.1.1.3.2.3. Gorduras
Na realidade, fixando eirr!50"C, durante l hora, o processo básico de esterilização por calor
seco para os óleos, JANOT e Rouss indicaram, conforme se vê na Tabela XXXVI, os aquecimentos
suplementares necessários para que se consiga uma esterili-
369
zação efectiva de um produto desta natureza acondicionado em balões de vidro corrente. A análise
desta Tabela, cujos dados foram obtidos utilizando o mesmo tipo de recipiente de vidro, com idêntica
espessura, mostra claramente que quanto maior for o volume de óleo, maior é o período de tempo
necessário para se obter a esterilização. Daqui se infere que se torna mais vantajoso esterilizar
volumes unitários inferiores a 100 ml, a fim de não ser necessário prolongar, demoradamente, o
tempo de aquecimento, para garantir-se a esterilidade do produto submetido à operação.
Os processos de esterilização pelo calor húmido podem ser conduzidos à pressão normal
ou superior àquela, realizando-se os primeiros à temperatura de 90-10()"C ou interior,
enquanto a esterilização sob pressão elevada é executada sempre acima de 100°C.
370
8.4.1.1.2.1. Tindalização
\ hora a 50°C 5
l » » 60°C . 5
l » » 70°C 3
l » » 80°C 3
Outros autores preconizam ainda o aquecimento a 100°C, durante 20-45 minutos, em três
sessões igualmente espaçadas 24 horas umas das outras.
Este processo de esterilização, que teve grande voga até cerca de 1950, dada a simplicidade da
sua execução e porque não exige a aplicação de temperaturas elevadas, está hoje condenado e tem
sido posto de parte pelas farmacopeias como meio de esterilizar soluções medicamentosas. Este
procedimento é uma consequência directa de investigações levadas a cabo após a última guerra, as
quais vieram demonstrar que a generalização do emprego da tindalização assentava num erro de
interpretação das clássicas experiências de TYNDALL e PASTEUR.
De facto, nas suas experiências aqueles autores utilizaram infusões de plantas ou caldos de
cultura, isto é, meio ricos em substâncias nutritivas e, portanto, capazes de promoverem a
germinação dos esporos nos intervalos dos aquecimentos. Acontece, porém, que as soluções
medicamentosas estão longe de constituírem, na maioria das vezes, um meio propício à germinação
dos esporos, não sendo raro que algumas delas tenham propriedades bacteriostáticas. Ora, a
eficácia da tindalização, como método de esterilização, depende, precisamente, desta germinação,
pois as condições de aquecimento adoptadas apenas asseguram a destruição dos germes sob a forma
vegetativa e nunca dos esporos bacterianos, altamente termorresistentes. Daí o declínio do uso
desta técnica para a esterilização de líquidos medicamentosos.
371
Nesta técnica, os objectos a esterilizar são colocados na autoclave. cuja tampa c fechada,
manlendo-se, porém, aberta a torneira de purga, de modo que, assim, a temperatura no interior do
aparelho não ultrapassa os 10O'C.
A autoclave deve ser aquecida moderadamente para que se obtenha uma saída de vapor
regular mas não muito abundante. Nestas condições, o material a esterilizar é banhado por uma
corrente de vapor e aquece rapidamente devido à troca de calor resultante da condensação do vapor
da água.
Este método é prático, de fácil execução e não exige vigilância especial, deixando--se o
material exposto à acção do vapor geralmente durante 30 minutos. No caso de balões de capacidade
considerável, é conveniente prolongar u operação durante 45 minutos ou mais.
Dado que o aquecimento a 100°C não promove uma esterilização conveniente, é prática de
certo modo generalizada adicionar à solução a esterilizar por este processo uma substância dotada
de propriedades microbicidas.
Por outro lado, algumas farmacopeias estipulam que sempre que os recipientes contenham,
depois de fechados, uma quantidade correspondente a várias doses e se retire o líquido
fraccionadamentc, por aspiração com agulha ou outro sistema, a preparação injectável deverá ser
adicionada de um consen-ante, em quantidade suficiente para impedir o desenvolvimento de
microrganismos, salvo se a própria preparação tiver propriedades bacteriostáticas ou bactcricidas.
372
O cnusentuirí' a e m p r eg ai em t a l caso podeia ser um dos se guinte s, mis concen trações que
se indicam, conforme vem especi! içado no St</>ieftu'>ií<> a iiinu^t "/»<'/< Ptn-ntut .' ™ l\ ( ' ) .
Fenol........................................................................ 0.5
Cresci ...................................................................... 0.^
Clürocivsol ........................................................ ..... O, l
Álcool hcn/ilico .................................................... 2
correntes de convecção, que, necessariamente, originam um certo movimento do fluido. Apesar disso,
porém, esta parte central, como é compreensível, será aquela que mais tardiamente atingirá a
temperatura do vapor exterior e o seu aquecimento far-se-á, sobretudo, por convecção e condução
(Fig. 191 A).
Vapor
saturado
Solução
Parede do íiquc!.''d
frasco a. Foi
maçao cie
correntes
Calor
transmitido
p or
convecção,
As pressões
interior e exterior
estão igualadas
Última
parte da
período de
exposição
De facto, quando o vapor chega ao contacto com as paredes do recipiente aquecê-lo-á após
condensação e o calor será, depois, transferido, por condução, através do vidro para o fluido
encerrado no interior. Deste modo, a temperatura do líquido em contacto com as paredes é elevada
e, como resultado disso, aquele movimcnta-se ao longo destas em direcção à parte superior do
recipiente. Aí converge na parle central e desce até ao fundo, conforme se representa na Fig. 191 B,
375
A transferência do calor por convecçao e, em certa medida, também por condução, acaba por
fazer com que o conteúdo total do recipiente atinja a pressão e temperatura a que se encontra o
vapor circundante (Fig. 191 C) e é a partir desse momento que a esterilização propriamente dita se
inicia. Mais uma vez frisamos que este equilíbrio térmico apenas se estabelece após certo lempo, o
qual dependerá da natureza e dimensões dos recipientes colocados na autoclave e, até, da natureza
do líquido que se pretende esterilizar.
saturado se encontra, num dado momento, é constante para determinada temperatura e vice-versa.
ou seja, a cada valor de temperatura só corresponde um único valor de pressão.
Todavia, esta correspondência entre a pressão e a temperatura só é rigorosa se a pressão for
devida, exclusivamente, ao vapor de água saturado. Acontece, porém, que, ao iniciar-se a
esterilização, a autoclave está cheia de ar, de modo que se este não for completamentc expulso do
aparelho, a pressão total, no interior deste, fica sendo devida à soma das tensões parciais do vapor e
do ar. Desde que uma circunstância destas se verifique, a temperatura é manifestamente inferior
àquela que seria de esperar se no aparelho apenas existisse vapor, como se vê na Tabela XXXVII, o
que pode ocasionar
erros mais ou menos grosseiros na condução de uma esterilização. Mas não ficam por aqui os
inconvenientes da presença de ar numa autoclave. Na realidade, além de falsear a relação pressão-
lemperatura, o ar impede a penetração do vapor nos interstícios dos objectos porosos, o que pode
comprometer a sua esterilização em profundidade, especialmente de temer no caso dos artigos de
penso e outros semelhantes. Além disso, como o ar não se mistura com o vapor e é mais denso do
que este, tende a descer para a parte inferior do aparelho, ficando essa área, por consequência,
muito mais fria, de modo que os objectos aí colocados não serão convenientemente aquecidos. Tais
diferenças de temperatura no interior da autoclave, devidas à presença de ar, são, por vezes,
bastante acentuadas, estando calculado que, sem descarga de ar, a parte superior do aparelho pode
estar aquecida a 115"C ao passo que a temperatura na parte inferior é apenas de 70<iC. Por todas
estas razões, toma-se evidente, portanto, a necessidade de se proceder o mais completamente
possível à evacuação do ar da autoclave ao iniciar-se uma esterilização.
377
ao aparelho; 2) uma dupla parede formando uma manga de vapor que rodeia a câmara de
esterilização; 3) um tubo de descarga do ar e do vapor condensado, situado na parte interior da
câmara c munido de uma válvula termotáctil que promove, automaticamente, essa descarga; 4) um
termómetro colocado no interior do referido tubo de descarga, o qual indica, portanto, a temperatura
da zona mais fria do aparelho; 5) um sistema de vácuo para a secagem do material humedecido
durante a esterilização; 6) válvula com filtro para a entrada de ar estéril e quente.
r , . _ . , Válvula de segurança
e
Torneira de descarga Tubo de ,.
Ventun Manómetro manómetro do
reservatório
da câmara
f
iltro do ar Descarga para a
atmos[era
Tubo de
'-M Anteparo
descarga Prateleira
^-rr
perjurada Cam
Termómetro
Regulador da
pressão Entrada
Tampa
j Tubo de escoamento
Além disso, estas autoclaves podem estar equipadas ainda com um sistema de arrefecimento
rápido, destinado a encurtar a operação quando a natureza dos líquidos o permite, e de um
dispositivo que torne possível realizar a esterilização automaticamente, sem que se torne necessária
a intervenção de um operador.
através de uma conduta situada na parte posterior. A extremidade desta conduta abre contra um
anteparo, cuja função é deflectir o vapor, evitando-se, assim, um humedeci-mento exagerado do
material.
Quando o vapor é admitido na câmara de esterilização esla encontra-se cheia de ar, o mesmo
acontecendo com o material poroso aí colocado. Pelas razões já expostas quando tratámos da
autoclave de paredes simples, o ar deve ser completamente expulso do aparelho, o que se faz, no
caso presente, pelo chamado sistema por gravidade, que consiste no seguinle:
Ao dar-se a entrada do vapor na câmara, este, porque é mais leve, sobrepõe-se ao ar e, como,
por outro lado, está sob pressão, desloca-o gradualmente através dos espaços livres até ao tubo de
descarga. Enquanto o aparelho estiver frio, a válvula termotáctil, acopulada ao referido tubo,
mantém-se aberta, permitindo a saída do ar e da água de condensação, e apenas se fecha e
interrompe a descarga quando o vapor entrar em contacto com ela. A partir deste momento a
evacuação do ar torna-se completa, mas durante a operação a válvula termotáctil abre e fecha
intermitentemente, para descarregar a água condensada que se vai acumulando na câmara.
Repare-se que a colocação lógica do tubo de descarga na parte inferior, a existência de uma
válvula termotáctil e o facto de o vapor entrar sob pressão na câmara são tudo factores que
concorrem para uma eficiente eliminação do ar nestas autoclaves. A evacuação do ar demora cerca
de 5 a 10 minutos e pode ser facilmente controlada à custa das indicações dadas pelo termómetro
que equipa o aparelho.
De facto, a colocação do termómetro no tubo de descarga, através do qual se faz a drenagem
do ar e do vapor condensado da câmara de esterilização para o exterior, faz com que a temperatura
por ele registada corresponda sempre à temperatura do ambiente mais frio que circunda o material a
esterilizar, pois o ar gravitará sempre por baixo do vapor puro. Desde modo, uma vez que o
termómetro acuse a temperatura correspondente à pressão a que o vapor de água saturado se
encontre na câmara., não restam dúvidas de que o fluido em contacto com ele é constituído por vapor
puro e já não há mais ar dentro do aparelho.
A partir desse momenlo, pode contar-se o início do tempo de exposição dos objectos a
esterilizar à acção do vapor, a qual se prolongará por tempo variável, conforme a natureza e volume
dos recipientes colocados na autoclave.
Terminada a operação, corta-se o acesso do vapor à câmara mas mantém-se a sua circulação
na dupla parede. Deste modo, o vapor vai arrefecendo dentro da câmara por perda de calor através
da tampa não aquecida, e a sua pressão começa a descer.
O tempo de arrefecimento espontâneo da câmara, sem abrir a torneira de descarga, varia
bastante com o tipo de aparelho e a natureza do material nele contido, podendo ser de 10-20 minutos
ou, por vezes, superior a l hora. Querendo encurtá-lo, pode abrir--se, lentamente, a torneira de
descarga, não esquecendo, porém, os riscos que daí poderão advir, conforme já referimos na pág.
377. Quando o ponteiro do manómetro da câmara de esterilização atingir o zero, deixa-se entrar o
ar nesta através da válvula
380
que a põe em comunicação com o exterior, ou, se esta não existe, através da torneira de descarga.
Logo que os recipientes estejam suficientemente arrefecidos (temperatura inferior a 70"C) poderão
ser, então, retirados do aparelho.
Cápsula
Os mais modernos aparelhos de esterilização estão equipados com bombas de vazio que
permitem remover até cerca de 98% do ar presente na autoclave. O vazio feito antes da admissão do
vapor na câmara tem como resultado permitir a fácil penetração deste em todos os espaços livres, o
que se traduz, na prática, por um aquecimento rápido e uniforme do material a esterilizar, mesmo
que se trate de embalagens compactas.
Este método, considerado como o único capaz de eliminar as deficiências de esterilização
resultantes de cargas exageradas ou mal distribuídas, tem, ainda, a incontestável vantagem de exigir
uma exposição ao vapor extraordinariamente curta. Traba-
381
382
A maioria dos autores está de acordo em que o contacto directo com o vapor saturado à
temperatura de 12O'C, durante um período de 5 a 10 minutos, é suficiente para assegurar a
destruição das mais resistentes formas microbianas. Apesar disso, é difícil definir com precisão as
condições de temperatura e tempo de exposição aplicáveis à esterilização de todos os produtos, tão
variados eles são. A resolução deste problema tem que ser encarada sob vários ângulos e, assim, o
binário temperatura--tempo de exposição escolhido, além de ter que ser eficaz do ponto de vista
bacteriológico, deve permitir que a operação se realize num período razoável e atenda aos factores
económicos, sempre de considerar.
Segundo PERKINS, estudos cuidadosamente realizados e suficientemente comprovados pela
prática indicam como suficientes para assegurar uma esterilização eficaz as seguintes temperaturas
e tempos de exposição:
132 2
125 S
121 12
116 18
115 3©
Estes números, porém, apenas dizem respeito à relação mínima temperatura-tempo que deve
ser mantida em todas as fracções da carga para que a esterilização seja conseguida e não incluem o
tempo adicional necessário para que o vapor penetre nos poros dos materiais de estrutura
descontínua nem para as transferências de calor através de recipientes cheios de líquidos.
No fundo, a programação de uma esterilização resume-se a escolher a mais elevada
temperatura compatível com o produto a esterilizar e a submetê-lo à acção do vapor
383
que inscrevem no texto, a temperatura a que deve fazer-se a respectiva esterilização, fixam ainda as
normas gerais que devem presidir a esta operação. Assim, a Farmacopeia Portuguesa IV, prescreve
que as soluções, desde que o seu volume unitário não ultrapasse 100 ml, serão esterilizadas por
aquecimento a 115°C, durante 30 minutos; quando porém, o volume exceda aquela cifra, o
aquecimento deverá ser prolongado, à mesma temperatura, até ao limite de l hora, em função do
volume de líquido a tratar. Tal procedimento, pelo menos no que diz respeito a recipientes cuja
capacidade não ultrapasse 1000 ml, parece ser suficiente para se garantir a esterilidade do material
submetido à operação, como se depreende dos resultados dos trabalhos de Buem, que resumimos na
Tabela XXXVIII.
Tabela XXXVIII. Tempo total de aquecimento necessário para se obter a esterilização a 115°C
de líquidos encerrados em vários tipos de recipientes
Tempo de aquecimento
Material da câmara Tempo Tempo total
a esterilizar e do material de esterilização de aquecimento
(minutos) (minutos) (minutos)
50 ampolas 12,5 20 32,5
1 frasco de 100 ml 15 20 35
1 » » 250 » 20 20 40
1 » » 500 » 25 20 45
1 » » 1000 » 30 20 50
Por aquilo que foi dito atrás, para se poder confiar na eficácia de uma técnica de esterilização
pelo calor é necessário determinar, com precisão, a temperatura atingida no seio da carga a
esterilizar e o tempo durante o qual ela actuou sobre os germes presentes.
O único método verdadeiramente rigoroso e preciso para se obter tal indicação é aquele que
emprega termopares ligados a um potenciómetro, como referimos na pág. 385. Acontece, porém, que
muitas autoclaves não estão equipadas com este acessório recorrendo-se, por isso, muitas vezes, aos
chamados indicadores de esterilização que podem ser de natureza biológica ou química.
esterilizar, os quais, finda a operação, são semeados e incubados em meios de cultura apropriados
para se determinar a sua sobrevivência.
Um indicador biológico pode ser constituído por unidades do produto a esterilizar inoculadas
artificialmente com o microrganismo de prova, ou por substâncias porosas, areia, vidro ou lâminas
metálicas, que servem de suporte aos microrganismos usados como testemunha, colocadas nos
locais considerados mais difíceis de esterilizar.
A Farmacopeia Portuguesa V recomenda os seguintes microrganismos testemunhas:
Esterilização pelo calor seco: esporos de Bacillus subtilis, var. niger ATCC 9372 ou CIP 77.18.
O número de esporos viáveis deve ser superior a IO5 por unidade de indicador e o valor de D deve
ser, a 160"C, de 5 a IO min, aproximadamente.
Esterilização por gases: esporos de Bacillus subtilis, var. niger ATCC 9372 ou CIP 77.18, ou
os de Bacillus stearotermophilus ATCC 7953 ou CIP 52.81.
Esterilização por radiações: esporos de Bacillus pumilus, ATCC 14884 ou CIP 3.83 para uma
dose única de 25 KGy (2,5 firad). O número de esporos deve estar compreendido entre IO7 e IO8 por
unidade de indicador e o valor de D deve ser de cerca de 3 KGy (0,3 (irad). Para doses mais
elevadas de radiação podem usar-se outras estirpes esporulantes com maior resistência, lais como
mutantes de Bacillus cereus SSIC 1/1 ou Bacillus sphaericus SSIC, A.
Como se compreende, é impossível obter-se uma indicação imediata sobre o modo como a
esterilização foi conduzida utilizando este método de controlo, pois, acabada esta, os indicadores
biológicos devem ser incubados durante vários dias, para se verificar se neles há sobreviventes.
Estes indicadores são, portanto, inadequados para verificações de rotina, se bem que constituam um
meio excelente para o controlo periódico das condições de funcionamento das autoclaves.
Indicadores químicos — De mais fácil manejo que os anteriores, têm ainda a vantagem de
fornecerem as indicações desejadas imediatamente após o termo da operação. Deve dizer-se, no
entanto, que o seu emprego tem estado sujeito a larga controvérsia, havendo autores que o
defendem e outros que lhe negam qualquer real utilidade.
Tais indicadores são constituídos por substâncias que sofrem modificação da cor ou da forma
após aquecimento à temperatura da esterilização. Assim, um fragmento de enxofre, acondicionado
num tubo de vidro, funde quando aquecido a 120°C durante alguns minutos, apresentando, depois de
arrefecido, uma forma diferente,
Os tubos indicadores de BROWNF contêm uma solução de cor vermelha que passa a verde
depois de um aquecimento a uma temperatura e durante tempo variáveis. Existem três tipos destes
indicadores, considerados por certos autores como muito satisfatórios, cuja mudança de coloração
se dá nas seguintes condições: tipo l, aquecimento a 1I5°C, durante 25 minutos; tipo //, 115°C, 15
minutos e tipo III. 160"C, durante 60 minutos.
GUILLOT refere,, ainda, o emprego de pinturas indicadoras, como estas:
Pintura A:
Pintura B:
Tais pinturas são aplicadas, por exemplo, sobre um vidro, podendo facilitar-se a sua aderência
pela junção de um silicato.
A pintura A posta directamente em contacto com a atmosfera da autoclave, passa de branco a
preto desde de que a temperatura atinja 100°C. Por sua vê/, a pintura B só adquire a cor preta
quando a temperatura de 100ÜC é mantida bastante tempo em atmosfera húmida, ou se a
temperatura de 130°C é mantida durante menos tempo que no caso anterior, etc.
Quer isto dizer que o ritmo de enegrecimenlo da pintura B, em função da temperatura,
acompanha a sensibilidade dos germes ao calor, como se pode ver no gráfico da Fig. 189, pág. 360
e, assim, o seu comportamento poderá ser tomado como índice do grau de destruição das bactérias.
Além disso, esta pintura também enegrece por acção do calor seco, verificando-se o aparecimento
da cor preta desde que a lemperatura de 180°C seja atingida e mantida durante o tempo necessário
para que se obtenha a esterilização
A pintura A' apenas serve de testemunha e desde que a pintura B apresente a mesma coloração
negra daquela, pode considerar-se que a operação foi convenientemente conduzida.
389
Como .iLOiikve kk c ai>-> oulio-- agrnh^ c s k-11 h/ aiit< i >. L ada L'^pt\ ir m r. i ohi.ma sfiu a u u u i --
'/ii>!hdid>ti.lc dilí-icuie p aia a-- UKÍUK.OÍ"'.. alem (Io que os esporos s.io, i g i i a l n ie i i l e - nuns
u^i^lirnle^ do q u r as iíinn.is \ f^D.ilp, as. í ' s ) r i o n s t / n ; ) . scni d i v i d a . o tactoi n i a i >
üiiportaiitr ,1 L {>n\idt'iai no ele-iio a »,ib!iM t o m u n t a drUMinmad a do\ L - ilc
-i,X
certas e determinadas eondições, se obtenha a destruição de d39í da sua concentração inici al, ou.
o que vale o mesmo, 37f# de sobreviventes. Assim, o valor de Dn é de ?OOÜ rcp para /:. coli e dez
vezes maior no caso de B. i
Do ponto de vista prático, estas unidades equivalem-se, estando calculado que uma radiação
de 2 x IO6 rep ou rad assegura a destruição das formas mais resistentes e garante, assim, uma
esterilidade absoluta, pois a maioria dos germes é morta por uma dose de radiação da ordem de 5 x
\{f rep.
Outros factores de somenos importância podem influenciar a dose letal da radiação sobre os
microrganismos presentes no material a esterilizar. Citem-se, entre outros, o efeito da lensão do
oxigénio no meio, a existência, neste, de substâncias impeditivas de um crescimento normal dos
germes ou que os protejam contra os efeitos das radiações, o pH, a temperatura, etc.
catódicos
0,542 E-0,133
R '- =———————:—— (2),
max n • '
em que Rmáx é o limite máximo de penetração (g/cm2) do material irradiado de densidade p e £ representa
a voltagem (Megavolt) à qual os raios catódicos tenham sido acelerados. A energia ganha por um
electrão em movimento à custa de uma diferença de potencial de l volt denomina-se elcctrão-volt,
ou, abreviadamente, eV. Na esterilização, a energia desta radiação tem que ser sempre muito
elevada, e, por isso, utiliza-se, como unidade prática, a energia correspondente a l milhão de
electrões-volt ou MeV.
Uma vez que o poder penetrante da radiação varia com a respectiva energia (Fig. 199), esta
deverá ser calculada de acordo com a espessura dos objectos a esterilizar.
Por outro lado, os raios catódicos não provocam uma ionização uniforme da matéria, estando
verificado, na realidade, que a maior intensidade de ionização não se regista à superfície do
absorvente mas sim a uma distância correspondente a cerca de 1/3 do limite máximo de penetração
para a energia a que o feixe está acelerado, sendo isto devido á difracção dos raios catódicos
quando colidem com o material irradiado (Fig. 198). Estes factos indicam, por conseguinte, que a
esterilização pêlos raios catódicos apenas ficará assegurada se esles possuírem uma energia tal que o
seu poder penetrante esteja de acordo com a espessura do material a irradiar. Se bem que possa
395
variar-se essa energia dentro de certos limites, acontece, porém, que na prática a esterilização é
geralmente feita com raios catódicos acelerados a 7 MeV, não se recomendando ultrapassar 15 MeV
dado o perigo de, nestas condições, poder manifestar-se radioactividade induzida.
100 - — —
Máxima para â
espessura R Média para
a espessura R
100 -
1.6
1,2
Espessura- do absorvente
2
(g/cm )
:•'"' Fig. 199. Distribuição do máximo de ionização dos raios
catódicos
.,; ...,; ,.>,. a diferentes profundidades consoante a respectiva
energia
A grande vantagem apresentada pêlos electrões é a de poderem ser facilmente orientados por
um campo eléctrico sobre um determinado ponto, não provocarem radiações exteriores se a
instalação estiver bem concebida e as protecções que exigem serem muito menos importantes e
dispendiosas do que no caso dos raios y, pelo que não há perigo de contaminação para o pessoal.
396
Em vários países existem em laboraçào instalações que utilizam os raios catódicos na esterilização
de certos produtos farmacêuticos e alimentares. Em geral, as máquinas utilizadas na aceleração dos
electrões são do tipo electrostãstico, como o gerador de van der GRAAF, as quais, porém, devem
obedecer a certas características, pois só nessas condições poderão ser empregadas como fonte de
radiação esterilizante. Entre elas citamos as seguintes:
esterilizados pelo calor, pelo que tal processo é hoje aplicado rotineiramente a tais
f
produtos. ..'••-. . > • . . - • - ~
Também os conjuntos usados nas perfusões, seringas, agulhas, sondas e cânulas
são, actualmente, esterilizadas por radições (i, assim como certas vitaminas e anti
bióticos no estado sólido (penícilina, estreptomicina, tiamina, riboflavina). Em geral, as
preparações farmacêuticas líquidas não podem ser esterilizadas por radiações ionizantes,
pois estas alteram-nas profundamente, actuando não só sobre o solvente mas também
sobre a própria substância medicamentosa. . . ,,... „,..
São radiações de elevada energia emitidas por certos isótopos radioactivos. A quantidade de
energia E que uma radiação é capaz de fornecer representa o seu quan-tum e é dada pela equação E
= h v (3)
/i = constante de Planck
v = frequência da radiação: ———
c = velocidade da luz .
(4), ,
K ., ..^iv
pelo que a quantidade de energia cedida por uma radiação, cada vez que actua localmente, será tanto
maior quanto menor o seu comprimento de onda.
Como as radiações y são de menor comprimento de onda que os raios catódicos e ultravioletas,
por exemplo, possuem um quantum mais elevado do que aqueles, e, por conseguinte, são também
dotadas de muito maior poder penetrante, o qual é de alguns decímetros. Em virtude desta
propriedade, os raios y apresentam, em relação a outras radiações de menor energia, a vantagem de
actuarem, praticamente, em toda a espessura do material a esterilizar, pois a sua penetração é
exponencial e obedece à lei de LAMBERT-BEER:
398
ultravioleta
Desde há muito se sabe que a luz solar exerce um efeito microbicida apreciável, atribuindo-se-
lhe, por exemplo, um acentuado papel na depuração espontânea das toalhas de água. É, sobretudo, a
radiação ultravioleta c responsável pelas propriedades esterilizantes da luz solar e, como tal, tem
recebido aplicações práticas, principalmente na depuração do ar ambiente, em hospitais,
laboratórios, etc. Considera-se que são as radiações compreendidas entre 2400-2800 Â as mais
eficazes, mas em geral as radiações ultravioletas mais vulgarmente utilizadas são as produzidas em
lâmpadas de quartzo, com vapor de mercúrio, que emitem 95% das suas radiações no comprimento de
onda Je cerca de 2500 Â. Tais radiações matam ou exercem efeitos nocivos não apenas sobre
bactérias, mas, também, sobre fungos, vírus e protozoários. Dado, porém, que estas radiações têm
muito fraco poder penetrante, só podem ser usadas para esterilizar superfícies, além de que o seu
poder esterilizante está praticamente limitado às
399
suspensões bacterianas em água pura. Na realidade, se a água tem outras substâncias em suspensão
ou em dissolução, particularmente certos compostos orgânicos, estes absorvem as radiações
ultravioletas e impedem-nas de atingir os microrganismos nela presentes.
Pode dizer-se que no campo farmacêutico as radiações ultravioletas não têm aplicação na
esterilização propriamente dita de produtos medicamentosos. De facto, as soluções apenas são
esterilizadas pela luz ultravioleta quando expostas, directamente, em recipientes de vidro abertos e
oferecendo uma superfície grande e muito delgada, o que tira qualquer utilidade prática ao processo,
ou, então, quando encerradas em recipientes de quartzo ou sílica, pois o vidro normal não é
penetrável por estas radiações. Acontece, ainda, que a grande maioria das substâncias cujas soluções
devem ser esterilizadas absorvem fortemente a luz ultravioleta ou são por elas alteradas, dada a sua
grande actividade fotoquímica.
Por todos estes motivos, as radiações ultravioletas apenas são utilizadas nos laboratórios
farmacêuticos para a manutenção de ambientes assépticos, aliás de capital importância na produção
e acondicionamento de certos produtos medicamentosos e outros, como os antibióticos, por exemplo.
Na verdade, a indústria farmacêutica faz largo uso da aplicação localizada de radiações
ultravioletas de alta intensidade sobre linhas de produção, em zonas estéreis destinadas ao
enchimento e capsulagem de recipientes, câmaras assépticas, em sistemas de condutas de ar a
fornecer a essas zonas, enfim, numa variedade de locais e condições em que a contaminação
bacteriana possa constituir um problema.
As lâmpadas de raios ultravioletas usadas para fins esterilizantes devem estar sujeitas a uma
inspecção cuidadosa, a qual deve incidir, principalmente, sobre o seu estado de limpeza e intensidade
de emissão. Na realidade, a existência de pó ou gordura sobre a superfície de vidro destas lâmpadas
reduz grandemente a intensidade da radiação emitida. Acontece ainda que a estrutura cristalina do
tubo de vidro da lâmpada se modifica gradualmente, resultando disso que uma apreciável quantidade
da radiação de 2537 A não passa para o exterior, pelo que em tal eventualidade a lâmpada deve ser
substituída.
O pessoal que trabalhe em áreas onde estejam instaladas lâmpadas de luz ultravioleta deve
estar protegido da acção dos raios directos ou reflectidos, pois eles podem originar vermelhidão da
pele e irritação intensa e dolorosa dos olhos.
As observações inicialmente feitas por CATES, em 1929, levaram a admitir a existência de uma
provável relação entre o comprimento de onda germicida e o absorvido pêlos componentes do DNA
(ácido desoxi-ribonucleico). Investigações subsequentes estabeleceram que há de facto uma ligação
nítida entre a curva da acção germicida e a curva da absorção no ultravioleta dos ácidos nucleicos ou
dos seus constituintes e que é essa absorção que desencadeia uma série de reacções conducentes à
morte da célula. Aliás, a acção dos espectros de efeitos mutagénicos ou capazes de retardarem a
divisão celular lembra, igualmente, a curva de aborção dos referidos ácidos.
400
acentuadíssima pressão mecânica. Estas variações de pressão, alternando com muita frequência (2 x
IO4 e l x 166 vezes por segundo), seriam as responsáveis pela morte dos microrganismos devido à
ruptura das respectivas membranas. Entretanto, como se observa a formação de água oxigenada nas
soluções aquosas tratadas pêlos ultra-sons, tal facto limita bastante o seu emprego como método de
esterilização de preparações injectáveis.
Uma vez que os microrganismos geralmente presentes numa solução têm dimensões muito
grandes em relação às moléculas dissolvidas, é possível separá-los, mecanicamente, desde que se
utilizem superfícies filtrantes com as características apropriadas. Tal processo de esterilização é
susceptível de prestar bons serviços no caso de líquidos termolábeis; no entanto, apesar de existirem
hoje filtros capazes de relerem alguns vírus, a esterilização por filtração é considerada,
tradicionalmente, como uma técnica falível, e, como tal, reservada, apenas, para aqueles produtos
que, pela sua natureza altamente instável, não possam ser esterilizadas pêlos processos usuais
baseados no emprego do calor.
Este processo de esterilização é admitido por várias farmacopcias, as quais, porém, só o
recomendam quando outros métodos, considerados como mais eficazes, não podem ser utilizados.
Trata-se, na realidade, de uma técnica de execução delicada, cujo sucesso depende do emprego de
elementos filtrantes com poros de dimensões iguais ou inferiores a 0,22 (4-m (') e obrigando à
observação de rigorosas condições de assepsia, pois só deste modo poderá haver uma probabilidade
aceitável de o líquido filtrado se apresentar estéril.
Dado que as superfícies filtrantes utilizadas neste processo de esterilização, sobretudo as velas,
podem ter soluções de continuidade, o que seria desastroso para a eficácia da operação, impõe-se
que esta seja verificada experimentalmente. Para isso, utilizam-se suspensões de determinadas
espécies microbianas, como Serratia marcescens ou Chromobacterium prodigiosum, as quais, depois
de filtradas através do elemento filtrante em ensaio, devem ficar isentas de qualquer microrganismo,
o que se verifica incubando o filtrado na estufa, durante alguns dias, a 37°C. Esta técnica de controlo
dos filtros aplica-se, aliás, tanto às superfícies rígidas, isto é, às velas, como aos vários tipos de
discos utilizados na filtração esterilizante.
{'} A filtração é um fenómeno complexo, em que intervém não só a retenção mecânica das
partículas cujas dimensões são superiores às dos poros do filtro, como igualmenle. várias
acções físico-
-químicas, entre elas a carga eléctrica do filtro e das partículas cm suspensão no meio a filtrar.
402
São vários os tipos de filtros que podem ser utilizados na esterilização de líquidos, os quais
agruparemos do seguinte modo:
a} Velas porosas.
b) Discos de amianto ou amianto e celulose.
c) Filtros de vidro poroso.
d) Discos de celulose tipo Millipore ou membranas de celulose.
Preparação dos filtros — Antes de ser usado, o filtro deve ser lavado com água destilada, a fim
de se arrastarem as poeiras existentes no seu interior. Em certos casos é conveniente fazer passar
através dele uma mistura quente constituída por l parte de ácido clorídrico e 3 partes de água
destilada, para se remover qualquer impureza adsorvida, seguindo-se uma lavagem cuidadosa com
água destilada, até eliminação completa do ácido. Após isto, monta-se a vela no respectivo suporte e
procede-se à esterilização do conjunto na autoclave.
403
Limpeza — O filtro deve ser cuidadosamente lavado logo após a sua utilização, nunca se
devendo, seja sob que pretexto for, deixar secá-lo antes de ter sido lavado. Para isso, deve começar-
se por emergi-lo em água, fazendo-o atravessar, seguidamente, pelo mesmo líquido em sentido
inverso ao utilizado na filtração.
Em certos casos torna-se necessário utilizar processos mais drásticos, podendo recorrer-se
então a um dos seguintes métodos:
Ulilizam-se principalmente os discos SEITZ (págs. 79 e 83) E.K., E.K.S., E.K.S.I. e E.K.S.2. ou
Sterimat, S.B. FORD, montados em suportes especiais, já anteriormente descritos, podendo
esterilizar-se o conjunto na autoclave a I20"C. Acontece, porém, que alguns destes discos são
preparados á custa de uma mislura de amianto e celulose e esta é susceptível de carameli/ar
ligeiramente àquela temperatura, pelo que é recomendável lavar o filtro, previamente, com água
destilada esterilizada, o que evitará o aparecimento de qualquer coloração nas primeiras porções do
filtrado. Além disso, estes filtros retêm unia quantidade apreciável de líquido aquoso, originando, por
isso, perdas de filtrado, podendo ser utilizados em sistema de filtração sob pressão ou por sucção,
dando-se preferência, geralmente, à primeira destas modalidades.
São muito utilizados na filtração esterilizante os filtros deste tipo com número de porosidade 1,6
(Tabela VII, pág. 78), os quais trabalham por sucção. A fim de evitar a colmatação dos poros destes
filtros, recomenda-se fazer, previamente, uma filtração
404
clarificante do líquido a esterilizar. Depois de utilizados, os filtros de vidro poroso devem ser
cuidadosamente limpos com mistura cromo-sulfúrica ou com ácido sulfúrico adicionado de nitrato de
sódio ou de potássio (12 horas de contacto), após o que são lavados com água até esta acusar
reacção neutra. Estes filtros esterili/am-se na auto-clave.
Assim, temos:
- •*»•-
Classe / — Engloba as soluções aquosas, portanto as mais usuais em farmácia, as quais podem
ser filtradas directamente através do filtro, recomendando-se que em certos casos se coloque sobre
este, no mesmo suporte, um pré-filtro (pág, 94).
Estão incluídas nesta classe a água destilada, soluções endovenosas salinas e de
glucose, soluções oftálmicas, de vitaminas, etc. i•
Classe II — Neste grupo incluem-se os líquidos de natureza ,oieica ou oleosa, que exigem
tratamentos prévios à filtração esterilizante propriamente dita, tais como sedimentação, centrifugação
ou pré-filtração clarificante. São exemplos típicos desta classe os óleos vegetais, meios líquidos de
cultura não sintéticos e os meios de cultura de tecidos.
• Classe Hl — Inclui os produtos tidos como de filtração difícil, como soros, plasmas e outras
fracções do sangue, os quais exigem um tratamento prévio mais laborioso, como seja uma filtração
através de filtros sucessivamente mais apertados, antes da esterilização propriamente dita pelo filtro
GS.
Tanto os suportes como os filtros devem ser esterilizados por gás ou na autoclave. Neste último
caso recomenda-se uma exposição ao vapor a 121°C, durante 30 a 45 minutos, devendo ter-se em
especial atenção que tanto a temperatura como o tempo referidos são críticos, não suportando estes
filtros temperaturas superiores a 125°C. Além disso, recomenda-se deixar que a pressão da
autoclave, terminada a operação, desça lentamente, nunca se devendo promover a expulsão brusca
do vapor.
mento lógica perante o conceito então dominante de q ue as doenças eram causaaas por miasmas e
vapores deletérios, cujos efeitos perniciosos seriam combalidos pela acção de outros vapores.
Não admira, por i.sso, que, uma vê? demonstrado por PASTIÜ K que as doenças eram provocadas
por germes, se voltasse ã velha prática de p u rifi c ar o ar. mas agora aplicada à desinfecção de
enfermarias e salas de operações, a ("im de se diminuírem os riscos de infecção pós-operatória.
A LISIHR, famoso cirurgião escocês, contemporâneo de PASTHUK. se ficou devendo a primeira
tentativa, com bases verdadeiramente científicas, realizada nesse sentido, a qual consistia em
desinfectar a atmosfera dos teatros operatórios com pulverizações de fenol. Porém, as atenções
gerais concentraram-se, especialmente, na desinfecção do ar em recintos contagiados, mas foram os
aperfeiçoamentos conseguidos na íccnicu de desinfecção por fumigação que conduziram, mais tarde,
à prática de esterilização por gases, tal como hoje a entendemos.
Este processo de esterilização é hoje correntemente aplicado a vários materiais e a certos
medicamentos no estado sólido, sendo necessário, contudo, util i/ ar para cada gás condições bem
determinadas de temperatura, concentração, humidade e tempo de actuação,
Segundo LHOI-ST, as qualidades que um gás esterilizanlc ideal deveria possuir são as seguintes:
É evidente que qualquer dos gases até hoje conhecidos e usados na esterili/ação está longe
de obedecer a tais requisitos, e apenas o óxido de etileno se aproxima das condições exigidas por
LHOI-.ST. .
8.4.2.1. Formaldeído
Vários investigadores, como RIDEAI., TRILI.AT e outros, demonstraram, nos fins do século passado,
que os vapores de formol, cuja actividade microbícida já t i nh a sido estabelecida anteriormente,
podiam ser utili/ados. com êxito, na desinfecção de atmos-
407
feras confinadas. Isto foi o ponto de partida para a generalização do uso dos vapores de aldeído
fórmico na desinfecção de locais onde tivessem permanecido indivíduos sofrendo de doenças
infecciosas, prática seguida durante muitos anos pelas autoridades sanitárias de quase todas as
nações.
Mercê disso, é copiosa a literatura sobre a utilização do formaldeído para tal fim, tendo sido
possível estabelecer-se, através dos elementos coligidos, que a acção desinfectante deste gás depende,
fundamentalmcnfe, da temperatura a que actua e da humidade relativa do meio ambiente.
Na realidade, o aldeído fórmico gasoso apenas é estável a cerca de 80°C, acontecendo que à
temperatura ordinária se polimeriza e condensa facilmente sobre os objectos com os quais entre em
contacto, neles se depositando sob a forma de uma película. São vários os polímeros sólidos de
formaldeído, sendo uns cíclicos, como o trioxime-tileno, e outros de estrutura linear, como o
paraformaldeído.
Em consequência da sua rápida condensação e polimerizaçào à temperatura ambiente, o aldeído
fórmico gasoso apenas possui certa acção desinfectante cm profundidade quando actua a uma
temperatura relativamente elevada, pelo que a esterilização pêlos vapores de formol é feita em estufas
especiais.
Tais estufas são aquecidas a uma temperatura entre 80-85°C e estão equipadas com dispositivos
que permitem a vaporização simultânea de água e formol, devendo o material a esterilizar
permanecer em contacto com o gás durante, pelo menos, 2 horas.
Este processo é utilizado, principalmente, na esterilização de instrumentos cirúrgicos c médicos
e de certos materiais que não suportam as temperaturas exigidas pelas técnicas baseadas na acção do
calor, como artigos de borracha, de nylon, matérias plásticas, acetato de celulose e outros. Não tem,
porém, qualquer aplicação na esterilização de produtos farmacêuticos propriamente ditos, uma vez
que numerosas substâncias medicamentosas reagem com o formol e se torna difícil eliminar as
quantidades residuais deste gás.
O uso dos vapores de óxido de etileno na esterilização é relativamente recente mas generalizou-
se nos últimos vinte anos, sendo este o gás actualmente mais utilizado na esterilização de produtos
terapêuticos no estado sólido. Tal facto deve-se à circunstância de muitas das desvantagens
encontradas no emprego do aldeído fórmico não se verificarem com o óxido de etileno, que pode ser
facilmente obtido e libertado em estado puro, não se polimeriza nem condensa sobre as superfícies
com que contacta e é rapidamente eliminado por simples arejamento.
O óxido de etileno é um gás incolor à temperatura ordinária, liquefazendo-se facilmente a
10,8ÜC e congelando a -111,3°C. Tem um cheiro etéreo, de certo modo agradável, e a sua toxicidade
por inalação é semelhante à do amoníaco. As soluções
408
aquosas de óxido de etileno são vesicantes para a pele e mucosas, o mesmo acontecendo com os produtos
que tenham absorvido o gás e sejam, depois, mantidos em contacto com o corpo humano,
A fórmula do óxido de etileno C//,—— CU. mostra que se trata do mais simples
<^o^-
composto epoxi existente e explica por que motivo se atribui o seu poder microbicida a uma acção
alquilante. Este gás é, por outro lado, altamente inflamável, e desde que a concentração dos seus
vapores no ar atinja 3% pode dar-se uma combustão seguida de explosão se o ar estiver confinado.
Por isso, na prática utiliza-se uma mistura constituída por 10% de óxido de etileno e 90% de
anidrido carbónico, conhecida por Carhoxide, a qual se pode combinar com o ar em todas as
proporções sem que haja risco de se inflamar,
Todavia, esta mistura tem um inconveniente devido à grande diferença das tensões de vapor
dos dois gases, sucedendo que o anidrido carbónico tem tendência a expandir-~se em primeiro
lugar, originando-se, por isso, um produto que se vai enriquecendo progressivamente em óxido de
etileno, com o consequente risco de se tornar explosivo. Além disso, também pode haver separação
dos dois gases motivada por arrefecimento, c após condensação do óxido de etileno apenas fica no
estado gasoso o anidrido carbónico o qual, porém, é inactivo.
Para evitar os inconvenientes apresentados pelo Carhoxide, esiudaram-se, nos últimos anos,
misturas de óxido de etileno com outros gases possuindo tensões de vapor próximas da daquele, o
que diminui os riscos de alteração das proporções dos respectivos componentes sob a influência de
variações térmicas. Eis duas dessas misturas:
Tabela XL. Tempo necessário para a esterilização pelo óxido de etileno de um tecido de
algodão contaminado com esporos de Bacillus subtilis, var, Níger
número de produtos que podem ser esterilizados por este gás sem sofrerem alterações apreciáveis,
justamente o que não acontece quando tratados por outras técnicas. Entre eles, podemos citar os
tecidos de lã e algodão, fibras sintéticas, artigos de couro, pinturas, plásticos, produtos biológicos e
farmacêuticos, etc.
Ao pretender utilizar-se o óxido de etileno na esterilização destes últimos é necessário ter
presente que aquele composto é altamente reactivo, de modo que muitas substâncias medicamentosas
poderão reagir com ele, originando produtos cuja actividade farmacológica pode ser diminuída ou
destruída. Assim, por exemplo, KAYE e colab. verificaram que se a penicilina pode ser esterilizada
pelo óxido de etileno sem sofrer qualquer modificação detectável, já o mesmo não acontece, porém,
com a estreptomi-cina, que perde certa actividade por acção daquele gás. O mesmo se verifica, aliás,
com a vitamina B , riboflavina, nicotinamida, piridoxina e ácido fólico, o que demonstra bem a
necessidade de se determinar a estabilidade de cada substância perante o óxido de etileno.
A penetrabilidade deste gás é notável, o que permite obter-se a esterilização em profundidade;
graças a eïta característica, o material a esterilizar pode ser envolvido em papel, polietileno ou
produtos semelhantes, dado que o gás penetra facilmente através deles e é, em geral, rapidamente
eliminado uma vez terminada a operação, o que não acontece no caso do formol. No enlanlo, a
borracha e alguns plásticos dissolvem certa quantidade de óxido de etileno, pelo que a eliminação do
gás residual é, então, mais demorada.
Muitos investigadores têm acentuado o facto de que a acção microbicida do óxido de etileno
não é afectada pela presença de produtos que normalmente diminuem ou
410
anulam as propriedades microbicidas da maioria dos agentes químicos. Assim, PHILLIPS pôde verificar
a destruição, pelo óxido de etileno, de esporos microbianos exsicados, quando misturados com fezes,
vaselina, óleo lubrificante, etc., desde que a camada a atravessar pelo gás não fosse demasiado
expessa.
Outra propriedade que impõe o óxido de etileno corno agente esterilizante é a de que,
aparentemente, é activo contra todos os tipos de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus.
O tratamento do material a esterilizar com óxido de etileno pode ser feito utilizando
equipamento bastante variável, desde dispositivos improvisados até aparelhos especialmente
construídos para o fim em vista, representando-se na Fig. 200 o esquema de uma instalação
industrial em que se utiliza o óxido de etileno sob pressão.
Além do aldeído fórmico e do óxido de etileno, vários outros gases têm sido mencionados na
literatura como possuindo propriedades microbicidas. Entre eles podemos citar o ozono, brometo de
metilo, cloropictïna, óxido de propileno, epidoridrina
411
e etileninümi. Alguns deles têm sido ulili/ados cm casos especiais mas nuihuin se mostrou ainda capaz
de destronar o óxido de etileno. Assinalc-se, todavia, que a ai-leni mi na c dotada de extraordinária
actividade, indicando MAYO. MUSI-R c KAVI-: que este composto, em determinadas condições, apresenta uma
actividade mais de cem vezes superior à do óxido de etileno. Acontece, porém, que, à semelhança do
que sucede com o aldeído fórniico, a acção microbicida da etilenimina está dependente de uma
humidade relativa elevada, além de que este gás é inflamável e corrosivo paru muitos metais, tudo
factores que se opõem ao seu uso generalizado.
Mais recentemente, leni se utilizado os vapores de $-pyopu>lactomi como agente estéril i/ante de
certos produtos biológicos, como plasma, vacinas constituídas por vírus ínactivados e enxertos de
artérias humanas. O seu poder esterilizante é extremamente acentuado contra bactérias, fungos e
respectivos esporos.
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412
413
II PARTE
FARMÁCIA GALÊNICA
414
415
Introdução
conservarem com a máxima potência durante bastante tempo e de permitirem fácil administração.
Durante séculos a Farmácia Galénica só pôde recorrer a conhecimentos empíricos e a sua
missão de transformar os produtos medicinais em medicamentos era apenas uma verdadeira arte.
Actualmente, a Farmácia Galénica é, como dissemos, subsidiada por numerosas ciências,
constituindo ela própria uma ciência de aplicação e libcrtando-se cada vez mais do empirismo que a
caracterizou no passado. Efectivamente, a obtenção de medicamentos pressupõe o conhecimento
pleno das propriedades físicas, químicas e biológicas dos produtos utilizados nas preparações, bem
como os fins a que aqueles se destinam. Quer isto dizer que o farmacêutico deverá possuir uma sólida
cultura científica abrangendo noções exactas do conhecimento das matérias-primas utilizadas, da sua
compatibilidade e estabilidade e, ainda, das respectivas acções farmacológicas.
Os medicamentos devem ser verificados de rnodo a garantir-se a sua potência inicial e a
determinar-se qual o grau de destruição dos seus princípios activos com o tempo. Com efeito, uma
preparação farmacêutica não está eternamente apta a ser utilizada e, após um período mais ou
menos longo e dependente do processo de conservação, vai perdendo, progressivamente, a sua
actividade.
Na prática, considera-se que um medicamento perdeu a sua validade quando foram destruídos
mais de IO ou 15% dos seus princípios activos. O período durante o qual a. destruição se processou
até àquele limite é conhecido por prazo de validade de um medicamento.
Pelo que se disse, compete à Farmácia Galénica estudar a forma farmacêutica mais adequada
e o melhor meio de conservar os medicamentos, de modo a prolongar, na medida do possível, o seu
período de utilização.
O seu objectivo c preparar, conservar, acondicionar e dispensar medicamentos, doseados com
a maior precisão e apresentados sob uma forma que facilite a sua administração.
Em resumo, a Farmácia Galénica estuda os métodos racionais e científicos para a preparação
das formas farmacêuticas, o modo de associar as substâncias medicamentosas, as incompatibilidades
que se podem originar entre estas e a conservação das fórmulas preparadas.
(') Durante muitos anos a Medicina e a Farmácia constituíram um lodo indissociável em que o
mesmo indivíduo, médico-farmacêutico, desempenhava cumulativamente as funções inerentes ao
exercício destas duas profissões. Foram os árabes que fizeram as primeiras tentativas de separação
dos dois ramos da arle de curar, havendo, contudo, de início relações de carácter económico entre as
duas profissões. Só no século XIII foi proibida a aludida ligação.
417
(') CLAUDIUS GALENUS nasceu cm Pcrgamo, em 131 da nossa era. Depois de ter estudado na Grécia e
em Esrnirna, veio fixar-se em Roma no império de MARCO AURÉLIO, que o tinha chamado a fim de
compor uma leriaga contra a peste. A sua oficina encontrava-se na Via Sacra e dela foram clientes
dois outros imperadores romanos, CÓMODO e SKPTÍMIO SEVERO. Entre as suas numerosas obras assinalamos
as seguintes: De psitana; de simpliciitm medicamentorum faculialibus; De antidote; De
medicamentorum composiíione secundum (ocos.
418
Procuraremos, neste livro, situar-nos na época presente, sem, porém, esquecer que em
Farmácia Galénica, como em todas as ciências, é preciso um período de adaptação às novas
concepções, que carecem de ser verificadas prudentemente. Assim, nesta obra, tentaremos conciliar
os velhos conceitos ainda válidos com as novas teorias já suficientemente aceites. Daremos, ainda,
importância a muitas fórmulas consideradas obsoletas em países talvez mais progressivos, sem
esquecer as nossas condições de trabalho local e as limitações a elas inerentes. Do mesmo modo.
procuraremos nào olvidar os esludos galénicos que hoje se impõem como conducentes à preparação
dos mais aperfeiçoados medicamentos.
420
421
Não pode dizer-se que seja particularmente abundante a literatura de que se dispõe em
Farmácia Galénica; contudo, melhor do que outras ciências médicas ou farmacêuticas, a Farmácia
Galénica pode orientar-se pêlos códigos oficializados a que se dá o nome de farmacopeias e/ou
formulários.
São, essencialmente, de três tipos as fontes bibliográficas ao serviço do farmacêutico ocupado
no estudo da Farmácia Galénica: as farmacopeias c formulários; os tratados gerais e outros livros
especializados em determinados sectores galénicos; os artigos publicados em revistas farmacêuticas,
de índole geral ou especializada.
2.1. FARMACOPEIAS
Por farmacopeia (do grego Pharmakon, droga, fármaco; podo, faço) entende-se uma lista de
fármacos e de fórmulas para preparar diversos medicamentos. É, pois, um livro oficial, elaborado
por uma comissão, o qual estabelece normas farmacêuticas destinadas a assegurar, numa entidade
político-geográfica determinada, a uniformidade da natureza, da qualidade, da composição e da
concentração dos medicamentos aprovados ou tolerados, sendo essas normas obrigatórias e
estabelecidas pelas entidades competentes e a elas se devendo cingir o farmacêutico.
Nem sempre a definição do farmacopeia correspondeu à noção que acabámos de dar. Durante
muitos anos as farmacopeias podiam ou não ser oficializadas e a maioria delas era elaborada por um
único autor. Às farmacopeias não oficializadas deve, de preferência, dar-se o nome de Dispensatórios.
As farmacopeias organi/adas por um único indivíduo, mas tornadas obrigatórias por decreto
estadual, eram designadas por Antidotários.
Entre nós houve várias farmacopeias do tipo dispensatório. A primeira delas, publicada em
1704 c designada por Pharmacopea Lusitana, deveu-se ao farmacêutico Frei D. CAETANO DCSANTO ANTÓNIO.
422
Além de diversas edições desta farmacopeia, saíram à luz muitos outros dispensatórios:
Pharmacopea Ulyssiponense, galenica e chymica (1716); Pharmacopea Tubalense (1735);
Pharmacopea Portuense (1766); Pharmacopea Dogmática medico--chymica e theorico-pratica (1772).
Em 1794, durante o reinado de D. Maria I, foi publicada a primeira farmacopeia portuguesa
oficializada, escrita pelo medico da rainha, Dr. FRANCISCO TAVARES. Esta farmacopeia, que constitui um
verdadeiro antidotário, manteve-se em vigência até 1835 e foi denominada Pharmacopeia geral para o
Reino e Domínios de Portugal.
Em 1835 toma-se obrigatório o uso do Código Pharmaceutico Lusitano, também chamado
Tratado de Pharmaconomia. Foi seu autor o médico AGOSTINHO ALBANO DA SILVEIRA PINTO.
A terceira farmacopeia legal, que já foi elaborada por uma comissão oficial composta por três
médicos, seis farmacêuticos e dois químicos, foi publicada em 1876 e tinha como título Pharmacopea
Portugueza. Depois de um período de vigência de sessenta anos, foi substituída por nova farmacopeia,
esta elaborada por uma comissão de médicos e farmacêuticos que de motu-próprio se constituiu para
o efeito. Esta farmacopeia representa a IV Farmacopeia Portuguesa legal. Em 1946 saiu a lume uma
segunda edição, que se mantém cm vigor na parte que não foi revogada. Posteriormente, foi criada a
Comissão Permanente da Farmacopeia Portuguesa, cujos primeiros membros foram nomeados em
1957. Essa comissão elaborou um Suplemento à 2.a Edição da IV Farmacopeia Portuguesa, o qual
entrou em vigor em 1962.
A Comissão Permanente da Farmacopeia Portuguesa procedeu à elaboração da Farmacopeia
Portuguesa V. Este código, em vigor desde 1987, compõe-se, presentemente, de 7 volumes e trata-se
de uma adaptação da Farmacopeia Europeia (European PharmacopoeialPharmacopée Européenne) do
Conselho da Europa. Sendo Portugal, actualmente, membro da CEE, é evidente a vantagem de termos
uma farmacopeia que constitui praticamente a tradução da Farmacopeia Europeia.
Cada nação tem a sua própria farmacopeia, havendo, no entanto, excepções constituídas por
países que tornaram obrigatório o uso de farmacopeias pertencentes a outras nações. Este facto
observa-se sempre que a evolução científica do país se encontra atrasada, quando a sua diminuta
área o justifique, ou ainda quando haja ligações de idioma, ancestralidade, etc., com essas outras
nações.
Existe também uma Farmacopeia Internacional elaborada por uma comissão de especialistas de
vários países, a qual se encontra publicada em francês, inglês e espanhol, edkada pela OMS.
Na página 423 transcrevemos uma lista das farmacopeias que maior interesse apresentam para
nós, com a indicação das abreviaturas por que serão designadas no decurso desta obra.
423
Principais Farmacopeias
Abreviatura
Farmacopeia adoptada Volumes e datas
2 volumes (1988)
British Pharmacopeia B.Ph.
Grã-Bretanha — Londres 2
volumes (1989)
Deutsches Arzneibuch D.A.B.
Alemanha — Berlim 14
European Pharmacopeia R.Ph. volumes 2." Edição (1969-
1991) 3 volumes (1965)
Itália — Roma 2
Farmacopoea Ufficiale delia Republica F.Ital. volumes (1954)
Italiana IX Espanha — Madrid l
Farmacopeia Oficial Espanola IX F.E, volume (1977)
Brasil — S. Paulo l
Farmacopeia dos Estados Unidos do F.Bras. volume (1946) e l
Brasil suplemento (1962)
Farmacopeia Portuguesa IV II Edição F.P.
Portugal — Lisboa (1987) l
volume
Farmacopeia Portuguesa V F.P. Bélgica 5 volumes
Pharmacopée Belge — V Edição Ph.Belg. (1989)
França — Paris 4
Pharmacopée Française (Codex Medica- Ph.F volumes (1963)
mentarius Gallicus) — X Edição (Codex) Dinamarca 4
Pharmacopoea Nórdica (Ed. Danica) P.Nord volumes (1990)
Suiça — Berna 3 volumes —
Pharmacopea Helvética — VIII Edição Ph.Helv. 3." Edição (1980)
Suíça 2 volumes (1963,
Pharmacopoea Internacional lis Ph.I. 1964)
Japão — Tóquio l
volume (1990)
Pharmacopoeia ot Japan Ph.J. USA — Washington
1988 como membro de direito, Portugal tem participado rias reuniões da Comissão, o que lhe
permitiu editar os 7 referidos volumes que abarcam, praticamente, tudo o que foi publicado na
Farmacopeia Europeia.
Ao lado das farmacopeia^ queremos referir os formulários de índole galcnica, oficializados em
muitos países e dotados de carácter nacional, ou restritos a determinados serviços, como hospitais,
misericórdias, etc. Em algumas nações, como a América do Norte e a Grã-Bretanha, a publicação dos
formulários nacionais acompanha a das respectivas farmacopeias, constituindo aqueles um
complemento indispensável a estas.
São numerosos os formutários portugueses de carácter particular, oficializados nos respectivos
serviços. Lembramos os seguintes: Formulário do Hospital da Marinha, Formulário dos Hospitais
Civis, Formulário do Hospital Escolar, Formulário dos Institutos Maternais e, mais recentemente, o
Formulário dos Hospitais.
A subcomissão de Farmácia Galénica da Farmacopeia Portuguesa IV procedeu à elaboração
de um formulário galénico nacional de que foram publicados 2 volumes.
Nos Estados Unidos têm sido publicados, regularmente, e a partir de 1882, diversos
formulários nacionais. O último é o National Formulary XXfl, cuja oficiali/acão acompanhou a da
USP XXII Revision. É correntemente designado pela abreviatura N. F. XXII.
Na Grã-Bretanha observa-se também certa periodicidade no aparecimento dos formulários
nacionais, a qual coincide com as novas edições da farmacopeia. O formulário nacional inglês
denomina-se The Britiafi Pharmaceutical Codex e é conhecido pela abreviatura B. P. C.
Como já acentuamos, não é avultado o número de obras gerais sobre Farmácia Galénica.
Acrescentaremos ainda que. em Portugal, não existe nenhuma publicação actualizada que trate desta
ciência cm conjunto, a não ser as anteriores edições deste livro (1965, 1975, 1983). É certo que, nos
últimos anos, têm aparecido diversos artigos de revisão, publicados por autores portugueses, os quais,
esporadicamente, foram reunidos sob a forma de livro. Este facto, porém, não invalida a assinalada
inexistência de qualquer obra de vulto sobre Farmácia Galénica.
Entre as obras da Farmácia Galénica geral, apontamos os seguintes que mais particularmente
úteis se mostraram na elaboração do presente livro:
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Para finalizar este capítulo, anotemos que a bibliografia agora citada não constitui
exclusivamente toda a bibliografia que consultámos e a que nos referiremos no texto. Muitas
vezes foi preciso recorrer a fontes diferentes das mencionadas, especialmente quando a
formulação galénica implicava conhecimentos de outros ramos do saber, como a
farmacologia, a química, a física, etc.
Na bibliografia indicada no final de cada capítulo deste livro serão citadas as
referências que consideramos mais úteis para o estudioso que pretenda aprofundar os
assuntos, tendo procurado, sempre que possível, restringirmo-nos às obras e idiomas mais
acessíveis.
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Medicamentos
Falámos atrás em droga, tendo-lhe atribuído um significado que poderemos considerar como
pouco preciso. De facto, quando então aludimos a drogas, referimo-nos, exclusivamente, aos produtos
de natureza animal, vegetal ou mineral empregados na preparação de medicamentos. A palavra droga
é, de preferência, tomada na acepção de matéria-prima de uso farmacêutico ou não, significando tanto
os produtos naturais, como os obtidos por síntese.
Contudo, a conotação actual entre droga e toxicomania leva-nos a procurar utilizar aquele termo
o menos possível a fim de evitar confusões resultantes do desvirtuamento do sentido daquela palavra
de há alguns anos para cá.
Julgamos não existir entre nós qualquer definição legal de droga. Contudo, no parecer da
Prucuradoria-Geral da República, publicado no Diário do Governo, II Série, N.os 250 e 76,
respectivamente de 27 de Outubro de 1955 e de 29 de Março de 1956, di/-se que a expressão droga
pode ser tomada «como significando ingrediente ou substância simples de natureza animal, vegetal ou
mineral, que serve, em regra, à fabricação de outros produtos, estes de natureza medicinal ou
química».
Efectivamente, o termo droga toma-se habitualmente no sentido lato, significando o produto
simples ou complexo que pode servir como matéria-prima de uso farmacêutico, químico, etc. Assim,
fala-se do mel, da cera, da banha, da beladona, do sulfato de cobre, do fenol e da anilina, designando-
os por drogas. Por esta pequena lista se verifica que a droga poderá ser de natureza animal, vegetal
ou mineral, ou, até, produzida por síntese química, sendo constituída por um único princípio, como o
sulfato de cobre, o fenol c a anilina, ou por uma mistura de princípios, como no caso do mel, da cera,
da banha e da beladona.
É habito corrente designar por fármacos (do grego Pharmakon) todas as drogas utilizadas em
farmácia e dotadas de acção farmacológica ou. pelo menos, de interesse médico. Quer isto dizer que o
conceito de droga abrange o de fármaco, ou que o fármaco é um tipo especial de droga. Servindo-nos
ainda do exemplo dado pelo sulfato
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de cobre, podemos dizer que esta droga, utilizada na sulfatação das vinhas e em diversas preparações
químicas, constitui um fármaco sempre que se utiliza com fins medicinais, devido às suas propriedades
adstringentes.
De acordo com a ideia expressa, não se devem considerar como fármacos as drogas inertes
empregadas em Farmácia, como os excipienles e os adjuvantes duma dada preparação.
As drogas e os fármacos constituem, pois, as matérias-primas de que o farmacêutico se serve
para obter medicamentos.
Têm sido apresentadas numerosas definições de medicamento, mas, na maioria das ve7.es, essas
definições inspiraram-se em critérios diferentes e incompletos que não traduzem plenamente o
significado da palavra. É evidente que o químico, o galénico ou o médico apreciam o termo
medicamento de acordo com a sua especialização, desrespeitando mutuamente os sectores dos outros.
Infelizmente, mesmo quando se trata de definir medicamento, apreciado apenas sob um dado critério,
a divergência de opiniões é ainda manifesta.
Considerando, por exemplo, o sector da Farmácia Galénica, encontramos as mais variadas
definições, das quais salientamos as seguintes;
Em qualquer destas três definições verificamos que se confunde o conceito de medicamento com
o de fármaco e, como já vimos, o medicamento é obtido, por meio de operações farmacêuticas, a partir
dos fármacos. Por outro lado, nas citadas definições é omissa qualquer alusão ao emprego do
medicamento com outros fins que não o curativo ou preventivo,
Quanto a nós, entendemos que o medicamento pode apresentar três finalidades distintas —
tratamento, profilaxia e diagnóstico das doenças — devendo o seu conceito ser extensível não só ao
homem e animais, mas ainda a todos os seres vivos, como as plantas.
O conceito de medicamento que deixámos expresso corresponde ao parecer emitido pela
Comissão Permanente da Farmacopeia Portuguesa na sua sessão de 15 de Julho de 1960. Segundo o
mencionado parecer, poderemos definir medicamento como «toda a preparação farmacêutica contendo
um ou mais fármacos, destinada ao diagnóstico, prevenção ou tratamento das doenças e seus sintomas
ou à correcção ou modificação das funções orgânicas, quer no homem, quer nos outros seres vivos».
A palavra remédio é empregada num sentido amplo e geral, sendo aplicada a todos os meios
usados com o fim de prevenir ou de curar as doenças. Deste modo, são remédios não só os
medicamentos, mas também os agentes de natureza física ou psíquica a que se recorre na terapêutica.
A ideia de remédio não está, portanto, obrigatoriamente ligada à composição farmacêutica que
constitui o medicamento.
433
Sem nos determos demasiadamente neste assunto, passemos em revista os principais tipos de
remédios que não podem ser considerados como medicamentos.
São de várias espécies: Aeroterapia ou climatoterapia, que constitui um meio de tratamento para
os debilitados, convalescentes, anémicos, tuberculosos, etc., e que se pode praticar na praia ou na
montanha; Helioíerapia ou tratamento pêlos raios solares; Radioterapia, em que se pode recorrer aos
raios X, raios y, ou a outras radiações; Termoterapia ou tratamento ligado à acção do calor;
Eiectroterapia como o emprego das correntes de alta frequência, no tratamento das hemorróidas ou
fissuras anais; Hidroterapia ou cura de água, que consiste na aplicação de banhos, duche, compressas
húmidas, etc., utilizando águas termais; Talassoterapia, ou emprego terapêutico das propriedades
revigorantes dos ares do mar, acompanhado ou não de banhos; Cinesiate-rapia, em que os meios
mecânicos, como a ginástica, são utilizados com vários fins, particularmente na reeducação dos
movimentos; Ventilüterapia; etc.
Sob esta designção queremo-nos referir à acção psicológica desempenhada pelo médico ou pelo
psicólogo junto do paciente, a qual vai desde a simples confiança que lhe traz calma e bem-estar, aos
tratamentos mentais ulili/ados no foro psiquiátrico (psicanálise).
Antes de terminar este subcapítulo queremos lembrar que certos medicamentos, como os usados
com fins de diagnóstico, não podem ser considerados como remédios, já que esta palavra implica as
ideias de profilaxia ou de cura.
Do ponto de vista bromatológico, alimento tem sido definido como «toda a substância que se
ingere para manter o equilíbrio orgânico e para atenuar a fome». Do ponto de vista galénico, somos
levados a concluir que alguns alimentos podem utilizar-
-se como excipientes ou veículos que facilitam a administração dos fármacos. Um xarope
medicamentoso, por exemplo, além dos fármacos constituintes, possui apreciável quantidade de
sacarose, a qual lhe confere melhor sabor. A sacarose é destituída de interesse farmacológico mas,
simultaneamente com a sua acção edulcorante, fornece ao organismo do paciente uma certa
quantidade de energia que ele utili/a no seu metabolismo. Quer isto dizer que a droga sacarose se
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fármacos mais tóxicos, considerando-as em relação aos adultos e às crianças e tendo em atenção a
via de administração desejada. A Organização Mundial de Saúde elaborou uma dessas tabelas que
vem transcrita no Suplemento à IV Farmacopeia Portuguesa. Oportunamente, voltaremos a
considerar este assunto. A actual Comissão da Farmacopeia Portuguesa tem em elaboração um
volume exclusivamente dedicado à Posologia, onde se indicarão doses habituais e máximas,
interacções medicamentosas, etc.
Compete ao farmacêutico verificar se a posologia dos componentes de uma prescrição médica
não ultrapassa a dose máxima tolerada, considerada a via de administração escolhida e a quantidade
de medicamento que o doente deve tomar. Assim, por exemplo, pode-se administar a um adullo uma
solução injectável subcutânea ou uns comprimidos contendo, respectivamente, 0,001 g ou 0,002 g de
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sulfato de atropina. Estes valores representam as doses máximas subcutânea e oral do fármaco citado,
por uma só vez. Nas 24 horas os valores das doses máximas de sulfato de atropina são de 0,002 g e
0,004 g, consoante a via de administração. Até às quantidades indicadas, o sulfato de atropina, nas
formas farmacêuticas mencionadas, constitui um medicamento. Se essas doses forem excedidas será
um veneno.
Cremos não ser ocioso, neste momento, lembrar os perigos de uma dosagem exagerada prescrita
pelo médico e descuidadamente aceite pelo farmacêutico ou devida, por exemplo, a um erro cometido
por este numa pesagem.
São de VALERI PAOLI, autor de Glosas Galenicas, as seguintes palavras, que, com a devida vénia,
transcrevemos para meditação: «Um erro na pesagem dos medicamentos pode pôr em perigo uma
vida. Na balança pode estar a Saúde ou a Morte».
susceptível de se empregar interna ou externamente, como acontece com a solução alcoólica de iodo,
com o extracto de beladona, etc.
Pensamos, portanto, que a divisão dos medicamentos em internos e externos só apresenta o
interesse de significar uma indicação do médico para o tipo de administração desejado. Finalmente,
acentuemos que os medicamentos de uso interno podem empregar-se externamente, mas, na maioria
dos casos, os medicamentos de uso externo
f
não podem ser administrados no interior do organismo. E por isso que ao farmacêutico compete
chamar a atenção do doente sempre que o medicamento dispensado se destina a aplicação externa.
Uma outra classificação de medicamentos divide-os em oficinais, especializados e magistrais.
São medicamentos oficinais os que se encontram oficializados nas monografias da Farmacopeia
Portuguesa. São, normalmente, preparações dotadas de boa conservação, que o farmacêutico pode
manipular c guardar até ao momento do emprego. Há, porém, algumas excepções a esta regra, como a
maioria das limonadas, a emulsão comum, etc., que se alteram rapidamente após preparação.
Consideram-se medicamentos especializados ou especialidades as preparações farmacêuticas
apresentadas no mercado em embalagem própria, destinada a ser entregue ao consumidor e com uma
designação ou marca privativa.
Não são consideradas especialidades farmacêuticas:
próxima da especialidade que pretende reproduzir. Deve, pois, ser bioequivalente com ela. O seu
interesse é preferencialmente de natureza económica, visto serem dispensados a um preço inferior ao
do medicamento original.
HIPÓCRATES ('), célebre médico, considerado como pai da Medicina, enunciou dois axiomas que se
aceitaram como fundamentais na arte de curar. O primeiro especificava: Natura medicatrix medicus
interpres et menister (o organismo cura a doença, o médico não é mais do que o seu intérprete,
auxiliando-o).
O segundo axioma referia-se à aplicação dos medicamentos e era expresso por duas leis:
contaria contrariis curantur (curar provocando uma acção diferente no corpo) e simiíia similibus
curantur (curar provocando uma acção semelhante no corpo).
Das duas leis citadas nasceram dois sistemas terapêuticos, respectivamente designados por
alopatia e homeopatia. Os medicamentos utilizados nestes dois sistemas tomam o nome de alopáticos e
homeopáticos.
A Medicina e a Farmácia praticadas, habitualmente, entre nós e cujo ensino está oficializado,
correspondem ao conceito alopático. O sistema homeopático é muito mais
raramente empregado, embora se tenha difundido em alguns países, como a Alemanha, a América do
Norte, o México, o Brasil e ene entrando-se em franca difusão em Portugal, após os esforços de vários
laboratórios suíços, alemães e franceses.
O conceito de homeopatia foi introduzido em 1796 pelo médico alemão SAMUEL HAHNEMANN (1755-
1834). Baseado na lei das semelhanças de HIPÓCRATRS, anunciou que «todo o medicamento activo provoca no
organismo humano uma espécie de doença, tanto mais peculiar, mais característica e mais intensa,
quanto mais activo é o medicamento». Dizia ainda que «deveria imitar-se a natureza, a qual às vezes
cura uma doença crónica por meio de outra doença que sobrevêm posteriormente; na doença que se
pretende curar, deveria empregar-se um medicamento que fosse capaz de provocar uma doença
artificial semelhante à primeira».
Além desses princípios, SAMUEL HAHNEMANN estabeleceu o princípio da «dinamização», o qual
consiste em «dividir ou diluir as substâncias medicamentosas com matérias inertes de tal modo que
seja possível graduar devidamente a potência da contra-doença escolhida para curar a doença
natural, de forma a que somente chegue a iniciar-se e não prejudique o corpo com desnecessária
intensidade».
Como atrás acentuámos, há países, que não o nosso, onde a homeopatia se tem radicado de
modo notório. Na América do Norte, por exemplo, existem cinco organizações nacionais, duas de
438
Por receita (do latim, recipe, lomc) entende-se um conjunto de indicações escritas, dadas pelo
médico ou veterinário ao farmacêutico, para a preparação e entrega de um medicamento. Usualmente,
comporta também instruções para o doente quanto ao modo de administração ou uso do medicamento
prescrito.
A maioria das receitas, a que, às vezes, se dá o nome de prescrições (do latim prae, antes; acribo,
escrevo), é redigida no idioma do país, sendo esse critério obrigatório em Portugal. Entretanto; em
diversos países é hábito utilizar-se o latim ou versões latinizadas de palavras nativas o que, entre
outras vantagens, traria a segurança da imutabilidade de significação, jã que se trata de uma língua
morta.
Numa receita médica podemos distinguir várias partes fundamentais: nome do doente; fãrmacos
utilizados e suas quantidades; forma farmacêutica pretendida; indicações quanto à administração do
medicamento; nome, morada e assinatura do médico.
Se esta indicação não tiver sido feita pelo médico, compete ao farmacêutico inscrevê-la na
439
O médico pode prescrever um medicamento, cuja composição indica, o qual será preparado pelo
farmacêutico, ou pode ainda pedir para ser dispensado um produto especializado. No primeiro caso,
deve indicar, de forma explícita, qual o fármaco ou fármacos constituintes e qual a sua quantidade. Se,
num ou mais casos, ultrapassar as doses medicamentosas consideradas máximas, deverá demonstrar
que tem plena consciência do facto, escrevendo por extenso e sublinhando as quantidades pretendidas.
Mesmo assim, a prudência aconselha o farmacêutico a pôr-se em conlacto com o médico para melhor
esclarecer o assunto.
Numa fórmula complexa pode o médico indicar, além dos componentes activos, os materiais
inertes que devem entrar na sua preparação. Teremos assim, habitualmente, três espécies de
constituintes fundamentais: os fármacos, os adjuvantes e o veículo ou excipiente. Os adjuvantes podem
ir exercer um efeito solubilizante, conservante, edul-corante, aromatizantc, etc., e não modificam,
regra geral, o efeito farmacológico dos
princípios medicamentosos. O veículo ou excipiente deverá ser destituído de actividade e ter como
função dar corpo aos fãrmacos, diluindo-os à concentração conveniente, ou proporcionando-lhe s
maior facilidade de administração. A quantidade de veículo desejada pelo médico deve vir indicada na
receita. Em casos particulares, dependentes do tipo de forma farmacêutica, é dispensável a citada
indicação.
Se o medicamento receitado pertencer ao grupo das especialidades, o farmacêutico, apenas
poderá dispensar o medicamento pedido, não devendo substituí-lo por outro, mesmo reconhecidamente
idêntico, sem prévio consentimento do médico.
Quanto aos medicamentos oficializados a receita poderá especificá-los em pormenor, como no
caso das fórmulas magistrais, mas é suficiente a indicação do nome por que vem inscrito na
Farmacopeia Portuguesa e a menção da quantidade desejada.
Esta parle da receita, sem dúvida a mais importante, é precedida de um símbolo ou de uma
abreviatura. Trata-se dos sinais R R., Re. ou Rpe. Estes símbolos ou abreviaturas têm a sua origem
num carácter que aparecia nas primitivas receitas egípcias e que era um amuleto representando o
olho do deus Horus. Para outros, seriam derivados da representação do signo de Júpiter, significando
uma petição de favores e de cura àquela divindade grega. É até possível que estas duas interpretações
correspondam à verdade e que do sinal alusivo a Horus se tenha passado, com o decorrer dos tempos
e a sucessão de civilizações, para o que invoca Júpiter.
externo (etiqueta impressa sobre fundo vermelho); para toma)' ti.v colheres das de sopa: para tomar
às colheres das de chá: para tomar às colheres das de café; para gargarejo: para fricção: paru
colutório; para inalarão; para uso ocular: agite antes de usar: etc.
Quando o medicamento é extremamente activo, podendo provocar intoxicações.
deve-se-lhe apor uma eliqueta com a palavra tóxico. A Farmacopeia Portuguesa, a
propósito das monografias dos fármacos, indica aqueles que são considerados tóxicos. Além disso,
os medicamentos destinados a uso veterinário devem ser assinalados com uma etiqueta tendo aquela
indicação escrila sobre fundo verde.
BIBLIOGRAFIA
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GURIS, A. e Liar, A. — Pharmaïie Galénique, Masson, Paris. 1949.
JtNKiNs, G.: FRANCKE, D., BKKcuT. E. e SpKRANino, G. — The art of compounding — McGraw-
Hill Book
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Prescription Pharmacy — Editado por Sprowls, Lippincott, Philadetphia, 1963.
VALERI PAOLI, J. F. — Glosas galenicas, Venezuela, 1956.
443
Administração de medicamentos
Entende-se por medicamentos tópicos os que se aplicam, externamente, sobre uma região
limitada do corpo, não proporcionando absorção sistémica dos seus constituintes. A sua aplicação
pode fazer-se sobre a pele e mucosas acessíveis do exterior.
Um lápis de nitrato de prata, uma pomada de ácido salicílico, uns óvulos de tanino, um
colutório de iodo, um colírio de sulfato de zinco, umas gotas nasais ou auriculares contendo anti-
sépticos, são essencialmente medicamentos tópicos.
Alguns medicamentos quando administrados, por exemplo, por via gastro-intestinal não são
absorvidos, desempenhando, porém, a sua acção em determinada zona do tracto digestivo. Neste
caso emprega-se o termo acção local para exprimir o seu modo de actuação. É o que sucede quando
se ingere subnitrato de bismuto em pó, substância que, não sendo absorvida, vai, contudo, actuar
localmente, protegendo a mucosa gástrica e duodenal. É ainda o que acontece com determinados
antibióticos, como a bacitracina ou a neomicina, ou com os anti-helmínlicos, como o cilrato de
piperazina, que actuam localmente no intestino, pela sua actividade anti-bacteriana ou vermicida.
São muitas as modalidades de acção dos medicamentos tópicos. Uns exercem um efeito anti-
inflamatório, como os óvulos e pomadas de hidrocortisona, outros são preferentemente destruidores
da queratina, como as soluções de sulfuretos alcalino-terrosos; alguns desempenham uma acção
anestésica local à custa do arrefecimento brusco dos tecidos, como o cloreto de etilo; outros, ainda,
actuam como simples protectores da epiderme, designadamente certos cremes absorventes das
radiações ultravioletas; etc., etc.
É hábito classificarem-se os medicamentos tópicos em várias categorias, consoante a sua
acção principal. Teremos, assim, fundamentalmente, tópicos anti-inflamalórios, revulsivos,
queratoplásticos, queratolíticos, cáusticos, protectores, anti-sépticos, anti-ecze-matosos,
parasiticidas, anti-seborreicos, etc.
Claramente que todas as classificações dos tópicos revelam defeitos, dada a simultaneidade
de acção que muitos deles apresentam. A classificação que adoptámos é das mais usuais, embora
nela se notem certos afastamentos dos critérios seguidos por outros autores e, muito especialmente,
em relação à literatura norte-americana.
445
4.1.1. ANTI-INFLAMATÓRIOS
Designados lambem por antif logísticos (do grego unti. contra, phlogo, ardor, queimar), são
considerados como os tópicos capazes de modificarem favoravelmente o estado de inflamação de
uma região do corpo ( ' ) .
Tais medicamentos actuam por favorecerem o desaparecimento dos edemas, desidratando os
tecidos tumefactos, quer por activação da circulação local, quer por vaso-conslrição na zona de
aplicação ou por coagulação das albuminas lissulares.
Os tópicos anti-inflamatórios clássicos podem ser considerados em duas categorias
distintas, de acordo com o modo de acção predominante:
1.°) Adstringentes.
2.") Emolientes.
4.1.1.1 Adstringentes
São lópicos que provocam a constrição das superfícies mucosas, pele, vasos sanguíneos ou
tecidos diversos, diminuindo as secreções e os corrimentos. Actuam por vasoconstrição local e
coagulação das albuminas, levando à absorção dos exsudatos de feridas c erupções cutâneas. Em
alguns casos provocam tão fortemente a constrição tios capilares e outros vasos sanguíneos de
calibre diminuto que podem ser ulili/ados para estancar pequenas hemorragias. Nessas
circunstâncias denominam-se extíftficos, citando--se entre eles diversíssimos metais e taninos.
Os adstringentes também se utilizam como antiperspirantes e desodorizantes, o que se deve à
constrição que provocam sobre os poros e ao efeito baclcricida que muitos revelam.
Rxistem numerosos adstringentes: ácidos diluídos; derivados metálicos, como o cloreto
férrico, sulfato de cobre, alúmen, acetotartarato de alumínio, sulfato de /inço, culamina, peróxido
de zinco, subacetato de chumbo, óxido amarelo de mercúrio, etc.; taninos diversos, muito
particularmente o ácido tânico ou galhotânico, os taninos de hamaméüa e da ratânia, o
acetilotanino (tatügénio). o albuminato de tanino (tanalhina), o caseinato de tanino (proian), o
subgalhato de bismuto (dermatol), etc.; o aldeído fórmico e muitos outros compostos.
Como atras dissemos, o modo de actuação dos adstringentes está particularmente relacionado
com a precipitação de albuminas, podendo admitir-se no caso dos metais
que estes se ligam aos grupos sulfidrilo e aminogcnio dos compostos proteicos segundo o esquema:
4.1.1.2. Emolientes
De acordo com a sua raiz etimológica latina (de emolliens, que amolece, que amacia), os
emolientes suo medicamentos que têm o poder de tornar os tecidos suaves e macios. Este
abrandamento tissular é conseguido à custa de uma activação da circulação local, uma vez que os
emolientes provocam calor e humidade.
Sendo activada a circulação local, produz-se aumento das defesas leucocitárias e atenuação da
dor devida à turgescência dos tecidos inflamados. Logo que estes se tornam mais moles, a causa
primária do estado doloroso desaparece e, secundariamente,
447
A água albuminosa, que é muitas vezes usada cm casos de intoxicação pêlos venenos
metálicos, constitui um emoliente que se pode administrar por via oral ou em enema. A tintura de
benjoim tem-se aplicado topicamente e também cm inalações, que, além de desinfectantes, são anti-
inflamatórias.
4.1.2. REVULSIVOS
4.1.2.1. Rubefacientes
Têm sido empregados no tratamento da bronquite, na congestão gástrica com vómitos, nas
dores reumáticas, nas entorses c inflamações crónicas.
Entre eles lembramos a mostarda, a terebintina, o pimentão, a cânfora, o salici-lato de metilo, o
mentol e a amónia.
A mostarda pode sei utilizada sob a forma de cataplasma ou de sinapismo. Pode empregar-se
ainda o seu princípio activo dissolvido em álcool, constituindo a solução alcoólica de
isossulfocianato de alilo, impropriamente conhecida por tintura de mostarda. As cataplasmas não
devem ser feitas com água excessivamente quente, porquanto esta destroi o fermento existente na
farinha de mostarda (mirosinase), responsável pela hidrólise do sinigrosídeo, tornando-se activo
como rubefaciente.
Muitas vezes a aplicação da mostarda chega a originar vesículas, representando um dos
exemplos de uma droga simultaneamente rubefaciente e vesicatória, a que atrás aludimos.
A terebintina é utilizada sob a forma de essência de terebintina em alguns linimentos. Utilizou-
se, também, por via injectável, na prática dos abcessos de fixação, introduzida em 1900 por FOCHIER.
O pimentão tem-se utilizado em tinturas que se aplicam por pincelagem na pele. O mesmo
processo é empregado para a aplicação da solução alcoólica de iodo, que popularmente é conhecida
por tintura de iodo. O algodão iodado constitui também uma preparação que se utili/a como
rubefaciente.
A cânfora é utilizada como revulsiva em alguns medicamentos, como a água amónío-canforada
ou água sedativa, vários linimentos, como o linimento amoniacal--canforado, o de sabão com ópio, o
opodeldoque e, ainda, diversas pomadas. Faz também parte da composição da água de DALIBOUR
que, como já vimos, é uma solu-Çào aquosa contendo sulfato de cobre e de zinco.
O salïcilaío de metilo e o mentol empregam-se muitas vezes associados, em pomadas
rubefacientes, como o bálsamo analgésico. O salicilato de metilo é também muito utilizado em
cataplasmas contendo, como excipiente, o caulino, as quais são designadas, habitualmente, por
antiflogistinas.
A amónia é dos revulsivos mais utilizados, quer em solução aquosa, a 10-20%, quer sob a
forma de linimento.
4.1.2.2. Vesicantes
Utilizam-se para dominar formas mais intensas de dor e de inflamação, como nas pleurisias,
pericardites e ciática.
Entre os vesicantes poderemos citar as cantáridas, o ácido acético e, em determinadas
condições, a mostarda e o iodo.
451
As cantáridas actuam pelo seu princípio activo — a cantaridina —, podendo ser aplicadas em
tinturas (alcoólicas, acetónicas, aceto-etéreas e clorofórmicas), sinapismos, unguentos e emplastros.
Trata-se de mcdicamcnlos altamente vesicalórios cujo emprego deve ser cuidadosamente controlado,
havendo diversas contra-indicações para o seu uso, como a glomerulonefrite.
Algumas vezes, na preparação da tintura de cantáridas, associa-se ao líquido extractor o ácido
acétido, o que, além de exacerbar a actividade vesicatória, promove um maior rendimento extractivo
em cantaridina.
Ao lado dos fármacos citados como revttlsivos não queremos deixar de fazer referência aos
irritantes com propriedades esclerosanies, embora não possam considerar--se como lópicos no
sentido estricto do termo. Trata-se de drogas capazes de alterar as células mas que não destroem
grande número delas no local da sua aplicação. Tais agentes promovem o aparecimento de fibrose e
actuando sobre a íntima dos vasos sanguíneos procedem à sua «decapagem» o que leva a que
apresentem certo interesse na redução de varicoses e hemorroidal. A quinina associada à ureia é dos
esclerosantes mais usados, já que o alcalóide irrita localmente o tecido e desenvolve uma acção
anestésica local que diminui a dor da injecção e a ureia promove a desnaturação das proteínas que
representa o estímulo primário para a esclerose.
O morruato de sódio (solução estéril dos ácidos gordos do óleo de fígado de bacalhau sob a
forma sódica) c o sulfato de sódio e tetradecilo são também dois agentes esclerosantes com certo
interesse.
4.1.3. QUERATOPLASTICOS
São medicamentos que intensificam a queratínízação dos epítélíos promovendo, por isso, a
regeneração da camada córnea (Sfratum corne um) que corresponde á zona celular mais externa da
pele. As células dessa zona não possuem, geralmente, núcleo e encontram-se repletas de queratina. A
sua espessura varia nas diferentes partes do corpo, podendo considerar-se como mais espessas as
correspondentes às palmas da mão e plantas dos pés (de 0,5 a 0,6 mm). Em contrapartida, é
particularmente delgada a camada córnea da cara.
Este facto tem alguma importância na formulação de cremes e pomadas dérmicas, já que a
penetração dos medicamentos e a sua actuação no local exacto dependem, cm grande parte, da
espessura do Sfratum corneum.
Tem-se verificado que a ausência de vitamina A no regime alimentar do indivíduo pode levar à
queratinização anormal do seu epitélio cutâneo. Do mesmo modo, está demonstrado que dietas
pobres em vitamina C e vitaminas do complexo B alteram a histologia do epitélio cutâneo.
Os queraloplásticos actuam quer por estimulação da actividade das células do corpo mucoso
de Malpighi, quer por asfixia das células superficiais do epitélio. No
452
primeiro caso, a estimulação celular origina uma renovação do epitélio até à superfície, provocando
a queratinização. Os queratoplásticos que actuam deste modo tomam o nome de celulares. No
segundo caso diminuem o consumo de oxigénio das células do epitélio pela acção de compostos
redutores, o que provoca também a queratini/ação. A este último tipo de queratoplásticos é dada a
designação de redutores.
O grupo dos queraloplásticos redutores está largamente representado. Pode dizer-se que o
grau de redução provocado c variável, sendo vulgar classifieá-los em subgrupos, por ordem
crescente daquela propriedade.
;>:
4.1.4. QUERATOLITICOS * " •'•'**
fiu:>^
4.1.5. CÁUSTICOS
4.1.6. PROTECTORES
Consideraremos sob esta rubrica os medicamentos cuja função é proteger os tecidos sobre que
se aplicam. A sua acção pode exercer-se em relação a simples causas mecânicas, como evitar o
contacto de uma ferida com a roupa, ou proteger dada zona
455
Trata-se de um grupo de compostos que não sofrem alteração química apreciável no tubo
digestivo e que não são absorvidos sistemicamente. Actuam pelas suas propriedades adsorventes,
como o caulino e a atapulgite, que fixam apreciável quantidade de microrganismos intestinais e suas
toxinas. Podem ainda reter gases, como acontece com o carvão activado que adsorve, quando seco,
gases, como o amoníaco, óxido nitroso, e dióxido de carbono, oxigénio, nitrogénio, cloro, etc.
Entretanto, é de notar que o carvão activado humedecido perde esta propriedade, pelo que pode
considerar-se irracional a sua utilização para fixar os «gases do estômago». Por último, podemos
considerar neste grupo as substâncias, como o subnitrato de bismuto, que desempenham funções
protectoras da mucosa gástrica e duodenal, dado que formam uma película isolante, a qual funciona
como uma espécie de penso. Estes compostos, acessoriamente, possuem poder adstringente e anti-
ácido.
Os silicones (dimeticonc ou simcticone), quando administrados per os, auxiliam a expulsão dos
gases do tracto digestivo porquanto, em virtude da sua hidrorrepelência, levam à formação de
bolhas gasosas que são eliminadas através de eruptos.
Consideraremos como tópicos anti-sépticos aqueles que destroem bactérias e fungos ou inibem
a sua proliferação nas mucosas, pele, couro cabeludo, unhas, etc.
Nas infecções bacterianas empregam-se diversos fármacos, como a iodocloro--hidroxiquinoleína
(Viofórmio). sob a forma de pomadas; utilizam-se ainda certos antibióticos, como as tetraciclinas,
bacitracina, cloranfenicol, geralmente em pomadas epidérmicas.
Nas infecções fúngicas recorre-se ao ácido undecilénico, deidro-undecilénico, tol-naftato,
nistacina, etc. Estas substâncias são empregadas em pomadas gordas ou com excipientes contendo
polietilenoglicóis, cuja penetração não é habitualmente muito profunda. Empregam-se também
soluções em polietilenoglicol 400 (o tolnaftato é usado em solução a 1% em PEG 400).
Os parasiticidas são utilizados para combater as infestações por vários parasitas. Entre eles
lembramos os anti-escabiótícos, que inibem ou destroem os ácaros da sarna. O enxofre e o benzoato
de benzilo, são, dos fármacos pertencentes a este tipo, os mais
457
utilizados. A sua penetração cutânea deve ser profunda, sem que, porém, se atinja a absorção
sistémica. O hexaclorociclohexano também é um parasiticida poderoso, mas como é muito tóxico o
seu uso restringe-se à medicina veterinária.
. BIBLIOGRAFIA :.
4.2.1. ABSORÇÃO
O meio interno do organismo, no sentido em que o considerava CLAUDE BERNARD, é constituído^ pelo
sangue, linfa circulante e líquidos extravasculares. Estes últimos são, por seu turno, o conjunto dos
líquidos intercelulares ou líquidos lacunares do tecido conjuntivo e dos líquidos intracelulares, que
correspondem à parte citoplas-mática. De uma maneira geral, as suas quantidades relativas, no
homem adulto, são as seguintes:
Considera-se que um dado medicamento foi absorvido quando após a sua administração o
fármaco ou fármacos componentes passaram para a corrente circulatória (sangue e linfa). Claramente
que este objectivo pode conseguir-se por meios naturais, como a absorção através da mucosa do
tracto gastro-intestinal, ou forçando a barreira cutânea, como acontece na administração de
medicamentos por via injectável.
Ao dar-se a penetração do medicamento no organismo, o fármaco ou fármacos responsáveis
pela acção daquele tendem, portanto, a passar à corrente sanguínea (fase de absorção),
distribuindo-se, depois, pêlos diversos tecidos e órgãos (fase de distribuição) e passando, por último,
novamente, à corrente sanguínea de onde são eliminados pêlos emunctórios naturais,
especialmente através da urina (fase de eliminação).
Em regra, o fármaco logo que se distribui sofre determinadas transformações, as mais das
vezes a nível hepático, delas resultando metabolismos vários, os quais são posteriormente
eliminados. Assim, uma apreciável percentagem do fármaco absorvido é, geralmente, eliminada sob
a forma de metabolitos, havendo, porém, certa excreção do fármaco não metabolizado, isto é,
correspondente à sua forma inicial.
O estudo dos fenómenos envolvidos na cinética da absorção, distribuição, meta-bolização e
eliminação dos fármacos toma o nome de farmacocinética. Este campo dos conhecimentos permite
quantificar o valor das relações entre as propriedades físico-químicas dos fármacos, a sua forma de
administração e os efeitos biológicos observados.
O efeito medicamentoso dos fármacos desenvolve-se a nível celular dos diversos tecidos
sobre os quais se distribuem, designando-se por fase farmacodinâmica essa actuação.
459
O esquema representado (Fig. 202) mostra as diversas fases por que passa um medicamento no
organismo, desde a sua administração até à realização do efeito farmacológico pretendido.
Faoe
Farns-
FATMCO !ÍTr« —^
ooMbtaado Piucção
no r*o*]itoc
4.
Local de K. K 3 Medicamento
Medicamento na cor- excretado pelo rim
absorção do rente circulatória
-
medicamento Medicamento
excretado por outros
emunctórios
Medicamento nos lí- Medicamento que
quidos inter e in- sofre
tracelulares biotransfor-
mação
Do que ficou dito pode concluir-se que a substância medicamentosa administrada terá que
atravessar uma ou mais membranas semipermeãveis até que atinja o local de actuação. A sua
possibilidade ou impossibilidade de penetração através dessas membranas condiciona, como é
evidente, a via de administração a eleger e também a distribuição e acumulação do
medicamento nos diferentes tecidos.
Fala-se, assim, em biodisponibilidade medicamentosa entendendo-se como tal a capacidade
com que o fármaco, veiculado em determinado medicamento, desempenhará as suas acções, sejam
elas meramente superficais (tópicas ou locais) ou envolvam absorção, com subsequente
distribuição, metabolízação e eliminação ('). E evidente que estamos aqui a considerar um conceito
lato da biodisponibilidade, pois esta, na maioria das vezes, apenas é relacionada com a absorção.
As membranas semipermeáveis do organismo são de natureza lipoproteica, admi
tindo-se que possuem colesterol, fosfolípidos, trigliceridos e ácidos gordos como com
ponentes lipóides distribuídos em duas camadas, e proteínas que formam uma única
camada com propriedades polares. =«*
wwm*
Estas membranas têm três qualidades fundamentais: a) Apresentam pequena tensão
superficial; b) são preferentemente atravessadas por substâncias dotadas de lipossolubilidade; c)
exibem alta resistência eléctrica.
(') O conceito de biodisponibilidade foi considerado pela primeira vez em 1954 por OSER et ai. a
propósito de vitaminas hidrossolúveis. Mais tarde CAMPBKLL e a sua equipa (1954) continuaram o estudo
empreendido admitindo que um dado medicamento era eficaz se pelo menos 70% da quantidade total
do fármaco era biodisponível.
461
A penetrabilidade dos fármacos através das membranas biológicas depende, em larga medida,
da solubilidade daqueles. Os compostos com baixo coeficiente de partilha óleo/água são dotados de
fraco poder de penetração o qual vai aumentando à medida que cresce a lipossolubilidade em relação
à hidrossolubilidade da substância. Demonstrou-se, também, que as substâncias insolúveis nos
lípidos, mas de pequeno peso molecular, como a ureia e a água, são dotadas de excelente
penetrabilidade. Estes factos mostram que as membranas semipermeáveis funcionam como barreiras
lipídicas, que de onde em onde são interrompidas por pequenos canais ou poros, visíveis ao
microcópio electrónico, os quais são permeáveis à água e a certos iões e moléculas pouco volumosas.
A composição e selectividade das diversas membranas é muito variável, podendo apontar-se que
a barreira hemato-encefálica (sangue-encéfalo) só permite a passagem de compostos altamente
oleossolúveis, enquanto que as dos capilares intestinais, que são muito porosas, permitem,
inclusivamente, a penetração de compostos óleo-insolúveis de elevado peso molecular.
O transporte dos medicamentos através das membranas biológicas pode efectuar-se por dois
mecanismos diferentes, designados por transporte passivo e transporte activo.
Muitas das substâncias medicamentosas são transportadas através das membranas por simples
difusão. Fundamentalmente, este processo, que também é fisiológico, con-sisle num movimento da
região de maior concentração para a de menor concentração, baseado cm diferenças de pressão
osmótica. (Fig. 204).
462
Concentraçã Concentraçã
o elevada o baixa
Membran
a
Solvente Solvente
A expressão matemática que traduz a lei enunciada pode escrever-se do seguinte modo:
dm de
——— ^-KA
dx
directamente proporcional à diferença de concentração das soluções nos dois lados daquela (de), e
inversamente proporcional à espessura da membrana (dx). K é o coeficiente de difusão.
Desde que a velocidade de difusão dos medicamentos é proporcional à sua concentração no
local de administração, o processo equivale, fundamentalmente, a uma reacção de primeira ordem.
No esquema dado na pág. 460 os valores de Ka. Kr K2, K , K4 e K são, portanto, velocidades
específicas de reacções de primeira ordem, o que mostra serem aplicáveis à eliminação ou às
biotransformações as considerações agora feitas.
Compreende-se, também, que para as substâncias dissolvidas que não possuem o poder de
atravessar as membranas biológicas, o equilíbrio só se possa estabelecer à custa do trânsito de
água, o qual se fará da solução mais diluída para a mais concentrada. É baseado nesta propriedade
que se empregam vários purgantes salinos (purgantes osmóticos), cujos constituintes, não
atravessando as membranas do tracto gastro-intes-tinal, provocam uma chamada de água tissular,
o que dilui o conteúdo fecal.
O coeficiente de difusão (K) pode calcular-se por meio da fórmula de EINSTEIN--STOKES que
mostra que aquela grandeza é directamente proporcional à constante dos
463
gases perfeitos (R = 8,314 x IO7 crg. grau ' mole ') e à temperatura absoluta (T) a que se opera, e
inversamente proporcional ao raio (r) das partículas em que o larmaeo se encontra dividido, à
viscosidade do meio t[, ao número de Avogadro (N = 6,02 x l (F) e a seis vezes o valor de rc (7T =
3,14):
RT
6nrr\ N
Pelo que se disse é compreensível admitir que, de um modo geral, a absorção por difusão
passiva seja tanto mais intensa quanto maior for a temperatura do pacienle (em regra é mais fácil a
absorção no indivíduo febril do que no indivíduo normal) e quanto mais dividido estiver o fármaco e
mais diminuía for a viscosidade do meio cm que aquele se administra.
Entretanto, cm meio aquoso simples os fármacos solúveis exibem coeficientes de difusão que
diferem muito pouco entre si, pois apenas variam com a raiz cúbica do seu peso molecular. Isto
significa que, intrinsecamente, grandes variações de peso molecular e configuração das moléculas se
traduzem em variações mínimas do valor de K. Segundo HUSSAIN, pode adoptar-se como valor
aproximado do coeficiente de difusão da maioria das moléculas dissolvidas em água o número 9,0 x
I O 6 cm2.s '.
Para o cálculo do oeficiente de difusão de compostos dissolvidos em água aceita--se uma
modificação da fórmula de EINSTEIN-STOKHS que considera o peso molecular do soluto em causa e o seu
volume específico (V), ou seja, o número de cm' ocupado por l g:
RT RT 3 / 4 TT N
K = —————— - ——————— X V —————
6 -n- r T;N 6^N 3 M V
Estes valores de coeficiente de difusão dos compostos solúveis em água são bem mais elevados
dos que os que se encontram em suspensões oleosas injectáveis ou em pomadas.
Um de nós, trabalhando com cremes de dexametasona, encontrou o coeficiente de difusão de
0,15 x 10 l2 cm2.s~' para o esteróide. Da mesma forma, e apreciando a biodisponibilidade da
acedapsona em injectáveis oleosos (óleo de rícino + benzoato de bcnzilo) pôde determinar para a
substância um valor de K igual a 0,28 x IO" 12 cm2.s~'.
BRODIE e colaboradores, desenvolvendo a teoria de OVERTON sobre o coeficiente de partilha
óleo/água, aventaram uma sugestiva hipótese para explicar melhor o fenómeno do transporte
passivo dos medicamentos, especialmente através do epitélio gastro-intes-tinal. Efectivamente, este
epitélio actua como uma barreira lipídica (na realidade, lipo-proteica), susceptível de ser
atravessada, facilmente, pelas substâncias lipossolúveis e de difícil penetração para os compostos
lipo-insolúveís. De uma maneira geral, as substâncias não ionizáveis são lipossolúveis, enquanto
que as ionizáveis o não são. Ora, muitos dos medicamentos utilizados são ácidos fracos ou bases
fracas, cujas moléculas existirão, em solução, em parte ionizadas e em parte indissociadas. É
evidente que a predominância de uma destas formas sobre a outra está dependente do pH do meio e
da constante de dissociação do composto em causa, não se devendo esquecer que só as formas não
dissociadas são dotadas de boa penetrabilidade através da barreira lipídica da mucosa gastro-
intestinal. Nestas circunstâncias, é possível aumentar a taxa de absorção de um ácido ou de uma
base fraca por ajustamento apropriado do pH. Assim, sempre que o pH diminui, aumenta a
concentração da forma não dissociada do ácido fraco, aumentando também a respectiva taxa de
absorção gastro-intestinal. O mesmo efeito será obtido quando se aumente o pH, no caso do
medicamento ser constituído por uma base fraca.
Como é sabido, há uma relação directa ente pH e pKa para os ácidos e bases, a qual se
expressa do seguinte modo:
Em termos práticos isto significa que pH = pKa sempre que haja 50% de ionização. Por outro
lado, está bem determinado que as condições mais favoráveis para absorção de ácidos fracos se
observam quando o pKa é < 3, sendo > 7,8 o pKa óptimo para a absorção de bases fracas.
O ácido salicílico, por exemplo, é bem absorvido no estômago, uma vez que o seu pka é de 3 e
os valores do pH do plasma e do suco gástrico são, respectivamente, d<
465
7,4 e de l a 3,5. Com efeito, a pH 2, cerca de 91% do ácido salicílico encontra-se indissociado, e,
portanto, em condições óptimas para o seu transporte passivo, A pH 5 somente 1% do ácido
salicílico se não dissocia, o que mostra quanto é imprópria esta acidez para efeitos de absorção.
Quando os fármacos sofrem dissociação, a sua distribuição nos líquidos do organismo é
fortemente influenciada pelo pH. A atropina, por exemplo, que é fracamente absorvida pelo
estômago, é bem assimilada pela mucosa intestinal, sendo, porém, transportada de novo do plasma
para o estômago, onde é sempre detectável enquanto permanece no organismo. Esta excreção do
plasma para o suco gástrico é explicável pela influência que o pH exerce no equilíbrio de
distribuição dos medicamentos. Efectivamente, o pKa da atropina é de 9,65, podendo, portanto, a
sua forma não dissociada existente no plasma transitar para o estômago.
A Tabela XLII indica os valores de pKa de alguns ácidos e bases medicamentosas, a 25°C.
. ' . . . . , • . .
Considerações análogas às referidas a propósito da atropina podem ser feitas para várias
substâncias medicamentosas que sendo absorvidas de um dado ponto da mucosa gastro-intestinal
para o sangue são excretadas noutro local do tracto gastro-intestinal.
Na Tabela XLIII indicam-se quocientes entre a concentração do fármaco ionizado e não
ionizado, considerando-se uma base fraca como a antipirina, e as relações entre a forma não
ionizada e ionizada de ácidos fracos, como o ácido acetilsaücílico e o barbital, em função do pH.
466
Não é somente, porem, o grau de ionização das moléculas medicamentosas que afecta a
absorção gastro-intestinal. Como já referimos, é necessário que a forma não •iis.sociada seja
oleossolúvel, ou, melhor, que o seu coeficiente de partilha óleo/água seja elevado.
Muitas vezes, verifica-.se apenas a solubilidade relativa de um fármaco num dissolvente dos
óleos, como o clorofórmio, e na água. Na Tabela X L I V indicamos as variações da absorção de
barbitúricos pelo cólon do rato em função do coeficiente de partilha dessas substâncias em
clorofórmio/água. Como todos os barbitúricos mencionados apresentam constantes de dissociação
muito semelhantes, o diferente grau de absorção obtido apenas se pode relacionar com o respectivo
coeficiente de partilha.
formando complexos e permanecendo, cm parte, também, no estado livre. Somente passa do plasma
para os tecidos o fármaco livre, nào apresentando o poder de transpor as paredes capilares a fornia
de complexo proteico. Daqui se compreende a relativa ineficácia de vários medicamentos que ficam,
assim, impossibilitados de atingirem o local dos tecidos em que desempenham a sua acção
farmacológica. As sulfamidas e as tetraciclinas^ por exemplo, só são activas sob a forma difusível,
isto é, quando se não encontram em ligação com as proteínas plasmáticas. Deste modo, c embora
possam localizar-se no sangue em elevada concentração, o facto não significa, obviamente, que
exerçam a esperada acção farmacológica. Na realidade, uma vê/ que estão ligadas a proteínas, tudo
dependerá da extensão da mencionada combinação e da concentração da sua forma livre.
De uma maneira geral, os fármacos podem unir-se às proteínas plasmátieas formando
verdadeiros adsorbatos, segundo a isotérmica de FREUNDUCH. No caso das sulfamidas, pode
expressar-se o fenómeno pela seguinte equação, em que C} é a concentração do fármaco sob a forma
de complexo proteico, C{ c a concentração do fármaco no estado livre e A" e a são constantes
características de cada sulfamida:
CP=Kq
Ao lado dos tipos de transporte de que falámos pode citar-se a pinocitose, género de fagocitose
que é caracterizada pelo englobamento das substâncias através dos movimentos das membranas, que
formariam invaginações e vesículas, com subsequente libertação.
Certas quantidades residuais de proteínas, algumas macromoléculas de outro tipo e gotículas
lipídicas podem ser transportadas por este processo. Muito provavelmente a vacina Sabin oral é
absorvida por pinocitose.
Enire os factos curiosos relatados a propósito da fagocitose, conta-se que, ao fim de 6 a 14
dias da administração subcutânea de oxitetraciclina, se observaram cristais de antibiótico nos
polimorfonucleares e monócitos, o que explicaria uma certa acção prolongada e também uma
excelente distribuição para os tecidos infectados, já que a
470
tetraciclina era transportada pêlos elementos naturais de defesa do organismo. Pena é que com
muitos outros antibióticos tal não ocorra, pois entre as limitações vulgares destes compostos figura
a sua dificuldade de difusão no pus.
Quando um fármaco penetra no organismo sofrerá uma certa distribuição que é dependente do
sangue e da linfa circulantes. Essa distribuição pêlos líquidos inter e intracelulares, pêlos tecidos,
glândulas e órgãos nunca é equitativa. Nào se pode, pois, falar num verdadeiro equilíbrio de
distribuição. Efectivamente, o corpo humano pode ser considerado como constituído por milhões de
microcompartimentos, diferenciáveis entre si por diversas características. Como já vimos, o
transporte medicamentoso ocorre sucessivamente em cada dois desses compartimentos, separados
por membranas semi-permeáveis. Nessas circunstâncias, não se pode esperar igual distribuição em
todos os locais do organismo, já que eles diferem consoante a natureza do tecido constituinte. Assim,
a distribuição para o fígado é forçosamente diferente da que se verifica para os pulmões ou para os
tecidos conectivos, etc. Daqui resulta também a diversa capacidade de fixação do fãrmaco pêlos
tecidos que apresentam, igualmente, variável capacidade de metabolização, diferentes receptores,
etc.
Com efeito, as propriedades físico-químicas dos fármacos, designadamente as suas
características de solubilidade, condicionam a fixação em dado tecido. É o que acontece com os
anestésicos e hipnóticos que têm particular afinidade pelas fibras nervosas mas que podem depois
fixar-se no tecido adiposo, como sucede ao penlobarbilal ou ao pentotal, respectivamente de acção
hipnótica curta e ultra-curta.
Os digitálicos fixam-se preferencialmente a nível do miocárdio e a maioria dos alcalóides
escolhe o parênquima hepático. Os arsenicais têm especial tendência para se depositarem nos pêlos,
os compostos de bismuto para se fixarem nas mucosas das gengivas, certas penicilinas, como a
nafcilina, têm afinidade para a bílis e vesícula biliar, as tetraciclinas para os ossos e dentes, etc.
Em alguns casos a distribuição é muito deficiente para determinados tecidos, pois há
membranas extremamente selectivas que se opõem à passagem de fármacos com fraca
lipossolubilidade, o que acontece por muitas vezes estes se terem ionizado no sangue. Entre essas
membranas temos a do sangue-encéfalo ou barreira hemato-en-cefálica que só se deixa atravessar
por compostos com elevado coeficiente de partilha lipídeos/água. É por essa razão que muitas vezes
tem de se recorrer à via intrarraquídea, apesar de ser incómoda e perigosa. Entretanto, os
investigadores procuram melhorar os seus compostos introduzindo-lhes radicais que lhes permitam
franquear a barreira hemato-encefálica. A ampicilina, por exemplo, só com muita dificuldade
franqueia a citada membrana que é, porém, levemente mais permeável à amoxicilina.
471
W
C
Wi - Vt Vd =
-—————
Ct
Suponhamos, por exemplo, que um doente tinha recebido por injecção endovenosa l g de
determinado fármaco. Ao fim de 4 horas da administração encontraram-se na
472
sua urina total 0,40 g de fármaco e a determinação da concentração plasmática revelou o valor de
0,03 mg/ml. Logo, o valor do volume aparente de distribuição será:
1000 mg-400 mg
Vd = —————————————— - 20 000 ml 0,03 mg . ml '
Vd
V% = —— x 100
em que P é o peso do indivíduo em g. Se, nesta expressão, substituirmos Vd pelo seu valor, dado pela
equação citada na página anterior, teremos:
W
y% x p = —— x
C
Esta última equação permite determinar a quantidade de substância activa necessária para que
se atinja a concentração plasmática desejada. Efectivamente, suponhamos que um fármaco
apresentava um volume de distribuição de 20%. Se com esse fármaco carecêssemos de uma
concentração plasmática de 0,1 mg/ml, teríamos, num paciente de 60 kg
V% - 2 0
W
C = 0,1 2 0x6 000 0- —— x 100, donde W= 1200 mg
0,1
p = 60 000 g
pelo que a quantidade de substância medicamentosa a administrar deveria ser de 1200 mg.
A eliminação de um fármaco do organismo pode fazer-se por diversas vias, como a pele,
pulmões, rins e intestino grosso. Acessoriamente, vários medicamentos são eliminados por duas ou
mais destas vias. De uma maneira geral, as substâncias deficientemente absorvidas por via gastro-
intestinal sào excretadas pelas fezes, se. bem que existam numerosas excepções, como a verificada
com a cloropromazina que, sendo bem absorvida, é, apesar disso, eliminada pelo intestino grosso.
A eliminação de fármacos pela pele é também de considerar, especialmente nos climas quentes
em que o suor é mais abundante. Tudo leva a crer que só são excretados por essa via compostos não
ionizados, já que é lipídica a natureza das membranas das glândulas sudoríparas. A vitamina C é
um dos produtos que pode ser assim excretado, talvez se explicando deste modo certas deficiências
de ácido ascórbico encontradas em indivíduos que habitam em regiões tropicais.
Os pulmões, por seu turno, constituem uma boa via de eliminação para as substâncias voláteis,
como o clorofórmio, o éter, as essências e o etanol.
São, contudo, os rins os principais emunctórios dos medicamentos.
A unidade funcional do rim é o tiefrão, pequeníssimo órgão cujo número em cada rim é da
ordem de um milhão. O nefrão é constituído pelo corpúsculo de Malpighi e pelo túbulo (ou tubo
renal).
O corpúsculo de Malpighi consta de um glomérulo, unidade filtrante que deixa passar
cristalóides mas não colóides, ligado a duas arteríolas, uma aferente e outra eferente, e da cápsula
de Bowman que é o extremo do túbulo.
Cada túbulo tem os seguintes segmentos: Tubo proximal, ligado ao glomérulo; ansa de Henle
(com um ramo descendente, um segmento delgado e um ramo ascendente); tubo distai; tubo colector
que conduz a urina aos condutos de Bcllini (Fig. 205).
474
O glomérulo recebe o plasma o qual é filtrado, com excepção das proleínas que se
mantêm, já que se trata de um verdadeiro ultrafiltrado. Ao nível dos túbulos renais são
reabsorvidos selectivamente os diversos produtos e por eles são eliminados oulros existentes no
plasma, ou compostos novos formados no epitélio renal. Assim, o rim
mantém ou restaura o volume rena! dos líquidos do
organismo, bem como a concentração das substâncias
existentes nos mesmos, particularmente os electrólitos.
A filtração glomerular é feita a nível do endotélio
capilar e do epitélio capsular, mediante uma pressão
que é igual à pressão sanguínea (derivada do trabalho
cardíaco) que no gloméruto é de 75 mm de Hg menos a
pressão coloidosmótica ou oncótica exercida pelas
proteínas do plasma (25 mm de Hg), a qual se opõe à
primeira por tender a reter o líquido nos capilares. Na
realidade, portanto, a pressão efectiva de filtração é de 75
- 25 = 50 mm de Hg.
Nos glomérulos são filtrados cerca de 125 ml de
Fig. 205. plasma por minuto, embora no mesmo
tempo passem pelo rim cerca de 700 ml de plasma. O
volume filtrado depende da pressão glomerular (variável em função da pressão arterial, tonos das
arteríolas, etc.), da pressão oncótica, do caudal circulatório renal e da pressão na cápsula de
Bowman. A nível dos túbulos dá-se, como dissemos, a reabsorção, principalmente de água, glicose,
sódio, potássio, ião cloreto, ião bicarbonato e ureia. Este processo é selectivo e destina-se a manter
constante a composição do sangue (homeostase).
O mecanismo de reabsorção é feito por difusão passiva e também por transporte activo. No
tubo proximal reabsorve-se glucose e potássio (transporte activo), sódio ë água (± 85%), cloreto,
fosfato e bircarbonato-ião. No tubo distai reabsorve-se essencialmente o sódio (transporte activo por
«bomba de sódio»), ião cloreto, ião bicarbonato e água (± 14%).
A reabsorção do sódio no tubo distai é regulada pela aldosterona, hormona do córtex que
estimula a retenção daquele ião. A formação de aldosterona depende da estimulação exercida pela
angiotensina que se forma à custa de renina. A renina é uma proteína, enzima proteolítica, formada
nas células juxtaglomeruhres, que actua sobre uma globulina — angiotensiogénio — que existe no
plasma sanguíneo. A partir dela produz-se a angiotensina I e angiotensina II, esta última um potente
vasoconstritor e hipertensor.
A zona juxtaglomerular reage com muita sensibilidade às modificações de pressão arterial e,
assim, uma queda de tensão, ou, melhor, uma diminuição do volume de
475
O rim é o regulador do equilíbrio ácido-base do organismo, função que desempenha por três
processos: mecanismo bicarbonato, mecanismo fosfato e formação de NH3. O mecanismo
bicarbonato c conservador da reserva alcalina do sangue, enquanto os dois restantes são
regeneradores da mesma.
Para que os citados mecanismos se ponham em acção carecem de um processo prévio que é a
formação de H?CO, a partir de CO, e H2O, a nível dos túbulos renais e por intervenção da anidrase
carbónica (forma-se nas células dos túbulos). O ácido carbónico dissocia-se imediatamente
originando H+ e CO.,H~, sendo o hidrogénio segregado pelo túbulo onde se troca por Na+ que
penetra nas células. Neste primeiro intercâmbio, o K+ compete com o H+ para o sódio, de modo que
a excreção do K+ é favorecida em estados de alcalose enquanto que na acidose (excesso de iões
hidrogénio) está praticamente inibida, desaparecendo da urina. Inversamente, a falta de ião
potássio leva a um estado de alcalose (por facilitar a eliminação de hidrogénio), enquanto que o seu
excesso reduz a excreção de H+ e provoca acidose.
A formação da urina principia, como se disse, com a filtração passiva do sangue arterial ao
nível do glomérulo. As drogas excretadas passivamente podem, contudo, sofrer apreciável
reabsorção nos túbulos (Fig. 206) se o seu coeficiente de partilha óleo/ água não for baixo. Do
mesmo modo, a reabsorção tubular dos fármacos ionizáveis
A. filtração glomerular do plasma e de fármacos
de baixo peso molecular; B. secreção
activa de ácidos orgânicos; C. secreção activa
de bases orgânicas; D. reabsorção passiva de
fármacos não ionizáveis,
solúveis nos lipídeos; E.
excreção urinária.
Como atrás referimos, os fármacos podem ser eliminados do sangue quer sob a forma integral,
quer no estado de metabolitos. O fígado e outros órgãos e tecidos efectuam frequentes modificações,
acetilando, desanimando, conjugando, oxidando, hidrolisando, etc. os vários fármacos que, em regra,
se tornam menos tóxicos do que inicialmente. Em termos práticos pode dizer-se que as passagens
pelo fígado podem inactivar ou diminuir a potência de muitos fármacos. A levodopa, por exemplo,
administrada por via oral e depois da primeira passagem pelo fígado, apresenta uma actividade
inferior à exibida por via intravenosa. Entre os diversos tipos de metabolização que se encontram
nos fármacos lembremos que a fenacetina ou /?-acetofenetidina se transforma em paracetamoi, o
qual representa um metabolito comum, também, à ace-tanilida; a aspirina ou ácido acetilsalicílico
origina ácidos acético e salicílico; as peni-cilinas são parcialmente transformadas em ácidos
penicilóicos; o diazepam, fármaco ansiolítico, é hidroxilado a oxazepam e sob esta forma combinado
com o ácido gli-curónico; etc. Algumas vezes sucede mesmo que uma droga, intrinsecamente
inactiva, produz um efeito farmacológico após metabolização. E o que sucede com a imipramina
(pró-fármaco) que é desmetilada no organismo humano e ao transformar-se em nor-imi-pramina
passa a apresentar propriedades anti-depressivas.
Nem todas as substâncias, como é lógico, se eliminam com a mesma velocidade. Essa
velocidade específica de eliminação dependerá, naturalmente, do volume de distribuição do produto
e do seu índia1 de depuração plasmática (1DP), isto é, como já é hábito referir, da sua «clearance».
Tal propriedade pode definir-se como o volume de plasma que, em um minuto, se liberta da
quantidade de substância (fármaco, alimento, veneno, metabolito) excretada no mesmo tempo.
A eliminação de um fármaco é afectada pêlos tipos de tecidos em que se distribui. Assim, a
administração endovenosa pode levar à rápida transferência do fármaco da corrente circulatória
para os tecidos extravasculares até se atingir o equilíbrio. Quando se dá a sua eliminação por via
renal, o fármaco terá de sofrer uma série de transferências, principiando por percorrer caminho
inverso, isto é, dos tecidos moles extravasculares para o sangue e, só depois, será excretado deste
para os líquidos tubulares. Habitualmente, a velocidade de transferência dos tecidos extravasculares
para o sangue é idêntica à velocidade de passagem do sangue para a urina.
Todavia, pode acontecer que a passagem dos tecidos extravasculares para o sangue seja mais
lenta do que a transferência deste para a urina. Acontecerá, assim, que a velocidade de eliminação
do medicamento desses tecidos profundos variará ao fim de certo tempo.
Usualmente, a taxa de transferência dum fármaco existente na corrente circulatória para os
rins pode expressar-se por uma equação de primeiro grau, já que a velocidade de eliminação é
proporcional à concentração:
de ~~dt~ =
KfC
477
don
Kt
hg C =log C,———— (1) 2,303
2,303
K
2,303
sendo Kf a velocidade específica de eliminação, que neste caso é igual a 0,23 h"1, o que significa que
a taxa de teofilina excretada por hora, é de 23% da quantidade existente no organismo.
Após a administração oral da mesma quantidade de teofilina, observa-se que a absorção
principia antes de uma hora, atingindo-se a concentração plasmática máxima decorridas cerca de
4,5 horas. Nota-se ainda que a concentração plasmática máxima subsequente à administração oral
de 0,5 g do fármaco é inferior à conseguida com a injecção endovenosa da mesma quantidade de
teofilina. Observa-se, por úllimo, que a
478
eliminação medicamentosa se processa segundo uma recta quase paralela à que traduz
a eliminação subsequente à administração endovenosa.
Para o caso dos injectáveis endovenosos, o valor de C é dado praticamente pela
quantidade administrada. Para os medicamentos administrados por via oral o valor de
Co poderá ser calculado por extrapolação gráfica
da respectiva curva.
Se, considerando ainda a equação de eliminação
atrás referida, pretendermos determinar qual o período
de tempo necessário para que dada concentração
plasmática se reduza a metade, teremos definido, como
é evidente, o período de semivida biológica do fármaco.
Nestas circunstâncias, o período de semivida
biológica (t 2 ou tfl 5) de um fármaco será dado pela
expressão
o
0,693 K (2)
tão prática para avaliar a
velocidade de eliminação, uma vez que seja conhecido o
0 2 4 6
8 tempo necessário para que uma dada concentração
Tempo (horas) plasmática de fármaco se reduza a metade.
Fig. 207. Relação entre os Como é evidente, o t pode exprimir-se
logaritmos das concentrações de outra forma, isto é, em função do volume de
plasmáticas de teofilina (via oral
e endovenosa) e os tempos de eliminação distribuição e do índice de Depuração
Segundo J. V. Swintosky — J. Am. Plasmática (IDP) ou «clearance»,
0,693 x Vd
ÍDP
j a que
IDP
K=
1/2
2,303 Co
K = ———— x h e ——
a O
C
480
C = Co 10~^'/2'mi ou, o
que é o mesmo,
Para a segunda dose injectada por via endovenosa, virá: C = Co + CoR, já que a
concentração então existente é a soma das concentrações remanescentes e a máxima concentração
atingida após essa segunda administração.
Como a concentração remanescente é C = CoR, a concentração máxima, depois da segunda
administração, uma vez que todo o fãrmaco tenha sido absorvido, será dada por:
C = C + Co ou C = Co
Cn = Co (l + R + R2 -f ......... /?"-')
ou,
CnR = Co (R + R2 + R* + ......... R")
que apenas difere da anterior por ter ambos os membros multiplicados por R. Subtraindo as
duas expressões finais, encontramos:
Co - CoR" Cn = ——
—————
l -R
Esta fórmula indica a concentração máxima obtida com a administração endovenosa repelida.
Admitindo um número de administrações muito elevado, n aproxima-se do infinito e como R é
menor do que a unidade, CoR" será igual a zero.
Virá então
Co
C , = ————— l - R
Por raciocínio análogo, aplicado à concentração mínima, teremos para a injecção endovenosa
repetida:
CoR C , =
—————
min.
l-R
483
Claramente que se o tármaco for administrado por outra via que não a endovenosa
r |. há que entrar em linh a de conta com o período de tempo necessário paru que se
j | verifique a absorção, isto é, com a velocidade de absorção.
\ í Admitindo que a absorção se processa também segundo uma equação de primeiro
grau e com velocidade idêntica à da eliminação, a concentração máxima obtida após
administração repetida, por uma via diferente da intravenosa, seria:
Co r
\-K
em que r = \(TKt ''2JO-\ sendo t' o lempo necessário para a absorção. Por esta fórmula
toma-se também evidente que a administração endovenosa origina sempre níveis san-
guíneos mais elevados.
Como consequência, infere-se, também, que a concenlação mínima obtida após
administração repetida dos fármacos por uma via diferente da endovenosa pode
achar-
-se mediante a fórmula referida para aquela via.
De um aitigo de DOLUISIO c SWINTOSKY retiramos um exemplo claro para se compreender
o modo como se determinam as concentrações plasmáticas máxima e mínima,
subsequentes à administração oral repelida de suffaefidol (SETD).
O fármaco em causa apresenta actividade bactericida, não atingindo ainda níveis
tóxicos quando se encontra numa concentração compreendida entre 5 a \5 mg por 100
ml de plasma. Quando se administra oralmente esta sulfamida, verifica-se que doses de
l g originam uma concentração inicial, calculada por extrapolação, de 7 mg por 100
ml de plasma. Quer isto di/er que Co ~ l mg%. Se consultarmos a Tabela XLVII, pág.
480, verificamos que o período de semivida biológica do fármaco é de 8 horas e que a
sua velocidade específica de eliminação é de Kc - 0,087 h\ Sabe-
-se também que, em comprimidos, o sulfaetidol leva, aproximadamente, duas horas a
ser absorvido (r' = 2h).
Se pensarmos em administrar o medicamento por via oral, repetindo cada admi-
nistração de 6 em 6 horas, o intervalo de tempo a considerar na eliminação, será / = 6
h.
Nestas circunstâncias, substituindo em R = ]0~*"'/2iWi l e K pêlos respectivos
valores (/ = 6 h e Kf = 0,087 h"1), vem R = 0,34. Por oulro lado, fa/cndo iguais
substituições em r = lO'^'72'01 ( r ' = 2 h e Kt, = 0,087 h/1), será r = 0,83.
Como Co = l mg %, a concentração máxima obtida neste regime terapêutico será:
Co r 7 x 0,83
C . - ———— - ——————— - 13 mg %
1-R 0,46
484
e a concentração mínima,
Co R 7 x 0,54
C . - ———— - ——————— - 8 mg %
""" l-R 0,46
BIBLIOGRAFIA
São muitas as vias de administração dos medicamentos e por isso na sua preparação deve ser
considerada a via a que se destinam e a finalidade que deles se pretende.
Os medicamentos podem ser aplicados na peie, nas mucosas como a faríngica, a
traqueopulmonar, a genilurinária e a conjuntiva; podem, ainda, ser destinados a aplicação na
mucosa bucal, gástrica, intestinal e rectal. Por último, a sua via de administração poderá ser a
parenteral, com as suas numerosas subdivisões (intravenosa, íntradérmica, subcutânea,
intramuscular, intrarraquídea, intraperitoneal, intrapleural, etc.).
Preferentemente, as superfícies cutânea, da faringe, da conjuntiva e geniturinária são utilizadas
para aplicação tópica, o que não quer dizer que não possam promover uma absorção medicamentosa
acidental ou propositada.
A via gastro-intestinal, mais particularmente a mucosa do intestino delgado, está especialmente
adaptada à absorção, mas, como já vimos, há numerosos medicamentos que nela podem actuar
apenas localmente.
Vários fármacos podem exercer uma acção tópica ou sistémica quando aplicados em certas
mucosas, dependendo o tipo de acção registado não só das duas propriedades como, também, das da
preparação sob que são utilizados. Assim, por exemplo, a absorção de uma pomada ocular de
atropina pode estar dependente da forma física do sistema em que se encontra, como dispersão
sólido/sólido ou dispersão de uma solução num sólido; uns supositórios podem apresentar uma
acção local anti-hemorroidária, desde que o cxcipienle que serve de veículo à substância
medicamentosa possua uma elevada viscosidade; uma solução de uso nasal tópico pode ser
absorvida se contiver apreciável quantidade de agentes emulsivos, dotados de elevada hidrofilia;
uma solução aquosa de ácido bórico, que se pretendesse utilizar como medicamento tópico numa
área considerável da pele, poderia passar para o sangue, uma vez que o ácido bórico possui elevado
poder intrínseco de penetração cutânea, etc.
Corno consequência do que deixamos dito, é compreensível a importância que apresenta a
correcta preparação de um medicamento. São numerosos os exemplos, na literatura mundial, de
medicamentos cuja administração não origina a resposta terapêutica esperada. Se bem que, em
muitos casos, o facto possa ser atribuído às características do doente, como sensibilidade individual,
idade, coexistência de várias afecções, etc., não deve ser posta de parte a hipótese de uma
formulação ou manipulação inadequada,
A título de exemplo, relatamos a ocorrência verificada com comprimidos de prednisona,
preparados segundo a Farmacopeia Norte-Americana XVI. Observou-se que esses comprimidos, apesar
de titularem rigorosamente a quantidade de esteróide anunciada e de se desagregarem facilmente em
água, não proporcionavam a absorção intestinal do fármaco, porquanto o grau de tenuidade deste
não permitia a sua perfeita dispersão no suco entérico.
486
Na epiderme observamos, de fora para dentro, a presença de várias camadas celulares, assim
distribuídas: 1) uma zona, mais ou menos espessa, de células anuclea-das, cujo protoplasma está
transformado numa substância córnea — stratum corneum; 2) urna zona de células achatadas em
menor grau do que na camada anterior, com núcleos pouco aparentes ou mesmo invisíveis,
apresentando um aspecto homogéneo e translúcido — stratum lucidum; 3) uma zona com três ou
quatro assentadas de células muito achatadas que se designa por stratum granolusom; 4) uma zona
constituída por várias assentadas de células poliédricas, com núcleo facilmente evidenciável, cujo
conjunto forma o corpo mucoso de Malgiphi ou stratum germinativum.
A camada córnea (stratum corneum) fica situada, como se deduz, imediatamente abaixo do
induto gorduroso e é essencialmente formada por células mortas ou em via de degenerescência,
muito ricas em queratina. Acessoriamente, apresenta ainda apreciável quantidade de ácidos gordos e
ésteres do colesterol. O conteúdo hídrico desta camada é relativamente pequeno, representando 7 a
20% da quantidade total da água da pele.
A queratina é uma proteína de suporte ou escleroproteína em cuja composição entra o
triptofano, a tirosina e a cistina. A presença deste último aminoácido é responsável pela abundância
de grupos dissulfurilo (-S-S-) na camada córnea,sendo a queratina que confere ao tecido grande
parte da sua elasticidade e solidez.
O stratum corneum provém da deslocação dos elementos epiteliais profundos para a periferia,
havendo, com esse deslocamento, a transformação e morte das células. Pode, pois, dizer-se que o
epitélio se renova pelas células profundas e se destrói pela superfície livre.
O stratum lucidum, formado por células translúcidas, ajustadas umas contra as outras, é
particularmente rico em eleidina, que é o precursor químico da queratina.
Subjacente a esta zona celular encontra-se o stratum granulosum de células losan-gulares, com
exoplasma bastante espesso. No citoplasma das suas células aparecem numerosas granulações,
admitindo-se que a sua composição seja de natureza glicopro-teica, precursora da eleidina, atrás
citada.
Por último, surge o corpo mucoso de Malpighi e, depois, a camada celular geradora, dotada de
grande vitalidade e sendo particularmente abundante em cisteína, aminoácido susceptível de se
combinar consigo próprio, por perda de dois átomos de hidrogénio, e de originar cistina. Do ponto
de vista químico existe, nesta assentada celular, apreciável preponderância de grupos sulfidrilo (-
SH), os quais se devem à cisteína presente.
Compreende-se, assim, que a biossíntese da queratina implique a transformação da cisteína do
corpo mucoso em cistina, que aparece como componente fundamental da queratina. Efectivamente, a
presença de cisteína diminui progressivamente à medida que se passa da assentada geradora para a
periferia, coincidindo essa diminuição com o aumento em cistina das camadas superficiais.
489
Em todo este conjunto celular aparecem fibrilhas, formando feixes que, com frequência, são
fusiformes, dispostas geralmente na periferia do citoplasma e seguindo longos trajectos sem
interrupção. Trabalhos de microscopia electrónica (DROCHMANS e PIERARD) revelam que o sistema
fibrilhar representa a linha de formação da qucratina que, em última análise, provém da camada
basal celular.
Nas camadas profundas da epiderme existem certas células especiais, denominadas melanocitos
(melanóforos; cromatóforos), cuja função é produzir melanina. Este é o principal pigmento da pele,
dos cabelos e também da coróide ocular. Não se trata de uma entidade química, pois há inúmeros
pigmentos, com cores principais como amarelo, vermelho, castanho e negro, todos originados pela
polimerização dos produtos de oxidação da tirosina e compostos di-hidroxifenilados (dopa,
epinefrina, catecol, etc.). Algumas vezes os pigmentos melânicos encontram-se combinados com
proteínas (melanoproteínas), as quais se ligam aos polímeros através de grupos sulfidrilo.
A formação da melanina a partir da tirosina consiste numa oxidação efectuada pelo enzima
tisosinase e catalisada pelo cobre. A tirosinase encontra-se nos melanóforos sob uma forma inibida,
possivelmente por acção do ácido ascórbico e do glutatião ou por simples efeito de grupos — SH.
Por exposição à radiação ultravioleta há como que uma aceleração na reacção tirosina-tirosinase ou
dopa-tirosinase, incrementando-se a coloração. Igual fenómeno pode surgir, por destruição dos
grupos — SH, nos locais de lesões inflamatórias da pele. De resto, a função da melanina nos
mamíferos parece estar relacionada com a protecção da pele para a luz, ultravioleta.
No albinismo, doença metabólica hereditária, observa-se que falta tirosina nos melanocitos, o
que conduz ao aparecimento de pele despígmentada.
A Fig. 209 mostra os principais passos do metabolismo da tirosina para a produção da
melanina.
A epiderme está separada da derme ou córïon por uma fina membrana basilar. A derme é
constituída por tecido conjuntivo denso e na superfície de contacto com a epiderme nota-se haver
interpenetração. A derme forma, assim, pequenas saliências — as papilas — que entram cm
escavações da base do cpilélio.
Fig. 210.
Da periferia para o centro, isto é, da zona papilar para a camada dérmica mais profunda —
zona reticular —, observa-se aumento do número e espessura dos feixes colagénios constituintes.
Nota-se ainda maior predominância de fibras elásticas. Quer isto dizer que o tecido conjuntivo
dérmico se torna, progressivamente, mais fibroso à medida que se caminha da superfície para o
centro.
A zona papilar representa cerca de um quinto da totalidade do córion.
A derme é atravessada pelas glândulas sudoríparas e sebaceas, as quais constituem uma das
melhores vias de penetração para os medicamentos. As glândulas sebaceas estão alojadas na zona
superficial da derme e fazem parte, na sua quase totalidade, do folículo piloso. Apenas uma em cada
dez aflora directamente à superfície da epiderme. Do folículo piloso, espécie de saco conjuntivo-
epitelial que envolve a raiz do pêlo, sai o pêlo propriamente dito. Constitui, como as glândulas
sebaceas, uma porta de entrada para a medicação cutânea.
491
Se o microscópio óptico nos mostra estruturas muito dissemelhantes para a epiderme (células p l
uri-e s trai i ficadas) e para a derme (trama colagénio e elástico), observa-se, ao microscópio
electrónico, que a pele apresenta uma estrutura fibrilhar como arquitectura preponderante. Este
facto tem imenso intea ï no que diz respeito à penetração dos medicamentos por via cutânea.
Fundamentalmente, são afinal dois sistemas de redes, cujas malhas se podem distender ou
apertar sob a influência de vários medicamentos. A penetrabilidade destes dependerá do efeito que
promovam, isto é, do alargamento ou retracção da rede. Ora, a derme apresenta elevada viscosidade
devida à presença de um poliolosídeo, o ácido hialurónico. Este composto, de alto peso molecular, é
constituído pela associação de moléculas de ácido glicurónico com acetilglucosamina. Certos enzimas,
como as hialuronidases, são capazes de desdobrar o poliolosídeo, originando a libertação das
moléculas constituintes (ácido glicurónico e acetilglucosamina) e diminuindo assim a viscosidade do
meio. Por outras palavras, as hialuronidases aumentam a difusão do medicamento., por permitirem
um alargamento das malhas da rede do tecido conjuntivo dérmico. Hoje utiliza-se esta substância
associada a outros agentes medicamentosos cuja penetração cutânea se pretende. Acontece também
que há muitos microrganismos
492
4.3.1.2. O pH cutâneo
Se bem que. regra geral, o pH da camada gordurosa da pele seja de 5-5,5, o pH cutâneo oscila
entre 5,5 e 7. A sua constância é assegurada por um sistema tampão de acido láctico/lactato, pêlos
ácidos dicarboxílicos do suor, pêlos ácidos gordos das glândulas sebãceas e pêlos elementos ácidos
da queratina.
Ao nível das pregas cutâneas das palmas das mãos e das plantas dos pés observa--se, contudo,
uma diminuição da acidez.
Julga-se que a evaporação do suor se faça mais lentamente nessas regiões. É curioso assinalar
a relação deste fenómeno com o facto de serem estas as regiões mais facilmente vulneráveis aos
complexos micobactéricos, como associações de cocos e parasitas vegetais. É ainda digno de nota
assinalar o papel fungicida c antimicrobiano desenvolvido pêlos ácidos gordos da superfície cutânea,
a tal ponto nítido que a sua maior produção (durante a puberdade) leva ao regresso espontâneo de
certas dermato-fitias do couro cabeludo, como a infecção pelas tinhas.
Em muitas dermatoses observa-se, porém, alteração do valor normal do pH cutâneo, motivo por
que muitas preparações farmacêuticas de aplicação cutânea procuram corrigir a acidez ou
alcalinidade manifestadas. São exemplo do que acabámos de dizer, certas pomadas ou cremes de pH
baixo, as quais se utilizam nas dermatoses dos cimenteiros, doença profissional produzida peía
alcalinização contínua da superfície cutânea pêlos cimentes, h também o caso de certas afecções da
pele caracterizadas por aumento de acidez, como as psoríases, em que a aplicação de pomadas com
base em substâncias alcalinas, do tipo do carbonato de potássio, pode dar bons resultados.
Pelo que ficou dito se compreende que um medicamento para penetrar na pele terá de
franquear duas barreiras fundamentais: a camada córnea com a película iipídica que a reveste
exteriormente e as assentadas da epiderme. Logo que estas duas barreiras
493
solubilidade seja uma condição importante para a penetração cutânea dos fãrmacos. Pode mesmo
dizer-se que a solubilidade de uma substância nos lípidos é mais importante, do ponlo de vista da
penetração cutânea, do que a qualidade do veículo utilizado no medicamento. Assim, por exemplo, o
anti-histamínico piribenzamina é melhor absorvido pela superfície cutânea sob a forma de base
(olcossolúvel) do que sob a forma de cloridrato (hídrossolúvel), como o demonstram os trabalhos de
:
MICHK[,FFI,DF ,R e PncK.
Por esta razão, é pertinente faiar-se em poder intrínseco de absorção percutânea, havendo
diversos compostos particularmente aptos de per se para atravessarem a pele. Nalguns casos é
possível dar uma explicação para o facto, baseado nas propriedades químicas e físicas das
substâncias. Assim, por exemplo, o ácido salicílico, emitindo vapores a 37"C. apresenta forte poder
de penetração, independentemente do excipiente ou veículo em que seja administrado. O ácido bórico
é facilmente absorvido por vi a cutânea, mesmo quando aplicado em solução aquosa ou em
associação com o talco em pó. O iodo, possivelmente por se combinar com as duplas ligações dos
ácidos insatu-rados do índuto gorduroso cutâneo ou do sebo, é dotado de boa penetrabilidade. Os
sais de metais pesados (Pb, Hg, Bi), como o lactato de bismuto, ensaiado por MIYASAKI, são igualmente
bem absorvidos pela pele. já que reagem com os ácidos, dando sabões.
Os iodetos alcalinos libertam iodo que reage com ácidos insaturados, como o oleico,
promovendo-se, assim, a sua penetração cutânea.
O enxofre é reduzido, transformando-se em ácido sulfídrico, o que lhe proporciona uma
penetração profunda e lhe permite a sua utilização no combate à sarna, cujos ácaros depositam os
seus ovos nas camadas internas da pele.
Vários líquidos orgânicos penetram facilmente a supcrlíeie cutânea, como os hídro-carbonetos
compreendidos entre o hexano e o decano. Se o seu peso molecular for superior a este último,
observa-se retardamento de absorção por efeito de aumento da viscosidade. Estão neste último caso
as parafinas e vaselinas, de acção estritamente superficial.
Certos hidrocarbonelos, como o paracimeno, o ot-pineno e o limoncno, são bem absorvidos,
assim como as drogas em que existem em apreciável quantidade (essência de terebintina com a-
pineno; essência de laranja como limoneno, etc.). Éteres, como o eucalipto!, vitaminas e hormonas
lipossolúveis, alcalóides líquidos, como a nicotina e a conicina, fenóis, como o ácido fénico, o gaiacol
e o eugenol, são igualmente dotados de excelente poder de penetração cutânea.
O problema da penetração dos fármacos através da pele nào é, porém, tão simples corno foi
enunciado. Outros factores recentemente analisados entram ern jogo, sendo de considerar da maior
importância a hidratação do tegumento cutâneo. Com efeito, a queratimi da camada córnea é
higroscópica, amolecendo quando fixa apreciável quantidade de água. A sua hidratação processa-se
à custa da água difundida das camadas profundas da pele e a eliminação hídrica é efectuada por
evaporação para a atmosfera, em determinadas condições.
495
O MramtH comcum da pele contém, usualmente, cerca de 20% de água. Se esla quantidade
d i m i n u i para 10% ou menos a pele torna-se seca e rugosa.
Como acentuámos, a camada queratínica deixa evaporar mais ou menos água, conforme as
necessidades c circunstâncias, mantendo-se um epitclio fisiológico. Hntre-tanto, a água da pele
acha-se em parte armazenada no estado livre e em parte constituindo verdadeiras estruturas
físicas que se r^vem á formação de coacervatos (ver Colóides). A água livre funciona como um si,
.ente polar, evaporando-se facilmente, enquanto que a água restante é relativamente pouco
polar e tem dificuldade em se evaporar. Por seu lurno, os compostos tipicamente ionizáveis
difundem-se bem na água livre, enquanto que os menos polares o ia/em melhor na água dos
coacervatos.
Pelo que se disse compreende-se que a hidratação da pele promova a penetração dos
fármacos e. assim, as subslâncias que quebrem as estruturas físicas dos concervalos, como a
ureia a 10-20%, facilitam indirectamente a difusão tias substância aplicadas nu superfície
cutânea.
Estes factos têm especial interesse porquanto se pode, por oclusão adequada de uma zona
cutânea, aumentar o conteúdo hídrico da sua camada córnea. Assim os corticosteróides, como a
dexamelasona, são mais facilmente absorvidos se a /ona da sua aplicação se encontrar
protegida com um penso q u e evite a evaporação da água da pele. Isto significa que o grau de
penetração de um medicamento pode ser largamente influenciado pela fórmula medicamentosa,
utilizando-se pomadas que formam películas oclu si vas epidérmicas (como as que usam
vaselina como excipiente) que, aumentando a humidade e a temperatura no ponto de aplicação,
permitem uma m elho r absorção percutânea dos fármacos.
A Tabela XLVIII mostra o efeito da oclusão na penetração cutânea.
Segundo VALRTTF, et ai,, apurou-sc que o óleo de linhaça era altamente penetrante, seguido pêlos
óleos de noz, trigo, soja, amêndoas doces, bacalhau e atum, doiados de média penetração. O azeite,
como o óleo de colza, c pouco penetrante. Os factores químicos dos óleos que favorecem a sua
penetração cutânea são a existência de uma elevada percentagem de ácidos gordos de pequena cadeia
ou de ácidos gordos poli--insaturados e a ausência de elevada percentagem de insaponificável e de
lecitinas.
Uma vê/ que os excipientes hidrossolúveis ou hidromiscíveis são repelidos pela camada gorda
tegumentar, é hábito associá-los a detergentes que auxiliem a penetração. Igualmente se verifica que as
emulsões água em óleo ou óleo em água são dotadas de melhor poder de penetração do que os
medicamentos não emulsionados. Devemos salientar a excelente penetrabil idade obtida com emulsões
do tipo óleo em água, graças à molhabilidade dos seus excipientes e ao grau de dispersão apresentado
pelas respectivas partículas, o que favorece a absorção transfolicular, pois as camadas tegumentares
funcionam como membranas semipermeáveis através das quais só passam moléculas de muito reduzidas
dimensões.
A absorção percutânea pode ainda depender de outros factores, como a zona corpórea de
aplicação (a camada córnea da face é, por exemplo, muito menos espessa do que a das palmas das mãos
e das plantas dos pés), o número de glândulas sebáceas e sudoríparas por unidade de superfície, as
fricções e as massagens. Estas últimas, comprimindo os folículos, privam-nos do sebo, favorecendo
assim, indirectamente, a absorção cutânea. O mesmo se pode dizer em relação à aplicação
medicamentosa numa área da pele recentemente lavada com detergentes e barbeada.
Dadas as circunstâncias expostas, podemos considerar essencialmente três tipos de medicação
cutânea, quanto à sua penetrabilidade. Pode, assim, falar-se de acção epidérmica, endodérmica c
diadérmica. A primeira é exclusivamente circunscrita à epiderme e justifica-se sempre que se pretenda
uma acção superficial do medicamento. A penetração endodérmica é de média intensidade, enquanto
que a diadérmica é profunda, podendo, propositada ou acidentalmente, provocar uma aborção
sistémica.
Segundo HARRY, poderemos eslabelecer uma classificação de penetrabilidade dos medicamentos
pela superfície cutânea, de acordo com os principais tipos de excipientes ou veículos utilizados em
dermatologia.
Considerando deste modo o problema, e sem atendermos ao fármaco utilizado, as preparações
dermatológicas são susceptíveis de ser classificadas em 3 grupos, consoante o tipo de excipiente.
Teremos assim:
2) os óleos vegetais, como o azeite e o óleo de amendoim simples e hidrogenado, as emulsões O/A
preparadas com óleos minerais e as emulsões A/O obtidas com drogas animais ou vegetais, constituem
um segundo grupo de excipientes cuja penetração se pode considerar endodérmica; como exemplos,
recordamos a pomada hidrófila da USP, as bases de GIBSON e de BEELER, o cold-cream, etc.;
3) as emulsões do tipo O/A obtidas com óleos minerais, os silicones, os óleos minerais, como a
vaselina, e os geles do tipo das alquil-celuloses, pectina, agar-agar, bentonite, etc. constituem
excipientes epidérmicos; a pomada cetílica da Farmacopeia Helvética e a mistura de álcool cetílico,
parafina e vaselina, preconizada no Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV, são exemplos
representativos desses excipientes.
Sob esta designação vamos referir-nos exclusivamente à acção tópica e à absorção feita através
das mucosas da boca.
A boca consta de uma cavidade delimitada por uma série de paredes e está dividida pelas
arcadas alvéolo-dentárias em duas zonas — uma anterior, o vestíbulo, outra posterior ou boca
propriamente dita. Como formação nela contida, que nos interessa destacar particularmente,
referiremos a língua, lembrando ainda que na boca se abrem as glândulas salivares. Estas são,
respectivamente de cada lado, a parótida, a submaxilar e a sublingual. A saliva contém numerosos
electrólitos e vários compostos orgânicos que também se encontram no plasma.
Entretanto, a sua concentração em proteínas é apenas de cerca de l % da do plasma e o seu pH
varia de 5 a 8.
Recentemente considera-se a saliva como um dos principais líquidos de distribuição dos
fármacos, podendo usar-se para estudar a farmacocinética de diversos produtos, em lugar de se
recorrer à análise do plasma. Com efeito, observa-se quase sobreposição entre a concentração
plasmática e salivar de muitíssimas substâncias, como a tolbuta-mida, a antipirina e a fenitoina.
O revestimento da boca é mucoso, encontrando-se um epitélio pavimentoso estratificado deste
tipo a forrar a face posterior da parede anterior da boca (lábios), a face interna das paredes laterais,
a face superior (abóbada palatina), a face posterior (véu do paladar) e, finalmente, a face inferior
(pavimento da boca).
As gengivas são, também, revestidas por mucosa que adere ao periósteo, e na língua reconhece-
se igualmente uma mucosa, bastante espessa na face dorsal mas, pelo contrário, muito fina na página
inferior.
À face inferior da boca corresponde a região sublingual que se estende das arcadas à base da
língua. A drenagem sanguínea desta zona é feita predominantemente pelas veias linguais (que são
tributárias da jugular interna) e ainda pela maxilar interna cujo sangue é transportado para a
jugular externa. Um fármaco absorvido nesta região passa,
498
pois, directamente à circulação geral, ao contrário do que acontece com as substâncias absorvidas
no segmento gastro-intestinal que são conduzidas primeiramente ao fígado.
Como consequência, muitos fármacos, que seriam inactivados por via gastro-inles-tinal
(fermentos digestivos; acidez gástrica; metabolização hepática), podem ser absorvidos por via
sublingual, também designada por perlingual.
Os medicamentos aplicados por via sublingual deslinam-se, portanto, a sofrer absorção devendo
permanecer debaixo da língua durante um período de tempo mais ou menos longo. Compreende-se
que a hiperemia das veias lingual e maxilar auxiliem a absorção, pelo que se recomenda que os
medicamentos sejam administrados depois das refeições, já que nessa altura é mais intensa a
irrigação das mucosas. Por outro lado, uma vez que o medicamento não deve ser deglutido, c também
preferível a administração pós-prandeal, já que a salivação está diminuída.
Por este facto, os medicamentos destinados a serem administrados por via perlin-gual não
devem conter edulcorantes e, de uma maneira geral, sialagogos. Utilizam-se pequenos comprimidos
que se devem dissolver lentamente (20 a 60 minutos) debaixo da língua.
Em certas situações de emergência, como por exemplo a administração de corona-
riodüatadores, convém reduzir substancialmente o período de desagregação ou de dissolução dos
comprimidos
Empregam-se, ainda, soluções alcoólicas de muitos fármacos, como trinitrina, nitrito de amilo,
vários alcalóides, etc. Diversas hormonas sexuais, como a metiltestos-terona, a progesterona, o
estradiol e o etinilestradiol, são aplicadas por via sublingual, sob a forma de comprimidos.
A velocidade e a taxa de absorção por via sublingual depende de muilos factores, como a
natureza do fármaco e as propriedades do excipiente. Ensaios efectuados em animais por KATZ e
BARR, que utilizaram comprimidos de fenobarbital, mostraram que certos excipientes promoviam mais
rápida e quantitativa absorção do que outros. Assim, com o fenobarbital, a mais eficaz absorção era
conseguida com excipientes de lactose (95% do fenobarbital era absorvido em duas horas), enquanto
que a substituição daquela pelo monoestearato de glicerilo apenas ocasionava a absorção de 22% do
fármaco. Já, porém, o monoeslearalo de glicerilo originava uma taxa de absorção de 100% de iodeto
alcalino ao fim de 3 horas de administração, enquanto que, no mesmo período de tempo, só se
absorviam 53% do iodeto quando os comprimidos continham a lactose como excipiente.
De um modo geral, observa-se também uma mais fácil absorção sublingual de medicamentos
dissolvidos em álcool do que em solução aquosa. Muitos alcalóides, por exemplo, são mais
facilmente absorvidos por esta via quando no estado de bases livres dissolvidas no etanol.
Ao lado da absorção perlingual teremos de considerar a utilização da mucosa da boca para
uma aplicação exclusivamente tópica. Várias soluções medicamentosas são utilizadas com este fim,
designadamente os gargarejos, como os de iodo, de fenolsalil.
499
etc. Algumas vezes o medicamento é aplicado sob a forma de pincelagem. designando--se por
colutório. A maior parte dos colutórios apresenta elevada viscosidade, de modo a aderirem
facilmente às mucosas. São geralmente a glicerina, o propilenoglicol e o sorbitol a 70% os líquidos
que se utilizam como veículos para este género de preparação.
Para aplicação tópica na mucosa bucal são ainda preparadas muitas pastilhas e comprimidos,
dotados de lenta velocidade de desagregação (30 a 60 minutos), de modo a permitirem uma acção o
mais duradoura possível. A sua superfície é geralmente grande, de forma a proporcionarem um
contacto íntimo entre os fármacos componentes e as mucosas sobre que devem actuar. Os excipientes
destas formas de aplicação tópica são normalmente as gomas arábica e adraganta, a metikelulose, a
gelatina, a manita, etc.
Entre as substâncias medicamentosas que se utilizam em comprimidos ou pastilhas tópicas
bucais, lembramos os anti-sépticos e desinfectantes, os anestésicos locais, os desodorizantes e os
adstringentes. Deste modo, são correntes fórmulas contendo sulfa-midas, antibióticos, aneslesina,
clorofila, etc., etc.
Por último, e constituindo ainda outro tipo de medicação para administrar na mucosa bucal,
lembramos os comprimidos ou pastilhas destinados a desagregarem-se ou dissolverem-sc na saliva,
proporcionando absorção simultânea pela mucosa da boca e por via gastro-intestinal ao deglutir-se
a saliva.
4.3.3.1. Estômago
aspirina era absorvida mais rapidamente quando administrada em líquidos efervescentes ou quando
simplesmente associada ao NaHCO^ que, reagindo com o ácido clorídrico gástrico, libertava
anidrido carbónico. Admitiu, nessa altura, que o aumento da velocidade de absorção era devido,
principalmente, ao mais rápido esvaziamento gástrico pela pressão exercida pelo gás. Parece, porém,
confirmado que apenas se trata de uma maior ou menor solubilidade da aspirina, consoante o pH
local. A propósito da absorção pela mucosa intestinal retomaremos este assunto.
Também está descrita a absorção gástrica de alguns alcalóides, como a estricnina, mas tem-se
observado em animais de experiência com o piloro laqueado que a intoxicação pela estricnina
proveniente da exclusiva absorção gástrica só se verifica após um período de tempo muito superior
ao registado quando o alcalóide actuava no intestino delgado. De uma maneira geral, observa-se que
a acidez gástrica entrava a absorção dos alcalóides pela mucosa, sendo possível aumentar a
velocidade da absorção associando-
-Ihes medicamentos alcalinos, como o bicarbonato de sódio.
Fundamentalmente, com a mucosa gástrica passa-se o fenómeno já atrás referido: os compostos
com pequeno coeficiente de partilha óleo/água são dotados de fraco poder de penetração; de um
modo geral, as substâncias não ionizáveis penetram melhor do que as ionizáveis e a absorção destas
será tanto mais elevada quanto menos se dissociem. Nestas circunstâncias, e sendo os alcalóides
bases fracas, aumenta, por alcalini-zação. a predominância das suas formas indissociadas.
Atendendo ao baixo valor do pH do suco gástrico (l a 3,5 e mais vulgarmente l a 2,5) e à
presença da pepsina, muitos fármacos podiam ser destruídos no estômago quando administrados per
os. É, pois, necessário que se protejam os medicamentos sensíveis à acidez e à acção proteolítica, o
que se consegue recorrendo aos revestimentos gastro-resistentes. Trata-se de envolvimentos para
pílulas, comprimidos e cápsulas, os quais não são atacados pelo suco gástrico mas que, em
contrapartida, devem desagregar-se facilmente no suco intestinal. Algumas vezes, contudo, basta
associar ao fármaco tampões ou neutralizantes para o proteger da acção destrutiva pelo ácido
clorídrico do estômago, podendo, no entanto, administrar-se em comprimidos ou cápsulas contendo
carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio, diidroxiaminoacetato de alumínio, etc.. Os salicilatos e a
aspirina, ao decomporem-se no estômago, libertam ácido saücílico que é irritante para a mucosa
gástrica, pelo que é aconselhável associar-
-Ihes bicarbonatos, que neutralizam a acidez estomacal.
Pelo que ficou dito se compreende que a mucosa gástrica não se destina à absorção, sendo esta
conseguida essencialmente nas primeiras porções do intestino delgado. Deste modo, quando se
ingere um medicamento, interessa que ele permaneça o mínimo tempo possível no estômago,
passando rapidamente para o intestino. A codeína, alcalóide analgésico que se comporta como uma
base fraca, manifesta os seus efeitos tanto mais rapidamente quanto mais rápido c o esvaziamento
gástrico. A curta permanência dos medicamentos no estômago é ainda desejável para evitar a sua
possível inactivação pela acidez e enzimas gástricos. Para os fármacos que se comportam como
ácidos
502
Com pequenos volumes há um lapso de tempo antes que o esvaziamento se inicie. Com grandes
volumes a velocidade de esvaziamento é inicialmente maior, embora o processo exponencial se não
mantenha ale ao fim.
Como consequência do que deixámos dito é compreensível que a ingestão de apreciáveis
volumes de líquido, quando se ingere um medicamento, favoreça o esvaziamento gástrico,
transferindo-se o fármaco para o intestino, onde deverá actuar.
As soluções ou as suspensões de partículas ténues deixam o estômago mais rapidamente do que
as substâncias gomosas ou pastosas; quanto menos viscoso for um líquido, mais facilmente atingirá o
intestino; as soluções de baixa pressão osmótica abandonam o estômago com mais rapidez do que as
de pressão osmótica elevada; as gorduras retardam o esvaziamento gástrico, o que não sucede com
as substâncias proteicas e muito menos com os amidos.
O esvaziamento do estômago está, também, relacionado com a acidez gástrica e com o pH
duodenal. Em indivíduos com hipercloridria nota-se, por exemplo, uma elevada velocidade de
esvaziamento, ocorrendo o contrário em doentes com aquilia.
Finalmente, mesmo em indivíduos sãos, é variável a velocidade de esvaziamento do conteúdo
gástrico, recomendando-se o decúbito sobre o lado direito, após a ingestão do medicamento.
cão, a mucosa do intestino delgado. Este é constituído pelo duodeno, jejuno e íleo, sua porção
terminal, de forma regularmente cilíndrica, com um diâmetro médio de 3 a 3,5 cm.
O intestino delgado apresenta válvulas coniventes até cerca de 50 cm de distância da válvula
íleo-cecal. As vilosidades c as criptas de LIEBERKÜHN encontram-se em todo o seu comprimento. Em
corte histológico, o intestino delgado apresenta as seguintes túnicas: muscular, com duas camadas,
uma longitudinal e outra circular; submucoxa; muscularis mucosae; mucosa, onde o córion se
encontra repleto de glândulas tubulosas. Externamente, o intestino é envolvido pela serosa
periloneal que forra a túnica muscular. A túnica serosa é,
pois, uma membrana adventícia que se junta às túnicas
próprias do órgão.
A extensão do tracto intestinal é muito importante na
absorção dos fármacos, uma vez que estes devem dispor de
tempo para serem absorvidos, particularmente se a sua
solubilidade é pequena.
HIRSCH elaborou uma tabela de comprimentos intestinais no
homem vivo, os quais são consideravelmente mais curtos do
que os classicamente descritos em cadáveres. A Fig. 213. Corte histológico do intestino
Tabela XLIX reproduz esses valores. delgado
EDWARDS calcula que 500 ml de líquido ocupem
1 — Disposição da rede nervosa; 2 —
cerca de 100 cm do intestino, espalhando-se por uma Disposição da rede linfática quilífera; 3 —
superfície de 700 a 800 cm2. Uma vez, porém, que as Disposição da rede capilar arterial; 4 —
Disposição da rede venosa. S.M. — tecido
vilosidades intestinais aumentam enorme - submucoso; pi.M. — plexo de Meissner; r.l. —
mente a área da mucosa, pode calcular-se em 300 rede linfática; T.M. — túnica muscular; t.c. —
cm2 a superfície efectiva por 100 cm de comprimento.
A espessura da camada mucosa é de cerca de 25 \i. A irrigação do intestino pela corrente
circulatória faz-se, no adulto, segundo WAGNER, a um débito de cerca de 6000 ml por minuto.
A relação entre a área das superfícies mucosa e serosa (M/S) é maior na região proximal do
intestino delgado e diminui à medida que se caminha para a zona distai. Essa relação no duodeno,
jejuno e íleo do intestino do rato é de 11,3, 9,8 e 4,3, respectivamente. Por outro lado, o potencial
eléctrico observado através do intestino delgado é positivo nas superfícies serosas, sendo mais
elevado no jejuno do que no
504
íleo. O pH do suco intestinal aumenta da porção proximal para a porção distai do intestino (no
duodeno o pH é de 5 a 6 e no íleo de cerca de 8). Observa-se, pois, um gradiente, desde o duodeno
para o íleo, no que diz respeito à relação M/S potencial eléctrico e valor de pH (a relação M/S e o
potencial eléctrico diminuem, enquanto que se eleva o valor do pH).
Pelo que ficou dito, se compreende, também, que a zona do intestino delgado mais
propícia à absorção é a porção duodeno-jejunal. Para algumas substâncias, porém,
observa-se comportamento diferente, designadamente para os sais biliares e para a
vitamina B12, que são absorvidos, de preferência, no íleo. Trata-se de absorções por
transporte facilitado, em que aquelas substâncias encontram os receptores específicos
nas aludidas zonas. .. • -
No duodeno convergem muitas secreções como a pancreática (que contém tri-psina ('), amilase e
lipase. e, portanto, desempenha função importante no metabolismo das proteínas, hidratos de
carbono e gorduras); a bílis (que pêlos seus sais biliares actua estimulando a lipase e promovendo a
emulsificação dos corpos gordos), o suco intestinal libertado pelas glândulas de Lieberkuhn (contém
erepsina que c uma mistura de peptidases, invertase, maltase, lactase, e enteroquinase, que é
activador do tripsinogé-nio que produz a tripsina).
O suco entérico tem no duodeno pH ±5, aumentado para o jejuno e depois para o íleo e subindo
nos cólons até 8,3 — 8,4.
O intestino possui movimentos pendulares, movimentos de segmentação rítmica e movimentos
peristálticos ou de propulsão. Os movimentos pendulares e segmentares são de natureza miogénica,
isto é, do próprio músculo. Os peristálticos são induzidos a partir dos plexos de Auerbach (mecânico)
e de Meissner (sensitivo), admitindo-se que a serotonina (5-HT) seja um dos factores de estimulação.
(O 5-HT é poduzido nas células cromafins da mucosa gastro-intestinal), O vago inerva o plexo de
Auerbach e
aumenta o tono e o peristaltismo, enquanto que a estimulação simpática (nervo esplâ-nico) inibe o
tono e o peristaltismo. Do ponto de vistas fisiopatológico, é de lembrar que as duas alterações
intestinais mais correntes são a obstipação (constipação ou prisão de ventre) e a diarreia.
A obstipação pode dividir-se em espasmódica ou cólon irritável (pode provir de reflexos a
partir de vísceras abdominais enfermas, como vesícula, apêndice, duodeno, de psiconeurose, do uso
indiscriminado de purgantes, etc.), atónica ou cólon inactivo (dieta pobre em resíduos celulósicos,
hipovitaminose B , hipotiroidismo, doenças cardíacas, tuberculose, etc. — é característica de pessoas
idosas, ao contrário da obstipação espamódica), disquecia ou seja, a falta de hábito da evacuação
que leva à modificação do próprio recto que se relaxa, tornando-se tolerante aos estímulos normais.
Pela análise do que se disse é compreensível aceitar que a terapêutica do primeiro tipo de
obstipação se baseie no uso de antiespasmódicos anticolinérgicos, como a atropina e seus derivados,
enquanto que os restantes géneros de obstipação tenham de recorrer a outros tipos de medicação ou
somente à criação de hábitos fisiológicos.
A diarreia consiste em deposições demasiado frequentes de fezes líquidas. No caso há o aumento
de velocidade de trânsito intestinal, o que impede a absorção de água, podendo até levar à exsudação
daquela. Há várias espécies de diarreias, podendo classificar-se em funcionais e orgânicas.
As diarreias funcionais são causadas por acloridria, por fermentação e putrefacção, por
insuficiência pancreática exógena, por alergias ou por irritações do cólon. As diarreias orgânicas
são devidas a enterocoliles infecciosas (incluindo vírus) e a contaminação por salmonelas, colif
estreptococos dourados, intoxicações mercuriais ou arse-nicais, colites ulcerosas, etc.
No intestino e por todo o tracto digestivo existem numerosos microrganismos como coli,
Aerobacterium aerogenes, Clostridium Welchii, Streptococcus faecalis, Lactobacilus bifidux. Estes
atacam as proteínas e os hidratos de carbono produzindo produtos de putrefacção e fermentação,
respectivamente. Os germes anaeróbios, como os clostrídios, levam à putrefacção proteica com
produção de indol e escatol, H,S e histamina. Os germes aeróbios, como o Lactobacilus, produzem
ácido láctico e butiríco, à custa dos hidratos de carbono.
tinais. Ora, a dissolução leva certo tempo a realizar-se e, frequentemente, a demora que se regista na
absorção é a ela devida.
A dissolução duma substância sólida num dissolvente líquido que não reaja com ela, pode
expressar-se pela equação de NOYES-WHÏTNEY modificada (ver pág. 308):
de
= K S (Cs-C)
dt
(') Observe-se, porém, que nem sempre este conceito tem encontrado confirmação na
prática (G. LEVY — Amer. J. Pharm. 135, 78, 1963).
507
6 P
S =—— x ——
D d
em que D é o diâmelro das partículas e Piá representa o volume ocupado pelo fármaco, sendo P o seu
peso e d a sua densidade.
Na tabela LI indicamos, a título de curiosidade, as relações entre diâmetros de partícula e
superfícies ocupadas por um grama de substância de densidade igual a 1.
(') Quando se discute o tamanho de partícula c difícil dar uma ideia objectiva do que significa
determinado diâmetro. Com a finalidade de procurar esclarecer este ponto, lembramos que as
partículas do fumo do tabaco oscilam entre O, l e l u,; um pó finamente micronizado pode apresentar
diâmetros de partícula compreendidos entre 0,5 e lün. e a área ocupada por l g de substância assim
dividida é de 6a 12 x IO4 cm-1. Um pó obtido em moinhos coloidais terá partículas compreendidas
entre 10 e ISQu, com uma área de 0,4 a 6 X 10-( cnr/g.
508
60 -
£ 50 -
40 -
30 J
. _ _ _ M Aspirina x __.. _x
Aspirina tamponada a—- —
10 - o Aspirina em água quente A
—— 4 Aspirina efervescente
•------• Aspirina sódica
10 20 30 50 60
40
velocidade de dissolução dos fármacos nos sucos digestivos pode também ser aumentada,
incrementando a sua solubilização na zona de difusão ou, por outras palavras, elevando o valor de C(J
segundo a equação de NOYES-WHITNEY. Assim, por exemplo, se o fármaco se comporta como um ácido
fraco, pode aumentar-se o seu coeficiente de solubilidade elevando o pH do meio. Isto consegue-se
adicionando substâncias alcalinas ao ácido fraco (bicarbonato de sódio, citrato de sódio) ou substi-
tuindo-o por alguns dos seus sais hidrossolúveis.
A penicilina V, sob a forma de sal potássico (mais solúvel), é melhor absorvida por via gaslro-
intestinal do que sob a forma de sal e este origina, mesmo assim, melhores níveis plasmáticos do que
a penicilina V ácida, que é menos solúvel. A Fig. 215 ilustra o que acabámos de expor.
5 -
1 / 2 1 2 A 6
Horas Fig. 215. Níveis plasmáticos de
penicilina V depois da administração de 400000 U.
Sob a forma de ácido livre
Sob a forma de sal de
potássio Sob a forma de sal
de cálcio
Segundo H. Juncher e F. Raaschou — Anlibiot, Med. Clin. Therap., 4, 497 (1957)
Drageia —» Comprimido —> Cápsula —> Pó —> Suspensão —> Emulsão O/A —*
—> Solução aquosa
Como corolário do que se expôs, sempre que se pretenda uma acção meramente local no
intestino, deve procurar-se que o fármaco se dissolva o menos possível nos sucos digestivos. É o que
sucede com certos anti-helmmticos, que deverão actuar sobre os vermes do intestino grosso e cuja
absorção gastro-intestinal não é, por isso, desejável. Nesses casos, de que pode servir de exemplo a
fenotiazina para uso veterinário, não é recomendável utilizar o fármaco dividido em partículas de
pequeno diâmetro. Com efeito, uma vez que a velocidade de absorção no intestino delgado é função
da superfície das partículas, quanto maiores elas forem tanto menor será a superfície total
apresentada e, portanto, mais lenta a sua dispersão ou dissolução nos sucos digestivos.
511
A lei de NOY[;S-WHITNEY demonstra ainda que a taxa de dissolução é afectada polo polimorfismo dos
cristais medicamentosos c sua hidratação ou sol vá tacão, uma vez que estes factores influenciam o
valor de C.
Muitos compostos são susceptíveis de se apresentar sob duas ou mais formas cristalinas,
calculando-se que cerca de um terço das substâncias orgânicas conhecidas manifeste polimorfismo.
Habitualmente, os derivados deste género apresentam características físicas diferentes, podendo dizer-
se que cada í i pó de cristais da mesma substância tem, em regra, pontos de fusão, coeficientes de
solubilidade c densidades d i fé-rentes.
Hspecialmentc em consequência da diversa solubilidade que manifestam, compreende-se que o tipo
cristalino do Tármaco tenha influência na velocidade de absorção. Por esta ra/ão, o mesmo fármaco
poderá aprescntar-se em estados mais ou menos activos do ponto de vista farmacológico.
Um composto que apresente polimorfismo pode ser tcrmodinamicamcnlc instável pois que tende
a transformar-sc na forma estável. O i/-se, então, que a substância é mcfa.Mvvc/. Em regra, a
forma estável apresenta ponto de fusão mais elevado c menor solubilidade do que a forma meïastável.
Como a conversão da forma metastávcl c extremamente lenta, empregam-se algumas vcz.cs cm
farmácia os derivados mclustávcis, devido à sua maior solubilidade, já que é limitada a vida de um
produto farmacêutico.
A rihoflavina ou vitamina B., aparece cm três estados cristalinos, cujos coeficientes de
solubilidade variam em larga medida: ó mg, 8 mg e 120 mg por l (K) ml de água. a 25"C. R
evidente que a forma mais aconselhável é. sem dúvida, a mais solúvel, que também apresenta o mais
baixo ponto de tusão.
O acetato de cortisona aparece em cinco diferentes estados cristalinos, conhecidos por formas /.
2, J. 4 c J. As formas / e J podem ser obtidas separadamente ou cm conjunto, e são consideradas
estáveis, tendo, de preferencia, sido utilizadas em comprimidos. A forma J tem sido preparada em
presença de água e corresponde a uma hidratação do produto, devendo ser usada em suspensões
orais. Com ela se conseguem diâmetros médios de partículas da ordem de K) p.
As substâncias podem lambem aprescntar-se sob a forma amorfa, que é mais solúvel do que a
respectiva forma cristalina. O anidrido arsenioso, por exemplo, é solúvel na água na proporção
de 40 p/l quando amorfo, e apenas de 14 g/1 quando cristalino. A novobiocina amorfa é cerca de dez
vezes mais solúvel do que a cristalizada. Acontece que as suspensões de novobiocina amorfa tendem a
cristal i/ar. podendo, porém, rctardar-se esta conversão por intermédio da associação de
mctilcclulose.
Grande número de substâncias orgânicas em solução tende a formar associações com o
dissolvente, as quais tomam o nome de solvamos. As sultamidas. a quinina, os
512
Determinadas substâncias podem favorecer a absorção dos fármacos por via gastro--intestinal.
Consideraremos como adjuvantes de absorção os compostos capazes de proteger o fármaco da
destruição pêlos sucos digestivos e, principalmente, de originar com ele complexos mais facilmente
absorvíveis.
Algumas misturas eutéticas podem ser utilizadas com a referida finalidade, designadamente as
asssociações de sultatiazol com a ureia. Neste caso observou-se que ao juntar a mistura à água se
formam suspensões de partículas tnicrocristalinas de sulfa-tiazol. A maior velocidade de absorção é
devida, em última análise, à mais rápida dissolução do fármaco nos sucoï; digestivos.
Os complexos de cloridrato de tetraciclina com cloridrato de glucosamina ou de tetraciclina
base com hexametafosfato de sódio constituem outro exemplo de incremento de absorção, embora
ainda não esteja bem esclarecido qual o mecanismo por que actuam. Entretanto, certas amidas
aumentam a absorção da prednisona e da predni-soiona. A benzometamina, conhecido
antícolinérgico, é melhor absorvida em presença de ácidos acético, propiónico ou butírico.
O sulfato de lobelina origina, normalmente, níveis sanguíneos de 0,3 mcg/ml. Este valor pode
ser largamente aumentado (1,8 mcg/ml) quando se mistura o fármaco com pequenas quantidades de
carbonato de magnésio ou de fosfato tricálcico.
A vitamina B6 parece ser melhor absorvida quando em presença de D-sorbitol. O mesmo efeito
tem sido descrito para a vitamina B|2, em elevadas concentrações orais (l mg). Já, porém, com fraca
posologia de B|2 parece que o sorbitol desempenharia acção retardadora da absorção intestinal.
O EDTA parece aumentar de um modo geral a absorção dos fármacos, pois captando o cálcio
presente nas membranas torna maior o diâmetro dos poros ou incre-
513
menta os espaços existentes entre as células. Um outro método de incrementar a absorção consiste em
empregar misturas eutéticas. Com efeito, se a um composto pouco solúvel for adicionada uma
substância hidrossolúvel que com ele origine um eutctico é de esperar que se exalte a solubilidade do
primeiro produto, pois parece que ao absorver-se o segundo, aquele fica dividido em partículas
muito pequenas e, por isso, mais rapidamente susceptíveis de se dissolverem. O sulfatiazol ou o
acetaminofeno com a ureia constituem eutéticos que satisfazem ao que referimos. O mesmo sucede
com a associação de reserpina ou de sulfatiazol à PVP já que há formação de um coprecipi-tado que
é mais solúvel na água.
A nifedipina, fármaco muito pouco solúvel na água, melhora a sua solubilidade e a sua
biodisponibilidade quando associada à PVP. Nós própios melhorámos a sua solubilidade c
biodisponibilidade utilizando-a em mistura com o manitol.
A adição de agentes tensioactivos às substâncias medicamentosas pode facilitar a sua
absorção.Os tarmacos, lomando-se molháveis pela acção do tensioactivo, contactam mais facilmente
com os sucos digestivos, o que facilita a sua dispersão. Assim, não só as suspensões ou emulsões O/A
para o uso oral, mas os comprimidos, as cápsulas e os pós podem conter agentes que ocasionem
diminuição da tensão superficial.
O efeito dos tensioactivos na absorção intestinal é conhecido desde longa dala alravés do que
se passa com o metabolismo das gorduras. Efectivamente, estas, depois de saponificadas pelas
lipases, libertam ácidos gordos, cuja dispersão sob a forma de emulsão O/A e conseguida à custa dos
sais biliares que funcionam como emulgentes. Neste princípio fisiológico se baseia a associação de
substâncias tensioactivas a fármacos de tipo gordo, como as vitaminas lipossolúveis. A vitamina A,
por exemplo, é melhor absorvida por via gastro-intestinal quando em presença de emulgentes do tipo
O/A.
A adição de tensioactivos poderá ser prejudicial em certos casos, designadamente quando o
fármaco seja destruído pela acidez do suco gástrico, pois havendo mais íntimo contacto entre a
droga e o ácido clorídrico a alteração é também mais fácil. Inversamente, a adição de susbstâncias
hidrófobas a um fármaco retarda a sua molha-bilidade e, subsequentemente, a absorção gastro-
intestinal. É bem conhecido, por exemplo, o que se passa com alguns comprimidos que contêm
apreciável quantidade de estearato de magnésio, composto hidrófobo, como lubrificante: a absorção
é susceptível de se prolongar de tal modo que os comprimidos apresentem uma acção retarda ou
sustentada como muitas vezes se diz. DONAL.D SORBY e GACE Liu verificaram que as misturas
antidiarreicas contendo substâncias do tipo da atapulgite retardam a absorção gastro-intestinal de
compostos aminados, como a promazina.
A absorção lenta é desejada algumas vezes. Quando o período de semivida biológica do íarmaco é
muito pequeno, isto é, elevada a sua velocidade de eliminação, pode pretender-se que ele seja
absorvido lentamente, numa taxa constante, de modo que se assegure o nível terapêutico sanguíneo
por várias horas. Atendendo a que as liga-
514
coes de muitos fármacos com compostos macromoleculares originam complexos, dos quais o
fármaco só é absorvido depois de libertado de tais combinações, tem sido utilizadas resinas
trocadoras de iões, de elevado peso molecular, para fixarem as substâncias medicamentosas. Depois
de ingerido um medicamento, sob a forma de comprimido, por exemplo, o fármaco vai sendo
libertado lentamente do complexo para os sucos digestivos e só essa forma livre é absorvida. Deste
modo, conseguem-se, hoje, muitas preparações medicamentosas que, devido à progressiva e lenta
absorção a que dão origem, constituem formas farmacêuticas de acção prolongada (retardada ou sus-
tentada).
Certas macromoléculas não absorvíveis e electricamente carregadas podem, pelo contrário,
incrementar a taxa de absorção. Este aumento de absorção é devido ao efeito de DONNAN e ocorre
quando a macromolécula e a droga apresentam carga semelhante, possuindo a droga a capacidade
intrínseca de penetração na mucosa gastro-intestinal.
Representando as concentrações da droga, carregada negativamente, no plasma c no tracto
gastro-intestinal, por [D~] e [D~] , respectivamente, e admitindo que a concentração da
macromolécula, também com carga negativa, é [M \, teremos:
l+
[D-].,
o que traduz um aspecto da equação de DONNAN. Desta equação se verifica que logo
[D ]
que a concentração da macromolécula [M j, seja superior a zero, a relação ———— ",
[D]
K
é maior do que a unidade, o que prova que o efeito da macromolécula é favorecer a passagem do
lúmen intestinal para o sangue.
Exemplificaremos numericamente o que se disse, admitindo que desejávamos saber a relação
provável entre a concentração gastro-intestinal de bcnzilpcnicilina sódica a que se associou
carboxímetilcelulose sódica. São duas drogas tipicamente aniónicas e pelo que se escreveu a
macromolécula de CMC deverá incentivar a absorção da penicilina. Suponhamos que a
administração oral correspondeu a uma concentração de 4 x l (H mole/1 de benzilpenicilina sódica
com 12 x IO"3 mole/litro de carboximetilcelulose. Aplicando a fórmula antecedente virá
[D-JP / 12 x
[D-]t 4 x
o que significa que deverá existir uma relação de 2:1, entre a quantidade de antibiótico existente no
plasma e no tracto gastro-intestinal.
515
Já vimos atrás que muitos fármacos são absorvidos no eslado de combinações com substâncias
presentes na mucosa. Compostos, como os barbitúricos, que são pouco solúveis em água e
dificilmente dispersíveis, combinam-sc com as proteínas do tecido mucoso e formam complexos
hidrossolúveis.
Este género de bioconjugação é frequente, podendo apontar-se, entre outros casos, a ligação
com o ácido glicurónico. Até há pouco í empo admitía-se que a formação de glicurónidos se
processava exclusivamente no fígado e nos rins. Hoje, sabe-se que muitos fármacos são conjugados com
o ácido glicurónico ao nível da mucosa gastro--intestinal. Entre eles, citamos a tiroxina e a tri-
iodotironina, que são transformadas em glicurónidos durante a absorção gastro-inteslinal.
Outras modificações são susceptíveis de se produzir no intestino, designadamente as
efectuadas por hidrólise. As substâncias de naíure/a proteica, como a insulina, as anlitoxinas, as
hormonas do lóbulo anterior da hipófise, ctc., são cindidas por hidrólise, originando
aminoácidos e peptídeos de menor peso molecular. Este facto impede o seu emprego por via gas-
tro-intestinal, já que o trânsito pelo tracto digestivo
ocasiona a sua destruição. ~ , . A
Cadeia
Cadeia / / \ longa3
curta / \ Esterificação
Nalguns casos, a hidrólise é, pelo contrário, Captação
necessária para que se promova a absorção do
fármaco. Já vimos o que se passa com as gorduras,
que são em pane absorvidas depois de hidroüsadas
nos seus elementos constitutivos (ácidos gordos e Secreção
glicerol). Com os ésleres do colesterol sucede um facto
semelhante. Na realidade,, cerca de 50% dos
triglicerídeos alimentares são absorvidos sob a
forma de monoglicerídeos pelas células da mucosa. para os
Quanto aos ácidos gordos libertados observa-se linfátic
igualmente excelente absorção se as suas moléculas Fig. 216.
são pequenas ( < l ü - 1 2
átomos de carbono) e então passam directamente das
células mucosas para a veia porta, já que sáo hidrossolúveis ou hidrodispersíveis. Os ácidos gordos
de longa cadeia são rodeados por um retículo endoplasmálico e formam os quilomicrons, os quais
deixam as células mucosas e penetram nos vasos linfáticos.
Na Fig. 216 esquematizam-se os fenómenos citados.
516
Alguns esteres do cloranfenicol, como o palmitato, são empregados por via oral. Para que o
antibiótico seja absorvido é necessário que o palmilato, que é menos solúvel do que o cloranfenicol
livre, seja saponifícado pelas esterases pancreáticas. Tem-se verificado que essa hidrólise só é
possível quando o palmitato de cloranfenicol se apresente no estado amorfo ou em agulhas
microcristalinas de 5 a 7 ^ de diâmetro. Se estiver presente uma quantidade de cristais tabulares
(forma polirmórfica A) superior a 10%, observa-se que os níveis plasmáticos de cloranfenicol são
substancialmente diminuídos. Isto cxp!ica-se pela rná dispersão dos cristais nos sucos digestivos,
que não têm, assim, capacidade de promover a hidrólise do palmitato. Como este não é directamente
absorvido pela mucosa, é necessário que seja saponifícado, previamente, pelas esterases, originando
cloranfenicol livre, já susceptível de absorção.
O recto constitui a porção menos flexuosa do intestino grosso, estendendo-se desde a altura
correspondente à terceira vértebra sagrada até ao ânus. O seu comprimento oscila entre 12 e 15
centímetros, podendo ser consideradas duas porções anátomo-his-tologicamente diferenciadas: o
recto pélvico e o recto perineal. O primeiro é, pelas suas características, a verdadeira terminação do
intestino grosso. Constitui a chamada ampola rectal, que é a porção mais volumosa e exlensa.
O recto perineal (canal anal) é a secção que continua a ampola rectal para o exterior,
apresentando cerca de 2 a 3 centímetros de comprimento e sendo mais estreito e fixo do que esta.
A histologia do recto pélvico mostra as mesmas túnicas constitutivas do intestino: serosa (em
parte da sua extensão), muscular, submucosa e mucosa (com o seu epitélio, córion e muscularis
mucosae}.
A assentada epitelial é particularmente rica em células caliciformes, elementos mucíparos que
lhe conferem acentuada diferença em relação à mucosa do intestino delgado.
Se bem que o epitélio do intestino grosso se não destine, fundamentalmente, à absorção
fisiológica, observa-se, porém, que o recto constitui uma boa v i a de absorção. Efectivamente, o
sangue do recto é drenado pelas veias hemorroidais, distribuídas em
518
três grupos distintos: a) veias hemorroidais superiores, que se ligam à veia poita hepática e se
distribuem pela ampola rectal; b) veias hemorroidais médias, que recebem, também, ramos
ampolares e confluem na veia cava inferior; c) veias hemorroidais inferiores, que comunicam
igualmente com a veia cava e se distribuem na região anal. Todavia, da parte mais elevada da região
anal partem vasos que se lançam nas hemorroidais superiores.
A circulação linfática desta região é formada por redes nascidas na mucosa e submucosa
donde resultam vasos que se dirigem ao canal torácico que, por seu turno, se abre na confluência
das veias subclávia e jugular interna esquerdas.
Na Fig. 217 mostram-se, em esquema, as alulidas relações.
.. Canal
Toráci
Veia Ilíaca
Primitiva Veia
Veia Jugular
Esquerda Veia
Subclávia Esquerda
* * - • - - Gãnglioa
Inguinais > •
4.3.4.1. Absorção
Em face da topografia vascular e linfática apresentada pelo recto é de prever que a maior
parte dos fármacos aí absorvidos passe directamente ao fígado, através da circulação portal.
Admitindo, porém, que alguma substância medicamentosa seja absorvida pelas hemorroidais médias
e pêlos canais linfáticos, pode pensar-se que essa
porção do fármaco escape à acção directa do fígado. Quanto às hemorroidais inferiores, parece que
não interessam, em razão da sua localização, ao processo de absorção.
Estas conclusões apresentam muito interesse quanto ao destino dos farmacos por via rectal e
quanto à importância desta via, comparada com a gastro-intestinal.
Durante vários anos pensou-se que a via rectal ofereceria nítidas vantagens sobre a oral. uma
vez que se admitia que os farmacos absorvidos na ampola rectal escapavam às modificações sobre
eles exercidas pelo fígado. Dizia-se, assim, que os farmacos escapavam à barreira hepática. Tal facto
poder-se-ia revestir de imenso interesse, porquanto muitas das substâncias sào transformadas no
fígado, modificando-se a sua actividade farmacológica. Sc bem que esta vantagem não seja
actualmente considerada como inteiramente válida j 1 ), outras há, mais consistentes, que se podem
resumir do seguinte modo:
Quando se compara a absorção rectal dos farmacos com a reali/ada ao nível da mucosa gastro-
intcstínal, verifica-se que a primeira não é inferior à segunda. B L C H I afirma mesmo que a absorção
por via rectal é, ordinariamente, mais rápida e completa do q ue por via oral. De facto, a
permanência dos medicamentos no estômago e as eventuais alterações químicas sofridas explicam,
em certa medida, o conceito formulado. Esta opinião não é partilhada por todos os autores, havendo
alguns que chegam a recomendar que as posologias por via rectal sejam superiores às habitualmente
estatuídas para administração oral (os excipientes dos medicamentos utilizados naquela via «ai a
pelariam» as mucosas com uma película viscosa, que dificultaria a absorção l.
Apesar das divergências assinaladas, é mais geral o conceito de que a via rectal possa
substituir a via gastro-intestinal para iguais quantidades de fármaco, aceitando-se que a absorção
seja, inicialmente, mais rápida. Por outras palavras, obtêm-se níveis sanguíneos comparáveis em
menor período de tempo quando a droga é administrada por via rectal, o que não significa que a taxa
de absorção seja forçosamente também mais
f l ) BITIIER assegura que cerca de 50% de um fármaco, administrado por via rectal, passam
directamente à circulação geral, escapando à barreira hepática (absorção pelas veias hemorroidais
médias).
520
elevada. Por motivos da acção irritativa exercida pêlos farmacos sobre a mucosa do recto é mesmo
aconselhável que a quantidade de substância medicamentosa administrada não ultrapasse os 4(H) a
500 mg, de uma só vez.
Quando se compara a via rectal com a via parenteral (intramuscular e hipodér-mica), o
problema, já de si complicado ao considerar-se isoladamente cada via, assume aspectos de grande
complexidade. Efectivamente, pode acontecer que a via rectal proporcione uma mais rápida
absorção, especialmente quando comparada com a absorção de medicamentos injectáveis oleosos. No
que diz respeito, porém, à taxa do fármaco absorvido, parece que, regra geral, a via parenteral
proporciona níveis plasmáticos medicamentosos mais elevados. Contudo, RENÉ FABRE e colaboradores,
ao compararem as diversas vias de administração, demonstraram que a sulfanilamida era absorvida,
em cães, numa taxa que diminuía pela ordem seguinte: via intraperitoneal, oral, rectal e
intramuscular. Estes resultados, como muitos outros aparentemente discordantes do conceito
generalizado, podem ser explicados pelas diferenças de veículos utilizados nas várias administrações
e, principalmente, por ser sempre difícil e perigoso extrapolar, para o homem, resultados obtidos com
animais de experiência.
É enorme a gama de compostos terapêuticos que se administram por via rectal. Os digitálicos,
alcalóides, barbitúricos, antitússicos, antibióticos, dilatadores coronários, hipnóticos, etc., constituem um
pálido exemplo da importância de que se reveste esta via.
Os factores dominantes na absorção rectal são essencialmente idênticos aos que regulam a
absorção por outras mucosas. Assim, o coeficiente de partilha óleo/água da porção indissociada da
molécula do fármaco e o seu grau de ionização constituem as principais propriedades que regulam a
velocidade e a taxa de absorção.
O pH do líquido da ampola rectal oscila entre 6,8-7,2, apresentando muilo pequena capacidade
tampão. Por este facto, os farmacos dissolvidos no líquido rectal modificam, mais ou menos
profundamente, o pH, consoante a sua natureza e o seu grau de dissociação. Deste modo, os ácidos e
bases fracos são mais rapidamente absorvidos do que os compostos altamente ionizáveis. SHANKER
demonstrou, por exemplo, que os farmacos que se comportam como ácidos são absorvidos mais
facilmente quando o pH do conteúdo rectal se torna propositadamente mais baixo. Os electrólitos
orgânicos fracos, que sejam facilmente solúveis nos óleos, são também absorvidos com rapidez.
As taxas e velocidades de absorção rectal de várias suifamidas foram estudadas em ratos por
KAKEMI e colaboradores. Observaram que as formas não ionizadas eram mais prontamente
absorvidas e que as suifamidas peneiravam melhor na mucosa rectal de que as lipo-insolúveis.
Verificaram, também, existir uma barreira ligeiramente ácida na zona recto-plasmática e que o pH do
medicamento influenciava largamente a absorção. Tudo leva a crer, portanto, que a absorção rectal é
efectuada por transporte passivo e subsequentemente influenciada, como a gastro-íntestinal, pela
velocidade de difusão e pela lipossolubilídade do fármaco.
521
4.3.4.1.1. Excipientes
A absorção dos fármacos por via rectr' não pode, porém, ser considerada indepen
dentemente dos excipientes ou veículos utilizados. Os supositórios, os recto-tampões e
os enemas e microenemas constituem as formas farmacêuticas empregadas por esta via.
Nelas utilizam-se excipientes sólidos (oleossolúveis ou hidromiscíveis), como nos supo
sitórios c rccto-tampões, ou líquidos, no caso dos enemas.
Quando o fármaco é administrado sob a forma de supositório com excipiente oleossolúvel é
necessário que este funda, originando emulsões ou pseudo-emulsões no líquido rectal. Se a substância
medicamentosa for incorporada cm supositórios de excipiente hidromiscível ou em recto-tampões
haverá, pelo contrário, formação de uma solução ou pseudo-solução com o líquido da ampola rectal,
não sendo preciso que se verifique a fusão do excipiente. Quando se trate de enemas ou de
microenemas, o veículo medicamentoso é constituído por água, glicóis vários, como a glicerina, ou
por óleos. Nestes líquidos o fármaco encontrar-se-á dissolvido, suspenso ou emulsionado.
A velocidade de difusão do fármaco do excipiente para a mucosa limita, como se compreende, a
velocidade de absorção. A tenuidade das partículas da substância medicamentosa, a sua solubilidade
no excipiente e, ainda, a eventual tendência do fármaco para formar complexos com os agentes
tensíoactivos presentes, são factores de enorme importância.
ALLAWALLA e RIEGELMAN estudaram estas influências, designadamente a facilidade do fármaco originar
soluções saturadas no líquido rectal, à medida que abandona o veículo medicamentoso. Assim, se
uma droga administrada em supositórios de manteiga de cacau for muito oleossolúvel e estiver
presente em pequena quantidade nos supositórios, terá fraca tendência para se dispersar no líquido
rectal. Pelo contrário, esta repartição será mais fácil se o fármaco for dificilmente solúvel no
excipiente e nele estiver presente em quantidades correspondentes à saturação.
Do mesmo modo que deixámos dito para a absorção gastro-intestinal, a elevada viscosidade dos
veículos, designadamente dos excipientes à temperatura do corpo, dificulta a absorção.
A presença de agentes tensioactivos pode ser favorável ou desfavorável à absorção rectal,
consoante os casos. Assim, a absorção do iodeto de sódio é acelerada pela presença do polissorbato
20 ou do sulfato de laurilo e sódio que retardam, porém, a penetração rectal do iodofórmio c do
triiodofenol. Este diverso comportamento é devido à complexação dos dois últimos fármacos pelas
micelas dos emulgentes, ao contrário do que sucede com o iodeto de sódio, que apenas beneficia da
sua presença (maior superfície de contacto entre o fármaco e a mucosa e acção peptizante exercida
sobre a mucosa pelo tensioactivo).
O mencionado tipo de interacção consiste na complexaçào dos fármacos pelas micelas dos
emulgentes. Como estas são demasiado volumosas, não podem passar
522
10 20 30
% de polissorbato
Fig. 218. Efeito da concentração de polissorbato 80 nos níveis sanguíneos obtidos com o
sulfisoxasol por via rectal
Segundo Kakemi et ai. — Chem. Pharm. Buli. (Tokyo), 13, 976 (1965)
Paralelamente com o fenómeno relatado não deve ser esquecido o facto de alguns tensioactivos aniónicos
poderem formar precipitados com fármacos catiónicos, do mesmo modo que os tensioactivos catiónicos poderão
reagir com drogas aniónicas. Os compostos insolúveis formados são muitas vezes inabsorvíveis, razão por que
se deve evitar esta incompatibilidade na prática farmacêutica.
523
Kt
hg (N~Nf) = hg (No- N ) - ————
2,303
em que: '"', : t
a) Quando se pretende uma rápida acção medicamentosa sistémica, deverá recor-:; " rer-se a um
excipiente gordo hidrófobo no qual o fármaco seja insolúvel e possa incorporar-se em suspensão;
b) se se requer absorção mais lenta, deverá eleger-se um excipiente gordo dotado
de certa hidrofobia, no qual o fármaco se não dissolva; r) a incorporação de fármacos
oleossolúveis em excipientes gordos hidrófobos
retarda a absorção;
d) a absorção de fármacos incorporados em excipientes hidrossolúveis ou hidro-miscíveis é,
regra geral, mais lenta do que quando administrados em excipientes gordos;
e) a presença de agentes tensioactivos numa medicação rectal pode ter o efeito de acelerar ou
retardar a absorção, tudo dependendo da sua quantidade e das incompatibilidades a que
pode dar origem.
A administração rectal, além de constituir uma boa via para absorção sistémica dos
medicamentos, também pode servir para estimular o reflexo da defecação por acção irritante sobre a
mucosa ou destinar-se à aplicação tópica de medicamentos, regra geral anti-inflamatórios.
525
Já dissemos que a absorção pêlos cólons se processava de modo semelhante à absorção rectal.
Quando, por via rectal, se administra um elevado volume de líquido (injecção rectal, enema ou
clister), esse líquido penetra nos cólons, espalhando-se, em função do seu volume, por uma zona
mais ou menos extensa do intestino grosso.
Os enemas podem destinar-se a uma acção meramente local ou a conter substâncias que devam
ser absorvidas. Os enemas de acção local podem ser evacuantes ou purgativos (água, soluções de
sabão, de sulfato de magnésio, de glicerina; infusões de sene; óleos; emulsões oleosas e de
parafinas; etc.), anti-helmínticos, emolientes, adstringentes, carminativos, etc,, ou destinarem-se a
exame radiológico dos cólons (clisteres opacos).
Os enemas podem ainda ter como finalidade uma absorção sistémica dos fármacos neles
contidos. Neste tipo de medicação podem ser considerados enemas alimentares com base em glicose,
leite, peptona, gema de ovo, etc. A sua utilização tem sido feita em doentes com obstrução das vias
digestivas superiores.
Os clisteres contendo hipnóticos, como o hidrato de cloral, ou anti-espasmódicos, como solução
aquosa de valerato de amónio, também se têm utilizado como medicação sistémica.
Não podemos terminar este subcapítulo sem chamar a atenção para o facto dos microenemas,
cujos volumes estão compreendidos entre l e 10 ml, actuarem em zona
526
diferente do intestino grosso. Efectivamente, estas preparações, também conhecidas por micro-
clismas, destinam-se a desenvolverem o seu efeito medicamentoso na ampola rectal e, por isso, as
considerámos em conjunto com os supositórios e recto-tampões.
A mucosa nasal constitui uma superfície de administração, tanto para medicamentos de acção
tópica (anti-infccciosos, vasoconstritores, antícongestivos), como de acção geral. Entretanto, pode
dizer-se que, na maioria das vezes, a administração nasal se destina a efeitos locais, finalidade que
exige boa penetrabilidade medicamentosa, sem que, contudo, interesse a absorção sistémica dos
fármacos.
As fossas nasais são revestidas, na sua maior extensão, por uma mucosa de tipo respiratório,
constituída por epitélio pseudo-estratificado, cilíndrico, vibrátil.
A abertura exterior das fossas nasais é coberta por pele, que apresenta numerosas glândulas
sebáceas e pêlos. Segue-se-lhe uma zona de transição, sem camada de que-ratina, pêlos ou glândulas
e, por último, surge a mucosa nasal respiratória, também chamada pituitária. Esta mucosa, que nos
interessa considerar do ponto de vista da administração dos medicamentos, reveste os cornetos e os
seios nasais. A porção de tecido que cobre estes últimos é formada por epitélio cilíndrico simples,
enquanto que a mucosa que reveste os cornetos é constituída, externamente, por epitélio ciliado, com
numerosas células do tipo caliciforme. As células ciliadas são, habitualmente, bastante altas e têm a
sua parte profunda afilada num pé terminal, que contacta com o córion.
O córion, que é muito rico em fibras elásticas, apresenta diversas infiltrações linfocitárias e
numerosas glândulas túbulo-acinosas. Fortemente irrigado por vasos sanguíneos, mostra uma extensa
rede capilar entre as artérias e as veias. Estas, que são rodeadas por uma camada muscular e
ligadas entre si por fibras lisas, constituem um plexo facilmente contráctil. Quando este plexo se
contrai, o sangue é esvaziado, havendo, em contrapartida, turgescência sempre que se dilata. Esta
circunstância é de capital interesse quanto à acção dos fármacos, explicando, também, a facilidade
das epistaxes, uma vez que a rede capilar é muito abundante.
À pituitária segue-se, imediatamente, para o lado da faringe, a nasofaringe, também designada
por rinofaringe, cuja mucosa está, igualmente, interessada na acção dos medicamentos aplicados por
via nasal.
A mucosa nasal respiratória, em virtude da actividade das suas células, está revestida de uma
película de muco que se desloca continuamente no sentido da faringe pela agitação dos cílios
vibráteis. Admite-se que o movimento ciliar é comandado por via
527
nervosa, tendo BURN demonstrado que a acetilcolina é produzida localmente. Baixas concentrações
de inibidores das colinesterases aceleram o movimento ciliar, enquanto que elevadas quantidades
daquelas substâncias provocam diminuição dos movimentos vibratórios dos cílios.
O muco nasal apresenta-se como um produto moderadamente viscoso (cerca de 6 vezes a
viscosidade do muco gástrico) e com comportamento pseudo-plástico. É de natureza proteica, sendo
constituído pela associação de compostos formados por cadeias de amino-açúcares e ácidos
glicurónicos, ligados a moléculas polipeptídicas.
A viscosidade do muco nasal é um dos factores mais importantes no que diz respeito ao
movimento ciliar. Efectivamente, se é demasiado fluido ou exageradamente espesso, os cílios não
poderão remover a película que se forma à superfície do epitélio. Admite-se, mesmo, que cerca de
20% dos casos clínicos de afecções nasais são devidos, em última análise, a um aumento da
viscosidade do muco, o que origina a secura do epitélio.
São frequentes as condições climáticas, medicamentosas e acidentais que levam à variação da
viscosidade do muco nasal. Entre elas, lembramos a temperatura e o grau higrométrico do ar, as
poeiras, as invasões por vírus e as medicações gerais, como as do tipo atropínico.
A secreção da mucosa nasal tem reacção ligeiramente ácida (pH entre 5,5 e 6,5), sendo
influente, neste valor, a acção local do anídrido carbónico. O ar frio origina, normalmente, a subida
do pH do muco, enquanto que o ar quente o acidifica. As constipações, as rinites alérgicas e as
sinusites produzem ligeira alcalinização.
Estas fáceis variações do pH do muco nasal devem-se à fraca capacidade tampão que aquele
apresenta. Por isso, a administração de drogas não tamponadas, a pH 9,5, altera a acidez nasal,
pelo período de algumas horas; a aplicação de soluções ácidas (pH < 5) acidifica o muco,
mantendo-se essa acidez por algum tempo. Compreende-se que estas alterações do pH normal do
muco não sejam desejáveis, pois podem levar ao aparecimento de afecções nasais, provenientes da
lesão da mucosa.
Se bem que a tonicidade do muco nasal não esteja rigorosamente determinada, admite-se que o
funcionamento ciliar é mais perfeito quando os medicamentos aquosos, aplicados na mucosa, sejam
isotónicos como o soro sanguíneo. Entretanto, tal como acontece com os glóbulos rubros, há limites
de tolerância para as soluções hipo ou hipertónicas, sendo estas últimas menos prejudiciais. A água
destilada inibe o movimento ciliar. A actividade ciliar cessa, também, quando se apliquem na mucosa
soluções de cloreto de sódio de concentração superior a 4% ou inferior a 0,3%.
O muco nasal desempenha, entre outras funções, um papel protector. Funciona como uma
barreira que defende a mucosa das agressões externas. Por outro lado, a mucosa respiratória nasal
íntegra não constitui uma boa via de eliminação. Em condições normais, um fármaco administrado
por via endovenosa não se elimina pelo muco nasal, o que pode, porém, não suceder em doentes
portadores de rinite aguda ou de sinusite. Efectivamente, experiências realizadas por INGELSTEDT e
IVSTAM demonstram
528
que a fluoresceína injectada por via endovenosa não comunica fluorescência ao muco
nasal de indivíduos sãos, ao contrário do que sucede com a sua saliva, sucos digestivos
e humor aquoso,
4.3.5.2. Absorção
As soluções aquosas dos fármacos, aplicadas em gotas, dão, normalmente, melhor absorção do
que outras formulações. É o que acontece à escopolamina, que administrada em dispersão origina
níveis sanguíneos inferiores aos conseguidos com soluções tendo como veículo a água.
A adição de agentes tensioactivos, judiciosamente escolhidos, incrementa a velocidade de absorção.
Entre eles verifica-se que o sulfato de laurilo e sódio e o dioctil-sulfossuccinato de sódio, ambos
aniónicos, não são nocivos para os cílios, quando em pequena concentração. Quantidades desses
agentes até 0,01% não provocam qualquer dano e incrementam a absorção dos fármacos associados.
Contudo, têm-se descrito casos de irritação da membrana mucosa quando nela se aplicam
medicamentos contendo 0,05% de sulfato de laurilo e sódio. Por seu turno, os compostos
tensioactivos não iónicos, como os polis sor batos, são bem tolerados, mesmo em concentração
elevada. Quanto aos detergentes catiónicos, do tipo do cloreto de benzalcónio, aconselha--se o seu
uso em concentrações que não ultrapassem 1:1000.
Além das soluções aquosas que se aplicam em gotas nasais, são empregadas dispersões
medicamentosas de fase dispersante líquida ou gasosa. As inalações de hormonas do lóbulo posterior
da hipófise e de insulina constituem exemplos deste tipo de medicação nasal. A vitamina B12 tem,
igualmente, sido empregada em soluções aquosas ou em pó diluído com lactose, que se dispersam na
mucosa. Nos casos citados, a via de absorção nasal é preferível à gastro-intestinal, já que as
hormonas proteicas, como a ocitocina e a insulina, seriam destruídas pêlos sucos digestivos e a
vitamina B12 necessita da presença ao factor intrínseco para que seja absorvida pela mucosa do
intestino. N. BORGLIN, por seu turno, observou que a acção farmacológica da ocitocina, por via nasal,
é quase quantitativamente idêntica à conseguida por via endovenosa. Nos últimos anos têm-se,
também, ensaiado contraceptivos aplicados por via nasal, havendo estudos feitos nesse sentido por
orientação da Organização Mundial de Saúde.
A efedrina (0,5 a 3%) é talvez ainda hoje o fármaco mais utilizado como vaso-constritor nasal.
Sabe-se que a sua acção se assemelha à da adrenalina, sendo, porém, mais aconselhável do que esta
para aplicação tópica nasal. De facto, a efedrina tem uma acção mais duradoura, apresenta maior
estabilidade e não ocasiona hiperemia subsequente à acção descongestionante. O seu efeito
constritor nas arteríolas é menos marcado do que o da levorrenina, estando bloqueado o componente
vasodilatador. Tal efeito não se observa com a adrenalina, cuja administração nasal provoca
congestão da mucosa, após a vasoconstrição inicial. Como se compreende, esta hiperemia tardia da
mucosa e o edema secundário ligado à acção tópica da adrenalina podem provocar perturbações da
actividade ciliar e da produção do muco nasal.
Entre os fármacos anti-inflamatórios utilizados na mucosa nasal figuram os corti-costeróides,
sendo muito empregada a dexametasona a 0,02% que é mais potente do que a hidrocortisona e não
apresenta efeitos secundários. A prednisolona a 0,05% é também eficaz.
Como fármacos anti-infecciosos tópicos são empregados vários antibióticos bactericidas
(penicilina, estreptomicina, tirotricina, gramicidina, poliximina B, neomi-cina, etc.), embora se
reconheça que, pelo menos parcialmente, são absorvidos. Entre as substâncias anti-sépticas é ainda
de referir o timol, o eucaliptal e algumas essências, como o gomenol. Estes produtos podem ser
aplicados em pomadas ou em dispersões.
Neste grupo de compostos citamos ainda os lisózimas, que são elementos bacte-riolíticos
naturais dos tecidos e secreções, especialmente activos sobre a família das Coccaceae (Micrococcus,
Sarcina, Coccus), mas que actuam também sobre os bacilos patogénicos.
As sulfamidas, como o sulfatiazol e a sulfacetamida; a nitrofurazona, os derivados mercuriais
anti-sépticos, como o merfen, e os colóides de prata, como o argirol, são fármacos ainda
correntemente utilizados.
Por último, não queremos esquecer o emprego tópico de vários anti-histamínicos, já que muitas
das rinites observadas são de natureza alérgica. Anotemos, apenas, que pode haver absorção
acidental destes compostos, com subsequente aparecimento de efeitos secundários. Isto deve
constituir uma contra-indicação do seu uso em crianças de muito pouca idade.
..-..: Os medicamentos para administração tópica nasal são, normalmente, constituídos por soluções
aquosas que se aplicam em gotas ou em dispersão no seio de gases. Num número mais restrito de
casos, utilizam-se soluções oleosas ou pomadas de excipiente gordo ou hidromiscível.
Pelo que atrás ficou dito, parece, em princípio, que as soluções oleosas não são aconselháveis
para aplicação na mucosa nasal, uma vez que a sua viscosidade impediria o movimento ciliar.
Trabalhos recentes comprovam que as medicações aquosas podem também não ser sempre
aconselháveis, uma vez que os vasoconstritores nelas contidos apresentem, por efeito da sua
excelente penetração, uma acção muito rápida e intensa.
531
BREUNINGER demonstrou, em 1958, que as gotas nasais oleosas permanecem no nariz cerca de cinco
vezes mais tempo do que as aquosas, cujo desaparecimento é, fundamentalmente, devido à absorção. As
soluções oleosas, pelo contrário, não são removidas por absorção mas por arrastamento para a
faringe. Efectivamente, estas soluções não se misturam com o muco nasal, o que lhes vai apenas
servir de suporte móvel, alcançando as cavidades paranasais e as suas aberturas que se alargam,
devido ao seu efeito descongestionante, STENMANN invoca estes argumentos para afirmar que as soluções
oleosas nasais de uso tópico são preferíveis às aquosas. Por seu turno, BECKER defende as vantagens
do emprego dos óleos como excipientes no tratamento das rinites, já que, segundo afirma, o óleo
protege a mucosa, por evitar a secura das suas células. Muitos outros otorrinolaringologistas, como
TESCH, são do parecer de que é vantajosa a presença de óleos (parafina, óleos vegetais fluidos e
neutros) em medicações vaso-constritoras, pois aqueles originam uma acção mais constante, sem que
surja a vasodi-latação tardia ou a habituação, tão comum com o emprego das soluções aquosas.
A tendência actual é a utilização de apenas soluções aquosas, já que, apesar dos argumentos
invocados pêlos adeptos do meio oleoso, há sempre o risco de aspiração do corpo gordo, podendo surgir
pneumonias lipídicas. •*-•-
Já em relação às pomadas, as considerações atrás deixadas não parece que tenham perfeito
cabimento. De facto, se o fármaco se encontra disseminado num excipiente sólido, oleossolúvel, a
consistência e viscosidade deste irão prejudicar os movimentos ciliares, tornando deficiente o seu
arrastamento para a nasofannge, a que anteriormente fizemos referência. Como consequência, retarda-
se, demasiadamente, a acção terapêutica pretendida, podendo ainda surgir complicações inerentes à
composição oleosa, como a pneumonia lipídica.
Os factores mencionados têm levado à substituição das pomadas oleosas de descongestionantes
nasais por geleias aquosas, contendo os mesmos fármacos. Entre os excipientes preconizados neste
último caso figura o alginato de sódio. FIEDLER e LEE, estudando a composição de pomadas e geleias
contendo vasoconstritores, dão a sua preferência às geleias de alginato, com 1% de efedrina.
A par destes medicamentos clássicos surgiram nos últimos anos novos sistemas terapêuticos
oftálmicos que, de acordo com HEIL MANN, podem ser classificados em unidades de difusão (ocusert e
soflens), unidades osmóticas (minibombas e microcom-partimentos) e unidades solúveis (implantes
terapêuticos solúveis = ITS; soluble ophtal-mic drug insert = SODI). Trata-se de formas
farmacêuticas preparadas para uma libertação tanto quanto possível regular das substâncias
medicamentosas, permitindo uma acção terapêutica constante e prolongada, , ,• -v-:, „.'
Os fármacos empregados nestas preparações desempenham efeitos variados, podendo, contudo,
dizer-se que actuam principalmente como anti-inflamatórios, mióticos, midriáticos, anestésicos
locais, vasoconstritores, vasodilatadores e anti-infecciosos.
Qualquer que seja o medicamento administrado por via ocular, deve ser estéril e ter reacção
próxima da neutralidade. Os líquidos aquosos devem, ainda, apresentar uma tonicidade compatível
com a fragilidade do órgão. Estas características, infelizmente, nem sempre se têm respeúado,
sobrevindo lamentáveis acidentes. É importante que o farmacêutico dedique à preparação dos
medicamentos oftálmicos pelo menos os mesmos cuidados de que se cerca quando prepara
injectáveis endovenosos. A aplicação de um colírio ou de uma pomada oftálmica constitui sempre
um traumatismo, e, portanto, tudo deverá ser feito para que essa agressão seja a menor possível.
de 60% da córnea, é, por sua vez, formado por cerca de 60 lâminas, constituídas por fibrilas
entrecruzadas com células entre elas (Fig. 220).
A túnica média do globo ocular, membrana músculo-vascular, pode dividir-se em
três zonas: — coróide, corpo ciliar e íris. -'" ' """ " '
A coróide, fortemente vascularizada, ocupa a metade
posterior do olho e continua-se com o corpo ciliar, do qual está
separada por uma linha circular, festonada, a ora serrata. E '-- ••- J *•
O corpo ciliar, de secção aproximadamente trian
gular, relaciona-se pela sua face externa com a
esclerótica e apresenta, na face interna, duas zonas
distintas: — uma, posterior, finamente pregueada, o
orbiculus ciliaris; outra, anterior em relação àquela,
provida de um certo número de eminências (entre 70
e 80) que se designam por processos ciliares. Na
espessura do corpo ciliar encontramos o músculo
ciliar, que tem inserção no limbo esclero-corneal e
L
que é formado, sobretudo, por fibras de disposição
longitudinal ou radiada, contendo também alguns
feixes de fibras circulares situadas para dentro das
primeiras. -' '"' ?' ''"'
A íris, com um orifício central cujo diâmetro pode variar pela
acção de músculos, está colocada, como um diafragma, à frente
Fig. 220. Secção vertical do cristalino. O seu papel é, pois, o de regular a entrada dos raios
da
córnea mostrando a sua luminosos no olho, mas tem, ainda, como funções secundárias, as de
estrutura reter determinadas radiações (papel que pertence ao pigmento),
microscópica
eliminar resíduos celulares e intervir na formação do humor aquoso.
A — células epiteliais (camada); B
— membrana de Bowman; C — Este fornece os elementos nutritivos essenciais às estruturas não
substância própria da córnea; D — vascularizadas (córnea e cristalino) e provém do sangue de onde
membrana de Descemet; E —
se forma continuamente por intermédio dos processos ciliares. Circula na câmara anterior do olho
antes de ser drenado para o sangue venoso através do canal de Schlemm. É o humor aquoso que
regula a pressão intra-ocular necessária para a curvatura adequada do globo. Se esta pressão aumenta
demasiadamente, em regra por ter aumentado a resistência do escoamento através do canal de
Schlemm, instala-se uma doença conhecida por glaucoma, susceptível de ser atenuada por meio de
mióticos que alargam aquele canal.
A membrana interna do olho, a retina, é uma formação sensorial que recobre a
! ír
face profunda da túnica média. •' ;:
Na Fig. 221 está representada, em esquema, uma secção horizontal do globo ocular.
535
As pálpebras são formações músculo-membranosas, cuja face anterior é revestida por pele,
sendo a face posterior, que fica em contacto com o globo ocular, forrada por uma mucosa, que
cobre, também, a face anterior da córnea. Esta mucosa, lisa, brilhante, de coloração rosada na zona
palpebral, forma, ao inflectir-se da pálpebra para a face
anterior do olho, os fundos do saco óculo-palpebrais. Designa-se pelo nome de conjuntiva e pode,
portanto, ser dividida em três segmentos — a conjuntiva pálpebra!, a conjuntiva do fundo do saco e a
conjuntiva ocular. Rica em elementos celulares mucosos, a conjuntiva mantém sempre as condições
de humidade características do olho. É fortemente irrigada por vasos sanguíneos e linfáticos; os
primeiros reagem com facilidade, dilatando-se, em consequência da presença de corpos estranhos ou
de estados infecciosos. A vascularização da conjuntiva assegura a remoção, para a circulação geral,
do medicamento que com ela seja posto em contacto.
536
A eficiência das preparações oftálmicas depende, em larga medida, do seu poder de penetração
através das túnicas e anexos do globo ocular.
As aplicações medicamentosas de uso oftalmológico actuam sobre a esclerótica, conjuntiva,
córnea e corpo ciliar, podendo os fármacos constituintes serem absorvidos, principalmente, pêlos
vasos da conjuntiva.
537
A maioria dos medicamentos oculares deve penetrar neste órgão de modo a oca
sionar a resposta pretendida. De um modo geral, as preparações oftálmicas misturam-
-se rapidamente com o líquido lacrimal e espalham os seus princípios activos pela
superfície da córnea e da conjuntiva, se bem que a permanência na córnea seja impe
dida pela lavagem efectuada pelas próprias lágrimas. Assim, quando se instilam umas
gotas oculares, por exemplo, a maioria do medicamento fica alojada no fundo do saco
óçulo-palpebral. A capilaridade e a difusão conservam, porém, certa quantidade de
medicamento sobre a córnea. Outra apreciável quantidade de substância medicamentosa
é drenada pelas lágrimas para a cavidade nasal. Experiências efectuadas com soluções
concentradas de fluoresceína sódica demonstram que, mesmo assim, o fármaco per
manece em contacto com a córnea, pelo menos durante 5 a 6 minutos. Entretanto,
segundo CORNIC, ao fim de 8 minutos, a concentração do fármaco está reduzida a cerca
de 1/1000 da inicial. . . • , . :.. , . . ;< - v • ,,
Os trabalhos de COGAN e de SWAN têm contribuído para mostrar que a penetração dos
medicamentos através da córnea se processa, como em muitos outros casos, por transporte passivo,
baseado no coeficiente de partilha óleo/água. Por outro lado, as formas não dissociadas dos
medicamentos, geralmente lipossolúveis, seriam as mais facilmente absorvidas pela córnea. Como
muitos fármacos usados em oftalmologia se comportam como bases fracas, o pH da formulação teria
ainda o maior interesse.
As lágrimas apresentam capacidade neutralizadora das variações de pH produzidas pelas
soluções instiladas nos olhos. Assim, se uma solução aquosa de um sal de alcalóide (bromidrato de
homatropina, por exemplo) for aplicada na região ocular, uma apreciável quantidade de sal é
convertida em base livre, devido ao citado efeito. Nestas circunstâncias, a base homatropina, no
exemplo escolhido, penetra facilmente na camada lipóide das células da córnea, uma vez que é
dotada de lipossolubilidade. Ao atingir o tecido próprio, de características tipicamente hidrófilas e
com baixo conteúdo em lípidos, a forma básica do alcalóide é convertida em catião, devido ao pH do
meio celular. Novamente a forma não dissociada do alcalóide penetrará através do endotélio, que é
também de natureza lipóide, atingindo, então, o humor aquoso. Daí se difunde, mais uma vez sob a
forma catiónica, para a íris e corpo ciliar, onde irá exercer a sua acção midriática. A Fig. 223
auxilia a compreensão do que deixámos dito.
Experiências realizadas com doridrato de procaína mostram que a penetração
deste anestésico é mais intensa quando se tampona o meio para pH 7. E que a esse
pH a procaína base é posta em liberdade e sob essa forma é susceptível de transpor
as membranas lipóides. ' v , u^
538
CH,— CH — CH2
NCH3CHOOCC0H
i i
CH, — CH — CH,
Homatropina Substân
cia
LJ
Humor
, Tem-se notado que, para alguns fármacos, a penetração pêlos espaços extracelulares é
aumentada pela presença de agentes tensioactivos. O carbacol, por exemplo, é melhor absorvido
pela córnea quando em presença de cloreto de benzalcónio que diminui substancialmente a tensão
superficial.
Como atrás acentuámos, uma vez que um fármaco penetre na córnea acaba por atingir o
plasma circulante. Este facto apresenta interesse, pois a aplicação de colírios tem provocado
verdadeiras intoxicações sistémicas. A escopolamina, que habitualmente se usa em colírio a 0,2%,
tem originado efeitos secundários, mais ou menos graves, quando a sua concentração é de 1%.
Nessas circunstâncias, uma apreciável quantidade de fármaco atinge a corrente circulatória,
difundindo-se, depois, por todo o organismo. É curioso salientar que colírios de atropina, a l ou a
2% e os de homatropina a 5% não provocam intoxicações.
539
libertar os farmacos de um modo constante, em regra segundo cinéticas de ordem zero. O seu
período de actuação varia entre um dia e uma semana, funcionando, afinal, como reservatórios
medicamentosos que inseridos no saco conjuntival vão cedendo os princípios de forma a que o doente
esteja sempre submetido ao seu efeito terapêutico.
A invasão da córnea por microrganismos é sustada pelo seu epitélio, sempre que este se
encontre intacto. A conjuntiva, por seu turno, difere das outras membranas mucosas pelo excelente
sistema de drenagem que possui, o qual, em muitos casos, elimina os agentes infecciosos pelas vias
lacrimais, para a cavidade nasal.
Em diversas conjuntivites, porém, os microrganismos instalam-se superficialmente e aí
proliferam, produzindo toxinas solúveis que vão penetrando nos tecidos e originando a resposta
patológica. O Staphylococcus aureus, que é o causador da maioria das infecções da conjuntiva,
actua do modo mencionado, sendo a difusão das suas toxinas auxiliada pela secreção de
hialuronidase.
Quando, por qualquer circunstância, o epitélio da córnea foi lesado, as defesas naturais
encontram-se seriamente diminuídas e o microrganismo poderá penetrar com maior facilidade. A
Pseudomonas aeruginosa é a bactéria que mais vezes aparece neste tipo de invasão, instalando-se e
proliferando facilmente, sempre que haja soluções de continuidade na córnea. Como se trata de um
microrganismo que é habitante normal do corpo humano, é de temer a sua invasão logo que haja
lesão da córnea.
Em conclusão, e de acordo com as ideias expostas, as formas de admi
nistração ocular devem ser estéreis. Mais ainda, deverão possuir substâncias anti-
-sépticas que evitem a proliferação microbiana quando se contaminem, eventualmente,
durante o uso.
É muito extensa a lista dos farmacos empregados em pomadas, preparações líquidas, ou mesmo
em pós oftálmicos.
As suspensões e as pomadas exigem uma perfeita dispersão do material constituinte, de tal
modo que as partículas dispersas não actuem como corpos estranhos capazes de lesar a córnea. É
por isso que nas pomadas, nas suspensões e, também, nos pós se utilizam as substâncias activas
numa tenuidade elevada (porfirizadas ou micro-nizadas).
Quando o excipiente é oleoso, deverá ter-se em atenção a sua acidez e importa
também considerar a sua viscosidade ou a sua consistência, que não é aconselhável
serem elevadas. •< .,.-'::;
Os farmacos empregados nas preparações oftálmicas podem agrupar-se em onze classes
diferentes, de acordo com a classificação estabelecida por RUNTI. A Tabela LTTI indica as principais
substâncias medicamentosas empregadas em colírios.
542
Anti-infecciosos
Sulfamidas (sulfatiazol, sulfacetamida, sulfadicramida, etc.)
Antibióticos (penicilinas, estreptomicina, cloranfenicol, tetraciclinas, bacitracina, neo-
micina, polimixinas, espiramicina, etc.)
Corantes (azul de metileno, proflavina) \ .
Fenóis (resorcina)
Diversos (ácido bórico, boratos, propionato de sódio, nitrofurânicos)
Anestésicos locais f
Cocaína, procaína, tetracaína, lidocaína •
Anti-inflamatórios ,
Corticóides (cortisona, prednisolona, hidrocortisona),
Compostos metálicos (Cu, Zn, Hg, Ag)
Compostos organometálicos (argirol) .
Vitaminas
A, E, F, B,, B2, C, P
Aníicoagulaníes
Heparina
Míóticos
Pilocarpina, eserina, neostigmina, carbacol
Midriáticos
Atropina, homatropina, escopolamina, fenílefrina :
Vasoconstritores
Adrenalina, efedrina, nafazolina
Difenidramina, antazolina
Vasodilatadores
. . .
.
Etilmorfma, priscol
Enzimas ~- •
Hialuronidase, tripsina, lisózima, quimotripsina
Na tabela apresentada agrupámos os farmacos de acordo com a sua acção predominante. Há,
contudo, nesta lista substâncias medicamentosas que apresentam mais de um efeito farmacológico.
É o que sucede com os compostos metálicos, que classificámos como anti-inflamatórios, embora
possam manifestar acção anti-infecciosa, como acontece com o óxido de mercúrio, com o sulfato de
zinco e com o argirol.
543
Uma das afecções auriculares mais comuns é a excessiva acumulação de cerúmen, a qual
provoca diversas perturbações, como deficiência auditiva, dores, vertigens, etc. Vários medicamentos
são utilizados para a sua remoção, como as soluções de carbonato de potássio em glicerina, as
soluções de peróxido de hidrogénio a 5 e 10 volumes, e os óleos, como o de amêndoas doces.
As infecções do ouvido externo são também frequentes. A humidade, os traumatismos e certa
alcalinidade predispõem o ouvido para a proliferação microbiana.
A flora residente no ouvido externo é, habitualmente, constituída por Micrococcus
(M. aureus e M. albus), Corynebacíeria e outros microrganismos acidentais. Num
ouvido íntegro não aparece, regra geral, o Pseudomonas aeruginosa (bacilo piociânico),
mas este microrganismo desenvolve-se tão facilmente, quando haja para isso condições
favoráveis, que a maioria das otites externas é a ele devida (65 a 90% dos casos). Com
menos ocorrência, há otites externas devidas a Proteus vulgarís e a estreptococos e
estafílococos. -v i ';
Estes conhecimentos têm interesse na formulação dos medicamentos anti-sépticos para o ouvido
externo, já que, em regra, é o Pseudomonas aeruginosa o causador da infecção. Assim, devem
utilizar-se antibióticos, sulfamidas e outros fármacos que apresentem especificidade para este agente.
As infecções fúngicas do ouvido externo são muito raras e geralmente só aparecem depois de
uma terapêutica prolongada pela neomicina e cortiçosteróides anti-infla-matórios. OWEN e
colaboradores relatam o aparecimento de numerosas dermatites, subsequentes ao tratamento prolongado
de otites externas com neomicina.
Por último, lembramos que as infecções do ouvido exerno são mais frequentes na estação
quente, principalmente nos meses húmidos. A natação, provocando uma maceração dos tecidos, cria
condições favoráveis para o desenvolvimento de bactérias pato-génicas.
A inflamação do ouvido médio é, geralmente, concomitante com a inflamação das
cavidades nasais que com ele comunicam pela trompa de Eustáquio. A Fig. 224 ilustra
:: :
a aludida relação. ';
Estas infecções auriculares são, habitualmente, muito dolorosas e acompanhadas por
diminuição da acuidade acústica e por febre. Grande número das otites médias é devido a
microrganismos Gram-negativos. Os Proteus e Pseudomonas aparecem em muitos estados
infecciosos crónicos, mas pode dizer-se que se têm isolado todos os tipos de microrganismos
patogénicos naquelas infecções.
Pelo que se disse se compreende que os medicamentos administrados por
via auricular são, fundamentalmente, removedores do cerúmen, anti-infecciosos e anti-
-inflamatórios. Utilizam-se em soluções, suspensões, pós, aerossoles, pomadas e
otocones.
545
As soluções e suspensões devem ter o pH compreendido entre 5 e 7,8, sendo mais vulgares as
ligeiramente ácidas. A glicerina e o propilenoglicol são muito utilizados, como veículos, em gotas
auriculares, uma vez que a sua elevada viscosidade permite a aderência à superfície interna do
conduto auricular. Os óleos empregam-se igualmente, bem como o álcool.
Bula etmoidal
Corneto médio . -
Seio Frontal y*
Flecha no seio
Osso nass!
'»»> «..',-,,
Flecha no Corneto
Seio superior
Frontal Amígdal
a
Orifício do '.hfaringe
canai naso- a
íacrimal
Fossas na Abertura
sais para
externas Trompa
auditiva
Cavidade
Nasofarin
ge Palato
Vestíbulo
Fig. 224.
547
547
A árvore pulmonar apresenta uma superfície que atinge 80 a 100 m2 no homem adulto. Por seu
turno, as mucosas traqueal e brônquica e o epitélio alveolar são facilmente permeáveis, permitindo a
absorção de compostos voláteis ou de dispersões de sólidos ou de líquidos numa fase gasosa
(aerossoles).
Segundo Landahl, citado por J. Kanig — J. Pharm. Sei., 52, 524 (1963)
alvéolos pulmonares. Claramente que os vapores e os gases não apresentam esta limitação, já que
as suas partículas são muito menores. De modo inverso, porém, não é possível, neste estado de
divisão, garantir-se que um tarmaco actue sobre uma zona circunscrita e de maior diâmetro do
tracto respiratório, A Fig. 225 representa, de modo esquemático, as relações de calibre existentes
entre as vias aéreas e os alvéolos e as dimensões das partículas capazes de os atingirem.
Entre os medicamentos utilizados por via traqueopulmonar figuram os anestésicos gerais
voláteis, como o éter, o protóxido de azoto e o clorofórmio; os vasodilatadores, como os vapores de
nitrito de amilo; os an ti-reumatismais, como as inalações sulfurosas ou sulfídricas; os vapores an ti-
sépticos, provenientes do aquecimento das tinturas de benjoim e de eucalipto, ou, simplesmente,
desenvolvidos pêlos óleos essenciais; os fumos de cigarros ou de pós anti-asmáticos. etc.
Nos últimos anos tem sido utilizada, satisfatoriamente, a aplicação f'*iica intra-cavitária (por
via traqueobrônquica) de pomadas de consistência dura, conterPí9T agentes tuberculostáticos
geralmente associados. VOIGT e CHURIDT estudaram alguns preparados galénicos deste tipo.
Ao lado destas medicações, podemos citar o emprego recente, mas tão generalizado, dos
aerossoles. Mais tarde serão estudados em pormenor, mas, entretanto, diremos que são dispersões de
partículas sólidas ou líquidas no seio de gases. A noçãx) farmacêutica de aerossole não está em
perfeito acordo com o conceito físico-químico que admite um estado coloidal, em que as partículas
(micelas) apresentam cerca de 100 mu. de diâmetro. Efectivamente, os aerossoles farmacêuticos são
dispersões de partículas cujo diâmetro varia entre limites relativamente largos e, nalguns casos,
perderiam a sua eficácia se fossem coloidais. Como já vimos, mesmo para os fármacos que actuam
sobre os bronquíolos ou sobre os alvéolos pulmonares, é necessário que as suas partículas
apresentem diâmetros da ordem de 20 U, e de 2 (i, respectivamente.
As dispersões de sólidos ou de líquidos em gases, designadamente no ar, podem ser
conseguidas através de uma formulação criteriosa do medicamento que é, depois, disperso por meio
de aparelhos especiais. Estes são de vários tipos: atomizadorea, nebulizadores, insufladores,
vaporizadores, falando-se, assim, em atomizações, nebuliza-ções, insuflações e vaporizações.
Muitos fãrmacos são, hoje, aplicados na árvore pulmonar sob a forma de aerossoles. De facto,
e para lá da acção tópica que, eventualmente, se pretenda, a administração de muitos aerossoles
proporciona fácil absorção medicamentosa, passando o fármaco à pequena circulação e, depois, à
circulação geral, sem que sofra as modificações inerentes à sua travessia pelo fígado. Pode,
portanto, dizer-se que os fármacos absorvidos por via traqueopulmonar escapam à barreira
hepática. A principal vantagem da terapêutica por esta via de administração é, contudo, a de
permitir a aplicação tópica de poderosos agentes farmacológicos em determinadas zonas do tracto
respiratório. A penicilina, por exemplo, é utilizada em aerossole (pó ou solução aquosa dispersa no
seio de gases, como o ar) para acção local no tracto respiratório inferior. Parte deste
549
Do ponto de vista histológico, a uretra e a bexiga apresentam, de fora para dentro, três
camadas celulares, a saber: 1) uma adventícia de natureza conjuntiva bastante vascularizada; 2)
uma túnica muscular, com duas ou três camadas de fibras lisas; 3) uma mucosa com um epitélio
estratificado especial (cpitélïo de transição).
Tanto nalgumas regiões da bexiga como na uretra observam-se aberturas ou canalículos
glandulares por onde segrega um líquido viscoso, semelhante ao muco.
A bexiga e a uretra são essencialmente formações destinadas à excreção. Compreende-se, pois,
que as suas mucosas, fisiologicamente inadapladas à absorção, não promovam, regra geral, a
penetração dos medicamentos. Estas duas superfícies de administração são, portanto, utilizadas para
medicamentos tópicos, mas em casos especiais em que haja inflamação, poderá ocorrer absorção
acidental. A absorção pela mucosa vesical tem sido, igualmente, observada com diversos farmacos,
como o álcool, sendo a mucosa uretral mais facilmente atravessada do que a vesical.
Do ponto de vista prático, pode afirmar-se que só se preparam medicamentos destinados a
produzir um efeito tópico na uretra ou na bexiga.
As velas medicamentosas, que são cilindros dotados de certa consistência e elas
ticidade conferidas pêlos excipientes, constituem uma das formas farmacêuticas empre
gadas para se conseguir uma acção tópica uretral, a maioria das vezes de natureza anti-
-iníecciosa.
(colunas vaginais) e papilas com numerosas fibras elásticas. A mucosa, que possui
epitélio pavimentoso estratificado, encontra-se destituída de glândulas, as quais apare
cem apenas no vestíbulo vaginal. •-} -•- <i•;•••• '-- --•" ; ; -^ ^ ••• - -.Í-W^^KV
A vagina possui artérias e veias, comunicando estas, directamente, com a circulação geral, sem
que haja passagem pelo fígado.-
Na prática corrente, a mucosa vaginal é apenas utilizada para aplicação de medicamentos
tópicos. Verifica-se, porém, alguma absorção medicamentosa por esta via, o que é susceptível de
interesse, dado que os fármacos absorvidos escapam à barreira hepática.
Os medicamentos administrados por via vaginal sào especialmente óvulos, comprimidos e
pomadas. Empregam-se por esta via fármacos adstringentes (taninos), anti-infecciosos (antibióticos,
sulfamidas), queratoplásticos (ictiol), cicatrizantes (alan-toína), etc.
Os comprimidos contêm, normalmente, como excipientes, misturas de lactose, sacarose e
glucose, uma vez que estes açúcares facilitam o desenvolvimento dos bacilos de DÕDERLEIN, parasita
necessário à sanidade da mucosa.
Além das infecções bactéricas mais correntes da mucosa vaginal devem ser consideradas as
produzidas por Trichomonae e por Moniüae. Os tricomonas são muitas vezes eliminados com
glicolilarsanilato de bismuto e com viofórniio, enquanto que para a monília se tem utilizado a
nistacina e o roxo de genciana. , ° ; ;'
O útero apresenta três camadas fundamentais: 1) túnica adventícia ou peritoneal, de natureza
conjuntiva; 2) túnica muscular ou miométrio\ 3) túnica mucosa ou endo-métrio.
A camada muscular mostra uma profunda vascularização, o que explica poder registar-se
absorção medicamentosa, acidental ou propositada, pelo útero.
Nos períodos pós-parto e pós-menstrual nota-se incremento de absorção pelo útero, o que tem
dado origem a certas intoxicações quando nessa altura se procede a lavagens útero-vagi na i s com
soluções aquosas de anti-sépticos não inócuos, como o cloreto mercúrico.
Pode dizer-se que a administração parenteral (do grego: para = ao lado + enteron = intestino),
também chamada injectável, principiou a de sen volver-se depois dos trabalhos de PASTEUR sobre a
esterilização. Até essa altura, a via parenteral, que foi pela primeira vez utilizada de uma maneira
sistemática na terapêutica humana por ALEXAN-DER WOOD, em 1853, tinha dado origem a diversos
acidentes infecciosos, já que os medicamentos não eram esterilizados. A falta de assepsia das
preparações primitivas provocava, com certa frequência, o aparecimento de abcessos e de outras
infecções, o que originou o descrédito desta via de administração, por espaço de algumas décadas
551
administração apresente particular risco de lesão dos tecidos em causa. Isto é o que sucede com a
aplicação de injectáveis por via intrarraquidea, os quais podem provocar necrose ou destruição do
tecido nervoso. Nestas circunstâncias, o suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV anota
judiciosamente: «As preparações que tiverem sido adicionadas de conservantes serão administradas
pelas vias subcutânea ou intramuscular, com exclusão de qualquer outra via parentérica, excepto a
intravenosa quando o volume a injectar não exceder 15 ml. Em todos os casos o conservante
empregado não deve alterar a preparação injectável nem modificar a sua acção terapêutica».
De igual modo, a Farmacopeia Portuguesa V estabelece o mesmo limite, aliás de acordo com a
Farmacopeia Europeia.
Como o seu nome indica, por via subcutânea ou hïpodêrmica os medicamentos são
administrados debaixo da pele, no tecido subcutâneo. As doses dos fármacos aplicados por esta via
são, habitualmente, metade das empregadas por via oral.
Relembremos que a hipoderme é constituída por uma camada fibro-adiposa, superficial, e por
uma camada fibrosa, profunda. O seu colagénio é rico em ácido hialurónico que lhe confere
apreciável viscosidade, característica esta que determina a difícil difusão dos medicamentos no
tecido subcutâneo. Por outro lado, o traumatismo proveniente da aplicação da injecção liberta
histamina que, como a serotonina, retarda a absorção medicamentosa.
554
••^Tecido subcutâneo
Como o próprio tecido subcutâneo contém hialuronidases, estas vão hidrolisando lentamente o
ácido hialurónico, diminuindo a viscosidade do meio e facilitando, assim, a difusão medicamentosa.
Compreende-se, também, que a administração simultânea de hialuronidases com o medicamento
líquido promova a sua mais rápida difusão e absorção.
Em condições normais, se a injecção da solução aquosa for praticada muito lentamente, por
exemplo gota a gota, o líquido ir-se-á reabsorvendo se a sua velocidade de difusão for superior à
velocidade de administração. Em regra, mesmo para volumes relativamente pequenos, carece-se de
uma a duas horas até que se dê a completa difusão do medicamento. Quando a via hipodérmica é
necessária para administrar grandes volumes de soluções aquosas, pode recorrer-se à injecção
simultânea de hialuronidases. Desta maneira, pratica-se a perfusão subcutânea ou administração gota a
gota de grandes volumes de soluções aquosas. Esta prática, chamada hipodermoclise, é usada
555
em substituição da via endovenosa, quando esta seja pouco acessível, como nos recém-
-nascidos. ••' - • • * . • • . "*•".?•>.: Vi r.jrJ^-m -•- ?t: •-,
A administração conveniente de hialuronidases permite, muitas vezes, injectar, no
espaço de de?, a quinze minutos, volumes de soluções aquosas que, em condições
normais, demorariam algumas horas para serem absorvidas, O para-amino-salicilato de
sódio é um dos fármacos que se tem aplicado com hialuronidases, em perfusão sub
cutânea, em crianças e adultos. , . - j r\
Por via subcutânea administram-se, ainda, suspensões aquosas e oleosas e soluções
em óleos diversos. Compreende-se, no entanto, que, se esta via de administração é de
per se uma via que promove lenta absorção, o emprego de suspensões aquosas ou
oleosas ou de soluções oleosas só é desejável quando se requeira uma vagarosa cedên
cia do fármaco. " ••• ~ • .; ;
Nestas circunstâncias, aplicam-se, na hipoderme, numerosas formas farmacêuticas injectáveis
cujos excipientes são dotados de elevada viscosidade. Esta viscosidade dificultará a absorção,
prolongando o efeito terapêutico. Entre as substâncias usadas para incrementar a viscosidade das
soluções ou da fase dispersante de uma suspensão citamos a carboximetilcelulose sódica, a pectina,
a gelatina, as protaminas, as globulinas, a polivinilpirrolidona, o monoestearato de alumínio, etc.
Este último é utilizado em soluções ou suspensões .oleosas e os restantes compostos usam-se em
líquidos aquosos. Muitos antibióticos e hormonas são, assim, administrados nestes veículos de acção
retardada ou prolongada. A insulina, por exemplo, é empregada sob a forma de insu-lina-protamina-
zinco ou insulina-globulina-zinco. Note-se que a presença de zinco melhora a lentidão da absorção,
dadas as suas propriedades adstringentes. As penicili-nas podem ser, igualmente, administradas por
esta via, como acontece com a penicilina G-benzatina. A heparina, fármaco anticoagulante, é
usualmente aplicada por via endovenosa mas pode também ser administrada por via subcutânea,
especialmente associada à polivinilpirrolidona (heparina lenta).
Quanto à administração de soluções ou de suspensões oleosas, é fácil compreender que a
difusão medicamentosa deverá processar-se ainda mais lentamente. De facto, o solvente, não
miscível com a substância fundamental do tecido conjuntivo, formará pequenas gotículas
medicamentosas que devem originar a cedência do fármaco mediante fenómenos de fagocitose pêlos
leucócitos. Não é, porém, obrigatório que o fármaco seja absorvido simultaneamente com o veículo.
A administração subcutânea de óleo canforado origina absorção da cânfora muito antes de o óleo
atingir a corrente circulatória.
A velocidade de absorção de fármacos suspensos em líquidos aquosos ou oleosos, além de ser
afectada pela viscosidade da fase dispersante, dependerá da tenuidade das partículas da substância
medicamentosa. De um modo geral, quanto menor for o diâmetro das partículas e, portanto, quanto
maior a superfície total da fase dispersa, tanto mais rápida será a absorção.
Esta característica apresenta imenso interesse dado que, pela adequada divisão do pó
suspenso, se pode regular, em certa medida, a duração do efeito medicamentoso. Por
556
exemplo, a desoxicorticosterona, que em solução oleosa produz um efeito terapêutico que se mantém
por cerca de 8 dias, quando administrada, por via subcutânea, em suspensões cristalinas, dá origem
à obtenção de níveis plasmáticos assegurados por maior período de tempo. Assim, se os cristais
dispersos têm diâmetros compreendidos entre 5 e 150 M-, 150 e 250 fi ou 300 e 430 |l, a duração do
efeito terapêutico é, respectivamente, de 10, 26 e 44 dias.
:
4.3.10.2.2. Medicamentos sólidos
Por via hipodérmica, além das soluções ou dispersões aquosas ou oleosas, podem administrar-
se vários medicamentos sólidos, a que se dá o nome de implantações subcutâneas.
Os medicamentos sólidos aplicam-se, normalmente, por incisão no tecido subcutâneo, sendo
constituídos por minúsculas esférulas, obtidas por fusão, ou por pequenos comprimidos (7 mm de
diâmetro por 3 mm de espessura), a que os anglo-saxónicos dão o nome de «pellets». Em 1980 e por
sugestão de um de nós foram produzidos «pellets» esféricos pelo método de gotejamento que
descreveremos a propósito das «Pílulas».
Os fármacos contidos nas implantações vão sendo cedidos muito lentamente e muito
lentamente, também, vão passando à corrente sanguínea. Proporcionam, portanto, uma absorção
lenta e regular que é conseguida à custa da sua dissolução nos líquidos extravaseulares subcutâneos
e que pode prolongar-se desde alguns dias até meses.
Os excipientes empregados deverão, igualmente, ser susceptíveis de absorção, de modo a que
não funcionem como corpos estranhos. A maioria é inteiramente hidros-solúvel, mas têm sido
utilizadas substâncias solúveis nos óleos, como o colesterol.
São diversos os factores que afectam a velocidade de absorção dos fármacos contidos nas
implantações. Se bem que este assunto ainda não esteja perfeitamente esclarecido, pois muitos
trabalhos experimentais chegam a resultados contraditórios, o que tem levado a compreensível
desorientação, parece-nos poderem considerar-se, como mais importantes, as características a
seguir relatadas.
• Depois dos trabalhos de SHELESNYAK e ENGLE ficou suficientemente esclarecido que a taxa de
absorção num dado tempo era proporcional à área de implantação. Este facto tem imenso interesse,
uma vez que à medida que o sólido se vai dissolvendo no tecido cutâneo, vai diminuindo a sua
superfície, retardando-se a absorção. De facto.
557
o ritmo de absorção de um «pellet» é cada de vez mais lento à medida que vai diminuindo
tamanho por efeito da sua dissolução nos líquidos extravasculares. ; -ir.
Por outro lado, a forma geométrica da implantação afectará, como é lógico, a
velocidade da absorção. Quando as implantações
têm forma esférica são mais lentamente
absorvidas do que sob qualquer outra forma ^ TOO
geométrica. Efectivamente, na esfera é menor a
relação entre a superfície e o volume (e,
portanto, a massa) do que em qualquer outra
forma sólida. A Fig. 228, reproduzida de um
artigo devido a BALLARD e NELSON, mostra o
diferente comportamento de implantações
esféricas ou cilíndricas, de vários diâmetros, no
que diz respeito à absorção. "05
Está, também, demonstrado que a cinética ,§, 600
(D
de libertação do fármaco é, em regra, de •£ 500
ordem zero, isto é, a velocidade de cedência é Q
independente da concentração daquele. S 40°
l 300
O ° ta
20
£ 100
4O BO 120 160 ZOO
240 2QO SiO 560 «00
Tempo (horas)
Fig. 228. Diminuição do peso de
implantações cilíndricas ou esféricas, em
função do tempo. Os números que
interceptam as curvas referem-se à relação
inicial entre a altura e o diâmetro dos «pellets»
cilíndricos. A linha tracejada reproduz a
diminuição de peso de uma implantação
esférica
Segundo Ballard e Nelson — J. Pharm. Sei.,
51, 917 (1962)
Como em muitos casos análogos a que atrás aludimos, a absorção das implantações é
influenciada pelo facto do fármaco se comportar como um ácido fraco ou como uma base fraca,
dependendo da respectiva constante de dissociação. BALLARD e NELSON dedicaram-se ao estudo das
equações capazes de reger matematicamente o fenómeno, tendo publicado um detalhado artigo sobre
o assunto no J. Pharmacol. Exp, Therap., 135, 120 (1962).
4.3.10.2.2.3. Solubilidade
Entretanto, VALDA ARAÚJO, estudando «pellets» obtidos por gotejamento e preparados com fosfato
de riboflavina dissolvido em polioxietiíenoglicóis, chegou à conclusão que se consegue maior
lentidão no processo absortivo sempre que o fármaco esteja dissolvido no excipiente.
4.3.10.2.2.5. Encapsulação
:•••- .. -.f•••'-•*.$ •
Alguns «pellets» ficam como que enquistados no tecido hipodérmico, revestindo--se de uma
cápsula fibrosa. Segundo muitos autores, o mencionado fenómeno retardaria a absorção. A
tendência actual é considerar desprovido de interesse este revestimento fibroso, no que diz respeito à
variação do teor da difusão medicamentosa.
Em resumo, podemos dizer que a velocidade de absorção dos fármacos, sob a forma de
implantações subcutâneas, depende fundamentalmente da superfície do «pel-let», da solubilidade dos
seus constituintes nos líquidos extra v ase u lares e da constante de dissociação do fármaco. A
fagocitose e a encapsulação parece não afectarem a taxa de absorção dos medicamentos. BALLARD
observou que a velocidade de absorção depende ainda da actividade física da zona de aplicação, tendo
feito experiências com implantações de penicilina-procaína.
São numerosos os fármacos empregados por via subcutânea sob a forma de «pellets», citando-
se, entre eles, várias hormonas sexuais (testosterona, androsterona, estradiol), corticóides, como o
acetato de desoxicorticosterona, vitaminas, como a riboflavina, antidiabéticos, como a tolbutamida,
etc.
Braço
Veia cefálica
Veia basílica
Cotovelo
Veia
basílica Pele
Tecido
subcutâneo
Faseia --" ';í
Antebraço
Agulha Agulha
inserta inserta no
oleosos, acentuamos que a absorção é ainda dependente da superfície total das gotículas
de óleo, aumentando com ela.
Por via intramuscular são administrados vários tipos de medicamentos líquidos, como
soluções e suspensões aquosas, oleosas, glicólicas, etc.
Habitualmente, os volumes dos líquidos administrados não ultrapassam os 10 ml, sendo na
maioria dos casos bastante menores (1-5 ml). Nestas circunstâncias, a preparação de medicamentos
injectáveis destinados à administração intramuscular não exige cuidados especiais, como a pesquisa
de pirogénios, já que a presença destes produtos apenas apresenta interesse real quando o volume
injectado é superior a 10 ml.
Ao concluir estas generalidades queremos chamar a atenção para o facto de algumas
injecções ditas intramusculares não atingirem o tecido alvo, mas executarem-se, realmente, no
tecido subcutâneo. Isto sucede quando haja largo envolvimento de tecido subcutâneo, o que pode
acontecer frequentemente nas mulheres, quando a injecção se pratica na nádega. A f i m de evitar
estes erros aconselha-se recorrer a agulhas compridas que dêem a possibilidade de atravessar todo
o tecido subcutâneo, permitindo que o líquido se injecte no músculo.
Por último, lembramos que algumas injecções intramusculares são dolorosas, pelo que é
frequente incluir na sua fórmula anestésicos locais que, simultaneamente, sejam conservantes, como
o álcool benzflico ou o clorobutanol.
As soluções aquosas administradas por via intramuscular devem apresentar uma tonicidade
próxima da do soro sanguíneo. São toleráveis pequenos desvios no sentido da hipotonia e, em alguns
casos, é aconselhável uma ligeira hipertonicidade. Efectivamente, as soluções aquosas hipertónicas
provocam um leve derrame local dos fluidos dos tecidos (exosmose), o que pode originar uma
absorção uniforme. Diz-se mesmo que as soluções hipertónicas são mais rapidamente absorvidas, o
que será verdade dentro de certos limites. É, porém, de considerar que uma administração
parenteral corresponde sempre a um traumatismo e que para lá de considerações sobre a taxa de
absorção se deve ter em conta a tolerância local dos tecidos, com eventual aparecimento de dor.
Achamos, por isso, que as soluções aquosas destinadas a aplicação intramuscular devem ser
isotónicas ou ligeiramente hipertónicas. Só em casos especiais poderá recorrer-se a soluções
fortemente hipertónicas.
Em relação ao pH apresentado pelas soluções aquosas, lembramos que uma ligeira acidez ou
alcalinidade não provoca transtornos graves no tecido muscular. Na prática corrente considera-se
aceitável a utilização de injectáveis cujo pH varie entre 4,5-8,5, limites muitas vezes não acatados.
Quando o pH é demasiado baixo ou elevado, podem ocasionar-se reacções que vão da simples dor,
com congestão e inflamação subsequentes, até à destruição, por necrose, dos elementos celulares.
Tratando-se de líquidos
561
francamente ácidos, a sua injecção pode ocasionar coagulação das albuminas teciduais, o que
retarda ou mesmo impede a absorção medicamentosa.
De uma maneira geral, a administração de soluções aquosas cuja tonicidade e pH estejam
próximos dos valores fisiológicos, origina uma absorção do fármaco, efectuada
f
rapidamente e sem que se manifestem fenómenos adversos. E, porém, de ter em conta que a dor,
concomitante ou subsequente à injecção, não depende exclusivamente das características físico-
químicas da fórmula, mas pode estar ligada à acção do próprio fármaco. Um injectável de vitamina
Bj ou de complexo B é normalmente doloroso, mesmo quando o pH e a tonicidade da solução sejam
muito próximos dos valores ideais. A penicilina é dolorosa, ao contrário da estreptomicina, etc.
Por outro lado, verifica-se que é possível tornar indolor a administração injectável de várias
soluções hipo ou hipertónicas, desde que se injectem muito lentamente.
Há alguns anos os acidentes citados registavam-se com muita frequência, dado o largo emprego
terapêutico, que na época se fazia, do mercúrio e do bismuro como agentes anti-sifilíticos.
Por via intramuscular podem injectar-se, ainda, soluções em veículos que não a água ou os
óleos. É o caso do emprego de vários álcoois, dos quais salientamos os glicóis, A maioria das
referidas soluções é constituída por misturas binárias ou ternárias em que um dos elementos é a
água. Contudo, empregam-se também soluções de glicóis sem serem associados à água. Se bem que
possam ser apontados vários inconvenientes a este tipo de medicação, normalmente viscosa e, em
regra, provocando dor, é corrente o emprego de injectáveis em que o dissolvente é exclusivamente
constituído por propilenoglicol, glicofurol, etc.
É de ter em atenção, como adiante apontaremos, as características de solubilidade na água
destes dissolventes e a sua toxicidade. De um modo geral, a absorção do fármaco é mais rápida se o
dissolvente escolhido for miscívcl com a água, ou, o que é o mesmo, com os líquidos teciduais. Neste
princípio se fundamenta o estudo do emprego de algumas formas medicamentosas de acção
prolongada destinadas a administração intramuscular. Com efeito, se o fármaco, insolúvel em água,
se dissolver num veículo hidromiscível mas anidro, ao proceder-se à injecção intramuscular
precipitará no seio do músculo: a água do tecido muscular mistura-se com o dissolvente injectado,
diminuindo o coeficiente de solubilidade do fármaco que precipita in silu. Algumas vezes essa
precipitação origina mesmo a cristalização do princípio medicamentoso no músculo. Diz-se que
houve formação de geno-cristais. Este tipo de injectáveis proporcionará a obtenção de um
verdadeiro depósito do fármaco no seio da massa muscular, de onde irá sendo absorvido muito
lentamente. Estas fórmulas injectáveis são designadas por fórmulas depósito ou depositum.
Como concretização do que acabámos de expor, citamos o emprego do trietileno-glicol,
veículo miscível com a água que dissolve, porém, fármacos hidro-insolúveis, como hormonas
sexuais. Ao injectarmos as soluções medicamentosas, contendo cerca de 100 mg do fármaco por
ampola, provoca-se a sua cristalização o que leva à lenta absorção do hormona administrada.
Também se utilizam, além dos óleos, veículos não miscíveis com a água. As suas soluções
injectáveis por via intramuscular comportam-se de modo análogo ao que indicámos para os óleos.
Acentuemos que, com algumas delas, só muito lentamente se dá a difusão do fármaco que é, por
isso, também lentamente absorvido. » <--v?
563
. . . , - . C = C -Kt - • ..
-- o '
•!-...j - • ...- . -
retardar a absorção preparando suspensões com partículas muito volumosas. Tecnicamente, o processo
teria dois inconvenientes: pequena estabilidade física da suspensão e eventual entupimento da agulha
por onde se injecta.
mós, a proliferação microbiana no sangue é melhor evitada do que em qualquer outra via
parenteral, dada a defesa exercida pêlos leucócitos e a grande diluição operada. Mas além da
infecção podemos considerar muitos outros acidentes, devidos ao emprego de medicamentos não
convenientemente formulados ou aplicados. O, caso mais simples é o da sobredosagem
medicamentosa. Com efeito, a introdução, na corrente sanguínea, de uma dose excessiva de fármaco
pode ocasionar reacções bem mais graves do que as provocadas quando o medicamento é aplicado
por outra via de administração.
Além disso, há que ter em conta a sensibilidade individual do paciente ao fármaco, sendo de
temer os choques injectáveis subsequentes à administração endovenosa, e, se ao médico compete
providenciar no sentido de que se evitem estes acidentes, o farmacêutico é obrigado a preparar
fórmulas que causem a menor perturbação possível. Entre os requisitos a que deve satisfazer um
injectável endovenoso, figuram a isotonia, a neutralidade e a ausência de pirogénios. Quanto à
isotonia, acrescentaremos àquilo que atrás deixamos dito, que uma solução, suspensão aquosa, ou
emulsão O/A pode não ser isotónica e apesar disso não provocar quaisquer fenómenos
desagradáveis quando aplicada por via endovenosa. É preciso distinguir que as soluções
hipertónicas ocasionam plasmólise, mas que este fenómeno é reversível; que uma solução pode ser
hipotónica mas não provocar hemólíse, já que é de considerar a resistência dos eritrócitos; a
anisotonia de uma solução a injectar não deve ser considerada, para apreciação dos efeitos
biológicos que provoque, independentemente do volume administrado. .
Colocado o problema nestes termos, diremos, em resumo, que é desejável que os medicamentos
destinados a serem administrados por via endovenosa sejam isotónicos. Pequenos desvios para o
lado da hipotonia (soluções correspondentes a concentrações de cloreto de sódio maiores de que
0,44%) são toleráveis sem acidentes, uma vez que a resistência dos eritrócitos permite evitar a
hemólise. Pequenos volumes (1-2 ml), mesmo fortemente hipotónicos, não ocasionam dano, uma vez
que são elevados o volume e a velocidade do sangue circulante, o que promove a rápida diluição do
líquido injectado.
E corrente a administração de soluções hipertónicas por via endovenosa, pois, mesmo para
volumes elevados (> 100 ml), o estado anti-fisiológico que se cria não provoca lesões apreciáveis,
visto que a plasmólise é reversível Acontece até que em certos casos recorre-se mesmo à
administração de soluções hipertónicas com o fim de provocar a absorção dos líquidos
extravasculares e de originar um efeito diurético ou, mais simplesmente, de se pretender apenas alimentar o
doente. : • - • . - • > ; ll<í "
No que diz respeito ao pH dos líquidos injectados, é aconselhável preparar soluções
sensivelmente neutras (6-7,5). Contudo, empregam-se, sem risco, injectáveis com pH bastante
afastado dos limites assinalados, É evidente que o volume administrado deve ser sempre considerado
quando o pH do medicamento não corresponde à neutralidade. Entretanto, lembremos que o sangue
apresenta elevada capacidade tampão, principalmente em relação aos ácidos (reserva alcalina do
sangue). Acentuemos, também, que a acidez inorgânica é muito mais prejudicial do que a acidez
proveniente de compostos orgânicos. Tal como no caso dos líquidos hipertónicos, o volume do
sangue
566
e a sua velocidade de circulação, pela diluição que determinam, são factores favoráveis na
correcção do pH do líquido injectado.
Finalmente, a ausência de pirogénios é obrigatória nos medicamentos administrados por via
endovenosa. Teoricamente, dever-se-iam pesquisar aqueles compostos em todos os injectáveis. Na
prática corrente, porém, verifica-se que é inútil proceder a essa pesquisa, sempre que o volume a
injectar seja inferior a 5 ml. Com efeito, seria necessária a existência de um verdadeiro
«concentrado de pirogénios» para que um volume tão pequeno provocasse acidentes de
hipertermia. Já, porém, a administração de volumes mais elevados obriga, sistematicamente, à
pesquisa de pirogénios. A atitude recomendada nada tem a ver com a análise que deverá ser feita
para todas as drogas em que seja de admitir ou prever a existência de pirogénios, como é o caso de
produtos biológicos (antibióticos, hormonas, citratos, gluconatos, etc.). Em todos esses casos as
farmacopeias mandam que se proceda à pesquisa de pirogénios nas matérias-
-primas.
O suplemento à F. P. IV, na sua monografia «Preparações Injectáveis», considera ainda outro
cuidado a ter com os medicamentos destinados à administração endovenosa, nos quais não tolera
conservantes germicidas, sempre que o volume a injectar seja superior a 15 ml. Esta precaução,
aliás inserta também na F. P. V, é bastante judiciosa, uma vez que se injectariam elevadas
quantidades de conservante, quando fosse grande o volume administrado.
A administração de grandes volumes de medicamentos injectáveis por via endovenosa tem
sido ultimamente estudada, procurando-se conseguir preparações que permitam a alimentação total
do doente, quando a via oral está impedida por qualquer razão. Este tipo de administração é
constituído por volumes elevados de líquidos, que se injectam, passando para a corrente sanguínea
do paciente açúcares (glucosc, frutose, sorbitol, xilitol, etc.), hidrolisados proteicos ou aminoácidos
puros ern solução compensada (solução de aminoácidos essenciais, solução de 20 aminoácidos),
gorduras emulsionadas (geralmente óleo de soja a 10-20%), vitaminas e sais minerais. A este tipo de
administração chama-se nutrição total parenteral (NTP) ou alimentação parentérica total (APT).
. A infusão pode aplicar-se nas veias periféricas, o que tem a vantagem de serem menores e mais
fáceis de eliminar as complicações do tipo infecção ou tromboflebite. Entretanto, se as soluções
açucaradas forem hipertónicas há sempre grande perigo em se produzirem esclerosações das veias
periféricas. Por outro lado, a agulha não deve permanecer por mais de 12 horas na mesma veia
superficial pois após este prazo eleva-
-se de 5 para 40-70% o risco de surgirem flebites. Por essa razão sempre que se preveja que a
alimentação tenha de se processar por um período superior a l semana aconselha-se que se recorra
ao uso de cateteres, sendo preferível a sua introdução na veia cava, apesar do perigo de poderem
surgir septicemias, particularmente devidas a Cândida albicans.
567
Sob esta designação não nos queremos referir aos fenómenos infecciosos que originam,
tardiamente, elevação de temperatura, mas aos acidentes térmicos que surgem rapidamente após
uma injecção. Em primeiro plano são de mencionar as hipertemias resultantes da presença de
pirogénios nos líquidos injectáveis. Oportunamente abordaremos esse assunto. Entretanto, queremos
aqui chamar a atenção para alguns fármacos que são, também, susceptíveis de originar alterações
de temperatura, como o gluconato de cálcio, os produtos de decomposição do ácido para-amino-
salicílico, etc.
568
Esta via proporciona uma acção medicamentosa mais rápida e intensa do que a via
endovenosa quando se pretende um efeito mais ou menos localizado. Por outro lado e segundo LESURE,
a toxicidade geral das substâncias é menor do que por via intravenosa.
Já anteriormente aos trabalhos de ALEXANDER WOOD, que teve o mérito de aplicar à clínica a
administração parcnteral, tinha sido utilizada a via intra-arterial. Os autores primitivos eram,
porém, do parecer que a via endovenosa seria a mais eficaz porquanto
569
«enviava ao coração o líquido injectado como à nascente comum para comunicar virtude a todos os
vasos que dele derivam».
Assim, depois de um curto período de aplicação esporádica, no século XVII, a via intra-arterial
foi abandonada, só voltando a ser utilizada depois dos trabalhos de LERI-CHE, de DE FOURMESTREAUX e de
REINALDO DOS SANTOS, há cerca de 50 anos.
Esta via foi empregada para aplicação de soros anti-tetânicos e anti-gangrenosos, de
mercurocromo, de violeta de genciana, etc.
Actualmente, a via intra-arterial é principalmente escolhida para injectar compostos opacos
aos raios X, a fim de se poderem executar exames radiológicos (angiorradiogra-fia ou
arteriografia). É corrente o emprego de produtos ricos em iodo e fortemente hipertónicos, os quais
se injectam nas artérias subclávia, femoral, etc. O 5-acetamido--2,4,6-triiodo-N-metilisoftalamato
de sódio é empregado em solução, a 66,8% ou a 80%, por via intra-arterial. O acetrizoato de sódio
(3-acetamido-2,4,6-triiodobenzoato de sódio) pode, igualmente, ser administrado por via intra-
arterial.
(') O líquido céfalo-raquidiano deve apresentar-se límpido e incolor, com pH de 7,14 a 7,50,
ligeiramente mais viscoso do que a água e com uma pressão que varia entre 4,5-15 mm de Hg. Na
sua composição intervêm proteínas, ureia, ácido úrico, creatina, glucose e sais minerais.
571
Estas soluções dizem-se hiperbáricas, já que cada ml pesa mais do que l ml de líquido céfalo-
raquidiano (densidade de 1,005 a 1,009). É evidente que o seu uso pode provocar lesões, pois em
regra são também hipertónicas.
Em raquianestesia utilizam-se, com certa frequência, soluções de anestésicos locais, tornadas
hiperbáricas. É vulgar, por exemplo, o uso de soluções conlendo 5% de clori-drato de lidocaína e
7,5% de glucose, as quais são, também, hipertónicas.
Em alguns casos, a substância medicamentosa a injectar por via subaracnoidea é dissolvida
em líquido céfalo-raquidiano que se retira no momento, só depois se administrando a solução
extemporânea assim obtida. A procaína ou novocaína, por exemplo, pode aplicar-se por este
processo. Assim, o medicamento é dispensado sob a forma de cristais que se dissolvem no momento
do emprego, em líquido céfalo-raquidiano. Normalmente, é necessário l ml de líquido para dissolver
100 mg de procaína.
Espinal-rnedula
estreitando para o
Filum terminal*
Vértebra lombar
Agulha no espaço
subaracnoideo
Vértebra lombar
Espaço
Vértebra lombar
Dura mátir
A
n
e
s
t
e
s
i
a
p
a
ravertebral
Anestesia
epidural
Espaço subaracnoideo (raquianestesia)
Flg. 231. Esquema mostrando a diferente localização da administração epidural e subaracnoidea
573
O peritoneu é uma membrana serosa que forra as paredes da cavidade abdominal e que recebe
os órgãos nela contidos tendo uma área de cerca de 22 000 cm2.
As serosas são constituídas por endotélio, tecido particularmente fino, sendo os líquidos
introduzidos na cavidade peritoneal absorvidos com facilidade, o que permite comparar a rapidez da
resposta obtida entre injecções intraperitoneais e endovenosas. Assim, após injecção intraperitoneal,
no coelho, de 100 ml de soro fisiológico, observa--se que se deu a absorção de 36% do cloreto de
sódio e de 23% da água ao fim de l hora. A absorção é efectuada, simultaneamente, por via linfática
e sanguínea. Nestas condições, a injecção intraperitoneal apresenta perigos semelhantes aos citados a
propósito da via endovenosa. Dado os acidentes que pode originar (infecção, formação de
aderências, etc,), a via intraperitoneal, é pouco empregada em medicina humana. Contudo, usa-se
correntemente em medicina experimental para avaliar a toxicidade ou o efeito farmacológico doe
medicamentos em animais.
Ao lado da injecção intraperitoneal queremos lembrar a chamada diálise peritoneal a que se
recorre na insuficiência renal aguda, em que se administram grandes volumes de líquidos, contendo,
em solução, sais de sódio, de cálcio e de magnésio, glucose, etc. E necessário que as soluções
destinadas a esta aplicação, e que às vezes se utilizam em volumes de 10-12 litros por dia, sejam
isentas de compostos tóxicos. Assim o bissul-fito de sódio, que se emprega como redutor em várias
soluções injectáveis na concentração de 0,05 a 0,1%, não deve figurar em preparações destinadas a
diálise peritoneal. De facto, sendo extraordinariamente elevado o volume do líquido administrado, é
também muito elevada a quantidade total de bissulfito que, dadas as características da via, se absorve
rapidamente, tendo HALABY e MATTOCKS assinalado acidentes de intoxi-cão em homens submetidos à
diálise peritoneal com soluções contendo bissulfito de sódio.
A pleura é a membrana serosa que, em cada hemitórax, reveste o pulmão e a parede torácica.
As duas pleuras são independentes, contactando entre si apenas numa pequena extensão retro-
external.
A injecção intrapleural de medicamentos promove a sua fácil absorção, já que o endotélio
constituinte é particularmente fmo.Observe-se, porém, que os gases só muito lentamente são
absorvidos pela pleura, facto em que assenta a terapâutica pelo pneumotórax.
As substâncias hidrossolúveis administradas por via intrapleural passam rapidamente ao
sangue, parecendo que a velocidade de absorção depende, entre outros factores, da viscosidade do
líquido injectado. Assim, e tendo em conta a elevada velocidade
574
4.4. POSOLOGIA
(') Designa-se por dose letal a quantidade de medicamento que ensaiada em animais de experiên-
cia se mostra mortal para uma dada percentagem. É actualmente expressa em termos de número de
animais mortos e designa-se por DLSI), quando a mortalidade é de 50 por cento.
575
E hábito estabelecer, para cada medicamento, relações posológicas entre o homem adulto e a
criança, o que se pode conseguir por meio de fórmulas, como a de BRUNTON, a de COWLING, a de YOUNG, a
de BOLOGNTNI ou a de CLARCKE. É ao médico que compete determinar a posologia a instituir em cada caso.
Entretanto, o farmacêutico tem necessidade de verificar se a posologia prescrita está de acordo com
a que se considera habitual. Para isso transcrevemos uma das tabelas mais usuais nos formulários de
terapêutica. Referimo-nos à tabela de JUNCKLER e GAUBIUS, a qual regula a dose medicamentosa em
função da idade do paciente.
Os dados mencionados nesta tabela são bastante aproximados, mas não entram em linha de
conta com as variações ocasionadas pelo próprio medicamento. De facto, observa-se, por exemplo,
que as crianças são muito mais susceptíveis aos estupefacien-
tes do que a outros medicamentos. A morfina é dos fármacos que é necessário manejar com extremo
cuidado, sendo preciso utilizar, em medicina infantil, doses inferiores às calculadas pela tabela ou
fórmulas resolventes atrás mencionadas (')•
(') Na fórmula de YOUNG divide-se a idade da criança, em anos, pela soma do número de anos
com 12. Assim, para uma criança de 4 anos, será;
4 4' l
4+12 16 4
isto c. a dose a administrar deve ser uma quarta parte da dose indicada para o adulto.
*
Segundo a fórmula de COWUNG adiciona-se l à idade da criança, em anos, e divide-se por 24 o
número obtido. Para uma criança de 3 anos será:
*U 3+1 4 l
, 24 - 24 6
o que signifca que a dose a administrar deve ser 6 vezes menor do que a estipulada para o adulto.
576
No que diz respeito à Medicina Veterinária, em geral a dose corresponde ao peso do animal,
mas há algumas excepções a esta regra. Assim, os bovídeos são muito menos sensíveis aos
medicamentos do que os equídeos, pelo que aqueles requerem doses mais elevadas para pesos
aproximadamente iguais.
. A Tabela LV relaciona quantidade de medicamento nara o homem e para varies
animais domésticos. .-. •••.- . .
BIBLIOGRAFIA
Administração Cutânea:
Administração Sublingual:
Administração Gastro-intestinal:
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Administração Rectal:
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'-
Administração Auricular
Administração Traqueopulmonar:
Administração Parenteral:
Biodisponibilidade
De tudo o que se disse nos capítulos anteriores ressalta que a biodisponibilidade medicamentosa
é dependente de variados factores, podendo c devendo o farmacêutico nela intervir, especialmente a
nível da libertação dos fármacos que compõem o medicamento. Este, como regra geral, contém, além
das substâncias activas, produtos que em princípio são inertes e que representam os excipientes e os
adjuvantes.
Considerando as diversas fases por que passa um fármaco destinado a ser absorvido no
organismo, poderemos, portanto, lembrar a Libertação, Absorção, Distribuição, Metabolização e
Excreção, cujas iniciais originaram a sigla LADME. É função do farmacêutico conseguir a melhor
biodisponibilidade possível, isto é, 100%, o que em muitos casos não se atinge, quer devido a
dificuldades tecnológicas, quer especialmente motivado pelas propriedades físico-químicas do
fármaco (falta de adequado coeficiente de partilha lipídeos/água; pH de maior actividade biológica
não coincidir com o pH ideal de estabilização ou de ionização possível; inactivações enzimáticas;
reacções com produtos naturais do organismo; etc.)- Entretanto, devem procurar tornear-se os
obstáculos que impeçam uma boa absorção, sendo mesmo vulgares, hoje em dia, o uso de prô-
fârmacos ou pró-drogas que proporcionem fáceis travessias das membranas semi-permeáveis e que,
posteriormente, em regra por via enzimática, se desdobrem, libertando o fármaco.
A biodisponibilidade, como se compreende do que se disse, não é uma propriedade fácil de se
melhorar, mas com conhecimento e trabalho têm-se conseguido para a grande maioria dos
medicamentos libertações adequadas ao efeito pretendido, seja essa libertação rápida ou modificada.
Na maioria dos casos importa que a cedência seja feita a uma velocidade elevada, devendo a
absorção ser o mais completa possível. Em menos casos — formas farmacêuticas de acção
prolongada, sustentada ou, genericamente, modificada — a libertação deverá ser mais lenta, mas é
lógico desejar-se que a absorção corresponda à totalidade do que é cedido.
Atingir uma biodisponibilidade de 80-100% não é, pois, tarefa fácil, porquanto exige vários
conhecimentos que serão dados ao longo desta obra, a propósito das
582
diversas formas ou fórmulas farmacêuticas que iremos estudando. Por esse facto, o presente capítulo não
pode ser exaustivo, mas apenas tem a pretensão de colocar o aluno perante um problema geral. Trata-se,
mais do que de uma série de informações, de um aviso, um verdadeiro grito de alerta que tem por fim
preparar para estar atento.
Nas circunstâncias referidas, podemos dizer que a biodisponibilidade depende, essencialmente, de
factores fisiológicos, factores físico-químicos e factores farma-cotécnicos.
" * Vimos já que a grande maioria dos farmacos são absorvidos por difusão passiva,
segundo a lei de FICK. '"'"""•
Vimos também que o raio das partículas e a viscosidade do sistema medicamentoso influem
negativamente na difusão, desejando-se farmacos muito divididos e que seja diminuta a viscosidade
do meio. Considerando a via oral, sabemos, também, que a primeira fase para a absorção consiste na
dissolução do fármaco no meio aquoso constituído pela água e sucos digestivos do tracto gastro-
intestinal, e que a dissolução se processa de acordo com a cinética de NOYES-WHITNEY.
>vn Por outro lado, temos conhecimento que após a mencionada dissolução o fármaco deve atrevessar
as membranas semi-permeáveisf o que exige que, simultaneamente, apresente um adequado coeficiente de
partilha lipídeos/água.
Não ignoramos, também, que o pH do meio influi na ionização e que sendo muitos farmacos
ácidos ou bases fracas podem ser melhor ou pior absorvidos consoante a dissociação sofrida. Assim,
para os ácidos fracos a absorção é máxima se o pKa>3, enquanto que para as bases fracas a
absorção máxima se situa a pKa<7,8 (maior coeficiente de partilha O/A).
Para lá da difusão passiva há outros processos de absorção, como a passagem dos
poros membranosos (moles com 7-10A0 de diâmetro e pesos moleculares inferiores a
150-400), transporte activo, transporte facilitado, pinocitose, etc. Estes processos são,
porém, muito menos utilizados pelo organismo que a difusão passiva, razão por que,
nestas generalidades, não os abordaremos. ., , ^.lt^-i;h -h-r>^K *m,. w
r i Finalmente, a biodisponibilidade de uma preparação medicamentosa depende ainda da via de
administração escolhida e do estado fisiológico do local. Por exemplo, a ampicilina e a amoxicilina
só com muita dificuldade atravessam as meninges íntegras. Contudo, quando estas se encontram
inflamadas observa-se que a injecção intravenosa daqueles antibióticos proporciona níveis
terapêuticos no líquido céfalo-raquidiano.
583
Já a codeína (éster metílico da morfina) é bem absorvida por via oral, visto o seu
pKa ser apenas de 7,9. , .
Como é sabido, a dimensão das partículas em que o fármaco se acha dividido é de extremo
interesse para a sua biodisponibilidade, sendo esta tanto melhor quanto mais pequenas forem as
partículas daquele.
A superfície específica (S) das partículas pode calcular-se pela fórmula, já anterior-
•mente citada,
6
. „ P
S=—x—, em que
D d
entre o coeficiente de difusão K (na maioria dos casos de soluções aquosas K = 9x IO"6 cm2.s"" e o
produto da altura da coluna de difusão (h) pelo volume do líquido (V). O processo é simples de
executar, sendo habitual trabalhar-se com V = 500 ml e com uma agitação de cerca de 55 r.p.m.
Os fármacos podem ser cristalinos (agulhas, placas, esferas, romboedros, etc.) ou amorfos.
Como já vimos, o formato em que se apresentam pode ter importância na biodisponibilidade. Para
dar um exemplo, retomemos o caso dos ésteres do cloranfeni-col que, para serem absorvidos, devem
previamente ser saponificados pelas lipases pancreáticas. Ora, este ataque pelas lipases depende da
apresentação do fármaco. Se ele estiver em placas é dificilmente saponificado, melhorando este
ataque se se encontar em agulhas ou se for amorfo.
As formas metastáveis dos polimórfïcos são em regra mais solúveis e biodis-poníveis que as
formas estáveis. Entretanto, não devemos recorrer a produtos metastáveis pois esses produtos tendem
a modificar as suas características, transformando-se em formas estáveis num período de tempo
pouco previsível.
O farmacêutico dispõe actualmente de uma gama muito extensa de excipientes que podem ou
não ser adequados para o fãrmaco com que quer trabalhar. Quanto aos adjuvantes (diluentes,
desagregantes, aglutinantes, lubrificantes, macromoléculas espessantes, tensioactivos, antioxidantes,
sequestradores, conservantes, etc.) mais se complica o problema.
Devem ser estudados aspectos como: a carga eléctrica do fármaco e sua tendência para
complexação com materiais ditos inertes de carga oposta; reacções químicas com excipientes e/ou
adjuvantes; viscosidades antes e após diluição em sucos digestivos, água, etc.; fixações por adsorção
em recipientes plásticos ou em borrachas; porosidade de fórmulas sólidas; revestimentos de
comprimidos e cápsulas; uso de cápsulas moles ou duras; plasticidade e tïxotropia de sistemas
heterogéneos líquidos ou semi-sólidos, etc., etc.
~
586
Ao longo deste livro procuraremos, a propósito de cada fornia galénica, referir os aspectos
tecnológicos que possam influir na biodisponibilidade medicamentosa.
Lembremos, entretanto, que as modificações do foro farmacotécnico no sentido de
ser melhorada a biodisponibilidade de uma formulação, devem ser conduzidas, paralela
mente com estudos de estabilidade, pois com frequência ao incentivar a biodisponibi
lidade podemos acelerar a decomposição do fármaco ou produzir substâncias inertes ou
não à custa da decomposição dos excipientes e adjuvantes. * . . , ,.
587
lhadamente, não importando o lugar onde fosse incluída. Seria, apenas, essencial um índice que
permitisse localizá-la facilmente. Tratando-se, porém, de um livro de estudo, destinado a alunos, a
classificação das formas galénicas assume nova importância. As matérias devem ser coordenadas de
maneira a imbricarem umas nas outras, numa sequência metódica e pedagógica. Não estamos, portanto,
perante o problema de elaborar um mero catálogo de formas galénicas, embora pudesse ser muito
completo, mas de sistematizar, com lógica, variadíssimos assuntos, conduzindo o aluno das matérias
mais fáceis para as mais complicadas, criando-lhe motivos para que a sua memória retenha sem esforço
e a sua inteligência deduza o que se segue.
Infelizmente, apesar de existirem algumas dezenas de classificações de formas farmacêuticas, não
encontrámos nenhuma que satisfizesse inteiramente aos objectivos em vista. Ao escrever estas palavras
sentimos a profunda actualidade dessas outras, do ilustre farmacêutico DUPUY que, em 1902, dizia:
:
-r,-. «Existirá uma classificação de formas farmacêuticas apresentando condições desejáveis
(ao ensino?). Não, e isso constitui uma lamentável lacuna».
i_
l ————
/// Grupo — Formas farmacêuticas obtidas por dispersão mecânica: '
1 —EMULSÕES.
2 —DISPERSÕES COLO1DAIS e SUSPENSÕES. Formas complementares: aeros-
soles
-
EXTRACTOS.
l— H1DROLATOS. .
2 — ALCOOLATOS. ;
BILIOGRAFIA
Se o fármaco é pulverizado, o produto final obtido é um pó, cuja tenuidade varia consoante o
tipo de pó pretendido. Como atrás assinalámos, é extremamente importante o grau de divisão sob que
se apresenta uma dada substância, pois dele depende, em larga medida, a acção farmacológica
obtida. Importa fixar este conceito, que não se restringe aos pós propriamente ditos, mas é também
extensível às formas faramacêuticas sólidas preparadas a partir deles. De facto, para que se
verifique uma boa absorção intestinal, por exemplo, de uns comprimidos ou de umas cápsulas, é
necessário que os pós componentes dessas formas medicamentosas apresentem um grau de tenuidade
adequado ao efeito farmacológico pretendido. A noção expressa é particularmente importante quando
os fármacos são dificilmente solúveis, como acontece com diversas sulfamidas, cortiçosteróides,
anidrido arsenioso, calomelanos, cloranfenicol, oxitetra-ciclína e griseofulvina. Nesse caso é sempre
conveniente reduzir a droga a pó muito ténue, de modo a compensar a sua deficiente dissolução nos
sucos digestivos.
7.1. ESPÉCIES ;
7.1.0.1. Preparação
Como se compreende, na preparação das espécies interessa considerar a qualidade das drogas
que nela figurarão. Importa, por isso, fazer a diagnose da droga e verificar o seu estado de
conservação. Naturalmente que serão rejeitadas as drogas com cheiro anormal (a mofo, por
exemplo); serão eliminados os resíduos de substâncias estranhas
593
7.1.0.2. Conservação ;
As espécies devem ser conservadas em frascos de vidro, com rolha esmerilada, sendo postas em
lugar seco e ao abrigo da luz; podem também ser conservadas em sacos de celofane ou em caixas de
cartão, prática menos aconselhável.
Como prazo de validade, não é aconselhável ultrapassar um ano após a sua pre
paração, havendo mesmo espécies que, pela sua natureza e mau acondicionamento, se
alteram em menos tempo. A título de exemplo, citamos as espécies contendo plantas
da família das Umbelíferas, que são particularmente atreitas a serem atacadas pêlos
insectos, e as espécies que possuem elevado teor em farinha, que são susceptíveis de
rançar.
medicinais
Os cigarros são formados por folhas secas de plantas medicinais que se introduzem num
invólucro de papel adequado, ao qual se dá a forma de cigarro. Na maioria dos casos, as folhas são
previamente impregnadas com uma solução de nitrato de potássio, cuja quantidade é de cerca de 2
por cento em relação ao total da forma, e que se destina a facilitar a combustão das folhas.
594
7.2. PÓS
7.2.0.1. Generalidades
Os pós resultam da divisão dos fármacos animais, vegetais, minerais, ou obtidos por síntese
química, podendo constituir uma forma de administração directa ou destinarem-se à obtenção de
outras formas galénicas. No primeiro caso, são susceptíveis de se aplicarem interna ou externamente,
conforme a natureza do fármaco que foi pulverizado. No segundo caso, constituem o ponto de partida
para a maioria das formas medicamentosas, já que é, normalmente, necessário reduzir as drogas a
pó antes de as submeter às diferentes operações farmacêuticas. Assim, para se prepararem comprimi-
dos, hóstias, pastilhas, pílulas, etc., é preciso pulverizar as drogas constituintes das respectivas
fórmulas, que só depois serão trabalhadas no sentido de se obter o medicamento desejado. Do mesmo
modo, para se conseguir uma solução simples ou extractiva, como uma tintura, é necessário reduzir as
drogas a pó de tenuidade adequada e só então submetê-las à dissolução ou à extracção.
No presente subcapítulo iremos estudar a forma farmacêutica pó, isto é, os pós para
administração directa, embora a doutrina exposta seja aplicável também aos pós que se empregam
na obtenção de outras formas galénicas.
A redução dos fármacos ao estado de pó apresenta numerosas vantagens. De uma maneira
geral, a pulverização não diminui a actividade dos fármacos e cria-lhes condições para que
apresentem um efeito farmacológico mais rápido e regular. Em casos especiais, como na
pulverização da raiz da ipeca, o conteúdo em princípios activos do pó é superior ao da droga, já que
essa operação obriga a rejeitar o cilindro central da raiz, onde é nulo o teor de alcalóides.
Dada a grande superfície apresentada, tanto maior quanto mais ténues forem as partículas
constituintes, os pós são mais facilmente dissolvidos ou extraídos pêlos diversos veículos utilizados em
Farmácia, Muitos são os fármacos que só se dissolvem depois de pulverizados e, de um modo geral, a
sua extracção pêlos dissolventes vai sendo mais eficaz à medida que diminui o diâmetro das suas
partículas.
Considerando ainda a grande superfície apresentada pêlos pós, é de prever que estes se
encontrem em melhores condições de absorção gastro-intestinal do que os fármacos
correspondentes. Por outro lado, a rápida difusão operada com os pós não só permite obter níveis
sanguíneos mais elevados e em menor período de tempo, como
595
ainda diminui o risco de provocar irritações locais no tracto gástro-intestinal, as quais, muitas vezes,
são causadas pela concentração das drogas naquelas regiões. ; ; . - v.
Na prática, verifica-se que, de uma maneira geral, os pós são tanto mais activos quanto mais
elevado é o seu grau de divisão, pois cada partícula apresenta também maior superfície específica.
Assim, as drogas micronizadas até cerca de l \i mostram apreciável energia de superfície, o que
parece explicar a sua maior actividade farmacológica. Observou-se, por exemplo, que o calomelanos
obtido pelo vapor ocupa uma superfície de 80 m2/molécula-grama, enquanto que com o calomelanos
preparado por sublimação essa superfície é apenas de 37 m2/molécula-grama. Do ponto de vista far-
macológico, a potência da primeira substância é sensivelmente dupla da da segunda.
Já que o aumento da superfície específica de um pó facilita a sua absorção por via intestinal,
deve atender-se a esse facto quando se prepara uma fórmula contendo princípios utilizados como
anti-ácidos gástricos ou como antidiarreicos, em que a absorção pode não ser desejável.
Ainda entre as vantagens apresentadas, lembremos a facilidade de deglutição dos pós, mesmo
quando é elevado o volume que se administra e a possibilidade de se misturarem com alimentos ou
bebidas, o que torna a sua ingestão mais fácil.
Entre os inconvenientes que os pós apresentam em relação aos fármacos ou às formas
galénicas do tipo dos comprimidos e cápsulas citamos a maior facilidade de alteração (oxidações,
hidrólises, racemizações, decomposições pela acção da luz, etc.), a qual é devida à maior superfície
apresentada. As drogas amargas, nauseosas ou corrosivas só excepcionalmente se administram sob a
forma de pó, pois essas características são difíceis de mascarar numa fórmula galénica deste tipo.
Recordemos, finalmente, que a pulverização das drogas vegetais ou animais promove a mistura dos
diversos conteúdos celulares, podendo, eventualmente, pôr em contacto um fermento com princípios por
ele desdobráveis. É assim que ao pulverizarem-se as folhas de louro--cerejo se mistura a emulsina,
localizada na endoderme, com um glucosido cianogenético existente no parênquima cortical. Em
presença da própria humidade residual da droga, o fermento actua provocando o desdobramento do
glucosido com produção de ácido cianídrico, aldeído benzóico e glucose. Um facto semelhante pode
ser referido com a pulverização da mostarda, uma vez que o seu sinigrosido é hidrolisado pela
mirosinase, produzindo-se isossulfocianato de aluo. Nos casos em que for aconselhável evitar estas
decomposições, as drogas a pulverizar devem estar estabilizadas previamente.
a Britânica de 1988 e a dos Estados Unidos da América XXII contêm definições muito semelhantes e, a
nosso ver, para definir perfeitamente esta forma farmacêutica só basta acrescentar que dentro de cada
categoria de pó deve haver uma relativa homogeneidade entre as partículas que o constituem.
Os pós podem ser divididos em simples e compostos. Chamaremos pó simples ao
que resulta da divisão de uma única droga e pó composto aquele que se prepara pela
mistura de dois ou mais pós simples.
repelindo-se umas às outras e chegando, por isso, a apresentar movimento. Entre as substâncias
susceptíveis de se comportarem do modo descrito, citamos o salicilato de fenilo, o mercurocromo e o
clorobutanol. Este fenómeno depende do grau de humidade do pó, acentuando-se com a secagem. Os
sais de penicilina G electrizam-se tão fácil-
f
mente que chega a ser impossível manuseá-los quando completamente secos. E frequente conseguir-
se atenuar o citado fenómeno tornando o ar condutor ou pulverizando, em presença de pequenas
quantidades de óleo, as substâncias capazes de se electri-zarem.
A mais importante operação acessória da pulverização é, como se sabe, a tami-sação. De facto,
cada pó deve ter a sua tenuídade bem estabelecida e esta é, geralmente, conseguida e determinada
por meio de tamises. Os produtos pulverizados são, para isso, passados através do tamis de abertura
de malha desejada, devendo o pó atravessá-lo integralmente. Quer isto dizer que, na maioria dos
casos, a tamisação se deve efectuar sem deixar resíduo.
Um pó de determinada tenuidade deve passar totalmente pelo tamis correspondente e, quando
submetido à tamisação pelo tamis de malhas mais apertadas que imediatamente se lhe segue, a
fracção que o atravessa não deve ser superior a 40%.
Segundo a Farmacopeia Portuguesa V, se um pó for caracterizado por um único
tamis, este deve deixar passar, no mínimo 97 por cento do pó, salvo indicação em
contrário. >;;/* > -íf:
Como jã vimos no início desta obra, a Farmacopeia Portuguesa V inscreve uma classificação
de tamises, os quais são designados por números a que correspondem aberturas de malhas que vão
desde 38 a 11 200 \L. Através do uso destes tamises é possível determinar a granulometria de pós,
aliás como também a nossa Farmacopeia estabelece na monografia geral dedicada a esta forma
farmacêutica quando diz que a «tenuidade de um pó deve ser determinada por tamisação (V.5.5.1.)
ou por outro método apropriado».
A avaliação da tenuidade nos pós micronizados é mais delicada do que acabámos de descrever
1
í ). Esse assunto será objecto de estudo detalhado sob a rubrica — — Verificação dos pós —, mas,
entretanto, diremos que há diversos processos de apreciação da tenuidade, baseados no uso de
microscópios, fundamentados na avaliação da velocidade de sedimentação, ou exequíveis mediante o
emprego de contadores electrónicos. A sensibilidade destes métodos é bastante variável e, assim,
enquanto que o microscópio óptico só permite apreciar partículas até 0,25 |i, o microscópio
electrónico torna viável a medição de partículas com 0,004 u. de diâmetro.
Descritas, portanto, as operações fundamentais que são necessárias para se obterem pós
simples, resta-nos lembrar que a escala de produção a que se opera também
(') É possível fabricar tamises com uma abertura de malha de 38 U, o que permite classificar,
por tamisação, um pó de elevada tenuidade. Observa-se, porém, que, até à data, não tem sido possível
obter tamises com malhas mais apertadas.
598
599
contudo, nem sempre menciona os pós titulados que se destinam à preparação exclusiva de outras
formas galénicas, obrigando, depois, à verificação do teor dos princípios activos nesses mesmos
preparados. O estrofanto, por exemplo, é utilizado, sob a forma de pó grosso n.° II, na preparação
da respectiva tintura, que, ao contrário das restantes, é doseada para ajustar o seu título (expresso
em ubaína). Noutros casos, como no da cravagem de centeio, a F. P. IV não avalia os alcalóides na
droga nem procede à sua dosagem na solução injectável ou no extracto respectivo. Mais acertado se
nos afigura, em casos destes, utilizar pós titulados, o que não significa que se dispense a dosagem
das formas extractivas com eles obtidas. Assim, a cravagem do centeio é muitas vezes utilizada no
estado de pó proveniente da droga desengordurada, devendo o seu título em alcalóides ser de 0,1%.
O mesmo se pode dizer em relação ao estramónio e a muitas outras drogas que se consideram
suficientemente activas, mas para as quais a F. P. IV é omissa quanto ao teor em princípios.
Os pós titulados apresentam diversas vantagens que poderemos resumir da seguinte
forma: ••;-.-,- < .-, . . ^ -- .v.;r:r-r.;:r> ? •;- • ; •, >• - .--*.:
Como dissemos, entende-se por pó composto aquele que é obtido pela mistura de dois ou mais
pós simples. Fundamentalmente, a sua preparação consiste em pulverizar, separadamente, cada uma
das drogas constituintes, obtendo-se pós simples de idêntica tenuidade, os quais se misturam de
modo a conseguir uma forma suficientemente homogénea. É, portanto, a mistura a operação que
diferencia os pós simples dos compostos. Esta pode executar-se por espatulação, por trituração em
almofarizes, ou, se é apreciável a quantidade de pó composto, em máquinas ditas misturadores.
600
^ 9." — Quando num pó composto haja substâncias que formem misturas eutéticas líquidas, como
acontece com a associação do salicilato de fenilo (salol) com a cânfora, devem incorporar-se
compostos absorventes (carbonato de cálcio, fosfato tricálcico, lactose, carbonato e óxido de
magnésio, pó de alcaçuz, sulfato de sódio anidro, etc.), de modo a corrigir a incompatibilidade.
10.° — Se uma mistura de pós contiver extractos moles ou substâncias pastosas, estas deverão
ser incorporadas em compostos absorventes, como os atrás citados, a fim de se fixar a sua
humidade. Em certos casos, como na associação do ictiol com o talco, é necessário dissolver a
substância pastosa num líquido volátil e só depois incorporar, progressivamente, o outro
constituinte pulverizado. No caso citado, deve dissolver-se o ictiol em éter, incorporar o talco, a
pouco e pouco, e agitar até que se evapore o dissolvente.
O exemplo mencionado é, afinal, um caso particular do que se relatou em 3.°.
11.° — No caso de misturas deflagrantes ou explosivas — clorato de potássio com açúcar,
peróxidos com substâncias redutoras; etc. — as substâncias devem ser pulverizadas separadamente
e misturadas com cuidado num almaforiz ou sobre uma folha de papel, usando, para isso, uma
espátula de osso. A mistura só será tamisada por peneiro de musselina ou passada através de uma
gaze.
12.° — Para o caso das substâncias dificilmente miscíveis entre si, como o carvão e o
carbonato de magnésio, ou o licopódio e o talco, deve utilizar-se uni intermédio (álcool ou éter) que
depois se evaporará.
13.° — No caso de misturas de pós irritantes ou tóxicos, como as cantáridas, piretro, agárico,
agentes progestacionais, bicloreto de mercúrio, etc., deve operar-se usando uma máscara protectora
dos olhos e das vias respiratórias. A operação será conduzida, de preferência, em almofariz tapado.
• .''J' i i'-s"J
.- -•
Acido cítrico . . . . .10 g Quantidade de bicarbonato
de sódio:
HOOC-CHrC-CHrCOOH, HfO 84 x 10
= 12 g
21
OH COOH 'T -" °
(P. M. = 210) '"'* ••'" ~
Acido tartárico . . . . 10 g
84 X 10
HOOC-CHOH-CHOH-COOH _____ =11,2
15
. (P. M. = 150) °
Fosfato monossódico . . ,15 g
84 x 15
NaH2POt • -> -; _____ - 105 g
120 (P.
M. = 120)
<•:• Os pós destinados a uso externo devem apresentar todas as qualidades requeridas para os pós
em geral e mais as que lhes são exigidas para esse uso particular. De facto, além da característica de
homogeneidade, não devem ser susceptíveis de causar irritação local e devem fluir facilmente dos
recipientes onde estejam acondicionados, espalhando--se de modo uniforme na pele ou mucosa a que
devem aderir. A sua tenuidade será, pelo menos, a correspondente ao pó ordinário (0,180 mm de
abertura de malha do tamis).
É frequente desejar-se que um pó para uso externo apresente propriedades adsor-ventes e
absorventes, de modo a poder fixar os líquidos exsudativos, protegendo a epiderme da irritação.
Entre os absorventes mais usados figuram o caulino, a bentonite, o amido e certos pós hidrófilos.
É de boa prática proceder à esterilização dos pós aplicados sobre feridas, úlceras ou soluções
de continuidade da epiderme. Esse assunto será tratado no próximo subcapítulo.
Entre os pós para uso externo figuram os pós dentífricos. Na sua composição não se devem
incluir substâncias altamente abrasivas, que deterioram o esmalte, mas é prática corrente
empregarem-se compostos detergentes, como o sabão ou o sulfato de laurilo e sódio,'que facilitam a
remoção da sujidade, associados a abrasivos suaves. Chama-se abrasiva a uma substância sólida que
promove a remoção mecânica dos detritos e manchas dos dentes, além de executar o polimento da
superfície dos mesmos, Entre os abrasivos citamos o carbonato de cálcio precipitado, o fosfato
dibásico de cálcio, o fosfato tricálcico, o pirofosfato de cálcio e o metafosfato de sódio.
Não queremos terminar sem fazer uma ligeira referência aos pós destinados a serem
aplicados sob a forma de dispersão no seios dos gases (aerossoles), para os quais se requer um
elevado grau de tenuidade e um sistema adequado de dispersão gasosa. Empregam-se para uso
interno ou externo, recorrendo-se a insufladores ou a recipientes contendo gases propelentes. Este
assunto será estudado a propósito das Formas complementarei! das dispersões coloidais e
suspensões.
Na presente rubrica não vamos abordar o problema da esterilização dos pós destinados à
preparação de medicamentos injectáveis. Esse assunto será tratado posteriormente, quando nos
referirmos àquela forma farmacêutica. Agora procuraremos, apenas, indicar os principais métodos
empregados para esterilizar os pós que se destinam a aplicação local.
Como regra, podemos dizer que seria desejável que todos os pós utilizados localmente, quer
sobre uma epiderme inflamada, quer sobre uma mucosa hipersecretora,
(') Veja-se, a este respeito, o que se diz na pág. 365, onde o assunto foi tratado na sua gene-
ralidade.
605
satisfizessem a condições de esterilidade bem definidas. Na pratica, isto nem sempre sucede, talvez
por se contar com as defesas naturais do indivíduo ou com o poder anti-
-séptico de muitos dos compostos empregados. É, porém, do maior interesse e, quanto a nós,
obrigatória, a esterilização dos pós que se destinam a serem aplicados sobre feridas ou mucosas
ulceradas. Do mesmo modo, devem ser esterilizados os pós que se aplicam na conjuntiva ocular.
O problema da esterilidade dos pós é mais complexo do que à primeira vista parece, pois são
raras as substâncias capazes de suportarem, sem alteração, uma esterilização pelo calor seco, a
temperaturas que permitam realmente a destruição dos microrganismos e das suas formas
esporuladas. Está nestas condições o aquecimento a 150°C durante uma hora, ou a Í40"C por
período de quatro horas ('). Se bem que o talco, a magnésia, o óxido de zinco e o caulino suportem,
sem alteração, estes aquecimentos, já o mesmo se não pode dizer relativamente a muitas sulfamidas,
aos antibióticos, como a penicilina e as tetraciclinas, e a outras substâncias que se utilizam na
terapêutica. Nesses casos há que considerar a destruição efectuada pelo calor, podendo-
-se diminuir a temperatura de esterilização ou recorrer a outros métodos, que não o do
calor seco. A primeira hipótese só se justifica quando o pó a esterilizar tenha sido
obtido e manipulado em condições de relativa assepsia e quando não se encontre
perfeitamente seco. Efectivamente, se tivermos um pó com 2-3% de humidade e o sub
metermos a um aquecimento a 120ÜC, em vaso fechado, acontece que o teor de água
existente, ao vaporizar-se, vai aumentar a eficácia da esterilização que, pelo menos
parcialmente, passa a ser conduzida a calor húmido. É claro que a regularidade e a
eficiência dos resultados dependerão da regularidade de humidificação do pó e da sua
relativa assepsia inicial. :<!
Em consequência do que acabámos de dizer, é vulgar, especialmente na literatura
norte^americana, ver-se indicado o aquecimento a 120-121"C, durante sessenta minutos, como
processo de esterilização de pós pelo calor seco.
Uma vez que o calor húmido é mais eficiente, tem-se proposto esterilizar os pós, conservados
em recipiente aberto, numa autoclave aquecida a 120°C, durante trinta minutos. O inconveniente
deste processo reside na fixação da humidade sobre os pós que terão de sofrer uma subsequente
secagem antes do uso. A fim de atenuar a condensação do vapor de água sobre o pó, durante a
esterilização, aconselha-se aquecê-lo, previamente, a 100-110°C, numa estufa. Mesmo assim, é
recomendável acondicionar o pó num tubo cilíndrico, aberto nas duas extremidades, o qual se
coloca, em posição
Cheiro e sabor . - - . . „ . ; .,
Geralmente, os pós são mais claros do que as drogas de que provêm. Assim, o cinábrio, que se
apresenta como uma substância de cor vermelha-escura, torna-se ver-
(') ANDERSEN e colab. {Dansk Tids. Farm. 27, 25, 1953) descrevem do seguinte modo a preparação
do amido absorvente: tratam-se 100 g de amido com 5 g de hidróxido de potássio dissolvido em 20 g
de etanol anidro e 45 g de epicloridrina em 10 g de etanol; aquece-se a mistura a 40"C e seca--se
por 2 horas; repete-se o tratamento, elimina-se o álcool por lavagem aquosa e seca-se a 40°C;
adiciona-se, então, 2% de óxido de magnésio.
607
melho-vivo, por pulverização; o aloés, que é verde-garrafa, fica amarelo-ouro quando pulverizado.
Estas modificações devem-se a fenómenos de reflexão da luz, uma vez que a pulverização aumenta o
número de partículas sobre que aquela incide.
Volume
É evidente que o volume ocupado por um dado peso de pó deve ser superior ao apresentado
pela droga que lhe deu origem. Chamaremos volume aparente de um pó à soma do volume ocupado
pelas suas partículas sólidas com o volume de ar existente entre elas. Se o volume ocupado pelas
partículas sólidas é constante, já o mesmo não se pode dizer em relação à quantidade de ar, que
varia com diversos factores, como a forma e as dimensões das partículas. As partículas esféricas
podem empilhar-se de seis maneiras diferentes, sendo os arranjos cúbicos menos densos do que os
empilhamentos romboédricos. De facto, como demonstra a Fig. 232, o espaço deixado entre as
partículas arrumadas segundo uma estrutura cúbica é de cerca de 48% do volume aparente,
enquanto que este número se reduz a 26% no arranjo romboédrico.
Do mesmo modo, a dimensão das partículas afecta o volume de ar existente entre elas, o que
tem especial interesse num pó composto por pós simples de diferentes tenuidades. Efectivamente, um
pó composto, com partículas de vários tamanhos, contém menos ar do que se todas as partículas
apresentassem idêntica tenuidade, uma vez que as mais pequenas podem ocupar o espaço existente
entre as maiores.
Pelo facto de existir maior espaço entre as partículas empilhadas segundo arranjos cúbicos
também se compreende que, só nesse arrumo, caibam entre as esferas mais volumosas esférulas
menores, com apreciável diâmetro. Pelo contrário, se as partículas mais pequenas dum pó composto
por dois pós simples de diferente tenuidade tiverem reduzidos diâmetros, é possível o empilhamento
romboédrico. Este facto tem o seu interesse, já que, no primeiro caso, teríamos um maior volume
aparente de pó, ou, por outras palavras, só seria possível um empilhamento pouco denso.
A forma e dimensão das partículas depende do tipo de pulverização executada e, assim, os
moinhos, por exemplo, tendem a tornar as partículas esféricas. Na prática,
608
pode reduzir-se, apreciavelmente, o volume de um pó, quer por remoção do ar existente entre as
partículas, por meio de máquinas de vazio, quer colocando o pó num recipiente que se bate,
verticalmente, numa superfície rígida. ^-v» => íivv.
Algumas vezes, como na preparação extemporânea de suspensões, é útil um pó dotado de
grande volume. Noutros casos, quando se empregam quantidades elevadas de fármacos, é desejável
reduzir, apreciavelmente, o volume ocupado pelo pó.
:>
, Densidade • . - •-. ' ' V
A densidade dos pós é, em regra, idêntica à das drogas que os originaram. Em determinadas
circunstâncias é possível aumentar a densidade de um pó, bastando, para isso, humedecê-lo com
dissolvente em que apresente solubilidade parcial. Evaporado o dissolvente, o pó seco obtido poderá
apresentar aumento da sua densidade.
Regra geral, os pós revelam maior afinidade para a água do que os fármacos não
pulverizados. Interessa considerar esta propriedade que obriga ao acondicionamento cuidadoso de
muitos pós em frascos hermeticamente rolhados e eventualmente providos de substâncias
exsicadoras. A quantidade de água fixada depende da natureza físico-
-química do pó, aumentando com o grau de divisão daquele e sendo, também, dependente do grau de
humidade relativa. Numa comunicação científica, SHOTTON e HAAB verificaram o efeito da humidade
e da temperatura na fixação de água por diversos pós. Assim, operando a 25°C e com uma
humidade relativa de 87%, o equilíbrio atingiu-
-se do seguinte modo: amido de milho 19,8% de humidade, amido de trigo 19,4% de humidade,
fécula de batata 26,4% de humidade, glucose 9,6% de humidade, lactose 0% de humidade, ácido
algínico 18,9% de humidade, goma adraganta 32,4% de humidade e goma arábica 28,9% de
humidade.
Para uma humidade relativa de 100% a percentagem de água fixada pêlos pós à mesma
temperatura foi de: amido de milho 27,4%, amido de trigo 28%, fécula de batata 35,6%, glucose
dissolve-se, lactose 0,1%, goma adraganta forma mucilagem, goma arábica forma mucilagem, ácido
algínico 30,3%.
Estes dados, além de mostrarem a nítida influência da humidade relativa na percentagem de
água fixada pêlos pós, apresentam interesse no sentido de se poderem seriar alguns pós, quanto à
sua higroscopia.
A eflorescência aumenta também com a pulverização, uma vez que a superfície de
evaporação da água de cristalização é maior. Este fenómeno manifesta-se em muitas
substâncias pela sua fácil transformação em pó à medida que se liberta a água de
cristalização. **"•••?*•.••-•• • i- ••- -••- -\ •• ,•;?•;•< s, -••'•-•
A libertação de água pode dar-se por alterações de humidade relativa, que pode ocorrer
durante a trituração das drogas. A água libertada do pó pode torná-lo pastoso ou chegar a
liquefazê-lo.
609
Solubilidade
Em geral, à medida que uma droga é progressivamente pulverizada aumenta a sua velocidade de
dissolução. Por outras palavras e dentro de certos limites, quanto mais ténues forem as partículas
constituintes de um pó, tanto mais facilmente se fará a sua dissolução. Esta regra não se verifica com todas as
drogas, particularmente com aquelas cuja pulverização possa modificar o seu sistema cristalográfico ou
transformá-las de amorfas em cristalinas. Como exemplo do que acabámos de dizer, lembramos o que se passa
com o anidrido arsenioso, que no estado amorfo (vítreo) é solúvel na água numa
610
proporção de 4%, diminuindo o seu coeficiente de solubilidade para 1,4% por pulve
rização (formação de anidrido arsenioso octaédrico) (')- ' , , . •" í-,r*T <",
No domínio das modificações alotrópicas operadas por pulverização, é de citar a
transformação da marcassite (sulfureto de ferro ortorrômbico) em pirite, que cristaliza
no sistema cúbico.
•- . •*{
Modificações químicas
Dada a sua apreciável superfície relativa, os pós podem alterar-se, facilmente, por
acção do ar, da luz, do calor, da humidade ou por inquinação fúngica ou bacteriana.
Acessoriamente, a cedência dos constituintes dos recipientes onde os pós se encontram
acondicionados ou do material usado na manipulação dos pós pode, também, contribuir
para a sua alteração, -.,^r'- : ••>• •«•"V-^.ïíí
Na maioria das vezes, as alterações dos pós são devidas a dois ou mais dos
citados factores. Assim, muitas das oxidações observadas são favorecidas pela presença
de vestígios de metais pesados, pela exposição à luz, pela acção do calor, etc. As
hidrólises são ocasionalmente aceleradas pela presença de enzimas e, noutros casos, o
seu incremento é devido à elevada temperatura a que se operou ou a que se armazenou
o pó. „
a) O ar actua não só pelo seu teor em oxigénio e anidrido carbónico, mas, ainda, pela humidade que
contém. Muitas substâncias, como álcoois, fenóís, aminas, cetonas, etc., oxidam-se facilmente em contacto
com o ar, tornando-se escuras ou adquirindo
(') O anidrido arsenioso octaédrico corresponde ao produto oficiital que é, também, designado por
opaco.
611
As principais incompatibilidades dos pós manifestam-se por formação de misturas eméticas, misturas
explosivas e misturas coradas.
o) Misturas entéricas — De um modo geral, define-se mistura eutética como a que resulta da mistura de
componentes cuja proporção lhe confira o mais baixo ponto de fusão. Em Farmácia Galénica chamaremos
mistura eutética a uma mistura de sólidos que se liquefaz ou que se torna pastosa à temperatura ambiente.
Quando se misturam fenóis ou compostos fenólicos, aldeídos ou cetonas, o ponto de fusão da mistura é
muito inferior ao de qualquer dos componentes isolados, podendo ocorrer a sua liquefacção ou empastamento.
Na prática clínica podem ser receitadas associações de diversas substâncias que originem a formação de
misturas eméticas, competindo ao farmacêutico conhecer os principais compostos que as podem produzir, a fim
de evitar essa incompatibilidade. Essencialmente, o método consiste em interpor
614
pós absorventes entre os constituintes da mistura. Como pós dotados de poder de absorção citamos, por ordem
decrescente de actividade, o carbonato de magnésio, o caulino, o óxido de magnésio, o fosfato tricálcico, o gele
de sílica, a lactose e o amido.
A quantidade de absorvente a utilizar com o fim de impedir a liquefacção de uma mistura de pós pode ser
calculada teoricamente, admitindo-se que aquele é necessário para envolver completamente as partículas de
cada constituinte.
Suponhamos, por exemplo, que tínhamos de preparar uma mistura de 5 g de piramido com 5 g de salol.
O primeiro tem um ponto de fusão de 107-108°C e apresenta uma densidade de 1,1, enquanto que o salol
funde entre 41 e 43"C e apresenta uma densidade de cerca de 1,0. Quando se tritura qualquer destas
substâncias, isoladamente, o diâmetro médio das suas partículas é de cerca de 200 u,. A mistura das duas
substâncias origina um eutético, cuja formação pode evitar-se com óxido de magnésio. Este produto é usado
por causa do seu elevado ponto de fusão (2800°C) e da sua grande superfície específica, pois pode ser reduzido
a partículas com, aproximadamente, 20 u, de diâmetro. A sua densidade é de 1,25.
;
A área de uma partícula esférica de piramido é dada por: < ' - -;V <;
2
; '" S=4 K r = 4K (100 n)2 - 4 TC (IO2 x IO"4 cm)2 = 4 TC IO"1 cm2
e a área de um círculo recoberto por uma partícula de óxido de magnésio será de:
O número de partículas de óxido de magnésio para recobrir uma partícula de piramido é dado pelo quociente:
piramido, teremos:
4 •.(.;• H.
•.:•
p = y. d = ——TC r3 d = 4,19 x IO-6 x 1,1 =4,6 x IO* g
S 4 TC IO"1 " :
2
————— = 4 x l 0 = 400 -* „ ^-.r,- - ,
'•.•*"' - .'tíj- '-",
6 6 6
5 g: 4,6 x IO- - 1,08 x IO = 1,1 x IO , .w
Por seu turno, o número de partículas de óxido de magnésio necessárias para recobrir todas as
partículas de piramido é calculado pela seguinte regra de três: •»-. .
n = 4,4x!0 8 - ".;•— — -
É agora preciso saber qual o peso de uma partícula de óxido de magnésio, a fim
de avaliar o peso necessário para recobrir os 5 g de piramido: •
Por raciocínio análogo determina-se qual a quantidade de óxido de magnésio necessária para
recobrir o salol existente na fórmula. O cálculo indica o peso de 2,5 g. Nestas circunstâncias,
precisaríamos, para evitar a liquefacção da mistura eutética, de adicionar 2,3 + 2,5 g = 4,8 g de
óxido de magnésio.
A quantidade a que chegámos teoricamente revela-se eficaz, na prática, para a
manipulação da citada mistura. ^-:•-••<•.;. -,: .-.,••-.:
As proporções entre os compostos que originam a mistura eutética e a intensidade e duração
da trituração a que os pós são submetidos afectam a magnitude do fenómeno.
Na Tabela LX indicamos uma lista de substâncias capazes de originarem misturas
eutéticas. " '"!_. ' .• "'"'''' ' ' • ^-••-<••-' • •. _-.- ' _ ^ .' "- 1 •' •
O estudo das misturas eutéticas tem sido realizado por numerosos investigadores, desde os
primórdios deste século até à actualidade. Assim, CAILLE observou o comportamento de cânfora-
salol e de cânfora-resorcina, tendo verificado que a primeira corres-
ponde a um verdadeiro eutético, enquanto que a segunda pode apresentar dois pontos
de fusão mínimos e um outro mais elevado. "•' : "**
A Fig. 233 representa, segundo CAILLE, as curvas de fusão das misturas de salol--cânfora e de
resorcina-cânfora.
160 160
14 MO
O
0 120
12 100 \
0 80
10 60
0 40
8 20
O 20 40 60 80 O 20 40 60 80
100 % 100'%
de cânfora de cânfora
100 80 60 40 20 100 80 60 40 20
0% de 0% de
salol resorcina
Fig. 233. Ponto de fusão de misturas de salol-cânfora
(temperatura do eutético 6°C) e de resorcina-cânfora
(temperaturas dos eutéticos 10,5 e 28,5°C). O salol puro funde
a 43PC; a cânfora pura funde a 179°C; e a resorcina pura funde
a 109°C
(') Esta mistura pode cristalizar ao fim de algum tempo de preparação, pelo que CHARONNAT e
MIOCQUE (An. Pharm. Franc., 14, 171, 1956) aconselham a substituição de 2/3 do cloridrato de cocaína
por cocaína básica.
617
eutética constituída por dois componentes, sendo um hidrossolúvel, é exposta à acção dos líquidos
do tracto gastrintestinal, o composto solúvel dissolve-se rapidamente, deixando a substância
insolúvel em estado de extrema divisão e, portanto, mais susceptível de ser absorvida. GOLDBERG e
colab. prepararam verdadeiros eméticos de ureia com N-acetilaminofenol, tendo verificado que
era largamente aumentada a solubilidade do derivado fenólico, sendo de admitir que se
incrementasse, ainda, a sua absorção por via gastrintestinal. Os mesmos autores ensaiaram,
também, misturas eutéticas de griseo-fulvina com ácido succínico, concluindo desse estudo a
possibilidade de utilização clínica da referida associação, com vantagens de ordem posológica e
de uniformidade na resposta terapêutica.
b) Misturas explosivas — Quando se tritura um poderoso agente oxidante com um redutor
enérgico pode dar-se uma explosão mais ou menos violenta e perigosa, a qual é devida a uma
excessiva libertação de gases. Algumas vezes são prescritas misturas explosivas e cabe ao
farmacêutico cercar-se de cuidados especiais na sua manipulação. Assim, cada componente da
mistura deve ser pulverizado isoladamente, devendo a pulverização executar-se com suavidade,
evitando demasiada pressão no almofariz, ou procurando homogeneizar os pós numa folha de
papel, fazendo-os rolar sobre ela.
Em casos muito especiais, em que se verifique impossibilidade de manipulação, os constituintes da
mistura deverão ser dispensados, separadamente, em papéis, instruindo--se o doente quanto à sua
administração.
Na Tabela LXI dão-se exemplos de misturas explosivas.
c} Misturas coradas — Algumas vezes a mistura de dois ou mais pós simples pode originar
compostos corados por reacção entre os constituintes.
Os pós de ruibarbo ou de aloés, adicionados de substâncias alcalinas, coram-se de vermelho
(reacção de BORNTRÀEGER); sais de prata, em presença de cloreto de sódio, originam cloreto de
prata, que é reduzido por acção da luz; os sais de mercúrio, como o calomelanos, reduzem-se com
libertação do metal quando misturados com substâncias
618
orgânicas, como o sabão alcalino; o fenol, associado aos sais de ferro, pode produzir misturas coradas;
a oxidase da goma arábica provoca numerosas incompatibilidades, traduzíveis, frequentemente, pela
formação de compostos corados, o que se pode evitar aquecendo a goma a 100°C, durante trinta minutos.
Na Tabela LXII indicamos algumas das substâncias que originam compostos corados em presença da
goma arábica não desenzimada.
d) Outras incompatibilidades — além das incompatibilidades referidas, que são as mais facilmente
observáveis, existem muitas outras que afectam as propriedades farmacológicas dos compostos misturados.
Assim, o calomelanos, em presença da antipirina, dá origem à formação de um derivado mercurial de
antipirina, mais tóxico do que qualquer das substâncias iniciais; o acetilotanino reage com o subnitrato
de bismuto, libertando-se ácido acético; o clorato de potássio, quando em presença do iodeto de
potássio, produz iodato; ele.
As incompatibilidades assinaladas ocorrem administrando as substâncias separadamente ou associando-as
sob a forma de pó composto.
{'} A apreciação da cor dos pós pode fazer-se, com certa exactidão, recorrendo a fotómetros.
como o de Pulfrich, devidamente adaptado. Malysz e Walicka (Acta Polon. Pharrn. 22, 155, 1965,
segundo Int. Pharm. Abs. 3, 196, 1966) relatam as conclusões a que chegaram num demorado estudo
sobre este assunto. ; :-> . ..•<,. ... .„, ,. . . ... ,
619
desenvolvem nela movimentos circulares característicos. O café puro, em pó, humedece rapidamente
com a água e deposita no fundo dos recipientes que a contenham; se, porém, estiver adicionado de
chicória, o..pó correspondente a esta droga fica a sobrenadar.
Os pós simples, animais ou vegetais, identificam-se, em regra, pelo seu exame microscópico e por
reacções de coloração ou de precipitação características de alguns dos seus componentes. As
determinações do ponto de fusão e dos espectros de absorção destes pós não dão, em geral, indicações
úteis. Já, porém, os pós quimicamente definidos podem ser apreciados pela avaliação do ponto de
fusão ou dos espectros de absorção nas regiões do ultravioleta ou do infravermelho, características
que não só os identificam corno permitem fazer ideia do seu grau de pureza. A própria solubilidade
em diversos dissolventes e a determinação da respectiva densidade podem prestar valioso auxílio na
identificação dos pós.
Como os processos de identificação e de dosagem dos pós simples são os mesmos que se descrevem
para as respectivas drogas, cujo estudo é efectuado nas cadeiras de Farmacognosia, Química
Inorgânica e Química Orgânica, não os mencionaremos neste livro, de índole exclusivamente
galénica, mas iremos ocupar-nos dos ensaios que interessam especificamente à tecnologia
farmacêutica.
de 50% das suas partículas satisfazem a esse requisito e as restantes apresentam graus de divisão
aproximados do pretendido.
A granulometria dos pós finos pode ser efectuada por diversos métodos, dotados de diferente
sensibilidade, sendo por isso cada um deles sugerido para apreciar tenui-dades situadas entre limites
específicos.
Não pretendemos fazer um estudo detalhado e exaustivo dos processos que hoje se
encontram ao dispor do prático empenhado em determinar diâmetros médios das
partículas dos pós. Entretanto, poderemos dizer que são, especialmente, cinco os méto
dos usuais, muitas vezes modificados no sentido de se adaptarem ao tipo de trabalho
de rotina exigido: .
1 — Determinação com microscópio óptico; i.
2 — Determinação com microscópio electrónico; ' :'
3 — Método de adsorção;
4 — Método de sedimentação;
5 — Processo electrónico. -, ."• •., .-,:•
l — Determinação com microscópio óptico — Em linhas gerais, este processo consiste em medir um
número de partículas de pó suficientemente representativo, utilizando-se, para isso, uma ocular
micrométrica e uma ampliação que, geralmente, anda à volta de 430-440 diâmetros. Como, na
maioria dos casos, estas determinações interessam à preparação de suspensões medicamentosas
destinadas a uso injectável, pode utilizar-se uma dispersão do pó e proceder nela à sua análise.
Medem-se 200 ou mais partículas ('), que se agrupam consoante o seu tamanho, expresso em micra
(A); determina-se o valor médio do intervalo no qual estão compreendidas as dimensões dessas
partículas (B) e o quociente entre os valores médios dos intervalos e o menor valor médio dos
intervalos calculados (C) que, no2 exemplo a seguir referido, é igual a 9,5. Determina-se, depois, o
quadrado dos números obtidos (C ).
Na Tabela LXIII indicamos, a título de exemplo, os grupos a fazer para uma determinação com
antibióticos, em que se desprezaram as partículas com diâmetro menor do que 5 (J,.
As medições a efectuar podem apresentar algumas dificuldades consoante a forma dos cristais. Para
cristais de aspecto esférico o problema simplifica-se, pois trata-se apenas de medir diâmetros. O
mesmo acontece com cristais lamelares, em que é fácil determinar a sua maior dimensão aparente.
Já, porém, com cristais em fornia de bas-
(') O cálculo de probabilidades indica que é necessário medir cerca de 100 partículas para
calcular o seu diâmetro médio com uma aproximação de 10%. Para um rigor até 1% é preciso
contar
10000 partículas. •••••
621
tonete alongado, pode ocorrer medir-se o comprimento ou a largura. E por isso que há dispositivos
micrométricos, de forma circular, nos quais basta enquadrar o cristal para saber as suas dimensões
com certa exactidão (Fig. 234).
Fig. 234. Círculos calibrados, opacos
4 5 6 7 » ^^
Na prática, contam-se as partículas de cada um dos grupos que mencionámos na Tabela LXIII e
determina-se a sua percentagem em relação ao total medido. Para partículas de forma lamelar de um
antibiótico ensaiado, a percentagem, em peso, seria:
«Peso relativo» das partículas de cada grupo = C2 x percentagem das partículas de cada grupo
Percentagem em peso = -
so relativo» x l (X) Soma dos pesos relativos
622
A Fig. 235 representa o levigador de ANDREASEN modificado por DAL BROLLO et ai. A Tabela LXIV,
extraída de um trabalho desses autores, mostra as características comparadas dos dois levigadores.
É evidente que para utilizar este método se toma necessário efectuar duas espécies de determinações.
A primeira, meramente teórica, permite avaliar o tempo de sedimentação para todas as partículas de
raio superior ao limite pretendido. Para isso recorre-se à fórmula (3), substituindo-se as letras pêlos
valores correspondentes do líquido dispersante e do pó disperso. Calcula-se, assim, para diversos
valores de r, como, por exemplo, 2 u., 5 u., 10 u,, '5 |J. etc., o tempo necessário para a deposição das
partículas com diâmetro superior ao dado pêlos raios equacionados. Suponhamos que pretendíamos
determinar os tempos de sedimentação de uma penicilina procaínica, usando como líquido
dispersante o éter etílico e trabalhando a 20°C. As grandezas que interessa substituir na fórmula (3),
são as seguintes:
g = 981 cm x s'1
r| =0,003 Po (poise)
d = 1,250 g x cm~3 (densidade da penicilina
procaínica)
dt = 0,174 g x cm3 (densidade do éter sulfúrico
cm O i J- saturado de
penicilina procaínica) h = 100 cm. Este
valor é o inicial, o qual diminui de 0,8 cm
cada vez que se retiram 10 ml da
Flg. 235. suspensão.
Levigador
de
Andreasen, Nas circunstâncias da experiência, o valor de
modificado
por Dal r é dado pela
Brollo et ai. fórmula: • •
h h
9 x 0,003 —— = 42,8 ——
8
t= 10 - r> r2
120x981 x 0,536
Assim, para partículas de diâmetro superior a 80 |i, o tempo
necessário para completa sedimentação seria:
h 100
t = 42,8 ——
2
= 42,82 —— = 2 min 40 s
r (40)
625
O método da sedimentação para apreciar a tenuidade das partículas dos pós pode apresentar-
se, nas diversas Farmacopeias, de uma forma aparentemente mais simples do que a que indicámos.
É que, em cada caso, a referência é feita a um fármaco, como o sulfato de bário, o hidróxido de
alumínio, o caulino, etc., não aparecendo no texto
626
a indicação do cálculo teórico, mas apenas a descrição da prática do método em si. Acrescentaremos que
nem sempre é necessário o rigor dado pelo processo de ANDREA-SEN e que, por isso, a técnica pode
simplificar-se.
A título de exemplo, observemos as indicações dadas pela Farmacopeia Britânica de 1988 para
verificar a tenuidade do caulino medicinal. Este fármaco pode apresentar--se em pó de diversa
granulometria, compreendendo-se que quando se destina a ser usado como adsorvente intestinal deverá
ser muito elevado o seu grau de divisão. A B. Ph. indica um ensaio para o caulino leve que passamos a
descrever: agite fortemente 5 g de caulino numa proveta (16 cm x 35 mm) com 60 ml de solução de
pirofosfato de sódio a 1% m/v; deixe em repouso durante 5 minutos e retire 50 ml da suspensão, usando
para isso uma pipeta, cuja ponta se procura que esteja mergulhada a cerca de 5 cm da superfície livre do
líquido; junte 50 ml de água ao líquido que permanece na proveta e proceda do mesmo modo, repetindo a
operação, até extrair 400 ml de líquido; a suspensão remanescente não deve originar, por evaporação,
um resíduo superior a 25 mg. Segundo esta técnica, procura-se verificar qual a quantidade de partículas
demasiado volumosas existentes no caulino em ensaio.
O ensaio para determinar a quantidade de partículas finas deve, por sua vez, ser conduzido do
seguinte modo: Disperse 5 g de caulino em 250 ml de água, agitando vigorosamente durante 2 minutos
num balão com rolha. Passe imediatamente para um cilindro de vidro de 5 cm de diâmetro interno e
transfira 20 ml, medidos com uma pipeta, para uma cápsula de vidro. Evapore e seque na estufa a 100-
105°C até peso constante. Deixe em repouso a restante suspensão durante 4 h a 20°C. Retire uma
segunda fracção de 20 ml com uma pipeta que mergulhe até exactamente 5 cm abaixo da superfície para
uma cápsula de vidro. Evapore e seque na estufa a 100-105°C até peso constante. O peso de resíduo
desta segunda fracção não deve ser inferior a 70% do peso do resíduo obtido com a primeira fracção.
5 — Processo electrónico — Para determinar a granulometria de um pó por este processo, opera-se,
em regra, com um contador de COULTER. A base do método, que foi pormenorizadamente descrito por
BARNES e colab., consiste no seguinte: as partículas a medir são suspensas numa solução de um
electrólico (cloreto de sódio a 0,9 ou 1%) que se introduz num vaso de vidro, onde se encontra um
eléctrodo; a suspensão é, depois, obrigada a passar através de um pequeno orifício em frente do qual se
situa um outro eléctrodo; quando uma partícula passa através do orifício origina-se uma ligeira
alteração na resistência eléctrica do circuito; um circuito adicional detecta as alterações de resistência
como «pulsações», a intensidade das quais é proporcional ao volume da partícula que atravessou. Estas
«pulsações» são apreciadas num osciloscópio com que o aparelho está equipado.
A principal vantagem deste processo, cuja aparelhagem dispendiosa não permite fácil divulgação,
reside na rapidez com que é classificado o pó a ensaiar (Ver Suspensões).
627
A existência de todos estes métodos e ainda das suas variadas modificações leva a admitir que
possam apresentar numerosos inconvenientes. Se este raciocínio não é inteiramente justo para alguns
dos processos citados, como o do contador de COULTER, cuja principal desvantagem é de ordem
económica, já o mesmo não pode dizer-se em relação aos processos microscópicos e de sedimentação
que, aliás, são os mais utilizados.
Efectivamente, a forma das partículas de pó a mensurar é uma das mais importantes
características para o bom êxito da operação. Já vimos que os métodos de sedimentação só se
consideram rigorosos para partículas de forma esférica. As partículas de forma lamelar com
superfície plana, por exemplo, sofrem uma sedimentação muito irregular e complexa, como a de uma
folha de papel lançada no ar, já que a resistência à queda depende do ângulo que faz o plano da
partícula com a vertical. Do mesmo modo, os cristais que tenham tendência para aderir uns aos
outros (tixotropia) dificultam as medidas, dado que se não dispersam convenientemente no meio em
que é realizado o ensaio.
As determinações microscópicas ocasionam erros grosseiros resultantes da dificuldade de
determinação do diâmetro aparente. Além dos erros anteriormente citados, é de referir os que se
cometem por considerar, com idêntico diâmetro, partículas espessas ou finas que apresentem a mesma
forma aparente.
MARCEL GUILLOT, num valioso artigo crítico sobre a granulometría dos pós cristalinos, afirma que os
métodos microscópicos têm o inconveniente de serem «desprovidos de significado real, sempre que os
cristais se afastem muito da forma esférica».
em que A é a altura e r o raio da base do cone. " :í ' 't"!Br- - ï"~"''••'•''• < ' • O coeficiente de
fricção entre as partículas de pó ou granulado pode avaliar-se
h através da determinação do
ângulo de repouso ou, em certos casos, pela relação —.
Esta avaliação apresenta muito interesse, pois elucida quando à facilidade de manuseio
dos pós, como, por exemplo, no enchimento de recipientes, ou no
escoamento de um distribuidor de uma máquina de compressão
para a matriz respectiva.
A determinação do ângulo de repouso tem sido executada por
numerosos processos que são relatados, entre outros, por TRAIN. Um dos
métodos mais compreensíveis e fáceis de executar é ò que recorre ao
uso de um funil onde se lança o pó que se deixa, depois, cair sobre
uma folha de papel.
A Fig. 236 esquematiza a operação. Segundo este método, a tangente de a é dada
pela equação (2).
A Tabela LXV1 indica valores de ângulos de repouso de vários pós simples, alguns constituídos
por partículas cúbicas, como o cloreto de sódio, outros por partículas aciculares, como o cloridrato
de quinina. Nela indicam-se, também, as variações dos valores dos ângulos de repouso,
subsequentes à diferente tenuidade das partículas em que foi dividida a droga.
Outros processos se têm usado para determinar o ângulo de repouso de pós e granulados, como
os que representamos esquematicamente na Fig. 237. Assim, muito semelhante ao descrito é o do
cone de leito fixo (II), o da caixa inclinada (III) e o cilindro rotativo (IV). A gravura elucida a forma
de determinação em qualquer dos casos, chamando-se apenas a atenção para o facto de o processo
IV avaliar o que se denomina ângulo cinético de repouso, normalmente inferior aos determinados
pelas restantes técnicas, e que são ângulos estáticos de repouso.
Tabela LXVII. Ângulo de repouso do amido de milho em pó ou das suas misturas com
diferentes substâncias
Ângulo
Composto adicionado Percentagem de repouso
Amido de milho _ 53°
Óxido de magnésio ....,:. , . 51°
idem 0,05
'.',-' " 0,10 '. 50°
J:
idem .': 1,00 '..,'. í •"•• 37° '•'•'•'
h
idem '""' ' 5,00 -^ 46° ":
idem 100,00 54°
Óxido de zinco 0,50 58°
NELSON observou, também, que para os pós ou granulados simples há tenuidades determinadas
para as quais o ângulo de repouso atinge o mínimo valor. A divisão levada a um grau diferente
desse conduz ao aumento do ângulo de repouso e das forças de fricção entre as partículas do pó.
Assim, por exemplo, para o sulfatiazol consegue--se o menor ângulo de repouso quando o pó se
encontra dividido em partículas de cerca de 500 micra de diâmetro.
Do mesmo modo, a adição de um lubrificante (ver Comprimidos) a um pó ocasiona efeitos
benéficos ou não sobre o valor do ângulo de repouso, consoante a percentagem adicionada e o grau
de divisão do pó. Assim, juntando talco numa percentagem de 0,4-0,6% ao sulfatizol dividido em
partículas de cerca de 250 u., consegue-se que a mistura apresente um ângulo de repouso mínimo.
Já, porém, isso não ocorre quando aquele fármaco seja pulverizado em partículas de 500 n de
diâmetro médio e o talco se empregue em igual percentagem.
7.2.0.8.4. Humidade
Regra geral, um pó deve apresentar um teor de humidade inferior a 8%. Em casos anormais de
conservação ou em comprovadas falsificação por humedecimento do pó, a taxa de humidade elevar-
se-á acentuadamente.
A determinação da quantidade de água existente num pó pode executar-se por diferentes
processos, dos quais o mais simples consiste em avaliar a perda de peso do pó quando submetido ao
aquecimento a 100-105°C. Para isso, colocam-se, em cápsula tarada, cerca de 5 g do pó
(rigorosamente pesados) e seca-se na estufa à temperatura mencionada, até peso constante. A
diferença de peso obtida, referida a 100 g de pó, indica a percentagem de humidade.
Um processo muito usado, especialmente para drogas vegetais, consiste em subme
tê-las ao arrastamento pêlos vapores de tolueno ou de xilol. Nestas circunstâncias, a
água existente no pó é arrastada pêlos vapores daqueles líquidos, medindo-se a sua
quantidade, depois de condensada e separada do tolueno ou do xilol (a água é imiscível
e mais densa do que estes líquidos), num tubo graduado que se adapta ao refrigerante.
Esta operação executa-se num aparelho do tipo de LEYMARIE, cujas dimensões estão
padronizadas internacionalmente. O tubo graduado apresenta-se com duas dimensões, de
acordo com o-teor de humidade previsto no pó. A Fig. 238 representa um aparelho
deste tipo. - .. .
632
O método de KARL-FISCHER é, porém, o que mais se utiliza. É-lhe dada preferência por permitir
trabalhar com quantidades mínimas de pó, porquanto é dotado de
grande sensibilidade. Baseia-se na reacção quantitativa entre a água e uma solução de iodo e anidrido
sulfuroso em piridina e álcool metílico.
H S04CH3 H l
O termo da reacção pode ser apreciado pela variação da coloração de amarelo--canário para
âmbar ou, mais rigorosamente, por técnica electrométrica.
O pó cuja humidade se pretende determinar é adicionado a uma dada quantidade de álcool metílico
anidro, em marras previamente seco. Junta-se então o reagente titu-lante, gota a gota, até viragem.
633
temperatura seja de cerca de 500°C (temperaturas muito mais elevadas do que esta podem levar à
volatilização dos sais halogenados presentes, falseando os resultados). Ao fim de algumas horas,
deixa-se arrefecer a cápsula ou o cadinho e pesa-se. A diferença de peso indica a quantidade de
cinzas provenientes da amostra de pó ensaiada. Os valores obtidos serão referidos a 100 g de pó.
As cinzas conseguidas a partir das drogas animais ou vegetais são, geralmente, acinzentadas ou
mesmo róseas (presença de ferro). Em regra, uma fracção das cinzas totais é solúvel em água quente
(cinzas solúveis). A porção remanescente, que se pode avaliar filtrando (por filtro tarado) o produto
que resulta do tratamento das cinzas totais por água quente, constitui as cinzas insolúveis. Os pós
opoterápicos apresentam normalmente teores destas cinzas inferiores a 6%. Taxas mais elevadas
podem constituir indício de adulteração (junção fraudulenta de matérias minerais, como carbonato
ou sulfato de cálcio).
A prescrição de papéis é, em regra, feita de duas maneiras distintas: o médico indica uma quantidade
total de pó que determina seja dividida por um certo número de papéis, ou menciona o quantitativo de pó
a incluir num papel, mandando que se preparem outros iguais.
Do ponto de vista prático, este tipo de receita magistral obriga à preparação do pó medicamentoso
numa quantidade correspondente à totalidade das doses prescritas, a qual se divide, depois,
equitativamente, pelo número de papéis indicado. É aconselhável que não se observem, entre papéis do
mesmo pó medicamentoso, desvios de peso superiores a 5% .
A divisão do pó total, em papéis, pode efectuar-se por três processos fundamentais:
a) Divisão geométrica — Espalha-se o pó sobre uma superfície plana e com auxílio de uma
espátula procura-se juntá-lo de modo a que fique com um contorno rectangular ou
quadrangular; divide-se, depois, em tantas partes quantos os papéis a preparar.
b) Divisão visual — Pesa-se o pó que corresponde a um papel e distribui-se o resto do pó pêlos
papéis necessários, procurando-se que os seus volumes sejam aproximadamente iguais ao do
pó que se pesou.
c) Divisão com medidores de volume — Pesa-se o pó correspondente a um papel
e com auxílio de aparelhos de medida (colheres, compressores-doseadores de
-•• ; MICH-BIRK, etc.) medem-se volumes iguais ao apresentado pelo peso de pó
referido.
Como materiais usados para invólucros são mais empregados o papel vegetal e certos papéis
'corados (branco e azul, segundo a F. P. IV). Quando se acondicionam nestes papéis substâncias
voláteis ou ávidas de água, é vulgar envolvê-las em folhas de papel parafinado. O celofane, as folhas
metalizadas (papel com revestimento de alumínio, por exemplo) e diversos materiais plásticos têm
sido empregados na preparação industrial de papéis medicamentosos. Assim, as folhas de alumínio
são preferidas para conservar pós higroscópicos e efervescentes, dada a sua impermeabilidade à
água.
Quando o número de papéis é inferior a 6, é vulgar entregá-los encerrados num envelope, mas
para maiores quantidades convém recorrer ao uso de caixas com forma de paralelipípedo.
Os papéis dispõem-se em posição perpendicular ao plano do fundo da caixa, mas
quando são muito pequenos podem colocar-se paralelamente àquele plano. Neste caso,
os papéis são cortados com formato rectangular, sendo o seu comprimento cerca de
duas vezes o comprimento da caixa e a sua largura igual a quatro vezes a largura
daquela. A dobragem dos papéis, que só a prática permite realizar com perfeição, é
auxiliada com a própria caixa. ., .„.,.. ;, ,,,. . _. .,_...
637
Para isso faz-se em cada papel uma dobra correspondente a cerca de uma sétima parte da sua
largura e colocam-se, com a dobra feita, de modo a que cada papel se sobreponha, ligeiramente, ao
seguinte. Divide-se o pó, por qualquer dos processos mencionados, colocando-se cada fracção
individual no centro do papel. Começa-se pela direita e segue-se a direcção perpendicular ao
operador. Feita esta operação, dobra-se o papel de modo a inserir uma das margens a uns
milímetros abaixo da outra; dobra-se então a margem maior pela mais pequena, dobrando ambas
em direcção ao centro do papel. Em seguida dobram-se as extremidades abertas do papel, de modo a
que este fique com um comprimento ligeiramente menor do que o comprimento interior da caixa.
Esta operação pode fazer-se descentrando o papel em relação à caixa, o que permite obter uma
dobra maior do que a outra que nela se enfia.
Vincadas as dobras com uma espátula flexível, agrupam-se os papéis aos pares e acondicionam-
se na caixa.
A Fig. 240 esquematiza a operação de preparar e acondicionar papéis.
., BUÍ
m
Carbonato de cálcio.......................................... 32 g
Carbonato de magnésio.................................... 32 »
;;~
Carbonato de sódio .......................................... 26 »
Caulino, leve .................................................... 10 »
O pó referido foi proposto para o F. G. e é utilizado como anti-ácido, podendo administrar-se as
colheres.
As substâncias constituintes devem ser reduzidas a pó fino e misturadas. Lembremos que o caulino
leve se apresenta micronizado.
•*«'' ,
Ipecacuanha, em pó.......................................... 10 g
Ópio, em pó...................................................... 10 »
Lactose .............................................................. 80 »
Conhecido por pó de ipecacuanha composto, vem inscrito na F. P. IV, que o considera
equivalente aos chamados «pós de Dower». Trata-se de um pó estupefaciente, contendo, por cada
grama, dez centigramas de ópio. A fim de evitar ou atenuar a oxidação da morfina existente no ópio
(formação de oxidimorfina, amarela) usa-se como diluente a lactose, dado que apresenta
propriedades redutoras.
Vil
Salicilato de bismuto..................................
.. . . Salol ............................................................ ãa 10 g
Faça um papel n.° 40
Este pó constitui um medicamento usado como desinfectante intestinal. Como se trata de um pó
muito movediço, é difícil conseguir a sua divisão em papéis pelo processo habitual. Mais exacto é
pesar cada papel individualmente.
óxido de magnésio; deve associar-se o piramido com metade do seu peso de amido previamente seco
e adicionar, então, 0,3 g do citrato de cafeína e o fenobarbital; completar a fórmula e misturar
levemente, sem exercer demasiada pressão.
xra
Ácido tartário .................................................... 45,0 g
Bicarbonato de sódio........................................ 52,5 »
Tartarato de potássio e sódio.......................... 2,5 » '•
642
As susbstâncias devem ser secas, separadamente, a temperatura que não exceda 50°C, e
misturadas por trituração. É aconselhável que o grau de divisão dos pós não ultrapasse o de pó
grosso (diminuição da superfície relativa).
XIV
Bicarbonato de sódio........................................ 20 »
Divida em 10 papéis azuis
XV
Tal como o anterior, o presente medicamento constitui uma fórmula de pós efervescentes,
devendo ingerir-se a solução aquosa resultante da dissolução do conteúdo de um papel azul e o de
um papel branco. O tartarato presente, que não reage com o ácido tartárico, é empregado como
laxativo.
A F. P. designa esfa fórmula por Pós efervescentes de Seidlitz, indicando, em subtítulo, os nomes
de Pós gasogéneos de Seidlitz e de Pós de soda de Seidlitz. Este tipo de pó foi introduzido na
Terapêutica por T. SAVORY, em 1815, pretendendo-se, com o seu emprego, substituir as famosas
águas laxativas de Seidlitz, cuja nascente se situa no nordeste da Checoslováquia.
643
Mentol................................................................ l g
Talco .................................................................. 99 »
Este pó, que foi proposto para o F. G. com o nome de Pó de talco mentolado, prepara-se do
seguinte modo: reduz-se o mentol a pó fino e adiciona-se o talco, a pouco e pouco (diluição
geométrica), triturando até obter uma mistura homogénea. Deve passar-se por um tamis de 0,128
mm de abertura de malha. É um pó refrescante e isolante da epiderme.
n
Mentol.............................................................. l g
Cânfora ............................................................ 2 »
Óxido de zinco .............................................. 15 »
Amido .............................................................. 41 »
Talco .................................................. q. b. p. 100 »
Proposto para o F. G., é designado por Pó de mentol composto e apresenta propriedades
sicativas, adstringentes e refrescantes.
Todos os seus constituintes devem ser reduzidos a pó fino, sendo imprescindível que o amido e o
óxido de zinco sejam passados por um tamis de cerca de 2500 malhas
644
por cm2. Mistura-se, em almofariz, a cânfora com o mentol e adicionam-se, então, a pouco e pouco,
os restantes componentes. Passa-se por um tamis de 0,180 mm de abertura de malha.
m'
Carbonato de magnésio.................................... 100 g
Quina.................................................................. 100 »
Benjoim.............................................................. 100 »
Essência de eucalipto ...................................... 10 »
Uma vez que não há indicação especial, usar-se-á o pó fino de quina amarela titulando 5% de
alcalóides totais, dos quais 2% são de quinina. Mistura-se o pó de quina com o benjoim reduzido a
pó fino e, a pouco e pouco, adiciona-se a magnésia alva, na qual se incorporou, previamente, a
essência.
O pó é usado como anti-séptico cutâneo.>
IV
VI
Clorato de potássio .......................................... 5g
Acido tânico ....................................................... 3 »
Sacarose.............................................................. 7 »
Faça papéis n.° 5
Esta mistura de pós é destinada a gargarejes, para o que se dissolverá em água o conteúdo de
cada papel. Os constituintes do pó devem pulverizar-se, separadamente, e a sua mistura far-se-á com
cuidado, por agitação numa folha de papel (mistura explosiva).
i •• vn -,v ,f:»j t.. • i. ' .
Ácido cítrico......................................................
Sulfato de zinco................................................ ;"' ' ' '-"'
Alúmen .............................................................. ' ''
Sulfato de magnésio ........................................ ãa 10 g
Lactose .............................................................. 20 »
Para irrigação vaginal
Na preparação deste pó, cuja solução aquosa se emprega para irrigação vaginal, importa secar,
previamente, o ácido cítrico, o sulfato de magnésio e o alúmen.
O sulfato de alumínio e potássio e o sulfato de zinco são usados como adstringentes; o ácido
cítrico destina-se a provocar acidez, pois as irrigações vaginais devem ser feitas com líquido cujo pH
varie entre 3,5 e 5.
. , VIU . .-:!,
...
Sulfanilamida .................................................... 5 g
Amido absorvente ....................................q.b.p. 100 »
: Pó estéril para aplicação cutânea . ..
A presente fórmula destina-se a ser aplicada sobre uma superfície cutânea lesada e sujeita, por
isso, a contrair infecções. O pó poderá esterilizar-se, em tubo aberto,
646
numa autoclave, a 120°C, durante trinta minutos, devendo proceder-se, depois, à sua secagem. A
manipulação deve decorrer em ambiente asséptico e o seu acondicionamento será feito em caixa de
tampa perfurada, com possibilidade de se fechar hermeticamente mediante uma sobretampa. A
caixa também deve ser esterilizada.
. . ' -; . ,,-, : • fí
IX .. ...,..;., •'..
Carbonato de cálcio.......................................... 90 g
Perborato de sódio............................................ 10 g
Sacarinato de sódio .......................................... 0,3 » ia:.
Essência de anis .............................................. 0,2 » • .'•'•'• ;ui.
Este pó dentífrico actua pela acção abrasiva do carbonato de cálcio precipitado e pelo
poder branqueador do perborato. Deve procurar-se um carbonato de cálcio com elevada
percentagem de calcite (forma ortorrômbica, cujas arestas são arredondadas, o que não
acontece com a aragonite — romboédrica hexagonal).
Pulveriza-se o edulcorante (sacarinato de sódio) e adiciona-se-lhe, a pouco e pouco, o
carbonato de cálcio, onde já foi absorvida a essência. Por fim ajunta-se o perborato, que
convém não contactar directamente com a sacarina solúvel (mistura oxidante).
647 BIBLIOGRAFIA
(') Os sacaretos podem, tecnicamente, ser considerados como xaropes evaporados à secura, apre-
sentando-se sob a forma de pós (sacaretos em pó) ou sob a forma de pequenos grãos de aspecto irre-
gular mas bastante homogéneo (sacarelos granulados).
649
álcool, a água, o éter ou soluções aglutinantes, como xaropes ou mucilagens, e obriga--se a massa
assim preparada a passar através de um crivo de larga abertura de malha. Os grãos formados são
secos e, posteriormente, calibrados por intermédio de um tamis de malha mais larga do que o
primeiro.
Os granulados apresentam certas vantagens sobre os pós:
— mais estéticos do que aqueles, não libertam pó aquando da sua armazenagem e administração;
— os grãos constituintes não aderem entre si, ao contrário dó que sucede com muitos pós, que se
aglomeram em presença da humidade;
— são mais agradáveis de ingerir do que os pós e a posologia é facilmente mantida, uma vez que
a sua quantidade se pode medir por meio de colheres;
— quando se preparam sob a forma efervescente, são susceptíveis de melhor conservação do que
os pós correspondentes, pois, tendo menor superfície, são menos afectados pela humidade;
ainda pela mesma razão, quando deitados em água efervescem mais lentamente do que os pós;
— ao contrário dos pós, podem ser revestidos com envolvimentos protectores, como, por
exemplo, o granulado de ácido p-amino-salicílico, que é susceptível de se revestir com ácido
esteárico.
húmido. Com esta finalidade podem usar-se a água, as misturas hidroalcoólicas ou de água-álcool-éter,
o álcool e o éter.
A água e o álcool diluído empregam-se para compostos hidrossolúveis; o álcool concentrado usa-se
para extractos e resinas, podendo empregar-se para substâncias lipófilas, bem como o éter e outros
dissolventes orgânicos facilmente removíveis.
Algumas vezes é prático utilizar o éter como líquido que promova a humidificação dos pós a que se
adicionam água ou soluções aglutinantes. De facto, o éter, pela sua pressão de vapor, obriga a água
ou as soluções aglutinantes a penetrarem nos mais finos poros dos pós, conseguindo-se, assim, uma
melhor humidificacão. Na prática, adicionam-se alguns mililitros de éter à massa humedecida,
misturando-se, cuidadosamente, o conjunto. Posteriormente, deixa-se evaporar o éter.
Como soluções aglutinantes empregam-se, de preferência, os xaropes comum e de glucose, podendo,
também, usar-se as mucilagens de goma arábica ou de goma adra-ganta e as soluções de gelatina, de
carboximetilcelulose, de metilcelulose, de pectina, de alginatos, etc.
A quantidade do líquido ou da solução aglutinante a juntar é função do seu poder dissolvente e
adesivo. Na prática devem realizar-se ensaios de orientação de cada vez que se prepara uma nova
fórmula para a qual não esteja estipulada a quantidade do líquido de humedecimento, pois interessa
que a massa obtida fique suficientemente adesiva mas não excessivamente húmida, o que ocasionaria
dificuldades aquando da sua passagem pelo crivo de granulação. Quando se trabalha com pequenas
quantidades é costume humedecer cerca de 80 a 90% da mistura das substâncias sólidas com o
líquido e ver se a massa origina, por moldagem manual, uma bola e se passa facilmente através do
crivo escolhido. O pó deixado de parte (20 a 10% do total) pode servir, caso seja necessário, para
corrigir qualquer excessivo humedecimento da mistura. Se não for empregado, é fácil proceder, depois, ao
seu humedecimento com uma quantidade de líquido igual a 1/5 ou a 1/10 da empregada anteriormente.
A quantidade do líquido de granulação depende também da abertura da malha do crivo utilizado,
sendo tanto maior quanto mais larga é aquela.
Para tamises de 25 malhas por cm2 são precisos cerca de 100 ml de álcool de 60° ou 150 g de
xarope comum por cada quilo de granulado.
b) Granulação da massa — A massa obtida é granulada por um crivo de abertura de malha
adequada. Na F. P. IV indica-se que o crivo deve ter 25 malhas por cm2, mas nem todos os granulados
satisfazem a esta exigência, sendo vulgares os crivos com abertura de malha de 1,2, de 1,7 e de 2,5 mm.
A granulação pode efectuar-se por meio de tamises (aço inoxidável, nylon, ferro estanhado) ou de
discos perfurados.
Quancio se trabalha em pequena escala, faz-se uma espécie de bola com a massa e, manualmente,
obriga-se aquela a passar através da rede do tamis com uma pressão firme. Compreende-se que os
grãos obtidos poderão ser mais ou menos compridos consoante a força empregada e a sua progressiva
aplicação. Temos tido bons resultados
651
utilizando para o efeito esmagadores de uso doméstico, como o vulgar «passe-vite». A massa é
obrigada a passar através de um disco perfurado sendo impelida com uma força constante que é
conseguida à custa de uma peça móvel que gira em volta de um eixo que assenta sobre o centro do
disco.
Em escala industrial recorre-se a granuladores de variados modelos, cuja descrição será feita a
propósito do artigo Comprimidos. Um granulador industrial pode dar rendimentos horários de 35 a
125 kg.
d) Calihração do granulado — Uma vez seco, o granulado é obrigado a passar por um crivo de malhas
mais largas do que o que serviu para a granulação. Esta operação, que tem por fim fragmentar alguns
grãos que se tenham aglomerado, deve ser executada livremente, por simples agitação do crivo e, em
nenhum caso, obrigando o granulado a passar, por compressão, pelas malhas do crivo.
Separam-se, posteriormente, os grãos de tamanho muito menor do que a média, usando para isso um
tamis com cerca de 0,7 mm de abertura de malha. A porção de granulado que atravessou esse tamis é
aproveitada, granulando-se novamente ao tamanho do grão desejado.
Além do citado processo de granulação a húmido, que é actualmente o mais corrente, pode granular-
se por outros métodos. Assim, o processo inicial de PLANES consistia em preparar um xarope
medicamentoso que se concentrava pelo calor e ao qual se juntava açúcar em quantidade tal que
originasse uma pasta que, depois de bem amassada, se passava por um crivo.
Os métodos que descrevemos originam granulados cujos grãos têm forma vermi-cular ou de
trocisco, como muitas vezes se diz. Um outro processo, proposto por MANSIER, PANNETIER e GAY, produz
grãos de forma sensivelmente esférica. Consiste em utilizar cristais de açúcar de 0,75 a 1,5 mm de
diâmetro, como núcleos sobre os quais se depositam os fármacos dissolvidos, emulsionados ou
suspensos em xarope comum (a 10% em relação ao produto final a obter) ou num líquido alcoólico (a
5% do total). Os cristais de açúcar são colocados numa bacia de drageifïcação, como as que des-
creveremos a propósito da obtenção de drageias, e, quando esta está em movimento, vai-se-lhes
ajuntando o fármaco disperso ou dissolvido. Durante a adição deve aquecer--se a bacia de
drageifïcação pela sua parte inferior ou, preferentemente, insuflar-se-lhe ar quente. Logo que a água
ou o álcool da solução, emulsão ou suspensão medicamentosa se evaporou, procede-se a nova
adição, até que todo o fármaco tenha sido fixado sobre os núcleos de açúcar.
É evidente que este método não permite uma disseminação perfeita dos princípios
medicamentosos sobre os núcleos açucarados. Talvez por isso, e também pela dificuldade de
execução, tem caído progressivamente em desuso.
O método pode tornar-se extensível aos eutéticos que apresentem ponto de fusão superior à
temperatura ambiente. É o caso da associação de ácido bórico com hexametilenotetrazoto. Nestas
circunstâncias, é frequentemente possível fazer o aquecimento a temperatura inferior a 90°C.
Há, também, vários tipos de granulados quanto à composição. Assim, se a maioria contém açúcar e,
por isso, esta forma é geralmente designada por sacaretos granulados, pode haver interesse em substituir
parte do açúcar de um sacareto granulado (cerca de 10%) por cacau, obtendo-se assim granulados com
chocolate.
Outra variedade de granulados é constituída pêlos granulados efervescentes. Na sua preparação
interessa evitar a reacção do ácido com o carbonato ou bicarbonato presentes, o que provocaria uma
libertação prematura de COr Nestas circunstâncias, a manipulação deve ser efectuada em meio anidro,
usando-se os pós secos e empregando--se o álcool de graduação elevada como líquido de granulação.
Geralmente, utiliza-se o bicarbonato de sódio como sal alcalino, e usam-se os ácidos cítrico e/ou
tartárico.
654
A técnica da fusão a que anteriormente nos referimos pode dar bons resultados. O processo
proposto por LUNAN nem sempre dá granulados com bom aspecto: misturar o bicarbonato com o açúcar e
a substância medicamentosa a incorporar; passar por tamis de 6 a 9 malhas porucentímetro; proceder
de igual modo com o ácido a empregar, misturar os dois pós e aquecê-los a 75-85 C; triturar, então, em
almofariz até consistência conveniente e obrigar a massa a passar por fricção através de um crivo de
abertura de malha adequada. Secar a cerca de 40°C.
encontra a fragmentar-se. A dureza não pode, porém, ser excessiva, o que alteraria as boas
características do granulado e lhe aumentaria o seu período de desagregação.
MÜNZEL descreve um ensaio muito simples, mas que dá bons resultados quando devidamente
padronizado: encher 8 frascos de 60 ml com 30 ml do granulado em estudo; submetê-los a uma
agitação com frequência e amplitude de movimentos padronizados; de dois em dois minutos esvaziar
o conteúdo de um frasco e tamisar o granulado para retirar o pó que se liberta; pesar o granulado
remanescente.
De uma maneira geral, os granulados obtidos com soluções aglutinantes são mais resistentes do
que os preparados por simples adição dos dissolventes, como a água ou o álcool.
c) Humidade — Trata-se de uma determinação que se deve executar, sistematicamente, em todos
os granulados produzidos em larga escala, já que a humidade excessiva pode ser altamente
prejudicial à estabilidade dos fármacos presentes. São diversos os métodos utilizados, podendo servir
os que descrevemos a propósito do ensaio dos Pós.
d) Porosidade — A determinação da porosidade não constitui um ensaio de rotina, pois que o seu
interesse é muito relativo quando o granulado se destina a ser administrado directamente.
Entretanto, pode ser útil conhecer a porosidade de um granulado que se destine à preparação de
comprimidos. Sob a rubrica Comprimidos voltaremos a considerar este assunto.
e) Tamanho dos grãos constituintes — Os granulados que constituem a forma farmacêutica
definitiva devem ser isentos de pó. O tamanho dos respectivos grãos pode avaliar-se por tamisação.
O Dosagem dos princípios activos — A preparação industrial de granulados obriga à
identificação e dosagem sistemática dos seus constituintes farmacologicamente activos. Os métodos
empregados para cada caso são os adequados aos princípios medicamentosos em questão e o seu
estudo está fora do âmbito deste livro. Interessa, porém, assentar nos limites de tolerância habitual,
que estão compreendidos entre 88 e 110% da quantidade anunciada.
Em geral, os granulados conservam-se bem, desde que sejam acondicionados em frascos de vidro
ou em embalagem de material plástico hermeticamente fechados.
Tem-se proposto, para evitar a oxidação de alguns dos constituintes dos granulados, envolver os
respectivos grãos com bálsamo de Tolú. Alguns autores aconselham mesmo a ulterior junção de pó
de alcaçuz, que impediria a aderência dos grãos entre si.
656
7.2.1.1.6. Formulário
Esta forma farmacêutica, que já teve o seu período áureo de utilização, é hoje relativamente
pouco empregada como medicamento definitivo, servindo actualmente sobretudo como forma
intermediária na preparação de comprimidos.
Na presente rubrica citaremos algumas fórmulas de granulados que julgamos não só mais
usuais, como mais representativas do método de preparação.
Extracto de cola.................................................. 50 g
Sacarose .............................................................. 950 »
A preparação deste granulado pode ser realizada por vários processos. A F. P. IV manda
dissolver o extracto em cerca de 100 ml de álcool de 60" (trata-se do dissolvente que serviu para
obter o extracto de cola) e ajuntar, então, o açúcar em pó fino, misturando até consistência
apropriada.
A Farmacopeia Belga utiliza como veículo a água, com que dispersa o extracto, incorporando,
posteriormente, o açúcar finamente pulverizado.
O Codex manda dissolver o extracto em álcool de 60°, adicionar xarope comum, misturar e
ajuntar, depois, o açúcar.
Quanto a nós, parece-nos preferível e mais simples o processo da F. P. IV. Em qualquer dos
casos a massa obtida é granulada (peneira de arame de ferro estanhado de 25 malhas/cm2, segundo
a F. P. IV) e seca a 30-40°C.
Separa-se depois o pó libertado. • >
n
Glicerofosfato de cálcio .................................. 50 g
Açúcar em pó fino .......................................... 950 »
Álcool de 60° .................................................. q.b. »
Segundo a F, P. IV, deve misturar-se o glicerosfosfato com o açúcar e humedecer o conjunto com
o álcool, até consistência adequada. Granula-se, em seguida, como indicámos na fórmula anterior.
O sacareto de glicerofosfato de cálcio granulado é preparado, algumas vezes, contendo 10% do
princípio activo. Para isso misturam-se 100 g de glicerofosfato com 750 g de açúcar e ajunta-se, a
pouco a pouco, xarope comum (cerca de 150 g) até se obter uma pasta firme e homogénea que se
granula do modo habitual.
657
657
Se se pretende aromatizar esta fórmula, pode utilizar-se 0,1% de vanilina, que se dissolve em 10 g de
álcool de 60°. Com esta solução humedece-se o granulado seco e evapora-se o álcool a 40°C.
III
BIBLIOGRAFIA
•-. .--;.;' i . - '•':•
~*)'H- ;^
DENOËL, A. e JAMINET, F. — Pharmacie Galénique, Lês Presses Universitaires, Liège, 1968.
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GÉRARD, E. — Précis de Pharmacie Galénique, Maloine, Paris, 1922.
MÜNZEL, K. — Journées Pharmaceutiques Françaises — Conférences de Ia Soe. Techn. Pharm., pág.
43,
1952.
MÜNZEL, K. e AKAY, K. — Pharm. Acta Helv., 26, 17, 221, 271 e 277, 1951.
PATEI, B. N., JENKINS, G. e DEKAV, H. — J. Am. Phann. Assoe., 38, 247, 1949.
SELLÉS MARTI, E. — Farmácia Galénica General, Madrid, 1963. -;
659
(') O termo tablet foi provavelmente usado a partir de 1608 e designava, originalmente, um tipo
especial de pastilhas contendo açúcar. .....
660
Neste último país os comprimidos começaram a ser industrializados depois de 1894, precisamente 19
anos após ter sido inventada uma máquina manual de compressão, por J. REMINGTON. É, contudo, de
salientar que a primeira monografia oficial sobre comprimidos data de 1865 (comprimidos de
trinitrina) e vem inscrita na Farmacopeia Britânica.
Em França, apesar dos esforços de FÉDIT, a nova espécie de medicamento não ganhou aceitação.
Só em 1906 foi mencionada no formulário dos Hospitais Militares de Paris, mas ainda não aparecia
na Farmacopeia de 1908.
Foi, porém, a partir da primeira grande guerra (1914-1918) que o uso dos comprimidos mais se
divulgou, tendo substituído, em grande parte, as pílulas e as pastilhas medicamentosas. Entre nós são
oficializados em 1936, inscrevendo a Farmacopeia dessa época 3 monografias sobre comprimidos
medicamentosos.
Actualmente a forma farmacêutica comprimido ganhou especial relevo, dadas as vantagens que
apresenta e que poderemos sintetizar do seguinte modo: precisão na dosagem; conservação
geralmente ilimitada ou pelo menos muito melhor do que a apresentada pelas soluções; rapidez na
preparação; economia, atendendo à facilidade de produção e rendimento; boa apresentação; fácil
deglutição; reduzido volume.
As mencionadas propriedades levaram a que as farmacopeias inscrevessem, nas suas
monografias, numerosos tipos de comprimidos que vêm progressivamente substituindo outras formas
farmacêuticas. Nos códigos dinamarquês, sueco, britânico e norte--americano a quase totalidade dos
preparados galénicos é constituída por comprimidos e injectáveis. Este modo de ver não é adoptado
nos países latinos cujas farmacopeias, mais conservadoras, mantêm ainda grande número de
tinturas, extractos, xaropes e pílulas. Neste particular, é curioso observar a evolução da
Farmacopeia Norte-Ameri-cana que, em 1916, inscrevia apenas uma monografia de comprimidos, 3
em 1936, 51 em 1942, 91 em 1950, 113 em 1955, 116 em 1965, 171 em 1970 e 424 em 1985. A
Farmacopeia Russa mencionava 76 monografias sobre comprimidos e a Britânica de 1973, 204.
Muito longe estamos ainda das cifras anunciadas, mas, mesmo assim, na Farmacopeia
Portuguesa V já se incluem 32 monografias de comprimidos até 1989.
O interesse ganho pêlos comprimidos provém das vantagens a que atrás aludimos' e também das
múltiplas aplicações que esta forma farmacêutica tem tido. É bem conhecida a utilização dos
comprimidos não só com finalidade terapêutica, mas ainda analítica ou até depuradora de águas. Do
ponto de vista terapêutico, os comprimidos podem destinar-se a serem administrados per os, por via
hipodérmica (em injectável ou em implantação) ou podem servir para desempenhar, apenas, uma
acção externa local, na pele ou nas mucosas. Quando se destinam à administração oral são
susceptíveis de diferentes finalidades (dissolução na boca, administração sublingual, ingestão e
desagregação no estômago ou no intestino, etc.).
661
:
" ' Fig. 244. Tipos de comprimidos
Do ponto de vista analítico é bem conhecido o emprego de tampões de pH, bem assim como
outros reagentes que se encontram comercializados sob a forma de comprimidos. A excelente
dosagem e a quase perfeita estabilidade desta forma permitem a sua utilização na preparação de
diversas soluções de análise. De resto, este uso é bastante antigo, dado que já em 1908 BRUÈRE
preconizava o emprego de comprimidos como reagentes analíticos.
Finalmente, no que diz respeito ao uso dos comprimidos como depuradores de águas, queremos
apenas lembrar que têm sido muito empregados, especialmente em campanha, os comprimidos de
cloraminas, de iodetos com iodatos, etc.
compressão e a aglutinação dependerá, entre outros factores, da pressão sobre ele exercida pelo
punção superior ou pêlos dois punções,
À primeira vista pareceria suficiente dispor de um produto e de uma máquina de compressão
para se obterem comprimidos. Isto, porém, só sucede num número muito restrito de casos, pois são
raros os pós que possuem a densidade suficiente para escoar livremente do distribuidor da máquina e
encher regularmente a matriz, que não provocam atritos na compressora e que se apresentam num
estado cristalino tal que permita a fácil coesão dos cristais entre si. Às substâncias que gozam destas
propriedades chamaremos directamente compressíveis e, em geral, para que originem comprimidos
regulares apenas é necessário padronizar o tamanho dos cristais e submetê-los a uma ligeira
secagem. Habitualmente, só as substâncias pertencentes ao sistema cúbico dão boa compressão
directa; a água de cristalização actua como agente de ligação, não se devendo por isso exagerar a
secagem; os sulfates não são, em geral, directamente compressíveis e os carbonatos só raras vezes
apresentam essa propriedade.
Entre as substâncias directamente compressíveis citamos o ácido bórico, o alúmen, o borato de
sódio, a urotropina, o bicarbonato de sódio, o brometo de amónio, o brometo de potássio, os cloretos
de sódio, amónio e potássio, o hidrato de cloral, o citrato de cafeína, alguns extractos, o iodeto de
potássio, o nitrato de potássio, a pancreatina, a pepsina, o permanganato de potássio, o sulfato de
zinco e a tiroidina.
Para que se consiga fazer a compressão da maioria das substâncias é necessária a presença de
adjuvantes, que têm por fim diluir o produto, aglutinar as suas partículas, facilitar a desagregação
do comprimido, evitar as aderências do pó aos punções e à matriz, facilitar o escoamento do
distribuidor, etc.
Os adjuvantes utilizados na preparação de comprimidos podem dividir-se em: diluentes,
absorventes, aglutinantes, desagregantes, lubrificantes, molhantes, corantes, tampões, aromatizantes,
edulcorantes, etc.
Estudaremos, seguidamente, os principais adjuvantes utilizados na preparação dos comprimidos.
7.2.1.2.2.1. Adjuvantes
a) DILUENTES — São produtos ordinariamente inertes, que se adicionam aos pós a comprimir
com a finalidade de originarem comprimidos de peso conveniente, quando os princípios activos são
empregados em muito pequenas quantidades. Podem ser solúveis, insolúveis e mistos.
Diluentes solúveis — Entre eles citaremos a lactose, a sacarose, o cloreto de sódio, a nianita. etc.
A lactose é um excelente diluente que, além de ligeiras propriedades redutoras, muito
recomendáveis na maioria dos casos, tem poder aglutinante, originando comprimidos com bom
aspecto, mas por vezes difíceis de desagregar. Entre os seus inconve-
663
nientes citam-se os que advêm do seu poder redutor e da sua facilidade de amareleci-mento (ver
Alterações dos comprimidos). É empregada em comprimidos destinados ao uso hipodérmico. A lactose
atomizada («spray-dried»), constituída por aglomerados esféricos de partículas, apresenta boas
características de escoamento e de aglutinação. Por este motivo, é utilizada como excipiente para
compressão directa, associada habitualmente à celulose microcristalina em concentrações nunca
inferiores a 40 ou 50%. A «Fast Fio» lactose é, ainda, outro tipo de lactose também usada para
compressão directa.
A sacarose deve ser empregada em pequena quantidade, visto que é altamente aglutinante e ataca
os punções. É particularmente recomendada para comprimidos que se destinam a dissolver-se lentamente
na boca. As associações de sacarose com outros compostos são também utilizadas na peparação de
comprimidos por compressão directa. Como exemplos deste tipo de excipientes, citamos o Sugartab,
constituído por 90 a 93% de sacarose e 7 a 10% de açúcar invertido, o Dilac, que contém 3% de
dextrinas, e o Nutab, que é também maioritariamente constituído por sacarose e à qual se associam o
açúcar invertido (4%), o amido de milho e o estearato de magnésio (cerca de 0,1 a 0,2% de cada).
O cloreto de sódio é um bom diluente, mas ataca os punções, sendo por isso pouco usado. Mesmo
assim, recomenda-se em comprimidos, como os de hipocloritos, em que auxilia a dissolução do princípio
activo. Emprega-se em comprimidos destinados a hipodermia.
A manha ou manitol é um outro excipiente que muito se usa, especialmente para. comprimidos que se
destinam a dissolverem-se na boca, pois dá uma agradável sensação de doçura e de frescor. Como não é
higroscópica, é aconselhável em comprimidos contendo compostos sensíveis à humidade, como a
vitamina C ou o ácido acetilsa-licílico. É muito usada em misturas com a vitamina B12. Como refere
KANIO, as misturas de manita com outros açúcares podem empregar-se, com êxito, para compressão
directa (produção de eutéticos adequados).
A glucose, o pó de alcaçuz e o sorbitol têm sido igualmente empregados. Recentemente, NASIR e
WILKEM propuseram o emprego do inositol como excipiente de comprimidos mastigáveis.
Diluentes insolúveis — Neste grupo são normalmente os amidos os mais utilizados. Empregam-se os
amidos de batata, de araruta, de mandioca, de trigo, de milho, de arroz, até de banana. Normalmente,
estes amidos têm à volta de 8-15% de água, que convirá eliminar em parte, diminuindo-a por secagem até
cerca de 3%. A secagem deve ser feita a temperatura inferior a 50"C, pois se aquecermos o amido a
100°C desidrata--se de modo irreversível, e ao fim de alguns meses os comprimidos terão grande difi-
culdade em desagregar. O Sta-RX 1500 é um amido de milho parcialmente hidrolisado e que é utilizado,
associado à celulose microcristalina, na compressão directa de fármacos. Apresenta excelentes
características de escoamento, mas perde-as quando é
664
adicionado a substâncias activas dotadas de más propriedades de fluxo. Este fenómeno é notório a
partir de concentrações de fármaco relativamente baixas (5 a 10%) e obriga à adição de um
lubrificante.
Além dos amidos, também a celulose microcristalina (Avicel) é utilizada na formulação de
excipientes para compressão directa, quer na forma de pó (Avicel PH 101), quer de granulado
(Avicel PH 102), e associada a diferentes tipos de lactose, amido ou fosfato dicálcico. Apresenta
também acção aglutinante e desagregante, o que a torna particularmente aconselhada para conferir
um adequado grau de aglutinação ao produto a comprimir sem afectar as respectivas características
de desagregação. Encontram-se ainda comercializados outros tipos de celulose, disponíveis em
diferentes variedades consoante o diâmetro das partículas, como o Medicel, o Eurcocel, o Eleema e o
Solka--Floc.
O pó de cacau tem sido, igualmente, utilizado como diluente, sobretudo em comprimidos para uso
pediátrico.
O caulino tem sido preconizado na preparação de comprimidos contendo compostos oxidantes
que reajam facilmente com a matéria orgânica.
O leite em pó é utilizado algumas vezes, especialmente quando se pretende conferir agradável
paladar à fórmula. Tem-se usado na preparação de comprimidos pediátricos de complexo B.
Além destes diluentes insolúveis podem usar-se numerosos compostos minerais de cálcio
(carbonato, sulfato, fosfato, citrato), de magnésio (carbonato, óxido), etc. Dos vários compostos de
cálcio citados, salientamos o fosfato dibásico, que é comercializado como excipiente para compressão
directa com a designação de Emcompress ('). É frequentemente utilizado em associação com a
celulose microcristalina, em partes iguais. Todavia, a percentagem de 60% não deve ser ultrapassada
quando veicula fármacos pouco solúveis em água, pois diminui acentuadamente a velocidade de
dissolução da substância activa. O sulfato de cálcio encontra-se comercializado como Compactrol (')
e é, também, um bom excipiente para compressão directa.
Diluentes mistos — São obtidos por mistura de diluentes solúveis com insolúveis. Entre essas
misturas cita-se o emprego do granulado simples da Farmacopeia Dinamarquesa, constituído por:
Amido de batata ......................................
700 partes
•í
f Glicerol ......................................................
2 »
l Solução de gelatina a 4% ......................
98 »
(misturar os componentes de I; humedecer
com q.b. de II)
Os derivados da celulose são igualmente utilizados, mencionando-se, entre eles: a meticelulose 400 a
2-5%; a etilcelulose, que se utiliza em solução etanólica ou pro-panójica a 2-4%; a
carboximetilcelulose sódica (celulose glicolato de sódio), que é usada em dispersões aquosas a 1%.
Finalmente, queremos fazer referência à parafina, ácido esteárico, manteiga de cacau e carbowaxes
(polietilenoglicóis). Os primeiros podem utilizar-se a 1-2%, misturados ou dissolvidos. Os carbowaxes
mais empregados são o 4000 e o 6000, que se usam a 20% em relação ao peso do comprimido.
d) DESAGREGANTES — Para acelerar a dissolução ou a desagregação dos comprimidos na água
ou nos líquidos do organismo é muitas vezes necessário introduzir, na massa do comprimido, uma ou
mais substâncias, designadas por desagregantes ou desintegrantes. Com efeito, para que se verifique
perfeita actividade terapêutica é necessário que os comprimidos se desagreguem mais ou menos
rapidamente, consoante a acção desejada. Assim, os comprimidos devem apresentar um tempo limite para
que se realize a sua total desagregação (tempo de desagregação), tempo esse que pode variar em função
dos princípios activos (os comprimidos analgésicos devem desagregar-se mais rapidamente do que os
comprimidos de vitaminas, etc.) ou com a velocidade de absorção que se pretende.
A velocidade de desagregação é condicionada por diversos factores, entre os quais a compressão a
que o pó é submetido e a quantidade e concentração do desagregante empregado. Deste modo, verifica-
se, por exemplo, mesmo para pós muito solúveis que poderá haver dificuldades na desagregação dos
comprimidos se a compressão exercida for demasiada.
Depois dos trabalhos de BEERINOER está de certo modo provado que a rapidez de desagregação varia
directamente com a diferença de solubilidade dos componentes do comprimido. Esta lei está, porém,
sujeita a diversas limitações e não é verdadeira para muitos compostos, como o ácido acetilsalicílico em
presença de lactose. O mesmo se diz em relação ao p-aminossalicilato de sódio e ao salicilato de sódio,
cujos comprimidos se desintegram mais lentamente se contiverem amido. Nestes casos, parece haver uma
transformação do amido que gelifica por acção dos salicilatos.
A velocidade de desagregação é mínima para uma dada compressão, aumentando muito quando se
ultrapassa esse valor e acusando igualmente pequeno acréscimo se aquela diminui. O modo como é
executada a granulação também influi, podendo estabelecer-se que os comprimidos granulados a húmido
levam mais tempo a desagregar, mas são mais resistentes, isto é, menos friáveis, do que os granulados
a seco.
Qualquer que seja o tipo de desagregante, é mais eficaz juntar o desagregante sobre o granulado,
numa concentração de 2 a 15%, do que efectuar a granulação, estando já incluído o desagregante na
mistura. Há excepções a esta regra, como o caso do sulfatiazol associado ao amido, como desagregante.
Por último, observemos que a natureza da substância medicamentosa actua independentemente da
compressão e do desagregante escolhido, existindo compostos que
668
favorecem a desagregação, ao contrário de outros que a dificultam. Assim, verifica-se, por exemplo, que,
para o mesmo desagregante e idêntica força de compressão, o luminal é muito mais difícil de
desintegrar do que a aspirina ou o sulfatiazol. Na Tabela LXVIII transcrevemos os resultados de
experiências conduzidas nesse sentido por BURLINSON e PICKERING. Aí se inscrevem os tempos de desagregação
de comprimidos de luminal, sulfatiazol e aspirina, preparados com quantidades sucessivamente
crescentes de amido de milho.
partido da sua aplicação se se incluir uma parte no granulado e se misturar a restante com o
lubrificante que se polvilha sobre o granulado pronto a comprimir.
Tem-se discutido a natureza do grão de amido consoante a sua proveniência botânica e a
importância de tal facto na velocidade de desagregação. Os estudos são um pouco contraditórios,
havendo quem considere o amido de milho como o mais eficaz, por apresentar um teor de cerca de 8%
de água, em relação a 12 e mesmo 15% que se chega a encontrar em outros amidos.
Nem sempre é recomendável empregar o amido como desagregante em comprimidos de substâncias
solúveis, pois muitas vezes (caso do PÁS) o tempo de desagregação aumenta em proporção com a
quantidade de amido adicionada. Ultimamente tem-se descrito o uso de derivados do amido como
desagregantes em comprimidos. HECHT e HUYCK citam o emprego do Dry-Flo (éster do amido de trigo,
contendo um radical hidrófobo) que é fornecido pela firma National Slarch Products, de Nova Iorque.
Introduzido pela firma Mendell (USA), usa-se actualmente um amido de rápida desagregação,
conhecido pelo nome de Explotab, e que é um carboximetilamido sódico, também designado por amido
glicolato de sódio.
Os derivados da celulose, como a carboximetilcelulose sódica, empregam-se em concentrações de
2%. Não se deve esquecer, porém, que esta substância pode criar incompatibilidades com muitos
compostos, pela sua acção aniónica e reacção alcalina, que é suficiente para acelerar a hidrólise da
aspirina, etc. Hoje está a usar-se também a carboximetilcelulose sódica reticulada (AC-DI-SOL da
firma americana F.M.C. Corp.) que sendo insolúvel em água absorve-a em elevada taxa. A metilcelulose
tem sido utilizada em comprimidos de hidróxido de alumínio.
Uma das celuloses purificadas, obtidas a partir da madeira, a que fizemos já referência, o Solka
Floc, tem sido empregada a 1% como desagregante. Esta variedade, a BW40, apresenta ainda a
vantagem de evitar o descabeçamento dos comprimidos, em razão da sua natureza fibrosa. Também a já
anteriormente citada celulose microcrista-lina, ou Avicel, apresenta boas características de
desagregação quando utilizada em percentagens próximas de 10%.
Os alginatos, a 2-10%, têm sido empregados, com êxito, especialmente o de cálcio, que é compatível
com a maioria dos compostos.
A bentonite e o Veegum (') preconizam-se, no estado de pó, para comprimidos granulados a seco,
dando a primeira bons resultados em comprimidos de tiroidina.
A gelatina a 4% tem revelado ser um excelente desagregante, muito embora se empregue, algumas
vezes, em concentrações superiores, como 10%.
A polivinilpirrolidona reticulada (Polyplasdone XL, da firma GAF dos EU) é
considerada um excelente desagregante. ,. ,.,,,.„„,.;. „.. , ... ,,-.-,., .,„,]•,,.•
Entre as polpas de frutos secos têm sido usadas a de limão e a de laranja, cujo poder desagregante
se deve à pectina presente; o seu aroma recomenda-as como aroma-tizantes de diversos comprimidos. Na
prática, obtêm-se secando a 40°C a polpa dos frutos citados e pulverizando-a subsequentemente.
A pectina, a 3-5%, tem-se usado também como desagregante, mas os resultados obtidos são
incertos, aconselhando-se, de preferência, a sua associação ao amido.
Ainda como desagregantes tem sido proposta a galalite (formaldeído-caseína), as resinas trocadoras
de iões, catiónicas — Amberlites XE 58 e XE 88 (') e o Zeo Carb 215 —, certos polímeros carboxivinílicos,
como os Carbopol (2) e as misturas efervescentes.
Os desagregantes efervescentes asseguram a desintegração por permitirem libertações gasosas no
interior do próprio comprimido. Para isso, as substâncias devem reagir com água ou com suco gástrico,
ou entre si, em presença de água. No primeiro caso, teremos o uso de peróxidos (10-20%, como MgO2),
no segundo, o emprego de carbonatos ou de bicarbonatos, que reagem com o ácido clorídrico do
estômago. Por último, consideraremos as misturas efervescentes constituídas pela associação de um ácido
(cítrico, tartárico, bórico, etc.) com um bicarbonato (de sódio ou de potássio) ou carbonato (de cálcio, de
sódio, de potássio, de magnésio) que, em presença de água, dão origem à libertação de anidrido
carbónico. De uma maneira geral, basta adicionar 10% de uma mistura efervescente a um granulado
para que os comprimidos obtidos se desagreguem muito rapidamente.
Na Tabela LX1X indicam-se as quantidades de bicarbonato ou de carbonato a utilizar, segundo
GORIS e LIOT, para obter uma mistura efervescente, empregando 10 partes de ácido cítrico ou tartárico.
Segundo Goris e Lioe — Pharmacie Galénique, Masson & C.a Paris, 1949, pág. 1796
que a eleição de um desagregante deve ser feita conscientemente, não só tendo em atenção a sua função
mecânica, mas ponderando as eventuais incompatibilidades a que pode dar origem e ainda as variações
que confere à velocidade de desagregação após um período mais ou menos largo de armazenagem dos
comprimidos.
Um dos factos curiosos a assinalar nas fórmulas citadas é que, de um modo geral, a velocidade de
desagregação varia em função do período de armazenagem, nomeadamente ao fim de quatro meses após a
preparação.
e) LUBRIFICANTES — Entende-se por lubrificantes as substâncias capazes de assegurarem um
completo enchimento da matriz e de evitarem a aderência dos pós aos cunhos da máquina, durante a
compressão. Isto quer dizer que um bom lubrificante deve ter uma acção dupla: facilitar o deslizamento
do granulado do distribuidor para a matriz; diminuir a tendência do produto para aderir aos punções e
matriz, e, por conseguinte, promover uma fácil ejecção dos comprimidos.
Os lubrificantes devem, pois, ser deslizantes e anti-aderentes, contribuindo, por um lado, para
melhorar a conservação dos punções e matriz (quando haja misturas abrasivas) e, por outro,
conferindo ao comprimido aspecto mais brilhante e não pulverulento. Finalmente, sem os
lubrificantes o enchimento da matriz seria irregular e, por conseguinte, irregular também o peso dos
comprimidos obtidos. Do ponto de vista prático, os lubrificantes são predominantemente deslizantes
(como o talco e os carbowaxes) ou anti-aderentes (como os estearatos, gorduras várias, parafina,
etc.) (').
O mecanismo da acção lubrificante consiste em introduzir, entre duas superfícies que se
friccionam e onde haverá atrito, uma película que as separe. A diminuição do atrito pode ser
consequência da aderência das porções polares das moléculas do lubrificante, que terão longas
cadeias de átomos de carbono, às superfícies metálicas dos punções ou da matriz. É isto, de resto, o
que sucede quando se lubrifica com estearato de magnésio ou com outro estearato metálico, podendo
acrescentar-se que a eficácia deste tipo de lubrificante depende, em grande parte, do comprimento da
cadeia da molécula bipolar, aumentando com ele (2).
Na prática corrente, empregam-se quase sempre associações de lubrificantes dos dois tipos atrás
mencionados, designadamente a de talco com estearato de magnésio.
Se considerarmos como l o valor teórico para uma perfeita lubrificação, poderemos estabelecer
diversas graduações de lubrificação para um mesmo pó, conforme o lubrificante utilizado.
(') J. MAY considera três espécies de lubrificantes: de acção hidro-mecânica (parafinas, gorduras,
álcoois gordos, etc.); de acção ligante (sabões metálicos); anti-adesivos (talco, silicones). Também
DUVALL e co1. referem, recentemente, a fraca eficácia do talco como deslizante.
(2) G. GOLD e B. PALERMO referem o interesse dos lubrificantes em baixar a carga estática do
material a comprimir. Verificaram que, de uma maneira geral, o estearato de magnésio, o carbowax
4000, o sulfato de laurilo e sódio e o talco a 1% baixam substancialmente a carga eléctrica estática
de vários granulados.
673
Qualquer que seja o tipo de lubrificante observa-se maior eficácia quando se mistura este com o
granulado já seco, e imediatamente antes da compressão, do que quando é incluído na massa a
granular (').
A sua distribuição é executada por dois processos fundamentais que poderemos resumir do seguinte
modo:
1.° — polvilhando-o, manualmente, usando um tamis de seda, sobre o granulado seco, colocado
sobre uma folha de papel vegetal, à qual se imprimem movimentos, de modo a facilitar a
homogeneização;
2." — em máquinas misturadoras que revolvem o granulado com o lubrificante, sem que aquele
fique triturado.
Na sua maioria, os lubrificantes são insolúveis em água e dotados de propriedades hidrófobas,
opondo-se, portanto, de certo modo, à penetração de água no comprimido. Neste grupo de compostos
podemos incluir o talco, os óleos vegetais, a parafina, o ácido esteárico, os estearatos, os oleatos, etc.
No segundo grupo, isto é, como lubrificantes solúveis, poderemos citar os carbowaxes, o benzoato de
sódio só ou em mistura com o acetato de sódio, o monoestearato de polietilenoglicol (Myrj 51 e 53), o
álcool láurico do polioxietilenoglicol (Brij 35), o ácido bórico, etc.
Alguns destes lubrificantes são adicionados a seco, enquanto que outros se incorporam em solução,
num dissolvente orgânico que se evapora facilmente. Os lubrificantes empregados a seco devem ter um
grau de tenuidade suficiente para que permitam
(') Ultimamente citam-se bons resultados empregando suspensões ou emulsões dos lubrificantes,
as quais se adicionam aos agentes aglutinantes, (estearato de magnésio + parafina líquida + talco
sobre o cozimento de amido).
674
um máximo revestimento dos grânulos a comprimir. De todos os citados e, sem dúvida, neste particular, o
estearato de magnésio o que mais vantagens oferece, dado que pode ser preparado, com facilidade, sob a forma
de pó impalpável, de muito baixa densidade (d = 0,25), empregando-se em percentagens de 1-3%. Dá muito
brilho aos comprimidos tendo, porém, o defeito de aumentar os seus tempos de desagregação. A sua alcalini-
dade pode, no entanto, provocar alterações diversas em muitas substâncias, designadamente nos comprimidos
de aspirina. Finalmente, tem o defeito de ser insolúvel, sobrenadando na água quando se desagrega o
comprimido antes da ingestão, o que não é, esteticamente, aconselhável. De um modo geral é menos reactivo
do que os restantes estearatos, como o de sódio ou mesmo o de zinco, que destrói a penicilina. O ácido
esteárico é também utilizado como lubrificante em concentrações compreendidas entre 0,25 e 2%.
O talco é um lubrificante considerado por vários autores como pertencendo ao tipo deslizante, que se
emprega em percentagens de 3-10%. O seu emprego apresenta certo perigo, podendo vir a funcionar como um
corpo estranho em algumas alterações das mucosas, como nos estados ulcerativos ('). Por esse facto tem-se
proposto a sua substituição pelo silicato de alumínio hidratado, que aliás é mais barato em certos países onde
o talco não existe, como na Alemanha Oriental. Para via interna deve usar-se o talco depois de lavado com
ácido clorídrico e água destilada. Uma boa mistura lubrificante é formada pela associação de 9 partes de talco
com l de estearato de magnésio. DEPOORTER propôs 5 misturas lubrificantes, as quais poderiam servir para
quase todos os tipos de comprimidos. Uma das mais usadas é constituída pela associação de manteiga de
cacau, estearina, amido, gelose e talco.
O amido tem sido considerado como um lubrificante do tipo deslizante (1-5%).
A vaselina líquida, a manteiga de cacau, a vaselina e a parafina devem ser utilizadas em
concentrações de 1-2%. Para assegurar uma distribuição homogénea aconselha-se dissolvê-las em 50
partes de éter, pulverizando-se a solução sobre o granulado e deixando, depois, evaporar o éter. Uma
boa mistura lubrificante pode conseguir-se associando os corpos gordurosos citados a 0,5% de talco. A
associação de manteiga de cacau com espermacete constitui a mistura de ALEXANDER.
No comércio aparecem, também, certos óleos vegetais hidrogenados, conhecidos pela designação
comercial de Slerotex. Este produto apresenta-se como um pó muito fino, facilmente dissemináveí no
granulado. Com esta finalidade pode também usar-se a Cutina HR, produto comercializado pela
Henkel e que é obtido a partir do óleo de rícino.
Os silicones podem ser também utilizados como lubrificantes (1-2%), muitas vezes associados ao talco
sob a forma de emulsão. Entre eles foi empregado, por MOHAN, o silicone SF-96 (1000).
gástrica. Nos comprimidos de aspirina, para evitar certas intolerâncias, especialmente a quem abuse
do seu emprego, associa-se, com grande vantagem, o glicinato de alumínio, que impede a hidrólise
do analgésico.
brancos E 170 Carbonato de cálcio Carbonato de Composto obtido por reacção carbonatos dos
í "ií- cálcio preci- alcalinos sobre os de cálcio. sais
pitado
Como já vimos, é geralmente necessário proceder-se à granulação dos constituintes dos comprimidos
para se conseguir obter aquela forma farmacêutica. Em casos bastante raros (substâncias directamente
compressíveis) a operação de granulação é dispensável, tornando-se, mesmo assim, aconselhável
utilizar um pó cristalino com partículas de dimensões padronizadas.
Do que se disse se infere a necessidade de pulverizar, ou, pelo menos, de tamisar todos os
componentes que irão dar origem aos comprimidos. É essa, portanto, a operação imediata à pesagem dos
componentes sólidos. Pulverizados estes, devem ser intimamente misturados, seguindo-se a sua
granulação.
A granulação pode efectuar-se por via seca ou por via húmida. No primeiro caso haverá sucessivas
operações de compressão e fragmentação, enquanto que no segundo se preparará uma massa plástica que
se possa transformar em pequenos grânulos fáceis de comprimir. Qualquer que seja o processo adoptado,
deve usar-se um pó constituído por partículas não muito finas que apresentem dimensões sensivelmente
idênticas.
Como já sabemos do estudo da Técnica Farmacêutica, a aparelhagem usada na pulverização deve ser
escolhida de acordo com a quantidade de pó pretendida. Assim, para pequenas quantidades recorre-se ao
almofariz, tamisando-se, depois, pelo processo vulgar. Para quantitativos mais elevados, como acontece na
indústria farmacêutica, exige--se o emprego de moinhos e a tamisação é feita através de crivos
mecanizados.
A mistura dos pós simples efectua-se em almofariz ou em misturadores, ainda de acordo com a
quantidade a preparar. Em todos os casos é, porém, fundamental que se sigam, a par e passo, as regras
da preparação dos pós compostos. A operação de mistura pode encarar-se, no caso especial dos
comprimidos, considerando sistemas de dois ou mais sólidos (mistura de pós) ou sistemas
sólidos/líquidos (granulações a húmido).
Ocupando-nos do primeiro caso, podemos dizer que a mistura de pós pode processar-se por: a)
difusão, b) convexão e c) deslocação por deslizamento.
A difusão consiste numa redistribuição dás partículas ao acaso, enquanto que a convexão é um
movimento de grupos de partículas adjacentes, de um lugar panj outro da mistura. Chamaremos
deslocação por deslizamento à mudança da configuração dos componentes, mediante o deslizamento da
mistura segundo planos definidos. A Fig. 245 auxilia a compreensão do que se disse.
A operação de mistura obedece a uma lei exponencial de primeira ordem, que se pode traduzir por
681
Em referência à mistura de sólidos com líquidos para a granulação podem ser consideradas três
fases importantes:
a) Aglomeração — A junção de líquidos (solventes, soluções aglutinantes) aos pós em movimento
leva a que estes se molhem, sendo em parte o líquido absorvido por capilaridade para os interstícios
das partículas, formando-se assim aglomerados volumosos. Claramente que a tensão interfacial entre
os líquidos e os sólidos desempenha papel primordial em toda esta operação, havendo casos em que,
para aumentar a molhabilidade (ver Suspensões), se torna necessário recorrer a agentes
tensioactivos.
b) Quebra dos aglomerados — À medida que progride a mistura e terminada a junção de líquido,
o deslocamento dos pós molhados leva à quebra dos aglomerados em agregados de menores
dimensões e de consistência muito menos dura.
c) Formação da Pasta — Quando o líquido estiver homogeneamente distribuído pelas partículas
dos pós em consequência da mistura se continuar a fazer, os aglomerados tomam-se mais viscosos,
aumentando o contacto partícula a partícula e expulsando-se o ar entre elas. Assim, e também porque
no líquido se foram dissolvendo alguns componentes do pó, vão-se criando condições para
aderência, a qual leva à formação de uma massa ou pasta própria para granular.
1.° — Moinhos — São de diversos modelos, como os de navalhas, de mós, de discos dentados e
de esferas. Do que conhecemos da indústria farmacêutica nacional,
682
julgamos que os mais utilizados são os de esferas e os de martelos. Entretanto, relembramos que este
assunto já se encontra tratado no capítulo «Pulverização» a pág. 131 deste livro.
Os moinhos de martelos efectuam o trabalho de divisão mediante uma série de lâminas ou
martelos, num eixo que gira a alta velocidade. Os martelos rodam sem contactar, directamente, com
nenhuma das peças da máquina. Quando o material a pulverizar os encontra é dividido, triturado e,
posteriormente, impulsionado pelo ar que circula devido ao movimento dos martelos, de encontro a
um crivo. Quando as partículas ainda não são suficientemente pequenas para atravessar as malhas
do tamis, voltam às navalhas e, novamente, são lançadas contra o crivo. O grau de tenuidade do pó
varia com diversos factores, designadamente com a espessura dos martelos. Martelos de superfície
plana e não cortante originam pós mais finos; martelos de bordos cortantes produzem pós mais
grossos. O crivo, que deve ser de material muito resistente (aço ou aço inoxidável), tem perfurações
circulares ou em espinha. As partículas que atravessam o crivo são de muito menores dimensões do
que os orifícios daquele, dado que o crivo é atravessado obliquamente e não na perpendicular.
Alguns desses moinhos são constituídos de modo a que haja possibilidade de utilização de ambas as
faces do tamis.
A velocidade da operação deve ser condicionada pela natureza do material a pulverizar, havendo
moinhos com sistemas de velocidade regulável. Normalmente, os martelos de um moinho podem
atingir 3000 a 5000 rotações por minuto. Algumas vezes é preciso arrefecer o material antes da
pulverização, pois pode dar-se o caso de aquecer em demasia, devido ao atrito.
Os moinhos deste tipo podem destinar-se não só a moer drogas, como servem, também, para
fragmentar comprimidos imperfeitos, a partir dos quais se pretenda obter um granulado. Algumas
vezes podem existir montados nos distribuidores das máquinas de compressão a fim de assegurar
uma boa dispersão do material. Como modelo típico citamos o de FITZPATRICK, que já anteriormente
foi estudado (ver pág. 136).
Os moinhos de bolas são constituídos por um cilindro metálico (aço) dentro do qual se encontram
diversas bolas geralmente também de metal, as quais ocupam cerca de 40% da capacidade da caixa.
Atendendo a que o cilindro roda sobre um eixo, no plano horizontal, as bolas movem-se no seu
interior provocando a pulverização do material. Habitualmente a sua velocidade é de 25-30 rotações
por minuto. Em alguns dos modelos o cilindro é de porcelana e é revestido, interiormente, de esmeril,
sendo as bolas de porcelana ou de pedra. Do mesmo modo que os moinhos de martelos, os moinhos
de bolas podem moer ou misturar drogas. Por vezes, o calor desenvolvido pelo atrito das bolas nos
pós auxilia a mistura, como fase prévia para a granulação.
Claro está que os moinhos de bolas, ao contrário dos de martelos, exigem, acessoriamente, a
utilização de tamises, de forma a estabelecer uma tenuidade adequada para os pós. Na indústria
utiliza-se, correntemente, um sistema de tamises encaixados uns nos outros, cuja "malha vai
diminuindo. O conjunto está montado numa haste vibratória e os pós vão passando, por gravidade,
dos tamises de malha mais larga para
683
os de malha mais apertada. As redes do tamis são geralmente metálicas (aço inoxidável, arame
estanhado, latão, níquel, etc.), mas, para certos pós, facilmente alteráveis por vestígios metálicos,
aconselha-se o uso do nylon, da seda e da crina. A tendência actual é, porém, empregarem-se
exclusivamente as redes de aço inoxidável e de nylon.
O número de malhas por cm2 que deverá apresentar a rede do tamis, nos moinhos de martelos ou
nos tamises propriamente ditos, é variável com a tenuidade pretendida, podendo, contudo, dizer-se
que se empregam correntemente peneiras com 40-80 fios por cm. No caso dos lubrificantes, em que o
bom êxito da aplicação depende, em grande parte, da finura do pó, podem usar-se tamises com maior
número de malhas.
2° — Misturadores — As máquinas capazes de proporcionarem uma mistura eficaz de pós secos
devem actuar suavemente, de modo a evitar a diminuição do diâmetro das partículas da mistura.
A ausência de peças móveis reduz a possibilidade de atrito e facilita a limpeza. Por outro lado, o
funcionamento lento evita a aglomeração das partículas na massa e impede a geração de calor
intenso.
Além da simples mistura de pós, estas máquinas podem proporcionar o
revestimento de granulados com o lubrificante antes da compressão, etc.
Os misturadores devem ser construídos com materiais fáceis de limpar e
que não reajam com as substâncias medicamentosas. Usa-se o aço
inoxidável, a alpaca (liga de 61% de cobre com 19% de níquel e 20% de
zinco) e ainda diversos plásticos.
Fundamentalmente, os misturadores são de dois tipos: recipiente fixo
com agitador, ou recipiente móvel, podendo, eventualmente, terem
intensificadores de agitação.
Se bem que os misturadores de recipiente fixo dêem misturas mais
perfeitas e apresentem maior facilidade de carga e descarga, a mais simples
limpeza e a menor potência consumida pêlos seus congéneres de recipiente
móvel levam a que a indústria utilize Fig. 246. Misturador em
especialmente estes últimos. espiral (Nautamix)
Entre os misturadores de recipiente fixo 1 — Motor
lem 2 — Cremalheira '•
bramos os misturadores em espiral, em que um 34 —
Parafuso sem-fim
— Abertura para
motor obriga um parafuso sem fim a descarga
movimentar-
se, promovendo a mistura dos pós. A Fig. 246 dá ideia do modo de concepção destes
misturadores, que também podem servir para promover a mistura de líquidos com pós,
funcionando, pois, como verdadeiros empastadores. - - ..-..---
684
Ao lado dos misturadores em espiral podem ser citados os planetários e os que possuem um recipiente
onde se movimentam diversas pás que promovem toda a agitação dos pós de encontro às paredes» do
recipiente e destas para a sua parte central. O esquema incluído (Fig. 247) elucida o seu funcionamento.
Queremos, contudo, salientar que os aparelhos do tipo planetário são os únicos estudados
cientificamente, permitindo que seja conseguida uma perfeita homogeneização da mistura. Podem
ser usados para misturar os líquidos de granulação aos pós a granular.
peza é extremamente simples, já que não existe qualquer obstrução interna, por serem inteiramente
lisos por dentro. Para se conseguir uma mistura homogénea por intermédio de aparelhos deste tipo
são, em regra, necessários 10 a 20 minutos.
Fig. 248.
Misturadores de
recipiente móvel
1--Rulon (cilíndrico): 2 —
Morandi (bicónico)
Em outros modelos existe> dentro do tambor misturador, uma série de desviadores automáticos
que separam o material dos eixos do aparelho. Este é o sistema dos mis-turadores de MCLELLAN, que
permite obter seis separações e misturas completas apenas com 30 revoluções de \ minuto cada (Fig.
249).
Outros modelos têm a forma cúbica, sendo verdadeiras caixas de aço inoxidável que giram em
volta de um eixo. São especialmente empregados para misturar antibióticos (Fig. 250).
Talvez, porém, aconteça que o modelo mais difundido seja o conhecido misturador em V.
Funciona pelo princípio da subdivisão contínua do lote em duas metades que se recombinam sempre
que o V atinge a sua posição normal. Habitualmente, o ângulo de inclinação dos dois recipientes
constituintes do V é de 90°. São construídos em material plástico, em vidro ou em aço inoxidável e a sua
capacidade é
Flg. 251.
Misturador em V
Flg. 250. Segundo Enrico
Viani,
Misturador Ingegneria
cúbico Chimica, 9, 5
(1960)
(Morandi,
Milão)
extremamente variável, desde 2 litros até muitas dezenas de litros. Existem no mercado modelos
equipados com barras intensificadoras, situadas perto da superfície de carga, as quais podem girar
independentemente do tambor, chegando a atingir 2200 rotações por minuto, o que desagrega altamente
o material e o põe em condições de mistura.
50 10
65 14 •:..-.
70 18
75 24
80 40 («)
7.2.1.2.3. Granulação ,- :
7.2.1.2.3.1. Granulação a seco :
Por este processo, também designado por método da via seca ou da dupla compressão, pretendem-
se obter, com máquinas de compressão adequadas, granulados irregulares, vulgarmente designados
por briquetes.
Numa primeira fase, a partir da mistura dos pós constituintes não adicionados de lubrificantes,
obtêm-se comprimidos sem se observarem quaisquer cuidados especiais quanto a regularidade ou a
peso. Depois, os comprimidos imperfeitos assim preparados são fragmentados utilizando-se crivos,
moinhos de martelos ou tamisadores granuladores e conseguindo-se, assim, um granulado, embora
irregular, o qual se irá comprimir em definitivo após adição de lubrificantes.
Muitas vezes, para evitar atritos, é conveniente adicionar parte do lubrificante aos pós que se
destinam à pré-compressão. O Suplemento à segunda edição da quarta Farmacopeia Portuguesa não
prevê essa hipótese, ao estipular que «a substância activa, adicionada do diluente, aglutinante e
desagregante, é comprimida grosseiramente, os comprimidos são reduzidos depois a granulado
adequado e este, adicionado de lubrificante, é submetido à compressão definitiva».
As máquinas empregadas na pré-compressão podem ser compressoras vulgares, mas
habitualmente têm punções de maior diâmetro e possuem mais elevada potência. Acessoriamente,
podem ter mecanismos especiais de alimentação, a fim de se assegurar um perfeito enchimento da
matriz.
Como neste sistema de compressão se liberta muito pó, convirá possuir sistemas de aspiração ou
ter máquinas em que a compressão se exerça em ambiente isolado.
A fim de substituir as máquinas compressoras neste tipo de granulação, tem-se modernamente
difundido o uso de compactadores, dos quais o chilsonator (') é dos mais conhecidos. Este aparelho,
representado na Fig. 252, é constituído por dois cilindros metálicos, dentados, dispostos vis-a-vis.
Um motor acoplado providencia o movi-
mento dos cilindros que rodam em sentido oposto. Entre eles é lançada a mistura de pós a
granular, a qual é comprimida, agregando-se de modo semelhante ao que sucedia nas máquinas de
compressão. Posteriormente, fracturam-se os blocos agregados num
tamisador-granulador. A casa Hutt (Schluchtern--Heilbronn, Alemanha)
fabrica modelos de máquinas para este tipo de granulação.
Como dissemos, a desagregação dos comprimidos leva à obtenção de
grãos irregulares, que se denominam briquetes ou slugs. Essa desagregação
pode ser conseguida manualmente, obrigando os comprimidos a
passarem através de um crivo, mas na indústria recorre-se aos moinhos de
martelos ou aos tamisadores-granuladores, como os granula-dores
oscilantes. As grelhas de tamisação devem ter orifícios ou malhas
escolhidas de acordo com o produto e com o comprimido definitivo que
se
Flg. 252. Chilsonator (esquema) pretende obter. São habitualmente de níquel e as suas
perfurações variam de 5/10 a 3 ou 4 mm de diâmetro.
O processo de granulação a seco pode servir para preparar comprimidos muito rapidamente,
pois permite dispensar a operação da granulação a húmido, que é mais demorada porquanto exige
secagem. A sua principal aplicação é, contudo, na preparação de comprimidos de substâncias
higroscópicas ou alteráveis em presença de humidade. Acessoriamente, e uma vez que dispensa a
secagem, é usado na fabricação de comprimidos de compostos termolábeis. Finalmente, emprega-se
em alguns casos em que haja incompatibilidades entre os constituintes, motivadas pela presença de
água.
considerados atrás. Quando se trabalha em pequena escala, pode servir o almofariz, operando-se
como indicámos para a preparação dos sacaretos granulados. Como líquidos de humedecimento é
vulgar utilizarem-se a água, o álcool etílico mais ou menos concentrado, o éter contendo em
dissolução misturas gordas numa percentagem de 16,5%, o álcool isopropílico com 5% de amido ('),
etc. A adição de aglutinantes é, na maioria das vezes, indispensável.
As propriedades físico-químicas da substância ou substâncias a granular condicionam a
granulação e especificam o tipo de líquido a utilizar. Deste modo, para substâncias moderadamente
solúveis, bastará o emprego de um líquido, enquanto que para os compostos tipicamente insolúveis
pode ser necessário utilizar misturas aglutinantes. Assim, por exemplo, para granular fenacetina é
preferível utilizar álcool de elevada graduação, o que originará um granulado resistente; pelo
contrário, para granular lactose é preferível empregar álcool diluído. As substâncias aglutinantes são,
geralmente, empregadas sob a forma de soluções (sacarose, glucose, lactose, sorbitol, etc.), ou de
pseudo-soluções (gelatina, amido, metilcelulose, gomas, etc.), de modo a assegurar uma melhor
distribuição nos pós. Como líquidos empregam-se, de preferência, a água e o álcool, já que são os
mais baratos e os que apresentam menos inconvenientes.
Se se pretender dar à massa uma certa untuosidade, a mistura deve ser efectuada num
misturador de bolas, durante algum tempo, obtendo-se então, com o concurso de água e açúcares,
uma pasta que se transforma em pequenos cilindros quando passada por uma placa perfurada.
A quantidade de líquido de humedecimento não pode, com rigor, ser estabelecida a priori, pois
que os resultados dependem de diversas circunstâncias que só a prática pode devidamente
esclarecer. Mesmo assim, podemos dizer que as quantidades de líquido de granulação estão,
geralmente, compreendidas entre 1/5 e 1/10 da quantidade de matéria a granular. Claramente que
as proporções dependerão da natureza da substância, do seu grau de hidratação e do líquido de
humedecimento. Na Tabela LXXIV indicamos as quantidades de água e de diversas soluções
necessárias para granular l kg de sacarose.
(') Em rigor a granulação por meio do éter ou do álcool isopropílico não é uma granulação a
húmido, visto que não está presente água. É, porém, uma granulação com líquidos e por isso a estu
damos neste ponto. ,. . . . . . . . . . . „...,. ,. . ,
690
É ainda importante saber que se deve utilizar maior quantidade de líquido de granulação quando se
granula através de tamises ou de discos de malha larga do que quando a operação é conduzida obrigando
a massa a passar por tamises ou por discos de malha mais apertada.
A operação de humedecimento deve ser cuidadosa, de modo a que se consiga homogeneizar toda a
mistura, e o líquido de humedecimento deve ser lançado por intermédio de um sistema que o espalhe
regularmente.
Algumas vezes, pode servir um sistema de «chuveiro» que lança o líquido sobre a mistura dos pós,
agitada em aparelho próprio. O fim da operação é conseguir uma pasta suficientemente húmida para
formar um corpo susceptível de atravessar o crivo, resultando, assim, pequenos grãos que se mantenham
na sua forma e não se unam. Se, pelo contrário, a massa estiver demasiado húmida acontece que, embora
formando corpo, não é susceptível de produzir granulados.
Na indústria, a preparação da pasta efectua-se em aparelhos especiais, denominados
misturadores, de que há dois tipos principais, já anteriormente considerados:
— misturadores de cuba, os quais são munidos de pás de formas variadas e que giram com certa
velocidade, de modo a provocar o estiramento da pasta, ao mesmo tempo que esta se desloca
ao longo da cuba;
— misturadores de esferas, em que bolas de porcelana ou de aço inoxidável se deslocam no
sentido contrário ao da rotação da cuba onde se encontram.
Na prática corrente, considera-se que a massa está boa para granulação quando a sua
consistência é tal que comprimida entre as mãos a elas não adira, se mostre firme e mantenha a
forma esférica.
2.° — Após esta fase preparatória da granulação, a pasta obtida é obrigada a passar, manual ou
mecanicamente, através de tamises ou de placas perfuradas.
Na indústria farmacêutica nacional, a granulação da massa é ainda algumas vezes efectuada
manualmente. Este processo dá, como se compreende, pouco rendimento, já que um operador
experimentado pode, quando muito, produzir 25 kg de granulado em 2 horas de trabalho.
O uso de máquinas granuladoras pode reduzir para cerca de 10 minutos o período de tempo
necessário ao mesmo fabrico. Embora existam muitos modelos de máquinas de granulação, todas
elas são constituídas por:
— um dispositivo que exercendo pressão sobre a massa a obriga a passar através de uma grelha
ou placa perfurada; muitas vezes esse dispositivo é um parafuso ' sem-fim (triturador de
ALEXANDER-WERK), um grupo de palhetas metálicas (tipo rotativo) ou um jogo de barras horizontais
(tipo oscilante);
691
— um tamis ou grelha metálica que pode formar o fundo de um cilindro de eixo horizontal ou a
periferia de um cilindro de eixo vertical; os diâmetros dos orifícios das grelhas podem variar
de 0,5 a 4 mm.
Entre os granuladores mais utilizados figura, sem dúvida, o granulador oscilante, em que a
massa é obrigada a passar através de um tamis, geralmente de níquel ou de aço inoxidável,
impulsionada por intermédio de rolos colocados em posição horizontal. A tela metálica deve ficar a
distância exacta das barras horizontais, de modo a conseguir a granulação da massa húmida.
As Figs. 253 e 254 representam, em esquemas e em fotografia, um granulador oscilante. A massa
a granular é deitada em A e obrigada pêlos varões metálicos (R) a passar através da rede (AO,
sendo, então, recebida num tabuleiro fixado em M.
O\
l uu
Fig. 253. Granulador oscilante (esquema)
\'
A máquina possui outro tabuleiro destinado a substituir o anterior quando este estiver cheio. Este
tipo de granulador permite um rendimento de várias dezenas de quilos por hora e pode servir não só
para a granulação a húmido, como ainda para graduar granulados após secagem, reduzir a
granulado comprimidos imperfeitos obtidos por granulação a seco, etc.
No mercado existem numerosos tipos de granuladores, desde os modelos mais simples, como
vulgares máquinas de picar carne (tipo triturador de ALEXANDER-WERK)
692
92
e «passe-vite», até granuladores oscilantes cujo rendimento horário chega a ser superior a 100 kg de
granulado. Entre as máquinas mais vulgares lembramos as de tipo Courtoy, Frogerais, Kustner, Colton,
Stokes, etc. Um aspecto que muito interessa quando se faz a granulação é o tipo de tamis ou placa
perfurada que se escolhe. Naturalmente que essa escolha está em relação com o peso dos comprimidos que
posteriormente se
pretendem obter e, como este se encontra relacionado com o diâmetro dos punções,2 poderemos
estabelecer uma equivalência entre o diâmetro dos punções e o número de malhas por cm do tamis.
Na Tabela LXXV estabelecem-se as relações habitualmente respeitadas entre
o tamis a empregar para a obtenção do granulado e os comprimidos que este
originará. . . ... _-., .. __ .......
693
No esquema que a seguir apresentamos, e que foi retirado de um trabalho de JAMINET e HESS,
indicam-se, em resumo, as operações fundamentais a executar para obter comprimidos.
3.° — A massa granulada é seguidamente seca. Naturalmente que é sempre preferível que a
secagem seja efectuada a temperatura o mais baixa possível pois que muitos constituintes dos
comprimidos são facilmente alteráveis, como o glicerofosfato de cálcio, o carbonato de bismuto, a
aspirina, o piramido, etc.
694
A duração da operação depende não só das substâncias a secar, como ainda do método utilizado
na secagem. Assim, por exemplo, compostos, como o hidróxido de alumínio, levam muito tempo a
secar, enquanto que outros, como o sulfato de sódio ou o sulfato de magnésio, eliminam água muito
rapidamente (').
A secagem deve ser feita de tal modo que o granulado não fique nem demasiado seco nem
excessivamente húmido. De um modo geral, interessa, para perfeita compressão, a existência de uma
quantidade óptima de água, a qual é variável com o tipo de comprimidos. Por outro lado, um
granulado demasiado seco origina comprimidos muito friáveis, o que é altamente prejudicial na
indústria.
Algumas vezes, a fim de que o granulado não seque excessivamente e para que se possa dispensar
um controlo constante da secagem, aconselha-se a junção de líquidos humectantes, como a glicerina
ou o sorbitol (l a 3%), na solução com que se faz a granulação dos pós.
A secagem do granulado pode ser efectuada por muitos processos, desde a exposição ao ar à
utilização de estufas, de radiações infravermelhas, de radiofrequência, etc.
Para se secar ao ar, o granulado é estendido em camada delgada sobre placas e abandonado;
deve ser mexido, de quando em quando, de forma a serem renovadas as superfícies. A técnica, que
não pode ser considerada industrial, é ainda usada para granulados que contenham princípios
voláteis, mas contra-indicada para substâncias alteráveis, de um modo geral, pela luz solar. A
operação carece de 24-48 horas.
A secagem na estufa exige que o granulado seja disposto em tabuleiros de modo a ficar com uma
espessura relativamente pequena. As estufas devem possuir um bom sistema de ventilação para
renovar o ar que se vai saturando de humidade (2). Como fontes térmicas pode servir o vapor de
água, o gás ou a electricidade. A temperatura e o tempo de secagem variam muito de composto para
composto, podendo, contudo, dizer-se que, vulgarmente, a operação se faz a 40-50°C durante 4 a 5
horas.
Algumas vezes é recomendável proceder à secagem fraccionada, em duas sessões de 3 a 2 horas,
respectivamente, aproveitando-se o intervalo entre os aquecimentos para proceder à calibração
prévia do granulado.
Em certos casos é vantajoso aquecer, muito gradualmente, o granulado, de modo a impedir a
formação de crostas que dificultam a secagem interna. Isso é essencialmente importante quando haja
açúcares, que se podem liquefazer, ou corantes susceptíveis de ficarem concentrados sobre alguns
grânulos, devido à capilaridade.
(') É evidente que a velocidade de secagem depende de factores externos e internos. Entre os
primeiros avultam a fonte calorífica, o grau de humidade, a pressão, o arejamento, etc. Entre os
segundos, podemos citar a capilariade, nos sólidos porosos, e a difusão, nos sólidos homogéneos; é,
ainda, importante o fluxo causado pela gravidade e o causado pela sequência vaporização-
condensação.
(2) A admissão do ar exterior e a evacuação do ar quente são limitadas ao volume necessário
para conseguir o arrastamento da água evaporada. As estufas devem possuir termorreguladores. O
ar que sai pode ser desidratado por passagem sobre «Carbagel» (granulado de carvão vegetal
contendo cloreto de cálcio), gele de sílica, ou outro desidratante, fazendo-se, então, recircular na
estufa.
695
Actualmente existem estufas de secagem (ver pág. 198) (leito flutuante = fluldized bed)
concebidas de tal modo que o granulado é atravessado por um turbilhão de ar quente e seco. O ar é
aspirado do exterior, aquecido à temperatura requerida através de resistências eléctricas e,
posteriormente, filtrado por um filtro. O ar circula de baixo para cima e o fundo do recipiente de
secagem, onde vai actuar, é de rede inoxidável. No seu extremo superior o recipiente possui um filtro
de nylon, o qual impede a saída das partículas a secar.
O referido sistema de secagem permite eliminar cerca de 67% de humidade num período de
tempo de 80 minutos. O consumo de energia é, por outro lado, mínimo (30 kWh para eliminar 40%
de água de 60 kg de granulado).
Existem no mercado aparelhos do tipo mencionado (Aeromatic) cujas capacidades
de secagem variam de 2 a 200 kg. O esquema (Fig. 255) auxilia a comprensão do
funcionamento de uma destas estufas de secagem. A Fig. 256 é uma fotografia duma
estufa Aeromatic. • .,. . . ... .. . i
A secagem pode ser feita, também, por intermédio de radiações infravermelhas de comprimento
de onda compreendido entre 10 000 a 16 000 Â (óptimo entre 10 000 a 12 000 A). Estas radiações
podem ser produzidas por lâmpadas de 250-500 W. Para se obterem resultados satisfatórios o
granulado deve ser disposto em camada de 5 a 10
696
milímetros de espessura, numa instalação que tenha a forma de um túnel de secagem. Este processo,
se bem que económico e rápido, não serve para eliminar grandes quantidades de água e carece de
um sistema de ventilação apropriado.
A secagem por radiofrequência tem sido igualmente empregada, embora quase só em escala
experimental. O processo baseia-se num aquecimento provocado em materiais não condutores por
rápida alteração de um campo eléctrico. FERRAND descreve o processo como se segue: o material a secar
é disposto entre duas séries de eléctrodos-placas paralelos. Os eléctrodos de
ordem par e de ordem ímpar, respectivamente, estão ligados entre si; uma
série conecta-se com a fonte produtora de alta tensão e a outra põe-se em
contacto com o solo, de modo a formar um campo eléctrico elipsoidal entre
as duas séries. A fricção interna, devida ao campo de alta tensão e alta
frequência, desenvolve calor, aquecendo-se toda a massa de granulado, do
seu interior para a periferia. Os eléctrodos são de cobre e a energia que lhes
é comunicada provém de um oscilador de radiofre-quência.
A humidade deve ser removida por ventilação, mas o processo só dá
Flg. 256. Estufa Aeromatic resultados quando o granulado não tenha mais de 20% de água.
Por este processo, como vimos, a secagem principia pelo interior dos
grânulos, ao contrário dos restantes métodos, em que se seca,
primeiramente, a superfície dos grãos e, só depois, o seu interior. Neste
processo excepção, aquece-se, pois, mais energicamente, o interior dos
grãos do que a sua superfície.
COOPER e colaboradores propuseram um sistema de secagem pelo vazio, com rotação. Trata-se
de um método ensaiado nos laboratórios Ciba e designado por Kovac, o qual teria a vantagem de
conseguir, também, a granulação dos pós. A mistura de pós a granular ou o granulado a secar são
colocados num recipiente de cone duplo, giratório. A rotação do aparelho proporciona a
temperatura óptima para a evaporação. Como dissemos, o aparelho tem ainda a vantagem de poder
servir para a granulação, bastando para isso que o líquido de granulação seja finamente disperso
sobre a mistura dos pós a granular. A Fig. 257 reproduz um esquema do aparelho.
proceder a tamisações selectivas. A granulação a húmido conduz à obtenção de grânulos que sempre
se fragmentam durante a recolha e a secagem. Daí o facto do granulado ser sempre mais ou menos
irregular, sendo por isso obrigatória a sua calibração para que o peso dos comprimidos não sofra
variações apreciáveis. De uma maneira geral, verificou-se que se consideram como mais adequados,
para evitar variações de peso nos comprimidos, os grânulos de tamanho compreendido entre 545 e
855 \lm.
Na prática, não interessa que todos os grânulos tenham as mesmas dimensões. Assim, tolera-se a
existência de 10 a 20% de partículas menores do que a média, podendo executar-se a calibração
quer por tamisação, quer por intermédio de um gra-nulador oscilante.
A tamisação elimina o pó fino que acompanha os grânulos e destrói os aglomerados granulares
que se formaram durante a recolha e a secagem do granulado. É habitualmente conseguida com
peneiras sobrepostos que são agitados, mecanicamente, por um sistema de velocidade regulável. A
Fig. 258 mostra um desses conjuntos de tamises, de marca Erweka, cujo número de malhas de rede é
escolhido de acordo com o diâmetro e o peso dos comprimidos a obter.
A calibração do granulado por meio de um granulador oscilante é talvez a mais corrente na
grande indústria farmacêutica. Neste caso obtém-se, mais do que um gra-
698
nulado, um pó muito grosso, cujo diâmetro das partículas é condicionado pela malha da rede do
granulador. Por seu turno, esta deve ser escolhida em função do diâmetro e do peso dos comprimidos
pretendidos.
— um tubo vertical, terminado por uma parte mais larga, onde são lançados os pós a granular;
— um sistema compressor, de velocidade constante, que lança uma corrente de ar ascensional a
qual impede, temporariamente, a deposição dos pós em virtude da gravidade;
— um sistema de aquecimento destinado a elevar a temperatura do ar que entra nos
compressores;
— um sistema de placas ajustáveis que regulam a velocidade do ar;
— atomizadores que lançam a solução granulante sobre os pós.
A mistura a granular é suspensa na coluna à custa da corrente de ar ascensional. A velocidade
desta é de tal modo graduada que as partículas se mantêm em suspensão na parte inferior da coluna,
mas ao chegarem à sua porção superior, mais larga, caem em virtude da gravidade. Deste modo, as
partículas são forçadas a deslocarem-se, no turbilhão de ar, no sentido do extremo da coluna, e
quando o atingem voltam à zona de trabalho que se situa na parte inferior daquela.
A granulação é conseguida à custa da atomização de líquidos granulantes, que são lançados
sobre a suspensão das partículas, e o tempo necessário para a granulação e secagem depende do
rendimento dos atomatizadores e da temperatura do ar circulante. A Fig. 259 dá ideia do
funcionamento do aparelho.
Por este processo o granulado obtido fica perfeitamente seco e a laboração, além de muito
económica, é extremamente rápida, resultando que em 20 minutos se executa todo o ciclo de preparação
que habitualmente leva 24 horas.
Como veremos adiante, o método pode servir para revestir grânulos com diversos materiais
(protectores da acção do ar, protectores da desagregação gástrica, etc.). Pode servir ainda para revestir
substâncias muito frágeis, como as vitaminas A, D2, C, etc., e para a obtenção de comprimidos de
acção prolongada. A própria lubrificação do granulado pode ser executada pelo mesmo processo.
Aplicando o mesmo princípio, RAFF aconselha a preparação de um granulado universal, inerte, que
conterá o aglutinante e o desagregante dos comprimidos. Sobre esse granulado serão atomizados os
princípios activos e, finalmente, os lubrificantes. Entre as vantagens do processo lembramos a enorme
simplificação da manufactura, a melhor estabilidade da fórmula, a possibilidade de incorporar
perfeitamente corantes e a diminuição do tempo de desagregação dos comprimidos. Esta última vantagem
parece provir apenas da menor quantidade de lubrificante que é necessário usar, pois que a
distribuição daquele é muito mais homogénea.
Os corantes podem ser adicionados no estado sólido ou em solução. O método origina comprimidos
mais brilhantes e duros do que os obtidos pêlos processos clássicos.
.. :;- ',-',: , ' ::í,-:- : t' . , .' .. 'O. -ii l ,':
erem ao seu conteúdo hídrico. Para isso, determina-se a variação da capacidade de um condensador,
entre cujas lâminas se coloca a substância em exame.
Uma vez que o poder indutor específico é uma função exponencial do grau de secagem, basta
construir, previamente, um gráfico padrão, relacionando aqueles dois valores, num dado granulado.
Com efeito, se em abcissas se inscrevem os logaritmos do grau de secagem (determinação feita na
estufa a 100"C) do granulado, em diversas fases, e, em ordenadas, os correspondentes valores do
poder indutor específico, conse-gue-se um gráfico que pode servir para avaliar, muito rapidamente e
apenas por medida da constante dieléctrica, o teor de água do granulado em exame. Efectivamente:
sendo H a perda de água a 100"C da amostra analisada. Claro está que o granulado problema deve
ter a mesma composição e ser obtido em condições idênticas às do granulado que permitiu construir
o gráfico padrão.
2) Porosidade do granulado — Esta determinação interessa largamente na preparação dos
comprimidos, visto que quanto menos poroso for um granulado, isto é, quanto menos enrugada,
dentada ou frisada for a superfície, mais denso se torna e mais facilmente escoa do distribuidor para
a matriz. Por outro lado, um granulado muito poroso origina, regra geral, comprimidos mais friáveis
e mais facilmente desagregáveis. À quantidade de substância sólida, expressa em percentagem, em
relação ao volume de granulado, dá-se o nome de enchimento relativo ou embebição relativa, como
lhe chama CARDOSO DO VALE.
Como se compreende, o enchimento relativo do granulado variará inversamente com a porosidade, isto
é, quanto mais poroso for um granulado tanto menor será o seu enchimento relativo. Se um grão não
contiver poros, o seu enchimento relativo é de 100%.
O processo empregado na granulação tem muita influência sobre a porosidade. Assim os granulados
obtidos por compressão são menos porosos do que os conseguidos por granulação a húmido; os
granulados obtidos através de tamis são mais porosos do que os preparados por passagem através de
discos perfurados; a porosidade é tanto menor quanto mais apertadas forem as malhas dos tamises ou dos
discos.
A determinação da porosidade pode ser feita avaliando-se as densidade.1; aparente e real dos grãos.
Para essa avaliação recorre-se ao picnómetro e calcula-se a densidade real, usando um líquido que molhe
perfeitamente todos os contornos do grão, mas não o dissolva. Esse líquido deve ser muito pouco viscoso.
Habitualmente, emprega-se o éter, se o granulado for de lactose.
702
A determinação da densidade aparente ou fictícia consegue-se recorrendo a um líquido que, pela sua
elevada viscosidade e tensão superficial, apenas determine o volume aparente, pois não penetra nos
interstícios do grânulo. Para um granulado de lactose pode servir a vaselina líquida ou o propilenoglicol.
O enchimento relativo será dado pela expressão:
loo-
3) Dimensões das partículas — A principal razão por que se deve proceder à determinação do
tamanho dos grãos constituintes de um granulado é estabelecer a frequência de distribuição das
dimensões daqueles. Se os granulados são constituídos por partículas esféricas o problema é fácil de
resolver, pois basta conhecer o valor dos diâmetros. Entretanto, esta situação é muito rara, e na
maioria das vezes os grãos apresentam formas irregulares, sendo mesmo assim possível estabelecer a
sua frequência de distribuição.
Por intermédio das técnicas que indicámos a propósito dos Pós procede-se à mensuração dos
grãos do granulado apresentando-se os dados por estabelecimento da relação que existe entre o seu
tamanho e uma ou mais formas de expressar a sua distribuição. Na Tabela LXXVI indicamos dados
de distribuição hipotéticos para granulados, os quais se exprimem em peso de grãos, em vez de
número de grãos, pois é naturalmente mais simples pesar uma dada quantidade de grãos retida num
tamis do que proceder à sua contagem.
703
Pela análise da Tabela LXXVI observa-se que, por exemplo, existem 25% de grãos com dimensões
entre 300 e 400 |im, ou seja, que existem 66% de grãos com dimensões inferiores a 400 u.m.
Segundo esta técnica, e a partir dos valores conseguidos na prática, podem construir-se
histogramas tomando em ordenadas os valores da frequência (peso %) e em abcissas as dimensões
das partículas. Podem fazer-se, ainda, gráficos entre percentagens cumulativas ou os seus logaritmos
e as dimensões das partículas.
Quando as partículas ou grãos são esféricos o seu volume é fácil de determinar,
S
P°Í .,., ' ,
4 Tl :; , . • ."V J. "^ ^ '. '
V = —— nr* = ——D3 '• ••• •>< •••• •• '•-::•-'
em que d é o diâmetro equivalente projectado, definido como sendo o diâmetro de uma esfera que
tenha a mesma área de projecção que a partícula quando esta seja colocada na posição mais
estável, no plano horizontal e olhada por cima. Em regra este valor determina-se fotograficamente.
Na Tabela LXXVII indicam-se, segundo FONNER et ai., os factores volume/forma e as densidades
aparentes de partículas de 20-30 mesh, obtidas por diversos processos de granulação.
Como se pode deduzir da referida Tabela LXXVÏI tanto a densidade aparente como o factor
volume/forma variam em função do processo de granulação. A granulação a seco, executada com
máquina de excêntrico, originou, ainda segundo FONNER e colaboradores, grãos com o mais baixo
factor volume/forma (a =0,15) e a mais baixa densidade aparente (da = 0,37).
4) Resistência dos granulados — Chamaremos resistência de um granulado à propriedade que
apresenta de se manter sem libertação de pó, quando submetido a determinadas provas.
Os ensaios efectuados baseiam-se, geralmente, na agitação do granulado em frascos, durante
um período de tempo determinado, ao fim do qual se separa o pó libertado. Habitualmente, o ensaio
é executado em frascos de 60 ml de capacidade, nos quais se deitam 30 ml de granulado, isento de
pó. Os frascos são agitados com determinado ritmo e em cada 2 minutos separa-se o pó que se vai
libertando. Considera--se bom o granulado que, nessas circunstâncias, não origine mais de 10% de
pó, em relação ao seu peso. MÜNZEL, operando segundo este processo, verificou que eram muitos os
factores que influíam na dureza de um granulado. Assim, observou que os compostos hidrófilos
davam granulados tanto mais duros quanto mais hidratado era o álcool u^ado na granulação,
enquanto sucedia o inverso com as substâncias lipófilas. Do ponto de vista de resistência do
granulado, a concentração óptima da solução de gelatina de granulação era de 4%. No gráfico que
a seguir se apresenta e que foi traçado segundo o mencionado trabalho de MÜNZEL, vê-se, em
ordenadas, a percentagem de
705
ranulado não destruído e, em abcissas, o tempo de agitação em minutos. Dão-se dois exemplos de
compostos, um tipicamente hidrófilo, a lactose, outro lipófilo, a fenacetina
(Fig. 260).
l? 15
Tempo em minutos
Fig. 260. Variação da resistência dos granulados em função do tempo de agitação
As curvas de 1 a 9 e de 10 a 15 correspondem, respectivamente, ao comportamento
de granulados obtidos com 100 g de lactose (hidrófila) ou com 100 g de fenacetina
(lipófila), às quais se adicionaram os seguintes líquidos de granulação:
1 10 g de água 2 20 g de água 3 9 10 g de sol. gelatina 4% 10 20 g de álcool
20 g de álcool de 25° 4 20 g de absoluto 11 20 g de álcool de 95° 12 20 g de
álcool de 50° 5 20 g de álcool de álcool de 50" 13 22 g de sol. amido solúvel 14 33
95° 6 11 g de sol. amido solúvel 7 g de sol. amido solúvel 15 17,5 g de sol. gelatina
16,5 g de sol. amido solúvel 8 7,5 g 4%
de sol. gelatina 4% um granulado obtido a seco.
A curva 16 corresponde a
706
Os granulados preparados a húmido com soluções aglutinantes são mais resistentes do que os obtidos
apenas com o concurso de líquidos puros. Por outro lado, um granulado é tanto mais duro quanto menos
poroso se apresentar, quanto menores forem os orifícios da placa perfurada por onde passou a pasta,
quanto mais afastados estejam entre si esses buracos e quanto maior for a espessura da placa.
Na indústria, um dos principais objectivos é conseguir-se um granulado duro que, porém, não eleve
demasiadamente o tempo de desagregação dos comprimidos com ele fabricados. Com efeito, se o
granulado for duro, resiste bem às manipulações, sem libertar pó, o que é sempre aconselhável, não só
pelo aspecto higiénico, como ainda do ponto de vista económico.
í1) O peso de um comprimido raras vezes é absolutamente idêntico ao seguinte. Quando falamos em
pesos iguais queremos referir pesos semelhantes, dentro dos limites de tolerância aceites e de que
adiante trataremos (ver Verificação dos comprimidos).
707
grau de dureza regulável (pelo aumento ou diminuição do seu curso) e voltando, depois, à posição inicial.
Simultaneamente, o punção inferior sobe, vindo rasar o plano superior da matriz e, deste modo, o
comprimido é elevado e expulso, recomeçando novo ciclo de operações.
A dureza dum comprimido resulta, por conseguinte, da pressão exercida sobre o granulado pelo
punção superior e depende, portanto, da posição do punção superior quando está no ponto mais baixo
do seu curso, posição essa também regulável.
Dessa compressão resulta fricção e atrito com desenvolvimento de calor. Se a compressão fosse
adiabática, quer dizer, se não houvesse trocas térmicas com o exterior, a temperatura no seio do pó
poderia atingir 300 ou 400°C, o que levaria à alteração da maior parte dos seus constituintes. Mas,
como a compressão se dá em condições isotérmicas, o pó só aumenta muito ligeiramente de temperatura.
Mesmo assim, certas substâncias, como a aspirina, podem ser hidrolisadas durante o processo, devido
ao calor libertado.
Por outro lado, se a compressão for muito exagerada, não só se fatiga a máquina, o que pode
determinar a ruptura das peças essenciais, como também há o risco de se produzirem comprimidos não
desagregáveis. Deve, por isso, regular-se a compressão, de acordo com as possibilidades de aglutinação
do pó e com o uso a que o comprimido é destinado. Duma maneira geral, um comprimido deve ficar
intacto quanto se deixa cair da altura de um metro sobre um soalho, mas, por outro lado, deve ser
facilmente quebrado entre os dedos, dando uma fractura nítida.
O estudo aprofundado do fenómeno físico da compressão durante a preparação da forma
farmacêutica que nos ocupa tem sido efectuado por vários investigadores, dos quais salientamos HIGUCHI
e colab., ARAMBULO e colab., RAFF e colab., e SHLANTA e MILOSOVICH. Desde já salientamos a importância do
chamado ângulo de repouso, que traduz a facilidade de escoamento de um pó ou granulado, do
distribuidor da máquina para a sua matriz.
DALLAVALLE, que citamos através de MACEK, define ângulo de repouso (ver pág. 627) como o «ângulo da
base do cone formado quando um material granulado ou em pó cai livremente de um orifício sobre uma
superfície plana». Esta propriedade tem sido estudada por NELSON nos granulados a comprimir. Dos seus
estudos apurou--se que o fluxo de queda depende das forças de fricção que existem entre as partículas
granuladas, da distribuição das partículas de diferente tamanho, da quantidade de lubrificantes e de outros
adjuvantes e, provavelmente, ainda, de vários outros factores. Mais recentemente, FONNER et ai. estudaram
a influência do método de granulação sobre o valor do ângulo de repouso.
No que diz respeito à desagregação dos comprimidos, tem papel muito importante o volume total dos
espaços intersticiais entre os grãos que vão ser comprimidos.
Evidentemente que a desintegração será tanto mais rápida quanto maior for a superfície exterior
dos comprimidos e, por isso, estes devem ser, em regra, de forma lenticular e não plana.
708
Principal
Grupo Exemplos tipo de
funcional Ac. cítrico, nicotínico, ligação
Ácido esteárico, Pontes de
tartárico,
Álcoo acetilsalicílico Inositol, Pontes de
l álcool estearílico, hidrogénio
Fenol sorbitol Fenol, ou dipolo-
Amida resorcina, timol
Acetamida, dipolo
Amina nicotinamida, ureia, » »
Aldeído fenacetina dipolo-
Cetona Codeína, morfina, dipolo
Éster glicina Hidrato de
Halogénio
F =A.
- D (quando a < 1000 À)
24.
a2
F=- (quando a > 2000 Â)
B.
Já a indústria farmacêutica só utiliza máquinas automáticas, as quais são de dois tipos: máquinas
de excêntrico, as mais utilizadas, e máquinas rotativas, empregadas apenas para grandes produções.
Máquinas de excêntrico ou alternativas — As mais simples são constituídas por dois punções, um
inferior e outro superior, por uma câmara de compressão ou matriz, cujo fundo é formado pelo
punção inferior, e por uma peça móvel distribuidora do pó, vulgarmente denominada tolva, tremonha
ou distribuidor. Os punções e matrizes são de aço temperado especial e algumas vezes o punção
superior tem gravado o nome do laboratório ou o do medicamento a preparar.
As Figs. 264 e 265 representam duas máquinas de excêntrico. O trabalho destas máquinas para
fabricar um comprimido compreende quatro tempos principais, cuja descrição retiramos, com a
devida vénia, de um trabalho de BOUVET:
«No primeiro tempo, encontrando-se os dois punções afastados ao máximo, o distribuidor desliza
entre os punções, sobre a mesa da máquina, e, passando por cima da matriz, enche o espaço criado
pela descida do punção inferior com o produto a comprimir.
No segundo tempo o distribuidor retira-se rapidamente para trás ou para o lado, segundo os
casos, enquanto o punção superior desce e o inferior se conserva imóvel, dando-se então lugar à
compressão.
No terceiro tempo o punção superior sobe e o punção inferior eleva o comprimido até ao nível da
mesa da máquina.
No quarto tempo o comprimido é empurrado para o sistema de evacuação pelo bordo da peça
móvel e, como durante este tempo o punção inferior tomou a sua posição mais baixa, o granulado
pode novamente encher a matriz, recomeçando o ciclo».
Na máquina de excêntrico o movimento vertical alternativo do punção superior é assegurado por
um sistema inteiramente comparável ao que, num motor de explosão, acciona o pistão por meio de
uma biela. Na sua extremidade inferior está fixado o punção superior, que equivale ao pistão. O
sistema de excêntrico foi escolhido porque é o único, neste tipo de máquina, que permite uma rapidez
de cadência suficiente para um rendimento interessante. O movimento do punção inferior é
comandado por um sistema de «alavancas».
A Fig. 266 (I e II) esquematiza as operações mencionadas.
vü éS\
ti
Fig. 266-1.
Movimento dos
punções durante a Fig. 266-11.
compressão Movimento do
A = formação da câmara distribuidor
de compressão durante a
B = carga compressão
C = compressão 1 e 2 — Carga; 3 —
D = expulsão Compressão; 4, 5
e 6— Expulsão
Naturalmente que é necessária uma forte compressão para que os pós ou os granulados
aglutinem e originem um comprimido. Em média, a pressão necessária para obter um comprimido
vulgar é de 1500 a 2000 quilos por cm2. As máquinas de excêntrico são susceptíveis de exercerem
pressões muito superiores, o que traduz a sua potência. Há, frequentemente, máquinas cuja potência
é de 40-50 toneladas.
Como o esforço de compressão é exercido durante um período de tempo muito curto e o volante
da máquina armazena energia, a força absorvida pela máquina é de poucos cavalos-vapor
(geralmente 4 ou 5 C.V.).
717
O número de punções é muito variável, havendo máquinas com 10 ou mais punções (5 inferiores
e 5 superiores) e, como se compreende, o diâmetro destes varia em razão inversa com o seu número.
A cadência destas máquinas anda geralmente à roda de 60 a 90 compressões por minuto e o seu
rendimento, ou seja o número de comprimidos obtidos por minuto, é igual ao produto da cadência
pelo número de punções (cerca de 5000 comprimidos/hora por cada par de punções).
Estas máquinas têm normalmente um compensador, quer dizer, um sistema destinado a evitar a
blocagem da máquina quando a pressão é superior à potência disponível. Geralmente, é constituído
por uma simples mola, cuja tensão é regulada para a potência máxima; quando esta é ultrapassada,
a mola absorve o excesso de pressão. O sistema compensador pode ainda ser constituído por um
pistão que repousa em óleo, que se esvazia quando haja blocagem da máquina. Há ainda máquinas
em que a compensação é constituída por um pistão repousando em óleo ou em água, sobre o qual há
ar comprimido. Quando, porém, não há compensador, evita-se a blocagem fazendo rodar a máquina,
à mão, em sentido contrário.
Para utilizar a máquina começa-se por fazê-la girar, à mão, observando-se se todas as peças
deslizam sem atrito. Fazem-se depois alguns comprimidos, determinando-se o peso médio sobre 20
unidades. Se este não estiver certo, regula-se a posição do punção inferior até que o peso do pó ou
do granulado admitido na matriz seja o exigido. Uma vez acertado o peso, regula-se a compressão,
fazendo-se variar a posição do punção superior.
Existem no mercado diversos tipos de máquinas de excêntrico: Courloy, Frogerais, Beloni, Stokes,
etc.
Máquinas rotativas — Nestas máquinas os punções inferiores e superiores, assim como as
matrizes, são montados face a face sobre a mesma coroa circular, animada de movimento contínuo
sempre no mesmo sentido. Durante uma volta efectuam-se os seguintes movimentos:
— Num determinado ponto da coroa circular tem lugar a compressão, mas, nestas máquinas, o
comprimido resulta de uma pressão gradual exercida nas duas faces e não de uma força brusca
aplicada unicamente de cima para baixo, como acontece nas máquinas de excêntrico. Desta
progressividade da compressão resulta um comprimido com uma estrutura mais homogénea e que
ficará com menos ar retido entre os seus poros.
— Seguidamente, o punção inferior levanta o comprimido, que é expulso um
quarto de volta depois. Em seguida o punção inferior baixa e, num ponto diametral
mente oposto àquele em que se produz a compressão, tem lugar o enchimento. Entre
tanto, o punção superior já se elevou de modo a passar por cima do distribuidor fixo,
voltando os punções a aproximarem-se progressivamente para realizar a compressão
máxima no fim da volta, e assim por diante. ,
718
Habitualmente, estas máquinas têm 16 matrizes e 32 punções e apenas um distribuidor. Tal como
nas máquinas alternativas, cada matriz pode estar ainda preparada para receber mais do que um par
de punções.
Uma máquina rotativa pode chegar a ter 2 a 3 distribuidores e 40 jogos de punções e matrizes,
dando a coroa circular cerca de 10 voltas por minuto (15 a 20 em alguns casos). Por isso os
rendimentos chegam a atingir 100000 comprimidos por hora e mesmo mais (até 250000 em modelos
aperfeiçoados, como nalgumas máquinas construídas pela firma norte-americana F. J. Stokes
Machine Company).
A potência despendida é menor do que nas máquinas alternativas, sendo
habitualmente de 5 a 10 toneladas.
No comércio encontram-se máquinas rotativas que permitem fazer a
compressão em dois pontos (rotativas duplas) tal como esquematicamente se
indica na Fig. 267. As máquinas rotativas têm as seguintes vantagens:
— maior rendimento;
— facilidade de produção de comprimidos de grande diâmetro (até 2 cm);
— enchimento mais fácil das matrizes; ,
— comprimidos mais homogéneos;
Flfl. 267. — eliminação, praticamente completa, das vibrações pela transformação
Movimentação dos
comprimidos numa do movimento alternativo em movimento circular; Entre os inconvenientes
máquina contam-se:
rotativa dupla
—o preço, que é duas a três vezes superior ao de uma máquina de excêntrico;
—impossibilidade de se prepararem comprimidos de formas e dimensões
variadas, atendendo ao tempo que seria exigido para proceder à mudança dos punções e matrizes;
—as cabeças dos punções podem gastar-se de um só lado.
As Figs. 268 e 269 representam máquinas deste tipo e suas fases de trabalho. Entre os principais
tipos de máquinas rotativas citamos: Frogerais (francesa), Courtoy (belga), Stokes e Colton
(americanas), Beloni (italiana), Korsch e Fetle (alemãs) e Manesty (inglesa).
Punções e matrizes — Os punções empregados nas máquinas de compressão são de aço
inoxidável, podendo ter as cabeças cromadas ('). Podem ser de secção circular ou apresentarem
outras formas, como triangular, quadrangular, oval, poligonal, etc. (2).
(') Para casos especiais (comprimidos efervescentes) podem usar-se punções revestidos de
teflon njiitelrafluoroetileno) nas suas superfícies compressoras.
(2) Habitualmente reservam-se os punções circulares para a obtenção de comprimidos destinados
» uso interno, enquanto que os punções de secção angular são preferidos para medicamentos
destinados
a serem usados para aplicação externa. Este princípio, defendido por FRENDENBURG, não sofreu
ainda
ratificação internacional. . -, . . > H :.
(pol
719
Pelo facto de serem mais facilmente manipulados e por ser também mais fácil a deglutição dos
comprimidos, empregam-se normalmente punções de secção circular. A superfície compressora pode
estar gravada com dizeres referentes ao nome da especialidade, laboratório preparador, fim a que se
destina o comprimido (uso interno, externo, hipodérmico, sublingual, etc.), dosagem, etc., mas
habitualmente é polida e lisa, o que facilita a preparação dos comprimidos. A superfície compressora
pode também ser escavada (punções côncavos que se empregam, de preferência, na preparação de
drageias). As matrizes, que também são de aço inoxidável, podem apresentar-se revestidas por
carboneto de tungsténio, material que as torna muito mais resistentes, mas que também lhes eleva
considera-velmente o preço.
As máquinas de excêntrico podem possuir matrizes com um ou mais pares
de punções (matrizes múltiplas). Na Fig. 270 representa-se uma matriz
Fig. 270. Matrizes e punções com três pares e uma outra com sete pares de punções.
O diâmetro dos punções deve estar relacionado com o peso dos comprimidos a obter e, por outro
lado, com a tenuidade do granulado empregue, como já atrás dissemos. Na Tabela LXXX indicam-se
as relações rigorosas entre o peso dos comprimidos e os diâmetros dos punções a empregar.
No caso dos punções serem escavados deve observar-se, ainda, uma relação entre o seu diâmetro
e a sua curvatura. Isto tem especial interesse na fabricação de drageias, como adiante veremos.
Tabela. LXXX. Relação entre o peso dos comprimidos e o diâmetro dos punções
Peso dos comprimidos Diâmetro dos punções
em gramas em milímetros
De 0,06 a 0,10 ••; 6
» 0,10 a 0,12 7
» 0,12 a 0,15 8
» 0,15 a 0,20 9
» 0,20 a 0,30 10
» 0,30 a 0,40 11
» 0,40 a 0,55 12
» 0,55 a 0,70 13
» 0,70 a 0,80 14
» 0,80 a 0,90 15
» 0,90 a 1,00 16
721
Estudos conduzidos por NELSON et ai. mostraram, para granulados de sulfatiazol, que havia uma
considerável diferença entre a força exercida pelo punção superior e inferior de uma máquina de
excêntrico, a qual era de 1390 Kg e 760 Kg, respectivamente. A adição de estearato de cálcio a 2%, como
lubrificante, reduziu substancialmente as diferenças de força entre os punções, pois estas passaram a ser
de 1010 Kg e 980 Kg, respectivamente. Nestas circunstâncias, estes autores introduziram uma notação
para apreciar o valor de um lubrificante, a qual é dada pela relação:
Pressão máxima (ou força) exercida pelo punção inferior
R
= ———————:——————————————————————————
Pressão máxima (ou força) exercida pelo punção superior
Assim, para um dado sistema a comprimir, o melhor lubrificante terá um valor próximo da unidade.
Na Tabela LXXXI indicam-se valores típicos de R para vários lubrificantes utilizados numa
concentração de 2%. Chamamos a atenção do leitor para a Tabela LXXI (pág. 673), cujos valores
coincidem, como é lógico, com os que agora mencionamos. A acção lubrificante que estamos a
considerar exerce-se, essencialmente, diminuindo o
atrito ao longo das paredes da matriz (Fig. 271). Quer isto dizer que grande parte da pressão de
compressão perdida é devida ao coeficiente de fricção (|i) apresentado pêlos pós ou granulados.
Relacionando este coeficiente com a diferença de pressão entre o punção superior e inferior (PA-PE)
e com a pressão transmitida às paredes da matriz (PM), poderemos escrever:
equação que permite calcular o coeficiente de fricção, sabida a pressão exercida pelo punção
superior e conhecidas as pressões suportadas pelo punção inferior e pelas paredes da matriz.
723
Em resumo, compreende-se o efeito lubrificante exercido por certas substâncias, o qual permite
que seja substancialmente diminuída a diferença de pressões entre os dois punções de uma
compressora. Por outro lado, é também compreensível que essa acção seja mais eficaz se o
lubrificante existir na superfície interior da matriz do que sob a forma de adjuvante no seio do pó
a comprimir. Os primeiros estudos efectuados neste domínio devem-se a BRAKE, em 1951, e foram
continuados por HIGUCHI e colaboradores (1954), GAGNON, MARKOWSKI e NELSON, sendo objecto de
algumas dissertações de doutoramento nas Universidades de Purdue e de Wisconsin.
Actualmente, há, no comércio, aparelhagem destinada a efectuar as aludidas determinações, a
qual quase sempre recorre à transformação das pressões em fenómenos eléctricos, cuja
intensidade se aprecia facilmente. Os transdutores (') utilizados são fundamentalmente de dois
tipos, podendo detectar quer as alterações da resistência ocorridas em pequenos filamentos
metálicos (transdutores de resistividade), quer a corrente eléctrica resultante das modificações da
estrutura cristalina de certas substâncias, como o quartzo, provocadas quando
sobre elas se exerce uma força Resistência (transdutores piezoeléctricos).
HIGUCHI, nos primeiros trabalhos que realizou sobre
eléctrica -
Punção inferior este
Cavidade doMatriz - assunt
punção o,
inferior utilizo
u
Resistência eléctrica transd
utores
de
Fig. 272. Conjunto de resisti
ligações necessárias para vi-
apreciaçãr dos fenómenos
compressivos efectuados dade.
pelo punção superior de uma
máquina de excêntrico e Com
suportados pela punção efeito,
se intercalarmos resistências eléctricas inferior (slrain
gauge), constituídas por um enrolamento Segundo E. Shotton e D. em fio
metálico protegido por papel, na base dos punções, aquelas sofrem
deformações consecutivas à pressão exercida, pois a deformação
elástica dos punções durante a compressão influi no comprimento e
diâmetro do fio das resistências. Assim, esse fio diminui o seu
comprimento, aumentando paralelamente o respectivo diâmetro, o que
provoca uma diminuição da resistência eléctrica. A variação da
resistência eléctrica é apreciada por meio de uma ponte de WHEATSTONE
ligada a um osciloscópio ou oscilógrafo. A Fig. 272, retirada de um
trabalho de SHOTTON e GANDERTON, mostra a localização da aparelhagem de
medida da pressão.
Se uma matriz de máquina de excêntrico for perfurada lateralmente, tendo ligada a essa
perfuração uma resistência para apreciação do esforço de fricção a que está
(') Um transdutor é um dispositivo que converte, proporcionalmente, uma grandeza física numa
outra que seja mais facilmente medida e detectada.
724
submetida a sua parede, pode apreciar-se aí a pressão exercida. NELSON indica o esquema de montagem
de um aparelho deste tipo, o qual se reproduz na Fig. 273. A aplicação destas noções a uma máquina
rotativa, possuindo um número elevado de punções, torna-se complexa, embora tenha sido realizada por
SHOTTON e GANDERTON, de acordo com a Fig. 274. Posteriormente, KNOECHEL et ai, aperfeiçoaram a
maquinaria necessária para determinar, em rotativas Stokes, as forças de compressão nas matrizes e as
forças de ejecção dos comprimidos dessas mesmas matrizes.
çao "V
—
eri
or
_JF!
çãc Katri
eric
r r —<5 l|l|————
Fig. 273. Dispositivo
para determinar as
pressões transmitidas à Fig. 274. Diagrama
matriz e punções representando a
numa máquina de aplicação a máquinas
excêntrico rotativas das
noções expostas.
Segundo E. Shotton, J.
J. Deer e D. Ganderton
— J. Pharm. Pharmac.,
15, 106T. 1963
A Fig. 275 reproduz uma máquina Stokes, modelo BB 2-27, rotativa, e nela se vê um osciloscópio &
as ligações necessárias para todo o controlo, segundo aqueles autores
Fig. 275.
725
O recurso ao tratamento electrónico dos sinais emitidos permite ainda, para além da
determinação das forças máximas de compressão, detectar e registar os sucessivos valores de força,
crescentes e decrescentes, ocorridos durante a preparação de um comprimido. Assim, e utilizando um
software adequado, é possível obter gráficos como o indicado na Fig. 277, ou seja, os denominados
ciclos de compressão força/tempo, a partir dos quais se pode determinar, segundo JONES, 5 intervalos
de tempo diferentes:
TC —tempo de consolidação;
TM — tempo de aplicação da força máxima ou «dwell time»;
TF — tempo de contacto com a força de compressão;
TP —tempo de permanência do comprimido na matriz e .j
TE —tempo de ejecção. , .,.,
726
Os ciclos de compressão força/tempo apresentam características próprias para cada tipo de material,
quer no que diz respeito à configuração da curva, quer relativamente ao valor dos diferentes períodos.
Assim, sabe-se que o tempo de aplicação da força máxima de compressão (TM) se reveste de
particular importância na obtenção de comprimidos dotados do adequado grau de coesão, pois a
deformação das partículas sólidas depende do tempo de actuação da força. Nestas circunstâncias, os
comprimidos
produzidos a alta velocidade e obtidos a
partir de substâncias predominantemente
plásticas são habitualmente pouco resisten
tes, ao passo que a resistência dos com
primidos preparados a partir de materiais
rígidos não é praticamente afectada pela
variação da cadência da máquina. O ácido
acetilsalicílico é um composto plástico e
facilmente deformável, e Prrr e NEWTON
verificaram, em trabalho recente, que as
TF i : TE propriedades dos comprimidos que o con-
i__ip ____1 tinham dependiam significativamente do
ritmo da compressão.
Flg. 277. Períodos do ciclo de compressão o fr do dos dclos de cornpressão
força/tempo " . .
força/tempo e a avaliação dos respectivos
períodos fornecem indicações úteis para a
análise do comportamento dos materiais durante a compressão. No entanto, existem ainda outras
determinações cujo contributo para o estudo daquele fenómeno se pode considerar de extrema
importância. Assim, recorrendo aos denominados transdutores de deslocamento é possível medir a
progressiva deslocação, descendente e ascendente, do punção superior de máquinas alternativas durante
um ciclo de compressão, e relacioná--la com a variação da força exercida durante esse mesmo ciclo.
Obtêm-se, assim, as curvas de compressão força/deslocação que, por representarem valores de força
exercida pelo punção superior num determinado espaço por ele percorrido, têm sido utilizadas para
comparar as energias dispendidas durante a preparação de um comprimido.
A Fig. 278 representa uma curva de compressão força/deslocação que, como se pode verificar, é
constituída por três curvas e um segmento de recta. O ponto B é fixado pelas coordenadas
correspondentes à deslocação máxima e à força máxima de compressão, e as curvas AB e DB indicam
os valores da força exercida no punção superior durante os movimentos descendente e ascendente,
respectivamente. O segmento de recta CB corresponde à situação teórica da compressão de um material
que apresenta um comportamento plástico ideal, ou seja, que conserva o volume apresentado no
momento da compressão máxima. Finalmente, a curva EB relaciona a força exercida no punção inferior
com o movimento descendente do punção superior.
A partir das curvas de compressão força/deslocação é possível determinar vários valores de áreas
sob a curva que permitem comparar as energias dispendidas durante ?
727
Deslocação (mm)
Flg. 278. Curva de compressão força/deslocação
A aplicação prática das determinações acima referidas tem muito interesse na formulação de
comprimidos, já que permite analisar e comparar, do ponto de vista quantitativo, muitos dos
problemas com que se depara o farmacêutico formulador. A este propósito, citamos ainda uma outra
característica mensurável, o índice de Plasticidade (IP). Este índice, proposto por STAMM e MATHIS, é
calculado a partir da fórmula
dm = b. tm + c (tm)2 • :
e i •, •; •
o = b. 2t + c (2t )2
a partir das quais é possível calcular os valores das constantes b e c, e definir a
equação correspondente ao movimento do punção.
A variação da porosidade de um pó ou granulado durante um ciclo de compressão
é outra determinação a partir da qual se pode caracterizar o material a comprimir. De
facto, a eliminação do ar inter e intragranular constitui, como já tivemos
ocasião de referir, uma das fases mais importantes do processo da
compressão e ocorre, segundo TRAIN e . MARSHALL, em 4 fases. Como se
pode observar na Fig. 279, a primeira fase (I) é rápida e o decréscimo da
porosidade é acentuado, admitindo-se que nela ocorre apenas o reor-
denamento espacial das partículas e a formação de estruturas sólidas em
coluna ou em abóbada. Em seguida (II), e devido à resis-tância oposta
por essas estruturas ao aumento da pressão, a diminuição da porosidade
não é tão acentuada. Admite-se também que,
Los f
Fig. 279. Variação da
porosidade
durante a
729
l
log —= K P + K, E
em que Ky e Kx são constantes.
A pressão (P) é calculada a partir do valor da força exercida (F), aplicando a equação
4 F P=-
71 D2
em que D é o diâmetro do comprimido.
Por outro lado, conhecendo a massa (m) e o diâmetro (D) do comprimido, a densidade real (dr) do
produto a comprimir e a respectiva altura (H) num determinado ponto da compressão, pode calcular-se a
porosidade (E) do produto recorrendo à equação
/ 4m s
E = 100 (l --
dr 7t D2 H' :... .-.:. -. •,-:•
A densidade real (dr) do pó ou granulado pode ser avaliada a partir da massa e das dimensões de
um comprimido para cuja preparação se utilizou uma elevada força de compressão, podendo
admitir-se, por isso, que a respectiva porosidade é nula. Por outro lado, sabendo a altura da câmara
de compressão e o valor da deslocação do punção superior, determina-se a altura (H) da massa a
comprimir num determinado ponto do ciclo de compressão.
Os gráficos de HECKEL são obtidos relacionando, num sistema de eixos coordenados, o inverso da
porosidade com o logaritmo da pressão exercida, e fornecem indicações acerca do comportamento do
material durante a compressão. Como se pode observar na Fig. 280, a natureza do pó ou granulado
condiciona a configuração final do gráfico, pois os produtos plásticos e deformáveis apresentam uma
fase inicial rápida, correspondente ao reordenamento espacial das partículas, à qual se segue uma
diminui-
730
cão lenta e progressiva da porosidade (curva A). No caso dos materiais rígidos e fragmentáveis, a fase
inicial é mais longa e nela ocorre a eliminação praticamente total do ar, já que, a partir de um
determinado valor de pressão, a porosidade se mantém praticamente constante (curva B). Pode admitir-
se, assim, que estas partículas são pouco deformáveis, processando-se a consolidação do material após
fragmentação e redução da dimensão das partículas.
Ti» A
Na Fig. 281 apresentamos o aspecto geral da montagem, podendo observar-se, na Fig. 282, o
registo de um ciclo de compressão força/tempo. A montagem foi utilizada no estudo comparativo de três
fórmulas de comprimidos contendo dipirona e preparadas segundo diferentes técnicas de fabrico. Os
resultados dos vários ensaios convencionais de verificação de comprimidos não permitiam fazer qualquer
distinção significativa entre as três preparações. Todavia, a obtenção dos valores da força máxima de
compressão e dos ciclos de compressão força/tempo correspondentes a cada uma das fórmulas, assim
como o subsequente traçado das curvas de compressão força/deslocação, permitiu distingui-las e
seleccionar a mais adequada, pois as energias dispendidas na compressão eram notoriamente diferentes.
s i i r ; P i i i mir u T l Kba
r tc r p o f p r
r-ü
\
l } l \
/
/
/ l
í
/
i 'l
\y\
/
Ao lado destes processos de medida, têm sido descritos outros que se baseiam na variação da
condutibilidade eléctrica de comprimidos contendo grafite, e ainda na determinação da variação da
porosidade dos aglomerados comprimidos a diferentes pressões. Com efeito, a dureza dos comprimidos
depende da área de ligação no interior da massa que sofreu a pressão, o que está relacionado com o
volume relativo (Vr) dos comprimidos e, portanto, com a sua porosidade (e).
Designamos por volume relativo de um comprimido a relação entre o seu volume aparente e o volume
real, o qual é o volume que o comprimido apresentaria se não tivesse poros. Assim, o
Volume aparente V =-
Volume real
pode calcular-se determinando a altura do comprimido em estudo (h), que corresponde ao volume
aparente, e a altura de um comprimido com idêntica área de base, mas em que a força de compressão
fosse tal que se eliminassem todos os poros (ho). Logo
h
V = —— ho
A porosidade (e) do comprimido está relacionada com o volume relativo (Vr) pela seguinte
igualdade:
l
,,,54! , e = l ———
que mostra que à medida que Vr se aproxima da unidade, decresce a porosidade, que será igual a
zero quando V = 1.
É evidente que a equação referida é idêntica à que passamos a escrever, tomando os valores da
densidade aparente e real do comprimido, de acordo com o que se disse a respeito da porosidade (ver
pág. 702).
densidade aparente e = l --
densidade real
Por outro lado, e de acordo com o que deixámos dito, a porosidade será também dada pela
seguinte igualdade:
altura do comprimido à densidade real e= l --
altura do comprimido em estudo
733
Em 1923, WALKER admitiu uma relação entre o volume relativo e a força de compressão (PA)
Vr = C-K. log PA " '-••• ^ •'•'
em que C e K eram constantes.
Por seu turno, BAL'SHIN mostrou existir uma relação entre a dureza dos comprimidos Fc e o seu volume
relativo Vr.
Fc = F& exp.-"
De tudo o que se disse, resulta que a dureza de um comprimido é função da porosidade e da força
de compressão. Por outro lado, como é lógico, o comprimido desagregar-se-á na água tanto mais
facilmente quanto mais poroso se apresentar. Para um comprimido de certa porosidade, a velocidade de
penetração dos líquidos é função do diâmetro médio dos poros, cujo valor pode ser calculado pela seguinte
fórmula:
KS
em que D representa o diâmetro médio, e a percentagem dos espaços vazios (porosidade), expressa pela
relação entre o volume médio do comprimido e o volume ocupado pela matéria que lhe deu origem, K
uma constante que, para poros esféricos, é igual a 3, e S a superfície média do comprimido considerada
na sua totalidade,2 correntemente denominada por superfície específica (relação entre a superfície do
comprimido em cm e o seu volume em ml).
A avaliação do diâmetro médio dos poros pode fazer-se recorrendo a processos que se baseiam no
princípio de BECHHOLD, de que falámos na página 82 deste livro.
Recentemente, foi desenvolvido um processo de determinação por LOWENTHAL e BURRUS baseado numa
modificação da fórmula de KOZENY e CARMAN para a filtração (pág. 69). Segundo estes autores, chega-se à
seguinte expressão matemática que relaciona a superfície específica do comprimido (S), expressa em
cm2.!!!!-1, com a porosidade (e), a área (A) da secção horizontal do comprimido e o volume de ar (Q) que
o atravessa no tempo í, sendo L a espessura do comprimido e T| a viscosidade do ar à temperatura da
experiência:
14 AP.A.t e3
S = —— . ————— . ————— z (1)
p T).L.Q (l-e)
AP é a pressão diferencial nas duas faces do comprimido e p é a densidade do pó. Na prática, o
comprimido é colocado num suporte adequado (Fig. 283) procedendo-se à aplicação do vazio cuja
intensidade se determina com um manómetro acopu-lado. À medida que o ar passa através do
comprimido, o que se deve à porosidade que este apresenta, a água desloca-se da proveta numa
quantidade equivalente à quantidade de ar que passou pelo comprimido no mesmo intervalo de tempo.
Este método tem evidentes vantagens sobre os processos em que o comprimido é atravessado por um
liquido, mesmo apoiar, pois este líquido pode sempre dissolver qualquer porção de matéria constituinte
daquele. O diâmetro médio dos poros é dado pela seguinte fórmula:
:_ ' 4 e
D = —— . ———— (2)
S l-e
que não inclui nenhuma constante, como a que citámos anteriormente.
735
LOWENTHAL e BuRRUS apresentam uma expressão final resolvente que engloba as equações (1) e
(2):
~-V-
DÏ
P.A.t.e
a qual aplicam à determinação do diâmetro médio dos poros dos comprimidos preparados com vários
fármacos e adjuvantes.
comprimidos cujo aspecto tem pouco interesse, desde que satisfaçam às necessárias condições de
dureza. Esses comprimidos, geralmente grandes (às vezes com vários gramas de peso), são
fragmentados por trituração e o granulado assim obtido é, depois, calibrado e adicionado de
lubrificante. Novamente se comprime, mas, desta vez, havendo a preocupação de obter comprimidos
perfeitos, com as características de peso, resistência e desagregação desejadas.
Uma vez que as operações preliminares da compressão já foram tratadas anteriormente, iremos
agora indicar os passos fundamentais da compressão propriamente dita.
De posse do granulado, lança-se este no distribuidor da máquina que se regula para o peso
desejado, mediante um dispositivo que permite aumentar ou diminuir o curso do punção inferior.
Acertado o peso sobre um certo número de unidades estipuladas pela farmacopeia (20 comprimidos),
passa-se a regular a compressão, o que é susceptível de se executar modificando o curso do punção
superior ('). Com efeito, a compressão depende da distância a que fica o punção superior do inferior
na sua máxima descida e todas as máquinas são providas de um dispositivo que permite encurtar ou
alargar essa distância.
Estas operações são habitualmente conduzidas fazendo a máquina girar manualmente e só depois
dos respectivos acertos se entra no trabalho automatizado, que carece de eventuais correcções. Ainda
durante o trabalho manual convém verificar o tempo de desagregação, o que não dispensa esse
controlo durante a fabricação automática.
São estas, em resumo, as fases da preparação de comprimidos de materiais não directamente
compressíveis. Quando às substâncias directamente compressíveis, pode dizer-se que a obtenção de
comprimidos consiste, fundamentalmente, na compressão. No entanto, é também necessário que o
sólido directamente compressível esteja dividido em partículas de dimensões semelhantes e adequadas
ao tamanho dos punções escolhidos. Por outro lado, é quase sempre indispensável uma secagem
prévia da substância, conduzida a temperatura compatível com a sua natureza.
Dissemos, no início deste subcapítulo, que era fácil preparar comprimidos. Muitas vezes, porém,
sucede que nem todas as regras a observar foram devidamente seguidas ou que tenhamos que
manipular compostos dificilmente compressíveis. É esse o assunto que seguidamente iremos abordar.
(') Em alguns dos modelos de máquinas (rotativas Manesty) a compressão é regulada fazendo
variar a altura do punção inferior.
737
alterações durante a compressão, quer pelo calor desenvolvido, quer pelo facto de se ter exagerado a
força de compressão, etc.
Os atritos, que tantas vezes se verificam, constituem, contudo, a principal dificuldade a vencer
quando se fabricam comprimidos em larga escala.
Assim, durante a compressão, podemos observar a formação de sticking (conjunto do binding e
do picking), o que pode ser devido às seguintes causas:
— granulado húmido;
— absorção de humidade durante a compressão;
— humidade libertada do interior do comprimido; , 'h(
— emprego de punções ou matrizes riscados;
— existência de folgas entre a matriz e o punção inferior; ....,., ..
— deficiente quantidade de lubrificante.
Pode ainda acontecer que os comprimidos saiam descabeçados, lascados ou exfoliados (capping),
separando-se a sua parte superior quando são ejectados da matriz. As causas deste insucesso são
muito variadas, podendo apontar-se: pressão demasiada, presença de muito ar absorvido, elevada
percentagem de partículas demasiado pequenas ('), falta de aglutinantes ou secura exagerada do
granulado, cristais muito grandes, punções e matrizes sujos ou rugosos e exagerada velocidade de
compressão.
Algumas vezes podem, em parte, obviar-se estes inconvenientes, limpando os punções repetidas
vezes com um pano de lã e lubrificando-os com um pouco de talco, estearato de magnésio ou parafina
líquida (envolvem-se com um fio de lã embebido em parafina líquida). Outras vezes é preciso
proporcionar certa humidade ao granulado ou ao pó a comprimir. A própria fenacetina, que é
considerada dos compostos mais difíceis de trabalhar, pode comprimir-se facilmente, segundo SETH e
MÜNZEL, desde que tenha 2,23 a 2,54% de humidade.
Um dos aspectos em que é preciso tomar cuidado é a tenuidade das partículas do lubrificante que
pode acontecer ser menor do que a dos pós a lubrificar. Tal facto cria problemas técnicos que
também podem surgir se houver um tempo de mistura demasiado elevado. JONES chama a atenção
para estas situações num estudo apresentado à FIP em 1976.
Uma situação que pode acontecer, embora raramente, é obter-se uma massa para comprimir que
exiba uma viscosidade indesejável, dificultando ou impossibilitanto o trabalho da máquina.
Observámos esses óbices com o pantotenato de cálcio amorfo e,
(') Não deverá haver mais de 20% de partículas demasiado pequenas ou de pó a envolver
granulado. Percentagens menores do que estas são geralmente benéficas à composição.
738
por isso, julgamos mais aconselhável o uso de pantotenato de cálcio corresnondente à forma
cristalina estável.
Em certos casos obervam-se variações do peso dos comprimidos, o que se pode dever a um
trabalho imperfeito por parte da máquina mas que, na maioria das vezes, resulta apenas do irregular
calibre dos grânulos a comprimir. Torna-se, então, necessária nova calibração do granulado,
recorrendo a uma rede de malhas mais apertadas. Quando a irregularidade do peso é devida ao
imperfeito trabalho da máquina, é de considerar a incompleta descida dos punções inferiores. Este
facto acarreta, igualmente, uma alteração da dureza do comprimido e, geralmente, é consequência de
uma deficiente quantidade de lubrificante (deslizante) ou da sua irregular distribuição.
Muitas das dificuldades com que se depara na compressão são ocasionadas pela elevada
velocidade a que trabalha a máquina. Igualmente deve evitar-se que a força de compressão seja
demasiada, porquanto os comprimidos seriam dificilmente desagregáveis (')•
Por último, é necessário cuidado quando se comprimem substâncias oxidantes, como o clorato de
potássio. Como é lógico, usar-se-ão excipientes inorgânicos que, ao contrário dos orgânicos, não
reagem com o oxidante durante a compressão. Entre estes excipientes citamos o caulino, o cloreto de
sódio e o sulfato de sódio, podendo usar--se o talco como lubrificante.
Em relação ao aludido caso do permanganato ou do clorato de potássio, pode, regra geral,
executar-se a compressão de qualquer destes compostos sem auxílio de adjuvantes, desde que os
cristais não sejam demasiado grandes.
Os compostos altamente explosivos, como a trinitrina, o tetranitroeritritol ou o dinitroisossorbido
só devem ser comprimidos quando adequadamente diluídos com pós inertes, de tal modo que se possa
garantir que não haja concentração do composto activo em qualquer ponto do granulado. A
granulação não deve ser conduzida em presença de dissolventes orgânicos inflamáveis.
Postas estas considerações, apresentamos uma Ficha de Produção de comprimidos, retirada do
Manual de Fabrico da Central de Medicamentos (Brasil). Nela se indicam os componentes e suas
qualidades, bem como todo o processo operatório e os controlos a efectuar durante e após fabricação.
(') A força de compressão não se exerce uniformemente sobre toda a massa a comprimir em
virtude da fricção desenvolvida entre as partículas do pó e a parede da matriz da máquina. A
formação de pontes temporárias e esteios no pó ou no granulado suporta também parte da pressão
exercida. Deste modo, fonriam-se zonas de alta pressão à periferia, próximo da zona onde desce o
punção e na parte central, de tal modo que a densidade e a porosidade do comprimido variam nas
suas diferentes regiões.
Nas máquinas rotativas, movendo-se os dois punções que exercem aproximadamente a mesma
pressão, verifica-se muito menor variação no volume aparente, que difere, principalmente, no centro
dos comprimidos.
739
LOTE N."
PRODUTO: DIPIRONA — 500 mg — comprimido. / _ FÓRMULA para:
100.000 comprimidos
v Matéria-prinia V Quantidade V N." etiqueta V
Dipirona 50 kg
Amido 4,6 kg 4--I.
Gelatina em pó 1,2 kg
Lactose 8 kg
Estearato de 1,2 kg
Magnésio
Material recebido por: ........................ Em: ....../....../......
Material examinado por: ................... Em: ....../....../......
Fabricação: Início: ....../.....J...... Término: .....J..,.../......
// _ TÉCNICA DE FABRICAÇÃO:
1 — Misture homogeneamente em um misturador em «V» a Dipirona com o Amido, a Lactose e a
Gelatina em pó por 30 minutos.
2 — Aos poucos, submeta a mistura a um misturador de massas, humedecendo com uma mistura de
Água e Álcool (7:3), até uma consistência homogénea.
3 — Passe em crivo de 42 malhas por cm2.
n
«;'...
•.,•••. 'Mi'-- 1 '.
4 — Seque em estufa a 36°C. ^ - •.
5 — Uniformize o granulado e acrescente o Estearato de Magnésio.
6 — Envie amostra ao Controlo de Qualidade para determinação da faixa de compressão. 7—
Comprima com punção de 12 mm. Peso do comprimido: 0,65 g ± 5%. •>.•• '•••—$
8 — Durante a compressão, fazer pesada de l em l hora.
No início da compressão, ou seja, na l.a hora e independentemente do Controlo, o operador
fará pesagens de 15 em 15 minutos.
740
No primeiro caso, devem apresentar elevada superfície, a fim de proporcionarem mais íntimo
contacto entre os princípios activos e a mucosa. Habitualmente, destinam--se a exercer uma
actividade local, anti-séptica ou desinfectante, podendo conter antibióticos, sulfamidas ou formol,
algumas vezes associados a anestésicos locais, do tipo da anestesina.
A dissolução destes comprimidos deve processar-se lentamente (30 a 60 minutos), podendo conter,
como excipientes, a sacarose ou a manita, associadas às gomas, à metilcelulose, à gelatina, etc.
Ao lado do referido tipo de comprimidos queremos citar os comprimidos para mastigar. Trata-se
de fórmulas contendo, em regra, vitaminas (C, A, E, etc.) ou analgésicos, como o ácido
acetilsalicílico. Os ciclamatos ou a sacarina sódica são os edulcorantes mais vulgares e a vanilina tem
sido o aromatizante preferido em muitos casos.
Os comprimidos sublinguais ou de administração pcrlingual destinam-se a serem disssolvidos
lentamente debaixo da língua. Esta via de absorção promove a passagem rápida e directa dos
princípios activos para a corrente sanguínea, evitando-se, assim, a sua degradação no tracto gastro-
intestinal. São as veias linguais e a maxilar interna as portas de acesso, passando as substâncias
absorvidas, imediatamente, para as veias jugulares. Como se compreende, trata-se de uma via
recomendada sempre que os princípios activos sejam destruídos pêlos fermentos digestivos ou quando
sofram degradação em meio ácido.
Estes comprimidos devem ser de reduzidas dimensões, terem forma lenticular e apresentarem
pequena espessura. A sua desagregação não deve obedecer às regras gerais da desagregação para
comprimidos destinados a serem ingeridos, sendo aconselhável que demorem 20 a 60 minutos a
desintegrar-se totalmente. Entretanto, há casos em que se necessita de uma rápida absorção
perlingual, como sucede com os dilatadores coronários. Nestas situações deseja-se, pelo contrário,
uma muito rápida desagregação e dissolução do princípio medicamentoso.
A fim de eliminar a estimulação das glândulas salivares, com o concomitante aumento da
produção de saliva, que poderia arrastar os princípios para o tracto digestivo, é aconselhável que não
contenham edulcorantes. Assim, a sacarose não deve ser utilizada sozinha, podendo, contudo,
empregar-se em associação com a manita ou com a lactose. A fim de retardar a desagregação não se
devem incluir desagregantes e é recomendável que contenham, pelo contráno, uma pequena
quantidade de gomas. Como lubrificante aconselha-se o estearato de magnésio, a 3-4%, que, pela sua
acção hidrófoba, diminui a salivação.
A velocidade de absorção e o coeficiente de absorção dependem de muitos factores, como da
natureza da substância activa e do excipiente, especificamente escolhido, o que foi demonstrado por
meio de ensaios conduzidos com compostos marcados com isótopos radioactivos.
743
Por outro lado, a absorção é favorecida pela hiperemia local, devendo os comprimidos serem
administrados após as refeições, pois nessa ocasião encontra-se particularmente irrigada a mucosa
bucal.
Ente os comprimidos empregados por esta via de absorção citamos os de metiltestosterona,
trinitrina, nitrito de amilo, estradiol, progesterona, etinilestradiol, etc. Trata-se, pois, especialmente, de
um conjunto de hormonas sexuais e de dilatadores coronários.
3) Comprimidos vaginais — Os comprimidos de aplicação vaginal são destinados a promoverem
uma acção local, geralmente microbicida ou regeneradora dos epitélios.
A maioria desses comprimidos possui excipientes solúveis como a lactose, a glucose e a sacarose,
os quais podem, acessoriamente, desempenhar funções terapêuticas, dado que favorecem o
desenvolvimento dos bacilos de DÔDERLEIN, assegurando a salubridade da mucosa vaginal. Os
carbowaxes são também empregados como excipientes. A forma destes comprimidos é, geralmente,
oval ou redonda.
4) Comprimidos efervescentes — Já atrás dissemos que a preparação de comprimidos
efervescentes obrigava à obtenção de dois granulados, os quais se misturavam, posteriormente, para
efectuar a compressão, ou a recorrer à granulação na ausência da humidade (líquidos anidros ou
granulação a seco).
A efervescência promovida pela libertação de gás (oxigénio ou anidrido carbónico) pode
conseguir-se à custa de inclusão de um peróxido, o que é raro, ou, mais correntemente, a partir da
junção de um ácido, como o cítrico, o tartárico, o ascórbico, o algínico, etc., com um bicarbonato ou
um carbonato. Este último tipo de efervescência torna os comprimidos mais agradáveis e melhora a
absorção, dado que o gás carbónico estabiliza a mucosa gástrica. Entre os bicarbonatos pode usar-se
o de sódio. O carbonato de cálcio, é, também, empregado.
Habitualmente, a granulação é conduzida a seco ou recorrendo ao álcool iso-propflico com 5% de
amido, ou à glucose líquida ('), cujo pequeno conteúdo em água não é suficiente para promover a
reacção entre o ácido e o carbonato presentes. Neste último caso, a granulação deve ser conduzida a
50-60°C, empastando-se a mistura com a glucose líquida.
Pode ainda recorrer-se à preparação de granulados por fusão na água de cristalização,
aquecendo-se a mistura do ácido com o bicarbonato, a 100°C. Por este processo faz-se, por exemplo,
a granulação de uma mistura de ácido cítrico com bicarbonato de sódio e sulfato de magnésio. O
método é ainda susceptível de ser aplicado às misturas eutéticas.
r
(') A glucose líquida é um produto da sacarificação incompleta do amido, contendo glucose,
maltose, dextrina e água. Apresenta-se como líquido muito viscoso, cuja densidade é de cerca de 1,6.
744
(') SOLLMANN, na sua Farmacologia, faz referência a que a injecção de 0,5 g de ácido bórico,
no homem adulto, não provoca qualquer sintoma de intoxicação.
746
verdadeiro na maioria dos casos, acontece que, por vezes, determinados comprimidos sofrem
alterações mais ou menos profundas, por influência do ar, da humidade, dos excipientes e até dos
materiais onde se encontram acondicionados.
Para apenas citarmos alguns exemplos, lembremos as alterações por acção do ar e da luz que se
verificam em tantos compostos, como a vitamina C, que amarelece com o tempo. Outras substâncias,
como a trinitrina, sofrem desdobramentos pela acção da humidade, os quais são acelerados pela
presença de determinados excipientes, como o chocolate, ou pelo facto dos comprimidos se
encontrarem acondicionados em invólucros de celofane, de polietileno, etc.
a) Oxidações — Se bem que menos frequentemente do que os medicamentos injectáveis, existem
muitos comprimidos susceptíveis de se alterarem por oxidação dos seus constituintes.
Algumas vezes essas alterações, observáveis, por exemplo, pelo aparecimento de coloração
amarelada nos comprimidos, devem-se exclusivamente ao excipiente, não chegando a afectar o
princípio activo. É o que sucede, muitas vezes, com a lactose, que amarelece. Pode evitar-se essa
oxidação, associando-se catalisadores negativos, como o EDTA (etilenodiaminotetracetato de sódio),
pois tudo leva a crer que se trata de um fenómeno em que os iões metálicos pesados, como o cobre e
o ferro, desempenham papel preponderante.
A glucose apresenta comportamento semelhante, podendo corrigir-se a sua oxidação de modo
análogo. O facto mencionado tem especial interesse pois, muitas vezes, tem-se atribuído ao princípio
activo a alteração verificada nos comprimidos, quando afinal o problema é mais simples de resolver.
Como exemplo, citamos o caso dos comprimidos de aminofilina, cujo amarelecimento se deve, em
grande parte, à alteração do excipiente.
Certos excipientes provocam, também, destruição dos princípios activos, como a lactose que
destrói a neomicina e as polimixinas. As alterações assinaladas com a lactose e a glucose em
presença de fármacos ou excipientes aminados ou amidados podem interpretar-se por uma simples
reacção de Maillard em que os grupos aminados (aminoácidos, peptídeos, antibióticos
aminoglucosídicos, metaclopramida, aminofilina, etc.) se combinam com os hidroxílos glucosídicos
dos açúcares redutores originando tons que vão do amarelo-escuro ao castanho. Outras vezes
observa-se apenas uma diminuição do coeficiente de absorção intestinal para o princípio activo, o
que pode ser motivado pela escolha indevida do excipiente. É o que sucede com o lactato de cálcio
em relação às tetraciclinas já que o cálcio é fixado pêlos hidroxilos do antibiótico. O fosfato de
cálcio aumenta a toxicidade da vitamina D2, não devendo, por isso, ser empregado como excipiente
em comprimidos de calciferol.
Entre os exemplos mais típicos de oxidação recordamos o da vitamina C, cujos comprimidos devem
ser preparados tendo cm vista evitar-se essa alteração. Assim, tem-se proposto adicionar lactose à
vitamina, granulando a mistura em presença
747
de amido de milho, com álcool de 70°. A lactose, tendo uma função aldeído livre, comportar-se-ia
como um redutor, dificultando a oxidação; o amido de milho seria o desagregante. A granulação far-
se-ia por tamis de nylon, de crina ou de aço inoxidável e, como lubrificante, poder-se-ia empregar a
mistura de talco com estearato de magnésio. Mesmo havendo particular cuidado em evitar a oxidação
da vitamina, quer secando o granulado a temperaturas baixas (30-40°C), quer procedendo como foi
indicado, o ácido ascórbico sofre alterações, especialmente quando a sua quantidade seja um pouco
elevada (500 mg ou mais por comprimido).
Em virtude disso existem no mercado granulados de vitamina C revestida, a qual foi designada,
primitivamente, pelo termo francês «enrobé». Esta vitamina revestida é formada por grânulos de
ácido ascórbico os quais sofreram um revestimento com uma camada isolante de etilcelulose, de
gelatina, de açúcar, de acetoftalato de celulose, etc.
Pode usar-se para fazer esse revestimento uma solução a 2% de etilcelulose em álcool absoluto
ou em álcool isopropílico. A2 vitamina é empastada com a solução e a massa passada por um peneiro
de 90 — 100 malhas por cm . A secagem do granulado é feita a 25-30°C.
A preparação dos comprimidos com a vitamina revestida não oferece já tantas dificuldades,
podendo-se comprimir directamente. Como lubrificante pode usar-se o talco em mistura com o
estearato de magnésio.
O Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV inscreve os comprimidos de vitamina C, que prepara
granulando a mistura de amido, lactose e vitamina com uma solução constituída por acetoftalato de
celulose e ftalato de etilo, dissolvidos em álcool isopropílico e benzeno, em partes iguais. O
granulado é seco na estufa a 40"C.
Muitas vezes a preparação dos comprimidos de ácido ascórbico em concentração elevada, como
500 mg ou l grama por comprimido, envolve dificuldades, sendo regra empregar-se um excesso de
excipiente e fazendo-se os comprimidos ligeiramente maiores do que o habitual. Por outro lado, a fim
de dificultar a oxidação, é hábito juntar um catalisador negativo. Por último, é aconselhável, nestes
casos, acondicionar os comprimidos em recipientes que contenham uma substância exsicadora.
A reserpina é outra substância facilmente alterável por oxidação. A sua preparação pode fazer-se
facilmente quando se trata de obter comprimidos titulados ao decimili-grama, bastando misturá-la
com glucose e comprimir em presença de estearato de magnésio. Para obter comprimidos titulados
ao miligrama, convém preparar um granulado de amido de batata com lactose, usando, como líquido
de granulação, uma solução de gelatina a 4% ou o cozimento de amido a 10%. Sobre este granulado
seco lança-se, depois, uma solução de reserpina numa mistura de clorofórmio com éter (').
Homogeneiza-se e evapora-se a mistura dissolvente. Usa-se o talco e o estearato de magnésio como
lubrificantes.
(') O clorofórmio é o dissolvente da reserpina, enquanto que o éler facilita o contacto entre
solução e o granulado (ver pág. 649).
748
(') A junção de redutores, como o bissulfito, deve ser extremamente criteriosa, dado que este
composto pode reagir, chegando a inactivar a substância activa, como sucede com os corticóides que
sejam cetonas cc-p-insaturadas.
749
Talvez o exemplo mais clássico de decomposição hidrolítica seja o apresentado pelo ácida
acetilsalidlico. A vulgar aspirina desdobra-se, facilmente, em ácido acético e ácido salicílico quando
existam vestígios de humidade, sendo o calor desenvolvido durante a compressão uma das causas
desse desdobramento. Por esta razão, os comprimidos de ácido acetilsalicílico são preparados por
granulação a seco. Geralmente mistura-se a aspirina com amido, que actua como desagregante, e
usa-se o talco como lubrificante.
Na realidade, foi demonstrado por RIBEIRO que o estearato de magnésio acelera a decomposição
do produto, razão por que se deverá banir o seu uso. Algumas vezes aconselha-se juntar à aspirina
compostos ácidos, como o ácido cítrico ou o tartárico, a fim de retardar a sua hidrólise. Este modo
de proceder filia-se em que a decomposição é acelerada pela alcalinidade. Como foi, porém,
esclarecido por EDWARDS, tanto o meio ácido como o meio alcalino aceleram a hidrólise, resultando,
como mais aconselhável, operar a pH próximo da neutralidade. Com efeito, como adiante veremos, a
aspirina decompõe-se a pH alcalino, de acordo com uma reacção de segunda ordem, mas a pH baixo
a degradação processa-se igualmente, embora seguindo a mecânica das reacções de primeira ordem.
No Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV inscrevem-se os comprimidos de ácido
acetilsalicílico a 0,5 g, sendo a sua preparação feita juntando a este composto 0,1 g, de amido,
depois de seco na estufa a 40°C.
Algumas vezes a aspirina é adicionada à cafeína, normalmente em quantidade dez vezes menor.
Os comprimidos deste tipo preparam-se triturando a cafeína, juntando-lhe a aspirina, o amido e
metade da quantidade total de lubrificante (talco); comprime-se a mistura e fragmentam-se os
comprimidos obtidos por crivo adequado, por meio de um granulador ou de um moinho de martelos.
Adiciona-se o resto do lubrificante e volta-se a comprimir, agora em definitivo. Raras vezes será
ainda necessária nova compressão para se obterem comprimidos perfeitos.
Entre os compostos facilmente hidrolisáveis queremos lembrar, também, o glicero-fosfalo de
cálcio, cuja decomposição é particularmente acelerada pelo aumento da temperatura, de tal modo
que, na secagem do granulado, não se deve ultrapassar os 40°C. Como líquido de granulação tem
sido muito usado o álcool, havendo o cuidado de associar o glicerofosfato a um açúcar, como a
sacarose ou a lactose (aglutinantes).
Atendendo a que são bastante numerosas as substâncias susceptíveis de se decomporem por
intermédio da humidade, transcrevemos uma lista dos casos em que habitualmente se procede à
granulação a seco. Não quer isto dizer que todos os compostos citados tenham de ser,
obrigatoriamente, granulados a seco, mas que o processo é aconselhável (Tabela LXXXII).
Ao lado das alterações típicas de hidrólise não devemos esquecer as alterações que podem ser
motivadas por acção da humidade, que poderá provocar desenvolvimento fúngico à superfície dos
comprimidos. Como se compreende, esse fenómeno pode ser combatido com a inclusão de
fungistáticos ou de fungicidas na massa dos comprimidos
750
Com efeito, a obtenção destes comprimidos é bastante trabalhosa, dado que o carvão é dificilmente
aglutinável. Há quem aconselhe a utilização de goma arábica a 10%, ou gelatina a 4%, como
aglutinantes. Uma fórmula recente propõe a aglutinação com solução a 25% de polivinilpirrolidona,
preconizando, como lubrificante, uma solução de silicone a 5% em cloreto de metileno.
Em alguns comprimidos de carvão do nosso mercado observa-se, por vezes, um anormal
período de desagregação. Isto deve-se, sem dúvida, à presença de gomas, razão por que o seu
emprego deverá ser evitado, parecendo-nos mais aconselhável utilizar, como aglutinantes, a gelatina
ou a polivinilpirrolidona.
São numerosas as substâncias, dotadas de certa fragilidade, que são difíceis de aglutinar e de
comprimir, como a metionina, /conhecido aminoácido lipotrópico. Aconselha-se a adição de 10% do
seu peso em sacarose, aglutinando com solução de gelatina a 4%. Como desagregante, poderá servir
o amido a 10%, recomendando-se a mistura de talco e estearato de magnésio (8 e 3%,
respectivamente) para evitar os atritos. Outros sugerem a junção de 10% de lactose, granulando com
5% de pectina e xarope comum, podendo este ser substituído, com vantagem técnica, por xarope de
goma.
Ao lado da metionina lembramos o meprobamato, cujos comprimidos são obtidos, segundo o
Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV, associando amido e granulando com solução de gelatina
a 15%. A isoniazida ou hidrazida do ácido isonicotínico é preparada, sob a forma comprimida,
misturando-a com amido e lactose e granulando com cozimento de amido a 15%. Como lubrificante
poderá servir a associação do talco, ácido esteárico e estearato de magnésio.
O fenobarbital, bem como muitos outros barbitúricos, pode ser granulado em associação com
açúcar de leite, por intermédio de cozimento de amido a 10%. O estearato de magnésio e o talco são
os lubrificantes usuais. No que diz respeito ao hexobarbital, já, porém, se aconselha a que se proceda
à granulação a seco, a fim de evitar qualquer possibilidade de hidrólise.
c) Perda de constituintes voláteis — Por vezes sucede que determinados compostos presentes
nos comprimidos se volatilizem, como acontece com diversas essências e com a cânfora.
Naturalmente que a preparação dos comprimidos obriga, neste caso, à utilização de absorventes. Por
outro lado, a secagem deve ser conduzida a baixa temperatura e os comprimidos, depois de
preparados, serão conservados em lugar fresco e acondicionados em frascos impermeáveis, bem
rolhados. Adiante veremos que os recipientes de material plástico, são, regra geral, pouco
aconselháveis para este fim, dado que são permeáveis às essências, aos terpenos, às cetonas, etc.
depois dos trabalhos de ERIKSEN e colab. Estes autores procuraram uma interpretação matemática da
cinética da decomposição a temperatura elevada, baseada no estudo da equação de ARRHENIUS, a
qual, porém, só é inteiramente válida para os sistemas líquidos homogéneos ou heterogéneos, como
adiante se demonstrará (Ver ESTABILIDADE DOS MEDICAMENTOS). Entretanto, acrescentamos que, em muitos
casos, como nós próprios verificámos, é possível predizer, com certa aproximação, qual o prazo de
validade de uns comprimidos quando submetidos a ensaios de decomposição acelerada.
A Farmacopeia Britânica, que inscreve uma lista de produtos de curto prazo de validade,
menciona, entre eles, os comprimidos de trinitrina, cuja vida terapêutica estipula em um ano. O
Formulário Galénico Nacional indica, para cada fórmula, o respectivo prazo de validade.
aconselhável para acondicionar penicilina. Do mesmo modo, seria inteiramente reprovável guardar
comprimidos de urotropina, estreptomicina ou cloreto de sódio em recipientes de folha de Flandres
ou de ferro, não sendo aconselhável acondicionar comprimidos contendo essências em frascos de
polietileno, etc.
Por outro lado, recomenda-se que os comprimidos de reduzidas dimensões sejam guardados em
pequenos frascos, para que o peso exagerado ou a fricção os não deteriorem. Em cada frasco convém
introduzir uma substância exsicadora, de modo a evitar a acção da humidade, sendo vulgar
empregar-se o gele de sílica, corado pelo cloreto de cobalto, que funciona como um indicador e nos
orienta quanto à quantidade de humidade absorvida. A sua regeneração é fácil, bastando aquecer a
lóO^C, até mudança da cor rósea (humidade) para azul. Alguns frascos são equipados com
substâncias exsicadoras, geralmente introduzidas na sua tampa. Quando isso não sucede pode intro-
duzir-se, no frasco em questão, um pequeno saco de pano, contendo o gele de sílica ou outra
substância exsicante apropriada.
A escolha da embalagem definitiva é igualmente um problema da maior importância mas, como
atrás acentuámos, as alterações nos sistemas sólidos heterogéneos ocorrem em grau diminuto se as
compararmos com as que se registam no seio dos líquidos.
Se, porém, algumas decomposições se observam, devem-se, regra geral, à acção da humidade e da
luz. Compreende-se, assim, a excepcional importância de que se reveste a escolha da embalagem,
pois condicionando, em larga medida, a vida do produto, deve, por conseguinte, ser feita com o
maior critério, de forma a evitar possíveis alterações nos comprimidos a que se destina.
Claro está que, em todos os casos, as embalagens devem ser hermeticamente fechadas e
impermeáveis aos gases e à humidade atmosférica.
Podemos dizer que as embalagens destinadas aos comprimidos são fundamentalmente de dois
tipos, consoante se destinam a acondicionar, separadamente ou em conjunto, uma ou mais unidades:
unitárias e múltiplas.
As embalagens unitárias encontram-se difundidas em larga medida, dado que são económicas,
muito práticas e mais adequadas para a maioria dos comprimidos. Neste tipo de acondicionamento o
comprimido é apresentado individualmente em carteiras de papel ou películas termocoláveis de
diferentes materiais. Naturalmente que o papel é o material menos aconselhável, dado que não é
impermeável.
O processo das películas termocoláveis é, a todos os títulos, o melhor, usando-se, assim, o
celofane transparente ou opaco, o alumínio revestido de verniz, o polietileno, o papel revestido de
polietileno, etc. Segundo este processo, os comprimidos são acondicionados em cintas que se fecham
com auxílio de máquinas próprias, pelo calor e pressão, ou por alta frequência. Algumas das
máquinas utilizadas no acondicionamento proporcionam a extracção do ar no momento da
termocolagem. Para que o vácuo criado se mantenha é, porém, necessário que o material da fita não
seja poroso e apresente elevada resistência, como sucede com o policel. Frequentemente a embalagem
é feita em fita termocolável, mas pode ser constituída por uma placa que contém uma
754
-• - : ^ •"'
<***'
Flg. 286. Máquina de contar comprimidos (King triumph)
Existem
permitem nesta máquinainstanlanemente,
seleccionar, três interrupções rotativas
qualquer lote que
de
comprimidos
um ponto entre 1 que
luminoso e 1000. Cadaa válvula
permite de contagem
comprovação visual tem
da
contagem.
Na indústria o enchimento dos frascos e tubos pode ser feito por intermédio de máquinas
apropriadas que contam os comprimidos. Os modelos são muito variados, desde simples planos
inclinados de contagem mecânica, até às máquinas rotativas em que a contagem é efectuada por
dispositivos com células fotoeléctricas, sendo os impulsos transmitidos a um contador electrónico
que acciona um relais. Na Fig. 286 reproduzimos uma máquina de contagem de comprimidos.
757
(') No PDR (Physicians' Desk Reference) dos Estados Unidos da América do Norte incluem-se,
(i.ïra identificação dos produtos especializados, quadros onde cada comprimido é apresentado nas
dimen
sões í- cores próprias. ,
759
Acrescentamos, por último, que a determinação das medidas nos dá. por vezes, indicações a
respeito do estado de conservação da fórmula. É o que acontece com comprimidos efervescentes, que
aumentam o diâmetro sempre que principiam a decompor-se por terem absorvido humidade.
4) Uniformidade de massa — É evidente que uma das regulações mais importantes das máquinas
de compressão consiste no ajustamento do peso dos comprimidos, o qual é dado por um processo
volumétrico, função da capacidade da câmara de compressão.
Como já acentuámos, na prática é impossível conseguir que todos os comprimidos de um mesmo
lote apresentem pesos rigorosamente iguais. O intervalo de variação diminui à medida que aumenta
o peso dos comprimidos.
A fim de acertar o peso, pesam-se várias unidades, geralmente 20, observando-se se o valor da
média se afasta dos limites de tolerância estabelecidos.
As farmacopeias e formulários marcam os limites de tolerância a observar, os quais são função
do peso teórico dos comprimidos, sendo a percentagem de tolerância tanto maior quanto menor for
esse peso, como se pode ver nas tabelas LXXXIII, LXXXIV e LXXXV.
Comprimidos Tolerância
Até 80 mg ('•' . ± 10%
De 80 a 250 mg ± 7,5%
De peso igual ou superior a 250 mg ± 5%
Comprimidos Tolerância
Até 150 mg " ± 7,5%
De peso igual ou superior a 150 mg ± 5,0%
760
De qualquer modo, todas as farmacopeias são unânimes em especificar gue não mais de 10% dos
comprimidos pesados se afastem da média determinada numa percentagem superior à estabelecida, mas
que não deve haver nenhum cujo peso médio se afaste de mais do dobro dessa percentagem.
O número de unidades tomadas para ensaio de peso é, igualmente, variável, mas, em regra, é de 20
comprimidos. Por razões óbvias, o número de comprimidos deveria aumentar à medida que diminui o
peso individual, de acordo com a Tabela LXXXVI.
A Farmacopeia Portuguesa V manda pesar, em todos os casos, 20 comprimidos. De modo idêntico procede
a USP e a BPh. Já as Farmacopeias Dinamarquesa, Norueguesa e Helvética recomendam 100 comprimidos,
enquanto que a Finlandesa aconselha 50 e o Codex 10.
Na Tabela LXXXVII inscrevemos as normas estipuladas pelas farmacopeias Britânica, Americana,
Helvética e Portuguesa.
novo. O diagrama obtido (carta de controlo) revela, portanto, o valor dos pesos médios (A) e da
amplitude (B).
A carta de controlo é, pode dizer-se, imprescindível quando se comprimem grandes quantidades
de matéria-prima. Nessas circunstâncias, tem imenso interesse determinar, com rigor, o grau de
precisão do trabalho executado, quer na granulação, quer na compressão. A realização deste
objectivo só pode ser conseguida correctamente pela aplicação do cálculo estatístico.
Para isso, é pesado um número de comprimidos suficientemente representativo e a partir dos
valores encontrados calcula-se o desvio padrão e, por último, os limites de confiança.
Relatamos, seguidamente, os resultados obtidos com comprimidos de aminofilina com
pentobarbital (peso teórico 0,3 g) que foram por nós ensaiados.
Pesámos, individualmente, 40 comprimidos, com uma aproximação até 0,1 mg. Com esses valores
calculámos o peso médio dos comprimidos e seguidamente avaliámos a diferença entre o peso de cada
comprimido (X) e o seu peso médio (X). Esses resultados foram quadrados, procedendo-se ao seu
somatório. A cifra correspondente ao somatório foi dividida por AM pesagens, isto é, por 39,
calculando-se a raiz quadrada do número obtido, o que nos conduziu ao valor do desvio padrão.
A média dos pesos foi de 0,2978; o somatório dos quadrados das diferenças Z A2 = 0,00057363.
2 A2 0,00057363
Variância = ———— — —————————
39
a que, por vezes, se preparem comprimidos apresentando elevado tempo de desagregação. Esse assunto
será tratado adiante (ver formas farmacêuticas de acção prolongada).
Resumindo, poderemos dizer que a velocidade de desagregação exigida a um comprimido deve
depender da acção medicamentosa e da matéria-prima, sendo lógico, portanto, estabelecerem-se tempos
de desagregação diferentes, consoante os fármacos utilizados. Este modo de proceder é adoptado por
alguns códigos, como a farmacopeia dos Estados Unidos e a farmacopeia Britânica. Já entre nós admite-
se sempre o mesmo tempo de desagregação para todas as variedades de comprimidos.
Tem-se procurado estabelecer uma fórmula que relacione a velocidade de desagregação com
determinadas características dos comprimidos. É, assim, muito conhecida a equação de HIGUCHI, segundo
a qual a velocidade de desagregação dependeria da porosidade ou percentagem de espaços vazios que é
susceptível de ser calculada em função do diâmetro médio do poro e da superfície específica, isto é, da
relação entre a superfície dos comprimidos em cm2 e o seu volume em ml, de acordo com o que se disse na
pág. 733.
A citada determinação é susceptível de ser realizada com aparelhagem complicada, tendo sido
verificado que a porosidade representa 1,9-2,6% do volume total em comprimidos de cloreto,
brometo ou iodeto de sódio.
Julgamos que o estudo dos tempos de desagregação só pode ser devidamente controlado por
ensaios in vivo, tendo sido executadas algumas provas desse tipo em que se segue a desagregação
através de um exame radiográfico.
Por razões de ordem prática e até de economia, os ensaios estabelecidos para avaliar o tempo de
desintegração consistem essencialmente em colocar o comprimido ou comprimidos em contacto com a
água pura ou adicionada de ácido clorídrico e de pepsina, a determinada temperatura, calculando o
tempo necessário para que se dê a desagregação.
As condições estabelecidas pêlos diversos códigos são muito variáveis, servindo-se alguns de
material rudimentar, enquanto outros lançam mão de aparelhagem bastante complicada. Em face
das várias modalidades operatórias, passemos uma rápida vista de olhos sobre o que está
consignado nas principais farmacopeias, analisando o assunto de diversos pontos de vista.
Número de comprimidos submetidos ao ensaio — Nem todas as farmacopeias se referem ao
número de comprimidos que se deverá utilizar em cada ensaio. Para aquelas que o especificam pode,
contudo, dizer-se que esse número vai de l a 6. Parece-nos que um exame simultâneo de várias
unidades é preferível, para evitar causas de erro, a uma análise executada apenas sobre um
comprimido. Acresce ainda que, depois dos trabalhos de VOLCKERINGER sobre a sulfanilamida, está
demonstrado que comprimidos provenientes de um mesmo lote podem apresentar características de
desagregação completamente diferentes. Não obstante este óbice, encontrámos as farmacopeias Argen-
tina de 1943, Japonesa de 1951 e Helvética de 1934 operando apenas sobre uma unidade. Executa o
ensaio sobre dois comprimidos a farmacopeia Jugoslava de 1951 e
765
a que, por vezes, se preparem comprimidos apresentando elevado tempo de desagregação. Esse assunto
será tratado adiante (ver formas farmacêuticas de acção prolongada).
Resumindo, poderemos dizer que a velocidade de desagregação exigida a um comprimido deve
depender da acção medicamentosa e da matéria-prima, sendo lógico, portanto, estabelecerem-se tempos
de desagregação diferentes, consoante os fármacos utilizados. Este modo de proceder é adoptado por
alguns códigos, como a farmacopeia dos Estados Unidos e a farmacopeia Britânica. Já entre nós admite-
se sempre o mesmo tempo de desagregação para todas as variedades de comprimidos.
Tem-se procurado estabelecer uma fórmula que relacione a velocidade de desagregação com
determinadas características dos comprimidos. É, assim, muito conhecida a equação de HIGUCHI, segundo
a qual a velocidade de desagregação dependeria da porosidade ou percentagem de espaços vazios que é
susceptível de ser calculada em função do diâmetro médio do poro e da superfície específica, isto é, da
relação entre a superfície dos comprimidos em cm2 e o seu volume em ml, de acordo com o que se disse na
pág. 733.
A citada determinação é susceptível de ser realizada com aparelhagem complicada, tendo sido
verificado que a porosidade representa 1,9-2,6% do volume total em comprimidos de cloreto,
brometo ou iodeto de sódio.
Julgamos que o estudo dos tempos de desagregação só pode ser devidamente controlado por
ensaios in vivo, tendo sido executadas algumas provas desse tipo em que se segue a desagregação
através de um exame radiográfico.
Por razões de ordem prática e até de economia, os ensaios estabelecidos para avaliar o tempo de
desintegração consistem essencialmente em colocar o comprimido ou comprimidos em contacto com a
água pura ou adicionada de ácido clorídrico e de pepsina, a determinada temperatura, calculando o
tempo necessário para que se dê a desagregação.
As condições estabelecidas pêlos diversos códigos são muito variáveis, servindo-se alguns de
material rudimentar, enquanto outros lançam mão de aparelhagem bastante complicada. Em face
das várias modalidades operatórias, passemos uma rápida vista de olhos sobre o que está
consignado nas principais farmacopeias, analisando o assunto de diversos pontos de vista.
Número de comprimidos submetidos ao ensaio — Nem todas as farmacopeias se referem ao
número de comprimidos que se deverá utilizar em cada ensaio. Para aquelas que o especificam pode,
contudo, dizer-se que esse número vai de l a 6. Parece-nos que um exame simultâneo de várias
unidades é preferível, para evitar causas de erro, a uma análise executada apenas sobre um
comprimido. Acresce ainda que, depois dos trabalhos de VOLCKERINGER sobre a sulfanilamida, está
demonstrado que comprimidos provenientes de um mesmo lote podem apresentar características de
desagregação completamente diferentes. Não obstante este óbice, encontrámos as farmacopeias Argen-
tina de 1943, Japonesa de 1951 e Helvética de 1934 operando apenas sobre uma unidade. Executa o
ensaio sobre dois comprimidos a farmacopeia Jugoslava de 1951 e
766
Temperatura a que é conduzido o ensaio — Em princípio parece que a temperatura de 37°C seria
a indicada, já que representa a temperatura fisiológica. Alguns códigos prescrevem, contudo,
temperaturas ligeiramente superiores, como a Farmacopeia Dinamarquesa (38-39°C) e a Sueca
(40°C). A U.S.P. tolera valores que vão de 35 a 39°C, ao passo que a Farmacopeia Portuguesa V
estipula que a temperatura do líquido de desagregação esteja compreendida entre 36 e 38°C. Já a
Farmacopeia Belga prescreve, com critério pouco defensável, a temperatura da água tépida, que não
especifica de modo preciso. O Codex de 1949, depois de demorados trabalhos devidos a VOLC-
KERINGER, preconizava a temperatura normal a 20°C que entendeu ser a mais fácil de conseguir. Não
nos devemos, contudo, esquecer que, como o próprio autor confessa, as variações de temperatura
podem arrastar variações do tempo de desagregação que vão de 20 a 50%. Talvez por estas razões a
Farmacopeia Francesa de 1965 mande utilizar água (350 ml) aquecida a 37° ± 2°C.
Tempos de desagregação — São normais períodos de tempo variando entre 10 e 15 minutos como
necessários para a desagregação dos comprimidos. As Farmacopeias Dinamarquesa, Chilena e
Russa prescrevem o tempo de 10 minutos. Outras, como a Helvética, Argentina, Portuguesa IV e
Britânica, indicam o período de 15 minutos. A tendência actual é aumentar os tempos de
desagregação para este último valor, ou ainda para cifras mais elevadas, visto estar provado que
períodos de tempo de cinco minutos, como alguns códigos chegaram a prescrever, são insuficientes
para a maioria dos comprimidos. Assim, o Codex de 1965 estabelece o período de 45 minutos como
limite de tempo de desagregação para comprimidos normais.
Em face, porém, do tempo de desagregação ser dependente, além da técnica de fabrico, da
natureza dos fármacos, parece-nos que seria preferível estabelecer períodos de tempo de
desagregação variáveis com a substância medicamentosa. É afinal o que fazem a U.S.P. e a F. P. V,
onde se encontra discriminado, a propósito de cada espécie de comprimidos, o tempo máximo
permitido para a sua desintegração. Assim, para fazermos uma ideia da variabilidade desses
períodos, diremos apenas que na U.S.P. XVI eles oscilavam entre 5 minutos para o ácido
acetilsalicílico e i hora para o suifato de neomicina. Também na Farmacopeia Portuguesa V se
indicam tempos de desagregação de 15 minutos, para os comprimidos de etinilestradiol, de 30
minutos, para a carbamazepina e a piridoxina, entre outros e de 60 minutos para a griseofulvina, a
neomicina e o verapamil.
Na Farmacopeia Britânica encontramos também exemplos desta orientação quando se foge à
regra geral de 15 minutos, mencionando-se o período de meia hora para os comprimidos de luminal
e de barbital, e de 3 minutos para a aspirina.
Técnica operatória — Algumas farmacopeias operam em matrás ou balão, adicionando os
comprimidos ao volume de líquido e agitando, lentamente, à temperatura estabelecida. Findar-se-á a
operação quando os comprimidos estiveram desagregados. Quanto a isto, parece-nos que se deveria
definir melhor nalguns códigos o que se
767
entende por comprimido desagregado. Muitas vezes acontece a quem faz esta determinações não saber se
há-de considerar o ensaio terminado, visto os comprimidos se desfazerem em fragmentos irregulares.
Para evitar este inconveniente mandam as Far-macopeias Francesa, Norte-Americana e Portuguesa V
usar uma rede metálica cuja malha é de 2 mm. O processo, aliás não é novo, tendo aparecido pela
primeira vez na Farmacopeia Alemã 5.° edição, de 1926.
Outro facto que carece ser considerado é o ritmo de agitação, estabelecendo a U.S.P. e a
Farmacopeia Portuguesa V um vai-vém de 28 a 32 agitações por minuto.
O método da Farmacopeia Britânica de 1953 consistia em colocar os comprimidos em tubos com água,
fazendo com que o comprimido passasse de um a outro extremo do tubo sem, contudo, embater nas suas
paredes. MARCUS EI.LIS propõe para a agitação dos comprimidos um dispositivo especial que imprime aos
tubos 28 rotações por minuto.
No processo descrito por BORASI os comprimidos são submetidos à acção de uma bomba aspirante-
premente que trabalha, na parte correspondente ao estômago, a 10 rotações por minuto e na porção
destinada a representar o intestino, a 16 rotações no mesmo período de tempo.
CASADIO, reportando-se a CALAMARI e ROOTH, propõe operar em aparelho totalmente susceptível de ser
montado com as escassas possibilidades da pequena oficina farmacêutica. Traia-se de um conjunto
constituído por um copo sem bico, contendo 250 ml de água, ao qual se adaptou uma rolha de borracha
perfurada por 3 tubos. Os tubos laterais são do mesmo diâmetro, destinando-se o primeiro a contactar
com o ar que borbulhará no seio da água ao ser aspirado pelo segundo, que se liga a uma trompa de
vazio. O tubo central, de 25 mm de diâmetro, termina por uma pequena rede com 4 malhas por
centímetro e destina-se a conter o comprimido em ensaio. A intensidade do vazio efectuado deve poder
regular-se por intermédio de uma torneira que se liga à trompa e será condicionada de tal modo que
borbulhem na água 120 bolhas de ar por minuto. Como se vê, neste método a agitação é constante e em
condições semelhantes às fisiológicas. Por outro lado, a presença da rede indica-nos, de modo preciso, o
fim do ensaio. Parece, pois, que o mencionado processo pode dar bons resultados práticos na
determinação do tempo de desagregação dos comprimidos. Como inconveniente só lhe pode ser apontado
o facto de se trabalhar apenas com uma unidade e, portanto, obrigar a repetir a operação para que o
analista fique com a certeza de que o acaso não influiu nos resultados (Fig. 289).
A Farmacopeia Portuguesa V inscreve um método para apreciar a desagregação dos comprimidos
baseado na aplicação de um conjunto rígido que suporta 6 tubos cilíndricos de vidro e em cuja placa
inferior está fixada uma rede metálica de fios de aço inoxidável com abertura de malha de 2 mm. O
cesto, contendo 6 comprimidos, deverá movimentar-se no líquido de desagregação (36-38°C), durante
o ensaio, num
768
Hede de
4 malhas1
por crr
tubos de vidro, abertos nas duas extremidades. Em cada um desses tubos é lançado um comprimido
a ensaiar.
No mercado encontra-se um aparelho que permite fazer o ensaio, tendo a vantagem de ser
inteiramente automático e de registar o período de desagregação. Trata-se do aparelho Erweka
(agitação mecânica pendular; 54 movimentos por minuto; 8 movimentos de 4 mm de amplitude,
seguidos de l de 20 mm; peso de 10 gramas aplicado sobre os comprimidos). Este aparelho,
apresentando movimentos pendulares, é dos que melhor reproduz a desagregação in vivo, já
que os movimentos gástricos são normalmente desse tipo. A Fig. 291 reproduz um aparelho
Erweka.
Da análise sumária destes métodos salientamos as seguintes
características que julgamos deverem ser observadas: 1)
padronização do ritmo e tipo de agitação utilizados; 2) existência de
uma rede, sobre a qual são colocados os comprimidos,
cuja abertura de malha é de 2-3 mm; 3)
emprego de água destilada aquecida a
37° ± 2°C; 4) utilização, em todos os o0
ensaios, do mesmo volume de água; 5)
estabelecimento de tempos limites de
desagregação, de acordo com a Flg. 290. Cesto para
natureza do fármaco ou fármacos apreciar a
constituintes dos comprimidos; 6) desagregação de
comprimidos
1
emprego de, pelo menos, 5 agitação vertical;— Haste que permite a
comprimidos em cada ensaio.
6) Ensaio de dissolução — Uma das provas mais importantes para se saber das qualidades de
uma preparação sólida consiste na determinação da sua velocidade de dissolução. Tal medida
orienta muito melhor o técnico do que o conhecimento da velocidade de desagregação, único método
utilizado até há alguns anos para apreciar a qualidade de comprimidos ou de cápsulas no que diz
respeito à libertação dos seus princípios activos.
Naturalmente que o teste de dissolução poderia ser aplicado a todos os tipos de comprimidos,
qualquer que fosse o seu princípio medicamentoso. Entretanto, compreende-se que o ensaio tenha
maior interesse para apreciar os compostos pouco solúveis na água. É por isso que a USP XX não
obriga à execução do referido ensaio para todos os comprimidos, mas apenas para aqules cujos
fármacos apresentem muito fraca hidrossolubilidade. Assim, o teste é exigido naquele código para
comprimidos de aceto-hexamida, dexametasona, digitoxina, meprobamato, metandroestenolona,
metilpred-nisolona, nitrofurantoína, prednisolona, sulfato de quinidina, sulfametoxazol, bem como
770
Fig. 294. Métodos de dissolução SINK ou de esgotamento (meio de dissolução com menos de 10% do dissolvido;
Cs muito maior do que C)
l Absorção; b) Separação; c) Diálise com célula rotativa; d) Diálise com frasco rotativo;
e) Diálise com célula oscilante As flechas pontilhadas indicam a direcção da matéria
dissolvida
773
A USP XXII, que em regra manda utilizar o aparelho I para os ensaios de dissolução, indica nas
monografias respectivas a forma de executar o teste, estabelecendo para cada caso os limites de
aceitação. Com certa frequência estabelece-se que após 30-40 minutos de agitação se tenham dissolvido
60-80% do princípio medicamentoso libertado.
Semelhantes a estes dois aparelhos são os indicados pela Farmacopeia Portuguesa V, que os designa
como aparelho com pá agitadora e aparelho com cesto de rede (Fig. 295).
774
O ensaio é executado sobre ura comprimido, em cuja monografia se deve indicar, entre outras
características, o tipo de aparelho a utilizar, a composição e o volume do líquido de dissolução, a
velocidade de agitação e a quantidade de substância activa que deve dissolver-se ao fim de um
determinado intervalo de tempo.
CARSTENSEN, em 1977, propôs uma diferenciação entre a dissolução de comprimidos preparados por
granulação a seco ou a húmido. Com efeito, quando os comprimidos são obtidos por compressão directa
ou por dupla compressão, a dissolução dos seus princípios activos segue a chamada lei da raiz cúbica,
enquanto que os comprimidos preparados por granulação a húmido se desintegram previamente em grãos
porosos ou pouco porosos os quais libertam os fármacos segundo uma mecânica diferente.
Consideremos o primeiro caso, isto é, o dos comprimidos obtidos por granulação a seco. Neste tipo de
preparação a desagregação origina imediatamente partículas de fármaco que tendem a dissolver-se de
acordo com a equação da raiz cúbica de HIXSON--CROWELL.
vvy3 - w3 = R (t-t,)
em que tt é o tempo de desagregação, Wo a quantidade de fármaco existente inicialmente, W a quantidade
de fármaco não dissolvida ao fim do tempo t e R uma constante de dissolução (velocidade média da raiz
cúbica de dissolução). R pode calcular-se determinando-se o peso (W) de fármaco que se não dissolver em
tempo determinado, como 10, 20, 30, 40 ou 50 minutos, após a desagregação, uma vez que é conhecido
Wa, já que este corresponde à quantidade inicial de fármaco:
W"3 - W"3 R = ——-—————
Suponhamos, por exemplo, uns comprimidos de sulfonamida com o peso inicial de 500 mg os quais
levaram 10 minutos a desagregar, em 1000 ml de água. Ao fim de 20, 30 e 40 minutos procedeu-se à
determinação da quantidade de sulfonamida dissolvida, 3tendo-se encontrado as concentrações que
referimos na Tabela LXXXVIII, o que permitiu calcular (W^' - W"3) e R.
Tabela LXXXVIII. Dissolução de uma sulfonamida a partir de comprimidos granulados a seco
Tempo Concentração Peso não
(min) (mg. mi~') dissolvido (g) W a" 3 - W" R
10 0 0,5 0 —
20 0,240 0,260 0,150 0,0150
30 0,392 0,108 0,310 0,0155
40 0,471 0,029 0,487 0,0162
R (médio) = 0,0156
775
Já quanto aos comprimidos obtidos por granulação a húmido a dissolução processa-se segundo um
esquema diferente. Ainda segundo CARSTENSEN, a desagregação pode originar grãos porosos ou pouco
porosos. No primeiro caso aquele investigador admite que a dissolução se faz por difusão no líquido de
desagregação, dependendo do volume e do tempo de penetração do líquido nos poros.
Em relação aos grãos pouco porosos é fundamentalmente importante o tempo de penetração do líquido
de desagregação nos poros, parecendo ser secundário o fenómeno da difusão. A quantidade de fármaco
dissolvido (Q) por unidade de superfície é dependente da porosidade (e) e da fracção de fármaco nos
grãos ou no comprimido (B) de acordo com a seguinte equação:
Q = (K'Bet)l/2
sendo t o tempo e , .
K' = 2 Cs K
(recordemos que Cs é a concentração do fármaco dissolvido na camada de difusão e K o seu coeficiente de
difusão).
Exemplificando, suponhamos que uns comprimidos não porosos continham 150 mg de fármaco 2e 250
mg de excipiente, ambos com a densidade de 1,2. Cada comprimido tinha uma superfície de l ,5 cm e um
volume de 0,35 cm3. Interessava-nos calcular K' e saber qual a quantidade (Q) de fármaco que se poderia
dissolver por unidade de superfície, ao fim de 30 minutos.
Admitamos que laboratorialmente se verificou libertarem-se 100 mg de fármaco de cada comprimido,
decorridos 10 minutos de ensaio.
A quantidade total de fármaco + excipiente é de 400 mg e o volume correspondente a esta massa será,
portanto, de 0,4 : 1,2 = 0,33 cm3. Como o volume do comprimido era de 0,35 cm3
, o espaço nele ocupado
pelo ar era de 0,35 - 0,33 = 0,02 cm3, o que representa uma porosidade (e) de 0,02 : 0,35 = 0,057 ou
5,7%.
Aplicando a equação anteriormente transcrita virá:
r 15° n
2
100 mg.cm- = K' ———— (0,057) (10 min) '•'',
L 4(YI J
donde
100
(K')1/! = —— = 216,5 e 0,462
"'• • " ' K' = 216.52 = 46 872 mg2 . cm'4 . min'1
Ao fim de 30 minutos a quantidade de fármaco que se poderia dissolver seria dada por:
150
1DU
r i i/
Q =|46872 46872 ———— (0,057(30) '•'' = V 30056,7 = 173,4
40 1 - 4 0 0 J
776
o que significa, portanto, que decorridos os 30 minutos já todo o fármaco de um comprimido se teria
dissolvido.
Para lá dos ensaios de desagregação deve, também, pensar-se na dissolução dos princípios activos
contidos nas drageias. Nos casos mais simples a drageificação foi apenas efectuada com a finalidade de
preservar o fármaco ou fármacos da humidade ou da degradação fotolítica. Nessas circunstâncias, cedida a
camada de revestimento, tudo se passa como indicámos a propósito dos comprimidos, feitos por granulação a
seco ou a húmido e, neste caso, considera-se, ainda, a porosidade relativa dos grãos constituintes. Algumas
vezes a drageificação terá sido executada para evitar a desagregação gástrica, mas a camada de
revestimento deverá ser libertada em suco entérico artificial, por saponificação, por influência do pH, por
hidrólise, etc. Assim, o comprimido fica livre do seu revestimento e tudo se passará depois como para o
tipo de drageias a que anteriormente nos referimos.
Um terceiro caso pode, porém, surgir. Trata-se das drageias cujo revestimento foi executado para
prolongar a libertação do fármaco, conseguindo-se uma acção terapêutica que dure mais tempo. Com efeito,
neste último tipo de drageias deve ter-se uma porção de fármaco que rapidamente seja posta em contacto
com o líquido intestinal (dose de acção imediata) e outra porção, fixada por adsorção a excipientes ou
matrizes inertes, que só muito lentamente vai sendo cedida, o que proporciona um efeito terapêutico que pode
ser mantido por várias horas (dose de manutenção). A libertação do fármaco deve ser regular e obedece a
uma cinética diferente das que apontámos. De uma forma geral, a percentagem do volume de líquido que
penetra e dissolve o fármaco contido numa matriz inerte é proporcional à raiz quadrada do tempo. Quer isto
dizer que a quantidade de fármaco dissolvido (Q) é proporcional a t"2 de acordo com a seguinte equação
Q = K t'/2 ou Q = K VT
sendo K uma constante que representa a inclinação da linha obtida ao tomar em ordenadas a percentagem de
fármaco libertada e em abcissas a raiz quadrada do tempo, expresso em minutos. GOODHART et ai. e PARNAROWSKI
apresentaram dois estudos sobre este assunto.
7) Resistência — Naturalmente que os comprimidos devem apresentar uma resistência suficiente para
não quebrarem, quer durante as operações que precedem o acondicionamento, quer durante a
armazenagem. Esta propriedade mais desejável é, ainda, quando os comprimidos se destinam a serem
revestidos, isto é, quando constituem uma fase da preparação das drageias. E se bem que a avaliação da
resistência não se encontre habitualmente incluída nas Farmacopeias, constitui uma preocupação real das
várias comissões que as elaboram. Por isso se refere, na monografia de comprimidos da Farmacopeia
Portuguesa V, que «devem oferecer resistência suficiente para permitir que sejam submetidos às diversas
manipulações sem esmigalharem ou partirem».
777
uma equação que permite relacionar a dureza de um sólido comprimido (F) com a porosidade (P) do
material que lhe deu origem:
Fr = K L~a exp. f')
em que L é o tamanho médio dos grânulos e b, K e a são constantes empíricas. Todavia, a citada
igualdade não pode ser aplicada às substâncias que, como o ácido acetilsalicflico, apresentem maior
dureza individual dos cristais do que a produzida pelas forças de ligação entre eles.
A dureza de um comprimido é pr
oporcional ao logaritmo da força de compressão e inversamente proporcional à porosidade daquele.
Quanto maior for a força de compressão usada na produção de comprimidos, tanto menos porosos e
mais duros estes se apresentarão. Desta forma, compreende-se que na medida em que se eleve a força de
compressão obteremos comprimidos mais resistentes e menos porosos, acarretando esta diminuição de
espaços vazios um maior período de desagregação. Nas Figs. 296 e 297 indicam-se, respectivamente, as
variações entre dureza e força de compressão e dureza e porosidade, segundo HIGUCHI e colaboradores
(1953).
SHOTTON e GANDERTON estudaram também as relações entre a força de compressão, a dureza e a
porosidade de comprimidos. Na Tabela LXXXIX indicam-se as mencionadas relações.
779
Tabela LXXXIX. Relação entre a força de compressão, dureza e porosidade
Força de compressão Dureza
em kg/cm2 (médias) em kg Porosidade %
:
2020 10-13 7,55 '"•"-••'
1655 7,47 9,29 •'••'• ; v- '•
1375 5,82 10,86 ü ;
855 2,63 16,25 .„, ;.
530 1,58 19,92
Segundo A. Albuquerque e M. Irene Tavares — Rev. Port. Farm. 16, 374 (1966)
Tabela XCI. Comprimidos preparados com granulado B — relação entre a compressão, a resistência ao
esmagamento e a friabilidade
Compressão Resistência
(unidades ao esmaga- Tempo de rolamento (minutos)
empíricas) mento (g) 4 6 8 10 12 14
3,05 1.840 0,46 1,1 2,3 7,01 _ , __
3,10 3.190 0,37 0,56 0,73 0,99 2,1 '"—
Q"ai &
3,15 4.070 0,29 0,49 0,66 0,77 0,97 1,2 3 S?«i
3,20 4.970 0,25 0,72 0,94 1,04 1,3 1,4 §*'
3,25 5.420 0,20 0,94 0,97 1,3 1,4 1,5 £.8 f
3,30 6.660 0,54 0,71 0,82 1,8 1,9 2,06 S
Segundo A. Albuquerque e M. Irene Tavares — Rev. Port. Farm. 16, 374 (1966)
780
O estudo destas relações foi ainda efectuado por outros investigadores, como SEITZ e FLESSLAND.
Existem dispositivos capazes de determinar a dureza ou a friabilidade e, assim, a avaliação da dureza é
conseguida por intermédio de aparelhos nos quais o comprimido é submetido a uma determinada pressão,
até que se dê a sua ruptura.
Nestes aparelhos o comprimido é apertado entre um suporte e uma parte móvel que pode ser
impulsionada por uma força constituída por pesos, por molas ou por ar comprimido. No dispositivo de
SYLVIO CIMINO, que é uma modificação do método de BERRY ou de PAMPLONA MONTEIRO, citados por MONTENEGRO,
a força é constituída por pesos, ou por pesos e aceleração da gravidade. No primeiro destes aparelhos a
compressão é radial (Fig. 298), mas no segundo é axial (há uma peça que cai sobre o comprimido,
colocado em posição horizontal).
Tabela XCII. Relação entre o peso dos comprimidos e a sua dureza (Monsanto)
Peso (g) : Dureza (kg)
< 0,015 0,4 "": _
: 0,015-0,075 0,8
0,075-0,150 1,4
0,150-0,300 3,0
0,300-0,450 4,5
> 0,450 6
A ERWEKA dispõe também de um aparelho que opera por peso exercido radial-mente sobre o
comprimido. A escala está graduada em unidades de 0,25 kg. Quando a pressão de esmagamento é
exercida pelo ar comprimido, este pode ser fornecido, por pressão pneumática, dada por uma bomba
manual. O aparelho Strong-Cobb aplica este princípio: o comprimido é colocado sobre um suporte ao
qual se ajusta uma peça móvel cuja força é dada pelo ar comprimido; a pressão pneumática exerce-se de
modo lento e gradual, sendo medida num manómetro, como se pode ver na Fig. 300. Cada unidade da
escala corresponde a 0,73 Kg.
As determinações executadas com este aparelho são mais exactas do que as
conseguidas com o de Monsanto em que, muitas vezes, a compressão da mola não
é proporcional à pressão por ela exercida. Na Tabela XCIII indicam-se as relações
entre o peso dos comprimidos e a pressão que devem suportar no aparelho Strong-
-Cobb. :~
782
Algumas vezes torna-se importante estabelecer uma relação, tanto quanto possível exacta,
relativamente às leituras dadas pêlos vários aparelhos que permitem determinar a dureza dos
comprimidos.
Na Tabela XCIV indicamos as equivalências entre os principais
instrumentos de medida da dureza actualmente utilizados.
No que diz respeito à Inabilidade dos comprimidos, interessa-nos, essencialmente,
considerar a resistência à agitação e a resistência ao rolamento. A resistência à
agitação determina-se nos moldes que indicámos para os granulados. Para isso
pode empregar-se o aparelho de NUTTER, que consiste num agitador onde se
colocam os comprimidos e que se move com um ritmo de 250 agitações por
minuto, percorrendo um espaço de 10 cm. Nestas circunstâncias, os comprimidos
são submetidos a 3750 agitações, em cada 15 minutos. Consideram-se bons os
comprimidos que, quando agitados durante 15 minutos, não libertam mais de
10% do seu peso, em pó. O ensaio realiza-se com 20 comprimidos, que se pesam
antes e depois da agitação, tendo o cuidado de separar o pó que se libertou, por
simples tamisação.
A resistência ao rolamento pode ser apreciada, facilmente, por meio de
diversos aparelhos, como o
de SPENGLER, que utiliza vários frascos, cheios de comprimidos, os quais submete a
um movimento de rotação de 145 voltas por minuto. O ensaio considera-se
terminado depois de efectuadas 10 000 voltas. O peso do pó e detritos separados
Fig. 300. Aparelho não deve ser superior a 10% do peso dos comprimidos de que se partiu.
Strong-Cobb para Outro aparelho, que está sendo muito usado entre nós, é o friabilómetro
apreciar a dureza de
Roche que consiste num cilindro de plexiglas, de 30 cm de diâmetro por 4 cm de espessura, o
Tabela XCIII. Relação entre o peso dos comprimidos e a sua dureza (Strong-Cobb)
Peso Dure
Ig) za
< 1,5
0, 3
1 *S
0,1 a 7,5
783
Tabela XCIV. Comparação das escalas de diferentes aparelhos destinados a determinar a dureza de
comprimidos
Aparelho Comprimento da escala Escala graduada em kg
percorrido por kg (cm)
qual é susceptível de rodar sobre o seu eixo, com uma velocidade de 25 voltas por minuto. O ensaio
realiza-se submetendo os comprimidos a 100 voltas (4 minutos). Uma espécie de espátula que existe no
aparelho recolhe os comprimidos e lança-os, em cada rotação, de uma altura de 15 cm. Como nos ensaios
antecedentes, determina-se o peso dos comprimidos (parte-se de 20 unidades), antes e depois do
rolamento, exprimindo--se a friabilidade em função da percentagem de pó separado (Fig. 301).
A experiência obtida com o emprego deste aparelho mostra que são apenas considerados bons, do
ponto de vista da inabilidade, os comprimidos que perdem menos de 0,8% do seu peso, quando submetidos
ao ensaio descrito. Observa-se, deste modo, que muitos comprimidos de superfície plana perdem mais de
1% do seu peso, o que não é aconselhável comercialmente tendo em conta os atritos que se notam durante
a armazenagem e o transporte, recomendando-se, por isso, que aqueles apresentem forma biconvexa. Por
outro lado, tem ainda interesse o método de granulação usado. A granulação a húmido origina granulados
menos friáveis do que a granulação a seco; interessa, também, que o desagregante seja granulado em
conjunto com os restantes componentes e não adicionado sobre um granulado já feito.
A Tabela XCV mostra a diferença de friabilidade de comprimidos de carbromal, sulfatiazol e luminal,
preparados segundo os três processos descritos.
Carbromal 2 39 49
Luminal ,* 3 14 12
Sulfatiazol 2 4 28
O controlo analítico dos fármacos tem imenso interesse, visto que os comprimidos podem apresentar
quantidades de princípios activos diferentes das indicadas na fórmula e não obstante terem um peso
regular, bastando que os pós a comprimir apresentem diferentes densidades para que sejam
desigualmente distribuídos.
Por outro lado, os princípios activos podem ser alterados, durante a armazenagem, pela acção da
luz, da humidade, do calor, ele.
Normalmente, tolera-se uma variação de princípios activos, em relação às quantidades anunciadas,
compreendida entre 88 e 110% (85-115%). De qualquer modo, em relação aos comprimidos oficinais,
as farmacopeias estabelecem, para cada caso, os limites de tolerância.
O número de comprimidos a usar em cada ensaio de dosagem dos princípios
activos é variável, dependendo, entre outros factores, do rigor do método aplicado. Em
regra, ensaia-se sobre 10 a 50 comprimidos que se reduzem a pó, o qual, depois de
bem homogeneizado, fornece uma amostra média com que se opera. A Farmacopeia
Portuguesa V indica que a amostra inicial deve ser constituída por 20 unidades, para
a maior parte dos casos, ou por 25, em alguns casos. - s.
O cálculo rigoroso do número de ensaios a efectuar é dado pela equação:
Se, por exemplo, pretendermos conhecer os resultados das dosagens com uma aproximação de 5%,
virá:
5 X 100
Como se compreende, à medida que a exigência aumenta haverá necessidade de efectuar maior
número de determinações. Deste modo, se pretendermos um rigor até 1%, teremos que efectuar mais
dosagens, já que o^ virá menor e, à medida que ele diminui, aumenta o valor de n, na fórmula indicada.
Determinado, portanto, «, se ele for maior do que W, teremos de efectuar ainda (n-N) ensaios para
atingir o grau de segurança pretendido.
A identificação e a dosagem dos constituintes dos comprimidos é realizada, como dissemos, por
métodos muito variáveis.
Actualmente, além dos processos clássicos, pode recorrer-se a técnicas mais fáceis e práticas, como as
titulações em meio anidro, a complexometria, a espectrofotometria no ultravioleta e no infravermelho e a
cromatografia líquida ou em fase gasosa.
Como técnicas preparativas mais recentes, citamos a extracção por contra-corrente e a separação
cromatográfica. Esta última poderá ainda realizar-se em coluna, em papel e em camada delgada, podendo
executar-se uma cromatografia preparativa.
Os ensaios de electroforese podem ainda servir para caracterizar e até dosear os constituintes dos
comprimidos.
No que diz respeito à tolerância, é aceite, regra geral, e como dissemos, uma variação entre 88-110%
da quantidade anunciada. Claramente que esta tolerância é motivada pela diminuição de teor de
princípios activos, pêlos erros inerentes ao doseamento, quer devidos à pequena quantidade de princípio
activo existente por comprimido, quer aos defeitos do método (processos biológicos dão resultados aproxi-
mados; processos espectrofotométricos ou volumétricos podem permitir um grau de rigor até 1-2%) e
pelas sobrecargas de princípios activos juntas por se prever uma quebra em função do tempo de
armazenagem.
Normalmente, comprimidos de fabrico e dosagem cuidadosa dão oscilações entre 95 e 105% da
quantidade anunciada, o que significa uma tolerância de 5%. Este valor é, no entanto, difícil de se
encontrar e é atendendo a isso que as farmacopeias são, regra geral, menos exigentes.
Entre os ensaios a que hoje se dá uma certa importância conta-se a uniformidade de teor em princípio
activo. Esta, como é evidente, depende, entre outras causas, da uniformidade do peso e é desejável que
seja mínima a variação encontrada em cada lote. Como é também lógico, a uniformidade de teor tem
tanto maior importância
787
quanto menor seja a quantidade de substância medicamentosa e é por isso que a USP manda averiguar a
uniformidade em todos os comprimidos, drageias ou cápsulas que contenham uma quantidade unitária de
fármaco inferior ou igual a 50 mg.
Em termos gerais, tendo-se tomado uma amostra de 30 comprimidos, 10 devem ser submetidos a um
ensaio individual e 9 em 10, pelo menos, devem ter teores entre 85-115% da média das tolerâncias, não
havendo nenhum que se situe fora de 75-125% dessa média. Se 2 comprimidos saírem destes limites
deverá proceder-se à análise individual dos 20 comprimidos restantes que devem satisfazer à localização
entre 85-115% da média aceite.
Também a Farmacopeia Portuguesa V obriga à realização do ensaio de uniformidade de teor em
comprimidos que contenham quantidades de princípio activo inferiores a 2 mg ou em que o fármaco
representa menos de 2 por cento da massa total da preparação. O ensaio não é exigível para preparações
polivitamínicas ou com oligoele-mentos e a sua realização dispensa a do ensaio de uniformidade de
massa.
Pelo que se disse, compreende-se a necessidade de identificar e dosear os princípios activos dos
comprimidos. A dosagem é executada por processos tanto quanto possível específicos do princípio em
causa, muitos dos quais vêm descritos nas farma-copeias e formulários. Outras vezes, porém, é necessário
recorrer à experimentação, pois que os métodos ofïcinais podem não ser aplicáveis à preparação em
causa, na qual podem existir substâncias que perturbem a dosagem.
No que diz respeito à identificação, se bem que geralmente seja fácil de executar, dado que se sabe de
que princípio ou princípios se trata, complica-se nalguns casos como, por exemplo, em intoxicações com
comprimidos desconhecidos.
COOPER (1954) estabeleceu uma série de provas químicas tão rápidas e simples quanto possível, não
necessitando de reagentes fora do comum e permitindo, em regra, determinar a natureza dum produto
desconhecido, sob a forma de comprimidos.
Como as reacções em tubo de ensaio exigem quantidades consideráveis de produto e também porque as
tentativas para obter um extracto aquoso são dificultadas pela presença de constituintes inactivos nos
comprimidos, que, podendo gelificar por aquecimento, obrigariam a filtrações, com perda de tempo, o
autor optou pelo ensaio da mancha sobre papel, o que evita essas complicações, assim como o uso de
reagentes muito enérgicos ou do calor. Após estes ensaios preli; linares sobre o papel, podem, no entanto,
realizar-se ainda outras provas de confirmação.
O método de ensaio proposto consiste no seguinte: extraem-se do interior do comprimido, para o caso
de se encontrar recoberto, alguns miligramas do produto, que é distribuído sobre cinco papéis
absorventes do tipo usado na cromatografia, lançando--se sobre ele algumas gotas dos cinco reagentes
adiante indicados. Nota-se a coloração que aparece e, se houver dúvidas, repete-se a adição. Deve
proceder-se depois a um prova de comparação com uma amostra do produto que for identificada, assim
como a um ensaio em branco com o papel que for utilizado na verificação. - ". . . • :
788
A — Piridina l ml, clorofórmio 9 ml (não se conserva mais de uma semana). B — Solução de acetato
Para preparar o reagente A + B, deitam-se duas gotas de A sobre a amostra e depois uma
gota de B, observando-se a cor à luz reflectida.
C — Solução aquosa de nitrito de sódio a 10% l ml, ácido clorídrico diluído 9 ml (deve preparar-se
no momento de emprego).
D — Solução aquosa de ácido iódico ou de iodato ácido a 20% (conserva-se durante um mês).
E — Solução aquosa de cloreto férrico a 1% (conserva-se durante um mês).
Na Tabela XCVI indicam-se, segundo COOPER, as reacções a efectuar para a identificação de vários
comprimidos.
Outros autores, como HEFFERREN e MARQUES LEAL, estabeleceram chaves dicotómicas, respectivamente para os
comprimidos que mais correntemente se utilizam na América do Norte e para diversas sulfamidas do nosso
mercado.
Quando se prepara uma fórmula de comprimidos deverá proceder-se ao estudo da sua estabilidade. Os
ensaios serão conduzidos a diferentes temperaturas e graus de humidade, de acordo com o que adiante se
relata (ver Estabilidade dos Medicamentos). Geralmente, aprecia-se a estabilidade conservando os
comprimidos na estufa a 25, 37 e 45°C. Por outro lado, é também conveniente observar o seu
comportamento quando em presença da humidade, para o que podem ser conservados, a cada uma destas
temperaturas, em recipiente saturado de humidade.
Nalguns casos, é ainda conveniente observar-se o comportamento dos comprimidos quando submetidos à
acção das, mdiações .visíveis e ultravioletas.
Sob esta rubrica não pretendemos apresentar um formulário onde o prático possa ir encontrar a
resolução de problemas específicos, mas apenas mencionar algumas fórmulas de comprimidos que
julgamos representativas desta preparação galénica.
789
Cloridrato de efedrina.................................. 50 g
Lactose .......................................................... 17 »
Amido de milho .......................................... 25 »
Solução de gelatina a 4% .......................... q.b.
Talco .................................................... q.b.p. 100 »
Humedeça a mistura da lactose, amido e cloridrato de efedrina com a solução de gelatina; granule e
seque na estufa a 40°C. Ajunte o talco e faça comprimidos com o peso médio de 0,10 g, utilizando punções
de cerca de 6 mm de diâmetro.
H-.; ' • :.
Pentobarbital sódico...................................... 100 g
Lactose .......................................................... 100 »
Amido ............................................................ 10 »
Cozimento de amido a 10% ...................... q.b.
Estearato de magnésio.................................. 3»
Talco .................................................... q.b.p. 230 »
Humedeça a mistura do pentobarbital, lactose e amido com o cozimento; granule e seque na estufa a
temperatura que não exceda 50°C. Misture as restantes substâncias e faça comprimidos com o peso médio
de 0,230 g, utilizando punções de cerca de 9 mm de diâmetro.
m
Fenolftaleína .................................................. 100 g
Lactose .......................................................... 150 »
Cozimento de amido a 10% ...................... q.b.
Estearato de magnésio.................................. 2»
Amido ............................................................ 20 »
Talco .................................................... q.b.p. 300 »
791
Humedeça a mistura da fenolftaleína e lactose com o cozimento; granule e seque na estufa a temperatura
inferior a 50°C; ajunte as restantes substâncias e faça comprimidos com o peso médio de 0,300 g,
utilizando punções de cerca de 10 mm de diâmetro. Observe-se que, nesta fórmula, ao contrário das
anteriores, se junta o amido, como desagregante, sobre o granulado já preparado.
Codeína .......................................................... 20 g
Terpina hidratada .......................................... 100 » '
:
Benzoato de sódio........................................ 250 »
Lactose .......................................................... 300 »
Amido ............................................................ 100 »
Cozimento de amido a 10% ...................... q.b.
Talco .............................................................. 40 »
Estearato de magnésio.................................. 10 »
Humedeça a mistura dos cinco primeiros componentes com o cozimento de amido; granule e seque na
estufa a temperatura inferior a 40°C; misture o talco e o estearato e faça comprimidos de peso médio de
0,820 g, utilizando punções de cerca de 14 mm de diâmetro.
792
VII
Metionina ...................................................... 500 g . .t
Lactose .......................................................... 200»
Solução de gelatina a 4% .......................... q.b. . ,,
Talco .............................................................. 5 8 » ~,
Estearato de magnésio.................................. 22 »
Humedeça a mistura da metionina e lactose com a solução de gelatina; granule e seque na estufa a
temperatura inferior a 40°C; misture o talco e o estearato e faça comprimidos de peso médio de 0,780 g,
utilizando punções de cerca de 14 mm de diâmetro.
vm
Adipato de piperazina .............................. 300 g
Amido........................................................ 70 »
Lactose ...................................................... 50 »
Manita........................................................ 30 »
Solução de gelatina a 20% .................... q.b.
Estearato de magnésio.............................. 7,5 »
Talco .................................................. q.b.p. 500 »
Humedeça a mistura do adipato, amido, lactose e manita com a solução de gelatina; granule e seque na estufa em
temperatura que não exceda 50°C. Ajunte as restantes substâncias e faça comprimidos com o peso médio de 0,500
g, utilizando punções de cerca de 12 mm de diâmetro.
793
XI
Pepsina .......................................................... 100 g
Cloridrato de betaína .................................... 400 »
Lactose .......................................................... 100 »
Amido ............................................................ 150 »
Cozimento de amido a 10% ...................... q.b.
Ácido esteárico em pó ................................ 16 g
Talco .................................................... q.b.p. 800 »
794
Humedeça a mistura da pepsina, cloridrato, lactose e amido com o cozimento. Granule e seque na estufa a
temperatura inferior a 30°C. Misture as restantes substâncias e faça comprimidos de peso médio de 0,800
g, utilizando punções de cerca de 14 mm de diâmetro.
xn
Folhas de beladona, em pó fino................ 10 g
Extracto de beladona.................................... 10 »
Fenobarbital .................................................. 20 »
Lactose .......................................................... 180 »
Amido ............................................................ 50 »
Carbonato de cálcio...................................... 3»
Gele de sílica................................................ 3»
Xarope comum.................. l
Água destilada .................. / aã (vol/vol) q.b.
Álcool ................................ J
Estearato de magnésio.................................. 3»
Talco .................................................... q.b.p. 300 >»
Dilua o extracto com cerca de 10 ml de água destilada e ajunte-o à mistura de pó de folhas com o
fenobarbital, lactose, carbonato de cálcio, gele de sílica e a trinta gramas de amido. Humedeça com a
mistura de xarope, água e álcool; granule e seque na estufa a temperatura inferior a 40°C. Adicione vinte
gramas de amido, o talco e o estearato. Faça comprimidos de peso médio de 0,300 g, utilizando punções
de cerca de 9 mm de diâmetro.
xm
Hidróxido de alumínio coloidal.................. 250 g
Trissilicato de magnésio .............................. 500 »
Fosfato tricálcico .......................................... 3 »
Amido de milho .......................................... 177 »
Agar-agar, em pó ........................................ 20 »
Sacarina sódica.............................................. l »
Ciclamato de cálcio...................................... 10 »
Solução de gelatina a 2% .......................... q.b.
Estearato de magnésio.................................. 15 »
Talco .................................................... q.b.p. 1000 »
795
Dissolva a sacarina e o ciclamato em q.b. de água e incorpore a solução assim obtida em 127 g de amido;
ajunte o hidróxido, o trissilicato, o fosfato e o agar-agar. Humedeça com a solução de gelatina, granule e
seque na estufa a temperatura que não exceda 40"C. Ajunte o estearato e o talco incorporados no amido
restante e faça comprimidos com o peso médio de l g, utilizando punções de cerca de 16 mm de diâmetro.
Estes comprimidos, que se utilizam como correctores da acidez gástrica, destinam--se a serem
dissolvidos lentamente na boca.
XIV
Ácido acetilsalicílico .................................... 80 g
Manita............................................................ 98 »,
Sacarina sódica.............................................. l »
Goma arábica ................................................ 4,5 »
Amido ............................................................ 11 »
Talco .............................................................. 8,5 »
Vanilina.......................................................... l » T -
Misture a manita com a sacarina e granule com mucilagem de goma arábica a 20%. Seque na estufa em
temperatura que não exceda 45°C. Misture com o ácido acetilsalicílico e, após homogeneização, adicione
o amido junto com a vanilina. Adicione o talco e faça comprimidos com o peso médio de 0,204 g,
utilizando punções de cerca de 9 mm de diâmetro.
Estes comprimidos destinam-se a serem mastigados.
XV
Cloridrato de tiamina.................................... 5
Riboflavina .................................................... 2
Nicotinamida.................................................. 20
Cloridrato de piridoxina .............................. 2
Pantotenato de cálcio.................................... 3
Lactose .......................................................... 75
Álcool ............................................................ q.b.
Amido ............................................................ 20
Talco .................................................... q.b.p. 150
796
Humedeça a mistura dos cloridratos, riboflavina, nicotinamida, pantotenato e açúcar de leite com o
álcool; granule e seque na estufa a temperatura inferior a 35°C. Ajunte as restantes substâncias e faça
comprimidos com o peso médio de 0,150 g, utilizando punções de cerca de 8 mm de diâmetro.
É conveniente adicionar um suplemento de 10% de cloridrato de tiamina, em relação à quantidade
discriminada na fórmula, já que esta substância se decompõe facilmente. Uma vez que o mononitrato de
tiamina é mais estável do que o cloridrato, este deve ser substituído por aquele sempre que isso seja
possível.
Os pantotenatos são também muito pouco estáveis, mesmo em preparações sólidas, recomendando-se
empregar um suplemento de 20% em relação à quantidade discriminada na fórmula.
XVI
XVII , •
Sulfato de isoprenalina ................................ 20 g
Glicose............................................................ 270 »
Etilenodiaminotetracetato de sódio .............. 0,12 »
Bissulfito de sódio........................................ 1,50 »
Gelatina.......................................................... 2 »
Água destilada .............................................. 40 »
Polietilenoglicol 6000 .................................. 3 »
Estearato de magnésio.................................. 3 »
Misture o sulfato de isoprenalina com a glicose, bissulfito e EDTA. Humedeça esta mistura com a solução
de gelatina em água. Granule e seque em estufa de vazio, primeiro a 35°C durante 5 horas e, depois,
sucessivamente, a 45, 55 e 65°C durante 5, 3 e 2 horas, respectivamente. Ajunte o estearato e o
polietilenoglicol 6000 e faça , comprimidos com o peso médio de 0,300 g, utilizando punções de cerca de 9
mm de diâmetro.
Esta preparação é muito delicada de executar dada a facilidade de oxidação do sulfato de
isoprenalina que origina um composto corado. Por este facto, incluiu-se na fórmula um redutor
(bissulfito) e um catalisador negativo (EDTA). A lubrificação é conseguida à custa do estearato de
magnésio e do polietilenoglicol 6000 que tem, também, uma acção protectora, pois funciona como uma
espécie de revestimento que impede a acção do oxigénio.
Xvm
Reserpina........................................................ 0,25 g
Lactose .......................................................... 45 »
Amido ............................................................ 45 »
Cozimento de amido a 10% ...................... q.b.
Clorofórmio.................................................... 15 »
Éter ................................................................ 8 »
Estearato de magnésio.................................. l » • • • • •
Talco .................................................... q.b.p. 100 » .
Humedeça a mistura da lactose e amido com o cozimento. Granule. Seque na estufa a temperatura que
não exceda 40°C; dissolva a reserpina no clorofórmio, ajunte o éter e distribua homogeneamente a
solução no granulado. Seque, rapidamente, a 30°C. Misture as restantes substâncias e faça comprimidos
com o peso médio de 0,100 g, utilizando punções de cerca de 6 mm de diâmetro.
798
Observe-se que, neste processo, se procede à dispersão do princípio activo sobre •••)
os excipientes, recorrendo-se a uma solução. Embora se possa pensar que este sistema
não origine uma distribuição perfeita da reserpina, tal não sucede na prática.
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800
(') Depois da patente de P. J. NOYES foi registada uma outra, em 1917. pela firma Síokes, de uma
máquina rotativa para drageificar por compressão. No entanto, só em 1937 a firma Kilian patenteou um
modelo rotativo de compressora que permitiu a centragem dos comprimidos a revestir. • - >.;.
801
farmacêutica de revestimento, se bem que alguns autores, mais puristas, pretendam reservar o termo,
exclusivamente, para os envolvimentos açucarados.
Aos comprimidos revestidos chamaremos dragelas, qualquer que seja a espécie de envolvimento que
possuam, o que está de acordo com a nomenclatura adoptada pelo Suplemento à 2.a edição da
Farmacopeia Portuguesa IV.
O termo drageia, que adoptaremos para designar os comprimidos revestidos, deriva do francês
«dragéé», a amêndoa da Páscoa, a qual, por seu turno, provém do grego «tragemata», a guloseima. Esta
designação, segundo BOUVET, citado por DAVID e DAVID, encontra-se em documentos antigos, desde 1391.
Entre nós encontramos, com o mesmo significado, expressões como drágea (que alguns defendem como
etimologicamente mais rigorosa), grageia ou grangeia (talvez por influência espanhola) e até o termo
confeito, que foi adoptado pela nossa Farmacopeia (1946) para designar as pílulas revestidas. Esta forma
é, ainda, denominada confetti pêlos italianos e coated-tablet pêlos anglo-saxões.
As vantagens da drageificação residem principalmente em:
— poder administrar-se o princípio medicamentoso desprovido de qualquer aroma ou sabor
desagradável que eventualmente tenha;
— tornar possível o emprego de substâncias que ataquem as mucosas, evitando a acção emética que
possivelmente possam apresentar (emetina, certas sulfamidas, etc.);
— permitir, mediante envolvimento adequado, que os comprimidos resistam à acção do suco gástrico,
o que tem interesse não só para subtrair o medicamento às eventuais alterações pelo ácido clorídrico e
pepsina do estômago, mas também para permitir que certos compostos, como os anti-sépticos intestinais,
actuem exclusivamente no ponto desejado do tracto digestivo;
— promover mais fácil deglutição dos comprimidos que deslizam melhor para o estômago, já que as
suas arestas foram arredondadas;
— permitir eficaz protecção e conservação dos princípios medicamentosos, além de melhorar a sua
apresentação;
— Evitar incompatibilidades entre componentes que podem, assim, ficar separados;
— Impedir a formação de pó e facilitar o deslizamento dos comprimidos para as cadeias de
acondicionamento.
podendo estas serem esféricas ou piriformes. A relação entre o diâmetro médio das bacias e a sua
profundidade anda à volta de 1,4 ou 1,5:1. Se a bacia for muito grande, essa relação pode ir até 1,8:1. Em
regra, uma bacia com cerca de 90 cm de diâmetro pode servir para revestir 120 000 comprimidos de 10
mm e de 0,3 g de peso ou 250000 comprimidos de 7,5 mm, pesando 0,15 g. A Fig. 302 representa, em
esquema, várias bacias de drageificação.
O sistema mecânico que imprime o movimento de rotação à bacia deve ser de velocidade
regulável, pois há fases da drageificação que necessitam de maior velocidade do que outras. É
o que acontece na fase de polimento; pelo contrário, na secagem convém trabalhar com
velocidade lenta. Regra geral, as drageificadoras giram a 30
*.- rotações por minuto, embora se reduza essa •••••;.
velocidade quando os comprimidos a revestir sejam quebradiços.
Tem também interesse considerar o ângulo formado entre o eixo
das bacias de drageificação e o plano horizontal. Esse ângulo
anda, normalmente, à volta de 25", mas às vezes convém
aumentá-lo ou diminui-lo, segundo se quer trabalhar com maior
ou menor atrito. No início da operação há necessidade de se
operar com um ângulo maior, mas na fase do polimento, sendo
conveniente que as drageias deslizem somente umas sobre as
outras, há vantagem em trabalhar com um ângulo menor. Há,
por isso, aparelhos que permitem fazer variar o ângulo de
inclinação de 0° a 45°. As bacias de drageificação necessitam,
ainda, de aquecimento, que pode ser directo ou indirecto. O
primeiro pode conseguir-se mediante o emprego de bicos de
BUNSEN, de resistências eléctricas e até
Fig. 303. Drageificadora
(esquema)
1 — Interruptor da resistência de
aquecimento do ar
2 — Aquecimento do ar
3 — Termostato
4 — Termómetro ..
803
mesmo de petróleo. O aquecimento indirecto, sendo mais vantajoso, pode ser executado por
meio de serpentinas em que circula vapor de água, de modo a que a temperatura possa rer
regulada. Mais recentemente, tem-se recorrido aos raios infravermelhos, que devem actuar a
cerca de 10 cm de distância dos comprimidos.
Quando se trabalha com aquecimento directo forma-se uma crosta de açúcar na face
interna da bacia drageificadora que, actuando como uma lixa, ajuda a regularizar a
superfície do comprimido a drageificar.
Simultaneamente, é, em regra, vantajoso insuflar na bacia de drageificação uma corrente
de ar quente, cujo efeito se completa aspirando o pó que se vai libertando dos comprimidos.
Para evitar a humidade, tão prejudicial à operação, o ar quente pode passar através de
substâncias higroscópicas, de modo a ser exsicado. Os sistemas de insuflação devem aquecer
o ar até cerca de 50-60°C, podendo servir, na pequena indústria, um aparelho do tipo dos
secadores de cabelo. Na gravura junta mostram-se drageificadoras com sistema de ar (Fig.
304).
/." fase
Camada isolante — Usa-se, em geral, para comprimidos contendo compostos
higroscópicos, tendo em vista impedir-se a sua alteração pelo contacto com a humidade
(extractos, como o de fígado, sais biliares, etc.).
O processo tem, além disso, a vantagem de isolar o comprimido das restantes camadas,
podendo proteger as substâncias medicamentosas de incompatibilidades entre si e até de
oxidações. A camada isolante pode servir ainda para revestir os comprimidos com
envolvimentos gastro-resistentes. Como se depreende, a camada isolante não é aplicada,
obrigatoriamente, em todas as drageias.
806
Empregam-se como banhos isolantes soluções de goma laca, sandaraca, bálsamo de Tolú,
acetato de polivinilo, zeína, polivinilpirrolidona, acetoftalato de celulose, etc. Citamos alguns
exemplos de soluções isolantes:
Sandaraca — 200 g
{ Goma laca — 100 »
Álcool de 95° — 750 ml
n Goma laca — 180 g Terebintina de Veneza — 4 g
Álcool de 95° q.b.p. — 450 » III Goma laca — 2 »
rv
{ Álcool absoluto saturado com bálsamo Sandaraca — 20 »
Colofónia — 20 »
Álcool de 95° — 75 »
drageias não fique irregular, citamos um comendo amido e outro açúcar como componentes
principais:
Açúcar ............................................................ 540 g
Carbonato de cálcio...................................... 135 »
Talco .............................................................. 48 »
Goma arábica ................................................ 3 »
2." fase
Para drageias brancas adiciona-se xarope comum, preparado a frio, a fim de evitar a cor
amarelada que toma quando obtido por dissolução do açúcar a quente.
A aplicação do xarope deve ser conduzida a certa temperatura (70-80°C), sendo os comprimidos
igualmente aquecidos. A última adição deve fazer-se com o xarope diluído em água, a 1:1, para que as
drageias fiquem húmidas. Deixam-se estar na bacia dra-geificadora durante 2 horas, tendo o cuidado de tapar
a abertura daquela com um pano húmido, para que adquiram a humidade necessária para o polimento (dar um
quarto de volta à bacia, de quando em quando).
Para a obtenção de drageias coradas deve aplicar-se o xarope comum, previamente adicionado do corante
solúvel pretendido.
As cores mais usadas, por serem as de mais fácil aplicação, são a amarela e a vermelha. A adição do
xarope, pouco concentrado em corante (0,25 g/kg), deve fazer-se muito lentamente, aplicando-se o número de
camadas necessárias para se obter a cor desejada. Se, depois de 4 a 5 adições, a cor se mantiver ainda clara,
deve aumentar-se a concentração para 0,50/™> ou mesmo até l"/™.
Se aparecerem manchas nas drageias, não se pode elevar a concentração do corante pois que isso
acentuaria ainda mais as irregularidades da coloração.
De qualquer modo, há que atender ao peso final das drageias, não se devendo exagerar o número de
camadas de corante, que as poderia tornar demasiado pesadas.
Uma variante desta técnica consiste em aplicar o xarope não diluído sobre as drageias e em as fazer rolar,
na última aplicação, até libertarem pó. Retiram-se, então, para um peneiro, que se coloca sobre um recipiente
com água a ferver, até adquirirem um brilho húmido. Novamente se passam para a drageificadora, para se
proceder à última fase, que corresponde ao polimento.
TUCKER propôs o uso de um método de coloração por meio de corantes insolúveis, em que estes são
misturados com óxido de titânio, que funciona como um extensor e como uma rede opaca. A cor final não
depende do número de camadas de corante mas da relação entre as quantidades deste e do óxido de titânio.
Cada corante tem, assim, apenas ur.ia tonalidade, o que, como se compreende, é muito vantajoso e não cria
dificuldades em igualar a cor de um lote com a de outro. Por outo lado, como os pigmentos são mais estáveis à
luz, as drageias assim coradas mantêm-se mais tempo sem alteração da sua cor.
809
(') Pode usar-se uma bola de cera lançada 4ia bacia aquecida, onde rolam as drageias.
811
Antes, porém, de estudarmos esses métodos iremos mencionar algumas das variantes tendentes
a tornar mais rápida a técnica da drageifícação clássica.
Um dos métodos considerado entre os mais práticos para uma rápida drageificação é o devido
a SVANVIK, o qual tem a vantagem de possibilitar a execução de todo o ciclo de revestimento dos
comprimidos em cerca de 8 horas de trabalho.
Para realizar o envolvimento por este método é necessária uma bacia de drageificação
susceptível de rodar a uma velocidade de 25 rotações por minuto. O processo obriga à aplicação de
quatro camadas envolventes, todas elas contendo açúcar em solução ou em pó. Vamos descrevê-lo
para 25 kg de comprimidos.
1.a Camada — Aos comprimidos, isentos de pó, adicionam-se a pouco e pouco, misturando
cuidadosamente, 375 ml da seguinte solução:
Gelatina.......................................................... 15 g
Açúcar ............................................................ 660 »
Água destilada .............................................. 325 »
Logo que a mistura ficou feita, junta-se talco em excesso e faz-se rodar a bacia ainda por l ou
2 minutos, retira-se o excesso de talco e humedecem-se os comprimidos, até aglomeração, com um
pouco de solução açucarada de gelatina.
A rotação da turbina permite a separação dos comprimidos uns dos outros e origina a
libertação de pó, que é retirado.
2." Camada — Os comprimidos voltam a ser humedecidos com a mesma solução de gelatina
que, caso assim se pretenda, poderá conter 1%" de corante. Junta-se, então, um pó constituído pela
mistura, em partes iguais, de talco, amido e açúcar, finamente pulverizados, continua-se a rodar a
bacia por alguns minutos e retira-se o excesso de pó.
3." Camada — Esta camada é obtida apenas com o concurso da solução inicial de gelatina e
açúcar, que é lançada até os comprimidos ficarem humedecidos. Como sempre, vai-se insuflando ar
quente. A operação dá-se por terminada quando se formar, nas paredes da bacia de drageificação,
uma camada lisa e seca.
4.a Camada — Humedecem-se os comprimidos com a solução de gelatina. Então, deitam-se
sobre eles 25-40 ml de líquido de polimento com a seguinte composição:
Auxiliando-se a secagem com ar frio, faz-se rodar a turbina até que os comprimidos apresentem
certo polimento.
(') O Polyox WSR 301 origina soluções aquosas a 1% com uma viscosidade de 3000 centipoise
(temperatura de 25"C). o WSR 35 dá soluções a 5% com uma viscosidade de 300 centipoise, etc.
814
Além dos revestimentos referidos podem mencionar-se muitos outros, como os poliacrilatos
catiónicos (dimetilaminoetilmetacrilato), que se usam a cerca de 14% em solução acetónica ou
isopropanólica. A firma Rohm and Haas tem, para o efeito, um produto à venda, que é conhecido
comercialmente por Eudragit-E.
Revestimentos gastro-resistentes — Destinam-se a evitar que o comprimido se desagregue no
estômago, sendo, pelo contrário, facilmente desagregado no intestino. Drageias nestas condições
resistem pelo menos 2 horas em contacto com o suco gástrico, devendo desagregar ao fim de l
hora no intestino.
Na sua monografia sobre comprimidos a Farmacopeia Portuguesa V estabelece que, quando
submetidos ao ensaio de desagregação, nenhum comprimido com revestimento gastro-resistente
deve apresentar o mínimo sinal de desagregação após 2 horas em ácido clorídrico 0,1 N e que,
quando depois se substitui este líquido por solução tampão de fosfato de pH 6,8, devem todos
desagregar-se no tempo máximo de 60 minutos.
813
815
Na Fig. 308 indicam-se os órgãos do tracto gastrintestinal especialmente implicados na absorção dos
princípios existentes em drageias. Os medicamentos, passando da saliva (pH 6-7) para o estômago (pH
0,9-1,6) e, depois, para o intestino (pH<8,3), sofrem alterações diversas. Na Tabela XCVIII indicam-se
os tempos máximos prováveis de permanência em cada um desses órgãos.
Estômago
Duo
deno
As substâncias usadas para proporcionar um revestimento com tal fim têm que ser necessariamente
atóxicas e não possuírem actividade fisiológica. Tem-se proposto o uso da queratina acética ou amonical,
a 7%, cuja aplicação se faz filtrando a solução de queratina sobre o comprimido, a que foi aplicado um
prévio revestimento de manteiga de cacau.
Alem desta substância, têrn-se empregado outras, como o salol (usado deste 1891),
a goma taça isenta de arsénio, associada ao óleo de rícino ou à lanolina, o glúten, a
sandaraca, o acetoftalato de celulose, o ácido abiético ou o abietato de etilo, o estea-
rato de n-butilo, etc. .. .
816
A goma laca, que apresenta vantagens de ordem económica, não satisfaz, porém, às condições de
um bom revestimento gastro-resistente, pois que nem sempre é segura a sua acção, podendo originar
perturbações intestinais ao transformar-se em resinatos alcalinos. Por outro lado, a sua
desagregação só se processa praticamente quando há apreciável alcalinidade, podendo vir a
dissolver-se apenas na porção terminal do jejuno e dificultando, eventualmente, a absorção dos
fármacos.
2 — Acetoftalato de celulose — Trata-se de um dos mais usados envolvimentos
gastro-resistentes, cuja dissolução no intestino é efectuada após hidrólise enzimática,
independentemente do pH do meio. .„ . .
817
Introduzido no arsenal farmacêutico por HIATT (1940), foi especialmente estudado por MALL e colab. e por
COUVREUR e colab.
Já no Suplemento à Farmacopeia Portuguesa IV se inscrevia esta substância e se indicava uma
solução com ela obtida (ver pág. 747 deste livro), a qual se deve a MICCIHE:
Acetoftalato de celulose .............................. 8 g
Ftalato de etilo.............................................. 4 » -., ,.
Álcool isopropflico........................................ 44 » t.-.:
Benzeno.......................................................... 44 »
COUVREUR recomenda a seguinte fórmula para envolvimento:
5,7 6 6. 5 7 7,5 8
EUDRAGIT L 720 720 80-120 20-40 720 15 120 16 15 15
EUDRAGIT S
720 20-30
As referidas substâncias são fornecidas pela casa preparadora sob a forma de solução em álcool
isopropílico. A sua concentração é de cerca de 14%.
Para aplicar estes revestimentos procede-se como com o acetoftalato de celulose. Normalmente,
emprega-se a solução de Eudragit numa proporção de 16 g por cada quilo de comprimidos,
preferentemente já revestidos com uma camada de açúcar, os quais se fazem rolar até secagem. A
operação tem de se repetir até que se apliquem 20-60 camadas do verniz protector. Habitualmente,
são suficientes 30-35 camadas.
5 — Estearato de burilo — O estearato de n-butilo, não sendo uma gordura, comporta-se como
estas pelo facto de não ser decomposto no estômago mas hidrolisado no intestino. Os produtos de
hidrólise são o álcool butílico e o ácido esteárico que, em tão pequenas quantidades, se mostram
atóxicos.
Para a aplicação de um revestimento de estearato de butilo recorre-se a uma técnica mais
primitiva do que a que mencionámos. Efectivamente, o revestimento é obtido por simples imersão dos
comprimidos num banho que contém a solução de envolvimento. Usa-se a seguinte mistura:
Estearato de n-butilo............................ 70 partes
"" Cera de carnaúba.................................. 30 »
núcleo
contendo
substâncias
núcleo activas
contendo isolamento
as preliminar
l.a camada
substâncias de
activas substâncias
activas
camada isolamento
intermédio
2a camada de
isoladora substâncias
activas
isolamento
Flg. 311. Máquina para obtenção de drageias por compressão (Manesty Dry Cota)
822
Como bem se compreende, qualquer dos processos tem vantagens e inconvenientes, dado que o
primeiro obriga a um único modelo de comprimidos, mas apresenta cadência mais regular, pois que
o núcleo pode ser menos duro e por isso a adesão das capas é mais perfeita; o segundo processo
permite uma maior flexibilidade de trabalho, visto que a obtenção do núcleo pode executar-se em
qualquer máquina, dando-nos a possibilidade de o ensaiar laboratorialmente e, só depois dessa
verificação, proceder à cobertura com as capas desejadas.
A aderência das capas ao núcleo constitui outro problema que criou certas dificuldades no
começo da utilização deste método. Verifica-se, contudo, que o núcleo (comprimido a revestir) deve
ser feito com um granulado mais grosso do que o das capas, pois, nestas circunstâncias, terá maior
porosidade e as capas aderem mais facilmente, por haver interpenetração dos respectivos grânulos.
Aconselha-se, igualmente, introduzir, tanto no granulado dos comprimidos como no das capas, uma
cera cuja presença aumenta a aderência. Numerosos autores se têm dedicado ao estudo da produção
de drageias por compressão, procurando relacionar a facilidade desta com o tipo de granulado
empregado na formação das capas. Entre eles salientamos LINDE, WINDHEUSER, BtUBAUGH e, mais
recentemente, LACHMAN e colaboradores. Entre os granulados propostos para a preparação de capas
menciona-se o seguinte que sabemos ser utilizado entre nós com certo êxito:
Lactose .......................................................... 73 g
Goma adraganta ........................................ 2 »
Sacarose .................................................... 15 »
Cera................................................................ 4 »
Lubrificantes e corantes ................... q.b.p. 100 »
Trabalhando com uma máquina de tipo Manesty Dry Cota, LACHMAN, SYLWESTRO-Wicz e SPEISER
referiram as influências da tenuidade dos granulados de revestimento na uniformidade do peso das
drageias. A fórmula para revestimento que experimentaram é a seguinte:
Lactose .......................................................... 16 kg
Aerosil compositum O ............................ 1,5 »
Gelatina ..................................................... 0,5 »
Amido de araruta.......................................... 2,5 »
Amido de trigo ........................................ 2,5 »
Talco ............................................................ l »
Ácido esteárico.............................................. l »
Agua destilada .............................................. q.b.
(') O Aerosil compositum é um produto de marca registada, contendo 85% de sílica coloidal e
15% de hidrolisado de amido.
823
Desde que o granulado esteja bem preparado e os núcleos tenham a dureza adequada, as
máquinas de revestimento dão cadências muito apreciáveis. Assim, uma Pres-coter, com 20 matrizes e
respectivos punções, pode dar, em média 12000-25000 drageias por hora. Este rendimento aumenta
largamente com o número de punções, podendo-se atingir 1000 comprimidos por minuto com
modelos Colton de alta velocidade (Mod. 241-33) regulados a 33 revoluções por minuto.
Para fechar este subcapítulo queremos aludir ainda à possibilidade de preparar comprimidos
com duas e três coberturas. As firmas alemãs Horn, de Worms, Kilian, de Colónia e Fette, de
Hamburgo e a britânica Manesty, de Liverpool, fabïicam as máquinas necessárias a tal tipo de
revestimento.
lenoglicol 4000 e polissorbatos; ceras; resinas, etc. SINGISER e LOWENTHAL sugeriram a utilização de
líquidos para revestimento gastro-resistente, citando a seguinte fórmula:
Acetoftalato de celulose .............................. 62,5 g
-t J; : Álcool absoluto ............................................ 240 »
Plastificante C).............................................. 10 »
o Corante .......................................................... q.b.
Acetona.......................................................... 1000 ml
Normalmente, para l kg de comprimidos bastam 625 ml de liquido, sendo a atomização regulada
para as dimensões do aparelho (por exemplo, a 47-48 ml/minuto). O ar que entra deve ser aquecido
a 50-60°C e o ar que sai pelo exaustor deve ficar a 20-2VC.
A firma Kilian já fabrica máquinas destinadas à produção de drageias revestidas por este
processo.
Entretanto, lembramos que o primitivo método de WURSTER tem sofrido algumas modificações, como
as propostas por MESNARD, ROSEN e SCOTT, e CALDWELL e ROSEN.
resultados satisfatórios do que quando se empregam finas películas de matérias isolan-tes, cuja
quantidade é desprezável em relação ao peso do comprimido. Mesmo assim, a drageificação pêlos
processos clássicos, com açúcar e gelatina, obriga, em regra, ao dispêndio de um mínimo de dois a
quatro dias.
LACHMAN, considerando estes problemas, idealizou um sistema automatizado de drageificação, o
qual permite executar todo o revestimento em cerca de três horas. Entre as vantagens deste novo
processo figura a facilidade de reprodução dos resultados obtidos, já que o factor humano é
eliminado, ou, pelo menos, minimizado. Por outras palavras, o autor conseguiu pôr em prática um
método que, devido à automatização introduzida, torna possível preparar drageias sem prática
variação de peso e com idêntico aspecto. Garante, também, inteira reprodutibilidade de resultados e
permite executar toda a operação de revestimento em cerca de três horas.
A Fig. 313 representa, em esquema, uma instalação para produção automatizada de
drageias. , ..„ ... . .,„ ,,
KTD
Fig. 314. Turbina de drageificação com barras Fig. 315. Panela de drageificação com
barras fixas
1 — Barras fixas formando ângulos de 90°
2 —Eixo de rotação
Anotemos que o sistema utilizado por LACHMAN não era inteiramente novo.
É prática corrente executar-se o revestimento de granulados em bacias de drageifi
cação, evitando-se a aderência dos grânulos uns aos outros com uma barra, geral-
827
mente de madeira, que se coloca na turbina apoiada no fundo e segundo o eixo maior daquela.
Para que o ar que se emprega na secagem incida sobre os comprimidos de forma eficiente, o
sistema de LACHMAN inclui um tubo secador terminado numa espécie de Y (Fig. 316-1).
pós de revestimento. Para isso, emprega atomizadores de modelo especial, em que a força propulsora
para efectuar a dispersão não provém de ar comprimido mas de uma pressão hidráulica, susceptível
de acerto e regulação às condições desejadas. Neste sistema haverá, pois, uma verdadeira ejecção de
líquidos sobre os comprimidos.
Trata-se, portanto, de um sistema de dispersão de gotículas líquidas, sem serem suspensas numa
corrente de ar, como é vulgar poder fazer-se. Esta modificação permite obter maior uniformidade na
aplicação e, subsequentemente, conseguir revestimentos com menor espessura (Fig. 316-11).
Pode apresentar ainda interesse a pesquisa de vestígios de dissolventes não inócuos nas películas
de revestimento. Assim, HOLL e colab. indicam uma técnica rápida, baseada na reacção
halofórmica, para a detecção da acetona usada como dissolvente do acetoftalato de celulose.
No que diz respeito à desagregação, devem ser efectuados ensaios vulgares e ensaios específicos
para revestimentos gastro-resistentes.
A Farmacopeia Portuguesa V, na sua monografia sobre comprimidos e a respeito dos
comprimidos revestidos, estipula as normas a que deverão obedecer esses ensaios e que,
fundamentalmente, diferem dos indicados para os comprimidos pela natureza do líquido e pelo tempo
de desagregação admitidos.
Para drageias vulgares indica-se a seguinte técnica: Em cada um dos seis tubos do aparelho
descrito a propósito dos comprimidos introduza uma drageia e, seguidamente, um disco; coloque o
conjunto no vaso cilíndrico que contém água como líquido de desagregação. Mantenha o aparelho
em funcionamento durante 60 minutos, salvo excepção justificada a autorizada, e depois examine o
estado das amostras. Se um só dos comprimidos se não desagregar, repita o ensaio com outros 6
comprimidos substituindo a água por ácido clorídrico 0,1 N. Os comprimidos satisfazem ao ensaio se
todos se desagregarem no meio ácido. Os comprimidos de película devem satisfazer ao mesmo ensaio
mas o aparelho deve ser manado em funcionamento durante 30 minutos, salvo excepção justificada e
autorizada.
Para drageias gastro-resistentes estipula-se: Efectue o ensaio como no caso anterior mas não
introduza discos e utilize como líquido de desagregação ácido clorídrico 0,1 N. Mantenha o aparelho
em funcionamento durante 2 horas. Nenhum comprimido deve apresentar o mínimo sinal de
desagregação nem fendas que possam permitir perda de conteúdo, com exclusão do desprendimento
eventual de fragmentos de revestimento. Substitua a solução ácida por solução tampão de fosfato de
pH 6,8 e utilize um disco em cada um dos tubos. Mantenha o aparelho em funcionamento durante 60
minutos. Todos os comprimidos se devem desagregar.
A Farmacopeia Portuguesa IV recorria ao emprego sucessivo de sucos gástrico e entérico
artificiais em vez do ácido clorídrico 0,1 N e do tampão de fosfatos de pH 6,8.
Estes sucos, cuja composição pode variar segundo o autor, tem pH de 1,2 a 1,6 e de 7,4 a 8,
respectivamente.
A composição do suco gástrico artificial da Farmacopeia é a seguinte: 0,32 g de pepsina (título
2500), 0,2 g de cloreto de sódio, 9,1 g de metilparabeno, 0,7 ml de ácido clorídrico e água destilada
q.b.p. 100 ml. O pH desta solução é de cerca de 1,2.
O suco entérico artificial é preparado com os seguintes componentes: l g de pancreatina, 0,68 g
de fosfato monopotássico, 0,1 g de metilparabeno, 3,8 ml de NaOH N/1 e água destilada q.b.p. 100
ml. O pH desta solução deve ficar compreendido entre 7,4 e 7,6.
830
Como dissemos, além destas fórmulas muitas outras têm sido estabelecidos, designadamente para
o suco pancreático, podendo conter mucina ('), bicarbonato de sódio, sais biliares, etc.
A título de exemplo, indicamos a composição de um destes sucos entéricos artificiais, que nos
parece ser dos mais utilizados: 0,5 g de mucina, 8 g de pancreatina, 15 g de bicarbonato de sódio, 30
g de sais biliares e água q.b.p. 1000 ml.
Por vezes, chega-se a discriminar a composição do suco gástrico com o estômago vazio e com o
estômago cheio.
Suco gástrico existente no estômago cheio: Preparar duas soluções, a e b, que se misturam,
ficando a pH 4; a solução a conterá 1,4 g de cloreto de cálcio, 10-15 ml de ácido clorídrico normal,
3,2 g de pepsina (título 2500), 1,3 g de mucina e água q.b.p. 500 ml; a solução b é constituída por
300 ml de mucilagem de goma arábica e água q.b.p. 500 ml.
A desagregação das drageias, especialmente das que têm revestimentos gastro--resistentes, pode
também ser apreciada por processos realizados no homem ou em animais.
Naturalmente que os processos in vivo são efectuados com controlo radiográfico, recorrendo ao
emprego de isótopos radioactivos ou avaliando-se as velocidades de absorção ou de eliminação do
medicamento. Assim, emprega-se, como já atrás dissemos, o sulfato de bário, o ácido iodoalfiónico,
etc., que são revestidos pela camada gastro-resistente, seguindo-se o comportamento apresentado,
quer no homem, quer em animais, por meio de radioscopia ou de radiografias. Outras vezes, aprecia-
se o teor de medicamento no sangue ou na urina, o que dá uma ideia da desagregação, no primeiro
caso pela velocidade de absorção, no segundo pela velocidade de eliminação. Um composto muito
prático para avaliar a desagregação através da velocidade de eliminação é a riboflavina, que
comunica às urinas cor amarela muito intensa e fluorescência.
O emprego de radioisótopos tem sido igualmente utilizado, se bem que em pequena escala,
usando-se, como núcleo de comprimidos que se revestem com capas gastro-resistentes, o cloreto de
sódio marcado com 24Na, ou o iodeto de potássio com 1311.
Por último, resta-nos aludir à determinação da humidade, ensaio que apresenta interesse na
previsão da estabilidade da forma e dos princípios activos constituintes. Opera-se sobre o pó
resultante da trituração de 10-12 drageias e utilizam-se os processos convencionais descritos
anteriormente (Ver Pós).
BIBLIOGRAFIA
É também natural que a imperfeita selecção dos excipientes ou a elevada adesivi-dade das
próprias substâncias medicamentosas levasse à obtenção de pílulas não desagregáveis no tracto
gastro-intestinal, as quais seriam destituídas de acção ou, quando muito, poderiam desempenhar um
papel laxativo, por exercerem peso sobre o conteúdo fecal (caso das pílulas perpétuas de antimònio).
Julgamos que, desta maneira, terá nascido a ideia de se incluírem entre os componentes das
pílulas excipientes destinados a promoverem a sua fácil e rápida desagregação nos sucos digestivos
(desagregantes).
As pílulas apresentam diversas vantagens sobre outras formas farmacêuticas, pois
— mascaram o cheio e o sabor de muitos fármacos, especialmente quando se encontram
revestidas;
— como são muito concentradas em agentes medicamentosos, ocupam pequeno volume e são
relativamente resistentes às alterações pela luz, humidade e ar;
— dada a sua forma e consistência e ainda considerando o pequeno volume que ocupam, são
facilmente administráveis.
— podem ser revestidas, quer para protecção dos agentes medicinais que contenham, quer para
só se promover a sua desagregação no suco entérico;
— a sua produção é relativamente fácil, podendo conseguir-se um rendimento apreciável, mesmo
com aparelhos muito simples.
7.2.1.4.1.2. Excipientes
Na preparação das pílulas misturam-se produtos medicinais com substâncias inertes que
funcionam como excipientes, de modo a obter-se uma massa dotada de determinadas características,
a qual é, posteriormente, dividida em fracções que correspondem às pílulas. À massa plástica,
adesiva e firme que se obtém chama-se massa pilular, sendo essas propriedades normalmente
conferidas pelo excipiente que se utilizou. Casos há, muito raros, em que não é necessário adicionar
excipientes aos agentes medicamentosos. Por outras palavras, a simples mistura dos princípios
medicamentosos origina uma massa pilului com as características desejadas e cujo peso permite a
divisão directa em pílulas. É o que sucede quando se misturam 0,65 g de extracto mole de valeriana
com 0,65 g de extracto mole de meimendro e com 0,65 g de óxido de zinco. Na realidade, a adição
dos três produtos citados, nas quantidades referidas, permite obter 1,95 g de massa pilular
adequada, da qual se preparam 10 pílulas de 0,195 g cada.
O exemplo mencionado constitui, porém, uma excepção e, em casos correntes, toma-se imperiosa
a adição de vários excipientes, que umas vezes são pós, outras têm consistência mole e outras ainda
se apresentam no estado líquido.
A escolha judiciosa do excipiente ou excipientes a empregar depende principalmente das
propriedades físicas dos agentes medicamentosos, não devendo esquecer-se as
834
eventuais incompatibilidades químicas e farmacológicas que podem originar. Por outro lado, além
da preparação de uma massa plástica, firme e adesiva é preciso ter presente que as pílulas se
destinam a serem engolidas sem mastigar, tendo por isso que sofrer a desagregação no tracto gastro-
intestinal. Normalmente, os bons excipientes possuem carácter coloidal, conferindo essa
característica à massa pilular.
Na presente rubrica iremos estudar os excipientes que mais frequentemente se empregam na
preparação das pílulas, classificando-os em três grandes grupos: a) excipientes aglutinantes; b)
excipientes secos ou absorventes; c) excipientes líquidos.
utiliza isoladamente quando se pretende que a massa pilular apresente muito pequeno volume (caso
da preparação de grânulos segundo a F. P. IV).
Entre as misturas mais usadas lembramos a seguinte: '
Goma adraganta em pó................................ 6 g -,
Glicerina ........................................................ 30 »
Água destilada ................................ cerca de 10 »
Tritura-se a goma com a glicerina em almofariz e ajunta-se a água até à obtenção de uma pasta
homogénea que constituirá um excipiente de eleição para aglutinar pós brancos e cristalinos, pouco
solúveis nos dissolventes ordinários. É necessária certa experiência para o uso deste excipiente, cujo
excesso torna a massa pilular demasiado elásüca e, por isso, dificilmente rolável. O citado
inconveniente atenua-se com a junção de uma pequena quantidade de xarope de glicose. Pode,
também, ter-se já preparado um excipiente sem a mencionada desvantagem. Trata-se da mistura de
goma arábica com glicerina e mel na porporção de 12:7:12. Na realidade, o mel, cujo conteúdo em
açúcar invertido (glucose + frutose) é de 64-69%, funciona nesta fórmula como uma fonte natural de
glucose.
Tem sido proposta, como excipiente adesivo, uma mistura de goma arábica (5 g) com goma
adraganta (5 g) e com glicerina (50 g). Esta associação presta bons serviços na prática corrente, já
que o poder aglutinante da goma adraganta é compensado com a forte acção ligante exercida pela
goma arábica, evitando-se o endurecimento das pílulas com a presença da glicerina.
Extractos moles — Os extractos moles, cujo teor em água é de cerca de 20-25%, apresentam
forte poder aglutinante. Na preparação das pílulas têm sido usados extractos moles inertes, como o de
grama, ou extractos moles cuja actividade terapêutica não prejudica a acção farmacológica das
pílulas, como o extracto de levedura de cerveja.
O extracto de grama é frequentes vezes usado só, podendo, no entanto, associar--se ao pó de
alcaçuz ou à glicerina. O extracto mole de levedura de cerveja origina pílulas que não endurecem e
se desagregam rapidamente nos sucos digestivos, o que se deve ao elevado teor em sais minerais e à
facilidade de inchar, que as células da levedura apresentam. Por outro lado, a sua acção
estomáquica e o conteúdo vitamínico em complexo B, longe de prejudicarem a actividade
farmacológica das pílulas, podem constituir um reforço terapêutico desejável.
O próprio extracto seco de levedura de cerveja pode ser utilizado como aglutinante, bastando
para isso misturá-lo com uma mistura hidroglicérica em partes iguais.
Glicerado de amido — Correntemente usado pêlos norte-americanos como aglutinante pilular,
especialmente para pílulas brancas, não tem tido boa aceitação entre nós, talvez por se associar ao
glicerado de amido a ideia de uso externo que constitui o seu emprego normal. A sua manipulação
requere também alguma prática, porquanto pode tornar as pílulas demasiado frágeis.
836
Os pós vegetais são utilizados como absorventes puros, sempre que não seja necessário conferir-
se poder aglutinante à mistura. O fosfato tricálcico é especialmente utilizado para fixar compostos
oleosos ou o ictiol, e os amidos são desejáveis para absorver óleos associados a líquidos aquosos.
Pó de alteia — O pó de raiz de alteia é bastante rico em amido e em mucilagem, o que lhe confere
elevado poder absorvente. As pílulas preparadas com pó de alteia ficam, no entanto, demasiado
elásticas e desagregam-se dificilmente. A associação de gomas enrijece extraordinariamente a massa
e as pílulas têm fortes probabilidades de se não desagregarem no tracto digestivo.
Pó de alcaçuz — Além de funcionar como um bom absorvente, o pó de alcaçuz apresenta
apreciável poder aglutinante, propriedade que se deve ao seu elevado teor em açúcares e
glicirrizina. Esta última substância é um heterósido do tipo das saponinas e possui poder emulsivo, o
que permite utilizar o pó de alcaçuz como absorvente de compostos hidro-insolúveis. Assim, o
creosoto, o alcatrão e o ictiol são facilmente fixados pelo pó de alcaçuz, já que a glicirrizina presente
ocasiona a sua dispersão (emulsão O/A), quando em presença de água.
Entre as contra-indicações do pó de alcaçuz citamos o poder de retenção dos alcalóides por
adsorção (chega a fixar 43% de nitrato de estricnina e 36% de sulfato de atropina). Se em muitos
casos estas adsorções não têm particular interesse, dado que posteriormente os alcalóides são
eluídos no estômago por acção do ácido clorídrico, pode acontecer que se não verifique a aludida
libertação.
Além deste inconveniente, o alcaçuz apresenta uma acção estimulante sobre o córtex supra-renal,
não podendo, por isso, ser considerado um pó inerte.
Do ponto de vista técnico, observou-se que as pílulas contendo pó de alcaçuz podem fendilhar,
pelo que se recomenda que este pó seja associado aos açúcares, amido, glicose ou alginatos.
Pó de levedura — O pó de levedura apresenta-se como um produto de cor amarelada-
acastanhada, inodoro e de sabor salgado. Prepara-se a partir da levedura do pão, que se lava para
eliminar o mau sabor e se seca a 120°C, o que provoca a destruição das diástases.
Pode usar-se na preparação de pílulas que contenham apreciável quantidade de extractos
medicamentosos, como o de genciana, o de ópio ou o de cravagem de centeio.
Óxido de magnésio — Como já vimos no subcapítulo PÓS, trata-se de um excelente absorvente
para diversos líquidos (essências, balsamos, óleo-resinas). Entre os seus inconvenientes figura a sua
fraca densidade, o que leva à obtenção de pílulas com grande volume e o facto destas se tornarem
muito duras. O carbonato de magnésio pode substituí-lo com vantagem, desde que na fórmula não
intervenham princípios dotados de carácter ácido.
Fosfato tricálcico — Esta substância é também um bom absorvente, sendo utilizado para fixar
óleos, vitaminas lipossolúveis (axeroftol, ct-tocoferol), ictiol, etc. Foi
838
empregado para absorver a vitamina Dy mas esse uso deve ser banido, dado que é incrementada a
toxicidade daquela.
Amido — Bom absorvente, emprega-se, por vezes, associado à glicose, sacarose ou lactose e à
dextrina. A mistura de SAIKO é uma das mais clássicas destas associações:
Glucose (ou lactose, ou sacarose) .............. 60 g
Dextrina.......................................................... 20 » '•,
Amido............................................................ 20 » '''''
•;!
Este excipiente pode utilizar-se com numerosos alcalóides sem que haja o perigo de que sejam
fixados por adsorção. A citada mistura é empregada na preparação da massa pilular, em conjunto
com uma solução aglutinante assim constituída:
Gelatina.......................................................... 5 g
Água destilada .............................................. 5 »
Glicerina ........................................................ 90 »
Metilparabeno ................................................ 0,2 »
Caulino — Funciona como um bom absorvente da água e de soluções oleosas, conferindo o
desejável poder de desagregação às pflulas com ele preparadas. O seu uso tem-se praticamente
circunscrito às pflulas de compostos alteráveis, como o Sãlicilato de sódio, iodetos alcalinos, nitrato
de prata e permanganato de potássio.
Sabão — O sabão animal, que é, fundamentalmente, constituído por estearato de sódio,
apresenta maior poder absorvente para os óleos e resinas do que o sabão vegetal (sabão medicinal
ou sabão amigdalino), cujo principal componente é o oleato de sódio.
Emprega-se na preparação de várias pflulas, como as de creosoto, substância que, em presença
da água e do sabão, é emulsionada (emulsão O/A). Em regra, usam-se pesos iguais de creosoto e de
sabão animal.
Estes intermédios, a que preferentemente se dá o nome de veículos, são empregados pelo poder
dissolvente que apresentam para um ou mais dos constituintes de uma fórmula de pflulas. Nessas
circunstâncias, se a solução obtida for dotada de apreciável viscosidade, pode servir como agente de
aglutinação, originando uma massa pilular adequada. É o que acontece com o emprego da água ou
do álcool diluído, respectivamente para os extractos aquosos e alcoólicos. Contudo, nem sempre um
bom dissolvente é um bom veículo para pílulas, pois importa que, além dessa propriedade, a
839
solução obtida seja suficientemente viscosa e adesiva. Assim, o álcool ou o éter, que são bons
dissolventes da cânfora, não originam soluções viscosas e adesivas que permitam a obtenção de
massa pilular. Já o óleo de rícino, que é muito viscoso e só parcialmente dissolve a cânfora, constitui
um bom veículo para aquela substância, do ponto de vista da preparação de uma massa pilular
dotada de consistência adequada.
A água é pouco empregada sozinha, podendo, contudo, servir para emulsionar pequenas
quantidades de goma-resinas. Utiliza-se algumas vezes associada ao álcool em pflulas que contenham
resinas. Do mesmo modo, é frequente o emprego de soluções hidroglicéricas.
O álcool de elevada graduação pode servir como dissolvente de matérias resinosas mas, em
geral, as pflulas obtidas apresentam elevados tempos de desagregação. É por isso que, nestes casos,
se associam, correntemente, pós inertes. Isto não sucede na associação de extracto de aloés com
extracto de ruibarbo, em partes iguais, já que só é resinoso o primeiro medicamento. Para obter
massa pilular adequada, basta empregar 0,5 g de álcool por cada 8 g da citada mistura, observando-
se que as pflulas assim preparadas se desagregam com regularidade.
Ainda entre os líquidos usados como veículos podemos referir o ácido láctico, que se tem
empregado para os sais de quinina, pois provoca uma apreciável redução no volume apresentado
por aqueles.
Os óleos, como o azeite ou o óleo de amêndoas, são por vezes utilizados como excipientes
pilulares. Assim, usaram-se na preparação de pílulas contendo terebintina, as quais apresentam
especial tendência para endurecer com o tempo.
;
7.2.1.4.1.3. Preparação das pflulas ' '* ' ' *"'
Sob esta rubrica principiaremos por descrever a preparação de pílulas pelo processo
clássico, utilizado na pequena oficina, para, em seguida, nos referirmos à fabricação
industrial desta forma farmacêutica. •>.-••
Para preparar pflulas é necessário proceder-se à mistura dos princípios medicamentosos sólidos
ou líquidos com os excipientes, obtendo-se uma massa pilular que depois se div!de em tantas porções
quantas as pflulas pretendidas.
Misturam-se, intimamente, as substâncias secas (princípios activos ou excipientes) por ordem
crescente do seu peso. A mistura deve realizar-se em almofariz de forma baixa, de bordos
arredondados e sem bico, cujo pilão, quase cilíndrico, tenha cerca de
840
O magdaleão é dividido em tantas porções quantas as pílulas a preparar. Para isso pode-se usar,
como unidade de medida de cada fracção, a largura da lâmina de uma espátula pequena,
procurando-se aumentar o comprimento do cilindro, de tal modo que corresponda a um número
exacto de vezes da citada medida.
Método de adsorção
liquido gele
adsor- píl
lipófilo ula
plastifi-
Método de ação
emulsífica
líquido
agente são O/A
lipónlo ab1
emul-stvo so
Mistura
Fusão
líquido exci- -; • •.
lipófilo piente
resinoso
ou gor- •- •" • '-l
duroso
Flg. 317. Diagrama esquemático representando a preparação de pílulas
pílula
Mais correcto, porém, é recorrer-se ao emprego de um pilulador (Fig. 318). Este consta de um
tabuleiro rectangular de madeira, onde se encontra encaixada no seu terço inferior e no sentido da sua
largura uma régua metálica canelada (').
842
Os sulcos da régua apresentam secção herni-circular e sobre eles se colocará o magdaleão, cujo
comprimento será suficiente para cobrir um número de sulcos igual ao número de pílulas a preparar.
O pilulador possui ainda uma outra peça de madeira que assenta sobre o rebordo do tabuleiro, a
qual é susceptível de correr livremente sobre este. Esta peça tem incrustada uma régua metálica canelada
semelhante à primeira, cujos sulcos correspondem perfeitamente aos desta.
Ajustada esta segunda régua sobre o magdaleão, efectua-se o corte deste no número de fracções
igual ao número de pílulas a preparar. Se a massa pilular tiver consistência adequada, um simples
movimento de deslizamento da segunda régua ao longo do tabuleiro permite obter pílulas irregularmente
arredondadas, às quais se confere a forma esférica definitiva, quer trabalhando manualmente, quer
arredondando-as com um disco próprio. Este é de madeira, podendo apresentar o fundo móvel ou fixo, e
serve para rolar as pílulas de modo a torná-las o mais esféricas possível.
O disco, conhecido por disco de VIDAL, apresenta, na face inferior, um rebordo a toda a volta, cuja
altura corresponde ao diâmetro das pílulas. São preferíveis discos de fundo móvel, já que permitem
ajustar, com rigor, a altura do rebordo ao diâmetro da pílula.
O disco é aplicado suavemente sobre as pílulas, imprimindo-se-lhe um movimento de rotação.
É conveniente polvilhar a massa pilular e o próprio magdaleão com pós lubrificantes, como o talco, o
licopódio, a lactose ou o alcaçuz. Estas substâncias impedem que as pílulas adiram umas às outras,
sendo ainda aconselhável juntar uma pequena quantidade de pó lubrificante, aquando do seu
acondicionamento definitivo.
843
Este volume é, por seu turno, igual ao volume de cada pílula esférica, cujo valor é dado por:
4 4
3 - l 'l \
Logo virá:
7"-7'(? ) •L\\-L,(!L}'
•2 l 3 \2 l
Calculando a partir desta equação o valor de c, que corresponde ao diâmetro do magdaleão,
teremos:
/ = ''\' — = 0,8 /í
2
844
Quer isto dizer que se deverá preparar um magdaleão cujo diâmetro seja igual a 0,8 h, sendo h a
distância entre os bordos cortantes dos sulcos metálicos do pilulador.
Nas pequenas produções este conceito é, como se compreende, perfeitamente dispensável. Já
para a preparação de muitas pílulas torna-se mais prático calcular, matematicamente, o valor do
diâmetro do magdaleão do que proceder por tentativas, alongando ou encurtando o cilindro, de
acordo com as distâncias entre os bordos cortantes dos sulcos do pilulador. Por outro lado, o
conceito deixado expresso permite calcular, com rigor, para um pilulador determinado, cujo valor
de h seja conhecido, a quantidade de massa pilular a obter.
Efectivamente, na composição de umas pílulas teremos de considerar o volume ocupado pêlos
princípios medicamentosos, pêlos excipientes sólidos e pêlos excipientes líquidos utilizados. É
necessário que a mistura dos pesos respectivos permita obter magdaleões de diâmetro e de
comprimento tais que seja possível dividi-los em fracções correspondentes aos sulcos do pilulador
utilizado. Torna-se, assim, importante calcular a massa total a obter para uma preparação correcta.
Designemos por n o número de pílulas por que terá de se dividir o peso p de substância
medicamentosa. Seja k a quantidade de excipiente para obtermos uma massa pilular com p gramas
de substância activa. Admitamos que a citada mistura carece de / gramas de líquido para se
transformar em massa plástica e que são precisos /' gramas para se conseguir efeito análogo, com os
excipientes sozinhos, numa quantidade igual a k gramas. O comprimento L' do magdaleão de
diâmetro c, obtido com os excipientes e princípios medicamentosos, será dependente do somatório p
+ k + f. Por seu turno, um magdaleão exclusivamente constituído por k gramas de excipiente
humedecido com f gramas de líquido, apresentará um comprimento que designaremos por L", o qual
é dependente da soma das quantidades k e f.
O magdaleão (constituído por princípios activos e excipientes) a utilizar para dividir no
pilulador, deve apresentar um comprimento L igual ao produto do número de pílulas n pelo valor de
h. L = nh.
Nos casos gerais, L não é igual a L', sendo maior do que este. É, pois, necessário aumentar o
comprimento do magdaleão, com excipientes humedecidos, numa extensão L-L', para que seja
conecta a divisão da massa pilular. Toma-se, pois, necessário sfectuar duas operações prévias de
orientação, que descrevemos do seguinte modo:
1.° — Misturam-se os princípios medicamentosos de peso p com o excipiente de peso k.
Adiciona-se o líquido de humedecimento até consistência plástica e prepara-se um cilindro
de diâmetro igual a c, em que c = 0,8 h. Toma-se nota do peso (f) de líquido utilizado.
Determina-se o comprimento (L') do cilindro.
2.° — Mistura-se o mesmo peso (k) de excipiente com líquido de humedecimento, em tal
quantidade que origine uma massa plástica, e prepara-se um cilindro de diâmetro c, em que
c = 0,8 h. Toma-se nota do peso do líquido utilizado (f'). Determina-se o comprimento do
cilindro (L").
845
A Fig. 320 representa, em esquema, os dois cilindros preparados como se disse e mostra também
o cilindro com dimensões adequadas (L) para se dividir rigorosamente, num pilulador com 10 sulcos,
isto é, para 10 pílulas.
Fig. 320. O cilindro n." 1 foi obtido com princípios medicamentosos e excipien-
tes. O cilindro n.° 2 foi exclusivamente preparado com excipientes. O cilindro
n." 3 representa o magdaleão a preparar para se conseguir a exacta divisão da
massa pilular no pilulador esquematizado (10 sulcos: n = 10}
k r (L-L') i
í- ^ —— (L-L') = t l + •
L" L L"
846
Obtêm-se, assim, com rigor, as quantidades de excipientes sólidos e líquidos que são necessárias
para preparar o peso de massa pilular facilmente divisível pelo número desejado.
Suponhamos que pretendíamos preparar 1000 pílulas de determinado princípio activo, titulando
cada pílula 0,1 g desse princípio. Como excipiente sólido utilizávamos o polietilenoglicol 4000 e,
como excipiente líquido, empregávamos uma mistura de água e glicerina, em partes iguais.
Por hipótese, dispúnhamos de um pilulador com 10 sulcos (n = 10), tendo cada
sulco o diâmetro de 0,58 cm (h = 0,58 cm). Nestas circunstâncias, precisaríamos de
preparar um magdaleão cujo comprimento fosse ,v;
L = n.h isto é,
L= 10x0,58 cm = 5,8 cm
Começaríamos por fazer uma mistura de 1,0 g de princípio activo com uma pequena quantidade
de polietilenoglicol 4000 humedecido com a mistura de água-glice-rina, de modo a que a massa
ficasse plástica. Suponhamos que gastávamos 0,8 g de excipiente sólido (k = 0,8 g) e 0,17 g de água-
glicerina (f =0,17 g). Com a massa preparávamos um cilindro de diâmetro c = 0,8 h = 0,8 x 0,58 cm
= 0,464 cm. Medido o seu comprimento, verificávamos ser este de 5 centímetros (Z/ = 5 cm).
Preparávamos, então, outro cilindro com idêntico diâmetro, mas exclusivamente constituído por
polietilenoglicol 4000 (0,8 g) e por água-glicerina. Suponhamos que a quantidade de solução agora
necessária era de 0,08 g (f = 0,08 g). Determinávamos o comprimento do cilindro tendo, por
hipótese, encontrado o valor de 2 centímetros (L' = 2 cm).
O peso total de polietilenoglicol 4000 a consumir para preparar um magdaleão de comprimento
L = 5,8 centímetros e cujo diâmetro fosse de c = 0,464 centímetros, seria:
= 1,12
0,08
(L-L') = 0,17 g (5,8 cm —5 cm) =
I" + • g 2 0,202
Os pesos citados seriam os necessários para preparar 10 pílulas. Para 1000 pílulas
careceríamos de 112 g de polietilenoglicol 4000 e de 20,2 g de uma solução aquosa de glicerina
em partes iguais.
Este modo de proceder só é prático para preparar grande número de pílulas, como na produção
em escala industrial. O processo pode simplificar-se sempre que a quantidade de princípio activo é
muito pequena em relação à quantidade de excipiente, pois, nesse caso, os valores de f e /' são
praticamente iguais.
Na indústria, os pós são homogeneizados e malaxados com as substâncias pastosas ou líquidas,
em misturadores apropriados, do tipo dos que descrevemos para a preparação dos comprimidos. É,
todavia, preciso ter em atenção que as massas pilulares são mais duras do que as que servem para
preparar granulados, devendo-se usar máquinas muito resistentes (misturadores do tipo planetário
ou helicoidal).
A massa pilular é laminada por intermédio de rolos de aço ou de
pedra, até que apresente a espessura desejada, sendo, seguidamente, pas-
sada entre rolos canelados que preparam os magdaleões. Cada rolo
canelado permite, assim, obter diversos magdaleões que ficam paralelos
uns aos outros. Numa outra máquina procede-se à secção dos referidos
magdaleões, obtendo-se fragmentos cilíndricos que são posteriormente
rolados até que adquiram a forma esférica. Este arredondamento é
executado em discos agitados mecanicamente, existindo no comércio
vários tipos de piluladores automáticos (Fig. 321) que chegam a
proporcionar um rendimento horário de 20000 a 30000 pílulas.
As pílulas também podem ser
preparadas por compressão entre >•"<«*••-' -
punções de cavidade hemi-esférica. Flg. 321. Pilulador
Estas pílulas, que apenas se diferenciam
dos comprimidos pela sua forma, distinguem-se das obtidas pêlos
processos clássicos porque apresentam uma linha de soldadura
meridiânica.
848
Este método, que se tem empregado para preparar pílulas ricas em extractos vegetais e resinas,
apresenta algumas dificuldades, já que há tendência para a sua fragmentação, quando a pílula é
ejectada da matriz. WELTI mostra a vantagem de fabricar este tipo de pílulas apenas à custa da
compressão do punção superior sobre as massas contidas numa matriz hemi-esférica. Quer isto dizer
que a compressão se efectua, não entre os dois punções, mas entre o punção superior e a matriz. Esta
é perfurada e atravessada por uma pequena peça que se movimenta sincronicamente com o punção
superior, cuja função é apenas empurrar a pílula formada na matriz para o exterior da câmara de
compressão.
A Fig. 322 esquematiza os dois tipos de máquinas de compressão mencionados, mostrando como
é possível a fragmentação das pílulas nas máquinas clássicas.
levava à fusão e se gotejava de modo a que se obtivesse esta forma farmacêutica. Posteriormente,
GIALDI e PONCI relataram também os resultados das suas experiências, conduzidas no mesmo sentido. Foi,
porém, em 1956 que uma publicação de BJORNSSON e MILLER veio tornar o primitivo processo extensivo às
pflulas de substâncias solúveis ou dispersíveis na água, justificando-se também a construção de
aparelhagem própria para a produção em escala industrial.
O princípio geral em que se baseia o método é o seguinte: a substância medicamentosa, dissolvida
na quantidade de excipiente necessária, é aquecida a uma temperatura compreendida entre 50 e 70°C; a
massa pilular assim obtida goteja num líquido mantido a baixa temperatura e no qual seja insolúvel. Se
a densidade do líquido onde se recebem as golas da massa pilular for inferior à desta, as gotas são
obrigadas a percorrer um certo caminho no seio do líquido, arredondando-se e solidificando. Se a
altura da coluna líquida atravessada e a sua densidade e temperatura forem judiciosamente escolhidas,
as gotas solidificadas serão perfeitamente esféricas e o seu peso não apresentará oscilações apreciáveis.
O rendimento do processo depende, entre outros factores, da abertura de escoamento das gotas, da
altura da massa pilular e da sua temperatura.
Segundo este processo, é possível preparar pflulas utilizando-se como excipiente o polietilenoglicol
4000 ou óleo de soja hidrogenado, respectivamente usados para fármacos hidrossolúveis ou lipossolúveis.
Assim, o luminal sódico tem-se empregado em pílulas cujo excipiente é constituído por polietilenoglicol
4000. Principia-se por dissolver aquele fármaco em glicerina e incorpora-se, seguidamente, a solução no
excipiente fundido. A massa obtida é mantida a 60°C, num recipiente próprio, fazendo--se gotejar por
uma abertura de 6 milímetros de diâmetro, situada na parte inferior daquele. As gotas são recebidas
em óleo de soja contido num cilindro de 28 cm de altura. Nas condições assinaladas, é possível
conseguir-se um rendimento de 30 gotas por minuto, e os desvios de peso observados não ultrapassam ±
2%.
Uma vez preparadas as pflulas, deve proceder-se ao seu desengorduramento, para o que se pode
utilizar o éter de petróleo.
Como atrás referimos, o método proposto por BJORNSSON e MILLER levou a que várias firmas
construtoras de aparelhos fabricassem piluladores para produção de pílulas por gotejamento. Entre eles
lembramos o sistema Piluterm, produzido pela casa dinamarquesa Schubert e Co., que permite uma
produção de vários milhares de pflulas por hora. Este aumento de rendimento é conseguido à custa da
incorporação de uma bomba aspirante-premente que retira, em cada movimento, uma certa quantidade
de massa pilular de um recipiente onde se encontra fundida e a comprime de encontro a uma abertura
cujo diâmetro condiciona o peso das pflulas. A Fig. 323 representa um aparelho Püuterm e um esquema
do modo como podem ser obtidas as pflulas segundo o primitivo processo de gotejamento.
É possível que a inovação introduzida por BJORNSSON e MILLER tenha trazido novo alento à forma
farmacêutica pflulas. Apesar disso, especialmente nos países latinos, as
850
pílulas foram sendo gradualmente substituídas pêlos comprimidos porque esta fornia farmacêutica se
pode preparar com maior rendimento de fabrico e porque é susceptível de menos alterações.
Julgamos que o espaço de tempo de 35 anos, decorrido desde 1956, data em que aqueles autores
publicaram o seu trabalho, até à presente época, é mais do que suficiente para definir uma posição
de destaque de uma forma farmacêutica. Ora, apesar das tentativa isoladas e dos êxitos conseguidos,
o prognóstico de sucesso para as pílulas não lhes é, de modo algum, favorável.
(2 ^
(
) 1 — 9
•
)
5^ • (
(3
1
)
0
-se que o doente deve ingerir uma quantidade tal dessas pílulas que permita a observância
posológica estabelecida pelo médico.
Outras vezes é possível, por meio de artifícios, diminuir o volume dos pós medicamentosos
destinados a administrar sob a forma de pílulas, de modo que aquelas apresentem um volume
compatível com a sua finalidade. É o que sucede, por exemplo, quando se preparam pílulas contendo
20 centigramas de sulfato de quinina que, sendo muito leve, apresenta elevado volume. Basta
adicionar algumas gotas de ácido láctico para que o pó se transforme em massa pilular de
consistência adequada, a qual permite a divisão em pílulas de volume normal.
As incompatibilidades apresentadas pêlos constituintes das pílulas são, em muitos casos,
incompatibilidades dos pós. Há, porém, exemplos de reactividade mais geral, pois que na
preparação das pílulas intervêm outros produtos, como extractos, tinturas, excipientes, etc.
Assim, quando se empregam extractos vegetais, é de ter em atenção que é vulgar aqueles
apresentarem reacção ácida. Umas pílulas contendo bicarbonatos ou nitritos originariam, nestas
condições, produção de anidrido carbónico ou de bióxido de azoto. A incompatibilidade citada é
perfeitamente resolúvel se se proceder à prévia neutralização do extracto ácido, com compostos
alcalinos, como o óxido de magnésio. Como exemplo, citamos a associação do pó de ruibarbo com
bicarbonato de sódio, na proporção de 15:20.
Na Bélgica, é relativamente vulgar a associação de vitamina BI (cloridrato de tiamina) com
fosforeto de zinco. Umas pílulas preparadas com estes fármacos podem levar à produção de
hidrogénio fosforado. A incompatibilidade soluciona-se misturando, separadamente, os fármacos com
excipientes neutros (gomas, xarope comum, polietile-noglicóis) e só depois se procedendo à
associação das misturas parciais.
Os extractos higroscópicos são facilmente alteráveis, sendo por isso aconselhável empregar
excipientes pilulares dotados de elevado poder absorvente (alcaçuz, alteia, etc.).
Os extractos vegetais podem também ser decompostos pela acção de substâncias alcalinas,
libertando amoníaco ou aminas diversas. Assim, seria prejudicial empregar o óxido de magnésio,
como excipiente pilular, em pílulas contendo extracto de pirliteiro. O mesmo se diz em relação
àquele excipiente, quando associado à colina (hidrato de trimetiletanolamónio), aos cloretos,
iodetos ou brometos de amónio, etc.
Certos princípios medicamentosos, como as resinas e alguns derivados fenólicos, endurecem
apreciavelmente por acção da alcalinidade. As pílulas que contenham estes compostos não
comportarão excipientes alcalinos.
As reacções entre os princípios medicamentosos e os excipientes operam-se, frequentemente, por
redução catalisada pela luz. O nitrato de prata e o permanganato de potássio não devem, por isso,
ser associados a excipientes dotados de poder redutor: Empregam-se associados a substâncias
inorgânicas inertes, como o caulino, o talco ou a terra de infusórios. O salicilato de sódio é
facilmente oxidável, sendo essa oxidação
852
catalisada em presença de alguns excipientes orgânicos e, por isso, também, neste caso, se aconselha
o caulino, como excipiente.
Algumas vezes a oxidação pode ser evitada incluindo compostos redutores na massa pilular.
Entre estes, é muito utilizada a lactose, que se emprega, por exemplo, nas pílulas de iodeto ferroso.
As oxidações e as alterações pela humidade podem evitar-se desde que as pílulas sejam
revestidas por envolvimentos adequados. Em certos casos, esses revestimentos são apenas
constituídos por pós inertes sobre os quais se rolam as pílulas depois de preparadas, como acontece
com pílulas contendo sais ferrosos, cuja protecção parcial se consegue com ferro em pó. Este
rolamento é, por vezes, usado com o fim de mascarar o cheiro ou o sabor dos medicamentos. Assim,
as pílulas contendo iodofórmio, extracto de valeriana, guaiacol, ele., devem ser roladas em pó de
café, cujo aroma atenua o desagradável cheiro dos princípios medicamentosos.
Além destes revestimentos podem utilizar-se outros envolvimentos protectores ou gastro-
resístentes e enterossolúveis. Trata-se da aplicação de camadas de vernizes, de soluções ou
dispersões várias, que aderem às pílulas, as quais se podem executar nas condições que descrevemos
para a obtenção de drageias. Como veremos, no subcapítulo seguinte, as pílulas revestidas por esses
processos podem ficar destituídas de cheiro e de sabor, tornarem-se menos sujeitas à oxidação ou à
destruição dos seus princípios medicamentosos pela acção da humidade ou serem unicamente
desagregáveis no suco entérico.
— protecção dos constituintes das pílulas da acção dos agentes atmosféricos (luz, humidade,
anidrido carbónico, oxigénio);
— eliminação ou atenuação do cheiro ou sabor desagradáveis conferidos pêlos princípios
medicamentosos;
— dar melhor aspecto à fórmula;
— evitar que as pílulas se desagreguem no suco gástrico, quer para proteger o seu
conteúdo medicamentoso da acção do ácido clorídrico e da pepsina, quer para
atenuar fenómenos irritativos locais produzidos pêlos princípios activos sobre as
mucosas gástrica e esofágica, quer, ainda, para permitir uma acção tópica ou
uma absorção ao nível do intestino. ,.. ,.
São muito diversos os revestimentos que se têm utilizado para envolver pílulas. Entretanto, tal
como para os comprimidos, podemos dividi-los em dois grandes grupos:
853
Este modo de proceder origina pílulas cujo envolvimento é menos regular do que o que se obtém
pelo processo industrial.
Não podem ser prateadas as pílulas que contenham enxofre, sulfuretos, halogenetos alcalinos ou
mercúrio e seus sais, o mesmo se aplicando aos revestimentos com ouro sobretudo quando se trate de
pílulas em cuja constituição exista mercúrio ou sais mercuriais.
Os revestimentos contendo bálsamo de Tolú são aplicados algumas vezes, especialmente quando se
pretende evitar a acção da humidade ou do oxigénio do ar sobre os princípios activos das pílulas. À
operação de revestimento com bálsamo de Tolú que se deve a BLANCARD, dá-se o nome de toluização.
As pílulas são mergulhadas numa solução de bálsamo de Tolú, de preferência velho e quebradiço, em
éter ou numa mistura etéreo-alcoólica, contida numa cápsula de fundo plano, à qual se imprime um
movimento de rotação, até que todo o dissolvente se tenha evaporado. A operação repete-se uma a
duas vezes e, após a secagem das pílulas ao ar livre (l hora), procede--se ao seu aquecimento, na
estufa, a 35°C.
A fim de tomar este envolvimento mais impermeável aos agentes atmosféricos, podem adicionar-
se corpos resinosos, como a sandaraca ou a mastica.
Eis algumas das fórmulas usadas: ,-...-. .. ,-,.. .„„.. -.• • .-„., ,,
•'f^-fi. • <*;*
I Bálsamo de Tolú .......................................... 5 g
Éter ................................................................ 20 » :.
mento de pílulas toluizadas, tendo verificado que podiam não chegar a desagregar-se no suco
entérico se a camada de revestimento fosse demasiado espessa. Por seu turno, COUVREUR chamou a
atenção para o facto das pílulas contendo sandaraca poderem resistir à acção do suco gástrico por
períodos de tempo de 45 a 75 minutos.
A manteiga de cacau é normalmente aplicada em mistura com chocolate (1:2). As pílulas, sem
revestimento com pós inertes ou apenas roladas sobre amido, são imersas na citada mistura
aquecida à fusão.
A parafina sólida, fundida a cerca de 80°C, pode igualmente empregar-se para o revestimento
de pílulas. Em regra é suficiente uma quantidade de parafina de 2 a 3 g para recobrir 1000 pílulas.
Os revestimentos com gelatina, aplicada em solução aquosa, que pode conter açúcar e goma
arábica, foram preconizados por GAROT, sendo hoje raras vezes utilizados, devido à morosidade da
operação. As pílulas, espetadas em alfinetes compridos, são imersas, por uma só vez, na solução
aquecida a 40-50°C, imprimindo-se-lhes um movimento giratório, durante a operação. Depois de
retiradas da solução, a gelatina que as reveste solidifica (2 a 3 minutos), obtendo-se um invólucro
contínuo em toda a superfície pilular.
Entre as fórmulas propostas recomendamos as seguintes, que nos parecem mais aconselháveis:
I Gelatina.......................................................... 30 g
Água destilada .............................................. 10 »
if
H Gelatina.......................................................... 12 »
Açúcar............................................................ 6»
Goma arábica ................................................ 8»
Água destilada .............................................. 15 »
Para preparar a solução (II) procede-se do seguinte modo: corta-se a gelatina em pequenos
fragmentos, adiciona-se a goma e a água e macera-se durante algum tempo; ajunta-se o açúcar e
dissolve-se a quente.
(fórmula de YVON)
Salol .............................................................. 2 g
Tanino ............................................................ 0,5 »
Éter ................................................................ 10 »
n
(fórmula de DANZEL)
Salol .............................................................. 1,5 g
Benzonaftol.................................................... 0,6 »
Acetilotanino.................................................. 0,9 »
Álcool de 90° .............................................. 23 »
Éter ................................................................ 7,2 »»
858
(fórmula de COUVREUR)
Salol .............................................................. 20 g
Goma laca, clara .......................................... 30 » - •' '«'
Éter ................................................................ 30 ml
Álcool .................................................. q.b.p. 150 »
y-, -, : . -. • - •
Salor .............................................................. 22,5 g
Ácido esteárico.............................................. 2,5 »
Solução alcoólica de goma laca a 10% .... 10 ml
Glúten — O glúten tem sido utilizado, embora o seu emprego dê resultados inconstantes, podendo
as pílulas resistirem ou não ao suco gástrico, consoante a espessura da camada de revestimento.
GLOBUS aconselha o uso de uma solução de 3 g de glúten em 15 ml de álcool de 60", devendo
aplicar-se três camadas de revestimento. O método seguido é o da imersão das pílulas na solução de
glúten contida numa cápsula larga de fundo chato. As pílulas são agitadas na solução e o glúten é
precipitado por adição de umas gotas de formol diluído. O formol reage com o glúten pêlos grupos -
NH2 que esta proteína apresenta (-NH2 + HCHO2 — » -N = C7/2), aumentando-se a sua resistência ao
ataque pelo suco gástrico. A operação termina com a aplicação de uma quarta camada de glúten,
desta vez sem adição de formol.
Goma laca — As exigências de qualidade deste produto e o seu empego foram esclarecidos a
propósito da obtenção de drageias gastro-resistentes.
Queratina — Trata-se de um produto de natureza proteica (escleroproteína) obtido por tratamento de
tecidos córneos animais. A queratina, que se não dissolve na água, é, porém, solúvel em ácido acético e
em amónia.
É necessário aplicar muitas camadas de queratina para que as pílulas resistam à acção do suco
gástrico por período de tempo apreciável. Segundo BRENNER, um envol-
859
vimento com queratina amoniacal com a espessura de 190 \i, só protege as pílulas da acção do suco
gástrico por um período de cerca de 25 minutos. Têm sido, por isso, propostas técnicas tendentes a
aumentarem a resistência das pílulas à acção da pepsina clorídrica. Entre elas, descrevemos a
seguinte: rolam-se as pílulas em manteiga de cacau fundida ou numa mistura de manteiga de cacau
com cera; quando o revestimento gordo está quase seco, retiram-se as pílulas e rolam-se sobre uma
pequena quantidade de grafite, procurando-se que adquiram brilho, mediante agitação. Depois de
um repouso de 15 minutos, a cerca de 0°C, aplicam-se umas 10 camadas de queratina amoniacal.
Entre as soluções de queratina mencionamos as seguintes:
i , ; -•
(queratina acética)
Queratina........................................................ 7g
Ácido acético ................................................ 100 »
(queratina amoniacal) - (
Queratina........................................................ 7g
Amónia a 10%.............................................. 50»
Álcool ............................................................ 50 »
Tanto a fórmula (I) como a fórmula (II) são preparadas por digestão da queratina a 30-40"C,
durante 24 horas, nos veículos respectivos. Ao fim desse tempo filtram-se por algodão de vidro.
Estearato de butilo — Este revestimento foi considerado a propósito do estudo das drageias,
podendo ser aplicado às pílulas pela técnica de imersão.
Acetoftalato de celulose — Pode dizer-se que o acetoftalato de celulose conserva um lugar de
destaque entre as substâncias utilizadas na preparação de revestimentos gastro-resistentes. A sua
aplicação já foi descrita no subcapítulo Drageias, podendo efectuar-se na pequena oficina pelo
método de imersão.
pílulas. Esta análise é, por vezes, bastante difícil, dada a circunstância de muitas pílulas conterem
preparações extractivas, como extractos ou tinturas, o que obriga a que se recorra, frequentemente,
à cromatografia em papel ou em camada delgada.
Peso — Se bem que alguns autores aceitem para as pílulas desvios médios da ordem de ± 15% e
desvios individuais até ± 30%, julgamos que estes limites representam uma tolerância excessiva. De
facto, nas preparações bem controladas não se observam desvios máximos superiores a 5%. Nestas
circunstâncias, somos do parecer de que são suficientes limites de tolerância, para o peso médio, de
± 7,5% e de ± 3,5%, respectivamente para as pílulas de peso compreendido entre 0,1 g e 0,15 g e
entre 0,15 g e 0,3 g.
O método de verificação é idêntico ao que indicámos para os comprimidos, devendo pesar-se 20
pílulas, em conjunto e individualmente, e determinar-se o seu peso médio e os afastamentos
individuais. Nas condições referidas, só duas pílulas em 20 poderão apresentar desvios individuais
superiores ao dobro dos desvios médios permitidos.
Uma vez que a F. P. não especifica limites de tolerância para o peso das pílulas, julgamos
possível adoptarem-se as variações que mencionámos, visto serem consentâneas com a preparação e
terem sido sugeridas por vários autores, como CASADEO e FRANQUEZA GRANER.
Velocidade de desagregação — A apreciação da velocidade de desagregação das pílulas pode
efectuar-se nas condições que descrevemos para os comprimidos. Entretanto, sendo em regra mais
lenta a sua desagregação do que a de comprimidos ou drageias contendo os mesmos princípios
medicamentosos, é aconselhável estabelecer os seguintes limites:
Pílulas sem revestimentos gastro-resistentes — Devem desagregar-se em menos de duas horas;
Pílulas com revestimentos gastro-resistentes — Em suco gástrico artificial não devem
desagregar-se em menos de duas horas.
7.2.1.4.1.7. Acondicionamento
O acondicionamento das pílulas pode ser executado de modo idêntico ao dos comprimidos. É
importante atender a que a conservação das pílulas é mais precária do que a dos comprimidos, o que
se deve, principalmente, ao mais elevado teor em água. Por outro lado, as pílulas podem endurecer
ao fim de certo tempo de armazenagem, o que está relacionado com o grau de humidade e com a
temperatura ambientes, mas também depende dos próprios excipientes empregados na sua
fabricação.
861
7.2.1.4.2. Grânulos , ,, . .
Grânulos são formas farmacêuticas semelhantes às pílulas, de peso inferior ou igual a 0,05 g, em cuja
composição entram fármacos muito activos que se administram em dose de mg ou fracção de mg.
A sua preparação decorre em moldes idênticos aos que mencionámos para as pílulas, empregando-
se, em geral, como excipiente, uma mistura de lactose com goma arábica, adicionada de água, de xarope
comum ou de melito simples.
A substância medicamentosa é misturada em almofariz de porcelana com a lactose e depois com goma
arábica, humedecendo-se a mistura com água destilada, com xarope comum ou com melito. Prepara-se
um magdaleão como foi indicado para as pílulas e divide-se este em pilulador adequado.
Se o princípio medicamentoso é solúvel na água, no álcool ou no éter, pode utilizar-se a sua
solução naqueles líquidos incorporando-se, então, a lactose. Deixa-se evaporar o dissolvente e, por fim,
adiciona-se a goma arábica. A mistura de pós assim preparada é tornada adesiva por intermédio de
xarope comum, o que permite obter uma massa de consistência própria para preparar o magdaleão.
A F. P. IV inscrevia dois tipos de grânulos — grânulos de anidrido arsenioso e grânulos de
estrofantina. Os primeiros são preparados de tal forma que contenham l mg de anidrido arsenioso,
enquanto que os segundo devem titular apenas 0,1 mg de estrofantina por grânulo. Esta diferença de
quantidades de princípio activo obriga a adoptar técnicas de preparação ligeiramente diferentes. Assim,
e recordando o que se disse a propósito dos Pós, deve preparar-se uma diluição prévia de estrofantina
com lactose, pois é incómodo e quiçá pouco rigoroso pesar tão pequena quantidade de estrofantina
(0,005 g para 50 grânulos, por exemplo). É preferível utilizar uma estrofantina diluída ao centésimo com
lactose.
A homogeneidade da mistura garante-se com a adição de uma pequena quantidade de carmim. Este
não é o modo de proceder da F. P. IV para os grânulos de estrofantina, pois que a fórmula que indica
refere-se à preparação de 100 grânulos e, portanto, a quantidade total de estrofantina a pesar é de 0,01
g. Mesmo assim, a referida farmacopeia manda misturar a estrofantina (0,01 g) com a décima parte
da lactose e o carmim e, depois, com o açúcar restante (3,6 g) e a goma arábica (l g). A fórmula para
100 deste grânulos é a seguinte:
Estrofantina.............................................. 0,01 g
Lactose .................................................... 4 »
Goma arábica, em pó ............................ l »
Carmim, em pó fino.............................. 0,002 »
Água destilada ........................................ q.b. ,,,,
862
Pó ao centésimo .......................................... lg
Lactose .......................................................... 3»
Goma arábica em pó .................................. l»
Água destilada .............................................. q.b.
A preparação dos grânulos titulados ao mg, como os de anidrido arsenioso, não obriga ao uso de
pós diluídos nem necessita do emprego do carmim.
A fórmula da F. P. IV para os grânulos titulados a l mg de princípio activo, é a seguinte:
Anidrido arsenioso, porfirizado .................. 0,10 g
Lactose em pó.............................................. 4 »
Goma arábica em pó .................................. l »
Água destilada .............................................. q.b.
«Triture demoradamente em gral de porcelana o anidrido com o açúcar, ajuntando este a pouco
e pouco; misture a goma e adicione tanta água quanta baste para formar massa de consistência
pilular que dividirá em 100 grânulos».
863
Os grânulos são formas farmacêuticas dotadas de boa conservação, devendo, para isso, serem
acondicionadas em frascos rolhados e mantidos ao abrigo da luz.
Ajunta-se o aloés ao óleo; mistura-se perfeitamente e, a pouco e pouco, adiciona--se o sabão até
consistência plástica.
Aloés em pó ................................................ 15 g
Carbonato de magnésio................................ 5 »
Sabão branco ................................................ 5 »
Faça um bolo de 25 g
BIBLIOGRAFIA
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COUVREUR, A. — Lês enrobages modemes dês dragées et dês pilules— Vigot Fréres, Paris, 1954.
DKNOÊL, A. — Cours de Pharmacie pratique — Lês presses uníversitaires — Liège, 1954.
FRANQUESA GRANER, R. — Circular Farmacêutica, 24, 16, 1966.
JENKINS, G. FRANCKE, O., BRECHT, E. e SPERANDIO, G. — The art of coitipoimding — Mc Graws — Hill
Book Co., New York, 1957.
MÜNZEL, K., BÜCHI, J. e SCHULTZ, O. — Galenisches praktikum — Verlags. Stuttgart, 1959.
SELLÉS MARTÍ — Farmácia galenica general — Madrid, 1963. WELTI, H. — Pharm. Acta Helv.
39, 139, 1964.
865
7.2.1.6. Chocolates
Os chocolates são preparações farmacêuticas obtidas pela mistura de chocolate com uma ou várias
substâncias medicamentosas. Destinam-se a serem ingeridos, podendo ou não serem mastigados.
Inicialmente, prepararam-se a partir da mistura do cacau com o açúcar, à qual se adicionava o
fármaco ou fármacos desejados. Depois da trituração em almofariz ajuntava-se glicerina ou xarope
comum, até consistência própria. Posteriormente, têm sido obtidos misturando intimamente o chocolate
alimentar com os fármacos, em almofariz
866
aquecido. A pasta assim obtida é moldada como se descreve para a obtenção das Pastilhas. Podem
também preparar-se por compressão em máquina adequada, ou fundindo a pasta e vertendo-a em
moldes lubrificados. O seu peso e forma são variáveis, sendo vulgares os chocolates de 2 g, com
forma discóide. Dada a semelhança na preparação, é corrente considerarem-se os chocolates como
um tipo especial de pastilhas. Entretanto, preferimos estudá-los separadamente, pois que as pastilhas
se destinam a dissolverem-se ou desagregarem-se com lentidão na boca, o que está longe de cons-
tituir uma das características dos chocolates.
A maioria dos chocolates medicamentosos contém fármacos purgativos, como a escamónea e a
fenolftaleína, ou vermífugos, como a santonina.
se distinguem pêlos excipientes que podem conter. Nesta ordem de ideias, sob a rubrica geral de
Pastilhas consideraremos os dois tipos de preparações a que aludimos.
Os ingleses e norte-americanos designam as pastilhas preparadas com açúcar e gomas pelo
nome de troches, termo que provém da palavra grega trochos ('), que significa redondo ou circular.
Além destas pastilhas empregam outras, cujo excipiente é constituído por gelatina, em regra
associada à glicerina, a que, correntemente, dão o nome de pastilles. Sob a designação geral de
lozenges englobam os troches e as pas-tiiles e até certos comprimidos que se destinam a dissolverem-
se lentamente na boca.
Por último, nos países latinos usam-se ainda outras espécies de pastilhas cuja principal
característica é uma elevada percentagem de gomas. Em Espanha, este tipo de medicamento tem sido
denominado por pastilhas de goma e em Portugal e na França é corrente a designação de pastas.
No intuito de sistematizar a classificação que iremos seguir e de mostrar a correspondência entre
a nossa nomenclatura e a adoptada em outros países, apresentamos a tabela seguinte:
Em regra, a espessura é de 4 mm, devendo usar-se, com a maioria das massas, compressores-
doseadores cujo diâmetro seja de 16 mm. Nestas circunstâncias, o peso das pastilhas, após secagem, é
de cerca de l g.
Há tabelas que relacionam, para pastilhas de diferentes substâncias, a espessura da massa com o
diâmetro do molde que a deve recortar, de modo a que o peso final de cada pastilha seja de l g
(Tabela Cl).
Se bem que as pastilhas de secção circular sejam as mais correntemente empregadas, esta forma
não é obrigatória, podendo moldar-se pastilhas de secção triangular, rectangular, hexagonal, etc. É
evidente que, também nesse caso, se deverá dar à massa uma espessura tal que a área recortada
permita obter pastilhas pesando cerca de l g. Anotemos, porém, que se têm preparado pastilhas com
peso diferente do habitualmente consagrado.
A altura (h) que cada pastilha deve apresentar, isto é, a espessura que se deve conferir à massa,
pode calcular-se com rigor, sabendo-se que o volume (V) ocupado por uma pastilha é dado pela área
de base multiplicada pela altura:
A área da base de cada pastilha é fácil de avaliar, indicando-se na Fig. 325 o modo de proceder,
consoante a forma da pastilha.
Quando se prepara a massa total para N pastilhas pode formar-se com ela uma bola de diâmetro
D. O volume da bola obtida é, evidentemente, igual a V,, exprimindo--se da seguinte forma:
ï'. '•: \' <> . '-" .. •-'
4 D
4ir _ ^ / \' 4-r D3 ir D1
3 3 ' 2 •' 3
3
ir D
S.h.N = ———
donde: 6
Pode, portanto, escolher-se o molde que recortará a área desejada (S), determinando-se a altura (ft)
com que a massa deve ficar para se obterem pastilhas do peso pretendido.
872
Forma da pastilhaSuperfície
- s A.B. „
Elipse
Quadrado
Rectângulo
Oct
ógo
no
Losango
V
-• '•• "•- , , 9 cm? . *ÍTO «i\-:-
...--.- h = ———— = ———————— = 3,2 mm , , ,.
S N
- 282 mm2.10 ',',."".-,
Segundo o modo de preparação, as pastas podem ser transparentes ou vazadas e opacas, sendo o
aspecto destas devido à interposição de ar por agitação ou à adição de claras de ovo. A quantidade de
goma em relação à do açúcar é de 3/2, 4/3, ou, quando a goma é de excepcional qualidade, de 1/1 (').
As pastas transparentes preparam-se por dissolução, a quente, da goma arábica e do açúcar em
água destilada, num macerado, num infuso, num cozimento, etc. Promove-se a evaporação da água, sem
agitar, a banho de água fervente, tendo o cuidado de eliminar a espuma quando o líquido principia a
tornar-se muito viscoso. Nessa altura ajuntam-se os restantes princípios que entram na fórmula. Coa-se a
massa para moldes de lata, previamente oleados com parafina (2) ou recobertos por papel, ou ainda
para uma pedra de mármore também lubrificada.
As pastas opacas preparam-se por dissolução nas mesmas condições, mas a evaporação é facilitada
pela agitação contínua, até consistência de mel espesso, facto por que também se designam por pastas
batidas. Logo que se atingiu a consistência de mel espesso, adicionam-se claras de ovo batidas, os
hidrolatos que entram na composição da fórmula e os princípios medicamentosos daquela. Procede-se
então como foi dito para as pastas transparentes, isto é, continua-se a evaporação da água a banho-maria
fervente, mas agora agitando sempre, para remover a maior parte da água. A operação pode ser levada a
cabo sem haver necessidade de se adicionarem claras de ovo. Efectivamente, estas, ao coagularem pelo
calor, aumentam a opacidade das pastas, mas a presença de bolhas de ar interpostas na massa pela
agitação é suficiente para que as pastilhas não fiquem transparentes.
Do mesmo modo que com as pastas vazadas procede-se, depois, ao seu lançamento sobre uma placa
de mármore ou em moldes lubrificados.
Esfriada a massa, obtêm-se, em qualquer dos casos (transparentes ou opacas), lâminas
ligeiramente elásticas que, se não se preparam por meio de moldes, serão recortadas com a forma de
quadrados de 15 milímetros de lado.
A massa das pastas pode-se tornar mais elástica e mole desde que se inclua glicerina na sua
composição (cerca de l a 2%).
Com o fim de conservar as pastas por bastante tempo, visto que amolecem ou se tornam duras, o que
depende da temperatura e da humidade que as cerca durante a armazenagem, é hábito polvilhá-las com
açúcar cristalizado (3), guardando-as em caixas de lata, em lugar fresco e seco. Esta operação de
recobrimento com açúcar pode conseguir-se imergindo-as em xarope comum saturado de açúcar, de
modo a que a sua superfície fique revestida de pequenos cristais de sacarose. Depois de se ter observado
a deposição do açúcar, retiram-se do xarope, escorrem-se e deixam-se secar.
(') Segundo SCHULTZ e BRÜNING (Pharm. Acta Helv. 39, 35, 1964) a melhor proporção de goma--
açúcar é de (1/1).
(23) Pode usar-se o óleo de amêndoas ou, até, o óleo de amendoim.
( ) Este açúcar é muitas vezes designado por açúcar cândi, palavra que provém do árabe (cand)
e que significa açúcar cristalizado. -.? • •••.-c 1=-;;. ..s, > .. •,. -
875
Além deste tipo de pastilhas de goma usam-se, por vezes, pastilhas de forma aproximadamente
esférica, cuja massa é preparada de modo análogo ao que mencionámos, mas em que os moldes são
cavidades em madeira com a forma de semi--esferas.
As pastas usam-se, especialmente, como medicamentos béquicos. ' •/ !J ivfti.
A gelatina, depois de lavada com álcool, é cortada em pequenos fragmentos e amolecida em água
aquecida a banho-maria. Adiciona-se então a glicerina e continua-se o
876
aquecimento até que se obtenha uma solução límpida. Deixa-se arrefecer, conse-guindo-se, assim,
uma massa suficientemente elástica e firme, que se dissolverá lentamente na boca.
Entre as fórmulas que contêm goma arábica citamos a seguinte que promove uma muito lenta
dissolução das pastilhas na boca:
Gelatina.......................................................... 10 g
Glicerina ........................................................ 25 »
Água destilada .............................................. 20-25 »
Goma arábica ................................................ 0,25 »
Em casos especiais, estas pastilhas podem não conter glicerina. Assim, nas preparações cujo
princípio medicamentoso é a penicilina G, não se deve incluir glicerina, que destrói aquele
antibiótico.
A junção dos princípios medicamentosos é, em regra, executada quando na preparação da
massa gelatinosa se observa apreciável espessamento. Se o fármaco não é solúvel, é aconselhável
misturá-lo, previamente, com a glicerina, de modo a que constitua uma pasta que então se
incorpora na massa gelatinosa.
Preparada a massa, deita-se esta em moldes de vidro ou de latão, lubrificados com parafina
líquida ou com um óleo, ou lança-se sobre uma superfície plana e fria (pedra mármore) onde se
espalha livremente sob a forma de toalha. Neste último caso, após solidificação, recortam-se as
pastilhas com a forma e o peso pretendidos.
jam presentes aldeídos ou cetonas (provenientes da inversão do açúcar ou existentes nos aromatizantes).
A reacção é mais fácil em meio alcalino.
HO-C- H '••••'
Ç-CH-CH,
•*••C-9CH-CH,
C ANH,
H-
LOJ —
:
' O
CH, OH
C- C-
-— C-R,
"•'i ,: •"'!) ?.ti
879
diferentes pastilhas (tabelas ou tablettes) inscritas na F. P. IV, verificámos que esse período oscilava
entre 16 minutos (pastilhas de santonina) e 24 minutos (pastilhas balsâmicas), sendo de 18 minutos
para as restantes fórmulas (pastilhas de carvão, de clorato de potássio, de bicarbonato de sódio e de
hortelã-pimenta).
A substituição da goma adraganta pela metilcelulose a 30% aumenta substancialmente os
períodos de desagregação nas mencionadas pastilhas. É evidente que se pode apreciar, durante a
dissolução de uma pastilha, a regularidade ou irregularidade de cedência dos seus princípios
medicamentosos, para o que é suficiente proceder à sua dosagem no líquido de ensaio, em tempos
pré-estabelecidos. Podem, assim, ser construídas curvas de cedência, marcando-se em abcissas a
quantidade de princípios activos dissolvidos e em ordenadas os tempos em que se procedeu à recolha
do líquido aquoso e à sua análise.
Na Fig. 326 mostram-se as relações que mencionámos, quando se submeteram à dissolução 5
pastilhas de bicarbonato de sódio (substância hidrossolúvel) preparadas com metilcelulose a 30%.
Tabela CM. Quantidades de carvão cedidas por pastilhas em função do tempo (1)
Tempos . Quantidades
u
de carvão
(em minutos) ' cedidas (em g)
10 . ' . ,, 0,04
20 , '" ' 0,12
50 •'•' • - • ' • " "•'• "",: ••• 0>66
so • • "'; - ; = : j i -* "• 1,10
Segundo Morgado « ai. Rev. Port. Farm., 15, 273 (1965)
Dureza — A dureza das pastilhas contendo gomas ou mucilagens é, também, uma das
características que interessa considerar, dela dependendo, em larga medida, a velocidade de
desagregação que apresentam.
Para apreciação da dureza podem utilizar-se os métodos que indicámos a propósito dos
comprimidos, sendo corrente o emprego do aparelho de Monsanto quando as pastilhas têm a forma
cilíndrica.
As pastilhas contendo mucilagens e açúcar apresentam durezas da ordem de 8-15 kg (aparelho
de Monsanto). Já as pastas, cujo excipienfe é muito rico em goma arábica, são, em regra, mais duras.
Friabilidade — Trata-se de um ensaio que pode dar indicações preciosas em relação à
resistência que as pastilhas apresentam aquando do seu acondicionamento e transporte.
Para as pastilhas de forma cilíndrica pode usar-se o friabilómetro Roche, sendo a quantidade de
pó libertada habitualmente superior à taxa estipulada para os comprimidos. Em regra, as pastilhas
preparadas com metilcelulose originam menores resíduos pulverulentos (0,18 a 0,89 por cento, nas
pastilhas inscritas na F. P. IV e preparadas com Methocel 400).
Não é vulgar proceder-se à determinação da friabilidade das pastilhas de glico--gelatina, dada a
sua característica elasticidade. Para elas é aconselhável determinar-se a consistência da geleia que
originam, podendo recorrer-se aos processos do penetrómetro, cuja técnica de ensaio descreveremos
a propósito das Pomadas.
Na Tabela CH.I indicamos os resultados dos ensaios feitos por MORGADO et ai. sobre as pastilhas
inscritas na F. P. IV, quer preparadas com goma adraganta, quer obtidas com metilcelulose a 30%.
Peso — Numa fabricação bem controlada de pastilhas é possível não ultrapassar desvios médios
superiores a ± 10% e desvios individuais maiores do que ± 20%. Se bem que não conheçamos
normas oficializadas para as variações de peso a tolerar nas pastilhas, julgamos que os limites
citados satisfazem na generalidade.
Ensaio efectuado com cinco pastilhas de carvão titulando 0,20 g por pastilha.
880
Estas pastilhas, dotadas de acção anestésica local, podem ser preparadas pela forma que
passamos a descrever: mistura-se a vanilina com o açúcar e dissolve-se o cloridrato em cerca de 5
ml da água prescrita para a mucilagem; mistura-se a solução da cocaína com a mucilagem e
prepara-se a massa do modo habitual, fazendo pastilhas de l g. Nestas circunstâncias, cada pastilha
conterá l mg de cocaína.
Hl -• : • -..''í
Eucaliptol ......................................................0,5 g
Mentol............................................................0,5 »
Tintura de salsaparrilha................................ 5 »
Glicerina ........................................................12,5 »
Goma arábica ................................................300 »
Açúcar em pó ..............................................200 »
Água destilada ..............................................300 »
883
Trata-se de pastilhas de goma ou pastas, constituindo uma fórmula conhecida pela designação de
pastilhas de Valda.
Dissolve-se o eucaliptol na untura, ajunta-se o mentol e a glicerina. À parte, dissolve-se a goma
na água e coa-se; a esta mucilagem adiciona-se o açúcar, que se dissolve, e procede-se à
concentração a banho de água, até consistência de xarope muito espesso. Ajunta-se a solução do
eucaliptol e do mentol e lança-se em moldes lubrificados com óleo de amêndoas. Seca-se na estufa a
cerca de 40°C.
É hábito corarem-se estas pastilhas, para o que se adiciona o corante em solução aquosa logo
após a junção do eucaliptol e mentol dissolvidos na tintura e na glicerina. Tem-se empregado, como
corante, o verde malaquite a 1%, se bem que se não deva utilizar esta substância, dada a sua
toxicidade.
• vi '•''• -
Esta pasta, que foi muito utilizada com o nome de pasta balsâmica ou pasta
peitoral de Regnault, é preparada do seguinte modo: dissolver a goma no infuso frio;
ajuntar a água de flores de laranjeira e a tintura e dissolver o açúcar a banho-maria;
evaporar até consistência viscosa; adicionar a glicerina e continuar a evaporação até
obter uma pasta firme; verter a massa sobre uma superfície de mármore polvilhada com
amido ou em moldes lubrificados. .í.-.- i -...., ' -íi .
vn
Mentol.................................................. 3 mg
Eucaliptol ............................................ 3 cg
Gelatina glicerinada .................... q.b.p. l pastilha
885
!
vm '•••',- ^,r:s:t'•"'•'
Penicilina G cálcica........................ 100000 unidades •" «1;";*"-!>
Citrato de sódio.............................. 2g '
Amido .............................................. 20 » ,}•
Gelatina............................................ 40» ;. - ;.,t,
Sacarose............................................ 60 »
Água destilada ................................ 140 »
Essência de hortelã-pimenta .......... q.b.
Na preparação destas pastilhas não se inclui a glicerina, dado que poderia hidro-lisar a
penicilina G. A gelatina deve, preferentemente, ser do tipo «pharmagel B», isto é, com ponto
isoeléctrico de 4,7. Por outro lado, não deverá conter anidrido sulfuroso, o que é vulgar na gelatina
comercial, uma vez que os redutores também destroem a penicilina.
É aconselhável adicionar um agente conservante para impedir o desenvolvimento de fungos.
Pode servir o propilparabeno (Nipazol) numa concentração de 0,1%. A presença de citrato de sódio
é aconselhável para manter a estabilidade da penicilina (acção tampão), que é menos alterável a pH
próximo da neutralidade.
A técnica de preparação de tais pastilhas é a seguinte: ferve-se o amido, a gelatina, o açúcar e o
citrato, durante 3 minutos na água; deixa-se arrefecer a 40°C e adiciona--se a penicilina e a
essência, agitando sempre. Obtém-se uma geleia que se divide, por corte, em pastilhas.
Se se pretender juntar o conservante, deve ter-se em atenção que o Nipazol só é solúvel em água
quente, devendo, por isso, ser adicionado de início.
BIBLIOGRAFIA
Livros de carácter geral: . .
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Artigos de carácter especializado: '
MORGADO, R., MATOS, L, CRUZ, A. e PRISTA, L. — Rev. Port. Farm. 15, 273, 1965. TROTTER,
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Acta Helv. — 26, 91. 1951.
PKTER, D. — Medicated Lozenges, in Pharmaceutical Dosage Forms: Tablets, Mareei Dekker, New York and Basel, 1980.
885
7.2.1.8. Lentículas ^
suficiente 1,3 ml por cada 100 g de lactose. As misturas de sacarose e lactose são também
empregadas, especialmente na proporção de 20:100.
O caulino e o carbonato de cálcio são, igualmente, utilizados como excipientes para as lentículas
destinadas à administração gastro-intestinal, usando-se sempre que os princípios medicamentosos
possam ser reduzidos pêlos açúcares, como sucede com o permanganato de potássio ou com o nitrato
de prata.
Para uso hipodérmico usam-se exclusivamente a lactose, a sacarose, a glicose e o sulfato de
sódio. Alguns fabricantes preferem empregar a p-lactose, cuja solubilidade na água é cerca de duas
vezes superior à da a-lactose (açúcar de leite oficial).
Entre os fármacos correntemente utilizados sob a forma de lentículas podemos citar o cloreto
mercuroso, o permanganato de potásso, o nitrato de prata e alcalóides, como a morfina e a
estricnina.
As lentículas são pouco usadas nos países latinos. Entretanto, é muito frequente o seu emprego na
América e na Grã-Bretanha.
As lentículas destinadas à administração gastro-intestinal devem satisfazer aos ensaios de
velocidade de desagregação ou de dissolução que indicámos para as pastilhas e podem acondicionar-
se como os comprimidos ou como as pastilhas.
As lentículas para uso hipodérmico devem dissolver-se em água destilada num prazo máximo de 2
minutos. Estas lentículas devem ser expedidas em frascos de vidro que fechem hermeticamente, os
quais se esterilizam antes do acondicionamento.
7.2.1.8.2. Formulário
Indicamos apenas duas fórmulas, suficientemente representativas, de lentículas: lentículas de
sulfato de estricnina, para uso oral, e lentículas de sulfato de morfina, para aplicação hipodérmica.
Calculado o peso total de lactose, mistura-se esta intimidamente com os restantes componentes
da fórmula e humedece-se com álcool de 50°.
Enchem-se os moldes e secam-se as lentículas a 40°C. .->.«.'••
Sulfato de morfina........................................ l g •' ' '
Sacarose ........................................................ 7,5 »
Lactose .......................................................... l »
Misture intimamente os pós. Humedeça-os com álcool de 50° e encha 100 alvéolos do molde.
Seque a temperatura não superior a 40°C.
Toda a operação deve ser conduzida em câmara asséptica, sendo necessário utilizar-se pós
estéreis para esta preparação, que se destina a uso hipodérmico.
Cada lentícula deverá conter l cg de morfina sob a forma de sulfato. Para aplicação desta
fórmula deve dissolver-se uma lentícula em 2 ml de água esterilizada, injectando-se a solução por via
subcutânea ou intramuscular.
ir ••:•. .i
888
7.2.1.9. Cápsulas
Podemos definir cápsulas como preparações farmacêuticas constituídas por um invólucro de
natureza, forma e dimensões variadas, contendo substâncias medicinais sólidas, pastosas ou líquidas.
O invólucro das cápsulas é, correntemente, de natureza amilácea (hóstias) ou constituído por gelatina
(cápsulas gelatinosas).
O conteúdo das cápsulas amiláceas é sempre sólido, enquanto que o das cápsulas de gelatina, que
na maioria das vezes é sólido, pode também ser constituído por líquidos que não dissolvam as suas
paredes.
O acondicionamento das substâncias medicamentosas nos referidos invólucros
apresenta diversas vantagens: . -. -
1.° — o uso de cápsulas constitui um meio de administração de substâncias nau-seosas ou de sabor
desagradável sob uma forma em que não se apercebe o seu gosto;
2.° — as paredes das cápsulas amiláceas e gelatinosas são digestíveis e libertam, rapidamente, os
medicamentos depois da ingestão;
3.° — graças à elasticidade das suas paredes, as cápsulas são de mais fácil deglutição do que os
comprimidos;
4.° — as cápsulas gelatinosas são susceptíveis de serem revestidas por invólucros gastro-resistentes,
podendo passar pelo estômago sem serem desagregadas ou constituírem um preparado de acção
modificada.
tarde, DIGNE aperfeiçoou o método de preparação proposto por LIMOUSIN, o que veio a permitir a
enorme difusão desta forma farmacêutica.
As hóstias, que tiveram um largo emprego durante mais de 50 anos, têm sido relegadas para
plano secundário e, a pouco e pouco, foram sendo substituídas por outras formas farmacêuticas que
sobre elas apresentam a vantagem de um maior rendimento de produção e melhor conservação.
Quanto a nós, não vemos razões farmacológicas para que os comprimidos ou as cápsulas gelatinosas
sejam mais eficientes do que as clássicas hóstias mas compreendemos a maior divulgação destas
formas, dada a tendência para a industrialização que é característica da época presente.
Em França esta forma galénica é designada por cacheis, nome que também se tem
divulgado em países de língua anglo-saxónica. Entretando, é também corrente, na
América, a designação de konseals. - - -. - . ....
(') O amido é preparado à custa de uma farinha de trigo que foi desengordurada e a que se
retirou todo o seu glúten. • • . - . . - • ...._, ..,
890
máquinas próprias. Este corte pode deixar apenas as cúpulas (hóstias de fechar a seco) ou as
cúpulas com uma pequena margem que mais tarde se destina à colagem das hóstias (hóstias de
fechar a húmido).
:
Flg. 326. Tipos de hóstias
a — De fechar a húmido
b — De fechar a seco (tipo Secca)
c — De fechar a seco (tipo Pastilha)
Os invólucros das hóstias podem ter inscrito, numa ou nas duas faces circulares, o nome do
medicamento, a que se destinam, da farmácia que as preparou, etc. Esta operação é, também, do
domínio industrial, marcando-se as cúpulas, antes do corte, com um carimbo de borracha contendo
os dizeres desejados.
Algumas cúpulas de hóstias são coradas, usando-se, para isso, corantes permitidos para a
alimentação e legalmente aprovados, os quais se incluem na mistura dos amidos.
Algumas cúpulas de hóstias de encaixe ou as de fechar a húmido são fabricadas com diversas
capacidades, pois destinam-se a conter quantidades variáveis de substâncias pulverulentas.
Designam-se por números, sendo mais correntes os seguintes: 00, O, 0,5, /, 7,5, 2 e 2,5.
Do ponto de vista prático, como a possibilidade de acondicionamento nas cúpulas depende do
volume aparente dos pós, é costume relacionar o número da cúpula com a quantidade de pó,
comprimido ou não, que ela é capaz de receber. Mais correcto é, sem dúvida, indicar a capacidade
exacta de cada cúpula de dado número. Contudo, é habitual relacionarem-se os números das cúpulas
com os pesos de diversas substâncias que, no estado de pó, podem acondicionar, o que nos parece
constituir um sistema sujeito a erros, uma vez que não atende à tenuidade do pó.
891
Tabela CIV. Pesos de várias substâncias que é possível acondicionar em cúpulas de diversos
números
N° das cúpulas Bicarbonato Acido acetil- Salicilato
(Sevcik) de sódio salicílico de sódio
00 0,35 g 0,27 g 0,17 g
0 0,44 » 0,34 » 0,21 »
0,5 0,55 » 0,43 » 0,25 »
1 0,64 » 0,52 » 0,32 »
1,5 0,78 » 0,63 » 0,42 »
2 1,02 » 0,83 » 0,52 »
2,5 1,50 » 1,01 » 0,61 »
Se bem que entre nós ainda se utilizem as cúpulas de fechar a húmido, em vários países, como a
Bélgica, a Alemanha e mesmo a França, a grande maioria das hóstias é do tipo de encaixe. Há dois
modelos de cúpulas de encaixar: as do tipo Secca, que apresentam uma espécie de saliência
cilíndrica na sua superfície circular, e as do tipo Postula, cujas superfícies circulares são planas.
Na Tabela CV indicamos as relações mais correntemente observadas entre o número das cúpulas
do tipo Pastilla e as suas dimensões.
As cúpulas do tipo Secca apresentam alturas idênticas às do tipo Pastilla mas os seus diâmetros
são ligeiramente inferiores. Entretanto, dado que possuem uma pequena saliência, de forma
cilíndrica, na qual o pó também se acondiciona, o seu volume é, aproximadamente, igual às
correspondentes do tipo Pastilla. Assim, para fins práticos,
podemos considerar que a sua capacidade é a seguinte: 00 (0,73 ml); O (1,00 ml); l (1,25 ml); 2
(1,56 ml); 2,5 (2,00 ml).
Ainda do ponto de vista prático, é possível acondicionar, em cúpulas de hóstias de fechar a húmido, as
quantidades de pó que enchem perfeitamente os correspondentes invólucros dos tipos Secca ou Pastilla.
descer o pistão. Obtém-se, assim, uma espécie de pastilha, cujo peso será igual ao da fracção de pó a
introduzir nas cúpulas de cada hóstia. Na prática, aplica-se o aparelho sobre o pó colocado numa
superfície rígida, e, por tentativas, procurar-se-á obter uma «pastilha» que tenha o peso pretendido.
Depois, com a regulação correspondente a essa «pastilha», vão-se fazendo outras com o pó a
distribuir, até que todo ele fique acondicionado nas cúpulas. Existem vários modelos de
compressores-doseadores, como os de FINOT, de LENGLEN e os de DIGNE, que consideramos mais perfeitos
(Fig. 329).
Quando o fraccionamento é executado por um processo diferente há, por
vezes, necessidade de se comprimir levemente o pó dentro da cúpula, de modo a
que seja facilitado o fecho da hóstia. Essa operação leva-se a efeito com
pequenos calcadores de metal ou de madeira que apresentam superfícies de
diferentes dimensões, consoante o tamanho das cúpulas a utilizar.
É evidente que a operação de distribuição dos pós pelas cúpulas pode ser
efectuada dispondo estas sobre uma superfície plana e limpa, como uma folha de
papel estendida na mesa de trabalho. Existem, no entanto, aparelhos que
permitem realizar a operação de distribuição do pó e o fecho das hóstias, os
quais, conforme as cápsulas amiláceas são de fechar a seco ou a húmido, são
fabricados em duas modalidades que passamos a descrever.
Fig. 329. Aparelho de fechar a húmido — O modelo mais corrente é, sem dúvida, o de
Compressores-- LENGLEN, constituído
doseadores para por três placas metálicas reunidas por dobradiças e inteiramente sobreponíveis,
hóstias
mostrando a Fig. 330 A o referido aparelho aberto. As placas 2 e 3 possuem
1 — de
aberturas De vários diâmetros, correspondentes às hóstias a preparar, colocando-se na placa 2 as
cúpulas vazias com a parte oca virada para cima, após o que se aplica sobre elas a placa l
apresentando orifícios tronco-cónicos que cobrem, exactamente, os bordos das cúpulas e servem de
funil para facilitar o lançamento dos pós que as irão encher (Fig. 330 B). Feita a distribuição do pó
pelas cúpulas, comprime-se este, ligeiramente, com um calcador apropriado e levanta-se, então, a
placa 1. Feito isto, introduzem-se as cúpulas que irão formar a outra hemí-hóstia na placa 3 e
humedecem-se os bordos dessas segundas cúpulas, usando para isso um rolo de borracha molhado
em água destilada (Fig. 330 B). Justapõem-se, então, as placas 2 e 3 e comprimem-se ligeiramente
(Fig. 330 C), obtendo-se, deste modo, a colagem das hóstias, as quais são, depois, retiradas uma vez
aberto o aparelho.
894
Existem aparelhos para fechar hóstias a húmido, constituídos apenas por duas placas. Numa das
placas colocam-se nos alvéolos respectivos as cúpulas para enchimento. As faces da segunda placa
são diferentes, sendo uma lisa, onde se encontram os orifícios para introduzir as cúpulas que
funcionam como tampas. A outra face apresenta os orifícios em secção tronco-cónica, o que permite
a introdução dos pós nas cúpulas que desempenham a função de recipientes. Colocadas as cúpulas
na primeira placa, ajusta-se sobre ela a segunda placa e procede-se ao enchimento. Uma vez este
executado, levanta-se a segunda placa e nela se introduzem as cúpulas que fecharão as primeiras e
que, posteriormente, se humedecem. As placas são, então, ajustadas e comprimidas.
Quando não haja aparelho para fechar hóstias a húmido pode improvisar-se um sistema
constituído por dois frascos com idêntica abertura, de secção circular, onde se encaixam os
invólucros. Na boca de um dos frascos coloca-se a cúpula onde se deita o pó. A outra cúpula
encaixa-se na boca do segundo frasco e humedece-se o seu bordo. Inverte-se então o segundo frasco
sobre o primeiro, tendo o cuidado de verificar se os invólucros ficaram bem ajustados, e comprime-
se ligeiramente.
Aparelho de fechar a seco — Este aparelho permite, graças a um sistema de contraplacas, que as
cúpulas que funcionam como recipiente subam e se encaixem nas que actuam como tampa, que
descem. A operação de enchimento e distribuição é semelhante à que descrevemos anteriormente.
895
7.2.1.9.1.4. Incompatibilidades
De um modo geral, a preparação dos pós para dispensar sob a forma de hóstias deve obedecer às
regras da manipulação daqueles. Os problemas que eventualmente surgem quando se preparam
cápsulas amiláceas são, por isso, casos particulares resultantes das incompatibilidades entre os pós
simples ou das dificuldades das suas associações.
É evidente, por exemplo, que as substâncias higroscópicas e deliquescentes só se poderão utilizar
sob a forma de hóstias quando adicionadas de compostos absorventes, como o carbonato e o óxido
de magnésio, o caulino, o sulfato de sódio anidro, etc. Do mesmo modo, as misturas eutéticas só
poderão ser acondicionadas em hóstias desde que se possa impedir a incompatibilidade (').
Igualmente, os compostos dotados de elevado poder de fixação de gases, como o carvão activado (Oy
COr Nr etc.), o quermes--mineral (O2), os iodetos (CO2), etc., podem perder o seu interesse
terapêutico ou sofrerem alterações mais ou menos profundas na sua composição.
As substâncias facilmente volatilizáveis não se devem empregar sob a forma de hóstias. De igual
modo, os compostos eflorescentes perdem a sua água de cristalização, embora essa perda não
prejudique, geralmente, o seu emprego sob a forma de cápsulas amiláceas.
Os compostos que reagem com o amido das cúpulas, como o iodo, não podem ser acondicionados
em hóstias.
(') Por vezes pode recorrer-se a artifícios, a fim de evitar que dois componentes do pó a dis-
pensar sob a forma de cápsulas amiláceas originem incompatibilidades diversas. Na Grã-Bretanha há
cúpulas de hóstias em que existe um septo perpendicular à superfície plana do invólucro. Este tipo de
cúpula permite adicionar, separadamente, os dois pós reactivos, sendo as hóstias obtidas designadas
por bi-palatinóides.
896
da falta de higiene dos operários que as fabricam ou das poeiras atmosféricas. É por todas estas
razões que se recomenda que as cúpulas sejam preparadas a temperaturas que dêem garantia de
estabilidade e que toda a sua manipulação decorra em ambiente higiénico. Devem ser
acondicionadas em caixas ou frascos, bem fechados, contendo algodão no fundo, e conservadas em
lugar fresco e seco.
As alterações das hóstias podem resultar de inquinações várias, da acção da humidade, da
decomposição dos pós constituintes, etc. Assim, as hóstias contendo pós opoterápicos são facilmente
invadidas e alteradas por Aleuribius farinae, Anobium paniceum, Lepisma domestica, etc.
7.2.1.9.1.6. Acondicionamento
ração é do exclusivo domínio da oficina de farmácia, dado que a fragilidade das cúpulas não permite
transportes e que a mecanização da sua produção não ultrapassa o rendimento de 20 000 hóstias
diárias (').
7.2.1.9.1.9. Formulário
Apresentamos algumas fórmulas de hóstias, indicando o modo de proceder à sua preparação.
Subnitrato de bismuto
Benzonaftol............................................ ãa 0,3 g
Numa hóstia n.° 12 iguais
Trata-se de uma fórmula que é usada como anti-séptico intestinal, o que se deve à acção do
benzonaftol e também do subazotato, que impede as fermentações pútridas. Pesam-se 3,6 g de cada
uma das substâncias activas.
A mistura dos dois pós não oferece qualquer dificuldade e o seu acondicionamento pode
efectuar-se em cúpulas de capacidade correspondente ao número O, já que a densidade do sal de
bismuto é muito elevada (d - 4,9).
(') Entre as máquinas automáticas destinadas à preparação das hóstias, podemos citar as da
marca WIERSBINSKI (com as quais uma única operária pode vigiar 5 máquinas, cuja produção é de
cerca de 100000 hóstias por dia).
898
m .. ,
Salol
Urotropina ........................................ ãa 30 cg
Numa hóstia n." 10 •.-«•.;"•- ..-•• •'• <
Esta mistura de pós pode ficar pastosa se houver apreciável humidade residual no salol e no
hexametilenotetrazoto. Deve, por isso, proceder-se à sua secagem, separadamente, e é aconselhável
juntar um absorvente, que pode ser a lactose.
rv
Embora esta preparação pudesse ser acondicionada em invólucros com capacidade inferior, é
aconselhável que se utilizem cúpulas de grandes dimensões. É preferível empregar invólucros para
fechar a seco (n.° 2) mas, após preparação, devem colocar-se as hóstias contra a luz, a fim de nos
certificarmos que tanto o enchimento como a união dos bordos foram realizados em boas condições.
O enchimento pouco cuidadoso será revelado pelo aparecimento de manchas negras nos bordos e
uma união incompleta é facilmente visível.
899
VI
BIBLIOGRAFIA
CARLO, M. E. — Journëes Pharmaceutiques Françaises — Conférences de Ia Societë de Tecnhique
Phaimaceutique, pág. 227, 1952.
DENOËL, A. — Cours de Pharmacie Pratique, Lês Presses Univereitaires, Liëge, 1954.
GORIS, A. e LIOT, A. — Pharmacie Galënique, Masson, Paris, 1949. VAN OOTEOHEM, M. — J.
Pharm. Belg. 48,73, 1966.
900
(') Patente francesa 9660 de 25 de Março de 1834 pedida em nome de Molhes e Dublanc.
901
Na realidade, as cápsulas gelatinosas duras são consideradas, actualmente, uma das melhores
formas para acondicionar substâncias medicamentosas, pois protegem-nas contra a acção da luz, do
ar e da humidade. Além disso, são facilmente administradas, possibilitam em alguns casos a
associação de substâncias normalmente incompatíveis, impedem que se notem o sabor e odor
desagradáveis dos fármacos, podem ser preparadas com facilidade e grande precisão de dosagem (±
1%), ocupam pequeno volume, conservam-se bem e a sua apresentação é deveras atraente.
Por outro lado, as substâncias medicamentosas administradas sob a forma de cápsulas
gelatinosas orais são rapidamente libertadas quando em contacto com o suco gástrico (') e é possível
revesti-las com envolvimentos gastro-resistentes, conseguindo--se que a sua desagregação só se
efectue no intestino. Sob a forma de cápsulas gelatinosas é possível administrar medicamentos
destinados a proporcionarem uma acção farmacológica prolongada ou sustentada. Basta, para isso,
que, em lugar de pós ou de líquidos, sejam acondicionados no invólucro gelatinoso pequenos
grânulos que apesen-tem tempos de desagregação adequadamente escolhidos. As Spansules norte-
americanas são cápsulas deste tipo contendo grânulos revestidos a que, por vezes, se dá o nome de
microdrageias.
As cápsulas gelatinosas podem ser administradas por vias diferentes da bucal preparando-se
cápsulas para aplicação rectal, nasal e vaginal.
A fim de satisfazerem aos requisitos que delas se esperam, é necessário que as cápsulas possuam
certas qualidades que WIDMANN sintetiza do seguinte modo:
1.° —as substâncias activas devem ser estáveis;
2." — os receptáculos gelatinosos não devem sofrer alterações, mesmo em países tropicais;
3." — os compostos medicamentosos devem libertar-se rapidamente dos invólucros, não
provocando irritações nas mucosas;
4.° — os adjuvantes utilizados devem ser destituídos de qualquer actividade farmacológica
significativa;
5." — as cápsulas devem poder administrar-se sem qualquer incómodo causado pelo cheiro ou
pelo sabor dos seus componentes;
6.° — os tamanhos e formatos das cápsulas devem ser adequados à administração;
7° — a produção em escala industrial, por via mecânica, deve atender ao rigor de dosagem e
manter a constância característica das qualidades de cada medicamento.
(') W. Stepp (Med. Klin. 49, 1896, 1954) afirma que as cápsulas gelatinosas se dissolvem rapi
damente no estômago, mesmo quando haja graves alterações da secreção do suco gástrico. Entretanto,
Fantus, citado por Foote em American Pharmacy, é do parecer que algumas substâncias, como o sub-
nitrato de bismuto, quando administradas em cápsulas, podem provocar a formação de enterolitos
(cálculos intestinais). - .-.- .--
902
As cápsulas duras têm forma cilíndrica, arredondada nos extremos, e são formadas por duas
partes abertas numa extremidade, com diâmetros ligeiramente diferentes, podendo o seus extremos
abertos encaixarem um no outro. São também chamadas gelotuhos, cápsulas de encaixe ou cápsulas
operculadas , e na literatura francesa são vulgares as designações de gélules e de pulvulus.
Os invólucros para as cápsulas duras apresentam-se no comércio com variados tamanhos,
designados por um número arbitrário, tal como as cúpulas das hóstias. Ao contrário, porém, do que
acontece com estas, à medida que vai sendo mais elevado o seu número, vai diminuindo a
capacidade dos invólucros: 000, 00, O, 1 , 2 , 3, 4, 5.
As cápsulas moles, que se destinam, preferentemente, a acondicionar líquidos, podem apresentar
variadas formas e tamanhos e conter substâncias medicamentosas em quantidades variáveis, desde
0,2 g até 5 g.
A gelatina apresenta, praticamente, a mesma composição em ácidos animados que o colagénio. O seu
peso molecular situa-se ente 40000 e 110000, em virtude do que pode originar geleias por arrefecimento
das suas soluções feitas a quente, em concentração superior a 1-2%.
A qualidade da gelatina destinada à fabricação das cápsulas deve ser controlada pêlos fabricantes
que, geralmente, consideram maior número de exigências do que o especificado nas monografias das
farmacopeias. Assim, os ensaios efectuados consistem em várias determinações químicas e
bacteriológicas que permitem estabelecer o grau de pureza da gelatina, bem como outras, de natureza
física, como a determinação da viscosidade e do índice de BLOOM. Este último é um valor empírico
relacionado com a estrutura e a rigidez da gelatina e dá uma ideia da ordem de grandeza do seu peso
molecular. Um interessante artigo de KUHN aborda alguns destes problemas e indica a principal
literatura a consultar a tal respeito.
Efectivamente, das características da gelatina usada na fabricação dependem, em larga medida, as
qualidades das cápsulas, como a uniformidade da espessura das respectivas paredes, a qual está, em
larga medida, dependente da viscosidade e do índice de BLOOM do produto utilizado ('). Assim, importa
que os invólucros sejam facilmente digeríveis; que não percam ou absorvam mais do que uma quantidade
mínima de água; que não se deixem atravessar pela humidade e que em presença desta não modifiquem,
apreciavelmente, as suas propriedades mecânicas (elasticidade, dureza, etc.); que sejam, tanto quanto
possível, impermeáveis ao anidrido carbónico e ao oxigénio; que se não alterem com as variações da
temperatura de armazenagem; que eliminem as radiações luminosas capazes de provocarem a alteração
dos princípios activos, etc.
Além disso, para que haja eficiência na administração de uma cápsula oral, rectal ou vaginal
torna-se necessário que a gelatina constituinte do seu invólucro sofra rápida desagregação em
presença dos líquidos fisiológicos com que é posta em contacto. Segundo CZETSCH-LINDENWALD, as
cápsulas de gelatina pura libertam o seu conteúdo após cerca de cinco minutos de imersão em água,
seja qual for a natureza dos princípios medicamentosos. É de esperar que o período de desagregação
possa variar consoante os adjuvantes que se juntarem à gelatina, sendo por isso avisado esperar-se
que a libertação do conteúdo possa ocorrer até ao limite máximo de trinta minutos. Assim, observa-
se, por exemplo, incremento no tempo de desagregação de cápsulas coradas opacas, de cor vermelha
ou negra, em relação às cápsulas transparentes, incolores ou coradas.
O ar e, particularmente, os seus constituintes — o oxigénio e o aniírido carbónico —, o vapor de
água, o calor e a luz são factores que constituem o meio ambiente
(') Uma gelatina só é considerada própria para ser usada na fabricação de cápsulas se a respec-
tiva solução a 6,66% tiver uma viscosidade compreendida entre 42-48 milipoise e um índice de
BLOOM pelo menos igual a 25Ü.
904
natural em que todos os medicamentos se acham inseridos e que concorrem, em maior ou menor
grau, conforme a natureza dos mesmos, para a sua inactivação. Vejamos, então, como as cápsulas
gelatinosas se comportam perante os diversos factores ambientais susceptíveis de alterarem os
fármacos.
A quantidade de água residual dos invólucros das cápsulas duras oscila entre 14-16%, sendo
desejável que estas não absorvam água do meio ambiente, o que provoca o seu amolecimento, nem
percam a sua água residual, o que, a verificar-se, ocasiona perda de elasticidade e as torna
quebradiças. O comportamento destes receptáculos em diferentes condições de humidade
atmosférica relativa foi, por isso mesmo, objecto de cuidadosas investigações, tendo as experiências
realizadas permitido concluir que as cápsulas de gelatina dura, mesmo não embaladas, são
relativamente insensíveis às variações de humidade nas condições normais. Daqui se infere,
portanto, que elas são capazes de proteger as substâncias nelas acondicionadas contra alterações
provocadas pela humidade.
Para se verificar a permeabilidade das cápsulas ao oxigénio enchem-se os invólucros com
substâncias ávidas deste gás (catalisador BTS, por exemplo), observando-se o aumento de peso das
cápsulas após uma exposição de 20 horas. De um modo geral, apurou-se destes ensaios que os
invólucros de gelatina dura impediam ou dificultavam, apreciavelmente, a penetração do oxigénio no
interior da cápsula, mesmo quando se tratava de cápsulas de encaixe em que não havia verdadeira
colagem dos hemi--receptáculos.
Por outro lado, a permeabilidade ao anidrido carbónico pode ser avaliada expondo cápsulas
cheias com óxido de cálcio a uma atmosfera daquele gás e determinando, ao fim de certo tempo, o
aumento de peso por elas sofrido em tais condições. Ensaios feitos variando o tempo de exposição e
a concentração de anidrido carbónico na atmosfera confinante com as cápsulas provaram que as
paredes destas são bastante impermeáveis àquele gás. No caso de cápsulas bem fechadas, verificou-
se que a velocidade de absorção de CO2 pela substância nelas acondicionada é apenas de cerca de
1/3 a 1/5 da que é observada quando ela está em contacto directo com o referido gás.
Quanto às variações da temperatura já os invólucros gelatinosos apresentam notória
sensibilidade. Temperaturas de 35-40°C, durante algum tempo, podem provocar aumento da
fragilidade das paredes das cápsulas, que se tornam quebradiças. Este fenómeno depende, também,
do grau de humidade relativa, diminuindo com o aumento deste. De um modo geral, pode considerar-
se como temperatura de conservação óptima o intervalo térmico compreendido entre 10 e 25°C.
A luz também desempenha um importante papel na alteração de muitos produtos
medicamentosos, pelo que houve necessidade de determinar qual o grau de protecção exercido pelas
paredes das cápsulas gelatinosas sobre os fármacos nelas acondicionados em relação aos efeitos
nocivos das radiações.
No entanto, os ensaios realizados nesse sentido têm-se limitado à simples detecção visual das
alterações sofridas por substâncias facilmente oxidáveis, como o ácido
905
natural em que todos os medicamentos se acham inseridos e que concorrem, em maior ou menor
grau, conforme a natureza dos mesmos, para a sua inactivação. Vejamos, então, como as cápsulas
gelatinosas se comportam perante os diversos factores ambientais susceptíveis de alterarem os
fármacos.
A quantidade de água residual dos invólucros das cápsulas duras oscila entre 14-16%, sendo
desejável que estas não absorvam água do meio ambiente, o que provoca o seu amolecimento, nem
percam a sua água residual, o que, a verificar-se, ocasiona perda de elasticidade e as torna
quebradiças. O comportamento destes receptáculos em diferentes condições de humidade
atmosférica relativa foi, por isso mesmo, objecto de cuidadosas investigações, tendo as experiências
realizadas permitido concluir que as cápsulas de gelatina dura, mesmo não embaladas, são
relativamente insensíveis às variações de humidade nas condições normais. Daqui se infere,
portanto, que elas são capazes de proteger as substâncias nelas acondicionadas contra alterações
provocadas pela humidade.
Para se verificar a permeabilidade das cápsulas ao oxigénio enchem-se os invólucros com
substâncias ávidas deste gás (catalisador BTS, por exemplo), observando-se o aumento de peso das
cápsulas após uma exposição de 20 horas. De um modo geral, apurou-se destes ensaios que os
invólucros de gelatina dura impediam ou dificultavam, apreciavelmente, a penetração do oxigénio no
interior da cápsula, mesmo quando se tratava de cápsulas de encaixe em que não havia verdadeira
colagem dos hemi--receptáculos.
Por outro lado, a permeabilidade ao anidrido carbónico pode ser avaliada expondo cápsulas
cheias com óxido de cálcio a uma atmosfera daquele gás e determinando, ao fim de certo tempo, o
aumento de peso por elas sofrido em tais condições. Ensaios feitos variando o tempo de exposição e
a concentração de anidrido carbónico na atmosfera confinante com as cápsulas provaram que as
paredes destas são bastante impermeáveis àquele gás. No caso de cápsulas bem fechadas, verificou-
se que a velocidade de absorção de CO2 pela substância nelas acondicionada é apenas de cerca de
1/3 a 1/5 da que é observada quando ela está em contacto directo com o referido gás.
Quanto às variações da temperatura já os invólucros gelatinosos apresentam notória
sensibilidade. Temperaturas de 35-40°C, durante algum tempo, podem provocar aumento da
fragilidade das paredes das cápsulas, que se tornam quebradiças. Este fenómeno depende, também,
do grau de humidade relativa, diminuindo com o aumento deste. De um modo geral, pode considerar-
se como temperatura de conservação óptima o intervalo térmico compreendido entre 10 e 25°C.
A luz também desempenha um importante papel na alteração de muitos produtos
medicamentosos, pelo que houve necessidade de determinar qual o grau de protecção exercido pelas
paredes das cápsulas gelatinosas sobre os fármacos nelas acondicionados em relação aos efeitos
nocivos das radiações.
No entanto, os ensaios realizados nesse sentido têm-se limitado à simples detecção visual das
alterações sofridas por substâncias facilmente oxidáveis, como o ácido
906
carmim índigo e o negro brilhante. Por seu turno, a casa Eli Lilly utiliza os mesmos corantes e ainda o
carvão vegetal.
Como referimos atrás, as cápsulas gelatinosas podem ser transparentes ou opacas, obtendo-se estas
últimas por adição de óxido de titânio à massa gelatinosa utilizada na sua fabricação. As cores dos
receptáculos opacos são mais brilhantes, devendo-se isto ao facto de se terem formado verdadeiras lacas
de corantes hidrossolúveis que precipitaram por acção do óxido de titânio no estado de sais insolúveis
sobre o suporte gelatinoso.
A Tabela CVI indica os pesos médios de vários pós susceptíveis de serem acondicionados em
invólucros.
Para medicina veterinária (animais de grande corpulência) existem ainda outros tipos de
cápsulas, que se distinguem pêlos seguintes números: n." 10 (correspondente a ± 30 g), n.° 11 (± 15
g) e n.» 12 (± 7,5 g).
Encontram-se à disposição do farmacêutico invólucros para cápsulas correspondentes aos números
que indicámos (000, 00, O, l, 2, 3, 4, e 5), quer transparentes, quer opacas, podendo ainda ser ou não
coradas. A Fig. 331 representa as dimensões comparadas das várias cápsulas duras (Parke-Davis).
Capacidade em mililitros
1,37 0,95 0,68 0,50 037 0,30 0,21 0.13 ' '
000 00 O l 2 3
4 S
Número da cápsula
Algumas vezes adopta-se o uso de invólucros cujas metades são diferentemente coradas, o que apenas
apresenta o interesse de se tornarem mais atractivos os medicamentos ou de se identificar determinada
fórmula farmacêutica.
A preparação das cápsulas duras consiste, fundamentalmente, no seu enchimento, já que os
respectivos invólucros são adquiridos no comércio. É evidente que, para uma pequena preparação,
bastaria escolher os invólucros de capacidade adequada ao volume ocupado pelo peso de pó e enchê-los,
com auxílio de funis e calcadores, ou por meio de compressores-doseadores. Se este método pode servir
para uma pequena produção, já não é avisado proceder-se com tal simplicidade quando se pretendam
fabricar cápsulas em escala industrial ou semi-industrial. De facto, só por acaso a quantidade de pó
prescrita numa formulação encherá exactamente um invólucro gelatinoso de dado número. Pôr outro lado,
sendo habitualmente volumétrico o processo de enchimento das cápsulas, impõe-se que estas fiquem
perfeitamente cheias, pois de modo diverso haveria erros posológicos. A esta circunstância acresce a da
indústria preparar cápsulas cujo momento de utilização só muito dificilmente se pode prever, não sendo
aconselhável a existência de uma camada de ar sobre os pós susceptíveis de se alterarem por acção dos
componentes desse ar. Nessas circunstâncias, é necessário completar, com pó inerte, o volume de pó a
acondicionar num dado receptáculo gelatinoso, caso aquele volume seja inferior a 90% da capacidade do
receptáculo.
Geralmente, o processo de enchimento industrial baseia-se numa distribuição volumétrica, em que o
pó cai, pela acção da gravidade, sobre um hemi-invólucro aberto que funciona como receptáculo.
Compreende-se que este escoamento do pó, do recipiente para a cápsula vazia, possa apresentar
dificuldades de vária ordem, principalmente devidas às forças de atracção entre as partículas que
constituem o pó.
A adição, aos pós, de substâncias ditas lubrificantes, pode diminuir as forças de fricção entre as
partículas, facilitando o seu escoamento e o enchimento dos invólucros gelatinosos. Já vimos que o ângulo
de repouso de um pó condiciona a facilidade de escoamento e que a adição de lubrificantes pode diminuir
o seu valor. Essas substâncias são compostas por pequenas partículas que, graças a forças de atracção,
são adsorvidas na superfície das partículas do pó. A Fig. 332 esquematiza o comportamento das partículas
de um pó, antes e depois da adição de um lubrificante.
A quantidade de lubrificante deve ser suficiente para recobrir completamente todas as partículas de
pó. No entanto, uma quantidade demasiada não é adsorvida, indo aglomerar-se e influenciar,
desfavoravelmente, o escoamento. Dada a circunstância do elevado estado de divisão do lubrificante, é,
em regra, suficiente uma pequeníssima quantidade para impedir as forças atractivas entre as partículas do
pó.
Já vimos atrás que o óxido de magnésio, dividido em partículas de 0,05 \i (óxido de magnésio leve),
auxilia o escoamento do amido quando lhe é adicionado numa concentração de 0,5%. Também o
estearato de magnésio facilita, largamente, o escoamento dos pós, quando adicionado numa taxa de 1%.
O mesmo se diz em relação à sílica coloidal (partículas entre 0,01 e 0,04 u,), a qual, adicionada numa
percentagem
911
de 0,05 a 0,5%, favorece a operação. No comércio encontra-se este gele de sílica sob o nome de
Aerosil ou de Levilite, designações que correspondem a marcas registadas por diferentes
fabricantes, respectivamente de sílica anidra e hidratada.
O talco, que se apresenta constituído por partículas lamelares, não facilita o escoamento dos pós,
embora seja um bom lubrificante de granulados. Esta aparente anomalia parece estar relacionada
com o diâmetro médio das partículas do talco que, em geral, não são muito pequenas, e, por isso, só
pode funcionar como lubrificante deslizante quando se íUpõe entre partículas de tamanhos elevados,
como no caso dos granulados.
Mais de 90% da totalidade das cápsulas de encaixe produzidas em todo o mundo são cheias por
meio de aparelhos, muitas vezes extremamente simples, mas em todo o -caso possuindo sistemas
mecanizados.
Segundo CZETSCH-LINDENWALD a dosificação correcta das cápsulas duras depende de três factores
fundamentais:
1) Escolha de invólucros de capacidade exacta;
2) Método de enchimento; :
'"'..-,
3) Produto a encapsular. ''"*" '" •-"•-"'-.'
Suponhamos que a quantidade de pó prevista por cápsula é de 0,65 g e que a densidade aparente
desse pó é de 1. Traça-se uma linha perpendicular desde a abcissa até que encontre a linha
correspondente à densidade aparente de 1. Então procura-se a intercepção desse ponto com o eixo
das ordenadas, traçando-se uma paralela à abcissa. No caso presente, a capacidade do invólucro
seria de 0,65 ml e corresponderia à das cápsulas n." 0.
Se não se quiser proceder pelo processo do nomograma pode efectuar-se o enchi
mento por simples medida do volume aparente dos pós, o qual se relaciona com a
capacidade dos invólucros. . . » , . . .,„>•
913
2) Métodos de enchimento • \
- •.;•»•_!»«« n.
O método de enchimento das cápsulas é muito variável, podendo ser manual, automático ou semi-
automático. Se atendermos, exclusivamente, à precisão dos resultados, não há dúvida que o melhor
método de enchimento manual consiste, como diz BROJO, em «dividir a totalidade do pó em tantas
porções iguais quantas as cápsulas a preparar, pesando cada dose em seu papel e lançando depois o
conteúdo em cada receptáculo». Na prática podem dispor-se os hemi-recepuSculos numa placa de
madeira, plástico, cartão, metal, etc., com as extremidades abertas voltadas para cima. O pó é,
seguidamente, lançado por meio de um funil, o que diminui as perdas e constitui um processo
relativamente higiénico de enchimento.
A técnica descrita é bastante morosa, substituindo-se, algumas vezes, por um processo que consiste
em mergulhar verticalmente os hemi-receptáculos gelatinosos, pela sua extremidade aberta, no pó
disposto em forma de bloco de superfície rectangular e com uma altura de cerca de seis milímetros
sobre uma superfície plana e rígida. Se o movimento com os receptáculos for acompanhado por uma
ligeira pressão e rotação, cada invólucro fica suficientemente bem cheio (Punching method). Este
processo pode tornar-se rigoroso desde que o bloco de pó seja dividido em tantas partes quantas as
cápsulas a preparar, procedendo-se então ao enchimento como foi referido anteriormente (B/ocking
and dividíng method). Se quisermos dispensar esta operação prévia de fraccionamento do pó, toma-
se necessário que os invólucros fiquem completamente cheios com a prensagem executada pelo
operador. A operação de enchimento por este processo pode realizar-se em menos de um terço do
tempo necessário para o enchimento com o pó dividido. Um operador experimentado consegue um
apreciável grau de precisão na dosagem, trabalhando por este método (desvio padrão relativo de
cerca de 2,6%).
A regularidade de enchimento pode ser apreciada pesando individualmente as cápsulas cheias e
usando, como tara, os invólucros vazios. Alguns pós, como o sali-cilato de sódio, criam dificuldades
ao enchimento manual, já que as suas partículas se carregam de electricidade estática e tendem a
aderir aos invólucros de gelatina. Este inconveniente remedeia-se triturando o salicilato em
almofariz com umas gotas de parafina líquida. Outras vezes basta humedecer os pós com álcool
(uma a duas gotas por cápsula) para que se facilite o enchimento pelo processo de prensagem
descrito.
A indústria farmacêutica tem ao seu dispor vários tipos de máquinas de enchimento que se
baseiam num dos seguintes princípios:
— O pó granulado é lançado no invólucro da cápsula, procedendo-se ao seu nivelamento com
uma superfície rasante (máquinas do tipo Parke Davis);
— O pó é lançado nos invólucros mediante a força dada por um parafuso sem-fim (máquinas do
tipo Hofliger-Karg);
— O pó é lançado por meio de compressores-doseadores (máquinas do tipo Zanasí).
914
Um sistema semi-industrial dos mais usados entre nós é constituído por um conjunto de placas e
contraplacas, funcionando como os aparelhos de fechar hóstias. A Fig. 334 representa aparelhos
deste tipo. Os processos de enchimento com aparelhos manuais dão menores desvios padrão (1,76%
com o aparelho de Féton, segundo CZETSCH-LINDENWAL) do que os métodos inteiramente automatizados
(1,9
grânulos, cujas forças de inter-atracção são diminuídas, os quais, por serem mais densos do que o pó
correspondente, têm maior tendência para fluírem livremente. Utilizam-se, assim, granulados em que cada
partícula tem cerca de 0,3 a 0,7 mm de diâmetro. Em regra, usa-se o álcool como líquido de
humedecimento, podendo juntar-se substâncias aglutinantes, como a lactose ou os polietilenoglicóis.
Emprega-se, muitas vezes, uma solução alcoólica de carbowax 4000 a 0,5-1%, granulando-se por tamis
com abertura de malha de 0,5-0,7 mm. O granulado seca-se a 35-40°C e adiciona-se, então, o lubrifi-
cante (estearato de magnésio a 1%, talco a 2-3%, etc.).
LIST e MÜLLER, baseados no trabalho de GOLD, DUVALL e PALERMO, construíram um aparelho registador
para medir o escoamento das misturas destinadas a serem metidas em cápsulas. Graças a um método
utilizando a medida da cotangente do chamado «ângulo de escoamento», é possível determinar em
curto espaço de tempo e com uma reprodutividade satisfatória a quantidade de uma substância
lubrificante que melhor se ajuste ao produto a acondicionar em cápsulas gelatinosas.
As cápsulas duras contêm, preferentemente, compostos sólidos. Entretanto, podem acondicionar-
se nos invólucros gelatinosos substâncias pastosas ou líquidas. No caso do medicamento ser pastoso é
conveniente preparar com ele uma massa pilular que se rola de modo a formar magdaleão (ver
Pílulas) de diâmetro ligeiramente menor que o dos invólucros escolhidos. O magdaleão é dividido em
tantos segmentos quantas as cápsulas a preparar, acondicionando-se, em cada receptáculo, um dos
segmentos obtidos.
Os medicamentos líquidos serão introduzidos nos receptáculos por meio de pipetas ou de buretas.
Após a distribuição é necessário colar os bordos das hemi-cápsulas, a fim de evitar o extravasamento
do líquido. Para isso humedecem-se os bordos com água e roda-se a hemi-cápsula, que serve de
tampa, de um quarto de volta.
A colagem dos bordos das cápsulas é sempre muito conveniente, mesmo que o medicamento a
acondicionar não seja líquido. Na prática dispensa-se esta operação quando os pós não apresentam
elevada tendência para saírem dos receptáculos. Ela é, porém, aconselhável sempre que o pó a
acondicionar tenha mau cheiro ou mau sabor, como sucede com o cloranfenicol. Ainda para evitar a
presença de pó à superfície externa das cápsulas é também importante limpá-las depois do fecho. A
maneira mais fácil de executar esta operação é rolá-las sentre dois panos limpos, humedecidos com
álcool. Nestas circunstâncias, as cápsulas perdem os vestígios de produtos que tenham aderido à sua
superfície exterior e readquirem o brilho original dos seus invólucros.
As cápsulas de gelatina clássicas compõem-se, como se sabe, de duas partes cujas paredes são
absolutamente lisas e encaixam uma na outra. Dadas as suas características e ainda porque é
necessária uma diferença de diâmetro, ainda que mínima, entre as duas metades, para que seja
possível o seu encaixe, é evidente que tais cápsulas, mercê disso, correm o risco de se abrirem em
virtude de acções mecânicas a que estão submetidas durante o seu manuseamento.
917
Para procurar suprimir este inconveniente, existe no mercado um tipo de cápsulas de gelatina
dura (') cujos hemi-receptáculos, graças à existência de ranhuras e saliências, só se adaptam quando
sobre eles é exercida uma certa pressão (Fig. 336). Esta característica faz com que estas cápsulas
possuam forças de separação bastante elevadas, o que explica a sua resistência à abertura e assegura
um acondicionamento perfeito das substâncias nelas encerradas.
£
Fig. 336. Cápsulas duras Snap-fit (Parke-Davis) ^r
As vantagens de tal tipo de cápsulas podem resumir-se assim: resistência à abertura durante o
transporte e contagem em aparelhos automáticos, que lhes imprimem acentuadas sacudidelas;
possibilidade de serem submetidas a tratamentos para se tornarem gastro-resistentes sem o perigo de
se abrirem; facilidade de acondicionamento automático em alvéolos, visto apresentarem dimensões
constantes.
Distinguem-se quatro tipos de cápsulas moles que passamos a descrever: . •"' '•'•
Cápsulas propriamente ditas — De forma mais ou menos ovóide, pesando aproximadamente l g o
invólucro e o conteúdo, contêm cerca de 0,5 g de substância activa, sólida ou líquida. A sua
capacidade é de cerca de 0,5 ml. Capsulinas — São pequenas cápsulas moles, de forma não
esférica, que contêm cerca de 0,2 a 0,25 g de princípios medicamentosos sólidos ou líquidos. O
invólucro contendo as substâncias medicinais pesa, aproximadamente, 0,5 g. A sua capacidade é
de cerca de 0,25 ml.
Pérolas — São pequenas cápsulas moles, de forma esférica, que contêm cerca de 0,20 a 0,25 g de
substâncias medicamentosas líquidas. A sua capacidade é, aproximadamente, de 0,2 ml.
Glóbulos — São grandes cápsulas moles contendo quantidades de princípios medicamentosos,
sólidos ou líquidos, superiores a 0,5 g. Em casos especiais fabricam-se cápsulas contendo l g, 2 g
e mesmo 5 g de substâncias medicinais (óleo de rícino, óleo de fígado de bacalhau, etc).
** m*a
? * * * *
919
As Figs. 337 e 338 reproduzem vários tipos de cápsulas moles. A preparação dos invólucros das
cápsulas moles é executada por dois processos fundamentais: por imersão e por compressão.
a) Preparação da massa de gelatina — As paredes das cápsulas são constituídas por gelatina
adicionada de água e de glicerina ou outro emoliente adequado (sorbitol, propilenoglicol,
polietilenoglicóis). Estas substâncias conferem elasticidade à gelatina, devendo ser adicionadas
numa quantidade criteriosamente estudada, pois que o seu excesso pode provocar o amolecimento da
membrana, dada a avidez de água por elas manifestada. São possíveis diversas fórmulas, indicando-
se na Tabela CVII algumas das mais utilizadas (').
(') Esta massa de gelatina glicerinada não deve ser confundida com a gelatina glicerinada utili-
zada na preparação de supositórios (na F. P. IV a massa para supositórios contém gelatina
glicerinada na proporção de 4:21).
(2) A fórmula citada no British Pharmaceutical Codex contém, ainda, 7 g de xarope comum e
6 g de mucilagem de goma arábica. ,
921
(') Os dioxolanos são obtidos por reacção entre a glicerina e as cetonas, em presença de
substancias desidratantes. São miscíveis com a água, mas não dissolvem a gelatina.
923
A Tabela CVIII resume as características dos principais tipos de cápsulas gelatinosas, moles e
duras, que correm no nosso mercado.
palavras, interessa saber-se o tempo de trânsito das cápsulas no estômago, a fim de se protegerem
adequadamente.
Como já noutro ponto foi dito (ver Administração por via gastro-intestinal), o tempo que um
medicamento oral leva a atingir o intestino depende de inúmeros factores, como a alimentação, o
volume gástrico, etc. LARK-HOROVITZ e LENO demonstraram, com cloreto de sódio marcado, que ao fim
de uma hora de ingestão aquela substância ainda se mantinha no estômago. Só decorridas cerca de
duas horas o cloreto de sódio se dirigia para o piloro, transitando então para o intestino delgado.
HODGE e colaboradores fizeram ensaios semelhantes corn sulfato de bário, concluindo que o tempo
médio de permanência no estômago era igual ou superior a duas horas. Em muitos doentes, porém,
não se observam estas regras gerais, podendo citar-se numerosíssimos casos em que é mais
demorada a permanência dos medicamentos no estômago. Por todas estas razões é necessário que os
envolvimentos gastro-resistentes proporcionem uma certa margem de segurança, e assim, a
Farmacopeia Jugoslava obriga a que os revestimentos suportem seis horas de contacto com o suco
gástrico sem alteração apreciável. Para a D. A. B. 7." foram propostos períodos de duas e de três
horas. Entretanto, e atendendo aos casos gerais, pois só para eles se pode equacionar, com
segurança, o problema, acordou-se em ser considerado suficiente o período de duas horas sem que
haja desagregação das cápsulas no suco gástrico. É, aliás, este o limite estipulado pela Farmacopeia
Portuguesa V na sua monografia sobre cápsulas ao tratar das cápsulas gastro-resistentes.
O envolvimento das cápsulas para que se tornem gastro-resistentes pode ser efectuado por
processos industrializados, idênticos aos que descrevemos na preparação das drageias. Uma vez que
o método e as substâncias envolventes são essencialmente as mesmas, remetemos o leitor para o
respectivo subcapítulo.
Há, porém, muitos envolvimentos que se praticam mais correntemente com as cápsulas do que
com os comprimidos. Assim, o salol tem sido utilizado em revestimentos extemporâneos de cápsulas
gelatinosas, porquanto é insolúvel em meio ácido e se dissolve a pH superior a 1. Os revestimentos
com salol são, contudo, cristalinos e podem fendilhar-se facilmente, não garantindo uma eficaz
protecção das cápsulas.
O tratamento das paredes das cápsulas por agentes desnaturantes representa um dos métodos há
mais tempo utilizados para torná-las gastro-resistentes, tendo sido proposta a utilização, para esse
fim, do formol e de sais de ferro e de crómio. Na prática, porém, apenas o processo que utiliza o
formol se impôs. A princípio, usavam-se soluções de formaldeído bastante concentradas ('), mas
reconheceu-se que essa técnica originava um endurecimento ulterior dos invólucros gelatinosos, de
que resultava que os
(') O processo da foimilação da gelatina foi usado peta primeira vez por HAUSMANN, em 1885,
tendo sido aperfeiçoado doze anos mais tarde por aquele investigador e por WEYI.AND. O método
primitivo consistia no tratamento da gelatina por uma solução de aldeído fórmico a 18%, durante
dezoito minutos.
928
respectivos tempos de desagregação eram inconstantes e, por vezes, muito elevados. Por esse motivo,
utilizam-se soluções de formol menos concentradas, geralmente soluções alcoólicas a 1-5%.
É de notar, porém, que a imersão das cápsulas vazias na solução de formol é susceptível de
deformá-las, sobretudo quando a solução é aquosa, resultando certas dificuldades no seu enchimento e
acondicionamento com máquinas automáticas que, como se compreende, só trabalham convenientemente
quando os invólucros se apresentam perfeitamente moldados.
Ensaios realizados no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da nossa Faculdade mostraram que é
possível tomar gastro-resistentes as cápsulas gelatinosas mergulhadas, durante 24 horas, em solução
alcoólica de formol a 5%. Todavia, para que este tratamento seja eficaz é necessário secar as cápsulas
previamente na estufa, a 5()°C, durante 15 dias, e soldar a linha de união dos hemi-receptáculos com
solução alcoólica de goma-laca.
A fim de eliminar as deformações motivadas pela imersão das cápsulas de gelatina em soluções de
formol, BOYMOND e colaboradores propuseram o seu tratamento, em ambiente fechado, com formol
gasoso, à temperatura de 20°C e 65% de humidade relativa. Experiências por nós realizadas levaram-nos à
conclusão que os vapores de formol, actuando durante 48 horas numa atmosfera contendo 72% de
humidade relativa, originam, de facto, cápsulas que apenas se desagregam no suco gástrico ao fim de 2
horas. Todavia, deve notar-se que, embora as paredes dessas cápsulas se mantivessem intactas, se verificou
que o corante nelas encerrado era cedido mesmo pelas cápsulas fechando sob pressão, o que contradiz
as observações de outros autores.
Entretanto, e à semelhança do que acontece com os comprimidos, também as cápsulas podem
tomar-se gastro-resistentes se forem recobertas por uma camada de certos vernizes. Este processo tem-
se desenvolvido bastante não só devido ao aperfeiçoamento de novos materiais, como também ao
desenvolvimento de técnicas para a sua aplicação, como o sistema de pulverização «airless», os aparelhos
de WURSTER, STEIN-BERG e PELLEGRINI. Daremos, seguidamente, algumas fórmulas de vernizes gastro-resistentes
e enterossolúveis, os quais já deram as suas provas.
MÜNZEL, Buem e SCHULTZ indicam as seguintes fórmulas para o revestimento de comprimidos, que são
também aconselháveis para o tratamento das cápsulas gelatinosas:
Estas soluções podem ser aplicadas com uma pistola «Optima-E» com uma pressão de 0,5-1
atmosfera, tratando-se, de cada vez, uma carga correspondente a 500-1000 g de cápsulas, que
podem ser colocadas numa bacia de drageificação ERWEKA. A aplicação do verniz deve fazer-se
descontinuamente, de modo a que o verniz possa secar à medida que vai sendo aplicado.
Experiências por nós realizadas mostraram que o acetoftalato de celulose cons
titui, de facto, um revestimento adequado para a obtenção de cápsulas de gelatina
gastro-resistentes e enterossolúveis. A solução de acetoftalato que se mostrou mais
aconselhável para o fim em vista é constituída por 8 partes daquela substância, 4 partes
de ftalato de etilo e 88 partes de acetona. As cápsulas foram imergidas quatro
vezes nessa solução, procedendo-se à respectiva secagem, em corrente de ar quente,
entre a aplicação de cada duas camadas sucessivas. As cápsulas assim tratadas apre
sentam excelente aspecto, não se diferenciando facilmente das não submetidas a este
tratamento. . . . .. . . .
Além da gelatina têm sido utilizadas outras substâncias na fabricação dos invólucros capsulares.
DARRASE e DUPONT propuseram, em tempos, o emprego do glúten para preparar cápsulas duras, tendo
designado a forma medicamentosa assim obtida pelo nome de glutubos. Essas cápsulas destinavam-se
à administração oral de produtos sólidos ou líquidos que exercessem efeito irritativo na mucosa
gástrica, uma vez que só se desagregavam no intestino.
Semelhantes são as cápsulas preparadas com zeína (proteína extraída do milho — Zea mays —
com o peso molecular de cerca de 38 000), cujo emprego foi proposto por PIPHER ('). A sua
preparação pode descrever-se, em linhas gerais, do seguinte modo: a 100 g de zeína, misturada a
temperatura inferior a 40°C com 25-65 g de água, adiciona-se uma mistura constituída por 10-50 g
de um plastifïcante atóxico e fixo; aquece-se a mistura, muito lentamente, até uma temperatura
ligeiramente inferior à do ponto de ebulição do constituinte mais volátil, formando-se, assim, uma
pasta homogénea que se molda em folha de espessura adequada, a qual serve para preparar os
receptáculos capsulares.
A zeína é solúvel em diversos dissolventes primários que apresentem funções -OU, -NH2 -CONH1
e -COOU. Entre eles citamos o metanol, os glicóis e os álcoois furfurílicos. Como plastificantes
podem ser utilizados diversos ácidos gordos, como o láurico, o merístico, o palmítico e o esteárico.
Além do glúten e da zeína, tem sido proposta, embora sem grande sucesso, a metilcelulose como
material para preparar invólucros, os quais servem para a fabricação de cápsulas oficinais na Grã-
Bretanha.
7.2.1.9.2.6.1. Microencapsulação
..,.,-.
Entre as variedades de cápsulas medicinais não queremos esquecer as microcápsulas a que
actualmente tanto se recorre não só com a finalidade de proteger os fármacos ou minimizar as suas
incompatibilidades, mas também para os libertar em determinadas condições que podem importar
para a sua disponibilidade biológica con-seguindo-se acções, por exemplo, mais prolongadas.
A microencapsulação é, pois, um método de envolvimento de pequenas entidades (partículas
sólidas, gotículas, dispersões) por intermédio de revestimentos individuais que libertam o fármaco
em função da humidade, pH, forças físicas ou por outros processos, tudo dependendo da natureza e
espessura da parede envolvente.
Em regra, as microcápsulas têm dimensões de cerca de 200 |i, podendo algumas ser bem mais
pequenas e outras atingirem até 5000 [í. A sua utilização prática iniciou--se, de acordo com Luzzi,
em 1957, mas é de 1970 para cá que o seu interesse se tornou muito aparente.
A microencapsulação pode conseguir-se por diversas técnicas, algumas baseadas em processos
químicos que envolvem modificações ou mudanças de fase; outras são mecânicas e carecem de
equipamentos sofisticados a fim de produzir a modificação física necessária.
Entre os métodos mais correntemente aplicados em Farmácia figuram operações químicas
baseadas na separação de fases ou coacervação.
O termo coacervação tem sido empregado em química coloidal para descrever a separação de um
precipitado líquido ou fase, quando se adicionam, em determinadas condições, soluções de dois
colóides liófilos. É o que sucede quando se juntam soluções de goma arábica (aniónica) com
soluções de gelatina carregada positivamente, o que acontece a pH menor que 4,7 (ver Emulsões).
Por extensão, este termo tem sido usado não só para o caso de existirem dois ou mais colóides
(coacervação complexa), situação semelhante à da química coloidal, mas também para os sistemas
em que se produzem gotículas com apenas um colóide (coacervação simples).
Neste último tipo de coacervação o colóide liófilo, que se encontra no seio da água, é adicionado
de uma substância que possua fortes propriedades hidrófilas, como o álcool, ou o sulfato de sódio.
Formam-se, assim, duas fases, uma bastante rica em gotículas coloidais e outra pobre nessas mesmas
gotículas. Se estiverem presentes os núcleos a encapsular, originam-se as microcápsulas que vão
depositando. Este processo tem sido empregado não só com a gelatina, mas com outras substâncias
coloidais como o acetoftalato de celulose. JANSON e WAGNER, MERKLE e SPEISER e PTNHO et ai. utilizaram este
composto por coacervação simples, empregando o sulfato de sódio como desidratante que conduzia à
separação das fases.
Em linhas gerais, o diagrama de fabricação utilizado para obter microcápsulas de fenacetina é o
seguinte:
932
5°C \-v .
Separação das
microcápsulas
+ HOOCCH, a
5°C
Lavagem com
H?O
Secagem
Emulsificação
Ajustar pH a 4,5
Juntar formaldeído
l Ajustar
pH a 9-10
7.2.1.9.2.7. Incompatibilidades
Pode dizer-se que são de dois tipos principais as incompatibilidades observadas na preparação
das cápsulas: 1) as que resultam da acção dos constituintes sobre o invólucro gelatinoso; 2) as que
se devem à acção dos constituintes entre si.
Entre as acções dos constituintes sobre os invólucros gelatinosos podemos citar a dissolução da
gelatina operada pêlos líquidos acondicionados nos receptáculos, a infiltração e a difusão dos
princípios medicamentosos nas paredes das cápsulas, etc. Deste modo, os líquidos aquosos, como as
soluções hidro-alcoólicas, não devem ser acondicionados em receptáculos gelatinosos, cujas paredes
acabam por dissolver-se neles total ou parcialmente. Certas substâncias, como o guaiacol, difundem-
se na gelatina, podendo impregná-la em larga medida. Este fenómeno tem sido apreciado após
alguns meses de fabricação das cápsulas e foi referido por DARQUENNES. Outros compostos, como a
hexilresorcina e o anidrido arsenioso, têm sido também encontrados nas paredes das cápsulas moles
algum tempo depois da sua preparação. Estes acidentes, que podem ter
935
uma importância relativa em cápsulas de preparação extemporânea, ganham especial interesse com
o tempo de armazenagem, podendo as cápsulas tornarem-se impróprias para consumo, quer pelo
cheiro que apresentam, quer pêlos fenómenos irritativos que provocam. Por outro lado, sendo,
geralmente, o conteúdo das cápsulas que é apreciado por dosagem, é necessário levar este factor em
consideração a fim de que os resultados do ensaio não sejam falseados.
A água residual existente nos invólucros pode também ser absorvida pelas substâncias
higroscópicas eventualmente contidas nas cápsulas, sendo este fenómeno mais aparente com as
cápsulas duras que contenham compostos ávidos de água. Já com as cápsulas moles, cujo conteúdo
seja constituído por produtos medicinais em suspensão oleosa, é menos de temer o citado risco, dada
a característica hidrofobia dos óleos. Entretanto, não julguemos que as soluções medicamentosas,
cuja fase líquida é um óleo, não estão sujeitas a alterações pela humidade: as vitaminas A e D,
quando dissolvidas em óleos vegetais ou animais, podem alterar-se devido à cedência de água dos
invólucros gelatinosos onde se encontram acondicionadas.
As acções das substâncias medicinais sobre as paredes das cápsulas são largamente influenciadas
pelas condições de armazenagem (temperatura, grau de humidade, etc.), devendo ser lembrado que
já a temperatura de 40°C torna friáveis os invólucros das cápsulas duras e deforma os das cápsulas
moles.
O extracto de fel de boi é um dos produtos tipicamente higroscópico que, segundo LEUPIN,
aumenta de peso, mesmo numa atmosfera contendo 20% de humidade relativa (absorção de 3% de
água). Quando a humidade relativa é de 40%, a taxa de água fixada ë de 6%, e num ambiente
saturado de vapor de água o referido extracto chega a absorver 120% de humidade.
A glucose mantém-se sem alteração até 60% de humidade relativa, mas com 80% de humidade a
fixação de água pode atingir 10%. O lactato de sódio e a ureia chegam a absorver, respectivamente,
220% e 150% de humidade.
Quanto à interacção dos fármacos acondicionados em receptáculos gelatinosos são de considerar
as incompatibilidades resultantes das respectivas associações, independentemente dos invólucros. Os
problemas fundamentais são, portanto, os que se observam com os pós, para cujo subcapítulo
remetemos o leitor.
A USP XVII, nalguns casos de flagrante incompatibilidade, cuja resolução se afigure difícil,
sugere que se acondicione uma das substâncias reactivas numa pequena cápsula que, por seu turno,
se inclui numa cápsula maior que conterá também a segunda substância reagente.
Em regra, as principais incompatibilidades são devidas à formação de misturas eutéticas ou de
misturas coradas. Os compostos voláteis serão absorvidos em drogas inertes e os líquidos que
dissolvem a gelatina deverão ser concentrados à secura e o resíduo obtido disperso num óleo, que se
acondicionará nos respectivos receptáculos.
936
Em geral, pesa-se o conteúdo com o invólucro, descontando-se, depois, o peso deste último. Esta
operação é relativamente fácil de executar sempre que os receptáculos gelatinosos contenham pós,
granulados ou microdrageias. Já a remoção de líquidos ou de substâncias pastosas pode, porém,
apresentar dificuldades de ordem técnica, obrigando à lavagem dos invólucros com líquidos que não
os ataquem (éter, etanol absoluto, etc.) e à sua subsequente secagem no vazio fosfórico.
A BPh (1963) manda pesar uma cápsula, remover o conteúdo e pesar os dois hemi-invólucros
(cápsulas duras); a diferença entre os pesos representa o peso de conteúdo medicamentoso. Repete-
se a operação com mais 19 cápsulas, calculando-se o peso médio das 20 cápsulas ensaiadas. O peso
do conteúdo de cada cápsula não deve diferir do peso médio em mais de 10%, tolerando-se que duas
cápsulas apresentem desvios até 20%.
A Farmacopeia Francesa ensaia apenas 10 cápsulas, indicando que o seu peso médio deve estar
compreendido entre ± 15% do peso teórico se este for inferior a 250 mg, e entre ± 10% do peso
teórico caso este seja superior a 250 mg.
Na Tabela CIX indicamos, em linhas gerais, o modo de proceder adoptado por algumas
farmacopeias, bem como as tolerâncias de desvio de peso por elas consentido.
Julgamos útil instituírem-se limites de afastamento médio e individual, tal como estabelecem as
Farmacopeias Britânica, Norte-Americana e Dinamarquesa. Efectivamente, expressando a tolerância
apenas em relação ao peso médio, os desvios indivi-
duais podem afastar-se dos desejados e, apesar disso, as cápsulas serão toleradas. Este método de
verificação que é, aliás, o do Codex, parece-nos menos exacto do que o adoptado pela BPh e USP.
O ensaio de uniformidade de massa inscrito na Farmacopeia Portuguesa V deter
mina a seguinte técnica: «Pese uma cápsula cheia, sem perder quaisquer fragmentos do
invólucro, abra a cápsula e extraia o seu conteúdo tão completamente quanto possível.
No caso de cápsulas de invólucro mole, lave este com éter ou com outro solvente
apropriado e deixe-o exposto ao ar livre até ao desaparecimento do cheiro do solvente.
Pese o invólucro e calcule a massa do conteúdo. Repita a operação em mais 19
cápsulas». Determina também que não mais do que 2 das 20 unidades ensaiadas
poderão diferir da massa média encontrada em percentagem superior a ± 10% para
cápsulas com menos de 300 mg e a ± 7,5% para cápsulas com mais de 300 mg de
massa média e que em nenhum caso poderá a diferença exceder o dobro dessa percen
tagem. '
Além deste ensaio, a Farmacopeia Portuguesa V inscreve também um ensaio de uniformidade de
teor.
De qualquer modo, somos do parecer que tolerâncias da ordem de ± 5% para a média e de ±
10% quando consideradas as cápsulas individualmente, são suficientemente amplas, podendo servir
tanto para as cápsulas cheias à mão, como por sistemas mecanizados.
FRANQUESA GRANER, tendo em atenção as considerações deixadas expressas, aconselha o seguinte
ensaio: «Pesar individualmente 10 cápsulas; esvaziá-las e pesar individualmente as cápsuls vazias;
por diferença obtêm-se os pesos individuais dos conteúdos; nenhum deles deve afastar-se ± 10% do
peso teórico e a sua média deve estar compreendida entre ± 5% do valor teórico».
2) Tempo de dissolução ou de desagregação — A desagregação das cápsulas de gelatina
processa-se em duas fases distintas. Na primeira o invólucro dissolve-se parcialmente no seu ponto
mais frágil e liberta o conteúdo da cápsula. Num segundo tempo opera-se a dissolução dos
receptáculos gelatinosos.
Se bem que a gelatina se dissolva fácil e rapidamente no suco gástrico, é conveniente estipular
um prazo de tempo máximo, dentro do qual o conteúdo medicamentoso das cápsulas seja libertado,
ficando apto para desempenhar a acção farmacológica desejada. Chama-se a este período tempo de
desagregação das cápsulas, o qual pode ser avaliado por simples imersão daquelas em água
destilada, mantida a cerca de 37°C. Têm sido propostos alguns aparelhos destinados a facilitarem a
apreciação do tempo de desagregação das cápsulas, tornando-se útil dispor de um sistema que
obrigue as cápsulas a manterem-se mergulhadas na água até à dissolução dos seus invólucros. Uma
improvisação que dá bons resultados práticos consiste em colocá-las num copo onde se encontra a
água aquecida a 37°C, obrigando-as a imergir por intermédio de uma rede que se ajusta à superfície
do líquido. Interessa também que se agite regularmente o
939
líquido de desagregação, durante o ensaio. Compreende-se ainda que é vantajoso proceder ao ensaio
usando, simultaneamente, várias cápsulas.
CzETSCH-LiNDENWALD propôs um aparelho muito simples, constituído por um tubo de vidro fechado
nas duas extremidades, o qual apresenta um estrangulamento central onde são colocadas as cápsulas a
analisar. Do mesmo modo, podem servir para esta determinação os aparelhos que citámos a propósito dos
comprimidos, como o de ERWEKA ou o sistema preconizado na Farmacopeia Portuguesa V.
Das farmacopeias que consultámos, apenas a Helvética VI e D.A.B. 7." propõem o emprego de
soluções clorídricas de pepsina, em lugar de água destilada. Como se viu a propósito dos comprimidos, é
indiferente proceder de uma ou de outra forma.
O período de tempo considerado como limite para a desagregação ou dissolução é também variável de
farmacopeia para farmacopeia, indo desde 6 minutos até 30 minutos.
Na Tabela CX indicamos as técnicas de controlo e os tempos de desagregação estabelecidos em
algumas das actuais farmacopeias.
A apreciação dos tempos de desagregação das cápsulas que apresentem revestimentos gastro-
resistentes é conduzida em moldes semelhantes aos que indicámos. Interessa aqui, porém, avaliar-se
a resistência apresentada em relação ao suco gástrico, determinando-se o tempo de desagregação
em suco entérico. Nestas circunstâncias, as cápsulas serão mergulhadas em ácido clorídrico O, l N
ou numa solução clorídrica de pepsina, mantida a cerca de 37°C, não se devendo dissolver total ou
parcialmente, após uma agitação prolongada. Em regra, aceita-se que resistam duas horas nas
condições assina-
940
Após o citado ensaio, as cápsulas devem romper e ceder os seus princípios activos num
período de tempo inferior a 60 minutos quando mergulhadas numa solução tampão de pH 6,8, de
solução de pancreatina alcalina ou um suco entérico artificial, aquecido à mesma temperatura.
Algumas farmacopeias preconizam maiores períodos de desagregação (l hora e 30 minutos, 2
horas).
A Tabela CXÍ indica, em resumo, as técnicas de controlo de algumas farmacopeias
e os tempos de desagregação para as cápsulas gelatinosas resistentes à acção do suco
gástrico. . . .. .....„.., „-,
sentam muito menos quantidade de líquido do que a que se encontra no tracto gastro-
-intestinal. Por outro lado, o pH das secreções rectal ou vaginal é apreciavelmente mais elevado do
que o do suco gástrico.
No recto (comprimento de 12-15 cm e diâmetro de 5-6 cm) o pH está compreendido entre 7,3-7,6,
podendo variar, em determinadas circunstâncias, entre 4,6 e 8,8.
A secreção vaginal tem pH de cerca de 4,5, podendo variar, mesmo em condições normais, entre
3,9 e 6,3.
Os ensaios in vivo revelam que as cápsulas de gelatina para uso rectal libertam o seu conteúdo
em, aproximadamente, 27 minutos, e as de uso vaginal em 5-8 minutos.
Do ponto de vista prático podemos, portanto, considerar aplicáveis às cápsulas rectais e vaginais
os ensaios executados com as cápsulas de uso oral, sendo válidos os tempos de desagregação então
estipulados.
3) Água — Para determinar o teor de água existente nos invólucros das cápsulas de gelatina
podem ser utilizados três métodos fundamentais:
— Aquecimento na estufa até peso constante;
— Método de KARL-FISCHER;
— Método de destilação azeotrópica com xileno ou tolueno.
Qualquer destes métodos foi descrito a propósito de ensaios efectuados com os pós, razão por
que nos dispensamos de os transcrever de novo (ver pág. 631).
Lembramos que o teor de água residual das cápsulas de gelatina mole é de 8-10% e o das
cápsulas de gelatina dura é de 14-16%. KUHN, utilizando o método de KARL-
-FiscHER, encontrou, para este último tipo de cápsulas, o valor médio de 16,73%.
das suas paredes (4 mg de água por semana e por cápsula, quando as embalagens são expostas numa
atmosfera de humidade relativa elevada).
Do que se disse compreende-se que se prefira proceder ao acondicionamento das cápsulas em
frascos de vidro, de alumínio ou de polietileno. Quanto a nós, consideramos preferíveis os dois primeiros
processos de embalagem, que devem apresentar tampas de enroscar e cintas plásticas adicionais, a fim
de garantir a estanquicidade dos recipientes. Os frascos de polietileno, se bem que satisfaçam na
maioria dos casos, podem apresentar maior permeabilidade ao vapor de água.
Em muitos casos, inclui-se no recipiente onde se acondicionam as cápsulas pequenos exsicadores
contendo gele de sílica, os quais exercem o seu efeito fixador da humidade, principalmente após a
abertura dos repicientes. A Fig. 343-A representa um dos tipos de exsicador mais utilizado, o qual está
incorporado na rolha do frasco onde se acondicionam as cápsulas.
Ffg. 343-A. Frasco contendo cápsulas e respectiva tampa com sistema exsicador
l,.
í. " :! •. '•'-
Sulfatiazol ................................................ 0,165 g ",
Ftalilsulfatiazol ........................................ 0,165 »
Sulfaguanidina.......................................... 0,165 »
Ácido ascórbico ...................................... 0,050 »
Menadiona................................................ 0,005 »
'• ' ''' Faça uma cápsula e mais onze iguais I.IM.J-.-] fi.< i
Trata-se de uma fórmula usada como anti-séptico intestinal, constituída pela associação de três
sulfamidas com vitaminas C e K3.
Podem usar-se cápsulas duras n.° 00, completando-se o seu enchimento com lactose (acção dilueme e
protectora da oxidação da vitamina C), eventualmente associada a 1% de estearato de magnésio.
n
Menadiona................................................ 0,25 g
Bitartarato de colina .............................. 0,25 »
(') A BPh (1963), a USP XVII e a F. I. VII (1%5) inscrevem, respectivamente, 16, 22 e 5
monografias de cápsulas enquanto que a BPh de 1988 e â USP XXII inscrevem, respectivamente, 58
e 203.
944
m v s
IV
Para preparar cápsulas duras pode usar-se o acetato de axeroftol, de ponto de fusão 57-58°C, o que
é preferível à utilização da vitamina sob a forma de álcool, que é líquida. A quantidade de vitamina A
(acetato) a empregar por cápsula é de 1,72 mg, dado que l U. I. de vitamina A equivale a 0,344
microgramas de acetato de axeroftol.
O peso de vitamina D2 a incluir por cápsula é de 50 mcg (l mcg de vitamina D2 cristalizada o 40
U. L).
Para evitar a oxidação da vitamina A (ligações isoprénicas facilmente alteráveis) aconselha-se a
adição de 0,01 mg de ot-tocoferol por cápsula. Pode usar-se a lactose como diluente, ajustando-se a sua
quantidade de acordo com a capacidade da cápsula desejada. É conveniente um peso mínimo de 0,2 g
de lactose por cápsula.
A fórmula referida pode empregar-se em cápsulas moles (pérolas, por exemplo). Para isso
dissolvem-se as vitaminas (axeroftol e calciferol) e o antioxidante em azeite neutro, saturado de anidrido
carbónico, o que impede a acção deletéria do oxigénio atmosférico.
VTI
Mononitrato de tiamina.................................... lg
Divida por 10 cápsulas de capacidade apropriada
Esta fórmula é apenas constituída pelo mononitrato de tiamina, sal mais estável do que o
cloridrato, que tantas vezes se utiliza como fonte de vitamina B,. Embora seja vulgar a dosagem de
100 mg por cápsula, é de lembrar que a vitamina B,, quando administrada por via oral, não é
absorvida senão em taxa bastante inferior, sendo a quantidade excedente excretada com as fezes.
Podem usar-se cápsulas n." 4 ou n." 5, o que depende da tenuidade do pó utili
zado. • • - •- .....— . .,,. ..... - .... •
•: •' '•;, i *\ •'.,.: v;: . -: .m m.r' •'':> :•>£: ;...;.
. : :„ ... ,'„
Vffl
Bromofórmio............................................ 0,10 g
Codeína .................................................... 0,01 »
Urotropina ................................................ 0,15 »
Beladona em pó...................................... 0,02 »
Acónito em pó........................................ 0,02 »
Terpina hidratada .................................... 0,15 »
Benzoato de sódio .................................. 0,15 »
Numa cápsula e mais 5 iguais ,„_„..
946
IX
Fenilbutazona ................................................ 0,10 g
• '• Gentisato de amidofebrina .......................... 0,50 » •'•-'' '
''*"""' '• ' Cloridrato de tiamina .................................. 0,02 »
.•'j ^: i"' '
' "\ <* ..;.>:. . : .;.-• Numa cápsula e mais 5 iguais 'ïr^J ?•
Esta fórmula é usada como anti-reumatismal, propriedade que se deve aos seus três componentes.
Seria preferível empregar o mononitrato de tiamina em lugar do clori-drato, mas o derivado da
amidofebrina é particularmente sensível aos oxidantes. A fenilbutazona é muito pouco solúvel em
água, razão por que, às vezes, se dá a preferência ao seu sal sódico (l g de fenilbutazona dissolve-se
por adição de 0,27 g de bicarbonato de sódio).
Pepsina ......
Pancreatina
Faça 10 cápsulas iguais
Nesta fórmula observa-se a associação de dois produtos dotados de actividade
enzimática, devendo a pepsina actuar em meio ácido e a pancreatina em meio alcalino.
Surge, assim, a necessidade de proteger a pancreatina do ácido clorídrico por meio de
um envolvimento gastro-resistente. A dificuldade pode ser resolvida preparando umas
pílulas de pancreatina, as quais se revestem com acetoftalato de celulose, com goma
laca, ou queratina. Numa cápsula de grande capacidade introduz-se uma pílula e a
quantidade exacta de pepsina.. ........ . . . . . . . . . L^W^JUV>.-.,.
.-- „.,. . ...: -,.>3
A fórmula para preparar as pílulas pode ser a seguinte:
Pancreatina .................................................... 2,5 g
Bicarbonato de sódio.................................... 0,5 »
Extracto de grama ........................................ q.b.
947
Outro processo de preparação consiste em acondicionar a pancreatina numa pequena cápsula dura
n.o 3 ou 4, revestir essa cápsula com envolvimento gastro-resis-tente e acondicioná-la, juntamente com a
pepsina, numa cápsula n.° 00 ou 000.
7.3. POLPAS
As polpas são formas farmacêuticas de consistência mole, obtidas a partir de plantas, de partes
de plantas ou de órgãos animais, com aproveitamento das zonas moles e carnudas e rejeição das
partes fibrosas ou duras das drogas utilizadas.
Conhecidas, antigamente, sob a denominação de Pulpolitos de CHEREAU, as polpas constituem o resultado
da polpação, que é uma operação de divisão de materiais farmacêuticos frescos. São formas muito simples,
cuja importância é semelhante à das Espécies e que, tal como estas, caíram praticamente em desuso.
Era hábito dividi-las em polpas animais e polpas vegetais.
BIBLIOGRAFIA
Consoante o seu principal elemento constitutivo podem dividir-se em aquosos, oleosos, gomo-
resinosos, resinosos, balsâmicos, etc. Têm para nós especial interesse, como forma farmacêutica, os
sucos aquosos, que podem, por seu turno, ser açucarados, herbáceos ou ácidos.
Pectase
Pectose Pectina ácido péctico (gele)
(') O simples aquecimento das polpas dos frutos verdes origina, igualmente, a transformação da
pectose em pectina. ..,,,, ,.„. .,....,„ ,„ . •. . ... ••.;>.*.^.i uír-wíj T: n
954
facto, o enzima abre as cadeias do ácido galacturónico e saponifica os radicais metílicos presentes.
Esta operação torna o suco muito menos viscoso, permitindo a sua fácil filtração.
...; ..
8.1.2.3.1. Conservação dos sucos ácidos ,., .,. ., ...,,.,.. ,,, , %(,
Em regra, os sucos ácidos conservam-se mal. O melhor processo para evitar a sua alteração
reside em esterilizá-los pelo método de NICOLAS APPERT, que consiste em aquecer o suco a 100"C, isto
é, por imersão do recipiente em que se encontra o suco, num banho-maria fervente, durante 30-45
minutos. O recipiente deve ser, depois, perfeitamente tapado, de modo a evitar qualquer entrada de
ar; a tampa deve aplicar-se com o suco quente, situação em que, portanto, o ar se encontra expulso.
Este facto provocará a aderência da tampa ao recipiente, no qual será feito um certo grau de vazio,
sendo, assim, eficazmente melhorada a conservação. Outro processo consiste em os esterilizar, por
autoclavação, no vazio, a 70°C, ou por filtração (sistema de ZAIS--BOHY). Para evitar a oxidação dos
componentes dos sucos tem sido proposto o uso de substâncias redutoras, como o anidrido sulfuroso,
o bissulfito de sódio e o metabissul-fito de sódio ('). A fim de reforçar a esterilização, dificultando a
proliferação microbiana, têm-se adicionado aos sucos substâncias conservantes anti-sépticas, como o
ácido benzóico, o ácido salicílico e o formol. O uso destes compostos não é isento de inconvenientes,
propondo-se, actualmente, o emprego de p-hidroxibenzoato de metilo (0,1-0,15%) e de p-
hidroxibenzoato de propilo (0,02-0,1 %), que apresentam menor toxicidade. É importante lembrar
que, tratando-se de dois compostos pouco hidros-solúveis, se deve procurar fazer a sua dissolução no
suco, a quente.
(') Os compostos que libertam anidrido sulfuroso, além da sua acção redutora, desempenham
funções microbicidas. • • -
956
-los directamente. Estes concentrados são, em regra, obtidos artificialmente pela mistura de açúcar e de
água à essência que exista no suco em questão. Neste caso são corados artificialmente.
É importante verificar a natureza do corante adicionado, que deve ser permitido para a alimentação.
A identificação dos corantes é fácil de executar recorrendo a ensaios de cromatografïa em papel ou em
camada delgada. Por outro lado, existem descritas reacções específicas para os corantes naturais de
cada suco. Assim, por exemplo, o suco de groselha, natural, que é vermelho, cora de roxo pela
adição NaOH; isto não acontece quando o suco é corado artificialmente com corantes não naturais.
BIBLIOGRAFIA
BÉRIO, V. — succhi di frutta — Boll. Chim. Farm. 102, 578, 1963.
DENOP.L, A. — Cours de Pharmacie Pratique, Lês Presses Universitaires, Liège, 1954.
GORIS, A. e LIOT, A. — Pharmacie Galénique, Masson, Paris, 1949.
GUICHARD, C. — Tecnhologie pharmaceutique, Ed. Flammarion, Paris, 1967.
958
959
Entretanto, a lista dos agentes emulsivos foi aumentando progressivamente e em 1757 FRENCH,
farmacêutico londrino, já utilizava, além da gema de ovos, as gomas arábica e adraganta, xaropes, mel e
mucilagem na preparação das suas emulsões.
Durante o séc. XIX assiste-se a um renovado interesse por estas preparações, patente nas numerosas
fórmulas então publicadas e nos progressos introduzidos na sua manipulação. Na realidade, foi na segunda
metade do século passado que se codificaram os principais métodos de preparação das emulsões, como o
método inglês ou da goma húmida, o método continental ou da goma seca e o método do frasco, proposto por
FORBES, em 1872, para a preparação de emulsões contendo essências.
Durante o presente século a teoria das emulsões tem merecido a atenção de
numerosos investigadores, devendo-se a este facto, aliado à síntese de grande número
de agentes tensioactivos feita nestes anos mais recentes, o uso cada vez mais genera
lizado que se vem fazendo destas preparações, quer no campo farmacêutico, quer no
campo da cosmética. ,,.
apreciável coeficiente de solubilidade na água, distribuir-se-á nas duas fases da preparação e quando isso
acontece o seu paladar nunca poderá ser convenientemente encoberto pêlos correctivos. Compreende-se,
por isso, que uma emulsão O/A só conseguirá disfarçar, com êxito, o paladar de uma droga quando esta
for totalmente insolúvel na água.
Em certos casos, porém, torna-se possível corrigir o gosto desagradável de algumas substâncias
hidrossolúveis que figuram na mesma emulsão O/A recorrendo a uma dupla emulsificação. De facto, HUSA
refere um exemplo destes, em que se consegue encobrir o gosto amargo de um produto solúvel na água
incorporando-o, primeiramente, na fase interna de uma emulsão do tipo A/O. Esta emulsão é, depois,
transformada numa outra de tipo O/A por adição de um agente emulsivo hidrófilo, daqui resultando que a
substância amarga fica situada na parte mais interna da fase aquosa da dupla emulsão água-óleo-água,
conseguindo-se, assim, disfarçar o seu paladar desagradável.
Muitas vezes recorre-se à emulsificação para facilitar a absorção de gorduras pelo intestino. Estas,
como se sabe, são normalmente emulsionadas no duodeno pêlos sais biliares e depois hidrolisadas por
enzimas do suco pancreático, daí resultando a formação de ácidos gordos e glicerina que são absorvidos
através da parede intestinal. Acontece, porém, que as gorduras intactas poderão franquear, igualmente,
aquela parede desde que se apresentem emulsionadas em glóbulos com diâmetros inferiores a l N.. Deste
modo, para aumentar a absorção de um óleo pelo intestino está indicado administrá-lo sob a forma de
emulsão, aconselhando-se que os glóbulos dispersos tenham um diâmetro médio de cerca de 0,5 u,, pois
assim a sua absorção dar-se-á eficazmente.
Às emulsões para uso oral, devidamente edulcoradas e destinadas a serem administradas às colheres e
que, por isso, são verdadeiras poções, é corrente dar-se a designação de looques (looks ou loochs). Este
nome deriva, possivelmente, do termo árabe lahok (secar), sendo, também, provável que a palavra grega
que significava lamber tenha contribuído para a sua raiz etimológica, já que as primitivas preparações
apresentavam a consistência de mel e eram administradas chupando uma espécie de pincel que nelas se
molhava.
A F. P. IV inscreve o looaue branco, o qual é uma emulsão de óleo em água que pode ser utilizada
como excipiente em várias preparações medicamentosas.
alcalinos como emulgentes. Pelo mesmo motivo torna-se necessário estabelecer, previamente, a
compatibilidade entre todos os electrólitos a dissolver na fase aquosa e o agente emulsivo a utilizar,
de modo a evitar a inactivação deste.
Como exemplo de substâncias medicamentosas que, por vezes, se adicionam à fase aquosa
podemos citar o iodeto de potássio, o cloreto de amónio e o hidrato de cloral. Em qualquer dos
casos, a substância deve ser adicionada à emulsão a pouco e pouco e o mais diluída possível, a fim
de se minimizar qualquer acção sobre o emulgente, pelo que é aconselhável dissolvê-la na totalidade
da água que figure na fórmula.
Pelas razões atrás expostas, os correctivos também deverão ser adicionados à fase aquosa, ao
passo que os agentes conservantes se dissolverão na fase aquosa ou oleosa consoante a acção
protectora que dele se pretende.
As emulsões estão sujeitas ao ataque de bactérias e fungos, especialmente se contêm mucilagens
de gomas, de modo que é prática corrente figurar na sua constituição um agente antimicrobiano.
Acontece, porém, que várias substâncias microbicidas são incompatíveis com certos agentes
emulsivos do tipo macromolecular, com os quais formam complexos inactivos.
O ácido sórbico na concentração de 0,2% p/v parece ser o agente antimicrobiano mais eficaz.
Pode utilizar-se, igualmente, o ácido benzóico, cuja concentração, como molécula indissociável, deve
atingir 25 mg/100 ml da fase aquosa, sendo também frequente usarem-se os p-hidroxibenzoatos de
metilo e de propilo.
Os agentes protectores são dissolvidos na água, podendo, no entanto, acontecer que
sejam também parcialmente solúveis nos óleos. Em tais casos a molécula da substância
microbicida distribuir-se-á nas duas fases, de acordo com os respectivos coeficientes de
solubilidade, sendo necessário, então, que se use uma quantidade de tal produto de
modo a obter-se uma concentração na água capaz de inibir o desenvolvimento micro
biano. »„,,*
interfasial se encarregará de proteger da oxidação a fase interna das emulsões O/A. Assim, por
exemplo, emulsões preparadas usando linoleato, oleato e estearato de sódio, como agentes emulsivos,
apresentam índices de peróxidos de 60, 36 e 17, respectivamente, o que demonstra bem a influência
da natureza do emulgente no grau de oxida-bilidade destas formas farmacêuticas.
Por este motivo é vulgar adicionar-se às emulsões substâncias antioxidantes, indicando THORVICK
que os compostos insolúveis na água são os mais activos. Figura, por conseguinte, na fase oleosa das
emulsões, podendo citar-se como mais usados o a-tocoferol, o galhato de dodecilo e de propilo e,
ainda, o ácido nor-di--hidroguaiarético (NDGA).
temático dos vários emulgentes, pois nada nos diz sobre a sua natureza ou origem. Por
isso, embora adoptando tal divisão, consideraremos dentro de cada um destes dois
grandes grupos vários subgrupos, os quais correspondem inteiramente à classificação
dos emulgentes seguida na Técnica Farmacêutica. Assim, quer se trate de produtos para
uso interno ou externo, serão agrupados em três rubricas principais: agentes emulsivos
naturais, agentes emulsivos sintéticos (iónicos e não iónicos) e agentes emulsivos
auxiliares ou secundários. ..... -, -_. ....
As emulsões preparadas com esta goma mantêm-se estáveis numa larga zona de pH, que vai de 2 a
10, mas são destruídas a pH fortemente alcalino. Acontece, porém, que a viscosidade conferida pela goma
arábica à fase aquosa é de certo modo diminuta, motivo por que é costume usar-se, simultaneamente, um
agente espessante, como a goma adraganta ou a gelosa, a fim de evitar que as emulsões originem
creme.
A goma arábica contém oxidases susceptíveis de reagirem com certos medicamentos, podendo originar
a sua oxidação o aparecimento de colorações róseas, azuis ou violáceas, corno acontece, por exemplo,
com o piramido, ou provocar a destruição de certas substâncias altamente oxidáveis, como a vitamina A.
Por isso se recomenda o aquecimento da goma a 100°C, durante l hora ou na respectiva mucilagem a
b.m. fervente durante 1/2 hora, a fim de se destruírem as referidas oxidases.
Os produtos contendo goma arábica são facilmente atacados por agentes microbianos, pelo que devem
conter sempre um conservador, que pode ser o álcool (6% do total da emulsão), o ácido benzóico (0,2%)
ou o p-hidroxibenzoato de metilo (0,2%).
A goma arábica é incompatível com numerosas substâncias, como o bórax, o cloreto férrico, o
acetato básico de chumbo, o álcool concentrado e sabões alcalinos, pois um dos seus principais
constituintes é o arabinato de cálcio. Além disso, é também incompatível com a gelatina a pH inferior a
4,7, pois abaixo deste valor aquela apresenta carga positiva enquanto a goma arábica é sempre negativa,
de modo que em tais condições dá-se o fenómeno de coacervação e as duas substâncias precipitam.
A goma adraganta raramente é utilizada isoladamente, associando-se muitas vezes à goma arábica,
originando emulsões O/A estáveis, devido à sua elevada viscosidade. Se bem que isto não constitua uma
regra absoluta, é vulgar usarem-se 10 partes de goma adraganta para 90 partes de goma arábica. Um
g de goma adraganta pode emulsionar entre 20 a 40 g de óleo.
A goma de Karaya é uma goma particularmente rica em grupos acetilados fixados em polissacaridos
de elevado peso molecular. Usa-se como sucedâneo de goma adraganta.
Gema de ovo — É considerada um excelente emulgente do tipo O/A, constituindo a própria gema do
ovo uma emulsão também O/A, naturalmente formada à custa de uma mistura emulsiva um tanto
complexa, em que figuram a lecitina, o colesterol e uma fracção proteica.
Este emulgente é resistente aos ácidos e ã acção dos electrólitos mas decompõe--se por fermentação
com relativa facilidade, pelo que as emulsões com ela preparadas devem conter substâncias
conservantes: 0,2% de ácido benzóico, 10% de álcool ou 0,2% de p-hidroxibenzoato de metilo. Mesmo
assim, devem ser consumidas no espaço de alguns dias e conservadas em frigorífico.
A gema de um ovo normal pesa cerca de 15 g e é capaz de emulsionar 250 ml de essência ou 120
ml de um óleo fixo.
Gelatina — A gelatina origina emulsões do tipo O/A, usando-se frequentemente em preparações
farmacêuticas e alimentares. Trata-se de uma substância de fracas
967
propriedades emulsivas, cujas soluções aquosas, são, no entanto, extremamente viscosas, tornando-se sólidas
à temperatura ambiente desde que a concentração de gelatina seja superior a 2%. Por este motivo não
deve ultrapassar-se a concentração de 0,5%, dissolvendo-se a gelatina na água, a quente.
A gelatina é um colóide protector cuja eficiência depende do pH do meio, acontecendo que para
valores de pH abaixo do seu ponto isoeléctrico a gelatina fica carregada positivamente, sendo negativa a
sua carga eléctrica quando o pH é superior ao ponto isoeléctrico. Este, no entanto, varia com a origem da
substância. Assim, a gelatina obtida por tratamento ácido tem um ponto isoeléctrico de 8 e a sua
actividade emulgente exerce-se melhor a pH 3, apresentando-se a gelatina, nestas circunstâncias,
positivamente carregada. Por outro lado, a gelatina obtida por tratamento alcalino tem o seu ponto
isoeléctrico situado a pH 4,7, sendo usada na prática em solução de pH ± 8, apresentando-se, nestas
condições, com carga eléctrica negativa.
GALLO representa do modo seguinte a ionização das gelatinas a diferentes valores de pH:
CONH, f CONH2
NH,+ " [ i 1 NH,+ [
NH; + R < CONH2 1 NH2
R CONH2
Gelatina A (ácida) COOH coo* 1
[ coo* NH NH
COO+
pH 3 pH 5 pH 8 pH 9
COOH (p.I.)
( E
[ NH,+ R < NH,+ [ 3+
NH NH2+
R NH2
MV R lR NH,+ < NH2
Gelatina B (alcalina) R COOH < COOH 1 COO+ CO
COO+ O+
pH 3 pH 4 pH 5 (p.I.) pH 9
*
bicarbonato de sódio, a qual é perfeitamente compatível com a goma arábica. Na Tabela CXI11
indicam-se algumas das características destes produtos.
A gelatina é muito usada na preparação de emulsões de parafina líquida, as quais, porém,
deverão ser obtidas num homogeneizador. Além disso, sempre que a fase oleosa representa uma
percentagem diminuta, a emulsão deve ser estabilizada com uma goma viscosa ou com alginato de
sódio, a fim de se evitar a formação de creme.
Extracto de malte — É um líquido castanho, viscoso, que contém dextrina, proteínas e outras
substâncias que lhe conferem propriedades emulgentes. É usado juntamente com outros agentes
emulsivos secundários para emulsionar e corrigir o paladar do óleo de fígado de bacalhau.
Lecitinas — São ésteres glicerofosfóricos da colina e de ácidos gordos diversos, como o oleico,
palmítico, esteárico, etc.
Pode utilizar-se a lecitina da gema de ovos, a lecitina das sementes de soja ou a lecitina e
cefalina do tecido nervoso. Em geral, estes produtos alteram-se com muita facilidade e apresentam,
por vezes, gosto e cheiro desagradáveis, pelo que o seu uso não está generalizado.
As lecitinas são emulgentes do tipo O/A, mas o seu poder emulsivo depende dos ácidos gordos
que figuram na sua constituição e também da posição da colina. Esquematicamente a sua fórmula
pode representar-se do modo seguinte:
K,—C—
0-CH.ci ;
t l
"i l»Ó
H.
A)
jO
l \0——CH,—CH,—XH, CoUmini (B)
Ac. gordos Glicerina Ácido tosfurico
Ácido glicerofosfõrico + colina = «-leciiina (A)
Acido ghcerofosíórico + colamina =a-cefalioa !:--•:... •
(^|
969
CH,.OCO.C,TliJ5 CHOH
••
CH,OH
a qual mostra que o radical ácido, de características lipófilas, é a parte mais volumosa e importante
da sua molécula, pelo que não é de estranhar que tal composto origine emulsões do tipo A/O. Dado o
desequilíbrio existente na sua composição, em que a parte lipófila tem um predomínio evidente sobre
a parte hidrófila, representada pela molécula da glicerina, o monoestearato de glicerilo é um mau
agente emulsivo, sendo utilizado, sobretudo, como agente auxiliar, a fim de aumentar a consistência
da fase oleosa.
Existe, todavia, uma variedade deste produto, designada por monoestearato de glicerilo auto-
emulsionante, o qual não é mais do que aquele éster adicionado de uma certa quantidade de sabão
ou de sulfato de laurilo e sódio, constituindo tal mistura um emulgente muito mais equilibrado do que
o produto primitivo. Este monoestearato de glicerilo auto-emulsionante, dada a presença do sabão,
possui um E.H.L. mais elevado que o monoestearato puro e, ao contrário dele, origina emulsões O/A.
Spans e Tweens. Representam uma série de óptimos agentes emulsivos derivados do sorbitano.
Este, por sua vez, resulta da desidratação do sorbitol, a qual pode fazer-se entre os átomos de
carbono 2 e 6, originando um sorbitano de constituição piranósica (I), ou entre C3 e C6, formando-se,
neste caso, um sorbitano
970
furanósico (11). Este último composto pode sofrer uma nova desidratação, originando um sorbido
(III):
CH,—OH
HC—OH o
l / \
HO—CH —HOH CH, CH-CH.-O H"
-HC—OH 110—CH CH—OH
l \, \ /
HC—OH \x OH
i Y% i
CHL—OH \-£ OK
^ d)
HO-HC———CH-OH
H^J CH-CHOH-CH.OH
H,C CH-CHrOCO-R
HOHÍ ÍHOH
"\ / R = radicai de ácido gordo.
H OH
Estes compostos são predominantemente lipófilos, pelo que originam emulsões do tipo A/O,
dependendo a sua lipofilia do tamanho da cadeia carbonada do ácido esteri-ficante e do grau de
esterificação. São designados por um número, Span 20, Span 40, Span 60, etc., correspondendo a
cada produto uma composição específica conforme se indica na Tabela CXIV.
A designação de Span corresponde a uma marca comercial destes produtos, existindo no
mercado outros preparados com idêntica composição, como os A r laceis (maior pureza) e os Crílls,
cuja correspondência se indica na Tabela CXIV.
Os Tweens representam outra classe de emulgentes não tónicos. Derivam dos Spans por
introdução, nas respectivas moléculas, de radicais tipicamente hidrófilos, pelo que são solúveis na
água e dispersíveis nos óleos, originando, portanto, emulsões do tipo O/A. O seu poder emulsivo
está dependente do grau de esterificação, como acontece com os Spans, donde derivam, e, ainda, do
volume da parte hidrófila da sua molécula, que é constituída por grupos polimerizados de óxido de
etileno (-CH2.O.CH^-), tomando-se tanto mais hidrófilos quanto mais cadeias oxietilénicas contiverem.
A sua derivação a partir de um Span pode representar-se do seguinte modo:
. .
... ' ;- ... ... .,,„. CH, CH-CH.-O-R -
,(..•. i 'j,"i sr
SPAN+n(CH,-CH,)^HO-CH,-(CH.-0-CH,)I-Ciri-0-CH CH-0-CH,-(CH,-O-CH,),-CH,-
OH •-.'•W
0
\/ ,,-•'
.:,;,. ' í: í •, , :.;-•». -' f '..: .;., 0-CH,-(CHrO-CH,)I-
CH,-OH •, ;'i./.,
indicando n o número total de grupos CH2.O.CH2 introduzidos na molécula do Span que, no
exemplo dado, será igual à soma dos valores de x. Concretamente, desde que n seja de cerca de 20,
o composto obtido passa a ser solúvel na água, comportando--se como um emulgente O/A.
Um Tween em que haja três grupos polioxietilénicos é, dum modo geral, mais hidrófilo que um
outro que apenas contenha dois ou um desses grupos. Entretanto, a solubilidade dos compostos
deste tipo depende do equilíbrio existente entre os grupos do polioxietileno e o número de radicais
de ácidos gordos esterificantes da parte sor-bitano da respectiva molécula. Se considerarmos um
composto destes e mantivermos fixo o número de grupos polioxietilénicos, veremos a sua
hidrossolubilidade diminuir com o aumento da cadeia carbonada do ácido esterificante e do grau de
esterificação.
Os Tweens, também designados por polissorbatos, aparecem ainda no mercado sob a marca
comercial de Crills, indicando-se na Tabela CXIV, a correspondência existente entre estas duas
séries de produtos. — :••• -— • — • • -- -.-•
972
Além dos Spans e Tweens podemos citar ainda outros compostos não iónicos contendo cadeias
de polioxietileno: os Mirj e os Bríj. Os primeiros são ésteres e correspondem à seguinte constituição:
R-COO-CH2-CH,O(CH2.O.CH2)rí-CH2-CH2OH, em que R representa um radical de um ácido gordo,
enquanto a constituição dos Brij, que são éteres, pode ser indicada como sendo:
R-CO-CH^-CH^O(CH2.O.CH2)a2-CH2-CH,OH, correspondendo R a um radical de um álcool
superior.
Dado o facto de conterem cadeias polioxietilénicas, estes produtos são hidrófilos e, por
conseguinte, originam emulsões O/A. A sua constituição, porém, é bastante variável, podendo conter
entre 50 a 100 grupos hidrófilos, caracterizando-se pelas suas excelentes propriedades emulgentes,
sendo, além disso, compatíveis com o cálcio e os electrólitos.
Na Tabela CXV indica-se a designação comercial de vários destes emulgentes, o seu nome
químico e os respectivos valores de E.H.L.
973
Tabela CXV. Constituição química e valores aproximados do E.H.L. de vários
agentes emulsivos (a)
Nome químico ou designação Valor
(a) Segundo Martin in Husa's Phannaceutical Dispensing, 5.a ed., Mack Publishing Co. Easton,
1959, pág. 183, 'Atlas Powder Co., Wilmington. Del. "Emulsion Corp., Chicago, III. "Goldschmidt
Chemical Corp., New York, N. Y. 'Glyco Chemical Corp., New York, N. Y. 'General Aniline and Fihn
Corp. New York, N. Y. . . . . . .._,.,.' ._, ___.- ..__... . . . .
974
Por vezes, haverá necessidade de empregar um novo tipo de óleo ou um novo emulgente, para os quais
não se conheçam os valores de E.H.L. e, neste caso, é preciso determiná-los experimentalmente. Vejamos
como isso se pode fazer.
Determinação do E.H.L. de um óleo — Querendo determinar o E.H.L. de um óleo, prepara-se
com ele uma série de emulsões obtidas à custa de um par de dois emulgentes, misturados em
proporções variáveis, de modo a originarem valores definidos mas escalonados de E.H.L. Após
algum tempo, geralmente decorridas 24 horas, procede-se ao exame de todas as emulsões, toma-se
como ponto de referência aquela que se apresenta mais estável, isto é, que não tenha aspecto
grumoso nem registe separação das fases, admitindo-se que o seu valor de E.H.L. é o que
corresponde ao do óleo em ensaio.
Suponhamos, por exemplo, que pretendíamos determinar o E.H.L. do óleo X, utilizando, para
isso, como emulgente, uma mistura de Span 60 (E.H.L. = 4,7) e de Tween 60 (E.H.L. = 14,9).
Preparávamos, então, uma série de emulsões contendo 10 g de óleo X, 5 g de uma mistura dos
referidos emulgentes, combinados em variadas proporções, e água até perfazer 100 g. Decorridas 24
horas examinávamos as preparações, registando-se os seguintes resultados:
Como a emulsão mais estável tem um E.H.L. igual a 9,8, este será, por conseguinte, o valor de
E.H.L. que passa a ser atribuído ao óleo em ensaio.
Determinação do E.H.L. de um emulgente — Na literatura encontram-se descritos os E.H.L. de
numerosos agentes emulsivos, existindo vários métodos para a sua determinação. Acontece que os
valores determinados para os agentes sintéticos são bastante uniformes, mas o mesmo já não se
verifica no que diz respeito aos agentes emulsivos de origem natural, observando-se, por vezes,
diferenças acentuadas nos valores de
(*) O E.H.L. da mistura é a soma dos valores correspondentes aos dos seus constituintes, de
acordo com as respectivas concentrações. Sendo o E.H.L. do Span 60 igual a 4,7 e o do Twecn 60
igual a 14,9, teremos no casa da primeira emulsão da lista: E.H.L. devido ao Span 60 = 90x4,7:100
= 4,2; E.H.L. devido ao Tween 60=10x14,9:100=1,5. Logo, E.H.L. da mistura = 4,2+1,5 =
5,7.
975
E.H.L. calculados em laboratórios diferentes. Assim, por exemplo, CHUN e colab. fixam o E.H.L. da
goma adraganta em 13,2, ao passo que GUESS determinou, para a mesma substância, o valor de
11,92. Este facto é explicável pela circunstância do produto em questão ter uma composição
complexa, que pode variar conforme a origem e de amostra para amostra, pelo que tais diferenças
são plenamente justificáveis.
São vários os métodos propostos para a determinação do E.H.L. dos emulgentes. Uma destas
técnicas consiste em determinar a temperatura a que turva uma solução a 5% do composto a ensaiar,
a qual representa o seu ponto de nebulosidade. Quanto maior for o E.H.L. da substância, mais
elevada será a temperatura necessária para originar a primeira névoa perceptível. Este método,
contudo, apenas é aplicável aos agentes não iónicos hidrossolúveis.
DANTES, em 1957, propôs uma fórmula para calcular o E.H.L. de todos os agentes tensioactivos, o
emprego da qual obriga, porém, ao conhecimento da respectiva estrutura química. Essa fórmula é a
seguinte: E.H.L. = Z (números de grupos hidrófilos) -n (números de grupos por grupo CH2) + 7, em
que n é o número de grupos -CH2-existentes na molécula do tensioactivo. Cada radical tem um
número de grupo hidrófilo característico, determinado por DAVIES, correspondendo, por exemplo, aos
radicais — SO4-/Va*, — COQ-K- e — COO~Nar os números de grupos 38,7, 21,1 e 19,1, respec-
tivamente (ver Tabela CXVI).
0,47
5
0,47
5
0,47
5
Grupos lipófllos ' .. «jjí, ."ia
-CH — r ."'^ateaft
-CH 2 -
-CH3 = CH —
-(CH, — CH2 — CH, — O) —
976
\
= 15,02.
- "
49,5 E.H.L. (Tween 80) = 20 l l — -
198,6
Tratando-se de produtos complexos, como a goma arábica, adraganta e outros, é preferível
recorrer ao método preconizado por CHUN e colab.
Segundo aqueles autores, prepara-se uma série de emulsões de um óleo de E.H.L.
conhecido à custa de uma mistura constituída por várias proporções de emulgente pro
blema e de um outro emulgente cujo E.H.L. está previamente determinado. A melhor
emulsão desta série constitui o ponto de partida para calcular o E.H.L. do novo agente
emulsivo. Suponhamos, por exemplo, que nessa série a melhor emulsão de um óleo
tendo um E.H.L. igual a 11 correspondia à preparação obtida com uma mistura
emulgente contendo 40% de Span 80 (E.H.L. = 4,3) e 60% de emulgente problema. O
E.H.L. deste será dado pela fórmula: . ,,. ,,(•, ;;),ft
O processo é, afinal, o mesmo que utilizámos para determinar o E.H.L. de um óleo, só que na
equação do problema a incógnita é agora outra.
Aplicação pratica da noção de E.H.L. à preparação de emulsões — Como já por várias vezes
referimos, cada emulsão possui um valor de E.H.L. característico, o qual depende das substâncias
lipossolúveis e respectivas concentrações que figuram na sua fórmula. Ora, como esse valor de
E.H.L. corresponde ao máximo de estabilidade da emulsão, há toda a vantagem que o emulgente
utilizado iguale esse valor.
Na Tabela CXVII reproduzimos os valores de E.H.L. de várias substâncias mais vulgarmente
usadas sob a forma de emulsão, a qual nos ajuda a resolver, facilmente, o problema em epígrafe.
Suponhamos o caso mais simples, que pode ser exemplificado com uma emulsão O/A de parafina
líquida. Segundo a mencionada Tabela, o E.H.L. deste produto em emulsão do referido tipo é de
10,5. Teremos, pois, que utilizar um emulgente O/A cujo valor de E.H.L. se aproxime o mais possível
do do óleo a emulsionar. Recorrendo à Tabela CXV, (pág. 973), verifica-se que o Tween 65 tem,
precisamente, um E.H.L. de 10,5, pelo que será este o agente emulsivo aconselhado para a
preparação da referida emulsão.
978
Vejamos, agora, um exemplo mais complexo, supondo que pretendíamos obter uma emulsão
O/A com a seguinte fórmula:
Cera................................................................ 5 g' 'W- « ^
Parafina líquida ............................................ 26 » '•' •" A
Óleo vegetal.................................................. 18 » '•••
Glicerina (') .................................................. 4 » •*-.?
Agente emulsivo .......................................... 5 »
Água q.b.p................................................... 100 »
Impõe-se, antes de mais, calcular o E.H.L. correspondente à fórmula em questão e por isso é
necessário determinar a percentagem total das substâncias lipossolúveis que nela figuram e a
percentagem parcial de cada uma delas em relação a esse total. Como se vê, a cera, a parafina e o
óleo vegetal somados representam 49% dos componentes da emulsão e, portanto, teremos que a
cera corresponde a 5/49 ou, aproximadamente, a 10% da fase oleosa, a parafina líquida a 26/49
ou 53%, e o óleo vegetal a 18/49 ou 37% da mesma fase.
Deste modo e de acordo com os valores constantes da Tabela CXV1I, o valor de E.H.L. da
emulsão será:
A utilização de emulgentes mistos constituídos por agentes emulsivos O/A e A/0 baseia-se no
facto, já várias vezes assinalado, de que cada emulsão tem um valor próprio de E.H.L. e que o
emulgente a utilizar na sua preparação deve igualar esse valor. Uma vez que dois agentes emulsivos
sejam quimicamente compatíveis entre si e dado que os respectivos valores de E.H.L. são
algebricamente aditivos, pode associar--se um emulsivo de baixo E.H.L. (tipo A/O) com outro de
elevado E.H.L. (tipo O/A), de modo a obter um E.H.L. correspondente ao de qualquer emulsão.
Demonstrado o rigor deste conceito, a prática veio mostrar que as emulsões assim preparadas
apresentavam melhores qualidades que as obtidas com um único emulgente, e o processo não tardou
a generalizar-se.
No fundo, a questão do uso de misturas de emulgentes limita-se à determinação do E.H.L. da
fórmula a preparar e à escolha, por exemplo, de um Span e de um Tween que, misturados em
determinadas proporções, originem um E.H.L. igual ao da emulsão que se pretende obter.
Retomemos, como exemplo, a emulsão constituída por cera, parafina e óleo vegetal, cuja fórmula
indicámos na pág. 978, à qual corresponde o E.H.L. calculado de 10,4. Se quiséssemos utilizar na
sua preparação uma mistura de Span 80 e Tween 60, começaríamos por procurar na Tabela CXV,
pág.973, quais os valores de E.H.L. a eles correspondentes, que, como se pode ver, são 4,3 e 14,9,
respectivamente. De posse destes dados, poderíamos, por tentativas, chegar à composição da mistura
destes emulgentes cujo E.H.L. é, aproximadamente, igual a 10,5.
O problema, no entanto, pode resolver-se por um sistema de duas equações a duas
incógnitas, em que estas representam as concentrações dos emulgentes a utilizar. No
exemplo vertente, representemos a concentração do Span por A e por B a do Tween 60.
Teremos então: r>,.. • ,- •;..
: . -..Lê:. _- . . ..,. :;.-
., -
A + B = 100 (1)
EHL de A x 0,01A + EHL de B x 0,01B = EHL da emulsão (2)
Sendo o EHL de A = 4,3, o EHL de B = 14,9 e o EHL da emulsão = 10,5, podemos fazer as
respectivas substituições na equação (2), e assim:
v
h S
A + B = 100 (1)
4,3 x 0,01 A + 14,9 x 0,01 B = 10,5 (3) " ''"'' " ": "' "!Jii '!'r' L
Como A = 100-B, se substituirmos A na equação (3) por este valor, vem: 4,3 x 0,01 (100-B)
O cálculo da quantidade relativa dos emulgentes pode também fazer-se pela clássica regra do x. Com
efeito, e ainda de acordo com o exemplo citado, suponhamos que desejamos saber qual a quantidade relativa
de Span 80 (EHL = 4,3) e de Tween
PERCENTAGEM DE TWEEN
Flg. 346. Gráfico Atlas para o cálculo de EHL de misturas de Spans e Tweens
10,5
Assim, teríamos de utilizar 6,2 partes de Tween 60 (10,5 - 4,3 = 6,2) e 4,4 partes de Span 80
(14,9) - 10,5 = 4,4). Isto significa que, no total de 10,6 partes da mistura, existirão 6,2 de Tween e
4,4 de Span, ou, o que é o mesmo, 5 g da mistura emulgente deverão conter 2,92 g de Tween 60 e
2,08 g de Span 80.
Na prática, recomenda-se utilizar várias proporções de emulgente, com as quais se deve preparar
uma série de emulsões, elegendo-se assim a mistura que origine a melhor
983
preparação. Quer isto dizer que se torna necessário fazer várias várias emulsões, obedecendo à
mesma fórmula básica e ajustadas, igualmente, ao mesmo valor de E.H.L., mas em que este é obtido
com combinações de vários emulgentes. Só o comportamento de tais preparações permitirá escolher
o emulsivo mais eficaz. A Tabela CXV111, adaptada de Remington's Pharmaceutical Sciences,
exemplifica o que acabamos de dizer.
oa/àH,oocc,,H,i
ÓH H "" ÓH H
Monolaurato de sacarose Dipalmitato de s
(') O Etiodol é constituído pêlos ésteres dos ácidos iodados do óleo de sementes de papoila,
utilizado como meio de contraste em certas explorações radiográficas. .-,-..,—,...- r -
984
São compostos contendo radicais lipófilos constituídos por cadeias de ácidos gordos de elevado
peso molecular ligadas a diversos aminoácidos. Em meio ácido estes produtos comportam-se como
bases aminadas e em meio alcalino funcionam como ácidos, não sendo ionizados em meio neutro.
Duma maneira geral, são emolientes e inócuos, sendo, além disso, compatíveis com os agentes
iónicos e não tónicos. Correspondendo à fórmula geral //jiV* - R - COO~, alguns destes compostos
são usados como detergentes na preparação de pomadas e outros, ainda, utilizam-se na preparação
de injectáveis. Entre eles cita-se o dodecil-diaminoetil-glicocola, conhecido, abreviadamente, por DAG,
que tem propriedades bactericidas, mesmo quando em presença de proteínas. Sob a designação geral
de Tego são fornecidos ao comércio vários emulgentes anfotéricos, utilizando-se, também,
ultimamente, o Miranol C2M, cujas soluções a 20% têm pH 8,1-8,3.
São de certo modo numerosos os produtos que podem ser utilizados como esta-bilizantes das
emulsões, sendo de mencionar, entre eles, certas substâncias de origem natural, como a gelose, os
alginatos, o carraguem ou alga perlada e a pectina, além de alguns derivados obtidos sinteticamente
da celulose.
Apesar de a maior parte das substâncias atrás citadas ser utilizada, de preferência, como meros
agentes estabilizantes, isto não exclui que se comportem como agentes emulsivos primários. Assim é
que a pectina, segundo GOLDNER, pode actuar como um verdadeiro agente emulsivo, o mesmo
sucedendo com a metilcelulose, 15 cPo, quando utilizada em concentração de 5 a 10%.
;.xr^v°-iXí~ïxf
--ML.A54 Kc_o/L
l
Mfi • ••
987
COOCH,
OH H
9.1.5.3.4. Gelose
A gelose é um produto extraído de certas algas, sendo vulgarmente conhecida por agar-agar. Dá
com a água, a quente, soluções viscosas, as quais solidificam por arrefecimento quando a sua
concentração é superior a 1%. Quimicamente é um polissaca-rido de estrutura complexa, cuja
unidade principal é a galactose, contendo ainda radicais sulfúricos e l a 2% de proteína. É, por
conseguinte, uma substância rica em grupos hidrófilos, predominantemente solúvel na água, o que a
toma um emulgente de más qualidades. É usada, juntamente com a goma arábica, para preparar
certas emulsões de parafina empregadas como laxativos.
CH.-OH H
lJ l ___
HO /9————°\ H /V————°\ O
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í! ! TT- ü O U -rr *; f.-,-, l-
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/ IIHII OH
OH H
988
ï-
9.1.5.3.5. Alga perlada >••«
Também conhecida por musgo de Irlanda ou carraguem, a alga perlada incha quando colocada
em água fria e cerca de 47% dissolve-se lentamente naquele líquido. A sua decocção a 5% origina
um gele por arrefecimento. É constituída em grande parte por hidratos de carbono complexos
possuindo unidades de galactose sulfatada que se ligam a catiões metálicos, designadamente ao
cálcio. O N.F. americano (1960) descreve um extracto aquoso seco desta alga, que se apresenta sob
a forma de um pó acastanhado, com o qual se pode preparar extemporaneamente a respectiva
mucilagem. A alga perlada é um emulgente O/A usado, por exemplo, na obtenção de emulsões de
óleo de fígado de bacalhau.
9.1.5.3.6. Dextrinas
São produtos resultantes da hidrólise parcial do amido, usados como agentes emulsivos fracos do
tipo O/A em solução a 50%. As mucilagens de dextrina são preparadas a quente.
Se bem que estas substâncias, por si só, possam, na realidade, actuar como agentes emulsivos
primários, não é menos certo que na prática corrente elas são utilizadas, de preferência, como
agentes estabilizantes, sendo essa a razão por que as incluímos entre os agentes auxiliares, como,
aliás o faz MARTIN na sua classificação dos emulgentes.
A hentonite, que deriva o seu nome do facto de ter sido encontrada numa região dos Estados
Unidos situada junto do forte Benton, é um silicato de alumínio hidratado coloidal (A/2O34SíO2,OW2).
Em presença da água dá geles que são particularmente estáveis a pH superior a 7. Em geral forma
emulsões O/A, bastando, para isso, juntar, lentamente, o óleo a emulsionar ao gele de bentonite em
água. Se adicionarmos, contudo, este último ao óleo obter-se-á uma emulsão A/O.
O Veegum (') também pode ser usado para preparar emulsões estáveis de óleos minerais ou
vegetais em água, mas, no entanto, é mais frequentemente usado como estabilizante de cremes e
loções obtidas com sabão ou agentes não iónicos. A mesma aplicação tem, por exemplo, o
Pharmasorb Colloidal (2), o magma de magnésia e o caulino (ver Suspensões).
Vamos passar em revista, nesta secção, os principais agentes emulsivos naturais e sintéticos
usados na preparação de emulsões para uso externo. Como já anteriormente considerámos os
agentes não iónicos, estes não serão aqui tratados, lembrando, porém, que tudo aquilo que se disse a
propósito do seu emprego nas emulsões para uso interno tem inteira aplicação no caso presente.
i >! ;
9.1.6.1.2. Geras ' " ' - "> ^ -"
São agentes emulsivos do tipo A/O, cujas propriedades se devem aos respectivos constituintes,
como o palmitato e cerotinato de cetilo ou de merissilo. Por vezes, juntam-se às ceras agentes
emulsivos do tipo contrário mas em quantidade tal que o E.H.L. dessas misturas pode não sair dos
limites que definem as emulsões A/O. Usam-se para esse fim os sabões alcalinos ou o bicarbonato ou
o borato de sódio, os quais, reagindo com os ácidos livres das ceras, originam os respectivos sabões
de sódio.
9.1.6.1.3. Lanolina
A lanolina ou suarda é a gordura da lã e deve as suas propriedades emulsivas aos esteróis que
contém. Como as moléculas destes compostos são predominantemente lipófilas, a lanolina é um
agente emulsivo do tipo A/O. Este produto desempenha um papel de grande importância na
tecnologia das pomadas, pois graças a ele é possível incorporar numa mistura de excipientes gordos
certa quantidade de água, que é dispersa sob a forma de uma emulsão A/O.
991
O colesterol, componente normal da lanolina, pode ser utilizado com a mesma finalidade, usando-
se, também, em substituição da lanolina, que pode originar reacções alérgicas, uma mistura de esteróis
conhecida pela designação de álcoois da lã. Tal produto é um poderoso agente emulsivo do tipo A/O,
sendo obtido por extracção do insaponificável da lã por solventes apropriados. Na sua composição
figuram 30% de colesterol, 25% de lanosterol e 5% de agnosterol, utilizando-se esta mistura na prepa-
ração de pomadas feitas à custa de e.xcipientes gordos e a que haja necessidade de adicionar
quantidades apreciáveis de água.
HO/\
Os sabões podem ser adicionados já preparados ao óleo que se pretende emulsionar, mas, por vezes,
preparam-se extemporaneamente por reacção entre os ácidos livres existentes na própria gordura que vai
ser emulsionada, juntando-se-lhe, para tanto, uma solução aquosa de um hidróxido alcalino, de um
carbonato ou, até, de um borato. Nestas condições, os ácidos livres da gordura serão neutralizados
em quantidade correspondente à substância alcalina adicionada, originando os respectivos sabões que
passam a representar o emulgente que vai formar e estabilizar a pretendida emulsão. Este processo é,
aliás, bastante utilizado na prática e à sua custa se conseguem emulsionar as ceras na água.
Na preparação das emulsões utilizam-se também sabões de bases orgânicas, chamados, por vezes,
amino sabões, obtidos fazendo reagir compostos amino-hidroxilados com ácidos gordos.
N H , 'l +
[ CHvü-CHrOH
CH. j
Estearato de 2-me[il-2-amino-i-prop<no!
Na realidade, tem sido proposto o uso de sabões de 2-metil-2-amino-l-propanol na preparação de
emulsões farmacêuticas, sendo frequente utilizarem-se os sabões de eta-nolaminas e de morfolina.
Aquelas são representadas por três compostos: a mono, di e trietanolamina ('), cujos sabões se
preparam extemporaneamente juntando a substância dissolvida em água a um ácido gordo ou a uma
gordura aquecidos a 60-70°C.
^CH,_CH,OH CH,_CH,_011 '' '
NH,-CH,-CH,OH NH^ N-CH,-CH,-OH "'''
CH,-CH,OH N CH,-CH,-OH
X
[ ,CH.-CHOHCH, "l + X^-CHrCHOIICH, CH!-CHOHCH. J , : ..,
ElteHto d« triilDproplnoUmina
As emulsões preparadas com estes emulgentes são constituídas por gotículas de
reduzidas dimensões, têm um pH de cerca de 8 e são muito estáveis, apenas sendo
alteráveis pela presença de cálcio. Estes compostos originam emulsões O/A e têm um
poder emulsivo apreciável: 6 a 10 partes de estearato de trietanolamina emulsionam até
100 partes de gordura, constituindo um emulgente aconselhável na preparação de cre
mes de beleza. .•__
(') Em geral a trietanolamina do comércio é uma mistura dos três mencionados compostos,
contendo 2 a 5% de monoetanolamina, 20 a 25% de dietanolamina e 70 a 75% de trietanolamina.
993
Por seu turno, o oleato de trietanolamina caracteriza-se por originar emulsões muito fluidas.
Actualmente tem-se dado especial atenção aos perigos que advêm do uso indiscriminado das
etanolaminas, pois a sua possibilidade de conversão no organismo em nitrosaminas torna-as
potencialmente cancerígenas.
Algumas aminas voláteis, como a morfolina, são utilizadas na preparação de produtos para
horticultura ou de ceras para polimento, uma vez que após a aplicação da emulsão a amina volátil
vaporiza-se, deixando uma película aquo- resistente de cera ou de óleo.
C^HuCOO' r
Esteai
Como já se disse, os sabões de bases orgânicas produzem emulsões O/A, apresentando estes
em relação aos sabões inorgânicos a incontestável vantagem de possuírem um equilíbrio hidrófilo-
lipófilo mais perfeito e de serem praticamente neutros, pois o seu pH anda à roda de 8. Estes sabões
são, em regra, preparados extemporaneamente e in situ, querendo isto significar que são obtidos no
próprio momento em que se procede à emulsificação, da qual resulta uma fase dispersa constituída
por partículas de dimensões muito reduzidas e, portanto, emulsões de grande estabilidade.
Os sabões resinosos são obtidos por acção dos álcalis sobre certos produtos resinosos. Os mais
usados são os sabões alcalinos de colofónia ou de outras resinas e, ainda, o abietato de sódio, os
quais são especialmente empregados para emulsionar a creolina, o lisol, hidrocarbonetos, fenóis e
cresóis.
Acontece, porém, que tanto os sabões orgânicos como os inorgânicos são decompostos pêlos
ácidos, além de serem sensíveis à acção do cálcio e de outros iões.
Os sabões alcalinos apenas são estáveis a pH superior a 10, ao passo que os sabões orgânicos se
mantêm em solução com pH = 8. Estes últimos são compatíveis, por conseguinte, com um pH
praticamente neutro, mas em qualquer dos casos a adição de um excesso de ácido a qualquer destes
tipos de sabões provoca a precipitação imediata do respectivo ácido gordo, o qual é insolúvel na
água. Este facto arrasta consigo a destruição da emulsão, pois o ácido livre, devido ao seu carácter
pronuncia-damente lipófilo, ficará quase totalmente concentrado no interior da fase oleosa e não
tem, por isso, propriedades tensioactivas. A destruição das emulsões estabilizadas com sabões dá-se,
principalmente, por acção dos ácidos fortes, mas pode ser provocada, também, por certos ácidos
fracos, como os ácidos benzóico, salicílico e bórico, os quais podem baixar o pH suficientemente
para originarem a precipitação dos ácidos gordos dos sabões.
994
Por outro lado, tanto os sabões orgânicos como os alcalinos, solúveis na água, são transformados
em compostos nela insolúveis em presença de iões alcalinoterrosos. Uma vez que estes originam
emulsões A/O, a sua adição a uma emulsão estabilizada por um sabão orgânico ou alcalino pode
provocar a sua insolubilização e, portanto, a destruição da preparação, ou originar a inversão das
fases desta, transformando-a num produto A/O.
Os sabões alcalinos são os mais sensíveis à acção destes iões, particularmente do cálcio, sendo
os sabões orgânicos um pouco mais resistentes. Por este motivo adicionam-se, por vezes, agentes
sequestrantes às emulsões, a fim de aumentar a sua tolerância ao cálcio. Entre estes compostos são
de mencionar o Calgon ou hexametatosfato de sódio, e o EDTA ou ácido etilenodiaminotetracético.
Como exemplo de um produto desses podemos mencionar a Cera Lanette SX, a qual é uma
mistura de álcool cetílico e estearílico, contendo cerca de 10% dos respectivos ésteres. Na
designação da cera, S significa que esta é sulfatada e X indica que possui 10% de ésteres.
Os álcoois gordos sulfatados são incompatíveis com o iodo, sais de mercúrio, concentrações
relativamente elevadas de ácidos e de agentes catiónicos, sendo hidrolisáveis por aquecimento
prolongado.
Os compostos sulfonados são usados, principalmente, como agentes molhantes e muito menos
vezes como emulgentes. Um dos mais conhecidos é o Aerosol OT (') ou dioctilsulfossuccinato de
sódio
sendo Hal um radical de um halogénio e constituindo os radicais 7?|^?2»/?3 e R4 a parte não polar da
molécula, geralmente uma cadeia hidrocarbonada ou uma amida de um ácido gordo.
Estes compostos são solúveis na água, originando soluções neutras ou ligeiramente alcalinas ao
tornasol, espumando por agitação. São agentes emulsivos do tipo O/A, mas, apesar disso, utilizam-se
principalmente como bactericidas, na desinfecção da pele, das mãos e de instrumentos cirúrgicos. São
incompatíveis com as substâncias aniónicas,
como os sabões, acontecendo que a precipitação pode não ser imediatamente evidente se a
concentração das substâncias for muito baixa. No entanto, mesmo que não haja precipitação a
incompatibilidade mantém-se, perdendo o agente catiónico as suas propriedades germicidas e o
agente aniónico a sua acção emulgente no todo ou em parte. Entre os agentes catiónicos mais usados
citam-se o
Desogene ou tnmetil-1-p-
toluilalQUilamónio, CH / SO.CH;
\_CH__.N^£H'
em que x varia entre
X 8 e 10
' \=___/ l CH!
ICH,J«
CH,
/"V—
Cloreto de cetilptriüimo
Bradosol ou brometo de —
dodecildimetilfenoxie-
tilamónío OCHr
CH,
l
O cloreto de benzalcónio é um dos agentes catiónicos mais utilizados em farmácia. Tenha-se em
atenção, porém, que esta substância é incompatível com o bórax, o iodo, iodetos de sódio e potássio,
o cloreto de zinco e oxidantes, etc.
São classificados segundo um número: Carbowax 200, 300, etc., o qual depende do grau de
polimerização do grupo oxietilénio e nos dá uma ideia do peso molecular aproximado do composto,
verificando-se que, à medida que este aumenta, aumenta, paralelamente, a consistência da
substância, como se pode ver na Tabela CXX.
1000 » —
1500 Vaselina 38-tl -
1540 Cera de abelhas 43-16
4000 Parafina mole 53-56
6000 Parafina dura 55-63
Estas substâncias são solúveis na água, sendo maus emulgentes O/A visto a sua molécula não
estar equilibrada, contendo apenas grupos hidrófilos.
Os polioxietilenoglicóis funcionam como bases cujo pH está compreendido entre 6 e 7, sendo de se
registar a sua incompatibilidade com os seguintes produtos: Fenol, resorcina, barbitúricos, taninos,
ácido salicflico, ácido undecilénico, sulfatiazol, iodo, crísarobina, pirocatequina, penicilina e
bacitracina.
Assim, poderemos dizer que segundo a ordem por que se misturam as fases e a natureza daquela
em que se dispersa, inicialmente, o emulgente, existem dois métodos distintos de emulsificação: a)
adição da fase externa à fase interna contendo o agente emulsivo e b) adição da fase interna à fase
externa contendo o emulgente. Estes dois processos constituem os métodos básicos utilizados, na
prática, para a obtenção de emulsões e os outros métodos que depois surgiram são meras variantes
daqueles. Porque a goma arábica é o agente mais vulgarmente utilizado em qualquer dos dois
processos referidos, estes são conhecidos, respectivamente, pêlos métodos da goma seca e da goma
húmida.
l —Adição da fase externa à fase interna contendo o agente emulsivo (Método continental ou da
goma seca)
É um dos métodos preferidos por muitos farmacêuticos para a preparação de emulsões O/A nas
suas oficinas, e consiste em triturar o óleo e a goma arábica em pó num almofariz de porcelana,
triturando a mistura até que a goma se tenha distribuído uniformemente no óleo, adicionando-se,
então, de uma só vez, um determinado volume de água, e triturando a mistura rapidamente, de modo
a formar-se a emulsão primária, que será, depois, diluída gradualmente com a restante água e os
outros componentes hidrossolúveis.
A proporção relativa entre a goma, a água e o óleo necessários para obter a emulsão primária é
de 1:2:4. A preparação da emulsão de óleo de fígado de bacalhau da F. P. IV constitui um exemplo
suficientemente representativo do emprego deste método de emulsificação.
Como atrás dissemos, o processo continental pode ser utilizado com agentes emulsivos diferentes
das gomas, designadamente com emulgentes hidrófilos, como os alginatos, os derivados da celulose,
etc.
Para preparar emulsões em escala industrial recorre-se ao emprego de reservatórios, providos de
agitadores mecânicos, que misturam a fase oleosa com o emulgente. Posteriormente, adiciona-se uma
pequena quantidade de água, continuando-se a agitação de modo a formar uma emulsão A/O. Junta-
se, então, a quantidade suficiente de água para inverter a emulsão, devendo ser rápida essa adição e
agitando-se sempre a mistura. Por fim, ajunta-se a água restante ou a solução aquosa dos
constituintes hidrossolúveis que entrem na composição da fórmula, homogeneizando-se
perfeitamente.
Se a fase oleosa contiver substancias do tipo ceroso ou gordo deve proceder-se à fusão da
mistura (para isso os reservatórios onde se opera têm a possibilidade de serem aquecidos,
geralmente por meio de vapor de água circulante), juntando, então, a fase aquosa aquecida à mesma
temperatura. A agitação deverá manter-se até que a emulsão arrefeça completamente. Em regra,
conseguem-se boas emulsões por este processo, que muitas vezes dispensa a homogeneização
subsequente.
1000
2 —Adição da fase interna à fase externa contendo o agente emulsivo (Método inglês ou da goma
húmida)
Para obter a emulsão primária por este método podem utilizar-se as mesmas proporções de
goma, água e óleo que no processo anterior. O método inglês difere, no entanto, do anterior porque
se emprega mucilagem de goma em vez de goma seca. Tritura-se l parte de goma com 1 partes de
água até que se forme a respectiva mucilagem. Adiciona-se, então, o óleo, a pouco e pouco, agitando
sempre, de modo a que se emulsione cada fracção antes da adição subsequente.
Quando se junta demasiado óleo pode acontecer que a emulsão se torne muito espessa e que não
absorva o óleo com rapidez. Esta situação é facilmente corrigida adicionando uma pequena
quantidade de água à mistura, a qual a torna, de novo, homogénea. A trituração deve prolongar-se
por l a 3 minutos após se ter obtido a emulsão primária.
Servindo-nos ainda da preparação da emulsão de óleo de fígado de bacalhau, como exemplo da
aplicação deste método, começar-se-ia por misturar l parte de goma arábica com duas partes de
água, obtendo-se a respectiva mucilagem. Se a goma estiver no estado de pó é possível auxiliar a
formação da mucilagem triturando-a, previamente, com glicerina, só depois ajuntando a água. A
subsequente adição do óleo deve ser feita em fracções de 1-5 ml de cada vez, agitando a mistura
continuadamente.
Em muitos casos, o método da goma húmida não apresenta vantagens sobre o processo
continental, mas só ele pode ser usado quando o agente emulsivo não possa ser obtido no estado
seco, como sucede com a gema de ovo, ou quando a fase oleosa seja demasiado viscosa para
proporcionar perfeita distribuição do emulgente.
Quando se trabalha em escala industrial, misturam-se os componentes da fase oleosa, sendo
necessário, por fusão. Esta mistura e adicionada à fase aquosa contendo o emulgente a uma
temperatura idêntica à da fase oleosa. A emulsificação faz-se em reservatórios providos de
agitadores mecânicos, dotados de um sistema de aquecimento por meio de vapor de água circulante.
A emulsão assim preparada é homogeneizada, posteriormente, por intermédio de homogeneizadores
ou de moinhos coloidais.
Empregado, de preferência, para a produção em pequena escala, a ele se pode recorrer quando
se pretendem emulsionar óleos pouco viscosos ou essências. As proporções relativas de goma
arábica, água e essência são de 1:2:2 ou 1:2:3, observando-se, portanto, um incremento da
quantidade de emulgente em relação à anteriormente estipulada, em virtude da fraca viscosidade
apresentada pêlos óleos essenciais.
Para preparar a emulsão agitam-se, energicamente, num frasco seco, l parte de goma arábica
com 2 a 3 partes da essência e logo que a goma esteja perfeitamente misturada adicionam-se duas
partes de água, continuando a agitação até completa emulsificação. Na prática observa-se que a
agitação a intervalos irregulares é mais eficaz do que a agitação rítmica e contínua. Preparada a
emulsão primária, ajunta-se a água restante, a pouco e pouco, agitando, ainda, até homogeneização.
Quando o emulgente é um sabão ou um material saponoso hidrossolúvel pode recorrer-se à
simples agitação da sua solução aquosa com o óleo contido no frasco.
Estes processos que descrevemos para preparar emulsões de fase externa aquosa e que
concretizámos com a goma arábica como emulgente, são processos gerais que, com variantes
adequadas a cada caso específico, se empregam para a preparação das emulsões destinadas ao uso
oral. Entretanto, pode dizer-se que a preparação das restantes emulsões decorre em moldes muito
semelhantes a estes. Sob a rubrica Formulário daremos exemplos de diversas preparações que
poderemos considerar típicas na tecnologia das emulsões.
;
9.1.9. FORMULÁRIO DAS EMULSÕES - ' ^
A título de exemplo, apresentaremos, seguidamente, algumas fórmulas de emulsões, indicando o
modo de preparação e fazendo o respectivo estudo crítico.
>:
Amêndoas doces............................................ 10 g
IR.:, m; Açúcar em pó .............................................. 10 » •^'^
'••''-•> Água .............................................................. 100» •'•-•::
Contunda as amêndoas e o açúcar, em gral de pedra, até obter pasta homogénea; ajunte a pouco
e pouco a água; coe, espremendo.
Esta emulsão, do tipo O/A, que é designada por emulsão comum (F. P. IV), é conseguida e
estabilizada pela conglutina, princípio emulgente de natureza proteica, que é um dos constituintes
das amêndoas. Emprega-se para preparar o Looque branco, emulsão açucarada que se administra
às colheres (').
•< ísn; <:•.;! .•
n
-.1 ;;.<.-•*'i/i-ï
,-, ;, Óleo de amêndoas ........................................ 19 g
Goma adraganta, em pó .............................. 0,3 »
; . , __ Água de loureiro-cerejeira............................ 10 »
Emulsão comum............................................ 80 »
Misture, em gral de pedra, a goma, o óleo e a água, agitando vivamente por algum tempo; ajunte
a pouco e pouco a emulsão.
Conhecida por Looque branco da F. P. IV, esta preparação, que é uma emulsão de óleo em
água, em que a goma adraganta desempenha importante papel emulgente, não deve ser adicionada
de cloreto mercuroso nem de substâncias ácidas, adstringentes ou alcoólicas.
(') É frequente designar os looques por poções (Poções-emulsão), dada a característica edulcora-i
da foima e o facto de ser administrada às colheres (ver Suspensões).
1004
Junte o clorofórmio à parafina e adicione esta mistura à solução aquosa dos restantes
componentes, a pouco e pouco, agitando sempre.
Esta fórmula, utilizada como laxativo, é, como as anteriores, uma emulsão de óleo em água. O
benzoato de sódio e o clorofórmio desempenham a função de conservantes; a carboximetilcelulose e a
glicerina aumentam a viscosidade da fase externa e a vanilina é o aromatizante a que se deu a
preferência.
Pode preparar-se, também, uma fórmula estável, substituindo a carboximetilcelulose por uma
mistura, em partes iguais, de goma arábica com goma adraganta, ou empregando 1,25 g de goma
arábica e 0,5 g de alginato de sódio.
A fórmula presente é uma emulsão de óleo em água, que se destina a ser empregada
externamente, e cujo agente emulsivo é o estearato de trietanolamina formado in loco.
. .-.'•.„*, VIU
' Brometo de cetiltrimetilamónio ..................0,1 g .
Pectina............................................................ l »
Parafina líquida ............................................ 12 »
Lanolina ........................................................ l »
Ácido bórico.................................................. 2 »
Essência de alfazema.................................... 0,1 »
Água destilada q.b.p. .................................... 100 »
Dissolver, na água aquecida a 80°C, o brometo, o ácido bórico e a pectina. A esta mistura,
adicionar, agitando sempre, a fase oleosa obtida por fusão, aquecendo a 80°C a lanolina com a
parafina. Ajuntar a essência quando a emulsão estiver a cerca de 40°C, agitando ainda até
arrefecer.
Trata-se de uma loção empregada como anti-séptico cutâneo, propriedade que se deve ao ácido
bórico e ao brometo de cetiltrimetilamónio. A estabilidade da emulsão
1007
XI
I Estearato de butilo........................................ 100 g
Span 60.......................................................... 2 »
Hexaclorofeno ................................................ 0,2 »
H Monopalmitato de sacarose.......................... 2,5 »
Metilparabeno ................................................ 0,2 »
Água .............................................................. 85 »
1008
BIBLIOGRAFIA
Como diz SELLES MART|, «os corpos (rígidos ou fluidos) nem sempre apresentam uma estrutura
física homogénea, podendo aparecer formados por componentes discretos, diferenciados substancial
ou estruturalmente, que oferecem entre si superfícies de separação». Já vimos que as emulsões
correspondem a sistemas heterogéneos em que partículas líquidas se encontram em dispersão no seio
de outro líquido. Trata-se, pois, de um sistema bifásico, heterogéneo, de que em Farmácia há outras
formas medicamentosas representativas, como as suspensões, que são dispersões grosseiras de
partículas sólidas num meio líquido ou semi-sólido, e as dispersões de sólidos ou de líquidos no seio
de gases (aerossoles).
Sempre que haja contacto de duas substâncias em distinto estado físico podemos dizer que
existem duas fases e que a superfície de contacto entre elas aumenta quando se dividem e subdividem
indefinidamente e quando se misturam intimamente os produtos dessas subdivisões. Deste modo,
podemos chegar até às grandezas moleculares e atómicas e, quando isso suceder, o sistema será
totalmente homogéneo.
Considerados os três estados da matéria é, portanto, lícito afirmar que as substâncias sólidas,
líquidas ou gasosas podem dispersar-se no seio de sólidos, líquidos ou gases originando sistemas
homogéneos ou heterogéneos. Os primeiros são constituídos por uma única fase e denominam-se
soluções verdadeiras; os segundos apresentam duas fases designadas por interna, descontínua ou
dispersa e por externa, contínua ou dispersante.
As emulsões ou as suspensões e as soluções verdadeiras apresentam como característica
comum o facto de terem um componente mais ou menos dividido no seio de outro, variando
periodicamente no espaço as propriedades do sistema. Esta propriedade define os sistemas
dispersos, mas enquanto que as soluções verdadeiras são sistemas homogéneos, as suspensões e
as emulsões são sistemas heterogéneos.
Entre estes dois estados extremos, constituídos, por um lado, pelas suspensões e emulsões e,
por outro, pelas soluções verdadeiras, há casos intermediários que gozam de algumas das
propriedades comuns a ambos os tipos de sistemas referidos. Trata-se dos sistemas coloidais que
são caracterizados pela existência de partículas dispersas cujas dimensões estão compreendidas
entre 0,001 (i e 0,1 H-. As partículas dos sistemas coloidais apresentam tamanho maior do que as
existentes nas soluções verdadeiras (< 0,001 (i), mas são de dimensões inferiores às das
suspensões (>0,1 n).
De acordo com OSTWALD e tendo em vista todas as possibilidades de interposição que existem
entre sólidos, líquidos e gases, podemos admitir a seguinte classificação geral dos sistemas
dispersos:
1010
emulsões
Gasosa Fumos Névoas ou nuvens Não há formação de
sistema, visto haver uma única fase
Dos sistemas apresentados neste quadro apenas têm interesse farmacêutico as emulsões, as
suspensões, as dispersões coloidais e as dispersões de sólidos ou de líquidos no seio de gases
(aerossoles). As misturas de pós, que têm, igualmente, grande importância farmacêutica, não devem,
contudo, as suas propriedades aos fenómenos considerados neste capítulo.
Deixando para mais tarde o estudo dos aerossoles, ocupemo-nos das dispersões coloidais e das
suspensões farmacêuticas. Na Tabela CXXI indicamos os graus de dispersão mais correntemente
empregados.
Às dispersões coloidais cuja fase externa é líquida dá-se o nome de soles, podendo classificar-se
em Uófobos e liófilos. Os soles liófobos são constituídos por partículas geralmente sólidas que não
têm nenhuma relação com o dissolvente, cuja viscosidade e tensão superficial praticamente não
modificam. Os soles liófilos apresentam as suas partículas altamente impregnadas de dissolvente
(solvatadas), comportando-se como sendo líquidas. Possuem elevada viscosidade e a sua tensão
superficial é, em regra, inferior à do meio da dispersão.
Os termos liófobo e liófïlo correspondem, pois, sensivelmente, às antigas designações de
suspensóides e de emulsóides.
Muitos colóides liófilos, como as gomas, o amido, a caseína, a gelatina e outras proteínas, são de
origem natural. Os colóides liófobos podem obter-se mediante procedimentos diversos a que mais
tarde nos referiremos.
Uma vez que as partículas coloidais têm dimensões muito reduzidas, a acção da gravidade
exercida sobre elas não é de molde a provocar, por si só, a separação das fases. Efectivamente, se
aplicássemos a lei de STOCKES à queda de esférulas de vidro, no seio da água, concluiríamos que
partículas com raio de 0,01 u. levariam cerca de 16 anos a depositar...
Como as partículas que constituem a fase dispersa de um sistema coloidal apresentam diâmetros
compreendidos entre 0,1 e 0,001 \í, isto significa que são praticamente incapazes de sedimentarem. A
separação das fases de um sistema coloidal só se observa quando se dá «envelhecimento do colóide»,
isto é, quando as partículas se aglutinam, originando agregados de maiores dimensões.
Estudaremos, seguidamente, as causas que impedem a aglutinação das partículas nos soles
liófobos e liófilos.
A enorme superfície de um colóide liófobo permite-lhe adsorver iões e ao ganhar essa carga
eléctrica acontece que cada partícula repele a partícula próxima, evitando-se agregações e
precipitações.
Os iões adsorvidos na superfície da partícula coloidal tendem a atrair iões de carga oposta,
acabando por se formar uma dupla camada de cargas eléctricas de sinal contrário. A espessura desta
dupla camada é pequena quando comparada com o diâmetro das partículas coloidais. A dupla
camada consiste em duas «conchas» de iões de
1012
carga oposta, mas enquanto que a camada interna é estreita e compacta, aderindo firmemente à
superfície da película, a camada externa é larga e difusa, com alta concentração de iões próximo da
partícula mas diminuindo progressivamente à medida que aumenta a distância da partícula ao seio
do meio de dispersão, onde os iões positivos e negativos são em igual número. A camada externa é
facilmente removida quando a partícula coloidal se desloca.
Entre a superfície da partícula coloidal e o meio de dispersão existe um potencial. Este é o
potencial total, que pode ser dividido em duas partes. A primeira, é o potencial entre a camada
interna e a superfície da partícula coloidal. A segunda é o potencial leta ou electrocinético que
corresponde à diferença de potencial existente através da camada externa e que vai desde o extremo
da camada interna até ao seio do meio de dispersão.
Supondo que a parte difusa da dupla camada é equivalente a um condensador de
placas paralelas situadas à distância d, com uma carga e por unidade de superfície e
sendo E a constante dieléctrica do meio, a diferença de potencial entre as placas cor
responderia ao potencial zeta. Tem-se assim: ..._ _.._..., .... .,,.,. .,
4 TI e d
• • • - " \ = —————(1),
arsénio, bactérias e vírus. Da mesma forma, muitas dispersões liófilas, como as de goma arábica e de
gelatina básica, têm carga negativa. Apesar das partículas coloidais serem muito maiores do que os
iões, a sua velocidade electroforetica é bastante superior ao que se poderia pensar. Entretanto, a
mobilidade dos iões é cerca de 10 vezes maior do que a das partículas coloidais.
Se bem que não sejam perfeitamente conhecidos os factores que regulam a selectividade de
adsorção dos iões por uma partícula coloidal, verifica-se que em muitos casos o ião adsorvido é o ião
comum. Assim, quando se adiciona uma solução de nitrato de prata a uma solução de iodeto de sódio,
sendo o iodeto em excesso, a partícula coloidal de iodeto de prata formada adsorve o iodo-ião, ficando
carregada negativamente. Se o nitrato de prata estiver em excesso, o ião adsorvido é o Ag*, ficando a
partícula com carga positiva. A camada difusa será, respectivamente, constituída por iões Na* e NO3~:
é formada por cadeias polipeptídicas de variado comprimento, e por este facto pode encontrar-se
carregada positiva ou negativamente, consoante o pH do meio em que decorreu aquela hidrólise:
(Gelatina B) (Gelatina A) ' <•'',: y. •..-.
R - CH - COO* <—— R - CH - COO- ——> R - CH - COOH „
l OH- l H» l
' ""' "' NH2 NHS* NH3» '" •"-'--••
Chama-se ponto isoeléctrico ao pH para o qual é máximo o número de moléculas electricamente
neutras, isto é, sob a forma anfotérica. A esse pH o potencial zeta é igual a zero, tendo o colóide a
sua mínima estabilidade e viscosidade.
Os colóides liófobos são precipitados por pequenas concentrações de electrólitos ou de Colóides
de carga oposta. Os colóides liófilos são mais estáveis do que aqueles, o que se deve à sua solvatação
(hidratação). De facto, quando um colóide hidrófilo de determinada carga é adicionado a um colóide
hidrófobo com a mesma carga, as partículas deste são como que revestidas, adquirindo algumas das
propriedades do colóide hidrófilo. Diz-se que o colóide hidrófilo actuou como protector do colóide
hidrófobo. A adição dos colóides protectores aos colóides hidrófobos permite a secagem do sistema
coloidai, passando este ao estado sólido, podendo o pó obtido originar facilmente um sole por adição
de água. A estes colóides dá-se o nome de colóides reversíveis.
A capilaridade pode utilizar-se para determinar a carga de um colóide. Se mergulharmos uma
tira de papel de filtro, suspensa numa solução de um colóide que seja um corante, podem dar-se dois
casos: a tira ficar toda corada ou mostrar que houve subida da água mas notar-se que o corante
ficou retido na linha de partida. No primeiro caso o corante tinha carga negativa e no segundo carga
positiva. Com efeito, a tira de papel molhado apresenta carga negativa e, nestas circunstâncias, só o
colóide negativo sobe na tira, enquanto que o colóide positivo é precipitado, separando-se do meio
de dispersão. Tal fenómeno é perfeitamente visível, usando soluções de amarante (colóide negativo,
visto ter um radical sulfónico) ou de azul de metileno (colóide positivo, usado sob a forma de
cloridrato).
O potencial zeta pode modificar-se por adição de electrólitos ao sole. Com efeito, se juntarmos
iões de sinal oposto ao apresentado pela superfície sólida, à medida que aumenta a concentração
daqueles diminui a carga por unidade de superfície e, muito provavelmente, a espessura da dupla
camada. ,,,.-5 ,. ...... ^. . ..... .....
1015
Ora, os soles liófobos são muito sensíveis à acção dos electrólitos, observando-se que a junção de
soluções muito diluídas daqueles é suficiente para fazer baixar o potencial zeta para além de um
valor crítico, produzindo-se a floculação do colóide. Nota-se também que o poder floculante do ião
(de sinal contrário ao da partícula dispersa) é tanto mais pronunciado quanto maior for a sua
valência.
Por adição de concentrações mais elevadas de iões plurivalentes pode chegar a inverter-se o
potencial zeta, obtendo-se um sole estável, de sinal contrário. Uma concentração mais elevada ainda
provocará nova floculação, mas agora por efeito de outro ião do electrólito. Estas noções têm imenso
interesse na preparação de suspensões, devendo recorrer-se, nalguns casos, à chamada floculação
controlada para obter medicamentos de boa qualidade.
Os soles liófilos só floculam perante a acção de concentrações muitíssimo elevadas de electrólitos.
Por outras palavras, não basta neutralizar a carga eléctrica de um sole liófilo para que ele flocule,
pois isso só acontece em consequência da desidratação das suas partículas. Esta floculação é, no
entanto, reversível, desde que seja eliminado o electrólito.
A desidratação parcial de um sole liófilo origina um estado semi-sólido sem líquido
sobrenadante, a que se dá o nome de gele. A gelificação, que interessa largamente em Farmácia, é,
como o estado coloidal, um estado geral da matéria. Os geles podem definir-se como colóides liófilos
arrefecidos ou solidificados por aumento da viscosidade, a qual pode diminuir até que o sistema se
liquefaça de novo, por exemplo, por simples agitação. Assim, muitas emulsões coaguladas ou
gelificadas por prolongado repouso recobram a sua fluidez ao serem agitadas. Em certas suspensões
tixotrópicas observa-se o mesmo fenómeno por agitação. Os geles tendem sempre a regenerar os
soles, podendo originar uma elevadíssima pressão de embebição.
A junção de dois colóides liófilos de carga contrária pode provocar a sua coagulação mútua.
Nestas condições, as partículas dispersas separam-se sob a forma de gotículas líquidas. A este
fenómeno dá-se o nome de coacervação. Como exemplo, citamos o que acontece quando se adiciona
um sole positivo de gelatina a um sole de goma arábica, cujas partículas se encontram carregadas
negativamente (ver pág. 959).
Certos colóides liófilos proteicos, como a albumina, podem coagular por aque
cimento. Diz-se que houve desnaturação das proteínas (formação de novo arranjo
intramolecular), a qual é seguida pela floculação e coagulação. Pode evitar-se
este fenómeno desde que se afaste o sole do seu ponto isoeléctrico. No caso
presente bastaria acidificar o meio: haveria desnaturação, mas o sole não coagularia
por aquecimento. _
Entre estes colóides de prata são de citar o Colargol, o Protargol e o vitelinato de prata (Argirol,
Silvol, Solargentum). A F. P. IV inscreve o Colargol, que é um poderoso germicida, sob o nome de
prata coloidal. Trata-se de uma combinação de prata e matérias proteicas constituídas por produtos
de desintegração da albumina de ovo em meio alcalino. O seu conteúdo em prata metálica é de 70 a
80%.
A prata coloidal dispersa-se lentamente na água (1:2,5), originando soluções coloi-dais com
reacção alcalina fraca. Estas soluções devem preparar-se no momento do emprego, por agitação e
repouso subsequente, à temperatura ambiente. A filtração só se deve efectuar no momento de
dispensar o medicamento.
A pulverização do Colargol prejudica a preparação e a estabilidade das suas soluções coloidais.
Do mesmo modo, não se devem esterilizar as dispersões aquosas de prata coloidal que, em caso de
necessidade, serão preparadas por técnica asséptica.
O colargol é incompatível com os ácidos minerais diluídos e com as soluções salinas
concentradas, que floculam o colóide. A prata coloidal e as suas soluções (partículas de 9 a 35m|i)
devem ser guardadas em frascos fechados e ao abrigo da luz.
O Proíargol é um proteinato de prata cujo teor em prata metálica é de 7,5 a 8,5%. Esta
substância apresenta quase toda a prata constituinte sob a forma ionizada, razão por que é mais
irritante e mais fortemente germicida do que o argirol, o qual, apesar de mais rico em prata, possui-a
no estado de combinação orgânica.
O proteinato de prata dispersa-se lentamente na água (1:2), originando soluções coloidais muito
sensíveis à acção dos electrólitos e dos oxidantes. Estas soluções produzem precipitados em presença
dos taninos e a sua alcalinidade é suficiente para decompor os sais de alcalóides, libertando as bases
respectivas. O Protargol é, também, muito sensível à luz.
As soluções de Protargol devem ser preparadas no momento do emprego, para o que se lançará
o produto, cuidadosamente, na água, de modo a que sobrenade. A dispersão, que é, como dissemos,
muito lenta, não pode ser apressada por agitação, que faria flocular o colóide.
O Argirol, que vem inscrito na Farmacopeia Portuguesa IV com o nome de vite-Hnato de prata, é
também conhecido por proteinato de prata, suave. Contém 19 a 25% de prata metálica em
combinação com substâncias proteicas. Dispersa-se mais facilmente na água (1:1) do que o
Protargol, originando soluções coloidais dotadas de fraca alcalinidade. Na preparação das suas
soluções, cuja concentração habitual é de 5%, mas que pode ir até 50%, deve evitar-se a agitação
enérgica. As soluções serão obtidas recentemente, de preferência no momento do emprego. Deve
evitar-se a acção da luz, acondicionando-se em frascos de vidro âmbar.
O Argirol, que como os anteriores colóides de prata é um anti-séptico particularmente aplicado
nas mucosas, apresenta as mesmas incompatibilidades que o Colargol.
Com frequência, na preparação de soluções coloidais aquosas intervêm outros líquidos, como o
álcool e os glicóis. De facto, pode preparar-se, por exemplo, uma dispersão aquosa de enxofre
dissolvendo-o em polietilenoglicol 200-300 e adicionando
1020
água a esta solução. O álcool é susceptível de se empregar com idêntica finalidade mas, no caso de
se ter usado como dissolvente do enxofre, convirá que a dispersão, operada por junção da água, seja
estabilizada com um colóide protector. Por esta razão, emprega-se, correntemente, em lugar da
água, uma solução aquosa de gelatina a 1%.
Podem preparar-se dispersões coloidais cuja fase externa seja um óleo (azeite, óleo de amendoim,
óleo de rícino, etc.). É hábito estabilizar estas dispersões por adição de pequenas quantidades de
lanolina, colesterol, lecitina ou oleatos.
Nos últimos tempos têm-se preparado dispersões coloidais contendo isótopos radioactivos para
aplicar com fins terapêuticos ou de diagnóstico. Assim, diversos colóides radioactivos podem
localizar-se em tumores, lesões ou embolias, servindo para a localização daqueles e indicando ainda
o seu tamanho. Por outro lado, os radiocolóides podem constituir um óptimo meio de terapêutica
anticancerígena, uma vez que são pouco solúveis e se fixam em determinados órgãos e tumores onde
emitem radiações.
Na F. P. V inscrevem-se diversas soluções coloidais injectáveis contendo isótopos radioactivos.
Entre elas citamos as de enxofre coloidal e tecnécio [""Tc], de ouro [198Au] coloidal, de sulfureto de
antimónio coloidal e tecnécio [Wl°Tc] e de sulfureto de rénio coloidal e tecnécio [""Tc]. Nestes
produtos o radionuclido fixa-se na partícula coloidal, sendo, em regra, a gelatina utilizada como
estabílizante. Nalguns casos (sulfureto de antimónio coloidal e tecnécio) recorre-se à
polivinilpirrolidona como estabili-zante. O pH dos injectáveis das referidas preparações situa-se
entre 4 e 7.
Usam-se também agregados de albumina com radionuclidos, mas as suas partículas tênr
dimensões bastante superiores, podendo considerar-se já como fazendo parte das suspensões
(microesferas).
-W-
Nitrato de prata ............................................ 2,2 g
lodeto de potássio ........................................ 2,2 »
Gelatina.......................................................... 0,3» ;
Água destilada .................................... q.b.p. 100 »
Dissolva a gelatina e, depois, o iodeto de potássio em 50 ml de água quente. Deixe
arrefecer; dissolva o nitrato de prata na água restante e junte esta solução, lentamente, à
primeira, agitando sempre.
Como o peso molecular do nitrato de prata (169,89) é ligeiramente superior ao do iodeto de
potássio (166,02), na fórmula há um pequeno excesso de iodeto de potássio, o que provoca a
formação de micelas carregadas negativamente. A gelatina é o colóide protector utilizado.
-- .-í;ïi; 'Aí!' : • - '• •
:-•;*( III
' I Álcool ............................................................ 100 ml
Enxofre q.b.p. ................................................ saturação "'
n Gelatina t......................................................... lg -",»< .,n ^
Água destilada q.b.p. .................................... 100 » . i ...
Sature 100 ml de álcool com o enxofre. À parte dissolva a gelatina na água quente. Depois de
fria ajunte a esta solução a solução alcoólica de enxofre, agitando continuadamente. Destile, a
pressão reduzida, até que o volume final seja de 150 ml.
A dispersão coloidal assim preparada titula 0,1% de enxofre e pode ser utilizada por via
parenteral, desde que a preparação tenha sido efectuada por técnica asséptica.
• - •>. y. IV
. .. _. ,i Tintura de beladona...................................... 5g
Água de hortelã-pimenta q.b.p. .................. 100 »
A tintura de beladona é preparada com álcool de 70° e quando se adiciona, a pouco e pouco,
sobre a água, com agitação continuada, vai-se dispersando, obtendo-se uma solução coloidal que se
administra per os.
Agite, fortemente, a albumina numa pequena quantidade da água; ajunte a água restante e coe.
Trata-se de uma fórmula inscrita na F. P. IV, destinando-se a ser empregada como emoliente,
por via oral ou em enema. Tem-se utilizado esta preparação como antídoto das intoxicações pêlos
metais pesados, devendo recordar-se, no entanto, que alguns albuminatos, como o de mercúrio, são
solúveis em excesso de albumina.
A conservação da água albuminada é bastante precária, convindo prepará-la extemporaneamente.
Muitas vezes acontece que as substâncias medicamentosas se tornam quimicamente mais estáveis
quando administradas em suspensão. A penicilina-procaína é menos alterável do que a penicilina G
livre sob a forma de sal sódico ou potássico; o ácido acetilsalicílico, em suspensão, hidrolisa-se em
menor grau do que quando dissolvido; o acetato de 6-rx-cloroprednisona, que é solúvel em
propilenoglicol, destrói-se facilmente em solução, utilizando-se de preferência as suas suspensões em
parafina liquida, muito menos alteráveis.
Se é aparentemente fácil preparar suspensões, a obtenção de uma forma farmacêutica que
satisfaça cabalmente às necessidades da terapêutica actual pode revestir-se de dificuldades diversas
e envolve um conhecimento perfeito da física da dispersão. Efectivamente, uma suspensão, como uma
emulsão, representa um sistema termodinamica-mente instável, isto é, as partículas dispersas, em
razão da sua grande superfície e energia livre, tendem a agrupar-se de modo a que seja reduzida a
área inicial que apresentam e assim o seu nível energético. Numa suspensão líquida haverá, pois,
tendência para as partículas sólidas se unirem umas às outras, floculando ou originando agregados
mais firmes que sedimentam e que não são susceptíveis de serem novamente suspensos.
Do ponto de vista galénico, interessa obter suspensões que não depositem rapidamente e que se
possam reconstituir com facilidade por agitação. Interessa ainda que a redispersão operada por
agitação origine um produto de aspecto homogéneo, em que se não observe a presença de quaisquer
aglomerados de partículas. Importa, finalmente, que não se verifique crescimento dos cristais
durante a armazenagem. Numa palavra, é preciso que as suspensões sejam fisicamente estáveis.
Das exigências assinaladas se compreende que além da concentração desejada, do tamanho dos
cristais escolhidos, da viscosidade e da densidade da fase dispersante e dos aditivos eventualmente
juntos, a temperatura de armazenagem, a própria agitação durante o transporte, etc., podem influir
grandemente na qualidade do medicamento obtido.
Se às exigências gerais assinaladas adicionarmos as impostas pelo tipo de administração a que se
destina esta forma farmacêutica, compreenderemos plenamente as dificuldades que surgem na
correcta preparação de suspensões.
Assim, numa suspensão para uso oral, o tamanho das partículas dispersas pode condicionar a
facilidade de absorção ou a predominância de uma acção local no intestino, mas o diâmetro das
partículas influi também na rapidez de efeito de um medicamento injectado ou na acção terapêutica
de um preparado dermatológico.
O diâmetro das partículas suspensas' é ainda importante numa suspensão parenteral, já que
partículas demasiado volumosas podem obstruir a agulha com que aquela seja injectada, e
partículas muito pequenas podem não produzir a acção prolongada que eventualmente se pretenda.
Uma suspensão demasiado viscosa pode não fluir livremente da boca do frasco onde se
acondiciona ou da agulha da seringa com que se administra. Também, quando
1024
uma suspensão se destina à aplicação cutânea ou nas mucosas, é importante que a sua viscosidade
permita que seja facilmente espalhada pela superfície afectada a cobrir, mas não deve ser tão móvel
que não seja retida nessa mesma superfície. Uma forma deste tipo deve ainda secar rapidamente,
promovendo a formação de uma película protectora da área afectada.
Finalmente, não esqueçamos que na preparação de muitas suspensões é obrigatória a
esterilização, a qual pode criar problemas dificilmente solucionáveis, até porque os microrganismos
se podem desenvolver no interior dos cristais suspensos e aí resistem à destruição pêlos meios
compatíveis com a estabilidade do sistema.
No presente capítulo iremos ocupar-nos das suspensões em geral, tratando em pormenor da
preparação das suspensões destinadas ao uso oral.
No segundo e terceiro volumes desta obra abordaremos a preparação das suspensões utilizadas
por via parenteral e ocular e para aplicação dérmica.
Há vários sólidos susceptíveis de serem molhados por solventes polares ou apoiares, mas
observa-se sempre um certo carácter preferencial e, assim, quando uma substância se mistura com
uma fase e se adiciona a outra fase, durante a mistura nota-se que é expelida a fase menos molhante.
Por exemplo, o óxido de zinco é molhado mais eficazmente pelo azeite do que pela água, mas esta
molha-o melhor do que a parafina líquida.
Quando, na preparação de uma suspensão, as partículas sólidas não são suficientemente
molhadas pela fase dispersante, observa-se que tendem a flutuar, aglomerando-se junto à superfície
do líquido. Este fenómeno, que é uma consequência do elevado ângulo de contacto sólido-líquido,
depende, como é lógico, da tensão interfacial e das tensões superficiais do sólido e do líquido. Pode
escrever-se:
1026
(') Infelizmente não é possível determinar a tensão superficial dos sólidos, admitindo-se, no
entanto, que é semelhante à que apresentam quando fundidos.
(2) É corrente considerarem-se como equivalentes as expressões molhante e humectante. Preferi-
mos, à semelhança da literatura norte-americana e inglesa, reservar o termo humectante para as
substâncias capazes de relerem água numa dada preparação farmacêutica, opondo-se assim à
evaporação natural daquele líquido. Estão nestas circunstancias a glicerina, o propilenoglicol e o
sorbitol a 70% que, com alguma frequência, se empregam na preparação dos cremes (pomadas de
tipo emulsão O/A).
1027
Tabela CXXIII. Ângulos de contacto entre vários líquidos e a parafina sólida ou o polietileno
Líquidos (*) Parafina sólida Polietileno
108
Água (y L = 73) , 94
iHM
Glicerol (y L = 63) -96*'- ' •• :" " •"- ; W"" ' :
9.2.0.2.2.2. Sedimentação
Na preparação de uma suspensão é necessário que as partículas se encontrem homogeneamente
dispersas no veículo por um período de tempo satisfatório e que sejam facilmente ressuspensas após
deposição.
Ora, numa suspensão, as partículas tendem a depositar, o que se deve à acção da força da
gravidade sobre elas exercida. É claro que quanto menor for o tamanho e a densidade das partículas
e mais viscosa se apresentar a fase dispersante, mais lenta será a deposição. A lei de STOKES, já
aplicada a outras formas, como as emulsões, se bem que não seja verdadeira para as suspensões
farmacêuticas, é ainda uma das mais exactas expressões matemáticas que se pode utilizar para
traduzir o fenómeno. Efectivamente,
1028
esta lei só é realmente válida se o meio de dispersão ocupar um volume infinitamente maior do que o
ocupado pela fase dispersa, se a fase dispersa for constituída por partículas esféricas de superfície
lisa, se as partículas não tenderem a aglutinar-se, mantendo-se isoladas, se forem desprezíveis os
efeitos eléctricos entre as partículas sólidas e o líquido dispersante, etc.
Compreende-se que as suspensões, especialmente em razão da elevada concentração da fase
dispersa, não sigam inteiramente a lei de STOKES. HIGUCHI aplicou a equação de KO7.ENI às suspensões
concentradas, admitindo que a sedimentação das partículas sólidas se processava de acordo com o
fluxo de escoamento dos líquidos através de uma camada porosa (ver pág. 70). Para efeitos práticos e
com certa aproximação, poderemos, contudo, servir-nos da lei de STOKES e assim admitir que a taxa
de sedimentação se aproxima de zero à medida que a diferença entre a densidade das partículas
sólidas e do líquido dispersante tende a anular-se, que as partículas suspensas diminuem de tamanho
e que a viscosidade da fase líquida aumenta.
Nas circunstâncias referidas, pode pensar-se que seria suficiente reduzir as partículas suspensas a
dimensões coloidais para que se evitasse praticamente a sedimentação, mas além dessa solução nem
sempre ser possível (por alterar, por exemplo, a biodisponibilidade desejada), não é, por si só,
suficiente.
A densidade das partículas é, em geral, mais elevada do que a da fase líquida, oscilando para
muitos compostos, como os esteróides, entre 1,2-1,3. Seria assim preciso que fosse incrementada
largamente a densidade do veículo, para se evitar a sedimentação. Têm sido propostas algumas
modificações de veículos com essa finalidade, mas essa prática é pouco aconselhável do ponto de
vista farmacêutico. Assim, o sorbitol a 70% pode aumentar a densidade do meio aquoso até 1,3, mas
a viscosidade da fase dispersante obtida é demasiada (180 centipoise) para muitas suspensões.
Tal como nas emulsões, têm-se utilizado óleos iodados como fase dispersante de suspensões
oleosas. Este processo de incrementar a densidade do veículo só pode servir quando se preparam
suspensões afins com o óleo iodado, como as dispersões de compostos radiopacos.
O aumento da viscosidade constitui, pois, o processo mais utilizado para impedir a sedimentação,
mas é preciso não esquecer que, enquanto que os líquidos puros têm uma viscosidade definida, uma
suspensão pode apresentar diversos valores de viscosidade, dependentes do tratamento a que foi
submetida. Com a finalidade de esclarecer este importante problema, passemos em revista as
diferentes propriedades do movimento de vários sistemas Teológicos.
O termo reologia (do grego rheo, escoar, mover e logos, ciência) foi sugerido por BINGHAM e
CRAWFORD e engloba as condições de movimento dos líquidos e de deformação dos sólidos. A reologia
constitui, como se sabe, um importante capítulo da Física, onde é estudada a viscosidade dos
líquidos.
A lei de atrito de NEWTON só é válida para líquidos de composição simples e viscosidade
relativamente baixa. Em líquidos complexos, como as suspensões, intervêm
1029
outros factores além dos expressos pela lei do atrito. Há, pois, numerosos líquidos não newtonianos
que se classificam em 4 grupos: plásticos, tixotrópicos, pseuclo-plásticos e dilalantes.
A Fig. 348 mostra as características de escoamento de várias substâncias. Da sua análise
observamos que um líquido newtoniano (A), quando sob a acção de uma pressão P, escoa com uma
valocidade (v) que é directamente proporcional à pressão exercida. Um líquido plástico (B), nas
referidas condições, só apresenta escoamento a partir de uma pressão mínima, a que se dá o nome
de valor de cedência. Este valor é uma
Quando os cristais de uma substância se encontram em suspensão num meio • líquido no qual a
substância é parcialmente solúvel, pode observar-se o fenómefïo do crescimento dos cristais. Para
isso é preciso que a concentração na solução seja superior ao coeficiente de solubilidade da
substância. Esta alteração, que corresponde a um dos fenómenos que é preciso evitar na preparação
das suspensões, pode dever-se a variações de temperatura, ao polimorfismo apresentado pelo
composto suspenso e ainda às diferenças de tamanho dos cristais dispersos. Efectivamente, o
abaixamento térmico de uma suspensão pode diminuir o coeficiente de solubilidade da substância e o
polimorfismo afecta também aquela característica. Do mesmo modo, as diferenças de tamanho dos
cristais suspensos influenciam a solubilidade, sendo esta tanto maior quanto menores forem aqueles.
De facto, o tratamento mecânico a que foi sujeita uma droga para a sua redução a pó é susceptível
de afectar a sua solubilidade, já que se podem ter induzido variações na energia livre superficial.
A solubilidade aumenta à medida que diminui o tamanho das partículas, de acordo com a
seguinte equação aproximada:
S 2y M i l
log —— = ——————— X —— X (—— — ——),
S« 2,303 RT f r r,
expressão que algumas vezes toma este outro aspecto, considerando em vez dos raios os diâmetros
das partículas (d e do)
;
' ' t' ,,- : S _ 47 M l l
f
- •'•-• »,v- ° S. 2,303 RT e d d, ' -
Suponhamos, assim, que pretendíamos que um sólido fosse pulverizado a um grau de divisão tal
que a sua solubilidade aumentasse de 10%, sabendo-se que a respectiva tensão superficial era de 100
dine.crrr1 e que o seu volume molar era de 50 cm3, trabalhando-se à temperatura de 27°C. Este
exemplo retirado de HILDEBRAND e Scorr, permite ver que haveria necessidade de dividir as
partículas até que o seu raio fosse de 4,2 x 10-" cm:
2 x 100 x 50
!
.. i-.,,^.. -.'v 2,303 X 8,314 x 10 X (273 + 27) X 0,0414
.'••;inol tu- ..•;. - . . = 4,2 x IO'6 cm,
cálculo feito supondo 7/ro desprezável em presença de l Ir e substituindo S/Sa por 1,1 (10% de
aumento de solubilidade).
HIGUCHI descreve com certo pormenor a forma de calcular a diferença de solubilidade entre
cristais suspensos, de diversos tamanhos, baseando-se ainda nas equações anteriores. Verifica,
assim, para uma mesma substância em pó grosso ou dividida em cristais cúbicos, que a solubilidade
aumenta de 8% quando a aresta dos cristais é de 0,1 n, duplicando o valor inicial se as partículas
atingem 0,01 n de aresta.
A Tabela CXX1V mostra a diferença de solubilidade (S) de pequenas partículas
em função do seu raio. O composto experimentado tem um peso molecular de 500 e
exibe uma densidade p = 1. A tensão superficial existente entre as partículas é de
30 erg/cm2. . ., .
1032
Pelas fórmulas anteriores vê-se também que a diminuição da tensão superficial pode reduzir as
diferenças de solubilidade e, portanto, a tendência para crescimento dos cristais. Assim, alguns
agentes tensioactivos podem baixar a tensão superficial de sólidos para a água até menos de 10 dine.
cm"1, o que ocasiona que se tornem desprezáveis os efeitos induzidos pela variação de tamanho das
partículas. Estas substâncias não eliminam, porém, o crescimento cristalino devido à presença de
formas metastáveis.
As noções deixadas expressas têm particular interesse para a escolha do tipo cristalino ou
amorfo do produto a suspender. Assim, a prednisolona pode obter-se cristalizada do metanol ou da
acetona aquosos. Os primeiros cristais apresentam-se sob a forma de hidrates, facilmente suspensos
na água, enquanto que os segundos, que são anidros, correspondem a um estado metastável.
O acetato de cortisona é perfeitamente empregado em suspensões aquosas de cristais aciculares
cujo tamanho está compreendido entre 10-30 (i. Para que não haja tendência de os cristais se
aglomerarem e aumentarem de tamanho cristaliza-se o acetato de cortisona dissolvendo-o num
veículo orgânico, como a acetona, o etanol ou o propilenoglicol (nunca o metanol), adicionando,
depois, água à solução. Para fórmulas injectáveis este acetato é esterilizado, logo de início, a 90°C
por 4 dias, a fim de evitar a inclusão de microrganismos nos cristais que se vão formando. É curioso
observar também que o aquecimento só permite a formação de cristais aciculares, que são os únicos
que interessam na preparação farmacêutica.
Numa suspensão, as partículas maiores tendem a depositar pela acção da gravidade, mas as
partículas de tamanho inferior a 5 (i de diâmetro, quando suspensas na água, apresentam
movimentos brownianos.
Na maioria das suspensões farmacêuticas não se observa este movimento brow-niano, mesmo que
as partículas tenham dimensões assaz pequenas, porquanto aquelas contêm, em regra, agentes
suspensores, que, elevando a viscosidade da fase dispersante, impedem a mobilidade das partículas.
Assim, por exemplo, não se notam movimentos brownianos quando as partículas se encontram
dispersas numa solução aquosa de glicerina a 50%, já que é elevada a viscosidade do meio.
1033
9.2.0.2.2.4. Redispersibilidade
Quando se observa uma suspensão dotada de alguma estabilidade física nota-se que a fase
dispersa está disseminada homogeneamente não havendo flóculos ou agregados. Existe, portanto, um
estado de dispersão em partículas primárias, dizendo-se que a suspensão está defloculada. Esse
estado pode ser alterado de uma forma rápida, por simples diminuição ou anulação da carga
eléctrica das partículas, ou de uma forma lenta, devido à formação de agregados de partículas
atraídas por forças de London-Van der Waals.
No primeiro caso, a rápida baixa do potencial zeta (ver pág. 1012) leva a que as partículas se
reunam em flóculos, os quais depositam. Origina-se, assim, um sedimento pouco compacto, ficando o
líquido sobrenadante destituído de partículas e, por isso, perfeitamente límpido. Diz-se que a
suspensão floculou ou coagulou, e o depósito formado é, em regra, facilmente redisperso por simples
agitação.
Se, entretanto, não houver baixa do potencial zeta, as partículas acabam, muito lentamente, por
se aproximarem umas das outras constituindo agregados compactos que sedimentam, deixando
sempre a camada do líquido sobrenadante com certa turvação, visto permanecerem dispersas algumas
pequenas partículas. Neste caso fala-se em partículas defloculadas.
A Tabela CXXV indica as principais diferenças entre os estados de floculação e de defloculação.
Defloculadas Floculadas
As partículas existem como entidades sepa- As partículas formam agregados;
radas;
A velocidade de sedimentação é lenta; A velocidade de sedimentação é rápida;
Frequentemente o sedimento não se dispersa O sedimento é fácil de dispersar;
com facilidade;
A suspensão mantem-se mais tempo com A suspensão desfaz-se mais rapidamente e o
bom aspecto; o sobrenadante permanece sobrenadante é límpido
sempre turvo.
Assim, quando a fase dispersa de uma suspensão sedimenta, esse sedimento pode corresponder a
um estado de floculação ou a uma agregação de outro tipo, constituindo-se verdadeiros aglomerados
tão fortemente aglutinados entre si que é impossível dispersá-los homogeneamente por agitação. No
primeiro caso diz-se que houve floculação da fase dispersa, enquanto que no segundo se fala de
aglomeração e de formação
1034
de pasta ou massa, fenómeno que a literatura anglo-saxónica refere com o nome de «caking».
Vejamos em que diferem, fundamentalmente, estes dois tipos de depósito. As partículas dispersa
podem apresentar, na sua superfície, grupos ionizáveis ou podem adsorver iões da solução, os quais lhe
conferem carga positiva ou negativa. As moléculas dos dissolventes podem igualmente ser fixadas
fortemente nas superfícies das partículas. Estas, ficando carregadas electricamente, são rodeadas por
uma «atmosfera iónica» em que predominam iões de carga oposta. Estes iões formam uma camada
eléctrica dupla, consistindo numa camada à superfície das partículas e numa camada difusa, livremente
móvel.
A partícula suspensa com a sua camada eléctrica fixa move-se num campo eléctrico e a diferença de
potencial ao longo da parte difusa da dupla camada é, como já vimos, designada por potencial zela.
Naturalmente que se esse potencial zeta, positivo ou negativo, for elevado, as partículas têm
pequena tendência a aglutinar, uma vez que se repelem em virtude da carga eléctrica. Entretanto, este
estado de defloculaçào não pode manter-se indefinidamente pois existem também forças de atracção
entre as partículas e a gravidade vai obrigá-las finalmente a sedimentar.
Assim, quando a energia de repulsão é grande, é também elevado o «potencial de barreira» que se
opõe à colisão das partículas. O sistema mantém-se então sem flocular, mas as partículas, embora
lentamente, acabam por sedimentar no fundo do recipiente, agregando-se de modo a que as pequenas
preencham os espaços deixados entre as maiores. À medida que a sedimentação progride vai-se
comprimindo o depósito formado, de tal modo que se origina um aglomerado que, em regra, não é
redispersível.
Consideremos agora a floculação. É estranho que duas partículas suspensas, tendo uma apreciável
«barreira de potencial» entre si, possam sedimentar em conjunto para dar origem a um floculado. No
caso das soluções coloidais, o agente floculante concentra-se na dupla camada e reduz a repulsão das
partículas. No caso das suspensões, existe um mínimo energético secundário talvez à distância de 1000
a 2000 Â de separação. As partículas podem aproximar-se umas das outras a esta distância e origi-
narem livremente uma estrutura na suspensão. Quer isto dizer que as partículas flo-culadas se
encontram frouxamente ligadas, depositando rapidamente e, por estas razões, redispersam-se com
facilidade por agitação, já que não dão agregados ou aglomerados firmes. Em contrapartida, as
partículas que não floculam depositam mais vagarosamente, mas tendem a formar sedimentos
demasiadamente aglomerados ou aglutinados, os quais não são susceptíveis de redispersão, mesmo
quando agitados energicamente.
A formação de aglomerados ou de agregados não pode ser evitada por diminuição do tamaniio das
partículas ou por aumento da viscosidade da fase dispersante, de acordo com a lei de STOCKES. Mais
ainda, a menor granulometria do pó disperso e o incremento da viscosidade da fase líquida (valor de
cedência, viscosidade, tixotropia) agravam, em regra, a formação de aglomerados não redispersíveis.
1035
Nestas circunstâncias, é quase sempre preferível preparar suspensões susceptíveis de flocular, pois
nelas não se observa a formação de aglomerados irredispersíveis. Claramente que o ideal é obter
suspensões dotadas de tendência controlada para a floculação. Sendo assim, torna-se necessário
avaliar o grau de floculação, para o que se têm proposto dois métodos principais, que iremos,
seguidamente, descrever.
Quanto maior é a relação Hs/HI tanto mais elevado é o grau de floculação mas os floculantes não
devem ser adicionados em excesso pois podem originar inversão da carga eléctrica das partículas
dispersas. Nestas circunstâncias é, em regra, preferível a adição de pequenas quantidades de agente
floculante.
A segunda técnica baseia-se na determinação do potencial zeta e serve-se de uma célula de
microelectroforese. As partículas migram para o pólo oposto à sua carga, com
1036
uma velocidade que depende do potencial zeta, sendo a mobilidade electroforética definida como a
velocidade em cm/s, para um gradiente de potencial de l V/cm. Observa-se o movimento das partículas
na célula, sob a influência do campo eléctrico, mediante o uso de um microscópio.
O potencial zeta é então calculado pela seguinte expressão, deduzida da fórmula (1), que
escrevemos na pág. 1012.
4 Jl T| m \ --•
Conceniraçüo de KH;P04
Fig. 350. Diagrama que representa a floculação controlada de partículas
de subnitrato de bismuto em suspensão, quando se adiciona fosfato
dibásico de potássio como agente floculante
Segundo A. Martin — J. Pharm. Sciences, 50, 515 (1961)
1037
devido aos iões BiO2*). À medida que se vai adicionando fosfatião, o potencial decresce até que a
suspensão exibe o seu máximo de floculação. Seguidamente, o potencial zeta inverte-se diminuindo a
floculação, mas aumentando a tendência para formar aglomerados. Nas mesmas circunstâncias
observa-se que o volume de sedimento determinado pela relação Hs/Hl vai aumentando até um valor
em que a floculação é máxima, para em seguida diminuir e a suspensão voltar a adquirir a inicial
tendência para formação de sedimentos não redispersíveis.
Pela análise do diagrama apresentado verificamos que tanto a determinação da relação Hs/Hl
como a medida do potencial zeta dão indicações preciosas para se saber se a suspensão tende a
flocular ou a formar aglomerados irreversíveis. Como se compreende, esta noção é extremamente útil
para a preparação das suspensões farmacêuticas, obrigando apenas ao trabalho da construção das
curvas de sedimentação ou de potencial. Ainda pelo diagrama referido, vemos que se pode evitar a
formação de algomerados irredispersíveis, desde que se confira às partículas suspensas uma carga
eléctrica de sinal contrário ao seu. Pode, pois, ser útil usar agentes floculantes, desde que o seu
emprego seja suficientemente controlado. A Fig. 351, retirada do citado trabalho de NASH e HAECER,
mostra a curva de floculação de um esteróide (adrenocor-ticóide) em veículo aquoso.
RAMBERLITA ARAÚJO, na sua Tese de Mestrado, apresenta as curvas de floculação do caulino a 2%
(cujas partículas exibem carga negativa, pois se trata de silicatos
ionizáveis) por acção de iões alumínio, tal como é possível apreciar na Fig. 352. Como se vê há uma
nítida inflexão correspondente à floculação máxima em que, portanto, o potencial zeta era igual a zero.
A adição de mais Al3* origina, como é lógico, a descida da relação Hs/Hl, visto as partículas
passarem a adquirir carga positiva (a adsorção do alumínio-ião).
Como anteriormente referimos, pode ser desejável adicionar agentes molhantes, não só para
impedir a sua flutuação, mas ainda para diminuir o risco do crescimento dos cristais. Por outro lado,
os agentes molhantes são susceptíveis de reduzir a tendência das partículas para aderirem entre si,
produzindo-se aglomerados que se não podem ressuspender. Entre os molhantes podem utilizar-se
tensioactivos não-iónicos, como os polissorbatos, mas é preciso não esquecer que, nestes casos, a
medida do potencial zeta não pode fornecer indicações quanto ao grau de floculação, dada a ausência
de carga do agente molhante. Nestas situações é preferível juntar uma quantidade de agentes
molhantes apenas suficiente para impedir a flutuação, homogeneizando o floculado que se forme por
intermédio de carboximetilcelulose sódica. Esta técnica é utilizada com alguns esteróides, verificando-
se que a carboximetilcelulose faz com que se eleve até um máximo a carga eléctrica das partículas
suspensas, provocando o excesso de carboximetilcelulose uma diminuição ulterior da carga. Na
prática e no citado caso verificou-se que a concentração óptima da carboximetilcelulose é de 0,5%.
Ainda do trabalho de R. ARAÚJO retiramos o gráfico (Fig. 353) bem elucidativo quanto à influência
da adição de CMC.
1039
Recorrendo a técnica análoga tem-se utilizado o alginato de sódio e o sulfato de dextrano e sódio. Já
os agentes capazes de aumentarem a viscosidade das suspensões mas dotados de características não
tónicas, como a metilcelulose, a polivinilpirrolidona e o dextrano sob a forma livre, em lugar de
estabilizarem a suspensão, aceleram a formação de aglomerados irredispersíveis.
%CMC
Flg. 353. Influência da CMC sobre a estabilidade de suspensões a 2% de caulino em partículas
de 37 u
O — decorridas 8 horas de sedimentação; A — decorridas 24 horas de sedimentação; ü —
decorridas 48 horas de sedimentação.
altura, que a sulfadiazina microcristalina era mais facilmente absorvida do que quando num estado
mais grosseiro de pulverização. Também GREENGARD e WOLEY puderam observar que o enxofre
coloidal era mais facilmente absorvido do que quando pulverizado mais grosseiramente. Estas
primitivas verificações têm sido confirmadas em larga escala com muitos fármacos, bastando citar,
como exemplos, o palmitato de cloranfe-nicol e a griseofulvina.
Entretanto, lembramos que a duração da acção medicamentosa de suspensões parenterais pode
ser largamente influenciada pelo tamanho dos cristais. Assim, certas hormonas esteróides podem
apresentar-se em injectáveis de acção prolongada, desde que os cristais dispersos tenham
diâmetros maiores do que 100 |i. Não é possível utilizar cristais maiores do que 300 (j. já que a
injecção se torna dolorosa e, quiçá, se origina a obstrução das agulhas.
Algumas vezes, no entanto, o uso de cristais de menor diâmetro pode, pelo contrário, ocasionar
uma acção farmacológica mais prolongada. Assim, a penicilina G-procaína quando administrada
em suspensão oleosa contendo monostearato de alumínio é tanto mais lentamente absorvida quanto
mais pequenos forem os cristais dispersos. É que, neste caso, as propriedades reológicas do
sistema são influenciadas pela superfície específica das partículas e uma maior superfície torna as
suspensões mais viscosas. Graças à tixotropia, a mistura pode ainda ser injectada, mas o depósito
que se forma após injecção no músculo é tão viscoso que o fármaco só muito lentamente é
absorvido.
O tamanho das partículas suspensas, além de dever ser considerado no que diz respeito à
velocidade de absorção dos fármacos, interessa ainda na preparação de suspensões para
aplicação local nas mucosas ou na pele.
Efectivamente, uma suspensão para uso dermatológico deve ter as partículas tão pequenas
quanto possível, de modo que não provoque quaisquer irritações aquando da sua aplicação. Do
mesmo modo, as suspensões destinadas a oftalmologia devem ser preparadas com partículas de
dimensões extremamente reduzidas.
Se na preparação de suspensões magistrais o farmacêutico fica, em regra, limitado a introduzir
pequenas modificações na fórmula, de modo a torná-la mais estável e elegante, já o mesmo se não
pode dizer em relação às suspensões especializadas, cuja obtenção nos ocupará seguidamente.
Fundamentalmente, a preparação das suspensões obriga à divisão do fármaco sólido até ao
grau de tenuidade desejado, mas são raros os casos em que só por esse meio se conseguem obter
formas farmacêuticas com as características aconselháveis. De facto, é reduzido o número de
fármacos cujas propriedades físico-químicas na concentração terapêutica habitual permitem obter
suspensões por simples divisão adequada no seio da fase dispersante.
Na maioria das vezes, torna-se imprescindível que o fármaco, levado ao grau de divisão
desejado, seja disperso num sistema que contenha substâncias que promovam o aumento da
viscosidade da fase externa. Quer isto dizer que, em regra, as suspensões
1041
Na prática, a escolha do tipo ideal de misturador deve executar-se de acordo com a velocidade
de sedimentação que o sólido apresenta na suspensão.
Quando a velocidade de sedimentação é pequena podem utilizar-se, na mistura, aparelhos de
hélice, cuja capacidade pode ir até 2500 litros (líquidos viscosos) ou a muito mais (líquidos que se
comportam praticamente como a água). O movimento de rotação das hélices é de cerca de 280-420
r.p.m. e a potência disponível é normalmente inferior a 3 cavalo-vapor.
Quando a sedimentação é muito rápida, o grau de uniformidade da suspensão é função da
potência aplicada, utilizando-se geralmente turbinas de lâminas planas para conseguir a dispersão.
Uma das dificuldades técnicas, que muitas vezes surge neste tipo de suspensões, é a extracção de uma
parte da suspensão, sem que a mistura perca a sua homogeneidade. Nesses casos é, em regra, útil um
reservatório principal que diminui de capacidade junto ao fundo por onde é retirada a suspensão. Um
sistema de agitadores de acordo com o esquema representado na Fig. 358 permite manter estável a
suspensão.
Se, na preparação da suspensão, o material a dispersar tiver tendência para aglomerar, é, em
regra, necessário recorrer a agitadores que se movam com grande velocidade (1150-1750, 3000 e
4000 r.p.m.).
Em muitos laboratórios de indústria farmacêutica usam-se agitadores móveis que se podem
aplicar no tanque ou no reservatório onde se faz a mistura. Em geral, estes agitadores são montados
concentricamente ao reservatório, como se mostra na Fig. 359.
1044
Entre a aparelhagem de que se pode dispor para o efeito citamos o aparelho Puc--Vikosator
produzido por Prosbet-Class e o Minisonic e o Rapisonic que são fornecidos pela firma Sonic
Engineering Corporation, Stanrford, Connecticut (USA).
r~f.
1 2
Fig. 359. Agitador portátil (Agitomic)
1 —Esquema; a— prato de deflexão
2 — Aspecto geral
É fácil dispersar 18 g de óxido de zinco com 18 g de amido numa mistura de água de cal com
glicerina (90 ml:28 ml), obtendo-se uma preparação estável, desde que se inclua na fórmula um
molhante, como a tintura de alcatrão mineral saponinado (l ml). Esta fórmula, que é correntemente
prescrita em dermatologia, não carece da junção de nenhum agente suspensor. No entanto,
observemos que a própria glicerina desempenha, além do seu efeito emoliente, a função de aumentar
a viscosidade da fase dispersante.
A calamina, o borato de sódio e o amido dispersam-se relativamente bem no álcool de 70" em
concentrações de 6,2%, 1,3% e 6,2%.
a) Agentes suspensores para veículos aquosos — Sob esta rubrica pormenorizaremos o estudo de
alguns dos mais utilizados agentes suspensores para suspensões aquosas. Lembramos, porém, que o
estudo destas substâncias só se considera completo com a descrição feita a propósito de muitas delas
no artigo Emulsões.
Goma arábica — Muito usada para suspensões orais, pode empregar-se em pó, em mucilagem ou
em xarope. A sua concentração na preparação final oscila entre 5 e 15 por cento.
Dado que as suas soluções'são ácidas (em concentração de 1,5% na água apresentam um pH de
2,6), deve ter-se o cuidado de não a utilizar em suspensões que contenham fármacos alcalinos.
Precipita quando em presença de metais pesados e de taninos. É, pela mesma razão, incompatível
com soluções alcoólicas de concentração superior a 35 por cento.
A viscosidade das soluções aquosas de goma arábica não varia com o pH do meio se este se
mantiver compreendido entre 4 e 10.
Na preparação de pequenas quantidades de suspensões deve triturar-se a goma em pó, em
mucilagem ou em xarope, num almofariz, com os sólidos a suspender, só depois se adicionando o
veículo aquoso. Se a água é utilizada em larga escala, sob a forma de mucilagem, deve usar-se água
esterilizada por ebulição e adicionada de agentes microbicídas, como a mistura de 0,15% de
metilparabeno com 0,02% de propilparabeno. A mucilagem obtém-se peneirando a goma sobre água
quente e agitando energicamente em aparelho adequado. Quando se trabalha com a goma em pó que
se mistura com as substâncias sólidas, é aconselhável molhá-la, antes da adição da fase aquosa, com
líquidos, como a glicerina, o propilenoglicol ou até o álcool. Este modo de proceder permite uma
melhor dispersão da goma, evitando a formação de grumos.
Goma adraganta — Talvez menos utilizada do que a goma arábica para preparações orais, a
goma adraganta é correntemente empregada em suspensões de uso externo. Na prática, é frequente
usar-se numa concentração até 2%, mas quando se destina à administração oral é preferível não
ultrapassar 1% em razão do mau sabor que comunica aos medicamentos.
As dispersões de goma adraganta apresentam a sua máxima viscosidade a pH 5, não se
aconselhando, por isso, usá-las a pH inferior a 4 ou superior a 6. Precipita das suas soluções
quando em presença de mais de 40% de álcool.
A goma adraganta é empregada, de preferência, em pó, que se hidrata muito lentamente pela
acção da água. É conveniente molhá-la, previamente, com álcool ou com glicerina (que não é tão
eficaz) antes da adição da fase aquosa. Deve ser trabalhada como indicámos para a goma arábica.
Entre as incompatibilidades a que pode dar origem cita-se a gelificação observada
nas suas mucilagens quando adicionadas de subnitrato de bismuto. Evita-se a formação
de gele sólido juntando aniões trivalentes, como o fosfato de sódio ou o citrato de
sódio. Para 60 ml de mucilagem a 1% são suficientes 50 mg e 10 mg, respectivamente,
destes sais. - —• • -
1048
Goma de Karaya — Esta goma, que é extraída de Sterculia urens e que tem substituído no nosso
país a goma adraganta, difere dela especialmente pelo seu elevado conteúdo em grupos acetilos.
Alginatos — Usam-se diversos sais do ácido algínico, os quais apresentam carácter aniónico,
sendo a sua viscosidade máxima conseguida a pH igual ou superior a 5. A esta regra faz excepção o
éster — alginato de propilenoglicol — que, não sendo ionizável, se mantém mesmo a pH inferior a 5.
O alginato de sódio é o derivado mais frequentemente utilizado. Trata-se de um composto solúvel
na água (a 5% dá geles sólidos) e no álcool diluído. Quando dissolvido em álcool muito diluído
origina soluções mais viscosas do que na água. A adição de álcool de graduação mais elevada
precipita o alginato das suas pseudo-soluções aquosas (álcool a 30-40%).
A estabilidade dos alginatos é boa quando o pH está compreendido entre 4 e 11,5. A pH inferior
a 3 decompõem-se libertando ácido algínico. Todos os iões metálicos, incluindo os alcalino-tenosos,
originam espessamento dos soles de alginato de sódio, sendo o fenómeno particularmente evidente
com o cálcio (ver Emulsões, pág. 982).
Sendo bons meios de cultura, é aconselhável juntar substâncias conservantes (nitrato de
fenilmercúrio a 1:50000, timerosal a 1:50000, benzoato de sódio a 1,5%, combinação de 0,2% de
metilparabeno com 0,02% de propilparabeno) aos soles de alginatos. No comércio encontra-se o
alginato de sódio com diversas viscosidades, sendo a sua concentração escolhida em função da
viscosidade inicial: alginato de alta viscosidade — 0,75 a 1%; alginato de baixa viscosidade — 1,5 a
3%.
Entre os alginatos de sódio comerciais mais vulgares citamos os da firma Kelco Chemical Co.,
Nassam St. N.Y. 5. U.S.A.: Kelgin (de viscosidade média); Kelgin LV (de baixa viscosidade); Kelgin
XL (de viscosidade muito baixa); Kelcosol (de alta viscosidade).
Como alginato de propilenoglicol citamos o Kelcoloid HV (alta viscosidade) e o Kelcoloid LVF
(baixa viscosidade).
A firma Alginate Industries Ltd., de Londres, tem, também, vários alginatos de sódio designados
pelo nome genérico de Manucol. O alginato de propilenoglicol, que produz, é conhecido por
Manucolester.
1049
Actuando de modo idêntico aos alginatos, poderemos citar a pectina e a alga perlada. A pectina é
pouco usada, visto ser instável em meio alcalino e precipitar por acção de vários metais pesados.
Metilcelulfise — Por tratamento da celulose com substâncias como o cloreto de metilo, são
preparadas diversas metilceluloses que diferem entre si pela viscosidade que apresentam.
Na prática usam-se, preferentemente, as metilceluloses de viscosidade mais elevada, se bem que no
comércio existam 6 tipos diferentes deste produto, designados por 15, 25, 100, 400, 1500 e 4000,
significando estes números a viscosidade média, em cen-tipoise, das respectivas soluções a 2%, a
20°C.
As metilceluloses 1500 e 4000, que mais vezes se utilizam na preparação de suspensões orais,
podem empregar-se em pó ou sob a forma de solução. Este último estado é preferível, aconselhando-
se a seguinte técnica operacional: diluir a metilcelu-lose com cerca de metade da água, aquecendo a
90"C; agitar e deixar em repouso por 20 a 30 minutos, passados os quais se junta a água restante,
fria ou até gelada. Outro método de obtenção consiste em macerar o produto com a totalidade da
água prescrita, durante 10 a 12 horas, ou em tratar o pó por álcool ou por glicerina e então juntar a
água fria.
Como já foi mencionado atrás (vide Emulsões), as soluções de metilcelulose aquecidas a 50-60°C
coagulam originando geles que se destroem por arrefecimento. Este comportamento é estruturalmente
diferente do apresentado pêlos outros hidrocolóides que só gelificam por arrefecimento.
As quantidades de metilcelulose 400, 1500 e 4000 necessárias para a preparação de suspensões
são, respectivamente, de cerca de 2,4, 1,7 e de 1,35%. De uma maneira geral são estáveis a valores
de pH compreendidos entre 2 e 12.
Este agente suspensor é empregado em diversas suspensões de uso oral, como as de sulfato de
bário, de fenacetina, etc.
Semelhante à metilcelulose é a etilcelulose, cuja descrição foi feita a propósito das Emulsões.
Tem sido utilizada em algumas suspensões de uso oral, designadamente como suspensor do ácido
acetilsalicílico. No comércio aparece em 5 diferentes graus de viscosidade, sob o nome de Cellosíze
(Union Carbide Chemicals Co.). Um dos tipos mais usados é o Cellosize WP/300. Recentemente ORY e
STEIOER-TRIPPI estudaram pormenorizadamente o Cellosize WP/4400.
A viscosidade das dispersões de etilcelulose não é afectada pelas variações de pH entre 5 e 10.
Carboximetilcelulose sádica — Preparada por tratamento das celuloses bastante puras pêlos
álcalis e subsequente reacção com o monocloroacetato de sódio, a carboxi-metilcelulose sódica
apresenta-se no comércio em três variedades principais: de alta viscosidade, de média viscosidade e
de baixa viscosidade.
A viscosidade destes três tipos de Carboximetilcelulose é referida às soluções
aquosas a 20°C, exprimindo-se em centipoise: ., ......
1050
Viscosidade
(Brookfield)
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1052
Tabela CXXVI. Características de alguns colóides hidrófilas empregados em suspensões de uso oral
Composição Estab % P/V para Firma
üi-
Agente suspensor ou origem dadc Incompatibilidades 800 cP, a preparadora
20-C
a) Hidratos de
Carbono
Goma arábica Mucilagens 4-10 Taninos, metais Várias
pesados;
mais de 34% de
Goma adraganta Mucilagens 2,5-9 álcool.
Sunitrato de 2,75 Várias
bismuto; mais
de 40% de álcool.
Kraystay A (baixa 1,80
vis.)
Kraystay E (média Extracto de 4-10 Mais de 10% de 1,38 Kraft Foods
vis.) alga
perlada álcool;
catiões (K, NH,, Co.
Chicago
Ca,
Mg). 90
(USA)
Kraystay H (alta vis.) 1,23
Pectina Do limão ou 2-9 Óxido de zinco; 3,2 Várias
maçã mais de
t 10% de álcool.
b) Sintéticos ou
Derivados
dos Hidratos de - --
Carbono
Kelgin (média vis.) 1,15
Kelgin LV (baixa Alginatos de 4-11,5 Iões cálcio; sais de 2,05 Kelco Co.
vis.) sódio metais
pesados; mais de 31
Nassau St
10%
de álcool. N.
Y. 5 (USA)
Kelgin XL (muito 3,05
baixa vis.)HV (alta
Kelcoloid Alginatos de 2,5-7 Idem. 0,94 Idem
vis.) propile-
noglicol
Kelcoloid LVF (baixa 1,55
vis.)
Methocel 15 cPo Metilceluloses 2-12 Taninos, soluções 7,7 Dow
salinas
muito concentradas Chemical
Co,
Midland,
Mich. (USA)
Methocel 25 cP
Methocel 100 cPD Metilceluloses 2-12 Taninos, soluções 6,2
Methocel 400 cPn salinas
muito concentradas 3,5
1055
CMC-70 (baixa . .,
vis.) 4,1
CMC (média vis.) Carboximetilcelulose 3-11,5 Cloreto férrico; sulfato de
CMC (alta vis.) 1,9
sódica alumínio a 10%. 0,7 :
'.r ï -
c) Arguas ' 14 ^
Hidrófilas
!
Bentonite . Silicato de alumínio 3-10 Iões Ca ++; electrólitos di Várias
6,3
V coloidal e trivalentes.
Pharmasorb ,, Silicato de alumínio Idem. Minerais and
;
e magnésio hidra- Che-
micals
Corpo-
< tado ration of Amé-
\ ~ rica,
".. r. . Menlo
Park, N. Y.
(USA)
Veegum Silicato de alumínio 3-11 Iões Ca ++. R. T.
6f)
e magnésio coloi- . ' Vanderbilt
Co., 230 Park
dal Av. N. Y.
(USA)
Veegum HV 4,8
d) Polímeros i
Vinílicos
Carbopol 934 Polímero carboxi- 5-10 Luz. B. F.
— Goodrich
vinílico Chemical Co
Cleveland
15,
Ohio (USA)
1056
Além dos agentes suspensores já citados e que, como dissemos, são os que mais correntemente se
empregam na preparação de suspensões aquosas, poderiam ser mencionadas ainda a gelatina
(Pharmagel B, aniónica; Pharmagel A, catiónica), os polietileno-glicóis (400 e 4000), o álcool
polivinílico, a polivinilpirrolidona, etc.
O álcool polivinílico (PVA), cuja estrutura básica é a seguinte,
é um bom colóide protector que se emprega na preparação de suspensões para uso externo. A
polivinilpirrolidona (PVP) é um polímero, correspondendo à seguinte fórmula geral
H.C C=0
'S.-'
—CH-CH.-
cujo peso molecular depende do método de preparação seguido (20 000 a 70 000).
Solúvel na água, nos álcoois e em várias cetonas e éteres, as suas soluções coloidais aquosas a 5%
(25°C) apresentam pequena viscosidade. Assim o Kollindon 17 e o Kollindon 25 (Badische Anilin & Soda
Fabrik A.G. — Ludwigschafen am Rhein) têm uma viscosidade de 1,35 e 1,8 cPu, respectivamente. O pH das
soluções aquosas, que se mantém por aquecimento, está compreendido entre 4,5 e 7.
O amido de trigo tratado pelo óxido de etileno dá lugar à formação de hidroxietilamido de que, no
comércio, se encontram as variedades CWS (solúvel em água fria) e HWS (solúvel em água quente).
Estes agentes suspensores são compatíveis com o álcool e usam-se também na preparação de suspensões
aquosas.
Pode conseguir-se uma suspensão estável de enxofre a 10% em veículo aquoso contendo 6% de PEG 400,
desde que se inclua na fórmula 4% de hidroxietilamido CWS.
Ao lado destes típicos agentes suspensores não queremos esquecer o uso de certos líquidos e soluções
newtonianas que podem aumentar a viscosidade da fase dispersante. Entre eles lembramos a glicerina, o
sorbitol, o propilenoglicol, as soluções de glucose hipertónicas e as soluções de sacarose a 65%. Na Tabela
CXXVII indicamos as visco-sidades de alguns líquidos newtonianos, a 20°C.
b) Agentes suspensores para veículos oleosos — Na preparação das suspensões oleosas só se
emprega uma pequena variedade de agentes suspensores. De facto, para
1057
uso oral, quase só se utilizam dispersões aquosas e para uso parentérico é relativamente restrito o
número de suspensões oleosas.
Os suspensores mais utilizados são a lanolina, as ceras, o monostearato de alumínio e alguns óleos,
como o de rícino.
A lanolina é habitualmente utilizada a 5-6% em solução no azeite ou em óleos semelhantes, como o
de amendoim. As suspensões injectáveis oficinais de iodobismu-tato de quinina e de subcarbonato de
bismuto constituem exemplos representativos desse uso.
As ceras, como a cera branca, têm sido empregadas em algumas suspensões, designadamente nas de
penicilina G procaínica em meio oleoso. A sua quantidade é de cerca de 1%.
O óleo de rícino tem-se utilizado na preparação de suspensões oleosas injectáveis e em colírios,
como os de esteróides. Trata-se de um líquido newtoniano dotado de elevada viscosidade absoluta
(1000 cPo, a 20°C), que geralmente se emprega em associação com outros óleos muito menos
viscosos (a viscosidade absoluta do azeite, a 20°C, é de 84 centipoise).
É curioso observar que alguns óleos, como o de soja, têm, independentemente da viscosidade
que apresentam, certo poder antifloculante, o qual se deve à presença de substâncias dotadas de
actividade superficial que fazem parte da sua composição.
O monostearato de alumínio é um composto de alumínio que contém quantidades variáveis de
ácidos esteárico e palmítico (A12O3 por cento: 14,5-16,0).
Apresenta-se como um pó branco ou amarelado, volumoso, de cheiro fraco, carac
terístico. É um agente suspensor tixotrópico que se tem empregado, a 2%, em diversas
suspensões, como a de penicilina G procaínica para uso parenteral. , ,,,. ,
(') B. ECANOW e R. WILSON (J. Pharm. Sei. 52, 1031, 1963), ensaiando suspensões de subnitrato
de bismuto a 2% e adicionando, como agentes floculantes, fosfato trissódico, fosfato dibásico de
sódio, fosfato monobásico de sódio e ácido fosfórico (ImM de fosfato por 100 ml de suspensão),
mostraram que a acção floculante era dependente do pH, incrementando-se à medida que
aumentava a acidez. Esta verificação está de acordo com as propriedades apresentadas pêlos soles
liófïlos em relação ao valor de pH para o qual se observa a floculação.
1059
a conferir-lhes carga positiva. Certos compostos, como os ácidos aminados ou a gelatina abaixo
do seu ponto isoeléctrico, podem desempenhar esse papel. Uma vez realizada essa operação, já
se torna possível adicionar os iões fosfato ou outros agentes floculantes e proceder como
MARTIN indica no artigo a que já anteriormente nos referimos. Este autor esquematiza, do
seguinte modo, a sequência da preparação das suspensões de substâncias carregadas
negativamente:
tentativa de harmonizar estas nomenclaturas, tentativa essa particularmente difícil porquanto não
há correspondência completa entre os termos tradicionais entre nós e em outros países, dividiremos
as suspensões em líquidas ou fluidas e semi-sólidas ou consistentes, como as pomadas.
Às suspensões líquidas, contendo açúcar, destinadas ao uso oral, que se administram às
colheres, daremos o nome de poções-suspensões ou julepos. A Farmacopeia Portuguesa IV dá-lhes
a designação de misturas, termo que julgamos pouco conveniente por inexpressivo e porque se
presta a confusão com a palavra misture que em idioma anglo-saxónico é usada por definir
dispersões de partículas com diâmetros menores do que l n..
Às suspensões de uso oral, muito viscosas, geralmente formadas por partículas de substâncias
inorgânicas com cerca de l u. de diâmetro, que se encontram distribuídas numa massa gelatinosa,
daremos a designação de magmas ou de geles (').
Às suspensões semi-sólidas, geralmente constituídas por partículas de substâncias orgânicas ou
inorgânicas num estado de divisão próximo do submicroscópico, que se utilizam localmente nas
membranas mucosas ou na pele, chamaremos geleias ou pomadas-geleias.
A algumas suspensões aquosas muito fluidas dá a F. P. IV, quanto a nós impropriamente, a
designação de águas. Estão nestas circunstâncias a água amónio-canforada e a água branca ou
végeto-mineral.
No presente capítulo dedicaremos, principalmente, a nossa atenção às suspensões de uso oral.
As suspensões para uso parentérico serão estudadas a propósito das Preparações Injectáveis e as
geleias sob a rubrica Pomadas.
Entre as substâncias que correntemente se empregam sob a forma de suspensão, por via oral,
citamos as seguintes: ácido acetilsalicflico, acetilsulfisoxazol, almíscar, carbonato de cálcio,
caulino com pectina, fosfato de cálcio, difenilidantoína, eritromi-cina, fenoximetilpenicilina,
nistacina, novobiocina cálcica, palmitato de cloranfenicol, nitrofurantoína, oxitetraciclina,
salicilamida, sulfacetamida, sulfamerazina, sulfadiazina, tetraciclina, etc.
Para uso oral utilizam-se, também, diversos magmas ou geles, como o de hidróxido de
magnésio, de bentonite, de subcarbonato de bismuto com hidróxido de bismuto, de hidróxido de
alumínio, de aminoacetato de di-hidroxialumínio, etc.
Como suspensões para aplicação na pele e nas mucosas lembramos as de sulfureto de selénio
(anti-seborreico tópico), acetato de cortisona (anti-inflamatório ocular), pred-nisolona (anti-
inflamatório ocular), geleia de efedrina (vasoconstritor nasal), etc.
{') Os geles resultam da desidratação parcial dos soles liófilos que passam ao estado semi-
sólido sem apresentarem líquido sobrenadante. Podem formar-se pela rápida precipitação de
soluções sobressa-turadas na forma de massa gelatinosa, por alteração da temperatura, por adição
de um segundo dissolvente ao sole liófilo ou por outros meios.
1061
Para uso parenteral empregam-se diversas suspensões aquosas e oleosas. Entre as primeiras
referiremos as de esteróides anti-inflamatórios, preparados contendo insulina, hormonas sexuais,
penicilina G-procaína, penieilina G-benzatina, etc. Como exemplo de suspensões oleosas destinadas
ao uso parenteral lembramos as de iodobismutato de quinina, de subcarbonato de bismuto, de
hidróxido de bismuto, de penicilina G-procaína, etc. Muitas das suspensões citadas são preparadas
sob a forma definitiva. Outras, porém, só são concluídas no momento da sua utilização. A estas
últimas dá-se o nome de suspensões de preparação extemporânea, reservando-se o seu uso para
aquelas substâncias sólidas cuja estabilidade é precária quando em contacto demorado com a fase
dispersante. São, pois, apresentadas sob a forma de um pó que, no momento do emprego, é
adicionado de água ou de um veículo adequado (muitas vezes contendo tensioactivos e
conservantes) nos quais se dispersa por agitação.
Grande parte das suspensões injectáveis são de preparação extemporânea, embora outras,
como a de subcarbonato de bismuto, possam ser logo obtidas na sua forma definitiva. Algumas
suspensões orais, como as de ácido acetilsalicílico, podem também ser preparadas
extemporaneamente, por simples adição de água a uma mistura de pós e subsequente agitação.
A preparação das suspensões líquidas destinadas ao uso oral é feita nos moldes a que nos
referimos nos artigos antecedentes a propósito da obtenção de suspensões aquosas. Nestas formas
deve procurar corrigir-se o sabor ou o cheiro desagradável que eventualmente seja apresentado
pelo fármaco ou fármacos utilizados. Assim, é hábito incluírem-se substâncias edulcorantes
(sacarose, glicose, sacarina sódica, eiclamatos de sódio ou de cálcio, etc.) e aromatizantes (umas
vezes utilizados sob a forma de essências, outras empregados sob a forma de xaropes, etc.) Entre as
essências mais empregadas citamos as de limão, de laranja, de banana, de tangerina, de ananás, de
hortelã--pimenta, de anis, de canela, de framboesas e de groselhas. A vanilina e o aldeído benzóico
são também empregados com certa frequência. Os xaropes são ainda usados algumas vezes, pois
associam ao seu poder corrector do aroma e do gosto certa facilidade de impedirem a floculação
visto que aumentam a viscosidade da fase dispersante. Entre os xaropes mais utilizados citamos os
de groselhas, de alcaçuz, de chocolate, de flores de laranjeira, de casca de limão, de framboesas,
de genciana, de ruibarbo e de cerejas.
Algumas vezes pode também desejar-se corar as suspensões para o que se deve recorrer a
corantes cujo emprego seja permitido para uso alimentar.
A utilização de agentes conservadores dotados de propriedades bactericidas, fungicidas,
bacteriostáticas ou fungistáticas torna-se, em regra, desejada ou mesmo obrigatória. Entre os
conservantes mais usados citaremos o p-hidroxibenzoato de metilo a 0,15-0,2% (metilparabeno ou
Nipagin), o p-hidroxibenzoato de propilo a 0,02% (propil-parabeno ou NipazoF), o benzoato de
sódio a 0,1-1,5%, o nitrato de fenilmercúrio a 1:50 000, o timerosal a 1:50000, o álcool a 4-20%,
etc.
1062
A preparação de suspensões aquosas, muito viscosas (magmas e geles), pode decorrer também de
acordo com o que foi especificado anteriormente. Entretanto, há casos especiais em que a dispersão é
obtida à custa de reacções químicas. Tomemos para exemplo a suspensão de hidróxido de magnésio.
Segundo a Farmacopeia Portuguesa IV esta fórmula (Mistura de magnésio F. P. ou Leite de
magnésio F. P.) é preparada por dispersão, a quente, do óxido de magnésio com água, incorporando-
se, depois, o xarope de flores de laranjeira como corretor e estabilizante. Fundamentalmente,
observa-se a hidratação do MgO, formando-se Mg (OH)r segundo o esquema:
a ser obtido um precipitado gelatinoso de partículas finamente divididas. O produto é então dialisado
e adicionado de edulcorantes, aromatizantes e conservantes adequados, podendo melhorar-se a
dispersão por tratamento em moinho coloidal.
9.2.0.2.5. Incompatibilidades
A maioria das incompatibilidades que podem surgir na preparação das suspensões deve-se à acção
de cargas eléctricas de sinal contrário entre os agentes suspensores ou os tensioactivos e os fárrnacos
dispersos. Assim, deve evitar-se a adição de agentes aniónicos a fárrnacos carregados positivamente e
vice-versa.
Lembremos que as gomas, a carboximetilcelulose sódica e as arguas (bentonite, Veegum,
hectorite, atapulgite, etc.) se comportam como substâncias aniónicas, podendo originar precipitações
quando adicionadas a fárrnacos catiónicos, como os alcalóides, alguns antibióticos (estreptomicina,
canamicina, etc.), muitos anestésicos locais, acrifla-vina, vitamina BI, vitamina B6, roxo de genciana,
sais de amónio quaternário, etc. A junção de gelatina catiónica (Pharmagel A) aos agentes suspensores
aniónicos ocasiona, também, a formação de precipitados ou coacervação.
Por vezes, a formação destes precipitados não é aparente, porquanto alguns deles se dispersam sob
a forma coloidal. Isto acontece, por exemplo, quando esteja presente um excesso de tensioactivo. Este
facto torna ainda mais real o perigo das incompatibilidades que podem atingir o domínio da
inactivação ou da modificação de actividade farmacológica sem que o operador tenha consciência do
ocorrido.
Na Tabela CXXVIII, extraída de um trabalho de MILLER, assinalam-se algumas destas
incompatibilidades.
CLOSSET fez um estudo profundo das incompatibilidades mais vulgares dos diversos excipientes
utilizados na preparação dos medicamentos, trabalho que recomendamos ao leitor interessado. Mais
recentemente, citamos G. Du BAN, que publicou um artigo de revisão sobre o assunto, com numerosas
referências bibliográficas.
A inactivação de certos agentes conservantes tem sido também referida na literatura. BOLLE e
MIRIMANOFF foram os primeiros investigadores a observarem a destruição de vários agentes conservantes por
substâncias tensioactivas não iónicas. De NAVARRE, estudando este problema, concluiu que a inactivação
dos conservantes pêlos emulsivos não íónicos pode ser minimizada por adição de 5-10% de etanol ou
de hexilenoglicol. O metil e o propilparabeno são inactivados pelas soluções a 5% de agentes tensioac-
tivos não tónicos. LACH et aí. mostraram que os parabenos se combinavam com os polietilenoglicós e
KOSTENBAUDER e colaboradores observaram que uma concentração de 5% de polissorbato 80 inactiva 78%
de p-hidroxibenzoato de metilo e 95,5% de p-hidroxibenzoato de propilo. De facto, os polissorbatos
são, de certo modo, com-plexantes de compostos contendo funções fenólicas, como os parabenos, o
fenol, o
1064
ácido salicílico, a resorcina, etc. Pela razão apontada, os Myrjs e os Bríjs são também incompatíveis
com compostos que apresentam hidroxilos livres, o que, segundo MERZ, se deve à formação de ozonidos.
microscopia, por meio de quimógrafos, por registo automático, etc. A mais elegante modificação
deste tipo de teste é, indubitavelmente, o micromerógrafo a que nos referimos anteriormente (ver
pág. 623). Entre as modificações que recorrem ao uso de quimógrafos citamos a aplicação da
balança de ODEN que, segundo GERDING e SPERANDIO, permite determinar o poder suspensor em
condições padronizadas.
A balança de ODEN já era conhecida de há muito, datando de 1915 a primeira comunicação do
seu inventor, à qual se seguiu outra, em 1924, em que o nome de FISCHER se veio juntar ao de ODEN.
O sistema por nós utilizado consta de 2 pratos equilibrados, um dos quais mergulha na
suspensão contida no recipiente enquanto que o outro comporta massas para equilibrar o primeiro.
À medida que o sedimento se vai depositando sobre o prato mergulhado na suspensão, o sistema
vai-se desequilibrando, sendo possível tomar nota da medida desse desequilíbrio, desde que o
travessão esteja ligado a um estilete inscri-tor aplicado a um quimógrafo. O sistema mencionado
permite acompanhar o comportamento da suspensão de uma maneira contínua, num intervalo de
tempo apreciável. Na Fig. 365 apresentamos um esquema da aparelhagem utilizada na
determinação.
fácil.
A magnitude do potencial zeta é, como já sabemos, um dos factores mais importantes, se não o
mais valioso, na estabilidade de uma suspensão. O seu valor pode calcular-se através das fórmulas
já indicadas (Equações l e 2), determinando-se a
mobilidade das partículas dispersas, em células de microelectroforese.
A Fig. 367 representa, esquematicamente, uma célula de microelectro-
forese.
Reportando-nos ainda à publicação de STANKO e DEKAY, obervamos
que estes autores determinaram o potencial zeta de suspensões de
sulfamerazina preparadas com diversos agentes suspensores. As
determinações foram executadas imediatamente e ao fim de várias
semanas de preparação. A Tabela CXXXII indica os valores encontrados
por aqueles autores.
Fig. 367. Célula de Os investigadores mencionados observaram que era muito baixo o
microelectroforese potencial zeta das suspensões preparadas com metilcelulose. Notaram,
também, que as suspensões de algina-to de sódio eram bastante
Na parte superior da gravura vê-se estáveis (o potencial zeta a que se observa a floculação é de 29 milivolt).
uma objectiva de microscópio; a
célula padrão está representada por Finalmente, observaram que a
um círculo central assinalado com carboximetilcelulose de viscosidade média tendia a originar suspensões
uma seta e, lateralmente, observam-
que, com o tempo, apresentavam consideráveis baixas de potencial zeta,
o que poria em risco a sua estabilidade.
1070
1071
Tabela CXXXII. Valores de potencial zeta de suspensões de sulfamerazina a 5%, com 1% de agente suspensor
Metilcelulose 25 cPo 39 9 19 24
Metilcelulose 4000 cPo 7 16 5 5
Carboximetilcelulose sódica
(média viscosidade) 133 174 104 113
Idem (alta viscosidade) 80 142 201 142
Alginato de sódio 119 141 142 126
Triture a goma com o xarope até obter uma mistura homogénea; ajunte a água, a pouco e pouco.
Esta peparação — julepo gomoso — é utilizado como um verdadeiro excipiente suspensor que se
emprega na obtenção de diversas suspensões (terpina, quermes mineral, piramido, ácido
acetilsalicílico, etc.). O julepo gomoso é, também, um razoável corrector do aroma e do gosto
apresentados por muitos fármacos.
.. . m
- - Calamina........................................................ 8 g
Cloridrato de difenidramina ........................ l »
Cânfora .......................................................... 0,1 »
Glicerina ........................................................ 2 »
Alginato de sódio ........................................ 0,35 »
Polissorbato 80.............................................. 0,1 »
Água destilada .................................... q.b.p. 100 »
Triture a calamina, o cloridrato de difenidramina e a cânfora com a glicerina. Disperse o
alginato na água, ajunte o polissorbato e misture com a dispersão anterior até obter uma suspensão
homogénea.
Nesta fórmula, destinada ao uso externo, associa-se a um agente anti-histamínico — cloridrato
de difenidramina — a calamina (óxido de zinco com cerca de 0,5% de óxido de ferro), a qual
funciona como adstringente e anti-séptico fraco, e a cânfora.
Emprega-se o alginato de sódio como agente suspensor e o polissorbato como molhante. A
glicerina permite uma mais fácil dispersão dos fármacos na água, incrementando, muito
ligeiramente, a viscosidade da fase dispersantc. A fim de evitar o desenvolvimento de
microrganismos, pode adicionar-se cerca de 0,1% de metilparabeno.
IV
Palmitato de cloranfenicol, amorfo ............ 5,5 g
Carboximetilcelulose sódica ........................0,65 »
Polissorbato 80.............................................. 0,5 »
p-hidroxibenzoato de metilo ........................0,5 »
Essência de anis ..........................................0,05 ml
Glicerina ........................................................3,5 g
Álcool ............................................................ l ml
Xarope comum.............................................. 58 g
Água destilada q.b.p.....................................100 ml
1072
VI ' ''
Enxofre precipitado ...................................... 5g
Glicerina ........................................................ 5»
Polissorbato 80.............................................. X gotas
Solução alcoólica de cânfora ...................... 10 g
Polietilenoglicol 400 .................................... 20 »
Água destilada .............................................. 60 »
Misture o enxofre com o polissorbato; ajunte a solução de cânfora, a glicerina, o
polietilenoglicol e a água, agitando sempre.
Esta suspensão destina-se a uso dermatológico (antipruriginosa) e o PEG 400 facilita a
penetração cutânea, melhorando a estabilidade da fórmula.
1073
vn
Óxido de zinco em pó fino........................50 g
Azeite desacidificado .................................... 50 »
Triture o óxido de zinco com o azeite, até suspensão homogénea.
Trata-se de uma suspensão oleosa, destinada a uso externo. Dada a viscosidade do azeite e a
lenta sedimentação do óxido de zinco, não é hábito incluir agentes suspen-sores na preparação.
,-, ^,.:' . . ; _' vm .
. ';,- '-í>. R ,
Oxido de zinco ............................................ 25 g
Tintura de alcatrão mineral saponinado .... 10 »
Talco.............................................................. 25 »
Glicerina ........................................................ 25 »
Alginato de sódio (alta viscosidade).......... 0,02 »
Água destilada q.b.p..................................... 100 »
Disperse o alginato na água. Triture o óxido de zinco, o talco e a glicerina. Adicione, misturando
sempre, a tintura de alcatrão saponinada e a dispersão do alginato, agitando até obter uma suspensão
homogénea.
Semelhante à fórmula anterior, esta suspensão aquosa, para uso externo, contém, como
substâncias medicamentosas, o óxido de zinco, o alcatrão e o talco. A dispersão do alcatrão mineral
no álcool da tintura é conseguida à custa das saponinas da quilaia (ver Tintura de alcatrão mineral
saponinado F. P. IV). A estabilidade da suspensão é assegurada pelo alginato de sódio e pela
glicerina, que também desempenha acção anti-séptica.
A referida suspensão pode preparar-se sem alginato de sódio, embora apresente menor
estabilidade.
K
Tumenol amónio .......................................... 3 g
Óxido de zinco ............................................ 20 »
Talco .............................................................. 20 »
Glicerina ........................................................ 30 »
Água destilada q.b.p..................................... 100 »
Trate o tumenol com a água, em almofariz. Triture o óxido de zinco e o talco com a glicerina.
Junte as duas misturas, triturando sempre, até obter uma suspensão homogénea.
1074
Como a fórmula anterior, esta preparação é empregada como queratoplástico, actividade que é
completada pela acção anti-inflamatória e secante que apresenta o óxido de zinco.
X
Cloroiodoquina .............................................. 3 g ..,,.„
Oxido de zinco ............................................ 20 » , . lV. .,
Talco .............................................................. 20 » ; W ','••"
Glicerina ........................................................ 30 » ,... ,. ,.
Água destilada .............................................. 30 » ,0 .-:,..,.
Esta suspensão, conhecida por Suspensão de Viofórmio, composta, é usada como anti-séptica e
cicatrizante.
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1077
A palavra «aerosol» é um termo empregado em química coloidal, tendo sido definido por
WHYTLAW-GRAY e PATTERSON como um sistema coloidal constituído por partículas sólidas ou líquidas
muito divididas, dispersas num gás. Segundo SINCLAIR, o diâmetro das partículas constituintes deve
ser inferior a 50 11 e, usualmente, menor do que 10 (l.
De acordo com a definição citada, considerava-se como «aerosol» qualquer sistema constituído
por uma fase dispersante gasosa no seio da qual se encontravam suspensas pequenas partículas
sólidas ou líquidas. Assim, as nuvens, os fumos, o pó ou a humidade dispersos na atmosfera seriam,
essencialmente, sistemas desse tipo. Posteriormente, o conceito inicial sofreu algumas modificações e,
em 1943, a palavra «aerosol» foi utilizada para designar certas preparações insecticidas contidas em
recipientes sob pressão, de onde eram libertadas num elevado grau de dispersão. A Chemical Specia-
lities Manufactureis Association, em 1957, definiu «aerosol» como um produto conservado em
recipiente adequado, o qual era lançado no estado de dispersão, à custa de uma força propulsora
proveniente da expansão de gases liquefeitos contidos no mesmo recipiente.
Actualmente, a definição anterior tomou maior latitude, já que se considera que a força
propelente provenha não só de gases liquefeitos mas também de gases comprimidos. Segundo este
conceito, a formação de um «aerosol» dependerá do poder de propulsão conferido pêlos gases,
exigindo para a realização plena do objectivo pretendido, a existência de recipientes resistentes,
onde estará contido o gás ou gases propelentes em mistura com o produto a dispersar. Por outras
palavras, o conceito actual de «aerosol» implica a ideia de recipiente, pois dele depende em grande
parte, como veremos, o bom êxito do preparado. Por este facto é corrente a substituição do termo
«aerosol» na literatura anglo-saxónica, por pressure pack, pressurized packaging e pressurized
product que envolve já a noção da forma de acondicionamento.
Em Portugal, o termo aerossole, que preferimos por razões ortográficas a «aerosol», tem sido
empregado para designar as suspensões de finas partículas sólidas ou líquidas, no seio do ar ou de
gases. Nesta definição englobam-se, portanto, todas as formas farmacêuticas satisfazendo aos
requisitos apontados, isto é, todas as dispersões em fase gasosa, qualquer que seja o sistema
utilizado na sua produção. Assim, os fumos de cigarros ou de pós antiasmáticos, as dispersões de
vitamina B|2 aplicadas na mucosa nasal, as diversas inalações e vaporizações, constituem exemplos
do uso terapêutico dos aerossoles. Nem todas estas formulações satisfazem aos requisitos terapêu-
ticos desejados. Efectivamente, muitas delas estão longe de permitir a administração
1078
qualitativa ou quantitativamente desejada, podendo actuar por defeito ou por excesso. Muitas não
são suficientemente estudadas para se poder garantir a sua penetração no organismo até ao local
pretendido, designadamente as destinadas à árvore brônquica, onde o diâmetro das partículas é
sumamente importante.
Só os aerossoles produzidos em recipientes adequados, providos de válvulas e onde exista um gás
propelente, são susceptíveis de realizar eficazmente a sua missão terapêutica.
Por comodidade de estudo, dividiremos a nossa exposição em duas partes fundamentais: aerossoles
primitivos e aerossoles propriamente ditos.
de nevoeiros e de fumos. Certas cidades, como Londres, Los Angeles e Donora, são particularmente
atingidas, mas, mesmo entre nós, já temos lamentáveis exemplos da referida situação. Tem-se
admitido que a inspiração continuada dos fumos e nevoeiros pode conduzir ao desenvolvimento de
carcinomas pulmonares. Por outro lado, a importância na saúde pública das dispersões de partículas
sólidas em gases é também muito considerável, especialmente no que se refere aos operários que
trabalham em minas. Partículas de sílica e de carvão, libertadas nas minas, vão-se depositando na
árvore respiratória dos mineiros que contraem afecções muito graves, designadas, respectivamente,
por silicose e por antracose.
Estes factos têm levado ao estudo dos meios necessários para diminuir a quantidade de produtos
resultantes das combustões, ou para provocar a floculação dos aerossoles formados. Habitualmente a
floculação é conseguida criando-se campos eléctricos de elevada tensão (princípio de COTTRELL para
a captação de poeiras e de fumos).
Do ponto de vista farmacêutico, a inalação directa de fumos terapêuticos está praticamente
abandonada, tendo vindo a ser substituída pela administração de aerossoles obtidos com
aparelhagem adequada. Cronologicamente, podemos dizer que da simples
inalação de fumos se passou para a terapêutica em que se recorre a
aparelhos primitivos que já tornam possível a administração de soluções
ou de pós, sem que para tal haja necessidade de combustão, chegando-se
por fim aos actuais «pres-surized products», tão do agrado norte-
americano. A maioria dos primitivos aparelhos destina-se a proporcionar a
produção de dispersões gasosas de partículas sólidas ou líquidas, as quais
são inaladas pelo paciente. Os aparelhos produtores são de variados tipos,
como atomizadores, nebu-Hzadores, insufladores e vaporizadores. Em todos
estes aparelhos é fundamentalmente o ar (produzido por compressão ou
libertado de uma garrafa) que dispersa a solução ou o pó sob a forma de
aerossole.
Os atomizadores são fundamentalmente tubos em T em que o ar injectado
num dos ramos cria
vazio parcial na haste do T que se mantém mergulhada na solução
medicamentosa. A pressão necessária pode conseguir-se com uma pêra de
Fig. 368. Atomizador
borracha ou por meio de ar ou de outro gás comprimido.
A Fig. 368 mostra um atomizador de largas partículas medicamentosas
para tratamento das vias respiratórias. parte terminal do aparelho é afilada, condicionando, de certo
modo, o diâmetro médio das partículas.
1080
Os nebulizadores são atomizadores especiais, dentro de frascos. Geralmente são accionados pelo
ar comunicado por uma pêra de borracha, ou pela compressão e expansão repetidas das paredes
flexíveis de um recipiente que, em regra, é de plástico.
O primeiro sistema (Fig. 369) é utilizado para inalações antiasmáticas e broncodi-latadoras,
como a solução de adrenalina.
Os nebulizadores feitos de material plástico originam dispersões mais grosseiras, a maioria das
vezes utilizadas apenas para aplicações tópicas na mucosa nasal (Fig. 370).
Pode dizer-se que os actuais aerossoles, dispensados em recipiente especial e produzidos pela
acção propulsora de gases, são os descendentes dos nebulizadores.
Os insufladores são construídos para dispersar partículas sólidas no tracto respiratório. O
tamanho das partículas dispersas, à custa de ar comprimido insuflado, é dependente do grau de
divisão em que se encontram os pós antes da dispersão. Administram-se, por este sistema, pós
micronizados, como a vitamina B|2 diluída em lactose, ou a penicilina, dividida em partículas de
cerca de 5 u, de diâmetro. A Fig. 371 representa um insuflador.
Habitualmente, os insufladores proporcionam uma administração levemente mais irritante do
que os nebulizadores ou atomizadores, já que estes dispersam soluções e não pós.
Os vaporizadores são empregados para humedecerem a atmosfera, dispersando água ou
líquidos voláteis sob a forma gasosa. Semelhantes são os sub/imadores, em
1081
posológico, têm levado à sua plena aceitação, desde os domínios da indústria em geral, até,
particularmente, à cosmética e à terapêutica.
Nalguns países, como a América do Norte, Canadá, Alemanha e Inglaterra, o seu consumo é
elevadíssimo. Mesmo entre nós, em que a terapêutica pêlos aerossoles se pode considerar
insignificante, houve, durante 1962, um consumo de 60000 unidades de aerossoles (medicamentosos
e não medicamentosos). O mercado europeu (considerando apenas a Europa Ocidental), que
representa cerca de 25% do consumo mundial de aerossoles, já em 1964 movimentou 526 milhões de
unidades.
sua administração é vantajosa, já que são menos irritantes, principalmente por não carecerem de
auxílio manual para se difundirem na pele aquando da sua aplicação. A sua distribuição é, regra
geral, também mais uniforme. Deste modo, empregam-se aerossoles anti-sépticos, desodorizantes,
anti-histamínicos, adstringentes, fungicidas, etc. São várias as preparações contendo esteróides,
calamina, óxido de zinco, enxofre, resor-cina, alcatrão e muitos outros fármacos de acção tópica.
Ainda no domínio da aplicação cutânea, é de citar o uso das películas protectoras e dos aerossoles
destinados a provocarem arrefecimento da pele, tão usados nas queimaduras pela acção local que
exercem.
As administrações de aerossoles na mucosa nasal são também correntes, não só para se
conseguir uma acção tópica, como para se promover uma absorção que, em última análise, depende
do tamanho das partículas dispersas.
Os aerossoles têm sido utilizados para administração auricular, especialmente no ouvido médio,
onde a sua acção tópica pode ser desejada (otite média).
Vários preparados para aplicação dentária têm sido dispensados sob a forma de aerossole
(anestésicos, emolientes, adstringentes, anti-infecciosos, etc.). As acções tópicas de diferentes
aerossoles têm sido também aproveitadas por via vaginal e rectal.
É, porém, a inalação a administração terapêutica mais frequentemente realizada com aerossoles.
Já atrás considerámos este assunto (ver pág. 547) e então vimos as diversas possibilidades
preventivas e curativas apresentadas por aerossoles medicamentosos adequadamente formulados.
Recordaremos, apenas, que a acção exercida no tracto respiratório é essencialmente dependente do
diâmetro das partículas dispersas. Os bron-quíolos exigem partículas de menor dimensão do que os
brônquios primários e estes do que a traqueia, etc., etc.
Em alguns estados inflamatórios das vias respiratórias a diminuição da viscosidade das secreções
brônquicas representa uma importante necessidade clínica. A terapêutica mucolítica por meio dos
aerossoles permite melhorar essas condições, sendo, assim, correntes fórmulas de aerossoles com
fármacos mucolíticos, como enzimas (quimotrip-sina, hialuronidase, tripsina), tensioactivos
(cetilpiridínio, etanolamina), iodetos alcalinos, etc. CAVANNA e ROCHIETTA assinalam este emprego numa
curiosa revisão de conjunto.
Na terapêutica por inalação de aerossoles temos, pois, a considerar, como mais corrente, o
emprego de fármacos mucolíticos, broncodilatadores, anti-inflamatórios e anti-infecciosos.
Entre as vantagens dos aerossoles medicamentosos sobre outras formas farmacêu
ticas salientamos as seguintes: . . ;,.
1 — Geralmente provocam menor irritação da pele ou das mucosas.
2 — Podendo preparar-se e manter-se estéreis, são susceptíveis de aplicação em feridas
infectadas.
3 — Os aerossoles contendo gases liquefeitos secam rapidamente quando aplicados,
devido à evaporação do propelente. "i ''•••"
1085
4 — A medicação pode ser aplicada numa área restrita, permitindo rápida acção tópica ou
absorção do fármaco componente.
5 — O emprego de aerossoles por inalação pode substituir a administração paren-teral de vários
fármacos, o que representa comodidade para o doente e permite que os medicamentos absorvidos
escapem à barreira hepática. Para muitos autores, a administração de fármacos sob a forma de
aerossole, por via traqueopulmonar, é preferível à ingestão dos medicamentos e até mesmo à sua
administração por via intramuscular, admitindo-se que a rapidez de acção dos aerossoles é
semelhante à conseguida por injecção endovenosa.
5 1,38
10 1,74
15 2,09
— 20 2,44
25 2,79
30 3,14
40 3,83
1087
fl^
©
a) Sólidos dispersos
Empregam-se por este processo suspensões de sólidos finamente divididos no seio de um gás, como o azoto.
Como o poder dissolvente do azoto das misturas utilizadas é, geralmente, mínimo, obtêm-se verdadeiras
suspensões pelo método em questão.
1089
Pastas dentífricas, lacas para o cabelo, pomadas, cremes, xaropes antitússicos, produtos vitaminados, etc.,
têm sido dispensados nesta forma. Nalguns casos o medicamento propriamente dito é um sólido pastoso,
requerendo, por isso, uma elevada pressão inicial para que se forme o aerossole. Habitualmente, o azoto
encontra-se a uma pressão de cerca de 8 kg cnr2, a 20°C (').
Flg. 374.
Recipiente para Fig. 375.
produção de Recipiente para
aerossoles. produção de
Sistema trifásico aerossoles contendo
(emulsão) gás comprimido
1 — fase de
vapor; 1 —propelente (gás
2 —fase líquida
(emulsão de comprimido);
propelente,
água e subs- 2 — líquido
tâncias
activas); concentrado.
3 —aerossol
(esquema)
SCIARRA reporta-nos algumas das características de aerossoles constituídos por misturas de vaselina e parafina
líquida dispersas pelo azoto, com uma pressão de 90 psig, a cerca de 20"C (= 7,33 kp. cnr2). Este investigador
observou que a viscosidade do sistema a dispersar era o principal obstáculo à formação dos aerossoles. Assim,
enquanto que dão boa dispersão misturas até 60% de vaselina e 40% de parafina líquida, nota-se que o
aerossole se não forma com as características devidas, quando a quantidade de vaselina aumenta.
(') Em muitos casos não se deve considerar o produto dispensado como um aerossole, pois que
o propelente pode ser utilizado apenas para facilitar o seu escoamento da embalagem, sem que se forme
uma dispersão em fase gasosa. , . .. , •,*..*.-. ...
1090
c) Emulsões em gases
Muito semelhantes às emulsões dispersas com gases liquefeitos, estes aerossoles diferem por se usar, como
propelente, o N2O ou o CO2 comprimidos. Têm-se também empregado misturas de protóxido de azoto com o
octofluorciclobutano (gás liquefeito).
A Fig. 377 mostra a aludida relação quando se utilizam sistemas constituídos por água e propelente 11,
contendo como tensioactivos diversos Igepal CO, na concentração de 0,1%. No presente caso, a tensão
interfacial, expressa em dine. cm~2, está relacionada com o E.H.L. pela seguinte equação:
Valores de EHL
Flg. 377. Relação entre tensão interfacial e EHL (Igepal CO) Segundo K. Kanig — J.
Pharm. Sei., 52, 513 (1963)
Tabela CXXXIV. Relação entre os valores do EHL e da tensão interfacial de vários sistemas (')
Tensão interfacial
Tensioactivo EHL a 25°C (experimental)
Igepal CO-210 4,6 37,2 dine. cm~'
» CO-430 8,9 18,0 » »
» CO-530 10,9 12,3 » »
» CO-610 12,2 5,5 »»
» CO-710 13,5 4,0 » »
»> CO-730 15,0 1,5 » »
Dissemos atrás que a preparação de emulsões medicamentosas podia também ser desejável para produzir
aerossoles. Como exemplo deste tipo de fórmula citámos os sabões para a barba, em que habitualmente o
propelente liquefeito se disssolve, em parte, no sabão, estando a quantidade restante com ele emulsionada.
É preferível utilizar, para estas preparações, emulsões de O/A. As emulsões A/O dão, geralmente, maus
aerossoles.
9.2.1.3.4.1. Propelentes
Consideramos como propelentes ou gases propulsores os compostos capazes de, pela sua brusca expansão,
promoverem a formação do aerossole. Actualmente, admite-se que os propelentes são tanto ou mais
importantes do que os restantes componentes do aerossole. De facto, eles funcionam como o órgão propulsor de
dispersão o que leva a serem apelidados de coração do aerossole.
Mantendo a classificação anterior, iremos dividi-los em dois grupos:
a) Gases liquefeitos .• :
'j. ..'.•••
Segundo a Chemical Specialities Manufactureis Association, um propelente deste tipo é um gás liquefeito
com pressão de vapor superior à pressão atmosférica, à temperatura de 40°C (cerca de 105°F). Os propelentes
devem, pois, ter uma tensão de vapor maior que l atm (= 14,7 psia), a 40°C.
Entre os propelentes mais usados figuram os derivados clorados e/ou fluorados de hidrocarbonetos como o
metano, o etano e o butano. O seu emprego deve-se ao baixo ponto de ebulição e ao facto de, regra geral, não
serem irritantes nem tóxicos ou inflamáveis. Por outro lado, a pressão que originam no interior dos recipientes
é principalmente dependente da tensão de vapor de cada propelente e independente da sua quantidade. Nos
últimos anos o seu uso tem sofrido forte contestação, como é demais conhecido, começando a serem
substituídos por outros propelentes.
Pode dizer-se que a nomenclatura dos propelentes está normalizada por meio de números que indicam a
sua composição. Assim, cada propelente clorado e/ou fluorado é designado por um conjunto de 3 algarismos. O
primeiro algarismo da direita indica o número de átomos de flúor existentes na sua molécula; o segundo
algarismo refere o número de átomos de hidrogénio + /; o terceiro algarismo refere o número de átomos de
carbono — l (quando este terceiro algarismo é igual a zero, omite-se na nomenclatura).
Na Tabela CXXXV, indicamos a fórmula química, nomenclatura e principais
propriedades de vários propelentes correntemente utilizados. : , ,
É de notar que existem numerosas marcas registadas destes produtos, como Algo-frene, Arcton, Flugene,
Flurion, Freon, Genetron, Isotron, Ucon, etc. A discriminação dos produtos em causa faz-se indicando-se a
seguir ao nome de registo o número que internacionalmente especifica de que composto se trata. Assim fala-
se em A/gofrene 11, em Arcton 11, Freon 11, Ucon 11, etc., querendo-se mencionar sempre o triclorofuor-
metano, embora de fabricantes diferentes.
1095
Nem todos os propelentes apresentam o mesmo grau de toxicidade. De uma maneira geral e segundo
MARCEL MAESTKE, os propelentes 112, 113 e 21 são mais tóxicos do que o 11 e o 22 e estes mais do que o 12, 23,
114 e C-318. Este último grupo não apresenta qualquer perigo para a saúde, mesmo quando aspirados os seus
vapores em concentrações de 20% numa exposição de duas horas.
Os propelentes fluorados e clorados derivados dos hidrocarbonetos de baixo peso molecular são
especialmente estáveis, o que se deve à alta coesão molecular. Por seu turno, esta é dependente da forte fixação
dos átomos de flúor aos átomos de carbono do hidrocarboneto. Deste modo, a maioria destes compostos
suporta temperaturas até 125°C, mesmo em presença de ferro, cobre ou óleos. Alguns, como o propelente 22,
podem mesmo ser aquecidos a 150°C, sem decomposição. O material plástico, regra geral, não é atacado pêlos
propelentes deste tipo que também se não decompõem. Já, porém, a maioria das borrachas incha em contacto
com eles, sendo a borracha natural mais facilmente atacada. Os produtos sintéticos, corno o neopreno, são mais
resistentes. Observa-se, também, que a compatibilidade é tanto maior quanto mais elevado é o número de
átomos de flúor existentes na molécula do propelente.
Pelo que ficou dito se compreende que o C-318 seja dos propelentes mais estáveis até hoje obtidos, já que é
inteiramente fluorado (octofluorciclobutano).
Entre as alterações dos propelentes é de citar a sua possibilidade de reacção com a água, a qual leva à
hidrólise destes compostos com produção de ácidos corrosivos. De uma maneira geral, a hidrólise é lenta, mas
há propelentes mais facilmente decom-poníveis do que outros. O triclorofluormetano (Propelente 11) é muito
facilmente decomponível, pelo que se não utiliza para dispensar líquidos aquosos. Efectivamente, pode
hidrolisar-se com produção de ácido clorídrico.
Este propelente pode reagir com o álcool, formando-se aldeído acético, ácido clorídrico e cloreto de etilo
-/ !•- '
CCl-f + CM.-.OH ^ CH£HO + HC! + CHCIF ' ';iii"' " ' ''
CH,CHO + ,:C,H,OHf±CH,CH(OC,Hs), + H1O
C,H,OH + HC/ z± C,H,CJ + H,O '"
De uma maneira geral, quanto mais fluorado é o propelente menos hidrolisável se mostra. Os propelentes 318,
114 e 12 são considerados pouco decomponíveis, sendo de salientar a estabilidade do primeiro, que é
extremamente inerte.
Se a estabilidade aumenta normalmente com a substituição de átomos de cloro por flúor e com o número
total de átomos de flúor, observa-se que o poder dissolvente do composto varia em razão inversa. De um modo
geral, os propelentes contendo cloro e flúor apresentam melhores propriedades dissolventes do que os que só
contêm flúor.
A solubilidade depende, também, do peso molecular da substância a dissolver,
sendo mais solúveis os compostos apoiares com moléculas pequenas. Os propelentes 11,
142 h e 152 a são muito bons dissolventes, utilizando-se para dissolver fármacos como
a atropina, efedrina e tripelenamina. . . . . . .
1096
A Tabela CXXXVII indica a solubilidade de alguns propelentes em água, à pressão de 760 mm de mercúrio.
Finalmente, na Tabela CXXXVIII menciona-se a solubilidade da água nos propelentes líquidos mais
utilizados.
Alguns propelentes utilizam-se em mistura, ficando a tensão de vapor da mistura compreendida entre os
valores das tensões individuais, à temperatura considerada e dependendo das proporções dos compostos.
Suponhamos, por exemplo, uma mistura em partes iguais de Propelentes 11 (P.M. = 137,4) e 12 (P.M. =
120,9). As suas tensões de vapor em kg. cm 2 são, respectivamente, de 0,90 e de 5,73 (temperatura de 20°C).
1097
Atendendo a que a mistura contém 50% de um e 50% do outro, virá, em relação aos pesos moleculares:
50 50 • ,
Propelente 11:———— = 0,364; Porplente 12: ———— = 0,413
137,4 120,9
logo:
0,364
- = 0,468 (fracção molar do Propelente 11)
0,364 + 0,413
e
0,413
0,413 + 0,364 A tensão de vapor da referida mistura é dada por:
Triclorofluormetano 0,009
Diclorodifluormetano •' 0,0076
Monoclorodifluormetano 0,114
Dic lorotetrafluormetano 0,007
Diclorotetrafluormetano (assimétrico) 0,006
Monoclorodifl uoretano 0,054
~* Difluoretano 0,17
Octofluorciclobutano < 0,01 (')
C) Determinada a 30°C.
1098
pois no caso de soluções ideais a pressão de vapor total da mistura é igual à soma das fracções molares de cada
componente multiplicadas pela pressão de vapor do respectivo componente puro, à mesma temperatura.
A Fig. 378 representa o diagrama das tensões de vapor de várias misturas de Propelentes 11 e 12. Por
ele se pode verificar que, a 20°C, a mistura de 50%
de Propelente 11 com 50% de Propelente 12 origina uma pressão aproximada de 3,5 kg. cm"2.
Entre os gases liquefeitos poderiam ainda considerar-se hidrocarbonetos puros, como o butano, o propano e o
isobutano. Se a sua toxicidade é desprezável, o seu mau aroma e a sua inflamabilidade levam, porém, a recusá-los
para fins farmacêuticos. KANIC fala, contudo, da possibilidade de utilização de misturas de hidrocarbonetos com
derivados fluorados. Entre eles mostra-se promissora a associação de Propelente 318 com o isobutano, a qual não
é atacada em meio aquoso ácido ou alcalino.
Com o fim de estabilizar o Propelente 11 foi também patenteada a sua associação com o nitrometano (Freon 11
S), que se mostra mais resistente à hidrólise catalítica pêlos metais (Fe, Cu) e que apresenta menos possibilidades
de reagir com o etanol.
Como já atrás ficou dito, utilizam-se, como gases comprimidos, o azoto, o protóxido de azoto e o anidrido
carbónico.
A pressão desenvolvida pêlos gases comprimidos depende, em larga medida, da temperatura e da
quantidade de gás presente. Efectivamente, segundo a equação dos gases perfeitos será:
PV = nRT :
em que P é a pressão (em atmosfera), V o volume em litro, n o número de moléculas do gás (g/P.M), R a
constante dos gases (0,08205 litro. atm. grau"1. mole~') e T a temperatura absoluta (273 + t°C).
Em razão do que dissemos, compreende-se que a pressão do propelente diminua à medida que o aerossole
vai sendo dispensado. Isto não se verifica com os gases liquefeitos em que a pressão se mantém.
O azoto é utilizado em diversos aerossoles tanto para dispersão de sólidos como de líquidos. Pouco solúvel,
é compatível com a maioria dos compostos.
O protóxido de azoto é estável em presença dos oxidantes e da humidade. Usa-se muitas vezes associado ao
anidrido carbónico. Este último é relativamente inerte, mas a sua dissolução em água origina uma diminuição
do pH a qual pode não ser desejável. Tem-se utilizado em vários xaropes com que seja compatível (ácidos).
1100
Empregado, de preferência, para a produção em pequena escala, a ele se pode recorrer quando se
pretendem emulsionar óleos pouco viscosos ou essências. As proporções relativas de goma arábica, água e
essência são de 1:2:2 ou 1:2:3, observando-se, portanto, um incremento da quantidade de emulgente em
relação à anteriormente estipulada, em virtude da fraca viscosidade apresentada pêlos óleos essenciais.
Para preparar a emulsão agitam-se, energicamente, num frasco seco, l parte de goma arábica com 2 a 3
partes da essência e logo que a goma esteja perfeitamente misturada adicionam-se duas partes de água,
continuando a agitação até completa emulsificação. Na prática observa-se que a agitação a intervalos
irregulares é mais eficaz do que a agitação rítmica e contínua. Preparada a emulsão primária, ajunta-se a água
restante, a pouco e pouco, agitando, ainda, até homogeneização.
Quando o emulgente é um sabão ou um material saponoso hidrossolúvel pode recorrer-se à simples
agitação da sua solução aquosa com o óleo contido no frasco.
Estes processos que descrevemos para preparar emulsões de fase externa aquosa e que concretizámos com
a goma arábica como emulgente, são processos gerais que, com variantes adequadas a cada caso específico, se
empregam para a preparação das emulsões destinadas ao uso oral. Entretanto, pode dizer-se que a preparação
das restantes emulsões decorre em moldes muito semelhantes a estes. Sob a rubrica Formulário daremos
exemplos de diversas preparações que poderemos considerar típicas na tecnologia das emulsões.
Uma vez que o problema do planeamento e fabricação das válvulas transcende o domínio farmacêutico, não
pormenorizaremos a sua descrição. Para o estudioso que pretenda conhecer mais profundamente a sua
estrutura, aconselhamos a leitura da obra clássica de HERZKA e PICKTHALL — Pressurized Packaging (Aerosols) e a
de um artigo de TROADEC — Lês «volves» aérosols. Igualmente recomendamos a leitura de um interessante artigo
da autoria de DAVID J. HOWLETT publicado na Pharmaceutical Manufacturing International de 1990.
apresenta as suas dificuldades e, por isso, tal como para aqueles, a consideraremos em capítulo
separado.
Naturalmente que o enchimento dos recipientes de aerossoles apresenta dois pontos fundamentais:
acondicionamento das substâncias activas e adição dos propelentes.
Se o enchimento do recipiente com os princípios medicamentosos (soluções, suspensões, emulsões
e pós) é uma operação que não oferece qualquer dificuldade, já, pelo contrário, a adição dos
propelentes carece de equipamento especializado e processa-se segundo uma técnica delicada.
Os produtos activos da fórmula, como soluções, pós, suspensões e emulsões, são simplesmente
lançados nos recipientes abertos e a sua quantidade pode ser avaliada por pesagem. A adição dos
propelentes baseia-se, fundamentalmente, na sua facilidade de liquefacção, quer por diminuição da
temperatura até um valor inferior ao seu ponto de ebulição, quer por aumento de pressão para um
valor superior ao da sua tensão de vapor. Em qualquer dos casos o propelente ficará liquefeito. São,
portanto, dois os métodos para enchimento dos recipientes com os propelentes:
a) a frio; ,
b) por compressão.
que é aí que a sua circulação mais deficiente se tomará (tubo de saída, canalículos, válvulas, etc.).
d) Diâmetro das partículas — São variados os processos a que se recorre para determinar o
diâmetro médio das partículas constituintes de um aerossole porquanto este pode ser originado por
um pó, por suspensões e por emulsões. Entre os métodos mais utilizados, figuram os que
seguidamente expomos.
Microscopia
Emprega-se o microscópio óptico ou variantes em que se melhore o seu poder de resolução (luz
ultravioleta ou monocromática do sódio), o ultramicroscópio e o microscópio electrónico que permite
avaliar partículas até 0,001 ji.
Todos estes processos têm o inconveniente de serem fastidiosos, requerendo que se analise grande
número de partículas para que os resultados possam ser estatisticamente significativos.
Método fotométrico
Se fizermos incidir sobre um aerossole um facho de luz de intensidade bem determinada, verifica-
se que a luz transmitida, é, entre outras variáveis, dependente do tamanho das partículas dispersas.
Neste princípio se fundamentam alguns dos processos de determinação do diâmetro de partículas,
que KANIG, na revisão de conjunto já assinalada, descreve em pormenor.
1108
Tem imenso interesse verificar a variação do tamanho das partículas dispersas durante a
armazenagem de um aerossole por um período prolongado. Efectivamente, observa-se, em muitos casos,
um aumento de diâmetro como se tivesse havido verdadeiro crescimento das partículas. IRVINO PORUSH e
colaboradores, num interessante artigo, chamam a atenção para o facto mencionado.
Fármacos ........................................................ 10 g
Propelente 12/11 (50:50).................... q.b.p. 100»
ou
Fármacos ........................................................ 1-5 g 5
Cossolventes ..................................................10 »
Propelentes 12/11 (50:50) ..................q.b.p. 100 »
Tanto o tipo dos propelentes como a sua quantidade podem variar de fórmula para fórmula, mas é
sempre necessário empregá-los numa proporção muito superior à dos restantes constituintes da
preparação.
1109
Como se vê, este sistema de aerossole trifásico apresenta uma reduzida quantidade de propelente
(8%), em oposição ao que acontecia com os aerossoles bifásicos (80-90%). Esta fórmula origina
espuma estável.
Ainda neste tipo de aerossoles trifásicos têm-se proposto várias fórmulas de uso geral.
Transcrevemos uma base que origina espuma que se destrói rapidamente:
. Etanol ............................................................ 46-66 g .*.,.•
Tensioactivo .................................................. 0,5-5 » ; ,,
Água .............................................................. 28-42 »
Propelente ...................................................... 3-15 g .
Trata-se, pois, de uma base com características muito diferentes da anterior.
Enquanto que, agora, a espuma do aerossole desaparece quase após a aplicação, nos
aerossoles que tínhamos precedentemente citado a espuma permanece durante algum
tempo. Naturalmente que a estabilidade da espuma é desejável quando se pretende, por
exemplo, preparar um sabão de barba. Pelo contrário, é preferível um aerossole cuja
espuma desapareça rapidamente, sempre que a sua administração se processe numa zona
ulcerada ou queimada da pele. ,., .,-,-,,• : •
verifica que este tipo de aerossole é constituído por sistemas de duas fases em que se dispersam pós
micronizados ou líquidos.
A pressão interna do recipiente afecta de modo notável o diâmetro das partículas obtidas, sendo
estas tanto menores quanto mais elevada é a pressão interior. PORUSH e colaboradores, no artigo a
que já fizemos referência, citam as variações de diâmetro de partículas de isoproterenol, consoante a
pressão interna é de 45 ou de 80 psig. Na Tabela CXXXIX indica-se a citada variação
Nesta fórmula, o fármaco presente é a adrenalina que se utiliza como antiasmático. O ácido
clorídrico é empregado para dissolver a adrenalina sob a forma de cloridrato. A fim de impedir a
transformação do fármaco em adrenocromo, por oxidação, junta-se o ácido ascórbico que
desempenha a função de redutor. Os dissolventes são a água e o álcool.
Uma fórmula utilizada como dilatador das coronárias é a que passamos a trans
crever: ' .: ,-:•: :,ur,.' i ,,.. , , ., . , 1 .., .
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1115
1116
índice
1117
1118
1119
I Parte
TÉCNICA FARMACÊUTICA
L— INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................... 17
2. —OPERAÇÕES FARMACÊUTICAS DE USO GERAL ........................................................................................ 21
2.1. — Pesagem.......................................................................................................................................................... 21
2.1.1. — Balanças de precisão .......................................................................................................................... 21
2.1.2.— Pesos .................................................................................................................................................... 22
2.2. — Medição de volumes de líquidos ................................................................................................................ 22
2.2.1. — Instrumentos utilizados ..................................................................................................................... 22
2.2.2. — Conta-gotas normal ............................................................................................................................ 23
2.2.3. — Correspondência entre peso e volume ............................................................................................ 26
2.2.4. — Medição de doses de medicamentos................................................................................................ 28
Pag.
5. — OPERAÇÕES MECÂNICAS DE DIVISÃO .......................................................................................................... 107
5.1. — Divisão de sólidos ........................................................................................................................................ 107
5.1.L —Generalidades ...................................................................................................................................... 107
5.1.2. — Divisão grosseira ................................................................................................................................ ]09
5.1.2.1. —Por secção.............................................................................................................................. 109
5.1.2.2. — Por contusão .......................................................................................................................... 110
5.1.2.3. — Por rasuração ..................................................................:..................................................... 111
5.1.2.4. — Por granulação ...................................................................................................................... 111
5.1.2.5.—Por extinção .......................................................................................................................... 112
5.1.3. — Pulverização ........................................................................................................................................ 112
5.1.3.1. — Operações preliminares ...........................—.—...................................................................... 113
5.1.3.1.1. — Triagem ou monda .............................................................................................. 113
5.1.3.1.2.— Divisão grosseira .................................................................................................. 113
5.1.3.1.3. — Secagem ................................................................................................................ 113
5.1.3.1.4.—Amolecimento ...................................................................................................... 114
5.1.3.1.5. — Estabilização .......................................................................................................... 115
5.1.3.1.6.— Métodos de estabilização .................................................................................... 118
5.1.3.1.6.1.—Destruição dos enzimas pelo álcool à ebulição .......................... 118
5.1.3.1.6.2.—Destruição dos enzimas pelo calor húmido .................................. 120
5.1.3.1.6.3.— Outros métodos ................................................................................ 122
,. - 5.1.3.2. — Operação principal ou pulverização propriamente dita....................................................
123
5.1.3.2.1.— Pulverização em almofariz .................................................................................. 123
5.1.3.2.1.1. —Por contusão...................................................................................... 124
5.1.3.2.1.2. —Por trituração .................................................................................... 125
5.1.3.2.2.— Pulverização por intermédio ................................................................................ 125
. 5.1.3.2.2.1.—Intermédios sólidos ..........................................................................
125
5.1.3.2.2.2.— intermédios líquidos .......................................................................... 126
5.1.3.2.2.3.—Intermédios gasosos .......................................................................... 126
:••;, 5.1.3.2.3. —Pulverização por fricção ......................................................................................
126
5.1.3.2.4. — Pulverização química ............................................................................................ 127
; 5.1.3.2.5. — Porfirização............................................................................................................
128
5.1.3.2.6. — Pulverização por moinhos .................................................................................. 128
--i 5.1.3.2.6.1. — Moinhos manuais ..............................................................................
129
5.1.3.2.6.2. — Moinhos accionados por motores .................................................. 129
5.1.3.2.6.2.1. —Moinhos de laboratório ............................................ 129
5.1.3.2.6.2.2.— Moinhos de tipo industrial ...................................... 130
5.1.3.3. — Operações acessórias da pulverização ................................................................................ 140
5.1.3.3.1. —Tamisação .............................................................................................................. 140
:••• . 5.1.3.3.1.1. —Classificação dos pós ...................................................................... 142
5.1.3.3.1.2. — Determinação do grau de tenuidade de um pó .......................... 143
5.1.3.3.2. — Trociscação ............................................................................................................ 145
5.2. — Pulverização de substâncias moles ou polpação ...................................................................................... 145
5.3. — Divisão de líquidos ou emulsificação ........................................................................................................ 147
5.3.1. —Generalidades ...................................................................................................................................... 147
5.3.2. —Tipos de emulsões.............................................................................................................................. 148
-•"'. 5.3.2.1. — Determinação dos tipos de emulsões ................................................................................ 148
- ' 5.3.3. — Teoria das emulsões .......................................................................................................................... 150
.. -7 5.3.4. — Agentes emulsivos .............................................................................................................................. 152
"- 5.3.4.1. — Equilíbrio hidrófilo-lipófllo .................................................................................................. 156
5.3.4.2.—Classificação dos agentes emulsivos .................................................................................. 159
1122
Pág.
5.3.5. — Preparação de emulsões .................................................................................................................... 162
5.3.5.1. — Agitação manual ................................................................................................................. 162
5.3.5.2. — Agitação mecânica................................................................................................................ 163
/; 5.3.5.2.1.—Moinhos coloidais ................................................................................................
164
5.3.5.2.2. — Homogeneizadores........,...,................................................................................... 164
5.3.6. — Estabilidade das emulsões ................................................................................................................ 166
5.3.6.1. — Floculação c formação de creme ...................................................................................... 166
5.3.6.2.— Coalescência e separação das fases .................................................................................. 169
5.3.6.3. — Relação ente o volume das fases ...................................................................................... 170
5.3.6.4. — Inversão das fases ................................................................................................................ 170
6. —OPERAÇÕES FÍSICAS EXIGINDO A INTERVENÇÃO DO FRIO OU DO CALOR.................................. 173
6.1.—Refrigeração ................................................................................................................................................ 173
6.1.1. — Generalidades...................................................................................................................................... 173
6.1.2. — Métodos de refrigeração .................................................................................................................... 174
6.1.2.1. — Refrigeração por aumento do calor sensível do refrigerante ........................................ 174
6.1.2.2. — Refrigeração por mudança de fase c absorção de calor ................................................ 176
6.1.2.2.1. — Refrigeração por calor de fusão ........................................................................ 176
6.1.2.2.2.— Refrigeração por calor de vaporização ............................................................ 178
6.1.2.2.3. —Refrigeração por calor de sublimação .............................................................. 178
6.1.2.2.4.— Refrigeração por calor de dissolução ................................................................ 179
6.2. — Evaporação .................................................................................................................................................... 180
6.2.1. — Generalidades ...................................................................................................................................... 180
6.2.2. —Factores que influenciam a evaporação .......................................................................................... 180
6.2.3. —Processos de evaporação .................................................................................................................. 181
6.2.3.1. —Evaporação espontânea .......,....................i........................................................................... 18)
6.2.3.2. — Evaporação pelo calor ........................................................................................................ 181
6.2.3.3. — Evaporação sob pressão reduzida ...................................................................................... 185
6.3. — Secagem e exsicação.................................................................................................................................... 189
6.3.1. —Secagem ............................................................................................................................................ 189
6.3.2. — Secagem de gases .............................................................................................................................. 189
6.3.2.1. — Secagem por adsorção ........................................................................................................ 189
6.3.2.2. — Secagem por contacto com substâncias higroscópicas .................................................... 190
6.3.3. — Secagem de líquidos .......................................................................................................................... 191
6.3.3.1, — Secagem por destilação ...................................................................................................... 191
;
• 6.3.3.2. — Secagem por contacto com substancias higroscópicas .................................................... 192
6.3.4. —Secagem de sólidos .......................................................................................................................... 193
6.3.4.1. — Generalidades ........................................................................................................................ 193
6.3.4.2. — Processos de secagem .......................................................................................................... 194
6.3.4.2.1. — Exposição ao ar livre .......................................................................................... 194
6.3.4.2.2. — Secagem pelo ar seco à temperatura ambiente .............................................. 195
6.3.4.2.3. — Secagem pelo ar quente ...................................................................................... 196
6.3.4.2.4. — Secagem por radiações infravermelhas .............................................................. 202
6.3.5. — Exsicação .......................................................................................................................................... 203
6.3.6. — Conservação das substâncias secas .................................................................................................. 203
6.4. — Liofilização .................................................................................................................................................... 205
6.4.1.—Generalidades ...................................................................................................................................... 205
6.4.2. — Teoria da liofilização ........................................................................................................................ 208
6.4.2.1. —Fenómenos físicos da congelação ...................................................................................... 210
6.4.2.1.1. — Cristalização da água ......................................................................................... 210
1123
1125
1125
II Parte
FARMÁCIA GALÉNICA
Pag.
5.4.9. — Administração geniturínária ............................................................................................................ 549
4.3.9.1 —Bexiga c uretra .................................................................................................................... 549
'•"' 4.3.9.2. —Vagina e útero ....................................................................................................................
549
4.3.10. — Administração parenteral............................................................................................................... 550
"•"' 4.3.10.1. —Via intradérmica................................................................................................................
553
4.3.10.2. —Via subcutânea.................................................................................................................. 553
'• 4.3.10.2.1.—Medicamentos líquidos .................................................................................. 554
4.3.10.2.2. —Medicamentos sólidos .................................................................................... 556
4.3.10.2.2.1. — Forma geométrica e superfície ................................................ 556
•-' - •• •• 4.3.10.2.2.2.—Acidez ou basicidade ..............................................................
557
4.3.10.2.2.3. — Solubilidade................................................................................ 557
4.3.10.2.2.4. — Fagocitose .................................................................................. 558
4.3.10.2.2.5.— Encapsulação............................................................................. 55»
4.3.10.3. — Via intramuscular.............................................................................................................. 558
4.3.10.3.1. — Soluções aquosas............................................................................................ 560
4.3.10.3.2. — Soluções oleosas ............................................................................................ 561
4.3.10.3.3.— Outras soluções .............................................................................................. 562
4.3.10.3.4. — Suspensões ...................................................................................................... 563
'" 4.3.10.4.— Via endovenosa ................................................................................................................ 564
1
4.3.10.4.1. —Lesões locais .................................................................................................. 567
4.3.10.4.2. — Fenómenos infecciosos .................................................................................. 567
4.3.10.4.3. — Fenómenos térmicos ...................................................................................... 567
4.3.10.4.4. — Fenómenos nervosos ...................................................................................... 568
-~": 4.3.10.5.— Via intra-arterial ................................................................................................................
568
' '' 4.3.10.6. — Via intrarraquídea ............................................................................................................
569
'' 4.3.10.6.1. — Via subaracnoidea..........................................................................................
:
570
'' 4.3.10.6.2.— Via epidural ....................................................................................................
572
4.3.10.7. —Via intraperitoncal ............................................................................................................ 573
4.3.10.8. — Intrapleural ........................................................................................................ 573
4.4. — Posologia........................................................................................................................................................ 574
5. — BIODISPONIBILIDADE .......................................................................................................................................... 581
5.1. —Factores fisiológicos ...................................................................................................................................... 582
5.2. —Factores físico-químicos .............................................................................................................................. 583
5.2.1. — Natureza da forma em que se encontra o fármaco ...................................................................... 583
5.2.2. — Estado físico do fármaco .................................................................................................................. 584
5.3. — Factores farmacotëcnicos .............................................................................................................................. 585
••
*_•*, 7.2.1.2.10.—Verificação dos comprimidos.............................................................................. 757
7.2.1.2.10.1. — Determinações físicas .................................................................... 757
7.2.1.2.10.2. —Princípios activos ............................................................................ 784
7.2.1.2.11.— Formulário dos comprimidos .............................................................................. 788
7.2.1.3. — Drugeias.................................................................................................................................. 800
7.2.1.3.1. —História e generalidades ...................................................................................... 800
7.2.1.3.2. — Drageificação ........................................................................................................ 801
7.2.1.3.2.1. — Aparelhagem ...................................................................................... 801
7.2.1.3.2.2.— Fases da drageificação .................................................................... 804
7.2.1.3.2.3. — Processos especiais de drageificação.............................................. 810
7.2.1.3.2.3.1.— Processos rápidos de drageificação clássica ............ 811
*''-———•• : 7.2.1.3.2.3.2. —Revestimentos especiais ............................................ 812
-•:" ••••••- 7.2.1.3.2.3.3.— Drageificação por compressão.................................. 820
'-^ " 7.2.1.3.2.3.4. — Drageificação por suspensão no ar ........................ 823
^ ' .; .--•'• 7.2.1.3.2.3.5. — Drageificação por fixação electrostática de pós .... 824
*»'* 7.2.1.3.2.3.6.— Drageificação automatizada ...................................... 824
*''
:>
7.2.1.3.3. —Verificação de drageias ...................................................................................... 828
7.2.1.4. — Pílulas, grânulos e bolos...................................................................................................... 832
*"'-' 7.2.1.4.1. —Pílulas .................................................................................................................... 832
7.2.1.4.1.1. —Generalidades .................................................................................... 832
" -..v 7.2.1.4.1.2. — Excipientes ........................................................................................ 833
7.2.1.4.1.2.1. — Excipientes aglutinantes ............................................ 834
' ... 7.2.1.4.1.2.2. — Excipientes absorventes ............................................ 836
7.2.1.4.1.2.3.—Excipientes líquidos .................................................. 838
• :Jí 7.2.1.4.1.3. —Preparação das pílulas...................................................................... 839
7.2.1.4.1.3.1. —Processo clássico de obtenção ................................ 839
7.2.1.4.1.3.2.— Preparação industrial.................................................. 843
7.2.1.4.1.4.—íncompatibilidades e dificuldades na preparação das pílulas...... 850
7.2.1.4.1.5. — Revestimento de pílulas .................................................................. 852
7.2.1.4.1.5.1. — Revestimentos gastrossolúveis .................................. 853
7.2.1.4.1.5.2. — Revestimentos gastro-resislentes .............................. 856
7.2.1.4.1.6. — Ensaio das pílula» ............................................................................ 859
7.2.1.4.1.7. — Acondicionamento ............................................................................ 860
. . . 7.2.1.4.2.— Grânulos ................................................................................................................ 861
7.2.1.4.3. —Bolos...................................................................................................................... 863
7.2.1.5.— Biscoitos ................................................................................................................................ 865
;'"; 7.2.1.6. — Chocolates.............................................................................................................................. 865
7.2.1.7. — Pastilhas.................................................................................................................................. 866
7.2.1.7.1. —Generalidades........................................................................................................ 866
7.2.1.7.2. — Preparação das pastilhas ...................................................................................... 867
7.2.1.7.2.1.—Pastilhas contendo mucilagens e açúcar ........................................ 867
7.2.1.7.2.1.1. —Preparação da mucilagem ........................................ 868
• 7.2.1.7.2.1.2. —Preparação da pasta .................................................. 869
7.2.1.7.2.1.3. —Divisão da pasta........................................................ 869
*'•' 7.2.1.7.2.1.4.— Secagem ...................................................................... 873
:
' '- - 7.2.1.7.2.2. — Pastilhas com elevada percentagem de gomas ............................ 873
i?r. ii*> • 7.2.1.7.2.3. — Pastilhas sem mucilagem j com açúcar........................................ 875
*-' 7.2.1.7.2.4. — Pastilhas contendo gelatina.............................................................. 875
" , 7.2.1.7.3.—Fabricação industrial de pastilhas ...................................................................... 876
7.2.1.7.4. —Alterações das pastilhas ...................................................................................... 877
7.2.1.7.5.—Verificação das pastilhas .................................................................................... 878
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