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A CÓLERA E O FÍGADO
A irritação pode ser ressentimento, cólera retida ou estado que não se confessa
como cólera. É um bloqueio. Os sopros do Fígado estão bloqueados, por uma razão
ou por outra, e os sentimentos também não mais se expressam e não evoluem, a
psicologia está bloqueada, existem espécie de nós no pensamento e no afetivo.
Estes mesmos sopros, por seu bloqueio, acarretam dores nas costelas.
Existe uma relação natural entre vento e cólera, porque seus sopros são análogos
àqueles da Madeira. O vento não é a cólera do Céu? Não é, portanto,
surpreendente de encontrar a irritação, a tendência a se encolorizar, como o
resultado da presença do vento, em particular quando os ventos afetam os dois
órgãos yang do corpo, o Fígado-Madeira e o Coração-Fogo, suscetíveis de
reagir facilmente e prontamente à sua excitação.
“Aqueles que são corajosos [.....] seu Fígado é grande e firme, sua Vesícula Biliar é
plena à saciedade; quando se colocam em cólera, os sopros sobem poderosamente
e o peito se dilata. O Fígado se levanta e a Vesícula está plena à transbordar, os
cantos dos olhos se dobram e o olho se levanta, os pêlos se eriçam e o rosto está
verde; eis de onde vem a coragem. [.....] Aqueles que são covardes [.....] sua
Vesícula Biliar não está plena mas sim relaxada [.....]; mesmo se eles estão em
uma grande cólera, seus sopros não conseguem preencher seu peito. Fígado e
Pulmão se levantam bem, mas os sopros decrescem e caem novamente: é por isso
que eles não conseguem ficar muito tempo em cólera; vem daí a covardia.”
(Lingshu 50)
O texto acrescenta que beber bebidas alcólicas pode inchar o Fígado, dar coragem,
estimular a cólera; mas uma vez que os efeitos do álcool tenham se dissipado,
nada permanence.
Da mesma maneira, no Lingshu 46, apresenta-se um indivíduo que tem uma
fraqueza constitutiva do yin e uma tendência patológica à deterioração dos líquidos
corporais; ele é então sujeito a uma espécie de calor interno, que enfraquece os
Cinco zang e gera rigidez e tensão, uma força indevida e nociva do yang. Tal
indivíduo é muito sensível à irritação, nervosismo, ansiedade, cólera.
Nesta mesma configuração de uma subida violenta dos sopros do Fígado, pode-se
também observar sintomas como a facilidade a esquecer o que se diz ou faz (cf
mais à frente Lingshu, cap. 8). Os efeitos da cólera alcançam o Coração e a
consciência, acarretam a perca da posse de si e da razão em uma raiva que se
torna fúria. Pode-se também observar os efeitos de um sangue massivamente
levado em direção ao alto e que faz pressão sobre os capilares do olho e as
circulações do cérebro provocando síncopes com hemorragia cerebral, espasmos
cerebrovasculares… É a flexão por pressão (bo jue 薄厥 ):
‘Os sopros yang, vítimas de uma violenta cólera (da nu 大怒), corpo e sopros são
interrompidos; o sangue é levado massivamente em direção ao alto, de maneira
que as pessoas são vítimas do refluxo pela pressão.” (Suwen 3)
O DANO AOS RINS
Pela cólera que se infla, os Rins não mais podem assegurar o seu movimento,
análogo ao elemento Água: atrair e guardar nas profundezas, para nutrir os
fundamentos da vida e permitir um impulso e um desenvolvimento contínuos e
frutíferos. O dano ao espírito específico dos Rins, à vontade (zhi 志), produz
descontinuidade da personalidade. Reestabelecer os Rins restaura então a
consciência de si, necessariamente e imediatamente, em um sujeito que não está
mortalmente prejudicado.
Os efeitos do enfraquecimento dos Rins podem alcançar os osso e, mais
particularmente, o seu lugar de comando eminente que se encontra na região
lombar e, além de lá, toda a coluna vertebral. Se os Rins se esvaziam, suas
essências já não podem nutrir a medula e reconstruir os ossos; nenhum movimento
é possível, mais nenhuma flexibilidade. Isso vai de acordo com a idéia que se faz
da cólera: ela tem a reputação de enrigecer e não flexibilizar, imobilizar sobre suas
posições e não se voltar e se deslocar. Ora, a cólera se gera também de uma
erupção do yang do Fígado mal contido pelas essências, que são, por exemplo,
insuficientemente fornecidas pelos Rins.
A vontade faz mover o ser sem rigidez, com, ao contrário, flexibilidade em todas as
atitudes, para apoiar o pensamento sem o enrijecer. A vontade é a força profunda,
a estruturação mental, que se expressa, fisicamente, através dos ossos e,
principalmente, daqueles que estruturam e mantém o corpo, da base do tronco à
cabeça: a coluna vertebral. A cólera, esvaziando o baixo, prejudica tanto a vontade
quanto a ossatura, pela deterioração das essências. A estruturação, da vontade ou
do osso, é o contrário da rigidez; é a flexibilidade eficaz, o movimento forte, pois é
exato, como aquele de um ginasta, como aquele de um mestre de artes marciais.
Quando a vontade está prejudicada, há perca da lembrança do que se acabou de
dizer, quando os ossos estão prejudicados, a continuidade do ser está lesada; já
não se consegue manter uma vontade, nem tender em direção a um objetivo,
nem fornecer a tensão geral e coerente do movimento vital. A vida está sob tensão,
como tudo que é orgânico. Em tal situação, o controle da vida é impossível:
“Na cólera crescente, nós nos perturbamos e nos desviamos; portanto, nada mais
está sob controle. [...........] Quando os Rins são acometidos por uma cólera que
cresce sem poder parar, a vontade é prejudicada. Quando a vontade está
prejudicada, o indivíduo não consegue sequer se lembrar do que acabou de dizer, a
região lombar e a espinha dorsal não podem nem pender para frente, nem pender
para trás, nem dobrar-se, nem endireitar-se. Os pêlos se tornam quebradiços e
aparecem todos os sinais da morte prematura. Morre-se no extremo do verão.”
(Lingshu 8)
Mencionemos igualmente que um vazio da Água dos Rins acarreta uma insuficiência
das essências e, portanto, do sangue que nutre o Fígado. Em consequência, tem-se
um estado que acarreta a irritabilidade; mas no qual o vazio ao nível dos Rins traz
seu próprio toque, que se traduz por um enfraquecimento geral e o aparecimento
do fogo que se beneficia do vazio do yin.
O DANO SUPERFICIAL