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ESCOLA DE MINAS
OURO PRETO – MG
2021
ii
OURO PRETO – MG
2021
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 621
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
FOLHA DE APROVAÇÃO
Rafael Victor Pires Costa
Caracterização do comportamento mecânico de engrenagens poliméricas produzidas por manufatura aditiva
Documento assinado eletronicamente por Diogo Antonio de Sousa, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em 09/08/2021, às 09:42, conforme
horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.007896/2021-88 SEI nº 0202680
AGRADECIMENTO
À minha família por ter me apoiado e acreditado em mim.
Aos meus amigos, em especial Paulo, Marcelo e Maria Raquel pelas boas conversas e
momentos sinceros de amizade.
Às repúblicas Academia da Cachaça e Forasteiras, que foram os locais nos quais passei boa
parte da graduação.
Ao professor Washington Vieira por ter me acolhido no segundo período como seu
orientando, e pelas orientações ao longo do curso.
Ao meu orientador, professor Diogo, pelo incentivo, paciência e compartilhamento do
conhecimento.
A special thanks to Dr. Hans-Jörg Dennig, Simon Winterberg and the whole ZPP-ZHAW
department for the shared knowledge, patience, orientation and for making this work
possible.
i
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo o estudo do comportamento mecânico de engrenagens
compostas por polímeros e produzidas por manufatura aditiva. O uso de novos materiais na
engenharia, em especial os polímeros, se intensificou a partir da década de 1980. Esta classe
de materiais compõe desde de peças estruturais até engrenagens, e têm sido amplamente
utilizados na engenharia. Entretanto, não há ainda informação relevante sobre a performance
de engrenagens compostas por polímeros. Para tal, 60 engrenagens foram disponibilizadas por
uma empresa do ramo de polímeros para que fossem ensaiadas e analisadas. As engrenagens
foram submetidas à análise de qualidade dimensional, à ensaios de fadiga e análise
tribológica, em um ambiente de temperatura controlado, sob duas temperaturas distintas.
Todos os testes foram realizados conforme a norma VDI 2736-4. Os resultados apontaram
que as engrenagens tiveram baixa qualidade dimensional, de acordo com a norma DIN 3963,
sendo que a maioria se situou fora do intervalo de referência da norma (“>12”). Os ensaios de
fadiga e análise tribológica mostraram que as engrenagens falham por fadiga antes de
falharem por desgaste, sendo os modos de falha fusão e deformação. Um acréscimo na
temperatura de referência de 50°C reduziu a resistência a fadiga em 30%. As análises também
demonstraram que o material empregado nas engrenagens é mais resistente ao desgaste do
que ABS e PA, e mais resistente à fadiga do que o ABS e o PLA; materiais frequentemente
utilizados na manufatura aditiva. Desta forma, os testes de fadiga e análise tribológica
caracterizaram o comportamento mecânico das engrenagens, definindo modo de falha e vida
útil.
ABSTRACT
This work aimed to study the mechanical behavior of gears composed of polymers and
produced by additive manufacturing. The use of new materials in engineering, especially
polymers, has been intensified from the 1980s onwards. This class of materials ranges from
structural parts to gears, and have been widely used in engineering. However, there is still no
relevant information about the performance of gears composed of polymers. To this end, 60
gears were made available by a polymer producer company for testing and analysis. The
gears were submitted to dimensional quality analysis, fatigue tests and tribological analysis,
in a controlled temperature environment, at two different temperatures. All tests were carried
out in accordance with the VDI 2736-4 standard. The results showed that the gears had low
dimensional quality, in accordance with DIN 3963, and most of them were outside the
reference range of the standard (“>12”). Fatigue tests and tribological analysis showed that
gears fail due to fatigue before failing due to wear and the failure modes were melting and
deformation. An increase of 50°C at the reference temperature reduced fatigue strength by
30%. The analysis also showed that the material used in the gears is more wear resistant than
ABS and PA, and more fatigue resistant than ABS and PLA; materials often used in additive
manufacturing. Thus, fatigue tests and tribological analysis characterized the mechanical
behavior of the gears, defining failure mode and useful life.
Key-words: Fatigue. Gear. Testing. Wear coefficient. Gear additive manufacturing. VDI
2736.
iii
LISTA DE SÍMBOLOS
b: Largura da face (mm)
LISTA DE SIGLAS
ABS: Acrilonitrila butadieno estireno
PA-6: Náilon 6
PA-66: Náilon 66
PC: Policarbonato
PEEK: Poli(éter-éter-cetona)
PET: Poliéster
POM: Poliacetal
PU: Puliuretano
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................ 5
2.4 Fadiga......................................................................................................................... 18
3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 26
5.1 Conclusão................................................................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO
1.1. Formulação do Problema
Durante boa parte do século XX, os metais tiveram a maior importância relativa dentre
os outros materiais de engenharia, de acordo com Ashby (2012). Conforme é possível
observar na Figura 1, a partir da década de 1960, este comportamento começou a alterar-se. O
desenvolvimento de novas ligas metálicas tornou-se mais lento e, em contrapartida, a
indústria dos polímeros e dos compósitos começou a se desenvolver rapidamente, com
projeções apontando para o uso cada vez maior destes materiais.
Mano (1995, p.4) define os plásticos de engenharia “como polímeros que podem usados
para aplicações de engenharia, como engrenagens e peças estruturais, permitindo seu uso em
substituição a materiais clássicos, particularmente metais”. Ashby (2012) explica que poucos
polímeros têm resistência útil acima de 200°C, entretanto salienta que os polímeros são tão
bons quanto os metais, possuem boa resistência por unidade de peso, são resistentes à
corrosão e têm baixo coeficiente de atrito.
comparações com outras unidades, como correias, cabos e correntes, porque há menos
escorregamento entre os dentes de duas engrenagens do que ocorre nos outros dispositivos
citados. Ainda segundo Singh (2017), engrenagens poliméricas podem substituir engrenagens
metálicas em aplicações de baixa carga. Mao et al (2015) ressalta que as engrenagens
poliméricas oferecem grande potencial para aplicações de alta tecnologia e vantagens únicas
sobre engrenagens de metal, como: baixo custo de manufatura, baixo peso específico, alta
eficiência, funcionamento sem lubrificação externa e quietude na operação.
Singh (2017, p.1) diz que “geralmente, as engrenagens de polímero são fabricadas por
moldagem por injeção ou usinadas a partir de uma haste”. Conforme Dennig et al (2021), o
uso de manufatura aditiva no campo da produção de engrenagens, de forma geral, está se
expandindo. O autor explica que engrenagens plásticas também são produzidas a partir da
manufatura aditiva, utilizando sinterização a laser seletivo, e são tão confiáveis quanto
àquelas produzidas a partir da moldagem por injeção.
1.2. Justificativa
Não existe no momento um grande volume de informação disponível sobre a
performance de engrenagens poliméricas, no que diz respeito ao ciclo de vida e ao
comportamento mecânico destas.
1.3. Objetivos
1.3.1. Geral
Caracterizar o comportamento mecânico de engrenagens poliméricas produzidas por
manufatura aditiva através de ensaios de fadiga e análise tribológica.
1.3.2. Específicos
Realizar um estudo bibliográfico sobre as propriedades geométricas relevantes das
engrenagens, os tipos e aplicações de polímeros na engenharia, métodos de produção
e utilização de engrenagens poliméricas, fadiga, coeficiente de desgaste e modos de
falhas típicos de engrenagens plásticas;
Elaborar fluxograma contendo o passo-a-passo adotado na condução dos testes;
4
E por fim, o quinto capítulo encerra o trabalho com as conclusões e recomendações para
trabalhos futuros.
5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Engrenagens: visão geral
As engrenagens têm sido utilizadas por mais de três mil anos na transmissão de energia
e movimento sob diferentes cargas e velocidades (MEHAT; KAMARUDDIN; OTHMAN,
2013). A transmissão de movimento a partir de um par de engrenagens permite alterar a
velocidade angular, o torque, como também a direção de movimento de um eixo em relação a
outro. Devido à sua geometria, as engrenagens permitem a redução ou o aumento do
momento de torção, com perdas pouco significativas de energia, já que não permitem
patinação (GASPARIN, 2004).
Melegari (2017, p. 26) define engrenagens como “rodas com dentes padronizados, que
servem para transmitir força e movimento entre eixos. Elas trabalham em pares, onde o dente
de uma engrenagem se encaixa o vão de outra engrenagem”. Dentre as variadas combinações
de geometria, é possível classificar as engrenagens em quatro tipos principais, de acordo com
Budynas & Nisbett (2016). São eles:
presentes no caso de dentes retos. Podem também ser utilizadas para transmitir
movimentos entre eixos não paralelos.
Par pinhão-coroa sem fim: são utilizadas para transmitir movimento rotativo entre
eixos não paralelos e eixos não intersectastes, conforme Figura 5. São mais
comumente usados quando as razões de velocidade dos dois eixos forem bastante
altas, sendo como exemplo 3 ou mais.
7
Flores & Gomes (2014) também afirmam que é possível definir completamente uma
engrenagem tendo-se o módulo e o número de dentes. As terminologias das engrenagens
cilíndricas de dentes retos podem ser vistas na Figura 7. Estas nomenclaturas são definidas
abaixo, de acordo Budynas & Nisbett (2016, p.658):
Figura 9: Efeito do ângulo de pressão no perfil do dente: (a) 14,5°; (b) 20°; (c) 25°.
Fonte: Adaptado de Flores & Gomes (2014)
Ainda segundo Padilha (2000), os polímeros podem ser classificados em três grupos
principais. Os termoplásticos podem ser repetidamente conformados mecanicamente desde
que aquecidos, podendo ser processados por métodos tradicionais, como laminação, injeção e
extrusão. Os chamados termorrígidos se tornam infusíveis após o primeiro aquecimento, ou
seja, o produto final é duro e não amolece mais com o aumento da temperatura. E por último,
existem os elastômeros (borrachas), sendo materiais que se alongam elasticamente de maneira
acentuada até sua temperatura de decomposição e mantém suas características em baixa
temperaturas. São exemplos típicos dos elastômeros: borracha natural, neopreno, borracha de
butila e borracha de nitrila.
água, resistência à fricção e abrasão e alta resistência à fadiga. O poliacetal se funde a 180°C
e possui temperatura de transição vítrea (temperatura em o polímero começa a amolecer) de
82°C (MANO, 1995). A boa estabilidade dimensional deste material é atribuída à sua baixa
absorção de umidade. O poliacetal retém a maior parte de suas propriedades, mesmo quando
imerso em água quente (SINGH, 2017).
Segundo Carrasai (2016, p. 3) “as poliamidas (PA), também conhecidas como náilons,
são seguidas de um número, que se refere à quantidade de carbonos do aminoácido do qual foi
originado o polímero. Os principais tipos de poliamidas utilizadas são PA-6 e PA-66”. Este
material é classificado como um termoplástico devido a alta resistência mecânica e
estabilidade dimensional. São plásticos de engenharia de uso geral com aplicação em
ventiladores para refrigeração de motores, velocímetros, cabos de martelo e até rodas de
bicicleta (Gasparin, 2004). Possui boa resistência mecânica a fadiga, a impacto repetido e a
abrasão, como também baixo coeficiente de fricção (MANO, 1995). Adicionalmente, segundo
Carrasai (2016, p.3)” a presença da água funciona como um plastificante do PA6, reduzindo a
resistência mecânica e rigidez, mas aumentando a resistência ao impacto e tenacidade”.
Figura 11: Roda dentada de nylon da transmissão por correia da moto de corrida
Fonte: Gasparin (2004)
Outros aspectos são referentes às engrenagens poliméricas são descritos por Singh
(2017). O ruído gerado durante a operação só depende da velocidade, isto é, independente do
torque. Neste caso, o ruído é proporcional à velocidade de rotação, com a exceção do
Poliacetal (POM), que tem relação inversa com a velocidade de rotação. Além disso, o
acréscimo da rotação resulta em um menor desgaste do material, isto devido ao menor tempo
de contato de um único dente.
Marin (2018, p.33) explica o processo de modelagem por injeção, que está representado
na Figura 12:
O processo de moldagem é intermitente, ou seja, após cada peça ser extraída do molde,
um novo ciclo se inicia, obtendo-se alta produtividade na máquina injetora. Faz-se necessário
que os parâmetros de injeção, como pressão, dosagem e temperatura, sejam cuidadosamente
selecionados para que a moldagem de uma peça termoplástica aconteça de forma homogênea
e com precisão dimensional (GASPARIN, 2004).
O molde é representado na Figura 13. É composto por uma unidade estacionária, que é
ligada ao bocal da injetora, e outra móvel, está fixada na placa da injetora e ligada ao
mecanismo de abertura do molde e de extração da peça. É possível observa na Figura 13 as
placas que compõe o molde, espaçadores, cavidade, canais de alimentação e refrigeração,
extratores, entre outros elementos (SANTOS, 2016).
Lima et al (2021, p.2) afirma que “as impressoras 3D baseadas em modelagem por
fusão e deposição (FDM) são, atualmente, os dispositivos de consumo mais populares para
impressão de polímeros e seus compostos baseados em sistemas de manufatura aditiva de
extrusão.” A modelagem por fusão e deposição (FDM) ou fabricação por filamento fundido
(FFF), é um processo no qual um filo filamento plástico alimenta uma máquina onde o
cabeçote o funde e o extruda, em uma espessura típica de 0,25mm, de acordo com Figura 16.
(HERNANDEZ, 2012).
2.4 Fadiga
A maioria das falhas em máquinas ocorre quando as mesmas estão sujeitas a cargas
que variam no tempo, e não devido aos carreamentos estáticos. Além disso, estas falhas
ocorrem em níveis tensões inferiores aos valores de resistência ao escoamento do material
(NORTON, 2013).
A fadiga pode ser definida como uma redução gradual da capacidade de carga de um
componente. Desta forma, ocorre a ruptura lenta do material em razão do avanço
quase infinitesimal das fissuras que se formam no seu interior. O crescimento dessas
fissuras ocorre para cada flutuação do estado de tensões.
“As falhas por fadiga sempre têm início com uma pequena trinca, que pode estar
presente no material desde a sua manufatura ou desenvolver-se ao longo do tempo devido às
deformações cíclicas ao redor das concentrações de tensão” (NORTON, 2013, p.306). Além
disso, as falhas por fadiga são perigosas, de acordo com Rosa (2002), pois ocorrem de
maneira repentina. A autor ainda traz ressalta que 50% a 90% de falhas mecânicas são
provocadas por fadiga. Estas falhas ocorrem segundo ciclos de carga, de valores da ordem de
10 até 107,108 solicitações.
De acordo com Budynas & Nisbett (2016), existem três estágios na falha por fadiga:
A fim de se evitar que a falha por fadiga ocorra, existem modelos que estimam a vida
de um componente quando exposto a esforços cíclicos. De acordo com Norton (2013), estes
modelos são três: modelo tensão-número de ciclos (S-N) ou curva de Wöhler, o modelo de
19
O engenheiro alemão August Wöhler introduziu este conceito quando ensaiou eixos de
vagões ferroviários, os quais falhavam em pouco tempo, mesmo quando foram submetidos às
cargas inferiores aos limites estáticos. Ele então concluiu que a tensão que um material pode
suportar ciclicamente é inferior a tensão que este material pode suportar estaticamente,
embora exista também uma gama de tensões cíclicas as quais não causam fratura no material
(PEREIRA, 2019).
Para construção da curva S-N, busca-se determinar a partir de ensaios o valor de tensão
máximo para o qual uma peça não falha após um número de ciclos arbitrado, isto é, o limite
de resistência à fadiga também pode ser definido como a tensão em que a curva S-N se torna
assintótica à linha horizontal (PEREIRA, 2019). A suposição é que as tensões e deformações
permaneçam no regime elástico e que não há ocorrência de escoamento local para a
propagação da trinca (NORTON, 2013). Uma representação desta curva está se encontra na
Figura 17.
2.4.2 Determinação dos esforços cíclicos em uma engrenagem cilíndrica de dentes retos
de acordo com a norma VDI 2736.
De acordo com a norma VDI 2736, a resistência à fadiga sob esforço cíclico (σFlimN) é
determinada da seguinte forma:
𝑌 𝐹
σ =𝑌 . . 𝑌ɛ . (1)
𝑌 𝑏. 𝑚
No qual se tem:
mn = Módulo (mm).
2. 10 . 𝑇
𝐹 = (2)
𝑑
No qual se tem:
2.4.2.1 KISSsoft®
KISSsoft® é um programa de cálculo modular para dimensionamento, otimização e
cálculo de verificação de elementos da máquina em conformidade com as normas
internacionais. O software possui módulos de cálculo para diversos elementos, o que inclui as
21
engrenagens, com especificações para normas como DIN, ISO, ANSI, VDI, entre outras
(MELO, 2017). Na Figura 18, é mostrada a interface para engrenagens no software.
2.5 Desgaste
Segundo Araújo (2020, p.38) o desgaste é definido como “a perda progressiva de
material da superfície operacional de um corpo, como resultado do movimento relativo
desta”. Nodari & Rossi (2017) afirmam que o desgaste é um dano causado a uma superfície
sólida, e que envolve, na maioria dos casos, perda de material de forma progressiva ao
movimento entre a superfície e um ou mais corpos em contato.
𝑄 = 𝑘 .𝐹 (3)
Na qual se tem:
Na qual se tem:
NL = Número de ciclos;
A força normal de contato no dente (Fn, local) é determinada a partir da seguinte equação:
𝑇 . 10
𝐹 , = (5)
𝑑. cos(φ)
Fn, local = Força normal de contato no dente (N);
3 METODOLOGIA
Neste capítulo são apresentados os aspectos gerais da metodologia utilizada na
elaboração do presente trabalho. São abordados aspectos sobre o tipo de pesquisa, materiais e
métodos para seu desenvolvimento, as variáveis e indicadores que nortearão a pesquisa, a
fonte e o processamento dos dados, além das considerações finais.
Segundo Gerhardt & Silveira (2009), os diferentes tipos de pesquisa podem ser
distinguidos quanto à abordagem, objetivo e procedimentos. Para Danton (2002), existem
vários tipos de pesquisa científica, entre elas destaca-se a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa.
De acordo com Gerhardt & Silveira (2009), a pesquisa qualitativa trabalha com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais intenso das relações, dos processos e dos fenômenos. Já a pesquisa
quantitativa, segundo Fonseca apud Gerhardt & Silveira (2009), recorre à linguagem
matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, entre
outros; diferenciando da pesquisa qualitativa por ter resultados quantificados.
Quanto à forma de abordagem, este trabalho é classificado como quantitativo, uma vez
que se busca estudar a problemática proposta com base em dados numéricos.
Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, esta pode ser exploratória, descritiva ou
explicativa. A pesquisa exploratória, segundo Gil (1999), tem a finalidade de esclarecer,
desenvolver e modificar ideias e conceitos tendo em vista hipóteses pesquisáveis para estudos
posteriores, envolvendo levantamento bibliográfico, documental, entrevistas e estudos de
caso. O presente trabalho, portanto, possui caráter exploratório, uma vez que tem o objetivo
de detalhar conceitos ainda não trabalhados, por muitas vezes criando hipóteses, podendo
estar estabelecer novos objetos de estudo ou prioridades de futuras pesquisas na área.
27
Quanto aos procedimentos técnicos, Gil (1999) diz que a pesquisa bibliográfica se
baseia na utilização de livros e obras acadêmicas, sejam estas impressas ou digitalizadas e
obtidas via Internet, e também por meio de dados que se obtém através de estudo de casos e
experimentos.
Fonseca (2002) específica pesquisa documental como sendo elaborada através das mais
diversas fontes sem tratamentos analíticos. Ainda segundo o mesmo autor, a pesquisa
participante caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas
investigadas.
Já uma pesquisa experimental, de acordo com Prodanov & Freitas (2013), determina um
objeto de estudo e seleciona as variáveis que o influenciam. O pesquisador procura refazer as
condições do fato a ser estudado para observá-lo sob controle. Utiliza-se de local, aparelhos e
instrumentos apropriados para demonstrar as causas que produzem os fatos. Através da
criação de condições de controle, é possível manipular variáveis independentes a fim de
observar o comportamento das variáveis dependentes, procurando saber se um fenômeno é
causa de outro.
Esta pesquisa foi realizada em parceria com uma empresa que não autorizou a
divulgação de informações sobre o material empregado. Desta forma, o material, bem como o
processo de manufatura aditiva utilizado na produção das engrenagens não serão citados neste
trabalho. Ressalta-se que é objetivo da pesquisa analisar se este material possui aplicabilidade
no ramo da manufatura aditiva, e esta análise será feita comparando-se as propriedades
29
encontradas para o material em estudo com dados de outros materiais, obtidos através da
literatura.
2,5°C, para mais ou para menos, deve ser observada para a temperatura de referência,
segundo a norma VDI 2736-4.
Objetiva-se descobrir a partir da realização dos testes qual o maior valor de torque no
qual não se constata a falha após um número desejável de ciclos de operação. Isto significa
que valores de torque inferiores a este valor também não levam a engrenagem à falha. Para
este trabalho, foi definido como vida útil desejável 106 ciclos de operação sem que ocorra a
falha. Em intervalos regulares de tempo, é necessário checar o sistema, a fim de observar se já
existe falhas como fusão, deformação ou fratura de dente no flanco. A identificação destas
falhas encerra o teste.
Todos os testes foram a executados a uma velocidade de 1500 rpm. Para cada
temperatura, pelo menos quatro torques devem ser testados. E para cada par torque-
temperatura, devem ser feitas três repetições. A Figura 27 mostra os valores adotados neste
trabalho. Reafirma-se que todo o procedimento de testagem foi feito considerando o que é
determinado pela norma VDI 2736-4.
Para a série de 80°C foi conectada à caixa de engrenagem uma pistola de aquecimento,
conforme modelo representado na Figura 28. Se a temperatura se mantiver abaixo do valor de
referência, ela é acionada. Quando a temperatura de raiz do dente atinge o valor de referência,
ela deixa de funcionar.
Um número de dentes deve ser arbitrado para medição da espessura dos dentes, e
depende da geometria da engrenagem (número de dentes, altura do dente, ângulo de pressão).
As superfícies de medição do dispositivo devem estar em contato com o flanco. Estas
superfícies não devem estar em contato com as arestas do topo do dente ou na base do dente,
caso contrário, valores incorretos serão gerados. A Figura 29 e a Figura 30 representam o
processo de medição.
De acordo com o software KISSsoft®, para que se tenha uma medida precisa, o número
de dentes a ser considerado, no caso das engrenagens em estudo, é igual a 5. Dessa forma,
todas as engrenagens foram marcadas e medidas em três regiões distintas, A, B e C, espaçadas
em 5 dentes, conforme Figura 31. A espessura do dente é obtida a partir da média entre os
valores medidos nas regiões marcadas. Por fim, é possível calcular o coeficiente de desgaste
de acordo com a Equação 4. Um número mínimo de 106 é o objetivo para o valor de NL. Os
testes foram executados com uma velocidade de 1500 rpm.
Variáveis Indicadores
Material
Método de manufatura
Número de dentes (z)
Engrenagem
Módulo (m)
Ângulo de pressão (φ)
Largura da face (b)
Torque (Nm)
Resistência à fadiga sob esforço cíclico (σFlimN)
Temperatura da raiz do dente (Tb)
Comportamento Mecânico Temperatura no flanco (Ts)
Vida útil em ciclos (NL)
Coeficiente de desgaste (kw)
Modo de falha
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este capítulo tem como finalidade apresentar e discutir os resultados obtidos a partir dos
testes realizados nas engrenagens. Primeiramente, é exposta a análise de qualidade
dimensional das engrenagens e em seguida, os resultados obtidos a partir dos testes de fadiga
e análise tribológica, de acordo com o proposto no capítulo anterior (Figura 22).
Qualidade
Amostra Fi " fi " fi "m Fr "
DIN 3963
1 110,8 58 31,1 81,9 12
2 157,3 81,2 29,7 131,8 >12
3 97 42,8 17,4 80,5 11
4 131,3 64,8 33,1 95,9 >12
5 130,7 67,3 42,2 97,2 >12
6 230 73,7 36,4 197,5 >12
7 91 49,3 29,1 57,4 12
8 109,8 70 22,9 86,6 >12
9 142,3 48,7 32,3 114,4 12
10 202 59,5 30,2 180,7 >12
11 202,7 70,3 35,1 168 >12
12 150,8 50,2 30,9 119,4 12
13 147,5 64 30,7 100,8 >12
14 126,2 61 31 93,6 12
15 254,7 153,7 42,6 125,3 >12
16 205,8 62,7 36,9 166,7 >12
17 186,8 57,5 29,8 146,5 >12
18 132,5 51,3 31,1 105,6 12
19 146,8 56,8 33,4 107,2 12
20 126,2 71,2 40,5 77,8 >12
21 200,5 76,5 32,4 161,3 >12
22 98,8 52 28,9 70,8 12
23 122,8 52,2 25,3 92 12
24 130,2 63,8 37,1 92,2 >12
25 252,2 82,5 38,8 206,3 >12
26 193 59 30,3 160,5 >12
27 165,2 52,2 31,6 125,3 >12
28 106,3 70,2 32,4 71,1 >12
29 190,7 54,8 38,8 151,1 >12
30 168,5 43,7 25,2 133,2 >12
31 198,5 61,3 31,5 169,4 >12
32 193 101,8 35,2 112,9 >12
33 164,2 57,7 33,7 125,4 >12
34 170,5 57,7 29 148,5 >12
35 147,2 46 28,3 115 12
36 147 66 39,5 107,8 >12
37 136,8 57,7 32,5 98,8 12
38 264,5 134,2 36,8 232,8 >12
39 187,5 54,7 33,8 150 >12
40 230 58,5 32,7 199,1 >12
41 75,8 41,8 9,7 60,3 11
42 156,3 62,5 26,6 138,6 >12
43 127,2 58,8 31,8 96,4 12
44 154,7 98,8 34,7 132,6 >12
45 199,7 53,5 29,9 162 >12
46 86,5 54 27,7 63,2 12
47 180,8 57,3 37,6 124,7 >12
48 133,7 54,3 30 93,3 12
49 156,3 63,5 34,8 115,5 >12
50 150 55 33,7 109,2 12
51 68,5 43,5 21,1 53 11
52 147,2 54,5 30,6 111,9 12
53 195 75 31,6 154 >12
54 189,5 69,5 33,9 164,8 >12
55 85,7 71,7 26,2 59,6 >12
56 193,2 60,3 34,2 155,8 >12
57 170,3 52 28,7 150,6 >12
58 118,7 43,7 23,9 96,6 12
59 159 68,3 28 126,3 >12
60 150,2 61,7 23,7 132,4 >12
De acordo com a Figura 32, 40 das 60 engrenagens obtiveram classificação como fora
da faixa de referência da norma (>12). Dessa forma, percebe-se que o processo de manufatura
aditiva utilizado para a produção das engrenagens não atingiu um patamar de qualidade
dimensional satisfatório, estando este patamar, na maioria das vezes, além da última categoria
da norma DIN 3963.
Antes de se propor 14,0 Nm, para a temperatura de referência de 80°C, foram feitos testes
com torques superiores, mas que levaram a engrenagem à falha após poucos ciclos (menos de
um minuto de operação), testes os quais não contribuem para a construção da curva de
Wöhler.
A Tabela 7 resume os resultados dos testes de fadiga para a temperatura de raiz do dente
(Tb) de 80°C, enquanto a Tabela 8 resume os resultados de testes para a temperatura de raiz
do dente (Tb) de 30°C. Os valores de Tb e TS representam a temperatura de raiz do dente e a
temperatura do flanco antes da falha ocorrer ou o teste ser concluído (quando se atinge o valor
NL desejado – neste caso, 1 milhão de ciclos).
A análise da Tabela 8 mostra que o maior valor de torque para o qual não se tem falha e
se atinge o número de ciclos desejado é de 10,0 Nm. Assim como na Tabela 7, é possível
observar na Tabela 8 que a temperatura de referência de 30°C para Tb foi mantida. Entretanto,
a temperatura Ts se manteve, em quase todos os casos, superior à 50°C. Este comportamento é
explicado pela imprecisão geométrica do dente da engrenagem, especialmente baixa
concentricidade, o que gera alta dissipação de calor devido ao engrenamento imperfeito.
A geração das curvas de Wöhler dos resultados é apresentada na Figura 33. O eixo das
ordenadas à direita representa o valor de torque do teste. O eixo das ordenadas à esquerda
representa o valor de tensão na raiz do dente gerada pelo respectivo torque, determinada a
partir da Equação 1, com o auxílio do software KISSsoft®. O eixo das abcissas representa o
número de ciclos.
42
90 18
80 16
70 14
60 12
Torque - Nm
50 10
σF - MPa
40 8
30 6
Tb - 30°C
20 4
Tb - 80°C
10 Logarítmica (Tb - 30°C) 2
Logarítmica (Tb - 80°C)
0 0
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
Ciclos
Na Figura 33, observa-se que o decréscimo da temperatura de operação fez com que as
engrenagens fossem capazes de resistir à uma maior tensão de raiz do dente, uma vez que a
curva de Wöhler para a Tb de 30° foi significativamente deslocada para cima. Esta
constatação, no campo dos polímeros, não é nova, visto que estes materiais têm suas
propriedades alteradas de acordo com a temperatura. No presente caso, a resistência à fadiga
sob esforço cíclico para 7,0 Nm é de 35,24 MPa, enquanto que, para 10,0 Nm, ela é de 50,34
MPa. Isto significa que o acréscimo de temperatura de 30°C para 80°C reduziu a resistência à
fadiga em 30%.
Na Figura 35, as curvas de Wöhler da Figura 33 foram adaptadas, tendo agora o eixo
das abcissas em escala logarítmica, com o intuito de se comparar com os resultados de
Dennig, que também estão em escala logarítmica, conforme Figura 36.
90 18
80 16
70 14
60 12
Torque - Nm
50 10
σF - MPa
40 8
30 6
Tb - 30°C
20 4
Tb - 80°C
10 Logarítmica (Tb - 30°C) 2
Logarítmica (Tb - 80°C)
0 0
1.E+04 1.E+05 1.E+06 1.E+07
Ciclos
O escopo deste trabalho não inclui a exposição do material utilizado na fabricação das
engrenagens. Entretanto, é possível realizar uma comparação com os resultados obtidos por
Dennig et al (2021). Na Figura 34, percebe-se que todos os testes realizados tanto com ABS
quanto com PLA falharam quando submetidos a tensões de raiz do dente que variaram de 7 a
20 Mpa, a depender da temperatura do estudo. As engrenagens do presente trabalho resistiram
à tensão de fadiga de 50,34 Mpa, quando testadas à 30°C, sem que houvesse a falha para 1
milhão de ciclos. É possível afirmar que o material em estudo é significativamente mais
resistente à fadiga do que o ABS e do que o PLA.
Número da engrenagem 9 18 23 48 58
Td (Nm) 5 4 4 7 6
Fn, local (N) 173,6 138,9 138,9 243,1 208,4
b (mm) 10 10 10 10 10
ζ 0,4049 0,4049 0,4049 0,4049 0,4049
Wlocal (μm) 38,33 30,00 18,67 38,00 64,67
NL 1000000 1000000 1300000 1000000 1000000
3
kw (mm /Nm) 5,45E-06 5,33E-06 2,55E-06 3,86E-06 7,66E-06
Média Desvio Padrão
Td (Nm) - -
Fn, local (N) - -
b (mm) - -
ζ - -
Wlocal (μm) 37,93 16,95
NL - -
3
kw (mm /Nm) 4,97E-06 1,92E-06
Número da engrenagem 10 29 44
Td (Nm) 10 10 11
Fn, local (N) 347,3 347,3 382,0
b (mm) 10 10 10
ζ 0,4049 0,4049 0,4049
Wlocal (μm) 96,00 116,00 118,00
NL 1002000 1009500 1011000
3
kw (mm /Nm) 6,81E-06 8,17E-06 7,55E-06
Média Desvio Padrão
Td (Nm) - -
Fn, local (N) - -
b (mm) - -
ζ - -
Wlocal (μm) 110,00 12,17
NL - -
3
kw (mm /Nm) 7,51E-06 6,80E-07
Percebe-se que a série de testes operadas com Tb de 30°C, segundo a Tabela 11,
apresentou um valor de coeficiente de desgaste dentro da faixa esperada para o PEEK, que se
situa entre 4,7 e 5,0 mm3/Nm x 10-6.
Tabela 12: Valores de referência do coeficiente para alguns termoplásticos (kw [10-6mm3/Nm]).
Material Kw
POM/Aço (rugosidade média: 0,45 µm) 1,0
POM/Aço (rugosidade média: 1,5 µm) 3,4
PBT/Aço (rugosidade média: 0,45 µm) 3,7
PBT/Aço (rugosidade média: 1,5 µm) 7,8
Já a série de testes operada com Tb de 80°C apresentou, de acordo com a Tabela 12, um
valor de coeficiente de desgaste próximo ao esperado para o PBT em contato com o aço com
rugosidade média de 1,5 µm.
Figura 36: Danos devido ao desgaste (Td: 10Nm; NL: 106; Tb: 30°C).
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
Figura 37: Danos devido ao desgaste (Td: 7Nm; NL: 106; Tb: 80°C).
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
48
Figura 38: Estágio inicial de deformação no dente (Td: 8Nm; NL: 270000; Tb: 30°C).
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
Figura 39: Estágio intermediário de deformação no dente (Td: 8Nm; NL: 180000; Tb: 30°C).
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
49
Figura 40: Estágio avançado de deformação no dente (Td: 14Nm; NL: 196500; Tb: 30°C).
Fonte: Pesquisa Direta (2021)
Percebe-se através da Figura 42 que resistência à fadiga sob esforço cíclico limita a vida
das engrenagens. Como próximo limite, o coeficiente de desgaste limita a vida útil com base
no desgaste.
50
90 18
80 16
70 14
60 12
Torque - Nm
50 10
σF - MPa
40 8
Tb - 30°C
30 6
Tb - 80°C
20 Desgaste - Limite 80°C 4
Desgaste - Limite 30°C
10 Logarítmica (Tb - 30°C) 2
A caracterização mecânica das engrenagens foi alcançada com a realização dos testes
de fadiga e com análise de tribológica. Informações como vida útil, tensão máxima admissível
na raiz do dente e modos de falhas foram determinados. A Tabela 14 resume os principais
parâmetros e resultados deste estudo.
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo são apresentadas as conclusões obtidas ao término do trabalho e algumas
sugestões para trabalhos futuros.
5.1 Conclusão
Através dos ensaios e análises realizadas, pôde-se determinar como os componentes em
estudo, engrenagens poliméricas, produzidas por manufatura aditiva, se comportam
mecanicamente em operação; o qual é o objetivo geral deste trabalho.
5.2 Recomendações
Para futuros estudos na área, podem ser levados em conta outros parâmetros para
aprofundar os conhecimentos sobre o tema. Algumas sugestões são:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A. C. GIL (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. Editora Atlas, São Paulo.
K.MAO; P. LANGLOIS (2015). The wear and thermal mechanical contact behavior of
machine cut polymer gears. Elsevier, Wear.
P.K. SINGH (2017). An investigation on the thermal and wear behavior of polymer
based spur gears. Elsevier, Tribology International.