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Pai: D.
Mãe: C.
Queixa dos pais
C., mãe de Pedro., procurou atendimento para o filho por estar preocupada
com seu comportamento travado, quieto e contido. Segundo a mãe, Pedro
também apresentava muitos ciúmes em relação ao irmão mais novo, F. Outra
queixa da mãe era a agressividade de Pedro com o irmão mais novo.
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História de vida
Pedro foi uma criança extremamente desejada. A mãe relata que teve muita
dificuldade para engravidar e fez tratamento Durante dez anos.
Mamou até os sete meses e, segundo a mãe, desmamou sozinho (mãe ainda
não estava grávida quando ele desmamou). Se alimentava bem, nunca
rejeitava alimentos e não apresentou nenhuma dificuldade alimentar.
A retirada da fralda foi “tranquila” (sic) – com dois anos e meio Pedro já
controlava os esfíncteres e não solicitava ajuda para ir ao banheiro.
Um ponto importante ressaltado pela mãe, foi sobre Pedro não ser muito
afetivo com a professora que tinha há tempos; não demonstrava afeto e
apego em geral e isso chamava sua atenção.
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Resumo dos atendimentos (2012-2014).
Apresentei a caixa lúdica para Pedro, explicando que aquela seria sua
caixa e que os conteúdos eram apenas dele, diferentemente dos demais da
sala, que eram coletivos. Ele abriu cuidadosamente a caixa, observou, pegou
e explorou todos os objetos. A maioria deles não chamou sua atenção, até
encontrar uma abóbora, bem pequenina, com rodinhas. Esta estava atrás da
casinha de boneca, misturada com vários outros pequenos objetos. A tal
abóbora fazia parte de um brinquedo da Cinderela que eu tinha no
consultório; era a abóbora em meio à transformação em carruagem. Pedro a
pegou e segurou longamente olhando para a mesma. Falou “mais um
carro?”. Devolvi a pergunta, dizendo que eu também queria saber. Pedro
sorriu muito alegre e exclamou “é uma abóboia”.
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adiante, pois acredito que tenha sido de enorme importância em seu
percurso.
Sua caixa lúdica era aberta todas as sessões por ele e, após retirar os
objetos e observá-los, Pedro os guardava e não mexia mais na caixa. Caso
ele não avistasse a abóbora prontamente, vasculhava a mesma. Sempre
fazia questão de encontrar a abóbora e só partia para alguma outra atividade
após encontrá-la. Sorria e parecia muito feliz ao vê-la. Nestes primeiros
atendimentos, Pedro não brincava muito com os elementos da caixa, apenas
os observava e manuseava, se familiarizando com eles.
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mobilizado pela situação. A mãe pegou F pelo braço e o levou ao banheiro.
Saíram logo depois e a mãe se desculpou, levando F para sala de espera. O
mesmo pedia para ficar, pois queria brincar, mas eu expliquei que ali era o
espaço de seu irmão. Sentei-me ao lado do Pedro e perguntei se não
continuaríamos com a brincadeira. Ele afirmou com raiva que não, e disse “já
sei!”. Foi até o armário e pegou as espadas afirmando que iríamos lutar.
Afirmei que entendia, pois ele havia visto que ali era legal e que era só
dele. Pedro confirmou. Avisei que, como já havíamos nos encontrado
algumas vezes, eu chamaria seus pais para uma conversa na semana
seguinte. Expliquei que gostaria de sempre combinar antes com ele o que
deveria ser dito pros pais. Perguntei se havia algo a mais que ele gostaria
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que eu falasse, além de explicar que F não deveria entrar na sala, apenas
quando ele permitisse. Pedro disse que nada, só isso. Combinamos que ele
continuaria vindo às sessões e nos despedimos.
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Pedro conseguia se libertar de um lugar onde vivia preso e sem espaço para
explorar sua agressividade num ambiente acolhedor e sem repreensão.
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conforto, mas representará, ao mesmo tempo, a ausência da mãe, pelo fato
de não ser a mãe. Sendo assim, é transicional porque está entre o estado
fusional do bebê com a mãe e o seu estado semi-independente.
Após uma sessão, a guardou no bolso dizendo que ia levá-la pra casa
para que ela pudesse conhecer seu quarto. Acredito que Pedro queria me
levar com ele para casa, me mostrar seu quarto e sua intimidade; o que eu
não tinha acesso e que era parte da vida dele. Combinamos que ele poderia
levá-la, desde que a trouxesse de volta para a caixa; o que ele de fato fez.
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castração que vivia na escola: o fato de não ter tempo, de não poder, de ser
obrigado a algo; tudo isso era encenado de forma que ele fosse o castrador e
eu a criança que precisava se adaptar a isso. Nesse movimento mutativo,
percebi que ele já não precisava mais regredir e que estava vivendo sua
realidade e a fase em seu desenvolvimento compatível com sua idade;
estava atravessando seu Édipo, com todas as angústias e frustrações
pertencentes ao mesmo. Seus pais afirmavam que em casa estava mal
humorado e que reclamava da professora, mas que expressava sua raiva e
também se esforçava para fazer o que era necessário. A negociação entre
seus desejos e a realidade estava se dando naquele momento. Pedro
aparentava então dispor de recursos internos constituídos e internalizados
com os quais podia contar para lidar com a vida. Já não se reprimia, não
continha seus sentimentos, conseguia acessar os afetos positivos e
negativos e lidava com eles na medida em que era necessário.
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havia sido um corte profundo e que havia muito sangue. Perguntei o que ele
faria e rapidamente respondeu que ele mesmo faria um curativo com o que
ele tinha em seu kit médico. Pedro pegou um curativo e disse que por pouco
ele quase morreu e que tinha conseguido se curar. Falei que era um alívio
saber que ele conseguia se curar e ele me avisou que agora quem estava
passando mal era eu, que eu tava com muita dor de barriga, quase
vomitando e que eu precisava que ele me ajudasse. Aceitei e encenei uma
situação de muita dor e desamparo. Pedro pegou seus remédios e me
ofereceu, afirmando que me ajudaria. Ouviu meu coração e disse que estava
curada. Agradeci e disse que melhorei por completo, pois os remédios dele
eram muito bons. Ao nos despedirmos, lembrei que estávamos perto de nos
despedirmos, que teríamos apenas mais duas sessões. Ele afirmou que
sabia e concordou que não precisava mais vir depois, mesmo após eu
explicar que poderíamos continuar se ele quisesse. Anteriormente, ao
perguntar se ele gostaria de encerrar, ele afirmava sempre “acho que eu
posso vir mais um pouquinho”. Esta mudança na afirmativa sobre suas
necessidades de acolhimento também foi muito significativa.
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