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“A demanda de sarar, a demanda de interpretação, do que fazer, enfim, todas as demandas deste tipo, que s ão
demandas de alguma coisa, referem-se estruturalmente à demanda intransitiva, que no fundo é uma demanda
de amor.” - Antonio Quinet em A Descoberta do Inconsciente - Do desejo ao sintoma, capítulo Desejo e Demanda.
solicitação, pedido, pergunta. Se olharmos a tradução de demandare do latim para o português, temos:
Utilizando a interpretação de Antonio Quinet acerca do tema dilacerado por Lacan, a demanda
ao da necessidade, ela ocorre no grito, no chamado, naquilo ainda amorfo e não significável. Ela está no
campo da busca pelo Outro; ela é um apelo ao Outro - ao provedor, àquele que traz o objeto que satisfaz
a necessidade- e que na maioria dos casos é a mãe. Para melhor decorrer sobre a demanda, tomemos
esta carta:
Nela há um aspecto muito claro sobre a demanda: O último verso, que está abaixo de todos os versos,
abaixo de uma linha pontilhada, é: mamãe é mamãe. Essa frase exprime a fórmula estruturante da
demanda, de que mamãe é mamãe – nada lhe falta, pois ela é total e completa. Logo, esta carta –
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lembrando que cartas são escritas para alguém – é em si uma demanda, é um pedido de amor, é o
registro do receio de um assujeito (ou seja, um sujeito acéfalo, um não sujeito, um sujeito ainda
indistinto do Outro, indistinto da mãe) em relação à perda da posição imaginária que ocupa no Outro. E
é nesta exigência de amor que, a partir do questionamento Che voui? (ou o que você quer?), o assujeito
abre espaço para o desejo (que é o vetor que se desloca de um significante para outro, e que está
sempre negativo, pois ele se formula na subtração da necessidade pela demanda ; (d=N-D)). Nos
intervalos (ou nas lacunas, na ausência) entre os código (ou as palavras) presentes na mensagem da
mãe, a demanda (ou pedido de amor) do sujeito jorra por meio do engodo que chamamos de sintoma.
Assim, temos:
Temos em preto, acima a mensagem da mãe (do Outro) e abaixo a mensagem do filho (assujeito) –
ligados por uma seta rosa, que é a exigência de amor. Em vermelho está o código (ou a cadeia de
significantes/ as palavras) da mãe. Em grafite, as lacunas (o significante que falta do Outro (da mãe)),
e abaixo, na mensagem do filho, o código do filho (o significado do Outro (da mãe)) interpretado pelo
filho . A exigência de amor do filho (a demanda) induz ele a preencher a falta materna através da
solicitação de sua completude, de sua totalização. Esta solicitação abre nele o plano do imaginário, onde
ele significa o Outro (s(A)) respondendo a pergunta Che voui? (S(Ⱥ)) e gestando seu próprio sintoma;
sua construção imaginária (a) - como já havia discursado Freud na conferência O Sentido dos Sintomas:
o sintoma surge da interrupção de uma ação inconsciente . Vale lembrar que a resposta do assujeito,
representada pelos traços à grafite, só foi elaborada devido a existência do mecanismo da transferência
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entre o assujeito e o Outro – espaço este que pode ser resgatado posteriormente na análise, ou até em
grupos totalitários.
Levando em conta esta cerca virgem, pela qual envolvo o conceito de demanda, gostaria agora
de umedecê-la com a coreografia Kontakthof (ou Quadra de Contato) de uma dançarina chamada Pina
Bausch:
(Link: www.youtube.com/watch?v=dPjX2DEO5iQ&list=PLNbbh5VAsefvztn05WJQ5--_Mws6EYDgi&index=141&ab_channel=theatrotv)
A cena apresenta um corpo feminino vulnerável, com os músculos desvetorizados - ao mesmo tempo,
este corpo está rodeado de corpos masculinos que coçam o corpo corruto e adelgaçado. A representação
dessas carícias (uma coçada na cabeça, uma coçada na bochecha, coçada no nariz, nos braços, uma
preencher a falta materna através da solicitação de sua completude, de sua totalização, podemos inferir
nesta Quadra de Contatos a muitas vezes sintomática estruturação da mensagem feminina (a), que
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busca em “seduzir o corpo masculino” (ou o pai) a resposta (s(A)) da ausência na cadeia de
significantes da mensagem materna (S(Ⱥ)). Este “seduzir o corpo masculino” seria interromper
processos inconscientes em busca do amor materno, amor do Outro totalitário, deslocando então esses
braços).
BIBLIOGRAFIA
Demanda.
Psicanálise.