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SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS

2007/2008

PARTE II
DIREITO CONSTITUCIONAL VIGENTE
___________________________________________________

CAPÍTULO 2
O Direito Constitucional dos Direitos Fundamentais

Sumário
II – Os regimes jurídicos

§§ 3º

Regime geral dos direitos fundamentais

1. Âmbito da titularidade de direitos fundamentais


1.1. O princípio da universalidade
1.2. Direitos de cidadãos portugueses, direitos de cidadãos de países de língua
portuguesa, direitos de cidadãos da União Europeia e direitos de estrangeiros e apátridas
1.3. Direitos fundamentais de cidadãos portugueses residentes no estrangeiro
1.4. Direitos fundamentais de pessoas colectivas
1.5. Direitos fundamentais colectivos
1.6. Titularidade e capacidade de direitos
2. Princípio da igualdade
2.1. Igualdade na aplicação do direito e igualdade na criação do direito
2.2. Princípio da igualdade e igualdade de oportunidades
2.3. Igualdade perante os encargos públicos
2.4. Princípio da igualdade e princípios da igualdade (ou direitos de igualdade)
2.5. A dimensão objectiva do princípio da igualdade
3. O princípio de acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional
efectiva

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A Constituição, desde a versão originária (1976), não escolheu um regime jurídico


unitário para os direitos fundamentais. Antes estabeleceu: a) um regime geral dos
direitos fundamentais, que é um regime aplicável a todos os direitos fundamentais, quer
sejam direitos, liberdades e garantias, quer sejam direitos económicos, sociais e
culturais, quer sejam direitos dispersos; e b) um regime específico dos direitos,
liberdades e garantias aplicável a estes e aos direitos que possuam natureza análoga
(cfr., CRP, art. 17.º).

1. Uma primeira abordagem (gráfica) pode então fazer-se do seguinte modo:


REGIME JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

REGIME GERAL REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS,


LIBERDADES E GARANTIAS

1. Princípio da universalidade 1. Aplicabilidade directa


2. Princípio da igualdade 2.Vinculatividade de entidades públicas e
3. Princípio do acesso ao direito privadas
3.Reserva de lei
4.Princípio da proporcionalidade
5.Regime de leis restritivas
6.Garantia quanto ao exercício da acção
penal e adopção de medidas de polícia
7. Garantia quanto às leis de revisão

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1. Âmbito da titularidade de direitos fundamentais: o princípio da universalidade

Comecemos pelo regime geral dos direitos fundamentais. São três os princípios que
integram esse regime, a saber: princípio da universalidade, princípio da igualdade e
princípio do acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva.

1.1. A mensagem básica do princípio da universalidade (cfr., CRP, art. 12.º) é a de


que os direitos fundamentais são direitos de todos (também de estrangeiros e apátridas)
e não apenas direitos dos cidadãos portugueses, a não ser quando a Constituição ou a lei
reserva para os nacionais determinados direitos.
1.2. Uma boa compreensão do estatuído no artigo 12.º da CRP leva-nos a distinguir
quatro círculos de direitos: os direitos dos cidadãos portugueses (cidadania portuguesa),
os direitos de cidadãos de países de língua portuguesa (cidadania da CPLP), os direitos
de cidadãos da União Europeia (cidadania europeia) e os direitos de estrangeiros.
Assim, a cada um destes conjuntos de cidadãos corresponderá um círculo de direitos.
No que respeita à titularidade de direitos há também que distinguir alguns conceitos,
nomeadamente: direitos fundamentais de estrangeiros e apátridas, como é o caso do
direito de asilo (cfr., CRP, art. 33.º); direitos fundamentais de pessoas colectivas (não
são apenas titulares de direitos as pessoas de “carne e osso”, podendo as pessoas
colectivas (sociedades, fundações, associações) ser titulares de direitos desde que
“compatíveis com a sua natureza” – (cfr., CRP, art. 12.º/2); direitos fundamentais
colectivos, como é o caso do direito de antena, do direito à contratação colectiva, etc., e
direitos fundamentais de exercício colectivo, cujo caso paradigmático é o do direito à
greve (cfr., CRP, art. 57.º).

2. Princípio da igualdade

2.1. Um outro princípio integrante do regime geral dos direitos fundamentais é o


princípio da igualdade (Cf., CRP, art. 13.º). Respeitar o princípio da igualdade

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pressupõe, nos nossos dias, não apenas uma igualdade na aplicação do direito mas uma
igualdade na criação do direito.
2.2. Comecemos pela ideia da igualdade jurídica na sua concepção liberal – as
pessoas nascem livres e iguais em direitos. Aqui, a igualdade é o pressuposto da própria
liberdade individual. Trata-se, no entanto, de uma mera ideia de igualdade formal.
2.3. Um segundo nível de abordagem do princípio da igualdade leva-nos à ideia da
igualdade na aplicação do direito, o que basicamente significa que "as leis são iguais
para todos" e que "as leis devem ser executadas sem olhar às pessoas". Esta dimensão
traduz, pois, uma exigência de igualdade na aplicação do direito, sobretudo pelos órgãos
constitucionalmente encarregados da sua aplicação e execução (tribunais e
administração).
2.4. Num nível mais complexo diremos que se exige igualdade quanto à criação do
direito, isto é, "a lei, ela própria, deve tratar por igual todos os cidadãos". Uma criação
de direito igual exige a observância do princípio da igualdade no acto criador do direito,
mas também uma igualdade relacional material, ideia que numa expressão conhecida
se traduz por "deve tratar-se por igual o que é igual e desigualmente o que é desigual”.
2.5. A dimensão de igualdade material não estaria completa sem a referência à
noção de “igualdade justa”, isto é, a igualdade pressupõe um juízo e um critério de
valoração. Qual o critério de valoração para uma relação de igualdade? Para esta
pergunta de difícil resposta sugerimos dois tópicos de resposta. Em primeiro lugar, um
critério da proibição do arbítrio – existe observância de igualdade quando indivíduos
em situações iguais não são arbitrariamente tratados por desiguais ("arbítrio da
desigualdade" ou "princípio negativo"). Em segundo lugar, um critério da justiça que
aponta para a imprescindibilidade de critérios materiais justificativos de soluções
jurídicas iguais e de soluções diferenciadas.
2.6. Ao princípio da igualdade reconduz-se ainda a ideia de igualdade como
princípio de justiça social (comummente traduzida por "igual dignidade social" e
"igualdade de oportunidades"), igualdade perante os encargos públicos e direitos
especiais de igualdade.
2.7. O princípio da igualdade deve articular-se hoje com o princípio da diferença.

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Tratando-se de um princípio de complexa compreensão façamos um esforço pela


sua representação gráfica nos termos que a seguir se propõem:

IGUALDADE IGUALDADE IGUALDADE DIREITOS DE


PERANTE A LEI SOCIAL PERANTE OS IGUALDADE
ENCARGOS
PÚBLICOS
- igualdade formal -princípio de -repartição dos - direitos especiais
- igualdade na justiça social encargos de igualdade
aplicação do -igualdade de -indemnização ou -CRP: arts. 29.º/4,
direito oportunidades compensação por 36.º/4, 37.º, 40.º,
- igualdade quanto -compensação de sacrifícios 41.º, 47.º, 50.º,
à criação do direito desigualdades especiais 58.º/2, 113.º/3/b),
originárias 230.º/c), 269.º/2

3. O princípio de acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional efectiva

O terceiro princípio constitutivo do regime geral dos direitos fundamentais é o


princípio do acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva (Cf., CRP, art. 20.º).
Remetemos, no entanto, a explicitação do seu significado para a parte da garantia e
defesa dos direitos fundamentais, que será abordada mais adiante.

PALAVRAS-CHAVE
- princípio da universalidade;
- princípio da igualdade;
- princípio de acesso ao direito;
- garantia da tutela jurisdicional efectiva;
- direitos fundamentais colectivos;
- direitos fundamentais de exercício colectivo;
- igualdade quanto à criação do direito;
- igualdade relacional material;
- “igualdade-justa”;
- princípio da diferença

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SUGESTÃO DE ESTUDO
 J. C. VIEIRA DE ANDRADE, Os direitos fundamentais na Constituição da
República de 1976, 2ª ed., Coimbra, 2001, p. 173ss.

 J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição,


Almedina, 7.ªed., p. 416 – 433 e 1293 a 1296.

 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, A estruturação do sistema de direitos,


liberdades e garantias na Constituição Portuguesa, 2 vol., Coimbra, 2006.

 JORGE MIRANDA, Manual de Direito Constitucional, Vol. IV, p. 137ss.

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