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Beatriz Pereira nº4, 11g

1. Identifique as quatro medidas da Assembleia Nacional Constituinte que


aboliram o Antigo Regime.

Na segunda quinzena do mês de julho de 1789, a França foi varrida por uma revolução
camponesa. Pressionados pela fome (sucessivamente agravada devido às más colheitas),
os camponeses lutavam pela emancipação completa da terra e pela libertação individual
das cargas feudais. Atacaram castelos, queimaram arquivos senhoriais (onde estavam os
registos feudais) e mataram os senhores que lhes faziam frente. Este movimento,
conhecido por Grande Medo, levou os nobres a consentirem na supressão dos direitos
e privilégios feudais (“(…) levou a que o Clero e Nobreza se levantassem e adotassem
todas as moções propostas.”). Assim, na noite de 4 de agosto de 1789, a Assembleia
determinou: a abolição das corveias e servidões pessoais; a supressão da dízima à
Igreja; a possibilidade de resgatar rendas e foros; a eliminação das jurisdições privadas;
a supressão da compra dos cargos públicos e a consequente livre admissão aos
empregos públicos civis e militares. Por fim, a sociedade do Antigo Regime, fundada
nos particularismos e nos privilégios, dava lugar a uma sociedade livre baseada na
igualdade de todos perante a lei (“(…) pediu que as banalidades, os direitos exclusivos
de caça, os censos, as rendas fundiárias, as dízimas, enfim, todos os direitos que pesam
sobre o povo e são fonte de depredações e de humilhações cometidas pelas justiças,
possam ser resgatados por uma taxa fixada pela Assembleia Nacional.” Doc. 8).

Os deputados da Assembleia Nacional Constituinte também sentiram a necessidade de


elaborarem a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que legitimava as
conquistas obtidas em relação ao rei e aos seus privilegiados e que fundamentava a
futura Constituição. O texto final foi aprovado a 26 de agosto de 1789. Considerada a
certidão de Óbito do Antigo Regime, a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão lançou as bases da nova ordem social e política. Proclamou que “os homens
nascem e permanecem livres e iguais em direitos” e enumerou esses direitos: “Esses
direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão” (DOC. 9).
Ao fazê-lo condenou os privilégios da sociedade de ordens, reconheceu que a
autoridade dos governos reside na Nação e que a sua finalidade era a salvaguarda dos
direitos humanos. Rejeitou o absolutismo, a arbitrariedade judicial e a intolerância
religiosa (“Artigo 3º - O princípio de toda a soberania reside essencialmente na Nação.
Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que daquela não
emane expressamente (…) Artigo 7º - Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão
nos casos determinados pela lei (…) Artigo 9º - Todo o acusado se presume inocente
até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo (…) Artigo 10º -
Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões, incluindo opiniões religiosas (…)”).

O clero viu-se despojado, pela Revolução, de todos os seus privilégios. Como qualquer
outra entidade senhorial, sofreu a abolição dos direitos feudais. Seguiu-se o confisco de
bens, declarados à disposição da Nação (“A Nação exerce verdadeiros direitos sobre o
clero. Pode (…) apropriar-se dos bens das congregações religiosas a extinguir (…)”
Doc.10 A) A assembleia também votou na Constituição Civil do Clero, que atribuía
aos membros do clero secular a simples qualidade de funcionários do Estado e exigia-
lhes um juramento de fidelidade à nação e ao rei (“Eu juro zelar pelos fiéis da diocese
que me foi confiada, ser fiel à Nação, à lei e ao Rei e manter com todo o meu poder a
Constituição decretada pela Constituinte e aceite pelo rei” Doc. 10 B). Já o clero regular
ficou condenado à extinção, em virtude da supressão das ordens e congregações
religiosas.

Por fim, coube também à Assembleia Nacional Constituinte a instituição de uma nova
organização administrativa, mais descentralizada. As antigas províncias deram lugar a
83 departamentos divididos em distritos, cantões e comunas. Assim, órgãos eleitos e
funcionários pagos pelo Estado encarregavam-se de aplicar as leis, superintender no
ensino, na salubridade, nas obras públicas, no policiamento, na cobrança de impostos e
no exercício da justiça. Estabeleceu-se uma nova fiscalidade, onde todos os grupos
sociais ficaram sujeitos ao imposto direto sobre receitas e rendimentos. Também houve
uma organização económica. Eliminaram-se as alfândegas internas e os monopólios.
Previu-se um uniforme sistema de pesos e medidas que facilitasse as trocas (“Os antigos
pesos e medidas variavam segundo as regiões, dificultando as trocas e impedindo a
liberdade de comércio” Doc. 11). Na agricultura, invocou-se a liberdade de cultivo e de
emparcelamento. Na indústria aboliram-se as corporações e declarou-se a liberdade da
empresa. Ou seja, instituiu-se o princípio da liberdade económica.

2. Explicite três medidas da Convenção que demonstram a influência dos


sans – culottes e dos grupos sociais populares e que alargam a
democracia.

Desde a suspensão do rei a 10 de agosto de 1792 e da proclamação da República, o


rumo da revolução foi determinado, em grande parte, pela ação popular dos sans-
culottes (“Um sans-culotte é um ser que anda sempre a pé, que não tem milhões como
vocês gostariam de ter, nem castelos nem criados para o servir, que mora muito
simplesmente com a sua mulher e os seus filhos, se os tem, num quarto ou quinto andar.
Ele é útil, pois sabe cultivar um campo, fundir, serrar, limar, cobrir um telhado, fazer
sapatos e verter, até à última gota, o seu sangue para salvar a República.”). Os sans-
culottes: defendiam a democracia direta e frequentavam as sociedades populares e os
clubes; participavam nas assembleias de secção, onde votavam verbalmente; e
elaboravam moções e petições que, no meio de ruidosas manifestações, faziam chegar à
Convenção. Estes concentravam-se nas tribunas desta assembleia e intervinham nos
debates, procurando influenciar as decisões. A pressão dos sans-culottes sobre a
Convenção acabou por afastar a fação moderada dos Girondinos. Assim, dominada
pelos radicais Montanheses (que, em 1793, pediram a pena de morte para o rei Luís
XVI), por quem os sans-culottes nutriam simpatia, a Convenção votou numa nova
Constituição – Constituição do Ano I – que nunca entrou em vigor devido à terrível
conjuntura externa e interna que se abateu sobre a França (DOC. 22- A revolução em
perigo 1792-1794). Na matéria económica a Convenção também cedeu à pressão dos
sans-culottes, eliminando a livre concorrência. Pela lei máxima foram fixados os
salários e os preços (“(…) Artigo 3º- O maximum de todos os produtos e mercadorias
enunciados no Artigo 1 será, para toda a República, até ao próximo mês de setembro, o
preço que tinham em 1790.” Doc. 23 A). De encontro às aspirações igualitárias dos
sans-culottes, também se nacionalizaram os bens dos emigrados, vendidos em pequenos
lotes; decretou-se a partilha de bens comunais; aboliu-se, por completo, a feudalidade;
e, no fim do ano, a instrução tornou-se obrigatória e gratuita.

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