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Na segunda quinzena do mês de julho de 1789, a França foi varrida por uma revolução
camponesa. Pressionados pela fome (sucessivamente agravada devido às más colheitas),
os camponeses lutavam pela emancipação completa da terra e pela libertação individual
das cargas feudais. Atacaram castelos, queimaram arquivos senhoriais (onde estavam os
registos feudais) e mataram os senhores que lhes faziam frente. Este movimento,
conhecido por Grande Medo, levou os nobres a consentirem na supressão dos direitos
e privilégios feudais (“(…) levou a que o Clero e Nobreza se levantassem e adotassem
todas as moções propostas.”). Assim, na noite de 4 de agosto de 1789, a Assembleia
determinou: a abolição das corveias e servidões pessoais; a supressão da dízima à
Igreja; a possibilidade de resgatar rendas e foros; a eliminação das jurisdições privadas;
a supressão da compra dos cargos públicos e a consequente livre admissão aos
empregos públicos civis e militares. Por fim, a sociedade do Antigo Regime, fundada
nos particularismos e nos privilégios, dava lugar a uma sociedade livre baseada na
igualdade de todos perante a lei (“(…) pediu que as banalidades, os direitos exclusivos
de caça, os censos, as rendas fundiárias, as dízimas, enfim, todos os direitos que pesam
sobre o povo e são fonte de depredações e de humilhações cometidas pelas justiças,
possam ser resgatados por uma taxa fixada pela Assembleia Nacional.” Doc. 8).
O clero viu-se despojado, pela Revolução, de todos os seus privilégios. Como qualquer
outra entidade senhorial, sofreu a abolição dos direitos feudais. Seguiu-se o confisco de
bens, declarados à disposição da Nação (“A Nação exerce verdadeiros direitos sobre o
clero. Pode (…) apropriar-se dos bens das congregações religiosas a extinguir (…)”
Doc.10 A) A assembleia também votou na Constituição Civil do Clero, que atribuía
aos membros do clero secular a simples qualidade de funcionários do Estado e exigia-
lhes um juramento de fidelidade à nação e ao rei (“Eu juro zelar pelos fiéis da diocese
que me foi confiada, ser fiel à Nação, à lei e ao Rei e manter com todo o meu poder a
Constituição decretada pela Constituinte e aceite pelo rei” Doc. 10 B). Já o clero regular
ficou condenado à extinção, em virtude da supressão das ordens e congregações
religiosas.
Por fim, coube também à Assembleia Nacional Constituinte a instituição de uma nova
organização administrativa, mais descentralizada. As antigas províncias deram lugar a
83 departamentos divididos em distritos, cantões e comunas. Assim, órgãos eleitos e
funcionários pagos pelo Estado encarregavam-se de aplicar as leis, superintender no
ensino, na salubridade, nas obras públicas, no policiamento, na cobrança de impostos e
no exercício da justiça. Estabeleceu-se uma nova fiscalidade, onde todos os grupos
sociais ficaram sujeitos ao imposto direto sobre receitas e rendimentos. Também houve
uma organização económica. Eliminaram-se as alfândegas internas e os monopólios.
Previu-se um uniforme sistema de pesos e medidas que facilitasse as trocas (“Os antigos
pesos e medidas variavam segundo as regiões, dificultando as trocas e impedindo a
liberdade de comércio” Doc. 11). Na agricultura, invocou-se a liberdade de cultivo e de
emparcelamento. Na indústria aboliram-se as corporações e declarou-se a liberdade da
empresa. Ou seja, instituiu-se o princípio da liberdade económica.