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1 - A Grécia Antiga
No século VI a.C., a mistificação na Grécia em relação aos seus deuses e
crenças extrapolava o campo religioso e passava a fazer parte da rotina das
pessoas. Essa religião politeísta dava um panorama ao homem grego de todas
as ocorrências inexplicáveis do mundo sem a ajuda da ainda arcaica ciência
ocidental. Os deuses eram os benfeitores ou malfeitores da Terra e possuíam um
poder sobre o homem, sobre o céu e sobre a terra. Assim surgiram lendas que,
divulgadas por mecanismo de oralidade primária, ou seja, oralmente, de pai para
filho, procuravam instruir toda a civilização para que essa atuasse em detrimento
da subjetividade daquela sociedade e do bem em comum, seguindo regras de
comportamento e um padrão paradigmático que não podia jamais ser quebrado.
Só para ter uma idéia da grandeza dessa credulidade, quando o Colosso
de Rodes foi parcialmente destruído por um terremoto, em 248 a.C., o rei egípcio
Ptolomeu se propôs a reconstruir a enorme estátua (que homenageava o Deus
Apolo, o Deus do Sol), sofrendo porém a recusa da população de Rodes, que ao
consultar um dos oráculos (que segundo os gregos, eram homens que
representavam os deuses na Terra) foi desmotivada a permitir a reconstrução,
pois, segundo o oráculo, o terremoto havia sido um recado do deus que não
tinha gostado da homenagem. Assim, o Colosso de Rodes, até hoje reconhecido
como uma das sete maravilhas do mundo, ficou aos pedaços, sendo
completamente destruído pelos árabes, na invasão em 654 d.C.
Como a vida dos deuses que estavam diretamente relacionados à vida
dos homens na Grécia antiga, a ciência e a arte tenderam a seguir esse mesmo
percurso, de forma que os deuses influenciavam até mesmo as guerras dos
homens, como a Guerra de Tróia, que foi narrada pelos gregos com um misto de
fábula e realidade, com um laço muito tênue entre a mitologia e o acontecimento
real, de forma que os historiadores nunca souberam muito bem o que realmente
aconteceu durante essa famosa guerra entre gregos e troianos. A arte por si
própria não deixa de ser mítica, ou até mesmo mística, pois é elevada pelo
homem como elemento fundamental para a relação humana, em seu sentido
mais amplo, no tocante às emoções, ao sentimento humano, ao caráter, à
personalidade, cultura e expressão do homem social.
A cultura na Grécia antiga era restrita à louvação dos deuses, em festas e
cultos religiosos, de forma que, as pessoas reuniam-se para aclamar aos
deuses, agradecê-los ou fazer oferendas. As festas em respeito a Dioniso, o
Deus da Alegria e do Vinho, realizava-se sob rígida fiscalização do legislador,
que não permitia sacrilégios e manifestações cuja retórica fosse avessa à
concepção religiosa da sociedade. Porém, para entreter a massa, Sórlon, o
tirano legislador da época (Séc. VI a.C.) permitiu em certa ocasião que um
homem, que possuía um talento especial para imitar os outros, fizesse uma
apresentação para o público. Eis que esse homem, a quem chamavam de
Tespis, subiu em uma carroça diante do público afoito por novidades, colocou
uma máscara, vestiu uma túnica e, impondo-se dramaticamente, expressou: “eu
sou Dioniso, o Deus da Alegria”.
O respeito pelo théatron começava a fazer um efeito que perdura até
hoje: a arte cênica tornou-se uma forma de ritual, onde quem encenava no
proskénion pretendia passar uma informação de grande necessidade para a
sociedade, com um trabalho corporal, com voz e interpretação, submetendo-se à
catarse, cuja explicação advém de Aristóteles (384 – 322 a.C.), o primeiro
filósofos que proferiu teses sobre a arte dramática. Segundo Aristóteles, a
catarse faz com que as emoções do intérprete sejam liberadas numa construção
fictícia. Aristóteles constituiu a primeira estética da arte dramática, cujo nome era
bem apropriado: “Poética”. As Tragédias seguiam causando furor, em
espetáculos longos, com poesias e grandes textos que pretendiam mostrar um
enredo. Deve-se aos gregos dos elementos até hoje reconhecidos: o
protagonista (o herói) e o antagonista (o vilão), de forma que as tragédias
falavam a respeito da realidade e da mitologia, versando contextos de
conhecimento de todos. Os temas eram atribuídos a grandes heróis, aos deuses,
sob argumento fundamental de expor uma ética, uma lição de vida e a
moralidade.