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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE


HISTÓRIA DAS ARTES – TEATRO / PROFESSORA HELENA PEDRA

1 - A Grécia Antiga
            No século VI a.C., a mistificação na Grécia em relação aos seus deuses e
crenças extrapolava o campo religioso e passava a fazer parte da rotina das
pessoas. Essa religião politeísta dava um panorama ao homem grego de todas
as ocorrências inexplicáveis do mundo sem a ajuda da ainda arcaica ciência
ocidental. Os deuses eram os benfeitores ou malfeitores da Terra e possuíam um
poder sobre o homem, sobre o céu e sobre a terra. Assim surgiram lendas que,
divulgadas por mecanismo de oralidade primária, ou seja, oralmente, de pai para
filho, procuravam instruir toda a civilização para que essa atuasse em detrimento
da subjetividade daquela sociedade e do bem em comum, seguindo regras de
comportamento e um padrão paradigmático que não podia jamais ser quebrado.

            Só para ter uma idéia da grandeza dessa credulidade, quando o Colosso
de Rodes foi parcialmente destruído por um terremoto, em 248 a.C., o rei egípcio
Ptolomeu se propôs a reconstruir a enorme estátua (que homenageava o Deus
Apolo, o Deus do Sol), sofrendo porém a recusa da população de Rodes, que ao
consultar um dos oráculos (que segundo os gregos, eram homens que
representavam os deuses na Terra) foi desmotivada a permitir a reconstrução,
pois, segundo o oráculo, o terremoto havia sido um recado do deus que não
tinha gostado da homenagem. Assim, o Colosso de Rodes, até hoje reconhecido
como uma das sete maravilhas do mundo, ficou aos pedaços, sendo
completamente destruído pelos árabes, na invasão em 654 d.C.

            Como a vida dos deuses que estavam diretamente relacionados à vida
dos homens na Grécia antiga, a ciência e a arte tenderam a seguir esse mesmo
percurso, de forma que os deuses influenciavam até mesmo as guerras dos
homens, como a Guerra de Tróia, que foi narrada pelos gregos com um misto de
fábula e realidade, com um laço muito tênue entre a mitologia e o acontecimento
real, de forma que os historiadores nunca souberam muito bem o que realmente
aconteceu durante essa famosa guerra entre gregos e troianos. A arte por si
própria não deixa de ser mítica, ou até mesmo mística, pois é elevada pelo
homem como elemento fundamental para a relação humana, em seu sentido
mais amplo, no tocante às emoções, ao sentimento humano, ao caráter, à
personalidade, cultura e expressão do homem social.

A ciência busca o bem comunitário, as inovações e a quebra incessante


de barreiras que impedem o crescimento humano. A ciência e a arte tornam-se
elementos biunívocos, ou seja, ligados entre si, pois o homem possui a vontade
de exteriorizar todas as suas curiosidades, a fim de desenvolver métodos para
criar, construir, transformar, unir, pesquisar, compreender e finalmente, explicar.

            A cultura na Grécia antiga era restrita à louvação dos deuses, em festas e
cultos religiosos, de forma que, as pessoas reuniam-se para aclamar aos
deuses, agradecê-los ou fazer oferendas. As festas em respeito a Dioniso, o
Deus da Alegria e do Vinho, realizava-se sob rígida fiscalização do legislador,
que não permitia sacrilégios e manifestações cuja retórica fosse avessa à
concepção religiosa da sociedade. Porém, para entreter a massa, Sórlon, o
tirano legislador da época (Séc. VI a.C.) permitiu em certa ocasião que um
homem, que possuía um talento especial para imitar os outros, fizesse uma
apresentação para o público. Eis que esse homem, a quem chamavam de
Tespis, subiu em uma carroça diante do público afoito por novidades, colocou
uma máscara, vestiu uma túnica e, impondo-se dramaticamente, expressou: “eu
sou Dioniso, o Deus da Alegria”.

A forma como o homem postou-se diante de todos, como um deus,


causou revolta e medo em alguns, porém muitos viram essa postura como um
louvor ao Deus do Vinho. Sórlon impediu a apresentação, mas o público queria
mais, pois era fascinante e surpreendente a forma como aquele homem
demonstrava seu talento. Durante um bom tempo foi proibido esse tipo de
apresentação, julgada como um grande sacrilégio, de forma que a proibição
perdurou até o começo da era mais brilhante da Grécia: a era democrática. Sem
restrições e maior opressão ao livre arbítrio da sociedade (salvo mulheres e
escravos), as pessoas tomaram gosto por essa arte tão criativa de se imitar, de
forma que, com a democracia, os governantes começaram a incentivar aqueles
que, por ventura se interessavam em entreter o público nas festas que
homenageavam os deuses, realizando competições e distribuindo prêmios
diversos para aqueles que imitassem melhor pessoas e deuses.

            No começo, a arte dramática restringiu-se apenas às festas dionisíacas,


passando a ocupar um espaço maior na cultura grega com o passar dos anos,
tornando-se mais acessível e mais aceita pelos gregos, que começaram a
elaborar no Séc. V a.C. melhores formas de entretenimento pelo viés da arte
cênica. Assim, constituíram fábulas e histórias diversas a serem encenadas para
o público. Essa forma inovadora de se passar mensagens através de histórias
dramáticas ficou conhecida como Tragédia Grega, onde os atores utilizavam
máscaras e túnicas para interpretar seus personagens. A tragédia se passava
em uma ampla plataforma chamada proskénion, situada na costa sudeste de
Acrópole, local sagrado de Dioniso, no théatron (“local onde se vê”), cuja platéia
era reservada para os espectadores. As apresentações cênicas eram compostas
por um coro que narrava e tecia comentários a respeito da história principal que
era interpretada pelos atores principais.

As Tragédias foram escritas por homens que marcaram seus nomes na


história da humanidade: Eurípedes, Esquilo e Sófocles. Esses autores buscavam
passar para o público a visão divina da natureza, expressavam a imagem dos
deuses e as crenças do povo.

            O respeito pelo théatron começava a fazer um efeito que perdura até
hoje: a arte cênica tornou-se uma forma de ritual, onde quem encenava no
proskénion pretendia passar uma informação de grande necessidade para a
sociedade, com um trabalho corporal, com voz e interpretação, submetendo-se à
catarse, cuja explicação advém de Aristóteles (384 – 322 a.C.), o primeiro
filósofos que proferiu teses sobre a arte dramática. Segundo Aristóteles, a
catarse faz com que as emoções do intérprete sejam liberadas numa construção
fictícia. Aristóteles constituiu a primeira estética da arte dramática, cujo nome era
bem apropriado: “Poética”. As Tragédias seguiam causando furor, em
espetáculos longos, com poesias e grandes textos que pretendiam mostrar um
enredo. Deve-se aos gregos dos elementos até hoje reconhecidos: o
protagonista (o herói) e o antagonista (o vilão), de forma que as tragédias
falavam a respeito da realidade e da mitologia, versando contextos de
conhecimento de todos. Os temas eram atribuídos a grandes heróis, aos deuses,
sob argumento fundamental de expor uma ética, uma lição de vida e a
moralidade.

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