Você está na página 1de 27

Rafael Araújo

Richardson Ferreira Frazão

Abelhas Nativas
da Amazônia
e Populações
Tradicionais
Manual de Meliponicultura
1ª Edição

PROGRAMA CASA DA VIRADA


Programa Abelhas Nativas da Amazônia
Instituto Peabiru

Belém, Pará, 2013

Realização Patrocínio
Abelhas Nativas
da Amazônia
e Populações
Tradicionais
Manual de Meliponicultura
1ª Edição

Programa Abelhas Nativas da Amazônia


Instituto Peabiru

Autor Richardson Frazão


Coordenador do Programa
Abelhas Nativas da Amazônia -

Instituto Peabiru

Biólogo, Mestre em
Desenvolvimento Regional –
Universidade Federal do Amapá –
UNIFAP/AP

Belém, Pará, 2013


Agradecimentos
As comunidades de Cabeceira, Pingo
D´água, Caju, São Pedro e Pedras Grandes
sócios da Associação de Meliponicultores de
Curuçá – ASMELC em Curuçá - PA na pes-
soa de Maria Liliana Rodrigues e Maria das
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Graças Lins. As comunidades Quilombolas
do Amapá – Mel da Pedreira, São Pedro dos
Bois, Ressaca da Pedreira, Torrão do Matapí,
Conceição do Macacoarí, Carvão, Curiaú,
Ambé, Mata Fome e Curralinho, represen-
tados por Dionatan C. de Souza e Joao B.
Fortunato “Paredão”. Aos Povos Indígenas
Índice
do Oiapoque representados por Evandro Autor Carta do Diretor 7
Karipuna da Aldeia Açaizal etnia Karipuna e
Manoel Luis da Aldeia Kumenê etnia Palikur Richardson Ferreira Frazão
Apresentação 9
na Terra Indígena Uaçá. As comunidades
Praia Verde e Lago Branco representadas Meliponicultura e oportunidade
por Mário Bezerra, Jaci Flexa “Rauzito” e Organização Editorial 10
Marinaldo Moreira em Almeirim - PA. A Su Carvalho de renda complementar
RESEX do Cajarí no Amapá representados
4 por Ademir da Silva “‘K7” e Joelma Ferreira. A Meliponicultura e o combate 11 5
A Sybelle R. Machado Rabelo, Ana Laura Design e editoração
Rabelo Frazão, Maria Gabriela Rabelo a mudanças climáticas
Frazão, Maria Jose Barney Gonzalez, Arley Mapinguari Design
Silveira da Costa, Jeronimo Khan Villas-Bôas, As abelhas e o meio ambiente 13
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Fernando Oliveira, Guilherme Romano,
José da Silva “Xarope”, Alexander P. Melo, Ilustração Abelhas sem ferrão? Como assim? 15
Domingos Santa Rosa, Plácido Magalhães. Lucca Maia
Aos apoiadores desta iniciativa nos últimos Meliponicultura: como fazer? 16
oito anos, em especial ao Banco Santander
(na ocasião ABN AMRO Foundation 2006- Revisão Técnica Conheça a biologia das abelhas 17
2008); à Bolsa de Valores Sociais & Ambien-
Fernando Oliveira
tais 2009; à Embaixada dos Países Baixos nativas sem ferrão
2009; à Sambazon, nas pessoas de Travis
Baumgardner e Miguel Hauat e os doadores Divisão de castas de abelhas 18
do Açaí Sustainable Project – VeeV Life e
Fotografia
Zorbit 2007-2012; à Petrobras, Programa Fernando Oliveira Ciclo de Vida 19
Petrobras Ambiental – Casa da Virada Fase
I e II em Curuçá 2007-2009 e 2011-2013;
Rafael Araujo
à Conservação Internacional 2009; à The Richardson Frazão Corpo das Abelhas 21
Nature Conservancy 2009–2011; ao Fundo
Vale e à AMATA, parceiros nas primeiras Estrutura dos ninhos naturais 23
aquisições de mel do Amapá 2010; ao
Instituto Floresta Tropical (IFT) 2011 e 2012; Passo a Passo de como 25
à Mapinguari Design pelo desenvolvimento
do design relacionado ao conceito, marca e
começar a produção
embalagem da Néctar da Amazônia.
Colmeia 29
O manejo correto 37
Multiplicação de colmeias 44
Colheita do mel 46
Considerações finais 49
Rafael Araújo
Carta do Diretor
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
É com muita alegria que apresentamos este manual,
fruto de árduos oito anos de trabalho de Richardson
Frazão e a equipe do Programa Abelhas Nativas da
Amazônia, do Instituto Peabiru junto a comunidades
e populações tradicionais da Amazônia setentrional
6 e oriental. 7

As abelhas nativas nos surpreendem a cada dia. São


as melhores companheiras de que dispomos para
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


enfrentar a destruição ambiental do Planeta Terra.

Indicam-nos o doce caminho para manter a floresta


em pé, a manutenção da água e da biodiversidade,
a colheita abundante de frutas e a geração de
renda complementar.

As abelhas nativas nos ensinam a enxergar os


ambientes naturais de outra maneira. Na medida
que compreendemos a fragilidade das abelhas,
entendemos de que maneira cuidar da Amazônia
para as presentes e as futuras gerações.

João Meirelles Filho


Diretor Geral
Instituto Peabiru
Apresentação
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Pesquisas aplicadas do Instituto Peabiru sobre as
abelhas nativas da Amazônia demonstram o potencial
da meliponicultura – produção de mel de abelhas sem
ferrão – como cadeia de valor sustentável e participa-
tiva. Esta incrementa a renda familiar de agricultores e
8 inclui mulheres e jovens de comunidades tradicionais 9
na economia local. Além disso, as áreas manejadas
para criação das abelhas, resultam em diminuição de
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


desmatamento e queimadas na zona rural, contri-
buindo para o combate a mudanças climáticas.

Este manual traz, de maneira simples e resumida,


orientações básicas de como criar, manejar e produzir
mel de abelhas nativas sem ferrão, a partir da realida-
de de comunidades tradicionais que habitam a região
amazônica, como estratégia de conservação da socio-
biodiversidade. Apoiar a conservação é uma maneira
inovadora de comunidades tradicionais prestarem
importantes serviços ambientais, garantindo a
manutenção de seus recursos naturais.

Este manual foi desenvolvido para apoiar a capacita-


ção de comunidades tradicionais em meliponicultura,
e foi elaborado com base na experiência do Instituto
Peabiru que, desde 2006, desenvolve o Programa
Abelhas Nativas da Amazônia. Este programa já aten-
deu 350 famílias em 38 comunidades, nos estados do
Pará e Amapá com uma área de 20 mil hectares de
Rafael Araújo

florestas sobre influencia do manejo das abelhas junto


às famílias capacitadas.
Meliponicultura A Meliponicultura
e oportunidade e o combate a
de renda complementar mudanças climáticas
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
No contexto da agricultura familiar, as abelhas nativas A criação das abelhas nativas é uma atividade
representam uma oportunidade para complementar inovadora no combate a mudanças climáticas. Cada
a renda familiar das comunidades. O mel pode gerar quilo de mel produzido pode neutralizar até 16 quilos
uma renda de R$ 20,00 por quilo. Para famílias de de dióxido de carbono (CO²) lançados na atmosfera.
renda média individual próxima a R$ 100,00, um Este é um serviço ambiental importante, além de ser
10 único quilo de mel significa um aumento de 20% da uma ferramenta econômica para a conservação. 11
renda mensal.
Uma comunidade com 30 meliponicultores fixa cerca
Em função do apoio do Programa do Instituto de 166 toneladas de carbono por ano e conserva mais
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Peabiru, um grupo de mulheres da Associação dos de 16 km2 de área florestada (160 hectares), além de
Meliponicultores de Curuçá (ASMELC), de Curuçá, proteger a água, a biodiversidade e outros
no Nordeste do Pará, produz cosméticos (sabonetes, recursos naturais da região.
shampus e esfoliantes) à base de mel das abelhas sem
ferrão. No Amapá, quilombolas que trabalham com O Programa Abelhas Nativas, tem contribuído para
meliponicultura comercializaram cerca de 200 quilos manutenção de aproximadamente 20.000 hectares
de mel entre 2010 e 2011, o que possibilitou de florestas tropicais manejados com abelhas nativas
aumento da autoestima das famílias envolvidas. e comunidades.

Instituto Peabiru / Richardson Frazão


As abelhas e

Fernando Oliveira
o meio ambiente
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
As abelhas são os principais polinizadores de espécies
de árvores da Amazônia. As abelhas são operárias da
conservação das florestas. Árvores e outras plantas
se reproduzem, multiplicam-se e dão frutos por meio
de um eficiente trabalho de polinização e fecundação
12 feito pelas abelhas, fundamentais para o equilíbrio do 13
ecossistema e produção de alimentos para o homem
e animais nas florestas tropicais.
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


No entanto, o desmatamento e as queimadas
ameaçam este exército de polinizadores, que de-
fendem, de forma quase invisível, a biodiversidade.
Assim, a valorização, proteção, conservação e criação
das abelhas nativas garantem a manutenção das
florestas, a partir de informações e o manejo correto.

A Amazônia possui cerca de 600 espécies de


abelhas nativas, conhecidas como abelhas sem ferrão
ou abelhas indígenas. Muitas destas abelhas ainda
são desconhecidas pela ciência, por pesquisadores e
12 pelos próprios comunitários da região. Além disto, é
preciso investigar sobre a construção de seus ninhos,
a capacidade de produção, a interação com plantas
Se as abelhas desaparecerem da face da terra, e a melhor forma de criá-las, utilizando seus serviços
a humanidade terá apenas mais quatro anos ambientais de polinização para a produção de
de existência. Sem abelhas não há polinização, alimentos e conservação das espécies florais.
não há reprodução da flora, sem flora
não há animais, sem animais não haverá
raça humana.
Albert Einstein
Abelhas sem ferrão?
Como assim?
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Os pesquisadores chamam as abelhas sem ferrão de
melíponíneos – por isso a atividade é chamada de
meliponicultura. Popularmente as abelhas são
conhecidas como uruçú, tiúba, tíuba rosilha, jupará,
jurupara, rajada, canudo, jandaíra, entre outros
14 nomes, de acordo com a região de ocorrência. 15
Em função da atrofia do ferrão, estas abelhas ficam
impossibilitadas de ferroar, o que facilita a sua criação
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


e produção de mel por comunidades tradicionais. Ao
mesmo tempo, por não ferroarem, suas colônias são
facilmente predadas por meleiros (coletores de mel).
Embora sua característica principal seja ausência do
ferrão, as espécies utilizam métodos comportamentais
de defesa das colônias, que vão desde ataques em
massa sobre os pelos dos agressores, até a criação de
barreiras para dificultar o acesso às colônias.
O maior inimigo das abelhas nativas é o homem,
quando este realiza a derrubada ilegal da floresta e a
Rafael Araújo

coleta predatória de mel. A introdução da apicultura


(criação das abelhas europeias com ferrão, chama-
das também africanas, africanizadas ou sicilianas) em
grande escala na Amazônia tem desestimulado muitas
famílias a manejarem as abelhas nativas em função
da quantidade de mel produzido pela abelha africani-
zada. O grande problema é que as abelhas européias
possuem ninhos com dez vezes mais abelhas operá-
rias que as abelhas sem ferrão, tendo assim uma dis-
puta por alimento muito desproporcional em função
da quantidade de abelhas por colônia.
Meliponicultura:
como fazer? 1
Conheça a biologia
das abelhas nativas
sem ferrão

Manual de Meliponicultura
Na natureza as colônias de abelhas nativas sem ferrão
são encontradas em troncos de árvores vivas ou
mortas. Eventualmente serão encontradas em paredes
Quem cria as abelhas sem ferrão? das casas e muros, postes de energia, forros de

(Meliponíneos) residências e até mesmo no chão. Elas vivem


organizadas em sociedade, com divisão de trabalho 17
na colônia. Vamos conhecer:

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


RAINHA
É a responsável pela postura dos ovos. É reconhecida
É um por seu abdômen dilatado.

MELIPONICULTOR RAINHAS VIRGENS


Sempre presentes na colônia para o momento de
substituir a rainha mãe quando velhas ou doentes.

OPERÁRIAS
São responsáveis pela defesa, busca de alimentos e
Porque pratica a outras atividades de manutenção da colmeia. São
todas fêmeas.
MELIPONICULTURA MACHOS
Realizam pequenos trabalhos com cerume e quando
férteis, são expulsos da colmeia, afastando-se desta a
procura de rainhas virgens para o acasalamento.
Divisão de castas
das abelhas 2 Ciclo de Vida
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
O ciclo de vida de uma abelha inicia-se com a rainha
Macho Rainha pondo os ovos, passa por várias fases, entre sair da
célula de cria já adulta, até a atividade operária de
manutenção da colônia. Após o nascimento, o tempo
de vida de uma abelha é de 55 dias. Acompanhe o
ciclo de desenvolvimento pré-adulto na figura abaixo:
18 19
1 Célula de cria

2 Ovo em cima do alimento liquido


Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


3 Larva no 1º estádio

4 Larva no 2º estádio

Operárias Rainha Virgem Larva de último estádio, larva pré-defecante


5 fabricando o casulo de seda e comendo o
resto sólido de alimento

6 Larva pós-defecante

7 Pré-pupa

8 Pupa não pigmentada

Pupa pigmentada, com movimentos chamada


9
de farato.

Abelha emergindo usualmente com auxílio de


10 operárias mais velhas, imago.
Adaptado de Kerr et al. 1996

11 Abelha jovem
3 Corpo
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
1 2 3 4 5 6
das abelhas
As abelhas são insetos com o corpo dividido em 3
partes: cabeça, tórax e abdome.

20 21
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


3 ocelos

Língua

7 8 9 10 11

Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985 Adaptado de Nogueira Neto 1997


Cabeça
4 Estrutura dos
ninhos naturais
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Formada por um par de olhos
compostos; três ocelos, que servem
para enxergar no interior da colmeia
e dentro das flores; um par de
antenas, onde localizam-se os órgãos A estrutura dos ninhos das abelhas sem ferrão é
sensoriais para tato e odor; a boca, diferente de espécie para espécie. Há ninhos em
que possui as mandíbulas, a língua e forma de cachos, cujas células de crias são
as glândulas salivares; emaranhadas e sobrepostas, como para as abelhas
e o cérebro.
22 Tórax marmelada (Frieseomellita sp), cachorro Trigona sp)
e jataí (Tetragonisca sp). 23

Formado por três segmentos: Por sua vez, o grupo onde estão classificadas as abelhas
protórax, mesotórax e metatórax. uruçú, tiúba, jandaíra, tiúba rosilha, jupará, jurupará são
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Nele se encontram três pares de classificadas no gêreno (Melipona sp) e possuem um
pernas e dois pares de asas. Nas padrão de estrutura similar.
tíbias das pernas traseiras está a cor-
bícula, estrutura em forma de colher,
que serve para carregar pólen ou ESPÉCIES DE ABELHAS MANEJADAS PELOS COMUNITÁRIOS
outras substâncias. Uruçú cinzenta,
Serrado e mata
Macapá, Terra
Melipona fechada (savana Calha
rajada, tiúba 5 quilos Indígena Uaça, Cajarí,
compressipes tropical e floresta Norte
rosilha, jupará Centro-oeste

Abdome
ombrófila)
Jurupará, uruçú Melipona Macapá, Terra Calha
5 quilos Serrado (Savana)
preguiçosa fulva Indígena Uaça, Cajarí Norte
Pinto de velho, Melipona Mata fechada Cajarí, Terra Indigena Sem
Formado internamente pela abelha tigre lateralis
5 quilos
(floresta ombrófila) Uaçá, Centro-oeste registro
vesícula melífera, um papo de mel Mata alagada
Uruçú laranjada, Melipona Carvão, Cajarí, Terra Sem
para transporte de néctar e água; uruçú amarela paraensis
10 quilos (floresta de
Indígena Uaça registro
varzea e igapó)
glândulas cerígenas, produtoras de
Melipona Mangue e floresta Nordeste
cera na porção dorsal; glândulas de Uruçú amarela 3 quilos Sem registro
flavolineata de terra firme do Pará
cheiro e o aparelho reprodutivo; Uruçú cinzenta, Melipona Mangue e floresta Nordeste
5 quilos Sem registro
tiúba fasciculata de terra firme do Pará
Mata alagada
Melipona me- Ilhas do
Taquaruçú 3 quilos (floresta de Sem registro
lanoventer Pará
varzea e igapó)
Fim do oco
(batume superior)

5 Passo a Passo de
como começar
a produção
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Potes de mel

Pote
Potes de saborá não tapado
Para iniciar a criação de abelhas sem ferrão, com o
(pólen)
objetivo de produzir mel, é necessário um planeja-
mento básico inicial. Importante: isto evita erros que
costumam desanimar quem começa a atividade sem
informação técnica.
24 Os favos mais 25
novos (escuro)
Boca
de entrada
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Os favos mais
Túnel
velhos (claro)
principal
de entrada

Invólucro
(cobertor
do ninho)

Pilares de Tampa
sustentação do ninho
dos favos de cria

Fim do oco
(batume
inferior crivado)

Instituto Peabiru / Richardson Frazão


Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985
I
Identificar se no local onde se pretende construir

Instituto Peabiru / Richardson Frazão


o meliponário ainda existem abelhas nativas sem
ferrão. Veja se há outros produtores na região.
Procure mapear os ninhos naturais na propriedade
e nos vizinhos.
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Identificar qual espécie de abelha nativa ocorre no
local. Isso é muito importante, pois não se deve
introduzir espécies que não são daquele ambiente,

II
pois estas podem interferir na biodiversidade local. MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA
Conforme o local, o Instituto Peabiru pode apoiar CONSTRUÇÃO DE UM MELIPONÁRIO
com uma avaliação ou diagnóstico (ver contatos
ao final desse manual). Caso não possa, pode PARA A ESTRUTURA
recomendar profissionais qualificados nas insti- Cavaletes: são suportes de madeira medindo 1,5 m,
26 tuições da região. O importante é evitar seguir o devem ser enterrados no solo a 50 cm, ou ficar a uma 27
palpite de quem não conhece o assunto. altura onde o meliponicultor se sinta confortável para
manejar suas colmeias.
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Obter as colônias de abelhas. Isto pode ser reali-

III
zado de quatro maneiras: a) coleta de ninho em Suporte para as colmeias: são peças de madeira que
áreas de vegetação nativa, b) resgate em áreas devem ser fixadas com pregos na parte superior do
sujeitas a queimadas; c) adquirindo de criadores cavaletes para receber as colmeias;
(de preferência, criadores com registro no IBAMA
Chumaços de esponjas: esponja (tipo colchão) cor-
- Cadastro Técnico Federal) ou d) por multiplica-
tada em tira e fixada com arame 20 cm abaixo do
ção artificial, caso o produtor possua colmeias.
suporte das colmeias e ensopadas com óleo de carter,
para evitar ataques de inimigos naturais
Construir um meliponário, ou seja, organizar um (ver item manejo);
local para instalar as colmeias para criação de
abelhas melíponas. É importante que essa instala- Arames: servem para prender a colmeia no suporte

IV
ção seja feita nas proximidades de residências da fixado ao cavalete, evitando deixar a colmeia cair no
comunidade, a pelo menos 50 a 100 metros das chão por fortes ventos e animais;
casas, para facilitar o acesso às colmeias. O espa-
ço deve ter sombra, ser plano, de fácil acesso e Telhas: servem para proteger as colmeias contra
próximo a fonte de água. Caso o interesse seja por chuvas e sol intenso;
criação com mais de 50 colmeias, deve-se optar
por áreas em zonas rurais, para configurar uma Peso da Telha: serve para apoiar a telha na colméia,
atividade de base agroecológica. Após a escolha evitando que caiam no chão e quebrem facilmente,
do local, siga os passos seguintes: pequenos tijolos maciços são suficientes.
6
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Colmeia
PARA MONTAGEM No meliponário as colônias são instaladas em colmeias
de madeira com arquitetura adequada para o manejo,
Fita métrica e/ou trenas: para medir os espaços entre a reprodução controlada, a produção e a coleta de
as colmeias e entre as fileiras de colmeias mel. Apresentaremos, a seguir, o principal modelo de
no meliponário; colmeia utilizado na Amazônia: a colmeia Fernando
28 Linha de nylon: necessária para o alinhamento dos Oliveira, idealizada por Fernando Oliveira (Oliveira e 29
cavaletes no meliponário; Kerr, 2000).

Ferro de covas e/ou dragas: necessário para a Esta colmeia apresenta bons resultados para a meli-
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


abertura das covas para fixar os cavaletes; ponicultura desenvolvida na Amazônia. Possui tecno-
logia simples e de fácil acesso às populações tradicio-
Pregos: para fixar suporte para as colmeias nais, e é mais adequada à região, sobretudo para as
no cavalete; espécies ocorrentes no Pará e no Amapá. No Estado
do Amazonas, a partir das experiências do Instituto
Serrotes: para ajustes nos cavaletes e nos suporte das
Iraquara, esta colméia apresenta resultados muitos sa-
caixas, quando necessário;
tisfatórios quanto à transferência de colônias, manejo
e produção de mel.
MÃO-DE-OBRA Embora existam outros modelos a partir da colmeia
de Virgílio de Portugal Araújo, pioneiro na melipo-
Aconselhamos que pelo menos duas pessoas se dediquem à construção nicultura do país (Kerr, 1984), o Programa Abelhas
de um meliponário padrão, com capacidade inicial de 50 colmeias. Nativas, do Instituto Peabiru, adota o modelo de
No caso de um meliponários com menos de 50 colmeias, uma única colmeia Fernando de Oliveira para o desenvolvimento
pessoa poderá construi-lo em cerca de 3 dias. Não se esqueça de, da cadeia de produção de mel das abelhas sem ferrão
primeiramente, ter em mão todos os materiais, além de planejar o da Amazônia.
tempo de acordo com as demais atividades do meliponicultor.
6.1As medidas
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Pode-se usar qualquer madeira durável, com cheiro
agradável e macia (para não rachar com os pregos).
Dê preferência a madeiras vermelhas, pois, em geral,
são mais resistentes. É nestas madeiras que se encon-
tram os ninhos de abelhas na natureza.

Instituto Peabiru / Richardson Frazão


Para colmeia pequena - a mais recomendada para as
espécies ocorrentes no Amapá e no12Pará.
cm As medi-
30 das apresentadas seguem o modelo construído pelo 31
1x C
pesquisador Fernando Oliveira. Neste caso as células de
crias dos ninhos são construídas na posição horizontal
1,5 cm seu manejo
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


formando um disco de cria. 15
Istocm
possibilita
por meio de colmeias racionais, em especial a colmeia
Fernando Oliveira, apresentada nesse manual.
Tampa 7,5 cm
6x
Melgueira 1. Seis pedaços A (20 XB 7,5 X 2,5 cm).
2,5 cm
Módulo de Divisão 15 Xcm
2. Seis pedaços B (15 X 7,5 2,5 cm).
Fundo
12 cm
Entrada da colmeia 7,5 cm
C
Arame de apoio 6x 1x A
1m do
cavalete 1,52,5
cmcm
para fora 1520
cmcm

50cm do 7,54cm
cm
cavalete F
enterrados 6x B 2 cm
25 cm
2,5 cm
Adaptado de Oliveira e Kerr 2000 15 cm

20 cm
15 cm

6. Vestir C na face interna do primeiro quadro, deixar


7,5 cm
dois espaços laterais de 1,5 cm de cada lado, para
as
6x abelhas terem acesso a melgueira.
A
7. Fixar o C com três pregos finos de 1,5” de cada
2,5 cm
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
3. Apontar dois pregos finos de 2” (duas polegadas) lado, o prego atravessa 20 cm do quadro vazan-
a parede
em cada lado das peças A e B. Montar duas peças do na peça C.
A sobre duas peças B.

4. Estes são os Quadros e faremos três.


4 cm
F
1.5 cm B1
2 cm
25 cm

32 B A C A 33
1 1
A
A 1.5” 20 cm
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


B1
B
2x E
2”

8. Quatro triângulos D (7,5 X 7,5 X 11 X 1,5 cm).


2,5 cm
5. Um pedaço C (15 X 12 X 1,5 cm) esta peça é o
20 cm
fundo do Primeiro quadro, a Melgueira.

7,5 cm 7,5 cm
4x D
12 cm
1,5 cm
C 11 cm
1x

1,5 cm
15 cm

7,5 cm
4 cm
F
9. Fixar nas paredes internas do segundo quadro os 11. Dois pedaços E (20 X 20 X 2,5 cm).
2 cm
25 cm
quatro triângulos D, utilizando um prego fino de
0,5”, para fixar cada um dos triângulos nos cantos
das paredes quadro. O prego atravessa o triângulo
20 cm
D e vaza na parede interna do quadro. Este segun-
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
do quadro com quatro triângulos D chamamos de
Gaveta de Divisão.
2x E
10. Na Gaveta de Divisão, fixar pela metade, um prego
fino de 1,5” nas duas laterais e ao centro, servirá
para fixar com arame a colmeia no cavalete. 2,5 cm
20 cm

7,5 cm 7,5 cm
0,5” 4x D
34 B2 B2 12. Sob o terceiro quadro,
1,5 cm fixar com prego fino de 2” 35
11 cmde 2 cm de diâmetro
um pedaço E. Fazer um furo
D D D D em baixo e na lateral deste quadro. Para este qua-
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


dro chamamos de Fundo.
A A A A
2 2 2 2

D D D D
B2 B2 B3
A3
A3

B2 B2
B3
D D D D 2 cm

A A E
A
2 2 2

D D D D 2”
1,5”
B2 B2
7,5 cm

7
6x A
2,5 cm
13. Quatro triângulos D (7,5 X20
7,5cm
X 11 X 1,5 cm).

4 cm

O manejo correto
F
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
2 cm
25 cm

14. Um pedaço de E no sentido do corte da madeira.


20 cm

Fernando Oliveira
Fixar com 3 pregos finos de 2” um batente F deita-
do em uma das extremidades, e outro batente em
pé na outra extremidade. Para esta peça chama-
mos de 2x E
Tampa, os batentes invertidos são para dar
36 caimento na telha. 37

2” 2,5 cm
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


20 cm

7,5 cm 7,5 cm
4x D
1,5 cm
11Fcm

Após a seleção das espécies, da área do meliponário


PINTURA DA COLMEIA e a construção da colmeia, inicia-se o processo de
criação. Aqui é preciso seguir todas as orientações
Pintar com verniz o lado externo da colmeia para evitar o de manejo, ou seja, um conjunto de cuidados com
encharcamento, possibilitando maior durabilidade, além de as abelhas, de modo a possibilitar as multiplicações e
valorizar a colmeia. produtividade. Entre estes cuidados estão:
ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL CONSTANTE
(no período de chuva) VEDAÇÃO DAS LATERAIS COM FITA
As abelhas necessitam de uma alimentação de No momento da transferência para a colméia, reco-
reforço, que consiste em solução de água com açúcar menda-se a vedação das frestas com auxilio de fita
(xarope), para garantir a sobrevivência nas condições gomada. Quando você perceber que as colmeias
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
de poucas flores no período chuvoso. estão vedadas internamente, não será mais preciso
utilizar as fitas gomadas.
MÍNIMA PERTURBAÇÃO
Não seja curioso e nem abelhudo. Quando estão MANTER OS CAVALETES UMEDECIDOS
alocadas nas colmeias, as abelhas necessitam de tran- COM ÓLEO DE CARTER USADO
quilidade para não enxamearem (abandonar o ninho), As formigas e cupins são inimigos naturais que destroem
para evitar perder a rainha, e diminuir as chances de as colônias de abelhas, e precisam ser eliminados antes
sucesso do ataques de predadores. da montagem do meliponário. Quando isso não é
possível, use uma tira de espuma para amarrar no
VERIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DIÁRIAS
38 cavalete e mantenha esta espuma encharcada com 39
Para evitar perdas das colônias por inimigos naturais, óleo de carter usado.
uso de agrotóxicos e outras situações ocasionais é
preciso realizar visitas diárias ao meliponário. Observe LIMPEZA DAS COLMEIAS
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


atentamente as colmeias para ver se houve modifica- Caso não seja feita uma limpeza rotineira, ao longo
ções de um dia para o outro. do tempo as colmeias acumulam entulho natural de
folhas, cascas de árvores, teias de aranha e mesmo
LIMPEZA DA ÁREA DO MELIPONÁRIO
outros insetos indesejados (como marimbondos, la-
O terreno do meliponário deve estar sempre limpo. gartixas, sapos, aranhas, escorpiões e mesmo cobras).
Isto garante a segurança do meliponicultor em visita Portanto, realize uma limpeza periódica para evitar
às colmeias (ataque de animais peçonhentos como perdas de colmeias e acidentes com o meliponicultor.
cobras, escorpiões e aranhas). Além do mais, em
todas as etapas de produção o mel necessita higiene SUBSTITUIÇÃO OU CONCERTOS
total. Lembre-se, trata-se de um alimento. A limpeza DE MÓDULOS DANIFICADOS
evita possíveis contaminações e riscos para a saúde Na Amazônia a umidade e mudanças do clima acele-
IMPORTANTE!
das pessoas que irão consumi-lo. ram o desgaste da colméia. Quando constatar que as
partes de madeira precisam ser consertadas ou subs-
Se estas COBERTURA DAS COLMEIAS CONTRA CHUVAS
tituídas, não espere muito tempo. No entanto, avaliar
orientações Na natureza as abelhas estão sempre abrigadas em
forem seguidas
se é melhor realizar primeiro a transferência completa
a risca, você terá seus ninhos e protegidas nos ocos das árvores. No da colônia, antes de qualquer reparo. Isto porque a
um meliponário meliponário as colmeias devem receber uma cobertu- perturbação pode prejudicar a colônia, levando a morte
seguro, para as ra de telha, para evitar tanto a incidência da luz do sol da rainha e /ou exameagem (abandono da colônia).
colmeias de a pino, como a chuva intensa. Deve-se lembrar que a
abelhas e capaz madeira das colmeias é resistente até certo ponto ao
de produzir mel.
sol e água de chuva intensos.
PASSO A PASSO DO PREPARO

7.1
DO XAROPE DE REFORÇO
Alimentação
1
NOTA

de reforço Fazer a
quantidade
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
exata para usar
no mesmo dia.
O xarope não
Esta é uma das principais etapas do manejo, princi- pode ser

2
palmente no inverno, quando as colmeias precisam guardado
de alimentação de reforço devido a baixa coleta de porque estraga.
néctar e pólen. Isto ocorre porque há poucas floradas
no período das chuvas na Amazônia. Algumas espé-
cies como o açaí têm a capacidade de produzir pólen
40 o ano todo, o que auxilia o manejo das colmeias, caso 41
na área do meliponário exista um açaizal natural Colocar 1l de água na
e/ou plantado. panela
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Nesse período as abelhas precisam receber um xarope
de reforço. É barato e fácil de fazer. Veja a receita:

3
Depois acrescentar 1kg
XAROPE DE REFORÇO de açúcar no recipiente.
RECEITA PARA 9 COLMEIAS

4
Ingredientes:

- 1 litro de água;
- 1 quilo de açúcar;

Levar ao fogo e
ficar mexendo só para
dissolver o açúcar,
não precisa esquentar
muito e se ficar quente, Usando um funil,
deixar esfriar. encher a garrafa (PET)
O xarope deve ser servido às abelhas quando estiver
à temperatura ambiente. Garrafas de refrigerante tipo
PET são ideais para armazenar o xarope e para auxi-
liar na alimentação das colmeias.
Importante: Dependendo do número de colmeias, a
Manual de Meliponicultura

quantidade de xarope pode ser maior ou menor, mas


a medida deve ser sempre de 1 para 1, ou seja,
a quantidade de água e açúcar devem ser iguais.

COMO SERVIR O XAROPE

Coloque nas melgueiras uma cumbuca plástica de

Manual de Meliponicultura
120 ml de capacidade, com cinco palitos de picolé
dentro. Encha a cumbuca de xarope.
Lembre-se: Esses palitos de picolé servem para que as
42
abelhas não morram afogadas ao entrarem na cum-
buca para se alimentar. Assim elas podem caminhar
até o nível mais baixo do recipiente de plástico.
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

43

Rafael Araújo

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


Instituto Peabiru / Richardson Frazão

No verão o xarope deve ser colocado pelo menos


uma vez por semana. No inverno é necessário que
seja colocado duas vezes (lembre que há poucas plan-
tas com flores na região).
8
Multiplicação
de colmeias 8.1
Cuidados
importantes
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Quanto mais colmeias, maior a produção de mel. Por Após as multiplicações, adote todos os cuidados
isso, é importante que o meliponicultor multiplique para que o o manejo correto seja feito. Além disso,
suas colônias de abelhas. Estas também poderão ser é necessário manter um registro constante do que
comercializadas ou trocadas por outros produtos com ocorre com as colônias no meliponário, mantendo um
outros produtores iniciantes. Esta é uma etapa impor- caderno de anotações organizado.
44 tante e deve ser realizada por técnicos, profissionais 45
especializados ou pessoas treinadas. As multiplicações
devem obedecer alguns critérios importantes: SEU CADERNO DE ANOTAÇÕES DEVE CONTER
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


As abelhas devem ter sido manejadas corretamente; As datas de alimentação com o xarope;

O ninho deve ocupar todo o módulo de baixo da col- As datas de limpeza de colmeias e do meliponário;
méia e o módulo de divisão da colmeia, ou seja, este
A ocorrência de enxames em migração, ataques de
deve ser um ninho bem forte;
abelhas ladras, além de outros insetos e predadores;
A quantidade de abelhas deve ser ótima
As anotações das plantas em floração no entorno do
(colmeia populosa);
meliponário;
O tempo de manejo deve ser seguido corretamente,
Os acontecimentos e outras informações que o
ou seja um mínimo de 4 meses e, um máximo de 6
meliponicultor considerar relevantes.
meses (manejo correto);

O meliponário deve estar estruturado para receber


um maior número de abelhas de maneira cômoda;

Se você não tiver segurança em fazer este trabalho,


chame o técnico!
9
FILTRAGEM

Depois de colhido o mel deve ser filtrado. Nos proces-

Coleta sos artesanais, pode-se utilizar meias-calças femininas,


tipo de seda. Custa pouco e deve funcionar como

do mel
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
coadores de café feitos de meia. Antes e após o uso os
coadores caseiros devem ser bem lavados e mantidos
higienizados.

Na Amazônia, se as colmeias forem manejadas corre-


tamente, a coleta de mel ocorrerá no verão (em geral,

Manual de Meliponicultura
DESUMIDIFICAÇÃO DO MEL
de julho a dezembro), período de maior floração.
Cuidados importantes para o mel não estragar
COMO COLHER O MAIS DELICIOSO MEL DO MUNDO
O mel das abelhas sem ferrão é fino, diferente do mel
46 É muito simples fazer a coleta do mel das abelhas da apicultura. Por ter muita umidade, pode fermentar 47
nativas sem ferrão e diferentes maneiras podem ser facilmente, o que vai estragar sua produção. Por isso
usadas. Veja abaixo qual a melhor opção para o seu alguns cuidados devem ser tomados. Para beneficiar
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

e Populações Tradicionais
meliponário: o mel, siga o passo a passo:

s Bomba a vácuo: ligada a energia elétrica, a


IMPORTANTE! bomba suga o mel dos potinhos rapidamente, por 1) Leve ao fogo, em banho Maria, o vidro com o mel 47
A bomba a meio de uma mangueira fina, armazenando-o no coletado.
vácuo é a maneira recipiente de 1,5 litros já acoplado ao aparelho.
2) Deixe o vidro aberto e mexa o mel com um termô-

Tradicionais
mais higiênica de Esse tipo de bomba geralmente é encontrada em lojas de produtos metro de laticínio até alcançar 60 graus.

da Amazônia
colher mel. hospitalares e custa cerca de R$ 400,00.
3) Feche o vidro ainda quente e deixe esfriar.
s Seringa descartável: basta inserir a seringa des-

e Populações
cartável no potinho e sugar o mel até ficar cheia. 4) Armazenar em local ventilado, dentro de caixas ou
Depois, despejar todo o conteúdo da seringa no enrolados em papel.

Abelhas Nativas
vidro que irá armazenar o mel.
Obs.: Calor e luminosidade devem ser evitados.

Abelhas Nativas da Amazônia


s Peneira: colocar uma peneira em cima da vasilha
onde o mel será armazenado. Com cuidado, retirar
a melgueira da caixa para abrir os potes e virar sobre LEMBRE-SE
a peneira. Ficar atendo para quando o mel parar de Se o mel não for beneficiado, conserve-o na geladeira, como se faz
escorrer e recolocar a melgueira na caixa. com o iogurte. O mel colhido e envasado sem aquecimento deve
Telas de nylon utilizadas em janelas de casas também podem ser usa- ser mantido na geladeira. Fora dela, o mel se estraga.
das como peneiras, porém o mel deverá passar por uma nova filtragem.
10
Manual de Meliponicultura

Manual de Meliponicultura
Considerações
OUTRAS FORMAS DE TIRAR A UMIDADE 1. Antes de iniciar sua criação busque orientação
com técnicos capacitados. Não se deixe levar por
No caso de grandes quantidades de mel coletado, a pessoas que não tem nenhuma prática no manejo
umidade do mel deve ser retirada com um equipamen- das abelhas e desconhecem as espécies, assim você
to especialmente construído para isso, o desumidifica- evitará dor de cabeça;
48 dor. Trata-se de uma máquina para grandes produto- 49
res, pois o investimento é alto, podendo chegar 2. Não introduza colônias de espécies de abelhas que
a R$ 50.000,00. não ocorram na sua comunidade e/ou região onde
está sua propriedade rural, procure conservar as
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais


espécies da fauna local;
ATENÇÃO! 3. Na época do plantio e de preparo da terra, caso
Não esqueça que, independente da forma de coleta, seja necessário derrubar árvores, lembre de ter autori-
só o mel desumidificado atende às normas brasileiras zação do órgão ambiental de sua cidade. Sempre
de produção de alimentos. tente resgatar as abelhas mesmo sendo de espécies
que não produzem mel, elas são suas aliadas na
produção de alimento saudável;

4. Caso você não tenha interesse em criar as abelhas,


resgate as colônias e as deixe no interior da floresta.
Um dia você precisará delas para a polinização das
plantas frutíferas da sua propriedade;

5. Não venda as colmeias e/ou colônias somente


pelo interesse financeiro momentâneo, você estará
apoiando o comércio ilegal e apoiando pessoas de
caráter duvidoso;
6. Caso você queira ser um médio produtor, maneje
as espécies da sua região. Se você tiver mais que 50
colmeias será necessário realizar o Cadastro Técnico
Referência
Manual de Meliponicultura

Federal junto ao IBAMA;

7. Faça das abelhas suas grande aliadas para a


bibliográfica
Kerr, W. E. Virgilio de Portugal Araujo (1919-1983). Acta Amazonica
produção de alimentos a partir da polinização das 13 (1-2):327-328.1984.
plantas regionais como açaí, bacaba, goiaba,
pupunha, taperebá, cupuaçu. Lembre-se que essas e Kerr, W. E.; Carvalho, G. A.; Nascimento, V. A. 1996. Abelha
Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Belo Horizonte MG,
outras plantas tem frutos importantes para alimenta- Ed. Fundação Acangaú, 144pp.
ção de nossa população e poderão ser comercializa-
Nogueira-Neto, P. Vida e Criação de Abelhas indígenas sem
dos em feiras e em agroindustrias;
ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997. 445p.
50 8. Plante árvores na sua propriedade, assim você Oliveira, F.; Kerr, W. E. 2000. Divisão de uma colônia de jupará
contribui com o clima de sua região de do planeta. (Melipona compressipes) usando-se o método Fernando Oliveira.
Incentive seus vizinhos a plantar árvores, suas abelhas INPA, Manaus - AM. 7pp.
Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais

poderão utilizar as flores do seu vizinho para produzir Posey, D. A.; Camargo, J. M. F. 1985. Additional Notes on the
mel e frutos; Classification and Knowledge of Stingless Bees (Meliponinae,
Apidae, Hymenoptera) by Kayapó Indians of Gorotire, Pará,
9. Respeite sua floresta. Cada hectare de floresta em Brazil. Annals of Carnegie Museum54 (8): 247-274.
pé pode comportar até 2.500 colmeias e assegura
100 toneladas de carbono não emitidos na atmosfera;

10. Faça das abelhas nativas um aliado contra o


desmatamento e o aquecimento global, e tenha uma
Fontes de consulta
vida saudável e bem doce com a sua família. O meio Frazão, R. F.; Reis, R. W. A.; da Costa, A. J. S. Espécies de Abelhas
Indígenas Sem Ferrão com Potencial de Uso como Estratégia de
ambiente agradece.
Desenvolvimento Social por Comunidades do Entorno de Macapá,
Ap.. In: 2º Seminário de Iniciação Científica da Universidade
Federal do Amapá. Macapá: UNIFAP, 2006.
Oliveira, F. Manual de Meliponicultura: Edição Especial para
Meliponicultores Tradicionais - Tecnologia e Técnicas de Manejo
para a Reprodução de Colônias e Produção de Mel de Abelhas
Indígenas Sem Ferrão (Meliponíneos). Instituto Iraquara. 2006.
36p.
Villas-Bôas, J. Manual Tecnológico: Mel de Abelhas sem Ferrão.
Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Brasil, 2012. 96 p.; il. - (Série Manual Tecnológico). Disponível
em http://www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf.
Realização Patrocínio

Você também pode gostar