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3. Na visão do grupo, quais são as funções dos direitos fundamentais diante das
“transformações e aflições do século XXI”, sobretudo em uma sociedade “tribalizada” e que
produz discursos de ódio?
R. De início, cumpre observar que viver em sociedade é conviver e, para conviver, é de suma
importância a existência dos direitos fundamentais. Isso porque é a partir destes que direitos e
deveres são pré-estabelecidos para que os direitos individuais não se sobreponham aos
direitos coletivos. São, portanto, um conjunto de garantias e liberdades que alicerçam o
processo civilizatório.
No Brasil, essa temática é abordada pelo art. 5º da CF/88, segundo o qual “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”.
Ao definir que ninguém será submetido a tratamento desumano ou degradante, bem
como que a lei punirá qualquer discriminação que atente aos direitos e liberdades, o texto
constitucional relaciona diretamente a concretização dos direitos fundamentais a uma atuação
positiva do Estado, que proteja os indivíduos titulares desses direitos e regule as relações
civis.
Nessa linha, o cerne da questão é o discurso de ódio apoiado na liberdade de expressão
que, ao contrário do que ocorre, deve caminhar até o ponto em que não ultrapasse os demais
direitos fundamentais de outros indivíduos. Logo, se a liberdade de se expressar de um fere a
de outrem, então torna-se opressão.
A própria Convenção Americana de Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário,
expressamente discrimina que dispositivos legais devem proibir a apologia ao ódio nacional,
racial ou religioso que promova discriminação, hostilidades, crimes e violências em geral.
Isto porque, a livre e irrestrita manifestação de discursos odiosos, opressivos e
preconceituosos corrompem a democracia, bem como perturbam a paz social, sobretudo
quando direcionados a grupos historicamente “sensíveis”.
E aqui está o papel de suma importância dos direitos fundamentais que, conforme
disposto na Constituição Federal, nunca poderá ser utilizado como escudo para infringir outro
direito. Em outras palavras, além de outorgar direitos e deveres, limita-os a fim de efetivar o
bem-estar social, a proteção da ordem e o convívio da comunidade como um todo.