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A Artigo Original

Lima TMS et al.

Equação de predição do percentual de gordura


corporal (%PG) baseado na combinação de
medidas das dobras cutâneas de homens em
unidade de tratamento intensivo – UTI
Prediction equation of body fat percentage (%BF) based on the combination of skinfold measurement
from men in the intensive care unit - ICU

RESUMO
Thaize Maria Silva Lima1
Helen Maria Silva César de Carvalho2 Introdução: A equação de predição da gordura corporal pode ser uma ferramenta chave na
Maria Cinlany Torres de Aguiar3 avaliação do estado nutricional de pacientes críticos. Objetivo: Desenvolver uma equação de
Maria Conceição de Oliveira4 predição, por Stepwise, para acessar o percentual de gordura corporal de pacientes críticos.
Método: Estudo transversal com 12 homens, sendo utilizadas as variáveis antropométricas e
demográficas e feita análise de prontuários. Obteve-se a amostra por conveniência dos ­indivíduos
admitidos na UTI. Análises exploratórias de médias das variáveis demográficas e antropométricas
foram feitas. Aplicou-se análise univariada para variáveis numéricas, avaliando-se dispersão,
sendo a mediana apresentada nos resultados alternativamente em relação à média. Resul-
tados: As variáveis explicativas da massa de gordura corporal - MGC - em nível de p-valor
­estatisticamente significante (p<0,05) e maiores coeficientes de correlação foram selecionadas
para o procedimento passo a passo, Stepwise. Análise Stepwise por exclusão das covariáveis,
Unitermos:
avaliando os passos, ­repetidos de 1-6 de todas as observações, considerando R2, p-valor, de todos
Adiposidade. Estado Nutricional. Antropometria.
Unidades de Terapia Intensiva. os resíduos, sugerindo os passos 1 e 4 como melhores equações de predição do percentual de
gordura. Conclusão: O estudo sugere consistência nos resultados e poderão ser aplicadas em
Keywords: UTI após sua validação contra um padrão de referência.
Adiposity. Nutritional Status. Anthropometry. Intensive
Care Units.
ABSTRACT
Endereço para correspondência: Introduction: Body fat prediction equation can be a key tool in assessing the nutritional status of
Maria Conceição de Oliveira critically ill patients. Objective: To develop a prediction equation, for Stepwise, to access the body
Rua Afonso Pena, 1053-Praça 14. ­Departamento fat percentage of critically ill patients. Methods: Cross-sectional study with 12 men and are used
de Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina,
anthropometric and demographic variables and made analysis of medical records. The sample
Departamento de Saúde Coletiva – DSC, ­Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil - was obtained by convenience of individuals admitted to the ICU. Exploratory analyzes of means of
CEP: 69025-050 demographic and anthropometric variables were made. Univariate analysis was applied to numeric
E-mail: olivmc@hotmail.com variables evaluating dispersion, with a median presented the results alternatively compared to the
average. Results: The explanatory variables of body fat mass - MGC - in a statistically significant
Submissão: p-value level (p<0.05) and highest correlations were selected for the procedure step by step,
1/7/2015 Stepwise. Stepwise analysis excluding covariates, evaluating steps, repeated 1-6 of all observations,
considering R2, p-value of all waste, suggesting steps 1 and 4 as best percentage of prediction
Aceito para publicação: equations fat. Conclusion: The study suggests consistency in results and can be applied to ICU
13/8/2015 after its validation against a standard referral.

1. Nutricionista, Especialista em Atenção Integral ao paciente adulto neurocirúrgico em Terapia Intensiva, pela Residência Multiprofissional em
Saúde, do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/ Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Manaus, AM, Brasil.
2. ERM. RD. Nutricionista, Especialista em Atenção Integral ao paciente adulto neurocirúrgico em Terapia Intensiva, pela Residência Multiprofissional
em Saúde, do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/ Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Manaus, AM, Brasil.
3. ERM. RD. Nutricionista, Especialista em Atenção Integral ao paciente adulto neurocirúrgico em Terapia Intensiva, pela Residência Multiprofissional
em Saúde, do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/ Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Manaus, AM, Brasil.
4. Dr., MSc. RD. Professor (a) Associado II de Epidemiologia da Universidade do Amazonas – UFAM. Professor Associado de Avaliação Nutricional
de Hospitalizados em Tratamento Intensivo, Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV, Manaus, AM, Brasil.

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Equação de predição do percentual de gordura corporal

INTRODUÇÃO MÉTODO
A equação de predição da gordura corporal pode ser Constou de uma análise secundária de dados, com
uma ferramenta chave na avaliação do estado nutricional e informações de pacientes críticos da UTI do Hospital
acompanhamento de pacientes críticos. Universitário Getúlio Vargas – HUGV. A coleta de dados
São pacientes com risco de infecções e consequente foi realizada no período de dezembro de 2011 a março
desnutrição, agudizada pelas intercorrências advindas 2012. Participaram adultos de ambos os sexos, idade
da doença de base e concomitante estresse metabólico. igual ou superior a 18 anos. Para execução do presente
Além disso, podem apresentar complicações, geralmente artigo, foram utilizadas informações referentes ao gênero
­associadas à síndrome da resposta inflamatória sistêmica masculino.
(SIRS) e sepse, bem como aos procedimentos clínicos,
­cirúrgicos e interações medicamentosas, levando a maior
risco de morbidade e mortalidade1. Delineamento do Estudo
Neste estudo transversal com 12 homens, foram utilizadas
Por conseguinte, avaliar o percentual de gordura corporal
as variáveis antropométricas e demográficas, aferidas ao
é fundamental na terapia nutricional2,3, por estabelecer níveis
leito, e feita análise de prontuários dos internos.
bioquímicos basais, monitorar mudanças na gordura e tecido
magro, e fornecer parâmetros para avaliar a eficácia das Peso corporal e altura foram estimados, pela
intervenções terapêuticas4. ­impossibilidade de mobilidade do paciente, segundo
Entretanto, a avaliação antropométrica em pacientes ­recomenda a literatura18. Os Índices de Massa Corporal
críticos exige persistência e determinação, uma vez que - IMC (kg/m2) calculados foram classificados conforme a
a aferição corporal é dificultada pela baixa mobilidade, Organização Mundial da Saúde (OMS)19, incluindo três
­sobrecarga de água, devido à infusão medicamentosa, classes de desnutrição.
edema, ascite e dialisato no abdome5. Foram realizadas três medidas seguidas, com ­aproximação
O modelo clássico de dois componentes6 e métodos não de 0,1 mm, das dobras cutâneas do tríceps, panturrilha,
convencionais são utilizados para acessar os compartimentos bíceps (ponto medial interno), dobra abdominal, ­subescapular
corporais. Porém, esses nem sempre estão disponíveis, pelo seguindo recomendações de como aferir a dobra, conforme
maior custo, difícil acesso e pela baixa aplicabilidade em a regionalização corporal. Utilizou-se adipômetro Lange
pacientes críticos7. (Cambridge Scientific Instruments, Cambridge, MA) e fita
As equações de predições são métodos paliativos métrica inelástica.
i­mportantes. Utilizam medidas antropométricas, como Indicadores foram desenvolvidos para construção
circunferências e dobras cutâneas, para estimar a densidade da equação utilizando a média das dobras cutâneas
corporal8,9 e percentual de gordura corporal10, entretanto, (tríceps+bíceps; tríceps+subescapular; tríceps+panturrilha
são equações desenvolvidas, em sua maioria, para ­indivíduos medial; tríceps+bíceps+subescapular+abdominal); e
saudáveis11-13. Surge, assim, o interesse em desenvolver ­multplicação da média das dobras cutâneas (tríceps x
equações específicas para pacientes críticos, validadas e panturrilha).
restritas para esta população, considerando características
como sexo, etnia, idade, massa gordurosa corporal e
­atividade física, bem como destacando o estado mórbido Análise Estatística
para predição dessas equações14. Obteve-se a amostra por conveniência dos indivíduos
Para acessar o percentual de gordura corporal, as admitidos na UTI. Análises exploratórias de médias das
e­ quações de predição utilizam a densidade corporal (DC)15, variáveis demográficas e antropométricas foram feitas.
essa relativamente constante (DC=1,015-1,086g/mL) em Aplicou-se univariada para variáveis numéricas avaliando-
indivíduos normais, associadas com as dobras cutâneas16. se dispersão, sendo a mediana apresentada nos resultados
Mas, pouco se sabe sobre densidade corporal em situações alternativamente em relação à média.
de estresse metabólico. Percentual de gordura corporal (PGC%) estimado após
Portanto, determinar uma equação logística que cálculo da densidade corporal dos participantes empregando
i­dentifique métodos alternativos, confiáveis e precisos para a equação de homens saudáveis [C= (1.1765-0.0744)*
aferição da composição corporal de pacientes críticos, log10(PCT+PSE+PCB+PCA)]9.
torna-se de fundamental importância, como alternativa aos Os pacientes estavam, em sua maioria, edemaciados,
métodos não convencionais17. superestimando a densidade corporal ao utilizar a equação
O estudo objetivou desenvolver uma equação de supracitada. Optou-se por ajuste da equação9, normalizando
predição, por Stepwise, para acessar o percentual de gordura a densidade corporal (DC=1,015-1,086 g/mL) conforme
corporal de pacientes críticos. observado por Serra16.
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Para o ajuste, definiu-se um fator de correção (FC: Os pacientes eram altos (180, 95±14), peso corporal
DC~1,17). Obtendo-se equação 9 corrigida: [DCcorri- estimado na população de 75,15±11 kg. O IMC calculado
gida=((1.1765 - 0.0744)*log10 (PCT + PSE + PCB + foi normal (23,03±3,01). Entretanto, as classes mostraram
PCA))-FC]. percentual de 8,3% de desnutrição leve e 16,7% de pré-
Estimou-se o PGC% segundo equações9,10: [PG%= obesidade (dados não apresentados).
((4.95/DC) - 4.50)* 100]. Essa equação foi aplicada para Observa-se médias, desvio padrão e uma correlação
determinar o percentual de gordura corporal corrigido negativa entre as medidas antropométricas, indicadores
(PGCc%), utilizando a DCcorrigida: [PGCc%=((4.95/ e a variável dependente (massa de gordura corporal).
DCcorrigida)-4.50)*100]. As variáveis explicativas da massa de gordura corporal
A massa de gordura corporal (MGC) foi encontrada - MGC - em nível de p-valor estatisticamente signifi-
aplicando a fórmula: [MGC(kg)=(Peso corporal estimado(k cante (p<0,05) e maiores coeficientes de correlação
g)*PGcorrigido%)/100]; foram selecionadas para o ­p rocedimento passo a passo,
Realizou-se análise de correlação de Pearson´s e Stepwise (Tabela 1).
Scatters, plotados para escolha das covariáveis (medidas Análise Stepwise por exclusão das covariáveis, avaliando
antropométricas e indicadores) que entrariam no modelo de os passos (STEP), repetidos de 1-6 de todas as observações,
regressão múltipla. Analisou-se o coeficiente de correlação considerando R2, P-valor, de todos os resíduos, sugerindo
e associação independente de cada covariável (provável os passos 1 e 4 como melhores equações de predição do
preditora) da massa da gordura corporal, demonstrando a percentual de gordura.
colinearidade entre as mesmas. A Equação 1 incluiu no modelo a soma das quatro dobras
Utilizou-se regressão passo a passo, Stepwise, para cutâneas, p-valor=0,0001 e intercepto, p=0,0001, com
i­dentificar as variáveis, sozinhas ou combinadas, com alto poder de predição (R2=89%), sendo o coeficiente de
maiores correlação e preditoras do PGCc%. Analisando- variação (CV%=7,71; CV%=12,73), baixo e moderado,
se o ­coeficiente de determinação ajustado (R2). Slopes ou respectivamente.
inclinação (alfa) e interceptos (beta). A Equação 2 foi obtida no passo quatro, selecionando
Acessou-se adequação final do modelo de predição combinações de variáveis preditoras: beta1 (soma da média
testando a normalidade dos resíduos, correlação absoluta das dobras do tríceps e gastrocnêmio) ou (PCT+PCG),
e residual com as variáveis dos modelos. Obtendo-se os p-valor=0,0179; e beta2 (multiplicação da média das dobras
valores de predição por exclusão das variáveis analisadas do tríceps e gastrocnêmio ou (PCTxPCG), p-valor=0,0356. O
por passos (STEP) repetidos de 1-6 para todas as observações EPE (erro padrão estimado) teve variação alta (CV%=32,39;
e considerando o R2 e P-valores para todas as covariáveis e CV%=38,46) para valores de beta (PCT+PCG; PCTxPCG),
de todos os resíduos. respectivamente (Tabela 2).
Os dados foram tabulados utilizando Software Epi Info Utilizando dados antropométricos dos indivíduos
versão 6.020 e exportado para o Statistical Analysis System nas equações 1, 2 preditas, obteve-se o percentual de
– SAS ®21. gordura corporal (Tabela 3), com médias muito próximas
O estudo foi submetido e aprovado pela UTI e Comitê (17,34±13,47; 16,04±6,67), respectivamente. Erro
de Ética da Universidade Federal do Amazonas (CEP/UFAM). ­constante (|EC= PGc% - PGC%) baixo de 1,3(7,49%), obtido
pela diferença entre a equação corrigida e equação 1. Porém,
coeficiente de variação alto (CV%=41,58), mas inferior ao
RESULTADOS CV%=77,68 do PGc%. A equação 2 mostrou percentual
Participaram do estudo 12 pacientes graves e suas de gordura alto (28,29±3,74). Uma diferença alta 10,95
c­ aracterísticas antropométricas podem ser visualizadas na (63%) conforme procedimento da equação 1. Entretanto, o
Tabela 1. As análises exploratórias mostram dispersão alta coeficiente de variação foi moderado (13,22%).
para idade (CV%>30%), optando-se pela mediana, cujo A média da densidade corporal, DC (1,9±0,16), sem
valor foi de 44,50 anos. correção, mostrou-se fora dos padrões de população sadia.
As medidas de dobra cutânea do tríceps, bíceps, ­abdominal, Após correção, a média (0,84±0,15) mostrou-se dentro
gastrocnêmio ou panturrilha também ­apresentaram variação da normalidade e CV% homogêneo. O teste t mostrou
alta (>30%). Variação aceitável (20-30%) foi observada ­diferença entre as densidades corporais (DC e ­DCcorrigida),
nas dobras subescapulares, soma do tríceps+subescapular p=0,0001, variação CV% (DC=1,88; DC=4,07). O
e soma das quatro dobras cutâneas, sendo moderada erro constante, erro total e erro padrão estimado entre a
(10-20%) para o IMC e peso corporal, enquanto a altura ­densidade corporal e densidade corporal corrigida não foram
mostrou-se homogênea (8,18%). importantes (Tabela 3).
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Equação de predição do percentual de gordura corporal

Tabela 1 - Características demográficas, mediana, média, desvio padrão e análise de correlação entre massa gorda e variáveis antropométricas de homens,
internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) HUGV, Manaus - AM. Brasil. 2012.
Homens
Variáveis
n Mediana X±DP CV% R P-Valor

Idade (anos) 12 44,50 — 31,94 0,11 0,7


Altura (cm) 12 — 180,95±15 8,18 0,07 0,82

Peso (kg) 12 — 75,15±11 14,75 -0,44 0,14


IMC (kg/m ) 3
12 23,44 23,03±3,0 13,07 -0,45 0,13

PCT (mm) 12 11,16 12,40±4,9 39,29 -0,65 0,02

PCB (mm) 12 6,50 7,47± 3,2 43,19 -0,54 0,07


PCA (mm) 12 28,83 29,08±13 44,90 -0,82 0,001
PCSE (mm) 12 18,33 18,56±4,3 23,25 -0,76 0,003
PCG (mm) 12 10,66 10,72±4,1 38,05 -0,61 0,03
PCT + PCSE 12 29,50 30,96±8,9 28,69 -0,73 0,006
PCT + PCG 12 23,00 23,13±7,2 31,23 -0,79 0,002
PCT + PCB 12 20,33 19,90±6,2 31,13 -0,79 0,002
∑4 dobras (mm) 12 71,16 67,50±20 29,92 -0,94 0,0001
PCT x PCG 12 107,50 138,38±86 61,89 -0,74 0,005
DCc (kg/mL) 12 — 0,82±0,2 18,86 -0,98 —
MGC (kg) 12 — 12,16±8,3 68,22 1,0 —
Nota: PCT = Dobra Cutânea do Tríceps; PCB = Dobra Cutânea do Bíceps; PCA = Dobra Cutânea Abdominal; PCSE = Dobra Cutânea Subescapular; PCG = Dobra Cutânea do Gastrocnêmio; ∑
4 Dobras: PCT + PCB + PCSE + PCA; DCc = Densidade corporal corrigida. Mediana para coeficiente de variação > 30%; Média e desvio padrão para variação <30%; procedimento de análise
­Univariada, medidas de tendência central e de dispersão. Statistical Analysis System, 8.6. SAS® Cary, NC 2001.

Tabela 2 - Análise de regressão logística múltipla por Stepwise passo-a-passo (1-7) entre massa de gordura corporal e covariáveis antropométricas preditivas
para desenvolvimento de equação do percentual de gordura corporal de pacientes em tratamento intensivo, (UTI) HUGV, Manaus - AM. Brasil. 2012.
Equação 1 (STEP 1) %G (homens) = Intercepto + β (∑ 4 pregas)
Intercepto 38,324 3,00729 7,71 0,0001

∑ 4 Dobras cutâneas -0,33 0,04200 12,73 0,0001


R -0,94 — — 0,0001

R2 0,8912 — — —

Equação 2 (STEP 4) %G (homens) = Intercepto + β1 (PCT+PCG) + β2 (PCT x PCG)


Intercepto 48,871 4,6519 9,52 0,0001
PCT + PCG -1,3785 0,4466 32,39 0,0179
PCT x PCG 0,08164 0,0314 38,46 0,0356
R (PCT + PCG) -0,79 — — 0,0020
R (PCT x PCG) -0,74 — — 0,0053
R2 0,9547 — — —
Nota: ∑ 4 pregas: PCT + PCB + PCSE + PCA. PCT = Prega Cutânea do Tríceps; PCB = Prega Cutânea do Bíceps; PCA = Prega Cutânea A ­ bdominal; PCSE = Prega Cutânea Subescapular; PCG =
Prega Cutânea do Gastrocnêmio; PCT+PCG: Soma da prega cutânea do tríceps e do gastrocnêmio ou panturrilha; PCT x PCG: multiplicação da prega cutânea do tríceps e gastrocnêmio; β coefi-
ciente de regreção; EPE erro padrão estimado: EPE= s √ 1-R2 . R: Coeficiente de correlação; R2: O quanto a equação de predição determina o percentual de gordura; Programa Statistical Analysis
System, versão 8.6, SAS® Cary, NC 2001.

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Tabela 3 - Percentual de gordura corporal (Siri, 1961), densidade corporal mensurada (DC) e densidade corporal corrigida (DCc) (Durnin e Womersley,
1974), com valores médios e desvio padrão de homens na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do HUGV, Manaus - AM. Brasil. 2012.
Pacientes Críticos = 12
Variáveis
X±DP EC ET EPE CV% P-Valor
PGc% 17,34±13,5 — — — 77,68 —

PGC% (Equação1) 16,04±6,67 1,3 (7,5%) — — 41,58 —

PGC% (Equação2) 28,29±3,74 10,95 (63,41%) — — 13,22 —


DC 0,035
1,9±0,16 8 1,88
1,17 0,33 0,0001
DCc 0,82±0,15 0,0342 4,07

Nota: PGc%= Percentual de gordura corrigida calculado conforme Siri13 utilizando densidade corporal de homens sadios obtido pela equação de Durnin e Womersley 12 corrigida (-1,17); PGC%=
Percentual de gordura corporal obtidos das equações 1 e 2; DC= Densidade corporal sem correção segundo Durnin e Womersley12; EC= Erro constante (EC= DC-DCc); EPE= erro padrão
­estimado (EPE= s √ 1-R2); ET= erro total (ET= √ ∑Dc-(Dccorri)2/n); EPE-= Erro padrão estimado; t teste: F= 1,04; P>0,05.

DISCUSSÃO percentual de gordura (PGc%), em média de 17,34+13,47,


O estudo demonstrou passo-a-passo duas equações entretanto, alta variação (min=3,24% a max=42,32%)
de predição do percentual de gordura corporal de homens comparado a média do PGC% obtida das equações 1 e 2
em UTI. Essas equações auxiliarão no acesso do percentual por Stepwise. Uma diferença baixa (5,38%) encontrada entre
de gordura corporal utilizando as quatros dobras cutâneas as estimativas das equações aplicadas.
(Equação 1) ou duas dobras cutâneas (Equação 2) após Observou-se uma correlação negativa entre o percentual
sua validação. de gordura e a densidade corporal (R=-0,9855) conforme
A densidade corporal se faz por estimativas, e a fórmula a literatura22, mas também correlacionou negativamente
inclui o volume de água corporal. A densidade corporal com as medidas antropométricas, devido à sobrecarga de
em indivíduos sadios (1,086-1,015 g/mL) correlaciona água corporal.
­negativamente16 com a massa de gordura corporal. Enfatiza-se a importância das Equações 1 e 2 pelo fato de
Em pacientes críticos, a densidade corporal corre- dispensarem o uso do log10 (log na base 10) e o cálculo da
lacionou positivamente com gordura corporal e dobras densidade corporal. Necessita somente das dobras cutâneas
cutâneas por causa do edema generalizado e ou hiperhi- e os valores das constantes (valor de beta) que fizeram parte
dratação1,11, superestimando as medidas e afetando a dessas duas equações, desde que a fórmula seja validada e
inclinação da reta. Ou seja, quanto maior a dobra cutânea, direcionada a homens em UTI.
maior a densidade corporal, causado pelo volume de água Os resultados encontrados harmonizam com estudos
presente. Nesse particular, as maiores dobras refletem em indivíduos sadios utilizando dobras cutâneas para
menor massa gordurosa. ­determinação da densidade corporal 16, mostrando que
Procedeu-se à correção da densidade corporal ­utilizando ­aplicando apenas três dobras cutâneas é possível deter-
um fator de correção dentro dos limites observados em homens minar o percentual de gordura corporal de pacientes
sadios, para testar na fórmula de Siri10, ­determinando-se um críticos.
FC~1,17g/mL. Esse valor depois de aplicado na equação9 As dobras cutâneas comparadas com a bioimpedância
mostrou concordância com os pontos de cortes de percentual elétrica por DEXA em pacientes com insuficiência renal
de gordura de homens normais conforme estudos8,16. crônica23, para acessar a composição corporal, mostraram
Aplicando-se a equação8 para cálculo da ­densidade valores similares e concordância em pacientes em tratamento
corporal corrigida dos pacientes críticos, encontraram-se valores intensivo, corroborando o presente estudo.
médios de densidade corporal ­(DCcorrigida=0,82±0,16) e A ausência de mais estudos que validem métodos para
intervalo de variação (DC=0,57-1,0 g/mL), compatíveis com estimar a massa gordurosa de pacientes graves ­considerando
homens sadios, justificando a escolha do FC. Porém, mesmo especificidades exige aplicação das recomendações
corrigindo a equação, um desvio padrão alto da média DC ­baseadas em algumas evidências clínicas considerando as
corrigida, foi observado entre os participantes. características inerentes a estes pacientes1.
Houve concordância entre os percentuais de gordura Ressalta-se a necessidade de uma população maior para
quando se utilizou a equação 9 corrigida, obtendo-se validação dessas equações.
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Equação de predição do percentual de gordura corporal

Porém, os testes mostraram alto poder de determinação 6. Pereira RPB, Fernandes Filho J. Correlações da densidade corporal
mensurada com as variáveis antropométricas em jovens meninos no
do percentual de gordura ao utilizar uma das equações estágio maturacional pubescente. Rev Bras ­Cineantropom Desem-
de predição e os resultados analisados comparativamente penho Hum. 2004;6(1):54-62.
apresentaram-se bem consistentes. 7. Machado RSP, Coelho MASC, Coelho KSC. Percentual de gordura
corporal em idosos: comparação entre os métodos de estimativa pela
área adiposa do braço, pela dobra cutânea ­tricipital e por bioimpe-
dância tetrapolar. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2010;13(1):17-27.
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gordura corporal em pacientes críticos sugere consistência and its estimation from skinfold thickness: ­measurements on 481 men
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após sua validação contra um padrão de referência. 10. Siri WE. Body composition from fluid spaces and ­densitometry:
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11. Kamimura MA, Draibe SA, Sigulem DM, Cuppari L. Métodos de
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MEC pela Bolsa de Estudo como incentivo para as atividades
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Local de realização do trabalho: Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV. Faculdade de Medicina, Departamento de
Saúde Coletiva – DSC, Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Manaus, AM, Brasil.

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