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Aula 1 2004.02.

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Sumário: Introdução ao estudo das cartas topográficas. Definição de declive de uma
superfície, cartas de pontos intermédios e gráfico de um perfil natural.

Assim que avistaram a Terra pela primeira vez, os astronautas concluíram duas
coisas: a Terra, vista do espaço era azul e não apresentava relevo. Esta segunda
observação causou alguma surpresa pois sabe-se que à superfície, a Terra apresenta uma
variação de ~20.000 m, sendo a altura máxima a do Evereste, com cerca de 8864 m de
altitude (valor que continua a aumentar!) e a menor altitude, a da Fossa do Mindanao,
com uma profundidade de ~11.500 m.
A superfície terrestre e o seu relevo estão discriminados nas chamadas cartas
topográficas.

Introdução à utilização de cartas topográficas


O que é uma carta topográfica?
É uma representação no plano de um conjunto de propriedades do elipsóide
terrestre.

Todos os sistemas de projecção cartográfica introduzem distorções, nenhum deles


consegue representar fielmente, no plano, as propriedades do geóide (superfície de
gravidade constante, que passa pelo nível médio do mar).

Os sistemas de projecção cartográfica agrupam-se em:


→ Sistemas equivalentes:mantêm a proporcionalidade das áreas e deformam os ângulos
Exemplo, mapas onde Africa aparece demasiado comprida.
→Sistemas conformes: mantêm os ângulos, deformando as áreas. Exemplo, mapas onde
o continente africano e a Gronelândia parecem do mesmo
tamanho (de área semelhante), quando se sabe que a
Gronelândia é muito mais pequena.

Sistemas de referenciação
Para estabelecermos a relação entre os pontos da superfície terrestre e os pontos no
mapa (ou carta), necessitamos de um sistema de referenciação, que se desenvolve a
partir de um sistema de eixos e de uma origem (i.e. cruzamento dos eixos origem).

Um dos sistemas mais comuns são as Coordenadas Geográficas:


Eixos origem – Equador e Meridiano de Greenwich
Origem – cruzamento destes eixos

Latitude de um ponto p – é o arco de Meridiano de Greenwich, medido entre o equador


e o paralelo do lugar – varia entre 0º (equador) e 90º Não (Pólo Norte) e 90º Sem (Pólo
Sul).

Longitude de um ponto p – é o arco de Equador, medido entre o Meridiano de


Greenwich e o meridiano do lugar – varia entre 0º e 180º Leste ou 0º e 180º Oeste.

Em Portugal existem duas fontes que se dedicam à construção de cartas


topográficas. As cartas observadas nesta aula são do Instituto Geográfico do Exército
(estas cartas encontram-se, normalmente numa escala de 1:25.000 ou de 1:50.000).

–1–
Diagrama de enquadramento Æ relação entre a nossa carta e as cartas adjacentes
(1/25.000 e 1/50.000). Encontra-se no canto superior esquerdo e consiste num
rectângulo semelhante a:
œIsto significa que a carta que estamos a observar é a carta número 27 e que se
chegarmos a um dos topos N, S, E ou O podemos continuar a nossa pesquisa nas cartas
9, 38, 13 ou 14, respectivamente.
No canto superior direito existe outro diagrama:

5 A – NO 1
50.000 27 250.000
œ Estando a ler a folha 27, na escala 1:25.000, podemos querer passar para uma carta
de escala diferente. Então, para a escala de 1:50.000, sabemos que esta zona está no
mapa 5ª, zona Noroeste; e para a escala de 1:250.000, a mesma zona está na carta 1.
Diagrama de declinações Æ indicações para determinar a declinação magnética na
zona (uso de bússolas, que indicam o Norte Magnético – NM).

NCartográfico NM PNGeográfico
Pelas 15 horas, o desvio é máximo.
NM Este ângulo reduz cerca de 7’ por ano,
NG mas esta informação encontra-se na
carta, juntamente com o ano em que
foram feitas as medições.

O Norte Cartográfico é uma orientação da carta para o norte relativo. Está


associado um erro, que não é, normalmente muito significativo, devido à posição do
respectivo merediano em relação ao de referência:

Merediano Central

N
9
13 27 14
38

–2–
O que é a inclinação magnética?
O norte definido pelo campo magnético terrestre não coincide com o norte
geográfico, apresenta variações (inclusivamente diurnas).
A declinação magnética é o ângulo formado entre o NM e o NG. Varia cerca de 7’ por
ano, pelo que temos de considerar a data de edição da carta.

Devido aos sistemas de projecção, existe ainda uma diferença (C) entre o Norte
Geográfico e o Norte cartográfico, esta diferença é somada à declinação magnética, nas
regiões a Leste do Ponto Central e subtraída nas regiões localizadas a Oeste.

Escalas
A escala é a relação entre as dimensões dos elementos representados no mapa
(planta, carta, etc) e as suas dimensões reais no terreno.

Escalas numéricas: é apresentada como uma fracção em que o numerador indica a


distância na carta e o denominador indica a distância no terreno.
1/25.000 → uma unidade na carta corresponde a 25.000 unidades no terreno.

A escala resulta de:


E=d =1_
D e
em que:
d – distância na carta;
D – distância no terreno;
e – denominador da escala. É o factor de multiplicação da distância na carta, para se
obter a distância real no terreno.

Escala gráfica – é um segmento de recta, dividido em partes iguais, representando a


unidade escolhida à escala. A parte direita é a escala principal, a esquerda é o talão.
1000 900 0 1000 2000

Talão Escala principal

Representação do relevo
O principal objectivo de uma carta topográfica é representar a altimetria, a
configuração do terreno.

Ponto cotado – ponto com uma referência à altitude medida, isto é, a distância vertical
entre o ponto e o nível médio do mar ÆDATUM.

Curvas de nível – linha imaginária que une todos os pontos de relevo situados à mesma
cota (altitude).

As curvas com um traço mais fino são as curvas vulgares.


As curvas com um traço mais grosso são as curvas mestras (interrompidas
com um valor correspondente à cota).

Equidistância – distância vertical, constante, que separa curvas de nível consecutivas.


A equidistância nas cartas de escala 1:25.000 é de 10 m:

–3–
10 m

Algumas propriedades das curvas de nível:


– são curvas fechadas, que nunca se interrompem excepto para indicação da sua
altitude (no caso das curvas mestras) ou quando encontram um escarpado (1), nem
nunca se interceptam(2);

(1) (2)
– quanto menor a equidistância das curvas de nível melhor a representação do relevo;
– quanto menor for a distância entre as curvas de nível (na carta), maior é a inclinação
do terreno e vice-versa.

Legendas
Preto – sobrecarga de relevos, vias vicinais, vias férreas, edifícios e construções.
Verde – coberto vegetal.
Vermelho – toponímia de vértices geodésicos (pontos em que se sabe a latitude,
longitude e altitude exactas), rodovias e construções adjacentes.
Sépia – referências aritméticas (curvas de nível, pontos cotados, marcos
geodésicos).

–4–
Azul – vias de telecomunicações, rios, zonas periodicamente alagadas, lagos e
construções adjacentes.

Formas de relevo

Vertente – superfície topográfica que se desenvolve entre o cimo de um relevo e um


vale adjacente.

Elevações – tergo, dorso, interflúvio: forma convexa resultante da fusão de duas


vertentes. As curvas de nível são em ‘U’ e as de menor altitude envolvem as
de maior altitude.

Colina – corresponde à junção de dois ou mais tergos; as curvas de nível de menor


altitude envolvem as de maior altitude.

Linha de festo, de cumeada, de cumieira: linha de intersecção de duas vertentes, ao logo


da qual se encontram as maiores altitudes.

Depressões – colos ou portelas: formas de relevo que resultam da intersecção de dois


tergos descendentes; ponto baixo, notável, ao longo de uma linha de
cumieira:

–5–
– vales: forma côncava que resulta da junção de duas vertentes, a linha
definida pela intercepção das margens do vale é o talvegue (córrego); os
vales estão representados por curvas de nível em ‘U’ ou em ‘V’, em que as
de maior altitude envolvem as de menor altitude.

– depressões fechadas: formas representadas por curvas de nível fechadas,


em que as de maior cota envolvem as de menor cota.

Muitas vezes somos iludidos com as distâncias reais e as distâncias no mapa. Por
exemplo, no trajecto seguinte:

Distância no mapa = 5 cm
Distância real = 12 cm
Atendendo à escala, estes 5 cm no mapa correspondem a 5 x 25.000 = 125.000
cm = 1,25 Km. Mas na realidade o mesmo percurso foi de 3,0 Km (12 x 25.000 cm).

DV tg i = DV Î DECLIVE
Dh
A i
B’ % declive = DV x 100
Dh Dh

xI

50
B

40
AB 10 IB x Eqd
IB x AB

–6–
Perfil topográfico – escolhe-se um trajecto no mapa, pega-se numa bitola (que pode ser
uma folha de papel) e mede-se a distância entre os dois pontos escolhidos, marcando na
folha as diferentes curvas de nível. Trabalham-se os dados para se obter um gráfico que
reflecte o perfil do trajecto escolhido Æ Perfil natural, porque em ambos os eixos do
gráfico aparecem as mesmas medidas da escala.

Aula 2 2004.03.02
Sumário: Conclusão de um perfil topográfico natural. Introdução à utilização da
bússola: noção de azimute e azimute inverso, orientação de cartas. Método da
triangulação e localização de um ponto. Aplicação prática no exterior.

Ainda sobre o perfil topográfico, há que ter em conta a escala dos eixos: para ser
considerado um perfil natural, a escala tem que ser a mesma. Por exemplo se o mapa
estiver numa escala de 1/25 000, 1 cm no eixo das ordenadas irá corresponder a 250 m
no eixo das abcissas. Muitas vezes, para tornar o declive mais visível, faz-se uma
modificação na escala, fazendo com que 1 cm corresponda a 50 m. O declive deixa de
ser natural e passa a ser sobrelevado.
Uma outra coisa importante para a elaboração de um perfil topográfico, é a
orientação, isto é, deve-se marcar as coordenadas geográficas: NO Æ SE.

Introdução à utilização da bússola


O termo bússola, de origem espanhola ‘BRUJULA’, significa ‘instrumento
misterioso que vê o futuro’, como as bruxas. Este instrumento indica o Norte Magnético
terrestre.
É composto por uma agulha magnetizada que está assente sob um pequeno prego.
O que permite que ela rode livremente em qualquer direcção é a existência de um
pequeno cone.

NM

As bússolas são instrumentos frágeis: um pequeno choque pode fazer com que a
agulha se solte do cone, deixando de rodar. Além destes choques, como a agulha é
susceptível ao campo magnético terrestre, também qualquer metal pode provocar uma
desregulação da mesma, podendo mesmo desmagnetizá-la. Alguns exemplos a ter em
consideração são os telemóveis, chaves, dinheiro, carros (até 5 m de distância), postes
de alta tensão (até 70-80 m de distância), tomadas eléctricas… e tudo que tenha metal.
Até uma lapiseira!
A bússola tem um anel graduado de 0º-360º. Este anel pode rodar livremente.
Existe também uma linha que atravessa toda a bússola, a linha de fé – a partir dela
fazem-se doas as medições!
A bússola permite determinar o norte, o Norte Magnético, mas podemos inserir a
nossa declinação magnética, que está escrita na carta topológica. Para isso usa-se um
pequeno parafuso que esta a noroeste do anel graduado. Isto permite-nos mover o anel,
sem mover a sua base (onde se encontram as setas necessárias às medições e orientações
no terreno).

–7–
Quando, como acontece connosco, as bússolas servem para muitos trabalhos,
fazem-se as reduções no final. Para isso basta ver a diferença no diagrama de
declinações e tê-lo em conta.
NC

NM
NG

 Linha perpendicular a
qualquer uma das outras (no
caso, ao NM)
Azimute Æ é o ângulo medido na horizontal e no sentido dos ponteiros do
relógio, entre uma direcção conhecida (o norte magnético) e uma direcção que
pretendemos
Trata-se de azimute magnético, pois não tem em consideração a declinação.

Como orientar a carta topológica no terreno?


a) Alinhar a seta da base da bússola, que aponta o Norte e corresponde a 0º, com
a linha de fé;
b) Colocar a bússola paralela a uma das linhas Norte-Sul da carta;
c) Rodar a carta, sem alterar a posição da bússola, até que a agulha magnética
encontre a seta da base.

N
Norte Magnético

O E

S
Para saber o azimute de um determinado objecto distante, faz-se uma mirada, que
consiste em fazer o mesmo que foi feito para alinhar a carta, mas com a ajuda do
espelho e de uma mira, que se encontra na base superior do espelho.

Se me encontro num determinado ponto e pretendo saber a posição de pontos


conhecidos relativamente ao local onde me encontro, meço o azimute. Mas quando se
pretende o oposto, deve-se somar 180º se o valor do ângulo medido for inferior a 180º e

–8–
deve-se subtrair 180º se acontecer o contrário. De uma maneira mais prática e rápida,
basta marcar o valor do ângulo oposto na linha de fé Æ Anti-azimute.

Aula 3 2004.03.09
Sumário: Introdução ao estudo dos minerais. Propriedades fundamentais. Estudo e
identificação de minerais em amostras de mão.

Introdução ao estudo dos minerais


Não é fácil dar a definição exacta de mineral. No entanto, é vulgar considerar-se
como mineral, uma substância inorgânica natural, sólida, homogénea, com composição
química bem definida e quase sempre com estrutura atémica ordenada.
Excepções:Calcite – não é 100% inorgânico, pois teve o contributo de seres vivos;
Mercúrio nativo – estado líquido em condições ambientais normais;
Ortose – substituição de iões potássio por iões rubídio.
É frequente utilizar-se o termo mineral para designar um corpo cristalizado de
composição química definida

Propriedades dos minerais – resposta do mineral a alterações químicas. Em termos


ópticos, reflecte-se no modo como a luz atravessa ou é reflectida por um mineral.

O que caracteriza o mineral é a sua malha – a menor unidade estrutural que


caracteriza o mineral. Pode ser definida pela forma, dimensão e conteúdo atómico.
Com base na sua composição química e o tipo de ligações que se estabelecem,
vamos obter um determinado tipo de mineral.

Propriedades físicas – resposta a uma acção mecânica. Só pode ser estudado em


amostras de mão.
1. Cor:
A cor depende da absorção, pela camada superficial que constitui os minerais, de
certos comprimentos de onda do espectro solar quando este incide sobre eles.
Existem alguns elementos cromatóforos que quando se encontram num
determinado mineral, este apresenta uma cor característica:
→ Fe2+ – Amarelo;
→ Fe3+ – Vermelho;
→ Cu2+ – Azul (Ex: azurite);
→ Cu3+ – Verde (Ex: malaquite);
→ Cr – Verde;
→ Hg – Rosa-vivo;
→ Li – Lilás.
Enquanto alguns minerais apresentam sempre a mesma cor – minerais
idiocromáticos, como é o caso do enxofre, outros apresentam uma cor variável –
minerais alocromáticos (quartzo leitoso, ametista, fumado – cristalização com
materiais radioactivos).

2. Clivagem:
Propriedade direccional que traduz a possibilidade do mineral se fracturar sempre
segundo famílias de planos paralelos (Ex: calcite – 3 planos).

–9–
Está relacionada com a estrutura interna do mineral. As famílias de planos de
clivagem resultam de uma baixa densidade atómica, de ligações atómicas fracas ou de
longa distância inter-atómica.
 ligações covalentes, conformação piramidal (diamante) ≠ planos de ligações
covalentes e ligações de Van der Walls entre os diferentes planos (grafite).

Grau de clivagem Perfeita


Boa
Imperfeita
Ausente
Quando não tem clivagem, desenvolve fracturas:
→ fractura conchoidal – o mineral não tem supesfícies mais fracas, logo a energia
dissipa-se uniformemente Æ forma de concha.
→ fractura esquirolosa Æ em pequenos fragmentos.

3. Brilho:
Maneira como a luz natural difusa é reflectida pela superfície não alterada do
mineral.
– Metálico – brilho de qualquer metal;
– Vítreo – brilho semelhante ao do vidro.
 Resinoso: semelhante a resina. Exemplo, enxofre.
 Gorduroso: semelhante a uma camada de gordura. Ex: quartzo massivo.
 Sedoso: minerais fibrosos.
 Nacarado: semelhante ao interior de conchas. Madrepérola.
 Adamantino: brilho do diamante.
4. Densidade:
Mede-se com aparelhos que nos dão valores exactos. Depende da composição e da
estrutura do mineral – átomos presentes (nº atómico, massa); arranjo ou tipo do
empacotamento dos átomos.
Exemplo:
D varia com o tipo de arranjo
Ca(CO3) C
-3
Calcite: 2,7 g.cm Diamante: 3,5 g.cm-3
Aragonite: 2,9 g.cm-3
↓ Grafite: 2,2 g.cm-3
segregada pelos animais na formação
das suas conchas. Quando eles
morrem, passa a calcite.

O valor médio de densidade é D = 2,7 g.cm-3, que corresponde à densidade dos


minerais mais comuns: quartzos, feldspato e calcite.
D ≤ 2,7 g.cm-3 – minerais leves
D > 2,7 g.cm-3 – minerais pesados
A densidade dos minerais metálicos é cerca do dobro dos restantes minerais:
Pirite, FeS2: d = 5 g.cm-3
Calcopirite, CuFeS2 : d = 4,1-4,3 g.cm-3
Blenda, ZnS: 4 g.cm-3
Hematite, Fe2O3: d = 5 g.cm-3
Magnetite, Fe3O4: d = 5,2 g.cm-3

– 10 –
5. Hábito:
Corresponde à forma das faces externas adquirida por um mineral, quando
cristaliza ‘à vontade’. Também resulta da estrutura interna do mineral. Exemplo: pirite,
cúbico; calcite, romboedro.
Cúbico (Pirite)
→ Isométrico (todas as faces têm a mesma dimensão): Octaédrico (Diamante)
Romboédrico (Calcite)
Fibroso (Micas)
→ Longo: Acicular (forma de agulha)
Prismático

→ Planos: Lamelar (Micas)


Tabular (Gesso)

Maciço (ss) – ‘calhau’


→Maciço: Granular – com pequenos grãos à superficie
Botrioidal – forma de cacho de uvas

6. Dureza:
Corresponde à resistência que a superfície de um mineral oferece ao ser riscado
por outro. A primeira pessoa a identificar esta propriedade dos minerais foi Mohs, que
criou uma escala de durezas relativas – Escala de Mohs:
1 – Talco
2 – Gesso
3 – Calcite
4 – Fluorite
5 – Apatite
6 – Ortose
7 – Quartzo
8 – Topásio
9 – Corindo
10 – Diamante

Trata-se de uma escala de dureza RELATIVA. O diamante não é 10 vezes mais duro
que o talco, mas sim 900 vezes!
Para preservar os termos da escala, ou no caso da falta deles, recorre-se a outros
objectos, cuja dureza é mais ou menos conhecida. Assim, a unha risca os termos 1 e 2; a
moeda de cobre risca o termo 3; o canivete risca até ao termo 5; a lima até ao termo 6;
este termo e os restantes riscam o vidro.
Unha – 2,5
Moeda de cobre – 3
Canivete – 5,5
Prego de aço – 6,5
Porcelana – 7

7. Traço:
Ou risca é a cor do mineral quando reduzido a pó.
Nalguns casos, a cor quando reduzidos a pó é a mesma – enxofre (minerais
idiocromáticos), no caso da hematite, por exemplo, é um mineral de cor negra, mas de
traço vermelho. Outros minerais têm traço branco (talco) e noutros o traço é incolor
(como os silicatos).

– 11 –
8. Reacção – HCl:
Alguns minerais reagem com o ácido clorídrico. A calcite é o único que provoca
efervescência a frio.

9. Magnetismo:
Existem minerais paramagnéticos e diamagnéticos. A magnetite é muito
magnética.

Propriedades químicas
A maioria das espécies minerais é constituída por dois ou mais elementos que se
combinam entre si, de acordo com as suas afinidades químicas. Os minerais
constituídos apenas por um elemento químico – elementos nativos – são raros.
Só ocorrem cerca de 20 elementos nativos na Natureza, se não considerarmos os
gases). Estes minerais mono-atómicos dividem-se em três grupos:
Os metais e os semi-metais
a) Metais: Au, Ag, Pt, Cu ocorrem em veios hidrotermais –
filões. São veios de água muito
b) Semi-metais: As, Bi, Sb quente.
c) Não-metais

Quanto aos não metais:


Enxofre: Ambientes vulcânicos (ricos em gases, H2S e SO2);
Ambientes sedimentares fortemente redutores.
S
 Cor amarela, brilho resinoso, pouco denso (leve – 2,05-2,09), dureza 1,5-2,5

Carbono: Diamante – rochas magmáticas profundas, intrusivas (formam-se sob


grande pressão) – KIMBERLITO, rocha mãe dele.
Grafite – rocha metamórfica que resulta do metamorfismo do
material carbonoso de origem orgânica.
C
 Cor negra, brilho metálico, pouco denso (leve – 2,23), hábito
tubular (massas foliadas), untuoso ao tacto e suja os dedos.

Nem sempre é fácil determinar as propriedades químicas dos minerais, contudo,


há sempre alguns, como por exemplo a halite (NaCl) que se destingue pelo seu sabor
salgado, e outros, como a calcite que reage a frio com o ácido clorídrico.
Com base na sua composição química, é usual classificar as espécies minerais em
vários grupos:

1. Halogenetos:
Compostos com ligações exclusivamente iónicas (sais). Fazem parte das séries
sedimentares evaporíticas, que precipitam em lagunas (depressões preenchidas por
água) confinadas a clima seco (E > P).

Halite – NaCl
Cor: incolor a alaranjado (impurezas);
Dens.: leve (2,16);
Hábito: cúbico, maciço;
Clivagem: cúbica-perfeita.

– 12 –
2. Carbonatos:
Inclui mais de 60 minerais. O mais comum é a calcite, o mineral fundamental dos
calcários; rochas sedimentares das mais importantes, que se formam em ambientes
exógenos, por precipitação de CaCO3 a partir de água.

Calcite – CaCO3
Cor: transparente, clara (impurezas);
Dens.: 2,71;
Hábito: romboédrico, maciço;
Clivagem: romboédrica-perfeita.

3. Sulfuretos:
Formam-se nas mesmas séries sedimentares que dão origem aos halogenetos e aos
calcários.

Gesso – CaSO4 . 2 H2O [Anidrite CaSO4]


Cor: transparente, branco (tons ocre);
Dens.: leve (2,32);
Hábito: tabular, fibroso, sacaróide;
Dureza: baixa – 2 (risca-se com a unha).

O sulfato de cálcio precipita frequentemente sob a forma de anidrite – sem água,


que por hidratação posterior dá origem ao gesso.

Os elementos metálicos têm grande tendência para se ligarem ao S2- (como ao O2-)
formando os sulfuretos.
É a primeira classe bastante importante, porque inclui a maior parte dos minérios
(ocorrência económica de minerais).

Pirite – FeS2
Cor: amarelo acastanhado, pálido;
Traço: negro-esverdeado, acastanhado;
Dens.: pesado (5-5,2);
Hábito: cúbico ou maciço.

Calcopirite – CuFeS2
Cor: amarelo latão;
Traço: negro-esverdeado, acastanhado;
Dens.: pesado (4,2-4,3);
Hábito: maciço.

distinguem-se por: brilho mais intenso
cor mais clara
dureza inferior (risca-se com o canivete)
4. Óxidos:
Classe dos componentes naturais onde o O2- se combina com um metal ou mais.

Hematite – Fe2O3
Cor: negro;
Traço: vermelho, acastanhado;
Dens.: pesado (5,3)

– 13 –
Hábito: maciço, tabular ou radial.

Magnetite – Fe3O4
Cor: negro;
Traço: negro;
Dens.: pesado (5,2);
Hábito: maciço
 Fortemente magnética.

Minerais para ver:


→ Hematite (difere da magnetite, porque não é magnético);
→ Halite;
→ Calcite.

Aula 4 2004.03.16
Sumário: Realização do 1º teste prático (mapas topográficos).
Continuação do estudo dos minerais em amostras de mão: os silicatos.

Os silicatos são o grupo mais importante dos minerais constituintes das rochas.
Eles representam cerca de 90% dos minerais das rochas da crosta terrestre. Pode dizer-
se que os silicatos desempenham um papel no mundo inorgânico semelhante ao dos
compostos de carbono no mundo orgânico.

5. Silicatos:
São uma classe mineral que se caracteriza por ligações covalentes de
sílica+oxigénio, formando o tetraedro [SiO4]4-. Cada ião silício liga-se fortemente a
quatro oxigénios (ligação covalente), situados nos vértices desse tetraedro. Em
contrapartida, as ligações entre o oxigénio e os outros elementos (potássio, cálcio,
sódio, ferro, magnésio e alumínio), frequentemente presentes na estrutura dos silicatos,
são bem mais fracas.
É usual classificar os silicatos com base na ligação dos tetraedros:

A) Nesossilicatos → mineral em que o tetraedro não se liga directamente a outro,


a ligação é feita por catiões.
 Olivinas:
(Mg, Fe)2 SiO4
Cor: verde-escuro (azeitona), facilmente alterável (laranja);
Brilho: vítreo;
Dureza: 6,5-7.
São os primeiros a serem formados. São ricos em Fe e Mg Æ são muito
frágeis em termos de pressão e temperatura.

B) Inossilicatos → minerais formados por cadeias de tetraedros.


 Piroxenas (simples):
(Na, Ca, Mg, Fe) SiO3
Cor: negro, castanho-escuro;
Clivagem: prismática, perfeita em duas direcções
perpendiculares;

– 14 –
Hábito: prismático (prismas curtos);
Dureza: 5-6,5;
Também são frágeis, são os segundos a serem formados.

 Anfíbolas (longo):
(Ca, Na)(Mg, Fe, Al) Si6O22
Cor: escura (verde a negro);
Clivagem: prismática, perfeita em duas direcções obliquas
(124º/56º);
Hábito: acicular (prismas longo);
Dureza: 5-6.

C) Ciclocilicatos → anéis de tetraedros de sílica unidos por catiões.


 Berilo:
(Berílio)
Quando rico em crómio, origina a esmeralda.

D) Filossilicatos → os tetraedros formam planos/folhas ligadas pelos catiões.


 Micas:
K(Mg, Fe, Al) AlSi3O10(OH)2
Brilho: vítreo a nacarado;
Clivagem: basal perfeita;
Hábito: lamelar;
Dureza: 2-3.
As micas mais comuns são: biotite (mica preta), moscovite (mica branca) e a
lepidolite (mica lilás).

 Talco:
Mg6[Si8O20] (OH4)
Cor: verde pálido (cinzento, branco);
Clivagem: basal perfeita;
Hábito: maciço.

 Caulinite:
Al4Si4O10 (OH4)
Cor: Branco;
Clivagem: basal perfecta;
Hábito: maciço;
Dureza: 2.
O caulino (nome comercial desta argila) possui um comportamento plástico e
têm um aspecto terroso.

E) Tectossilicatos → os tetraedros distribuem-se nas três direcções do espaço.


 Quartzo:
SiO2
Cor: translúcido, branco, rosa, leitoso, fumado (devido a
cristalização com elementos radioactivos)…;
Brilho: vítreo a gorduroso;
Clivagem: não tem, apresenta fractura conchoidal;
Hábito: maciço ou prismático (só quando cristaliza com
espaço);

– 15 –
Dureza: elevada.

 Feldspatos:
(Na, Ca, K) (AlSi)4O6
Brilho: nacarado a vítreo;
Clivagem: perfeita em duas direcções perpendiculares;
Hábito: prismático, maciço;
Dureza: 6-6,5.

a) Ortose (ortoclase) – feldspato potássio (K) – rosa pálido;


b) Plagioclase – feldspato sódio-cálcio (Na;Ca) – cinzento, branco.

→ Pertite (quando o mineral arrefece o K e o Na separam-se, formando


listas rosa (ortose) e branco (halite).

Minerais para ver:


→ Talco;
→ Quartzo (sem clivagem);
→ Fluorite;
→ Moscovite;
→ Lepidolite;
→ Anfíbola (difere da piroxena na clivagem – obliqua, e no hábito – prismas longos).

Aula 5 2004.03.23
Sumário: Conclusão do estudo dos minerais em amostras de mão.

Minerais para ver:


→ Calcopirite (distingue-se da pirite pela cor, brilho e dureza);
→ Piroxena (difere da anfíbola pela clivagem perpendicular e pelo hábito – prismas
curtos);
→ Ortose (feldspato K);
→ Malaquite (hábito fibrorradiado);
→ Pirite (mais escuro, menos brilho e mais duro que a calcopirite);
→ Estaurolite;
→ Enxofre (composto S);
→ Magnetite (fortemente magnético);
→ Biotite;
→ Azurite;
→ Grafite (composto de C);
→ Caulinite;
→ Berilo.

– 16 –
Aula 5 2004.03.23
Sumário: Introdução ao estudo das rochas ígneas em amostras de mão. A composição
mineralógica e a textura, enquanto critérios fundamentais da classificação bem
como a cor e o estudo de saturação em sílica.

Introdução ao estudo das rochas ígneas


Admite-se que os magmas, à medida que evoluem, dão origem a fracções
magmáticas cuja composição difere significativamente do magma inicial. Deste modo,
podem resultar do mesmo modo magma rochas muito diferentes. Um dos mecanismos
relacionados com a evolução do magma é a cristalização fraccionada.
A ordem de cristalização dos silicatos no interior de um magma é conhecida por:
Séries de Bowen.

~1500ºC
Olivina Plagioglase Ca
Piroxena (Anortite)
Anfíbola
Biotite Plagioclase Na (Albibe)
Temperatura
de fusão Moscovite

Ortose

Quartzo
~500ºC
Este mecanismo de cristalização sequencial consoante o ponto de fusão dos
minerais, permite a formação de várias rochas ígneas a partir do mesmo magma inicial
Æ cristalização fraccionada.

Rochas são fragmentos da crosta terrestre; aglomerado de minerais e tem uma


certa homogeneidade estatística.

Início das Séries de Bowen: Gabro


Ol Plag.Ca
Px Diorito
Anf Sienito
Bi Plag.Na Granito
Mosc

Ort

Qz
Gabro – melanocrata (cor escura), rico em olivina/piroxena e plagioclase Ca Æ
minerais máficos. Rocha básica – magma basáltico (teor em sílica baixo).
Diorito – mesocrata (cor intermédia), possui menos menos minerais fero-
manesianos e mais félsicos (ricos em sílica).
Sienito – com mais minerais ricos em sílica – minerais felsicos, cor clara
(leucocrata). Alguma anfíbola, pouca biotite e plagioclase Na. 5% a 10% de quartzo.

– 17 –
Granito – de cor semelhante à dos sienitos, possui muito mais sílica, quase não
tem plagioglase Na; e o feldspato K (ortose) é abundante, enquanto o quartzo é visivel
sob a forma de cristais bem definidos.

Minerais escuros, ricos em Fe e Mg, D > Qtzo Æ minerais máficos


Minerais claros, D – Qtz Æ minerais félsicos

Critérios de classificação das rochas ígneas


→ Composição mineralógica;
→ Textura.

Minerais essenciais – caracterizam uma família de rochas.


Exemplo: minerais essenciais do granito Æ quartzo e feldspato K.
Minerais acessórios – Caracterizam diferentes tipos de rochas:
 Granito biotítico (com biotite);
 Granito de duas micas (com biotite e moscovite).
Minerais acessórios menores – quase nunca interferem na classificação.
Minerais acidentais – ocorrem ocasionalmente.

Quanto à sílica:
Rocha leucocrata – cor clara, dominam os minerais félsicos (0%-15% de minerais
máficos) Æ sienitos e granitos;
Rocha mesocrata – cor média, composição mineralógica intermédia (15%-40% de
minerais máficos);
Rocha melanocrata – cor escura, dominam os minerais máficos (>40%).

Textura
Diz respeito às dimensões, à forma e ao arranjo dos minerais que constituem as
rochas.
Textura das rochas ígneas:
– Fanerítica – do grego faneros, grosseiro. Grãos minerais bem visíveis,
distinguem-se uns dos outros macroscopicamente; textura característica das rochas
plutónicas – arrefecimento lento no interior do manto. (grosseira, média ou fina).
– Afanítica – grãos minerais não visíveis a olho nu; textura característica das
rochas vulcânicas – magma ascende à superfície, a cristalização é rápida devido ao
arrefecimento rápido.

Rocha plutónica (textura fanerítica) Correspondente vulcânica (textura afanítica)


Gabro Basalto
Diorito Andesito
Sienito Traquito
Granito Riólito

– Vítrea – não há minerais, o material é constituído por uma pasta amorfa


relativamente homogénea (exemplo, obsidianas). Isto deve-se a um arrefecimento
muitíssimo rápido.

– 18 –
– Outros tipos de texturas:
• Pegmatítica – minerais muito desenvolvidos (decimétricos) e frequentes
com grande perfeição morfológica (exagero da textura faneritica).
Arrefecimento muito lento ou associado à fase hidrotermal da
cristalização do magma.

• Pofírica – grandes cristais – fenocristais – dispersos no interior de uma


estrutura afanítica (rocha vulcânica; inversamente também temos textura
afanítica, isto é, completamente afanítica)
Houve um processo que interrompeu a sedimentação dos minerais
que se formam primeiro e que trouxe o magma à superfície.

• Vesicular – rochas vulcânicas com cavidades aproximadamente esféricas


(desgasificação da rocha)
 material denso – basalto vesicular;
 material leve – félsico – pomito (pedra pomes);
– máfico – escória vulcânica.

• Piroclástica – agregado de material vulcânico resultante da deposição sub-


aérea. Piroclastos – materiais vulcano-sedimentares.
Após consolidação:
– tufo vulcânico – cinzas e poeiras vulcânicas (φ < 2mm);
– brecha vulcânica – fragmentos da rocha vulcânica (φ > 2mm)
aglutinados por tufo vulcânico;
– bombas vulcânicas– fragmentos com mais de 6cm.

SiO2

Sobresaturadas Granito
(Riólito)
Saturadas Sienito Diorito Gabro
(Traquito) (Andesito) (Basalto)
Cor
Sienito Gabro
Nefelinico olivínico
Subsaturadas (Fonolito) (Basalto)

Leucocratas Mesocratas Melanocratas

Rochas para ver:


→ Granito;
→ Sienito;
→ Escória basáltica;
→ Riólito;
→ Pomito;
→ Brecha vulcânica;

– 19 –
→ Basalto;
→ Gabro;
→ Sienito nefelínico.

Composição Posição Textura Modo de Saturação Cor Identificação


mineralógica nas S.B. Jazida em sílica
(+) Ortose
Quartzo Final Fanerítica Plutónica Sobresaturado Leucocrata Granito
(-) Biotite (porfiróide) (félsica)
(Plagioclase Na)
(+) Ortose
(-) Biotite Final Fanerítica Plutónica Saturado Leucocrata Sienito
(Plagioclase Na)
Início Vítrea Vulcânica Subsaturado Melanocrata Escória
vesicular (máfica) basáltica
Biotite Final Porfírica Vulcânica Félsica Leucocrata Riólito
Quartzo
Final Vítrea Vulcânica Félsica Leucocrata Pomito
vesicular
Reacção com Inicial Piroclástica Vulcano- Máfica Melanocrata Brecha
HCl sedimentar vulcânica
Inicial Afanítica Vulcânica Saturado Melanocrata Basalto
(porfírica) (máfica)
Piroxena Inicial Fanerítica Plutónica Saturado Melanocrata Gabro
Olivina (máfica)
Nefelina Sienito
Ortose Fanerítica Plutónica Subsaturado Leucocrata nefelínico
Biotite

Aula 6 2004.04.13
Sumário: Continuação do estudo das rochas ígneas em amostras de mão.

Rochas para ver:


→ Tufo vulcânico;
→ Basalto porfírico;
→ Basalto vesicular;
→ Granito pegmatítico;
→ Andesito;
→ Diorito;
→ Basalto vesicular (amigdalóide);
→ Granito pegmatítico (2);
→ Granito (2);
→ Diorito (2);
→ Obsidiana;
→ Dunito;
→ Traquito.

– 20 –
Aula 7 2004.04.20
Sumário: Introdução ao estudo das rochas sedimentares: tipos fundamentais de rochas
sedimentares detríticas, de precipitação química e biogénicas.
Observação de rochas sedimentares em amostras de mão.

Introdução ao estudo das rochas sedimentares


As rochas sedimentares formam-se à superfície da Terra e resultam de processos
da geodinâmica externa – processos exógenos (pressão e temperatura ‘normais’).
Representam ~ 5% do volume e cobrem ~ 75% da superfície da crosta terrestre
(continental e oceânica).
Formam depósitos estratificados (isto é, apresentam-se quase sempre em camadas
sobrepostas) Æ resultam da consolidação ou litificação dos sedimentos.

As rochas sedimentares representam um conjunto de rochas muito diversificado.


A sua génese depende de muitos factores.
Podemos considerar três grupos fundamentais:

I. Rochas sedimentares detríticas


Formadas essencialmente por deposição de fragmentos herdados (fragmentos de
outras rochas pré-existentes).
São rochas constituídas por >50% de materiais herdados:
– fragmentos de mineral (como quartzo);
– fragmentos de rochas (como granito);
– fósseis (ou fragmentos).
 Fragmento → CLASTO
Assim, as rochas sedimentares detríticas são constituídas por mineraloclastos
(minerais), litoclastos (rochas) ou bioclastos.
A água de percolação (de
circulação através dos poros dos
sedimentos detríticos) tem
tendência a precipitar minerais
Cimento que vão consolidar o material
freável.
Inferior a 50%.

Após a deposição de um sedimento (não consolidado, muito poroso), ocorre a


circulação de água rica em compostos que precipitam nos interstícios do sedimento e
que vão agregar, cimentar os clastos.
Rocha sedimentar consolidada
Clastos Cimento
(componente detrítica) (componente cristalina)

Carbonatado – cor clara; reacção ao HCl (frio);


Silicioso – cor clara; sem reacção ao HCl;
Ferruginoso – tons avermelhados (precipitação de óxidos de ferro);
Argiloso – cores variáveis; (absorvente).
Classificação das rochas sedimentares detríticas consolidadas:

– 21 –
→ Dimensão dos clastos;
→ Forma dos clastos.
Dimensão Clastos Forma Rocha Características
φ < 0,004 mm Argilas Argilito Cor variável,
suave ao toque,
untuoso ao tacto;
não se vêem
partículas.
0,003 mm < φ < 0,063 mm Siltes Siltito Cor variável,
parece argilito,
mas é mais
áspero. Quartzo
mais pequeno.
0,063 mm < φ < 2 mm Areias Arenito Compostos
essencialmente
por
mineranoclastos,
sendo o mais
comum o quartzo
(mais resistente).
φ > 2 mm Blastos Rolados Conglomerado Formados por
Angulos Brecha litoclastos.
os

Tanto o argilito como o siltito não têm um cimento específico, uma vez que são
constituídos por partículas muito finas que podem consolidar por si só. No caso do
arenito, já existe cimento, porque os clastos já apresentam uma dimensão um pouco
maior.

Argilitos – argilas > 50%, isto é, pode conter até 50% de elementos mais grosseiros.
Arenitos – areias > 50%. Casos especiais:
• Grauvaques: silte + argila > 15%. Litoclastos abundantes, cor cinzenta.
Muito heterométrica. Forma-se na base das taludes continentais Æ
correntes de turbidez.
• Arcose: feldspatos > 25%. São sedimentos imaturos e encontram-se
muito perto das rochas-mãe, uma vez que são muito sensíveis à
meteorização química.
• Quartzitos: arenitos quártzicos de cimento silicioso.
Ortoquartzitos.

Calibragem dos elementos detríticos – reflecte a homogeneidade dos clastos.


 Rocha bem calibrada: diâmetro dos clastos pouco variável;
 Rocha mal calibrada: diâmetro dos clastos variável; heterométrico.

II. Rochas sedimentares de precipitação química


Formam-se por precipitação química de elementos existentes na água de percolação,
tal como acontecia nas rochas detríticas. A diferença é que neste tipo de rochas a
quantidade de precipitado é superior a 50%.

– 22 –
São rochas constituídas por > 50% de materiais neoformados (minerais autigénicos).
Rochas sedimentares formadas por precipitação química directa de compostos
saturados numa solução aquosa (mar ou lagos).
Compostos mais comuns em soluções saturadas, na natureza:

1. Rochas evaporíticas (sais/halogenetos)


Evaporitos – formam-se principalmente em climas áridos (E>P) devido à
evaporação da água em lagunas confinadas ou em lagos.

Série evaporítica Halogenetos


Sulfatos
Carbonatos

São rochas constituídas essencialmente por salgema (essencialmente Halite – NaCl,


argilas, etc), silvite (KCl) e gesso (CaSO4 . 2 H2O).

2. Rochas siliciosas (SiO2)


Chertes – formam-se essencialmente em ambientes marinhos profundos, por
diagénese de oozes de microorganismos siliciosos (foraminiferos, radiolários e
diatomáceas). São constituídos por sílica microcristalina, fibroradiada (calcedónia),
criptocristalina ou amorfa (opala).
Consoante as contaminações com sílica, considermos vários tipos de chertes:
 Argilas e carbonatos – sílex;
 Óxidos de ferro – jaspe (tom vermelho);
 Material carbonoso (orgânico) – hidito (cor negra).
3. Rochas carbonatadas (CaCO3)
Calcários – formam-se em ambientes áridos continentais ou em ambientes marinhos
tropicais, a partir da precipitação de CaCO3 (a temperaturas superiores a 28ºC, o CO2
evapora facilmente da água do mar). Em termos macroscópicos podem definir-se os
seguintes tipos:
 Calcário maciço – compacto, microcristalino ou resultante da acumulação de
microorganismos carbonatados, não visíveis em amostra de mão.
 Calcário oolítico – constituído por partículas esféricas, φ < 2 mesmo,
semelhantes a ovas de peixe (oóides/oólitos), resultam da precipitação de camadas
concêntricas de CaCO3 em torno de um núcleo.
Formam-se em ambientes de elevada energia hidrodinâmica, sujeitos a correntes
de vai-vem, como a zona intertidal.

Núcleo

 Calcário pisolítico – constituído por partículas arredondadas (podem não ser


esféricas e podem não ter núcleo), φ > 2 mm, semelhantes a ervilhas
(pisóide/pisólitos). Formam-se no mesmo tipo de ambiente dos calcários oolíticos.
 Calcário cristalino – correspondem aos calcários com uma textura cristalina
uniforme, como as estalagtites e as estalagmites (travernitos).
 Dolomitos – calcários em que ocorreu a substituição tardia da calcite por
dolomite [CaCO3 Æ (Ca, Mg) (CO3)2]. Como a dolomite é de menores dimensões
atómicas, estas rochas apresentam pequenas concavidades. A dolomite não faz uma
efervescência franca ao contacto com HCl.

– 23 –
Margas – rocha carbonatada com 35% a 65% de argila. Quando a percentagem de
argila é menor, entre %5 e 35%, considera-se um calcário. São semelhantes ao argilito,
mas não reagem ao HCl.

III. Rochas sedimentares biogénicas


Formam-se essencialmente devido a processos bioquímicos – síntese a partir de um
ser vivo (conchas).
Estas rochas dividem-se em:
→ bioedificadas: resultam da actividade directa dos seres vivos.
→ bioacumuladas: resultam da acumulação, sem transporte significativo de
esqueletos, conchas, etc.

Siliciosas
 Bioacumuladas:
• Diatomito: acumulação de frústulas de diatomáceas (leves, ásperas e
bons exsicadores);
• Radiolaritos: acumulação de conchas de radiolários;
• Espongolito: acumulação de espículas de espongiários.

Carbonatadas
 Bioacumuladas:
• Calcários conquiferos, lumachelas.
 Bioedificadas:
• Calcários recifais;
• Bancos de ostras;
• Bancos de rudistas (etc).

Rochas para ver:


→ Arenito;
→ Grauvaque;
→ Conglomerado;
→ Silex;
→ Salgema;
→ Arenito ferruginoso;
→ Arcose;
→ Calcário oolítico;
→ Calcário compacto.

Identificação das rochas sedimentares detríticas


Textura Natureza dos Natureza do
( φ clastos) clastos cimento Observação Identificação
(Mineralogia (Mineralogia)
)

– 24 –
0,063 < φ < 2 mm Mineranoclast Desfaz-se com
os quartzicos Silicioso facilidade. Não há Arenito
reacção ao HCl.
Litoclastos Silicioso (e
0,063 < φ < 2 mm feldspáticos argiloso) Cor cinzenta. Grauvaque
(Silte, argila)
Litoclastos de Carbonatado e Faz grande
φ > 2 mm calcário ferruginoso reacção a frio Conglomerado
com o HCl.
0,063 < φ < 2 mm Mineranoclast Ferruginoso Não reage. Arenito
os ferruginoso
Mineranoclast Faz
os e Carbonatado e efervescência.
φ > 2 mm
litoclastos silicioso Devido à textura Arcose
(brecha arcósica) feldspáticos grosseira, é
brecha.

Identificação das rochas sedimentares de precipitação química e biogénicas


Cor Natureza Observações Identificação
Cinzento Siliciosa Não reagiu mas deveria ter Sílex
(azulado) (Argilas e reagido ao HCl a frio.
carbonato ) (cherte)
Acastanhado Evaporitico Não reagiu. Salgema
(Halite – NaCl)
Castanho Carbonatado Composto por pequenas esferas Calcário
de cor clara. oolítico
Reacção com HCl a frio.
Branco Carbonatado Não se observam minerais. Há Calcário
reacção com HCl a frio. compacto

Aula 8 2004.04.27
Sumário: Continuação do estudo das rochas sedimentares em amostras de mão.

Identificação das rochas sedimentares detríticas


Textura Natureza dos Natureza do
( φ clastos) clastos cimento Observação Identificação
(Mineralogia (Mineralogia)
)
φ > 2 mm Litoclasto Ferruginoso e Não há reacção Brecha
argiloso ao HCl.
Suave ao toque;
Partículas untuoso ao tacto. Argilito
φ < 0,004 mm
autocoesivas. Não se observam
partículas.
Minerano- Partículas Um pouco mais
0,004<φ<0,063mm clastos de autocoesivas. áspero que o Siltito
quartzo Argilito.

– 25 –
Identificação das rochas sedimentares de precipitação química e biogénicas
Cor Natureza Observações Identificação
Castanho Siliciosa Pouco denso, untuoso ao tacto. Diatomito
acinzentado Propriedades de excicador.

Castanho claro Carbonatada Reacção com HCl. Calcário


fossilífero
Cinzento claro Carbonatada Parece-se com o Argilito, mas reage Marga
ao HCl.
Clara Evaporítica Não reage, mas absorve o ácido, pois Gesso
deve conter argilas.
Avermelhado Carbonatada Reage ao HCl. Difere do Oolítico, Calcário
porque não tem núcleo de pisolítico
sedimentação e é de maiores
dimensões.
Creme Carbonatada Reage com HCl quando reduzido a Dolomito
pó.
Vermelho Siliciosa Não reage ao HCl e tem óxidos de Jaspe
ferro que lhe confere a cor
característica.
Castanho Carbonatada Reacção bastante forte com HCl. Travertino

Aula 9 2004.05.04
Sumário: Introdução ao estudo das rochas metamórficas.
Observação de exemplares em amostras de mão.

Ultrametamorfismo
Anatexia

Magma primário – fusão parcial do manto (rochas que existem desde o momento de
formação da terra.
Magma secundário – fusão total do material sujeito ao ultrametamorfismo – Anatexia.

Introdução ao estudo das rochas metamórficas


Rochas formadas a partir de transformação, no estado sólido de rochas pré-
existentes (ígneas, sedimentares ou metamórficas), quando sujeitas a novas condições
de pressão e temperatura, durante um certo período de tempo que conduzem à:

– 26 –
Cristalização de novos Aquisição de texturas
minerais (neoformados) particulares

sem alteração significativa da composição global da rocha.

A identificação e a classificação das rochas metamórficas baseia-se em critérios


texturais e mineralógicos.

Rochas metamórficas

Foliadas Não-foliadas
Textura Textura Textura Granular
Xistosa Gneissica (minerais ± dispersos pela amostra)
(laminação muito (série de bandas de minerais
fina da rocha) félsicos e máficos)

Rochas Xistosas – Apresentam uma foliação fina. Em geral as folhas apresentam


uma composição mineralógica semelhante.

Série de metamorfismo das rochas argilosas – Série Pelítica


→ série de rochas metamórficas que se obtêm sob o aumento de pressão e
temperatura de material argiloso. É a mais comum e a mais engraçada!
1. Xisto argiloso (folheto, shale): resulta da evolução de um argilito
M
por compacção, o que dá origem a xistosidade grosseira (lâminas
E
espessas).
T
2. Xisto (Slate): rocha francamente xistosa, com fissilidade planar
A
penetrativa nítida (possivilidade de destacar a rocha em lâminas que se
M
observa em todas as escalas); grãos invisíveis a olho nu (quartzo, argilas e
O
micas); variedade negra → ardósia.
R
3. Xisto luzente (filito, phylite): grão fino, constituído
F
essencialmente por argilas e micas, que conferem um brilho acetinado aos
I
planos de xistosidade (recristalização de argilas e micas).
S
4. Micaxisto (schist): constituído por quartzo e micas, em bandas,
M
onde as micas são particularmente visíveis; grão médio a grosseiro. (A
O
xistosidade começa a perder-se).

→ A evolução de uma rocha xistosa, desde o xisto (ardósia) ao micaxisto, traduz-


se pela recristalização e crescimento dos minerais.

Rochas Gneissicas/GNEISS – Apresentam um bandado grosseiro (sem laminação)


em que alternam bandas de cor clara e escura, com composições mineralógicas
diferentes.
Migmatito – fusão dos minerais félsicos numa zona perto do ultrametamorfismo,
onde há uma maior pressão.
Fase seguinte – Anatexia – (Granito de anatexia).

– 27 –
Metamorfismo de afundamento → pode não chegar ao Micaxisto;
Metamorfismo regional → chega, por vezes ao Migmatito;

Como ocorrem todos ao em simultâneo, pode ocorrer outro tipo de metamorfismo:

Metamorfismo de contacto

Xisto mosqueado: apresenta alguns minerais desenvolvidos e destacados


(estaurolite, silimanite); significam que o xisto sofreu um aquecimento importante.

Rochas Granulares
Metaquartzitos: constituídos quase exclusivamente por quartzo (por vezes têm
alguma mica); resulta da recristalização de um arenito quártzico de cimento silicioso.

Cimento

Os clastos de quartzo ao
recristalizar aumentam de tamanho por
reabsorção do cimento

Mármores: constituídos essencialmente por calcite, com fractura conchoidal (as


corneanas pelíticas são escuras e distinguem-se do basalto por este tipo de fractura).

Identificação das rochas metamórficas


Textura Composição Cor Observações Identificação
mineralógica
Foliada – Quartzo, argilas Cinzento Achatada. Existência Xisto
Xistosa e micas de lâminas finas.
(muito invisíveis a olho
finos) nu
Foliada – Argilas (não Cinzento + Laminas grosseiras e Xisto argiloso
Xistosa visíveis) castanho existência de fósseis.
(fino)
Foliada – Argilas e micas Cinzento mais Brilho acetinado Xisto luzente
Xistosa (não visíveis) claro devido à existência
(fino) de micas. Lâminas
finas.
Foliada – Quartzo e micas (Moscovite) Xistosidade menos Micaxisto
Xistosa visíveis evidente.
(grosseiro) (anfíbolas)
Foliada – Estaurolite e Cinza escuro Existem minerais Xisto
Xistosa silimanite desenvolvidos e mosqueado
destacados.
Foliada – Minerais Castanho, Bandas de minerais Gneisse
Gneissica félsicos e branco, preto sem laminação.

– 28 –
máficos
Granular Quartzo Castanho Não reage com HCl. Metaquartzito
Granular Calcite e Branco, Óxidos de ferro que mármore
dolomite rosa/vermelho conferem uma cor
avermelhada.
Granular Arginas Escuro (preto) Fractura conchoidal. Corneana
invisíveis a olho
nu
Foliada – Argilas, micas e Cinza muito Achatado. Laminas Ardósia
Xistosa quartzo escuro não muito visíveis.
invisíveis a olho
nu
Foliada – Bandas minerais Rosa/aranja, Os minerais félsicos Migmatito
Gneissica félsicos e preto entram em fusão e
máficos por isso, as bandas,
já não estão bem
definidas.
* Basalto → com minerais visíveis (piroxena e olivina)

– 29 –

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