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LEGISLAÇÃO E DIREITO

ESPORTIVO

Autoria: Ivan Tesck

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Márcio Moisés Selhorst


Revisão Gramatical: Iara de Oliveira

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2013
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
796.026
T337l Tesck, Ivan
Legislação e direito esportivo / Ivan Tesck. Indaial : Uniasselvi, 2013.
112 p. : il

ISBN 978-85-7830-686-1
Ebook 978-85-7141-272-9

1. Esportes – Doutrina e legislação.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Ivan Tesck

Possui Graduação em Direito pelo Centro


Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
(2008), Pós-graduação em Direito Penal pelo Centro
Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI (2012)
e é Pós-graduando em Educação a Distância: Gestão
e Tutoria pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci –
UNIASSELVI. Atualmente é Professor-tutor do curso
a distância de Pós-graduação em Direito Penal pelo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.
Sumário

APRESENTAÇÃO...........................................................................07

CAPÍTULO 1
Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional................................................................09

CAPÍTULO 2
Contratos Desportivos..............................................................39

CAPÍTULO 3
Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)..............................................................73

CAPÍTULO 4
Justiça Desportiva........................................................................93
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):

Este caderno de estudos contém textos e reflexões relacionados ao Direito


Desportivo Brasileiro. Os textos são apresentados dentro de uma metodologia
dialógica e abordam temas de grande relevância sobre o assunto. A disciplina de
Legislação e Direito Desportivo proporcionará ao(à) pós-graduando(a) uma visão
sistêmica do desporto em suas múltiplas manifestações no mundo do direito.

O presente caderno de estudos é composto por 4 (quatro) capítulos.


O primeiro capítulo apresentará como o desporto está inserido no mundo
globalizado, os direitos fundamentais relacionados ao desporto, os direitos
fundamentais do torcedor sob a ótica dos direitos difusos e coletivos, a
responsabilidade civil no desporto, a responsabilidade civil relacionada à
segurança do torcedor e a segurança do torcedor como dever e responsabilidade
do Estado. O segundo capítulo abordará temas concernentes à relação de
trabalho entre o atleta profissional e a entidade de prática desportiva, bem
como as relações obrigacionais existentes no âmbito do direito civil. No terceiro
capítulo estudaremos os principais assuntos relacionados à Lei Pelé ou Lei
Geral Sobre Desporto e ao Estatuto do Torcedor. Por fim, no quarto e último
capítulo trataremos da justiça desportiva, expondo ao(à) pós-graduando(a)
suas características peculiares, seu funcionamento, sua competência, seus
órgãos oficiais, seus princípios, as vedações e os critérios para seus membros
e as sanções passíveis de aplicação.

O autor.
C APÍTULO 1
Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender como o desporto está inserido no mundo globalizado.

Conhecer os direitos e garantias fundamentais relacionados ao desporto.


Interpretar os direitos e garantias fundamentais relacionados ao torcedor-



consumidor.

Aprender os fundamentos básicos da responsabilidade civil relacionada ao



desporto, distinguindo seus atores e identificando os responsáveis por danos
aos direitos protegidos.
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Contextualização
O objetivo inicial desse capítulo é demostrar como está inserido o desporto
na sociedade contemporânea.

Posteriormente, daremos início a uma abordagem do desporto como direito e


garantia fundamental do cidadão, inclusive, fazendo uma análise dele sob a ótica
do Estatuto do Torcedor e do Código de Defesa do Consumidor.

Por fim, analisaremos a responsabilidade civil das entidades envolvidas


nas atividades desportivas, bem como o dever do Estado em prestar a devida
segurança quando da realização de eventos desportivos.

O Desporto e o Mundo Globalizado


O fenômeno desportivo, antes de tudo, representa um fator cultural enraizado
em praticamente todas as classes sociais. É prática universal, muitas vezes,
migrando de seu país de origem para praticamente todo o mundo.

Trata-se de um fenômeno de grande amplitude, envolvendo paixões, amor,


carisma, consumo, política e interesses sociais diversos, inclusive jurídicos,
evoluindo ao longo da história até atingirem proteção jurídica constitucional em
uma sociedade globalizada.

Esteves (1998, p. 7) discorre, abordando uma visão crítica acerca do tema, e


destaca os principais aspectos sociais do desporto ao longo da história:

[...] o desporto de competição a todo custo, ou da competição-


hostilidade, é um simples aspecto da sociedade agressiva,
competitiva e de consumo, e que fomos condicionados
na oposição de uns-contra-os-outros. Nesta sociedade
produzem-se quantias, cada vez mais amplas e variadas, de
artigos de consumo, dentre os quais, atraentes espetáculos
de características desportivas. Nestes, como no resto, o culto
da “vedeta”, é fundamental; ou é o mesmo da exaltação da
pequena minoria de “vencedores” dos que sobressaem na
multidão imensa dos “vencidos”. A sua popularidade, do
Desporto, não resulta, apenas, de ser uma luta imediata e
direta, de adversários e inimigos, mas duma luta encerrada
com rituais de grande expectativa, emoção e partidarismo.

O desporto supera qualquer limite de valores estabelecido e, aliado com a


importância dedicada ao assunto, acaba agregando integrantes de uma sociedade
no sentido de um objetivo comum, qual seja: prestigiar e fomentar o desporto de
forma ética e pacífica.

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

O desporto induz ao tratamento igualitário. Procura propiciar


O desporto induz
ao tratamento harmonia, união e prazer entre todos envolvidos, independente
igualitário. Procaura de qualquer tipo de discriminação existente em uma sociedade
propiciar harmonia, globalizada.
união e prazer entre
todos envolvidos, Rosado (1999, p. 38) discorre acerca dos ideais éticos voltados ao
independente de
espírito olímpico, vejamos:
qualquer tipo de
discriminação Na realidade, o Olimpismo pretende que o Desporto seja
existente em colocado a serviço da humanidade, que seja um projeto
uma sociedade educativo, onde, através do Desporto, se afirme o combate
globalizada. a qualquer forma de discriminação (nomencladamente entre
raças, sexos, crenças ideológicas e políticas), se combata a
violência do Desporto, a utilização do “doping”, a exploração do
homem pelo homem e as desigualdades sociais, valorizando-
se a ética desportiva (fair-play) e uma filosofia de vida que
enaltece o desenvolvimento harmonioso do ser humano.

Apesar disso, não são raras as vezes em que verificamos o espírito do


desporto se distanciando de sua ética e até mesmo da moral comum pregada
pela sociedade contemporânea. Por exemplo, lemos e ouvimos sobre ou
assistimos a inúmeros acontecimentos relacionados com brigas de torcidas em
jogos de futebol.

No cenário atual, é preciso haver uma profunda reflexão acerca do sentido


dos valores sociais face aos princípios preconizados pelo desporto, pois é salutar
estabelecer diretrizes claras de envolvimento entre o mercado econômico, as
paixões e a ética desportiva.

Novamente Esteves (1998, p. 21) aborda o tema:

Só há uma forma de entender o fenômeno desportivo: na


perspectiva das estruturas sociais. O que há de característico e
fundamental no desporto é, justamente, o que define e caracteriza
a sociedade em que ele se pratica e se envolve. No tipo atual
de relacionamento humano, é, naturalmente, um fenômeno de
alienação, ou desumanização, em que homens se batem por
uma vantagem – de dinheiro, e decorrentes, concretos, benefícios
de ‘prestigio’, ou estatuto social – à custa ou com prejuízos
correspondentes, dos seus adversários-inimigos.

O doutrinador Sergio (2003, p. 43), aponta valores que devem nortear


o sentido e a razão humana do desporto para atingir seus verdadeiros ideais,
conforme segue:
a) No campo do treino desportivo, isto é, no campo de preparo
físico-técnico-tático, acentuará que a tecnocracia é uma das
muitas variantes de desprezo do homem pelo homem e que
o treino não deve submeter o praticante a outros fins que não
sejam os do próprio enriquecimento pessoal do atleta;

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

b) No campo da política federativa e clubista, contribui também


para que se confundam os meios com os fins, por isso que o
clube desportivo com educação através do grupo deverá ser
esquematizado e defendido;

c) No campo do Desporto competitivo e agonístico, revelará


que o desporto não pode perder seu carácter lúdico para
descambar em veículos de interesses publicitários, econômicos
e políticos, continuando, neste caso, o atleta a ser manejado
como “coisa”, como produto secundário, alienando-o de seu
valor pessoal e social.

d) No campo permanente educacional, apresentará o desporto


como uns dos meios de maior valia na educação permanente
do indivíduo... fundamentará a vocação irresistível do ser
humano ao exercício lúdico, como caminho de libertação e
como modo insuperável de escolha e adesão.

É preciso entender que as sociedades evoluem constantemente e o


homem está continuamente modificando suas formas de pensar e agir ao
longo do tempo.

Assim, o desporto como movimento social tende a acompanhar Assim, o desporto


os passos da sociedade, seja alterando suas regras ou adaptando como movimento
novas tecnologias derivadas do comportamento da sociedade social tende a
globalizada. acompanhar os
passos da sociedade,
seja alterando
Portanto, é importante haver uma compreensão do desporto
suas regras ou
para além do prazer dos praticantes e admiradores, sejam eles adaptando novas
profissionais, amadores, investidores ou empresários. O desporto não tecnologias derivadas
envolve somente valores contextuais, mas, também, apresenta caráter do comportamento
normatizador, que traz como consequência a positivação do Direito da sociedade
para os contornos da prática desportiva. globalizada.

Figura 1 – Foto da Propaganda da Empresa Claro

Fonte: Disponível em: <http://www.allejo.com.br/claro-neymar/>. Acesso em: 01 mar. 2013.

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

O marketing como estratégia de consumo aguça a imaginação, associando


feitos heroicos de atletas para se inserir no universo econômico mundial. O
Marketing Desportivo não está restrito somente às empresas que atuam no
mesmo ramo, pois há pessoas jurídicas que não estão envolvidas diretamente
com o desporto, mas que se associam a uma determinada modalidade no intuito
de se aproximar do mercado formado pelo público cativo e apaixonado.

Figura 2 – Foto do Símbolo do Direito

Fonte: Disponível em: <http://www.direitodesportivo.com.


br/index1.html>. Acesso em: 01 mar. 2013.

Ora, ao mexer com a emoção das pessoas o esporte acelera o processo de


fidelização do consumidor, ou seja, ao associar a marca do produto ao esporte
cria-se uma identificação do consumidor com o que está sendo anunciado.
O esporte é um dois maiores meios de propaganda mundial, não só pelo fato
de associar indivíduos, mas, também, por caracterizar uma imagem de saúde,
sucesso e superação de limites estabelecidos.

O desporto é algo essencial ao ser humano, já que nasce do jogo. O


O desporto é algo
essencial ao ser jogo, por sua vez, distingue-se do desporto porque aquele é construção
humano, já que humana, puramente natural, enquanto este é construção de ordem cultural.
nasce do jogo. O
jogo, por sua vez, Vargas (2007, p. 79) aduz acerca do caráter fundamental do jogo
distingue-se do em relação ao homem:
desporto porque
aquele é construção Porque se trata de algo anterior ao construtivismo; o lúdico é
humana, puramente inerente à natureza humana e teve sua gênese na instância
natural, enquanto lúdica através da codificação e institucionalização do
este é construção de jogo. O construtivismo no esporte traduz a contribuição do
ordem cultural. próprio homem à humanidade quando sistematizou o jogo.
Ao adjetivar o jogo com valores do seu tempo, o homem
construiu o esporte, e a ele emprestou e o impregnou de
signos culturais.

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

No Brasil e principalmente em camadas menos favorecidas da sociedade, o


desporto também aparece como possível ascensão à cidadania, à humanização e
a possibilidade de abandonar uma situação menos favorecida.

Em uma sociedade extremamente plural como a brasileira, é essencial haver


um delineamento do direito desportivo, pois as normas jurídicas são fundamentais
para garantir os direitos dos participantes e intervenientes, bem como de toda a
sociedade consumidora.

Novamente, Vargas (2006, p. 39) argumenta:

[...] a humanização do ser humano através do Desporto não


pode ser enfrentada como uma missão impossível. Acreditar
que é possível realizar o impossível é uma contribuição que
está ao alcance de cada um de nós.

Portanto, temos que o fenômeno cultural do desporto em uma sociedade


globalizada é composto, em sua essência, por pessoas e a sua prática deve ser
exercida com finalidades positivas, que ultrapassam qualquer barreira política,
econômica, mercadológica, social e outras.

Atividades de Estudos:

1) É correto afirmar que o desporto tem caráter universal e resulta


de um fenômeno cultural? Justifique sua resposta.
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2) Qual a diferença fundamental entre desporto e jogo?


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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Direitos Fundamentais Relacionados


ao Desporto
A Constituição Federal de 1988 trata o desporto como sendo direito social e
garantia fundamental.

Devemos entender que o desporto não se restringe somente ao


Devemos entender
que o desporto não esporte, mas possui também um sentido de recreação, lazer e diversão.
se restringe somente
ao esporte, mas O artigo 217, § 3º, da Constituição Federal, preleciona que o
possui também um Estado incentivará o lazer como forma de promoção social. Vejamos:
sentido de recreação,
lazer e diversão. Art. 217. É dever do Estado fomentar as práticas desportivas
formais e não formais, como direito de cada um, observados:

[...] § 3º. O Poder Público incentivará o lazer, como forma de


promoção social.

O direito ao lazer está arrolado no artigo 6º da Constituição Federal. Trata-se


de direito social e apresenta íntima relação com a ideia de qualidade de vida.

Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,


o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.

Araújo e Nunes Júnior (2006, p. 493) discorrem sobre os


direitos sociais, dizendo:

Os direitos sociais objetivam a formação do ser humano


integral: agente da sociedade, das relações de trabalho,
construtor do mundo moderno e, ao mesmo tempo, um ser
relacional, humano, que, desse modo, deve integrar sua vida
com lazer, quer como parte de atividade educativa, quer ainda
em caráter profissional, foi incorporado ao nosso sistema
jurídico no patamar de norma constitucional.

O desporto é direito fundamental e obrigação do Estado. É


O desporto é direito
considerado indispensável à pessoa humana e necessário para
fundamental e
obrigação do Estado. assegurar a todos uma existência digna, livre e igual.
É considerado
indispensável à Pois bem, os direitos fundamentais são classificados em gerações.
pessoa humana Direitos fundamentais de primeira geração (naturais) são: limitação
e necessário para aos governantes, respeito aos cidadãos, direito à vida, sobrevivência,
assegurar a todos
propriedade e, principalmente, liberdade. Os direitos fundamentais de
uma existência
digna, livre e igual. segunda geração (políticos) tratam dos direitos sociais do cidadão, na
área econômica, visando ao coletivo para atender melhor à sociedade

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

e proporcionar uma paridade entre todos. Os direitos fundamentais de terceira


geração (sociais) tratam da fraternidade. São direitos inerentes à sociedade
organizada, como, por exemplo: meio ambiente, direito do consumidor, proteção
aos idosos, crianças e deficientes, e o desporto.

A Constituição Federal trata o desporto junto à educação e à cultura, pilares


base de qualquer sociedade em desenvolvimento.

Também podemos encontrar referencias ao desporto na legislação


infraconstitucional, como, por exemplo, nos artigos 4º, 15 e 16, inciso IV e 71, da
Lei no 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Vejamos:

Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em


geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência
familiar e comunitária.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao


respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito a liberdade compreende os seguintes


aspectos:

[...] IV – brincar, praticar esportes e divertir-se;

Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação,


cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e
serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.

A Lei no 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), assim como


outras normas infraconstitucionais, demostram haver uma integralidade dos
direitos constitucionais fundamentais em vários tipos de ordenamentos.

O esporte aliado ao lazer, à cultura e à educação deve ser motivado. No


ambiente escolar a prática de atividades físicas faz parte do currículo escolar, pois
trata-se de matéria importante que proporciona desenvolvimento além do campo
físico e fomenta a integração social de todos sem qualquer discriminação.

O esporte também está presente para proporcionar a integração da pessoa


portadora de necessidades especiais. O artigo 46, incisos III, IV, V e VI, e o
artigo 48, parágrafo único, incisos I, II, III e IV, do Decreto no 3.298/1999, que
regulamentou a Lei no 7.853/1989, são exemplos:

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 46. Os órgãos e as entidades da Administração Pública


Federal direta e indireta responsáveis pela cultura, pelo
desporto, pelo turismo e pelo lazer dispensarão tratamento
prioritário e adequado aos assuntos objeto deste Decreto,
com vista a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes
medidas:

[...] III - incentivar a prática desportiva formal e não formal


como direito de cada um e o lazer como forma de promoção
social;

IV - estimular meios que facilitem o exercício de atividades


desportivas entre a pessoa portadora de deficiência e suas
entidades representativas;

V - assegurar a acessibilidade às instalações desportivas dos


estabelecimentos de ensino, desde o nível pré-escolar até à
universidade;

VI - promover a inclusão de atividades desportivas para


pessoa portadora de deficiência na prática da educação física
ministrada nas instituições de ensino públicas e privadas;

Art. 48. Os órgãos e as entidades da Administração Pública


Federal direta e indireta, promotores ou financiadores de
atividades desportivas e de lazer, devem concorrer técnica e
financeiramente para obtenção dos objetivos deste Decreto.
Parágrafo único. Serão prioritariamente apoiadas a
manifestação desportiva de rendimento e a educacional,
compreendendo as atividades de:

I - desenvolvimento de recursos humanos especializados;

II - promoção de competições desportivas internacionais,


nacionais, estaduais e locais;

III - pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico,


documentação e informação; e

IV - construção, ampliação, recuperação e adaptação de


instalações desportivas e de lazer.

Está presente na legislação que tutela o direito do idoso (Lei no 10.741/2003,


Estatuto do Idoso) e sua prática ajuda manter a saúde mental e física. Abaixo
seguem transcritos artigos da citada legislação que abordam o tema:

Art. 3º. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e


do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade,
a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.

[...]

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar


à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como
pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais
e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

§ 1º. O direito à liberdade compreende, entre outros, os


seguintes aspectos:

[...] IV – prática de esportes e de diversões;

A Lei Pelé (Lei no 9.615/1998), por sua vez, aponta os princípios individuais
do direito desportivo e classifica as modalidades de desporto, conforme segue:

Art. 2º. O desporto, como direito individual, tem como base os


princípios:

[...] II – da autonomia, definido pela faculdade e liberdade


de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática
desportiva;

III – da democratização, garantido em condições de acesso às


atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de
discriminação;

IV – da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de


acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-
se ou não a entidade do setor;

V – do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em


fomentar as práticas desportivas formais e não-formais;

VIII – da educação, voltada para o desporto integral do homem


como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da
prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

Art. 3º. O desporto pode ser reconhecido em qualquer das


seguintes manifestações:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino


e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a
seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes,
com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do
indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a
prática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário,


compreendendo as modalidades desportivas praticadas com
a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na
plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e
na preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas


gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais
e internacionais, com a finalidade de obter resultados e
integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de
outras nações.

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Parágrafo único. O desporto de rendimento pode ser organizado


e praticado:

I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração


pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a
entidade de prática desportiva;

II - de modo não profissional, identificado pela liberdade


de prática e pela inexistência de contrato de trabalho,
sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de
patrocínio.

Desse modo, o desporto pode ser classificado como formal,


Desse modo, o
desporto pode não formal (artigo 217, da Constituição Federal), educacional, de
ser classificado participação, de rendimento, de rendimento profissional e de rendimento
como formal, não não profissional (Lei Pelé no 9.615/1998).
formal (artigo 217,
da Constituição • O desporto não formal possui como principal característica a
Federal),
liberdade lúdica dos participantes, incentivando principalmente à
educacional, de
participação, prática de jogos, brincadeiras e diversão.
de rendimento,
de rendimento • O desporto educacional é aquele praticado no âmbito da escola e
profissional e de de caráter educacional, evitando a discriminação e competitividade
rendimento não excessiva, buscando desenvolver e exercitar a prática da cidadania
profissional (Lei Pelé
cumulativamente com o lazer.
no 9.615/1998).

• Já o desporto de participação é aquele praticado de modo voluntário,


aquele comumente chamado de amador. A prática de diversas
modalidades de esporte busca a interação dos participantes, incentiva à
convivência social e o cuidado com a saúde.

• Desporto de rendimento é o desporto de competição. Deve observar


as normas nacionais e internacionais relacionadas ao tema, inclusive a
Lei Pelé (Lei no 9.615/1998), tudo no intuito de integrar os indivíduos de
um mesmo país ou deste para com outras nações. Recebe tratamento
diferenciado determinado pelo artigo 217, III, da Constituição federal:

Art. 217. É dever do Estado fomentar as práticas desportivas


formais e não formais, como direito de cada um, observados:

[...] III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional


e o não profissional.

• Desporto de rendimento profissional caracteriza-se pela existência


de pacto formal de contrato de trabalho entre o atleta e a instituição de
prática desportiva, havendo, assim, consequentemente, remuneração,
inclusive na forma de patrocínio.

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Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

• Desporto de rendimento não profissional caracteriza-se pela


inexistência de contrato de trabalho e o atleta possui liberdade na prática
desportiva, podendo haver incentivos na forma de patrocínio e outros
materiais.

Sendo assim, tem-se que o desporto alcançou patamar de direito subjetivo


fundamental e constitucional, bem como foi acompanhado por inúmeras
normas infraconstitucionais reguladoras do tema, propiciando sua prática
dentro das diversas modalidades existentes com obediência aos princípios
preconizados.

Atividades de Estudos:

1) O direito desportivo está restrito somente ao esporte ou possui


sentido mais amplo, relacionado a outros princípios de natureza
fundamental constitucional? Justifique sua resposta utilizando o
texto constitucional.
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2) Cite exemplos de legislação infraconstitucional que abordam o


tema desporto e apresente algumas de suas caraterísticas.
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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

3) Cite as principais diferenças entre o desporto de rendimento


profissional e o desporto de rendimento não profissional.
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Dos Direitos Fundamentais do


Torcedor Sob a Ótica dos Direitos
Difusos e Coletivos
O desporto é de grande aceitação popular e o cidadão figura como
O desporto é de
grande aceitação um dos maiores fomentadores de sua prática. O torcedor torna-se um
popular e o cidadão dos principais elementos para sobrevivência e desenvolvimento do
figura como um dos esporte, sofrendo indubitavelmente suas consequências, entre elas,
maiores fomentadores muitas vezes, o desrespeito aos direitos humanos e aos direitos do
de sua prática. O consumidor. O torcedor é o verdadeiro financiador do esporte e merece
torcedor torna-se
o devido respeito, que é garantido pelas normas vigentes.
um dos principais
elementos para
sobrevivência e O desporto é efetivamente um interesse difuso e coletivo da
desenvolvimento do população, uma vez que pode ser enquadrado nas hipóteses delimitadoras
esporte, sofrendo de sua abrangência protetiva, conforme veremos em seguida.
indubitavelmente
suas consequências,
O artigo 81, parágrafo único, incisos I e II, do Código de Defesa
entre elas, muitas
vezes, o desrespeito do Consumidor (Lei no 8.078/1990), define os interesses difusos e
aos direitos humanos coletivos, conforme segue:
e aos direitos
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e
do consumidor.
das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou
O torcedor é o a título coletivo.
verdadeiro financiador Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se
do esporte e merece tratar de:
o devido respeito,
que é garantido pelas I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos
normas vigentes. deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de
que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

22
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para


efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível
de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com parte contrária por uma relação jurídica
base; [...]

Mancuso (1997, p. 55) explica os requisitos necessários para a caracterização


dos interesses coletivos:

a) um mínimo de organização, a fim de que os interesses


ganhem a coesão e identificação necessárias;

b) a afetação desses interesses a grupos determinados (ou ao


menos determináveis), que serão os seus portadores;

c) um vínculo jurídico básico, comum a todos os participantes,


conferindo-lhes situação jurídica diferenciada.

No tocante aos interesses difusos, Smanio (2007, p. 11- 12) destaca:

O fato é que, atualmente, o sistema jurídico deixou de ser


fundado na tutela do indivíduo, dos chamados direitos
subjetivos, e passou a ser baseado na tutela das classes
ou categorias em que os indivíduos estão agrupados e
normatizados.

Podemos, assim, conceituar os interesses difusos como


sendo aqueles interesses metaindividuais, essencialmente
indivisíveis, em que há uma comunhão de que participam todos
os interessados, que se predem a dados de fato, mutáveis,
acidentais, de forma que a satisfação de um deles importa na
satisfação de todos e a lesão do interesses importa na lesão a
todos os interessados, indistintamente.

A proteção dos interesses difusos não ocorre em função de


vínculos jurídicos, a indivisibilidade não decorre de relações
jurídicas, mas da própria natureza dos interesses de forma que
não é possível que exista satisfação de apenas alguns dos
interessados, mas da sua totalidade.

Não obstante a caracterização do desporto como interesse difuso e coletivo,


os artigos 5º, inciso XXXII e 170, inciso V, da Constituição Federal, asseguram
a tutela das relações jurídicas do cidadão consumidor e exigem para sua
aplicabilidade a existência de relação jurídica de consumo, prevista nos moldes
do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990).

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e a propriedade,
nos seguintes termos:

23
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

[...] XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do


consumidor;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:

[...] V – defesa do consumidor;

Os artigos 2º, parágrafo único, 3º, 17 e 29, do Código de Defesa do


Consumidor (Lei no 8.078/1990), estabelecem os conceitos de consumidor e
fornecedor, conforme segue:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Paragrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública


ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Art. 17. Para efeitos desta seção, equiparam-se aos


consumidores todas as vítimas do evento.

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-


se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas nele previstas.

Podemos dizer, então, que as relações jurídicas estabelecidas pelo torcedor


face seu clube, organizadores do evento e fornecedores de produtos/serviços que
exploram a cobertura das atividades desportivas são abrangidas pelas normas do
Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990).

Apesar da aparente facilidade de interpretação e aplicação das normas


consumeristas, existe certa resistência e desconhecimento quando relacionados
ao desporto.

Sodré (2009, p. 57) aduz que:

[...] em apenas duas décadas, praticamente todos os países


latino-americanos legislaram sobre este tema de forma
genérica e sistemática. Tal não significa que a implementação
do direito do consumidor esteja acontecendo em grande escala
nestes países do terceiro mundo. O que se vê, na verdade,
é que em toda América Latina, como é típico dos países de
terceiro mundo, existem dois momentos distintos: (i) o primeiro

24
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

é o da aprovação das leis, o que já ocorreu na maioria dos


países; (ii) o segundo é o da sua implementação, que é o que
se busca atualmente na maioria dos países. Essa é uma fase
muito mais difícil e complexa.

Desse modo, para inserir as normas consumeristas no âmbito do desporto e


delimitar sua abrangência havia necessidade de criar-se lei específica regulando
a matéria. Para tanto, publicou-se a lei Pelé ou Lei Geral de Desportos (no
9.615/1998) que, em seu artigo 42, parágrafo 3º, equipara espectador pagante de
evento desportivo ao patamar de consumidor:

Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito


de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar,
autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a
transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por
qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que
participem. [...] § 3º. O espectador pagante, por qualquer meio,
de espetáculo ou evento desportivo equipara-se, para todos os
efeitos legais, ao consumidor, nos termos do art. 2º da Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990.

Em que pese o esforço da Lei Pelé (Lei no 9.615/1998) no sentido de reforçar


a aplicabilidade das normas consumeristas ao desporto, tem-se que ela acabou
por limitar as referidas garantias, uma vez que considerou consumidor somente
aquele espectador pagante.

Então, posteriormente, foi promulgado o Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei


n 10.671/2003), no sentido de criar isonomia entre consumidores e torcedores.
o

Foi criado para que todo cidadão que aprecie, apoie, associe-se a qualquer
entidade de prática desportiva ou que acompanhe a prática de determinada
modalidade esportiva no País, ainda que não compareça ao evento desportivo,
tenha assegurados os direitos do consumidor, afastando, assim, qualquer dúvida
quanto à aplicação das regras de consumo nas relações comerciais.

Assim dispõe o artigo 2º, parágrafo único e o artigo 3º, do Estatuto de Defesa
do Torcedor (Lei no 10.671/2003):

Art. 2º. Torcedor é toda pessoa que aprecie, apoie ou se


associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e
acompanhe a prática de determinada modalidade desportiva.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presume-se a
apreciação, o apoio ou acompanhamento de que trata o caput
deste artigo.

Art. 3º. Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor,


nos termos da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade
responsável pela organização da competição, bem como a
entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.

25
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Por fim, resta claro o entendimento de que a norma consumerista referente


aos interesses difusos e coletivos relacionados ao torcedor-consumidor alcança
o desporto e atinge competições que envolvam relações jurídicas de consumo,
tutelando, assim, direitos e garantias fundamentais.

Atividades de Estudos:

1) Aponte duas características capazes de demostrar que o desporto


trata-se de um direito difuso e coletivo protegido pelo Código de
Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990).
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) É correto afirmar que as normas de defesa do consumidor


relacionadas ao desporto tutelam apenas os direitos dos
espectadores pagantes? Justifique sua resposta e fundamente
com o texto de lei.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Da Responsabilidade Civil no
Desporto
Primeiramente, é de suma importância fixar que a relação jurídica estabelecida
entre espectador-torcedor e o fornecedor de serviços configura relação de consumo.

26
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Trata-se de contrato no qual o fornecedor de serviços compromete-se, ou


melhor, obriga-se, mediante pagamento de determinada quantia, a realizar e a
exibir ao espectador-torcedor determinada manifestação desportiva.

Também configura típica modalidade de contrato de adesão, ou seja, aquele


contrato em que as cláusulas são estabelecidas de forma unilateral por uma
das partes, no caso o fornecedor de serviços, restando ao espectador-torcedor
somente a faculdade de aderir ou não sem qualquer possibilidade de discussão
acerca do seu conteúdo.

Assim, pode-se dizer que as principais obrigações do fornecedor de Assim, pode-


serviços desportivos são promover o espetáculo, fornecer instalações se dizer que
adequadas e zelar pela segurança dos espectadores/torcedores. as principais
obrigações do
Havendo o descumprimento do contrato firmado pela parte do fornecedor de
serviços desportivos
prestador de serviços para com as obrigações estabelecidas, resta
são promover
configurado vício no serviço, respondendo este civilmente pelos danos o espetáculo,
causados. Tudo conforme os ditames estabelecidos no artigo 20, I, II e fornecer instalações
III, § 1º e § 2º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990). adequadas e zelar
pela segurança
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos dos espectadores/
vícios de qualidade que os tornem impróprios ao torcedores.
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações
constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando


cabível;

II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III – o abatimento proporcional do preço;

§ 1º. A reexecução dos serviços poderá ser confiada a


terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.

§ 2º. São impróprios os serviços que se mostrem inadequados


para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade.

Os artigos 186 e 187 do Código Civil (Lei no 10.406/2002) disciplinam os atos


ilícitos passíveis de ressarcimento ou reparação:

27
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito


que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

Marques (2003, p. 94) discorre com propriedade acerca da desnecessidade


de pagamento de ingresso por parte do espectador-torcedor para configuração da
responsabilidade civil quando leciona que “[...] o termo ‘remuneração’ significa um
ganho direito ou indireto para o fornecedor, o que não implica necessariamente a
obrigação correlata de pagamento por parte do consumidor”.

Pode-se dizer, então, que inúmeras são as pessoas passíveis de serem


afetadas de forma danosa pelo exercício de atividade desportiva. Podem ser
pagantes ou não de ingresso, podem ser determináveis (pessoas ligadas
diretamente ou indiretamente aos espetáculos desportivos) e podem ser
indetermináveis (lesão aos interesses difusos e coletivos).

A ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de não prejudicar


o outro. A responsabilidade civil pode ser entendida como a aplicação de medidas
que obriguem alguém a reparar o dano causado a outrem em razão de sua ação
ou omissão. Nas palavras de Stoco (2007, p. 114) temos que:

A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da


palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa,
ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos
seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social
regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a
todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção
de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois,
como algo inarredável da natureza humana.

Quando falamos de Segundo a definição de Silva (2008, p. 642), responsabilidade civil é:


responsabilidade
civil subjetiva Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de
contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado,
devemos ter
para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as
em mente a sanções legais, que lhe são impostas. Onde quer, portanto,
necessidade de que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma coisa, de
comprovação dos ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há
seus pressupostos, a responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação ou
quais sejam: o ato o cumprimento da obrigação ou da sanção.
ilícito, o dano, a
culpa e o nexo de Quando falamos de responsabilidade civil subjetiva devemos ter em
causa entre o dano mente a necessidade de comprovação dos seus pressupostos, quais sejam: o
e o ato ilícito. ato ilícito, o dano, a culpa e o nexo de causa entre o dano e o ato ilícito.

28
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

A culpa se configura em três modalidades, ou seja, imprudência, negligência e


imperícia. Novamente citamos o doutrinador Stoco (2007, p. 133), que conceitua a culpa:

Quando existe a intenção deliberada de ofender o direito, ou de


ocasionar prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento
do mal e o direto propósito de o praticar. Se não houvesse esse
intento deliberado, proposital, mas o prejuízo veio a surgir, por
imprudência ou negligencia, existe a culpa (stricto sensu).

Porém, em certos casos, a legislação brasileira admite que seja dispensada


a comprovação da culpa, configurando, assim, aquilo que se chama de
Porém, em certos
responsabilidade civil objetiva. casos, a legislação
brasileira admite
O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil (Lei no 10.406/2002), que seja dispensada
é exemplo de responsabilidade civil objetiva, pois quando a atividade a comprovação da
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua culpa, configurando,
assim, aquilo
natureza, riscos para os direitos de outrem, a comprovação da culpa é
que se chama de
dispensada. Vejamos: responsabilidade
civil objetiva.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de
outrem.

O artigo 14, § 1º, incisos I, II e II, do Código de Defesa do Consumidor (Lei no


8.078/1990), também responsabiliza o fornecedor de serviços independentemente
da existência de culpa, conforme segue:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

§ 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança


que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I – o modo de seu fornecimento;


II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.

Já o artigo 19, do Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671/2003), determina a


responsabilização solidária e objetiva das entidades responsáveis pela organização
da competição e pelo mando de jogo juntamente com seus dirigentes quando
ocorrem prejuízos ao torcedor causados por falhas de segurança, conforme segue:

29
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 19. As entidades responsáveis pela organização da


competição, bem como seus dirigentes respondem solidariamente
com as entidades de que trata o art. 15 e seus dirigentes,
independentemente da existência de culpa, pelos prejuízos
causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos
estádios ou da inobservância do disposto deste capítulo.

Por outro lado, inexistindo defeito no serviço prestado ou havendo


Inexistindo defeito
no serviço prestado culpa exclusiva do espectador-torcedor tem-se afastada a responsabilidade
ou havendo culpa civil do fornecedor de serviços desportivos. Também será afastada a
exclusiva do responsabilidade civil do fornecedor de serviços desportivos em caso de
espectador-torcedor culpa exclusiva de terceiro, tudo conforme preleciona o artigo 14, § 3º,
tem-se afastada a incisos I e II, do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990):
responsabilidade
civil do fornecedor Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independente da
de serviços existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
desportivos. Também consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
será afastada a bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição ou riscos.
responsabilidade civil
do fornecedor de [...] § 3º. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
serviços desportivos quando provar:
em caso de culpa
exclusiva de terceiro. I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II – culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

A responsabilidade civil do prestador de serviços desportivos pode ser


concorrente e, consequentemente, minorada a quantia indenizatória devida, isto
por que o espectador-torcedor pode concorrer culposamente para com o evento
danoso. Vejamos o que diz o artigo 946, do Código Civil (Lei no 10.406/2002):

Art. 946. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento


danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Dessa forma, resta patente que o torcedor-espectador ao experimentar


danos de ordem material ou moral, em virtude do inadequado fornecimento de
serviços relacionados à atividade esportiva, possui pleno direito ao ressarcimento
ou reparação destes no âmbito civil, restando afastada a responsabilidade
quando inexiste defeito no serviço prestado ou há culpa exclusiva da vítima ou
de terceiro pelo dano causado. Há, também, que ser relativizada a culpabilidade
e, consequentemente, minorada a indenização civil devida, quando o torcedor-
expectador concorre de forma culposa para a ocorrência do dano sofrido.

30
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Atividades de Estudos:

1) Quais são as três principais obrigações do fornecedor de serviços


desportivos?
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
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2) É correto afirmar que o contrato de prestação de serviços


desportivos pactuado entre fornecedor e torcedor-espectador
configura contrato de adesão? Em caso positivo, discorra acerca
das características do contrato de adesão.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

3) Para restar configurada a responsabilidade civil subjetiva do


fornecedor de serviços desportivos precisam estar presentes
três pressupostos essenciais. Em certos casos, devidamente
autorizados pela legislação pátria, pode-se dispensar um dos
três pressupostos (responsabilidade civil objetiva). Aponte qual
pressuposto da responsabilidade civil do fornecedor de serviços
desportivos pode ser dispensado e fundamente com o texto de lei.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

31
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

4) Quais são os casos em que a responsabilidade civil do fornecedor


de serviços desportivos pode ser afastada? Fundamente sua
resposta com o texto de lei.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Da Responsabilidade Civil
Concernente à Segurança do
Torcedor
A leitura conjunta dos artigos 2º, 3º, 13, 14, 15 e 19, do Estatuto do torcedor
(Lei no 10.617/2003) não deixa dúvidas acerca da responsabilidade da entidade
organizadora da competição, entidade detentora do mando de jogo (clube) e seus
respectivos dirigentes quando falamos de segurança do torcedor-espectador
antes, durante e após a realização de eventos desportivos.

Art. 2º. Torcedor é toda pessoa que aprecie, apoie ou


se associe a qualquer entidade de prática desportiva do
País e acompanhe a prática de determinada modalidade
desportiva.

Art. 3º. Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor,


nos termos da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade
responsável pela organização da competição, bem como a
entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.

Art. 13. O torcedor tem direito a segurança nos locais onde


são realizados os eventos desportivos antes, durante e após a
realização das partidas.

Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei n. 8.078,


de 11 de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do
torcedor em evento desportivo é da entidade de prática desportiva
detentora do mando de jogo e de seus dirigentes [...]

Art. 15. O detentor do mando de jogo será uma das entidades


de prática desportiva envolvidas na partida, de acordo com os
critérios definidos no regulamento da competição.

32
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Art. 19. As entidades responsáveis pela


organização da competição, bem como seus As entidades
dirigentes respondem solidariamente com as responsáveis pela
entidades de que trata o art. 15 e seus dirigentes, organização da
independentemente da existência de culpa, pelos competição e seus
prejuízos causados a torcedor que decorram dirigentes respondem
de falhas de segurança nos estádios ou da solidariamente
inobservância do disposto deste capítulo.
(possibilidade de
exigir de todos
Da leitura dos citados artigos, conclui-se, sem prejuízo às normas
os responsáveis
estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990), a reparação do
que as entidades responsáveis pela organização da competição e seus dano havido) e
dirigentes respondem solidariamente (possibilidade de exigir de todos os objetivamente
responsáveis a reparação do dano havido) e objetivamente (dispensada (dispensada a
a necessidade de comprovação de culpa) com as entidades detentoras necessidade de
comprovação de
do mando de jogo (clube) e seus dirigentes.
culpa) com as
entidades detentoras
Então, caso um torcedor, durante o jogo, caia das arquibancadas do mando de jogo
em virtude de falta de manutenção da estrutura do local, por exemplo, (clube) e seus
surge a responsabilidade solidária e objetiva das entidades mencionadas dirigentes.
acima, exceto se o evento deu-se por culpa única e exclusiva do
torcedor-espectador ou de terceiro.

Outro aspecto interessante da responsabilidade civil nos


O organizador
espetáculos desportivos refere-se aos danos causados por multidões. deve conhecer a
O organizador deve conhecer a regularidade com que tais incidentes regularidade com
ocorrem, não podendo alegar que tais fatos são imprevisíveis, pois estes que tais incidentes
constituem realidade que deve ser concebida dentro das medidas de ocorrem, não
segurança e prevenção a serem tomadas para realização dos eventos. podendo alegar
que tais fatos são
imprevisíveis, pois
Abaixo segue trecho da ementa do acórdão (decisão proferida por estes constituem
órgão colegiado), proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, realidade que deve
em ação de reparação de danos proposta por espectador que sofreu ser concebida
lesões corporais por grupos de torcedores no interior do estádio: dentro das medidas
de segurança e
[...] em tal hipótese, não há que se falar em prevenção a serem
excludente de responsabilidade, pois alguns tomadas para
acontecimentos que, em princípio seriam realização dos
extraordinários, por mostrarem-se previsíveis, eventos.
ante a sua repetição e evidência, transformam-se
em fatos inerentes ao risco do negócio, permitindo a visão do
nexo de causalidade [...]

Sendo assim, comprovada a existência do evento danoso, da deficiência na


prestação do serviço e do nexo de causa entre um e outro, resta configurado o
dever de reparar o dano causado no interior da arena desportiva.

33
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Atividade de Estudos:

1) Quais são as entidades responsáveis pela reparação civil por


danos causados em espetáculo desportivo? Fundamente sua
resposta com o texto de lei.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

A Segurança do Torcedor como


Dever e Responsabilidade do Estado
A responsabilidade prevista nos artigos 13 e 14, do Estatuto do
A responsabilidade
Torcedor (Lei no 10.671/2003), não afasta o dever do Estado de proporcionar
prevista nos artigos
13 e 14, do Estatuto a segurança dos torcedores/espectadores nos eventos desportivos.
do Torcedor (Lei
no 10.671/2003), Os artigos 6º e 144, da Constituição Federal, disciplinam o direito
não afasta o do cidadão à segurança e o dever do Estado em proporcioná-la,
dever do Estado conforme abaixo transcrito:
de proporcionar
a segurança
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
dos torcedores/ o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
espectadores nos social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
eventos desportivos. desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]

Nesse sentido, cabe à entidade detentora do mando de jogo (clube) com


seus dirigentes solicitarem ao poder público a presença de agentes de segurança
que atuarão dentro e fora do dos locais onde ocorrem eventos desportivos. Cabe,
também, informar a quantidade de ingressos vendidos e o número aproximado de
torcedores/espectadores presentes, possibilitando, assim, que o Estado organize
a segurança com o envio de contingente suficiente para determinado espetáculo.

34
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Os agentes de segurança do Estado (policiais militares) não estão


subordinados a entidade organizadora e detentora do mando de jogo, motivo pelo
qual, em caso de excesso por parte destes, dentro ou fora da arena desportiva,
que venha a causar dano passível de reparação/indenização civil teremos o
Estado como responsável.

Importante salientar que a segurança do local do evento desportivo


Importante salientar
deve ser garantida pela organização, uma vez que os agentes de segurança que a segurança
do Estado figuram como força auxiliar em um evento com características do local do evento
puramente particulares e que configuram claramente relação de consumo. desportivo deve
ser garantida pela
Sendo assim, verifica-se que a entidade organizadora, juntamente organização, uma vez
que os agentes de
com a entidade detentora do mando de jogo (clube) e seus dirigentes,
segurança do Estado
somente serão responsabilizadas civilmente por danos causados aos figuram como força
torcedores-espectadores quando desobedecerem as regras estabelecidas auxiliar em um evento
no artigos 14, incisos I e II, e artigo 23, § 2º, incisos I, II, ambos do Estatuto com características
do Torcedor (Lei no 10. 617/2003). As referidas regras determinam que as puramente
citadas entidades devem: particulares e
que configuram
claramente relação de
• Solicitar ao poder público a presença de agentes de consumo.
segurança, devidamente identificados, responsáveis pela
segurança dos torcedores dentro e fora da arena desportiva.

• Informar ao órgão competente o local, o horário do evento, a capacidade


da arena desportiva e a expectativa de público.

• Apenas disponibilizar para venda ingressos na quantidade adequada


com a capacidade da arena desportiva.

• Permitir somente a entrada de torcedores-espectadores em número


condizente com a capacidade da arena desportiva.

Importante também destacar que a responsabilidade pelos possíveis danos


ocorridos nos veículos dos torcedores no decorrer do evento desportivo, em regra, não
é da entidade organizadora do evento. Sobre o assunto Rodrigues (2003, p. 35) leciona:

Os organizadores do jogo de futebol somente seriam


responsáveis pelos danos nos veículos dos torcedores, caso
incluíssem o estacionamento como serviço pago oferecido
aos torcedores-consumidores. Daí emergiria a reponsabilidade
daqueles por qualquer dano ocorrido nos veículos dos torcedores
(por exemplo, carro riscado, furtado ou roubado, pichação etc...).

35
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Portanto, tem-se que a entidade organizadora e a entidade detentora do


mando do jogo (clube) com seus dirigentes incumbem garantir e responder pela
segurança do torcedor-espectador no espaço físico que lhe compete administrar,
jamais sendo responsável pela segurança pública externa, que é dever do Estado.

Atividade de Estudos:

1) Qual a entidade responsável pela reparação do dano sofrido por


torcedor/espectador provocado pelo agente de segurança do
Estado (policiais militares)? Justifique sua resposta.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Algumas Considerações
Destaca-se que o desporto é direito e garantia fundamental do cidadão, devendo
o Estado fomentar e proporcionar formas adequadas de sua prática no meio social.

Deve-se entender que atividades desportivas configuram relações de


consumo, motivo pelo qual as partes envolvidas, principalmente o consumidor-
torcedor, possuem especial proteção do Estado através de regramento específico.

Aquele cidadão como torcedor-espectador possui especial proteção dos seus


direitos pelo Estado, uma vez que também há legislação especifica regulando o tema
e garantindo a reparação civil de possíveis danos causados pela pessoa jurídica de
direito privado ou público fornecedora de serviço relacionado ao desporto.

Por conseguinte, havendo desrespeito aos direitos do cidadão-consumidor-


torcedor surge o dever de reparar ou indenizar o dano sofrido, sendo de suma
importância saber distinguir dentre as várias entidades envolvidas no evento
desportivo aquela que possui responsabilidade civil pelo dano causado.

36
Capítulo 1 Relações jurídicas que Envolvem o
Desporto Profissional

Referências
ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito
constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União n. 191-A, Brasília, DF, 05


out. 1988.
______. Decreto Regulamentador no 3.298/1999. Diário Oficial da União,
Brasília. DF, 21 dez. 1999.
______. Lei no 10.406/2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002.

______. Lei no 10.671/2003. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 mai. 2003.

______. Lei no 10.741/2003. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 out. 2003.

______. Lei no 8.069/1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990.

______. Lei no 8.078/1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990.

______. Lei no 9.615/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 1998.

ESTEVES, José. O desporto e as estruturas sociais. Lisboa: Edições


Universitárias Lusófonas, 1999.

______. Racismo e desporto. Lisboa: Básica Editora, 1998.

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos. 4. ed. São Paulo: Revista


dos Tribunais, 1997.

MARQUES, C. L. Comentários ao código de defesa do consumidor. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Revista dos


tribunais, São Paulo, n. 777, p. 380, julho/2000.

RODRIGUES. Décio Luiz José. Direitos do torcedor e temas polêmicos do


futebol. São Paulo: Rideel, 2003.

ROSADO, A. As margens da educação física e do desporto. Lisboa: FMH


Edições, 1997.

SERGIO, M. Para uma nova dimensão do desporto. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

37
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico conciso. Rio de Janeiro. Forense, 2008.

SMANIO, Gianpaolo Poggio. Interesses Difusos e Coletivos. 8. ed. São Paulo,


Atlas, 2007. v. 15.

SODRÉ, Marcelo Gomes. A construção do direito do consumidor. São Paulo:


Atlas, 2009.
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

VARGAS, A. Esporte e realidade: conflitos contemporâneos. Rio de Janeiro:


Shape Editora, 2006.

______. Ética: ensaios sobre a saúde social, esporte e educação física, LECSU.
Rio de Janeiro, 2007.

38
C APÍTULO 2
Contratos Desportivos

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender as relações de trabalho que envolvem o atleta profissional e a


entidade desportiva.

Assimilar noções básicas acerca do direito das obrigações.


Saber como se dá o uso da imagem do atleta profissional.



LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

40
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Contextualização
Neste capítulo, veremos os principais aspectos envolvendo a relação de
trabalho do atleta profissional, ou seja, sua natureza jurídica, o contrato de trabalho
e sua duração, remuneração, jornada de trabalho, férias, seguro obrigatório,
rescisão de contrato e competência da justiça trabalhista.

Posteriormente, serão apresentadas noções básicas sobre o direito das


obrigações e os deveres e os direitos resultantes do uso da imagem do atleta
profissional.

Da Relação de Trabalho do Atleta


Profissional
É de suma importância entender como funciona a relação entre o atleta
profissional e a instituição de prática desportiva, uma vez que esta união possui
características especiais que serão devidamente demonstradas adiante.

a) Da Prática Desportiva Profissional

Conforme já estudado no capítulo anterior quando da abordagem


O desporto de
das modalidades desportivas, o desporto de rendimento profissional é
rendimento
aquele caracterizado pela existência de contrato de trabalho formal e profissional é aquele
remuneração/ contraprestação pela prática de determinada atividade. caracterizado pela
Vejamos o que diz o artigo 3º, parágrafo único, inciso I, da Lei Pelé ou existência de contrato
Lei Sobre Desporto (Lei no 9.615/1998): de trabalho formal
e remuneração/
Art. 3º. O desporto pode ser reconhecido em contraprestação
qualquer das seguintes manifestações: pela prática de
determinada
I - de modo profissional, caracterizado pela atividade.
remuneração pactuada em contrato formal de
trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva; [...]

O artigo 26, parágrafo único, da Lei Pelé ou Lei Sobre Desporto


A competição
(Lei no 9.615/1998), dispõe que a competição profissional é promovida
profissional é
para obtenção de renda e disputada por atletas profissionais cuja promovida para
remuneração decorra de contrato de trabalho. Vejamos: obtenção de renda
e disputada por
Art. 26. Atletas e entidades de prática desportiva atletas profissionais
são livres para organizar a atividade profissional,
cuja remuneração
qualquer que seja sua modalidade, respeitados os
termos desta Lei.
decorra de contrato
de trabalho.

41
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Parágrafo único. Considera-se competição profissional para


os efeitos desta Lei aquela promovida para obter renda e
disputada por atletas profissionais cuja remuneração decorra
de contrato de trabalho desportivo.

Assim, fixadas as principais características do desporto de rendimento


profissional e das competições profissionais, na sequência, passaremos para o
estudo dos principais aspectos trabalhistas que envolvem o exercício do desporto
profissional.

Atividades de Estudos:

1) Quais as principais características do desporto de rendimento


profissional? Fundamente sua resposta indicando o dispositivo
legal que regula o tema.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
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___________________________________________________

2) Quais as principais características da competição profissional?


Embase sua resposta com o texto de lei.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

b) Da Natureza Jurídica da Relação entre o Atleta Profissional e a


Entidade de Prática Desportiva

A relação entre A relação entre atleta profissional e entidade desportiva possui


atleta profissional e natureza trabalhista, havendo, assim, a necessidade de aplicação das
entidade desportiva normas gerais trabalhistas e previdenciárias. O artigo 28, § 4º, incisos I,
possui natureza II, III, IV, V e VI, da Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé ou Lei Sobre Desporto),
trabalhista. preleciona:

42
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração


pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de
prática desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente:

[...] § 4º Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação


trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas as peculiaridades constantes
desta Lei, especialmente as seguintes:

I - se conveniente à entidade de prática desportiva, a concentração não


poderá ser superior a 3 (três) dias consecutivos por semana, desde que esteja
programada qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial, devendo
o atleta ficar à disposição do empregador por ocasião da realização de competição
fora da localidade onde tenha sua sede;

II - o prazo de concentração poderá ser ampliado, independentemente


de qualquer pagamento adicional, quando o atleta estiver à
disposição da entidade de administração do desporto;

III - acréscimos remuneratórios em razão de períodos de


concentração, viagens, pré-temporada e participação do
atleta em partida, prova ou equivalente, conforme previsão
contratual;

IV - repouso semanal remunerado de 24 (vinte e quatro)


horas ininterruptas, preferentemente em dia subsequente à
participação do atleta na partida, prova ou equivalente, quando
realizada no final de semana;

V - férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias, acrescidas


do abono de férias, coincidentes com o recesso das atividades
desportivas;

VI - jornada de trabalho desportiva normal de 44 (quarenta e


quatro) horas semanais.

Desse modo, restando configurada a natureza trabalhista da relação


mantida entre o atleta profissional e a entidade desportiva, aplicam-se as
normas da legislação do trabalho e da previdência social sempre respeitando as
peculiaridades impostas pela lei específica.

43
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Atividade de Estudos:

1) As normas trabalhistas e previdenciárias aplicam-se na relação


entre o atleta profissional e a entidade desportiva? Justifique sua
resposta.
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___________________________________________________

c) Dos Sujeitos do Contrato de Trabalho

Conforme destacado nos artigos transcritos anteriormente,


Os sujeitos do
contrato de trabalho verifica-se que os sujeitos do contrato de trabalho desportivo são o
desportivo são o atleta profissional e a entidade de prática desportiva.
atleta profissional
e a entidade de Segue abaixo decisão proferida pelo órgão colegiado do Tribunal
prática desportiva. Regional do Trabalho da 3º Região, em que se fixa o entendimento
de que árbitros de futebol não são considerados empregados e, portanto, não
figuram como sujeitos do contrato de trabalho desportivo:

RO/10804/91, 3º Turma do TRT da 3º Região: ÁRBITROS DE


FUTEBOL – RELAÇÃO DE EMPREGO. Os árbitros de futebol
não estão subordinados à federação, como também dela
não recebem salário, já que são pagos pelos clubes filiados,
cuja cota é estabelecida para cada partida que arbitram e
retiradas das rendas auferidas nas partidas. Também não há
continuidade na prestação dos seus serviços, pois podem
passar nesses sem arbitrar um jogo. Nessa ralação, não se
evidencia a presença dos pressupostos do artigo 3º da CLT.
Julgamento 28/10/1992.

44
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Atividade de Estudos:

1) Quais são os sujeitos que figuram no contrato de trabalho


desportivo?
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______________________________________________________
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d) Do Atleta Profissional

Atleta profissional é toda pessoa física que pratica determinada


Atleta profissional
modalidade esportiva de forma não eventual através de entidade é toda pessoa
desportiva, havendo subordinação e contrapartida remuneratória física que pratica
devidamente pactuada em contrato de trabalho formal. determinada
modalidade
Os requisitos para a configuração de empregado estão dispostos esportiva de forma
não eventual
no artigo 3º, parágrafo único, da Consolidação das Leis do Trabalho –
através de entidade
CLT (Decreto-lei no 5.452/1943), conforme segue: desportiva, havendo
subordinação
Art. 3º. Considera-se empregado toda pessoa
física que prestar serviços de natureza não e contrapartida
eventual a empregador, sob a dependência deste remuneratória
e mediante salário. devidamente
pactuada em contrato
Parágrafo único. Não haverá distinções relativas à de trabalho formal.
espécie de emprego e à condição de trabalhador,
nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.

Aos 16 (dezesseis) anos de idade, o atleta poderá firmar o primeiro contrato


de trabalho com entidade de prática desportiva. O referido contrato não poderá
ultrapassar o prazo de 5 (cinco) anos de vigência, conforme se encontra estabelecido
no artigo 29, da Lei no 9.615/1998 (da Lei Pelé ou Lei Geral Sobre Desporto):

Art. 29. Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do


atleta terá o direito de assinar com ele, a partir de 16 (dezesseis)
anos de idade, o primeiro contrato especial de trabalho
desportivo, cujo prazo não poderá ser superior a 5 (cinco) anos.

45
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Atividade de Estudos:

1) Utilizando os conhecimentos até aqui adquiridos e realizando


uma interpretação à luz da Consolidação das Leis Trabalhistas
(Decreto-lei no 5.452/19943), conceitue atleta profissional e aponte
as características necessárias para a configuração de empregado.
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e) Da Entidade de Prática Desportiva

A entidade desportiva é aquela responsável pelo desenvolvimento


A entidade
desportiva é aquela do desporto e pode ser constituída na forma de sociedade empresária,
responsável pelo desde que obedecidas a algumas regras constantes do artigo 27, § 9º,
desenvolvimento da Lei no 9.615/1998 (da Lei Pelé ou Lei Sobre Desporto)
do desporto e pode
ser constituída na Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de
forma de sociedade competições profissionais e as entidades de administração de
empresária. desporto ou ligas em que se organizarem, independentemente
da forma jurídica adotada, sujeitam os bens particulares de seus
dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro
de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no
caput do art. 1.017 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade
desportiva em proveito próprio ou de terceiros.

[...] § 9º. É facultado às entidades desportivas profissionais


constituírem-se regularmente em sociedade empresária,
segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

Interpretando o artigo acima citado cumulativamente com as normas do Código


Civil (Lei no 10.406/2002), podemos dizer que a entidade desportiva, na qualidade de
sociedade empresária, pode ser constituída na forma de sociedade em nome coletivo
(artigos 1.039 a 1.044, da Lei no 10.406/2002 – Código Civil), sociedade em comandita
simples (artigos 1.045 a 1.051, da Lei no 10.406/2002 – Código Civil), sociedade
limitada (artigos 1.052 a 1.087, da Lei no 10.406/2002 – Código Civil), sociedade

46
Capítulo 2 Contratos Desportivos

anônima (artigos 1.088 a 1.089, da Lei no 10.406/2002 – Código Civil) e sociedade


em comandita por ações (artigos 1.090 a 1.092, da Lei no 10.406/2002 – Código
Civil). As entidades desportivas, independentemente da forma jurídica adotada e em
caso de abuso da personalidade jurídica, podem ter os efeitos de certas obrigações
assumidas estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios.

Atividades de Estudos:

1) A entidade desportiva pode ser constituída na forma de sociedade


empresária? Justifique sua resposta com base nos textos.
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2) Em caso de abuso da personalidade jurídica das entidades


desportivas, constituídas ou não na forma de sociedades
empresariais, é possível estender certas obrigações aos bens
particulares de sócios e administradores? Fundamente sua resposta.
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f) Do Contrato de Trabalho do Atleta Profissional e sua Duração


A legislação
trabalhista aplica-
A legislação trabalhista aplica-se ao contrato de trabalho do atleta se ao contrato de
profissional, porém é necessário atenção e interpretação conforme as trabalho do atleta
regras estabelecidas na legislação desportiva. profissional, porém é
necessário atenção
e interpretação
Os artigos 442 e 443, da Consolidação das Leis do Trabalho
conforme as regras
(Decreto-lei no 5.452/1943), dispõem acerca do contrato individual de estabelecidas na
trabalho: legislação desportiva.

47
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou


expresso, correspondente à relação de emprego.

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado


tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por
prazo determinado ou indeterminado.

Apesar das possibilidades enumeradas na legislação trabalhista, tem-se que


o contrato de trabalho do atleta profissional deve ser formal e pactuado por escrito
frente à exigência do artigo 34, inciso I, da Lei no 9.615/1998 (da Lei Pelé ou Lei
Sobre Desporto):

Art. 34. São deveres da entidade de prática desportiva


empregadora, em especial:

I - registrar o contrato especial de trabalho desportivo do


atleta profissional na entidade de administração da respectiva
modalidade desportiva;

A entidade de prática desportiva possui o dever de registrar formalmente e


por escrito o atleta profissional junto à entidade de administração da respectiva
modalidade, pois, caso contrário, o exercício pleno da atividade desportiva
profissional estaria prejudicado pela impossibilidade de disputar certames
regulares e oficiais. A forma expressa e escrita do contrato de trabalho apresenta-
se como garantia de que o atleta profissional possui possibilidades e está apto
para participar de certames regulares e oficiais sem correr riscos de ter seu
registro recusado.

O contrato de trabalho do atleta profissional vigora por prazo determinado. O


artigo 443, § 1º, § 2º, alíneas “a”, “b”, “c” da Consolidação das Leis Trabalhistas
(Decreto-lei no 5.452/1943), determina:

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado


tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por
prazo determinado ou indeterminado.

§ 1º. Considera-se como prazo determinado o contrato de


trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da
execução de serviços especificados ou ainda da realização de
certo acontecimento suscetível de previsão aproximada.
§ 2º. O contrato por prazo determinado só será válido em se
tratando:

a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a


predeterminação do prazo;

b) de atividades empresariais de caráter transitório;

c) de contrato de experiência.

48
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Quanto ao contrato individual de trabalho por prazo determinado, estabelece


a legislação trabalhista que este não poderá ultrapassar 2 (dois) anos, passando a
vigorar por prazo indeterminado quando prorrogado mais de uma vez (artigos 445
e 451, ambos da Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto-lei no 5.452/1943).

Agora, tratando-se de contrato individual de trabalho de atleta profissional por


prazo determinado, existe previsão na legislação desportiva que regula de forma diversa
o tema, afastando, inclusive, de forma expressa, a aplicação dos artigos 445 e 451, da
Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei no 5.452/1943). Vejamos o que dispõe
o artigo 30, parágrafo único, da Lei no 9.615/1998 (da Lei Pelé ou Lei Sobre Desporto):

Art. 30. O contrato de trabalho do atleta profissional terá prazo


determinado, com vigência nunca inferior a três meses nem
superior a cinco anos.

Parágrafo único. Não se aplica ao contrato especial de trabalho


desportivo do atleta profissional o disposto nos arts. 445 e 451
da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

Sendo assim, tem-se que o contrato individual de trabalho por prazo


determinado de atleta profissional deve ser formal e escrito, podendo ser pactuado
com duração mínima de 3 (três) meses e máxima de 5 (cinco) anos.

Atividades de Estudos:

1) É necessário haver pacto formal e escrito de contrato individual de


trabalho de atleta profissional? Aponte os motivos que embasam
sua resposta.
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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

2) Em caso de contrato individual de trabalho por prazo determinado


de atleta profissional, quais são os limites temporais estabelecidos
para o pacto firmado? Elabore sua resposta utilizando o texto de lei.
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g) Da Remuneração do Atleta Profissional

O termo remuneração contempla além do próprio salário (valor fixo),


O termo
remuneração de também, demais componentes, como as comissões, as percentagens,
atleta profissional as gratificações ajustadas, as diárias superiores a 50% do salário e os
com base na abonos. Sob esta perspectiva incluem-se, ainda, as premiações pagas
legislação sobre diretamente pelo empregador (valor variável).
desporto possui
sentido amplo, pois
O salário corresponde à contraprestação do serviço devida e
difere da legislação
trabalhista ao paga ao empregado em virtude da relação de emprego, abrangendo
determinar que tanto os serviços prestados quanto o tempo que esteja o trabalhador à
salário compreende disposição do empregador em função do contrato de trabalho.
também o abono
de férias, o décimo Vejamos o que preleciona o artigo 457, da Consolidação das Leis
terceiro salário, as
Trabalhistas (Decreto-lei no 5.452/1943):
gratificações, os
prêmios e demais
Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado,
verbas inclusas no
para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago
contrato de trabalho. diretamente pelo empregador, como contraprestação do
serviço, as gorjetas que receber.

Parcelas de natureza indenizatória como, por exemplo, ajuda de custo e


diárias para viagens que não excedam 50% (cinquenta por cento) do salário,
não fazem parte do salário (artigo 457, parágrafo 2º, da Consolidação das Leis
Trabalhistas – Decreto-lei no 5.452/1943).

Art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado,


para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago
diretamente pelo empregador, como contraprestação do
serviço, as gorjetas que receber.

[...] § 2º. Não se incluem nos salários as ajudas de custo,


assim como as diárias para viajem que não excedam de

50
Capítulo 2 Contratos Desportivos

50% (cinquenta por dento) do salário percebido pelo


empregado.

Porém, na legislação geral sobre desporto, o termo remuneração possui


sentido mais amplo que na legislação trabalhista, pois entende como salário o
abono de férias, o décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais
verbas inclusas no contrato de trabalho. Segue transcrito o artigo 31, § 1º, da Lei
no 9.615/1998:

Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que


estiver com pagamento de salário de atleta profissional
em atraso, no todo ou em parte, por período igual ou
superior a 3 (três) meses, terá o contrato especial de
trabalho desportivo daquele atleta rescindido, ficando o
atleta livre para se transferir para qualquer outra entidade
de prática desportiva de mesma modalidade, nacional ou
internacional, e exigir a cláusula compensatória desportiva
e os haveres devidos.

§ 1º. São entendidos como salário, para efeitos do previsto


no caput, o abono de férias, o décimo terceiro salário, as
gratificações, os prêmios e demais verbas inclusas no contrato
de trabalho.

Ante o exposto, é patente que o termo remuneração de atleta profissional


com base na legislação sobre desporto possui sentido amplo, pois difere da
legislação trabalhista ao determinar que salário compreende também o abono de
férias, o décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais verbas
inclusas no contrato de trabalho.

Atividade de Estudos:

1) Com base na afirmação que o termo remuneração possui


sentido mais amplo na legislação sobre o desporto, discorra
apontando as principais diferenças em comparação com a
legislação trabalhista.
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51
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

h) Luvas

Luvas é a quantia paga ao atleta profissional na ocasião da


Luvas é a quantia
paga ao atleta assinatura do contrato de trabalho, compondo para todos os efeitos
profissional sua remuneração, pois tem natureza salarial (artigo 31, § 1º, da
na ocasião da Lei no 9.615/1998). É o valor pago por antecipação em relação ao
assinatura do contrato a ser cumprido, visando a retribuir o valor intrínseco do
contrato de trabalho, atleta profissional representado pela sua habilidade, qualidade e
compondo para
desempenho.
todos os efeitos sua
remuneração, pois
tem natureza salarial Abaixo, segue decisão do Tribunal Superior do Trabalho fixando
(artigo 31, § 1º, da entendimento acerca da natureza do valor recebido a título de luvas:
Lei no 9.615/1998).
CONTRATO DESPORTIVO. ATLETA PROFISSIONAL DE
FUTEBOL. LUVAS. NATUREZA JURÍDICA. As luvas, cujo
termo em sentido figurado não é exclusivo do direito desportivo,
mas também do Direito Comercial - locação comercial -,
instituto com o qual também guarda semelhança inclusive no
tocante à sua finalidade, pois nesta o valor do ‘ponto’ (fundo
de comércio) aproxima-se do valor da propriedade do imóvel,
implica em dizer que “em certo sentido, as luvas desportivas
importam reconhecimento de um fundo de trabalho, isto é, o
valor do trabalho desportivo já demonstrado pelo atleta que
determinada associação contratar”, tudo consoante lição do
mestre José Martins Catharino. A verba luvas, portanto, não
se reveste de natureza indenizatória, porquanto é sabido que
a indenização tem como pressuposto básico o ressarcimento,
a reparação ou a compensação de um direito lesado, em
síntese, compensa uma perda, de que na hipótese não se
trata, na medida em que a verba recebida a título de luvas
tem origem justamente na aquisição de um direito em face do
desempenho personalíssimo do atleta, ou seja, o seu valor é
previamente convencionado na assinatura do contrato, tendo
por base a atuação do atleta na sua modalidade desportiva.
Recurso de Revista conhecido e provido. (TST. PROCESSO:
RR 418392 1998. PUBLICAÇÃO: DJ - 09/08/2002. Relator:
JUIZ CONVOCADO VIEIRA DE MELLO FILHO).

Dessa maneira, luvas são consideradas verbas de natureza exclusivamente


remuneratória que compõem o salário, não podendo de forma alguma serem
entendidas como de cunho indenizatório.

52
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Atividades de Estudos:

1) O que são luvas?


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2) O valor recebido a título de luvas tem natureza remuneratória ou


indenizatória? Fundamente sua resposta utilizado o texto de lei.
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___________________________________________________

i) Bicho

O bicho surgiu com o intuito de estimular os atletas na hipótese É pagamento


habitual e periódico,
de vitórias ou empates, posto que no passado não havia pagamento
mas com natureza
de salário. aleatória, porque
depende do
No tempo do amadorismo, surgiu o, momento em que os atletas desempenho
apenas eram remunerados pelas vitórias conquistadas. Era pago pelas individual do atleta
entidades desportivas para compensar ou estimular os atletas pelo ou do resultado
alcançado. Compõe
desempenho.
o salário do atleta
(artigo 31, § 1º, da
É pagamento habitual e periódico, mas com natureza aleatória, Lei no 9.615/1998),
porque depende do desempenho individual do atleta ou do resultado podendo ser fixo ou
alcançado. Compõe o salário do atleta (artigo 31, § 1º, da Lei no variável e ser pago
9.615/1998), podendo ser fixo ou variável e ser pago até mesmo até mesmo em caso
de derrota, tendo
em caso de derrota, tendo assim característica de prêmio pelo
assim característica
desempenho. de prêmio pelo
desempenho.

53
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Em suas decisões, a justiça do trabalho tem fixado o entendimento de


que os valores recebidos a título de bicho possuem natureza salarial, vejamos
abaixo:

RO/8123/01 do TRT da 3ª Região: ATLETA PROFISSIONAL


DE FUTEBOL – “BICHO” – INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO - A
intitulada “bicho”, na linguagem utilizada no meio futebolístico,
é paga ao atleta por ocasião das vitórias ou empates,
possuindo natureza de premio individual, resultante do trabalho
coletivo, pois visa não só compensar os atletas, mas também
estimulá-los. Havendo pagamento habitual e periódico,
consequentemente tem ficção salarial e integra a remuneração
do reclamante. (inteligência do art. 31, parágrafo 1º, da lei
9.615/1998). Julgamento 17/08/2001.

Atividade de Estudos:

1) Os valores pagos a título de bicho possuem natureza salarial?


Justifique sua resposta.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

j) Passe

O passe era o vínculo que, independente do contrato firmado, unia o atleta à


entidade de prática desportiva.

Nos termos da antiga e revogada Lei no 6.354/76, o passe consistia na importância


devida por um empregador a outro pela cessão do atleta durante a vigência do contrato
ou após seu término. O atleta tinha direito à parcela mínima de 15% (quinze por cento)
do montante do passe, pago pelo cedente, perdendo o direito se desse causa à rescisão
do contrato ou se já houvesse recebido tais valores nos últimos 30 (trinta) meses.

Era o valor que determinada entidade desportiva cobrava para possibilitar a


transferência do atleta até mesmo após o encerramento do contrato, tendo como
justificativa o ressarcimento do valor despendido na formação do atleta.

54
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Posteriormente, outras legislações surgiram no decorrer do tempo, passando


a entender que o atleta profissional tratava-se de empregado e a entidade de
prática desportiva de empregadora, requerendo, para tanto, que fossem aplicadas
as regras da legislação trabalhista.

O instituto do passe como era conhecido no passado, repita-se, foi


O instituto do passe
revogado, passando a vigorar o entendimento de que, após o término como era conhecido
do contrato de trabalho, o passe torna-se livre, restando apenas certas no passado, repita-
situações em que há incidência de cláusula indenizatória desportiva. se, foi revogado,
passando a vigorar
Devemos primeiro ter ciência das hipóteses que encerram o o entendimento de
que, após o término
vínculo contratual de trabalho, bastando, para tanto, a leitura do artigo
do contrato de
28, § 5º, incisos I, II, III, IV e V, da lei n. 9.615/1998, conforme abaixo: trabalho, o passe
torna-se livre,
Art. 28. A atividade do atleta profissional é
caracterizada por remuneração pactuada em restando apenas
contrato especial de trabalho desportivo, firmado certas situações em
com entidade de prática desportiva, no qual que há incidência
deverá constar, obrigatoriamente: de cláusula
indenizatória
[...] § 5º. O vínculo desportivo do atleta com desportiva.
a entidade de prática desportiva contratante
constitui-se com o registro do contrato especial de trabalho
desportivo na entidade de administração do desporto, tendo
natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício,
dissolvendo-se, para todos os efeitos legais:

I - com o término da vigência do contrato ou o seu distrato;

II - com o pagamento da cláusula indenizatória desportiva ou


da cláusula compensatória desportiva;

III - com a rescisão decorrente do inadimplemento salarial,


de responsabilidade da entidade de prática desportiva
empregadora, nos termos desta Lei;

IV - com a rescisão indireta, nas demais hipóteses previstas na


legislação trabalhista;

V - com a dispensa imotivada do atleta.

Verificadas as causas que encerram o vínculo contratual de trabalho,


passamos a delimitar as possibilidades de incidência da cláusula indenizatória
desportiva. As possibilidades de incidência da referida cláusula indenizatória em
favor da entidade desportiva estão disciplinadas no artigo 28, inciso I, alíneas “a”
e “b”, da Lei no 9.615/1998:

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada


por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho
desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no
qual deverá constar, obrigatoriamente:
55
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

I - cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à


entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta,
nas seguintes hipóteses:

a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou


estrangeira, durante a vigência do contrato especial de trabalho
desportivo; ou

b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais


em outra entidade de prática desportiva, no prazo de até 30
(trinta) meses;

Por fim, resta evidente que a citada cláusula tem natureza indenizatória, não
integrando remuneração nem salário para efeitos trabalhistas.

Atividade de Estudos:

1) Cite uma hipótese em que o valor da cláusula indenizatória


é devido à entidade desportiva empregadora e fundamente
apontado o artigo de lei correspondente.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

k) Da Jornada de Trabalho do Atleta Profissional

A duração da jornada de trabalho do atleta profissional é tema de grande


debate, pois devido às peculiaridades do contrato não seria possível limitá-la
adequadamente.

Recentemente, o artigo 28, § 4º, inciso VI, da Lei no 9.615/1998, foi alterado
pela Lei no 12.395/2011 e passou a vigorar acompanhando as normas trabalhistas
e constitucionais, conforme segue:

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada


por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho
desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no qual
deverá constar, obrigatoriamente:

56
Capítulo 2 Contratos Desportivos

[...] § 4º. Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais


da legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas
as peculiaridades constantes desta Lei, especialmente as
seguintes:

[...] VI - jornada de trabalho desportiva normal de 44 (quarenta


e quatro) horas semanais.

O marco estabelecido para a jornada de trabalho do atleta profissional vai de


encontro aos períodos e prazos estabelecidos para concentração (artigo 28, § 4º,
incisos I e II, da Lei no 9.615/1998).

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada


por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho
desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no
qual deverá constar, obrigatoriamente:

[...] § 4º. Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais


da legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas
as peculiaridades constantes desta Lei, especialmente as
seguintes:

I - se conveniente à entidade de prática desportiva, a


concentração não poderá ser superior a 3 (três) dias
consecutivos por semana, desde que esteja programada
qualquer partida, prova ou equivalente, amistosa ou oficial,
devendo o atleta ficar à disposição do empregador por ocasião
da realização de competição fora da localidade onde tenha sua
sede;

II - o prazo de concentração poderá ser ampliado,


independentemente de qualquer pagamento adicional, quando
o atleta estiver à disposição da entidade de administração do
desporto;

Em que pese haver parente conflito, o Tribunal Superior do Trabalho O período de


já pacificou a questão entendendo que o período de concentração, concentração,
respeitados os limites legais, não é computado como tempo à disposição respeitados os
do empregador e consequentemente não gera horas extras. limites legais, não
é computado como
tempo à disposição
JOGADOR DE FUTEBOL. HORAS EXTRAS. do empregador e
PERÍODO DE CONCENTRAÇÃO. Nos termos consequentemente
do art. 7º da Lei 6.534/76, a concentração do não gera horas
jogador de futebol é uma característica especial extras.
do contrato de trabalho do atleta profissional, não
se admitindo o deferimento de horas extras neste período.
Recurso de Revista conhecido e não provido. (RR - 129700-
34.2002.5.03.0104, Relator Ministro: José Simpliciano Fontes
de F. Fernandes – 2ª Turma, Data de Publicação: 07/08/2009)
E mais:

57
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

HORAS EXTRAS. JOGADOR DE FUTEBOL. PERÍODO DE


CONCENTRAÇÃO. “A concentração é obrigação contratual e
legalmente admitida, não integrando a jornada de trabalho, para
efeito de pagamento de hora extras, desde que não exceda de 3
dias por semana”. Recurso de revista a que nega provimento. (RR
- 405769-69.1997.5.02.5555 , Relator Ministro: Antônio José de
Barros Levenhagen - 4ª Turma, Data de Publicação: 05/05/2000)

Dessa forma, em razão das características peculiares inerentes ao atleta


profissional, não há como se aplicar indistintamente todos os princípios protetivos
estabelecidos pela legislação trabalhista e constitucional, devendo cada caso ser
avaliado de forma individual.

Atividade de Estudos:

1) Discorra acerca do limite da jornada de trabalho do atleta


profissional relacionado ao período de concentração.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

l) Das Férias

Em arrimo com a norma constitucional e trabalhista, o atleta profissional


possui direito a férias anuais de 30 (trinta) dias, preferencialmente coincidindo
estas com o recesso das atividades desportivas.

Dispõe o artigo 28, parágrafo 4º, inciso V, da Lei no 9615/1998:

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada


por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho
desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no
qual deverá constar, obrigatoriamente:

[...] § 4º. Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da


legislação trabalhista e da Seguridade Social, ressalvadas as
peculiaridades constantes desta Lei, especialmente as seguintes:

[...] V - férias anuais remuneradas de 30 (trinta) dias, acrescidas


do abono de férias, coincidentes com o recesso das atividades
desportivas; [...].
58
Capítulo 2 Contratos Desportivos

Atividade de Estudos:

1) O atleta profissional possui o direito de gozar férias anuais?


___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

m) Do Seguro Obrigatório no Contrato de Trabalho do Atleta Profissional

Dentre as várias peculiaridades envolvendo o contrato do atleta profissional,


encontra-se a obrigatoriedade de contratação de seguro contra acidentes de
trabalho com o objetivo de cobrir riscos inerentes à profissão.

Referida obrigatoriedade encontra-se definida no artigo 45, parágrafos 1º e


2º, da Lei no 9.615/1998, da seguinte forma:

Art. 45. As entidades de prática desportiva são obrigadas a


contratar seguro de vida e de acidentes pessoais, vinculado
à atividade desportiva, para os atletas profissionais, com o
objetivo de cobrir os riscos a que eles estão sujeitos.

§ 1º. A importância segurada deve garantir ao atleta profissional, ou


ao beneficiário por ele indicado no contrato de seguro,
o direito a indenização mínima correspondente ao No ato da assinatura
valor anual da remuneração pactuada. do contrato,
as entidades
§ 2º. A entidade de prática desportiva é responsável desportivas
pelas despesas médico-hospitalares e de
são obrigadas
medicamentos necessários ao restabelecimento do
atleta enquanto a seguradora não fizer o pagamento
a garantirem o
da indenização a que se refere o § 1º deste artigo. seguro de acidente
de trabalho aos
No ato da assinatura do contrato, as entidades desportivas são atletas profissionais,
devendo constar
obrigadas a garantirem o seguro de acidente de trabalho aos atletas
no contrato o nome
profissionais, devendo constar no contrato o nome da seguradora, o da seguradora, o
valor do seguro e o número da apólice com a indicação do beneficiário. valor do seguro e o
número da apólice
O artigo 7º, inciso XXVIII, da Constituição Federal, assegura aos com a indicação do
trabalhadores o direito ao seguro obrigatório: beneficiário.

59
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além


de outros que vissem à melhoria de sua condição social:
[...] XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo
do empregador, sem excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; [...]

O artigo 19, da Lei no 8.213/1991, que dispõe sobre os planos de benefícios


da previdência social, conceitua acidente de trabalho:

Art. 19. Acidente de trabalho é o que decorre pelo exercício do


trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho
dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho.

Ainda temos o artigo 21, incisos I, II, alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, e “e”, III, IV,
alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, parágrafos 1º e 2º, da Lei no 8.213/1991, equiparando
determinadas situações ao acidente de trabalho:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para


efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa


única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para
redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido
lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do


trabalho, em consequência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por


terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de


disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de


terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos


ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do


empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e


horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a


autoridade da empresa;

60
Capítulo 2 Contratos Desportivos

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa


para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo
quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor
capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio
de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do
segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste


para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive
veículo de propriedade do segurado.
§ 1º. Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por
ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no
local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado
no exercício do trabalho.

§ 2º. Não é considerada agravação ou complicação de acidente


do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem,
se associe ou se superponha às consequências do anterior.

Importante definir que, em se tratando de acidente de trabalho, temos


duas situações distintas. Na primeira situação, a entidade desportiva poderá,
mediante emissão de comunicado de acidente de trabalho, pleitear junto ao INSS
que o atleta receba benefício previdenciário, uma vez que todas as entidades
desportivas contribuem para com a previdência social, ficando, assim, suspenso
o contrato de trabalho desportivo. Na segunda situação, comprovado o acidente
de trabalho e o nexo de causa entre a lesão e o exercício da atividade desportiva,
surge o direito de pleitear junto à seguradora responsável indenização mínima
correspondente ao valor total anual da remuneração do atleta.

Atividade de Estudos:

1) É obrigatória a contratação de seguro quando do exercício de


atividade profissional desportiva? Fundamente sua resposta com
base no dispositivo legal adequado.
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

61
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

n) Da Rescisão Indireta do Contrato de Trabalho – Justa Causa do Empregador

Nos termos do Nos termos do artigo 31, da Lei no 9.615/1998, o atleta profissional
artigo 31, da Lei no pode postular a resolução do contrato de trabalho quando o empregador
9.615/1998, o atleta estiver em atraso com o pagamento do salário, no todo ou em parte,
profissional pode por período igual ou superior a 3 (três) meses.
postular a resolução
do contrato de Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que
trabalho quando estiver com pagamento de salário de atleta profissional em
o empregador atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a 3
estiver em atraso (três) meses, terá o contrato especial de trabalho desportivo
com o pagamento daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para se transferir
para qualquer outra entidade de prática desportiva de mesma
do salário, no todo
modalidade, nacional ou internacional, e exigir a cláusula
ou em parte, por compensatória desportiva e os haveres devidos.
período
igual ou superior
O não recolhimento dos valores relativos ao fundo de garantia
a 3 (três) meses.
por tempo de serviço e demais contribuições previdenciárias também
permitem ao atleta profissional postular a resolução do contrato de trabalho, tudo
conforme os ditames do artigo 31, parágrafo 2º, da Lei no 9.615/1998.

Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que


estiver com pagamento de salário de atleta profissional em
atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a
3 (três) meses, terá o contrato especial de trabalho desportivo
daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para se transferir
para qualquer outra entidade de prática desportiva de mesma
modalidade, nacional ou internacional, e exigir a cláusula
compensatória desportiva e os haveres devidos.

[...] § 2º. A mora contumaz será considerada também pelo não


recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias.

Finalmente, outras hipóteses enumeradas no artigo 483, alíneas “a”, “b”, “c”,
“d”, “e”, “f” e “g”, parágrafos 1º, 2º e 3º, da Consolidação das Leis Trabalhistas
(Decreto-lei no 5.452/1943), também podem caracterizar rescisão indireta do
contrato de trabalho, conforme abaixo:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato


e pleitear a devida indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos


por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;

b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores


hierárquicos com rigor excessivo;

c) correr perigo manifesto de mal considerável;

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

62
Capítulo 2 Contratos Desportivos

e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou


pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama;

f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente,


salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça


ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos
salários.

§ 1º. O empregado poderá suspender a prestação dos


serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar
obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço.

§ 2º. No caso de morte do empregador constituído em empresa


individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de
trabalho.

§ 3º. Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado


pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento
das respectivas indenizações, permanecendo ou não no
serviço até final decisão do processo.

Atividade de Estudos:

1) Aponte qual a principal possibilidade de rescisão do contrato


de trabalho estabelecida pela Lei Geral Sobre Desporto (Lei no
9.615/1998).
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

o) Da Rescisão Direta do Contrato de Trabalho – Justa Causa do


Empregado

A relação de trabalho extingue-se diretamente por ato do empregador que


dispensa o empregado com ou sem justa causa.

63
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Havendo inobservância do atleta quanto aos seus deveres


Havendo
profissionais, caberá à entidade desportiva empregadora apurar a falta
inobservância
do atleta quanto cometida e dispensar o empregado por justa causa, implicando esta a
aos seus deveres redução de seus direitos face haver supressão de verbas rescisórias.
profissionais,
caberá à entidade Os deveres específicos do atleta profissional estão enumerados
desportiva no artigo 35, incisos I, II e III, da Lei no 9.615/1998, conforme segue:
empregadora apurar
a falta cometida Art. 35. São deveres do atleta profissional, em especial:
e dispensar o
empregado por justa I - participar dos jogos, treinos, estágios e outras sessões
causa, implicando preparatórias de competições com a aplicação e dedicação
esta a redução de correspondentes às suas condições psicofísicas e técnicas;
seus direitos face
II - preservar as condições físicas que lhes permitam
haver supressão de
participar das competições desportivas, submetendo-se aos
verbas rescisórias. exames médicos e tratamentos clínicos necessários à prática
desportiva;
III - exercitar a atividade desportiva profissional de acordo com
as regras da respectiva modalidade desportiva e as normas
que regem a disciplina e a ética desportivas.

Melo Filho (2000, p. 142) discorre acerca dos deveres do atleta profissional,
conforme segue abaixo:

O inciso I do art. 35 segue exatamente o modelo português (art.


13, letra “b” da Lei n. 28/98), ao exigir do atleta profissional a
prestação de serviços para que foi contratado de modo diligente
(com a aplicação e dedicação correspondentes às suas condições
profissionais e técnicas) cabendo-lhe para tanto comparecer,
pontualmente, aos treinos, jogos, estádios, deslocações, exames
e tratamentos médicos e fisioterápicos e submeter-se ao regime
de treino antecipadamente estabelecido pelo treinador e a todos
os tratamentos preconizados pelo médico.

Porém, a norma geral trabalhista referente à dispensa por justa causa também
se aplica na relação de trabalho entre atleta profissional e entidade desportiva,
requerendo, portanto, sejam observadas as hipóteses constantes no rol do artigo
482, da Consolidação das Leis Trabalhistas (Decreto-lei no 3.689/1941):

Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de


trabalho pelo empregador:

a) ato de improbidade;

b) incontinência de conduta ou mau procedimento;

c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem


permissão do empregador, e quando constituir ato de
concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou
for prejudicial ao serviço;

64
Capítulo 2 Contratos Desportivos

d) condenação criminal do empregado, passada em julgado,


caso não tenha havido suspensão da execução da pena;

e) desídia no desempenho das respectivas funções;

f) embriaguez habitual ou em serviço;

g) violação de segredo da empresa;

h) ato de indisciplina ou de insubordinação;

i) abandono de emprego;

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra


qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas


praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.

Parágrafo único - Constitui igualmente justa causa para dispensa


de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito
administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional.

Zainaghi (2004, p. 41) corrobora com o entendimento acerca da aplicação das


normas gerais de trabalho sem afastar os deveres específicos do atleta, dizendo:

Como a legislação trabalhista geral tem aplicação, o rol constante


dos artigos acima transcritos é exemplificativo, ou seja, traz
deveres específicos da profissão de atleta, mas não veda a
aplicação dos deveres previstos na legislação trabalhista geral.

Amado (2005, p. 69) também comunga do mesmo entendimento, lembrando


apenas, conforme já dito anteriormente, que a Lei no 6.354/1976 foi revogada:

A proposito, se o empregado não cumprir com suas obrigações


e violar obrigação legal ou contratual, poderá sofrer as sanções
previstas no artigo 20 da Lei 6.354/76, harmonizado com
o artigo 482 da CLT, ou seja, rescisão por justa causa. Vale
ressaltar que o artigo 35 da Lei 9.615.98 dispõe das obrigações
do atleta quanto à preservação de suas condições físicas.

Sendo assim, resta claro haver possibilidade de rescisão direta do contrato


de trabalho desportivo por justa causa quando inobservados os deveres do atleta
profissional e mediante aplicação/interpretação cumulativa da legislação do
trabalho com a legislação sobre o desporto.

65
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Atividade de Estudos:

1) Há possibilidade do atleta profissional que possui vínculo de


trabalho com entidade desportiva ser dispensado por justa causa?
Caso seja possível, tanto as normas trabalhistas quanto as normas
sobre o desporto são aplicáveis ao caso? Justifique sua resposta.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

p) Da Competência para Resolução de Litígios de Ordem Trabalhista

Entre Atleta Profissional e Entidade Desportiva

A justiça do trabalho A justiça do trabalho é competente para julgar tanto os litígios de


é competente para ordem material quanto moral, envolvendo atleta profissional e entidade
julgar tanto os
desportiva.
litígios de ordem
material quanto
moral, envolvendo O artigo 114, inciso VI, da Constituição Federal, estabelece à
atleta profissional e competência da justiça do trabalho para julgar tais demandas:
entidade desportiva.
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

[...] VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,


decorrentes da relação de trabalho. [...]

Reafirmando a competência da justiça do trabalho para julgamento dos


citados embates, seguem os seguintes julgados:

RO/7138/97, 3ª Turma do TRT da 3ª Região: EXCEÇÃO DE


COMPETÊNCIA – CLUBE DE FUTEBOL. O clube de futebol
profissional é empregador de seus atletas, sendo a Justiça
do Trabalho competente para instruir e julgar os dissídios
do respectivo contrato de trabalho. Julgamento 20/05/1988.

66
Capítulo 2 Contratos Desportivos

RO/9335/1990, 3ª Turma do TRT da 3ª Região: JOGADOR DE


FUTEBOL – RECLAMAÇÃO TRABALHISTA – COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO. [...] Compete, assim, a Justiça do Trabalho
para apreciação direita de tais pleitos. [...] Julgamento 29/11/1991.

Atividade de Estudos:

1) A quem compete o julgamento dos litígios envolvendo relação de


trabalho entre atleta profissional e entidade desportiva? Assinale
a alternativa correta.

( ) Justiça comum
( ) Justiça do trabalho
( ) Justiça federal

Direito das Obrigações


Para adiante entendermos melhor como funciona a aplicação da lei civil ao
direto desportivo, devemos primeiramente entender certos pontos básicos do
direito obrigacional.

a) Conceito

Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre


devedor e credor tendo por objeto determinada prestação.

Na definição de Venosa (2003, p. 25), “[...] obrigação é uma relação jurídica


transitória de cunho pecuniário unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o
devedor) realizar uma prestação à outra (o credor)”.

b) Elementos

A relação obrigacional é composta por elementos principais, sendo eles:

• Partes: trata-se de elemento subjetivo. Toda obrigação deve possuir ao


menos duas partes, quais sejam, credor e devedor. O sujeito passivo
devedor deve adimplir com a prestação fixada no pacto, enquanto o
sujeito ativo credor é aquele que exige o cumprimento da obrigação.

67
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

• Objeto: é o elemento objetivo da obrigação, ou seja, a prestação. A


prestação da obrigação é aquilo que deve ser cumprido e exigido.

• Vínculo jurídico: é a ligação entre devedor e credor que consiste no dever


do sujeito passivo de honrar com a prestação assumida e do credor de
exigir o cumprimento da prestação.
c) Fontes

São fontes das obrigações:

• Leis: certas obrigações surgem com a entrada em vigor de determinada


lei, como, por exemplo, o dever dos parentes em prestarem alimentos
uns aos outros de modo compatível com sua condição social, inclusive
para atender as necessidades de educação.

• Negócio jurídico: a obrigação pode ter origem em um negócio jurídico


desejado pelas partes, como, por exemplo, um contrato.

• Ato ilícito: a obrigação pode surgir de um ato ilícito, ou seja, aquele que
causa dano a outrem fica obrigado a reparar.

d) Modalidades

São obrigações quanto ao objeto:

• Obrigação de dar: a obrigação consiste na entrega ou restituição de


uma coisa a alguém. A obrigação de dar se divide: a) obrigação de dar
coisa certa: caracteriza-se pela entrega ou restituição de uma coisa
determinada e individualizada em gênero, qualidade e quantidade; b)
obrigação de dar coisa incerta: é a obrigação de entrega ou restituição
da coisa definida ao menos pelo gênero e quantidade.

• Obrigação de fazer: consiste em uma prestação positiva, consubstanciada


na realização de uma atividade pelo devedor.

• Obrigação de não fazer: trata-se de obrigação negativa do devedor, que


exige deste uma omissão. É, portanto, um dever de não agir do devedor,
consubstanciado na abstenção de certo ato.

São obrigações quanto ao resultado:

68
Capítulo 2 Contratos Desportivos

• Obrigação de meio: é aquela em que o devedor deve empregar todos os


conhecimentos e esforços para obtenção de um resultado, que pode ou
não ocorrer, ficando o devedor responsável por ele.

• Obrigação de resultado: o devedor deve alcançar o resultado pretendido


pelo credor. Aqui somente o resultado importa.

São obrigações quanto à pluralidade dos sujeitos:

• Obrigações divisíveis: havendo mais de um devedor ou mais de um credor


e podendo ser fracionado o objeto da prestação, este será dividido em
tantas obrigações iguais e distintas, em relação aos credores e devedores.

• Obrigações indivisíveis: quando só puderem ser cumpridas na sua integralidade,


existindo tanto uma pluralidade de devedores quanto de credores.

• Obrigações solidárias: é aquela em que há multiplicidade de credores ou


devedores, ou de ambos, podendo cada credor cobrar a totalidade da
prestação, como se fosse o único credor, ou cada devedor ficar obrigado
pela prestação total, como se único devedor fosse.

e) Adimplemento e extinção

O adimplemento através do pagamento direto é uma das formas de extinção


da obrigação. A obrigação é adimplida quando o credor recebe do devedor a
prestação decorrente do vínculo obrigacional. É pelo pagamento que ocorre o
cumprimento da obrigação pelo devedor, podendo ser a entrega de determinada
quantia, de um determinado bem, a execução de certa atividade ou, até mesmo,
mantendo sua omissão.

Outra forma de adimplemento que causa a extinção da obrigação é o


pagamento indireto, ou seja, quando o objeto da obrigação não é entregue
diretamente ao credor, pois a obrigação é satisfeita de outra maneira que a lei
considera legítima.

69
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Atividade de Estudos:

1) O adimplemento como forma de extinção da obrigação somente


pode ser feito mediante entrega do objeto diretamente ao credor?
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Do Direito de Imagem e do Direito de


Arena
O direito de imagem está relacionado aos contratos paralelos firmados entre
o atleta profissional e a entidade de prática desportiva, autorizando ou cedendo o
uso de sua imagem.

Referido contrato é de natureza civil e não deve ser confundindo com contrato
de trabalho. Pode ser pactuado com a própria entidade de prática desportiva e/
ou com pessoa jurídica diversa, como no caso de consentimento do clube para
utilização da imagem do atleta associada em marcas e serviços.

O direito de imagem O direito de arena refere-se ao uso da imagem do atleta nos


está relacionado aos espetáculos esportivos, sendo direito dos protagonistas perceberem
contratos paralelos parte dos valores arrecadados com a transmissão e o uso da imagem.
firmados entre o
atleta profissional O artigo 42, parágrafo 1ª, da Lei no 9.615/1998, dispõe que
e a entidade de
pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena com a
prática desportiva,
autorizando ou participação dos atletas no valor arrecadado, conforme segue:
cedendo o uso de
Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de
sua imagem. arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar
ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a
retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio
ou processo, de espetáculo desportivo de que participem.

70
Capítulo 2 Contratos Desportivos

§ 1º. Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário,


5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração
de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos
sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em
partes iguais, aos atletas profissionais participantes do
espetáculo, como parcela de natureza civil.

A distinção básica entre direito de imagem e direito de arena está no fato


de que aquele pertence ao atleta, enquanto este pertence à entidade de prática
desportiva com participação do atleta nos valores auferidos.

Para Soares (2008, p. 98):

[...] os direitos também não se confundem, uma vez que seus


titulares são distintos. No caso do Direito de Imagem seu
detentor é a pessoa física, no presente trabalho, o jogador
de futebol. Já o Direito de Arena, por determinação legal, tem
como detentor a entidade de prática desportiva, o clube de
futebol, a pessoa jurídica.

Atividade de Estudos:

1) Qual a diferença essencial entre direito de imagem e direito de arena?


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Algumas Considerações
O direito desportivo passou por inúmeras modificações ao longo da história,
sendo de suma importância entender as relações de trabalho entre as partes,
bem como suas caraterísticas específicas/peculiares, que devem ser observadas.

Por conseguinte, é importante também compreender como funcionam no


âmbito civil as relações jurídicas que envolvem a imagem do atleta profissional,
revelando, assim, os direitos e deverem resultantes da relação estabelecida.

71
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Referências
AMADO. J. Direito desportivo comentado. Santos, SP: Editora do Autor, 2005.

BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União n. 191-A, Brasília, DF, 05


out. 1988.

_____. Decreto-lei no 5.452. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 09 ago. 1943.

_____. Lei no 9.615/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 1998.

_____. Lei no 10.406/2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002.

_____. Lei no 12.395/2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 mar. 2011.

_____. Lei no 8.213/1991. Diário Oficial da União. DF, 25 jul. 1991.

_____. Justiça do trabalho. RO/10804/1991. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 28 out. 1992.

_____. RO/8123/2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 ago. 2001.

_____. RO/7138/97. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 mai. 1988.

_____. RO/9335/1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 nov. 1991.

_____. RR/418392/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 09 ago. 2002.

_____. RR/129700/2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 07 ago. 2009.

_____. RR/405769/1997. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 maio. 2000.

MELO FILHO, Álvaro. Novo ordenamento jurídico-desportivo. Fortaleza: ABC


Fortaleza, 2000, p. 142.

SOARES, Jorge Miguel Acosta. Direito de imagem e direito de arena no


contrato de trabalho do atleta profissional. São Paulo: LTr, 2008.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil (Parte Geral). 3. ed. São Paulo: Atlas,
2003. v. 1.

ZAINAGHI, Domingos Sávio. Nova legislação desportiva: aspectos trabalhistas.


2. ed. São Paulo: LTr, 2004.

72
C APÍTULO 3
Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no
10.671/2003 (Estatuto do Torcedor)

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender as características básicas do desporto, seus princípios


fundamentais e suas modalidades.

Conhecer os direitos e deveres básicos relacionados ao torcedor.



LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

74
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

Contextualização
Neste capítulo estudaremos o direito desportivo regulado em lei específica, buscando
entender e identificar suas principais características. Demostrar-se-á a classificação
existente entre desporto formal e não formal, dentre as diversas modalidades de desporto
existentes, e a importância dos princípios gerais do direito desportivo.

Apresentar-se-á noções de proteção, defesa e prevenção dos direitos do


torcedor, tudo no intuito de expor ao(à) pós-graduando(a) uma noção geral de
como a lei específica disciplina o tema.

Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé)


A lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) é um importante instrumento para democratização
do esporte, sendo imprescindível estudarmos e compreendermos determinados
aspectos essenciais que serão abordados em seguida.

a) Características gerais

Para frisar, devemos saber que a Lei Pelé (Lei no 9.615/1998) classifica o
desporto de 2 (duas) formas, quais sejam:

• Formal: aquele em que os praticantes devem respeitar Formal: aquele em


regras nacionais e internacionais sob pena de sanção. Nesse que os praticantes
caso, por exemplo, imaginemos uma partida de qualquer devem respeitar
modalidade de esporte reconhecido internacionalmente, regras nacionais e
internacionais sob
devendo tanto as regras gerais internacionais como as regras
pena de sanção.
específicas da própria competição serem respeitadas.

• Não formal: aquele em que os praticantes possuem liberdade Não formal:


aquele em que
lúdica, decidindo acerca das regras aplicáveis. Aqui
os praticantes
imaginemos um jogo de futebol conhecido popularmente possuem liberdade
como “pelada”, sem regras ou regulamentos, e os termos da lúdica, decidindo
partida são ajustados pelos praticantes. São os praticantes de acerca das regras
comum acordo que decidem se haverá ou não juiz, limite de aplicáveis.
idade, regras para desempate e outros.

Nesse sentido temos o artigo 217, caput, da Constituição Federal, dizendo


que: “[...] é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais,
como direito de cada um [...]”.

75
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

O artigo 1º, parágrafos 1º e 2º, da Lei no 9.615/1998, aponta as características


peculiares de cada forma de desporto:

Art. 1º. O desporto brasileiro abrange práticas formais e não


formais e obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos
fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito.

§ 1º. A prática desportiva formal é regulada por normas


nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva
de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades
nacionais de administração do desporto.

§ 2º. A prática desportiva não formal é caracterizada pela


liberdade lúdica de seus praticantes.

Assim, pode-se entender que a diferença básica entre desporto formal e não
formal é a existência ou não de regras formais pré-determinadas.

b) Princípios fundamentais

O artigo 2º, da Lei no 9.615/1998, trata o desporto como direito


O artigo 2º, da Lei
no 9.615/1998, trata individual e subjetivo, apontando princípios fundamentais que auxiliam na
o desporto como compreensão e interpretação das regras contidas na legislação geral sobre
direito individual desporto, conforme segue:
e subjetivo,
apontando princípios Art. 2º. O desporto, como direito individual, tem como base os
princípios:
fundamentais
que auxiliam na I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na
compreensão e organização da prática desportiva;
interpretação das
regras contidas na II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas
legislação geral físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva;
sobre desporto.
III - da democratização, garantido em condições de acesso às atividades
desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação;

IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de


acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-
se ou não a entidade do setor;

V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em


fomentar as práticas desportivas formais e não formais;

VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico


dado ao desporto profissional e não profissional;
VII - da identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às
manifestações desportivas de criação nacional;

VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integral do


homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio
da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados

76
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao


desenvolvimento físico e moral;

X - da descentralização, consubstanciado na organização e


funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados
e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital e municipal;

XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade


desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial;

XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo à competência


desportiva e administrativa.

Parágrafo único. A exploração e a gestão do desporto


profissional constituem exercício de atividade econômica
sujeitando-se, especificamente, à observância dos princípios:

I - da transparência financeira e administrativa;

II - da moralidade na gestão desportiva;

III - da responsabilidade social de seus dirigentes;

IV - do tratamento diferenciado em relação ao desporto não


profissional; e

V - da participação na organização desportiva do País.

Dentre os princípios fundamentais, acima indicados, destacam-se:

• Da autonomia: consubstancia-se na opção das pessoas físicas e


jurídicas organizarem-se para determinada prática desportiva.

• Da liberdade: é o livre acesso à prática desportiva que todos possuem, sem


qualquer tipo de distinção, podendo ou não associar-se à entidade de classe
devidamente constituída. Trata-se de princípio constitucional contido no
dispositivo do artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, determinando que
ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei.

• Do direito social: trata-se do dever do Estado em proporcionar condições


adequadas para a prática de atividades desportivas formais e não formais
(artigo, 217, da Constituição Federal), principalmente naqueles grupos com
menor capacidade de acesso ao direito. Tem íntima ligação com os direitos
sociais constitucionais (artigo 6º, da Constituição Federal), pois o esporte
através do lazer e da educação contribui para uma melhor formação do
indivíduo e, consequentemente, aumento na qualidade de vida.

• Da soberania: é o poder do Estado para organizar a prática desportiva. Não se


trata de soberania absoluta, uma vez que as regras nacionais devem observar
outras de âmbito internacional, tais como, por exemplo, no futebol, as regras
estabelecidas pela FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado).
77
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

• Da diferenciação: é a diferença de tratamento que a lei atribui ao desporto


profissional e não profissional. Aquele que exerce certa modalidade
desportiva como profissão goza de certas garantias e deveres, como
aquelas que tutelam o direito do trabalho e da previdência social.

• Da democratização: tornar acessível ou até mesmo popularizar a prática


desportiva no seio social, independente de qualquer conceito prévio ou
distinção, proteção está garantida pelo artigo 5º, caput, da Constituição
Federal, quando tutela os direitos e garantias fundamentais do cidadão,
dizendo que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza.

• Da educação: refere-se novamente ao dever do Estado em fomentar


o desporto educacional através da aplicação de recursos públicos. O
desporto educacional torna-se acessível a todo aquele inserido no ensino
público regular e serve de elemento básico para o desenvolvimento e
integração social do cidadão.

• Da qualidade: visa ao aperfeiçoamento do praticante, seja no aspecto


competitivo, seja no aspecto físico, seja no aspecto moral.

• Da descentralização: é atribuir aos diferentes entes estatais (federal,


estadual e municipal) autonomia para organizar o sistema desportivo,
tudo no intento de desenvolver o desporto pelo país, respeitando as
peculiaridades de cada região.

• Da segurança: está ligado à integridade física, moral e sensorial do


atleta, pois a prática desportiva, apesar de haver competição, não deve
ultrapassar os limites impostos pela legislação.

• Da eficiência: é a busca do resultado positivo pelo atleta através do


estímulo à competência desportiva e administrativa.

• Da identidade nacional: é a busca de valores nacionais atrelados ao


desporto com intenção de incentivar e tutelar sua prática, bem como
alcançar patamar de igualdade com outros países.

A FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado), em sua


organização, faz uso de alguns princípios fundamentais do desporto
quando discorre acerca da missão da instituição:

“Desenvolver o esporte, sensibilizar o mundo, construir um


futuro melhor.”

78
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

Praticado por milhões de pessoas em todo o mundo, o futebol


é o coração e a alma da FIFA. Como guardiães de um esporte tão
apreciado, temos uma enorme responsabilidade. Essa responsabilidade
não se resume à organização da Copa do Mundo da FIFA e das várias
outras competições mundiais; ela se estende à salvaguarda das Regras
do Jogo, ao desenvolvimento do esporte em todo o mundo e à condução
de esperança aos menos privilegiados. Isso é o que acreditamos ser a
essência do jogo limpo (fair play) e da solidariedade.

Entendemos que a nossa missão é a de contribuir na direção da


construção de um futuro melhor para o mundo, utilizando, para tanto,
a força e a popularidade do futebol. É isso que dá sentido e direção
a cada uma das atividades em que a FIFA está envolvida — o futebol
como parte integrante de nossa sociedade.

Fonte: Disponível em: <http://pt.fifa.com/aboutfifa/organisation/


mission.html>. Acesso em: 05 jan. 2013.

O Ministério do Esporte Brasileiro, por sua vez, prega em sua


missão que:

O Ministério do Esporte é responsável por construir uma Política


Nacional de Esporte. Além de desenvolver o esporte de alto rendimento,
o Ministério trabalha ações de inclusão social por meio do esporte,
garantindo à população brasileira o acesso gratuito à prática esportiva,
qualidade de vida e desenvolvimento humano.

Fonte: Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/institucional/


ministerio.jsp>. Acesso em: 06 jan. 2013.

c) Modalidades desportivas
O artigo 3º, da Lei no
9.615/1998, classifica
O artigo 3º, da Lei no 9.615/1998, classifica o desporto em 3 o desporto em 3
(três) modalidades básicas (educacional, participação e rendimento), (três) modalidades
conforme segue: básicas (educacional,
participação e
Art. 3º. O desporto pode ser reconhecido em rendimento).
qualquer das seguintes manifestações:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em


formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade,
a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de
alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação
para o exercício da cidadania e a prática do lazer;

79
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

II - desporto de participação, de modo voluntário,


compreendendo as modalidades desportivas praticadas com
a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na
plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e
na preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas


gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e
internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar
pessoas e comunidades do País e estas com as de outras
nações.

Parágrafo único. O desporto de rendimento pode ser organizado


e praticado:

I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração


pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a
entidade de prática desportiva;

II - de modo não profissional, identificado pela liberdade de


prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo
permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio.

Da transcrição do dispositivo legal acima citado podemos extrair as seguintes


informações sobre as modalidades de desporto:

• O desporto educacional: é aquele praticado no âmbito escolar e


que tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento do indivíduo
como cidadão estimulado à prática do lazer. O objetivo é ajudar na
formação e socialização do praticante frequentador regular do meio
escolar, afastando da sua prática qualquer ideia de competividade
acirrada para criar uma consciência de lazer, saúde e qualidade de
vida.

• Desporto de participação: objetiva a continuidade no desenvolvimento


do cidadão, buscando através do esporte a promoção do bem comum e
a preservação de valores sociais fundamentais aliados com o lazer.
• Desporto de rendimento: aqui o importante é obter resultados e
alcançar a vitória. O importante é vencer e superar limites sem colocar
em risco o praticante.

• Desporto de rendimento profissional: é aquele caracterizado pela


existência de remuneração pactuada entre o atleta e a entidade
desportiva, podendo até mesmo ser paga por meio de patrocínio.
Configura relação de trabalho e requer obediência das normas
trabalhistas e previdenciárias.

80
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

• Desporto de rendimento não profissional: caracterizado pela liberdade


de prática e ausência de remuneração, podendo haver recebimento de
incentivos materiais.

Em uma sociedade extremamente plural como a brasileira, é essencial haver


um delineamento do direito desportivo, pois as normas jurídicas são fundamentais
para garantir os direitos dos participantes e intervenientes, bem como de toda a
sociedade consumidora.

Atividades de Estudos:

1) Quais são as 2 (duas) formas de desporto classificadas pela lei?


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2) Defina desporto formal e desporto não formal.


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3) Aponte quais são os princípios fundamentais do direito desportivo.


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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

4) Defina quais são as 3 (três) modalidade de desporto e aponte o


fundamento legal.
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Estatuto do Torcedor (lei no


10.671/2003)
Neste tópico estudaremos os principais aspectos relacionados ao
A Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671/2003), possibilitando, assim, ao(à)
Torcedor) estabelece pós-graduando(a) que compreenda e assimile os principais direitos e
normas de proteção deveres do torcedor.
e defesa dos
direitos do torcedor,
prescrevendo
a) Disposições legais
que a prevenção
da violência nos
esportes é de A Lei no 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) estabelece normas
responsabilidade de proteção e defesa dos direitos do torcedor, prescrevendo que a
do poder público, prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder
das confederações, público, das confederações, das federações, das ligas, dos clubes, das
das federações, das
associações ou entidades esportivas, das entidades recreativas e das
ligas, dos clubes,
das associações ou associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes,
entidades esportivas, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam,
das entidades coordenam ou participam dos eventos esportivos.
recreativas e das
associações de
Em seguida, classifica o torcedor como sendo toda pessoa que aprecie,
torcedores, inclusive
de seus respectivos apoie ou associe-se a qualquer entidade de prática desportiva do país.
dirigentes, bem
como daqueles Por fim, considera torcida organizada aquela pessoa jurídica
que, de qualquer de direito privado, estruturada para o fim de torcer e apoiar entidade
forma, promovem, de prática desportiva de qualquer natureza ou modalidade, exigindo,
organizam,
para tanto, que seja mantido cadastro atualizado dos associados ou
coordenam ou
participam dos membros, contendo o nome completo, fotografia, filiação, número
eventos esportivos. do registro civil, número do CPF, data de nascimento, estado civil,
profissão, endereço completo e escolaridade.
82
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

Atividades de Estudos:

1) Defina torcedor.
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2) Defina torcida organizada.


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b) Da transparência na organização das competições


O Estatuto do
Torcedor (Lei no
O Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671/2003), dentre outros 10.671/2003)
direitos, assegura a transparência e a publicidade na organização das garante, também,
competições profissionais, determinando, para tanto, que a entidade que é direito do
responsável pela organização do evento publique em sítio da internet torcedor a divulgação,
durante a partida,
certas informações essenciais, tais como:
da renda obtida
pelo pagamento
• A íntegra do regulamento da competição e as tabelas da de ingressos e
competição que contenham as partidas que serão realizadas; do número de
espectadores
• As tabelas da competição, contendo as partidas que serão pagantes e não
pagantes, por
realizadas, com a especificação de sua data, local e horário;
intermédio dos
serviços de som e
• O nome e as formas de contato do ouvidor da competição; imagem instalados
no estádio em que se
• Os borderôs completos das partidas; realiza a partida e pela
entidade responsável
pela organização da
• A escalação dos árbitros imediatamente após a sua definição;
competição.

83
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

• A relação dos nomes dos torcedores impedidos de comparecer ao local


do evento desportivo.

Por fim, o Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671/2003) garante, também,


que é direito do torcedor a divulgação, durante a partida, da renda obtida pelo
pagamento de ingressos e do número de espectadores pagantes e não pagantes,
por intermédio dos serviços de som e imagem instalados no estádio em que se
realiza a partida e pela entidade responsável pela organização da competição.

Atividade de Estudos:

1) Arrole 3 (três) situações que asseguram o direito do torcedor à


transparência e à publicidade nos espetáculos desportivos.
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c) Da segurança do torcedor
É garantido ao
torcedor o direito
a segurança nos É garantido ao torcedor o direito a segurança nos locais onde são
locais onde são realizados os eventos desportivos antes, durante e após a realização
realizados os das partidas.
eventos desportivos
antes, durante e O artigo 13-A, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, parágrafo
após a realização
único, do Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671/2003), determina
das partidas.
condições de acessibilidade e permanência segura do torcedor no
recinto esportivo, bem como impõe sanções para aqueles que descumprirem as
normas impostas, conforme segue:

Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor


no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições
previstas em lei:

I – estar na posse de ingresso válido;

II – não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas


ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de
violência;

84
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

III – consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança;

IV – não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou


outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter
racista ou xenófobo;

V – não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos;

VI – não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior


do recinto esportivo;

VII – não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros


engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos;

VIII – não incitar e não praticar atos de violência no estádio,


qualquer que seja a sua natureza;

IX – não invadir e não incitar invasão, de qualquer forma, da


área restrita aos competidores;

X – não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou


similares, para outros fins que não o da manifestação festiva
e amigável.

Parágrafo único. O não cumprimento das condições


estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de
ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o
seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras
sanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis.

A estreia do Corinthians na Copa Libertadores não ficará


marcada pelo ponto conquistado fora de casa, com o empate por
1 a 1, no Estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, na altitude de 3.700
metros, e sim pela morte do torcedor Kevin Beltram Espada, de 14
anos, atingindo por um sinalizador dos torcedores brasileiros.

Segundo autoridades locais, no primeiro tempo, quando


o placar já marcava 1 a 0 para o Corinthians, um sinalizador foi
atirado pelos torcedores, contra os bolivianos. Kevin, de 14 anos,
foi atingido no olho pelo sinalizador e não resistiu aos ferimentos,
falecendo no caminho do hospital.

Fonte: Disponível em: <http://www.futebolinterior.com.br>.


Acesso em: 22 fev. 2013.

85
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

A entidade detentora do mando de jogo e seus dirigentes deverão solicitar ao


Poder Público a presença de agentes públicos de segurança, dentro e fora dos locais do
evento; deverão informar os órgãos públicos de segurança, transporte e higiene, o local
da realização do evento, o horário de abertura do estabelecimento, a capacidade de
público do estádio e a expectativa de torcedores presentes; deverá colocar à disposição
do torcedor no estádio e em local de fácil acesso orientações e serviço de atendimento
para encaminhamento de reclamações durante a realização do espetáculo.

A entidade responsável pela organização da competição deverá confirmar


com até 48 (quarenta e oito) horas de antecedência, o horário e o local da
realização das partidas em que a definição das equipes dependa de resultado
anterior; contratar seguro de acidentes pessoais, tendo como beneficiário o
torcedor portador de ingresso que adentrar no recinto; disponibilizar um médico e
dois enfermeiros para cada 10.000 (dez mil) torcedores presentes; disponibilizar
uma ambulância para cada 10.000 (dez mil) torcedores presentes; comunicar
previamente à autoridade de saúde acerca da realização do evento.

Finalmente, os estádios com capacidade superior a 10.000 (dez mil) pessoas


deverão manter central técnica de informações com infraestrutura capaz de
realizar o monitoramento por imagem do público presente.

Atividade de Estudos:

1) Enumere 3 (três) condições de acesso e permanência do torcedor


ao local da realização do evento esportivo relacionadas à segurança.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

86
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

d) Dos ingressos

É direito do torcedor que os ingressos para as partidas integrantes de


É direito do
competição profissional sejam colocados à venda até 72 (setenta e duas) torcedor que os
horas antes do início da partida, exceto quando as equipes sejam definidas ingressos para as
a partir de jogos eliminatórios e não seja possível prever a realização da partidas integrantes
partida com antecedência mínima de 4 (quatro) dias, situações estas em de competição
que o prazo será reduzido para 48 (quarenta e oito) horas. profissional sejam
colocados à venda
até 72 (setenta e
Quando tratarem-se de partidas que compõem competições duas) horas antes
profissionais de âmbito nacional ou regional de primeira e segunda do início da partida,
divisão, a venda de ingressos será realizada em, pelo menos, 5 (cinco) exceto quando
postos de vendas, localizados em diferentes distritos da cidade. as equipes sejam
definidas a partir de
jogos eliminatórios
Ao torcedor também é garantido receber comprovante de
e não seja possível
pagamento após a aquisição do ingresso. Já o ingresso, por sua vez, prever a realização
deve necessariamente conter o valor pago por ele, o número de série e da partida com
outros sinais/características que dificultem a falsificação deste. antecedência
mínima de 4 (quatro)
dias, situações estas
Por fim, é vedado que a entidade de prática desportiva detentora em que o prazo
do mando de jogo coloque à venda número de ingressos maior que a será reduzido para
capacidade de público suportada pelo estádio ou permita adentrar no recinto 48 (quarenta e oito)
pessoas acima da citada capacidade, podendo, caso sejam constatadas as horas.
hipóteses apontadas, perder o mando de jogo por no mínimo 6 (seis) meses.

Atividade de Estudos:

1) Qual o prazo mínimo para que os ingressos de partidas


profissionais sejam colocados à venda?
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

87
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

e) Do transporte
A entidade
responsável pela
organização O artigo 26, incisos I, II e III, do Estatuto do Torcedor (Lei no
da competição 10.671/2003), assegura aos torcedores partícipes os seguintes direitos
juntamente com a relacionados ao transporte:
entidade de prática
desportiva detentora Art. 26. Em relação ao transporte dos torcedores para eventos
do mando de jogo desportivos, fica assegurado ao torcedor partícipe:
deverão manter,
I – o acesso a transporte seguro e organizado;
ainda que de forma
onerosa, serviços de II – a ampla divulgação das providências tomadas em relação
estacionamento para ao acesso ao local da partida, seja em transporte público ou
torcedores durante a privado; e
realização do evento
e meios de transporte III – a organização das imediações do estádio em que será
adequando para disputada a partida, bem como suas entradas e saídas, de modo
idosos, crianças e a viabilizar, sempre que possível, o acesso seguro e rápido ao
pessoas portadoras evento, na entrada, e aos meios de transporte, na saída.
de deficiência física,
ficando dispensado o A entidade responsável pela organização da competição juntamente
cumprimento de tais com a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo deverão
regras na hipótese manter, ainda que de forma onerosa, serviços de estacionamento para
de evento esportivo torcedores durante a realização do evento e meios de transporte adequando
realizado em estádio para idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência física, ficando
com capacidade
dispensado o cumprimento de tais regras na hipótese de evento esportivo
inferior a 10.000 (dez
mil) pessoas. realizado em estádio com capacidade inferior a 10.000 (dez mil) pessoas.

Atividade de Estudos:

1) Há necessidade de mantença de estacionamentos, ainda que de


forma onerosa, para uso dos torcedores partícipes? Há alguma
hipótese de dispensa do cumprimento da referida imposição?
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___________________________________________________
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
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Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

f) Da alimentação e higiene
É também vedado
impor preços
Outra questão assegurada pelo Estatuto do Torcedor é o direito do excessivos ou
torcedor à higiene e à qualidade das instalações físicas dos estádios aumentar sem justa
e dos produtos alimentícios vendidos no local, devendo, para tanto, o causa os preços
Poder Público, por meio dos órgãos de vigilância sanitária, fiscalizar e dos alimentos
comercializados no
impor o cumprimento das citadas normas.
local da realização
do evento, bem
É também vedado impor preços excessivos ou aumentar sem como devem ser
justa causa os preços dos alimentos comercializados no local da mantidas instalações
realização do evento, bem como devem ser mantidas instalações sanitárias adequadas
sanitárias adequadas e compatíveis com a capacidade de público e compatíveis com a
capacidade de público
suportada pela arena.
suportada pela arena.

Atividade de Estudos:

1) Através de qual órgão o Poder Público fiscaliza as instalações


sanitárias e de venda de alimentos dentro da arena desportiva?
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g) Da arbitragem desportiva

É direito do torcedor que a arbitragem da competição desportiva


É direito do torcedor
seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de que a arbitragem da
qualquer tipo de pressões. competição desportiva
seja independente,
A remuneração do árbitro e dos auxiliares é de responsabilidade imparcial, previamente
da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora remunerada e isenta
de qualquer tipo de
do evento esportivo. Já a segurança dos árbitros e auxiliares é de
pressões.
responsabilidade da entidade detentora do mando de jogo e seus
dirigentes, cabendo-lhe convocar agentes de segurança pública capazes de
garantir a integridade física aqueles.

89
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Os árbitros serão escolhidos mediante sorteio aberto e público dentre


aqueles previamente selecionados com antecedência mínima de 48 (quarenta e
oito) horas antes de cada rodada.

A entidade de administração do desporto deve contratar seguro de vida e de


acidentes pessoais em benefício da equipe de arbitragem, quando exclusivamente
no exercício da atividade.

Atividade de Estudos:

1) Aponte os responsáveis pela remuneração e pela segurança do


árbitro e auxiliares.
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___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Algumas Considerações
O capítulo ora apresentado possibilitou ao(à) pós-graduando(a) conhecer as
características essenciais que envolvem o desporto, a importância de entender os
princípios básicos que norteiam o direito desportivo e as modalidades de desporto
existentes na legislação pátria.

Buscou-se, também,, apresentar os direitos e deveres do torcedor, disciplinados


pela legislação vigente, proporcionando um entendimento acerca da proteção,
prevenção e organização destes quando relacionados ao evento desportivo.

90
Capítulo 3 Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé) e Lei no 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor)

Referências
BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União n. 191-A, Brasília, DF, 05
out. 1988.

______. Lei no 9.615/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 1998.

______. Lei no 10.671/2003. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 mai. 2003.

91
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

92
C APÍTULO 4
Justiça Desportiva

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Saber quais as principais legislações formadoras da justiça desportiva.

Conhecer a diferença entre justiça desportiva e justiça comum.


Compreender os limites de competência da justiça desportiva.


Analisar os principais fundamentos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.


Identificar os principais órgãos que compõem a justiça desportiva.


Entender o funcionamento da procuradoria de justiça desportiva.


Conhecer os critérios e vedações para membros da justiça desportiva.


Saber quais as sanções passíveis de aplicação pela justiça desportiva.



LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

94
Capítulo 4 Justiça Desportiva

Contextualização
Primeiramente, estudaremos os fundamentos legais da justiça desportiva,
demonstrando quais são os principais dispositivos que regem este ramo
especializado do Direito.

Posteriormente, demonstraremos as diferenças existentes entre a justiça


desportiva e a justiça comum, seus principais órgãos oficiais, seu limite de
competência e os critérios/vedações para tornar-se membro desta.

Por fim, identificaremos as sanções passíveis de aplicação pela justiça


desportiva.

Da Justiça Desportiva
Abaixo veremos o funcionamento da justiça desportiva dentro do ordenamento
brasileiro, seus fundamentos legais, sua competência, sua organização, os
princípios e as regras gerais contidas no Código Brasileiro de Justiça desportiva
(CBJD), seus principais órgãos, os critérios de ingresso/vedação e as sanções
cabíveis.

a) Noções Introdutórias

A justiça desportiva deve ser considerada como local adequado A justiça desportiva
para dirimir questões meramente desportivas, uma vez que possui possui caráter
conhecimentos especializados e rito próprio para solução dos conflitos. privado e interesse
público, razão pela
A justiça desportiva possui caráter privado e interesse público, qual incorpora,
simultaneamente,
razão pela qual incorpora, simultaneamente, regras de direito privado
regras de direito
e regras de direito público resultantes da intervenção do Estado nas privado e regras
instituições de prática desportiva. de direito público
resultantes da
No entendimento de Melo Filho (2004, p. 10): intervenção
do Estado nas
[...] não será possível definir direito e aplicar instituições de prática
justiça em função de matéria desportiva fora do desportiva.
mundo do desporto, sem o espírito da verdade
desportiva, sem o sentimento da razão desportiva. Aquele que
decidir questão originária do desporto imbuído do pensamento
formalizado nas leis gerais terá distraído a consciência da
justiça.

95
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

b) Base Legal

A justiça desportiva possui regramentos estabelecidos pela Constituição


Federal, pela Lei no 9.615/1998 (Lei Geral Sobre Desporto ou Lei Pelé), pela
Lei no 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) e, principalmente, na Resolução
do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003, alterada pela Resolução do
Conselho Nacional do Esporte no 29/2009 (Código Brasileiro de Justiça
Desportiva – CBJD).

A Constituição Federal, artigo 217, parágrafos 1º e 2º, dispõe:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportiva formais


e não formais, como direito de cada um, observados:

[...]

§ 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina


e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias
da justiça desportiva, reguladas em lei.

§ 2º. A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias,


contados da instauração do processo, para proferir decisão
final.

c) Da Justiça Desportiva e da Justiça Comum

Conforme já dito, sabemos que as questões desportivas devem


ser levadas primeiramente à justiça desportiva, não excluindo, porém, uma
possível apreciação da justiça comum sobre o tema, pois o artigo 5º, inciso
Assim, uma possível XXXV, da Constituição Federal, determina que a lei não excluirá da
apreciação da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito. Vejamos:
questão pela justiça
comum requer o Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
exaurimento das qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
instâncias desportivas estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade, nos
e o julgamento da
termos seguintes:
causa dentro do
prazo máximo de [...]
60 (sessenta) dias.
O exaurimento das XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
instâncias desportivas lesão ou ameaça a direito; [...].
ocorrerá quando
nesta não houver Assim, uma possível apreciação da questão pela justiça comum
mais cabimento de requer o exaurimento das instâncias desportivas e o julgamento da
qualquer recurso causa dentro do prazo máximo de 60 (sessenta) dias. O exaurimento das
passível de modificar
instâncias desportivas ocorrerá quando nesta não houver mais cabimento
decisão proferida
anteriormente. de qualquer recurso passível de modificar decisão proferida anteriormente.

96
Capítulo 4 Justiça Desportiva

O doutrinador Ferreira (2003, p. 130-131) leciona sobre o tema dizendo:

[...] não se trata apenas de limitar a intervenção, em termos


temporais, ao exaurimento da instância, mas, de fato, valorar
a decisão tomada pela Justiça Desportiva, propriamente
especializada.

Beltrami (2004, p. 109) destaca:

Não existe limitação ao acesso à justiça, e sim uma condição


procedimental para que essa possa de fato ser utilizada caso
a especializada não resolva a lide, ou seja, negligente em
relação ao prazo.

Atividades de Estudos:

1) É extremamente correto afirmar que a justiça desportiva possui


caráter privado e incorpora tanto regramentos privados como
estatais. Sabendo disso, pode-se afirmar que a justiça comum
somente conhecerá de questões ou conflitos desportivos
após esgotarem-se as instâncias desportivas? Aponte a
fundamentação legal da resposta e o prazo máximo para
finalização do processo desportivo.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

2) Quando ocorre o exaurimento das instâncias desportivas?


___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
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___________________________________________________
___________________________________________________
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97
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

d) Da Competência da Justiça Desportiva

A justiça desportiva A justiça desportiva é competente para julgar infrações disciplinares e


é competente para ações relativas às competições desportivas, devendo qualquer outro litígio
julgar infrações que não versar sobre as questões anteriormente citadas ser resolvido pela
disciplinares e justiça comum ou outro ramo especializado da justiça brasileira.
ações relativas
às competições
O professor Roque (2002, p. 15) define lides desportivas, dizendo que
desportivas, devendo
qualquer outro litígio são:
que não versar
sobre as questões [...] controvérsias que, por sua natureza e pelas
anteriormente circunstâncias em que soem acontecer, não extrapolam
citadas ser resolvido os limites e o terreno da competição desportiva tout
pela justiça comum court, sendo, por isso, desejável que venham a ser
ou outro ramo dirimidas interna corporis.
especializado da
justiça brasileira. Por outro lado, restará configurado vício de competência quando a
justiça desportiva ultrapassar os limites estabelecidos em lei ou quando
houver ausência de norma formal conferindo determinada competência para
julgamento da questão.

De acordo com o emérito Schmitt (2004, p. 34):

[...] haverá vício de competência na realização de


um ato perante a Justiça Desportiva quando este for
praticado com abuso de competência, ou seja, além dos
limites permitidos pela codificação, ou, ao contrário, por
simples ausência de competência, quando o código não
confere ao membro que, ilegalmente, praticou o ato.

Os conflitos desportivos ocorrem tanto nos limites do território nacional quanto


fora dele, ultrapassando, assim, o controle do legislador de cada país, uma vez
que derivam de um arcabouço legal comum a todas as nações, devendo, portanto,
ser julgados pelo magistrado possuidor de conhecimentos especializados.

Nas palavras do ilustre Lyra Filho (1973, p. 103):

A instituição do desporto não é privativa de um país;


impõe a criação de um direito universal, que se baseia
em princípios, meios e fins universais, coordenados por
leis próprias de âmbito internacional. Tais características
conferem ao direito desportivo uma importância que,
sob certos aspectos, supera o maior número dos demais
ramos do direito.

98
Capítulo 4 Justiça Desportiva

De outro lado, conforme já esposado em capítulo anterior, determinadas


lides não figuram no rol de conflitos tipicamente desportivos, extrapolando, dessa
forma, a competência da justiça desportiva especializada. Aqui podemos tomar
como exemplo as relações trabalhistas entre atletas e entidades desportivas
(competência da justiça do trabalho), os contratos de licença de uso de imagem de
atletas profissionais (competência de justiça comum) e as controvérsias oriundas
da relação de consumo entre torcedor e organizador de evento desportivo
(competência da justiça comum).

Por fim, torna-se importante saber que a competência da justiça desportiva


envolve principalmente uma questão de celeridade nos julgamentos para tornar-se
eficaz, tendo em vista que as competições desportivas se desenrolam com certa
rapidez e um procedimento demasiadamente moroso inviabilizaria a aplicação da
sanção necessária para punição do atleta faltoso.

Atividade de Estudos:

1) Discorra acerca da competência da justiça desportiva.


___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

e) Do Código Brasileiro de Justiça Desportiva É preciso ter


em mente que a
É preciso ter em mente que a organização, o funcionamento, as organização, o
atribuições, o processo, a previsão de infrações disciplinares e suas funcionamento,
respectivas sanções, no que se refere à prática do desporto formal, as atribuições, o
processo, a previsão
regulam-se pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD
de infrações
(Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003 alterada pela disciplinares e suas
Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009). respectivas sanções,
no que se refere à
O artigo 1º, § 1º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII, do Código Brasileiro prática do desporto
de Justiça Desportiva (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no formal, regulam-se
pelo Código
01/2003 alterada pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte no
Brasileiro de Justiça
29/2009), dispõe que: Desportiva - CBJD.
99
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 1º A organização, o funcionamento, as atribuições da


Justiça Desportiva brasileira e o processo desportivo, bem
como a previsão das infrações disciplinares desportivas e de
suas respectivas sanções, no que se referem ao desporto de
prática formal, regulam-se por lei e por este Código.

§ 1º. Submetem-se a este Código, em todo o território nacional:

I - as entidades nacionais e regionais de administração do


desporto;

II - as ligas nacionais e regionais;

III - as entidades de prática desportiva, filiadas ou não


às entidades de administração mencionadas nos incisos
anteriores;

IV - os atletas, profissionais e não profissionais;

V - os árbitros, assistentes e demais membros de equipe de


arbitragem;

VI - as pessoas naturais que exerçam quaisquer empregos,


cargos ou funções, diretivos ou não, diretamente relacionados
a alguma modalidade esportiva, em entidades mencionadas
neste parágrafo, como, entre outros, dirigentes, administradores,
treinadores, médicos ou membros de comissão técnica;

VII - todas as demais entidades compreendidas pelo Sistema


Nacional do Desporto que não tenham sido mencionadas
nos incisos anteriores, bem como as pessoas naturais e
jurídicas que lhes forem direta ou indiretamente vinculadas,
filiadas, controladas ou coligadas.

Na sequência, mas não menos importante, devemos conhecer os princípios


que norteiam a justiça desportiva, apontados no artigo 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI,
VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, do Código Brasileiro de Justiça
Desportiva - CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003 alterada
pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009), conforme segue:

Art. 2º. A interpretação e aplicação deste Código observará os


seguintes princípios, sem prejuízo de outros:

I - ampla defesa;

II - celeridade;

III - contraditório;

IV - economia processual;

V - impessoalidade;

VI - independência;

100
Capítulo 4 Justiça Desportiva

VII - legalidade;

VIII - moralidade;

IX - motivação;

X - oficialidade;

XI - oralidade;

XII - proporcionalidade;

XIII - publicidade;

XIV - razoabilidade;

XV - devido processo legal;

XVI - tipicidade desportiva;

XVII - prevalência, continuidade e estabilidade das competições


(pro competitione);

XVIII - espírito desportivo (fair play).

Entre os princípios alhures apresentados, podemos destacar:

• Ampla defesa: princípio segundo o qual a parte tem o direito de utilizar


todos os meios processuais legalmente disponíveis na defesa dos seus
interesses (artigo 5ª, inciso LV, da Constituição Federal).

• Celeridade: garante aos interessados a duração razoável do processo,


possibilitando, assim, a efetivação do direito perquirido.

• Contraditório: é inerente ao direito de defesa, ou seja, quando


uma das partes no processo alega determinada coisa, tem-se que,
obrigatoriamente, ouvir a parte contrária.

• Econômica processual: princípio pelo qual o processo deverá alcançar


o maior resultado com o mínimo de esforço possível, utilizando-se, para
tanto, de procedimentos rápidos e eficazes.

• Impessoalidade: possui estrita ligação com a isonomia e a igualdade,


em que a norma deve ser destinada a todos sem determinação de
pessoa ou discriminação de qualquer natureza.

• Independência: princípio pelo qual se pretende proteger os órgãos da justiça


desportiva dos demais poderes da entidade de administração de desporto.

101
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

• Legalidade: significa o dever de observância dos mandamentos da lei e


pode ser encontrado no artigo 5º, inciso 2º, da Constituição Federal, no
qual “[...] ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”.

• Moralidade: trata-se da boa e útil disciplina interna do direito desportivo,


em que se deve obedecer não só a lei, mas a própria moral, porque nem
tudo que é legal é honesto.

• Motivação: trata-se de princípio que visa a garantir a imparcialidade dos


julgamentos, devendo, portanto, que o prolator da decisão fundamente
suas razões sob pena de nulidade.

• Oficialidade: princípio segundo o qual uma vez iniciado o processo,


deve este ser impulsionado pelo juiz, independentemente da vontade
das partes.

• Oralidade: derivado de oral e significa o procedimento verbal, ou seja,


tudo o que se faz verbalmente. Ordinariamente, a oralidade não implica
a inexistência de qualquer escrito, mas apenas indica que certos atos
devem ser praticados oralmente para distinguir-lhes daqueles que são
feitos por escrito.

• Proporcionalidade: o princípio da proporcionalidade tem por escopo


evitar resultados desproporcionais e injustos, baseando-se em valores
fundamentais. O reconhecimento e a aplicação do citado princípio permite
vislumbrar a circunstância de que o propósito de proteger determinados
valores fundamentais deve ceder quando a observância intransigente
de tal orientação importar na violação de outro direito fundamental ainda
mais valorado.

• Publicidade: é o princípio que torna obrigatória a divulgação oficial de atos


para controle, conhecimento e início de seus efeitos. Os principais efeitos
da publicação oficial são: a) presumir o conhecimento dos interessados; b)
desencadear o decurso de prazos para interposição de recursos; c) marcar
o início dos prazos de decadência ou prescrição; d) impedir a alegação de
ignorância em relação ao comportamento exteriorizado.

• Razoabilidade: significa que a justiça desportiva não deve agir de forma


desarrazoada. Trata-se da adequação dos meios entre os fins, vedada
à imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior
àquelas estritamente necessárias ao atendimento dos interesses
conflitantes.

102
Capítulo 4 Justiça Desportiva

• Devido processo legal: o princípio do devido processo legal garante


a eficácia dos direitos garantidos ao cidadão pelo artigo 5º, inciso LIV,
da Constituição Federal, pois seriam insuficientes as demais garantias
sem o direito a um processo regular, com regras para a prática dos atos
processuais e administrativos.

• Tipicidade desportiva: significa que determinadas condutas tuteladas


pela justiça desportiva devem estar formalmente tipificadas na
legislação, não significando, porém, inflexibilidade, mas sim situações
exemplificativas.

• Prevalência, continuidade e estabilidade das competições: trata-


se da prevenção para que a aplicação das sanções desportivas
não seja utilizada com o intuito de manipulação das competições,
falseamento de resultados ou uso de artifícios jurídicos com intenção
de manipulação.

• Espírito desportivo: significa jogar limpo e agir com ética desportiva,


pois ambas constituem uma forma de pensar que vai muito além do
simples respeito pelas regras do jogo.

Atividade de Estudos:

1) Dentre os princípios que norteiam a justiça desportiva encontra-


se o espírito desportivo. Elabore um discurso acerca do referido
princípio.
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103
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

f) Dos Órgãos da Justiça Desportiva

O artigo 52, da Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé ou Lei Geral Sobre Desporto),
afirma:

Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva são


autônomos e independentes das entidades de administração
do desporto de cada sistema, compondo-se do Superior
Tribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades
nacionais de administração do desporto; dos Tribunais de
Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades regionais
da administração do desporto, e das Comissões Disciplinares,
com competência para processar e julgar as questões previstas
nos Códigos de Justiça Desportiva, sempre assegurados a
ampla defesa e o contraditório.

Já o artigo 3º, incisos I, II e II, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva


- CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003, alterada pela
Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009), preleciona:

Art. 3º São órgãos da Justiça Desportiva, autônomos e


independentes das entidades de administração do desporto,
com o custeio de seu funcionamento promovido na forma
da lei:

I - o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com


jurisdição desportiva correspondente à abrangência territorial
da entidade nacional de administração do desporto;
II - os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD), com jurisdição
desportiva correspondente à abrangência territorial da entidade
regional de administração do desporto;
III - as Comissões Disciplinares constituídas perante os órgãos
judicantes mencionados nos incisos I e II deste artigo.

Boudens (2002, p. 20) discorre sobre o tema dizendo:

[...] em tese, há tantas “Justiças Desportivas” quantas são as


A justiça desportiva entidades nacionais de administração do desporto: existe a
brasileira é Justiça Desportiva da Confederação Brasileira de Atletismo,
composta de três a Justiça Desportiva da Confederação Brasileira de Tiro-ao-
pombo, a Justiça Desportiva da Confederação Brasileira de
instâncias distintas,
Futebol, etc.
quais sejam: o
Superior Tribunal de
Portanto, a justiça desportiva brasileira é composta de três
Justiça Desportiva
(STJD), os instâncias distintas, quais sejam: o Superior Tribunal de Justiça
Tribunais de Justiça Desportiva (STJD), os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD) e as
Desportiva (TJD) Comissões Disciplinares.
e as Comissões
Disciplinares.

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Capítulo 4 Justiça Desportiva

Atividade de Estudos:

1) Quais são os órgãos que compõem as três instâncias da justiça


desportiva brasileira?
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g) Da Procuradoria de Justiça Desportiva

A Justiça Desportiva é composta pela Procuradoria de Justiça Desportiva


(PJD), órgão que exerce a função de fiscal da lei.

Incumbe a Procuradoria de Justiça Desportiva o ônus de provar Incumbe a


as infrações em processos disciplinares, bem como responsabilizar Procuradoria de
as pessoas físicas ou jurídicas que violarem as regras do Código Justiça Desportiva
Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD. o ônus de provar
as infrações
em processos
Os artigos 58-A e 21, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva disciplinares,
– CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003, bem como
alterada pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009) responsabilizar as
regulam a questão: pessoas físicas
ou jurídicas
Art. 58-A. Nos processos disciplinares, o ônus da que violarem as
prova da infração incumbe à Procuradoria. regras do Código
Brasileiro de Justiça
Art. 21. A Procuradoria da Justiça Desportiva Desportiva – CBJD.
destina-se a promover a responsabilidade das
pessoas naturais ou jurídicas que violarem as disposições
deste Código, exercida por procuradores nomeados pelo
respectivo Tribunal (STJD ou TJD), aos quais compete: [...].

A Procuradoria é dirigida pelo Procurador-geral, escolhido por votação da


maioria absoluta dos membros do Tribunal Pleno, dentre três nomes de livre
indicação. Possui mandato idêntico ao presidente do Tribunal de Justiça Desportiva
e pode ser destituído de suas funções pelo voto da maioria absoluta do Tribunal
Pleno, desde que o processo inicie com a manifestação fundamentada e subscrita

105
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

pelo voto mínimo de quatro auditores do referido tribunal, tudo em conformidade


com os dizeres do artigo 21, parágrafos 1º, 2º e 3º, do Código Brasileiro de Justiça
Desportiva – CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003,
alterada pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009). Vejamos:

Art. 21. A Procuradoria da Justiça Desportiva destina-se


a promover a responsabilidade das pessoas naturais ou
jurídicas que violarem as disposições deste Código, exercida
por procuradores nomeados pelo respectivo Tribunal (STJD ou
TJD), aos quais compete: [...]

§ 1º A Procuradoria será dirigida por um Procurador-Geral,


escolhido por votação da maioria absoluta do Tribunal Pleno
dentre três nomes de livre indicação da respectiva entidade de
administração do desporto.

§ 2º O mandato do Procurador-Geral será idêntico ao


estabelecido para o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD).

§ 3º O Procurador-Geral poderá ser destituído de suas funções


pelo voto da maioria absoluta do Tribunal Pleno, a partir de
manifestação fundamentada e subscrita por pelo menos quatro
auditores do Tribunal Pleno.

O artigo 55, parágrafo 2º, da Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé ou Lei Geral Sobre
Desporto), reza que o mandato dos membros do Tribunal de Justiça Desportiva
terá duração máxima de 4 (quatro) anos, permitida apenas uma recondução.

Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais


de Justiça Desportiva serão compostos por nove membros,
sendo: [...]

§ 2º. O mandato dos membros dos Tribunais de Justiça


Desportiva terá duração máxima de quatro anos, permitida
apenas uma recondução.

Assim, utilizando-se da hermenêutica em uma interpretação literal e conjunta


dos dispositivos legais citados, tem-se que o mandato do Procurador Desportivo
terá duração máxima de 4 (quatro) anos, admitida uma única recondução.

O ilustre Perry (1969, p. 125) discorre sobre o tema ainda quando sob a égide
de lei anterior, aduzindo que:

[...] em nossa Justiça Desportiva, [...] o auditor não tem direito a


voto, cabendo-lhe as atribuições equivalentes às do Ministério
Público. É ele quem promove o processo, solicita o inquérito,
requer diligência, oferece a denuncia, recorre das decisões. É
tipicamente um fiscal da lei, um promotor, um representante
do Ministério Público Desportivo. Entendemos, assim, que
nos futuros códigos ou em reformas deva ser substituída à
expressão “auditor” pela expressão “promotor”.

106
Capítulo 4 Justiça Desportiva

Atividade de Estudos:

1) Qual é a função típica da Procuradoria de Justiça Desportiva?


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h) Vedações e Critérios para Membros da Justiça Desportiva

O artigo 55, parágrafo 4º, da Lei no 9.615/1998 (Lei Pelé ou Lei geral Sobre
Desporto), determina que os membros do Superior Tribunal de Justiça Desportiva
e os membros dos Tribunais de Justiça Desportiva poderão ser bacharéis em
Direito ou pessoas de notório saber jurídico com responsabilidade ilibada:

Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais


de Justiça Desportiva serão compostos por nove membros,
sendo: [...]

§ 4º. Os membros dos Tribunais de Justiça Desportiva poderão


ser bacharéis em Direito ou pessoas de notório saber jurídico,
e de conduta ilibada.

Já com relação às vedações, o artigo 16, incisos I e II, do Código Brasileiro


de Justiça Desportiva – CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no
01/2003, alterada pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009),
determina:

Art. 16. Respeitadas as exceções da lei, é vedado o exercício


de função na Justiça Desportiva:

I - aos dirigentes das entidades de administração do desporto;

II - aos dirigentes das entidades de prática desportiva.

Ainda na mesma linha, o artigo 17, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva


– CBJD (Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003, alterada pela
Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009), determina que não
podem integrar Tribunal Pleno ou Comissão Disciplinar pessoas que tenham
parentesco na linha ascendente ou descendente nem àquele que seja cônjuge,
companheiro, irmão, tio, sobrinho, sogro, padrasto, enteado ou cunhado de outro
membro dos referidos órgãos.

107
LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

Art. 17. Não podem integrar concomitantemente o Tribunal


Pleno, ou uma mesma Comissão Disciplinar, auditores que
tenham parentesco na linha ascendente ou descendente, nem
auditor que seja cônjuge, companheiro, irmão, tio, sobrinho,
sogro, padrasto, enteado ou cunhado, durante o cunhadio, de
outro auditor.

Também não poderá intervir no processo o membro da Justiça Desportiva que


for credor, avalista, fiador, sócio, patrão ou empregado, direta ou indiretamente,
de qualquer das partes; quando houver se manifestado, publicamente e
especificamente, sobre fato concreto objeto de causa em julgamento ou passível
de ser julgada; quando for parte no processo. O artigo 18, incisos I, II e III, do
Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD (Resolução do Conselho Nacional
do Esporte no 01/2003, alterada pela Resolução do Conselho Nacional do Esporte
no 29/2009), dispõe:

Art. 18. O auditor fica impedido de atuar no processo:

I - quando for credor, devedor, avalista, fiador, patrono, sócio,


acionista, empregador ou empregado, direta ou indiretamente,
de qualquer das partes;

II - quando se manifestar, específica e publicamente, sobre


objeto de causa a ser processada ou ainda não julgada pelo
órgão judicante;

III - quando for parte.

Por fim, a Resolução no 10, do Conselho Nacional de Justiça, veda o exercício


pelos membros do poder judiciário de funções nos Tribunais de Justiça Desportiva
e Comissões Disciplinares, conforme segue transcrito:

O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,


no uso de suas atribuições, considerando o decidido nas
Reclamações Disciplinares nº. 127, 128, 130, 134 e 138;

CONSIDERANDO que, nos termos do disposto no art.


103-B, § 4º, I, da Constituição Federal, compete ao
Conselho zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo
cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir
atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou
recomendar providências;

CONSIDERANDO que os integrantes do Poder Judiciário


encontram-se submetidos ao art. 95, parágrafo único, inc. I,
da Constituição Federal e ao regime disciplinar estipulado nos
arts. 35 e seguintes da Lei Complementar n° 35, de 14.03.79
(LOMAN);

RESOLVE:

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Capítulo 4 Justiça Desportiva

Art. 1º É vedado o exercício pelos integrantes do Poder


Judiciário de funções nos Tribunais de Justiça Desportiva e em
suas Comissões Disciplinares (Lei n° 9.615, de 24.03.98, arts.
52 e 53).

Art. 2º É determinado aos atuais membros do Poder Judiciário


que exercem funções nos Tribunais de Justiça Desportiva e em
suas Comissões Disciplinares que se desliguem dos referidos
órgãos até o dia 31 de dezembro de 2005.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua


publicação.

Atividade de Estudos:

1) Quais os requisitos necessários para ser membro da Justiça


Desportiva?
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i) Sanções da Justiça Desportiva

Existem 11 (onze) punições previstas no artigo 170, incisos I, II, III, IV,
V VI, VII, VIII, IX, X e XI, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD
(Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 01/2003, alterada pela
Resolução do Conselho Nacional do Esporte no 29/2009), conforme segue
abaixo:

Art. 170. Às infrações disciplinares previstas neste Código


correspondem as seguintes penas:

I - advertência;

II - multa;

III - suspensão por partida;

IV - suspensão por prazo;

V - perda de pontos;

VI - interdição de praça de desportos;

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

VII - perda de mando de campo;

VIII - indenização;

IX - eliminação;

X - perda de renda;

XI - exclusão de campeonato ou torneio.

Importante destacar Importante destacar que a Justiça Desportiva não possui


que a Justiça competência para impor pena privativa de liberdade, bem como não
Desportiva não obriga ou exclui outro tipo de condenação proveniente de outras esferas
possui competência judiciais ou administrativas.
para impor pena
privativa de liberdade,
Nas palavras de Melo Filho (2004, p. 22):
bem como não obriga
ou exclui outro tipo [...] se um atleta ou dirigente agride ou pratica de fato contra um
de condenação árbitro, causando-lhe lesões corporais, a apenação desportiva
proveniente de outras que lhe for imposta não exclui a imposição de pena criminal que
esferas judiciais ou couber, nem a responsabilidade por perdas e danos patrimoniais
administrativas. ou morais, se da infração resultar prejuízo para o agredido. O
art. 284 do CBJD também atrela-se a esta temática ao dispor
que os órgãos fiscalizadores ou sindicatos de atletas, técnicos,
preparadores físicos, médicos, advogados, etc., após o trânsito
em julgado de decisões condenatórias pela Justiça Desportiva,
podem adotar providências, inclusive apenar mencionados
atores desportivos, por decisão e no âmbito dos respectivos
entes classistas, desde que tenham malferido seus estatutos.

Atividade de Estudos:

1) Enumere as 11 (onze) punições estabelecidas pelo Código


Brasileiro de Justiça Desportiva.
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Capítulo 4 Justiça Desportiva

Algumas Considerações
Destaca-se toda a exposição efetuada no presente capítulo, uma vez que
os temas direito desportivo e, especialmente, a justiça desportiva são pouco
estudados atualmente.

Deve-se entender que a justiça desportiva, diante da sua especialidade,


possui competência restrita e o dever de julgar com celeridade os casos
desportivos postos sob sua análise, pois, caso contrário, suas decisões seriam
completamente inócuas.

Por conseguinte, tem-se necessário um estudo cada vez mais aprofundado


acerca do direito desportivo, bem como o constante aperfeiçoamento das leis
brasileiras no intuito de delinear com exatidão e clareza toda a complexa questão
atinente ao assunto.

Referências
BELTRAMI, Ana Teresa Guazzelli. Revista brasileira de direito desportivo. São
Paulo, n. 6, segundo semestre de 2004.

BOUDENS, Emile. CPI CBF/Nike: textos e contextos III – Justiça Desportiva.


Brasília: Câmara dos Deputados, 2002.

BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União n. 191-A. Brasília, DF, 05


out. 1988.

______. Resolução do Conselho Nacional do Esporte n. 01. Diário Oficial da


União. Brasília, DF, 23 dez. 2009.

______. Resolução do Conselho Nacional do Esporte n. 29. Diário Oficial da


União. Brasília, DF, 31 dez. 2009.

______. Lei no 9.615/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 1998.

______. Resolução no 10 do Conselho Nacional de Justiça. Diário Oficial da


União, Brasília, DF, 22 dez. 2005.

______. Lei no 10.617/2003. Diário Oficial da União, Brasil, DF, 16 mai. 2003.

FERREIRA, Gilmar Mendes. Curso de direito desportivo. São Paulo: Ícone, 2003.

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LEGISLAÇÃO E DIREITO ESPORTIVO

LYRA FILHO, João. Introdução à sociologia dos desportos. Rio de Janeiro:


Bloch Editores, 1973.

MELO FILHO, Álvaro. Código brasileiro de justiça desportiva: comentário e


legislação. Brasília: Assessoria de Comunicação Social, 2004.

PERRY, Valed. Da adoção da expressão promotor, em substituição à expressão


auditor. Da faculdade de presidente de Tribunal ou Junta nomear promotor “ad
hoc”, quando o plenário entender que deva ser oferecida denúncia, quando
não for apresentada pelo promotor efetivo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
JUSTIÇA DESPORTIVA (FUTEBOL). 1. Rio de janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
Editora Vozes, 1969.

ROQUE, Sebastião José. Natureza da justiça desportiva. Brasília: Câmara dos


Deputados, 2002.

SCHMITT, Paulo. Código brasileiro de justiça desportiva: comentários e legislação.


Brasília: Ministério do Esporte – Assessoria de Comunicação Social, 2004.

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