Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de São Paulo
RESUMO
O início da Era dos arranha-céus e a consolidação da produção do cimento Portland em São Paulo
proporcionaram a popularização de um revestimento até então pouco conhecido dos paulistanos: a
argamassa de pó de pedra. Este revestimento de caráter decorativo era produzido a partir de cimento,
cal, areia, pó de pedra, pigmento e mica. Um de seus grandes apelos, além do quesito estético, era o
fato de dispensar as onerosas pinturas periódicas, sobretudo em arranha céus, que exigiam instalação
de altos andaimes. Entretanto, sua aplicação era notoriamente trabalhosa e demandava mão- de- obra
especializada. Estima-se que aproximadamente 20% das cerca de 500 edificações tombadas pelo
município de São Paulo nos distritos da Sé e da República apresentem este tipo de revestimento, mas,
não raro, a argamassa de pó de pedra passa despercebida pelos transeuntes que circulam na região
central da cidade. Apesar de amplamente empregado, principalmente entre as décadas de 1930 e 1950,
sua técnica de aplicação foi sendo pouco a pouco esquecida. A escassez de estudos e pesquisas sobre
argamassa de pó de pedra em fachadas de edifícios históricos motivou o tema de dissertação de
mestrado, ainda em fase inicial de elaboração, cujo primeiro fruto é o presente artigo.
Palavras-chave: argamassa de pó de pedra; símile pedra; pedra fingida; revestimento; São Paulo.
Introdução
O ano de 1924 pode ser considerado como um dos grandes marcos na utilização do cimento
Portland em São Paulo, pois apenas então foi iniciada sua produção sistemática com a
implantação de uma fábrica no distrito de Perus, fundada pela Companhia Brasileira de
Cimento Portland (BATAGIN, 2013).
Um dos primeiros edifícios altos da cidade de São Paulo foi o Edifício Guinle (figura 1A), na
Rua Direita, inaugurado em 1913 com 10 pavimentos. Mas, coincidentemente ou não, a
chamada Era dos Arranha- céus paulistana foi iniciada apenas no emblemático ano de 1924
com a conclusão do Edifício Sampaio Moreira (figura 1B), localizado na Rua Líbero Badaró,
com 14 andares e cerca de 54 metros de altura, alcançando o título de construção mais alta da
cidade até o ano de 1929, quando foi suplantado pelo edifício Martinelli (figura 1C), também
na Rua Líbero Badaró, com 30 andares e 130 metros de altura.
Os três edifícios supra citados foram revestidos por argamassa de pó de pedra, assim como
tantos outros no centro de São Paulo. Apesar de amplamente empregada, especialmente
entre a década de 1930 e início dos anos 1950, período em que foi vinculada a construções de
viés art-déco, sua técnica de aplicação foi sendo pouco a pouco esquecida, especialmente
quando da valorização da arquitetura moderna e, sobretudo em São Paulo, do brutalismo,
iniciado em meados dos anos 1950, que preconizava a verdade estrutural e o despojamento
de ornamentos. Junte-se a isso o surgimento de novas técnicas e materiais no período do
pós-guerra, a começar pela implantação gradual das fábricas de tintas comerciais que
substituíram satisfatoriamente a consagrada caiação nas fachadas pintadas, proporcionando
maior facilidade de aplicação e maior durabilidade que as tintas a base de cal. Houve ainda, a
partir do final da década de 1940, a popularização das pastilhas de porcelana como
revestimento de fachada, introduzidas por marcas como a Indústria Paulistana de Porcelana
Argilex e Pastilhas Jatobá, rapidamente absorvidas pela nova linguagem modernista.
Atualmente, são escassos os estudos e pesquisas acerca desse revestimento. Salvo sucintas
referências sobre sua composição geral em manuais de construção civil, breves menções em
pesquisas e artigos sobre o art-déco e raros estudos de caracterização executados pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), foi encontrada apenas uma pesquisa acadêmica
que aborda especificamente o revestimento de pó de pedra1. Dentre os estudos realizados
pelo IPT sobre este revestimento, destaca-se a caracterização das argamassas de pó de
pedra das fachadas do Edifício Adriano Marchini, o primeiro edifício administrativo da Cidade
Universitária de São Paulo, inaugurado em 1954 (OLIVEIRA; CAVANI, 2008).
1
Trata-se de dissertação de mestrado elaborada por Gizela Barbosa do Nascimento em 2008, que aborda a
restauração da argamassa de pó de pedra aplicada a fachadas em estilo art-déco de Belo Horizonte, adotando
como estudo de caso o Edifício Thibau.
A pedra fingida
A partir dos anos 1950 foram disponibilizados no mercado revestimentos prontos que
substituíam a argamassa de pó de pedra feita em obra, oferecendo diversas cores e texturas.
Curioso acompanhar as publicações da Revista Politécnica (1952) que exibem, entre artigos e
Estima-se que pelos menos 20% das cerca de 500 edificações tombadas pelo município de
São Paulo localizadas nos distritos da Sé e da República apresentem argamassa símile pedra
em suas fachadas. Entretanto, não raro, este revestimento passa despercebido pelos
transeuntes que circulam na região central da cidade.
Além das icônicas construções elencadas no início do artigo, tem-se outros inúmeros edifícios
como o Centro Cultural Banco do Brasil, na R. Álvares Penteado; a Faculdade de Direito do
Largo São Francisco, que recebeu um bloco inteiro de argamassa de pó de pedra na grande
reforma da década de 1930; o Edifício Sulacap na Rua Anchieta; o Palacete São Jorge na R.
Carlos de Souza Nazaré; o Ed. Da Bolsa de Mercadorias & Futuro na R. João Brícola; o
Mosteiro de São Bento no Largo de mesmo nome; a escadaria do Anhangabaú e o Mercado
de Flores, ambos na R. Líbero Badaró.
Vale, ainda, lembrar que algumas ruas concentram numerosos exemplares: dos treze
edifícios tombados na R. Barão de Itapetininga, sete deles apresentam revestimento de pó de
pedra. Já na Rua Marconi, todos os edifícios protegidos são de argamassa de pedra fingida,
apesar de muitos deles terem recebido posteriormente pinturas inadequadas.
Se tão praticado entre as décadas de 1920 e 1950, por quais pretextos deixou de ser
empregado? Um dos motivos para o abandono do uso do revestimento de pó de pedra talvez
tenha sido, até mais importante que mudanças estilísticas, o lançamento de novos materiais e
o incremento tecnológico de outros já consagrados, como pastilhas de porcelana, cerâmicas e
tintas comerciais.
Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE, Alexandre. Construções Civis. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais
Ltda, 1957. 569 p.
CORREIA, Telma. de Barros. Art déco e indústria no Brasil, décadas de 1930 e 1940. Anais
do Museu Paulista, São Paulo, v. 16, n. 2, p.47-104, jul./ dez. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-47142008000200003&script=sci_arttext>.
Acesso em: 10 jul. 2013.
PIANCA, João Baptista. Manual do Construtor. Porto Alegre: Globo, 1977. 2v.