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GESTÃO ESTRATÉGICA NAS EMPRESAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE

ARTIGO

Jenny Dantas Barbosa


Doutora em Administração pela Universidad Complutense de Madrid.
Professora da Universidade Federal de Sergipe na Graduação e na Pós-
Graduação latu e strictu sensu. Consultora na área de Planejamento
Estratégico e pesquisadora em Pequenas e Médias Empresas,
Empreendedorismo e Turismo.
E-mail: jenny@infonet.com.br

Rivanda Meira Teixeira


Pós-Doutora em Turismo pela Bournemouth University, na Inglaterra, e em
Gerenciamento de Pequenas Empresas do Setor Turístico pela Strathclyde
University, na Escócia. Doutora em Administração pela Cranfield
University, Inglaterra. Professora do Departamento de Administração da
Universidade Federal de Sergipe. Pesquisadora do CNPq.
E-mail: rivandateixeira@netdados.com.br

RESUMO ABSTRACT

Este estudo analisa o comportamento estratégico The strategic planning adopted in small and
adotado nas empresas industriais de pequeno e medium sized industrial companies in Sergipe, a
médio porte do Estado de Sergipe, nordeste do northeastern state of Brazil, is analyzed in this
Brasil. Especificamente, busca identificar a missão study. Identified specifically are their mission and
e os objetivos das PMEs sergipanas, o ambiente objectives, the business environment, the influence
empresarial, a influência da conjuntura econômico- of the economic environment on them and their
financeira nas PMEs, o posicionamento dessas market positioning as well as possibilities for
empresas no mercado, bem como suas growth. Forty businessmen or directors were
possibilidades de crescimento. Foram entrevistados interviewed from these companies, selected
quarenta empresários ou diretores dessas empresas, according to a proportional representation by size
selecionados de forma que se preservasse a relação and activity in each sector. The conclusion is that
existente entre as pequenas e médias e a the company businessman/entrepreneur is nearly
representatividade de cada setor. Constatou-se que o always the person in charge of strategic behavior
empresário/empreendedor das PMEs sergipanas é and of processing information concerning the
quase sempre o principal responsável pelo environment. They are fully aware of the direction
comportamento estratégico da empresa e pelo to be followed however their action is not
processamento das informações oriundas do systematic nor is it benefited by the basic concepts
ambiente. Eles têm clareza do caminho a seguir, of strategy formulation. Information on the
mas o percorrem de maneira assistemática, sem environment is scarce so that perception only takes
utilização dos conceitos básicos de formulação place when changes are already underway.
estratégica. As informações sobre o ambiente são Reactions embrace the introduction of new
escassas e os empresários só percebem as mudanças technologies, training of human resources,
ocorridas nos seus respectivos setores quando estas improvement of product quality and adoption of
já estão se processando. Reagem às mudanças competitive prices.
introduzindo novas tecnologias, qualificando seus
Key-words: Small and Medium Sized Industries;
recursos humanos, melhorando a qualidade dos seus
Business Strategy; Strategic Management.
produtos e adotando preços competitivos.
Palavras-chave: Comportamento estratégico;
Pequenas e médias empresas; Gestão estratégica.

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 3, p. 31-42, julho/setembro 2003


Jenny Dantas Barbosa e Rivanda Meira Teixeira

1. INTRODUÇÃO decidiram realizar este estudo, com o objetivo de


analisar o comportamento estratégico adotado nas
Dirigir estrategicamente uma empresa é uma empresas industriais de pequeno e médio porte do
atitude geral, que permite identificar a missão, os Estado de Sergipe, nordeste do Brasil.
objetivos e as ações a ser empreendidas em uma Especificamente, esta pesquisa trata de identificar a
organização, para fazê-la interagir com o ambiente missão e os objetivos das PMEs sergipanas, o
de forma competitiva. Isso traz consigo, no ambiente empresarial e as mudanças ocorridas nos
processo de definição estratégica, a consideração setores em que estão inseridas as empresas da
não apenas do ambiente particular da empresa e de amostra, a influência da conjuntura econômico-
sua situação econômica, mas também das financeira nas PMEs, o posicionamento dessas
características do ambiente cultural e empresas no mercado, as possibilidades de
socioeconômico em que desenvolve suas atividades. crescimento, bem como seus projetos de expansão
Possuir um comportamento estratégico definido é e/ou diversificação do negócio.
questão de sobrevivência para uma pequena
empresa. Quanto menor a empresa, mais importante 2. PEQUENAS EMPRESAS E ESTRATÉGIA
é a estratégia. Isso se deve à alta sensibilidade das EMPRESARIAL
PMEs às variações do mercado (PORTER, 1995,
apud HAYASI, NAKAMURA e ESCRIVÃO Pesquisas realizadas no Brasil, especificamente
FILHO, 1995). no Nordeste, sobre pequenas empresas são
relativamente escassas e, na área de estratégia
Dada a característica de simplicidade das
empresarial, começaram a surgir somente na última
pequenas empresas, identificada principalmente
década. Cabe ressaltar estudo da produção científica
pela estrutura pouco desenvolvida e pela limitação
sobre as pequenas e microempresas no Brasil nos
de recursos, torna-se importante para as PMEs
últimos 20 anos, realizado por LIMA (2000). Esse
estabelecer condições que favoreçam o pensamento
trabalho foi feito com base em uma revisão de
estratégico, de forma que venham a possuir bases
artigos publicados em periódicos da área de
para competir em um ambiente de mudanças
administração de empresas e nos anais dos
rápidas.
Encontros Anuais da ANPAD entre 1980 e 2000, e
Estudos realizados na área demonstram que as inclui, entre os temas analisados, a Gestão
PMEs formulam suas estratégias de acordo com a Estratégica. Segundo esse autor, as pesquisas têm se
sua percepção das reações do mercado, adaptando voltado, nessa área, para a prática da gestão
os objetivos da empresa e sua estrutura funcional a estratégica, incorporando os diversos aspectos
ele. As PMEs centram sua atuação na criação de funcionais da empresa, e o grande desafio é a
novos produtos e serviços, e suas estratégias compreensão da gestão estratégica por parte dos
implicam riscos quando tentam conquistar novos pequenos e microempresários.
mercados.
PAULINO, BARBIERI, ABREU et al. (2001)
Isso acontece porque, provavelmente pelo seguiram a metodologia de LIMA (2000) e
tamanho da empresa e por seus objetivos, a visão analisaram trabalhos apresentados nos encontros já
das PMEs é imediatista e as fronteiras do produto- referidos da ANPAD, no período de 1997 a 2000.
mercado são pequenas e próximas o bastante do Os dados revelam que a tendência brasileira dos
processo operacional da empresa, o que impede o estudos brasileiros no campo da estratégia é a de
empresário de prever eventos distantes de seu grupo apontar o modelo conceitual de origem americana
estratégico. No caso específico dos pequenos e como principal norteador do pensamento e da
médios negócios, a formulação de estratégias prática estratégica empresarial nacional, o que é
servirá para definir caminhos que levem a empresa mostrado nas recentes pesquisas, estudos de caso ou
a determinar sua sobrevivência no mercado. estudos teóricos, e nas discussões realizadas na
academia ou nas organizações brasileiras. Dentre
Diante desse contexto e estimuladas pela
esses modelos conceituais, o mais difundido,
necessidade de ampliação dos estudos sobre
segundo os autores, é o da análise competitiva
estratégia, hoje reconhecidamente uma ferramenta
voltada para a estrutura da indústria e para a
gerencial imprescindível às empresas, as autoras
dinâmica da concorrência, com enfoque no mercado

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Gestão Estratégica nas empresas de pequeno e médio porte

onde a organização industrial se encontra. Foram Em estudo subseqüente, GIMENEZ (1997) tratou
observados, no período considerado, de aprofundar o conhecimento das escolhas
comparativamente, um interesse crescente nesses estratégicas e do modo de aprendizagem dos
estudos e uma abertura a outros estudos estratégicos dirigentes de PMEs. Utilizando o modelo de MILES
empresariais. De acordo com os autores, entre 1997 e SNOW (1978), o autor define estratégia como
e 2000 ampliou-se o número de trabalhos uma posição competitiva no mercado e procura
apresentados sobre vantagem competitiva interna e identificar, com o modelo apresentado, as
sobre recursos, competências e atuação das estratégias competitivas adotadas pelos dirigentes
empresas no mercado. de pequenas empresas do noroeste da Inglaterra.
Conclui que os pequenos empresários dessa região
Outros estudos sobre planejamento estratégico
percebem a concorrência de modo genérico, não a
nas PMEs foram relatados por HAYASI,
categorizando com base em detalhes específicos e
NAKAMURA e ESCRIVÃO FILHO (1995);
características próprias das empresas da
RIBEIRO (2001); ROSÁRIO e BARBOSA (1999),
concorrência. Outra conclusão da pesquisa é que as
CANCELLIER (2001), entre outros. Autores como
escolhas estratégicas das empresas pesquisadas
GIMENEZ (1997, 1998) apresentam modelos para
variam de acordo com o ambiente e o tipo da
a formulação de estratégias nas PMEs, ressaltando
empresa, apresentando, no geral, as quatro
sempre as dificuldades de modelar o
características de estratégias empresariais abordadas
comportamento estratégico encontrado nessas
por Miles e Snow.
empresas.
Em 1998, GIMENEZ, PELISSON, KRUGER et
HAYASI, NAKAMURA e ESCRIVÃO FILHO
al. validaram a aplicação do modelo de Miles e
(1995) consideram o processo de formulação de
Snow para a observação de estratégias empresariais
estratégias empresarias como uma forma de tornar
em pequenas empresas de Londrina, no Paraná.
uma pequena empresa competitiva no mercado. O
Comprovaram também que a estratégia classificada
processo de formulação é baseado no modelo de
como reativa é a que apresenta a menor eficácia,
ANSOFF (1990), que utiliza a metodologia da
comparativamente aos outros tipos de estratégias
observação participante. Os dados revelam a
apresentados por esses autores.
importância da análise organizacional, que enfoca a
abordagem estratégica e a maneira pela qual esta ROSÁRIO (1999) também realizou estudo na
possibilitou à empresa pesquisada uma área de formulação de estratégia nas PMEs, com o
compreensão mais acurada de suas disfunções objetivo de analisar o processo de formulação de
organizacionais. Entretanto, segundo o autor, a estratégias empresariais nas pequenas e médias
proposta de planejamento estratégico de ANSOFF empresas de óptica no Estado de Alagoas.
(1990) não expressa a realidade de planejamento e Especificamente, tratou de identificar as
formulação de estratégias encontrada em PMEs, características do empresário e das empresas do
uma vez que na pequena empresa as relações são varejo de óptica, além da forma como essas
mais pessoais, não havendo necessidade de organizações determinam seus objetivos e percebem
formalização de planos e esquemas, encontrada nas o ambiente a sua volta. O trabalho aborda também o
grandes corporações. planejamento das operações dessas empresas e a
utilização dos seus recursos competitivos. O autor
Gimenez, por sua vez, desenvolve trabalhos
observou o comportamento do mercado e as
ligados à área de comportamento estratégico de
relações das ópticas com a concorrência por meio
dirigentes de PMEs. Em trabalho realizado no início
de entrevistas com 39 empresários de um universo
da década de 90, GIMENEZ (1997) trata do
de 85 ópticas existentes em Alagoas. Os resultados
comportamento estratégico dos dirigentes das
indicam que: a) modelos determinísticos de
pequenas empresas da indústria moveleira de
formulação de estratégias não representam a
Londrina, Paraná. O autor conclui que as estratégias
realidade da pequena e média empresa; b) as
adotadas pelas empresas pesquisadas não seguem
empresas de óptica não conseguem modelar uma
nenhum padrão específico e que o comportamento
estratégia de longo prazo; c) as organizações
destas é de reação-adaptação ao macroambiente da
buscam uma equalização ótima de estoque/vendas,
empresa, administrando apenas fatores operacionais
como ponto-chave para sua sobrevivência.
internos à organização.

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Mais recentemente, CANCELLIER (2001) praticamente desconhecidos por ambos os


desenvolveu estudo com a finalidade principal de segmentos. As microempresas apresentam mais
entender o processo de formulação de estratégias mulheres como empresárias e, nas pequenas, há
em pequenas empresas. Para tal, o autor descreveu o maior concentração de homens. À medida que a
fenômeno no contexto em que ele ocorre e do qual empresa cresce, há maior percepção sobre a
faz parte, principalmente a partir da perspectiva dos importância da tecnologia, bem como do
dirigentes de pequenos empreendimentos. Foram conhecimento e da adoção de programas de
entrevistados dirigentes de pequenas empresas modernização.
catarinenses de diversos setores de atividades. As
Em Sergipe, não obstante a relevância dos
unidades pesquisadas demonstraram que realizam
pequenos e médios negócios para a economia do
avaliações constantes do meio ambiente, procuram
Estado, existem relativamente poucos estudos
conciliar oportunidades de mercado com suas
empíricos sobre o tema. Entre eles, destaca-se o de
competências internas e se aproximam dos
MELO, BARBOSA, TEIXEIRA et al. (1983), um
stakeholders considerados mais importantes no
estudo pioneiro sobre as pequenas e médias
negócio. Os resultados indicaram um processo de
indústrias sergipanas, envolvendo as diversas áreas
formulação de estratégias mais complexo que os
de gestão. Mais recentemente, TEIXEIRA e
propostos pelos modelos reativo-intuitivos
BARBOSA (2002) realizaram estudo, do qual este
normalmente atribuídos aos pequenos
artigo faz parte, para aprofundar o enfoque nas
empreendimentos.
tecnologias de gestão das PMEs sergipanas,
RIBEIRO (2001) apresenta uma proposta de abordando temas atuais.
implementação da metodologia de planejamento
estratégico em uma pequena empresa do setor de 3. ESTRUTURA DA PESQUISA
serviços. A autora chega à conclusão de que a
elaboração do planejamento estratégico tem-se Para SELLTIZ, JAHODA, DEUTCH et al.
mostrado uma ferramenta útil no gerenciamento de (1974), existem basicamente três tipos de estudos:
empresas em geral. Mesmo observando que o exploratórios, descritivos e explicativos. Os
empreendedor, ao decidir abrir um negócio, já exploratórios visam a familiarização com o
possui em sua cabeça um certo plano, a autora fenômeno ou uma nova compreensão dele,
salienta que “a elaboração das idéias através de um freqüentemente para poderem formular de forma
planejamento estratégico ajuda a focar com maior mais precisa um problema ou criar novas hipóteses.
precisão os alvos a serem alcançados”. Sustenta que Os estudos descritivos têm como objetivo
o método aplicado na implementação do primordial a descrição de características de uma
planejamento estratégico é adequado, com algumas determinada população ou fenômeno, ou o
adaptações, às condições da pequena empresa. estabelecimento de relações entre variáveis. Os
Sobre as possibilidades de crescimento e de explicativos objetivam verificar uma hipótese de
competitividade das micro e pequenas empresas do relação causal entre variáveis. Esses mesmos
setor de confecção, VERSIANI e GASPAR (2000) autores chamam a atenção para o fato de que, na
realizaram pesquisa em 162 empresas do setor de prática, não se processa uma diferenciação tão
confecção da região metropolitana de Belo nítida entre os vários tipos de estudos. GIL (1996)
Horizonte (MG), a qual descreve, com base em uma usa o mesmo argumento quando diz que algumas
análise comparativa, o modelo de gestão das pesquisas, embora definidas como descritivas em
empresas, procurando identificar os fatores razão de seus objetivos, acabam servindo para
condicionantes de seu posicionamento no mercado e proporcionar uma nova visão do problema, o que as
suas possibilidades de crescimento. Os resultados aproxima das pesquisas exploratórias. Ainda afirma
obtidos mostraram diferenças significativas entre as que as pesquisas descritivas, juntamente com as
micro e as pequenas empresas, tanto no que se exploratórias, são as mais utilizadas pelos
refere aos fatores de gestão como ao mercado. pesquisadores sociais preocupados com a atuação
Comparando-se os dois estratos, percebe-se que o prática.
perfil dos dirigentes das pequenas empresas é mais Foi destacado que o objetivo deste estudo é
qualificado, relativamente à formação acadêmica, e analisar o comportamento estratégico adotado pelas
que os programas de modernização gerencial são

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Gestão Estratégica nas empresas de pequeno e médio porte

PMEs de Sergipe e, especificamente, identificar: a) 4. O COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO


a existência de missão e objetivos; b) o ambiente DAS PMEs SERGIPANAS
empresarial e as mudanças ocorridas nos setores em
que estão inseridas as empresas da amostra; c) a 4.1. Missão e objetivos
influência da conjuntura econômico-financeira nas
PMEs; d) o posicionamento dessas empresas no A missão representa a identidade e a
mercado estadual e regional; e) as possibilidades de personalidade da empresa no momento atual e no
crescimento, bem como seus projetos de expansão futuro, de um ponto de vista genérico; trata de
e/ou diversificação. recolher o fio condutor ou aglutinador das
diferentes atividades da empresa; faz parte do seu
Este estudo pode ser considerado, portanto, tanto sistema de valores e crenças, isto é, de sua cultura.
exploratório, pois aborda temas até aqui pouco Os autores estão de acordo em que as empresas com
estudados sobre as pequenas e médias empresas de missão claramente definida são mais capazes de
Sergipe, quanto descritivo, pois descreve as diversas dirigir com eficácia suas múltiplas atividades.
variáveis contidas no processo, estabelecendo
relações entre elas. Em poucas empresas da amostra a missão estava
formalizada e exposta em locais estratégicos. Em
À época do início do estudo, existiam no Estado outras, existia apenas “na cabeça” dos empresários
de Sergipe aproximadamente cem pequenas e e, em algumas, estes nem sequer conseguiam
médias indústrias. A amostra selecionada explicá-la. Alguns desses entrevistados
compreendeu 50% desse universo. No entanto, por confundiram missão com objetivos; nas respostas
causa das dificuldades de acesso, foram dadas, algumas definições foram comuns: gerar
efetivamente entrevistados quarenta empresários ou emprego, obter lucro, oferecer produto de
diretores dessas empresas. Procurou-se entrevistar qualidade.
as empresas de forma que se preservassem a relação
existente entre as pequenas e médias e a As frases transcritas a seguir apontam as missões
representatividade de cada setor de atividade definidas pelos empresários:
econômica. Gerar emprego e proporcionar qualidade de vida aos
O método de pesquisa escolhido foi o survey empregados, e levar aos clientes um produto de
mediante entrevistas pessoais, que se tem revelado o qualidade.
mais eficiente para estudos dessa natureza. O Proporcionar aos associados a conscientização
instrumento utilizado para a coleta de dados foi o autogestionária e o contínuo desenvolvimento,
questionário, composto de perguntas fechadas e buscando excelência na qualidade de produtos e
abertas, aplicado pelas próprias autoras. Os dados serviços.
foram analisados com base numa combinação dos Foi perguntado àquelas empresas que
enfoques qualitativos e quantitativos. Procurou-se explicitaram sua missão se esta era conhecida pelos
conhecer não apenas a freqüência dos fenômenos, empregados. A missão, conforme foi dito
mas principalmente como e por que ocorrem. Os anteriormente, faz parte do sistema de valores e, ao
dados quantitativos foram analisados utilizando-se o mesmo tempo, influencia esse sistema. Por isso é
pacote estatístico Statistical Package for Social importante que a missão seja conhecida por todos os
Sciences (SPSS). Os dados qualitativos mereceram membros da organização, uma vez que serve de
um tratamento diferenciado, em que todas as elemento de identificação com a filosofia da
respostas foram listadas e, a partir delas, procurou- empresa e de coesão entre todos os participantes.
se agrupar as informações com conteúdos Elevado número de respostas positivas (52,0%)
semelhantes e diferentes, tentando-se descobrir os confirma que os empresários buscam compartilhar
temas ou patterns. com os empregados os valores e crenças da
empresa.
Quanto ao conhecimento da missão, as respostas
esclareceram que este se dava mediante reuniões
com empregados, atuação das comissões de fábrica,
cartazes fixados na empresa ou no dia-a-dia, e pela

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Jenny Dantas Barbosa e Rivanda Meira Teixeira

explicação, dos empresários aos empregados, da genérico ou macro refere-se à conjuntura


verdadeira missão do negócio. econômica, social e política. Já o ambiente
específico ou operacional refere-se à parte do
Para que a empresa possa alcançar a sua missão
entorno mais próxima às atividades da empresa, isto
ou propósito estratégico, é necessário desagregar
é, aos setores ou ramos de atividade econômica a
esse objetivo maior em outros objetivos específicos,
que a empresa pertence, tais como mercado,
que respondam tanto aos objetivos globais da
estrutura industrial e fornecedores. O ambiente
organização como aos individuais, perseguidos
interno é constituído pelas características
pelos seus diferentes integrantes.
organizacionais, tais como estrutura organizacional,
ANSOFF (1990) apresenta três grandes grupos recursos humanos, marketing, tecnologia, entre
de objetivos: os objetivos econômicos, os objetivos outras.
não econômicos e responsabilidade e restrições.
Um novo ambiente competitivo está surgindo,
Nos objetivos econômicos estão contemplados os de
proporcionado não apenas pelos concorrentes
curto prazo, os de longo prazo e a flexibilidade.
tradicionais, em mercados tradicionais, mas
Aqueles de curto prazo incluem a manutenção da
principalmente pela desintegração das barreiras de
taxa de rentabilidade e os investimentos. Já entre os
acesso a mercados anteriormente protegidos.
objetivos de longo prazo podem-se distinguir a
força competitiva externa e a eficiência interna. Para identificar as adaptações da PME ao novo
Quanto aos objetivos de flexibilidade, o autor ambiente empresarial, foram apresentadas aos
considera que a empresa, independentemente do empresários questões sobre os seguintes aspectos:
tamanho, tem que se preocupar com possíveis mudanças ocorridas nas empresas nos últimos cinco
catástrofes e tentar colocar-se no caminho das anos e a reação das empresas a essas mudanças;
inovações. forma pela qual a atual conjuntura econômica do
país tem influenciado a empresa; conhecimento da
Entre os objetivos não econômicos encontram-se
posição da concorrência no Estado e na região; as
os relacionados com a instituição (valor da empresa
percepções sobre as perspectivas de crescimento
no mercado, entrada na bolsa, máxima liquidez) e
dessas empresas.
os relacionados com pessoas, nos quais se incluem a
filantropia, o desenvolvimento da ética pessoal e Quanto às mudanças ocorridas nos setores nos
profissional, a responsabilidade social e a reputação últimos cinco anos, lideram as inovações
da empresa. tecnológicas, segundo opinião de 40,0% dos
empresários. Essas inovações consistem na
As responsabilidades e as restrições são aquelas
aplicação da tecnologia a distintos aspectos da
determinadas pela influência que a sociedade exerce
empresa, como produtos, serviços ou processos,
sobre a empresa, a exemplo da responsabilidade
para que se produza um efeito de novidade
social.
significativo.
Os objetivos encontrados nas PMEs sergipanas
Assim, costuma-se distinguir entre inovações
são: fabricar produtos de qualidade (25,0%), gerar
radicais e inovações incrementais. As primeiras
emprego (15,0%), sobreviver (12,5%) e obter
representam mudanças radicais, revolucionárias,
lucratividade (12,5%). Observa-se que existe uma
tecnologicamente falando. As segundas
preocupação dos empresários com os denominados
correspondem a sucessivas mudanças incrementais
objetivos econômicos, tais como crescimento e
em produtos e/ou processos já existentes.
lucratividade; no entanto, os não econômicos, como
contribuir para a geração de empregos, também Outra mudança sentida pelos empresários foi o
foram mencionados. aumento da concorrência. Dos respondentes, 32,5%
afirmaram que a busca da competitividade é um dos
4.2. Ambiente empresarial grandes desafios das pequenas e médias indústrias.
A análise do ambiente empresarial é o ponto de A figura 1 mostra, em termos percentuais, um
partida para identificar os riscos e oportunidades resumo das mudanças sentidas pelos empresários.
presentes e futuros. Esse ambiente pode ser
genérico, operacional ou interno. O ambiente

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Gestão Estratégica nas empresas de pequeno e médio porte

Figura 1: Mudanças ocorridas segundo a percepção dos empresários

Inovação tecnológica 40,0

Aumento da Concorrência 32,5

10,0
Diminuição da demanda

Preocupação com a qualidade 5,0

5,0
Influência do governo

Outros 7,5

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Os setores que mais se queixam dos concorrentes de capital de investimento. A indústria têxtil está
são os de calçados e o têxtil, segundo depoimentos sobrevivendo às custas de máquinas velhas que
de empresários: “No primeiro mandato de FHC, o compra de indústrias americanas e alemãs. O governo
Brasil importou muita coisa, sem a menor não tem dado grandes incentivos às empresas,
dificultando sua sobrevivência.
preocupação com a produtividade da indústria
brasileira. Essa abertura foi mal dirigida e quem Esse depoimento de um empresário sergipano é
mais sofreu foi a indústria têxtil”. referendado pelo International Institute for
Management Development (IMD), com sede na
A categoria “outras mudanças”, apontada por
Suíça, que elaborou relatório sobre os 49 países
7,5% das empresas, encontra-se atrelada às
mais competitivos do mundo, ranking em que Brasil
inovações tecnológicas e à concorrência. Trata-se
ocupa a 31ª posição. Nesse relatório são ressaltados
da exigência das empresas de um novo perfil de
os pontos positivos e negativos do Brasil; dentre as
empregados, mais preparados para as novas
debilidades do país, destacam-se “as leis brasileiras
tecnologias, além da adoção de novos modelos
que criam tantas dificuldades para as empresas, que
gerenciais, entre os quais a terceirização.
encarecem os produtos e os tornam menos
De forma geral, as empresas estudadas têm competitivos” (VEJA, 2001).
reagido às mudanças ocorridas nos seus respectivos
setores, principalmente adquirindo novas máquinas 4.3. Influência da conjuntura econômico-
e equipamentos (35,0%), acrescentando a essa financeira nas PMEs
inovação tecnológica a qualificação dos seus
Uma das questões que identificam a influência do
recursos humanos (15,0%), melhorando a qualidade
macroambiente diretamente na vida das empresas
dos seus produtos e adotando preços competitivos
refere-se ao impacto da conjuntura econômico-
(12,5%). Os depoimentos dos empresários
financeira sobre as pequenas e médias indústrias. Os
permitem perceber que as empresas têm lutado para
empresários entenderam que essa conjuntura era
se manter pari passu com as modificações do
basicamente a da época em que o Plano Real foi
ambiente:
instituído no país, em 1994, pelo então governo de
A empresa tem tentado se colocar à frente das Itamar Franco.
mudanças. Poucas empresas vão sobreviver. Em
Sergipe, a indústria têxtil vai acabar por causa da atual Para um percentual de empresários considerado
estrutura econômica, principalmente pela dificuldade significativo, essa conjuntura influenciou

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Jenny Dantas Barbosa e Rivanda Meira Teixeira

negativamente na vida das empresas, análise dos competidores permitirá à empresa


principalmente naquelas indústrias que trabalham elaborar um plano de ação para atender às
com matéria-prima importada, cujo preço oscila em necessidades do consumidor, diferente do elaborado
função da taxa de câmbio. Se forem somados, os pelos demais concorrentes.
percentuais que perfazem os aspectos negativos
Constatou-se que a maior concorrência para as
alcançam 65,0%, enquanto 20,0% dos empresários
PMEs é representada por até duas empresas
afirmaram que a conjuntura não afetou as empresas
localizadas no Nordeste, o que significa que 57,1%
e 15,0% consideraram a conjuntura benéfica para as
das empresas analisadas têm seus concorrentes na
indústrias.
região. Para 33,0% das empresas analisadas, os
Aqueles empresários que afirmaram que o Plano maiores concorrentes são as empresas localizadas
Real foi benéfico salientaram que a atual conjuntura nas regiões Sudeste e Sul. A concorrência com
tem influenciado positivamente no sentido de empresas sergipanas é relativamente pequena.
oferecer alternativas para as empresas
permanecerem no mercado (estratégia de 4.4.1. Posição no Estado
sobrevivência). O depoimento de um dos As empresas sergipanas conhecem a sua posição
entrevistados, transcrito a seguir, confirma isso: no mercado estadual, e essa posição parece ser
“Nós vivíamos em um país onde os empresários muito boa para 80,0% delas, uma vez que 40,0%
estavam acostumados a especular. Hoje é são líderes do setor e 40,0% encontram-se entre as
fundamental ter competitividade”. três primeiras do seu ramo de atividade, conforme
pode ser visualizado na Figura 2.
4.4. Concorrência
Observou-se que a grande maioria das empresas
Os concorrentes constituem uma das cinco forças
pesquisadas atua no setor alimentício (20%), no de
competitivas da indústria, de acordo com o modelo
madeira/mobiliário (17,5%), têxtil (12,5%) e
de PORTER (1992), e o conhecimento dos
vestuário (12,5 %).
movimentos estratégicos de outras empresas que
operam no setor pode proporcionar uma posição
favorável ou desfavorável para a empresa. Essa

Figura 2: Posição das empresas no Estado

12,5
Única no setor

Líder no negócio 40,0


40,0
Entre as três primeiras
Entre as cinco primeiras 2,5
5,0
Desconhece a posição

0 10 20 30 40 50

As estratégias que têm sido utilizadas para fundamental na grande guerra da competitividade.
manter essa posição no Estado são a qualidade do Os empresários estão percebendo que existe intensa
produto, o atendimento e os preços competitivos. competitividade nacional e internacional e que os
Sabe-se que a qualidade tem ocupado lugar mercados consumidores estão mais atentos e

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Gestão Estratégica nas empresas de pequeno e médio porte

exigentes de produtos e serviços de qualidade. Estão uma taxa considerada razoável e desenvolver-se
conscientes de que, se não oferecerem produtos de continuamente.
qualidade, simplesmente não sobreviverão nesse
Constata-se que as empresas industriais
turbulento mercado, e de que a busca de qualidade e
sergipanas, de modo geral, são otimistas quanto ao
a conseqüente satisfação do cliente é um fator-
futuro e vêem amplas possibilidades de
chave de êxito dos seus negócios.
crescimento. Os empresários reconhecem as
Investimentos em tecnologia, diferenciação e dificuldades que enfrentam, mas percebem que
foco de atuação também foram ressaltados pelos podem superá-las. As razões para essa visão
empresários. Um deles comentou que a empresa otimista de amplas possibilidades de crescimento
entende atualmente o que é foco de atuação. Antes, para as suas empresas seriam: a existência de
vendia para todo o Nordeste e fragmentava a forma mercado, reduzido número de empresas em seu
de atendimento. Hoje, concentra seus esforços de setor (no caso, de curtumes) ou o fato de seu
vendas em Sergipe, Bahia e Alagoas. produto ser substituto de outro. Exemplo disso é a
fibra que está sendo utilizada como substituto de
4.4.2. Posição no Nordeste outro produto, a madeira. O comentário de um
Com relação à posição das empresas no Nordeste empresário traduz esse otimismo: “Se houvesse
a situação muda bastante, pois 60,0% das indústrias mudança no crédito, ou seja, maior facilidade para
pesquisadas desconhecem sua posição. Daquelas aquisição de máquinas, a produção aumentaria. Há
que a conhecem, 15,0% são líderes no negócio e mercado em outros Estados e a empresa não produz
pertencem aos setores de alimentos (carne resfriada, mais porque não tem capacidade de produção”.
farinha de trigo, vinagre), indústria têxtil (índigo, Aqueles empresários (10,0%) que responderam
brim e sarja) e confecções (roupas esportivas), que havia poucas possibilidades de crescimento
produtos higiênicos (absorventes) e bebidas. Um para suas empresas afirmaram que o problema
significativo percentual de 25,0% das indústrias maior é a concorrência de produtos tanto nacionais
sergipanas está no rol das dez primeiras no quanto internacionais. E aqueles (17,0%) que
Nordeste. responderam que havia possibilidades de
crescimento com restrições apresentaram as
4.5. Possibilidades de crescimento para a seguintes razões: o crescimento da empresa
Empresa acompanha o crescimento da população, a atual
Os termos crescimento e desenvolvimento conjuntura não é animadora, é impossível fazer
econômico, quando aplicados à empresa, significam financiamento com a atual taxa de juros. O
que se produziram aumentos em quantidade e comentário de um empresário explicita bem essa
dimensão, assim como mudanças nas características situação: “O mercado já não quer tanto esse tipo de
econômicas internas. Esses aumentos podem se produto. No mundo, há 25,0% a mais de oferta de
refletir nas seguintes variáveis: ativos, produção, índigo do que de consumo. O índigo é de altíssima
vendas, benefícios, linhas de produtos, mercados, durabilidade”.
etc.
4.6. Projetos de expansão e/ou diversificação
O crescimento de uma empresa sempre constituiu
um dos itens fundamentais na definição de sua Uma estratégia de crescimento pode visar tanto à
estratégia. Isso se deve a vários motivos. Em expansão quanto à diversificação – em suas
primeiro lugar, crescimento é interpretado como um distintas modalidades –, e pode ser implantada por
sinal de saúde, vitalidade e fortaleza. As meio do desenvolvimento interno ou do crescimento
organizações empresariais, à medida que crescem, externo.
refletem uma progressão contínua e possibilidades O crescimento interno é aquele que a empresa
de desenvolvimento futuro. Por outro lado, nas realiza mediante investimentos em sua própria
economias altamente dinâmicas o crescimento estrutura, enquanto o crescimento externo resulta da
econômico constitui um dos pontos-chave de aquisição, participação, associação ou controle de
referência do sistema. Por isso, considerando-se o outras empresas ou unidades empresariais.
ambiente competitivo, as empresas têm de crescer a

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 3, p. 31-42, julho/setembro 2003 39


Jenny Dantas Barbosa e Rivanda Meira Teixeira

Esse tipo de crescimento pode modificar a As empresas sergipanas têm projeto de expansão
estrutura da empresa e supõe a contratação de novos e/ou diversificação de suas atividades. É o que foi
fatores produtivos, o que amplia, portanto, a comprovado em 85,0% das respostas, conforme
capacidade produtiva da empresa. Essa estratégia de visualizado na Figura 3. Elevado percentual dessas
crescimento tem sido comum na maioria dos indústrias (45,0%) pensa em expandir, e
processos de desenvolvimento empresarial e é significativo percentual delas (30%) cogita na
conhecida também como crescimento natural. diversificação de suas atividades. Os empresários
estão conscientes de que, se quiserem permanecer
Já o crescimento externo se produz como
no mercado, precisarão implementar novas
conseqüência do controle de uma ou mais empresas
estratégias de crescimento.
em funcionamento, pela simples associação ou pela
aquisição de todo ou parte de seu patrimônio.

Figura 3: Estratégias de crescimento

Não têm Não tem


planos
planos
15,0% Expandir
15,0%
45,0%

Expandir e
diversificar
10,0%

Diversificar
30,0%

Na área técnica, apenas as empresas do ramo têxtil


4.7. Aquisição de novas tecnologias e métodos
contrataram empresas especializadas, geralmente
de gestão
oriundas do Estado de Minas Gerais. Somente uma
Para identificar a forma pela qual a empresa empresa buscou serviços especializados na área de
adquire novos métodos de gestão e/ou novas recursos humanos, especificamente para
tecnologias, foi perguntado aos empresários se eles treinamento e motivação dos empregados. As
costumam contratar serviços de consultoria. empresas que não contrataram serviços de
Constatou-se que 62,5% das empresas analisadas consultoria, geralmente pequenas, alegaram não o
adotam esses serviços. fazer por considerarem que o investimento é muito
A contratação de serviços de consultoria alto, ou seja, que os consultores cobram preços
apresenta significativa relação com a visão positiva muito elevados. Outras afirmaram que não
que os empresários têm de seu negócio, uma vez contratam mais os serviços de consultoria porque os
que 51,0% dos que contratam serviços resultados apresentados não foram satisfatórios.
especializados para auxiliar na gestão de sua A maioria das empresas de consultoria que
empresa vêem amplas possibilidades de prestam serviços para as indústrias analisadas é do
crescimento. mesmo Estado, mas os empresários também buscam
Aquelas empresas que contrataram serviços de empresas localizadas na Bahia, São Paulo e Minas
consultoria o fizeram nas áreas de informática, Gerais. As empresas que pertencem a grupos
qualidade, contábil-financeira, custos e tributária. contratam consultoria do próprio grupo e apenas

40 Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 3, p. 31-42, julho/setembro 2003


Gestão Estratégica nas empresas de pequeno e médio porte

uma empresa costuma trazer consultor do exterior, introduzindo novas tecnologias, qualificando seus
em razão da especialização da área. recursos humanos, melhorando a qualidade dos seus
produtos e adotando preços competitivos. As PMEs
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS sergipanas têm lutado para se manter pari passu
com as modificações do ambiente. Não obstante as
Constatou-se, neste estudo, que o pensamento dificuldades que enfrentam, são otimistas quanto ao
estratégico dos empresários em muito se assemelha futuro, vêem amplas possibilidades de crescimento
à idéia de estratégia artesanal de MINZTBERG e acreditam que podem superar os entraves. Essa
apud MINTZBERG e QUIN (1996) como forma visão otimista é explicada pela existência de
reativa à oscilações do ambiente. mercado, pelo reduzido número de empresas em seu
setor ou pelo fato de seu produto estar sendo
O empresário/empreendedor das PMEs utilizado como substituto de outro produto. Têm
sergipanas é, na maioria das vezes, o principal planos para expandir e/ou diversificar suas
responsável pelo comportamento estratégico da atividades e estão conscientes da necessidade de
empresa e também pelo processamento das adotar novos vetores de crescimento e/ou
informações oriundas do ambiente. Percebe-se que diversificação se quiserem permanecer no mercado.
esses empresários estão despertando para a
necessidade de formular estratégias empresariais,
embora a visão estratégica, muitas vezes, não seja 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
claramente anunciada. Os resultados deste estudo
ANSOFF, I. A nova estratégia empresarial. São
mostram que, a exemplo do que ocorre em outras
Paulo: Atlas, 1990.
empresas desse porte, a gestão destas se concentra
nas mãos de empresários empreendedores – de cuja CANCELLIER, E. P. de L. A Formulação de
intuição, muitas vezes, depende o êxito ou fracasso Estratégias em Pequenas Empresas: um estudo
da empresa –, que dedicam às pequenas crises na pequena indústria catarinense. In:
cotidianas um tempo que deveria ser dedicado à ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL
formulação de estratégias. DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ADMINISTRAÇÃO, 25º, Anais.
As empresas, em geral, têm noção do caminho a
Campinas: ANPAD, 2001.
seguir, mas o percorrem de maneira informal, pouco
sistemática, utilizando insuficientemente os GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa.
conceitos básicos de formulação estratégica, como São Paulo: Atlas, 1996.
missão, objetivos e análise do ambiente. Existe
GIMENEZ, F. A. Escolhas estratégicas e estilo
preocupação por parte dessas empresas em alcançar
cognitivo: um estudo com pequenas empresas.
os objetivos econômicos e os não econômicos. As
In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
informações sobre o ambiente são escassas,
NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-
limitando-se apenas ao ambiente local. As empresas
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 21º,
conhecem sua posição no mercado estadual, que
Anais. Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1997.
parece ser muito boa para a maioria delas, mas
desconhecem sua posição no mercado regional. _____.; PELISSON, C.; KRUGER G. S.; HAYASI,
J. R. P. Estratégia em Pequenas Empresas: uma
Os empresários consideram que o
aplicação do modelo de Miles e Snow. In:
macroambiente, principalmente a conjuntura
ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL
econômico-financeira desde a implantação do Plano
DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Real, influenciou negativamente na vida das
EM ADMINISTRAÇÃO, 22º, Anais. Foz do
empresas, especificamente naquelas indústrias que
Iguaçu, PR: ANPAD, 1998.
utilizam matéria-prima importada, cujo preço oscila
em função da taxa de câmbio. HAYASI, C. H.; NAKAMURA, M. M.;
ESCRIVÃO FILHO, E. Estratégia empresarial e
Os empresários só percebem as mudanças
a pequena e média empresa. In: CONGRESSO
ocorridas nos seus respectivos setores quando estas
LATINO AMERICANO DE ESTRATÉGIA,
já estão se processando, mas reagem a elas e
8º, Anais. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos,
buscam manter sua posição competitiva
1995.

Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, nº 3, p. 31-42, julho/setembro 2003 41


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