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FACULDADE INTERAMERICANA

DE PORTO VELHO

JAIRO ROBERTO DOS SANTOS PENHA

PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS SOB A ÓTICA DO DIREITO DO


CONSUMIDOR

Porto Velho
2021

RESUMO
O presente trabalho tem como escopo analisar as práticas comerciais abusivas, e como Direito do
consumidor atua na responsabilização dos sujeitos que utilizam de mecanismos ilícitos, que podem
causar danos ao consumidor. Além disso, o estudo proposto objetiva elencar as principais práticas
abusivas previstas no Código de Defesa do Consumidor que garantem a devida proteção e garantias
nas transações comerciais, afinal é comum nesse tipo de mercado a prática abusiva e, portanto, é
fundamental levantar discussões que auxiliem de forma efetiva a coibição de tais praticas lesivas ao
consumidor. Por fim, serão utilizados artigos, livros, doutrinas e jurisprudências que abordem a
temática deste trabalho proporcionando maior embasamento teórico às discussões fomentadas.

 
PALAVRAS-CHAVE: Práticas abusivas. Código de Defesa do Consumidor. Proteção ao consumidor.

1 INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea tem como principal características sua
dinamicidade, ou seja, a busca por bens e serviços estão em constante crescente e
por isso, os diferentes setores da indústria cada vez mais encontram-se dentro de
um contexto de celeridade e competitividade. Por isso, os agentes econômicos
precisam manter e/ou adaptar suas práticas comercias sempre atualizadas e assim,
acompanhar os ditames mercadológicos, porém, muitas empresas que fornecem
tanto bens como serviços, findam por utilizar práticas abusivas.
Nesse contexto, diante da busca para ampliar os negócios é fundamental que
as práticas adotadas sejam planejadas de acordo com o que rege o CDC, para que
o fornecedor não incorra em abuso. Afinal, o abuso de direito configura em
conformidade com o Código de Defesa do Consumidor, como ato ilícito devendo o
praticante sofrer as devidas penalidades.
Salienta-se, que a prática abusiva é uma atividade empresarial perpetrada de
forma imprópria pelos fornecedores, que se aproveitam da fragilidade do consumidor
para determinar regras ou cláusulas que condicionem serviços e produtos, retirando
do consumidor sua autonomia de propensão. Portanto, por ser um assunto de alta
relevância a legislação adotou medidas para coibir práticas abusivas na seara
comercial, as quais serão discutidas no item a seguir.

2 BREVE ANÁLISE SOBRE AS PRÁTICAS COMERCIAIS

Antes de iniciar a análise sobre as práticas abusivas é importante significar as


práticas comerciais de forma geral, que em conformidade com Benjamim (1999,
p.213) podem ser consideradas “procedimentos, mecanismos e técnicas usadas
pelos fornecedores para mesmo que indiretamente, fomentar, manter, desenvolver e
garantir a circulação de seus produtos e serviços até o destinatário final”.
Nesse contexto, as práticas comerciais auxiliam os fornecedores a atrair mais
consumidores para comprar seus bens ou serviços e assim aumentar seus lucros.
Vale destacar que as práticas comerciais podem ser classificadas conforme as fases
de relação de consumo, podendo ser: pré-contratuais (publicidade e oferta),
contratuais ( contrato e as cláusulas) e pós-contratuais (garantia contratual e a
cobrança de dívida) (BEZERRA E BEZERRA, 2009).
Acrescenta-se, ainda, que as práticas comerciais uma demanda de alta
relevância para sociedade, o legislador elencou no CDC mais precisamente no
capítulo V intitulado como “Das Práticas Comerciais”, diretrizes que exemplificam
como devem ser transparentes os processos de comercialização, de acordo com o
disposto entre os artigos 29 e 45. In fine,  o que se pretende aqui é estabelecer
uma noção básica acerca do conceito de prática comercial, da maneira como é
tratada pela doutrina, e com o desígnio de nortear o entendimento daquelas
práticas comerciais consideradas abusivas, tema de tópico a seguir.

2.2 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS NO CDC

As práticas comerciais abusivas são condutas que acarretam entre fornecedor


e consumidor um desequilíbrio no que tange a relação consumerista, ou seja, tais
práticas quando assumem caráter abusivo tendem a forçar, manipular e induzir o
consumidor na direção da compra, atentando à dignidade e liberdade de escolha.
Além disso, as práticas tem caráter abusivo independente da lesão ao consumidor,
isto é, o simples fato do excesso repercutir em violação de norma de ordem pública
como o são as normas do CDC (BEZERRA E BEZERRA, 2009).
Mister se faz dizer que, as práticas abusivas também são consideradas
condutas que extrapolem os limites a boa-fé, desta forma na seara do Código de
Defesa do Consumidor no art. 39, está expresso as vedações que contribuem para
coibir as práticas abusivas:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:            (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites
quantitativos;
II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida
de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os
usos e costumes;
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;
 IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista
sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus
produtos ou serviços;
 V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
 VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização
expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores
entre as partes;
 VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo
consumidor no exercício de seus direitos;
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou,
se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
 IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a
quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os
casos de intermediação regulados em leis especiais;  (Redação dada pela
Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
 X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.(Incluído pela
Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
 XI -  Dispositivo  incluído pela MPV  nº 1.890-67, de 22.10.1999,
transformado em inciso  XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de
23.11.1999
 XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou
deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. (Incluído pela
Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
 XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido  (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999)
XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de
um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade
administrativa como máximo. (Incluído pela Lei nº 13.425, de 2017).
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou
entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se
às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento (BRASIL, 1990).

Nesse diapasão, as práticas abusivas vislumbradas no art. 39 não se


esgotam somente nas elencadas nele, haja vista, que além do referido artigo,
pode-se levar em consideração quando assunto é práticas abusivas os artigos 40 e
41. Onde o art.40 torna obrigatório o fornecedor dispor ao consumidor com
antecedência o orçamento dos produtos com riqueza de detalhes dos valores de
todo o serviço ou bens a serem comprados, bem como as datas para início e
término, sob pena de sanção no caso de não cumprimento do acordado (NEVES E
TARTUCE, 2014).

Já no art. 41 fica estabelecido que,

No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de


controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os
limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da
quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o
consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo
de outras sanções cabíveis (BRASIL, 1990).

Sob esse prisma, os artigos mencionados são importantes mecanismos de


proteção ao consumidor, diante de situações lesivas, pois as práticas comerciais
abusivas são corriqueiras e acarretam ao consumidor danos financeiros
consideráveis. No caso em tela, já existe jurisprudência favorável do STJ sobre o a
questão da casada pelo fornecedor, que condiciona a venda do produto a aquisição
de seguro conforme ementa exemplificativa abaixo:

DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE


VEÍCULO COM GARANTIA FIDEJUSSÓRIA. OBRIGAÇÃO DE FIRMAR
CONTRATO DE SEGURO. CONTRATAÇÃO COMPULSÓRIA POR
INTERMÉDIO DA FINANCEIRA. SUBTRAÇÃO DO CONSUMIDOR DA
POSSIBILIDADE DE PROCURAR OUTROS CONTRATANTES PARA
PACTUAR SEGURO MENOS ONEROSO. VENDA CASADA. I - Admitir a
alegação da agravante de que o agravado aderiu espontaneamente ao
seguro impõe o reexame das provas que levaram o Tribunal de origem a
concluir que o último, na verdade, não teve escolha e foi tolhido em sua
liberdade de escolher contratante que oferecesse proposta menos onerosa.
Aplicação da Súmula STJ/7. Agravo Regimental improvido. (STJ - AgRg no
Ag: 1029125 RJ 2008/0059920-4, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data
de Julgamento: 22/02/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJe 28/02/2011).

Nesse passo, outro instrumento que consolidou um importante dispositivo


acerca da prática abusiva foi a Súmula 532 aprovada pela Corte Especial Do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), que versa sobre a p envio de cartão de crédito
sem solicitação prévia do consumidor, sendo passível, inclusive de indenização:

Súmula 532: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de


crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor,
configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa. (Grifo adicionado).

Em síntese conclusiva, o que se observa por meio dos dispositivos

mencionados ao longo do trabalho, ou seja, do Código de Defesa do Consumidor

que é possível regular as questões jurídicas dentro da relação de consumo. E assim,

proporcionar aos consumidores maior proteção contra possíveis abusos do

fornecedor, com o intuito de estabelecer o equilíbrio entre compra e venda de bens e

serviços, tornado o mercado mais transparente e justo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto ao longo deste trabalho é evidente que as práticas
comerciais abusivas permeiam constantemente a sociedade e se modificam a cada
dia, resultando em prejuízos ao consumidor. Assim sendo, é fundamental munir o
consumidor com informações acerca dos seus direitos e assim, identificar possíveis
práticas lesivas de forma preventiva afinal, o Código de Defesa do Consumidor
elenca uma série de práticas abusivas que podem auxiliar tanto fornecedores quanto
consumidores a manter a licitude dos negócios acordados.
Além disso, as práticas comerciais abusivas devem ser identificadas e
observadas por órgãos competentes que auxiliem na proteção e defesa do
consumidor, com o objetivo de fiscalizar as modificações e práticas mercadológicas,
bem como, atuar de forma efetiva na transparência das transações para ambas as
partes. Por fim, é crucial refletir sobre ações que visem alertar e conscientizar o
consumidor para que ele não seja prejudicado por conta de práticas abusivas, haja
vista que, o consumidor em sua maioria não tem condições nem experiência
suficientes para distinguir se está ou não sendo lesado.

REFERÊNCIAS

BENJAMIM, Antonio Hermann de Vasconcellos. Das práticas comerciais. In:


GRINOVER, Ada Pellegrine (Org.). Código brasileiro de defesa do consumidor,
comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1999. p.209-245. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/79073987.pdf.
Acesso em: 15 nov. 2021.

DE MIRANDA BEZERRA, Francisco Otávio; BEZERRA, Christiane de Andrade Reis


Miranda. Das práticas comerciais abusivas no códico de defesa do
consumidor. Pensar-Revista de Ciências Jurídicas, v. 14, n. 1, p. 24-31, 2009.
Disponível em: http://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/823. Acesso em: 15 nov.
2021.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção; TARTUCE, Flávio. Manual de direito do


consumidor: direito material e processual. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2014.

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