Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Especial
Siderurgia
Estratégia ecoeficiente
Redução das emissões de CO2 orienta novo ciclo de investimentos. Por Domingos Zaparolli, para o Valor, de São Paulo
A
indústria siderúrgica
programa investimen-
tos de US$ 8 bilhões até
2025. A aposta é que, após oito
anos de declínio, a produção de
aço no Brasil entre em um ciclo
expansionista, que se inicia com
o estímulo de um crescimento
de 24% do consumo no merca-
do interno em 2021, segundo
estimativa do Instituto Aço Bra-
sil (IABr). Os recursos serão des-
tinados a aumentar a capacida-
de produtiva, mas também na
adaptação das usinas a proces-
sos de maior eficiência no apro-
veitamento dos recursos natu-
rais e menor emissão de gases
de efeito estufa.
“A busca por sustentabilida-
de vai mudar radicalmente a si-
derurgia nos próximos dez
anos”, diz Gustavo Werneck,
CEO da Gerdau. “É uma deman-
da cada vez mais forte da socie-
dade e que se faz presente nas
rodadas de negociações com
nossos clientes.”
Em agosto, a Gerdau anunciou
o plano de investir R$ 6 bilhões
em Minas Gerais nos próximos
cinco anos. A companhia vai am-
pliar em 30% a capacidade de pro-
dução de bobinas a quente da
Recuperação
Vendas de aço crescem 34,2% no acumulado até agosto
Produção nacional - em mil toneladas - Jan-Ago*
Aço bruto
Laminados
Planos
Longos
Semiacabados p/ venda
Placas
Lingotes, blocos e tarugos
Ferro-gusa (usinas integradas)
Indicad
o
indústr res da
ia do aç
o ES
31
Usinas*
* de Jan-Ago/21*
12
Empres
as
103.30
Colabora 8 28,0%
dores
Aumento da demanda reativa unidades paralisadas
De São Paulo
A retomada das atividades em
unidades paralisadas e projetos
de expansão voltaram a ocupar o
planejamento das siderúrgicas
nacionais. “Até o fim do ano de-
vemos anunciar investimentos
em novos projetos de mineração
e aços longos”, diz Jefferson De
Paula, CEO da ArcelorMittal Aços
Longos, que em outubro assume
também a presidência geral do
grupo siderúrgico no Brasil. De
Paula não detalha os projetos
que ainda estão em fase de análi-
se. “Serão significativos.”
Em abril, a ArcelorMittal reto-
mou as obras de expansão em
sua unidade Vega, em São Fran-
| F1
usina de Ouro Branco, acrescen-
tando 250 mil toneladas ao ano
em 2024, e dobrar a produção de
perfis estruturais, com mais 500
mil toneladas ao ano em 2025.
Os investimentos também con-
templam uma série de iniciativas
para ampliar a ecoeficiência das
três usinas mineiras. O uso de car-
vão vegetal na fase de redução do
aço em substituição ao carvão mi-
neral de origem fóssil será am-
pliado. Para isso, a companhia vai
estender em 20% sua floresta de
eucaliptos plantados, que hoje
soma 250 mil hectares no Estado.
A empresa também fechou
parceria com a Shell para a cons-
trução de parque fotovoltaico
com capacidade instalada de 190
megawatts (MW) em Brasilândia
(MG), que fornecerá energia re-
novável para as unidades de pro-
dução de aço a partir de 2024.
Em média, as usinas da Gerdau
emitem 0,93 tonelada de dióxido
de carbono (CO2) para cada tone-
lada de aço produzida. As usinas
mini-mills, que utilizam sucata
ferrosa como insumo e respon-
dem por 73% da produção, geram
0,3 toneladas de CO2 por tonela-
da de aço, enquanto as usinas in-
tegradas, que utilizam minério
2020 2021 Variação - 2021/2020 em %
19.954 24.119
13.608 17.912
7.693 10.417
5.915 7.495
5.410 5.541 2,4
5.030 5.168 2,7
380 373 -1,7
15.750 18.860
10,7
2
Indicadores - em milhões de toneladas (2020)
Exportações Importações
cisco do Sul (SC). O investimento
de R$ 1,95 bilhão contempla
uma terceira linha de galvaniza-
ção e uma nova linha de recozi-
mento contínuo que permitirão
elevar a produção de 1,6 milhão
de toneladas de aços longos pa-
ra 2,2 milhões em 2023.
A companhia também anun-
ciou em maio a retomada da acia-
ria de Barra Mansa (RJ), paralisa-
da desde 2019, e em 2022 inau-
gura o terceiro laminador da uni-
dade João Monlevade (MG) com
capacidade para um milhão de
toneladas por ano. O investimen-
to é de R$ 580 milhões.
A Gerdau reiniciou as ativida-
des de sua usina de Araucária
(PR), que tem capacidade de pro-
de ferro, como as de Minas Gerais,
apresentam um índice muito
maior, próximo de duas tonela-
das de CO2.
“Até o fim do ano vamos lançar
um plano de ação com metas pa-
ra o curto e médio prazo para ca-
da unidade de negócio”, diz.
De acordo com a World Steel
Association (WSA), para cada to-
nelada de aço produzida no
mundo, são emitidas em média
1,83 tonelada de CO2. No Brasil, a
média é de 1,72 tonelada. A Arce-
lorMittal Brasil emite 1,6 tonela-
das de CO2 por tonelada de aço.
Em junho, a companhia anun-
ciou a meta de reduzir em 10%
suas emissões no país até 2030
como parte do esforço global do
grupo de alcançar balanço neu-
tro de emissões até 2050.
As iniciativas no Brasil incluem
aumento do uso de sucatas metá-
licas na produção de aços longos
em fornos elétricos e uma am-
pliação do uso de carvão vegetal
oriundo de florestas plantadas
como agente redutor do minério
de ferro em alto-fornos.
Uma ação ainda em fase de
avaliação é o uso de gás natural
como substituto parcial, por vol-
ta de 10%, do carvão mineral nos
20,9
31,6
35,4
26,7
19,7
Fonte: Instituto Aço
51 Brasil. *Total acumulado;
** dados de 2020
31,4
21,4
Consumo Capacidade Produção de aço
aparente instalada bruto
dução anual de 420 mil tonela-
das de aço bruto e estava parada
desde 2014, e anunciou investi-
mentos de R$ 6 bilhões em suas
três usinas de Minas Gerais para a
modernização de processos e au-
mento de capacidade de produ-
ção. “Estamos vendo uma recu-
peração consistente do consumo
de aço no Brasil”, diz Gustavo
Werneck, CEO da Gerdau.
O último bom ano da indústria
do aço foi 2013, quando as vendas
no mercado interno totalizaram
24,4 milhões de toneladas. Depois,
as vendas caíram 23%, para 18,8
milhões de toneladas em 2019.
O fundo do poço foi em abril de
2020, no auge do impacto da pan-
demia da covid-19, quando oito al-
alto-fornos. “O gás natural reduz
as emissões de gases de efeito-es-
tufa”, diz Jefferson De Paula, CEO
da divisão de aços longos que em
outubro assume também a presi-
dência da ArcelorMittal Brasil.
Em maio, a companhia criou
o que vem sendo chamado in-
ternamente de “diretoria do fu-
turo”, uma equipe voltada para
o desenvolvimento de estraté-
gias inovadoras para a transfor-
mação do negócio seguindo as
diretrizes ESG, de governança
ambiental, social e corporativa.
Uma resolução é a constituição
do fundo Smart Ventures, com R$
100 milhões para investir em
startups conectadas ao hub de
inovação do grupo, o Açolab.
“Queremos estar ligados a star-
tups que geram oportunidades
de melhorias em nossas ativida-
des, já detectamos 20 projetos
promissores”, diz De Paula.
Em março, a Ternium anun-
ciou a disposição de investir R$
500 milhões para tornar mais
sustentável sua usina com capaci-
dade para produzir cinco mi-
lhões de toneladas de placas de
aço por ano em Santa Cruz (RJ). A
meta é reduzir em 20% as emis-
sões até 2030. No ano passado a
Maiores
produtores de
aço bruto - %
Outros
SP
8,6% 13,1%
Total:
24.119
20,6% mil toneladas
RJ
29,7
Produção de
produtos
siderúrgicos
to-fornos foram paralisados e o se-
tor trabalhou com apenas 45% de
sua capacidade produtiva. A recu-
peração teve início ainda no se-
gundo semestre do ano. “Foi uma
recuperação em V, de queda vio-
lenta e retomada forte”, diz Marco
Polo de Mello Lopes, presidente do
Instituto Aço Brasil (IABr).
O ano de 2020 terminou com
uma produção de 31 milhões de
toneladas, queda de 4,9% em re-
lação ao ano anterior. O consu-
mo aparente nacional, porém,
cresceu 1,2%, totalizando 21,2
milhões de toneladas.
Para 2021, o IABr projetava uma
expansão de 5,8% para o consumo
brasileiro. Mas o desempenho das
vendas surpreendeu. “Agora proje-
Caroline Carpenedo,
da Gerdau: programa
capacita mulheres
para a operação
e liderança F10
média foi de 1,7 tonelada de CO2
por tonelada de aço fabricada.
O uso de carvão vegetal e de gás
natural está sendo estudado, as-
sim como aumento da proporção
de sucata férrea junto com o ferro
gusa no mix da aciaria.
Em agosto, a Ternium assinou
parceria com a Vale com o objeti-
vo de desenvolver soluções de
descarbonização. Uma primeira
iniciativa é a análise da constru-
ção de uma unidade de produção
de briquete verde na usina flumi-
nense. O briquete verde é um
aglomerado que une minério de
ferro, aglomerantes tecnológicos
e areia proveniente de rejeitos de
mineração e substitui o uso de
aglomerados de fino de minério
de ferro. Seu processo de produ-
ção emite 10% menos gases de
efeito-estufa. “É um projeto com
grande potencial tecnológico”,
diz Marcelo Chara, presidente
executivo da Ternium.
Em 2020 a Aço Verde do Brasil
(AVB) se tornou a primeira side-
rúrgica do mundo a apresentar
um certificado carbono neutro.
A certificação, que seguiu os cri-
térios do GreenHouse Gases Pro-
tocol e metodologias do WSA,
foi emitida pela suíça Société Gé-
16,0
milhões de ton.
MG
29,7%
Var. 21/20:
34,2%
Vendas domésticas
(Jan-Ago)
tamos uma expansão de 24% na
demanda, com um consumo de
26,6 milhões de toneladas no ano”,
afirma Mello Lopes.
Entre janeiro e agosto, a produ-
ção brasileira de aço bruto foi de
24,1 milhões de toneladas, um
crescimento de 20,9% em relação
ao mesmo período do ano passa-
do. As vendas no mercado interno
totalizaram 16 milhões de tonela-
das, aumento de 34,2% na compa-
ração com 2020, enquanto as im-
portações cresceram 163,9%, al-
cançando 3,5 milhões de tonela-
das. “Está sendo um ano excelen-
te”, diz Jefferson De Paula. “Reduzi-
mos nossas exportações para aten-
der o mercado interno”, diz Gusta-
vo Werneck. A Gerdau, que tradi-
nérale de Surveillance (SGS). “É o
reconhecimento de 14 anos de
estudos e planejamento”, diz Sil-
via Nascimento, presidente do
conselho da AVB. A siderúrgica
iniciou a produção de ferro gusa
em 2008 em Açailândia (MA)
utilizando 100% de carvão vege-
tal de áreas reflorestamento, ab-
sorvendo na floresta de eucalip-
tos mais CO2 que o gerado no
processo siderúrgico.
Em 2018 inaugurou um lami-
nador com capacidade para 600
mil toneladas por ano. Em 2021
deve alcançar 340 mil toneladas
produzidas e a ocupação total é
prevista para 2025.
A AVB está investindo R$ 25
milhões em uma termelétrica
que utilizará os gases gerados no
alto-forno para produzir energia
elétrica e atender 30% da deman-
da da usina. A companhia tam-
bém investe R$ 100 milhões no
desenvolvimento de uma tecno-
logia para produzir briquete com
pó e lama do alto-forno e substi-
tuir entre 10% e 15% do consumo
de carvão e minério. A unidade
está prevista para entrar em ope-
ração em 2022. “Vamos ser a pri-
meira siderúrgica no mundo resí-
duo zero”, diz Silvia Nascimento.
24,1
milhões de ton.
Var. 21/20:
20,9%
Produção de aço
(Jan-Ago)
cionalmente exporta entre 20% e
25% da produção, reduziu os em-
barques internacionais para 5%.
A empresa não está sozinha
nessa iniciativa. Entre janeiro e
agosto, as exportações de aço do
país ficaram em 6,9 milhões de
toneladas, uma retração de
10,9%. “A indústria está empe-
nhada em abastecer o mercado
interno”, diz Mello Lopes.
A demanda no Brasil está sen-
do puxada pelas encomendas
das indústrias da construção ci-
vil e de máquinas e equipamen-
tos, que respondem por 60,8%
do consumo de aço no Brasil. Pa-
ra Mello Lopes, 2022 também te-
rá recuperação das vendas para
obras de infraestrutura. (DZ)
F2 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Especial | Siderurgia
Mercado internacional País é apontado como Os dez maiores
principal responsável por desequilíbrios de oferta Produção mundial de aço bruto

Excesso de capacidade
Jan-Jul* 21/20 Participação no
2020 2021 (%) mercado global (%)
China 506.010 560.191 10,7 56,0
Índia 44.103 57.930 31,4 5,8
Japão 42.223 48.057 13,8 4,8

leva a distorções e
Estados Unidos 36.399 42.037 15,5 4,2
Rússia 35.233 38.227 8,5 3,8
Coréia do Sul 32.493 35.196 8,3 3,5
Alemanha 17.457 20.621 18,1 2,1
Turquia 16.338 19.705 20,6 2,0

pressão sobre a China

Brasil 14.568 17.963 23,3 1,8
Irã 13.886 14.990 8,0 1,5

Produção total em 2020

Em milhões de toneladas
1.200
quele país. Em 2000, era 1,4% ferro refinado (62% Fe, CFR Chi- 1.055
Vladimir Goitia 1.000 562 milhões
Para o Valor, de São Paulo apenas (12 mil toneladas). na) mostrou forte queda nas últi- 800
de toneladas foi o excesso de
Diante das pressões internacio- mas oito, nove semanas, passan- capacidade de aço bruto em 2020
600
O gigantesco potencial de capa- nais, em especial dos ambientalis- do de US$ 220,00 por tonelada 400 2.449 milhões
cidade de produção de aço no tas sobre a necessidade de descar- em julho para US$ 128,00 por to- é a capacidade instalada global
200 100
mundo, em torno de 2,45 bilhões bonização da indústria, a China nelada em meados de setembro. 83 73 72 67 36 36 31 29 1.887 milhão
0
de toneladas, ante um consumo prometeu enxugar a produção na “Já os preços do carvão têm so- China Índia Japão Estados Rússia Coréia Alemanha Turquia Brasil Irã é o consumo de aço bruto equivalente
equivalente estimado em 1,89 bi- tentativa de cortar emissões. As- frido menos influência do merca- Unidos do Sul

lhão de toneladas em 2020, gerou
excesso de capacidade de 562 mi-
lhões de toneladas, que, por sua
vez, trouxe fenômenos como práti-
cas desleais e predatórias de co-
mércio, escalada protecionista e
desvios de exportações para mer-
cados que não contam com meca-
nismos de proteção, como o Brasil.
A China, cuja produção no ano
passado passou de 1 bilhão de to-
neladas, volume duas vezes maior
do que a soma produzida pelos
nove países seguintes no ranking
dos maiores players globais, é
apontada como a maior e princi-
pal responsável por esse problema
no mercado global de aço.
“Ou a China parte para uma re-
dução de verdade de sua capaci-
dade instalada ou para um au-
sim, a redução até dezembro deve
somar 50 milhões de toneladas, se-
gundo a CRU, consultoria especia-
lizada em metais.
Esses cortes, explica Thaís Ter-
zian, analista sênior da CRU para o
mercado de siderurgia na América
Latina, começaram num momen-
to de demanda interna já com si-
nais de desaquecimento. “Por isso,
acreditamos que, com os cortes de
oferta de aço, o mercado local fica-
rá equilibrado e, dessa forma, não
haverá um grande excesso de pro-
dução para ser exportado como
em anos anteriores”, avalia.
Consequentemente, espera-se
menos exportações de produtos
siderúrgicos chineses até o come-
ço de 2022, em comparação aos ní-
veis vistos no primeiro semestre de
do chinês, porque o país baniu
suas importações de carvão da Excesso de capacidade de produção - em milhões de toneladas
Austrália para incentivar o desen-
volvimento da indústria local”,
acrescenta Terzian. Ela explica ain- 81 CEI**
China
da que, com o movimento do país Europa 98
asiático, o Brasil perde pelo lado de
30 Bloco Nafta 121
suas exportações de minério de
41
ferro, por causa dos preços e de- 31
130
manda mais baixos. Porém, ganha Oceania, Coreia do Sul
Oriente Médio e
pelo lado das exportações de aço, norte da África
Ásia
(menos China e
já que podem surgir oportunida- Coreia do Sul)
des em novos mercados, além da
possibilidade de os preços ficarem 30 América Central e do Sul
altos por mais tempo por conta de
um balanço entre oferta e deman-
da mais apertado globalmente.
Em relação aos estoques globais
de aço, Terzian diz não existirem
informações precisas, mas é possí-
vel aferir dados de algumas re- Fonte: Aço Brasil com dados da OCDE e World Steel Association *Acumulado; ** Comunidade dos Estados Independentes (CEI)

mento de seu consumo. Caso
contrário, as práticas desleais de
comércio, num mercado onde a
competição já é acirradíssima,
vão continuar”, aponta Marco
Polo de Mello Lopes, presidente
executivo do Instituto Aço Brasil.
Segundo Lopes, a agressivida-
de chinesa é tanta que, do total
de produtos siderúrgicos impor-
tados em 2020 pelo Brasil, 43,4%
(800 mil toneladas) vieram da-
2021 e em anos anteriores. Para a
analista da CRU, deve haver menor
pressão no mercado global de aço.
Tirando a China, a produção de
aço no restante do mundo este ano
deve crescer 13%.
A decisão chinesa gerou tam-
bém impactos nos preços do mi-
nério de ferro, já que o país é o
maior consumidor e importador
dessa commodity. Segundo Ter-
zian, o preço spot do minério de
giões. Na China, por exemplo, os
estoques estão nos mesmo níveis Sobre o consumo mundial, A analista da CRU diz ainda cos poderia limitar as exporta-
do ano passado e acima de anos Terzian diz que vem se recupe- que a intensificação do tema de ções do país e aumentar os custos
anteriores. No Brasil, os estoques rando do impacto negativo pro- descarbonização da indústria do e preços em 2022”, afirma. Ter-
de distribuição de aços planos vol- vocado pela pandemia, princi- aço deve movimentar investi- zian diz também que o pacote de
taram para a média histórica de palmente no segundo trimestre mentos no setor e trazer algumas infraestrutura dos Estados Uni-
três meses de consumo recente- de 2020. “Acreditamos que va- mudanças estruturais importan- dos, quando e se aprovado, au-
mente, segundo dados do Institu- mos fechar 2021 com o consumo tes. “As políticas chinesas são mentará a demanda de aço no
to Nacional dos Distribuidores de global de produtos siderúrgicos sempre um ponto importante, país nos próximos dois a cinco
Aço, enquanto na Alemanha os es- superior aos níveis de 2019, com no curto prazo. A potencial im- anos, atraindo importações, bem
toques de aços planos seguem se- aumento de 6,7% do consumo plementação de um imposto de como novos investimentos na in-
gue abaixo da média histórica. aparente global”, afirma. exportação a produtos siderúrgi- dústria siderúrgica americana.

Exportações recuam Descarbonização será

DIVULGAÇÃO

com crescimento forte centro dos debates no

da demanda interna
De São Paulo
As exportações brasileiras de
aço bruto devem cair 8,7% este ano,
em relação a 2020, de acordo com
estimativas do Instituto Aço Brasil
(IABr). É o resultado do foco da in-
dústria no mercado interno, por
conta do crescimento expressivo
da demanda. O consumo aparente
de produtos siderúrgicos nos pri-
meiros oito meses somou 18,8 mi-
lhões de toneladas, acumulando
alta de 41,7% frente ao registrado
no mesmo período de 2020.
De acordo com Marco Polo de
Mello Lopes, presidente executivo
da entidade, as empresas tentam
corrigir desequilíbrios provocados
pelo fechamento de unidades in-
dustriais e o desligamento de alto-
fornos em decorrência dos impac-
tos da pandemia. Lopes acredita
que as exportações não devem
passar de 9,62 milhões de tonela-
das, abaixo das estimativas feitas
em maio (10,1 milhões de tonela-
das) e em novembro passado (11,5
milhões de toneladas).
Dados do IABr mostram que até
agosto as vendas externas soma-
ram 6,9 milhões de toneladas,
10,9% menos que o verificado no
mesmo período de 2020. Em recei-
ta, esse volume corresponde a US$
5,5 bilhões, valor 46,2% superior
ao de igual intervalo.
A Gerdau, a maior empresa na-
cional produtora de aço, informa
ter reduzido em mais de 50% sua
oferta ao mercado externo, dentro
da estratégia de privilegiar o mer-
cado interno. “Continuaremos a
privilegiar nossos clientes no Bra-
sil, o que sempre foi nossa estraté-
gia”, afirma Marcos Faraco, vice-
presidente da companhia.
Faraco diz que a Gerdau tem a
expectativa de um nível de expor-
tações próximo ao de 2020, quan-
do enviou para fora 16% de sua
produção. A estimativa para este
ano é exportar 11% de sua produ-
ção, principalmente para a Améri-
ca do Sul, América Central e Ásia,
onde estão seus principais clientes.
Faraco ressalta, porém, que a pro-
dução da companhia já cresceu
20% neste ano, se comparada à do
mesmo período de 2020.
Com estratégia oposta à Ger-
dau, a Ternium Brasil informa que
continuará a priorizar o mercado
externo. Marcelo Chara, presiden-
te da companhia, diz que 80% de
sua produção este ano será expor-
tada, principalmente para Euro-
pa, EUA e México. Os 20% restan-
tes serão destinados ao mercado
nacional. Chara explica que, de-
pois de a Ternium ter reduzido
em 37% a produção em 2020, a
companhia voltou ao volume má-
ximo e produzirá este ano 4,7 mi-
lhões de toneladas. A capacidade
instalada da Ternium, a maior si-
derúrgica da América Latina e for-
necedora de aços especiais, é de 5
milhões de toneladas por ano.
A demanda interna fez também
disparar as importações de aço,
que este ano devem crescer 119%,
com volume estimado em 4,46 mi-
lhões de toneladas. Nos oito pri-
meiros meses, já somam 3,5 mi-
lhões de toneladas, 163,9% a mais
que em igual período de 2020. Em
valores, correspondem a US$ 3,2
bilhões, um avanço de 125,2%.
Mesmo com a promessa de a
China reduzir a produção de seu
setor siderúrgico, na tentativa de
também cortar suas emissões de
carbono, esse movimento do
maior produtor de aço do mun-
do dificilmente trará resultados
positivos em termos de mercado
para o Brasil, cuja produção
anual equivale apenas a 11 dias
do que a China produz (1,06 bi-
lhão de toneladas em 2020).
“Se a China vier mesmo a re-
duzir suas exportações de aço,
por conta da redução na sua
produção siderúrgica, acredito
que em nada nos afetará”, diz o
presidente executivo do Aço
Brasil. “Por isso, prefiro vincular
Marcos Faraco, da Gerdau: “Continuaremos a privilegiar clientes no Brasil”
Salto nas importações
Balança comercial da siderurgia até agosto
Em milhões de toneladas
8 7
7
6
5
3,5
4
3
2
1 1
0 0
Importações
Var.* 163,9%
8,7 % devem cair as
exportações brasileiras
de aço bruto este ano
em relação a 2020
Fonte: Instituto Aço Brasil. *Variação de janeiro a agosto de 2021
o desempenho de nossas expor-
tações à nossa competitividade e
às prioridades de nosso princi-
pal e mais importante parceiro
comercial, em preço e em volu-
me”, afirma Mello Lopes, ao se
referir aos Estados Unidos.
Para Faraco, da Gerdau, o po-
sicionamento da China é uma
grande oportunidade para ven-
das de semiacabados, uma vez
que a siderurgia chinesa reduzi-
rá sua produção de aço bruto,
Em US$ bilhões
6,9
6 5,5
5 CEO da divisão de Aços Longos da
4
3,2
3
2
Exportações Importações
-10,9% 125,2%
18,8 milhões de 41,7%
toneladas foi o consumo de alta sobre mesmo
aparente de produtos período de 2020
siderúrgicos até agosto
sendo que necessita de produtos
acabados longos, “até pelo seu
vigoroso crescimento do consu-
mo interno”.
Thaís Terzian, analista sênior
da CRU para o mercado de side-
rurgia na América Latina, apon-
ta que a China deve começar a
exportar mais a partir de 2022,
assim como outros países, entre
eles o Japão, Ucrânia e até o Bra-
sil, que diminui o ritmo de suas
vendas externas este ano. (VG)
Congresso Aço Brasil
Domingos Zaparolli
Para o Valor, de São Paulo
A produção de aço é responsá-
vel por 7% das emissões globais
de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera. De acordo com a
World Steel Association (WSA),
para cada tonelada de aço pro-
duzida no mundo, são emitidas
em média 1,83 tonelada de CO2.
No Brasil, a média é de 1,72 tone-
lada de CO2.
A descarbonização da produção
vai estar no centro dos debates no
Congresso Aço Brasil 2021, evento
que ocorre on-line e gratuitamen-
te neste 29 de setembro. “É uma
demanda da sociedade a qual de-
vemos nos preparar para atender”,
diz Gustavo Werneck, CEO da Ger-
dau, que irá debater “O Futuro da
Indústria Brasileira do Aço – Visão
dos CEOs”. Para Jefferson De Paula,
ArcelorMittal Brasil, que também
integra o painel, “não há futuro
para quem não reduzir carbono”.
Grandes consumidores de aço,
como as indústrias automobilísti-
Exportações
ca e da construção, fabricantes de
máquinas, geladeiras, fogões, ve-
46,2% em na descarbonização do aço
uma grande oportunidade de re-
duzir a pegada de carbono de seus
próprios produtos e pressionam
para que as siderúrgicas reduzam
ou mesmo eliminem as emissões
de CO2 nas próximas décadas.
“A descarbonização total exigirá
inovações disruptivas que ainda
não estão disponíveis”, diz De Pau-
la. Uma aposta do grupo Arcelor-
Mittal, que assumiu o compromis-
so de descarbonização de sua pro-
dução global até 2050, é o uso de
hidrogênio verde, produzido com
energia renovável, como substitu-
to do carvão metalúrgico nos al-
tos-fornos. A tecnologia, vista co-
mo promissora no grupo, está sen-
do desenvolvida no centro de pes-
quisas da companhia em Hambur-
go, na Alemanha.
Para Marcelo Chara, presidente
executivo da Ternium, a indústria
siderúrgica vai ter que desenvolver
modelos de transição até descar-
bonizar a produção. O Brasil, na
opinião do executivo, tem uma
grande oportunidade de substi-
tuir 20% do carvão mineral injeta-
do nos alto-fornos por gás natural
proveniente do pré-sal. “O gás na-
tural é entre 20% e 30% mais efi-
ciente energeticamente e seu uso
pode reduzir entre 3% e 5% as emis-
sões de gases-estufa dos alto-for-
nos”, diz Chara. “É uma tecnologia
já testada, utilizamos na Argenti-
na, e não empregamos no Brasil
devido ao elevado custo do gás na-
tural brasileiro”, afirma.
Outra oportunidade de redução
nas emissões é o uso de gases de
processo provenientes dos alto-
fornos para geração de energia. A
unidade da Ternium em Santa
Cruz (RJ) é uma das três usinas si-
derúrgicas no mundo dotadas de
uma central termelétrica que tem
como combustível gases de seu al-
to-forno. A capacidade instalada é
de 500 megawatts (MW). “Gera-
mos energia suficiente para abas-
tecer a usina e ainda vender para a
rede pública”, diz Chara.
O uso de carvão vegetal prove-
niente de áreas de reflorestamento
no processo produtivo é outra al-
ternativa. Silvia Nascimento, presi-
dente do conselho da maranhense
Aço Verde do Brasil (AVB), tem a
expectativa que o Painel Intergo-
vernamental sobre Mudanças Cli-
máticas da Organização das Na-
ções Unidas (IPCC-ONU) passe ad-
mitir o sequestro de CO2 de áreas
de reflorestamento no mecanismo
de crédito carbono. “Será um gran-
de incentivo financeiro para que
mais siderúrgicas passem a inves-
tir no carvão vegetal”, afirma. O ca-
se da AVB será apresentado na
Conferência das Nações Unidas
para Mudança Climática (CoP-26),
que ocorrerá em novembro na ci-
dade escocesa de Glasgow.
 Quarta-feira, 29 de setembro de 2021 | Valor | F3

A raiz de uma das maiores produtoras de aço do mundo está

no sonho de uma família empreendedora. Em 1901, a família
Gerdau plantou uma fábrica de pregos em Porto Alegre (RS).
Enquanto a empresa crescia, ela foi se entrelaçando com
a vida das pessoas. Com a sua vida.

Passando pela casa onde você mora, pelo carro que você
dirige, pelas pontes por onde você passa, pelo lugar onde
você trabalha. Tornando visível tudo aquilo que realmente
importa para você. Não é só sobre aço que estamos falando:
é sobre acolher, mover, aproximar, realizar.

Aos 120 anos, a Gerdau é uma árvore que não para de dar
frutos. Além de maior empresa brasileira produtora de aço,
é também a maior recicladora da América Latina: 73%
da sua produção vem daí. Mas ela quer aproveitar essa data
não apenas para celebrar o seu legado, e sim para reafirmar
o seu compromisso com o futuro.

A Gerdau está regando hoje mesmo o amanhã de questões

urgentes como educação, habitação, sustentabilidade
e empreendedorismo. Porque tão importante quanto o que
colhemos são as sementes que deixamos para o futuro.

representando nossos mais de 30 mil colaboradores em 10 países.

Colaboradora Juliana Brun, da Gerdau Cosigua, no Rio de Janeiro,

raízes
Fábrica de Pregos Pontas de Paris, da Gerdau, em 1901.

/gerdau /gerdauSA
F4 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Especial | Siderurgia
Mercado No Brasil, baixa renda e preço prejudicam
consumo, que permanece estável desde os anos 1980
Investimento global
em inox deve atingir
US$ 8 bilhões até 2025
Carlos Vasconcellos
Para o Valor, do Rio
O mercado mundial de aço inox
vive um período de alto cresci-
mento. Segundo dados do Interna-
tional Stainless Steel Forum (ISFF),
a produção global do setor apre-
sentou uma alta de 24,7% no pri-
meiro trimestre, em comparação
com o mesmo período do ano an-
terior, puxada principalmente pe-
la China, com um crescimento de
37% na produção. O ISFF prevê ain-
da um crescimento de 5,8% na de-
manda global de inox em 2021,
com nova alta de 2,7% no próximo
ano, chegando a 1.924,6 milhão de
toneladas. Até 2025, a previsão é
de um investimento total de US$ 8
bilhões no segmento, para suprir o
aumento da demanda.
No Brasil, depois de uma forte
queda no período inicial da pan-
demia, o mercado de inox se re-
cupera. Com isso, o consumo
aparente, que inclui também a
importação de produtos acaba-
dos, vem apresentando cresci-
mento, chegando a 363 mil tone-
ladas em 2020, alta de 2% em re-
lação ao ano anterior. Já no pe-
ríodo de 2015 a 2020, o cresci-
mento médio anual do consumo
aparente de inox chegou a 4% ao
ano, segundo a Associação Brasi-
leira do Aço Inoxidável (Abinox).
O país também tem avançado
pouco no consumo per capita, que
há mais de uma década se mantém
abaixo de 2 kg por habitante. Em
2020, era de 1,7 kg por habitante,
número baixo quando compara-
do ao de outros países em desen-
volvimento. Frederico Ayres Lima,
diretor-presidente da Aperam
South America e da Aperam BioE-
nergia, avalia que o baixo consu-
mo se deve, em primeiro lugar, ao
baixo crescimento da economia.
Falta de matéria-prima pressiona grande consumidor
Marco Polo de Mello Lopes, do Aço Brasil: “Os preços, que sofreram aumento, agora tendem à estabilidade”
Prédios, carros e máquinas
Maiores consumidores nacionais de aço
6,4%
Utilidades domésticas
e comerciais
8,1%
Outros setores
19,6%
Bens de capital
Fonte: Instituto Aço Brasil
“Quando você olha o consumo
de inox per capita, também preci-
sa analisar o PIB per capita, porque
é um produto que tem o seu con-
sumo totalmente ligado ao desen-
volvimento, ao poder aquisitivo da
população”, diz Ayres Lima. “O se-
gundo fator que consideramos es-
tá atrelado ao desenvolvimento.
Na década de 80, o Brasil consumia
100 kg de aço por habitante e em
2020 o consumo foi de 112 kg. Ou
seja, em quase 40 anos, o consumo
praticamente não cresceu. Nesse
mesmo período, a China subiu de
50 para 600 kg/hab.”
Ayres Lima acrescenta ainda
que o Custo Brasil torna a produ-
ção no país mais cara. “É muito
provável que um concorrente
asiático consiga colocar um aço
no porto de Vitória a um custo
menor do que a Aperam e de-
mais produtores internos.”
Principal produtora de aço
inoxidável do país, a Aperam está
investindo R$ 243 milhões, em
2021, na sua planta em Timóteo
(MG). São investimentos em li-
nhas como o C5, revestimento fi-
no aplicado sobre o aço elétrico
GNO, fundamental para o seg-
mento de veículos elétricos, con-
siderado estratégico pela empre-
sa. Segundo Ayres Lima, a empre-
sa tem buscado desenvolver so-
luções inovadoras para aumen-
tar o consumo em segmentos
ainda pouco explorados, mas
que podem se tornar novos mo-
tores de crescimento, como cons-
trução civil, agronegócio, trans-
porte e mineração.
Mas o caminho para o aumento
do consumo de inox é longo. Ro-
drigo Damasceno, presidente da
Abinox, observa que há uma cul-
tura que privilegia a aquisição de
produtos de menor valor agrega-
do em detrimento de outros, de
3,4%
Embalagens
e recipientes
41,2%
Construção civil
21,3%
Automotivo
maior qualidade e durabilidade
“Há pouco conhecimento so-
bre o aço inoxidável no Brasil, o
que leva o usuário a buscar ou-
tros materiais mais conhecidos,
porém de qualidade inferior”,
diz Damasceno. “Sempre desta-
camos a necessidade de o consu-
midor considerar não somente o
custo inicial do produto, mas o
custo ao longo do seu ciclo de vi-
da, um conceito denominado
LCC (life cycle cost), onde na
maioria das vezes o inox é imba-
tível”, lembra Damasceno.
Para Luís Antônio Salles, só-
cio-diretor da distribuidora ML
Steel, a concentração da produ-
ção brasileira de aço inoxidável
em um único player é um fator
que acaba por encarecer o pro-
duto no país. “A importação é
um processo difícil e demorado,
que leva de três a quatro meses
até a conclusão”, explica.
Alexandre Maurano, presiden-
te da Associação Brasileira dos
Processadores e Distribuidores
de Aços Inoxidáveis (Aprodi-
nox), por sua vez, observa que a
concentração torna o segmento
de aços inoxidáveis mais volátil.
“As flutuações do mercado inter-
nacional se refletem de forma
mais imediata”, diz. Ao mesmo
tempo, observa, a cadeia de con-
sumo do aço inox é muito pulve-
rizada. “Então, as empresas não
têm a mesma capacidade de ne-
gociação que os clientes do seg-
mento de aço carbono.”
Maurano também observa
que a política de tarifas para o
aço inoxidável acaba prejudi-
cando os consumidores. “Paga-
se menos imposto de importa-
ção para comprar uma cuba de
aço inox do que para importar o
inox para fabricar a cuba no Bra-
sil”, conclui.
DIVULGAÇÃO
18,8 milhões de toneladas foi o
consumo nacional de produtos
siderúrgicos de janeiro a agosto
41,7% é o crescimento em relação
ao mesmo período de 2020
82,1% do consumo nacional vem
da construção civil, máquinas e
equipamentos e automotivo
Frederico Lima, da Aperam: “Quando você olha o consumo de inox per capita, também precisa analisar o PIB per capita”
Uso na construção civil ainda é limitado
Do Rio
O mercado brasileiro de aço
inoxidável tem alguns segmentos
cativos. São setores da economia
obrigados a utilizar o material por
motivos regulatórios. Indústrias
de alimentos, bebidas, equipa-
mentos médicos, serviços de saúde
e cozinhas industriais, por exem-
plo, precisam utilizar máquinas e
equipamentos fabricados em aço
inoxidável por uma questão de as-
sepsia. Isso acontece porque o inox
é mais resistente à corrosão que
outros metais e apresenta menor
potencial de contaminação por
micro-organismos.
Desse modo, tais setores são
motores importantes do consu-
mo. Outros segmentos estratégi-
cos são as indústrias de linha bran-
ca, química, de óleo & gás, bens de
capital, papel e celulose.
No entanto, o potencial de cres-
cimento seria muito maior, caso o
produto fosse mais utilizado em
outras aplicações e segmentos. A
utilização na indústria da constru-
ção civil, que poderia ser uma ân-
cora de consumo importante, ain-
da é limitada. Enquanto na Ásia o
aço inoxidável é usado até mesmo
Paulo Vasconcellos
Para o Valor, de Porto Alegre
Os grandes consumidores de
aço no Brasil reclamam do aumen-
to de preços e problemas de abas-
tecimento da matéria-prima, pro-
vocados pela paralisação de ativi-
dades das siderúrgicas por causa
da crise da pandemia. O setor da
construção civil responde por
41,2% do total, enquanto que o au-
tomotivo consome 21,3% e o de
bens de capital, 19,6%.
O consumo aparente de produ-
tos siderúrgicos foi de 18,8 mi-
lhões de toneladas no acumulado
de janeiro a agosto, alta 41,7% em
relação ao mesmo período de
2020. “O crescimento de agora não
parece sustentável para os próxi-
mos doze meses. O cenário está
mudando”, diz Eduardo Zaidan,
vice-presidente do Sindicato da
Construção Civil do Estado de São
Paulo (Sinduscon-SP), com cerca
de 50 mil empresas associadas.
O setor se queixa da elevação
do preço do aço. Em um ano, fe-
chado em agosto, o aumento da
matéria-prima chegou a 84,32%.
O item que mais subiu foi o ver-
galhão, o principal insumo de
aço da construção, usado na fa-
bricação de concreto armado. A
solução foi aumentar a importa-
ção. No primeiro semestre, fo-
ram 168 mil toneladas importa-
das, principalmente da Turquia,
segundo o Sinduscon.
No setor de máquinas e equipa-
mentos, a solução para driblar a
inflação do aço também passa pela
importação. A do aço plano, o mais
utilizado na indústria, mais que
dobrou, de 80 mil toneladas para
165 mil toneladas de janeiro de
2020 até agosto de 2021. Mesmo
com desvalorização do real, o aço
importado chegou a ficar 20%
na fabricação de caixas d’água e de
estruturas como pontes e passare-
las, no Brasil ele é um artigo limita-
do a imóveis de alto luxo.
Segundo Jorge Zarur, vice-presi-
dente do Sinduscon-RJ, o grande
problema é o preço. “O custo é in-
viável”, resume. “Há poucos forne-
cedores e poucos prestadores de
serviços especializados em traba-
lhar com esse material.”
Com isso, no segmento de cons-
trução residencial, a aplicação do
inox acaba se limitando a customi-
zações de luxo, solicitadas por
cliente. “Se o cliente pede e paga
por isso, fazemos”, diz Zarur, ob-
servando que o produto poderia
ter muitas aplicações, caso o preço
fosse mais acessível, desde o uso de
estruturas metálicas até acaba-
mentos em elevadores, instalação
de grades e esquadrias, por exem-
plo. “Em regiões litorâneas, seria
super adequado para dar mais du-
rabilidade às obras, por exemplo”.
Marcos Perez, superintendente
de mercado interno da Associação
Brasileira da Indústria de Máqui-
nas e Equipamentos (Abimaq), ob-
serva que mesmo um aumento
modesto no consumo per capita
teria um grande impacto no mer-
mais barato do que o nacional, que
bateu a marca de 170% de aumen-
to médio com a capacidade produ-
tiva das usinas reduzida e alto-for-
nos desligados por causa dos im-
pactos da pandemia de covid-19.
“Em março e abril deste ano
houve total desabastecimento de
aço e aumento do preço chegou a
140%”, afirma José Velloso, presi-
dente-executivo da Associação
Brasileira da Indústria de Máqui-
nas e Equipamentos (Abimaq),
que representa 9.000 empresas
de diferentes setores. Há queixa
também sobre dificuldades de
abastecimento quando as side-
rúrgicas retomaram a produção.
Ainda assim, o setor de máqui-
nas e equipamentos está consu-
mindo 39% mais aço do que em
2020. Mas não arrisca previsão
para 2022, por conta dos reflexos
da política na economia.
“O cenário piorou. Não dá para
crescer sem investimento público”,
diz Igor Rocha, diretor de planeja-
mento e economia da Associação
Brasileira da Infraestrutura e In-
dústrias de Base (Abdib), que reú-
ne 120 empresas públicas e priva-
das. O setor prevê que 2022 será
igual a 2021, mas com viés de bai-
xa. O consumo também deve ser
inferior ao deste ano, a menos que
se criem estímulos na economia.
O setor registrava relativa esta-
bilidade depois do primeiro im-
pacto da pandemia. A perspecti-
va de deterioração global e a que-
da de investimentos públicos
desde 2014 mudaram o cenário
para pior. Falta de escala de pro-
jetos, desarranjo na estrutura de
produção com atraso no abaste-
cimento de aço e ruídos políticos
são apontados como fatores que
limitam o otimismo.
As exportações e o segmento de
caminhões têm salvado o ano do
DIVULGAÇÃO
cado siderúrgico. “Estamos muito
abaixo de países desenvolvidos,
como o Japão, onde o consumo per
capita é de 14 kg por habitante.
Mas um aumento de apenas um
quilo no consumo anual per capita
já representaria um salto de 200
mil toneladas no mercado brasi-
leiro de inox”, calcula.
Perez destaca também que
existe uma demanda potencial
por inox no setor de máquinas e
equipamentos. Segundo ele, o se-
tor consome principalmente
aços planos, e dentro desse recor-
te as chapas de inox representam
um percentual ainda muito tími-
do que poderia ser elevado.
“Os consumidores de aços
planos do setor de máquinas e
equipamentos levam em consi-
deração a paridade de preços
entre as chapas de inox e chapas
ao carbono”, explica Perez. “Mas
a análise feita pelos fabricantes
que utilizam aço considera prin-
cipalmente o peso dos insumos
como um todo no Custo Brasil.”
Ele observa que a diferença no
custo dos insumos de produção
é uma das maiores assimetrias
do Custo Brasil em relação aos
mercados internacionais. (CV)
setor automotivo, o segundo
maior consumidor de aço no Bra-
sil. Segundo a Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Auto-
motores (Anfavea), o setor fechou
65 plantas e 5.200 concessionárias
— o que impacta no consumo de
aço. Em 2013 foram produzidos
3,1 milhões de veículos. No ano
passado, apenas 1,84 milhão.
O problema maior agora é es-
cassez de semicondutores. Ainda
assim, e apesar das paralisações
totais ou parciais de 11 fábricas
em agosto, o esforço logístico das
montadoras permitiu que a pro-
dução de 164 mil unidades no
mês superasse em 0,3% o volume
de julho. Segundo o levantamen-
to mensal da Anfavea, houve
queda de 21,9% na produção em
relação a agosto de 2020, quan-
do ainda não havia falta de com-
ponentes eletrônicos.
Mesmo em um cenário negati-
vo, o Instituto Aço Brasil, que re-
presenta a indústria siderúrgica
nacional, estima que o consumo
interno de aço este ano será 24%
maior do que em 2020. De janeiro
a agosto, o consumo interno apa-
rente de produtos siderúrgicos foi
de 18,8 milhões de toneladas — au-
mento de 41,7% em relação aos
primeiros oito meses de 2020.
O setor reconhece um desba-
lanceamento das cadeias produ-
tivas no abastecimento depois
do primeiro impacto crítico da
crise sanitária, mas atribui o au-
mento de preço do aço a um fe-
nômeno mundial de valorização
das commodities. “O mercado
está plenamente abastecido, os
estoques regularizados e os pre-
ços, que sofreram aumento, ago-
ra tendem à estabilidade”, afir-
ma Marco Polo de Mello Lopes,
presidente-executivo do Institu-
to Aço Brasil.
 Quarta-feira, 29 de setembro de 2021 | Valor | F5

Um mundo melhor
amanhã começa
com nosso
compromisso hoje.
ArcelorMittal: meta de ser
carbono neutro até 2050.

A ArcelorMittal lidera as transformações na indústria do aço. acesse

Nosso compromisso de contribuir com uma economia mais
circular e de baixo carbono é reflexo da preocupação com
um futuro mais sustentável, garantindo atendimento
às necessidades das próximas gerações e desenvolvimento
para a sociedade.

ArcelorMittal.
arcelormittal.com.br
Criando aços inteligentes para um mundo melhor.
F6 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Especial | Siderurgia
DIVULGAÇÃO

Mercado No médio e longo prazos,

siderúrgicas apontam ganhos

Analista vê
potencial de
valorização
nos papéis
Roseli Loturco vem ciclos de altas e baixas,
Para o Valor, de São Paulo acompanhando os ciclos econô-
micos globais”, diz Adeodato
O tombo das ações das empre- Volpi Netto, sócio e estrategista-
sas de siderurgia e mineração nos chefe da Eleven Financial Resear-
dois últimos meses, que já faz com ch. Ele observa que há, porém, di-
que operem no terreno negativo ferenças a serem consideradas de
neste ano, elevou o interesse do empresa a empresa.
mercado por esses papéis. A Gerdau, cuja ação preferencial
Apesar de estarem padecendo bateu em R$ 37, em 11 de maio,
com o cenário conturbado da Chi- caiu para R$ 25,56%, em 22 de se-
na e a queda dos preços do miné- tembro, 30% abaixo do pico. A Ele-
rio de ferro, depois de forte ciclo de ven, no entanto, trabalha com pre-
alta, além das dificuldades no mer- ço-alvo para esse papel mais próxi- Adeodato Volpi Netto, da Eleven Financial: papéis ainda devem se ressentir no curto prazo, mas em médio e longo prazos, empresas do setor são bons investimentos
cado doméstico, com risco fiscal e mo do pico e não do piso, e destaca
intempéries na política, são consi- o forte resultado da siderúrgica no
derados ativos com bom potencial segundo trimestre, com Ebitdas Reação de mercado
de alta no longo prazo. recordes nas divisões Brasil e Esta- Desempenho das ações das siderúrgicas – em R$ por ação
Na China, a crise financeira da dos Unidos, devido aos elevados
gigante da construção Evergrande, preços do aço, maiores spreads Vale ON Gerdau PN CSN ON Usiminas PNA
120 35 50 25
que está à beira de um default (ca- metálicos e seu bom controle de 78,91 27,00 30,11
16,65
lote), com dívidas de mais de US$ custos e despesas. Já a ação da Vale, 100
30
40 20
22,49 29,18
300 bilhões, fez o preço da tonela- que em 11 de maio valia R$ 118, 80
74,87 25
30 15 12,38
19,14
da do minério de ferro cair 29,3% em 22 de setembro tombou para 20
8,95
em setembro, para US$ 108,67 na R$ 87,11, tem preço-alvo cravado 60
41,18 15
20
12,38
10

quinta-feira (23), atingindo dire- em R$ 150, o que mostra alto po- 40 10 5

tamente as companhias. Com isso
a principal matéria-prima do aço
acumula queda anual de 32%.
Segundo analistas, contudo,
uma das razões que tornam essas
empresas interessantes é justa-
mente o fato de estarem ‘baratas’.
Especialmente porque Vale, Ger-
dau, CSN e Usiminas apresenta-
ram forte geração de caixa e lucro
líquido — que chegou a superar
em 1000 %, em 12 meses, no caso
da Gerdau —, nos resultados finan-
ceiros no segundo trimestre.
Os especialistas explicam que
quando os fatores externos fo-
rem resolvidos, elas devem en-
trar em novo ciclo de crescimen-
to. “Esses papéis ainda devem se
ressentir no curto prazo. Mas
olhando para o médio e longo
prazos, essas empresas têm tudo
para funcionar como bons inves-
timentos, pois historicamente vi-
tencial de valorização do ativo.
“Além disso, o pagamento de
dividendos da Vale veio bem alto
e houve combinação de delibera-
ção do dividendo bem no mo-
mento em que as ações desaba-
ram, o que tornou o dividend
yield extraordinário”, conta Net-
to. Ele se refere ao anúncio feito
no dia 16 de setembro, de US$ 7,6
bilhões, bem acima das estimati-
vas do mercado e que projetam
um pagamento de dividendo de
R$ 8,1083 por ação, um rendi-
mento de 9,2%, em 12 meses.
Para o Bradesco BBI, o anúncio
da Vale mostra que a empresa está
premiando o acionista com o seu
excesso de caixa, sendo que dos
US$ 7,6 bilhões, US$ 2,3 bilhões
são extraordinários. “E isso é muito
bom porque quando o investidor
olha para a Vale e observa o divi-
dendo anunciado já pensa no pró-
20
Jan/ Jan/
2020 2021
Fontes: B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data
ximo, que será anunciado em mar-
ço de 2022. A gente acha que tem
espaço para dividendos extraordi-
nários de mais US$ 3 bilhões”, afir-
ma Thiago Lofiego, superinten-
dente sênior do Bradesco BBI.
Nas suas contas, só em dividen-
dos, a Vale deve retornar para o
acionista cerca de 20% de seu valor
de mercado nos próximos 12 me-
ses, além de uma potencial apre-
ciação da ação. “A perspectiva para
Vale continua boa olhando no lon-
go prazo. Agora, no curto prazo,
não ajuda muito. Mas com os bons
fundamentos da Vale e contando
que não haverá ruptura na China,
as perspectivas são boas”, observa.
10
5 0
23/Set/ Jan/ Jan/ 23/Set/
2021 2020 2021 2021
Mais exposta ao risco Brasil, a
Usiminas teve sua ação negociada
a R$ 23,57 em 11 de maio e derre-
teu para R$ 15,26 em 22 de setem-
bro. Neste caso, além dos fatores
externos, a Usiminas teve impacto
do cenário econômico conturba-
do no Brasil, já que tem 95% de
suas vendas de aço destinadas ao
mercado doméstico.
Entretanto, o preço do aço ten-
de a aumentar, uma vez que a
China, maior fabricante mun-
dial, controla a produção para
cumprir as metas de emissões de
carbono. “O negócio de aço re-
presenta entre 50% e 60% do Ebit-
da da Usiminas, enquanto miné-
Jan/ Jan/
2020 2021
rio, 40%”, diz Lofiego. Nem o aci-
dente ocorrido no cone grande
do alto-forno 2 da Usina de Ipa-
tinga (MG), na última sexta-feira,
que deve paralisar suas opera-
ções por um período de 90 a 150
dias, muda a visão do mercado
sobre a empresa no longo prazo,
pois representa só 6% de sua ca-
pacidade de produção e será
compensada com a utilização de
seus estoques e compras de pla-
cas no mercado. “As ações da em-
presa sofrem hoje [segunda-fei-
ra], dado o impacto negativo que
maiores compras de placas cau-
sarão no período. Mas não no
longo prazo”, observa Adeodato.
0
23/Set/ Jan/ Jan/ 23/Set/
2021 2020 2021 2021
Ao contrário, na CSN, as ven-
das de aço representam entre
30% e 35% dos negócios e miné-
rio de ferro, por volta de 60%. A
demanda doméstica consome
perto de 70% de seu volume to-
tal de aço. Por isso, a ação da em-
presa, que atingiu seu pico em
maio, com R$ 51, em 21 de se-
tembro caiu para R$ 30.
“O preço-alvo da CSN é de R$
55 para o fim de 2022, porque ela
tem seguido à risca seu projeto
de desalavancagem e atingido as
metas antes do prazo, afirma Ga-
briel Mota, sócio e especialista
em renda variável da RJ Investi-
mentos.

Cenário mais conturbado na China Minério de ferro*

Cotação em fim de período - em US$/tonelada

afeta cotações do minério de ferro

240

214,08
200

160

Luiz Maciel
Para o Valor, de São Paulo
“O que vai acontecer com o mi-
nério de ferro depende da China. É
ela que detém o acelerador e o
freio nesse mercado”, resume Flá-
vio Penido, presidente do Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram),
fazendo alusão à brutal influência
do país comandado por Xi Jinping
no comércio e na produção de
commodities metálicas.
Produtora de mais da metade
do aço disponível no mundo, a
China pisou no acelerador em
2020 ao investir pesado em in-
fraestrutura, para evitar que a pan-
demia causasse maiores estragos
em sua estratégia de crescimento
— e deu certo, uma vez que conse-
guiu um avanço de 2,3% no PIB, en-
quanto quase todos os demais paí-
ses andaram para trás. Em meados
deste ano, porém, puxou o freio
bruscamente, reduzindo a ativida-
de nas siderúrgicas.
Com essa repentina desacelera-
ção, a China produziu dois efeitos
aparentemente contraditórios: o
minério de ferro, principal maté-
tores industriais na China.
O analista Ilan Arbetman, da
Ativa Investimentos, vê duas moti-
vações principais na desaceleração
chinesa: a necessidade de reduzir
as emissões de dióxido de carbono
e a preocupação com a inflação,
que estava sendo impactada pela
supervalorização do minério de
ferro. “A redução na produção de
aço tem a ver com o compromisso
que o país assumiu de atingir a
neutralidade de carbono até 2060,
uma vez que as siderúrgicas res-
pondem por 15% a 20% das emis-
sões totais na China. Não é a pri-
meira vez que a China muda as re-
gras do jogo, mas é a primeira em
que ela muda para atender a sua
agenda verde. Acredito que a ativi-
dade econômica do país deve se-
guir em ritmo mais lento nos pró-
ximos 18 a 24 meses”, avalia.
Num relatório divulgado em
meados de setembro, os analistas
Thiago Lofiego, do Bradesco BBI, e
José Francisco Cataldo, da Ágora
Investimentos, afirmam que o pla-
no antipoluição colocado em prá-
tica na China prevê novos cortes
no inverno local, com redução de
feriores às atuais — e bem mais es- chinês vai intervir em algum mo- 117,49
120
táveis também. “O grande com- mento para evitar a inadimplên-
88,34
prador naquela época era o Japão, cia de uma companhia tão im- 108,67
80
com quem fechávamos contratos portante. Essa, aliás, é a expectati-
jan/ out/ jun/ set/
de longo prazo em torno de US$ 40 va de todo o mercado”, afirma 2020 2020 2021 2021**
a tonelada de minério. Com o cres- Marco Polo Lopes, presidente do
Fontes: MetalBulletin e Market Index. Elaboração: Valor Data. * No porto de Qingdao. ** No dia 23
cimento acelerado da China, a de- Instituto Aço Brasil.
manda internacional por commo- Enquanto a intervenção chinesa
dities, não só minerais, mas tam- não se concretiza, o mercado espe-
bém agrícolas, aumentou muito, ra ao menos que o preço do miné- Carvão*
puxando os preços todos para ci- rio de ferro se estabilize nesse ní- Cotação em fim de período - em US$/tonelada
ma. O mesmo fenômeno estava vel, que é o mesmo em que estava 200
180,40
acontecendo desde o ano passado, em maio de 2020. “Na verdade, o
mas desta vez com algumas infle- ponto fora da curva nessa dança 160
xões, pois o crescimento chinês foi das cotações aconteceu no primei-
muito afetado pela pandemia.” ro semestre deste ano, quando o 120
Outro fator perturbador do minério de ferro atingiu a sua 93,60
mercado tem sido o risco de ina- maior cotação da história, em tor-
80 64,80
dimplência da segunda maior in- no de US$ 230. Agora, de certa for-
corporadora chinesa, a Evergran- ma, está voltando ao nível nor-
40
de, que acumula um grande esto- mal”, diz Cataldo, da Ágora.
jan/ abr/ set/
que de imóveis encalhados e a Marco Polo Lopes vai nessa mes- 2020 2021 2021**
colossal dívida de US$ 300 bi- ma linha. “De janeiro de 2020 a ju-
Fontes: Trading Economics. Elaboração: Valor Data. * Contrato fututo - 1º vencimento. ** No dia 23
lhões. O possível calote de uma nho de 2021, o minério de ferro su-
empresa desse porte, com mais biu uma enormidade, 172%, e o
de 125 mil funcionários, ajudou preço da sucata acompanhou o rit-
a derrubar ainda mais as cota- mo, aumentando 157%. Uma hora Aço*
ções do minério de ferro, impac- isso iria refluir mesmo”, afirma. Ele Cotação em fim de período - em US$/tonelada
tando negativamente bolsas de nota, porém, que embora o au- 950
valores do mundo inteiro. mento das matérias-primas im- 904,77
826,38
Em 22 de setembro, quando a pacte diretamente no preço do 850

ria-prima do aço, despencou de
preço, com o corte das importa-
ções chinesas, enquanto a cotação
do aço continuou subindo, em
consequência da queda nos esto-
ques do metal. O carvão, outro ele-
mento essencial na composição do
aço, também se manteve em rota
ascendente, dada a sua farta utili-
zação em termelétricas e outros se-
30% na produção de aço em 28 ci-
dades do norte do país entre 1 o de
janeiro e 15 de março de 2022. “O
plano não parece implicar cortes
de produção generalizados.”
Flávio Penido, do Ibram, lembra
que até duas décadas atrás, antes
da entrada forte da China no mer-
cado de commodities, as cotações
do minério de ferro eram bem in-
Evergrande anunciou finalmente aço, isso não acontece necessaria-
750
seu primeiro grande acordo com mente no sentido inverso, quando
credores, o mercado respirou ali- a cotação desses componentes cai. 650
viado — e o minério de ferro, que “As dinâmicas são diferentes. É
pela primeira vez no ano havia preciso considerar os estoques 550
471,54
baixado do patamar de US$ 100 a existentes em cada caso e a estraté-
450
tonelada, valorizou-se 16,8% no gia de cada país, sobretudo da Chi-
jan/ abr/ set/
mesmo dia, fechando a US$ na, para produzir mais aço ou me- 2020 2021 2021**
108,70. No dia seguinte, fechou nos, exportar mais ou direcionar
Fontes: Trading Economics. Elaboração: Valor Data. * Contrato fututo - 1º vencimento. ** No dia 23
estável. “Acredito que o governo mais para o mercado interno.”
 Quarta-feira, 29 de setembro de 2021 | Valor | F7

Especial | Siderurgia
DIVULGAÇÃO

Financiamento Apenas a CSN acessou o mercado de capitais neste ano

Geração de caixa em alta

limita emissão de dívida
Roseli Loturco to”, afirma Felipe Wilberg, dire- mercado de dois anos para cá. metas ESG. Cada uma com as
Para o Valor, de São Paulo tor de renda fixa e produtos es- Segundo Pesquisa da Sitawi Fi- suas características com o que é
truturados do Itaú BBA. nanças do Bem, de 2015 para cá, possível fazer. Assim como os
Apesar da movimentação no Os analistas observam, no en- ocorreram R$ 27,9 bilhões em pecuaristas aderiram. Cada uma
mercado de emissões de dívidas tanto, que mesmo as emissões emissões de empresas brasileiras terá que encontrar seu caminho
de empresas, as companhias si- mais recentes dessas empresas não de diferentes setores, tanto exte- porque o investidor, especial-
derúrgicas e de mineração têm pegaram carona na onda de títulos rior quanto Brasil, com compro- mente estrangeiro, vai exigir is-
passado ao largo dessa tentação. com compromissos e metas so- missos ESG. Nenhuma era do ra- so”, Adeodato Volpi Netto, sócio
Com exceção da CSN, nenhu- cioambientais e de governança mo siderúrgico ou de mineração. e estrategista-chefe da Eleven Fi-
ma outra acessou o mercado de ESG, que vem se fortalecendo no “Elas vão acabar entrando nas nancial Research. Bruno Monsanto, da RJ Investimentos: caixa cheio favorece a Vale
capitais doméstico ou interna-
cional neste ano, por mais que as
condições tenham se mostrado
favoráveis. E o motivo é um só. As
empresas estão com o caixa
cheio e com o menor nível de en-
dividamento da história.
A relação dívida líquida versus
Ebitda — parâmetro para medir o
quão alavancada a companhia es-
tá e sua capacidade de pagamento
—, está, em média, abaixo de 1 para
Usiminas, Gerdau, Vale e CSN. Das
quatro, a situação mais confortá-
vel é a da Vale, que fechou o segun-
do trimestre como credora. “A Vale
está com indicador negativo, ou
seja, está com caixa positivo. Desde
o primeiro trimestre, este indica-
dor está em -0,02. Se olharmos o
segundo trimestre de 2020, estava
positivo em 0,5”, diz Bruno Mon-
santo, sócio da RJ Investimentos.
Mesmo com forte geração de
caixa e relação dívida/Ebtida em
torno de 0,6 vezes, tanto a CSN
quanto a CSN Mineração optaram
por acessar o mercado para me-
lhorar o perfil de dívidas anterio-
res. A CSN Mineração escolheu o
mercado interno para colocar R$ 1
bilhão em debêntures incentiva-
das no dia 6 de agosto, distribuído
em duas tranches. Uma de R$ 576
milhões, com duração de dez anos
e prêmio pago ao investidor de IP-
CA + 4,88% ao ano. Já a segunda foi
de R$ 424 milhões, com duração
de 15 anos, com IPCA mais 5,02%.
As duas emissões foram total-
mente absorvidas pelo mercado.
Dois meses antes foi a vez da CSN,
que colocou US$ 850 milhões em
bonds no mercado internacional,
com vencimento em 2031 e prê-
mio de 4,625% ao ano. “Essas em-
presas estão com sobra de caixa. A
última dívida da Vale foi no ano
passado. Não está precisando de
emissão nova. Tanto a Usiminas
quanto a Gerdau também estão
em situação confortável. Sem ne-
cessidade de captação”, observa
Davi Caixe, responsável pela área
de renda fixa do investment ban-
king da XP. O executivo se refere ao
bond da Vale emitido em julho de
2020 no mercado internacional de
US$ 1,5 bilhão, com duração de
dez anos e prêmio de 3,85% anual.
Apesar disso, tanto o mercado
local quanto o externo têm sido in-
tensamente procurados pelas em-
presas este ano, fortalecendo as
operações de renda fixa. Só no mês
de agosto as captações domésticas
alcançaram R$ 50,6 bilhões, se-
gundo a Associação Brasileira dos
Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima). Com este resultado, o
acumulado do ano chegou a
R$ 355,5 bilhões, 65% a mais do
que no mesmo período do ano
passado. Com o total de R$ 34,1 bi-
lhões, a renda fixa teve seu segun-
do melhor desempenho mensal
em 2021, ficando atrás apenas do
mês de maio.
As debêntures contribuíram
com R$ 20,3 bilhões, respondendo
por 40% do volume total de capta-
ções no mês. É o quinto mês conse-
cutivo em que essas emissões se
mantêm acima dos R$ 20 bilhões
em recursos captados.
A performance pode estar re-
lacionada à maior atratividade
que esses papéis ganharam a par-
tir do início do ciclo de alta dos
juros, que se deu no mesmo pe-
ríodo. No ano, a somatória alcan-
çada por esses títulos é de pouco
mais de R$ 140 bilhões. Em 2021,
as principais destinações dos re-
cursos têm sido capital de giro
(27,2%), investimento em in-
fraestrutura (20,8%) e refinancia-
mento de passivo (18,7%).
“O mercado de capitais local
está ótimo. Não está havendo
grande participação das empre-
sas de siderurgia e mineração
porque elas estão com geração
de caixa gigantesca e não preci-
sam captar dívida por enquan-
F8 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Especial | Siderurgia
Inovação Nos centros de pesquisa, a meta é obter produtos mais robustos e que consumam menos recursos
Novas ligas combinam leveza e resistência
Ediane Tiago
Para o Valor, de São Paulo
Resistência e leveza. Esses atri-
butos são obrigatórios nas novas
ligas para o aço. Nos centros de
pesquisa e desenvolvimento
(P&D), a meta é melhorar as ca-
racterísticas do metal — e dos
processos produtivos — para dar
vazão às demandas do mercado.
Além de robusto, o aço deve re-
duzir o uso de recursos naturais,
“ocupar espaços menores” e pesar
menos, facilitando o transporte e
o manuseio nos canteiros de
obras e plantas fabris. “O desen-
volvimento de ligas é fator crítico
para a sustentabilidade”, comenta
André Marcon Zanatta, gerente
de inovação do Centro de Inova-
ção e Tecnologia Senai Fiemg, li-
gado à Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerais.
A equipe de Zanatta toca proje-
tos junto a grandes siderúrgicas e
mineradoras, dedicadas ao desen-
volvimento de aplicações e à mo-
dernização da fabricação de aço
no Brasil. Como exemplo, ele des-
taca as exigências da indústria au-
tomotiva, que precisa entregar ao
mercado veículos menos poluen-
tes, além de mitigar as próprias
emissões de dióxido de carbono.
“Para obter eficiência energética,
os veículos têm de ser mais leves,
sem abrir mão da segurança”, diz.
Outro segmento crítico é o de
energia. “Geradores eólicos preci-
sam de aços mais resistentes à cor-
rosão”, exemplifica.
Parcerias com startups
atraem novos negócios
Erivelto Tadeu
Para o Valor, de São Paulo
A velocidade das mudanças
tecnológicas tem levado os gran-
des grupos do setor siderúrgico
do país a acelerar parcerias ou a
investir em startups em busca de
inovação e tecnologias que pos-
sam resolver questões relaciona-
das ao aumento de eficiência
operacional ou possibilitem o
desenvolvimento de novos negó-
cios, produtos e serviços.
Um indicativo de que a aposta
das companhias de siderurgia e
mineração em empresas emergen-
tes inovadoras vem crescendo é
que neste ano já foram realizados
683 negócios com 317 startups,
um crescimento de 14% em relação
a 2020. O valor de contratos fecha-
dos totalizou R$ 154 milhões, con-
tra R$ 55 milhões no ano anterior,
segundo a plataforma 100 Open
Startups, que mede os relaciona-
mentos de inovação aberta entre
corporações e startups.
A ArcelorMittal, por exemplo,
criou o fundo Açolab Ventures, em
maio, para acelerar startups e pe-
quenas empresas inovadoras. O
plano da companhia é investir
mais de R$ 100 milhões em quatro
anos, em até 15 empresas. Em
agosto, a siderúrgica anunciou o
Aldo Souza, da Anglo American: R$ 25 milhões para aceleração de startups
Na construção civil, a adição
de nióbio tem atraído adeptos e
impulsionado projetos de “des-
materialização”. De acordo com
Rafael Mesquita, diretor de tec-
nologia do nióbio da CBMM, ao
combinar aço e nióbio, o resulta-
do é um metal de alta resistência.
“O produto mais robusto requer
volumes menores na construção
das estruturas, gerando ganhos
em cascata. Trata-se do uso racio-
nal de recursos”, diz Mesquita.
A conta é simples. A fabricação
das vigas usa menos aço, aliviando
peso e volume no transporte e,
consequentemente, reduzindo
emissões na logística. No canteiro,
o manuseio é mais fácil, evitando
desperdício e rejeitos. As estimati-
vas são de que a aplicação de nió-
bio no aço diminua em 20%, em
média, o uso de matérias-primas.
O desafio da CBMM está disse-
minar o uso do nióbio, fomen-
tando o mercado. Mesquita sa-
lienta que, dos R$ 200 milhões
anuais investidos na área de tec-
nologia do nióbio, 70% alimen-
tam projetos de inovação aberta
relacionados à aplicação do nió-
bio. “Trabalhamos com startups,
institutos de pesquisa e indús-
trias para entender como o metal
pode, de fato, agregar valor”, co-
menta. Entre os segmentos, ele
destaca o de tubulações, o de ba-
terias e o de aços para veículos
elétricos. Outro horizonte de ne-
gócios está relacionado aos avan-
ços da indústria 4.0. “Estamos
pesquisando o uso do metal em
seu primeiro investimento, na Aval
Tecnologia, desenvolvedora da
Agilean, plataforma de gestão da
construção civil. Segundo Rodrigo
Carazolli, gerente geral de inova-
ção e do Açolab Ventures, ainda
neste ano deve ser anunciado um
segundo aporte, em empresa da
área de energia, uma energytech.
A criação de fundos de investi-
mento tem sido o caminho co-
mum trilhado pelas grandes side-
rúrgicas para fortalecer seus ecos-
sistemas de startups. A Compa-
nhia Siderúrgica Nacional (CSN)
criou, por intermédio de sua subsi-
diária CSN Inova Ventures, um
fundo de investimentos de R$ 100
milhões, o Corporate Venture Ca-
pital, para aportes em startups em
busca de diversificação dos negó-
cios e inovação. De acordo com Fe-
lipe Steinbruch, líder da CSN Inova
Ventures, a alocação dos investi-
mentos do fundo será feita até o
primeiro semestre de 2022. “Em
paralelo, estamos estudando o
lançamento de outros fundos ou a
expansão do já existente”, adianta.
Já a Gerdau, como parte da es-
tratégia para acelerar o processo
de inovação, criou, no ano passa-
do, a Gerdau Next, braço de no-
vos negócios de intraempreen-
dedorismo e inovação da side-
rúrgica. Sob o guarda-chuva des-
DIVULGAÇÃO
Mesquita, da CBMM: dos R$ 200 milhões anuais investidos em tecnologia do nióbio, 70% vão para projetos de inovação aberta
ligas para impressão 3D”, adian-
ta o executivo.
Para chegar às novas receitas,
os pesquisadores lançam mão
de técnicas que vão de processos
químicos e físicos tradicionais à
nanotecnologia — ciência que
tem permitido a inserção de ma-
teriais como os nanotubos de
sa empresa ficam a Ventures Ger-
dau, aceleradora de startups que
tem como foco as áreas de sus-
tentabilidade, construção, mobi-
lidade e novos negócios atrela-
dos à indústria do aço, e a Paris
Ventures, fundo de corporate
venture capital (CVC) de US$ 80
milhões, criado em São Francis-
co, nos EUA, que posteriormente
foi replicado no Brasil.
O vice-presidente da Gerdau
Next, Juliano Prado, conta que o
grupo CVC local teve relações e dis-
cussões de negócio com mais de
1.195 startups nos últimos 12 me-
ses. Nesse período foram investi-
dos cerca de R$ 60 milhões em al-
gumas dessas startups. “Atualmen-
te, mais três empresas estão em
processo de due diligence [audito-
ria e análise] para que possamos
concluir o investimento”, diz.
Com o propósito de aumentar a
conexão com o ecossistema de
startups e reforçar o programa de
inovação aberta, a Usiminas se co-
nectou, em junho, à plataforma In-
novation Latam, que reúne cerca
de 20 mil startups brasileiras e lati-
no-americanas. A adesão à plata-
forma é parte da estratégia inicia-
da em 2019, quando foram criados
a gerência de inovação e o fra-
mework InovaAí, ferramenta usa-
da para ajudar na criação de proje-
Aportes são essenciais para avanço das pequenas
De São Paulo
Os relacionamentos de inova-
ção aberta entre corporações e
startups vêm crescendo ano a ano,
sendo que em 2021 o volume do-
brou em relação ao ano passado.
Na categoria siderurgia e minera-
ção, a plataforma 100 Open Star-
tups identificou 61 corporações
que praticam inovação aberta com
startups no Brasil — 35 delas se re-
lacionaram com essas empresas
pela primeira vez no último ano.
Somente as cinco primeiras
empresas do ranking de siderur-
gia e mineração do 100 Open
Startups — ArcelorMittal, Vale,
Gerdau, Usiminas e Anglo Ame-
rican — foram responsáveis por
73% dos relacionamentos com
startups identificadas no setor. A
Anglo American, por exemplo,
tem atualmente 20 startups com
relação de negócios, as quais se
originaram ao longo de dez ci-
carbono e partículas de grafeno
na fabricação de aços especiais.
“São muitas as possibilidades
para criar aplicações”, comenta
Zanatta.
Na prospecção e teste labora-
torial das ligas, ele destaca o pa-
pel da computação, uma vez que
o uso de algoritmos e de mode-
Ericka Menegaz, da Usiminas, “madrinha” do FiemgLab 4.0: mais uma forma de conexão a um ecossistema de inovação
tos na área de inovação.
A gerente corporativa de inova-
ção da companhia, Ericka Gonçal-
ves Menegaz, conta que no ano
passado a Usiminas se tornou tam-
bém “indústria madrinha” do pro-
grama FiemgLab 4.0. “É mais uma
forma de a empresa se conectar a
um ecossistema de inovação.
Atualmente, estamos trabalhando
em quatro projetos, que devem ser
finalizados em outubro de 2021.
Um na área da sinterização, dois
clos de aceleração. De acordo
com o diretor técnico de projetos
e sustentabilidade da compa-
nhia, Aldo Souza, nos próximos
três anos, a Anglo American pla-
neja investir por meio de seu fun-
do de investimentos R$ 25 mi-
lhões no Brasil para aceleração
de startups.
Os programas de inovação aber-
ta de grandes companhias como a
Anglo American têm funcionado
com impulsionadores de startups.
A Sirros IoT, empresa com cinco
anos de atividades que fornece so-
luções de digitalização industrial
utilizando dispositivos IoT para os
setores de siderurgia, mineração,
metal-mecânico, termoplástico e
alimentos, entre outros, espera
captar seu primeiro investimento
em breve. “Estamos em negocia-
ções com uma grande companhia
siderúrgica para obter um aporte
de R$ 4 milhões”, conta Diego Sch-
lindwein, líder de operações da
DIVULGAÇÃO
los matemáticos tem permitido
emular ensaios. “Nós elabora-
mos uma série de receitas e inse-
rimos no software, que faz o tes-
te digital. Ao final do processa-
mento, o sistema indica as com-
binações mais promissoras”, co-
menta Zanatta.
O ganho de produtividade é
na área de aciaria e um na área de
planejamento de cargas”, detalha.
Ainda em processo de análise
de quatro startups para decidir se
fará aporte financeiro para acele-
rar alguma delas, a Villares Me-
tals, empresa do grupo siderúrgi-
co austríaco voestalpine, desde
2019 vem realizando o mapea-
mento de empresas nascentes
com vistas a fortalecer o ecossiste-
ma de inovação. O primeiro passo
nesse sentido, conta Augusto Ce-
Sirros IoT, sem revelar detalhes.
Atualmente, a Sirros IoT possui
sete projetos em andamento em
duas unidades da Usiminas no
Brasil. Segundo Schlindwein, há
dois meses a empresa implemen-
tou um sistema de visão computa-
cional para detecção de umidade
em tiras de aço na unidade de Cu-
batão, que acabou ganhando o se-
gundo lugar como projeto mais
inovador do ano no programa de
intraempreendedorismo da com-
panhia, o InovaAí.
Para o fundador e diretor-exe-
cutivo da 3DLopes, Daniel de Pau-
la Lopes, os investimentos que a
empresa recebeu por meio de
programas de inovação aberta fo-
ram fundamentais para o cresci-
mento da empresa. A startup, que
desenvolveu uma solução em im-
pressão 3D para indústrias, rece-
beu aproximadamente R$ 2 mi-
lhões de investimentos ao longo
dos seus sete anos de atividades.
grande. A cada 30 receitas simu-
ladas em ambiente digital, há
uma devolutiva de três fórmulas
com chance de aplicação no
mercado. “São estas que vamos
estudar melhor e partir para
uma produção piloto”, explica.
Na Gerdau, as experiências
com o grafeno culminaram da
diversificação do portfólio. Há
quatro anos, a empresa começou
a desenvolver soluções de grafe-
no de forma complementar ao
aço, aplicando o componente em
tintas anticorrosão para a indús-
tria automobilística.
As pesquisas ajudaram a em-
presa a compreender os benefí-
cios do material, como a redução
de peso e de atrito, eficiência em
lubrificação e condutividade tér-
mica e elétrica. Esses atributos
são valorizados em segmentos
como construção civil, tintas, ter-
moplásticos e termofixos, lubri-
ficantes e elastômeros. “Neste
ano, decidimos avançar e cria-
mos a Gerdau Graphene para ex-
plorar estes novos nichos”, diz o
diretor-geral Alexandre Corrêa.
Segundo Corrêa, em alguns
casos, o grafeno pode até substi-
tuir o aço. Mas suas característi-
cas são mais relevantes na com-
binação com outros materiais,
entre eles o cimento. “O nano-
material tem afinidade física e
química com o cimento. Sua adi-
ção ao concreto confere aumen-
to na resistência, além de redu-
zir o consumo de água na mistu-
ra”, explica.
DIVULGAÇÃO
sar Ferreira, diretor de operações
da Villares Metals, foi a criação,
naquele ano, de um workshop,
denominado startup day, a partir
do qual firmou acordo com a star-
tup Fhinck para um projeto de
eficiência operacional. “A partir
daí começamos a acompanhar
outras empresas e trazer os proje-
tos para dentro da companhia. Já
fizemos contato com mais de 20
startups e agora estamos traba-
lhando com quatro delas.”
Para o setor de siderurgia, a 3DLo-
pes fornece protótipos funcio-
nais de dispositivos e moldes pa-
ra fabricação de refratários.
Com um investimento de capi-
tal semente de R$ 500 mil da Fun-
depar, a LogPyx Tecnologia, que
fornece produtos e serviços liga-
dos a produtividade e segurança
em atividades de intralogística, es-
tá em busca de novos aportes. Re-
centemente a empresa foi selecio-
nada para o projeto Truck 4.0, cria-
do para reduzir o tempo de espera
dos caminhões na porta das mistu-
radoras da Mosaic Fertilizantes,
subsidiária para Brasil e Paraguai
da maior empresa de fosfatados
do mundo, a The Mosaic Company.
“Conseguimos reduzir o tempo de
carga e descarga de veículos geran-
do economia no frete e de 30% do
lead time de entrega nos clientes
finais da empresa”, comemora
Adalci Righi Viggiano, cofunda-
dor da LogPyx. (ETO)

Especial | Siderurgia
Inovação Automação garante maior competitividade no mercado global
Uso de robôs e drones reduz
custos e acidentes na planta
Dauro Veras
Para o Valor, de Florianópolis
Robôs, drones e sistemas fabris
monitorados por inteligência arti-
ficial (IA) são algumas inovações
da indústria 4.0 que já fazem parte
do cotidiano de várias siderúrgicas
brasileiras. Com foco no conceito
de ESG (boas práticas ambientais,
sociais e de governança), as empre-
sas têm investido em novas tecno-
logias para ganhar competitivida-
de no disputado mercado global
do aço, que em 2020 produziu 1,9
bilhão de toneladas. O Brasil ocu-
pa a nona posição na lista de fabri-
cantes, liderada por China, Índia,
Japão e Estados Unidos.
Entre 2018 e 2020, a indústria
nacional de aço investiu R$ 2,6
bilhões em ações direcionadas
ao aprimoramento de processos
técnicos, programas de sustenta-
bilidade e redução da emissão de
CO2, informa o Instituto Aço Bra-
sil. Desde 2008, esse montante
soma R$ 148 bilhões.
Um dos destaques é a Ternium,
localizada no Rio de Janeiro. A em-
presa de 8 mil empregados investe
R$ 50 milhões anuais em tecnolo-
gia para aumentar a segurança e a
eficiência. Desde 2019, os robôs fa-
zem até sete tarefas na aciaria —
unidade onde o ferro gusa é trans-
formado em aço —, como medição
de temperatura, retirada de amos-
tras e adição de materiais.
Primeira siderúrgica do país a
utilizar autômatos, a empresa
treinou empregados na Bélgica
para operá-los e não fez demis-
sões com a mudança.
Em 2020, a Ternium implan-
tou em sua termelétrica um siste-
ma de IA que ajuda a prever e
identificar possíveis falhas nos
equipamentos. Seis paradas de
máquinas já foram evitadas, com
economia de R$ 1,2 milhão. Este
ano, um braço mecânico come-
çou a fazer a manutenção dos ca-
nais por onde passa o ferro gusa.
O uso de drones na inspeção de
telhados reduziu o risco da ativi-
dade e poupou R$ 200 mil. Em
consequência dos investimentos,
a taxa de acidentes caiu 60%.
“Temos o orgulho de ser uma
das fabricantes de aço mais
competitivas do mundo”, diz o
presidente da companhia, Titus
Schaar. Ele lembra que o sucesso
se deve em grande parte à parti-
cipação ativa dos trabalhadores
na mudança da forma de produ-
zir, que enfatiza a cooperação.
Em operação desde 2015, a Aço
Verde do Brasil (AVB), empresa do
grupo Ferroeste com sede em Açai-
lândia (MA), é a primeira siderúr-
gica do mundo certificada como
“carbono neutro”. Uma das inova-
ções que a levaram a obter o resul-
tado é o pré-aquecimento a 600
graus da sucata que vai ser quei-
mada como combustível. Em 2019
a empresa requereu patente sobre
o processo. “Conseguimos produ-
zir até 100 mil toneladas a mais de
aço por ano e aumentamos em
15% a nossa capacidade”, conta o
diretor industrial Sandro Marques
Raposo. A empresa é a principal re-
cicladora de sucata no Maranhão.
Essa tecnologia de controle da
queima só faz sentido para usinas
que dispõem de gás barato e gera-
do por fonte renovável. A AVB uti-
Titus Schaar, da Ternium: sistema de IA evitou seis paradas de máquinas
liza lenha de eucalipto refloresta-
do, com mais de 85% do volume
proveniente de produção própria.
Com início de operação previsto
para 2022, uma usina termelétrica
deve gerar 12 MW de energia, um
terço da necessidade da empresa.
A Aperam South America, spin-
off do grupo ArcelorMittal que
produz aços inoxidáveis e elétricos
no Vale do Jequitinhonha (MG),
também investe em diversas fren-
tes de inovação. Uma das mais re-
levantes é o melhoramento genéti-
co na produção de clones de euca-
lipto mais resistentes para abaste-
DIVULGAÇÃO
cer suas florestas plantadas. “O aço
que fabricamos hoje começou a
ser produzido há 14 anos”, explica
o presidente Frederico Ayres Lima.
O ganho de escala da siderúr-
gica é potencializado pelo seu
forno de carvão com 2 mil m3, o
maior do mundo. Um sistema
de inteligência artificial auto-
matiza o controle do gás gerado
na carbonização. Os drones são
utilizados para inspeção da flo-
resta, chaminés e telhados, as-
sim como dos dutos de gás da
Aperam Bioenergia, empresa
energética do grupo.
Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Plataforma facilita a
aquisição de pequenas
quantidades de aço
Katia Simões
Para o Valor, de São Paulo
Desde que abriu a Soluções In-
dustriais e Soldagem Robotizada
(SINS), há 17 anos, em Belo Hori-
zonte, o engenheiro Bruno Lem-
mez enfrentava barreiras para
comprar pequenas quantidades
de aço. Tinha de recorrer aos dis-
tribuidores, com preços mais al-
tos, ou a empresas que trabalham
com a venda de sucata. “Com a
pandemia, a dificuldade se tor-
nou ainda maior, porque 100%
dos distribuidores permanece-
ram fechados por um bom tem-
po, enquanto a empresa precisa-
va funcionar”, afirma. “Em março,
comecei a buscar alternativas pa-
ra garantir o abastecimento. Na-
vegando na internet encontrei o
e-commerce da Usiminas.”
Lemmez foi um dos primeiros
clientes da plataforma de e-com-
merce Mais Soluções Usiminas,
lançada em fevereiro de 2020 e
pioneira no comércio on-line de
aço no país. “Na primeira com-
pra, tive certa dificuldade para
escolher os produtos e finalizar o
pagamento. Os meus questiona-
mentos serviram de base para a
Usiminas melhorar o canal”, diz
Lemmez. “Já fiz oito transações. É
bem vantajoso. Além da facilida-
de de poder comprar pelo celu-
lar, tem o custo que é mais baixo
e a agilidade da entrega”, diz.
A plataforma, que permite a
compra de diversas peças de aço já
cortadas e prontas em qualquer
quantidade por pessoas físicas e
empresas, está sendo estruturada
para funcionar como uma comu-
nidade. “Queremos conectar con-
sumidores, profissionais e presta-
dores de serviço como arquitetos,
| Valor | F9
designers, serralheiros e muitos
outros”, afirma Ascanio Merrighi,
diretor executivo da Soluções Usi-
minas. Com acesso pelo celular, ta-
blet ou computador, pagamento
simplificado e escolha do endere-
ço de entrega, o e-commerce desti-
na-se a três perfis de consumido-
res: os que têm necessidade de pra-
zos menores aos praticados pelas
usinas, os que buscam aço em es-
cala menor de consumo e aqueles
que procuram a matéria-prima em
formatos diferentes. Atualmente, a
plataforma atende os Estados de
Minas Gerais e São Paulo, com en-
tregas entre quatro e sete dias, mas
até o fim de 2022 deverá ter atua-
ção nacional.
De acordo com Merrighi, a
ideia de criar um canal de venda
on-line nasceu em 2019, quando
a diretoria buscava novas formas
de elevar a participação e exposi-
ção da companhia no mercado
brasileiro. “Nossa proposta é mo-
dificar a forma de se consumir
matérias-primas de aço, facilitan-
do o acesso e aproximando a per-
cepção da marca junto a diferen-
tes públicos”, afirma Merrighi.
Fundada em 1956, a Usiminas
é líder na produção e comerciali-
zação de aços planos laminados
a frio e a quente, bobinas, placas
e revestidos, destinados princi-
palmente aos setores de bens de
capital, de consumo e indústria
automotiva. “Temos 120 mil to-
neladas de aço processado distri-
buídos mensalmente”, diz.
Entre fevereiro e agosto, em
relação ao mesmo período de
2020, a plataforma cresceu mais
de 1.000%, faturando R$ 15 mi-
lhões. “Já atendemos mais de
2.500 clientes, sendo 60% pes-
soas físicas” , informa.
F10 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Especial | Siderurgia
Diversidade Mudanças em indústria historicamente
masculina progridem nas grandes companhias
Políticas de inclusão
avançam na esteira
das estratégias ESG
Claudia Rolli
Para o Valor, de São Paulo
A política de diversidade e in-
clusão (D&I) avança no setor de
siderurgia e ganha mais força co-
mo estratégia de negócios, com a
evolução da agenda ESG.
As mudanças em uma indústria
historicamente masculina aconte-
cem principalmente nas grandes
companhias, que aumentam o nú-
mero de mulheres na produção e
na liderança, ampliam iniciativas
em frentes de raça e etnia, abrem
banco de contratações para LGB-
TI+ e planejam ações para diferen-
tes gerações de funcionários.
Após começar a tratar a diversi-
dade de forma mais estruturada
em 2017, com programas de gêne-
ro, a Gerdau conseguiu romper o
patamar de 2% de mulheres na
operação (2018) e chegar a 6% nes-
te ano, superando a meta prevista
para 2021 (5%). Hoje, são cerca de
mil mulheres na produção. No
país, a empresa tem 15 mil funcio-
nários, sendo 80% na operação.
“A grande dificuldade era que-
brar o paradigma de ser um setor
mais pesado e masculinizado, e a
gente encontrou o caminho, com
um programa que capacita mu-
lheres para operação. Antes, con-
corríamos pelas mulheres das de-
mais indústrias”, diz Caroline Car-
penedo, diretora global de pessoas
e responsabilidade social da Ger-
dau. Os programas de aprendiza-
gem preveem contratação de 50%
de mulheres e os de estágio, 60%.
Nas posições de liderança, elas
eram 18% em 2019 e hoje são 23%.
A meta é ter 30% em 2025. A partir
deste ano, a parcela de mulheres
em cargos de liderança é um dos
indicadores ESG usados no plano
de remuneração de longo prazo
dos executivos. Pela primeira vez
em 120 anos, a Gerdau tem uma
mulher como CEO de uma unida-
de industrial — desde novembro, a
engenheira Michele Robert co-
manda a joint venture de peças pa-
ra geração de energia eólica.
Com a criação do Banco de Ta-
lentos LGBTI+, a siderúrgica cadas-
Diagnóstico preciso norteia programas bem-sucedidos
De São Paulo
Para obter resultados, as empre-
sas devem tratar diversidade e in-
clusão (D&I) como prioridade na
estratégia de negócios, engajar
CEOs e a alta liderança, saber em
que estágio está e onde quer che-
gar, com diagnóstico preciso em
aspectos demográficos, de remu-
neração e evolução de carreiras,
avaliam especialistas.
Isso inclui treinamentos para
romper preconceitos, mentorias,
desenvolver talentos e ter proces-
sos de seleção inclusivos, com
metas e estratégias firmes.
“Ao criar metas públicas e ade-
rir a pactos, como os da Organi-
zação das Nações Unidas (ONU),
as empresas ampliam suas res-
ponsabilidades. Mas os planos
têm de ser exequíveis. Não adian-
ta ter 10% de mulheres líderes e
dizer que terá 30% em três anos”,
diz Leandro Camilo, sócio e líder
de I&D da PwC Brasil. Atrelar me-
tas ao bônus pago aos executivos
é uma prática importante para
garantir avanços, diz.
A formação de grupos de afini-
dade abertos a todos, e não somen-
te a minorias, é um passo impor-
tante para mudar a cultura da em-
presa, resultado de um processo
contínuo e de longo prazo.
“É preciso criar uma conexão
emocional entre todos. Só assim
um poderá sentir a dor do outro e
se identificar. Sem isso, continuam
falando para si mesmos”, diz a con-
sultora Cristina Kerr, CEO da CKZ
Diversidade e professora de diver-
sidade da Fundação Dom Cabral.
Um dos erros frequentes das
trou mais de mil profissionais e
quer expandir a representativida-
de desse grupo, hoje de 3%. O ban-
co faz parte de outras iniciativas,
como treinamento de lideranças e
processos seletivos inclusivos.
Contratada pela Gerdau há dois
meses, a engenheira de minas Flá-
via Vieira, 33, que comanda uma
equipe de 42 pessoas, diz que se
sentiu acolhida desde o início. “É
muito difícil a gente se abrir por-
que nunca sabe a reação das pes-
soas. Desde a seleção, contei que
sou casada com uma mulher e sen-
ti o respeito de todos. Ao contrário
de outros ambientes, não escutei
piadinhas preconceituosas sobre
minhas escolhas.”
No fim de 2020, a multinacional
ampliou suas iniciativas em D&I
para a cadeia de 150 fornecedores
no programa Inspira Gerdau. Com
uma plataforma on-line, a meta é
apoiar e ajudar a treinar um mi-
lhão de pessoas em três anos.
O segmento de aços longos da
ArcelorMittal Brasil decidiu reunir
as áreas de estratégia, ESG, inova-
ção, transformação do negócio,
D&I em uma só, conhecida como
“diretoria do futuro”, sob o coman-
do da executiva Paula Harraca. O
objetivo é acelerar as mudanças na
companhia. “Juntas, essas áreas
criam uma potência para transfor-
mar a organização e os negócios,
porque o futuro não é obra do aca-
so, mas sim de um processo de co-
criação que traz soluções inovado-
ras e têm impacto em toda a socie-
dade”, diz a executiva.
Lançado em 2019, o programa
de D&I da ArcelorMittal estabele-
ceu quatro pilares para direcionar
iniciativas e construir uma cultura
inclusiva. Dos 17 mil empregados
no Brasil, 14% são mulheres — na
operação 7% e em cargos de lide-
rança, 9%. A meta é chegar a 30%
em 2030 e a 25% no comando.
As ações de D&I também se uni-
ram a programas sociais da Arce-
lorMittal. Um deles é o “STEM
Girls”, para melhorar o ensino e
aprendizagem de ciência, tecnolo-
gia, engenharia e matemática de
meninas de 13 a 18 anos, filhas de
Cristina Kerr, CEO da CKZ: “É preciso criar conexão emocional entre todos”
empresas é incluir PCDs apenas
com objetivo de cumprir a cota
que a lei exige (2% a 5% nas acima
de cem funcionários). “Ser inclu-
sivo é olhar para a competência
da pessoa, não para a deficiência.
É ter plano de desenvolvimento
de carreira, ser acompanhado
pela liderança, como todos, e não
como uma cota de RH.”
Pesquisa da PwC com empresas
DIVULGAÇÃO
empregados ou em comunidades
onde a empresa atua. Adaptado
para o virtual, atendeu 526 meni-
nas entre 2020 e 2021.
Na Usiminas, o programa de
D&I caminha da fase 1.0, iniciada
em 2019, com gênero, para a 2.0
com a inclusão de um quinto pilar
— o de gerações. Cada pilar tem
apoio de um diretor, um líder e 15
participantes, os embaixadores do
tema na empresa.
Em parceria com universidades
e entidades, como o Sesi, um pro-
grama será lançado em 2022 para
funcionários antigos (perto da
aposentadoria) transferirem co-
nhecimento para os mais jovens e
migrarem para outras iniciativas
da Usiminas. “A transição tem de
acontecer, mas com transparência,
dignidade e um plano de carreira
que viabilize a migração”, diz Cesar
Bueno, diretor de inovação e ges-
tão de pessoas da Usiminas. A ideia
é que os mais velhos se desliguem,
mas possam atuar como professo-
res ou empreendedores em dife- Caroline Carpenedo, da Gerdau: “A gente encontrou o caminho, com um programa que capacita mulheres para operação”
rentes áreas e ajudem na formação
dos que chegam.
Na questão de gênero, a Usimi- Universo masculino
nas nomeou duas diretoras nos Perfil dos empregados em 31 usinas do setor, com 103 mil colaboradores*
últimos seis meses e chegou a
Gênero - em % Raça - em %
13% de líderes mulheres — em
2019, eram 7%. Na produção, Homens Mulheres Brancos Negros (pretos e pardos) Amarelos Indígenas Não declaram
passaram de 2,7% para 3,7%. Para 100
2022, o desafio é chegar a 10%. 91,00 90,80 90,20 50
44,9 45,3 49,2
Na CSN a diversidade e inclusão 80 44,3
40 41,9 39,3
ganhou neste ano uma área corpo- 60
30
rativa, com ações de equidade ra-
cial, capacitação de jovens, gênero 40 20
e PCDs. Na siderurgia da CSN, hou- 10,1 9,9
20
8,1
10
ve aumento de 7,5% para 10,7% no 9,0 9,20 9,80 2,5 2,5 1,4
percentual de mulheres de 2017 a 0 0 0,2 0,2
0,2
2020. A meta é chegar a 28% em 2018 2019 2020 2018 2019 2020
2025. Outro desafio é sair do pata-
Faixa etária - em %
mar de 1% de PCDs em 2020 para
Até 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos Acima de 50 anos
5% em 2030, o que deve ser feito 50
com o programa Capacitar. Atual- 40,1
mente, 53,5% de profissionais são 40 39,2 40,0
de raça negra, acima da média do 30
setor (49,2%). “O respeito à singu- 24,7 24,0 25,7
laridade de cada um se reflete em 20 22,0 22,6 22,1
resultados de inovação, capacida- 11,7 10,9 10,4
10
de resolutiva e lucratividade, além 2,4 2,4 1,8
0
de atrair talentos e melhorar o cli-
2018 2019 2020
ma organizacional”, diz Alan Ricie-
Fonte: Instituto Aço Brasil e consultorias. *2020
ri Gianotti, gerente de D&I da CSN.
DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO
cio social. Vai ter sempre a dança
das cadeiras, com os mesmos
profissionais pulando de uma
empresa para outra.”
As lideranças também devem
ser mais treinadas para observar
a questão de vieses inconscien-
tes — comportamentos basea-
dos em preconceitos, crenças
culturais e estereótipos — em
processos de promoção, recruta-
mento e até demissão.
Esses vieses formam barreiras
invisíveis que dificultam o avan-
ço das mulheres e de outros gru-
pos, além de afetar a saúde men-
tal e a percepção das pessoas a
respeito de si mesmas. “Não são
intencionais, são fruto de costu-
mes e valores ao longo da vida e
reflexo da educação, trabalho e
até de programas da TV. Mas pre-
judicam a carreira, reduzem a
chance da equidade e favorecem
os homens”, explica Kerr.
Em um processo de desliga-
mento, quem demite pensa em
dispensar a mulher porque ela
não é o chefe da casa. Esse é um
exemplo de viés inconsciente.
“Só que hoje 45% dos lares são
providos por mulheres segundo
Gabriela Augusto, da Transcendemos: programas devem ouvir o chão de fábrica uma pesquisa da FGV”, afirma a
CEO da CKZ. Os comportamen-
de 40 países mostra que 79% dos nas mais abertas à diversidade de investimentos em infraestrutura tos inconscientes também levam
programas de D&I ainda estão em gênero têm até 55% mais probabi- e na formação. “Só assim se des- as pessoas a pensar que agres-
estágios básicos de amadureci- lidade de ter resultado financeiro cobre que não há banheiro femi- sões menores são normais,
mento. Somente 16% têm como fo- superior a outras da mesma área nino em alas inteiras ou que um quando não são. “Não existe pia-
co inovar ou ampliar negócios. “As de atuação. Já nas menos diversas, uniforme é inadequado ao cor- dinha respeitosa”, afirma Kerr.
ações de diversidade ainda não são esse percentual é de 28,6%. po de uma mulher e diminui sua De acordo com os especialis-
usadas com alicerce estratégico Para a advogada Gabriela Au- produtividade.” tas, é necessário fortalecer os ca-
para ampliar a inovação e a perfor- gusto, diretora da consultoria A abertura de vagas para gru- nais de denúncia e punir aque-
mance. E poderiam”, diz Camilo. Transcendemos, os programas pos diversos precisa estar aliada les que insistirem em não seguir
Outro estudo da Mckinsey reve- de D&I precisam ouvir os funcio- à formação e desenvolvimento. as regras, após receber orienta-
la que empresas latino-america- nários do chão de fábrica e fazer “Só abrir vagas não gera benefí- ção e treinamento. (CR)

Especial | Siderurgia
Reciclagem Consumo anual médio per capita de produtos de aço permanece estável desde os anos 1980
Escassez de sucata impede avanço maior
Carin Petti
Para o Valor, de São Paulo
Garrafas pet, alumínio, papel. É
o que costuma vir à cabeça quando
o assunto é reciclagem. “Pouca
gente sabe que o aço é de longe o
produto mais reciclado do mun-
do”, afirma a diretora de assuntos
institucionais do Instituto Aço Bra-
sil, Cristina Yuan. Segundo dados
da entidade, seus associados reci-
claram no ano passado 8 milhões
de toneladas no país.
A quantia equivale a 30% das 27
milhões de toneladas de aço pro-
duzidas no período — percentual
alinhado com a média mundial.
Os números se referem aos dez
grupos empresariais que integram
o instituto, responsáveis por cerca
de 85% do aço feito no país.
“Graças à reciclagem, pode-
mos dizer que o aço é ecológico,
pois pode ser reciclado infinita-
mente”, afirma Guilherme Lenz e
Silva, professor do departamen-
to de engenharia metalúrgica e
de materiais da Poli-USP. “Se não
fosse assim, a conta ambiental
não fecharia”, afirma.
Para crescer mais, porém, a re-
ciclagem enfrenta um obstáculo:
a escassez de sucata, resultante do
consumo reduzido de produtos
de aço. Enquanto no mundo, o
consumo anual médio per capita
saltou de 128,3 quilos para 227,3
quilos entre 1980 e 2020, no Bra-
sil ficou estagnado, com variação
de 100,6 quilos para 100,9 quilos,
segundo o Aço Brasil. Ao mesmo
tempo, do outro lado do mundo,
entre os consumidores chineses, o
volume saltou de 32 para 691,3
quilos no período.
Como resultado, o país asiáti-
co, líder mundial na produção si-
derúrgica, deve se tornar o gran-
de destaque da reciclagem nas
Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais do Instituto Aço Brasil: “Pouca gente sabe que o aço é de longe o produto mais reciclado do mundo”
próximas décadas, quando os
produtos atualmente em uso fo-
rem descartados. O ciclo, porém,
é longo. “Na média, o aço se torna
sucata em 40 anos”, afirma a ge-
rente-geral de meio ambiente da
Gerdau, Cenira Nunes.
Atualmente o primeiro lugar
no ranking mundial da recicla-
gem fica com os Estados Unidos,
onde 70% do aço tem origem em
produtos descartados. “Como o
país viveu um longo ciclo de de-
senvolvimento econômico no sé-
culo XX, lá há mais material para
reciclar”, diz Yuan.
Também colabora para isso a
vida útil mais curta dos bens de
consumo no país. “Um carro
americano vai para o ferro-velho
muito mais cedo que um brasi-
leiro”, exemplifica Lenz e Silva.
Diferentemente do que ocorre
com outros materiais, o aço man-
tém suas propriedades mecâni-
cas após a reciclagem. Com isso, a
sucata ganha papel estratégico
pelo mundo afora. Para evitar
sua falta, pelo menos onze países
já proibiram ou taxaram suas ex-
portações, segundo o Instituto
Aço Brasil. Entre eles, estão Chi-
na, Indonésia, Índia, Argentina,
Paquistão, Ucrânia e Rússia.
Maior recicladora de aço da
América Latina, a Gerdau tem oi-
to usinas no Brasil e 27 no mun-
do para reciclagem como forno
elétrico a arco. No ano passado, a
empresa utilizou globalmente
11 milhões de toneladas de suca-
ta na produção (os números do
Quarta-feira, 29 de setembro de 2021
DIVULGAÇÃO
Brasil não são divulgados). Para
2021, a previsão é de um volume
40% maior, segundo Nunes. No
processo, o aço reciclado é pro-
duzido em média com aproxi-
madamente 80% de sucata e 20%
com ferro gusa, obtido a partir de
minério e carvão vegetal. “A pro-
dução com 100% de sucata é tec-
nologicamente possível, mas isso
raramente ocorre aqui pela falta
de material descartado no mer-
cado”, afirma a executiva.
Para a reciclagem, a Gerdau
| Valor | F11
compra a sucata de fontes como
cooperativas, sucateiros e indús-
trias. Na planta, o material passa
por um processo de limpeza para
retirada de impurezas. A sucata é
então fundida no forno elétrico a
arco. No processo, é adicionado
ferro gusa, feito a partir de minério
de ferro e carvão vegetal.
Outros insumos são acrescen-
tados na etapa de refino que
ocorre no forno panela, para dar
ao aço as características necessá-
rias para cada tipo de uso. O ma-
terial produzido é reaquecido
para passar pelo processo de la-
minação e ganhar a forma final
para a venda, como fios máqui-
na, placas ou vergalhões.
Na Gerdau, o ferro gusa mis-
turado com a sucata de ferro e
aço vem de outras unidades da
empresa. Essa é a prática mais
comum no mercado. Uma exce-
ção é a usina da Siderúrgica Nor-
te Brasil (Sinobras), a maior reci-
cladora das regiões Norte e Nor-
deste, localizada na região do
Carajás, no sul do Pará.
Por ser produzido na mesma
planta — uma usina mista entre
integrada e aciaria elétrica –—, lá
o ferro gusa pode ser carregado
no forno elétrico a arco em esta-
do líquido, sem necessidade de
primeiro transportá-lo em esta-
do sólido para derretê-lo nova-
mente. “Essa rota de produção
possibilita uma redução de até
40% na energia elétrica deman-
dada na produção do aço bruta”,
diz o diretor de sustentabilidade
da empresa, Clayton Labes.
Segundo ele, no ano passado a
Sinobras utilizou cerca de 300
mil toneladas de sucata, como
fogões, geladeiras, estruturas
metálicas e sobras de processos
industriais. Para 2021, a previsão
é de 340 mil toneladas.
F12 | Valor | Quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Especial | Siderurgia
DIVULGAÇÃO

Sustentabilidade Índice médio de

reúso de água foi de 97% em 2020

Companhias
investem em
sistemas de
dessalinização
Carin Petti
Para o Valor, de São Paulo
Há décadas as siderúrgicas
têm adotado ações em busca de
maior eficiência hídrica — proje-
tos essenciais para enfrentar
tempos de escassez de água.
“Desde as privatizações, nos anos
90, o setor vem fazendo o dever
de casa e investindo em circuitos
fechados e implementação de
processos a seco”, diz Guilherme
Lenz e Silva, professor do depar-
tamento de engenharia metalúr-
gica e de materiais da Poli-USP.
As medidas são necessárias em
função do imenso volume de água
exigido em processos como refri-
geração de equipamentos, limpe-
za e purificação de gases. “Uma
usina de grande porte utiliza tanta
água quanto uma cidade como Be-
lo Horizonte”, exemplifica Cristina
Yuan, diretora de assuntos institu-
cionais do Instituto Aço Brasil.
“Mas, assim como o uso, a reu-
tilização também é muito gran-
de”, pondera Lenz e Silva. Segun-
do dados do Instituto Aço Brasil,
no ano passado o índice médio
de recirculação ficou em 97% da
água doce utilizada nas usinas
das empresas filiadas à entidade,
responsáveis por 85% da produ-
ção nacional de aço bruto.
Na ArcelorMittal Tubarão, loca-
lizada em Serra (ES), 97,8% da água
é recirculada. Desde 1983, a em-
presa capta água do Atlântico para
refrigeração de equipamentos.
Hoje 96% da água utilizada é salga-
da, destinada a processos indus-
triais como a refrigeração da co-
queria (onde é produzido o coque,
utilizado na produção do aço) e às
seis centrais termoelétricas que
abastecem à planta.
Os outros 4% correspondem à
água doce, utilizada também para
resfriamento, além de controle
ambiental e consumo humano.
Parte desse volume agora vem de
uma planta de dessalinização de
água do mar, inaugurada no últi-
mo dia 14. Com investimento de
R$ 50 milhões, o sistema tem capa-
cidade inicial para dessalinizar
500 m3/hora de água — quantida-
de suficiente para abastecer cerca
de 80 mil pessoas por dia, segundo
a empresa. A captação no oceano é
feita com a chamada tecnologia de
osmose reversa, comum em países
como Israel, Espanha e EUA.
Segundo a siderúrgica, trata-se
Helena Guerra, da CSN: “Deixamos de captar do rio Paraíba do Sul um volume suficiente para abastecer uma população de 16 milhões de pessoas por dia”
da maior planta de dessanilização
do país e a única no mundo do
grupo ArcelorMittal. Como a ins-
talação é modular, há possibilida-
de de instalação no futuro de duas
outras iguais, somando mil metros
cúbicos. A água tratada substituirá
parte do volume consumido do
Rio Santa Maria da Vitória.
A busca de autossuficiência hí-
drica se tornou ainda mais rele-
vante nos últimos anos. “Na estia-
gem de 2015, a empresa chegou a
enfrentar racionamento uma vez
por semana. Em 2016, fomos no-
vamente afetados pela escassez”,
conta João Bosco Reis da Silva, ge-
rente-geral de sustentabilidade e
relações institucionais da usina.
Na ocasião, foram implementa-
das diversas medidas para redução
do consumo de água doce, que
caiu 36%, para 1.840 m3/hora. En-
tre as ações, a empresa investiu R$
23 milhões na modernização da
estação de reúso industrial. Os fun-
cionários também foram consul-
tados na procura de novas formas
de economia. “Recebemos 190
ideias, que iam de formas de redu-
zir vazamentos a um novo sistema
para as torneiras do banheiro.”
Neste mês a empresa assinou
termo de compromisso que prevê,
por 25 anos, a compra de 540
m3/hora de água de reúso de uma
estação de tratamento esgoto da
Companhia Espírito Santense de
Abastecimento (Cesan) em um ter-
reno doado pela siderúrgica. “A ex-
pectativa é que a licitação para a
obra ocorra em 2022 e o empreen-
dimento fique pronto em 2025.”
Entre outras usinas que vêm in-
tensificando os esforços para apri-
morar a gestão hídrica está a Presi-
dente Vargas, da CSN, em volta Re-
donda. Nos últimos 20 anos, se-
gundo a empresa, o volume de
água captado caiu 70%, de 8,8 m3/s
para 2,6 m3/s, mesmo com a am-
pliação do parque fabril, com a
instalação de uma nova central
termelétrica e das fábricas de aços
longos e de cimento. A redução no
consumo é resultado de projetos
para reúso de água, como o de re-
circulação de água na unidade car-
boquímica, implementado em
2017, e no pátio de matérias- pri-
mas, iniciado em 2020. Juntas, as
iniciativas exigiram investimento
de R$ 82 milhões.
Atualmente a Usina Presidente
Vargas recircula 94% da água utili-
zada em processos industriais, em
comparação com 84,5% em 2008.
“No total, a usina recircula 40.000
litros de água por segundo. Ou se-
ja, deixamos de captar das águas
do rio Paraíba do Sul um volume
suficiente para abastecer uma po-
pulação de 16 milhões de pessoas
por dia”, afirma Helena Guerra, di-
retora de sustentabilidade, meio
ambiente, saúde e segurança do
trabalho da CSN. Um destaque é a
planta de aços longos. “Lá, 97% da
água é recirculada e os outros 3%
vêm de reúso da água dos motos-
sopradores dos alto-fornos da usi-
na, sem necessidade de captação
de água do rio”, diz a executiva.
Mais ao norte, na região metro-
politana de Fortaleza, na Compa-
nhia Siderúrgica do Pecém (CSP), a
recirculação da água fica em
98,18%. “Desde que começamos a
operar, não sentimos o impacto de
crises hídricas”, afirma Marcelo
Baltazar, gerente de meio ambien-
te da CSP. Para reduzir o consumo e
também a geração de lama em
processos de tratamento, a empre-
sa purifica os gases da aciaria com
um processo a seco. O gás é então
utilizado na geração de energia
termelétrica — prática comum nas
usinas integradas desse setor ele-
trointensivo.

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