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A INDÚSTRIA DO

AÇO E A
SUSTENTABILIDADE

Fernando Pires
Dynamo
• Contexto/Diagnóstico

• Ações/Desafios

• Implicações para o ambiente de negócios /Companhias

• Indústria do Aço
IPCC Contexto/Diagnóstico

Sixth Assessment Report


Climate Change 2021 – The Physical Science Basis
 Science-based
 234 autores de 65 países
 14 mil publicações científicas
 78 mil comentários de revisores
 Agregação de inteligência coletiva
 Modelos se sofisticaram, abundância de dados, constatação empírica
 Observação e mensuração da concentração dos gases
 Maior granularidade, impactos por regiões
Incidência de extremos de temperature sobre a terra

 Relação “inequívoca”
da atuação humana

 “Virtualmente certo” enfrentarmos


extremos de calor

Time is running out


Emergência climática
Proximidade de pontos sem
retorno

Fonte: IPCC Sixth Assessment Report -Climate Change 2021 – The Physical Science Basis
Ações/Desafios

Pauta de ação:

 Necessidade de ação global coordenada no âmbito das instâncias


oficiais: compromissos críveis, governança adequada (registro,
certificação, controles) e trajetória de metas

 NDCs (contribuições nacionalmente determinadas)

 Desenvolver mecanismos para internalizar as externalidades:


precificar as emissões e estabelecer um mercado de carbono
regulamentado.
Preço de CO2 para geração de eletricidade, indústria e produção de energia
no cenário de emissões net zero

Fonte: IEA – Net Zero by 2050: A Roadmap for the Global Energy Sector
Implicações para o ambiente de negócios /Companhias

• “Licença para operar” está em jogo

• Mudanças de valores, reordenamento de prioridades.


Alterações importantes nas preferências dos consumidores,
atenção dos reguladores, atuação dos legisladores. Atração de
talentos, millenials na força de trabalho. Transformação
cultural.

• Risco de integridade e reputação– transparência, mídias sociais,


cadeia de suprimento
• Engine No. 1 extends gains with a third seat on Exxon board

• Climate Change Litigation Bombshell: Dutch Lower Court Orders Royal


Dutch Shell to Reduce CO2 Emissions

• France to ban some domestic flights where train available

• Why Amsterdam Is Giving Up on Natural Gas


The city plans to wean its homes off domestic natural gas by 2050, starting now

• Consumers Expect Brands to Address Climate Change

• “Show Me The Purpose!” What The “Climate Change Generation” Expects From
Businesses And Prospective Employers

• The Increasing Dangers Of Corporate Greenwashing In The Era Of Sustainability


• Cuidar com diligência dos temas de sustentabilidade é sinal de gestão
prudente, de quem pensa no longo prazo.

• Evidências de redução do custo de capital. Equity mais valorizado, custo


de dívida menor

• Sinal para os investidores de importante proteção contra os riscos de


cauda.

• No momento em que mercados e Bacens se preocupam com aumento do


risco sistêmico. Maior probabilidade de frequência de eventos extremos,
severos - “green swan” – trazendo instabilidade financeira sistêmica
(relatório BIS). Percepção de aumento de risco de crédito, de mercado, de
liquidez, de seguro e de operação.
 Mudança na paisagem competitiva
 Alterações relevantes de custos/preços relativos. Entre e intra setoriais
 Quedas de barreiras, proteções duramente conquistadas.
Impacto da Precificação do Carbono
Aço Alumínio Cimento

EAF-sucata BF-BoF Brasil Mundo Brasil US

Preço U$S/ton 1000 1300 2400 2400 100 125

Intensidade de CO2eq/ton 0.3 2.2 2.7 12.0 0.56 0.63

Preço CO2 eq U$S/ton 100 100 100 100 100 100

Custo Co2/Preço do produto 3% 17% 11% 50% 56% 51%

Fontes: Diversas, elaboração Dynamo


• “Inflação verde” vai atingir setores de forma diferenciada, trazendo desafios
destintos de pricing power.

• Velocidade é importante – próximos 10 anos são decisivos. Tempo se


acelerando. Companhia net zero em 2030 merece prêmio sobre net zero em
2050. Quanto mais cedo, melhor. A trajetória é importante. Não é só chegar
lá em 2050.

• Riscos na transição – ficar ancorado na mentalidade “stranded assets”/ ”sunk


costs”. Manutenção do status quo pode ser fatal para as empresas.

• Aumento da incerteza nas decisões de alocação de capital. Menor visibilidade


no tempo, horizonte de planejamento descontínuo.

• Temporada de decisões difíceis para as companhias.


Indústria do aço
• Aço é um produto essencial para a vida das pessoas e para o bem estar das sociedades.

• Ubíquo, das necessidades básicas – alimentação, energia, transporte, saúde, moradia – ao


entretenimento, serviços em geral, tecnologia, consumo discricionário.

• Efeito multiplicador – econômico e social. Cada emprego na indústria gera 7 outros.


Sindicatos fortes

• Estratégico, associado à segurança nacional, questões geopolíticas

• Componente fundamental nos materiais que integram uma economia mais sustentável –
fontes de energia, transporte, dutos, equipamentos de captura de carbono, componentes
para indústria, etc.

• Demanda por aço continua crescendo, mesmo em um cenário de aumento da qualidade dos
materiais e de consumo mais eficiente
• Por outro lado, aço corresponde a 8% da demanda global de energia e 7%
das emissões

• Um dos setores considerados como de “difícil descabonização”:


(i) Manufatura necessita temperaturas elevadas
(ii) Etapa de redução do Fe usa combustível fóssil (carbono) gerando
CO2.

• Sem descarbonização do aço, não há economia de baixo carbono

• 75% da demanda energética do setor vem do carvão. Maior uso de carvão


entre os segmentos industriais. Maior parte das plantas na China, com
idade média de apenas 13 anos.
Distribuição geográfica, idade média e rotas da produção de aço

• Excesso de capacidade na ‘pior’ rota


Fonte: IEA – Iron and Steel Technology Roadmap • Indústria tem que se reinventar
• Descarbonização da indústria deve vir por diversos vetores somados. Melhoria nas
rotas existentes: inovações no alto-forno (exemplo Vale briquetagem), aumento
de share da rota de sucata (100% reciclável)-mini-mill, além da necessidade de roll
out intenso de rotas tecnológicas ainda não comerciais. Injeção de H2 verde
(eletrólise) ou azul (com captura e armazenagem de carbono), energia renovável
(eletricidade), uso de biomassa e captura/armazenamento de carbono (CCS)

• IEA estima necessidade de uma planta de DRI-hidrogênio por mês a partir do


momento em que a tecnologia se torna disponível e uma nova instalação de
captura de carbono em larga escala a cada 3 semanas a partir de 2030.

o Custos podem ser expressivos – CCS e eletricidade zero-C hoje parecem melhores
o Hidrogênio bem mais caro
o Biomassa depende muito da matéria-prima/região
• Intensidade de carbono varia bastante conforme as rotas viáveis: alto-forno com coque e
gusa; forno-elétrico com sucata; coque vegetal com energia renovável e
reaproveitamento de gases e resíduos. Companhias em diferentes estágios.

• Precificação do carbono somada à realidade muito dispersa de intensidade de carbono


na indústria vai expor diferenciais competitivos importantes. Transição precisa ser
cuidadosa.

• Adicionalmente, acesso diferenciado à energia renovável deverá determinar o alcance


de tecnologias promissoras eletrointensivas como o hidrogênio verde.

• Amplo espectro de atuação dos governos:


o subsídios ao desenvolvimento tecnológico (U$ 25 bi/ano -> U$ 90 bi/ano)
o alocação setorial das permissões para emitir no âmbito da definição das NDCs
o proteção à competitividade indústrias locais e evitar vazamentos– carbon border
adjustment mechanism (EU)
• Brasil – parte na frente com matriz elétrica mais limpa, minério de
qualidade, disponibilidade de sucata e acesso à biomassa.

• Mas não pode ficar parado nem jogar todas as fichas em ‘capturar’
proteção nesse momento de transição. Avanço das tecnologias DRI-
hidrogênio e CCS pode reformar a indústria no futuro.

• Estratégia baseada exclusivamente em extrair vantagens relativas atuais


pode ser perigosa e se provar míope mais à frente.
ANEXOS
Últimos 250 anos – revolução industrial e tecnológica – crescimento extraordinário,
aumento sem precedentes da qualidade e expectativa de vida. Melhor dos mundos.

PIB global per Capita

Fonte: The Economics of Biodiversity: The Dasgupta Review


Crescimento econômico, aumento da riqueza e do capital produtivo às custas da depreciação
do capital natural. Natureza considerada como bem livre -> externalidades negativas –>
mudança climática e biodiversidade. Pior dos mundos.

Riqueza Global per Capita 1992-2014


Estradas, construções,
Equipamentos, fábricas

Conhecimento, saúde,
educação, aptidões

Ar, água, florestas,


Oceanos, paisagens

Fonte: The Economics of Biodiversity: The Dasgupta Review


Temperatura da superfície da terra em relação a 1850-1900

 Manter o status
que nos leva aos
4 oC

 Emissões
retornam ao nível
pré-pandemia

 Acumulação de
GEE continua
aumentando
Fonte: IPCC Sixth Assessment Report -Climate Change 2021 – The
Physical Science Basis
 Urgência x agenda climática desde Estocolmo-72 (??)

 Convenção do Clima Rio-92, compromissos das partes:

• Elaborar inventários nacionais de emissões de gases de efeito


estufa;

• Implementar programas nacionais e/ou regionais com medidas


para mitigar a mudança do clima e se adaptar a ela;

• Promover o desenvolvimento, a aplicação e a difusão de


tecnologias, práticas e processos que controlem, reduzam ou
previnam as emissões antrópicas de gases de efeito estufa;
Possíveis “explicações”:

 Processos ambientais são governados por características próprias. Não-


lineares, cumulativos, se autoalimentam, são silenciosos (invisíveis) e
irreversíveis. Apresentam pontos críticos, limiares de mudança de
fase/regime repentinos. Sistemas complexos que desafiam nosso modo
de pensar e de perceber o mundo de forma linear.

 Problema de ação coletiva global que envolve diversas escalas de


tempo. Dificuldade de coordenação é enorme.
Progressão nas atualizações das NDCs desde 2015…

Fonte: UN FCCC/PA/CMA/2021/8 - 17.sep2021


... mas, longe de suficiente
 Trajetória de 2oC necessita queda de 25% em 2030 em relação a 2010
 Compromissos atuais das NDCs projetam aumento de 16% (2.7oC no final do século)

 NDCs
precisam ser
mais
ambiciosas

Fonte: UN FCCC/PA/CMA/2021/8 - 17.sep2021


 Fundamental desenvolver mecanismos para internalizar as
externalidades: precificar as emissões e estabelecer um mercado de
carbono regulamentado. Razões para precificar:

Fonte: Mercado de Carbono - Cebds


Projeções de preços no mercado voluntário global –
foco em 2030 ($/tCO2, a preços de 2020)

Fonte: Trove Research


Emissões globais de GEE –
Padrões consistentes com metas do Acordo de Paris (CO2eq bi)

Fonte: Climate Action Tracker, 2021


Desafio do Investimento

Capex médio annual compatível com cenário Net Zero

Fonte: IEA – Net Zero by 2050: A Roadmap for the Global Energy Sector
Desafio Tecnológico
Reduções diretas de CO2 no Cenário de Desenvolvimento Sustentável (SDS)
por padrão de tecnologia atualmente disponível

Fonte: IEA – Iron and Steel Technology Roadmap


Desafio do Comportamento
Papel da mudança de comportamento e da tecnologia no cenário Net Zero

8%

55%

37%

Fonte: IEA – Iron and Steel Technology Roadmap

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