UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE- UFAC

ADRIANA DE ANDRADE CABRAL

MONTEIRO LOBATO E AS POLÊMICAS ENVOLVENDO SUAS

OBRAS INFANTIS
 Rio Branco
2021

Monteiro Lobato e as Polêmicas Envolvendo Suas Obras Infantis

Monteiro Lobato (1882-1948), foi escritor e editor brasileiro pré-modernista e

possui muitas obras como destaque na literatura brasileira infantil. É reconhecido por
ser o precursor da literatura infanto-juvenil no Brasil, a maioria das suas obras são
voltados para o público infantil e tinha preferência por contos e fábulas. Sua
linguagem simples e cheia de fantasias, sempre chamou a atenção das crianças.
Uma das suas obras mais conhecidas é o Sítio do Pica Pau Amarelo, que mais tarde
foi transformada em séries da televisão brasileira. Na contemporaneidade, Lobato foi
acusado de ser racista em algumas partes das suas obras e muitos intelectuais
comentaram e deram suas opiniões sobre o assunto.
Lobato sempre foi muito sincero em seus discursos e falava sem medo suas
críticas. Dedicou-se na causa do nacionalismo e suas obras sempre tinham uma
nota de sarcasmo. Retratava o que se passava na sociedade. A época em que
Lobato viveu, diz muito sobre sua escrita e conteúdo das suas obras, sua linguagem
simples, coloquial, expondo a realidade social brasileira, o nacionalismo, e a
marginalidade das personagens: o sertanejo, o caipira, o mulato, características do
período pré-modernista, assim, Lobato objetivava denunciar um Brasil miserável,
marginalizado, preconceituoso, tal como outros autores críticos daquela época.
O Conselho Nacional de Educação- CNE em 2010 ordenou que as obras de
Lobato não fossem mais distribuídas às escolas públicas e para justificar tal ato,
citou trechos da sua obra, mas o Ministério da Educação pediu que repensasse a
decisão e então o CNE fez uma recomendação, que os livros viessem
acompanhados de uma nota para que o professor regente pudesse contextualizar os
trechos da obra de acordo com o contexto histórico em que ela foi escrita.
Um ano depois, o caso chegou ao Supremo, por meio de um mandato de
segurança do Instituto de Advocacia Racial e do técnico em gestão educacional
Antônio Gomes da Costa Neto, afirmando que nas obras de Monteiro Lobato possui
elementos racistas. O processo: (MS 30.952), ainda corre no STJ- Supremo Tribunal
Federal por meio de um plenário virtual.
Diante dessas polêmicas, estudiosos começaram a dar suas opiniões em
relação às obras de Lobato. Para o secretário de Educação e professor de Literatura
de Taubaté, terra de Monteiro Lobato, Carlos Rodrigues, afirma o seguinte:

“A polêmica não é em relação ao livro, não é em relação ao texto, o que se

procura entender no Brasil é que há um descompasso histórico entre a obra
de Lobato e a visão e reformulação do ensino de história no país, ele
(Monteiro Lobato), trabalhou a linguagem de forma histórica, é a visão de
seu tempo, o Brasil precisa sentir isso”.

Segundo o professor do departamento de letras da UFSCar e doutor em

literatura, Wilson Alves Bezerra, Lobato é o grande ícone da literatura infantil
brasileira.
“Monteiro Lobato é uma figura central da cultura brasileira. Ali na virada do
século XIX para o século XX, ele foi pioneiro da indústria editorial, ele tinha
a editora do Brasil. Ele foi um grande difusor da cultura com a revista do
Brasil. E ele foi o nosso primeiro grande autor de livros infantis, com a
Emília, com o Sítio do Picapau Amarelo. Então, ele é uma figura chave, uma
figura inescapável da nossa cultura. Acho muito merecido que o nascimento
dele seja o dia do livro infantil”, disse Bezerra.

É importante sabermos que a nossa literatura foi produzida em épocas

diferentes e cada uma tem uma característica particular, os autores produziam de
acordo com as suas realidades e muitos deles aproveitavam das suas obras para
fazer um apelo, uma crítica, uma acusação. A literatura não pode ser modificada,
muito menos apagada, ela é um instrumento de educação.

“Fazer a ponte entre a literatura e a realidade é na verdade um elemento de

educação, de formação. A descontextualização de uma obra literária é um
erro imperdoável. Não só pelo ponto de vista da própria literatura, mas
também do ponto de vista legal”. Afirma o sociólogo Maurício Rego.

Ainda sobre o contexto histórico em que Monteiro Lobato viveu, o professor

do departamento de letras da UFSCar e doutor em literatura, Wilson Alves Bezerra
afirma o seguinte:

“A gente tem percebido cada vez mais que existem aspectos do preconceito
racial, do racismo, contra os negros na literatura dele. O que a gente faz
diante disso? Vamos expurgar o Monteiro Lobato da história literária
 brasileira? Evidentemente que não. A gente tem que entender que o Lobato
é um filho das elites brasileiras da virada do século XIX, ele nasceu em
1882 durante a escravidão no Brasil. O racismo faz parte do caldo cultural
no qual ele se formou”, disse Wilson Bezerra.
Lobato consegue em suas obras despertar nas crianças o interesse na leitura
por meio do mundo de faz-de-contas no qual elas podem viajar e sonhar. Através
das suas histórias e personagens marcantes consegue denunciar fatos que
envolvem assuntos políticos-econômico-sociais, como a exploração do petróleo no
mundo fictício “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Ele também valorizou o folclore nacional,
onde seus personagens contracenam com seres fantásticos: o Saci, a Cuca, a Iara,
o Lobisomem, entre outros.
Portanto, é primordial que as obras de Monteiro Lobato continuem sendo
trabalhadas nas instituições escolares, pois contribuíram e ainda fazem esse mesmo
papel nos dias de hoje. Na maioria dos casos, o contato com a leitura das crianças é
por meio das escolas, onde são estimuladas a experimentarem o universo cultural,
contribuindo assim para o desenvolvimento intelectual e senso crítico de cada
indivíduo. E essa função, Lobato desenvolve muito bem nas suas criações literárias.
Suas produções possibilitam o desenvolvimento do interesse pela leitura, já que na
fase inicial de aprendizagem das crianças, elas gostam de histórias de aventura e
fantasia, assim fica mais viável comparar com a realidade.
Desse modo, reforço que as obras de Lobato despertam nas crianças/alunos
o interesse pela leitura, já que são repletas de sensações, emoções e fantasias, que
fazem a criança viajar e sonhar no seu imaginário, contribuindo para uma formação
prazerosa, além do enriquecimento intelectual e cultural. Seria interessante que seus
textos fossem preservados naturalmente, sem perder sua essência e história, mas
muitos já foram adaptados para suavizar parte das polêmicas, alguns livros vêm com
notas de rodapé explicativas. O que importa é que suas obras sejam todas
disponibilizadas e que o leitor faça suas escolhas diante das múltiplas possibilidades
reunidas no conjunto de obras literárias de Lobato.
 Referências Bibliográficas

FERRARI, Leonardo. Pré-modernismo. Todo estudo. Disponível em:

https://www.todoestudo-com-br.Acesso em: 13 de maio de 2021.

LOPES, Suellen. A importância da literatura de Monteiro Lobato no ensino

fundamental. UEL, 2012. Disponível em: https://www.uel.br. Acesso em: 24 de maio
de 2021.

MATOZZO, Viviane Maria Forstner. A importância de Monteiro Lobato na

literatura infantil brasileira. O guari. Disponível em: https://oguari.blogspot.com.
Acesso em: 24 de maio de 2021.

MESQUITA, Flávio. Doutor em literatura fala da importância de Monteiro

Lobato. CR8, 2020. Disponível em: https://crb8.org.br. Acesso em: 24 de maio de
2021.

Monteiro Lobato novamente sendo acusado de racismo. Migalhas, 2020.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br. Acesso em: 13 de maio de 2021.

Monteiro Lobato. Wikipédia, 2018. Disponível em:

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Monteiro_Lobato. Acesso em: 13 de maio de 2021.

Na terra de Lobato, estudiosos falam de polêmica sobre obras do escritor. G1,

2012. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia. Acesso
em: 13 de maio de 2021.