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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

INDÚSTRIA CARBONÍFERA NO DISTRITO DE MOATIZE, PROVÍNCIA DE


TETE, MOÇAMBIQUE E SUA INFLUÊNCIA AMBIENTAL DOS SOLOS POR
ELEMENTOS POTENCIALMENTE TÓXICOS

JOSÉ JOÃO PASSE

Tese apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Recursos Minerais e
Hidrogeologia para a obtenção do título de
Doutor em Ciências.

Área de Concentração: Recursos Minerais e Meio Ambiente

Orientador: Professor Dr. Joel Barbujiani Sígolo

SÃO PAULO

2018
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

INDÚSTRIA CARBONÍFERA NO DISTRITO DE MOATIZE, PROVÍNCIA DE


TETE, MOÇAMBIQUE E SUA INFLUÊNCIA AMBIENTAL DOS SOLOS POR
ELEMENTOS POTENCIALMENTE TÓXICOS

JOSÉ JOÃO PASSE

Orientador: Professor Dr. Joel Barbujiani Sígolo

Tese de Doutorado

Nº 593

COMISSÃO JULGADORA

Dr. Joel Barbujiani Sígolo

Dr. Wanilson Luiz Silva

Dra. Wanda Maria Risso Günther

Dra. Sibele Ezaki

Dra. Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues

Dra. Deborah Inês Teixeira Favaro

SÃO PAULO

2018
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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, João Berequeto Passe e Teresa Jairosse, por me terem trazido ao mundo, e à
memória das minhas avós Albertina e Regina, pela sua amabilidade.

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas me ajudaram neste trabalho, dando-me o apoio moral e material


necessário para a construção desta etapa que é muito especial na minha vida.
Neste trabalho agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que tem estado sempre ao meu
lado, em todos os momentos da minha vida.
A minha mãe Teresa Jairosse, pelo amor sincero, carinho, atenção, ajuda, força e pelos
tão sábios ensinamentos repassados, para eu poder enfrentar os obstáculos da vida de cabeça
erguida e ao meu pai João Berequeto Passe, obrigada pela vida, educação e por tudo;
Ao Professor Dr. Joel Barbujiani Sígolo, pela orientação, confiança, paciência,
respeito e incentivo durante toda realização deste trabalho, e pelo grande exemplo de
profissional e cientista que é;
A Professora Dra. Rosely Aparecida Liguori Imbernon, pela qual tive os primeiros
contactos para o ingresso ao programa, o meu muito obrigado.
Ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Minerais e Hidrogeologia por ter aceite
a minha candidatura para a realização deste curso.
Aos meus irmãos, Albertina Passe, Regina Passe, Nelson Passe, Osvaldo Passe, pelo
amor fraterno, carinho, força, atenção e alegria proporcionado em todos os momentos;
À Kesya, Haniel e Keylan, minhas jóias preciosas, filhos tão esperados e amados e
que cedo souberam compreender a ausência do Pai buscando pela tão almejada formação.
Meus queridos, eu vivo os dias por vocês.
A todos os professores do Programa de Recursos Minerais e Hidrogeologia, pelos
conhecimentos transmitidos na minha formação profissional.
Agradeço ao Prof. Dr. Thomas Vincent Gloaguen, da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, pela amizade e disponibilização da carta de recomendação para o
doutorado.
Ao meu eterno amigo Ringo Benjamim Victor, amigo da trincheira, colega inseparável
do trabalho na UPTete (Moçambique), e de carteira na UFRB por fazer parte da minha
história, tornando-se além de um amigo um irmão;
Aos grandes amigos Zefanias Bolene Macamo, Eston Bento Mifolo, Paulo Mandunde
e Sílvio Eduardo pela colaboração, dedicação e auxílio incansável durante todo o trabalho de
campo. O meu muito obrigado do fundo do coração.

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Agradeço paralelamente ao amigo e colega Aniceto Macie pelos momentos
partilhados durante a nossa formação na USP, Universidade de São Paulo. Para além da nossa
formação, a nossa estadia neste quadrante do globo foram momentos preciosos e ímpares
caracterizados por aprendizagens e troca de experiências.
Aos colegas e amigos inesquecíveis, Artinésio Saguate, Angelina Pedro, Juliana de
almeida, Camila, William, Fernando e Muhale pelo apoio, carinho, amizade, e pela
oportunidade de compartilhar momentos de muita alegria e aprendizagem durante a formação.
Aos Membros da banca examinadora por aceitarem a participar da banca deste
trabalho e pelas considerações feitas, o meu profundo agradecimento.
A Universidade Pedagógica de Moçambique pela autorização de continuação dos
estudos;
À CAPES/PEC-PG – Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Nível Superior
e o Programa Estudante Convênio de Pós-Graduação pela concessão da bolsa, sem a qual não
seria possível materializar este sonho.
Ao Governo do Distrito de Moatize e a Direção Provincial dos Recursos Minerais e
Energia de Tete pela prontidão no fornecimento de dados pertinentes a pesquisa. O meu muito
obrigado.
Por fim, àqueles que a memória não deixa lembrar, mas que direta ou indiretamente
me ajudaram a exercitar a paciência, a humildade e a perseverança, fundamentais para a
conclusão desta tese são responsáveis por essa conquista.

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EPÍGRAFE

"Apesar dos nossos defeitos, precisamos


enxergar que somos pérolas únicas no
teatro da vida e entender que não existem
pessoas e sucesso e pessoas fracassadas.
O que existem são pessoas que lutam pelos
seus sonhos ou desistem deles."

Augusto Cury

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RESUMO

PASSE, J.J., 2018, Indústria Carbonífera no Distrito de Moatize, Província de Tete,


Moçambique e sua influência ambiental dos solos por elementos potencialmente tóxicos (Tese
de Doutorado), São Paulo, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 140p.

Sendo o solo, um recurso natural com multiplicidade de funções, torna-se urgente e necessário
protegê-lo de todas as fontes de contaminação. A concentração e distribuição de metais na
superfície dos solos são dependentes da natureza da rocha a partir da qual o solo foi derivado,
dos processos intempéricos e pedogenéticos. Porém, o crescimento industrial e populacional
em Moatize tem influenciado os teores de metais pesados nos solos, impactando a qualidade
deste recurso. A presente Tese tem como principal objetivo caracterizar o grau de
comprometimento ambiental dos solos por elementos potencialmente tóxicos (Co, Cr, Cu,
Mn, Ni, Pb, Sr, Ti, V, Zn e Zr) já determinados no conteúdo dos carvões decorrentes da
industrialização no distrito de Moatize, Província de Tete, Moçambique. Nessa pesquisa
foram coletadas 5 pontos de amostras de solo na área 1 (uma das mineradoras que atuam na
área), 12 pontos de amostras na área 2 (uma segunda mineradora nessa região), 2 pontos de
amostras de poeira nas casa de habitantes próxima a atividade mineira, 5 pontos de amostras
de solo em áreas com mínima atividade antrópica para determinar as concentrações naturais
de metais no solo (área 3) e 2 amostras de carvão mineral designadas UCS e LCS,
provenientes da mineradora Vale Moçambique. A caracterização química das amostras foi
realizada através das técnicas de Fluorescência de Raio-X (FRX) e por Espectrômetro de
Emissão Atômica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES). Os resultados de solos
obtidos por ICP-OES foram comparados com os teores de metais considerados naturais
“background” obtidos em Moatize e os teores das legislações CONAMA (2009) e CETESB
(2016). Os resultados obtidos por FRX indicam que os solos assim como o carvão são
constituídos majoritariamente por SiO2 e Al2O3. Pode-se notar ainda, uma concentração
significativa nas amostras do carvão mineral e solos do SO3. Dos metais potencialmente
tóxicos analisados por FRX, o Cr2O3 apresentou valores relativamente altos em todos os
pontos de coleta de solo e nas amostras de carvão para os compostos com CuO e ZnO. Os
elementos Ti, Mn, Ni, Ba, Pb, Zn, Co, Cr, V e Sr apresentaram concentrações superiores em
relação aos teores de background encontrados nos solos em Moatize principalmente para os
12 pontos de amostras na área 2. Importa salientar ainda que os resultados apresentados
apontam para alterações de alguns elementos químicos nos solos estudados como o Ni, Ba,
Co e Cr, quando comparados com os valores de referência estabelecidos pelas legislações
CONAMA (2009) e CETESB (2016).

Palavras-chave: Elementos potencialmente tóxicos, Contaminação do solo, Legislação


Internacional, Valores de Referência, Qualidade ambiental.

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xii
ABSTRACT

PASSE, J.J., 2018, Carboniferous Industry in Moatize District, Tete Province, Mozambuique
and its environmental influence of soils by potentially toxic elements (Doctoral Thesis), São
Paulo, Institute of Geosciences, University of São Paulo, 140p.

Being the soil, a natural resource with multiplicity of functions, it becomes urgent and
necessary to protect it from all sources of contamination. The concentration and distribution
of metals in the soil surface are dependent on the nature of rock from which the soil was
derived from, the intemperic and pedogenetic processes. However, industrial and population
growth in Moatize has influenced the levels of heavy metals that impacting the quality of the
soil. The main objective of this thesis is to characterize the degree of environmental
compromise of soils by potentially toxic elements (Co, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb, Sr, Ti, V, Zn and
Zr) already determined in the contents of the industrialization in Moatize district, Tete
province, Mozambique. In this research 5 soil samples were collected in area 1(one of the
miners working in the area), 12 were collected in area 2 (a second mining company in this
region), 2 samples were collected with dust collection at house of inhabitants next to mining
activity, 5 samples in areas with minimal anthropic activity to determine the natural levels of
metals in the soil (area 3) and 2 samples of mineral coal designated UCS and LCS from the
mining company Vale Mozambique. The chemical characterization of the samples was
performed using X-Ray Fluorescence (FRX) and Inductively Coupled Plasma Atomic
Emission Spectrometers (ICP-OES). The results obtained by ICP-OES were compared to the
levels of metals considered as natural background obtained in Moatize, the contents of the
laws CONAMA (2009) and CETESB (2016). The results obtained by FRX indicate that the
soils as well as the coal are constituted mainly by SiO2 and Al2O3. It is also possible to note a
significant concentration in samples of mineral coal and SO3 soils. From the potentially toxic
metals analyzed by FRX or Cr2O3, it presented relatively high values at all collection points
and in the samples of coal for the compounds with CuO and ZnO. Ti, Mn, Ni, Ba, Pb, Zn, Co,
Cr, V and Sr showed higher concentrations than the background contents found in Moatize
soils mainly for 12 samples were collected in the vicinity of Minas Moatize Ltda. It is
important to point out that the results presented point to changes in some chemical elements in
the studied soils such as Ni, Ba, Co and Cr, when compared with the reference values
established by CONAMA (2009) and CETESB (2016).

Key words: Potentially toxic elements, Soil contamination, International legislation,


Reference values, Environmental quality.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 27

1.1. Objetivos .................................................................................................................... 30


2. CARACTERIZAÇAO DA ÁREA DE ESTUDO ......................................................... 31

2.1. Localização ................................................................................................................ 31


2.2. Contexto geológico .................................................................................................... 34
2.2.1. Geologia regional ............................................................................................... 34

2.2.2. Aspectos Geológicos Locais ............................................................................... 37

2.3. Geomorfologia e Solos .............................................................................................. 39


2.4. Hidrografia ................................................................................................................. 41
2.5. Aspectos climáticos ................................................................................................... 44
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 46

3.1. Origem e composição do Carvão Mineral ................................................................. 46


3.2. Extração e Beneficiamento do Carvão Mineral ......................................................... 48
3.3. Impactos Ambientais decorridos da extração do Carvão Mineral ............................. 50
3.4. Histórico da Mineração em Moçambique .................................................................. 53
3.5. Histórico da Mineração na Bacia Sedimentar de Moatize ......................................... 55
3.6. Breve histórico das políticas públicas para proteção do solo .................................... 57
3.6.1. Legislação Ambiental Moçambicana ..................................................................... 58
3.7. Definição de termos associados aos metais ............................................................... 61
3.7.1. Os metais traço no solo .......................................................................................... 62
3.7.2. Dinâmica dos metais no solo.................................................................................. 63
3.7.3. Teores Naturais de Metais nos Solos ..................................................................... 65
3.8. Aspectos toxicológico dos metais .............................................................................. 67
3.8.1. Aspectos toxicológicos do Manganês e Titânio ................................................. 67

3.8.2. Aspectos toxicológicos do Bário ........................................................................ 68

3.8.3. Aspectos toxicológicos do Zinco ........................................................................ 69


xv
3.8.4. Aspectos toxicológicos do Chumbo ................................................................... 70

3.8.5. Aspectos toxicológicos do Cobalto .................................................................... 71

3.8.6. Aspectos toxicológicos do Cromo ..................................................................... 71

3.8.7. Aspectos toxicológicos do Cobre ....................................................................... 72

3.8.8. Aspectos toxicológicos do Níquel...................................................................... 72

3.8.10. Aspectos toxicológicos do Estrôncio e Zircônio............................................... 73

4. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 74

4.1. Procedimentos de coleta ............................................................................................ 75


4.1.1. Definição dos pontos e técnicas de amostragens ............................................... 75

4.1.2. Coleta de solo com tubo de PVC ....................................................................... 80

4.1.3. Procedimento de coleta de poeira ...................................................................... 82

4.2. Trabalhos de Laboratório .......................................................................................... 84


4.2.1. Preparação das amostras de solo ........................................................................ 84

4.2.2. Caracterização química do solo e poeira............................................................ 84

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 87

5.1. Análise química das amostras por FRX .................................................................... 87


5.2. Análise química das amostras por ICP-OES ............................................................. 91
5.2.1. Análise química das amostras referentes ao material particulado (poeira) ........... 91
5.2.2. Teores naturais de metais nos solos do distrito de Moatize................................... 94
5.2.3. Análise química das amostras de solo referentes ao primeiro e segundo campo .. 95
5.2.4. Manganês (Mn) e Titânio (Ti) ........................................................................... 97

5.2.5. Bário (Ba) ......................................................................................................... 100

5.2.6. Zinco (Zn) ........................................................................................................ 103

5.2.7. Chumbo (Pb) .................................................................................................... 106

5.2.8. Cobalto (Co) ..................................................................................................... 109

5.2.9. Cromo (Cr) ....................................................................................................... 111

5.2.10. Cobre (Cu)........................................................................................................ 113

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5.2.11. Níquel (Ni) ........................................................................................................ 116

5.2.12. Vanádio (V) ...................................................................................................... 119

5.2.13. Estrôncio (Sr) e Zircônio (Zr)......................................................................... 120

5.3. Considerações sobre as concentrações de metais encontrados nos solos


analisados….. ...................................................................................................................... 122
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 124

6.1. Conclusão................................................................................................................. 124


6.2. Recomendações ....................................................................................................... 125

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 126

ANEXO A: Lei do Ambiente de Moçambique .................................................................. 136


ANEXO B: Resultado de Análise química referente ao primeiro campo (FRX) ............... 142
ANEXO C: Resultado de Análise química referente ao segundo campo .......................... 145
ANEXO D: Resultado de Análise química referente ao terceiro e ao primeiro campo ..... 146
ANEXO E: Resultado de Análise química referente as amostras de carvão mineral ......... 147

xvii
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapas de localização da área em estudo (do autor, 2016) ...................................... 33


Figura 2: Mapa geológico da província de Tete, representando os terrenos tectónicos
(MORAIS, 2011 Apud MACIE, 2015) .................................................................................... 36
Figura 3: Geologia do Distrito de Moatize (VASCONCELOS, 2005) .................................... 38
Figura 4 - Série Produtiva em Moatize e as principais sequências estratigráficas. (Adaptado de
VASCONCELOS, 2005). ......................................................................................................... 39
Figura 5: Graben da Formação Moatize, Suite de Tete, (DNG, 2006). ................................... 40
Figura 6 - Mapa de Altimetria do Distrito de Moatize, (Modificado de DAMBO, 2014) ....... 41
Figura 7 - Hidrografia do Distrito de Moatize (do autor, 2017) ............................................... 43
Figura 8 - Direções preferenciais do vento no distrito de Moatize, (Adaptado do INAM, 2016)
.................................................................................................................................................. 45
Figura 9: Transformações sofridas pelo carvão durante a carbonificação (HARTTMANN,
2017). ........................................................................................................................................ 46
Figura 10: Tipos de carvão mineral e principais usos (TOLMASQUIM, 2016) ..................... 47
Figura 11: Localização das minas de carvão no distrito de Moatize, (Modificado de PONDJA,
2017) ......................................................................................................................................... 49
Figura 12: Inter-relacionamento dos principais impactos ambientais no complexo mineiro de
Moatize. Adaptado de FERREIRA, 2012 (fotos, 2,3,4 e 5 do autor). ...................................... 51
Figura 13 - Antigo terminal de carvão mineral da Carbomoc E. E em Moatize (Fotografia do
autor, 2015)............................................................................................................................... 56
Figura 14 (A e B): Casa de moradores nas proximidades das empresas mineradoras ............. 76
Figura 15: Localização dos pontos de amostragem de solos referentes ao primeiro campo. (do
autor com base no Google earth Pro, 2015) ............................................................................. 77
Figura 16 Localização dos pontos de amostragem de solos referentes ao segundo campo, (do
autor com base no Google earth Pro, 2017). ............................................................................ 78
Figura 17: Localização dos pontos de amostragem de solos referentes aos teores naturais de
metais em solo (do autor com base no Google earth Pro, 2018) .............................................. 79
Figura 18: Coleta das amostras de solo com o tubo de PVC, área de produção agrícola (A),
área próxima as residências (B), (Fotografia do autor, 2017) .................................................. 80
Figura 19 : Coleta das amostras de solo com o tubo de PVC em áreas sob mínima ou nenhuma
atividade antrópica, sob vegetação natural A, B e C, (Fotografia do autor, 2017) .................. 81
Figura 20: Ilustração de caminhões de carregamento de carvão, (Fotografia do autor, 2017) 82
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Figura 21: Poeira trazida das minas à zona urbana por ação de turbulência do vento,
(Fotografia do autor, 2017) ...................................................................................................... 83
Figura 22: Coleta de poeira em residência nas proximidades da mineradora Sul africana Minas
Moatize Ltda, (do autor, 2017) ................................................................................................ 83
Figura 23: Coleta de poeira em residência nas proximidades da mineradora Vale
Moçambique, (do autor, 2017) ................................................................................................. 84
Figura 24: layout da camada Chipanga (VALE-MOÇAMBIQUE, 2016 Apud CASTRO,
2016) ........................................................................................................................................ 86
Figura 25: Distribuição da composição química predominante do solo .................................. 88
Figura 26: Distribuição da composição química principal das amostras de carvão (UCS e
LCS) ......................................................................................................................................... 89
Figura 27: Concentrações dos metais potencialmente tóxicos encontrados nas amostras de
solo ........................................................................................................................................... 90
Figura 28: Concentrações dos metais potencialmente tóxicos encontrados nas amostras de
carvão ....................................................................................................................................... 90
Figura 29: Relação entre a concentração de SO3 nas amostras de solo e de carvão ................ 91
Figura 30: Comparação entre a concentração de metais nas amostras de poeira coletadas..... 92
Figura 31: Efeito do material particulado sobre material de construção em Moatize (A), e em
vegetação (B) (fotografia do autor, 2016) ............................................................................... 93
Figura 32: influência das partículas em suspensão sobre o clima em Moatize, (fotografia do
autor, 2016) .............................................................................................................................. 93
Figura 33: Valores de concentração de Manganês comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) ........................................... 98
Figura 34:Valores de concentração de Manganês comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) ........................................... 98
Figura 35: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo). .......................................... 99
Figura 36: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) ........................................... 99
Figura 37: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) ......................................... 100
Figura 38: Valores de concentração de Bário comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) ......................................... 101
Figura 39: Valores de concentração de Bário comparado com valores de referência
CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo .................. 102

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Figura 40: Valores de concentração de Zinco comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 103
Figura 41: Valores de concentração de Zinco comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) .......................................... 104
Figura 42: Valores de concentração de Zinco comparado com valores de referência
CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo .................. 105
Figura 43: Valores de concentração de Chumbo comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 106
Figura 44: valores de concentração de Chumbo comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 107
Figura 45: Valores de concentração de Chumbo comparado com valores de referência
CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo .................. 108
Figura 46: Valores de concentração de Cobalto comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016)
referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado. ..................................... 110
Figura 47: Valores de concentração de Cromo comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016)
referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado. ..................................... 112
Figura 48: Valores de concentração de Cobre comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 113
Figura 49: Valores de concentração de Cobre comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) .......................................... 113
Figura 50: Valores de concentração de Cobre comparado com valores de referência
CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo .................. 115
Figura 51: Valores de concentração de Níquel comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 116
Figura 52: Valores de concentração de Níquel comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) .......................................... 117
Figura 53: Valores de concentração de Níquel comparado com valores de referência
CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo .................. 118
Figura 54: Valores de concentração de Vanádio comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (2º campo) .......................................... 119
Figura 55: Valores de concentração de Vanádio comparado com concentrações naturais de
metais no solo de Moatize em cada ponto amostrado (1º campo) .......................................... 120
Figura 56: Valores de concentração de Estrôncio e Zircônio comparado com concentrações
naturais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016)
referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado ...................................... 121

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Divisão administrativa do distrito de Moatize ......................................................... 31


Tabela 2-Domínios tectono-estruturais-magmáticos de África. ............................................... 34
Tabela 3 - Concentração de metais traços na crosta terrestre e em rochas e solos de diferentes
regiões do mundo derivados de diferentes materiais de origem ............................................... 63
Tabela 4 : Localização dos pontos de amostragem de solo em Moatize .................................. 76
Tabela 5: Resultado de análises químicas totais dos solos e carvão obtidas por FRX. Valores
expressos em % de óxidos, normalizados a 100%. .................................................................. 87
Tabela 6: Resultados das análises químicas por ICP-OES do material particulado (poeira). .. 91
Tabela 7: Resultados das análises químicas das concentrações naturais de metais em solo de
Moatize em (mg kg-1) ............................................................................................................... 94
Tabela 8:Resultados das análises químicas por ICP-OS do solo coletados na primeira e
segunda campanha de campo. .................................................................................................. 96
Tabela 9: Valores orientadores para solos (mg kg-1) de acordo com o CONAMA (2009),
CETESB (2016), e as concentrações “naturais”(CN) de metais em solos de Moatize. ........... 97

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xxiv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIA – Avaliação do Impacto Ambiental


ARA – Administração Regional de águas do Zambeze
CENACARTA – Centro Nacional de Cartografia e Teledeteção
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
COPA - Ciclo Orogénico Pan-Africano
CNA - Comissão Nacional do Meio Ambiente
CRVD - Companhia Vale do Rio Doce
DNG – Direção Nacional de Geologia
EN – Estradas Nacionais
ER - Estradas Regionais
FRX - Fluorescência de Raios x
IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
ICP-OES - Espectrômetro de Emissão Atômica com Plasma Indutivamente Acoplado
INPF - Instituto Nacional de Planejamento Físico
IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza
ICVL - Consórcio indiano International Coal Ventures Limited
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza
IAGC - International Association of Geochemistry
IUGS - International Union of Geologic Science
INAM - Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique
INE – Instituto Nacional de Estatística.
INPF - Instituto Nacional de Planejamento Físico
LCS – Lower Chipanga Sections
MAE – Ministério de Administração Estatal
MICOA - Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental
MITADER – Ministerio da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural
MOZAL - Mozambique Aluminium
ONU - Organização das Nações Unidas
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
ROM - Run Of Mine
SAZOL - Suid Afrikaanse Steenkool Olie
UCS – Upper Chipanga Sections
USP - Universidade de São Paulo
USEPA - Agência de Proteção Ambiental dos EUA
ZCIT - Zona de Convergência Intertropical

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1. INTRODUÇÃO

No contexto mundial, se por um lado, a atividade de mineração de carvão trouxe


significativas contribuições socioeconômicas, por outro, são amplamente discutidas pelos
impactos negativos no aspecto ambiental tanto no que concerne a sua extração como em sua
utilização, a qual é predominante como fonte de energia em termoelétricas.
Moçambique possui várias jazidas de carvão, sendo a mais conhecida a de Moatize
(Bacia Carbonífera de Moatize), na província de Tete, considerada uma das maiores jazidas
de carvão do mundo, com reservas estimadas em pouco mais de 2,5 bilhões de toneladas.
Com o projeto da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) prevê-se a exploração da mina de
carvão a céu aberto por 35 anos, com produção média anual estimada em 11 milhões de
toneladas anuais de produtos de carvão (carvão metalúrgico e térmico) a serem escoados para
mercados como Brasil, Ásia, Oriente Médio e Europa, (VALE, 2007).
Diante desse cenário o meio ambiente de Moatize vem sendo colocado como questão
prioritária para preservação e proteção. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda
aos países a realização de ações destinadas a alertar sobre a necessidade de conservação dos
recursos naturais e de difusão de tecnologias que visem reduzir a degradação do meio
ambiente. As diferentes atividades humanas provocam impactos ambientais que, em muitos
casos, podem colocar em risco o meio ambiente e a própria qualidade de vida das pessoas
caso essas ações extrativas minerais não venham acompanhadas dos devidos controles
ambientais. Os contaminantes inorgânicos de interesse ambiental que ocorrem naturalmente
em solos são genericamente conhecidos por metais pesados ou mais recentemente, elementos
potencialmente tóxicos.
A distribuição de metais nos solos, sob condições naturais, ocorre de forma
generalizada e possuem cada qual seu “background” em diferentes regiões do mundo.
Entretanto, as atividades antrópicas podem adicionar materiais que contem esses elementos
nos solos modificando assim suas concentrações naturais, os quais podem atingir
concentrações elevadas gerando assim comprometimento quanto a qualidade dos ecossistemas
(DAVIES e WIXSON, 1978; CHEN et al., 1991; HOLMGREN et al., 1993).
A contaminação de solos pode resultar no desequilíbrio físico, químico e biológico dos
solos. Os elementos tóxicos são considerados perigosos poluentes em solo, pois afetam ciclos
biogeoquímicos e se acumulam em organismos vivos, sendo eventualmente, transportados
para humanos via cadeia alimentar. Além disso, a poluição de solos por esses elementos em

27
concentrações potencialmente tóxicas pode inibir a atividade de enzimas microbianas e
reduzir a diversidade de populações da flora e fauna do solo.
A preocupação crescente com a depreciação da qualidade ambiental dos solos
justifica-se pelo fato desse meio físico ser um componente essencial para à vida, pois é
utilizado na produção agrícola e pecuária.
Atualmente são conhecidas diversas fontes contaminantes de solos, tais como:
fertilizantes comerciais, resíduos provenientes da queima de carvão, resíduos industriais,
emissões automotivas, entre outras (SPARKS, 2003).
A mineração é um dos setores básicos da economia dos países, contribuindo para o
bem-estar e a melhoria da qualidade de vida da população, sendo fundamental para o
progresso da sociedade, desde que seja operada com responsabilidade social, levando em
conta os preceitos do desenvolvimento sustentável (FARIAS, 2002).
O carvão mineral está entre os recursos energéticos não renováveis mais importantes
para países que optaram por estabelecer sua matriz energética baseada nele. Suas reservas são
bastante significativas e longevas considerando a atual demanda por essa fonte de energia ou
mesmo para seu emprego em metalurgia. Ocupa assim a primeira posição em abundância e
perspectiva de vida útil (AGUIAR e BALESTIERI 2007). Vale ressaltar que o carvão mineral
é uma das primeiras fontes energéticas e de uso na metalurgia explorada em grandes
proporções pelo homem.
Todavia, o procedimento impróprio no uso do carvão tanto no beneficiamento,
transporte, estocagem e, em especial, quanto à disposição dos rejeitos, ao longo dos anos,
acarreta contaminação e/ou poluição, sobretudo no solo e nos recursos hídricos. Estes
compartimentos são, por outro lado, as principais vias de transferência de contaminação para
o ser vivo (FETTER, 1994).
Das diversas formas de atividades antropogênicas que podem gerar contaminação, as
originadas pelas deposições de rejeitos da mineração de carvão merecem um maior destaque
por apresentarem uma fonte potencial de elementos metálicos potencialmente tóxicos. A
interligação rejeito - solo compromete a qualidade do solo, devido à presença significativa
desses elementos (SIMSIMAN e CHESTERS, 1987).
A humanidade utiliza os recursos naturais do planeta para suprir suas necessidades
contemporâneas, fazendo uso de tecnologias e métodos de extração desses recursos. Por sua
vez, as tecnologias e métodos de extração do carvão mineral parecem de pouca eficiência,
visto que para a retirada deste material acaba gerando um volume de rejeitos muito grande.

28
Na produção de carvão energético, de acordo com Stewart e Daniels (1992), os rejeitos
carboníferos originados nas plantas de beneficiamento, durante o processo de fracionamento,
separação e limpeza do carvão ficam na ordem de 30 a 60% do material minerado de acordo
com sua composição química, e acabam interagindo de maneira poluidora com o meio
ambiente, fazendo com que a ciência procure alternativas mitigadoras desses impactos.
As análises químicas preliminares realizadas em amostras de cinzas de carvões
aflorantes das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André, na bacia sedimentar de Moatize,
indicaram concentrações significativas de alguns desses elementos. As concentrações obtidas
por Vasconcelos et al (2009) (mínima-média-máxima) foram: Ba (101-476-1300 mg kg-1), Co
(3.8-9.9-26 mg kg-1), Cr (9.3-23.2-56 mg kg-1), Cu (14.4-32.7-68 mg kg-1), Mn (9.5-37.4-109
mg kg-1), Ni (4.9-20.8-153 mg kg-1), Pb (3.9-18.8-74 mg kg-1), Sr (8.9-151.9-379 mg kg-1), Ti
(183-1511-4584 mg kg-1), V (21-46.2-128 mg kg-1), Zn (17.6-47-94 mg kg-1), e Zr (8.3-27.4-
109 mg kg-1).
A mineração enquanto atividade econômica que utiliza o valor produzido pela própria
natureza, gera diversas consequências para os trabalhadores da atividade mineradora, para as
populações residentes próximas aos locais de extração mineral, para as populações residentes
próximas ao trajeto do modal de transporte, que pode ser feito através de ferrovias, estradas e
minerodutos, para pescadores e populações residentes próximas aos portos de escoamento da
produção (COELHO, 2015).
A região de Moatize, como nos referimos anteriormente, apresenta grande potencial
mineral de carvão que é explotada tanto pela empresa multinacional CVRD, quanto pela Rio
Tinto Coal Mozambique, atualmente Consórcio indiano International Coal Ventures Limited
(ICVL) e Sul Africana, Minas Moatize Ltda. Essas empresas estão operando dentro da Bacia
Carbonífera de Moatize, extraindo o carvão mineral, em áreas muito próximas das
comunidades locais e dos rios Revúbuè, Moatize e Zambeze principalmente, que são tidos
como fontes de abastecimento para consumo das comunidades locais.
Por fim, os rejeitos carboníferos produzidos e mal administrados pelas mineradoras
produzem um impacto ambiental negativo ao meio ambiente, levando a comprometimento
ambiental do ar, água, solo, assim como a vegetação e a fauna, podendo apresentar elevado
comprometimento ambiental também para as comunidades circunvizinhas à atividade
mineira.

29
1.1. Objetivos

Objetivo Geral

• Caracterizar o grau de comprometimento ambiental dos solos por elementos


potencialmente tóxicos identificados no conteúdo dos carvões decorrentes da
industrialização no distrito de Moatize, Província de Tete, Moçambique.

Objetivos Específicos

• Avaliar os efeitos da ação eólica sobre as pilhas e rejeitos de carvão, implicando na


dispersão da poeira provindas das indústrias Carboníferas e seu provável impacto
ambiental;

• Determinar as concentrações naturais (CN) de metais (“background”) nos solos da


região;

• Determinar os níveis de concentrações dos metais potencialmente tóxicos no solo;

• Comparar os valores obtidos com as CN de Moatize e os padrões limites de


concentração desses elementos baseados em legislações brasileiras, mais
especificamente o CONAMA e CETESB.

30
2. CARACTERIZAÇAO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. Localização

A área de estudo é o distrito de Moatize (Figura 1), que dista 20 km do Município de


Tete, situa-se a NE da cidade capital provincial, entre os paralelos 15° 37’ e 16° 38’ de
latitude Sul e entre os meridianos 33° 22’ e 34° 28’ de longitude Este em relação ao
Meridiano de Greenwich. É limitado ao Norte pelos distritos de Chiúta e Tsangano; a Este
pela República do Malawi; a Sul pelos distritos de Tambara, Guro, Changara e Município de
Tete, através do rio Zambeze e Mutarara através do rio Mecombedzi; e a Oeste pelos distritos
de Chiúta e Changara.
A área distrital de Moatize é de 8426 km2, correspondendo a cerca de 8,6 % da
superfície total da província que é de aproximadamente 98,417 km2 (MAE, 2014).
O distrito tem três postos administrativos: Moatize, Kambulatsitsi e Zóbuè que, por
sua vez, estão subdivididos em dez localidades como ilustra a tabela 1.

Tabela 1- Divisão administrativa do distrito de Moatize

Distrito Posto administrativo Localidade


Moatize-Sede
N’Panzu
Moatize-Sede Benga
Msungo
Zobuè-Sede
Moatize Zobuè Capiridzanje
Nkondeze
Kambulatsitsi
Kambulatsitsi Minjova
Mecungas
Fonte: Adaptado de MAE, 2014.

A repartição geográfica da população é caraterizada por uma maior concentração


populacional nas sedes dos postos administrativos, ao longo dos corredores das estradas
nacionais e regionais (EN 103; EN222; EN223; ER 450; ER 456), ao longo da linha férrea
Moatize-Dona Ana e nos vales dos rios.
Segundo Pacheco (2014), actualmente, a divisão política e administrativa estabelecida,
com propósito do governo divide Moçambique em Províncias, que correspondem a divisão do
primeiro nível, os Distritos ao segundo nível, que por sua vez, se subdividem em Postos
Administrativos (terceiro nível) e estes em Localidades (quarto Nível). Além destas Entidades
do Estado, existem também, os Municípios considerados “governos locais autónomos”.

31
Os povos que habitam o distrito são maioritariamente das etnias Nhungué, que se
distribuem pelos postos administrativos de Moatize-Sede, Kambulatsitsi e autarquia da vila de
Moatize e chewa, localizada no PA de Zobue. Registam-se algumas manchas falantes das
línguas cisena, na sede do posto administrativo de Kambulatsitsi e autarquia de vila de
Moatize, Ci-ndau e Ci-tawara, nos povoados de Nsembedzi, Monga e Catábua, nos PA’s de
Zobue e Moatize-sede, respectivamente (MAE, 2014).
Os habitantes do distrito constituem um mosaico cultural bastante rico em expressão,
pois possuem danças milenares como ao Mafue, Njolo, Nhau, Chintale, Valimba, Utsi, e
outras que se socializam em momentos alegres e tristes.
Excetuando-se as sedes dos postos administrativos, a maior parte da população vive
em habitações de construção precária. Essa habitação é de execução simples, chão térreo, em
geral com uma subdivisão maior, sendo o seu mobiliário muito reduzido. A cama tradicional é
uma esteira de caniço. A família rural é em média, constituída por 4,1 membros, segundo os
hábitos tradicionais. A poligamia é uma forma do homem se atribuir uma posição de relevo na
sociedade, pois quanto maior for o número de mulheres que ele tiver, maior é aceitação e
respeito pela população da zona.
A população dedica-se a prática de agricultura e a criação de gado, sendo o seu regime
alimentar baseado no elevado consumo de hidratos de carbono obtidos a partir da farinha de
milho, mapira e mexoeira, acompanhados de quiabo, feijão manteiga e nhemba, verdura,
peixe e carne.
Existe ao nível do distrito liderança tradicional que, a partir da divisão de trabalho e de
funções entre os diferentes líderes das comunidades que tratam principalmente dos aspectos
tradicionais, tais como cerimonias, ritos e conflitos sociais. A religião dominante é a Sião /
Zione, praticada pela maioria da população do distrito. Existem outras crenças no distrito,
sendo prática corrente que os representantes das hierarquias se envolvam, em coordenação
com as autoridades distritais, em várias actividades de índole social.

32
MOATIZE

Figura 1 - Mapas de localização da área em estudo (do autor, 2016)

33
2.2. Contexto geológico

2.2.1. Geologia regional


A África é largamente composta por um mosaico de cratons e cinturões móveis
arcaicos, amalgamados por cinturões dobrados alongados, de idade proterozóico-câmbrianas.
Estes encontram-se cobertos por sedimentos indeformados e rochas extrusivas associadas, de
idades neoproterozóica, carbonífera tardia a jurássica inicial e cretácico-quaternária
(GABERT, 1984; DIRKS e ASHWAL, 2002), (Tabela 2). Cinturões dobrados mais jovens,
deformados durante as orogenias hercínica e alpina, apresentam apenas extensão local.

Tabela 2-Domínios tectono-estruturais-magmáticos de África.


Evento/Sistema Era/Período Idade
(M.a.)
Sistema do Rifte Este-Africano Fase principal Neogénico Presente 23 – 0
(SREA) Fase inicial Cretácico Paleogénico 140 – 23
Terrenos Gondwanides Karoo Carbonífero Superior - 318 – 180
Jurássico Inferior
Plataformas pós- <542
panafricanas
Pan-Africano Orogenia pan-africana Neoproterozóico - 750 – 490
Câmbrico
Bacias do Pan- Neoproterozóico 900 – 700
Africano inicial
Kibariano/Irumides/Grenvilliano Mesoproterozóico 1450 – 900
Ubendiano/Usagariano Fase tardia Paleoproterozóico ~ 1860
Fase inicial 2100 – 2025
Cratões (terrenos de granitos e rochas verdes) e cinturões Arcaico 3800 – 2500
móveis
Fonte: (GABERT, 1984; DIRKS e ASHWAL, 2002).

As unidades lito-estratigráficas constituintes do território moçambicano podem ser


convenientemente divididas entre um embasamento cristalino com idade arcaica-câmbrica e
uma cobertura de rochas com idade fanerozóica. O embasamento cristalino compreende um
conjunto heterogêneo de paragnaisses supracrustais metamorfizados, granulitos e migmatitos,
ortognaisses e rochas ígneas. Do ponto de vista geodinâmico, é normalmente aceito que o
embasamento cristalino de Moçambique é composto por três terrenos1 diferentes, que
colidiram e se amalgamaram durante o Ciclo Orogênico Pan-Africano (COPA).
Anteriormente à amalgamação pan-africana, cada terreno era caracterizado por um
desenvolvimento geodinâmico individual e específico. Provisoriamente, estes terrenos são

1
O termo “terreno” é usado para indicar uma unidade tectónica de dimensão variável, ou seja, uma placa litosférica, um
fragmento de placa ou, ainda, uma massa tectónica tal como uma nappe. Por outro lado, “terreno” constitui um termo genérico,
grosseiramente comparável a “área” (GTK Consortium, 2006a)

34
designados por Terreno do Gondwana Este, Terreno do Gondwana Oeste e Terreno do
Gondwana Sul (GTK CONSORTIUM, 2006a).
No geral o contexto geológico de Moçambique pode ser dividido em dois (2) terrenos:
Pré-Cambrianos e Fanerozóicos. O Pré-Cambriano cobre cerca de dois terços do país e se
encontra representado na região Norte e Centro-Oeste de Moçambique, onde está inserida a
área de estudo. Grande parte desta região apresenta rochas do embasamento cristalino. O pré-
cambriano da região Norte de Moçambique é caraterizada por rochas de médio e alto grau,
que constituem extremidade sul do Cinturão de Moçambique. Esse cinturão é parte de um
cinturão orogênico maior (Orógeno Leste Africano) que ocorre ao longo da costa leste da
África até ao Sudão e Etiópia (HOLMES, 1951 apud CHAÚQUE, 2008). Os sedimentos do
Fanerozóico que cobrem as grandes planícies costeiras são encontrados na região Sul do país,
desde o Sul do Rio Save e em toda Orla costeira.
O embasamento cristalino da Província de Tete é também subdividido em três terrenos
diferentes, nomeadamente Gondwana Este, Gondwana Oeste e Gondwana Sul (Fig. 2), que
colidiram e amalgamaram-se entre si durante o ciclo orogénico Pan-Africano. Estes terrenos
foram divididos baseando-se nos critérios estruturais, petrológicos e geocronológicos, (GTK
CONSORTIUM, 2006).
A província de Tete, onde está localizada a Bacia carbonífera de Moatize (área de
estudo), faz parte da Formação de Moatize (PeM), assenta sobre as rochas metavulcânicas de
Umkondo e é caracterizada por sedimentos argilosos de grão fino com camadas de carvão
ocasionais e horizontes conglomeráticos (GTK Consortium, 2006). A Bacia carbonífera de
Moatize encontra-se entre o Cinturão Irumide (~1.02 Ga), o Cinturão do Zambeze (~850-450
Ma) e o Cinturão de Moçambique (750-550 Ma).

35
Figura 2: Mapa geológico da província de Tete, representando os terrenos tectónicos (MORAIS, 2011 Apud MACIE, 2015)

36
2.2.2. Aspectos Geológicos Locais
Moatize está inserida numa região de formações pré-cambrianas pertencentes ao
complexo gabro-anortosítico com rochas do Proterozóico. O complexo gabroanortosítico é
formado por rochas básicas e ultrabásicas, tais como gabros, anortositos, noritos, leuco gabros
e outras. É nesta região onde se encontra a maior bacia carbonífera de Moçambique (bacia
carbonífera de Moatize) pertence ao Supergrupo do Karoo (Figura 3).
As unidades sedimentares do Supergrupo do Karoo em Moçambique estão
representadas em bacias de tipo Rift com preenchimento desde o Carbonífero Superior até ao
Jurássico Inferior (GTK Consortium, 2006b; Paulino et al., 2010). Estas bacias
desenvolveram nas margens ou no interior de cratons do Proterozóico. Na província de Tete,
no centro-oeste de Moçambique, o Karoo sedimentar está bem representado ao longo do vale
do rio Zambeze, em bacias intra-cratónicas de estilo graben a semi-graben separadas por
blocos horst constituídos por rochas ígneas e metamórficas de alto grau de idade proterozóica.
Um dos blocos horst principais localiza-se entre a região de Cahora Bassa e a cidade de Tete,
separando a Bacia do Médio Zambeze da Bacia do Baixo Zambeze.
A bacia carbonífera de Moatize está orientada no sentido NW-SE e está rodeada por
gabros e anortositos da Suite Tete, de idade Mesoproterozóica. O limite NE da bacia ocorre
uma falha normal de cerca de 30 km de comprimento, orientada NW-SE. O limite SW é tanto
por inconformidade, como também por contato de falha, como é o caso da Falha do Monte
M’Pandi
A SW do Rio Zambeze, o contacto da bacia do Karoo é através de uma falha com os
Granitos de Chacocoma, que têm intercalações de granadas, e com os granito-gneisses das
Suites de Mungári e Tete, ambos pertencentes ao Mesoproterozóico Inferior (GTK
CONSORTIUM, 2006a).
A bacia do Karoo é cortada por uma série de diques máficos de idade jurássica
pertencentes à Suite de Rukore, Eles cortam frequentemente as camadas de carvão, levando a
uma coquefação natural. Ao longo dos rios podem ser encontrados depósitos de aluvião (Qa)
e terraços fluviais (Qt) (Figura 3). Nas encostas dos montes podem encontrar-se depósitos de
vertente (VASCONCELOS et al., 2006a).

37
Figura 3: Geologia do Distrito de Moatize (VASCONCELOS, 2005)

As camadas de carvão pertencem à Formação de Moatize (Permiano Inferior), são


compostas por arenito arcósico branco-acinzentado, arenito fino argiloso ou micáceo com
fósseis de plantas, e intercalações de argilito negro com camadas de carvão (GTK
CONSORTIUM, 2006).
A sequência estratigráfica tem 6 camadas de carvão principais (Figura 4), designadas
de baixo para cima como: Sousa Pinto, Chipanga, Bananeiras, Intermédia, Grande Falésia e
André.
A primeira camada é a André, topo da série produtiva e constituída por bancadas de
carvão interceptadas apenas por dois leitos finos de xistos carbonosos, piritosos com 1 à 2 m
de carvão, seguida da camada Grande Falésia constituída por xistos argilosos e carvões com
12 m de espessura e esta por sua vez é seguida pela camada Intermédia, formada por argilito

38
negro e níveis de carvão muito pequenos e camada Bananeiras, que corresponde a um
complexo de xistos e carvão, este com uma espessura de 9 m superior e 18 m inferior, ambas
intercaladas por argilito arenoso. Camada Chipanga é a mais importante e espessa de todas, a
única que foi explorada da série produtiva com uma espessura de 36 m. As formações de
Moatize e Matinde são respectivamente equivalentes ao Ecca Inferior e ao Ecca
Médio/Superior da Bacia Principal Karoo da África do Sul. A camada Sousa Pinto é a basal e
é constituída por um complexo carbonoso com 14 m de espessura (VASCONCELOS, 2005).

Figura 4 - Série Produtiva em Moatize e as principais sequências estratigráficas. (Adaptado de


VASCONCELOS, 2005).

2.3. Geomorfologia e Solos


A topografia regional da Província de Tete é dominada pela intersecção do Lago
Malawi (Vale do Grande Rift) e pelas Bacias Hidrográficas do Baixo Zambeze, que drenam
numa direção Sudeste para a costa (ERM e IMPACTO, 2013).
A bacia carbonífera de Moatize, que em termos de relevo, situa-se num graben (Figura
5) com uma largura variando de 2.5 km a 8 km e uma extensão de mais de 20 km, apresenta
superfície plana a levemente ondulada, situada a uma altitude entre 140 a 220 metros acima
do nível do mar. As zonas laterais do graben, de idade pré-cambriana (pré-câmbriana),
situam-se a altitudes maiores. Outra manifestação de relevo importante na área é a serra da

39
Caroeira, que é constituída por rochas sedimentares do Karoo Superior e situa-se na margem
direita do rio Zambeze a poucos quilômetros da cidade de Tete (VASCONCELOS, 1995).

Figura 5: Graben da Formação Moatize, Suite de Tete, (DNG, 2006).

A topografia de Moatize é caracterizada por apresentar um relevo ondulado dominado


por planaltos, com declives de 1% a 8% e altitudes que variam entre 211 m e 335 m acima do
nível médio do mar. As áreas mais planas localizam-se junto ao Rio Moatize e riachos locais
(Figura 6).
Destas morfologias de terreno resultam vários agrupamentos de solos destacando-se os
seguintes: solos castanho-acinzentados, castanho-avermelhados pouco profundos sobre rochas
calcárias e os derivados de rochas basálticas, estes últimos, podendo ser avermelhados,
castanho-avermelhados ou pretos, são ainda de profundidade variável e caracterizados por
apresentarem boas capacidades de retenção de nutrientes e água, fendilhados quando secos e
plásticos e pegajosos quando molhados. Ocorrem ainda em pequenas manchas solos
aluvionares, em particular nos terraços dos rios Révubuè e Zambeze (MAE, 2014).
Na perspectiva de Muchangos (1999), os solos do Sul da Província de Tete,
abrangendo a área de estudo são basálticos e pouco profundos sobre rocha calcária. Neste
grupo estão incluídos solos aluvionares, litossolos, regossolos, hidromórficos e halomórficos.
Em geral, os litossolos cobrem a maior parte da área de estudo, particularmente em
terreno ondulado a mais ou menos acidentado ou montanhoso, com maior ou menor
frequência de afloramentos rochosos. Estes tipos de solos são pouco evoluídos com a rocha-
mãe logo abaixo da superfície. Os litossolos derivam de rochas consolidadas e ligeiramente

40
alteradas, com uma textura grosseira. Este tipo de solo apresenta o Horizonte A mais ou
menos expresso, mas não humífero ou com Horizonte A humífero e podendo a rocha
consolidada, pouco ou nada meteorizada, encontrar-se a uma profundidade menor (10 – 15
cm), (MUCHANGOS, 1999).

Figura 6 - Mapa de Altimetria do Distrito de Moatize, (Modificado de DAMBO, 2014)

2.4. Hidrografia

De abastecimento predominantemente pluvial, os grandes cursos de água


moçambicanos são de regime periódico, ainda que grande parte dos seus efluentes sejam de
regime ocasional (MUCHANGOS, 1999). Devido a configuração do relevo a maior parte dos
rios corre de Oeste para Este, atravessando sucessivamente montanhas, planaltos e planícies,
antes de desaguarem no oceano Indico.
Pelo caráter morfológico da África Oriental e a situação geográfica de Moçambique
nas regiões costeiras, os principais rios tem as suas nascentes nos países vizinhos,
exceptuando o Norte do país onde grande parte tem a sua bacia hidrográfica totalmente em
Moçambique. O seu caudal é determinando essencialmente pelas complexas relações entre
geofatores meteorológicos e não meteorológicos, nomeadamente a pluviosidade, a

41
temperatura, a evaporação, o declive, a natureza dos solos bem como a intervenção humana
(MUCHANGOS, 1999).
Os principais rios e córregos do distrito de Moatize pertencem à bacia hidrográfica do
rio Zambeze (Figura 7), a qual, em território nacional, se estende do sentido Oeste-Este do
Zumbo (na fronteira com a Zâmbia e o Zimbabwe) até à sua foz no Oceano Indico (Chinde), e
da Zâmbia /Malawi ao Zimbabwe, no sentido Norte-Sul. A bacia Hidrográfica do Rio
Zambeze ocupa, em Moçambique, uma extensão de cerca de 137.000 km2 (REAL, 1966).
O rio Zambeze é, pelas suas características hidrológicas o maior e o mais importante
rio que atravessa o território moçambicano. Com cerca de 2600 km de comprimento, é o
vigésimo sexto rio mais comprido do mundo e o quarto na África depois do Nilo (6700 km),
Zaire (4600 km) e Niger (2250 km). Ele nasce na Zâmbia a cerca de 1700 m de altitude e a
sua bacia hidrográfica é de cerca de 1.330.000 km2, dos quais só 3.000 km2 em território
Moçambicano (MUCHANGOS, 1999).
A hidrologia da área do projecto é caracterizada pela ocorrência do Rio Moatize
considerado como um grande rio perene localizado a Sul do local proposto desse Projeto de
doutorado. O Rio Moatize constitui um dos principais afluentes do Rio Revúbuè que por sua
vez é um dos principais afluentes do Rio Zambeze.

42
Figura 7 - Hidrografia do Distrito de Moatize (do autor, 2017)

43
A gestão dos recursos hídricos na região onde se insere a área dessa tese recai sobre a
responsabilidade da ARA-Zambeze. A ARA-Zambeze está sediada na Cidade de Tete e tem
como foco principal a gestão do Rio Zambeze no lado Moçambicano e dos recursos hídricos
subterrâneos na Província de Tete, assim como gere e autoriza a captação de águas (tanto
subterrâneas como superficiais) nesta região (REAL, 1966).
O leito do Rio Moatize, quando conta com o fluxo de águas, exibe um padrão fluvial
misto, sendo meandrante em alguns segmentos e apresentando canais entrelaçados em outros.

2.5. Aspectos climáticos

Os tipos de clima em Moçambique são determinados pela localização da zona de


baixas pressões equatoriais, das células anticiclónicas tropicais e das frentes polares do
Antárctico (MUCHANGOS, 1999). Em Moçambique existem duas estações: estação quente e
chuvosa e estação seca e fresca. A estação quente e chuvosa tem início no mês de Outubro e
termina em Março. A estação seca e fresca vai de Abril a Setembro.
As condições climáticas da área de estudo foram analisadas através dos dados
disponíveis do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM) em Tete. A
estação meteorológica de Tete, denominada estação sinóptica de 1ª Classe, é a única
instalação operacional próximo da área de estudo com um registo climatológico
representativo. Esta localiza-se no Aeroporto de Tete, posicionado a cerca de 14 km da área
do Projecto.
A condição climática da área de estudo é condicionada por uma variação sazonal,
determinada em grande parte, pelo movimento da Zona de Convergência Intertropical sobre o
Oceano Índico e topografia local. Segundo (MAE, 2014), no distrito de Moatize ocorrem dois
tipos climáticos o tipo “seco de Estepe com Inverno Seco - BSw” na parte Sul do distrito e o
tipo “Tropical Chuvoso de savana – AW” no norte do distrito. Os dois tipos climáticos
apresentam duas estações distintas, a estação chuvosa e a estação seca.
A temperatura mínima e máxima absolutas, para a região é de 27.1ºC e 43.7ºC,
respectivamente, enquanto a temperatura média anual é de 27ºC. Há uma forte variação
sazonal da temperatura, com os meses quentes de verão (Outubro a Abril) com uma
temperatura média de 29ºC, e os meses de inverno ameno (Maio a Setembro) com uma
temperatura média de 25ºC (DAMBO, 2014).

44
As chuvas de verão iniciam em Outubro, com a maior ocorrência entre Dezembro e
Fevereiro. A média anual de precipitação em Tete é de 619 mm. A evaporação média anual é
de 2004 mm, excedendo a precipitação média anual de 619 mm.
Os ventos na região ocorrem quase que exclusivamente de Leste e Sudeste com maior
frequência de ventos (40%). Sendo geralmente leves com aproximadamente 75% dos ventos
com uma velocidade de menos de 2,1m/s. Os ventos mais fortes são entre 3,6 e 5,7m/s de
Leste e Sudeste, mas ocorrem em menos de 3% das ocasiões durante o ano (Figura 8). Os
ventos mais fortes ocorrem entre Setembro e Novembro.

Figura 8 - Direções preferenciais do vento no distrito de Moatize, (Adaptado do INAM, 2016)

45
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Origem e composição do Carvão Mineral

O combustível normalmente referenciado como carvão mineral é corretamente


designado carvão fóssil. O termo carvão mineral é de conotação comercial, utilizado para
diferenciá-lo do carvão vegetal. O carvão mineral é uma rocha sedimentar combustível e tem
sua gênese ligada a restos vegetais em diferentes estados de conservação que sofreram
soterramento e compactação (FLORES, 2014).
A qualidade do carvão mineral está ligada ao estágio de maturação da matéria
orgânica. Com o passar do tempo ocorre a evolução através de transformações nesta matéria
orgânica, tendo lugar o processo chamado de carbonificação, que é o enriquecimento do teor
de carbono decorrente do soterramento da matéria orgânica, o qual proporciona o aumento da
pressão e da temperatura na ausência de oxigénio, (HAMM, 2012).
A carbonificação é uma transformação físico-química da matéria orgânica não sendo
um processo isolado, mas sim um processo gradual, onde matéria orgânica acumulada e
soterrada passa por transformações, inicialmente bioquímicas e posteriormente geoquímicas
(Figura 9), onde os processos termodinâmicos associados, ou seja, o aumento da pressão e da
temperatura, durante o tempo geológico, vão transformando a matéria orgânica original,
passando pelos estágios de turfa, linhito, carvão sub-betuminoso, carvão betuminoso até
antracito, (FLORES, 2014).

Figura 9: Transformações sofridas pelo carvão durante a carbonificação (HARTTMANN, 2017).

46
A turfa tem baixo teor carbonífero, pois é um dos primeiros estágios do carvão,
constituindo um combustível de baixa qualidade, com teor de carbono entre 55% e 60%. O
estágio seguinte é o linhito, com teor entre 61% e 78%, seguido do carvão betuminoso, com
teor entre 79% e 90%. Por fim, o carvão mais puro é o antracito, com teor superior a 90%
(SOUSA, et al 2012). Esses diferentes carvões possuem diferentes aplicações. A Figura 10
apresenta os principais usos de cada tipo. Os carvões menos nobres (carvões com menores
teores de carbono e maior teor de cinzas) são chamados carvão-vapor e utilizados,
principalmente, em fornos de usinas termelétricas para geração de eletricidade, enquanto o
destino do carvão mais nobre é industrial e por isso é chamado de carvão metalúrgico.

Figura 10: Tipos de carvão mineral e principais usos (TOLMASQUIM, 2016)

Quanto à composição do carvão, este contém carbono fixo, umidade, voláteis e


material mineral que ao final da combustão se transformam em cinzas e um grande número de
diferentes hidrocarbonetos que volatilizam quando a combustão é iniciada (GLASSMAN e
YETTER, 2008). Segundo Suárez-Ruiz e Crelling (2008), um carvão de alta qualidade é um
carvão com baixo teor de matéria mineral e um alto teor de matéria orgânica.
O carvão incorpora uma quantidade de matéria mineral durante a sua formação. Estas
impurezas podem estar na composição vegetal da qual o carvão deriva ou vir por formas
externas. Fisicamente a matéria mineral pode ser classificada como matéria mineral inerente e

47
matéria mineral estranha. A matéria mineral inerente é aquela que teve sua origem nos
constituintes orgânicos da planta que deu origem ao leito do carvão, esta tem uma distribuição
uniforme dentro do carvão. A matéria mineral estranha que foi trazida para o depósito por
meios exteriores, geralmente se origina do material geológico que circundava as reservas de
carvão, esta se apresenta em grandes pedaços dentro da estrutura do carvão (BRYERS, 1996).
Os minerais mais comuns no carvão são, argila, pirita, quartzo e calcita, associados aos
elementos, oxigênio, alumínio, silício, ferro, enxofre e cálcio, em ordem decrescente de
abundância (SPEIGHT, 2013). Os minerais no carvão ocorrem, comumente, como cristais
únicos ou aglomerados de cristais que são misturados com a matéria orgânica ou que
preenchem espaços vazios no carvão. Os tamanhos de grãos minerais variam de
submicroscópicos a alguns centímetros.
A fração orgânica (carbonosa) do carvão é composta por macerais, que podem ser
divididos em: vitrinita, inetinita e liptinita. O teor de macerais do carvão é medido pelo
método da refletância, quando a luz direta é aplicada na superfície do carvão polido. Cada tipo
de maceral reflete quantidades características de luz.

3.2. Extração e Beneficiamento do Carvão Mineral

A estrutura da cadeia de carvão mineral tem três operações principais: mineração,


beneficiamento e transporte. A mineração do carvão acontece a céu aberto ou em minas
subterrâneas com lavra manual ou mecanizada. A profundidade da camada e o tipo de solo
local são os principais fatores que influenciam a decisão pelo tipo de mina (ANEEL, 2008).
Camadas estreitas levam à mineração a céu aberto enquanto camadas profundas levam à
construção de túneis para uma exploração mais eficiente. Este último método é utilizado para
a extração de 60% da oferta mundial de carvão mineral. Na área de estudo, a explotação de
carvão é feita a céu aberto, na camada Chipanga (36 metros de espessura) considerada a maior
e economicamente viável de toda série produtiva. Nesta região, existem três (3) mineradoras a
operar, nomeadamente: a brasileira Vale SA, a australiana Rio Tinto Coal Mozambique
(atualmente Consórcio indiano International Coal Ventures Limited) e a Sul Africana Minas
Moatize Ltda (Figura 11) produzindo o carvão térmico e metalúrgico, (SELEMANE, 2009).
Dessas multinacionais, a Vale Moçambique detém a maior concessão mineira, prevendo
produzir cerca de 11 milhões de toneladas de carvão (metalúrgico e térmico) por ano, seguida
da Riversdale (ICVL atualmente), com produção aproximada a 6 milhões de toneladas/ano
carvão de coque, 2 milhões de toneladas/ ano de carvão térmico e 4 milhões/ano de carvão
para queima na central térmica em Moatize (DAVID e SELEMANE, 2012).

48
Figura 11: Localização das minas de carvão no distrito de Moatize, (Modificado de PONDJA, 2017)

Os recursos de origem mineral extraídos da natureza pelo homem nem sempre se


encontram em condições apropriadas para serem utilizados diretamente na obtenção de bens
de consumo e produção. Faz-se necessário uma adequação, para uso futuro, destas matérias-
primas minerais, onde cada uma delas tem seu método mais apropriado de beneficiamento.
Neste sentido, segundo Sampaio e Tavares (2005), este beneficiamento modifica e
purifica tanto as matérias-primas de origem primária, materiais extraídos diretos das jazidas,
quanto às de origem secundária, resíduos urbanos e industriais, de maneira que o resultado
final seja um material apto, ou seja, contendo proporções aceitáveis de contaminantes para o
uso industrial na produção de bens de consumo humano.
De acordo com Sampaio (2002), devido às diferentes gêneses do carvão, existe a
ocorrência de materiais inorgânicos, como a argila e a pirita, misturados a materiais orgânicos
componentes do carvão, constituindo, assim, os chamados macerais do carvão. Estes materiais
argilosos e piritosos são responsáveis pela geração de cinzas e pelo teor de enxofre, após a
combustão do carvão, respectivamente.

49
Conforme Teixeira e Pires (2002), os processos de beneficiamento do carvão são
classificados, de maneira geral, de acordo com sua granulometria. O beneficiamento de
materiais carboníferos com granulometria inferiores a 0,1 mm de carvão é executado através
do processo de flotação, que se baseia em propriedades hidrofóbicas e hidrofílicas das
superfícies dos materiais carboníferos e suas impurezas. Já os materiais carboníferos com
granulometria superior a 0,1 mm recebem beneficiamento gravimétrico, o qual está baseado
na diferença de densidade entre a matéria orgânica, com densidade aproximada de 1,3 g/cm³,
e a matéria inorgânica, constituída de argila e pirita com densidades aproximadas de 2,0 g/cm³
e 2,4 g/cm³, respectivamente (SAMPAIO, 2002).
O projeto Moatize, cujas operações iniciaram-se em 2011, inclui a exploração de
carvão em Tete e exportação pelo porto da Beira. O transporte é feito por meio da ferrovia de
Sena de extensão de 575 km e com capacidade de dois milhões de toneladas por ano. A área
ocupada é de 23.780 hectares no distrito de Moatize.
Desde o inicio do projeto as previsões eram de obtenção de cerca de 8.5 milhões de
toneladas de carvão de coque ao ano e 2 milhões de toneladas ao ano de carvão de queima,
ambos para a exportação (SELEMANE, 2009). O restante do carvão obtido em tratamento do
carvão bruto tem teor de cinza e o seu uso seria destinado para uma central térmica de 1.500
MW com instalação em Moatize. Considera-se que o carvão de coque é uma matéria prima
importante para a produção de ferro e aço.
A qualidade do carvão da Bacia carbonífera de Moatize é do alto rank, tipo
betuminoso, com teor de voláteis variando de alto a baixo, ocasionalmente antracíticos em
algumas áreas (DNG, 2006). São mais ricos em vitrinita do que em inertinita, o teor de
liptinita é muito baixo, de enxofre é variável, e apresentam elevado nível de cinzas.

3.3. Impactos Ambientais decorridos da extração do Carvão Mineral

Uma das principais consequências dos processos de mineração e beneficiamento do


carvão é a elevada produção de rejeitos e subprodutos. O carvão bruto, extraído diretamente
da mina é denominado Run Of Mine (ROM). Logo após sua extração, esse minério é
submetido a um processo de tratamento chamado beneficiamento a fim de reduzir sua matéria
inerte (incombustível) e suas impurezas. Esse processo de separação melhora a qualidade do
carvão e seu rendimento na queima, entretanto, produz uma enorme quantidade de rejeitos
sólidos.

50
Para cada tonelada de carvão ROM, processado, cerca de 65% de rejeitos são
produzidos. De fato, os rejeitos de mineração representam a maior proporção de rejeitos
gerados por processos industriais, bilhões de toneladas sendo produzidas anualmente (BELL e
DONNELLY, 2006). Além disso, devido à constante evolução tecnológica, ao aumento da
demanda de energia, à procura de materiais com maior qualidade e à mineração de minas
mais complexas, o volume de rejeitos produzidos tem aumentado ano a ano.
Esses rejeitos são frequentemente depositados de forma inadequada e sem tratamento
próximo as áreas de mineração. Segundo Alekseenko et al. (2017), esses depósitos
inapropriados desencadeiam diversos efeitos negativos ao meio ambiente.
De acordo com a Aneel (2016), os maiores impactos ambientais do carvão decorrem
de sua mineração, que afeta principalmente os recursos hídricos, o solo, o ar e o relevo das
áreas circunvizinhas, atingindo a biosfera e causando impactos que podem ser permanentes ou
temporários, dependendo do gerenciamento, das medidas mitigadoras utilizadas e dos
controles exercidos sobre a atividade (Figura, 12).

Figura 12: Inter-relacionamento dos principais impactos ambientais no complexo mineiro de Moatize. Adaptado
de FERREIRA, 2012 (fotos, 2,3,4 e 5 do autor).

Conforme Kampf e Pinto (2002), a pirita encontrada no carvão, linhito e outras rochas
sedimentares foi formada a partir da associação dos seus sedimentos, durante o processo de

51
deposição geológico, com ambientes marinhos ricos em sulfatos. O sulfato dessas águas, em
ambientes anaeróbicos e ricos em matéria orgânica, é reduzido a sulfetos e combinado com o
Ferro2+ formando a pirita, processo influenciado por bactérias.
Conforme a Teixeira e Pires (2002), a presença ou a contaminação por pirita (FeS2),
oriundo do carvão ou de seus rejeitos, desencadeiam reações de acidificação do solo
proveniente da oxidação deste material, inibindo a ocorrência de vegetação nestas áreas, pois
os altos níveis de acidez produzidos (pH <3,5) causam deficiência de nutrientes para as
plantas e concentrações tóxicas de metais.
De acordo com Pires (2002), o processo chamado de Sulfurização decorrente da
exposição à oxidação de materiais rochosos e sedimentares compostos de sulfetos forma o
ácido sulfúrico.
Nas áreas de mineração de carvão, a manipulação de materiais aumenta a superfície de
exposição de sulfetos à oxidação, acelerando o processo natural. Desta forma, essa reação
passa a desenvolver-se nos solos construídos, nas pilhas de rejeitos carboníferos, nas cavas
abertas para extração e no processo de beneficiamento de carvão, gerando a liberação de
acidez para as águas de drenagem, processo conhecido como drenagem ácida de mina (DAM)
(TEIXEIRA e PIRES 2002).
De acordo com Environmental Literacy Council (2002), a DAM pode derivar da
mineração de carvão, em minas de superfície ou subterrâneas, bem como de depósitos de
rejeitos, onde as rochas são expostas às condições oxidantes e pode agir durante décadas, ou
séculos, após a cessação das atividades de mineração. Os minerais presentes nas rochas
exploradas, o tipo e a quantidade do sulfeto oxidado condicionam os níveis de contaminação
por metais e metalóides associados à DAM, e são específicos de cada ambiente
(CAMPANER & SILVA, 2009).
Segundo Ortiz e Teixeira (2002), nos montes de rejeitos carboníferos da área de
depósito da atividade de extração de carvão ocorre o fenômeno chamado de Lixiviação, que
de modo geral, tanto para a ciência de geoquímica ou geologia, o termo é utilizado para fazer
referência a qualquer processo de extração ou solubilização seletiva de constituintes químicos
de uma rocha, mineral, depósito sedimentar ou solo, pela ação de um fluido percolante.
Em determinadas regiões no Centro de Moçambique, mais precisamente no Distrito de
Moatize, têm sido observados problemas ambientais decorrentes da deposição de rejeitos e
cinzas de carvão, com a presença de quantidades significativas desses resíduos dispostos
inadequadamente, acarretando acidificação e lixiviação dos metais pesados nos cursos d’água
e no solo.

52
Macie (2015) analisando a composição química de águas superficiais adjacentes as
mineradoras em Moatize, reportou mudanças negativas na qualidade dessas águas devido à
liberação de partículas sólidas em suspensão ou mesmo disposição inadequada dos rejeitos
provindo da atividade de mineração de carvão que podem de certo modo percolar até atingir
os corpos hídricos.
De fato, todas as fases envolvidas na mineração de carvão são fontes potenciais de
contaminação de solos e águas superficiais e subterrâneas através da migração das águas.

3.4. Histórico da Mineração em Moçambique


A população moçambicana, principalmente a residente no sul do país, serviu como
reserva de mão de obra para as minas sul-africanas durante séculos (MOSCA, 2011). Ao
longo do século XX, os migrantes moçambicanos também foram submetidos ao mesmo
processo e serviram de mão de obra barata nas minas sul-africanas. Nos anos 1930, muitos
moçambicanos das províncias de Maputo, Inhambane e Gaza, migraram para a África do Sul
para trabalhar nas minas. A produção local era baseada na agricultura com uma média salarial
abaixo dos salários mineiros sul-africanos. No período colonial, mesmo com o
desenvolvimento do cultivo do algodão em Moçambique incentivado por Portugal como
forma de abastecer sua indústria têxtil, muitos trabalhadores preferiam migrar para as minas
da Rodésia do Sul e África do Sul porque obtinham maiores rendimentos.
Durante toda a ditadura salazarista, a política econômica de Portugal em Moçambique
incentivou a emigração de operários moçambicanos para as minas da África do Sul. Ambos os
governos saiam favorecidos no curto prazo: o governo de Pretória utilizou a mão-de-obra
moçambicana e de outros países como base para a acumulação primitiva da industrialização
sul-africana; as remessas dos mineiros moçambicanos para Moçambique ajudavam a
equilibrar a balança de pagamentos contribuindo para a estabilidade financeira da colônia
(MOSCA, 2011).
No entanto, mesmo que favorecendo a economia moçambicana no curto prazo, a
migração de cerca de 30% da população ativa do sul de Moçambique para as minas sul
africanas causou profundas transformações sociais e culturais e acabou por retirar de
Moçambique importantes recursos (MOSCA, 2005). Os poucos colonos portugueses
instalados no sul do país encontravam forte competição com as minas sul-africanas pela mão
de obra. A agricultura não conseguiu se desenvolver pela baixa capitalização dos colonos, que
encontravam grandes dificuldades para conseguir financiamentos. Em 2014, estimava-se que

53
existiam 32.500 moçambicanos trabalhando nas minas subterrâneas da África do Sul e que
suas remessas anuais para o país fossem de US$ 50 milhões.
A indústria extrativa em Moçambique teve ao longo da história do país dois principais
centros: a exploração de carvão mineral em Moatize e a extração de pedras preciosas na
Zambézia2. Em 1972, entre as 126 lavras apenas uma era de carvão mineral, e representava
18% da produção do setor mineral, que ocupava 6.328 trabalhadores (MOSCA, 2005). Antes
da guerra civil, em 1975, o carvão já representava 60% do valor da produção mineral nacional
(MOSCA, 2005). A extração se diversificou rapidamente após a independência. Após o
regime socialista (1975-1986), em 1986, a produção mineral era de 16% e a extração de
carvão foi de 11% do registrado em 1975. As infraestruturas extrativas foram continuamente
atacadas durante a guerra civil pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A
ferrovia Moatize-Beira foi paralisada durante longos períodos do conflito. O que era extraído
de carvão foi comercializado com a República Democrática Alemã.
Antes da implantação de grandes projetos na área de exploração minerária, a atividade
de exploração era praticada por garimpeiros na extração do ouro e de pedras preciosas (rubi,
águas marinhas, gemas, turmalinas verdes, entre outras), que as vendiam para os estrangeiros,
num processo ilegal de comercialização. Estes garimpeiros, não usufruíram, até hoje, não
usufruem do verdadeiro valor destes minérios, o que possibilitaria um melhoramento da
qualidade de vida. A situação que estes operam, também não é das melhores, pois trabalham
em condições precárias.
Somente a partir de 1999 (período pós-guerra), quando a empresa de capital
estrangeiro de produção de alumínio Mozal (Mozambique Aluminium) se instalou, um novo
momento de desenvolvimento econômico foi conhecido no País. Abriram-se as portas para as
demais empresas na área minerária. A Suid Afrikaanse Steenkool em Olie (SAZOL), empresa
sul africana de petróleo, deu início em 2004 as explorações do gás na província de
Inhambane, assim como a KENMARE que em 2007 começou a explorar as areias pesadas em
Moma, na região norte do país (província de Nampula).
Conforme menciona Selemane, (2009) “ [...] apesar das taxas positivas de crescimento
econômico em Moçambique, ainda não é visível uma melhoria no poder de compra e no bem
estar das populações”. Apesar da existência de grandes empresas de mineração, a população é
a que mais tem sofrido com a presença das mineradoras, visto que para além de não se
beneficiarem diretamente com os lucros da atividade em questão, são na sua maioria
obrigados a se deslocarem dos seus locais de residência em razão da implantação dos projetos.
2
Província na região central de Moçambique.

54
Em 2008 as empresas CVRD e Rio Tinto, vieram se juntar às empresas de exploração
minerária já existentes em Moçambique, onde iniciaram a exploração de carvão mineral na
província do centro do país, Tete, especificamente, no distrito de Moatize.
Após pesquisas geológicas foram descobertas grandes jazidas de carvão mineral
localizadas nas províncias de Niassa e Tete, sendo que as jazidas existentes em Tete já se
encontravam em exploração.
Dado ao elevado interesse em explorar os recursos, o Estado viu como necessidade a
regulamentação da legislação específica para cada tipo de mineração. A atenção foi dada a
exploração do carvão mineral, de hidrocarbonetos e foi ainda necessária à regulamentação das
ações de reassentamento da população que vive em áreas de interesse para a exploração
minerária.

3.5. Histórico da Mineração na Bacia Sedimentar de Moatize


O conhecimento da existência de jazidas de carvão mineral de Moatize data desde os
finais do século XIX e princípios do século XX. A partir desse período a bacia de carvão de
Moatize teve maior incidência de estudos geológicos sistematizados com vista ao
conhecimento concreto de determinadas mineralizações, em particular do carvão mineral com
objetivo de determinar as potencialidades mineiras e a viabilidade econômica da exploração
mineira (REAL, 1966).
Por consequência dos resultados favoráveis à exploração de carvão, o distrito alocou
muitos projetos de extração desde o final do século XIX quando em 1985 a Companhia do
Zambeze concede à Companhia Hulheira do Zambeze a prerrogativa de pesquisa, exploração
registro e lavra das minas de carvão. Anos mais tarde, essa companhia passou a se designar
Zambeze Minning Company, que em 1923 alia-se ao consórcio belga e passa a se designar
Societé Mineire e Geologique do Zambeze e que em 1948 concede a totalidade de suas ações
e direitos à Companhia Carbonífera de Moçambique (CCM) com capacidade média de
produção de 20.000 toneladas (VASCONCELOS, 1995).
Com a proclamação da independência de Moçambique em 1975, a orientação política
– socialista – fez com que a CCM fosse nacionalizada, passasse à propriedade do estado,
incluindo bens, recursos e direitos. Foi nesse momento que se constituiu Carbomoc E.E.
(Figura 13).

55
Figura 13 - Antigo terminal de carvão mineral da Carbomoc E. E em Moatize (Fotografia do autor, 2015)

Depois de passar para o Estado, a empresa continuou a extrair carvão que, em sua
grande parte, era destinado para o consumo doméstico em centrais termoelétricas, fábricas de
cimento e açúcar. O transporte ferroviário e uma parte ínfima eram transportados por via
ferroviária até ao porto da Beira e destinado para a exportação (VASCONCELOS, 1995).
Entre 1982 a 1985 a produção total de carvão foi de 8 milhões de toneladas. A partir
de 1983, devido aos ataques das unidades produtivas e à sabotagem das vias de escoamento
causados pela guerra civil (1976-1992), houve uma paralisação da produção de carvão.
(MOSCA, 2005). Na década de 70 o carvão constituía cerca de 60% do total da produção de
“recursos” minerais e tinha impacto significativo na economia nacional (MOSCA, 2005).
Após esta paralisação e terminada a guerra civil, migraram para o país empresas
multinacionais que se interessaram em explorar o carvão mineral de Moatize, onde atualmente
encontra-se uma das maiores reservas de Moçambique.
Em 2004, a empresa brasileira Companhia Vale do Rio Doce (atualmente designada de
Vale S.A.), deu o primeiro passo para que Moçambique iniciasse uma nova fase da
exploração do carvão mineral. Em 2007 o Governo Moçambicano concedeu a Licença de

56
exploração do carvão de Moatize, marcando também o inicio dos primeiros investimentos nas
áreas de infraestruturas, equipamentos e projetos sociais na região. De acordo com Mosca e
Selemane (2011), a explotação de carvão teve início em Maio de 2011 cujo primeiro
carregamento foi enviado ao Porto da Beira para sua exportação. Um ano depois, instalou-se o
parque industrial da Vale, que decorria com a preparação dos planos para o reassentamento
das comunidades locais (SELEMANE, 2010; MOSCA e SELEMANE, 2011).

3.6. Breve histórico das políticas públicas para proteção do solo


Embora seja um tema que aparentemente não possua relação direta com esse
doutorado, esse pesquisador, entende que seria adequado a inserção dos conhecimentos e
evolução das restrições e atuações dos Postos Administrativos, Distritos, das Províncias e do
próprio pais Moçambique no que concerne a preservação do meio ambiente através de
legislações específicas para cada um desses setores.
A procura por conforto e bem estar é uma das metas a ser atingidas por todos durante o
decorrer de nossa sobrevivência. A nossa espécie, Homo sapiens, por sua vez, teve e tem a
capacidade, de ao longo de sua existência criar uma série de artifícios, mecanismos e
instrumentos, os quais possibilitam até hoje a sobrevivência da espécie, com conforto e bem
estar. Entretanto, os artifícios, mecanismos e instrumentos por nós criados, por vezes possuem
impactos globais nos ecossistemas. Fato este tem sido verificado especialmente (e de forma
mais intensa) após a Revolução Industrial após a Segunda Guerra Mundial (SANTOS, 2004).
Diante dos impactos humanos ao planeta Terra principalmente após a criação do Clube
de Roma até a realização da histórica Conferência Internacional das Nações Unidades sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, a sociedade se deparou com as mais diversas
reações e movimentos sociais em prol da manutenção da qualidade ambiental dos
ecossistemas terrestres, os quais deram origem a importantes documentos, como o Relatório
Limites do Crescimento, Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente, Relatório Nosso
Futuro Comum, Carta da Terra, Convenção da Biodiversidade, Agenda 21, Protocolo de
Quioto, entre outros, além de diversas ações, programas e políticas nacionais e internacionais.
O processo de contaminação, iniciado concomitantemente às primeiras atividades
humanas sobre o meio ambiente, teve um crescimento expressivo com o surgimento da
indústria e consequente aumento no consumo de energia e matéria prima. O impacto gerado,
tanto pela exploração dos recursos naturais quanto pela descarga de resíduos para o ambiente,
começou a superar, em muitas regiões, a resiliência do ambiente. A construção deste cenário

57
motivou a preocupação de diversos setores da sociedade, que reconheceram a necessidade de
ações para mitigar estes impactos.
No princípio do século passado, diversas ações governamentais refletiram esta
preocupação em todo o mundo, como a 1ª Conferencia Internacional sobre o Ambiente e a
elaboração de um programa ambiental direcionado à proteção da água e da atmosfera
(UNEP), ambos promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Neste mesmo
período, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA), criada em julho de 1970,
publicou, em 1976, o “Resource, Recovery and Conservation Act” onde estabeleceu um
sistema para manejo de resíduos sólidos de maneira ambientalmente adequada. O mesmo
movimento, em direção à regulamentação ambiental, ocorreu na União Européia, em suas
diretivas de 1976 e 1981, com a elaboração das listas negra e cinza de substâncias perigosas
(VÁZQUEZ e ANTA, 2009).
Até aquela época, o solo era visto como um sistema de elevada capacidade de
recebimento de descargas e utilizado como sumidouro de resíduos. Apenas na década de 70
começa-se a perceber a importância do solo como amortizador da contaminação para outros
setores da biosfera e a compreender que a resiliência é variável com o tipo de solo e
contaminante, havendo a necessidade de estudos mais amplos e legislação específica para sua
proteção, como as até então existentes para água e ar (VÁZQUEZ e ANTA, 2009).
Entretanto, apenas em meados da década de 80, surgem as primeiras políticas públicas
direcionadas diretamente à preservação do solo. Este recurso passa então a ser visto como um
componente primordial do ecossistema a ser preservado, e não apenas um recurso de proteção
indireta por normativas para o gerenciamento da qualidade do ar e da água.

3.6.1. Legislação Ambiental Moçambicana

O perfil institucional e legal para questões ambientais em Moçambique é relativamente


recente. Nos princípios da década de 80, começou a surgir uma certa preocupação com o
estado do ambiente nacional e criou-se uma Unidade de Gestão Ambiental dentro do Instituto
Nacional de Planejamento Físico (INPF), cujo objetivo fundamental era propor um aparelho
institucional capaz de integrar os princípios ambientais no processo de desenvolvimento do
país. Esta mesma unidade, em 1991, passou a designar-se Divisão do Meio Ambiente. Em
1985 esta unidade com assistência do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) e da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) propôs a criação
do Conselho do Ambiente, de nível ministerial, constituído por um secretariado técnico e

58
dotado de recursos financeiros. Porém, só em 1987 é que foi designado ao Ministério dos
Recursos Minerais a institucionalização da gestão ambiental, sendo este assistido pelo
Ministro da Construção e Águas (MICOA, 1995).
Em 1992 é criada a primeira instituição independente de âmbito nacional para a gestão
ambiental, a Comissão Nacional do Meio Ambiente (CNA), como resultado da Conferência
Nacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Outubro de 1991. A CNA
deveria propor ao governo uma estrutura definitiva que se encarregaria da gestão ambiental de
acordo com os princípios de desenvolvimento sustentável (MICOA, 1995).
Mais tarde, em 1994, a CNA foi extinta e foi criado o Ministério para a Coordenação
da Acção Ambiental (MICOA), o atual Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento
Rural (MITADER), que tem a tarefa de coordenar em nível nacional todas as atividades no
domínio do ambiente, promovendo a gestão, preservação e utilização racional dos recursos
naturais do país, bem como propor políticas e estratégias ambientais a serem integradas nos
planos setoriais de desenvolvimento. O MICOA veio preencher o vazio institucional existente
em matéria ambiental (MICOA, 1995). Hoje o MICOA,
A questão do ambiente é abordada na Constituição da República, de 1990. “A
Constituição do nosso país confere a todos os cidadãos o direito de viver num ambiente
equilibrado, assim como o dever de o defender. A materialização deste direito passa
necessariamente por uma gestão correta do ambiente e dos seus componentes e pela criação
de condições propícias à saúde e ao bem estar das pessoas ao desenvolvimento sócio-
econômico e cultural das comunidades e à preservação dos recursos naturais que a
sustentam".
De acordo com o capítulo 8 da Agenda 21 em Moçambique, os instrumentos legais
criados em Moçambique para facultar a integração do ambiente e desenvolvimento no
processo de tomada de decisões incluem:
A Política Nacional do Ambiente, através da Resolução n° 5/95 de 3 de Agosto do
Conselho de Ministros. A Política Nacional do Ambiente representa o instrumento através do
qual o governo reconhece de forma clara e inequívoca a interdependência entre o
desenvolvimento e o ambiente. É um meio para a execução, no país, de políticas sócio e
macroeconômicas ambientalmente aceitáveis, visando a promover e impulsionar um
crescimento económico fundamentado nos preceitos universais do desenvolvimento
sustentável.
A Lei do Ambiente (anexo A), aprovada pelo Decreto de Lei n° 20/97 de 1 de Outubro
BR n° 40 I série, com o objetivo definir a base legal para o bom uso e gestão do meio

59
ambiente e suas componentes com o propósito de formar um sistema de desenvolvimento
sustentável em Moçambique. Esta Lei é aplicável a todas atividades públicas ou privadas, que
podem influenciar o ambiente seja directa ou indirectamente. A lei exige que essas atividades,
que pela sua natureza, localização ou dimensão, são susceptíveis de causar impactos
ambientais significativos sejam licenciadas pelo Ministério da Terra, Ambiente e
Desenvolvimento Rural (MITADER), com base nos resultados de um processo de Avaliação
de Impacto Ambiental (AIA). Alguns dos princípios fundamentais para a gestão ambiental
contidos na Lei do Ambiente e aplicáveis a este Projecto são:
i. a utilização e gestão racionais dos componentes ambientais, com vista à promoção da
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e à manutenção da biodiversidade e dos
ecossistemas;
ii. reconhecimento e valorização das tradições e do saber das comunidades locais que
contribuam para a conservação e preservação dos recursos naturais e do ambiente;
iii. o princípio da precaução, com base no qual a gestão do ambiente deverá priorizar o
estabelecimento de sistemas de prevenção de atos lesivos ao ambiente, de modo a
evitar a ocorrência de impactos ambientais negativos significativos ou irreversíveis,
independentemente da existência de certeza científica sobre a ocorrência de tais
impactos;
iv. a importância da ampla participação pública;
v. a igualdade, que garante oportunidades iguais de acesso e uso de recursos naturais a
homens e mulheres;
vi. o princípio do poluidor-pagador, com base no qual quem polui ou de qualquer outra
forma degrada o ambiente, tem sempre a obrigação de reparar ou compensar os danos
daí decorrentes.
vii. importância da cooperação internacional para a obtenção de soluções harmoniosas dos
problemas ambientais, reconhecidas que são as suas dimensões transfronteiriças e
globais.
A Lei do Ambiente, Lei nº 20/97, de 1 de Outubro é a base para todo o conjunto de
instrumentos legais relativos à preservação do meio ambiente. Esta é uma lei-quadro para as
questões ambientais e é um instrumento importante para a promulgação de regulamentos
específicos. Esta fornece os princípios globais e fundações de todas formas de legislação
ambiental, políticas e práticas. O seu objectivo geral é definido da seguinte forma:
Artigo 2: A presente Lei tem o objetivo de definir a base jurídica para a utilização e
gestão correcta do ambiente e seus componentes, tendo em vista assegurar um sistema de
desenvolvimento sustentável neste país.
O Artigo 8 da Lei do Ambiente exige que o Governo crie mecanismos adequados de
modo a envolver os diversos sectores da sociedade civil, comunidades locais e organizações

60
de protecção do ambiente na preparação de políticas e legislação para a gestão dos recursos
naturais do país.
O Artigo 9, relacionado a poluição do meio ambiente, proíbe a produção e depósito de
quaisquer substâncias tóxicas e poluentes nos solos, sub-solos, águas ou atmosfera, bem como
a realização de actividades que tenderão a acelerar a erosão e desertificação, desflorestamento
ou qualquer outra forma de degradação do ambiente para além dos limites estabelecidos por
lei.
O Artigo 11º prevê a proteção do patrimônio ambiental, cabendo ao governo assegurar
que o patrimônio ambiental, especialmente o histórico e cultural, seja objeto de medidas
permanentes de defesa e valorização, com o envolvimento adequado das comunidades, em
particular as associações de defesa do ambiente.
O Artigo 21º assegura o direito de acesso a justiça, concedendo a qualquer cidadão que
considere ter sido violados os direitos que lhe são conferidos por esta lei, ou que considere
que existe ameaça de violação dos mesmos, pode recorrer as instâncias jurisdicionais para
obter a reposição dos seus direito ou a prevenção da sua violação. E que qualquer pessoa que,
em consequência da violação das disposições da legislação ambiental, sofra ofensas pessoais
ou danos patrimoniais, incluindo a perda de colheitas ou de lucros, poderá processar
judicialmente o autor dos danos ou da ofensa e exigir a respectiva reparação ou indemnização.
Compete ao Ministério Público a defesa dos valores ambientais protegidos por esta lei, sem
prejuízo da legitimidade dos lesados para propor as ações referidas na presente lei.
Conforme estabelecido no Artigo 2, o objectivo da Lei do Ambiente é definir a base
jurídica para a utilização judiciosa e gestão do meio ambiente e seus componentes, tendo em
vista alcançar o desenvolvimento sustentável no país. O âmbito da Lei do Ambiente
compreende todas atividades públicas ou privadas, que directa ou indirectamente podem
influenciar o ambiente.

3.7. Definição de termos associados aos metais

O termo “metal pesado” vem sendo bastante utilizado na literatura científica


(SANTOS e ALLEONI et al., 2013). Os metais pesados formam um grupo heterogêneo de
elementos que englobam alguns metais (densidade = 6 g cm-3), metalóides e não-metais. No
entanto, não existe nenhuma definição consensual, regulamentada por entidade científica
especializada, como a IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry).

61
A diversidade de definições encontradas para o termo “metal pesado” confirma a
afirmativa de Duffus (2002) de que essa terminologia tem sido usada inconsistentemente, sem
base terminológica da literatura científica. De maneira geral, todas as definições empregadas
ao termo metal pesado, “elemento-traço” ou “metal-traço” tentam relacionar os elementos à
contaminação. Porém, ainda segundo o mesmo autor, nenhuma relação pode ser encontrada
entre densidade, número atômico ou qualquer outro conceito físico-químico utilizado para
definir “metais pesados” e toxicidade ou ecotoxicidade atribuída aos “metais pesados”.
Desta forma, Duffus (2002) propõe a necessidade de uma nova classificação baseada
nas propriedades químicas e na toxicidade potencial dos elementos metálicos e de seus
componentes, o que ainda demanda muita discussão.
Ainda não se tem um consenso sobre o emprego do termo “metal pesado”, assim
sendo, neste trabalho optou-se por empregar o termo “metal potencialmente tóxico”, pois
considera-se esta terminologia a mais adequada quando o assunto tratado é a contaminação e
o efeito tóxico dos contaminantes no meio ambiente.

3.7.1. Os metais traço no solo


A distribuição de metais nos solos, sob condições naturais, ocorre de forma aleatória,
mas generalizada, em todos os solos. Eles, são constituintes naturais dos minerais primários.
Esses elementos são incorporados na estrutura cristalina por substituição isomórfica durante a
sua cristalização (ALLOWAY, 1990). Componentes naturais de rochas e solos, os metais
traços ocorrem normalmente em baixas concentrações, em formas pouco disponíveis, não
representando riscos ao homem, animais e plantas (ZHAO et al., 2007; LU et al., 2012). Após
serem liberados das rochas pelos processos intempéricos, em razão de possuírem
eletronegatividades, raios iônicos e estados de oxidação distintos, os metais podem ser:
precipitados ou co-precipitados com os minerais secundários, adsorvidos à superfície destes
minerais (argilas silicatadas ou óxidos e hidróxidos de Fe, Al e Mn), à matéria orgânica
presente no solo, ou, ainda, complexados e lixiviados pela solução do solo (ALLEONI et al.,
2005).
É consenso na comunidade cientifica o fato de que os teores naturais de metais no solo
são reflexos dos teores do material de origem e dos processos pedogenéticos. Por isso, a
influência do material de origem sobre os teores de metais tem sido relatada por diversos
pesquisadores como sendo determinante para distribuição desses elementos nos solos de
diversas regiões (ALLOWAY, 1990; KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 2001; ALLEONI et
al., 2005; BIONDI et al., 2011) (Tabela 3).

62
Alleoni et al. (1994) atribuem ao material de origem o componente principal na
distribuição dos metais, mesmo em condições severas de intemperismo definindo níveis
característicos e representativos dos materiais que deram origem ao solo.

Tabela 3 - Concentração de metais traços na crosta terrestre e em rochas e solos de diferentes regiões do mundo
derivados de diferentes materiais de origem
Metais Rochas ígneas(1) Rochas sedimentares (1) Solos do mundo(2)
Ultramáficas Máficas Graníticas Carbonato Arenito Peliticas
-1
----------------------------------------mg kg ---------------------------------------------
As 1 1,5 1,5 1 1 13 -
Cd 0,12 0,13 0,009 0,028 0,05 0,22 -
Co 110 35 1 0,1 0,3 19 1,4-10-27
Cr 2980 200 4 11 35 90 12-67-221
Cu 42 90 13 5,5 30 39 8-24-80
Hg 0,004 0,01 0,08 0,16 0,29 0,18 -
Mn 1040 1500 400 620 460 850 80-558-1315
Mo 0,3 1 2 0,16 0,2 2,5 -
Ni 2000 150 0,5 7 9 68 6-24-92
Pb 14 3 24 5,7 10 23 8-29-67
Zn 58 100 52 20 30 120 17-67-236
(1)
Valores para crosta terrestre e rochas são expressos como médias (Alloway, 1990). (2) Valores para solos do
mundo são expressos como mínimo-média-máximo (KABATA PENDIAS e PENDIAS (2001).

Solos derivados de rochas máficas (ricas em minerais ferromagnesianos) apresentam,


em geral, maiores teores de metais comparados com solos derivados de rochas ácidas (ricas
em feldspatos e sílica) e, principalmente, em relação a solos desenvolvidos de rochas
sedimentares, tais como argilitos, siltitos e arenitos (OLIVEIRA, 1996; OLIVEIRA e
NASCIMENTO 2000).
Rochas ultramáficas contêm de modo geral, em sua composição Fe, Co, Ni, Au e Cr,
os quais decrescem em abundância nos basaltos e granitos. Enquanto os demais metais (Cu,
Zn, Hg, Ag, Cd, S, As, Sb, Ti, V e Pb) ocorrem mais frequentemente nos basaltos e nas
rochas de composição intermediária (andesitos) e, de modo geral, sendo empobrecidos em
rochas ultramáficas e nos granitos com pouco Ca (ALLEONI et al., 2005).

3.7.2. Dinâmica dos metais no solo

A retenção dos metais é controlada por reações de adsorção, precipitação e


complexação, afetando assim, a sua solubilidade e mobilidade (KHAN et al., 2000). De
acordo com Alloway (1995), a adsorção é, provavelmente, o processo mais importante na
química dos metais no solo.

63
Mudanças nas condições ambientais, tais como: pH, potencial redox, capacidade de
troca catiônica (CTC), superfície específica, textura, quantidade e qualidade da matéria
orgânica, composição mineral (conteúdo e tipos de argilas e de óxidos de Fe, Al e Mn), o tipo
e a quantidade de metais e a competição iônica podem causar a mobilização dos metais da
fase sólida para a fase líquida, favorecendo assim uma possível contaminação (KABATA-
PENDIAS e PENDIAS, 2001; ALLEONI et al., 2005; ANTONIADIS et al., 2008; SANTOS
et al, 2010).
O conhecimento da dinâmica de metais nos solos possibilita a utilização de práticas
preventivas e/ou mitigadoras mais eficientes de forma a gerenciar a disponibilidade destes
elementos, distribuição no ambiente e transferência para a cadeia alimentar. Ao contrário dos
contaminantes orgânicos, a maioria dos metais não sofre degradação microbiana ou química,
e, por isso, as concentrações no solo persistem por um longo período após a sua entrada
(GUO et al., 2006). O conhecimento das formas iônicas do metal presentes na solução
(especiação química) e sua reação com a superfície coloidal do solo são bons indicativos da
mobilidade e toxicidade do elemento. A especiação de um elemento no solo é controlada pela
atividade iônica da solução (concentração de outros íons), presença de íons e moléculas com
os quais formam complexos (ALLEONI et al., 2005), fase sólida contendo o elemento e em
equilíbrio com a solução do solo, condição redox e pH do solo, sendo este último o fator que
mais altera a especiação dos metais no solo.
Os efeitos do pH nos processos de adsorção, solubilidade e mobilidade dos metais no
solo são bastante conhecidos (MCBRIDE, 1994; CHAVES et al., 2008; ZHAO et al., 2010).
O pH do solo influencia a geração de cargas do adsorvente (cargas negativas ou positivas) e a
especiação dos metais (CHAVES et al., 2008). Em geral, a adsorção de metais é pequena a
valores baixos de pH. A elevação do pH favorece o aumento das cargas negativas na
superfície das particulas, regulando a magnitude da adsorção nesses solos, e,
consequentemente, sua capacidade de adsorção de metais, visto que, as cargas negativas na
superfície originadas pela desprotonação dos componentes do solo tendem a ser balanceadas
pelos metais (MCBRIDE, 1994; CASAGRANDE et al., 2004; ARIAS et al., 2005).
O potencial redox exerce grande influência no potencial de contaminação do solo,
pois, as reações de oxirredução podem influenciar na forma química de alguns metais como
As, Pb, Cu, Cr, Hg e Ag (CAMARGO et al., 2001). Um exemplo das reações de oxirredução
em ligantes inorgânicos é o caso dos óxidos de Fe e Mn, que ao sofrerem redução tornam-se
mais solúveis (SOUZA et al., 2006). De modo geral, as formas reduzidas dos metais possuem

64
maior solubilidade, ou seja, ocorre aumento na possibilidade de lixiviação do metal no solo e
contaminação do ambiente (ALLOWAY, 1990).
Metais em solução existem na forma de íons livres (hidratados) ou em associação com
íons ou moléculas, formando pares iônicos ou complexos, menos tóxicos que os primeiros
(GUILHERME et al., 2005). Os metais nas formas catiônicas e em complexos de sulfato, de
modo geral, são importantes em solos ácidos, enquanto carbonato e complexos de borato
tendem a ser predominantes em ambientes alcalinos. Os estados de oxidação indicam as
principais interações a que o metal está sujeito, afetando sua estabilidade, mobilidade e risco
de contaminação do ambiente.
A interação entre formas químicas dos metais presentes na solução do solo e a
superfície de argilominerais e colóides orgânicos do solo, denominada adsorção, é o processo
químico que mais altera a disponibilidade de metais no ambiente (ALLOWAY, 1990). Este
processo de elevada seletividade garante que concentrações de metais superiores a capacidade
de troca catiônica sejam adsorvidos pelo solo.

3.7.3. Teores Naturais de Metais nos Solos

O termo “background” natural tornou-se uma importante referência com o aumento da


consciência ambiental e com o aumento do número de investigações de poluentes dentro do
ar, água, solo e sedimentos (MATSCHULLAT et al., 2000).
Os valores de referências de qualidade do solo (VRQs) ou de background são valores
orientadores que representam a medida da concentração natural de elementos químicos em
solos sem influência humana (GOUGH et al., 1994).
A avaliação de um solo contaminado pode ser prejudicada pela ocorrência natural de
metais no solo antes da sua contaminação. De fato, a presença de metais nas rochas e a sua
possível concentração durante os processos intempericos levam a uma concentração natural
dos metais nos solos. Neste contexto, a avaliação dos impactos antropogénicos nos solos pelos
órgãos de monitoramento ambiental (MITADER) deve ter como base indicadores que
possibilitam a quantificação do impacto com exatidão. Um banco de dados de valores de
referência de metais no solo não contaminado revela-se então necessário, tal como propõe
CETESB para estado de São Paulo. Esses valores de referência de qualidade (VRQ)
correspondem ao fundo geoquímico no solo (background) são valores que auxiliam na
identificação precisa das áreas mais afetadas pela atividade antrópica. Na última década, os
fundos geoquímicos levando ao estabelecimento dos VRQs vêm sendo levantados em

65
diversos países, tais como: China (Chen et al., 1998), Áustria e Alemanha (Kabata-Pendias &
Pendias, 2000), Polônia (Galuszka, 2007), Itália (Bini et al., 2011) e Nova Zelândia
(McDowell et al, 2013), e no Brasil vários estudos científicos já foram realizados, como por
exemplo: teores naturais de metais nos solos das bacias sedimentares do Recôncavo e do
Tucano Sul (PASSE, 2015), determinação do teor em solos de referência no estado de
Pernambuco (BIONDI, 2011), teores naturais de metais em solos do Cerrado (MARQUES,
2004), proposição de valores de referência em solos brasileiros, sobretudo Argissolos e
Latossolos (FADIGAS, 2002; FADIGAS, 2006), e solos da formação Barreiras do Terciario
(FADIGAS, 2011)
A concentração total natural de metais pesados em solos depende, principalmente, do
material sobre o qual o solo se formou, dos processos de formação e da composição e
proporção dos componentes da fase sólida do solo. Sua relação com o material de origem é
bastante evidenciada quando o solo é formado in situ sobre a rocha, tornando se menos
expressivas nos solos originados sobre materiais previamente intemperizados. Solos
originados a partir de rochas básicas e ultrabásicas, naturalmente mais ricas em metais,
apresentam maiores teores desses elementos quando comparados com aqueles formados sobre
granitos, gnaisses, arenitos e siltitos (VALADARES, 1975; ROVERS et al., 1983;TILLER,
1989).
A legislação brasileira estabelece três valores orientadores distintos: Valores
Orientadores de Referência de Qualidade (VRQs), de Prevenção (VP) e de Investigação (VI)
(CONAMA, 2009). Estes valores são baseados na análise dos solos sob condição natural (sem
nenhuma ou mínima interferência antrópica), e em análise de risco, os quais serão
sumarizadamente conceituados a seguir.
Valor de Referência de Qualidade (VRQs): também conhecido como background
geoquímico, é baseado na avaliação dos teores naturais dos metais nos solos, sem a influência
de atividade humana.
Valor de Prevenção (VP): Valor intermediário entre o VRQ e o valor de investigação
(VI), é o valor limite de metal no solo, que não interfere em sua capacidade de comprometer
suas funções: sustentador da diversidade biológica e dos ciclos biogeoquímicos, meio para a
produção de alimentos e matéria prima, regulador da dispersão de substâncias contaminantes
no solo mediante sua atuação como filtro e tampão ambiental. No caso deste valor ser
alcançado será requerido o monitoramento e avaliação da causa deste alto teor, tornando-se
determinante para extinção de possíveis fontes de contaminação na área, ou verificação da
existência de teores naturais atípicos.

66
Valor de Investigação (VI): refere-se ao valor acima do qual existem riscos potenciais
à saúde humana e ao desenvolvimento dos demais organismos vivos. Ocorrendo valores
acima ao VI, medidas emergências são requeridas na área, visando o gerenciamento da
contaminação de forma a remediar e reduzir o risco de poluição, reduzindo assim, as vias de
exposição, restringindo o acesso de pessoas à área.

3.8. Aspectos toxicológico dos metais

3.8.1. Aspectos toxicológicos do Manganês e Titânio


O Manganês é o 11º elemento mais abundante da crosta terrestre e ocorre naturalmente
em vários tipos de rochas. No solo, suas concentrações dependem das características
geotérmicas, das transformações ambientais dos compostos de manganês naturalmente
presentes, da atividade de microorganismos e da incorporação pelas plantas (WHO, 1981).
O Manganês é considerado um micronutriente essencial para vários eventos
fisiológicos de mamíferos, incluindo o crescimento e desenvolvimento normal de ossos e
cartilagens (HURLEY, 1981), bem como dos tecidos e do sistema reprodutor (GREGER,
1999; KEEN et al., 1999). Adicionalmente, esse elemento também está envolvido no
metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, por ser cofator de inúmeras enzimas como a
superóxido dismutase, hexoquinase e piruvato carboxilase (KEEN et al., 1984). A dose diária
de Manganês recomendada para um adulto está entre 2-5 mg e normalmente é excretado
juntamente com a secreção biliar (MARTINS e LIMA et al., 2001).
Embora pequenas quantidades de Manganês sejam necessárias e benéficas para o
corpo, foi demonstrado que o excesso pode causar graves problemas (PONNAPAKKAM et
al., 2003). Homens que foram expostos ao pó de Manganês no trabalho relataram diminuição
da libido e impotência (CHANDRA et al., 1973). Além disso, concentrações mais elevadas de
Manganês são neurotóxicos podendo causar dano ao sistema nervoso central (KOMURA e
SAKAMOTO, 1992).
Trabalhadores expostos prolongadamente a altos níveis de Manganês podem
apresentar intoxicação crônica, conhecida como manganismo. Essa síndrome pode se
desenvolver de 2 a 25 anos de exposição prolongada e se caracteriza por deterioração das
funções neurológicas, incluindo a degeneração de neurônios e células da glia (SIQUEIRA,
1984; WHO, 1999). Existem outros sintomas como anorexia, apatia, dores de cabeça e
fraqueza nas extremidades. Em alguns casos os sintomas do manganismo são semelhantes à

67
doença de Parkinson e por isso foi batizada como “Parkinsonismo induzido pelo Manganês”,
caracterizado pela rigidez corporal e distúrbios motores, (WHO, 1999).
O Titânio é quarto metal mais abundante da crosta terrestre não sendo encontrado
puro, mas em minerais como o Rutilo (TiO2), o Anatásio (TiO2) e a Ilmenita (FeTiO3),
(PETERS; LEYENS, 2003).
O Titânio pode entrar no organismo por diferentes vias de exposição, como sistema
respiratório, digestivo ou pele, circula através do sangue e sistema linfático, sendo distribuído
para diferentes órgãos (HONG e ZHANG, 2016).
Titânio não exibe toxicidade ambiental na forma de micropartículas, mas quando
sintetizado como nanopartícula pode causar uma variedade de efeitos tóxicos em mamíferos
como prejuízo nas vias respiratórias (inflamação, danos, fibrose e tumores nos pulmões e mau
funcionamento dos macrófagos), distúrbios mitóticos, dano do DNA e apoptose (GWINN e
SOKULL-KLUTTGEN, 2012). Devido ao seu pequeno tamanho, podem passar livremente
através dos capilares sanguíneos e serem distribuídas por todo o organismo
(OBERDÖRSTER et al., 2005).

3.8.2. Aspectos toxicológicos do Bário


O Bário é um metal alcalino-terroso, pertencente ao Grupo II da tabela periódica. É
um metal macio de cor prata-branco que oxida rapidamente no ar úmido e reage com a água e
é fortemente eletropositivo (USEPA, 2005). O Bário não existe livre na natureza, mas ocorre
naturalmente na forma de uma mistura de sete isótopos estáveis, ou seja, em estado
combinado, sendo que as principais formas são: baritina (sulfato de Bário) e witherite
(carbonato de Bário), podendo estar presente em pequenas quantidades também em rochas
ígneas, como feldspato e micas e pode ser encontrado como um componente natural de
combustíveis fósseis (USEPA, 2005; WHO, 1990).
Devido à toxicidade do Bário a USEPA (United States Environmental Protection
Agency) acrescentou o Bário à sua lista como um elemento potencialmente poluente (USEPA,
2003). O Bário não é essencial aos seres vivos do ponto de vista biológico e é considerado
muito tóxico quando está presente no meio ambiente, mesmo em baixas concentrações, pois
pode ter efeito acumulativo nos organismos dos homens e dos animais (CUNHA e
MACHADO, 2004).
A exposição em curto prazo de pessoas ao Bário pode resultar em distúrbios intestinais
e fraqueza muscular e em longo prazo, tem potencial para causar hipertensão arterial

68
(USEPA, 2005). A ingestão de pequenas quantidades de Bário solúvel em água pode causar
dificuldade respiratória, mudanças no ritmo cardíaco, irritação estomacal, mudanças no
reflexo nervoso, inchaço do cérebro e fígado e dano ao coração e a ingestão de grandes
quantidades pode causar paralisia e em alguns casos morte (WHO, 1990). O nível máximo de
Bário na água potável tem sido determinado pela USEPA (2005) em 2 mg L-1.
Há ainda numerosos casos relatados na literatura de ingestão de sais de Bário solúveis,
com efeitos que incluem gastroenterite, hipocalemia, hipertensão aguda, arritimia cardíaca,
paralisia do músculo esquelético e morte, ligados com a estimulação muscular direta
(esquelético, cardíaco e liso) e com a capacidade do íon de bário bloquear potássio e interferir
com os canais de difusão passiva (DOWNS et al., 1995; JACOBS et al., 2002; KOCH et al
2003; CDC, 2003). Pneumoconiose benigna (baritosis) ocorre em trabalhadores expostos a
inalação de compostos de Bário, com acúmulo de bário nos pulmões (DOIG, 1976).

3.8.3. Aspectos toxicológicos do Zinco


O Zn encontra-se no grupo IIB da Tabela Periódica, é considerado um micronutriente
que representa cerca de 0,003% (1,4 a 3,0 gramas) do corpo humano, sendo o mais abundante
depois do Fe (SAPER e RASH, 2010). E apesar da sua pequena quantidade no organismo, sua
presença é essencial em todos os ciclos da vida (PERSON, et al 2006).
O Zinco é um elemento essencial e benéfico ao metabolismo do ser humano e de
diversas formas de vida inclusive para o desenvolvimento e crescimento de plantas. De
acordo com Mulligan et al (2000), as concentrações naturais de Zinco em solos variam entre
30 e 150mg/kg. Em vegetais, valores entre 10 e 150mg/kg são normais, enquanto 400mg/kg
são considerados tóxicos.
Embora não seja tão tóxico, a ingestão de altas doses Zinco pode provocar distúrbios
gastrointestinais, diarreia, úlceras, pancreáticos, anemias, má circulação sanguínea e fibrose
pulmonar (ELEUTÉRIO, 1997).
O Zinco é um dos constituintes da insulina e cerca de 90 enzimas são ativadas por esse
metal. A carência de Zinco pode levar ao nanismo, anorexia (falta de apetite), alopecia (queda
de cabelos e barba), dificuldades de cicatrização. Seres humanos com leucemia, diabetes,
problemas cardíacos, em geral, têm menos zinco que o normal.

69
3.8.4. Aspectos toxicológicos do Chumbo
O Chumbo é um mineral não essencial, tóxico que se acumula no organismo de forma
lenta na maioria dos casos. Uma importante característica da sua intoxicação é a
reversibilidade das alterações bioquímicas e funcionais induzidas. Esses efeitos são
inicialmente devidos à sua interferência com o funcionamento adequado das membranas
celulares e das enzimas, causadas pela formação de complexos de chumbo e ligações
contendo enxofre, fósforo, nitrogénio e oxigénio. O sistema nervoso, a medula óssea e os rins,
são os órgãos alvos à exposição ao chumbo (KLAASSEN, 2001).
O Pb é um metal de ocorrência natural nos solos, e sua presença ocorre devido ao
comportamento específico desse metal de concentrar-se em regiões ácidas dos solos, resultado
do intemperismo químico de rochas magmáticas e sedimentos argilosos. Nesses casos, sua
concentração natural varia entre 10 a 40 mg kg-1; por sua vez, quando encontrados em rochas
calcárias, os teores de Chumbo geralmente se apresentam entre 0,1 a 10 mg kg-1. A
abundância média de Pb na crosta terrestre é estimada em cerca de 15 mg kg-1, justificando
teores encontrados, muitas vezes, em solos naturais ausentes de manejo antrópico (KABATA-
PENDIAS e PENDIAS, 2001).
A presença no ambiente desse elemento pode resultar em uma série de problemas
relacionados aos organismos dependentes desses ambientes, incluindo-se a redução no
crescimento e até a extinção da vegetação, a contaminação das águas superficiais e dos
aquíferos, além da toxicidade direta para os seres humanos, os animais e os microrganismos
(ALVES et al., 2008). Atualmente, esse elemento é classificado como o segundo mais
perigoso na lista de prioridade da Agência de Proteção Ambiental americana, atrás somente
do Arsênio (As) (ATSDR, 2005).
O Pb no solo e em poeiras são as principais fontes de exposição em crianças, e quando
são expostos em níveis relativamente baixos, pode causar efeitos neurológicos adversos em
fetos e crianças. Efeitos neurocomportamentais também foram documentados em estudos com
animais, bem como em humanos. O Pb afeta o sistema hematopoiético, alterando a atividade
de algumas enzimas, o que pode causar, posteriormente, a diminuição dos níveis de
hemoglobina e anemia. O Pb pode causar danos nos rins, como resultado de exposição aguda
ou crônica. Dentre outras doenças, a exposição pode resultar em nefrite intersticial, fibrose e
atrofia tubular, cólicas, náuseas, vômitos e anorexia (WILLAMS et al 2000).

70
3.8.5. Aspectos toxicológicos do Cobalto
Todas as substâncias que interagem com os seres vivos, quando em excesso, podem se
tornar tóxicas. O Cobalto, assim como todos os micronutrientes essenciais, apresenta duas
zonas de exposição incompatíveis com a vida: tanto a deficiência como o excesso podem
levar à doença ou à morte (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989).
Deve ser salientado que a intoxicação por Cobalto pode causar dores abdominais,
vômitos, náuseas, alterações na tireóide e no pâncreas, lesões cardíacas e distúrbios
circulatórios. Se entrar em contato com a pele, o Cobalto pode provocar irritações. O mesmo
pode ocorrer se for inalado. Há fortes indícios de que o Cobalto seja cancerígeno. Por outro
lado, a falta de Cobalto pode causar anemia, falta de apetite, parada do crescimento,
irritabilidade e falta de concentração (WILLAMS et al 2000).

3.8.6. Aspectos toxicológicos do Cromo


O Cromo é um metal cinza-aço, com forma cristalina cúbica, sem odor e muito
resistente à corrosão. É o sétimo metal mais abundante na Terra como um todo. O metal não é
encontrado livre na natureza, aparecendo na maioria das vezes como óxidos, basicamente
como cromita, FeCr2O4 e constitui com cerca de 0,012% da crosta terrestre. Na maioria dos
solos, cromo é encontrado em baixas concentrações da ordem de 2 - 60 mg.kg-1 (AZEVEDO;
CHASIN, 2003).
O Cromo é encontrado na natureza em várias combinações com outras substâncias e
pode apresentar-se na forma de íons com valência +2, +3 ou +6. Entre as mais importantes
quanto aos seus aspectos sobre a saúde humana, destacam-se a trivalente (+3), essencial para
o metabolismo humano, e a hexavalente (+6), potencialmente tóxico. A presença de altas
concentrações da forma hexavalente no ambiente, principalmente de fontes antrópicas, é
nociva à saúde, já que causa problemas de caráter local, tais como, dermatite irritativa,
dermatite alérgica, corrosão da mucosa nasal, e outros de caráter geral, como asma bronquial,
câncer de pulmão e danos renais (GALVÃO; COREY, 1987).
Os efeitos crônicos da exposição ao Cromo ocorrem no pulmão, no fígado, nos rins,
no trato gastrointestinal e no sistema circulatório, principalmente a exposição industrial
excessiva da pele ao Cromo hexavalente, quando associado com a pele irritada, ou a inalação
do Cromo transportado pelas vias aéreas ou de poeira misturada. Riscos teratogênicos da
exposição ao Cromo não foram relatados para seres humanos. Os resultados de estudos
epidemiológicos em vários países demonstraram que os homens que trabalhavam no

71
beneficiamento de cromato, antes de 1950, apresentaram elevada taxa de carcinoma
broncogênico, se comparados aos homens do grupo controle. Por causa do período longo
entre a exposição inicial e a detecção do câncer, da falta de dados sobre a extensão e tipo de
exposição, a relação entre a dose e a resposta não foi quantificada. Dados obtidos
posteriormente mostraram claramente que, embora o risco de câncer nos trabalhadores em
minas modernas tenha sido reduzido, o problema ainda permanece (WHO, 1990; THE
INTERNATIONAL PROGRAMME ON CHEMICAL SAFETY, 1988).

3.8.7. Aspectos toxicológicos do Cobre


Vários fenômenos podem ocorrer com o Cu no solo. O Cu tende a ser menos móvel no
solo devido a sua solubilidade limitada e/ou sua grande afinidade de formar complexos com a
matéria orgânica (CHRISTENSEN e KJELDSEN 1989).
Quando ocorre a exposição por inalação de Cu, podem ser observados efeitos nos
sistemas gastrointestinal, hematológico, hepático, endócrino e ocular. Efeitos respiratórios
podem ocorrer quando ocorre exposição via aerossóis de sulfato de Cobre (U.S.
DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 2004). Trabalhadores expostos a
poeiras contendo Cobre, relatam uma série de sintomas que são sugestivos de irritação das
vias respiratórias, incluindo tosse, espirros, dor torácica e corrimento nasal. Dentre os efeitos
gastrintestinais, são relatadas anorexia, náusea e diarréia (U.S. DEPARTMENT OF HEALTH
AND HUMAN SERVICES, 2004).
Existem relatos de diminuição da hemoglobina e dos níveis de hemácias em
trabalhadores expostos a níveis de Cobre no ar de 0,64-1,05 mg m-3 (U.S. DEPARTMENT
OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 2004).

3.8.8. Aspectos toxicológicos do Níquel


A exposição da população geral ao Níquel pode ocorrer por inalação de ar, ingestão de
água e alimentos ou contato com a pele. As concentrações de Níquel em excesso, se em
contato com a pele, provoca dermatites, enfartam no miocárdio, etc. O maior perigo é que
esse metal pode causar câncer de pulmão, dos seios e da face (VAITSMAN et al, 2001).

72
3.8.9. Aspectos toxicológicos do Vánadio

O Vanádio pode ter inúmeros efeitos na saúde humana quando sua concentração é alta.
Se a contaminação for através do ar, pode causar bronquite e pneumonia. Pode causar
irritação dos pulmões, garganta, olhos e cavidades nasais, doenças cardiovasculares,
inflamação de estômago e intestinos, lesões no sistema nervoso central, sangramento do
fígado e rins, lesões na pele, dores de cabeça, entre outros efeitos. Os efeitos à saúde humana
associada com a exposição são dependentes de seu estado de oxidação. A forma de pentóxido,
V2O5, é mais tóxica que a forma elementar, V. O Vanádio pode causar problemas ao sistema
reprodutivo de animais machos que é acumulado na placenta feminina. Pode provocar
alterações no DNA em alguns casos, mas não é comprovadamente ainda um causador de
câncer, (QUINÁGLIA 2006).

3.8.10. Aspectos toxicológicos do Estrôncio e Zircônio


O Sr encontra-se nos solos em concentrações variáveis, mas a concentração padrão
com base em Kabata Pendias e Pendias (2001) é de 0,2 mg/kg-1. Este teor pode aumentar com
a acumulação de cinzas de carvão nos solos (VASCONCELOS et al, 2009). Os principais
efeitos adversos do Sr vêm do seu isótopo radioactivo Sr90, o qual ocorre em percentagens
ínfimas sobre o Sr total (ATSDR, 2003).
Em geral, o Zr e seus sais têm baixa toxicidade. A maior parte do Zr ingerido passa
através do tubo digestivo sem ser absorvido, e o que é absorvido tende a acumular-se mais no
esqueleto do que nos tecidos. Nas cinzas em estudo, o Zr ocorre em quantidades em geral
inferiores ao seu VCk (factor de enriquecimento entre 0,8 e 1,8), (VASCONCELOS et al,
2009).

73
4. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos de campo e


laboratoriais, assim como os procedimentos analíticos executados nas amostras coletadas para
o desenvolvimento da pesquisa dessa tese. A metodologia empregada foi conduzida de forma
a atender os objetivos da mesma. Desta forma, foram utilizados diferentes materiais e
métodos, conforme descrição a seguir:

1ª Etapa: Levantamento bibliográfico


Inicialmente foi realizado o levantamento e análise do material bibliográfico em
diversas instituições do Governo de Moçambique, fontes disponíveis na internet e, na
biblioteca da IGc-USP e Escola de Minas na Poli – USP. Posteriormente efetuou-se a seleção
e leitura de publicações científicas (livros, artigos, revistas, relatórios, dissertações e teses) e
outros documentos com relevância na temática o que permitiu a organização e gestão do
andamento dessa pesquisa que resultou nessa tese.

2ª Etapa: Elaboração de mapas e descrição dos aspectos físicos


A segunda etapa consistiu na elaboração de mapas com base no ArcGis 10.3 da ESRI
com projeção UTM, Datum WGS 1984, e o paint 2007. Elaborou-se e modificou-se mapas
temáticos, sobre a localização geográfica, hidrografia, geomorfologia e seleção dos pontos de
amostragem de solo. Realizou-se ainda a descrição dos aspectos físicos locais: geologia,
hidrologia, clima, topografia e solos, baseadas principalmente nos trabalhos realizados pela
Vale Moçambique (2006), Vasconcelos (1995), GTK Consortium (2006) e da Direção
Nacional de Geologia (2006), com informações sobre a bacia Carbonífera de Moatize.

3ª Etapa: Trabalhos de Campo.


Foram realizadas três campanhas de campo. A primeira, em Dezembro de 2015, teve
por objetivo a submissão dos pedidos de realização de trabalho de campo ao Governo do
Distrito de Moatize e realizar um breve reconhecimento da área por meio da locomoção na
mesma e georreferenciamento de alguns pontos assim como a obtenção de fotografias dos
locais de interesse. Ainda no primeiro campo efetivou-se a coleta de 5 pontos entre os meses
de Janeiro a Fevereiro de 2016 na área 1 (uma das mineradoras).
No segundo trabalho de campo, o deslocamento a Moçambique foi realizado em
Agosto de 2016 e consistiu na coleta de 12 pontos de amostra de solo na área 2 (uma das

74
mineradoras); 2 amostras de poeira correspondentes as áreas 1 e 2, em residências de
habitantes próximos a atividade mineira.
Com as informações dos dois trabalhos de campo iniciais, juntamente com
informações obtidas em literatura diversa e de trabalhos realizados na área de estudo,
definiram-se no terceiro trabalho de campo, a coleta de 5 pontos de solo na área 3 (área de
coleta de amostras de solo não contaminadas), em locais com mínima atividade antrópica,
para determinar os teores naturais de metais no solo a qual foi realizada no mês de Março de
2018. Com essas atividades de campo permitiu-se estabelecer a integração dos resultados
obtidos a partir das amostras em função principalmente dos resultados analíticos obtidos com
as amostras coletadas nas campanhas anteriores.

4.1. Procedimentos de coleta

4.1.1. Definição dos pontos e técnicas de amostragens


Os pontos de coletas de amostragem de solo foram definidos de acordo com formas de
uso e ocupação do solo, diferentes unidades geológicas, a direção preferencial dos ventos, e
também a proximidade das residências das populações em relação as minas e da atividade de
disposição de rejeitos, bem como da produção do carvão seja metalurgico seja para uso
energético (Figura 14 A e B). Sendo assim, foram selecionados no total 22 pontos (Tabela 4).
As Figuras 15,16 e 17 apresentam os pontos de amostragens.
As técnicas de amostragem, tratamento e análises das amostras do solo seguiram os
protocolos internacionais padronizados na área da Geoquímica de Superfície elaborados pelos
programas da International Union of Geologic Science (IUGS) e International Association of
Geochemistry (IAGC), disponíveis em Darnley et al. (2005) e em Salmine et al. (2005).

75
A B

Figura 14 (A e B): Casa de moradores nas proximidades das empresas mineradoras

Tabela 4 : Localização dos pontos de amostragem de solo em Moatize

Pontos Descrição de Campo Profundidade Coordenadas (UTM) Local


(cm)
1ͣ COLETA
1 317 0-20 584158 8214048
2 319 0-20 582909 8214864
ÁREA 1
3 321 0-20 582393 8214718
4 322 0-20 583593 8215669
5 323 0-20 580318 8217469
2ͣ COLETA
6 P1 0-20 572368 8218930
7 P2 0-20 572419 8218921
8 P3 0-20 572544 8218894
9 P4 0-20 572671 8218819
10 P5 0-20 572871 8218708
ÁREA 2
11 P6 0-20 572956 8218719
12 P7 0-20 573128 8218716
13 P8 0-20 573097 8218514
14 P9 0-20 571980 8219079
15 P10 0-20 571745 8919043
16 P11 0-20 571622 8219046
17 P12 0-20 571539 8219043
3ͣ COLETA
18 VR1 0-20 580226 8219356
19 VR2 0-20 580507 8219107
ÁREA 3
20 VR3 0-20 580883 8219006
21 VR4 0-20 581144 8219162
23 VR5 0-20 581145 8218580

76
Figura 15: Localização dos pontos de amostragem de solos referentes ao primeiro campo. (do autor com base no Google earth Pro, 2015)

77
Figura 16 Localização dos pontos de amostragem de solos referentes ao segundo campo, (do autor com base no Google earth Pro, 2017).

78
Figura 17: Localização dos pontos de amostragem de solos referentes aos teores naturais de metais em solo (do autor com base no Google earth Pro, 2018)

79
4.1.2. Coleta de solo com tubo de PVC
Tendo em vista que se objetivou quantificar os metais presentes nos solos cujas fontes
eram, predominantemente, antrópicas, a coleta se deu nos primeiros 20 cm de profundidade.
Conforme os resultados de Ianhez (2003) e conclusões de Lemos (2002), um maior percentual
dos cátions metálicos é retido nesta faixa de profundidade.
A Coleta foi realizada com tubo de PVC de aproximadamente 1,0 m de comprimento
previamente enxaguado com água deionizada antes de cada ponto de coleta, tampa de PVC e
marreta de borracha (Figura 18 A e B), conforme já empregado em pesquisa realizada por
Guimarães (2001) e Martins (2012). Para o georeferreciamento dos pontos de coleta usou-se
GPS Modelo Garmin.

Figura 18: Coleta das amostras de solo com o tubo de PVC, área de produção agrícola (A), área próxima as
residências (B), (Fotografia do autor, 2017)

Para a determinação dos teores naturais de metais no solo, as amostras foram coletadas
em áreas sob mínima ou nenhuma atividade antrópica, sob vegetação natural (Figura 19),
conforme recomendado pela Resolução nº420 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA, 2009), para o procedimento de estabelecimento dos Valores Orientadores de
Qualidade do solo.

80
Para cada ponto de amostragem, foi necessário realizar uma amostra composta com 5
sub-amostras de 1kg, respeitando uma distância mínima entre sub-amostras de 5 m.

Figura 19: Coleta das amostras de solo com o tubo de PVC em áreas sob mínima ou nenhuma atividade
antrópica, sob vegetação natural A, B e C, (Fotografia do autor, 2017)

81
As amostras foram catalogadas e acondicionadas em sacos plásticos de polietileno,
previamente lavados e conduzidas ao laboratório de Tratamento de Amostras (LTA) do
Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo. O material foi submetido a secagem à
temperatura ambiente 25 a 30oC (40oC), e depois quarteado.

4.1.3. Procedimento de coleta de poeira


As atividades de mineração estão situadas próximas uma das outras, (a brasileira Vale
SA, australiana Rio Tinto Coal Mozambique, atualmente Consórcio indiano International
Coal Ventures Limited e Sul africana Minas Moatize Ltda, sofrem grande influência do vento.
O vento ao passar nas áreas de mineração arrasta o material particulado, que é transportado
juntamente com o sentido do vento, acabando por refletir para a direção da comunidade
circunvizinhas. É neste momento que as partículas se depositam e podem gerar os possíveis
impactos no meio ambiente.
As principais fontes produtoras de poeira estão atreladas a três tipos de ocorrências,
todas elas associadas à atividade mineira: levantamento de poeira pelos caminhões que
transportam minério de carvão em estradas não pavimentadas, a poeira das estradas
pavimentadas sujas de pó (Figura 20) e em parte, a poeira trazida das minas à zona urbana
pela ação do vento (Figura 21).

Figura 20: Ilustração de caminhões de carregamento de carvão, (Fotografia do autor, 2017)

82
Figura 21: Poeira trazida das minas à zona urbana por ação de turbulência do vento, (Fotografia do autor, 2017)

A coleta da poeira foi realizada em duas residências, uma próxima a mineradora Sul-
africana Minas Moatize Ltda (Figura 22) e outra nas proximidades da mineradora Vale
Moçambique (Figura 23) feitas mediantes um aspirador de pó da Western.

Figura 22: Coleta de poeira em residência nas proximidades da mineradora Sul africana Minas Moatize Ltda, (do
autor, 2017)

83
Figura 23: Coleta de poeira em residência nas proximidades da mineradora Vale Moçambique, (do autor, 2017)

4.2. Trabalhos de Laboratório

4.2.1. Preparação das amostras de solo


As amostras trazidas do campo foram colocadas em bandejas e deixadas sobre a
bancada do Laboratório de Tratamento de Amostras (LTA) do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo por 4 dias sob temperatura ambiente 25 a 30oC (40oC). Em
seguida, as amostras foram destorroadas e peneiradas para se obter a fração Terra Fina Seca
ao Ar – TFSA (granulometria menor que 2 mm). Com estas amostras de TFSA foram
realizadas as demais análises. Estes procedimentos seguiram as recomendações da Embrapa
(EMBRAPA, 1999).

4.2.2. Caracterização química do solo e poeira


As amostras de solo e poeira foram enviadas ao Laboratório de Caracterização
Tecnológica (LCT) - Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola
Politécnica – Poli USP. Objetivando-se a determinação da composição química total do solo,
foi realizada análise por fluorescência de Raio-X (FRX) nas amostras do primeiro campo e
por Espectrometria de Emissão Atômica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP-OES)
realizadas tanto no primeiro conjunto de amostras como no segundo e nas amostras de poeira.

84
A Fluorescência de Raios X
A Fluorescência de Raios X é uma técnica de ensaio não destrutiva que permite fazer
uma análise qualitativa, isto é, fornece a identificação dos elementos presentes em uma
amostra, assim como uma análise quantitativa na qual estabelece a proporção de cada
elemento presente na amostra. (NASCIMENTO FILHO, 1999)
A análise por Fluorescência de Raios X é um método semi-quantitativo baseado na
medida das intensidades dos Raios X característicos emitidos pelos elementos que constituem
a amostra (POTTS, 2008).
Os teores de Na2O, MgO, Al2O3, SiO2, P2O5, SO3, Cl, K2O, CaO, TiO2, Cr2O3, Fe2O3,
NiO, CuO, ZnO, SrO, ZrO2, Nb2O3 e BaO foram determinados em amostra prensada, na
calibração STD-1 (Standardless), relactiva a análise sem padrões dos elementos químicos
compreendidos entre o flúor e o urânio, em espectrômetro de fluorescência de raio X. A perda
ao fogo (PF) foi efetuada a 1.0200C por duas horas. Os resultados expressos foram
normalizados a 100%.

ICP-OES
O ICP-OES é uma técnica baseada na emissão de fótons, oriundos de íons excitados
pelo plasma, que é gerado por uma bobina de radiofrequência (HOU e JONES, 2000). Após a
inserção da amostra no equipamento esta é convertida em um aerossol que é direcionado para
o plasma, onde os átomos são convertidos em íons e depois são elevados para um nível
excitado. Estas espécies quando retornam ao estado fundamental emitem fótons, que são
característicos de cada espécie química, bem como a quantidade de fótons é proporcional à
concentração do analito. Uma porção destes fótons é coletada com uma lente ou espelhos
côncavos, que formam uma imagem na abertura de um equipamento de seleção de
comprimentos de onda. Estes comprimentos de onda são convertidos em sinais elétricos por
um fotodetector, e em um computador o sinal é amplificado e processado (HOU e JONES,
2000).
O ICP-OES opera com emissão de radiação eletromagnética na região do visível e
ultravioleta do espectro, e a técnica de análise é baseada na excitação do analito pelo plasma
de argônio. Os elementos presentes na amostra produzem fótons em diversos comprimentos
de onda, mas é possível definir o comprimento de onda desejado para a determinação de cada
analito. Através de uma relação estabelecida com um padrão de referência e a intensidade de
energia detectada no comprimento de onda indicado, é possível determinar a concentração do

85
analito na amostra. Esta relação é construída através das curvas analíticas (CIENFUEGOS E
VAITSMAN, 2000).
Os teores de Ba, Co, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb, Sr, Ti, V, Zn e Zr apresentados foram
determinados por análise quantitativa em amostra preparada através de digestão multiácida e
dosados em espectrômetro de emissão atômica (ICP-OES) da marca Horiba Jobin Yvon
modelo Ultima Expert com visão radial e sistema de varredura sequencial.

4.2.3. Caracterização química das amostras de carvão


Para a presente caracterização, trabalhou-se com as amostras brutas de carvão, carvão
runof-mine (ROM), designadamente (UCS e LCS) provenientes da Mineradora Vale
Moçambique, no Distrito de Moatize, conforme ilustra a Figura 24.
Assim como as amostras de solo do primeiro campo, os resultados da análise química
de carvão foram determinados no Laboratório de Caracterização Tecnológica (LCT) da USP,
em amostra prensada, na calibração STD-1 (Standardless), relativa a análise sem padrões dos
elementos químicos compreendidos entre o flúor e o urânio, em espectrômetro de
fluorescência de raio X. A perda ao fogo (PF) foi efectuada a 1.0200C por duas horas. Os
valores expressos foram normalizados a 100%.

Figura 24: layout da camada Chipanga (VALE-MOÇAMBIQUE, 2016 Apud CASTRO, 2016)

86
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No desenvolvimento dessa pesquisa são apresentados na ordem, os resultados obtidos
seguidos da respectiva discussão, considerando cada elemento químico analisado nessa Tese.
Os elementos químicos foram aqueles os predominantemente encontrados no carvão
explotado nas mineradoras da área estudada e foram analisados em amostras de solo coletadas
em três campanhas de campo. Adicionou-se a essas amostras de solo, análises de poeira e de
carvão runof-mine (ROM), provenientes da Mineradora Vale Moçambique.
Para a interpretação dos resultados obtidos foram realizados gráficos com base no
software Microsoft Office Excel 2007.

5.1. Análise química das amostras por FRX

Os teores dos elementos majoritários, obtidos por meio da análise por fluorescência
(FRX) das amostras pertencentes aos cinco pontos de coleta (P317, P319, P321, P322, P323),
e das amostras de carvão (UCS e LCS) são exibidos em % de óxidos na Tabela 5 e os anexos
B e E.

Tabela 5: Resultado de análises químicas totais dos solos e carvão obtidas por FRX. Valores expressos em % de
óxidos, normalizados a 100%.
Solo (%) Carvão (%)
Composto 317 319 321 322 323 UCS LCS
Na2O 3,00 4,50 3,65 3,58 1,61 0,156 0,110
MgO 1,84 0,876 1,09 1,05 1,11 0,511 0,298
Al2O3 11,4 16,5 16,9 15,9 15,4 22,4 17,0
SiO2 38,9 54,4 48,2 53,7 38,5 52,4 34,0
P2O5 1,20 0,560 0,748 0,443 0,339 0,077 0,113
SO3 0,042 <0,001 0,036 0,037 0,414 0,528 0,973
Cl 0,540 0,070 0,070 0,060 0,080 <0,001 0,029
K 2O 2,59 2,37 2,20 1,97 1,37 1,83 1,02
CaO 5,91 6,26 7,96 5,07 7,99 0,096 0,089
TiO2 2,99 2,05 2,84 3,09 1,79 1,71 0,952
Cr2O3 0,076 0,087 0,035 0,030 0,041 0,023 0,020
Fe2O3 23,8 7,16 8,46 8,74 10,8 0,809 0,706
NiO * <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001
CuO 0,021 0,015 0,015 0,015 0,025 0,012 <0,001
ZnO 0,030 0,014 0,017 0,013 0,022 0,008 0,003
SrO 0,107 0,102 0,103 0,079 0,061 0,023 0,024
ZrO2 0,007 0,042 0,064 0,058 0,024 0,042 0,022
Nb2O3 0,007 0,007 0,007 0,008 <0,001 0,005 0,002
BaO 0,211 0,075 0,058 0,069 0,086 0,032 0,028
PF 7,09 4,77 7,36 5,81 20,1 19,3 44,5
* Valores abaixo do limite de quantificação do instrumento de análise empregado.

87
Os valores de NiO apresentados na Tabela 5 para solos assim como para carvão
estavam abaixo do limite de quantificação pelo método analítico adotado (Figuras 27 e 28).
A Figura 25 demonstra que o solo é constituído majoritariamente de óxidos de silício,
alumínio (silicatos) e ferro. Outros elementos (óxidos) contribuem em quantidades variáveis,
mas bastante reduzidas em relação aos primeiros.

Figura 25: Distribuição da composição química predominante do solo

Ao comparar as concentrações obtidas entre as amostras de solos referentes a primeira


amostragem (317, 319, 321, 322 e 324), com influência das atividades de mineração de
carvão, verificou-se que as concentrações obtidas para SiO2 foram as maiores em todos os
pontos de coleta, em relação aos demais óxidos determinados. O Si constitui
aproximadamente 28% da composição da crosta terrestre e é o elemento mais abundante, após
o oxigênio (HEINEN e OEHLER, 1979). Da mesma forma, o óxido de silício (SiO2) é o
composto primário mais abundante nos solos, constituindo a base da estrutura da maioria dos
argilo-minerais de alteração da rocha subjacente. Estudos realizados em meados da década de
80 (TISDALE et al., 1985) consideram que solos mais jovens apresentam maiores
concentrações desse elemento; já aqueles mais intemperizados, apresentam concentrações
menores.
A caracterização química das amostras de carvão é bastante importante tanto com
relação aos elementos majoritários quanto aos elementos traços presentes em sua composição,
pois estes influenciam fortemente no seu potencial de aplicação, bem como determinam seu
impacto no meio ambiente.
88
Os resultados da análise química por fluorescência de raios X das amostras de carvão
estão apresentados na Tabela 5. Observou-se que as amostras UCS e LCS são constituídos
predominantemente por SiO2 (52,4% e 34,0%) e Al2O3 (22,4 e 17,0%) respectivamente, como
óxidos principais (Figura 26). Esta característica já era esperada uma vez que os trabalhos de
Lin e Hsi (1995), Querol et al. (1995), Vassilev e Vassileva (2007) mostram que estes são os
principais constituintes das cinzas de carvão mineral.

Figura 26: Distribuição da composição química principal das amostras de carvão (UCS e LCS)

Dos metais potencialmente tóxicos aqui investigados, o Cr, apresentou maiores


concentrações em relação ao Cu e Zn, em todos os pontos de coleta como exibido na Figura
27. O mesmo verifica-se em relação as amostras do carvão (Figura 28).

89
Figura 27: Concentrações dos metais potencialmente tóxicos encontrados nas amostras de solo

Figura 28: Concentrações dos metais potencialmente tóxicos encontrados nas amostras de carvão

Pode-se notar ainda, uma concentração significativa nas amostras do carvão mineral
(UCS 0,528 % e LCS 0,973%) do trióxido de enxofre (SO3). Esses valores foram
relativamente superiores em relação aos encontrados nas amostras do solo estudados (Figura
29). Porém, essa variação da concentração de SO3 nos solos (Tabela 5) pode ser influenciada
pela deção, velocidades e a distância percorrida pelo vento em relação as mineradoras.

90
Figura 29: Relação entre a concentração de SO3 nas amostras de solo e de carvão

5.2. Análise química das amostras por ICP-OES

5.2.1. Análise química das amostras referentes ao material particulado (poeira)

Na Tabela 6 e o anexo C são apresentados os resultados das concentrações de metais


contidas nas amostras do material particulado coletadas em duas residências (PO1 e PO2) nas
proximidades da mineradora Sul Africana Minas Moatize Ltda e outra nas proximidades da
mineradora Vale Moçambique, respectivamente, conforme descrito anteriormente.

Tabela 6: Resultados das análises químicas por ICP-OES do material particulado (poeira).

CONCENTRAÇÃO DE ELEMENTOS EM (mg kg-1)


Ba Co Cr Cu Mn Ni Pb Sr Ti V Zn Zr
PO1 590 20 50 10 590 320 30 280 7580 110 40 40
PO2 560 10 30 10 290 320 20 190 3020 60 40 40

A partir da Tabela 6 verifica-se claramente que os metais Ti, Ba, Mn, Ni e Sr estão
presentes em concentrações mais elevadas nas amostras coletadas quando comparados aos
outros metais analisados. A Tabela 6 mostra ainda as concentrações de metais para cada um
dos pontos coletados na cidade em estudo. Para melhor interpretar a Tabela, a Figura 30
apresenta a comparação entre as concentrações de metais coletados em cada um dos pontos.

91
Figura 30: Comparação entre a concentração de metais nas amostras de poeira coletadas

Na Figura 30 pode ser visto que existe grande semelhança entre as concentrações de
cada espécie metálica nos pontos coletados (PO1 e PO2). Apesar desta semelhança pode-se
constatar que as concentrações dos metais contidos no ponto PO1 foram superiores em
relação ao PO2. Diversos fatores podem ter influenciado para diferenciar as concentrações
medidas, entre eles estão a aproximação das residências em relação as empresas, a quantidade
de poeira emitida no dia de coleta, a direçao e velocidade do vento, dentre outros.
O primeiro efeito visível no distrito de Moatize é sobre a vegetação a qual apresenta a
deposição de partículas, principalmente poeira, seguida nas edificações, as partículas
depositadas provocam descoloração e decomposição de materiais de construção (Figura 31 A
e B).

92
Figura 31: Efeito do material particulado sobre material de construção em Moatize (A), e em vegetação (B)
(Fotografia do autor, 2016)

O outro efeito preocupante no distrito de Moatize são as condições de visibilidade na


atmosfera que por sua vez são influenciadas pelas partículas em suspensão, podendo, dessa
forma, afetar inclusive o clima, absorvendo as radiações solares e diminuindo sua incidência
sobre a superfície terrestre (Figura 32).

Figura 32: influência das partículas em suspensão sobre o clima em Moatize, (fotografia do autor, 2016)

93
5.2.2. Teores naturais de metais nos solos do distrito de Moatize

A determinação dos teores naturais de elementos em um solo (background) é o


primeiro passo para definição dos valores orientadores e de enriquecimento de ordem não
natural de qualidade do solo, os quais são primordiais para a elaboração de uma legislação
direcionada ao monitoramento de metais pesados baseados em uma realidade local, não só,
mas também de critérios de uso e manejo voltados para a proteção destes importantes recursos
naturais.
A inexistência de valores de referência de qualidade do solo em Moçambique no geral
e em particular no Distrito de Moatize na Província de Tete, impossibilita um julgamento
preliminar de áreas com suspeita de poluição, decorrentes da atividade Industrial em
expansão, bem como da implementação/operação de novos empreendimentos, dificultando a
ação dos órgãos de fiscalização e monitoramento ambiental (MITADER).
Os resultados das concentrações naturais de metais no solo do distrito de Moatize
referentes aos 5 pontos de coleta (VR1, VR2,VR3, VR4 e VR5) são apresentados na Tabela 7
e o anexo D. Deste modo, para facilitar a discussão dos resultados, calculou-se a média dos 5
pontos o que ajudou na comparação com os resultados obtidos nas proximidades das
mineradoras.

Tabela 7: Resultados das análises químicas das concentrações naturais de metais em solo de Moatize em (mg kg-
1
)

Amostra VR1 VR2 VR3 VR4 VR5 Média


Ba 301 700 820 260 298 476
Co 23 9 nd 20 14 13
Cr 94 48 21 72 67 60
Cu 143 49 86 54 42 75
Mn 1034 541 750 966 805 819
Ni 36 15 nd 17 12 16
Pb 6 23 39 4 4 15
Sr 377 220 124 388 301 282
Ti 6020 4720 3830 5430 6590 5318
V 157 93 57 165 140 122
Zn 92 81 65 55 59 70
Zr 32 88 49 10 45 45

94
5.2.3. Análise química das amostras de solo referentes ao primeiro e segundo campo

Nas Tabelas 8 e 9 e os anexos B e C são apresentados os resultados das amostras de


solo coletadas no primeiro e segundo campo realizados próximos a Mineradora Vale
Moçambique e a Sul Africana Minas Moatize Ltda., e os Valores orientadores para solos de
acordo com o CONAMA (2009), CETESB (2016) e as concentrações naturais de metais em
solos de Moatize.
Para a avaliação dos resultados foram comparados aos Valores de Prevenção (VP) e de
Investigação estabelecidos na Resolução CONAMA nº 420 de Dezembro de 2009 brasileira e
a CETESB (2016) restrita ao estado de São Paulo, por outro lado, fez-se comparação com as
Concentrações Naturais de Metais em solo de Moatize realizadas na presente pesquisa
encontrados nas amostras coletadas sem aparente influência das atividades mineiras, os quais
serão denominados nesse trabalho ora como “concentrações naturais” (CN) ou ainda
simplesmente de background.

95
Tabela 8:Resultados das análises químicas por ICP-OS do solo coletados na primeira e segunda campanha de campo.

2º Campo 1º Campo Vasconcelos et al CN –


Elementos (mg (2005)- Moatize-
kg-1) P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 317 319 321 322 323 (Mínimo e Máximo) (Média)

Ba 860 1240 660 470 720 610 610 660 790 760 820 770 1574 492 441 451 799 101- 1300 476

Co 10 20 20 40 20 20 20 20 10 10 20 20 13 7 9 15 8 3,8-26 13

Cr 50 70 60 130 60 50 50 80 40 40 40 60 3 24 25 33 30 9,3-56 60

Cu 10 20 10 40 20 nd 10 40 nd nd nd 10 43 24 18 59 29 14,4-68 75

Mn 650 470 630 580 660 670 800 900 520 570 590 670 1633 728 876 1115 782 9,5-109 819

Ni 180 620 200 760 310 210 90 600 290 180 160 440 3 3 3 7 15 4,9-153 16

Pb 20 50 40 60 40 30 30 60 40 40 40 40 4 6 11 4 16 3,9-74 15

Sr 160 190 180 120 320 630 550 230 250 240 220 210 506 475 520 397 243 8,9-379 282

Ti 4210 4800 6390 6840 4880 6880 11180 4530 3930 5130 6170 8610 11600 6930 8100 3020 9810 183-4584 5318

V 90 140 120 180 120 130 130 140 90 80 100 110 18 59 71 82 60 21-128 122

Zn 40 100 50 110 110 90 40 180 50 50 50 50 73 37 45 36 45 17,6-94 70

Zr 30 50 20 50 30 20 20 50 20 20 20 20 25 31 31 32 25 8,3-109 45

96
Tabela 9: Valores orientadores para solos (mg kg-1) de acordo com o CONAMA (2009), CETESB (2016), e as
concentrações “naturais”(CN) de metais em solos de Moatize.

CONAMA CETESB MOATIZE

Elementos (mg kg-1)

VP VI VP VI CN

Agr. Res. Agr. Res.


Bário 150 300 500 120 500 1300 476

Chumbo 72 180 300 72 150 240 15


Cobalto 25 35 65 25 35 65 13

Cobre 60 200 400 60 760 2100 75


Cromo 75 150 300 75 150 300 60

Níquel 30 70 100 30 190 480 16


Vanádio - - - - - - 122
Zinco 300 450 1000 86 1900 7000 70
Titânio - - - - - - 5318
Manganês - - - - - - 819
Estrôncio - - - - - - 282
Zircônio - - - - - - 45
(-) Não estabelecido

5.2.4. Manganês (Mn) e Titânio (Ti)


As concentrações de Mn nos solos referentes ao segundo campo variaram entre 470 a
900 mg kg-1 e 728 a 1633 mg kg-1 referente ao primeiro campo (Tabela 8). De acordo com
Kabata-Pendias (2001), os teores de Mn podem chegar a 4000 mg kg-1, dependendo dos tipos
de minerais no solo.
Apesar do Mn e Ti não serem diretamente referenciados em legislações ambientais
(Tabela 9), é importante o conhecimento dos teores nos solos da região em estudo, pois, além
de se tratar de micronutrientes no caso do Mn para vegetais, a presença destes elementos
como constituintes principais da rocha faz com que tenham importância no estudo da
geoquímica dos solos, inclusive indicando, indiretamente, os teores de outros metais.
Para as amostras de solo analisadas nesse estudo, as maiores concentrações de Mn
foram encontrados nos pontos de coleta, P8 (900 mg kg-1), P317 (1633 mg kg-1), P321 (876

97
mg kg-1) e P322 (1115 mg kg-1) (Tabela 8). Estes valores foram superiores as concentrações
naturais de Mn (819 mg kg-1) definidos para os solos de Moatize (Figuras 33 e 34).

Figura 33: Valores de concentração de Manganês comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

Figura 34:Valores de concentração de Manganês comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

As concentrações médias de Ti, nos solos coletados variaram de 4210 a 11180 mg kg-1
no segundo campo e 3020 a 11600 mg kg-1 para o primeiro campo, (Tabela, 8). As maiores
concentrações de Ti foram encontradas nos pontos de coleta, P3 (6390 mg kg-1), P4 (6840 mg

98
kg-1), P6 (6880 mg kg-1), P7 (1118 mg kg-1), P11 (6170 mg kg-1), P12 (8610 mg kg-1), P317
(11600 mg kg-1), P319 (6930 mg kg-1), P321 (8100 mg kg-1) e P324 (9810 mg kg-1) (Tabela
8). Estes valores foram superiores ao background de Ti (5318 mg kg-1) definidos para os solos
Moatize (Figuras 35 3 36).

Figura 35: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo).

Figura 36: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

Os valores de Mn e Ti encontrados nas amostras de solos estudadas são superiores as


concentrações encontradas nas amostras de cinzas de carvões minerados e tratados, aflorantes

99
das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam
de 9,5 a 109 e 183 a 4584 mg kg-1 confome indicado e analisado no trabalho de
VASCONCELOS et al. (2009).

5.2.5. Bário (Ba)


As concentrações de Bário nas amostras de solos estudadas referentes ao primeiro e
segundo campo variaram de 441 a 1517 mg kg-1 e 470 a 1240 mg kg-1 respectivamente. No
entanto, para além do ponto de coleta 321 e 322 referentes ao primeiro campo e o P4 referente
ao segundo campo, todos os solos possuem teores altos acima do valor das concentrações
naturais (476 mg kg-1) determinados para solos em Moatize (Figuras 37 e 38).

Figura 37: Valores de concentração de Titânio comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

100
Figura 38: Valores de concentração de Bário comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

Os valores de Ba encontrados nas amostras de solos estudadas estão praticamente na


mesma faixa de concentração em relação aquelas encontradas nas amostras de cinzas de
carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André na
bacia sedimentar de Moatize que variaram de 101-1300 mg kg-1, com valores médios de 476
mg kg-1 (VASCONCELOS et al, 2009).
Todos os solos apresentaram concentrações elevadas e superiores ao valor de
prevenção (150 mg kg-1) e valores de intervenção definidos em 300 mg kg-1 de bário, em solo
de área agrícola definido pelo CONAMA (2009), e valores de prevenção (120 mg kg-1)
definidos pelo CETESB (Figura 39 A, B, C e D).
De uma forma particular em relação aos solos da segunda campanha de campo
excetuando o ponto de coleta P4 (470 mg kg-1), o elemento bário apresentou concentrações
acima dos valores de prevenção, intervenção agrícola e residencial definidos pelo CONAMA
(2009) e valores de prevenção e intervenção agrícola definidos pelo CETESB (2016), (Figura
39 C e D).
Para as amostras de solo analisadas no presente estudo, as concentrações de Ba
encontradas no solo da primeira campanha de campo, no ponto de coleta 317 (1574 mg kg-1)
são superiores a todos os valores de referencias definidos pelo CONAMA (2009) e CETESB
(2016), (Figura 39 A e B).

101
A B

C D

Figura 39: Valores de concentração de Bário comparado com valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo

102
5.2.6. Zinco (Zn)
Para as amostras de solo analisadas no presente estudo, as concentrações de Zn foram
superiores aos reportados no trabalho de VASCONCELOS et al, (2009), referente a amostras
de cinzas de carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto, Grande
Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam de 17.6 a 94 mg kg-1.
As concentrações de Zn obtidos nas amostras de solos estudados, variaram de 36 a 73
mg kg-1 referentes a primeira campanha de campo e 40-180 mg kg-1 referentes a segunda
campanha de campo (Tabela 8). As maiores concentrações de Zn foram encontradas nos
pontos de coleta 317 (73 mg kg-1), referente a primeira campanha de campo, P2 (100 mg kg-
1
), P4 (110 mg kg-1), P5 (110 mg kg-1), P6 (90 mg kg-1) e P8 (180 mg kg-1), referentes a
segunda campanha de campo. Todos esses pontos possuem concentrações elevadas e
superiores ao valor de background (70 mg kg-1) determinados para solos em Moatize (Figura
40 e 41), e foram inferiores aos valores de intervenção definidos em solo de área agrícola e
área residencial definidos pela CETESB (Figura 42 A e C),
As concentrações de Zn nas amostras de solo apresentaram valores baixos em
comparação ao valor de prevenção (300 mg kg-1), valores de intervenção (450 mg kg-1) em
solo de área agrícola, (1000 mg kg-1) e em área residencial definidos pelo CONAMA (2009),
(Figura 42 B e D)

Figura 40: Valores de concentração de Zinco comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

103
Figura 41: Valores de concentração de Zinco comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

104
A B

C C

Figura 42: Valores de concentração de Zinco comparado com valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo

105
5.2.7. Chumbo (Pb)
As concentrações de Pb obtidas variaram de 4 a 16 mg kg-1 referentes a primeira
campanha de campo e de 20-60 mg kg-1 referente a segunda campanha de campo (Tabela 8).
O ponto de coleta P324 referente a primeira campanha de campo e todos os pontos da
segunda campanha de campo possuem teores acima do valor de background (15 mg kg-1)
determinados para Chumbo em solos de Moatize (Figuras 43 e 44).
As concentrações de Pb foram inferiores aos reportados no trabalho de
VASCONCELOS et al, (2009), referente a amostras de cinzas de carvões aflorantes
minerados e tratados, das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André na bacia sedimentar
de Moatize que variam de 3.9 a 74 mg kg-1.

Figura 43: Valores de concentração de Chumbo comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

106
Figura 44: valores de concentração de Chumbo comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

No entanto, todos os solos estudados apresentaram concentrações inferiores em


comparação ao valor de prevenção (72 mg kg-1) e valores de intervenção definidos em (150 e
180 mg kg-1) de Chumbo, em solo de área agrícola, 300 e 240 mg kg-1 em área residencial
definido pelo CONAMA (2009) e CETESB (2016) respectivamente (Figura 45 A, B, C e D).
Atentando ao referenciado acima e aos parâmetros estabelecidos pelas agências CONAMA e
CETESB, pode-se inferir que o teor de Pb nos solos estudados é de origem natural ou seja de
origem geogênica.

107
A B

C D

Figura 45: Valores de concentração de Chumbo comparado com valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo

108
5.2.8. Cobalto (Co)
As concentrações de Co variaram de 7 a 15 mg kg-1 e 10 a 40 mg kg-1 referentes ao
primeiro e segundo campo respectivamente (Tabela 8). O ponto de coleta P322 referente a
primeira campanha de campo e praticamente todos os pontos da segunda campanha
apresentaram, concentrações acima do valor de background (13 mg kg-1) determinados para
Co, em solos de Moatize (Figura 46 A e B).
No geral, os solos tiveram valores baixos quando comparados com as normas aqui
utilizadas, excetuando o P4 (40 mg kg-1) da segunda campanha de campo, em comparação aos
valores de prevenção (25 mg kg-1) e valores de intervenção definidos em 35 mg kg-1 de
cobalto, em solo de área agrícola, 65 mg kg-1 em área residencial definido pelo CONAMA
(2009) e CETESB (2016) (Figura 46 C e D).
As concentrações de Co encontrados nas amostras de solo estudadas foram superiores
aos reportados no trabalho de VASCONCELOS et al, (2009), referente a amostras de cinzas
de carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André
na bacia sedimentar de Moatize que variam de 3.8 a 26 mg kg-1.

109
A B

C D

Figura 46: Valores de concentração de Cobalto comparado com concentrações naturais de metais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB,
(2016) referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado.

110
5.2.9. Cromo (Cr)
As concentrações de Cr encontradas variaram de 3 a 33 mg kg-1 e 40 a 130 mg kg-1
referentes ao primeiro e segundo campo respectivamente (Tabela 8). As concentrações de Cr
obtidas nos solos da primeira campanha de campo foram inferiores ao valor de background
determinados em solos de Moatize. Em relação a segunda campanha de campo, observa-se
que os pontos de coleta P2, P4 e P8 apresentaram valores altos acima do valor de background
(60 mg kg-1) determinados para Cr em solos de Moatize (Figura 47 A e B).
Os pontos de coleta P4 e P8 apresentaram valores superiores (130 e 80 mg kg-1)
respetivamente, em comparação ao valor de prevenção (75 mg kg-1) definido pelo CONAMA
(2009) e CETESB (2016). Em geral todos os pontos tiveram valores inferiores em todos os
solos comparando aos valores de intervenção definidos em (150 mg kg-1), em solo de área
agrícola, (300 mg kg-1) e em área residencial definido pelo CONAMA (2009) e CETESB
(2016), (Figura 47 C e D).
As concentrações de Cr encontrados nas amostras de solos da segunda campanha de
campo exibem valores superiores quando comparadas com as concentrações encontradas nas
amostras de cinzas de carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto,
Grande Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam de 9.3 a 56 mg kg-1
(VASCONCELOS et al, 2009).

111
A B

C D

Figura 47: Valores de concentração de Cromo comparado com concentrações naturais de metais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB,
(2016) referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado.

112
5.2.10. Cobre (Cu)
As concentrações de Cu variam de 18 a 59 mg kg-1 e 10 a 40 mg kg-1 referentes a
primeira e segunda campanha de campo, respectivamente (Tabela 8). Em alguns pontos (P6,
P9, P10 e P11) não atingiu o limite de deteção pelo método usado. No entanto, todos os solos
estudados apresentaram valores inferiores em comparação ao valor de background (75 mg kg-
1
) obtidos para Co em solos de Moatize (Figura 48 e 49)

Figura 48: Valores de concentração de Cobre comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

Figura 49: Valores de concentração de Cobre comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

113
Todas as amostras de solos exibiram baixas concentrações de Cu em comparação aos
valores de prevenção e dos valores de intervenção estabelecidos para solo de área agrícola, e
área residencial definido pelo CONAMA (2009), CETESB (2016) (Figura 50, A, B, C e D).
As concentrações obtidas de Cu nos solos estudados foram relativamente inferiores em
comparação as concentrações encontradas nas amostras de cinzas de carvões minerados e
tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto, Grande Falésia e André na bacia sedimentar de
Moatize que variam de 14 - 68 mg kg-1 (VASCONCELOS et al, 2009).

114
A B

C D

Figura 50: Valores de concentração de Cobre comparado com valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo

115
5.2.11. Níquel (Ni)
As concentrações de Ni variaram de 3 a 15 mg kg-1 e 90 a 760 mg kg-1 referentes a
primeira e segunda campanha de campo respectivamente (Tabela 8). As concentrações
obtidas no segundo campo foram superiores em relação as concentrações encontradas nas
amostras de cinzas de carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas Sousa Pinto,
Grande Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam de 4.9 a 153 mg kg-1
(VASCONCELOS et al, 2009).
Concentrações obtidas de Ni nos solos da primeira campanha de campo foram
inferiores ao valor de background (60 mg kg-1) determinados em solos de Moatize (Figura
51). Em relação a segunda campanha de campo, observa-se que os solos coletados
apresentaram concentrações acima do valor de background (60 mg kg-1) para o Ni em solos
de Moatize (Figura 52).

Figura 51: Valores de concentração de Níquel comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

116
Figura 52: Valores de concentração de Níquel comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

Esses mesmos resultados quando comparados com os limites de restrição dos orgãos
aqui utilizados (CONAMA, 2009 e CETESB, 2016) mostraram que as amostras da primeira
campanha de campo, tiveram valores inferiores em comparação ao valor de prevenção 30 mg
kg-1 e valores de intervenção definidos em 70 mg kg-1 e 190 mg kg-1 de Níquel, em solo de
área agrícola, 100 mg kg-1 e 480 mg kg-1 em área residencial, (Figura 53 A e B).
Os resultados das concentrações desse elemento obtidos no segundo campo exibem
valores superiores em comparação ao valor de prevenção (30 mg kg-1) e valores de
intervenção definidos em 70 mg kg-1 de Níquel, em solo de área agrícola, 100 mg kg-1 em área
residencial definido pelo CONAMA (2009), (Figura 53 C).
Pode-se verificar ainda que as concentrações de Ni nos solos da segunda campanha de
campo, possuem concentrações acima do valor de prevenção (30 mg kg-1) e os pontos P2, P4
e P8, apresentam concentrações acima dos valores de intervenção definidos em 190 mg kg-1
de Ni, em solo de área agrícola e 480 mg kg-1 em áreas residenciais definido pelo CETESB
(2016), (Figura 53 D).

117
A B

C D

Figura 53: Valores de concentração de Níquel comparado com valores de referência CONAMA (2009) e CETESB, (2016) referentes ao primeiro e segundo campo

118
5.2.12. Vanádio (V)
As concentrações de V encontrados nos pontos de coleta variaram de 18 a 82 mg kg-1
e 80 a 180 mg kg-1, referentes a 1ª e 2ª coleta respetivamente (Tabela 8). Os valores de
concentração de V encontrados na segunda campanha de campo foram superiores em relação
as concentrações encontradas nas amostras de cinzas de carvões aflorantes das camadas Sousa
Pinto, Grande Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam de 21-128 mg kg-1
(VASCONCELOS et al, 2009).
As concentrações obtidas de V quando comparadas com os valores de background
estabelecidos para solos em Moatize exibiram em alguns pontos ora valores acima das
concentrações naturais, ora valores abaixo da mesma. As maiores concentrações de V foram
encontrados nos pontos de coleta da segunda campanha de campo, no ponto P2 (140 mg kg-1),
P4 (180 mg kg-1), P6 e P7 (130 mg kg-1) e P8 (140 mg kg-1), (Tabela 8). Estes valores foram
superiores aos valores de background (122 mg kg-1) definidos para solo em Moatize (Figura
54). Para a primeira campanha de campo todas as amostras analisadas nesses pontos exibiram
concentrações inferiores ao background encontrado nos solos de Moatize, (Figura 55).

Figura 54: Valores de concentração de Vanádio comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (2º campo)

119
Figura 55: Valores de concentração de Vanádio comparado com concentrações naturais de metais no solo de
Moatize em cada ponto amostrado (1º campo)

5.2.13. Estrôncio (Sr) e Zircônio (Zr)


Para as amostras de solo analisadas nessa pesquisa as concentrações de Sr e Zr
referentes ao primeiro e segundo campo encontrados nos pontos de coleta variaram de 243 a
406 mg kg-1 e 120 a 630 mg kg-1; 25 a 31 mg kg-1 e 80- 180 mg kg-1 respectivamente (Tabela
8). Os elementos Sr e Zr não são diretamente referenciados em legislações ambientais,
contudo, é importante o conhecimento dos teores nos solos da região em estudo como
potenciais fontes de contaminação sugeridas no trabalho realizado pelo VASCONCELOS et
al, 2009 na Bacia sedimentar de Moatize.
As concentrações obtidas para Sr e Zr, em geral mostraram valores superiores aos
encontrados nas amostras de cinzas de carvões minerados e tratados, aflorantes das camadas
Sousa Pinto, Grande Falésia e André na bacia sedimentar de Moatize que variam de 8,9 a 379
mg kg-1 para Sr e 8,3 a 109 mg kg- para Zr, (VASCONCELOS et al, 2009).
As maiores concentrações de Sr foram encontradas nos pontos de coleta 317, 319, 321
e 322 referente a primeira campanha do campo e nos pontos P5, P6 e P7 referentes ao
segundo campo. Tais concentrações mostram valores superiores aos valores de background
(282 mg kg-1), definidos para solo em Moatize (Figura 56 A e B). No caso do Zr para a
primeira campanha de campo, os valores de concentração desse elemento são inferiores ao
valor de background determinados para solos de Moatize. Para o segundo campo, os pontos
de coleta P2, P4 e P8 exibiram valores superiores (Figura 56 C e D).

120
A B

C D

Figura 56: Valores de concentração de Estrôncio e Zircônio comparado com concentrações naturais no solo de Moatize e valores de referência CONAMA (2009) e CETESB,
(2016) referentes ao primeiro e segundo campo em cada ponto amostrado

121
5.3. Considerações sobre as concentrações de metais encontrados nos solos
analisados.

Na última década do século XX, cientistas, legisladores, políticos e o público


aumentaram sua conscientização sobre a poluição causada pelos metais. As emissões
antrópicas aumentaram a contaminação por elementos potencialmente tóxicos em escala local,
regional e global. Desta forma, o estudo sobre a determinação da concentração dos elementos
potencialmente tóxicos nos compartimentos ambientais tornou-se imprescindível para a
avaliação dos riscos envolvidos.
Os resultados obtidos nessa Tese evidenciaram que a presença de metais no ambiente
constitui-se um dos principais problemas de contaminação ambiental, pelo fato de os metais
liberados para o ambiente contaminarem o solo e, consequentemente, poderem entrar na
cadeia alimentar através das plantas, causando efeitos tóxicos a curto e a longo prazo, tanto
nos animais como no homem.
As variações nas concentrações de metais nos solos estudados é evidente, pois, nota-se
de que nos pontos de coleta mais próximos da mineração apresentam maiores concentrações
de metais analisados em relação as áreas distante sobre a vegetação natural ou mínima
atividade antrópica.
Das amostras coletadas no primeiro campo analisadas por FRX, tanto para as duas
amostras de carvão como para cinco amostras de solo verifica-se que ambos são enriquecidos
em Cr e secundariamente para Cu e Zn. Este fato pode evidenciar a influência das
mineradoras sobre as concentrações dos metais no solo.
Pode-se notar ainda, uma concentração significativa nas amostras do carvão mineral
(UCS 0,528 % e LCS 0,973%), de trióxido de enxofre (SO3). Esses valores foram
relativamente superiores em relação aos encontrados nas amostras do solo estudado. Porém, o
ponto de coleta de solo 223 da primeira campanha de campo que se encontra relativamente
próxima da mineradora em relação aos demais pontos (Figura 15) possui concentrações
aproximadas aos das amostras de carvão mineral. Essa variação da concentração de SO3 nos
solos pode ser influenciada pela direção, velocidade e a distância percorrida pelo vento em
relação as mineradoras.
Valores significativos encontrados no material particulado de concentração dos metais
traço Ti, Mn, V e Sr, embora não constem de nenhuma tabela de restrição são os mesmo
elementos preferencialmente constantes que ocorrem nas amostras de solo coletadas e
analisadas nesta tese. Esta constatação pode evidenciar a influência das mineradoras sobre as

122
concentrações dos metais na poeira assim como no solo, constituindo assim um ciclo e que
por sua vez, pode comprometer o meio ambiente.
As análises aqui realizadas apontaram valores acima do permitido pelas legislações
CONAMA (2009) e CETESB (2016) para Bário, Níquel e Cromo.
Um outro aspecto importante foi verificado em relação aos solos analisados pelo ICP-
OES, uma maior concentração de metais na segunda campanha de campo em relação a
primeira, isto porque a segunda campanha de campo foi planificada em relação aos resultados
obtidos na primeira campanha onde foi privilegiada a direçao preferencial dos ventos e a
proximidade às casas dos moradores em relação as mineradoras.

123
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

O último capitulo desta tese visa estabelecer conclusões a respeito do trabalho e


sugerir algumas recomendações para futuros trabalhos relacionados ao tema principal.

6.1. Conclusão

Nesta Tese foi realizado um estudo relativo ao provável comprometimento ambiental


dos solos por elementos potencialmente tóxicos no entorno das mineradoras de carvão
mineral no Distrito de Moatize. A realização do presente estudo permitiu uma prévia
avaliação das condições dos solos no que diz respeito aos metais analisados. Neste contexto,
foi possível a avaliação comparando-se os valores obtidos nas áreas sob influência das
mineradoras com as concertações naturais obtidas em área sob mínima atividade antrópica ou
sem influência das mineradoras em Moatize e os valores de concentrações das legislações do
CONAMA (2009) e CETESB (2016). As análises do solo realizadas evidenciaram a
importância desse estudo na contaminação do solo.
As concentrações dos elementos majoritario obtidos por meio da análise por
fluorescência (FRX) das amostras pertencentes aos cinco pontos de coleta (P317, P319, P321,
P322, P323), e das amostras de carvão (UCS e LCS) demonstram que as amostras de solo e de
carvão são ricos em óxidos de Silício e Alumínio (silicatos).
Baseado na análise química do solo por ICP-OES, foi constatado concentração acima
do permitido para Ba e Ni em comparação com os valores orientadores para qualidade do solo
CETESB e CONAMA, indicando que os solos estão contaminados nestes elementos em
algumas amostras se considerados esses critérios do Brasil.
Nas concentrações de Bário das amostras de solos estudadas referentes ao primeiro e
segundo campo, a quase totalidade possui concentrações acima do valor CN encontrado nos
solos nessa pesquisa em Moatize. Destaca-se ainda que, todos os resultados para Ba em solos
analisados exibem concentrações acima dos valores de prevenção e intervenção em solo para
área agrícola definido pelo CONAMA (2009), e CETESB (2016).
Os valores de Ni foram superiores aos valores de prevenção das análises obtidas por
ICP, intervenção definidos em solo de área agrícola e área residencial estabelecidos pelo
CONAMA (2009) e CETESB (2016).
As concentrações de Zinco, Chumbo, Cobalto nos solos estudados foram inferiores em
relação aos teores estabelecidos pelas legislações CONAMA (2009) e CETESB (2019),

124
porém, superiores em relação as concentrações naturais obtida para solos em Moatize nesta
tese.
Assim como Ti e Mn, V, Sr e Zr não são diretamente referenciados nas legislações
ambientais aqui empregadas como comparação. Por outro lado, as concentrações obtidas para
esses elementos quando comparadas com os valores CN para solos em Moatize obtidos nessa
tese exibem em alguns pontos ora valores acima das concentrações naturais, ora valores
abaixo da mesma.
Comparando os valores de CN analisadas por ICP-OES para solos coletados nessa tese
verifica-se que os elementos Zn, Pb, Co, Cr, exibem concentrações superiores a CN na
maioria das amostras coletadas no segundo campo.

6.2. Recomendações

Em decorrência dos resultados obtidos, recomenda-se a continuidade dos estudos de


contaminação do solo nas proximidades das empresas mineradoras, abrangendo os parâmetros
físicos, químicos e biologicos.
Definição de valores orientadores para solos no Distrito de Moatize em particular e
em Moçambique no geral.
Quanto ao monitoramento do solo e das águas superficiais e subterrãneas na área no
entorno das minas, deve ser desenvolvido um monitoramento semestral com análises físico-
químicas e químicas do solo e das águas. Neste caso, devem ser implantados poços de
monitoramento para coleta de amostras de solo representativas do local estudado.
Recomenda-se análise de amostras de um perfil mais completo de solo para fins de
comparação.
Em caso de implantanda legislação referente a limítes de concentração para esses
metais aqui estudados e os mesmos superarem esses limites comprovadamente, as regiões ou
locais que exibam essa anomalia deverão passar por tratamentos de remediação.
Recomenda-se a ampliação do monitoramento com medição de material particulado,
utilizando técnicas que avaliam a concentração dos elementos quimicos e tamanho das
particulas proveniente da mobilização das poeiras provenientes dos processos de tratamento
do carvão nativo nas mineradoras.
Recomenda-se uma avaliação de risco à saúde dos habitantes residente no entorno das
mineradoras considerando-se as vias de exposição, tanto direto como indireto, com os
materiais particulados do carvão mineral.

125
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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135
ANEXO A: Lei do Ambiente de Moçambique

136
137
138
139
140
141
ANEXO B: Resultado de Análise química referente ao primeiro campo (FRX)

142
143
144
ANEXO C: Resultado de Análise química referente ao segundo campo

145
ANEXO D: Resultado de Análise química referente ao terceiro e ao primeiro campo

146
ANEXO E: Resultado de Análise química referente as amostras de carvão mineral

147

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