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Amiocardiopatiahipertróficacaracteriza-secomo
origemconhecida.Aclassificaçãooriginalcaracteri-
zou três tipos de miocardiopatia (dilatada, hipertró- doença familiar autossômica dominante, causada
fica e restritiva), que se tornaram entidades clínicas por mutações na proteína do gene ligada ao
estabelecidas, e sua terminologia tem sido preser- sarcômero, onde ocorrem hipertrofia e desarranjo
(Tabe
7.
7).
Em
algun
caso
a (m
vada. Atualmente, miocardiopatias são definidas
dosmiócitoscomperdadotecidoconjuntivo.É,portanto,umaanomaliaprimáriadomiocárdio
comodoençasdomiocárdioassociadasadis-funçãocardíaca!.Emvirtude
caracterizada por hipertrofia
da melhor compreensão do ventrículo direitp e/ou
sobre sua etiologia e pato- esquerdo, usualmente assimé-
qu
05m
a
gênese,as miocardiopatias são
trica,comenvolvimentodosepto,comvolumeventricular
classificadas conforme a
"Aecocardiografiapermite
fisiopatologia dominante ou, esquerdo normal ou reduzido
o estudo detalhado
quando possível, conforme os
ou,raramente,comdilataçãoventricular.Édiagnósticode
fatores etiológicos envolvidos das características
exclusão, feito na ausência
anatómicas e funcionais
miocardiopatia não pode ser de anormalidades cardíacas
do músculo cardíaco, ou sistêmicas, capazes de
classificadaemnenhumgrupo
(fibroelastose, miocárdio não nas diferentes formas de produzir hipertrofia ventricu-
compactado, disfunção sistóli-
doença miocárdica."
lar24,combaixaprevalência
cacomdilataçãomínima)ouseenquadraemmaisdeum
ada a limitação funcional e
grupo (amiloidose e hiperten- morte súbita.
são). Além disso, arritmias e
Alocalizaçãoeaextensãoda
distúrbios de condução hipertrofia miocárdica consti-
simétrica,
Ahipertrofiaassimétricaéaformamaiscomum,eo
7
Arrit
do
VD
Dilatada
Hipertrófica
Restritiva
Não
quando
classificadas
uniformemente
Tabela
Miocardiopatias
7.1 Classificação
distribuída.
I
das Miocardiopatias
Isquêmica
Hipertensiva
Valvar
Inflamatória
Metabólica
Puerperal
Relacionada à distrofia muscular, desordens
neuromusculares, reações tóxicas, doenças
podem
tricular durante a ejeção.
Miocardiopatias específicas
apresentar
o Ecocardiograma
gradiente de pressão
nas Miocardiopatias
intraven-
tricu
(junt
com
as
outr
form
acometida, embora a hipertrofia possa ser concên- Diagnóstico:Alocalizaçãodahipertrofiapareceser
trica, apical ou da parede livre do ventrículo esquer- fator importante no desencadeamento da
ventrículo esquerdo (Figura 7.3). Tais pacientes notando-se, além disso, deslocamento anterior da
valva mitral (movimento anterior sistólico), criando
Tabela7.2:Formaselocalizações
umverdadeiroobstáculoaoesvaziamentoventri-cular(Figura7.4).AomodoMpode-seobservar
da hipertrofia
Aumento da espessura miocárdica
facilmente o movimento anterior sistólico da valva
por toda extensão do septo interven-
l.Septal
(men
de
5%
dos
caso
mitral,alémdeumentalhesistóliconavalvaaórtica,ambosindicativosdeobstruçãonaviade
que acometem o septo totalizam
póste
(1
%
a
2
dos
cas
%
Aumento exclusivo ou despro- Portadores de hipertrofia septal assimétrica podem
2.
'
'
porcional da espessura miocárdica
e d lo-sep t a I
seragrupadosemtrêscategorias:a)comobstruçãodinâmicaemrepouso
,
M
da porção media do septo (25%
doscasos);b)com
interventricular
obstrução dinâmica provocada por manobras; c)
(apro
5%
dos
caso
Aumento exclusivo ou desproporcio-
nal da espessura miocárdica da por-
semobstrução.OusodeDopplercontínuo,pulsátilemapeamentodefluxoemcorespermiteestudopormenorizado
3. Basal septal
ção basal do septo interventricular
Aumento da espessura miocárdica
4. Apical da ponta do ventrículo esquerdo do fluxo na via de saída do ventrículo esquerdo,
determinando o local e a intensidade da obstrução
Aumento da espessura miocárdica
(Figura7.6).Ogradientedepressãointraventricular
5. Parede livre da parede anterior, ântero-Iateral ou
é muito sensível a variações da contratilidade (esta-
do hiperdinâmico) e a variações da pré e pós-carga
Aumento uniforme da espessura
Figu
C7.1:
=Esqu
das
difer
-VO
a-
aform
elda
basa
sept
O oca
hip
ssim
apic
E-
a A
-
a
pa
ssi
vdirei
=
ventr
esq se
B
-
liv
F
ents a
ss
A
=
áem
s
A
im
=
a
Figu
7.2:
Mioc
hipe
de ass
miocfor
hipe
assap
Um
AO
= da
áfo
m
ádir
AE
= r=ta
es
tr
V ventrículo direito;VE = ventrículo esquerdo.
capítulo 7 o Ecocardiograma nas Miocardiopatias
ri
11
Figu
7.3:
A:
Ecoc
PP
= bidi
cor
par
signi
hipe
sept
assi
B:
Mo
relaç
septoM
cde
as
m
interm
pos
de
ppóst
SIV
= o
u
2,7
AE
=
áes
A
sare=
a
treo
inte
VD
ep
vdi
V
=
ventrículo esquerdo.
~
o Ecocardiograma no Apoio à Decisão Clínica capítulo 7
encontradas
com
(VE)
AE
=
áesqu
Ao
=aIM
trio
=
imi
ort
ns
SI
=sine
Figura 7.4:
refluxo
na miocardiopatia
Esquema
mitral
demonstrando
e aceleração
hipertrófica,
do fluxo
e pode
movimento
sangüíneo
via de
anterior sistólico
na via de saída
saída do
da valva
do ventrículo
ventrículo
mitral (setas),
esquerdo
esquerdo promoveria
serdetectadapeloDoppler.Oaumentodapressão
aumentodapressãointraventricular,comconse-
de enchimento do ventrículo esquerdo associa-se qüente elevação do estresse de parede e do con-
à elevação da pressão do átrio esquerdo. Conse- sumo de oxigênio. Dentro desse contexto, é impor-
qüentemente, há aumento da pressão capilar tante a avaliação do gradiente de pressão intraven-
pulmonar, causando dispnéia, apesar da função
tricular,quepodeserfeitapeloestudocomDoppler.Énecessáriomencionar,entretanto,queaaferição
sistólica estar preservada (geralmente hiperdinâmica).
Outra conseqüência da doença, a insuficiência precisa do gradiente não poderá ser realizada ade-
quadamente, quando a conformação torácica do
mitral,ocorrenamaioriadospacientescom
hipertrofia septal assimétrica obstrutiva. Essa disfun- paciente dificultar a obtenção de imagens de boa
ção valvar resulta da coaptação inadequada das
qualidade.Comojáfoimencionado,ogradienteda
cúspides, pela movimentação sistólica anterior do via de saída é dinâmico, podendo ocorrer variações
substanciaisnasmedidasemummesmoindivíduo,
aparelhosubvalvar.Agravidadedaregurgitação
mitral nesses pacientes está diretamente relaciona- dificultando a interpretação da intensidade da
da à magnitude da obstrução na via de saída do obstrução (pré-carga, pós-carga e inotropismo).
ventrículo esquerdo 7.
Prognóstico e planejamento terapêutico: Vários
Avaliação da gravidade: Embora não consensual- elementos associados à maior taxa de mortalidade
mente, admite-se que as formas obstrutivas de na miocardiopatia hipertrófica estão na Tabela 7.3.
miocardiopatia hipertrófica têm pior prognóstico
Oestudoecocardiográficoevolutivopodefornecerinformaçõesimportantescomrelaçãoàação
doqueasnãoobstrutivas.Ogradientesistólicona
capítulo 7 o Ecocardiograma nas Miocardiopatias
11
11
Figu
7.5:
A:
Hipe
sept
=assi
em
mo
ventr
esqu
eAE
m M
c
dim
áesq
Ao
= da
ante
sist
da
va
mivi
de
(M
ov
M
aórtica
Msa
o
d
v
atrio
=
vaó
or
=
vm
aamostrando
SIV = septo
entalhe
interventricular.
sistólico (seta) indicativo de obstrução da via de saída do
~
o Ecocardiograma no Apoio à Decisào Clínica capítulo 7
Figura 7.6: Doppler contínuo do fluxo da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) na
miocardiopatia hipertrófica obstrutiva demonstrando fase de aceleração lenta. Gradiente
sistólico máximo na VSVE
estimadoem70,8mmHg.
benéfica dos medicamentos e, conseqüente, demonstrem diminuição do gradiente sistólico da
melhora da tolerância ao exercício.
viadesaídadoventrículoesquerdocomousode
determinados fármacos8, os medicamentos normal-
Oecocardiogramatambémtemumimportante
papel na escolha entre o tratamento cirúrgico mente utilizados no tratamento clínico dessa
(miectomia) isolado ou associado à troca valvar afecção atuam melhorando a função diastólica do
ventrículo esquerdo, principalmente o relaxamento
mitralempacientescommiocardiopatiahipertrófi-caeregurgitaçãomitral.Pacientescominsuficiência
miocárdic09 e reduzindo as arritmias (amiodarona e
mitral causada pelo movimento anterior sistólico da betabloqueadores).
valva e que apresentam jato direcionado posterior-
Oecocardiogramatambéméútilnoacompanha-
mento da redução da espessura septal e do
mente,geralmente,sebeneficiamapenascoma
miectomia. Por outro lado, quando a regurgitação gradiente na via de saída do ventrículo esquerdo,
mitral é causada por doença da valva, o benefício quando utilizada a alternativa terapêutica de inje-
ção de álcool na primeira artéria coronária septallO.
podeocorrersomentecomatrocadamesma.A
diminuição do gradiente de pressão na via de saída
Empacientescomaformafamiliardemiocardiopa-
do ventrículo esquerdo e do grau de regurgitação tia hipertrófica, na qual nem sempre a hipertrofia
mitral pode ser conferida pelo ecocardiograma está presente precocemente, a disfunção miocárdi-
após a cirurgia7. ca pode ser detectada pelo Dopplertecidual11.
Oestudoecocardiográficoevolutivopodefornecerinformaçõesimportantescomrelaçãoàaçãobené-
fica dos medicamentos e conseqüente melhora da
Amiocardiopatiadilatadaéumasíndromemultifa-
tolerância ao exercício. Embora alguns trabalhos torial caracterizada, classicamente, por dilatação
los,
em
que
o
gde
disfu
mio
porrau
não
étan
explic
nem
cond
nem
porano
depa
um
di
car
ma
isque
De ab
etiol
não
clar a
de
capítulo
e
f
en 7
ment
prog
com
elev
taxa
de
mo
dessas anormalidades, permitindo, além disso, a
dade
(75%
em
cinco
anos
do ventrículo esquerdo, ou de ambos os ventrícu- aferição de outras variáveis, igualmente impor-
Diagn
Em Es
toda
as va
al
etio
pro da
im
d
(Figura 7.7).
tia
dilata
O
esimu
em
mo
stu
M
e
idiopática, familiar ou devida à reação imunológica. 1. diâmetros diastólico e sistólico do ventrículo
Evolutivamente, os pacientes costumam apresentar esquerdo;
manifestações de insuficiência cardíaca, freqüente- 2. diâmetro diastólico do átrio esquerdo;
3. relação entre o diâmetro e a espessura miocárdi-
ca do ventrículo esquerdo, na diástole12.
Figu
7.7:
Mio
dila
Obsem
mo
M
(hip
vendir
e
bdi
dilat
esq
(VE
coà(à
eid
m
atípicodoseptointerventricular(SIV).PP=paredepóstero-inferior;VD=ventrículodireito.
o Ecocardiograma no Apoio à Decisão Clínica capítulo 7
St
+
U
a.Cubo (Pombo), utilizado quando não há IHbrjlaçãoatríal
Obstrução significativa da via de saída do ventrículo
dilatação significativa do ventrículo esquerdo;
esquerdo
bTeichholz, aplicável quando há dilatação
Insti.fidêndamitrali<:bm rt;pt;rcussão hemodinâmica
ventricular significativa. Pode ser obtida tam- Adelgaçamento septal e dilatação do ventrículo
bém pela técnica bidimensional. esquerdo
2. Função diastólica: a miocardiopatia dilatada piora daçlêl$st;fÜnçiona.t durantt; o seguimento
caracteriza-se, além da disfunção sistólica, por Grau de hipertrofia
apresentar modificações dos padrões de
enchimento ventricular esquerdo que refle- Tabela de sobrevida anual
7.4: Taxa
tem, de algum modo, a coexistência de na miocardiopatia dilatada
disfunçãodiastólica.Combasenasvariáveisdo
46%65%70%
fluxo mitral, três diferentes tipos de enchimen- Ohio State23
82%
(Ta
72% Sydney>5
estudocomOoppler:a)alteraçãodorelaxam-
ento; b) normal ou "normalizado" e c) restritivo 72% Hammersmith 26
(Figura 7.70).
seguidosduranteumano.Duranteesseperíodo,
capítulo 7 o Ecocardiograma nas Miocardiopatias
ER
E
do
ventr
esqu
o
R
=A
=
o
A
E
dd
flux
mit
(sí
atr
nd
ment
E
= AR
o
=
a
flux
mitr
(en
ndade
re
ráp
o
NL
=
n
ou
"n
restr l
o
Figura 7.8: Representação esquemática das variações do fluxo mitral na disfunção diastólica
"
foram
cas. Observou-se
2. Relação
diastólico
diâmetro
mente maiores no grupo que não sobreviveul4.
Figu
7.10
Ecoc
com
demap
etde
dasflu
em
co
insuf
mod ev
valv
mit
na
miapV
ric
di=r
ventrículo
constatadas
do ventrículo
do átrio
diâmetro/espessura:
que
direito;VE
esquerdo,
os diâmetros
esquerdo,
='ventrículo esquerdo.
eram
bem
o aumento
sistólico
como
estatistica-
dos
e
o
diâmetro/espessura
durante
D%
<
1A
vdu2dfa
diâmetros do ventrículo esquerdo provoca ele- quando a relação diastólica diâmetro/espessura
vação do estresse parietal, representando fator miocárdica foi igualou superior a 3,414.
3.Funçãosistólica:demodogeral,valoresdodeltaD%inferioresa20%estãorelacionadosamaiortaxademortalidade.Analisandoumgrupodepacientescomcomprometimentomiocárdicoe
depiorprognóstico.Namiocardiopatiadilatada,
determinados pacientes desenvolvem hiper-
prevalenteemindivíduoscomsintomatologiamaisexuberante,emclassefuncionalIIIouIVUmfatorelevanteéqueessacorrelaçãofoiobservadaempacientesqueapresentavam
superioresa28%asseguravamevoluçãofavorá-vel,comtaxaanualdemortalidadeinferiora13%(Figura7.77).Poroutrolado,pacientescom
fração de ejeção inferior a 28% associada
à relação diâmetro/espessura, na diástole, graus semelhantes de disfunção sistólica,
superior a 4,0, apresentaram taxa anual de demonstrando a estreita relação entre sintoma e
mortalidadede25%.
disfunçãodiastólicanessescasos.Emnossa
4. Função diastólica: a disfunção diastólica do experiência, o padrão de enchimento ventricular
está também relacionado ao prognóstico
ventrículoesquerdoéumaalteraçãofreqüente
na miocardiopatia dilatada que, muitas vezes,
evolutiv014.Numestudoprospectivode95
precede a fase de comprometimento sistólico. pacientes, observou-se diferença significativa
Investigações recentes demonstram que esse nos percentuais de sobrevi da, comparando-se
distúrbio funcional exerce, inquestionavelmente,
osgruposcomdiferentespadrõesdeenchi-~mentoventricular.Assim,após14mesesde
influência significativa na sintomatologia e no
prognóstico. Algumas observações demons- seguimento, a maior taxa de sobrevida (89%) foi
Dessa forma, o padrão do tipo alteração de rela- de 75% nos casos com alteração de relaxamento.
Opioríndicedesobrevida,após14mesesdeevolução,foiobservadoemportadoresde
xamentofoiobservado,preferentemente,em
pacientes oligossintomáticos (classe funcional I
(0/0 )
inter
FE
=
fde
ejeç
Mo
raç
de
Sh
PM
.
Figura 7.11: Parâmetros relacionados a menor taxa de mortalidade anual na miocardiopatia
dilatada. DD/ED= diâmetro diastólico do ventrículo
miocárdica na diástole; DS/ES = diâmetro
pela espessura miocárdica
sistólico
na sístole; ESIV =
esquerdo
do ventrículo
dividido pela espessura
esquerdo dividido
distânciadopontoEdavalvamitralaosepto
oEno
Apoi
àD
Clín
coca
eci
em
es
re
et
0/d8p capítulo 7
(~
140
ms).
Cerc
de
62%
dess
paci
mo
padrãorestritivo,quandoapenas50%dos
freqüenteemportadoresdefibrilaçãoatrial.
pacientes sobreviveram (Figura 7.72). Outras Shen
hospitalizadoscomdiagnósticodemiocar-diopatiadilatada,detectaram42%deincidên-
a influência de variáveis anatômicas e de função
sistólica e diastólica no prognóstico desses cia de contraste espontâneo ao ecocardiogra-
pacientes, demonstram que a maior taxa anual
matransesofágico.Essefenômemofoimais
freqüente nos pacientes com fibrilação
demortalidadefoiencontradaemindivíduos
que apresentavam aumento do diâmetro do atrial, átrio esquerdo aumentado e disfunção
átrio esquerdo (2 25 mm/m2) associado à dimi- ventricular importante. Isoladamente, o con-
traste espontâneo foi o preditor mais signifi-
nuiçãodotempodedesaceleraçãodaondaE
cativo para a formação de trombos \intra-
cavitários e fenômenos tromboembolicos.
reramnoperíododeumano'4.Essesmesmos95pacientesforamestudadosporumnovosistema
Apresençadeinsuficiênciamitralsignifica-tiva,comconseqüentediminuiçãododébito
computacional, chamado rede neural artificial2O,
Figu
7.12
Curv
R
=de
sobr
anu
em
por
de
mi
di
restri
segundo padrão de fluxo mitral.AR =
alteraçãoderelaxamento;N=normalou"normalizado";
J
.
capítulo 7 o Ecocardiograma nas Miocardiopatias
cardíaco e suas complicações. Constituem elemen- relativas aos aspectos ecocardiográficos nessa fase.
tos que auxiliam no julgamento clínico dessa 2. Fase intermediária ou forma indeterminada:
devemseraceitoscomoportadoresdeformaindeterminadaosindivíduoscomsorologia
avaliação das funções diastólica e sistólica do /'
positivaparaDoençadeChagas,semmani-
intracavitários e o grau da insuficiência mitral. festações clínicas (cardíacas ou digestivas),
semalteraçõesaoexameeletrocardiográficoconvencionalesemmodificaçõesdocoração
Aaquisiçãodessasinformaçõespodeauxiliaro
clínico com relação à melhor opção terapêutica,
e o acompanhamento ecocardiográfico pode ao exame radiográfic03O. Entretanto, estudos
tar,caracterizadaporhipocinesia(comousem
esquema medicamentoso. dilatação regional) envolvendo principalmente a
esquerdo.Emnossaexperiência,numaavaliação
cardíaca, na resposta terapêutica desses pacientes, e de 30 pacientes, hipocontratilidade localizada na
a administração de vasodilatadores que atuam região póstero-apical do ventrículo esquerdo foi
diminuindo a resistência periférica promove
observadaem22%doscasos,ecompro-metimentomiocárdicodifuso,em4%dos
diminuiçãodovolumeregurgitantemitral,melho-rando,portanto,ovolumeejetadonasistóleeodébitocardíac02s-28.Adobutamina,queaumentaa
pacientes31. Esses dados podem sugerir que a
ocorrência de sintomas ou episódios de arritmia
contratilidade por estimulação dos receptores
empacientespreviamenteassintomáticospode
beta-l e induz vasodilatação periférica por ativação estar relacionada a anormalidades da morfologia
dos receptores beta-2, tem efeito semelhante, e dinâmica do coração, não detectadas pelos
determinando diminuição da fração regurgitante estudos eletrocardiográfico e radiográfico.
3. Fase crónica: a análise dos chagásicos crónicos
mitral.Amodificaçãodageometriaventricularcausadapelareduçãodosvolumesdiastólicoe
demonstra dilatação ventricular (Figura 7.73)
sistólico finais seria responsável pela melhoria da e hipocontratilidade difusa dos segmentos
miocárdicos, adquirindo aspectos indistinguíveis
funçãovalvar29.Oecocardiogramatemsido,
também, de grande utilidade na seleção de dos observados na miocardiopatia dilatada
pacientes para cardiomioplastia, ventriculectomia
idiopática.Entretanto,comovistoanteriormente,umnúmerosignificativodessespacientesapre-
ou transplante cardíaco.
senta aspecto ecocardiográfico sugestivo,
Miocardiopatia Chagásica caracterizado por hipocinesia mais acentuada,
oumesmoacinesiadaparedepóstero-inferior
Amiocardiopatiachagásicaéclassificadacomo
específica inflamatória, que pode chegar ao estágio e/ou região apical do ventrículo esquerdo.
de dilatada. São reconhecidas três fases distintas:
Oenvolvimentodoápexventricularéaaltera-
aguda, intermediária e crónica. ção anatomopatológica mais característica da
cardiopatia chagásica32 (Figura 7.74).
Diagnóstico:
1. Fase aguda: nos últimos anos, pouquíssimos casos Avaliação da gravidade e prognóstico: Assim
de miocardite chagásica aguda têm sido registra-
comonamiocardiopatiadilatadaidiopática,
dos, motivo pelo qual não existem informações constituem elementos ecocardiográficos impor-
o Ecocardiograma no Apoio à Decisão Clínica capítulo 7
Ecoc
bidi
em
pac
chag
AD
=AE
= vna
fas
crô
ádire
áesqda
m
trio
VD
=tri
di
V
=
vee
esquerdo.
Figura 7.13:
Ecoc
bidi
(co
sub
em
pa
co
m Figura
patia
7.14:
chagásica mostrando pequeno aneurisma (Aneu) na região apical do ventrículo
esquerdo(VE)oVD=ventrículodireito.
capítulo 7
mentodefluxoemcores.Observa-sedilataçãodos
secundária aos refluxos valvares, que freqüen- átrios, por vezes acentuada, secundária à incom-
petência valvar e ao processo restritivo.
tementesãodetectadospeloecocolor,em
conseqüência do envolvimento das valvas atrio-
Ossinaisderestriçãoaoenchimentoventricularseacentuamcomaevoluçãodadoençaepodemser
ventriculares e semilunares pelo processo infiltrativo.
detectados ao estudo ecocardiográfico pelo fluxo
Temimportâncianoprognósticoaespessuramédiadaparede(quandoinferiora1,2cm,amédia
mitralcompadrãorestritivo.
de sobrevida é de 2,4 anos, caindo para 0,4 anos Informações relativas à localização e ao grau da
quando superior a 1,5 cm)36e o comprometimento fibrose endomiocárdica, magnitude dos refluxos
das funções sistólica e diastólica (fração de ejeção mitral e tricúspide são elementos que vão auxiliar
na decisão do tipo de tratamento a ser instituído,
doventrículoesquerdoinferiora20%,epadrãode
enchimento ventricular do tipo restritivo consti- que por vezes é difícil e não muito efetiv0394°.
tuem sinais de pior prognóstico)34 .
Oecocardiogramapodeserútilamédioelongo
prazos na identificação da progressão da fibrose e
Miocardiopatia Obliterativa deterioração valvar4142.
(restritiva secundária)
Miocardiopatia Arritmogênica do
Aendomiocardiofibroseeaendocarditefibroblásti-
ca de Lbeffler (síndrome hipereosinofílica) são as Ventrículo Direito (displasia)
Essadesordemécaracterizadapelasubstituição
duasentidadesrepresentativasdessegrupo.Em
vários aspectos fisiopatológicos são semelhantes, progressiva dos miócitos do ventrículo direito por
muitas vezes indistinguíveis, e a patogenia parece
célulasfibrogordurosas,comcomprometimentoinicialemregiõesdoventrículodireito,eposte-riormenteglobal,comalgumenvolvimentodoventrículoesquerdopoupandoosepto.Éumadoençacomherançaautossômicadominanteepenetrânciaincompleta,masaformarecessivafoi
estar relacionada à eosinofilia, podendo corres-
ponderaoespectrodomesmoprocessoemfases
evolutivas diferentes: aguda (necrótica), trombótica
e fibrótica.
Aslesõesfibróticas(achadomaisimportanteparao
diagnóstico da endomiocardiofibrose) modificam descrita. Clinicamente se caracteriza por arritmia,
fm11
o Ecocardiograma no Apoio à Decisão Clínica capítulo 7
de
ambo
vos
vent
por
VO
= vfibr
eesq
ddo
átr
direi
= dir
(A
entrA
ila
=
áest
en
Figura 7.17: Endomiocardiofibrose biventricular. Notam-se obliteração da região apical
Figu
7.18
Cort
apic
de
4c
(im
preen
pelo
flux
ao
mapam
deâm
em
po
emde
nã
co
flu
cor
AO
=
ádi
A
=
átr
do ventrículo
esquerdo;VO =
esquerdo.
ventrículo
Observa-se
direito;VE
intenso
= ventrículo
trabeculado
esquerdo.
na região apical da câmara
comp
A
nparec
ser
uma
para
ãodura
capítulo
essamalhatrabeculardesaparecem(compactação).
amorfogêneseendomiocárdica.Aoecocardiogra-
ma,
beculações,em
7
observam-se numerosas
esquerdo
tra-
sistólica
ventriculares
e embolia
(33% dos
ventricular
potencialmente
sistêmica
casos)46,47.0
por
o Ecocardiograma
(73%
ecocardiograma
dos
fatais
trombos
casos),
(45%
nas Miocardiopatias
está
dos
endocavitários
arritmias
indicado
casos)
nãosóparaodiagnóstico,masparaoacompa-nhamentoseriadoevolutivo.Emvirtudedaalta
12.
Or
J,
Ma
AY
Si
C
O
e nac
(oubiventricular).Aomapeamentodefluxoem
cores, esses recessos intertrabeculares aparecem morbidade, há quem recomende anticoagulação
preenchidos pelo fluxo sangüíneo (Figura 7.18). para todos os portadores, mesmo na ausência de
Clinicamente observam-se depressão da função trombos ao ecocardiograma48.
3.
Nihoy
P,
Kara
G,
Josh
J,
Gill
O,Oak
C.
17.
Sha
PM
Ec
18.
We
GS
Fuin
co
JB
Sco
d
R.
O c
eca
Referências Bibliográficas
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