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Português 12.

o Ano | Prova-modelo
Nome: _________________________ Turma: _____ N.o: _____ Data: ____/____/____

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

Leia os dois textos e as notas. Na resposta aos itens de 1. a 3., tenha em consideração
ambos os textos.

Fechou-se a noite por completo, a cidade dorme, e se não dorme calou-se, apenas se
ouve a espaços gritarem alerta as sentinelas, não venham desembarcar por aí os
corsários franceses, e Domenico Scarlatti, tendo fechado portas e janelas, senta-se ao
cravo, que subtil música é esta que sai para a noite de Lisboa por frinchas e chaminés,
5 ouvem-na os soldados da guarda portuguesa e da guarda alemã e tanto a entendem uns
como a entendem os outros, ouvem-na sonhando os marujos que dormem à fresca nos
conveses e acordando a reconhecem, ouvem-na os vadios que se acoitam na Ribeira,
debaixo dos barcos varados em terra, ouvem-na os frades e as freiras de mil conventos,
e dizem, São os anjos do Senhor, terra esta para milagres ubérrima 1, ouvem-na os
10 embuçados que vão matar e os apunhalados que, ouvindo, não pedem mais confissão e
morrem absolvidos, ouviu-a um preso do Santo Ofício, no seu fundo cárcere, e estando
perto um guarda lhe jogou as mãos à garganta e o esganou, por este assassínio não terá
pior morte, ouvem-na, tão longe daqui, Baltasar e Blimunda, que deitados perguntam,
Que música é esta, ouviu-a primeiro que todos Bartolomeu Lourenço por morar perto,
15 e levantando-se da cama acendeu o candil2 e abriu a janela para ouvir melhor. Também
entraram grandes melgões que foram pousar-se no teto e ali ficaram, primeiro oscilando
nas altas pernas, depois imóveis, como se a luz minúscula não pudesse atraí-los, talvez
hipnotizados pelo ranger da pena, sentara-se o padre Bartolomeu Lourenço a escrever,
Et ego in illo, E eu estou nele, quando amanheceu ainda escrevia, era o sermão do Corpo
20 de Deus, e do corpo do padre não se alimentaram esta noite as melgas.

José Saramago, Memorial do Convento, Lisboa, Caminho, 1997, p. 166

Está a menina sentada ao cravo, tão novinha, ainda não fez nove anos e já grandes
responsabilidades lhe pesam sobre a redonda cabeça, aprender a colocar os dedinhos
curtos nas teclas sem saber, se o sabe, que em Mafra se está construindo um convento,
muito verdade é o que se diz, pequenas causas, grandes efeitos, por nascer uma criança
25 em Lisboa levanta-se em Mafra um montanhão de pedra e vem de Londres contratado
Domenico Scarlatti. À lição assistem as majestades, em pequeno estado, umas trintas
Alexandra Ruivo | Céu Gaspar | Clara Ribeiro
Português | 12.º ano
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pessoas, se tanto, contando os camaristas de semana dele e dela, aias, açafatas3 várias,
mais o padre Bartolomeu de Gusmão, lá para trás, e outros eclesiásticos. Il maestro vai
corrigindo a digitação, fá lá dó, fá dó lá, sua alteza apura-se muito, morde o beicinho,
30 nisto não se distingue de qualquer criança, em paço nascida, ou noutras passagens, a
mãe disfarça uma certa impaciência, o pai está real e severo, só as mulheres, tenros
corações, se deixam embalar pela música, e pela menina, mesmo tocando ela tão mal.

José Saramago, Memorial do Convento, Lisboa, Caminho, 1997, p. 162

NOTAS

1
ubérrima – fértil
2
candil – espécie de candeia
3
açafatas – damas do toucador da rainha

1. Caracterize os espaços referidos em ambos os excertos.

2. Explicite a forma como a música é apresentada.

3. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a


cada espaço.

Na folha de respostas, registe apenas as letras – a., b. e c. – e, para cada uma delas,
o número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Nos excertos transcritos, é possível encontrar várias características do estilo de


José Saramago, nomeadamente a forma de introdução do discurso direto, presente
em a. . Além disso, o narrador caracteriza-se por ser interventivo, como em b. ,
e crítico como em c. .

a. b. c.
1. «São os anjos do 1. «se não dorme calou-se» 1. «morde o beicinho»
Senhor» (l. 9) (l. 1) (l. 29)

2. «Baltasar e 2. «já grandes 2. «um montanhão de


Blimunda» (l. 13) responsabilidades lhe pedra» (l. 25)
pesam sobre a redonda
3. «Domenico 3. «tão longe daqui»
cabeça» (ll. 21-22)
Scarlatti» (l. 26) (l. 13)
3. «pequenas causas, grandes
efeitos» (l. 24)

Alexandra Ruivo | Céu Gaspar | Clara Ribeiro


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Alexandra Ruivo | Clara Ribeiro | Maria do Céu Gaspar
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