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2020.1
INDICE:
INTRODUÇÃO ………………………………………………………………….…………………. 03
PARTE I ………………………………………………………………………….………...………. 03
………………………………………………………………………....………………..05
PARTE II…
PARTE III …………………………………………………………………………….………………06
PARTE IV……………………………………………………………………...………..…………...07
………………………………………………………………………………..………...10
PARTE V…
PARTE FINAL…………………………………………………………………………………....….11
…………………………………………………………………………….…….12
REFERENCIAS…
INTRODUÇÃO:
Dirty Computer foi o terceiro álbum da cantora e atriz Janelle Monáe, lançado no dia 26
de abril de 2018. Para esse álbum ela lançou um filme, em que a própria usa Emotion
Picture (jogo de palavras com Motion Picture em que a ela faz a definição como um filme
narrativo que acompanha um álbum musical) para definir essa obra audiovisual, para
simbolizar e mostrar toda a história por trás das letras, referências, símbolos e imagens. A
artista usa o Afrofuturismo, movimento pluridisciplinar que estabelece o encontro entre a
história, o resgate da mitologia e cosmologias africanas com a tecnologia, a ciência, o
novo e inexplorado, já usado para o conceito de seus dois álbuns anteriores, mas com
Dirty Computer a cantora utiliza isso para associar aos atuais movimentos políticos e
sociais que acontecem pelo mundo, principalmente ligado a luta contra o racismo (o
movimento Black Lives Matter), feminismo e o movimento LGBT e desse modo podemos
capturar mais significamente as referências dadas na obra audiovisual em suas imagens e
letras.
A obra acompanha uma jovem negra chamada Jane 57821 numa sociedade futura em
que as pessoas são chamadas de computadores e qualquer traço de humanidade e
liberdade nesses indivíduos são considerados inapropriados e precisam ser “limpos”
imediatamente e assim tempos que durante a obra ele vai mostrar a busca pela liberdade
e felicidade daqueles que são considerados diferentes em uma sociedade. Desse modo, o
objetivo dessa análise é observar e pontuar como a obra audiovisual se associa aos
aspectos dos movimentos políticos e sociais que acontecem ao redor do mundo.
PARTE I:
O filme começa com a narradora (a própria Jane) falando: “They started calling us
computers. People began vanishing and the cleaning began. You were dirty if you looked
different. You were dirty if you refused to live the way they dictated. You were dirty if you
showed any form of opposition at all. And if you were dirty... It was only a matter of time. ”
[Eles começaram a nos chamar de computadores. Pessoas começaram a desaparecer e a
limpeza começou. Você era sujo se você parecesse diferente. Você era sujo se você se
recusasse a viver da maneira que eles ditam. Você era sujo se mostrasse qualquer tipo de
oposição. E se você fosse sujo… era apenas uma questão de tempo]. Após essa fala
introdutória temos a personagem principal sendo carregada em uma espécie da maca
flutuante por pessoas vestidas totalmente de branco com máscaras de gás para dentro de
um centro. Esse centro é responsável pelo limpeza feita em quem era considerado um
computador sujo, em que essa limpeza consistia no apagamento de memórias do
indivíduo (esses processos são chamados de Nevermind).
.
Imagem 01 Imagem 02
Nos primeiros segundos quando vemos a personagem ser carregada para o centro que
irá apagar sua memórias, temos esses dois símbolos que podem ser associados o
primeiro com a cultura africana e o empoderamento desses artefatos e o segundo com o
feminismo, ambos aspectos sendo considerados desviantes e impuros pela sociedade
controladora no filme considerados os Dirty Computer. O título Dirty Computer
[Computador Sujo] foi definido pela cantora em uma entrevista em que ela diz que “nós
somos CPU’s e nossos cérebros estão fazendo uploads, downloads e transmissões e
assim como todos os computadores nós temos bugs e vírus”, mas a mesma se pergunta
se esses aspectos são positivos, negativos ou apenas características e pede a sociedade
“uma conversa como seres humanos sobre o que significa dizer a alguém que sua
existência seja ela homossexual, minorias, mulheres, pobre, faz com que você tenha bugs
e vírus. [...] trata-se de abraçar essas coisas, mesmo que isso deixe os outros
desconfortáveis”.
Desse modo, podemos associar os símbolos e a definição da autora sobre o Dirty
Computer em que esse signo carrega um significado e associação direta a lutas por
direitos iguais que acontecem hoje em dia ligados aos negros, LGBT e mulheres em que
mesmo no século 21 ainda temos a polícia perseguindo e assassinando negros sem
motivo, pessoas LGBT sendo mortas, violentadas e discriminadas diariamente e mulheres
sendo violentadas e discriminadas e sendo proibidas de terem oportunidades e
pagamentos iguais aos homens. Assim, podemos ver como a história do filme associa o
Dirty Computer e transforma-o em um signo que ao mesmo tempo que é associado a algo
visto como “ruim” e impuro por parte da sociedade (e no filme como algo que precisa ser
limpo) a artista usa ele como forma de empoderar e celebrar quem é diferente e não segue
o padrão imposto pela sociedade.
PARTE II:
Imagem 03 Imagem 04
Assim, temos o vídeo mostrado uma festa que celebra os diferentes tipo de pessoa
enquanto a cantora cita na música vários indivíduos responsáveis pela luta anti racista nos
Estados Unidos durante o século 20, como Nina Simone e Malcolm X principalmente na
parte em que canta “I'm not America's nightmare. I'm the American dream” [Eu não sou o
pesadelo da américa. Eu sou o sonho americano.] interpolando o discurso de Malcolm X “I
Have a Nightmare (I Charge the White Man)“ em que a cantora faz o contraste no discurso
de Malcolm com o aspecto de liberdade americano (o American’s Dream) falando que pela
sua liberdade ela não é um pesadelo e sim o sonho americano.
PARTE III:
Imagem 05 Imagem 06
Nessa parte da obra temos a personagem Jane passando pelo processo de
apagamento de memórias e como é mostrado nas imagens 05 e 06, o conteúdo dentro
dela é colorido e brilhante fazendo oposição às cores fria e minimalistas do ambiente em
que a personagem está no momento. Pode-se associar a substância colorida ao aspecto
de tirar tudo aquilo que é diferente e apenas deixar aquilo que é frio e sem vida dentro de
você, transformando o indivíduo em uma máquina sem sentimentos e facilmente
controlada. Ambos símbolos e informações podem ser associadas a forma de como certos
povos tiveram sua cultura e identidades tiradas e expropriadas pelos brancos europeus e
assim serem controlados por esse grupo que estava no controle (a escravidão, as
colonizações por exploração e os genocídios indígenas).
Enquanto essas imagens estão sendo mostradas temos a música Take a Byte sendo
mostrada e cantada no momento. Esse termo se associa ao byte (unidade de informação
digital), na forma em que ao serem considerados computadores são retirados informações
digitais dessas pessoas e também ao pecado original bíblico (doutrina cristã que pretende
explicar a origem da imperfeição humana) em que Eva dá uma mordida (que do inglês
vem de taking a bite) na maçã que foi dita por Deus que se fossem comer eles morreriam.
Desse modo, a artista associa isso a forma de como parte da sociedade considera os
relacionamentos LGBT como algo proibido, um tabu, um pecado, mas que é algo
irresistível e chama a pessoa que a deseja para vir tentar uma chance com ela mesmo
com todo a proibição que a sociedade coloca.
PARTE IV:
Imagem 07
Algo que pode ser visto no final da canção se relaciona muito ao que acontece
atualmente nos Estados Unidos é a cena que a personagem de Zen (interpretada pela
atriz Tessa Thompson e um dos pares românticos da personagem de Janelle) é
sequestrada e colocada dentro de uma van à força por policiais e isso pode-se associar
diretamente aos protestos anti racista de 2020 em que o mesmo acontecia com quem
estava protestando e era sequestrado e colocado em uma van no meio de todos e mesmo
essa obra sendo de 2018 é bem visível como as simbologias usadas nela se relacionam
muito bem dois anos depois.
Imagem 09 Imagem 10
Após o término dessa memória temos o começo de outra que não se parece muito bem
como uma memória ou algo que pertenceu a realidade da personagem e sim mais como
um sonho, já que até os próprios homens que estão conduzindo o apagamento de
memória se perguntam isso. Esse sonho é corresponde a canção Django Jane. A canção
talvez seja uma das mais pessoais (no sentido da artista Janelle Monáe) do álbum, em que
ao mesmo tempo que fala de assuntos recorrentes no projeto sobre empoderamento negro
e feminino, ela também canta sobre sua vida, conquistas e desafios. No vídeo vemos
inicialmente a personagem em um trono rodeada de mulheres negras (imagem 09) com
trajes que lembram o grupo dos panteras negras e a cultura africana principalmente
puxada aos conceitos do Afrofuturismo. Desse modo, os signos de trono e os trajes
usados pelos personagens são relacionados ao significado que a música quer passar de
mulheres negras no topo, figuras essas que são colocadas como lutadoras fortes pela luta
anti racista e pelo empoderamento negro e também pela força de ter uma mulher negra no
comando de um mundo ainda racista e patriarcal. Na imagem 10 temos a imagem da
personagem nua se olhando no espelho que está posicionado em sua genitália, essa
imagem é relacionado à imagem 12 que é uma fotografia chamada “Self-Portrait” da artista
Armen Susan Ordjanian. Ao mesmo tempo que a personagem mostra essa imagem a
cantora fala ”Let the Vagina have a monologue” [Deixe a vagina ter um monólogo] assim é
perceptível que o signo do espelho é relacionado com o signo do órgão reprodutor
feminino em que ele é relacionado diretamente ao empoderamento feminino, em dar
espaços às mulheres falarem suas narrativas, suas histórias que se relacionam a peça de
teatro The Vagina Monologues.
PARTE V:
Imagem 13 Imagem 14
PARTE FINAL:
Na parte final temos a conclusão do processo de Nevermind (apagamento de
memória) em Jane e sua transformação em um dos agentes desse governo. É mostrado
uma memória em uma praia de Jane e seus dois pares amorosos Zen e Ché, mostrando
com a conexão entre eles é forte. Após isso temos o “fim” do filme em que a personagem
está totalmente transformada, sem memórias e lembranças servindo ao governo.
Entretanto, temos uma cena pós crédito que mostra que tanto Jane quanto Zen não
esqueceram suas memórias e junto a Ché conseguem escapar de lá ao som da canção
Americans. A canção funciona como uma síntese maior dos assuntos do álbum junto com
toda a ideia da sociedade dos estados unidos atual. Na música a artista cita todos os
preconceitos e ideias a sociedade americana desde racismo até o sexismo e a lgbtfobia e
termina a canção com uma gravação do reverendo Sean McMillan falando que os estados
unidos não é a america dele até negros, lgbts e mulheres serem respeitados, não
violentados e terem igualdade.
Dessa forma, é possível observar a forma como a artista usa os signos, símbolos,
referências e analogias para dialogar a sua obra com as letras e assim mostrar o
verdadeiro significado que fica em que assiste e ouve essa obra o de empoderamento dos
grupos que normalmente são marginalizados, excluídos e invisibilizados pela sociedade
patriarcal branca e heterossexual. O uso do signo de Computador Sujo usado pela artista
mostra como ela consegue misturar os conceitos de tecnologia com os da lutas e
movimentos sociais e políticos que acontecem hoje de uma maneira poderosa e cheia de
referências a acontecimentos recentes e importantes no mundo atual.
REFERENCIAS:
https://www.youtube.com/watch?v=jdH2Sy-BlNE&feature=emb_title
https://medium.com/@stephieborges/as-visões-do-futuro-por-janelle-monáe-e0591f21c518
https://genius.com/albums/Janelle-monae/Dirty-computer
http://valkirias.com.br/janelle-monae-e-resistencia-e-orgulho-em-dirty-computer/
https://jornaldesacordo.com/2018/12/03/the-desacordo-sessions-uma-analise-imaculada-a-dirty-co
mputer/
https://www.publico.pt/2018/05/11/culturaipsilon/noticia/janelle-monae-nao-e-pesadel
https://www.geledes.org.br/dossie-afrofuturismo-saiba-mais-sobre-o-movimento-cultural/
https://www.theguardian.com/music/2018/feb/22/you-dont-own-or-control-me-janelle-monae-on-her-
music-politics-and-undefinable-sexuality?CMP=share_btn_tw
https://belezablackpower.com.br/2018/04/27/janelle-monae-dirty-computer-e-afrofuturismo/